Arte portuguesa na noite dos museus em Paris
A 18 de Maio, duas dezenas de galerias parisienses e outros palcos abrem as suas portas à criação contemporânea lusa. (...)

Arte portuguesa na noite dos museus em Paris
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-03-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A 18 de Maio, duas dezenas de galerias parisienses e outros palcos abrem as suas portas à criação contemporânea lusa.
TEXTO: A Noite Europeia dos Museus é uma iniciativa francesa já com história, associada em 2005 à comemoração do Dia Internacional dos Museus lançado pela UNESCO na década de 1970. Este ano, vai ser aproveitada pela Embaixada de Portugal em França e pelo Centro Cultural Camões em Paris para dar uma visibilidade acrescida à arte portuguesa nesta cidade. Sabemos que a cena artística da capital francesa retém a memória de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), que aí se radicou, montou casa e família, atelier e arte durante a parte maior da sua vida. E também a de Manuel Cargaleiro, sobretudo pelos azulejos que desde 1995 decoram a estação do metro Champs Elysées-Clémenceau. Mas a arte portuguesa em Paris é muito mais que esses nomes históricos, e é isso que João Pinharanda, conselheiro cultural da Embaixada e director do Centro Camões, quer agora mostrar com o projecto Lusoscopie – “um jogo com a ideia da lusofonia”, que partiu da “constatação da enorme quantidade de artistas portugueses com galeria em Paris, o que prova uma real penetração, desconhecida ou desvalorizada, no mercado francês e internacional”, diz o também crítico e curador ao Ípsilon. O programa de Lusoscopie – Artistas Portugueses em Paris está ainda em construção. Mas, para essa noite longa de 20 de Maio – e dias adjacentes, conforme as agendas de cada espaço –, está já assegurada a cumplicidade das galerias Kogan (desenho e pintura de Jorge Martins), du Passage (cerâmica de Bela Silva), Mendes (desenho e pintura de Rui Chafes, a dialogar com o acervo desta galeria especializada em arte dos séculos XVII-XVIII), Hélène Bailly (pintura de Cargaleiro, a assinalar o seu 90. º aniversário, mas também de Vieira da Silva e Árpád Szenes), Thorigny (obras de Rodolf Bouquillard, em diálogo com arte africana pré-colonial), Jeanne Bucher/Jaeger (Miguel Branco, Rui Moreira, Michael Biberstein, Vieira e Árpád, numa colectiva com artistas internacionais), Bernard Bouche (obras de José Pedro Croft), Álvaro Roquette/Pedro Aguiar Branco (Adriana Molder, Ana Léon, Maria Beatriz, Maria Loura Estevão, também em articulação com outras obras da galeria). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. João Pinharanda adianta outros nomes ainda a confirmar, como a galerie Jean-Kelta Gauthier ou o atelier de arquitectura Macel (respectivamente com fotografia de Daniel Blaufuks e de André Cepeda). E outros ficam já em lista de espera para o próximo ano, para evitar a duplicação de representações em galerias que trabalham com mais do que um artista português. Alguns exemplos: Paula Rego, Helena Almeida, Paulo Nozolino, Julião Sarmento, Francisco Tropa, Nuno Sousa Vieira, Jorge Queiroz, Jorge Molder…Paralelamente às exposições, a Noite Europeia dos Museus será pretexto para outras iniciativas com marca portuguesa em Paris. Nelas sobressai, no dia 18 de Maio, o encontro Voz às imagens, no Centro Cultural Gulbenkian (CCG). Trata-se de “comemorar o Dia da Língua Portuguesa a partir da relação que o pensamento verbal estabelece com outros tipos de linguagens, fundamentalmente com as do complexo mundo das formas e das imagens”, explica Pinharanda. A apresentação do mais recente livro de Bernardo Pinto de Almeida, Arte Portuguesa no Século XX. Uma História Crítica; e as presenças do director do CCG, Miguel Magalhães, de Jacinto Lageira, comissário da exposição Ângelo de Sousa. A cor e o grão negro das coisas (aí patente até 16 de Abril), e ainda de Marc Lenot, Sandra Vieira Jurgens, Teresa Castro, Emília Tavares e Margarida Medeiros, Filipa Lowndes Vicente e Gabriel Abrantes, a falarem de arte, literatura, fotografia. . . Porque a criação portuguesa contemporânea também tem o seu lugar em Paris.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
Orgulho, preconceito e… comunismo
Fora de concurso em Berlim, Raoul Peck filma a amizade entre Marx e Engels como um filme de prestígio de época. Porque os fins justificam os meios (...)

Orgulho, preconceito e… comunismo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170215070109/http://publico.pt/1761944
SUMÁRIO: Fora de concurso em Berlim, Raoul Peck filma a amizade entre Marx e Engels como um filme de prestígio de época. Porque os fins justificam os meios
TEXTO: Era uma vez um jovem intelectual sem dinheiro que casou com uma linda esposa aristocrata, que deixou para trás a família desaprovadora para ir viver uma grande aventura de amor e provações com o homem que escolheu; e o jovem intelectual sem dinheiro trava-se de amizade com um jovem intelectual endinheirado que partilha dos seus ideais e das suas convicções e juntos decidem mudar o mundo. Dito desta maneira, podia ser um qualquer grande filme romântico, uma espécie de Jules e Jim no século XIX sobre dois homens amigos rivais e a sua musa comum, um grande melodrama clássico de época sobre poetas ou escritores que deixaram marcas na história. E na verdade até o é. Só que o jovem intelectual sem dinheiro é Karl Marx, a esposa adorada Jenny von Westphal, o jovem intelectual endinheirado Friedrich Engels, e Raoul Peck conta a história deste trio ateu e vanguardista como se fosse um filme de época de prestígio, uma qualquer produção inglesa ou francesa sobre grandes figuras históricas. Le jeune Karl Marx (fora de concurso na Berlinale Special), co-produção franco-belga-alemã apadrinhada pelo marselhês empenhado Robert Guédiguian (que a produziu) e pelo crítico e realizador Pascal Bonitzer (que a co-escreveu), é a origem do comunismo contada como se fosse Orgulho e Preconceito por um cineasta militante haitiano que já viajou por todo o mundo e que está este ano em liça para o Óscar de Melhor Documentário pelo seu filme sobre James Baldwin, I Am Not Your Negro (que também faz parte do programa berlinense). Dois filmes mais diferentes não se podem imaginar; numa mesa-redonda com jornalistas internacionais em Berlim, Peck, afável, inteligente, atento, assume a contradição subversiva de contar a história da amizade de Marx e Engels como um filme de época. “Durante dois anos trabalhei em Le jeune Karl Marx a pensar que iria fazer um documentário, ou um documentário encenado, mas acabei por desistir. Era uma história que precisava de ser contada numa forma de narrativa ficcionada, para eliminar todo o ruído que se pudesse criar à sua volta e devolver a história ao fundamental: a amizade entre estes dois homens, o facto de que Marx era um pensador de génio e que isso era reconhecido por Engels e por Jenny. E o facto de eles terem realmente mudado o mundo mas de não conseguirmos olhar para eles fora dos lugares-comuns viciados. ” Em resposta a uma pergunta de uma jornalista, mais tarde, Peck dirá que os desenvolvimentos das ideologias comunista e marxista vieram distorcer as ideias originais de Marx e Engels, que se baseavam na análise rigorosa dos factos e dos números – e que, também por isso, Le jeune Karl Marx, trabalhado a partir da correspondência factual entre os dois amigos, quer falar não apenas da política mas sobretudo das pessoas que a criaram. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não é, portanto, por acaso que o filme assume abertamente a dimensão de “cinema de prestígio”, de “drama de época” - é uma aplicação prática da própria subversão que Marx e Engels fizeram ao “minar” o sistema de classes por dentro. Raoul Peck ri-se, porque reconhece nesse “aproveitamento” muito do seu próprio percurso como cineasta africano a trabalhar numa indústria maioritariamente ocidental e branca. “Tive sempre de encontrar um modo de usar as contradições da indústria a meu favor, de encontrar o meu lugar dentro do sistema. É possível encontrar aliados no seu interior, e tenho sorte por estar numa posição que me permite fazê-lo. Mas, num mundo confuso como é o nosso, o meu papel de cineasta é arranjar maneira de concentrar as pessoas no essencial, de lhes devolver as questões fundamentais. ”Interpretados com garra por August Diehl e Stefan Konarske, Marx e Engels articulam dúvidas e questões sobre a dignidade humana e a exploração industrial que, como aponta outra jornalista na mesa, parecem ser ainda mais evidentes nos dias de hoje… “Claro, porque nunca saímos realmente da revolução industrial”, diz Peck. “A revolução industrial tem tudo a ver com o lucro, com quem tem o poder e o dinheiro, e apesar de todo o progresso que existiu continua a ser o dinheiro que guia todas as decisões. Foi também por isso que quis fazer o filme, para permitir às gerações e aos públicos que de Marx e Engels apenas conhecem a reputação perceberem e contextualizarem quem eles eram e porque é que tiveram a importância que tiveram. ” E se para isso tiver de contar a história de Karl Marx como um biopic de prestígio, impecavelmente apresentado, correctíssimo e salvo da banalidade pela entrega apaixonada dos seus actores, todos excelentes, e pela chama de uma vontade de prestar serviço cidadão ao mundo, pois que assim seja. Não são os fins que justificam os meios?
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Crise em Angola não afecta viagens e turismo para Portugal
Receitas que entraram em Portugal subiram 21% para 311,4 milhões de euros no primeiro semestre. (...)

Crise em Angola não afecta viagens e turismo para Portugal
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Receitas que entraram em Portugal subiram 21% para 311,4 milhões de euros no primeiro semestre.
TEXTO: A forte crise económica e financeira que está a atravessar Angola, não parece afectar as viagens e o turismo angolano em Portugal. No primeiro semestre deste ano, o dinheiro de Angola que entrou no mercado nacional por via destas duas rubricas subiu 21% face a idêntico período de 2014, atingindo os 311, 4 milhões de euros. Só no último mês de Junho (os dados mais recentes disponibilizados pelo Banco de Portugal) o valor das exportações de serviços de viagens e turismo para Angola chegou aos 34 milhões, contra os 25 milhões de Junho de 2014 (altura em que o preço do petróleo ainda estava acima dos 100 dólares por barril). Descontando as saídas de capital ligadas às viagens e turismo para Angola, o saldo mostra-se claramente positivo para Portugal, chegando aos 272 milhões de euros no primeiro semestre (uma subida homóloga de 21, 9%). Numa análise às compras que beneficiam de tax free (reembolso de IVA a turistas), verifica-se que, entre Janeiro e Julho, os turistas angolanos mantiveram o ritmo de compras, mas gastaram menos 4% nas lojas portuguesas em comparação com o mesmo período de 2014. De acordo com os dados da Global Blue, que gere operações de tax free, estes visitantes desembolsaram em média 283 euros, mais do que os turistas do Brasil (218 euros) e da Rússia (227 euros). Angola foi o único mercado, a par da Rússia, a gastar menos dinheiro nos primeiros sete meses do ano mas continua a ser o principal cliente do comércio dentro do universo dos turistas extra-comunitário (com um peso de 41% no mercado). No final de Agosto, um artigo do Expresso dava conta de um aumento de pedidos de vistos para Portugal, ao mesmo tempo decrescem as deslocações para mercados como o Brasil, o que levou a companhia área local, a TAAG, a diminuir as frequências para São Paulo (de três para uma). Isto numa conjuntura de desvalorização do kwanza, que torna as viagens para Portugal mais caras do que há uns meses. Se em Outubro do ano passado um dólar valia menos de 100 kwanzas, hoje ronda os 126 kwanzas. Um outro ponto de pressão sob o país é a inflação, que tem vindo a subir: em Julho, cresceu 10, 4% (em termos homólogos), voltando aos dois dígitos, algo que não se verificava há três anos. Numa análise recente ao mercado angolano, o departamento de estudos económicos e financeiros do BPI dava conta que, devido à persistência dos baixos preços do petróleo, “a quebra das receitas de exportação poderá ascender a 40% em 2015, enquanto a desvalorização da moeda vai encarecendo as importações e a reduzida diversificação económica continua a dificultar a substituição das importações”. As viagens e turismo pesam quase metade das exportações de serviços para Angola que, no total, chegaram aos 684 milhões de euros no primeiro semestre. Este valor representa uma descida de 3, 5% face a idêntico período do ano passado, devido à descida em negócios como os ligados à construção e, também, outros serviços fornecidos por empresas, reflectindo o arrefecimento da economia angolana. Mesmo assim, e graças às viagens e turismo, houve meses em que os serviços tiveram um comportamento positivo face a 2014, com destaque para Março e Maio. Já as exportações de bens têm registado, todos os meses, uma quebra de valor. De acordo com os últimos dados do INE, o mês de Julho voltou a assistir a uma queda expressiva das vendas para Angola, chegando aos -33, 8% em termos homólogos (o equivalente a 93, 5 milhões de euros). Em termos acumulados, a queda de Janeiro a Julho chegou aos 26, 8%, o que representa menos 460 milhões de euros de bens vendidos pelas empresas portuguesas para este país. Com Ana Rute Silva
REFERÊNCIAS:
Tempo Maio Junho Outubro Janeiro Julho Março Agosto
Terrorismo: EUA lançam alerta mundial para os seus cidadãos que forem viajar
Aviso do Departamento de Estado não refere nenhum país em particular e pede vigilância extra aos seus cidadãos espalhados pelo mundo. (...)

Terrorismo: EUA lançam alerta mundial para os seus cidadãos que forem viajar
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-25 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151125074829/http://www.publico.pt/1715411
SUMÁRIO: Aviso do Departamento de Estado não refere nenhum país em particular e pede vigilância extra aos seus cidadãos espalhados pelo mundo.
TEXTO: Os Estados Unidos lançaram esta segunda-feira um alerta mundial sobre os riscos de viajar para os cidadãos norte-americanos em todo o globo, por causa de "um aumento das ameaças terroristas”. O Departamento de Estado invocou, em comunicado, “informações actuais que indicam que o EI (grupo Estado Islâmico), a Al-Qaeda, o Boko Haram e outros grupos terroristas continuam a planear ataques terroristas em múltiplas regiões”, e cita igualmente os recentes atentados ocorridos este ano “em França, na Nigéria, na Dinamarca, na Turquia e no Mali”. Também refere a ameaça de “indivíduos não afiliados” que possam cometer atentados inspirados nestes últimos acontecimentos dramáticos. “As autoridades pensam que continuam a existir probabilidades de ocorreram ataques terroristas à medida que os membros do EI/Daash regressam da Síria e do Iraque”, refere o comunicado, numa referência aos combatentes estrangeiros que regressam aos seus países de origem depois de terem combatido nas fileiras daquela organização jihadista. “Os extremistas tomaram como alvo eventos desportivos, salas de espectáculos, mercados a céu aberto ou serviços aéreos”, refere o texto do Departamento de Estado. Normalmente, os EUA emitem alertas deste género para países em concreto, dando instruções e conselhos os seus cidadãos que ali habitam ou que tencionam viajar para esse destino. Mas este aviso à escala mundial tem um carácter inédito e mostra bem a dimensão da ameaça terrorista que se traduziu numa multiplicação de atentados ao longo das últimas semanas. Os eventuais atentados “podem ser levados a cabo recorrendo a um amplo leque de tácticas, como o recurso a armas convencionais ou não convencionais e podem visar interesses públicos ou privados”, segundo o texto do Departamento de Estado. Washington não dá pormenores sobre eventuais alvos, mas garante que vai “continuar a trabalhar de perto com os aliados face à ameaça que representa o terrorismo internacional”. Aos viajantes norte-americanos é aconselhado, entre outras coisas, que sejam vigilantes quando estiverem em locais públicos ou transportes, que evitem grandes multidões ou lugares muito frequentados, que sejam “extracuidadosos” durante a época natalícia e nos eventos públicos que ocorrem nestas alturas, e que tentem acompanhar o noticiário local dos países onde se encontrarem.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Um cânone literário que mostre a diversidade da língua portuguesa
No primeiro dia do congressoLíngua Portuguesa: Uma Língua de Futuro o ensaísta Vítor Aguiar e Silva fez proposta concreta para aproximar as literaturas de língua portuguesa. (...)

Um cânone literário que mostre a diversidade da língua portuguesa
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2015-12-03 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151203065858/http://publico.pt/1716290
SUMÁRIO: No primeiro dia do congressoLíngua Portuguesa: Uma Língua de Futuro o ensaísta Vítor Aguiar e Silva fez proposta concreta para aproximar as literaturas de língua portuguesa.
TEXTO: Vítor Aguiar e Silva abriu esta quarta-feira em Coimbra os trabalhos do congresso internacional Língua Portuguesa: Uma Língua de Futuro com uma proposta concreta para que as autoridades dos diferentes países de língua oficial portuguesa construam um cânone literário comum, destinado aos alunos dos diferentes graus de ensino, e em particular aos do secundário, uma missão que, sugere, poderia ser centralizada no Instituto Internacional da Língua Portuguesa. O cânone literário “é um dos instrumentos mais poderosos e mais eficientes, e um dos mais autorizados e menos autoritários, que podem contribuir para a unidade da língua portuguesa”, argumentou Aguiar e Silva, teórico da literatura, camonista e autor de diversos estudos sobre a língua portuguesa. Um cânone que o autor da conferência inaugural do congresso não quer que obedeça “a uma norma exclusiva e excludente”, mas que mostre, pelo contrário, como “os grandes escritores dos diferentes países de língua portuguesa trabalharam, afeiçoaram e reinventaram” o português. Uma das suas sugestões é a de que autores e obras sejam escolhidos por entidades indicadas por cada um dos países, e que estas escolhas conjugadas dêem depois lugar a um antologia. Um instrumento que permitiria que em cada sistema de ensino nacional a literatura do próprio país tivesse uma presença naturalmente maioritária, mas que fosse também assegurada uma representação dos autores de cada um dos outros países de língua portuguesa. “Um cânone literário escolar”, propôs, que mostre a milhões de alunos portugueses, brasileiros, cabo-verdianos, guineenses, são-tomenses, angolanos, moçambicanos e timorenses a diversidade da língua portuguesa, que dê a conhecer a dinâmica de cada literatura nacional, e por consequência da língua portuguesa, nesta relação com os factores históricos, geográficos, sociais ou étnicos de cada país. ”Considerando que este poderia ser um instrumento fundamental para “desenvolver o sentimento de pertença a uma comunidade linguística transnacional e transcultural”, o orador admitiu que o objectivo é difícil, mas realista. Mas a proposta de construção de um cânone literário escolar que abarcasse todas as literaturas em língua portuguesa e as sugestões de como este deveria ser concebido e executado foram apenas o culminar de uma extensa intervenção em que Aguiar e Silva voltou a demonstrar não apenas a sua reconhecida erudição, mas a sua capacidade de colocar os seus múltiplos saberes ao serviço de um objectivo preciso. Quando recuou ao helenismo do século III a. C. para identificar as primeiras tentativas conhecidas de elaborar listas selectivas de autores considerados modelares, ou quando discutiu o modo como o romantismo nacionalista europeu desenvolveu o conceito de Volksgeist, de uma “alma nacional”, cujo carácter profundo e autêntico seria justamente expresso pela língua, esteve sempre a preparar o caminho para a proposta que apresentou no final, dando-lhe sustentação teórica e desmontando cautelosa e minuciosamente eventuais equívocos e previsíveis objecções. Notando que a descolonização dos países africanos “se fez sob o signo de nacionalismos exacerbados e até radicais”, Vítor Aguiar e Silva observou que teria sido de algum modo esperável que estes escolhessem uma língua nativa para as suas literaturas emergentes, hipótese que de resto teve vários defensores, e não a língua do colonizador. Contra esta tese, recordou, esteve uma linha de autores bem representada pelo escritor e político senegalês Leopold Senghor, formado em França, que não via contradição entre sentir como negro e exprimir-se na língua de Corneille ou Victor Hugo. Entre estas duas posições, o orador lembrou uma terceira via, mais útil para caracterizar as actuais literaturas dos países africanos de língua portuguesa e para servir de referência ao cânone literário comum. O caminho que Jean-Paul Sartre apontou num célebre prefácio, intitulado Orphée Noir, à Anthologie de la nouvelle poésie nègre et malgache de langue française, que Senghor organizou em 1948. Para Sartre, diz Aguiar e Silva, “o Orfeu negro deve aceitar escrever na língua do colonizador, mas para se apropriar dela, para a reescrever, para a reinventar, para lhe imprimir indelevelmente a marca de um estranhamento identitário".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave negro comunidade
Papa Francisco homenageia mártires no Uganda
Esta é a segunda de três paragens que o Papa faz na sua visita a África. (...)

Papa Francisco homenageia mártires no Uganda
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-28 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151128165227/http://publico.pt/1715861
SUMÁRIO: Esta é a segunda de três paragens que o Papa faz na sua visita a África.
TEXTO: O Papa Francisco visitou neste sábado o santuário mais sagrado do Uganda, homenageando os mártires cristãos mortos no século XIX pela sua fé e pela oposição que fizeram a um rei que abusava de jovens rapazes na corte real. Esta é a segunda de três paragens na sua primeira visita a África como Papa. Perto de Kampala, capital do Uganda, o Papa celebrou uma missa com dezenas de milhares de pessoas que se juntaram em ladeiras lamacentas, que circundam o santuário moderno, feito de ferro e em forma de cone, fazendo lembrar uma cabana da tribo Baganda. “Hoje recordamo-nos com gratidão do sacrifício dos mártires ugandeses. Recordamos também os mártires anglicanos, cuja morte por Cristo é um testemunho do ecumenismo de sangue”, disse Francisco, citado pela agência AFP. Entre 1884 e 1887, foram mortos 25 anglicanos e 22 católicos em perseguições. A maioria foi queimada, devido às ordens do rei Buganda Mwanga II, que em 1984 tomou posse com 16 anos. O mais famoso dos mártires foi um católico convertido chamado Charles Lwanga, um prefeito na corte do rei que era responsável pelos pajens rapazes e foi morto porque tentou proteger as crianças dos avanços sexuais do rei. Depois da sua conversão, tentaram espalhar a sua fé a outros grupos. Hoje, o Uganda tem 40% de católicos e 30% de anglicanos. Muitas igrejas dirigem escolas e hospitais em todo o país. “Eles fizeram aquilo em tempos perigosos”, disse o Papa, citado pela Reuters. Enquanto o Papa caminhava até ao altar por um passadiço no lago, guardado por polícias mergulhadores e por botes, as canções tradicionais que se ouviam e a dança foram substituídas por um coro de igreja. “Não só as suas vidas foram ameaçadas mas também as vidas dos jovens que eles tomavam conta”, disse o Papa. Depois de na sexta-feira ter visitado o Quénia, e neste sábado estar no Uganda, o Papa Francisco vai partir no domingo para a República Centro-Africana, a paragem mais perigosa da visita. Durante cerca de três anos, o país viveu um conflito inter-religioso. Milhares de pessoas foram mortas e um em cada cinco cidadãos fugiu dentro do país ou emigrou.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte morto
"Os camaradas estão a perguntar se é assim que se toma a independência"
Há 40 anos, numa mata do Leste da Guiné-Bissau, era declarada a independência unilateral do país. A cerimónia estava prevista para o Sul mas, à última hora, foi mudada para Lugadjol, região do Boé. Os mísseis antiaéreos Strella - a mais temível arma dos guerrilheiros - ficaram para trás, esquecidos. A proclamação, reconstituída a partir de memórias de participantes, foi "a maior bomba que os portugueses receberam". O grande ausente foi Amílcar Cabral, assassinado oito meses antes (...)

"Os camaradas estão a perguntar se é assim que se toma a independência"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há 40 anos, numa mata do Leste da Guiné-Bissau, era declarada a independência unilateral do país. A cerimónia estava prevista para o Sul mas, à última hora, foi mudada para Lugadjol, região do Boé. Os mísseis antiaéreos Strella - a mais temível arma dos guerrilheiros - ficaram para trás, esquecidos. A proclamação, reconstituída a partir de memórias de participantes, foi "a maior bomba que os portugueses receberam". O grande ausente foi Amílcar Cabral, assassinado oito meses antes
TEXTO: No meio do povo que assistia, alguns não escondiam o espanto. "Ai é assim? É só assim que se faz? Isso é que vai tirar os portugueses da Guiné?". "Isso" era a proclamação da independência da Guiné-Bissau que, há 40 anos, parecia coisa abstracta. Nessa altura, não era fácil para todos compreender que discursos e palavras de ordem feitos numa mata do Leste da Guiné-Bissau, sob risco de aparecimento da aviação portuguesa a qualquer momento, pudessem, como que por magia, fazer o que anos de sofrimento e combates não tinham ainda permitido alcançar. Carmen Pereira, então comissária política na frente Sul e com apenas 37 anos, recorda-se de, a certa altura daquele 24 de Setembro de 1973, lhe terem ido dizer que entre a população se comentava, com incredulidade, o que estava a acontecer. "Os camaradas estão a perguntar se é assim que se toma a independência", contaram-lhe numa pausa da cerimónia. "Dissemos: "Sim, isso vai tirar os portugueses da Guiné". " A reacção "era de espanto por, depois de tanto sofrimento, de tantos familiares morrerem, irem assistir a uma reunião e ouvirem dizer que acabou a guerra", recorda agora, na sua casa de Bissau, a destacada militante do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), hoje com 77 anos. O que estava a acontecer em Lugadjol, na região de Boé Oriental, não era exactamente o fim da guerra, nem ainda a saída dos soldados portugueses. Mas um momento determinante na afirmação de um movimento que reclamava o controlo de mais de dois terços da então chamada Guiné Portuguesa. A importância política da proclamação tinha sido transmitida aos seus seguidores por Amílcar Cabral, líder do PAIGC, assassinado oito meses antes em Conacri. Os tempos seguintes deram-lhe razão. O trabalho diplomático que vinha desenvolvendo - em particular ter conseguido que uma missão das Nações Unidas às regiões controladas pelo PAIGC reconhecesse a existência de "áreas libertadas" - deu frutos: rapidamente mais de 70 países reconhecem o novo Estado, num processo único entre os nacionalistas que combatiam o domínio português em África. "A nossa luta não era só dar tiros contra os portugueses, era algo que tinha uma forte componente diplomática e jurídica", recordou Aristides Pereira, sucessor de Amílcar, no livro Aristides Pereira - Minha vida, nossa história, do jornalista José Vicente Lopes (Edições Spleen, 2012). Mudança de planos A reunião da Assembleia Nacional Popular em que ia ser proclamado o novo Estado foi programada para o Sul. Um grupo composto pelos dirigentes Umaro Djaló, Lúcio Soares, Abdulai Bari e João da Silva fez um reconhecimento e escolheu o local. Mas ao regressar foi informado que "os portugueses tinham descoberto" e estavam a fazer bombardeamentos, recorda Soares, na altura com 31 anos, comandante da frente Norte. "O camarada Nino [João Bernardo Vieira, mais tarde Presidente, assassinado em 2009] mandou-me chamar e disse que não era possível no Sul por causa de tanto bombardeamento, que seria em Boé, onde a situação estava calma" e a guerrilha tinha bases, conta Carmen Pereira. "Acabou por não ser lá porque a aviação portuguesa afundou a jangada da fronteira", confirma Mário Cabral, 32 anos em 1973, à época director do centro de instrução político-militar do PAIGC em Conacri. Cubucaré, garante, era o lugar inicialmente escolhido. Luís Cabral, primeiro Presidente da Guiné-Bissau, derrubado por um golpe de Estado em 1980, e que morreu em Portugal em 2009, contou que estavam já a entrar no território guineense membros do partido idos do exterior, através da fronteira Sul, quando os planos foram alterados. "Bombardearam aquela área toda. Nós estávamos já em Boké, a caminho do Sul, quando chegaram essas informações. Então desviámos para Leste", disse a José Freire Antunes, no livro A Guerra de África 1961-1974 (ed. Círculo de Leitores, 1995). Venduleide, perto de Lugadjol, numa zona pouco povoada, de mata não muito densa, com acessos fáceis de controlar, não longe da Guiné-Conacri, foi o exacto local onde a independência foi proclamada, garante Mário Cabral. "Tinha a vantagem de nos podermos reunir rapidamente e dispersarmos também rapidamente", explicou Aristides. A data também foi alterada. Mais do que uma vez. "Vamos, no decorrer deste ano, e tão cedo quanto seja possível e conveniente, reunir a Assembleia Nacional Popular na Guiné, para que ela cumpra a primeira missão histórica que lhe compete: a proclamação da existência do nosso Estado", dissera na mensagem de Ano Novo em Janeiro de 1973. Há muito que amadurecia a ideia. "Isso é algo que vinha na mente de Cabral havia já muito tempo. Não me recordo bem, mas terá sido em 1965", recordou Aristides Pereira, mais tarde Presidente de Cabo Verde. O historiador Julião Soares escreveu em Amílcar Cabral - Vida e morte de um revolucionário africano (Nova Vega, 2011) que o dirigente tencionava declarar a independência em Março, antes de uma conferência de apoio às vítimas do colonialismo e do apartheid, em Oslo. Mas foi assassinado a 20 de Janeiro. O PAIGC passa seguidamente por desconfianças internas e fuzilamentos - ainda que o assassínio esteja inteiramente por esclarecer, os autores materiais foram militantes do partido. Dotados de armamento cada vez mais sofisticado, os guerrilheiros intensificam, paralelamente, os ataques às tropas portuguesas e fixam nova meta para a proclamação: Setembro, no fim da estação das chuvas. Carmen Pereira afirma que foram pensadas as datas de 12, aniversário do nascimento de Amílcar Cabral, 20, 22 e, finalmente, 24. Num artigo publicado em 1984 no África Jornal, o jornalista Xavier Figueiredo escreveu que a data prevista era 19 de Setembro, quando passavam 17 anos sobre a fundação oficial do PAIGC. De Boké, em camião Para chegar a Lugadjol, uns 300 quilómetros a leste de Bissau, lugar hoje abandonado - onde o acesso nesta altura do ano é difícil, devido ao mau estado das estradas e às ainda frequentes chuvas - muitos quadros e combatentes do PAIGC, como Carmen Pereira, saíram do território guineense e reentraram pela província de Boké, Guiné-Conacri, região vizinha de Boé. Foi também por aí que entrou quem vivia no exterior, designadamente em Conacri, onde estava a cúpula do partido. Mário Cabral, mais tarde ministro e embaixador, recorda-se de ter ido de avião de Conacri até à cidade de Boké e de ter seguido depois para Lugadjol em cima da carga de um camião. Foi também assim que regressou, já como subcomissário, o equivalente a secretário de Estado - Amílcar não queria ministros mas comissários. A caminho da cerimónia, um carro com representantes das zonas controladas pelos portugueses sofreu um acidente, provocando a morte dos passageiros. Os preparativos para a proclamação incluíram reuniões e ensaios dos principais actos. "Havia bancos construídos com toros de madeira mas também cadeiras desmontáveis. Isso sobretudo para a direcção e convidados, jornalistas e diplomatas, designadamente o embaixador da República da Guiné", recorda Cabral, numa conversa em Bissau a escassas dezenas de metros da sede do seu partido de sempre, bem perto do palácio presidencial recém-recuperado dos bombardeamentos da guerra fraticida de 1998. Na véspera da proclamação, a 23 de Setembro de 1973, foi exibido um pequeno documentário mudo sobre o II Congresso do partido, realizado na mesma região, dois meses antes. Autor: o cineasta Flora Gomes, 23 anos, então a dar os primeiros passos no cinema. Depois de uma formação em Cuba, aprofundada no Senegal, Flora, juntamente com Sana N"hada, outro pioneiro do cinema guineense, ia cumprir o "desejo de Cabral de que fossem os guineenses a filmar a proclamação do Estado". "Podia haver, como havia, televisões de países ocidentais e de países socialistas, mas para ele [isso era] importante. " "Estás doido ou quê?" A segurança foi uma das principais preocupações que rodeou a cerimónia. O que provocou mesmo pequenos desencontros na fase dos preparativos. Mário Cabral, que em Conacri tinha dirigido a equipa encarregada de "organizar todo o material de ornamentação para a festividade", deparou-se em Lugadjol com um problema: o responsável pela segurança não queria que fossem usados os cartazes, faixas e bandeirolas, preparadas na escola-piloto do partido, sob a direcção de técnica de Carlos Dias, um professor que tinha estado na Casa Pia de Lisboa. "A dada altura, o comandante da segurança, que nós chamávamos carinhosamente "ti Lourenço" [Lourenço Gomes, membro do bureau político], porque era dos mais velhos, disse: "O que estás a fazer? Estás doido, pá? Vais montar isto aqui? O avião vê lá de cima e vai atirar". " "Recebi instruções", contrapôs Mário Cabral. "Ti Lourenço" insistiu. "Nã, nã, nã. Estás a brincar ou quê?" Só a intervenção de Luís Cabral, que no dia seguinte seria empossado por Nino como presidente do Conselho de Estado, o que faria dele Presidente da proclamada república, convenceu o responsável pela segurança. Mais do que os cartazes, "o que realmente incomodava "ti Lourenço" eram as cadeiras metálicas, [porque] o metal reflecte [o sol]", o que aumentaria o risco de tornar visível à aviação a concentração de pessoas, centenas, talvez milhares - as versões variam. Fotografias da cerimónia mostram tarjas com palavras de ordem presas nas árvores e cadeiras desdobráveis. "De facto foi um acto de loucura, mas estávamos tranquilos porque tínhamos os célebres Strella [mísseis de fabrico soviético]". Esquecimento arriscado A cerimónia de proclamação começou cedo, pelas oito e meia da manhã, não tão cedo quanto desejavam os mais preocupados com a segurança. E sem a protecção antiaérea que Mário Cabral julgava existir. Luís Cabral recordaria mais tarde que, durante a noite, com os preparativos ainda em curso, Constantino Teixeira, pouco depois ministro do Interior, e Nino Vieira bateram à porta da barraca onde ficara o "camarada presidente" dizendo-lhe que era preciso iniciar imediatamente os trabalhos. "Tinham trazido as rampas de lançamento [da defesa antiaérea] mas não tinham trazido os foguetes", contou. Luís Cabral não concordou. "As coisas deviam ser feitas com toda a dignidade, como estava previsto", contrapôs. "Fizemos a assembleia sem antiaérea. Ficaram para trás e não tínhamos mais carros para as ir buscar", confirma Carmen Pereira. "O dia estava marcado, havia convidados estrangeiros, já não se podia adiar mais, fomos obrigados a fazer a reunião sem armas antiaéreas. Felizmente tudo correu bem", recorda Lúcio Soares, no pátio da sua casa de Bissau, hoje retirado da vida pública, mas que durante anos comandou as Forças Armadas da Guiné. "Tinha-se a ideia de que a antiaérea estava lá", recorda Mário Cabral. Só soube depois que, com a mudança de planos, "houve falta de coordenação e as antiaéreas não vieram para Venduleide, foram para Madina do Boé", a algumas dezenas de quilómetros. "Às tantas, já no fim da cerimónia, havia aviões portugueses a rondar lá em cima, mas estávamos tranquilos. Se desce cai. Quando soubemos depois que não havia antiaérea, acelerámos a cerimónia e fomos embora", conta. Diferente é a recordação de Carmen Pereira: "Ficámos atentos a escutar se viria o avião, mas felizmente não sentimos qualquer barulho. " O grande ausente Amílcar Cabral foi o grande ausente, um ausente-presente. O líder assassinado, conta Carmen Pereira, "deixou a sua agenda com tudo o que devíamos fazer, quantos membros do Conselho de Estado, quantos membros do Governo. Deixou tudo escrito [sobre] como devia ser a cerimónia. " Carmen recorda que depois de tocado o hino foram convidados "dois velhotes para a mesa". Foram eles que lançaram a proposta de composição da mesa da Assembleia Nacional Popular. Falaram Aristides Pereira, na qualidade de secretário-geral do PAIGC, Nino Vieira, já como presidente da Assembleia, e Luís Cabral. E também representantes de sectores e organizações do partido. "Todos queriam falar, mostrar que sentiam aquela grande perda que tivemos. Nas intervenções a maior parte era nisso que falava, e que queriam a independência porque só [com] isso é que se podia vingar a morte de Amílcar Cabral. " Depois de formalmente eleito, antes do primeiro discurso como presidente da Assembleia, Nino pediu um minuto de silêncio pelos mortos, em especial por Amílcar. Foi também reproduzida a gravação sonora da sua mensagem de Janeiro. "Na cara de todos se viam lágrimas. Todos recordavam o Amílcar Cabral. Mas como tínhamos de continuar, continuámos", recorda Carmen Pereira, a mulher que nesse dia foi escolhida como segunda vice-presidente da assembleia. Para Flora Gomes, ouvir a gravação do último discurso de Cabral foi como "se ele estivesse ali a falar". Armando Ramos, que tinha 37 anos e era o responsável pelos abastecimentos nas zonas do PAIGC - mais tarde seria ministro do Comércio -, recorda o "ambiente fraternal". Olha para o dia que viveu em Lugadjol como "um momento comovente, de emoção e tristeza, por Cabral não ter assistido". "Muita gente chorou. Ali é que se sentiu que de facto ele não estava. " Companheiro do líder desde o início da luta, no começo da década de 1960, considera ter vivido a 24 de Setembro de 1973 "o momento mais alto da luta de libertação nacional". "Proclama solenemente. . . " O momento politicamente mais significativo do dia chegou pela voz de Nino, com a declaração que ficou para a história: "A primeira Assembleia Nacional da nossa história, exprimindo a vontade do nosso povo, proclama solenemente o Estado da Guiné-Bissau". Palmas sublinharam o momento. Um comunicado distribuído dois dias depois pelo PAIGC em Dacar situa a proclamação às 9h55 dessa segunda-feira. Depois "sentiu-se algo de novo, que algo mudou no percurso de uma luta de um povo descalço, com fome, mas de cabeça erguida", lembra Flora Gomes. "Foi uma alegria que não se podia imaginar", recorda Lúcio Soares, que fazia parte do grupo que zelava pela segurança. Foi, considera, "a maior bomba que os portugueses receberam". Luís Cabral explicaria mais tarde o que pretendiam os combatentes do PAIGC que naquele dia se concentraram no Leste da Guiné-Bissau. "Mudar a nossa condição de colónia com parte do território libertado para a condição de Estado soberano com parte do território ocupado [pelos portugueses]. Foi isso que foi feito com a declaração da independência. " As palavras de ordem que se podem ouvir nos registos audiovisuais da cerimónia têm a marca do tempo: "Viva o Estado soberano da Guiné-Bissau construído pela luta heróica do nosso povo!". "Viva!", responde-se em coro. "Viva a solidariedade de todas as forças anticolonialistas e anti-imperialistas do mundo!". "Viva!". "Abaixo os agressores colonialistas portugueses!". "Abaixo!". A cerimónia foi presenciada por população da zona. O pessoal encarregado de assegurar a alimentação também foi espreitar. "Queriam saber o que estava a acontecer", explica Carmen, que viria a presidir ao Parlamento guineense após o reconhecimento da independência por Portugal. Junto aos convidados - "lembro-me de suecos, de países socialistas e africanos, entre os quais do Senegal e da República da Guiné, e cubanos", conta Flora Gomes - traduzia-se o que era dito. "A tradução era feita pelos próprios camaradas da luta, os discursos dos deputados eram em crioulo, e alguns em línguas nacionais, a tradução foi feita pelos camaradas que falavam línguas. Acho que a Lucette Cabral, mulher de Luís, fazia tradução para francês. " Depois da proclamação, foi aprovada a Constituição pelos 120 deputados e designados os membros do Conselho de Estado e os comissários. Momento alto foi também a parada militar. Toumane Baldé, então um "pioneiro" de 10 anos, aluno da escola-piloto de Boé, lembra-se do "ambiente de festa e de grande expectativa". Não tinha noção da importância do que estava a viver, mas recorda o entusiasmo e guarda da cerimónia a ideia de "alívio" pela mensagem de que "a guerra ia terminar". A população habituara-se a ver os guerrilheiros "mal vestidos, muitos descalços, mal equipados" e desta vez desfilavam "bem apresentados, orgulhosos", recorda Baldé, hoje médico em Bissau. "Era a primeira vez que víamos as forças organizadas do país, os blindados a desfilarem, as tecnologias militares. " A população que, no início da guerra, dez anos antes, via combatentes descalços ou rotos, tinha agora, no olhar de Flora Gomes, um "homem novo" e "uma força armada que servia para defender o povo, não para o amedrontar". A cerimónia prolongou-se por horas, até às 17h, 18h. Terminou com uma festa popular, ao ritmo de tambores. Flora recorda o "nervosismo na cara dos homens da segurança". "Agitavam-se e pediam que se fizesse tudo depressa, mas cumprimos o calendário previsto. Estas coisas ou se fazem com dignidade ou não se fazem", recordaria Luís Cabral, afastado por Nino em 1980, no início de uma longa série de golpes de Estado. As agências Reuters e France Press começaram a enviar telegramas com a notícia no dia 26. Portugal só reconheceria a independência quase um ano depois, após o 25 de Abril. Domingo: Os sonhos e desilusões da Guiné-Bissau
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
“Basta. Têm de se ir embora. É preciso uma ruptura em Angola”
Numa entrevista ao PÚBLICO em finais de Março a propósito dos 40 anos de independência em Angola, a 11 de Novembro, o activista e rapper Luaty Beirão criticava duramente o sistema e exigia renovação. Está preso desde Junho e em greve de fome há 24 dias. (...)

“Basta. Têm de se ir embora. É preciso uma ruptura em Angola”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa entrevista ao PÚBLICO em finais de Março a propósito dos 40 anos de independência em Angola, a 11 de Novembro, o activista e rapper Luaty Beirão criticava duramente o sistema e exigia renovação. Está preso desde Junho e em greve de fome há 24 dias.
TEXTO: Apesar do estado de fraqueza, o rapper e activista Luaty Beirão está determinado a continuar a fazer greve de fome, iniciada à meia-noite de 21 de Setembro. O amigo Pedro Coquenão, que o visitou na terça-feira, disse ao PÚBLICO por telefone que o activista “estava obviamente fraco, passou o dia todo a descansar” e “não está melhor”. Luaty Beirão está no hospital-prisão São Paulo, em Luanda, desde dia 9. Continua “a soro, pois não consegue ingerir a quantidade de líquido suficiente para fazer a hidratação”, explicou, por seu lado, a mulher, Mónica Almeida. Há uns meses, o PÚBLICO esteve em Luanda a entrevistar Luaty Beirão sobre a situação política angolana e os 40 anos de independência, que se comemoram a 11 de Novembro. À entrada da casa de Luaty Beirão, num bairro de classe média/média alta de Luanda, estavam vários seguranças – mas não a vigiar a casa do rapper e activista. Estavam numa posição estratégica, porque tinham sob vigilância a rua de um lado e do outro – na rua vivem também dois generais do Exército angolano. Luaty recebe o PÚBLICO sorridente numa tarde de final de Março, mês em que chove regularmente. Fala de política, do regime e da sua desilusão com o Governo de José Eduardo dos Santos. Podia ser um filho do regime, pois o seu pai, João Beirão, era um homem próximo do Presidente, tendo dirigido a FESA, a Fundação José Eduardo dos Santos (morreu em 2006). Mas escolheu estar do lado dos que contestam a forma como o país foi dirigido nestes últimos 13 anos – os anos a seguir ao final da guerra, que durou de 1975 a 2002. Foi preso logo em 2011, durante a primeira manifestação da sociedade civil contra o regime a 7 de Março; participou noutras manifestações pacíficas depois disso (que seriam reprimidas pelo regime), discursou em palco para milhares de pessoas, apontando o dedo a figuras concretas do regime. Em Junho deste ano, Luaty Beirão foi preso com um grupo de activistas que estava a discutir política angolana: elementos da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC) algemaram-nos e levaram-nos sem mandado de captura; outros activistas seriam detidos em suas casas nos dias seguintes, perfazendo um total de 15. Faz agora uma greve de fome para exigir que todos os detidos aguardem o julgamento em liberdade. Luaty nasceu em Luanda e lá viveu até aos 17/18 anos. Saiu para ir estudar em Inglaterra, onde cursou Engenharia Electrotécnica, e depois em França, onde estudou Economia – voltou em Março de 2009. Nunca trabalhou, porém, em nenhuma das áreas que estudou. Faz serviços de tradução e dedica-se à música. Com dupla nacionalidade, angolana e portuguesa, dizia na entrevista que podia, a qualquer momento, ir-se embora, mas sentia que o seu percurso era em Angola: “O meu chamamento é aqui, onde posso fazer alguma coisa é aqui, onde posso contribuir de alguma maneira para melhorar é aqui. O meu coração bate aqui. ”Reproduzimos aqui as suas palavras em discurso directo "O meu ponto de vista de activista é o meu ponto de vista de cidadão – aliás, a minha cidadania é que me faz ser activo. Não estou satisfeito com os 40 anos de independência, com os resultados alcançados. Poderíamos ter ido muito mais longe, se houvesse amor ao próximo, noção de responsabilidade e de responsabilização. "Essa coisa de não termos gente suficiente para gerir o país pode entrar na teorização, mas há tanto egoísmo, tanta sede de poder, tanta noção de que uns angolanos são melhores do que outros e que merecem mais gerir o país do que outros. . . "Tínhamos acabado de sair da guerra colonial, celebrámos a independência ao som dos canhões, ou seja, nunca houve interrupção da luta. Seria injusto fazer a avaliação dos 40 anos, quando há este período tão longo de guerra. Apegar-me-ia mais ao pós-2002, a estes últimos 13 anos, e sinceramente é completamente desencorajador e desmotivante para alguém da minha geração, que vai a caminho dos 40, sentir que a juventude nos está a escapar, sentir que não houve melhorias no que diz respeito à Saúde, à Educação, não há perspectivas de, num futuro próximo, os angolanos serem capacitados para gerirem o seu próprio destino.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra filho educação mulher prisão fome homem
“É fundamental arranjar uma saída decente a José Eduardo dos Santos”
Rafael Marques defende que é urgente “criar um quadro de transição” para Angola, que demova o actual Governo pacificamente e prepare a realização de eleições livres e justas no futuro. (...)

“É fundamental arranjar uma saída decente a José Eduardo dos Santos”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.083
DATA: 2015-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rafael Marques defende que é urgente “criar um quadro de transição” para Angola, que demova o actual Governo pacificamente e prepare a realização de eleições livres e justas no futuro.
TEXTO: Tem sido um dos mais ferozes críticos do regime de José Eduardo dos Santos (JES), um dos que mais tem apontado críticas aos 36 anos de governação do MPLA. Rafael Marques, o mais premiado jornalista angolano, activista dos direitos humanos, defende um governo de transição de modo a preparar pacificamente a sucessão de JES e a realização de eleições livres e justas. “É fundamental, num momento em que impopularidade do presidente nas conversas de rua em Luanda já se torna hábito, encontrar vias para arranjar-lhe uma saída decente. Quanto mais ele insistir nos seus métodos ultrapassados de usar o poder judicial como escudo da sua política de repressão e de má-fé política, mais ele se afundará no poço da sua incapacidade em compreender que chegou o momento de ser humilde e que chegou o tempo de passar o testemunho”. Critica ferozmente o governo e JES. Que solução propõe para Angola?Estamos numa fase que precisamos com urgência de criar um quadro de transição, a passagem de pastas deste governo para um governo inclusivo que possa traçar um caminho e definir o rumo da economia deste país de forma aberta. O dinheiro do petróleo desapareceu e não houve diversificação da economia. Andaram-nos a mentir este tempo todo a dizer que tinham investido na agricultura. O mais importante é que, mais dia, menos dia, o presidente tem que sair. E temos que pensar num cenário pós dos Santos, em como vamos construir a estabilidade e criar um sistema de governo que permita efectivamente reforma das forças armadas angolanas, da economia, das empresas estatais. É necessário que haja um plano de transição para que tanto os membros do MPLA, da oposição, da sociedade civil sintam alguma segurança, algum entendimento de que a transição não causará tremores outra vez na paz e na ideia de que não queremos mais guerras, confusões, instabilidade. Para que isso aconteça é importante que os 40 anos de independência signifiquem sobretudo a cedência do poder para serventia dos angolanos. O presidente deve ter a iniciativa já que começa a amarfanhar todos os angolanos que comecem a falar publicamente disso. Está a sugerir que essa transição não seja feita através de eleições?As eleições foram sequestradas como mecanismo de manutenção do poder, de legitimação do poder. Não resolvem o problema da proibição das manifestações, [direito] que está consagrado na Constituição. As eleições servem apenas, pela forma como são organizadas, para manipular a vontade popular a favor do MPLA: é isso que são as eleições em Angola. Como se permite que o MPLA possa organizar manifestações e a oposição não possa? Que a sociedade civil não possa? Então a democracia é só meter lá o voto, o povo não tem mais direitos? Não tem direito a habitação, a emprego, a nada? É isso que é a democracia?Mas a questão não é arranjar meios para que as eleições sejam feitas de forma democrática?Nós temos que conversar porque são muitos anos a excluir as pessoas de bem do processo político, quer ao nível do MPLA, quer ao nível da oposição. Então é necessário que haja um mecanismo de transição para permitir pessoas com conhecimentos, integridade, boa-fé, muitas das quais possam então vir a dar o seu contributo. Qual é a legitimidade de substituir um grupo por outro sem ser pela via das eleições?Qual é a legitimidade para se saquear o país? Onde está escrito na Constituição que os dirigentes têm o dever e o direito de saquear o país? Onde está na Constituição a legitimidade para o governo coarctar o exercício dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos? As eleições não conferem legitimidade para isso, por isso temos que pensar o país de forma muito mais séria e não nos atermos apenas aquilo que é fundamental como mecanismo de legitimação do poder. Por isso é que em África, em grande parte das vezes, quando os ditadores se apanham com o poder utilizam sempre a desculpa das eleições porque a comunidade internacional reconhece apenas as eleições como único mecanismo de realização da democracia – e não é.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos comunidade
Encontrado o maior diamante do mundo dos últimos cem anos
É o segundo maior diamante de que há registo. Em primeiro lugar está o diamante Cullinan, que faz parte das jóias da coroa britânica. (...)

Encontrado o maior diamante do mundo dos últimos cem anos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: É o segundo maior diamante de que há registo. Em primeiro lugar está o diamante Cullinan, que faz parte das jóias da coroa britânica.
TEXTO: Foi encontrado esta quarta-feira, no Botswana, o maior diamante do mundo dos últimos cem anos e o segundo maior descoberto até hoje. A pedra preciosa pesa 1111 quilates (o equivalente a cerca de 220 gramas) e foi recolhida pela Lucara, uma empresa produtora de diamantes canadiana. O diamante tem aproximadamente o tamanho de uma bola de ténis: 6, 5 cm de altura, 5, 6 cm de largura e 4 cm de comprimento. A descoberta foi feita na mina de Karowe, localizada no país africano. “A importância da descoberta de uma pedra preciosa superior a mil quilates, a maior em mais de um século, não é exagerada”, refere, em comunicado, o presidente da Lucara, William Lamb, considerando que se trata de algo histórico. Trata-se do “maior diamante recuperado através de instalações de tratamento moderno”, com a utilização de máquinas LDR-XRT (large diamond recovery). A mesma máquina recolheu esta quinta-feira mais dois diamantes de grandes dimensões, um de 913 quilates – correspondente ao sexto maior diamante do mundo – e outro de 374 quilates. “Tem sido uma excelente semana para a Lucara”, conclui William Lamb. Ainda não se consegue estimar o valor do diamante maior, por depender de uma avaliação, ainda não efectuada, de factores como o brilho, a cor e as suas características de corte e polimento. O maior diamante encontrado até hoje é o Cullinan, descoberto na África do Sul em 1905. Pesava 3106 quilates, mas foi cortado em várias pedras que agora fazem parte das jóias da coroa britânica. Texto editado por Luís Villalobos
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano