Federação acredita que Drogba ainda pode recuperar
O jornal francês "L'Equipe" chegou a avançar que Didier Drogba estaria fora do Mundial depois de uma fractura no braço direito, mas a federação da Costa do Marfim garante que o jogador ainda poderá jogar na África do Sul. (...)

Federação acredita que Drogba ainda pode recuperar
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DATA: 2010-06-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: O jornal francês "L'Equipe" chegou a avançar que Didier Drogba estaria fora do Mundial depois de uma fractura no braço direito, mas a federação da Costa do Marfim garante que o jogador ainda poderá jogar na África do Sul.
TEXTO: Citando informação avançada pelo próprio jogador, após exames realizados num hospital de Sion, onde a selecção da Costa do Marfim se encontra a estagiar, o "L'Équipe" deu conta do afastamento do jogador. Mas um porta-voz da federação já veio pôr água na fervura: “Para já, ele não está afastado. Não sabemos ainda se poderá jogar no primeiro jogo, depende da equipa médica”, explicou. A lesão de Drogba ocorreu por volta dos 15 minutos, após um choque com o defesa Marcos Tulio Tanaka, e pouco depois de o capitão da Costa do Marfim ter marcado um golo de livre directo - com a ajuda do central japonês. Agora a recuperação do avançado do Chelsea é uma das grandes incógnitas, sobretudo tendo em conta o jogo com Portugal, já no dia 15. Sven-Goran Eriksson, seleccionador da formação africana, mostra-se apreensivo: "É claro que estou preocupado. É o nosso capitão e um dos melhores jogadores do mundo". Notícia actualizada às 19h22
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
ONU rejeitou ordem de expulsão dada por Laurent Gbagbo
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, indeferiu o pedido do Presidente Laurent Gbagbo para que os capacetes azuis saíssem da Costa do Marfim. (...)

ONU rejeitou ordem de expulsão dada por Laurent Gbagbo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, indeferiu o pedido do Presidente Laurent Gbagbo para que os capacetes azuis saíssem da Costa do Marfim.
TEXTO: Ban afirmou que a Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (ONUCI) “cumprirá o seu mandato e continuará a fiscalizar e documentar quaisquer violações dos direitos humanos, incitamento ao ódio e à violência ou ataques aos capacetes azuis”. A ONU, os Estados Unidos, a França, a União Europeia (UE) e a União Africana (UA) reconheceram o principal rival de Gbagbo, Alassane Ouattara, como o vencedor da segunda volta das presidenciais, realizadas dia 28 de Novembro. Mas ele não aceitou a derrota e recorreu ao Conselho Constitucional para o proclamar vencedor. Se bem que normalmente o Conselho fosse a última instância a pronunciar-se sobre o assunto, havia agora um acordo internacional no sentido de que seriam desta vez as Nações Unidas a confirmar ou rejeitar os dados da Comissão Eleitoral Independente. E elas confirmaram-nos, dizendo não haver qualquer dúvida da vantagem obtida por Ouattara sobre o Presidente cessante, que se encontra há 10 anos no cargo. Uma porta-voz de Gbagbo acusara ontem as tropas da ONU e da França de conluio com os antigos rebeldes, agora chamados Forças Novas (FN), que eram liderados por Guillaume Soro, nesta altura primeiro-ministro designado por Alassane Ouattara. Na sequência de semelhante acusação e dos pedidos de Ban Ki-moon e do Presidente Nicolas Sarkozy para que Gbagbo se demitisse, este último mandou a sua porta-voz Jacqueline Oble dar ordem de expulsão ao contingente da ONU e aos 900 militares franceses da Força Licorne. “Esta decisão não pode ser aplicada, porque Gbagbo já não é Presidente. Consideramos ridículo este gesto de um Presidente vencido. Toda a gente sabe que não tem qualquer qualidade para pretender pedir a partida da Força Licorne e do contingente da ONU”, afirmou Guillaume Soro à AFP. De acordo com o antigo primeiro-ministro de Gbagbo, que ocupa agora idênticas funções junto de Ouattara, é preciso que a comunidade internacional se consciencialize de que está perante “uma verdadeira loucura assassina, que vai semear a desolução e criar na Costa do Marfim outro Ruanda”. A porta-voz das FN, Affoussy Bamba, acusou os partidários de Laurent Gbagbo de preparem um genocídio com o apoio de milicianos ou mercenários angolanos e liberianos. “De dia e de noite, sem repetição, estes milicianos, com a cumplicidade e a benção de certos elementos das Forças de Defesa e Segurança, introduzem-se em casa de honestos cidadãos para os executar friamente”, afirmou aquela advogada. O economista liberal Ouattara, que se considera o Presidente devidamente eleito da Costa do Marfim, encontra-se actualmente alojado num hotel da cidade de Abidjan, sob a protecção da ONU. Segundo a porta-voz de Gbagbo, que é de igual modo ministra da Educação, os capacetes azuis “interferiram gravemente nos assuntos internos da Costa do Marfim”. Uma das patrulhas da ONU já foi ao princípio da madrugada de ontem alvejada a tiro ao entrar no quartel-general que ocupa na cidade de Abidjan, a principal do país e o seu centro económico. Depois, durante a tarde, após a comunicação feita na televisão pela representante do Presidente cessante, milhares de “Jovens Patriotas” que lhe são afectos andaram pelas ruas a exigir a partida dos capacetes azuis e das tropas francesas. Sexta-feira, outros partidários da oposição a Gbagbo foram detidos em Grand Bassam, cerca de 30 quilómetros a leste de Abidjan, e há notícia de algumas pessoas terem sido então mortas, tal como outras dezenas o tinham sido na véspera, em diferentes localidades. A UA e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) têm procurado em vão nestes últimos dias procurar convencer o historiador Laurent Gbagbo a demitir-se e a partir para o exílio.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU UE UA
Selvagem Grande, a ilha das cagarras
Não tem uma árvore, nem água doce. As gentes da Madeira iam caçar aves marinhas e pescar a este pedaço de terra no Atlântico, que agora é reserva natural. Rochedo apenas, como diz Espanha, ou ilha, como diz Portugal? A maior expedição portuguesa de sempre às ilhas Selvagens esteve a inventariar a biodiversidade e foi também uma afirmação de soberania. (...)

Selvagem Grande, a ilha das cagarras
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não tem uma árvore, nem água doce. As gentes da Madeira iam caçar aves marinhas e pescar a este pedaço de terra no Atlântico, que agora é reserva natural. Rochedo apenas, como diz Espanha, ou ilha, como diz Portugal? A maior expedição portuguesa de sempre às ilhas Selvagens esteve a inventariar a biodiversidade e foi também uma afirmação de soberania.
TEXTO: Agora que acabaram de tomar o pequeno-almoço no alpendre da casa encravada no sopé da Selvagem Grande, com vista para a baía das Cagarras, estão preparados para subir a encosta quase a pique da ilha e continuar o trabalho que os trouxe até aqui. Avançam escarpa acima, uma parede castanha árida que, num repente, brota mais de 100 metros do mar como o dorso de um animal marinho, com cabeça e cauda mergulhadas na água. Paulo Catry segue na dianteira, chapéu e mochila às costas, Ana Almeida de lenço na cabeça e também mochila, e pelo trilho íngreme delimitado por pedras, ziguezagueando como equilibristas, cruzam-se a cada passo com os principais habitantes da ilha - as cagarras, aves marinhas, migradoras admiráveis. Daqui elas têm vista privilegiada: os ninhos que fizeram nos buracos na escarpa escancaram-se para um azul imenso. Ao longe, a 11 milhas, podem aperceber-se de um pedaço de terra tão esborratado que mal se distingue entre o mar e o céu, a Selvagem Pequena, apenas com 20 hectares e 49 metros de altitude máxima. Ao lado, mais pequeno ainda, fica o ilhéu de Fora. E lá em baixo, deparam-se com a rampa que permite o desembarque de botes entre os rochedos na Selvagem Grande, com a casa dos dois vigilantes da natureza sempre presentes, os únicos habitantes humanos, mais a única casa privada da ilha uns metros acima na falésia - e, nos últimos dias, com um cenário nunca antes presenciado. Há agora um colorido de tendas no terreiro em frente à casa dos vigilantes e no pátio da casa privada, além de estendais com roupa dos 19 recém-chegados à Selvagem Grande, ilha do arquipélago da Madeira. Desembarcaram no fim de Junho por uma semana para inventariar a fauna e a flora marinhas (na semana anterior, fizeram o mesmo na Selvagem Pequena). Sem telemóveis, sem Internet, sem água doce para tomar banho ou uma praia, e sem um produto muito desejado por quase todos - queijo, que viria a protagonizar uma peripécia -, os cientistas vieram vasculhar a ilha, desde o topo do planalto até aos cinco metros de profundidade, passando pela zona entre marés. Podem sempre contentar-se em pôr um postal no marco de correio no alpendre da casa dos vigilantes, com carimbo das "Selvagens, Portugal" (vai é demorar até ao destino, uma vez que os vigilantes são rendidos a cada três semanas e é nessa altura que levam a correspondência num navio-patrulha até ao Funchal). Indiferentes aos passos de Paulo Catry e Ana Almeida, as cagarras chocam os ovos. Enquanto um dos elementos do casal permanece no ninho, o outro viaja durante uma semana no mar alto à procura de alimento. Depois ficam juntos alguns dias e revezam-se. É pelas cagarras que os cientistas caminham pela encosta abrupta - esta manhã, mais uma vez. Sem se deterem nos ninhos do varandim panorâmico, dirigem-se para as que optaram por se instalar no topo da ilha, mesmo no centro. Nova paragem, agora numa parte mais plana do trilho, quase, quase no topo, uff. Avistam-se os três navios da expedição que assentaram arraiais ao largo deste pedaço de terra, e que representam três tempos da descoberta e exploração dos oceanos pelos portugueses: a Vera Cruz, réplica das caravelas dos Descobrimentos, da Associação Portuguesa de Treino de Vela; o veleiro Creoula, construído nos anos 30 como bacalhoeiro na Terra Nova e agora ao serviço da Marinha; e o navio oceanográfico Almirante Gago Coutinho, também da Marinha, equipado com tecnologias do século XXI, de que o Luso, veículo não tripulado que mergulha até aos seis mil metros, é a estrela principal. O que faz tanta gente nesta ilha e à sua volta? Em terra e no mar, mais de 70 cientistas inventariam a biodiversidade marinha, naquela que é a maior expedição científica às ilhas Selvagens, 163 milhas náuticas a sul da Madeira e apenas 82 a norte das Canárias. O extremo sul de Portugal é aqui. A pergunta é: porquê uma expedição às Selvagens e não a outro sítio qualquer?As cagarras são a expressão mais visível da biodiversidade das Selvagens (e audível, dirá quem dorme nas tendas). Ou não albergasse a Selvagem Grande a maior colónia mundial desta ave do tamanho de uma gaivota - desde o final de Fevereiro, quando chegam as primeiras para a época de nidificação, até Novembro, quando partem as últimas. A equipa de Paulo Catry, de 42 anos, ornitólogo do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), em Lisboa, estuda-as há cerca de sete anos. Por vezes, vira-se na escarpa e explica o seu trabalho, uma oportunidade para quem o acompanha recuperar o fôlego. "Há cinco anos contámos todos os ninhos de cagarras, por isso sabemos que os casais que nidificam na ilha são 30 mil. "É também possível saber o número aproximado de cagarras na Selvagem Grande porque lhes têm posto anilhas (serão, assim, mais de 60 mil). "Como têm uma taxa de sobrevivência elevada, a maior parte já foi anilhada. Há aves cuja idade é superior a 30 anos. "Nesta história há um nome incontornável: Paul Alexander Zino, ornitólogo de origem inglesa natural da Madeira, que luta pela preservação das cagarras das Selvagens. Participa na primeira expedição científica multidisciplinar: em Julho de 1963, o director do Museu Municipal do Funchal traz às Selvagens um grupo de cientistas europeus e, quando regressa ao Funchal, Zino quer salvar as cagarras. Nesses tempos, são um pitéu: apreciadas na Madeira pelos pescadores, organizam-se campanhas sazonais de recolha das crias na Selvagem Grande. Espalmadas, salgadas e secas ao sol, armazenam-nas em barricas que seguem para a Madeira. Numa campanha anual, podem matar-se 20 mil juvenis. Os adultos são poupados, senão esta actividade económica acabaria. Nada se desperdiça: das penas fazem-se colchões e até os excrementos se aproveitam como adubo. As Selvagens são na altura propriedade privada: concedidas a quem se distinguiu nas conquistas além-mar, em 1904 acabam por ser vendidas pelos herdeiros ao banqueiro madeirense Luiz da Rocha Machado. Por oito mil escudos, ou 40 euros. Na última caçada, que parte do Funchal em Setembro de 1967, o declínio das cagarras é tal que já só se apanham 13 mil. Nesse ano, Zino compra a licença de caça por alguns anos, quer que a colónia recupere. Tem também autorização do proprietário para construir a primeira casa da Selvagem Grande, como apoio ao estudo das cagarras, que o filho de Zino, médico e ornitólogo, ainda mantém. As anilhagens começam a partir de 1968, com Zino, entre outros ornitólogos portugueses e franceses. Ele defende que as Selvagens sejam uma reserva natural e, em 1970, negoceia a sua compra pelo Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF), associação internacional de defesa da natureza. Mas, em 1971, o Estado português prefere comprá-las - por 1500 contos, ou 7500 euros (450 mil euros, no valor actual). Nesse ano, são classificadas como reserva natural. Não restam muitas aves anilhadas nos primeiros tempos, porque em 1976, na ilha até aí sem vigilantes, há uma matança indiscriminada de adultos e crias. "Alguém veio anilhar cagarras em 1976 e, em vez de milhares, encontrou menos de uma centena", recorda Paulo Catry. Anos sem pisar terraVinte minutos de escalada e está-se finalmente no planalto. Não há uma árvore. A vegetação é rasteira ou limitada a tufos, o terreno pedregoso. O ponto mais elevado, o pico da Atalaia, a 163 metros, ostenta o farol. Tudo o que se ouve é o vento que assobia. Mas encontra-se gente aqui - que tinha até agora os 245 hectares do planalto só para si. Hany Alonso, de 27 anos (do ISPA), e João Pedro Pio, de 22 (colaborador do Museu Nacional de História Natural de Lisboa), ornitólogo e biólogo, andam absortos com os ninhos. No centro do planalto dispõem-se quatro muros de pedra, com ninhos numerados. Quando chegam Paulo Catry e Ana Almeida, de 30 anos, bióloga marinha, eles já vão no buraco 52 de um dos muros. Os quatro, a equipa das aves na Selvagem Grande, continuam a ronda pelos ninhos. Há anos que acompanham perto de 400. "Verificamos se estão ocupados e por quem", explica Catry. "Estes muros são quase de certeza anteriores ao século XX. Não se sabe quem os fez, nem quando. Mas deixaram buracos para recolher os pintos. "Como um ritual, passam em revista cada ninho. Ajoelham-se, retiram a cagarra que choca um único ovo, tomam nota do número da anilha, verificam se é o macho ou a fêmea, cortam o pedaço de uma pena e marcam a ave com tinta. Na próxima ronda podem identificar logo se o ocupante é o mesmo e, se for o outro, repetir o ritual. Querem saber tudo da vida dos bichos. "A sobrevivência, o sucesso reprodutivo, a fidelidade entre casais, a taxa de divórcio - esse tipo de trabalho", acrescenta Alonso. O casal mantém-se junto para a vida? "Acasalam quase sempre com o parceiro do ano anterior. Há divórcios, mas a taxa é baixa, talvez da ordem dos três a quatro por cento ao ano", diz Catry. Para que querem a pena? "Para análise da composição química e de isótopos. " Através da análise de formas de carbono e azoto, pode saber-se onde comem e o quê durante o Inverno. "Não é possível ter informação directa sobre a alimentação nas zonas de invernada, porque elas estão no mar alto", explica Alonso, que faz o doutoramento sobre a ecologia alimentar das cagarras, co-orientado por Catry. Descobriu-se, através de receptores GPS nas costas das cagarras, que as das Selvagens vão alimentar-se muito longe durante a nidificação. "A maior parte vai à costa de Marrocos, a 400 quilómetros", diz Catry. Terminada a época de nidificação, os adultos abandonam as Selvagens em Outubro, as crias em Novembro. As ilhas ficam então desertas de cagarras. Os adultos regressam no ano seguinte, mas os juvenis ficam no mar alto. "Só voltam a pôr o pé em terra firme ao fim de três ou quatro anos. Mesmo passados esses anos, estão aqui uma semana, a socializar e a conhecer o sítio, e vão-se embora. Só nidificam em média aos nove anos. " Seleccionado o local de reprodução, é raro mudarem. No Inverno, as cagarras das Selvagens vão até ao largo da África do Sul, mas podem ir até Moçambique e Madagáscar. Algumas, porém, ficam no Atlântico Noroeste, entre os Açores e os EUA. A equipa de Catry seguiu a migração de 70 cagarras das Selvagens, com um aparelho na pata, e concluiu que têm seis áreas de invernada (além do Atlântico Noroeste, dirigem-se ao meio do Atlântico Sul e às correntes de Agulhas, de Benguela, do Brasil e das Canárias). Um dos juvenis fez algo extraordinário: "Em dois anos, visitou as seis áreas. Andou a explorar o mundo. Voou mais de 30 mil quilómetros por ano. " Nisto tudo, é hora de almoço. É a vez de o grupo das aves cozinhar para os 19 cientistas na ilha, mais aqueles que vêm e vão para os navios, e, por isso, há que descer à casa dos vigilantes. À noite, os quatro tencionam voltar a subir. Querem ter informação directa sobre a alimentação das cagarras. A coisa promete. Caravelas da descobertaHá que ter cuidado a atravessar o planalto. "A partir daqui é a colónia de calcamares. " Zona interdita aos caminhantes incautos portanto, porque estas aves marinhas que andam sobre o mar, daí o nome, escavam os ninhos no chão arenoso. Só há esta subespécie nas Selvagens. Desde a erradicação dos coelhos na Selvagem Grande, proliferam também os tufos acinzentados da Schizogyne sericea, planta endémica destas ilhas e das Canárias. Pouco depois da descoberta das ilhas no século XV, os coelhos e as cabras são introduzidos na Selvagem Grande como fonte de alimento de quem a visita. O navegador português Diogo Gomes é o descobridor oficial, pensa-se que em 1438. Encontra-as com as suas caravelas quando regressa de uma viagem à costa africana, ao serviço do Infante D. Henrique. Cedo começa a recolher-se urzela, um líquen que cresce nas escarpas, para tingir de púrpura tecidos e papel. Além das cagarras, a pesca e a salga de peixe são fontes de rendimento. Sobrevivem vestígios das tentativas de colonização humana, de que são exemplo os muros de pedra. A inexistência de água doce na ilha ditou o seu falhanço. As cabras extinguem-se devido à caça no século XIX, mas os coelhos persistem até ao início do século XXI. No fim do século XIX também é introduzida a planta tabaqueira para lenha, mas atinge uma área tal que prejudica as aves marinhas. Está a ser erradicada (desde 2001, pelo que restam poucas), tal como uma outra planta invasora, a Conyza bonariensis. O Serviço do Parque Natural da Madeira quer preservar os tesouros biológicos das Selvagens, de que é outro exemplo a osga Tarentola boettgeri bischoffi, subespécie que ocorre só nestas ilhas vulcânicas. O Governo Regional da Madeira tenciona recandidatar as Selvagens a património mundial natural da UNESCO (depois de a candidatura de 2002 ter sido retirada por falta de informação sobre a biodiversidade marinha) e esta expedição pode facilitar o processo. Se até há muita informação sobre a biodiversidade em terra, com as cagarras entre as espécies mais estudadas, a vida neste mar mantém-se bastante desconhecida. Por isso, os cientistas têm batido as costas da Selvagem Grande na zona entre marés, à procura de algas, cracas, peixes nas poças. . . Ao mesmo tempo, no Creoula, equipas de mergulhadores vão até aos 25 metros de profundidade recolher exemplares de fauna e flora, fotografar e filmar. Entre os afazeres obrigatórios para todos - limpar o navio ou ajudar na cozinha a escamar douradas e a lavar panelões -, cumprem-se cinco mergulhos por dia. Dispostos em tabuleiros no convés, os exemplares recolhidos são triados, identificados, preservados em frascos. Entretanto, o Luso, da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), também tem mergulhado até aos dois mil metros e trazido amostras biológicas, rochas e água. Todos os dados, das equipas em terra e nos navios, vão sendo inseridos no M@rbis - Sistema de Informação para a Biodiversidade Marinha, desenvolvido pela EMEPC e o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade. O projecto pretende inventariar de forma exaustiva as espécies marinhas em Portugal. Da passagem pela Selvagem Pequena, antes portanto de a expedição se mudar para a Selvagem Grande, encontram-se ecos no diário pessoal de Mónica Albuquerque, bióloga da EMEPC. "O dia promete ser animado, porque vem muita gente a terra e há o jogo de Portugal [com a Costa do Marfim]", escreve a 15 de Junho, acrescentando que, após o pequeno-almoço, as visitas começam a chegar para ajudar nas saídas entre marés e na recolha de lixo. "Chocou-me o facto de serem ilhas desabitadas, mas com muito lixo provocado pelo homem e que é lançado no mar chegando a destinos tão longínquos como este", anota. "De tarde, a vida em terra foi abalada com a chegada de 30 ou 40 pessoas para verem o jogo. Conseguiram mesmo trazer do Creoula uma televisão maior. " A noite dos vómitosVoltando ao almoço preparado pelo grupo das aves, atum com batatas e ovo cozido vai ser servido numa mesa ao correr do alpendre na casa dos vigilantes. Por esta altura, já muitos andam desejosos de queijo. A saga das bolas de queijo começou uns dias antes entre Mónica Albuquerque, em terra, e Manuel Pinto de Abreu, o responsável pela EMEPC, a bordo do Almirante Gago Coutinho. Quem estava no Creoula e na caravela Vera Cruz, que transportou cientistas até às Selvagens, também ouviu. "Professor, do Gago Coutinho preciso de queijo", disse Mónica Albuquerque via rádio. "Tenho aqui cinco testemunhas que carregaram as bolas de queijo. Não há mais queijo!", respondeu Pinto de Abreu. "Vou pôr toda a gente à procura do queijo perdido", devolve a bióloga, que voltará ao assunto. "Professor, queremos queijo!" "Vou telefonar para o Funchal para termos queijo à nossa espera", brinca. Inglaterra vai jogar com a Eslovénia, e na televisão na sala ao lado da kitchenette na casa dos vigilantes vai poder ver-se o jogo, até porque aqui há painéis solares. Os cadeirões convidam. Numa estante da sala guardam-se os diários da Selvagem Grande onde os vigilantes registam os pequenos nadas. "Terça-feira, 8 de Junho de 2010: dia dedicado a limpezas na estação, visto que amanhã está prevista a chegada de três embarcações com cientistas e outras pessoas para ficarem cá cerca de 20 dias. Ao fim do dia foi efectuada uma subida ao topo para ver se estava tudo bem e ainda arrancámos alguns pés de Conyza. " Cinco dias depois, a 13 de Junho: "[Na comunicação via rádio com a Selvagem Pequena] ficámos a saber que o [Almirante Gago Coutinho] ia para o Funchal reparar o robô submersível que tinha avariado. " Tinha-se partido a peça que permite determinar a posição do Luso em relação ao navio. Era um percalço menor face ao que viria a acontecer. Depois do jantar, pelas dez da noite, a equipa das aves volta a subir a encosta para descobrir o que jantaram as cagarras. Na escarpa e no planalto, o sossego do dia deu lugar a uma chinfrineira desde as sete da tarde, quando as cagarras começam a regressar do mar. Fazem voos rasantes e ouvem-se entrecruzados os característicos gritos dos machos "au, au, au, hã". Com uma lanterna no chapéu, Paulo Catry avança pelo escuro e apanha uma cagarra, que encandeou e que não pára de gritar. "Este, em princípio, é um novo reprodutor que veio do mar", diz Hany Alonso quando o recebe. João Pedro Pio: "Como sabes que é um novo reprodutor?"Paulo Catry: "Um macho adulto em reprodução não anda armado em parvo a meio da noite. Tem mais que fazer do que andar nas coboiadas da juventude. Os reprodutores podem dar dois gritos à entrada do ninho e vão lá para dentro. " Sentado no chão, com um tabuleiro e um garrafão de água salgada à frente, Alonso empurra um tubo pela boca da ave. Ana Almeida bombeia a água, até que o bicho vomita no tabuleiro o que parece um pedaço de lula. Com uma pinça, coloca-o num frasco com álcool, enquanto João Pedro Pio toma notas de tudo. "Pronto, já passou", diz Alonso, enquanto submete outra cagarra ao mesmo procedimento. Seis cagarras depois, finalmente uma lavagem ao estômago dá um resultado de jeito. "Há ali uma espinha", avisa Ana Almeida. "Olha, talvez carapau, talvez. . . ", diz Alonso, que observa melhor. "É carapau quase de certeza. " Nesta ilha não há sossego? "Não!", atira Ana Almeida. "Há no Inverno. Deve ser uma tristeza", e ri-se. "Uau, uma lula inteira", diz a bióloga marinha. "A pota-voadora é a espécie que mais aparece na dieta", explica Alonso sobre a lula em questão. "Disseste pota-voadora?! Que espectáculo!", comenta João Pedro Pio. Doze cagarras depois, os vómitos forçados terminam. "Queremos perceber melhor o ecossistema deste mar profundo e pouco produtivo. Há pouca pesca, só ao atum", explica Catry. Encosta abaixo à meia-noite, a iluminação do Almirante Cago Coutinho sinaliza que o Luso se encontra em operação. Está a terminar um mergulho a 615 metros, saber-se-ia depois, o quinto ao largo das Selvagens. Na manhã seguinte, dia da visita já programada de Marcos Perestrello e Humberto Rosa, secretários de Estado da Defesa Nacional e do Ambiente, chega à Selvagem Grande a má notícia. O cabo de ligação do Luso ao navio cortou-se, perto das 11 da noite. O veículo, que já estava a 130 metros de profundidade, voltou ao fundo. Seria montada mais tarde uma operação de resgate (o que já ocorreu com sucesso). Acto de soberaniaMesmo com este revés, vai começar um frenesim mediático. Ao início da tarde, aproxima-se da ilha das aves um helicóptero militar, que levanta uma nuvem de poeira no planalto onde pousa. Dele desembarcam também os chefes de Estado-Maior da Armada e da Força Aérea, o almirante Fernando Melo Gomes e o general Luís Araújo, e um batalhão de jornalistas. Da ilha seguem de bote para o Creoula, depois para o Almirante Gago Coutinho, há declarações de circunstância, sublinha-se a dimensão da expedição da EMEPC e a cooperação entre muitas instituições científicas, quer dar-se visibilidade política à missão, e ao fim da tarde quase todos os que vieram partem na ave metálica. Expedição e visitas podem também interpretar-se como um acto de soberania. "Não foi essa a razão por que pensámos ir às Selvagens, mas não podemos dizer que o que estivemos a fazer não teve importância na afirmação da soberania. Teve com certeza", reconhece Pinto de Abreu. Entre os motivos principais da expedição está o M@rbis, acrescenta, que precisava de ser testado no terreno. Aliás, em Julho de 2008, o El País publicava uma reportagem nas Selvagens, com o título O maior litígio, referindo-se aos cinco séculos de disputa por estes pedaços de terra. Apenas em 1997 Espanha reconheceu a soberania portuguesa, mas o conflito, lembrava o jornal espanhol, mantém-se quanto à delimitação da zona económica exclusiva (ZEE). Em causa está a natureza das Selvagens. São meros rochedos, incapazes de suportarem habitantes humanos e uma actividade económica, como diz Espanha? Ou são ilhas, como defende Portugal? Como rochedos, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, estabelece que o Estado apenas tem direito às 12 milhas do mar territorial e a uma zona contígua, até às 24 milhas. Como ilhas, o Estado tem por exemplo direito a uma ZEE, que pode chegar às 200 milhas. A distância entre as Selvagens e as Canárias é de 82 milhas, por isso Portugal defende que a delimitação da ZEE se trace a meio das duas - ou seja, a 40 milhas de cada uma. Esta proposta empurra a ZEE portuguesa cerca de 80 milhas mais a sul do que Espanha quer, refere o El País. Espanha quer que a linha seja traçada entre as Canárias e a Madeira, separadas por cerca de 245 milhas, o que traria a delimitação mais para norte. A pouco mais de 120 milhas da Madeira, que, recorde-se, fica a 163 das Selvagens. "As Selvagens são ilhas de facto", afirma Pinto de Abreu. "Em determinada altura, eram fonte de alimento para a população da Madeira e havia um comércio associado às cagarras. " Só por motivos de protecção ambiental se acabou com esse comércio e estão habitadas pelos vigilantes, escrevia o jornal espanhol sobre os argumentos portugueses: "No dia em que se decidir povoá-las, poderia desenvolver-se uma actividade económica baseada no turismo ecológico. Se dúvidas restassem, pregaram uma caixa de correio na maior ilha para deixar clara a sua soberania. "Por agora, as Selvagens recebem 500 visitantes por ano, vindos sobretudo nos seus iates, e a ida a terra requer autorização do Serviço do Parque Natural da Madeira. Afirmação ou não da soberania, na expedição na Selvagem Pequena e na Selvagem Grande os biólogos fizeram 100 mergulhos, houve 25 saídas de campo, apanharam-se mais de 3300 exemplares de fauna e flora, identificaram-se 900 espécies, há outras 700 por triar e uma imensidão de fotografias e vídeos. E, com as visitas governamentais, pôs-se fim a pelo menos um problema imediato. Mónica Albuquerque pediu um favor. As visitas não se esqueceram e trouxeram duas bolas de queijo. No Ano Internacional da Biodiversidade, vamos publicar quinzenalmente, e até Novembro, reportagens sobre os trabalhos que investigadores portugueses desenvolvem em Portugal e no estrangeiro na conservação da natureza. Os conteúdos são da inteira responsabilidade do P2. A série Biodiversidade é patrocinada pelo Banco Espírito de Santo.
REFERÊNCIAS:
A genética vai revelar o mundo dos sacarrabos
Ao pé de coelhos, raposas e javalis, vive um carnívoro que prolifera cada vez mais. Uma equipa de cientistas está a descobrir os segredos de um animal que tem uma cauda usada para fazer pincéis de óleo. (...)

A genética vai revelar o mundo dos sacarrabos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao pé de coelhos, raposas e javalis, vive um carnívoro que prolifera cada vez mais. Uma equipa de cientistas está a descobrir os segredos de um animal que tem uma cauda usada para fazer pincéis de óleo.
TEXTO: O jipe voltou a parar pela terceira vez, a poucos metros da armadilha. Apesar de estar vazia como as outras duas armadilhas que tínhamos visto, havia uma diferença, as portinholas laterais estavam fechadas, e não havia nem um pombo morto, nem um pedaço de toucinho pacientemente à espera de serem comidos. Lá dentro, a prova do crime. "Ó engenheiro, é pêlo de sacarrabos ou quê?" "É, é. Nitidamente", disse Eduardo Oliveira e Sousa, dono da herdade de Agolada de Baixo, perto de Coruche, no Ribatejo, respondendo a Carlos Fonseca. O investigador, que estava agachado junto à armadilha, e já nos tinha convidado a cheirar o odor deixado pelo mamífero carnívoro de nome específico Herpestes ichneumon, não descansou antes de abrir a portinhola, esticar o braço lá para dentro e retirar o tufo. Pêlos cinzentos-claros, castanhos-escuros, o esperado. A atenção do cientista da Universidade de Aveiro desviou-se para as pegadas junto da armadilha. Carlos Fonseca tinha-nos falado da dificuldade em encontrar vestígios do animal: "Eu tenho um molde branco em gesso para as aulas que dou, porque no campo é muito difícil encontrar as pegadas. "Agora, desenhava no caderno uma das duas pegadas que se viam na terra. "A almofada [que o mamífero tem como têm os gatos] é maior, depois temos um, dois, três, quatro dedos afastados", explicou-nos. As pegadas eram a prova da fuga do sacarrabos. Segundo a teoria proposta ali pelos dois homens, o mamífero tinha aproveitado a folga entre o chão desnivelado e a armadilha para meter a cabeça, empurrar a portinhola para cima e fugir. "Se ele passa a cabeça, passa o corpo todo", constatou Eduardo Oliveira e Sousa, que conhece bem o animal. Semanas antes tínhamos visto outro indivíduo da espécie, numa gaiola noutro local da Agolada de Baixo. O mamífero, de focinho curto e corpo esguio e comprido, podia perfeitamente passar por um buraco assim. O sacarrabos ganhou o dia. Senão, o destino deste indivíduo seria igual ao de tantos outros. A espécie é cinegética, todos os anos milhares de sacarrabos são caçados entre Setembro e Fevereiro ou capturados e mortos nos restantes meses, mesmo que não tragam grande benefício para o Homem. A carne não é apreciada e, da pele, o máximo que se pode aproveitar é o final da cauda que serve para fabricar pincéis de óleo. O sacarrabos perdeu os predadores naturais como o lince-ibérico e o lobo, e mesmo com a pressão dos caçadores continua a expandir o seu território em Portugal, ajudado pelo avanço do mato nos terrenos que deixaram de ser utilizados para a agricultura. Há 20 anos, Castelo Branco seria o limite máximo da sua distribuição, hoje é avistado até em Vinhais, no Norte. Se não for controlado, pode pressionar demasiado as presas, como por exemplo o coelho. Por esta expansão continuar a aumentar, por se conhecer tão pouco sobre a ecologia da espécie, a genética da população portuguesa, as ligações sociais e o estado sanitário, o grupo de Carlos Fonseca vai utilizar as carcaças recolhidas pelos caçadores de norte a sul do país para fazer análises genéticas aos indivíduos. "Com a genética podemos determinar quais são as populações que se estão a expandir, se a reprodução é mais robusta nas fronteiras da expansão, como é que são as relações sociais entre os indivíduos", explicou ao P2 Carlos Fonseca. O cientista está à frente de um projecto que vai tirar uma fotografia à ecologia do sacarrabos através da genética. As conclusões podem alterar a forma como a gestão da espécie é feita e ter implicações no ordenamento do território e na conservação de outros animais como o lince-ibérico. Ele é nossoNo terreno, as pegadas do carnívoro estão a poucos metros de uma das estradas de terra batida que percorre a herdade de 1500 hectares. Perto passa um curso de água que está escondido por silvas e um arbusto chamado sargaço. Em redor, os eucaliptos altos oferecem manchas de sombra ajudados por alguns pinheiros-mansos. "Este pedacinho de terra é um bom exemplo do que o sacarrabos gosta", disse Carlos Fonseca. O curso de água proporciona anfíbios ao mamífero e no terreno preenchido por esconderijos podem encontrar-se coelhos, lebres e, provavelmente, ovos de aves. O engenheiro diz já ter visto um indivíduo com o coelho na boca, mas, apesar do que possa vir na literatura científica, não se sabe ao certo como é o resto da sua alimentação e se existem variações regionais. O projecto da equipa do biólogo também quer responder a estas dúvidas. O nome do sacarrabos deriva de um comportamento observado na espécie. "Quando se vê um grupo, as fêmeas com a ninhada seguem em fila indiana com a cara dos filhos a tocar na cauda do indivíduo que está à frente, por isso parece que estão a "sacar os rabos"", explicou o cientista. Esta figura também lhes deu o nome de cobra com pêlo, adianta Eduardo Oliveira e Sousa. Mangusto é outro nome comum desta espécie, que em Espanha se chama de meloncillo. Até agora, pensava-se que este animal endémico de África tinha sido introduzido na Península Ibérica durante a ocupação dos árabes. Estudos recentes mostram que a única população que existe na Europa é mais antiga e passou para cá através do estreito de Gibraltar, durante o processo de glaciação. "Estamos a publicar uma análise que demonstra que o sacarrabos já existe na Península Ibérica desde o Plistocénico, há cerca de 20 mil anos. É uma espécie que se expandiu, regrediu, expandiu, regrediu [no território ibérico]", explica Carlos Fonseca. O artigo ainda está por publicar, o primeiro autor é Philippe Gaubert, biólogo do Museu de História Natural de Paris, que também estará envolvido no projecto de Fonseca para ajudar à análise genética. Os resultados, apesar de surpreendentes, podem explicar diferenças no comportamento entre as populações, como a actividade diurna que se vê em Portugal e Espanha, mas que é nocturna nas populações africanas. Durante os últimos milhares de anos, o comportamento dos nossos sacarrabos provavelmente modificou-se. Safari portuguêsDe regresso ao jipe, o engenheiro levou-nos até ao local onde semanas antes tinha sido capturado o outro sacarrabos. Pela estrada, pode-se ver o milharal rasgado por clareiras feitas pelos javalis. Dos oito hectares de milho que se plantaram na herdade, Eduardo Oliveira e Sousa diz que só se aproveitam "três ou quatro". De dia, os javalis escondem-se no eucaliptal, de noite fazem incursões no milho e nos campos de arroz, que também é o habitat da lontra, da garça-real, da cegonha e do lagostim-vermelho do Luisiana, que "felizmente" hoje faz parte da dieta das lontras. No açude da Agolada, onde o engenheiro "não deixa dar um tiro", pode ver-se ainda um bando de patos-bravos, e do lado de lá um pinhal que é visitado por quem quiser. Perto do solar, há ainda um cercado onde estão gambos. Depois, entra-se na zona dos sobreiros, que têm os troncos despidos de cortiça desde 2007. Uma das árvores, enorme, tem metade dos ramos secos e outra metade cheios de folhas. "Daqui a dois anos esta árvore está morta", especulou o caçador, que ainda não tem uma explicação para a morte súbita de vários sobreiros no terreno, um fenómeno que assola o país. De repente, uma águia-de-asa-redonda solta-se de uma árvore e voa para outro ramo. É um dos poucos potenciais predadores do sacarrabos. A herdade tem ainda outros carnívoros como a doninha, o texugo, a raposa e o ginete. Os coelhos são dos animais que mais se vêem pelo campo, mas o seu número já foi bem maior. "Este ano não se vai caçar coelhos, mas os caçadores não acreditam", disse Eduardo Oliveira e Sousa, que também é presidente da Associação Nacional de Proprietários e Produtores de Caça. Desde 1991 que o terreno é utilizado para caça. "No início caçávamos cinco a seis mil coelhos por época, agora uma época boa são 500 ou 600", tinha-nos contado o caçador. A doença hemorrágica viral e a mixomatose, outra doença causada por um vírus, têm vindo a dizimá-los. O jipe parou perto da armadilha que tinha capturado o sacarrabos. Estava novamente preparada para atrair outro indivíduo. No meio, um pombo morto pendurado serve de isco, se um indivíduo entra na gaiola e acciona o pedal que está por baixo do isco, as portinholas abertas dos dois lados caem imediatamente e prendem o sacarrabos. O carnívoro que tínhamos visto era um macho castanho-escuro, tinha menos de um metro de comprimento e estava assustado pela visita. A carcaça do indivíduo vai ser estudada pela equipa. "Como a captura vai ser completamente aleatória, vai ser possível extrapolar a estrutura da população através da genética", adiantou Carlos Fonseca. Os investigadores poderão compreender qual é a relação entre machos e fêmeas, quantas ninhadas existem por ano, com quantas crias. "Hoje caça-se e captura-se todo o tipo de sacarrabos por uma questão de controlo, não há uma selecção. Estes dados podem dizer se capturamos mais fêmeas ou indivíduos jovens machos para interferir na expansão. "As doenças deste carnívoro estão a ser analisadas pelo Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, em Lisboa. Segundo o biólogo, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade está interessado nesta informação para antecipar as doenças que o lince-ibérico pode estar susceptível nas zonas de reintrodução. A própria evolução da cobertura vegetal vai ficar retratada. "Osacarrabos vai servir de matéria-prima para o estudo dos ecossistemas do país", concluiu Carlos Fonseca. No Ano Internacional da Biodiversidade, vamos publicar quinzenalmente, e até Novembro, reportagens sobre os trabalhos que investigadores portugueses desenvolvem em Portugal e no estrangeiro na conservação da natureza. Os conteúdos são da inteira responsabilidade do P2.
REFERÊNCIAS:
Quatro portugueses entre as 54 obras semifinalistas do Prémio PT de Literatura
Quatro escritores portugueses estão nomeados para o Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa: José Saramago (“Caim”), António Lobo Antunes (com duas obras:”O meu nome é legião” e “Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?”), Mário Cláudio ("Boa noite, Senhor Soares") e Maria Teresa Horta (“Poemas do Brasil”). (...)

Quatro portugueses entre as 54 obras semifinalistas do Prémio PT de Literatura
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-05-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quatro escritores portugueses estão nomeados para o Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa: José Saramago (“Caim”), António Lobo Antunes (com duas obras:”O meu nome é legião” e “Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?”), Mário Cláudio ("Boa noite, Senhor Soares") e Maria Teresa Horta (“Poemas do Brasil”).
TEXTO: Os quatro fazem parte da lista de semifinalistas do prémio, que foi apresentada hoje, no Real Gabinete de Leitura, no Rio de Janeiro. Da lista fazem ainda parte os angolanos Ondjaki (“Avó dezanove e o segredo do soviético”) e José Eduardo Agualusa (“Barroco tropical”) e o moçambicano Mia Couto ( “Antes de nascer o mundo”, que em Portugal foi editado com o nome de “Jesusalém”). Os brasileiros Rubem Fonseca (“O seminarista”), João Ubaldo Ribeiro (“O albatroz azul”), Dalton Trevisan (“Violetas e pavões”), Luis Fernando Veríssimo (“Os espiões”), Milton Hatoum (“A cidade ilhada”), Chico Buarque (“Leite derramado”), Luiz Ruffato (“Estive em Lisboa e lembrei de você”), Bernardo Carvalho (“O filho da mãe”), Mario Sabino (“A boca da verdade”), Michel Laub (“O gato diz adeus”) e Rodrigo Lacerda (“Outra vida”), Reinaldo Moares (“Pornopopéia”), Carlito Azevedo (“Monodrama”) e Edney Silvestre (“Se eu fechar os olhos agora”) são alguns dos seleccionados. Um júri composto por Alcides Villaça, Allison Marcos Leão, Antonio Carlos Secchin, Antonio Torres, Beatriz Resende, Cristovão Tezza, Jerusa Pires Ferreira, José Castello, Lorival Holanda, Regina Zilberman, Sérgio Sá e pelos curadores do prémio (Benjamin Abdala Jr. , Leyla Perrone-Moisés, Manuel da Costa Pinto e Selma Caetano) irá decidir quais serão os dez finalistas. Os nomes dos finalistas serão divulgados em Agosto e o júri final elege a 8 de Novembro os três livros vencedores. O Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa contempla três vencedores. O primeiro receberá 100 mil reais (45. 700 euros), o segundo 35 mil reais (15. 900 euros) e o terceiro 15 mil (6. 800 euros). O vencedor do ano passado foi Nuno Ramos, com o romance “Ó”. Notícia corrigida às 21h06
REFERÊNCIAS:
Reportagem: o Mindelo já tinha blogue antes da Internet
A montra do Djibla é como um blogue e vem do tempo em que ninguém conhecia a palavra Internet. É lá que, desde há mais de quatro décadas, os mindelenses procuram novidades, casos curiosos - o tubarão enorme trazido pelos pescadores, o barco encalhado, o acidente que deixou o carro em cima da árvore ... "Qualquer coisa estranha que apareça eu imprimo e ponho na montra." (...)

Reportagem: o Mindelo já tinha blogue antes da Internet
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-02-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A montra do Djibla é como um blogue e vem do tempo em que ninguém conhecia a palavra Internet. É lá que, desde há mais de quatro décadas, os mindelenses procuram novidades, casos curiosos - o tubarão enorme trazido pelos pescadores, o barco encalhado, o acidente que deixou o carro em cima da árvore ... "Qualquer coisa estranha que apareça eu imprimo e ponho na montra."
TEXTO: E assim continua a ser: a montra da loja de fotografia e óptica de Djibla na Rua de S. João, uma transversal da Rua de Lisboa, bem no centro do Mindelo, é lugar de romagem, mesmo para quem nada quer comprar: estudantes, desempregados, funcionários, polícias, todos se habituaram a parar para ler e comentar notícias e curiosidades que o próprio Daniel Mascarenhas, nome de Djibla no bilhete de identidade, coloca e, por vezes, comenta. "Se aconteceu alguma coisa estranha, já se sabe que no Djibla tem", confirma Carlos Fernandes, ajudante de despachante e estudante de gestão. Tem 39 anos e desde criança que ali passa para saber as últimas. A montra mais famosa do Mindelo é mais do que um jornal de parede, os seus assuntos são motivo de conversa. "Uns dizem que é mentira, outros que é verdade", afirma o próprio Djibla. O hábito de parar no Djibla enraizou-se de tal modo que se as novidades tardam, logo há quem estranhe. Há tempos, avariou-se-lhe a impressora em que estampa informações que agora também recolhe na Net. Logo houve quem estranhasse: "O Djibla não põe nada de novo? O Djibla está com medo"?"Os meus comentários também agradam. Eu digo coisas que muita gente gostaria de dizer e não diz", afirma. Um dos últimos acompanha uma notícia sobre a decisão governamental de colocar polícia militar nas instalações da Electra, a produtora de electricidade, depois de um recente e polémico "apagão" na ilha de Santiago. O Governo do PAICV, Partido Africano da Independência de Cabo Verde, alegou sabotagem, a oposição atribuiu a quebra às más condições da rede eléctrica. "Sabotagem - longa-metragem tecnicolor. Mais um filme policial a correr no Eden Park", ironizou Djibla. Daniel Mascarenhas, hoje com 70 anos, cabelo grisalho, não é apenas um precursor dos bloggers. É um crítico da governação do PAICV. Por estes dias, com as eleições de domingo à vista, a sua montra é um manifesto político. Os jornais e escritos não escondem a preferência pelo MpD (Movimento para a Democracia), partido que na década de 1990, depois de instaurado o multipartidarismo, representou como deputado independente. Djibla, também eleito municipal no tempo em que Onésimo Silveira, ex-embaixador em Portugal, presidiu à Câmara de São Vicente, considera que, tal como "o PAI", o MpD cometeu erros: "Também ficaram uns sabichões e a coisa foi-se abaixo. " Mas as suas críticas são bem mais corrosivas para o partido da independência, que responsabiliza pela "pouca evolução" do país nos primeiros anos, pela perseguição de adversários e estatização da economia. Afinal, é um empreendedor, que a guerra terá desviado de um destino de cirurgião. Tinha o antigo 7. º ano por concluir quando, no início dos anos 1960, a tropa chamou este filho de funcionário de alfândega nascido na ilha de Maio, onde o pai estava então. Foi militar em Portugal continental e Angola, onde o gosto e jeito para a fotografia, que começara a cultivar aos 14 anos no Liceu do Mindelo, lhe traçou o caminho. Estava colocado no gabinete de estudos e planeamento do Exército, em Luanda, quando um dia foram precisas fotografias e não se encontrou na cidade quem as fizesse com a rapidez necessária. Disponibilizou-se para o trabalho e a coisa correu tão bem que ficou como fotógrafo oficial do quartel, a cobrir juramentos de bandeira e a fazer fotos para documentos dos recrutas. Quando regressou ao Mindelo, havia perdido quatro anos e quatro meses e faltava-lhe acabar o 7. º ano. Ao mesmo tempo que completa o secundário, Djibla continua a dedicar-se à fotografia. Em São Vicente só havia dois fotógrafos e o trabalho correu bem. "Vi que era um ramo que dava e já não me interessou a formação superior. " Foi por essa altura, pelo ano de 1967, que começou a afixar na montra informações estranhas e curiosas que se habituou a recolher e a fotografar.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
ADN localiza três cartéis que traficam marfim em África
Um dos grandes perigos para os elefantes é a caça furtiva pelo marfim. Agora, foram desenvolvidas novas técnicas genéticas e forenses para identificar os principais cartéis responsáveis pelo comércio ilegal de marfim. (...)

ADN localiza três cartéis que traficam marfim em África
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 17 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190710181516/https://www.publico.pt/n1844538
SUMÁRIO: Um dos grandes perigos para os elefantes é a caça furtiva pelo marfim. Agora, foram desenvolvidas novas técnicas genéticas e forenses para identificar os principais cartéis responsáveis pelo comércio ilegal de marfim.
TEXTO: Se há crime que ameaça os elefantes em África é o tráfico de marfim. Por que não resolver este crime juntando técnicas genéticas e análise forense, ou seja, fazendo uma espécie de CSI? Foi isso que uma equipa de cientistas dos Estados Unidos, do Quénia e da Malásia fez e apresentou esta quarta-feira num artigo científico na Science Advances. Desta forma, conseguiu-se detectar três grandes cartéis que traficaram marfim para fora de África entre 2011 e 2014. O comércio internacional de marfim de elefantes é ilegal desde 1989, mas continua a ser um problema. “Os grandes crimes organizados transnacionais aumentaram drasticamente desde 2006, coincidindo com o grande aumento da carga em contentores transportada pelo mundo. O comércio ilegal de marfim de elefantes africanos não é excepção”, lê-se no artigo. Estima-se que esse comércio ilegal seja responsável pela morte de 40 mil elefantes todos os anos. Já entre 1996 e 2011, calcula-se que cerca de 70% das capturas de marfim tenham sido transportadas em grandes contentores (que têm, pelo menos, uma tonelada métrica). E, em 2016, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) chegou mesmo a apontar a caça furtiva pelo marfim como a principal razão pela morte de cerca de 111 mil elefantes entre 2005 e 2015. Foi a pensar neste problema que a equipa de Samuel Wasser – também autor do recente estudo e da Universidade de Washington, nos EUA – desenvolveu técnicas de análise genética para sequenciar ADN extraído de marfim do tráfico ilegal de elefantes. Num artigo científico publicado em 2015 na revista Science, essa equipa referia que tinha feito um “mapa” genético de populações de elefantes africanos à escala regional através de ADN de excrementos desses mamíferos. E contava que, a partir de uma colaboração com a Interpol (entidade policial internacional), tinha recebido amostras de marfim apreendido. No final, a equipa analisou 28 “lotes” de marfim ilegal apreendidos entre 1996 e 2014 e confrontou-os com o mapa genético elaborado anteriormente. Resultado: mais de 85% do marfim apreendido entre 2006 e 2014 tinha tido origem em duas regiões. Uma dessas regiões dizia respeito aos elefantes de floresta e situava-se entre o Nordeste do Congo, o Sudeste dos Camarões e o Sudoeste da República Centro-Africana. Já a outra correspondia aos elefantes de savana e ficava na África Oriental, mais precisamente entre o Sudeste da Tanzânia e o Norte de Moçambique. Na altura, este estudo também sugeria que um dos maiores lotes de marfim ilegal tinha material genético que vinha das duas regiões. O que significava isto? Que existiriam relações comerciais entre os principais traficantes naquelas zonas. Agora, quis-se saber quantos cartéis de tráfico de marfim existem em África. Para tal, juntou-se ao trabalho de 2015 a análise genética de presas de elefantes – os dois incisivos superiores, que são salientes e têm marfim – encontradas em 38 grandes remessas de marfim confiscadas entre 2011 e 2014. Em cada apreensão, procurou-se as duas presas do mesmo elefante. “Fizemos isso ao medir o diâmetro da base da presa, que é o local onde ela se liga à mandíbula. E alinhámos todas as presas da mais pequena à maior com base no seu diâmetro”, conta ao PÚBLICO Samuel Wasser. Depois, reorganizou-se as presas do mesmo tamanho com as que tinham a mesma cor (ou a tonalidade mais próxima). Teve-se ainda em conta a linha que separa a gengiva da parte visível do dente, pois é aqui que a presa “sai” do lábio do elefante. Além disso, a distância da base dessa linha é muito simétrica nas presas do mesmo elefante. Por fim, extraiu-se ADN dessas presas. Percebeu-se assim que muitas das presas estavam “órfãs”, ou seja, o seu par não estava na mesma apreensão. Contudo, ao compararem amostras de ADN das várias apreensões, verificou-se que 26 pares de presas de 11 apreensões tinham correspondência genética. Todas as peças desta investigação se encaixaram quando se juntaram a estes dados informações sobre as exportações no mesmo porto entre 2011 e 2014, altura em que o tráfico de marfim atingiu o seu pico. Desta forma, a equipa identificou o que acredita que sejam os três grandes cartéis que traficaram marfim durante esse período. Mais concretamente, esses grupos criminosos deverão actuar em Mombaça (Quénia), Entebbe (Uganda) e Lomé (Togo). “Não só identificámos as origens geográficas da caça furtiva de elefantes e o número de populações representadas numa apreensão como também ajudámos a relacionar as diferentes apreensões à mesma rede criminosa através das mesmas ferramentas genéticas”, resume Samuel Wasser. “O mais surpreendente foi saber que o número e a localização de grandes cartéis são relativamente baixos e que eles estão interligados. ” E reforça que não identificaram concretamente os cartéis no estudo e que esse trabalho é agora da responsabilidade das autoridades policiais. Para que pode contribuir então? “Pode ajudar a apanhar os grandes criminosos transnacionais que transportam o seu produto em grandes contentores legais por todo o mundo”, explica o cientista. “Os nossos métodos de ADN podem ajudar a polícia a alcançar o contrabando [de marfim] antes que saia de África e se torne mais caro e difícil de rastrear. ”Samuel Wasser defende que, ao combater-se o comércio ilegal desta forma, será mais fácil proteger os elefantes e mantê-los vivos. “Ambos os trabalhos indicam que o número de locais-chave e os grandes cartéis são poucos. Além disso, estes estudos mostram onde devemos actuar. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Neste momento, os dados obtidos por estas ferramentas genéticas estão a ser usados pela polícia e pelos decisores políticos. Samuel Wasser indica que estas técnicas não irão estar à venda, mas que estarão disponíveis para todos os que queiram utilizá-las. Este método pode ser aplicado também a outros animais, como tubarões e pangolins. Afinal, a equipa quer identificar agora outros cartéis em África que tanto trafiquem marfim de elefantes como de pangolins, um dos mamíferos mais traficados do mundo.
REFERÊNCIAS:
Entre Peniche e as Berlengas passaram mais de 300 mil aves em quatro meses
Projecto juntou especialistas de cinco países para estudar o movimento das aves marinhas entre o Norte da Europa e o Atlântico Sul e tem impacto na ciência e no turismo. (...)

Entre Peniche e as Berlengas passaram mais de 300 mil aves em quatro meses
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.5
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Projecto juntou especialistas de cinco países para estudar o movimento das aves marinhas entre o Norte da Europa e o Atlântico Sul e tem impacto na ciência e no turismo.
TEXTO: O céu é de um azul intenso e o sol, baixo, a Leste, ilumina como um foco um mar invulgarmente calmo na costa de Peniche, com as Berlengas em frente. A cor branca do farol sobressai no meio de tanto azul. “Vemos as pessoas na ilha”, conta Helder Cardoso, ornitólogo, mostrando o telescópio que aponta para Oeste. Mas o objectivo não é ver gente, mas sim aves. O projecto Peniche Seabird Count junta especialistas da Suécia, do Reino Unido, Luxemburgo, Suíça e Portugal para fazer o recenseamento das aves migratórias que nesta altura do ano demandam das costas de Inglaterra, Irlanda, Escandinávia, Gronelândia, e até da tundra russa, para paragens mais quentes do Brasil, costa africana e até do Sul da África do Sul. No fim-de-semana passado, últimos dias da contagem, foi assim. Uma manhã azul e soalheira, num típico dia do Verão de São Martinho, mas há outros em que o vento uiva, o mar endemoninha e a chuva fustiga os ornitólogos que permanecem firmes no local, quais soldados no seu posto de vigia, a contar as aves que vão passando no mar. A humidade infiltra-se no corpo, apesar das camisolas e dos impermeáveis, mas os turnos diários das 7h30 às 10h30 e das 14h30 às 17h30 têm de ser cumpridos, bem como o turno semanal de um dia inteiro, sem intervalos, que vai ajudar a calibrar os registos observados nos outros dias. Helder Cardoso, que trabalha por conta própria como consultor em estudos de impacto, relata que foram contadas mais de 300 mil aves em quatro meses, até 15 de Novembro. E que, embora haja agora muito trabalho de análise para fazer, já há algumas surpresas e conclusões. Em primeiro lugar, o número de aves, que foi muito superior ao que esperavam. E depois, a observação de espécies com estatuto de conservação, como é o caso da pardela balear, que vive no Mediterrâneo e vem no Verão ao Golfo da Biscaia mudar de penas. A população mundial desta espécie, que está criticamente ameaçada, estima-se em 20 mil indivíduos. Em Peniche, viram-se passar 16 mil, ou seja, 70% do total. Mas para que serve contar aves? O que ganham a ciência e as pessoas com projectos deste tipo?“A ciência ganha conhecimento, que não havia, no domínio da migração das aves marinhas”, responde Helder Cardoso. “Até agora, só havia uma contagem anual realizada pela Sociedade Portuguesa do Estudo das Aves, na qual colaboro, mas este é o primeiro estudo sistematizado com esta dimensão e duração, e o único no Sul da Europa. ”O projecto permite, assim, constituir uma base de dados a partir da qual se poderá aferir o aumento ou a diminuição das espécies. Por outro lado, a ciência cruza-se aqui com a economia. As aves marinhas são predadoras de topo no oceano. Alimentam-se de peixes que por sua vez também se alimentam de outros peixes, pelo que o conhecimento sobre as suas migrações ajuda na gestão dos recursos piscatórios. “As aves são um óptimo barómetro sobre o que se passa dentro do mar”, diz Helder Cardoso. E depois há ainda o turismo. O ornitólogo diz que Peniche tem condições para ser um dos maiores centros mundiais de observação de aves, pois o Cabo Carvoeiro é o segundo ponto mais ocidental da Europa. Nas suas rotas migratórias, os bandos voam sempre ao longo da costa e a maioria passa exactamente pelo corredor de dez quilómetros que medeia entre Peniche e as Berlengas. O mercado dos birdwatchers (entusiastas pela observação de aves) não é displicente. Só em Inglaterra contam-se mais de um milhão, a somar aos inúmeros aficionados dos países nórdicos e da Europa central. Pessoas com poder de compra e que não se importam de viajar só para poder observar e fotografar aves. Mais um complemento para o cluster do mar que tem emergido em Peniche, associado ao surf, à praia, ao mergulho e à pesca. O presidente da Câmara Municipal de Peniche, António José Correia, é, ele próprio, um apaixonado pela observação de aves e tem imagens publicadas no Instagram. Diz que este projecto – que teve o apoio da câmara municipal no alojamento dos voluntários e da Agência Regional de Promoção Turística do Centro nas viagens dos voluntários, com um investimento total de 5000 euros – é um “casamento feliz entre ciência, turismo e territórios”, associado ainda às Berlengas enquanto Reserva da Biosfera da UNESCO.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
Meireles: "Fizemos um jogo competente frente à Costa do Marfim”
Raul Meireles defendeu hoje que Portugal “fez um jogo competente” frente à Costa do Marfim (0-0), considerando que um golo teria mudado todo o cenário na estreia no Mundial. (...)

Meireles: "Fizemos um jogo competente frente à Costa do Marfim”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 12 | Sentimento -0.05
DATA: 2010-06-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Raul Meireles defendeu hoje que Portugal “fez um jogo competente” frente à Costa do Marfim (0-0), considerando que um golo teria mudado todo o cenário na estreia no Mundial.
TEXTO: “O que tem de mudar (contra a Coreia do Norte)? Os golos. A bola entrar, pois fizemos um jogo competente, bom tacticamente. Apenas faltou o golo. É isso que temos de corrigir neste jogo”, frisou. O médio luso recordou que o rival africano assumiu uma atitude conservadora que complicou a missão nacional: “A Costa do Marfim estava bastante fechada, compacta e por vezes torna-se difícil. Às vezes também é preciso ter um jogo mais seguro e não arriscar tanto. Um dos objetivos era também não sofrer golos e esse foi alcançado”. “Fizemos um jogo competente, não sofremos golos. Tentamos tudo para chegar à baliza. Tivemos jogadas ofensivas que não acabaram em remate. Rematar do meio campo contaria para estatísticas. . . ”, lembrou, desvalorizando o facto da equipa de Queiroz apenas ter atirado duas vezes à baliza. Por defender o desempenho na estreia, o único luso a participar em todos os desafios do projecto Mundial2010 garante que frente à Coreia do Norte o comportamento vai manter-se: “Tivemos vontade de ganhar, fomos atrás da vitória e isso é o mais importante. O que tem de mudar é a bola entrar e vamos trabalhar para que isso aconteça”. O atleta lembra ainda que o futebol moderno é “mais táctico, há jogadores com bastante qualidade, os jogos são mais disputados e por isso não há tantos golos, pois defensivamente as equipas também são mais fortes”. Os rivais do grupo G Brasil e Costa do Marfim jogam um dia antes em Joanesburgo, mas Raul Meireles considera que “isso não é vantagem”, pois defende que Portugal apenas pensa no seu jogo em vencê-lo.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Laurent Gbagbo toma posse como Presidente da Costa do Marfim
O Presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, foi reinvestido no cargo depois do Conselho Constitucional ter invalidado o resultado da votação de 28 de Novembro e denunciou como intolerável a “ingerência política” das Nações Unidas, União Europeia, Estados Unidos e França, que não reconheceram a sua reeleição e consideram o seu rival, Alassane Ouattara, o legítimo vencedor das presidenciais. (...)

Laurent Gbagbo toma posse como Presidente da Costa do Marfim
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, foi reinvestido no cargo depois do Conselho Constitucional ter invalidado o resultado da votação de 28 de Novembro e denunciou como intolerável a “ingerência política” das Nações Unidas, União Europeia, Estados Unidos e França, que não reconheceram a sua reeleição e consideram o seu rival, Alassane Ouattara, o legítimo vencedor das presidenciais.
TEXTO: A União Africana emitiu um comunicado em que diz rejeitar "qualquer tentativa de criar um facto consumado" e de impor um resultado diferente do validado pela comissão eleitoral. O Fundo Monetário Internacional anunciou também que só continuará a trabalhar com o Governo da Costa do Marfim se este for apoiado pelas Nações Unidas. Estas tomadas de posição aconteceram depois de Gbagbo ter sido reempossado na presidência, durante a tarde, ao arrepio dos resultados confirmados pela comissão eleitoral. “Nestes últimos dias, tive oportunidade de observar graves casos de ingerência”, declarou Gbagbo, na intervenção proferida na sua cerimónia de investidura no Palácio Presidencial de Abidjan. “Para que a nossa soberania não seja espezinhada, apelo à comunidade internacional que deixe de se ingerir nos nossos assuntos”, solicitou. Na sexta-feira, o Conselho Constitucional da Costa do Marfim declarou Laurent Gbagbo como o vencedor das eleições presidenciais de 28 de Novembro, declarando a invalidade dos resultados certificados pela comissão eleitoral do país, que atribuíra a vitória ao rival Alassane Ouattara. Ouattara, um muçulmano de 68 anos, liderava a contagem dos votos, com 54, 1 por cento, contra os 45, 9 por cento do evangélico Gbagbo, no poder desde 2000. Mas o Conselho Constitucional anulou os votos dos nove departamentos do Norte, controlados por Ouattara. Essa decisão catapultou Gbagbo de novo para a presidência e ameaça dividir mais o país, prolongando a crise política que dura há mais de uma década. Sublinhando que o seu papel como Presidente é o de defender a lei e o Direito, Laurent Gbagbo disse que “jamais negociaria” a soberania da Costa do Marfim, numa referência às declarações de vários líderes internacionais que não aceitaram a sua declaração de vitória. “Nunca pedi a ninguém de fora para me dar posse”, frisou Gbagbo. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, manifestou a sua “profunda preocupação” pelos desenvolvimentos políticos dos últimos dias na Costa do Marfim. Aconselhou as autoridades e os actores políticos marfinenses a “fazer prova da sua responsabilidade e abster-se de qualquer acto de violência”. De acordo com as descrições da imprensa internacional em Abidjan, a capital já está tomada por um clima de violência. Barroso reafirmou que a União Europeia entende que, com a maioria dos votos, Alassane Ouattara é o “vencedor legítimo” das presidenciais. “Associo-me às mensagens de felicitação da comunidade internacional a Alassane Ouattara, e saúdo-o como o vencedor legítimo destas eleições democráticas”, declarou Barroso, em comunicado. Também de Londres surgiu um apelo para que “todos os partidos respeitem os resultados anunciados por uma comissão eleitoral independente e certificados pelo representante especial das Nações Unidas para a Costa do Marfim”. O Reino Unido condenou as ameaças feitas contra o pessoal da Organização das Nações Unidas na Costa do Marfim – cujo representante, Youn-jin Choi, criticara a decisão do Conselho Constitucional, argumentando que a vitória de Gbagbo “não corresponde aos factos”. O chefe da diplomacia britânica, William Hague, lembrou que “foi a pedido de todos os partidos implicados nas eleições que as Nações Unidas foram mandatadas para apoiar o processo de paz e certificar as eleições”. Notícia actualizada às 18h00
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei violência comunidade marfim