Parabéns e obrigada
Ama o seu país com a mesma força com que detesta os intelectuais que falam das nossas desgraças do cimo da sua pretensa sabedoria. E, como ama o seu país, não consegue aceitar o estado em que ele se encontra. (...)

Parabéns e obrigada
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ama o seu país com a mesma força com que detesta os intelectuais que falam das nossas desgraças do cimo da sua pretensa sabedoria. E, como ama o seu país, não consegue aceitar o estado em que ele se encontra.
TEXTO: 1. Mário Soares já tem o seu lugar na História. Sem ele e o seu combate visionário, tantas vezes solitário, podíamos ter perdido a liberdade e a democracia no grande confronto do PREC, que extravasou o âmbito nacional para se inscrever no grande combate ideológico entre o Mundo Livre e a União Soviética. Kissinger (mas também muito boa gente em Portugal) estava disposto a cruzar os braços perante a ofensiva comunista. A América estava na defensiva depois do Vietname. A União Soviética ocupava terreno. Soares nunca desistiu: Portugal seria uma democracia ocidental e manter-se-ia do lado certo da Guerra Fria. Foi Soares igualmente que decidiu o nosso destino europeu, que não era na altura tão óbvio como hoje muita gente quer fazer crer. Ainda me lembro dos comentários jocosos de muitos dirigentes políticos quando Soares garantiu, numa célebre cimeira europeia em Dublin, que fosse aprovado um “constat d’accord” sobre a adesão portuguesa. Vinculou-os a uma decisão. Os sonhos africanos ou latino-americanos ainda dominavam alguns espíritos, à direita como à esquerda. Foi a sua crença profunda, epidérmica, na liberdade que alimentou sempre a sua determinação. Aprendi muito do que sei com ele. E se houve uma coisa que aprendi há muito tempo foi que tem, muitas vezes, razão antes de tempo. Só volto a Mário Soares, depois do seu aniversário magnífico, porque li algures que uns senhores do CDS-PP, creio que membros da Assembleia Municipal de Lisboa, não querem que a câmara lhe entregue a chave da cidade. Ou se querem apenas pôr em bicos de pés, ou representam uma direita que nunca conseguiu perdoar a Soares ter sido ele a salvar Portugal do comunismo, como escreve Carlos Gaspar num artigo certeiro publicado neste jornal na quarta-feira passada. Ou então, mais prosaicamente, imaginam que podem garantir mais uma mão-cheia de votos, não apenas das velhinhas mas também entre aqueles que ainda hoje acusam Soares de ter vendido as colónias. 2. Já muita gente deu o seu testemunho pessoal da sua relação com Mário Soares. Na televisão, nos jornais (incluindo o meu, num excelente trabalho). Melhor do que qualquer ensaio académico, foi a maneira perfeita de retratar a dimensão do político e do homem. Algumas dessas histórias conto-as na biografia que escrevi dele em 1987, percorrendo o caminho que o levou da oposição a Salazar até à eleição presidencial. Uma delas, que nunca esqueço, foi-me contada por Lopes Cardoso (já falecido). O Partido Socialista tinha vencido por uma larga maioria (38 por cento) as eleições para a Constituinte de 25 de Abril de 1975, negando nas urnas o aparente domínio político do Partido Comunista. O segundo partido mais votado foi o PPD de Sá Carneiro (24 por cento), mostrando claramente para onde se inclinava a maioria. Os comunistas (incluindo o MDP) ficaram-se nos 14 por cento. Cunhal não aceitou o resultado, como já tinha anunciado (“Nunca haverá uma democracia parlamentar em Portugal”) e transferiu o combate para as ruas, onde contava com um partido capaz de mobilizar milhares de pessoas. Para Soares era óbvio que o PS tinha de encarar o repto e vencê-lo também na rua. Era preciso convocar um grande comício para mostrar que Lisboa não era a “Comuna de Paris”. O secretariado socialista reuniu-se para decidir o que fazer. Soares, reclinado na cadeira, com os dedos nos suspensórios e os olhos semicerrados, ouviu-os em silêncio. Uns diziam que era mais prudente ser num recinto fechado, caso não houvesse grande mobilização. Falava-se no Pavilhão dos Desportos. Outros diziam que o Rossio talvez fosse fácil de encher. De repente, Soares acordou da sua letargia e disse: “É na Alameda”. Seguiu-se um silêncio profundo. Sabemos o que foi o comício da Alameda: um dos momentos decisivos para virar a maré até ao 25 de Novembro. Soares, como outros grandes líderes mundiais, teve o seu encontro com a História e esteve à altura. Fez a História mudar de sentido. Como Churchill, quando esteve quase sozinho a enfrentar o nazismo. Tinha imensos defeitos. Chegou-lhe uma profunda convicção na liberdade e uma total confiança em si próprio. Soares partilha das mesmas características. Uma vez, estava eu no Vau a gravar mais umas horas de entrevista, a conversa evoluiu para a sua coragem. Estava atrás da secretária, de pé. Pensou um pouco. “Olhe, isto deve ser uma coisa mental. Se entrasse aqui alguém empunhando uma pistola e me dissesse: ponha-se debaixo da mesa, eu não punha”. 3. Só lhe devo atenções, mesmo quando ele me dizia que Tony Blair era um desastre. “Lá vem você com as suas blairsisses”. Nunca isso mudou a sua simpatia e a sua disponibilidade. Tem uma maneira de ser solar e a sua imensa curiosidade é em primeiro lugar pelas pessoas. Conviveu com grandes líderes políticos e a maneira como os descreve dá-nos outra imagem deles. Sabia sempre o que queria. Quando, num célebre jantar dos líderes da Internacional Socialista presidido por Willy Brandt para debater a instalação dos misseis de cruzeiro na Alemanha, Neil Kinnock, líder do Partido Trabalhista britânico, disse que iria defender o desarmamento unilateral do seu país, Soares disse-lhe: “Então o meu desejo é que você perca as eleições”. Houve uma enorme discussão à volta da mesa, até Brandt conseguir restabelecer a ordem. Em Lisboa chamavam-lhe “pró-americano”. Nunca se preocupou com isso.
REFERÊNCIAS:
Lobo Antunes assina manifesto “Deixem os catalães votar”
Os dois primeiros signatários são os Nobel da Paz Desmond Tutu e Pérez Esquivel. (...)

Lobo Antunes assina manifesto “Deixem os catalães votar”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os dois primeiros signatários são os Nobel da Paz Desmond Tutu e Pérez Esquivel.
TEXTO: O manifesto “Deixem os catalães votar” foi divulgado este sábado (letcatalansvote. org) com a assinatura das dez figuras internacionais que o promovem e onde se inclui o romancista português António Lobo Antunes. Entre os que defendem que “impedir os catalães de votarem parece contradizer os princípios que inspiram as sociedades democráticas”, estão dois prémios Nobel da Paz, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu e o activista dos direitos humanos argentino Adolfo Pérez Esquivel. Recordando as “diferentes formas” através das quais “uma maioria de catalães expressou repetidamente a vontade de exercer o seu direito democrático de votar sobre o seu futuro político” (sondagens ou manifestações como as que se têm realizado a cada 11 de Setembro, dia nacional da região), os signatários pedem “ao Governo e às instituições espanholas para permitem à Catalunha votar e depois negociar em boa-fé com base no resultado”. Depois de ver o Tribunal Constitucional chumbar a sua proposta de referendar a independência, o governo regional da Catalunha decidiu marcar uma consulta simbólica para daqui a uma semana, a 9 de Novembro, mas Madrid está a tentar usar todos os recursos jurídicos ao seu dispor para impugnar qualquer tipo de votação. “A melhor forma de resolver as disputas internas legítimas é usando as ferramentas da democracia”, lê-se ainda no manifesto, que dá como exemplos as várias votações que já tiveram lugar no Quebeque e o referendo de Setembro na Escócia, onde a maioria da população escolheu continuar a integrar o Reino Unido. O realizador britânico Ken Loach, o crítico literário norte-americano Harold Bloom, o historiador britânico Paul Preston, o diplomata dos Estados Unidos Ambler Moss, o produtor e activista irlandês Bill Shipsey e os sociólogos Saskia Sassen (holandesa) e Richard Sennett (norte-americano) são os restantes promotores deste manifesto.
REFERÊNCIAS:
O fascismo tem mesmo origem no marxismo?
O jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos já afirmou duas vezes, em diferentes entrevistas, que “o fascismo é um movimento de origem marxista”. Tem razão? (...)

O fascismo tem mesmo origem no marxismo?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2016-06-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: O jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos já afirmou duas vezes, em diferentes entrevistas, que “o fascismo é um movimento de origem marxista”. Tem razão?
TEXTO: José Rodrigues dos Santos é jornalista, apresentador do principal telejornal da RTP, mas deu esta entrevista enquanto romancista. Esta é a primeira advertência que há a fazer. Enquanto ficcionista, José Rodrigues dos Santos poderia criar a realidade que mais lhe conviesse – jogando com a verosimilhança e a memória. Mas a frase deixa subentendida uma “verdade” histórica e não um artifício literário. “Continuo a escrever livros polémicos. As Flores de Lótus e O Pavilhão Púrpura mostram realidades, porém politicamente incorrectas. O facto de que o fascismo é um movimento que tem origem marxista, por exemplo, é uma das demonstrações feitas nesta saga que poderá parecer polémica. ” A palavra “realidades” pode ter sido mal usada, e o próprio autor reconhece que a afirmação que faz é “polémica”. Mas esta já não é a primeira vez que Rodrigues dos Santos revela conhecer uma relação de filiação ideológica entre as duas correntes que marcaram a primeira metade do século XX. Dias antes de o ter afirmado ao DN, o mesmo Rodrigues dos Santos usara uma formulação quase idêntica em resposta às perguntas do i: "Uma das coisas que hoje não se sabe, mas que é verdadeira, é que o fascismo é um movimento de origem marxista. Pouquíssima gente sabe isto. Em certos aspectos, é mais ortodoxamente marxista do que o comunismo. Por exemplo, a crença que os fascistas tinham de que não era possível haver revolução do proletariado sem capitalismo. ”Aqui é claro o duplo papel do autor – jornalista e escritor – e é o próprio Rodrigues dos Santos que o confunde ao atestar que é “verdadeiro” aquilo que diz e, por alguma razão que não acrescenta, “pouquíssima gente sabe”. E é isso que justifica esta Prova dos Factos, que não verificaria a veracidade de uma opinião do romancista, nem um facto literário assumidamente criado pela sua imaginação. O marxismo é, de facto, cronologicamente anterior ao fascismo. Mas acaba aqui a verosimilhança na tese de José Rodrigues dos Santos. Todas as outras hipóteses que podiam ser apresentadas em sua defesa – de que há uma “origem” marxista nas ideias fascistas – são circunscritas. De facto, Benito Mussolini foi militante do Partido Socialista Italiano e editor do jornal marxista Avanti!, antes de ser expulso e fundar, em 1919, o que viria a ser o embrião do Partido Fascista. Mussolini não é caso único dessa transição abrupta entre ideologias adversárias, naquela época. Um dos seus ideólogos, o francês Georges Sorrel, parecia admirar igualmente o nacionalista Maurras e o comunista Lenine. O mesmo se pode dizer da arte, e das várias manifestações vanguardistas associadas a estas correntes políticas, que muitas vezes se aproximaram, sobretudo antes da I Guerra Mundial. Mas argumentar que essa relação demonstra uma “origem” ideológica comum seria tão absurdo como considerar que por Mário Soares e Durão Barroso terem sido marxistas na sua juventude, o PS e o PSD partilham a mesma origem ideológica que o PCP. A prova de que não há uma origem comum entre as duas ideologias é avançada pelo historiador inglês Tony Judt no seu livro Pensar o Século XX: “Quando falamos de marxistas podemos começar com os conceitos. Os fascistas não tinham, na realidade, conceitos. Tinham atitudes. Têm respostas distintivas a questões como a guerra, a depressão e o atraso. Mas não começam com um conjunto de ideias que depois tentam aplicar ao Mundo. ”Ou seja, o marxismo, antes de ser uma prática política, é uma doutrina. Por isso, ainda hoje, há quem se reivindique das ideias, renegando a prática. Já no fascismo é inseparável a sua realidade histórica do seu arsenal teórico. Foram as “atitudes”, como diz Judt, que moldaram a teoria. Ao contrário, o que se pode afirmar com alguma certeza é que o fascismo cresceu como resposta – antagónica – ao marxismo. Diz Tony Judt: “Se virmos país a país, começando na Itália, vemos que sem a ameaça da revolução comunista teria havido muito menos espaço para os fascistas se apresentarem como guardiões da ordem tradicional. ” Algumas das principais características atribuídas ao fascismo (nacionalismo, corporativismo, racismo) são respostas ao internacionalismo, à ideia da “luta de classes” e ao igualitarismo das ideias socialistas. O marxismo é uma corrente fácil de classificar. Tem as suas origens (não é preciso recuar muito mais que à ideia de Rousseau de que os homens nascem livres e em todo o lado estão agrilhoados), os seus autores, de Marx a Engels, passando pelos neo-marxistas que ainda hoje assim se assumem, como Zizek e Negri. O fascismo é bastante menos dado a bibliografias incontestadas. Poderá ter a sua origem no nacionalismo conservador francês de Maurras, mas as suas várias modalidades (da Itália ao nazismo alemão, passando pela Roménia, pelo falangismo espanhol e o integralismo lusitano) ocupam, por exemplo, as 960 páginas do livro Labirintos do Fascismo, do historiador português João Bernardo (ed. Afrontamento). É de João Bernardo uma difícil tentativa de explicar, em três palavras, a ideia de fascismo: “A revolta no interior da coesão. ”Ambos, marxistas e fascistas, defendiam a ideia de “revolução” anti-liberal. No seu auge, do início do século XX até ao fim da II Guerra Mundial, ambos os movimentos apresentavam uma resposta – muito diferente – à crise económica e ao desespero de muitas camadas sociais. Com uma diferença importante: enquanto os marxistas glorificavam as massas populares como “sujeito da História”, os fascistas, como Pequito Rebelo, em Portugal, usavam a mobilização popular, mas não deixavam de desdenhar da “multidão com a sua baixa psicologia e as suas inferiores reacções de sentimentos” (citado em Os camisas azuis, de António Costa Pinto, ed. Estampa). É na forma como encaravam a governação dos países “capitalistas” que encontramos uma derradeira diferença. Os marxistas seguiram com atenção o New Deal e são conhecidas as ligações de sectores comunistas à administração de F. D. Roosevelt. Já Hitler fazia uma crítica ao Presidente dos EUA que parece tirada de um debate do presente: "Aumentou enormemente a dívida do seu país, desvalorizou o dólar, perturbou a economia. . . O New Deal deste homem foi o maior erro jamais cometido por alguém. . . Num país europeu a carreira deste homem teria terminado num tribunal por desperdiçar o tesouro público, e dificilmente evitaria uma pena por gestão criminosa e incompetente. "A prova do antagonismo é evidente. E tem um momento simbólico: a Guerra Civil de Espanha (1936/39). Foi aí, combatendo por uma facção de inspiração marxista e libertária (o POUM), que George Orwell ganhou consciência de uma outra realidade, que aplicou à forma como os fascistas e alguns regimes que se reclamavam marxistas exerciam o poder: Totalitarismo. O termo, que os fascistas italianos usavam com um significado positivo, tornou-se uma das principais formas de criticar o Estado soviético no pós-guerra, sobretudo depois de Hannah Arendt publicar As Origens do Totalitarismo. Onde, apesar de tudo, se distingue bem o ponto de partida de ambas as versões “totalitárias”. Fascismo e marxismo foram duas correntes que marcaram a política mundial na primeira metade do século XX. O antagonismo entre os seus defensores não precisa de muito mais ilustração do que os milhões de mortos, dos dois lados, na batalha de Estalinegrado. Ou a oposição do PCP ao Estado Novo. Ainda hoje se assiste, numa reminiscência do século passado, a violentos confrontos nas ruas entre herdeiros do fascismo e do marxismo (a Grécia será apenas o exemplo mais visível). Mas nada, a não ser o poder criador da ficção, permite descortinar uma origem comum entre estes dois “ismos”. É mais certo afirmar que Passos Coelho e António Costa partilham um conjunto de ideias sobre política (apesar das diferenças diariamente enunciadas) do que encontrar um tronco comum de pensamento entre Álvaro Cunhal e Oliveira Salazar.
REFERÊNCIAS:
Cobalt admite entendimento amigável com Sonangol
A petrolífera norte-americana Cobalt admite um desfecho amigável da disputa que mantém com a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), relativa a negócios de 1.350 milhões de euros, mas garante manter todos os processos judiciais. (...)

Cobalt admite entendimento amigável com Sonangol
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.375
DATA: 2017-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: A petrolífera norte-americana Cobalt admite um desfecho amigável da disputa que mantém com a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol), relativa a negócios de 1.350 milhões de euros, mas garante manter todos os processos judiciais.
TEXTO: A Cobalt refere, numa informação oficial sobre os resultados da petrolífera, que "continua a procurar um diálogo construtivo com Angola, para tentar resolver essas disputas de forma amigável". "No entanto, até que este assunto seja resolvido de forma satisfatória, a Cobalt manterá vigorosamente essas reivindicações em arbitragem e recorrerá a todos os meios disponíveis", refere a petrolífera. De acordo com uma informação da Cobalt, de Novembro, mês em que o presidente João Lourenço exonerou Isabel dos Santos da presidência da Sonangol, nomeando para o mesmo cargo Carlos Saturnino, em causa estão dois processos que correm em tribunais arbitrais, já constituídos e em fase de agendamento de sessões, sobre alegados incumprimentos contratuais da petrolífera estatal angolana. A Lusa noticiou em Agosto último que a petrolífera estatal Sonangol confirmou, na altura, estar a ser alvo de dois processos judiciais movidos pela norte-americana Cobalt, sobre alegados incumprimentos contratuais, e que iria contestar em tribunal os pedidos daquela petrolífera. De acordo com a informação da altura da Sonangol, a concessionária angolana recebeu, a 8 de Maio, informação dando conta que a Cobalt International Energy "apresentou duas notificações formais de litígio". "A Sonangol irá contestar ambos os pedidos apresentados pela Cobalt, sendo que, no entendimento do conselho de administração da Sonangol, não existe qualquer incumprimento de sua parte no Contrato de Compra e Venda de Ações (CCVA)", refere a informação da petrolífera. Acrescenta que, para o conselho de administração da Sonangol, "a não concretização do CCVA não impõe qualquer obrigação de prorrogar os prazos de pesquisa estabelecidos nos contratos dos blocos de referência". A Cobalt tem 40% de participação no consórcio que explora os blocos 20 e 21 ao largo de Angola. A Lusa noticiou em Abril deste ano que a Cobalt confirmou ter recorrido ao tribunal arbitral contra a Sonangol, acusando a empresa angolana de ter adiado decisões e assim ter prejudicado os resultados financeiros e impossibilitado a venda dos activos no país. "Podemos ficar impossibilitados de consumar a venda dos nossos activos angolanos em termos favoráveis, ou de todo", lê-se no relatório de apresentação de resultados do ano passado, que foram negativamente afectados pelo registo de mais de 1. 600 milhões de dólares [1. 350 milhões de euros] de imparidades, que têm de legalmente ser contabilizadas enquanto o negócio não for concluído. A Cobalt, uma das maiores petrolíferas norte-americanas, está a explorar dois blocos em Angola, mas há anos que tenta vender a sua participação, no entanto para isso necessita que a Sonangol prolongue as licenças de exploração, algo que a companhia petrolífera angolana ainda não fez, impossibilitando, na prática, a saída da Cobalt da exploração petrolífera em Angola. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Antes de começar o procedimento de arbitragem, uma das partes tem de dar à outra um Aviso de Litígio descrevendo a natureza da disputa e a solução pretendida", lê-se no documento, que explica que devido "aos atrasos da Sonangol e ao falhanço na atribuição das extensões", a 8 de Março a Cobalt accionou o primeiro passo para resolver o assunto num tribunal arbitral, dando esse aviso. Se a Sonangol "não resolver este assunto atempadamente e a nosso contento", a Cobalt já referia na altura que iria "avançar com a arbitragem e nessa altura vamos procurar todos os ressarcimentos disponíveis na lei ou em activos". Além disso, a petrolífera recorda que os activos angolanos são indirectamente detidos por uma subsidiária alemã, pelo que a Cobalt diz-se "com direito a certas protecções" que resultam do acordo de investimento entre Angola e a Alemanha, assinado em 2003.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei tribunal
O que é que as alterações climáticas fizeram a Portugal?
Os efeitos das mudanças do clima são evidentes em zonas como Árctico, Antárctida ou África. Mas também já há muita coisa que mudou em Portugal. (...)

O que é que as alterações climáticas fizeram a Portugal?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os efeitos das mudanças do clima são evidentes em zonas como Árctico, Antárctida ou África. Mas também já há muita coisa que mudou em Portugal.
TEXTO: Enquanto se discute sobre quem fica fora e dentro do Acordo de Paris, o mundo aquece, o Árctico derrete e a Antárctida fica um bocadinho mais verde. Não são projecções ou especulações, são constatações que estão em relatórios de cientistas que continuam a medir os efeitos das alterações climáticas no planeta Terra. E Portugal? Há muitas coisas que já mudaram à nossa volta. Já reparou que há sobreiros e azinheiras a morrer no Alentejo? Que as ondas de calor se tornaram mais frequentes? Que a floresta de Portugal está a diminuir, consumida pelos incêndios? Que a chuva já não cai como antes? Que os Invernos estão mais curtos? Que os mosquitos da febre de dengue encontraram condições para espalhar um surto na ilha da Madeira? Que, devagarinho, acontece uma subida do nível do mar? São apenas alguns dos efeitos das mudanças climáticas em Portugal. A lista de fenómenos, mais ou menos visíveis, registados em Portugal que resultam das alterações climática é longa. Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), destaca a diminuição da precipitação, acompanhada de uma mudança do seu regime. “A diminuição traduz-se, se fizermos uma média por década a partir de 1960, em 40 milímetros por década no Sul de Portugal. Ou seja, em 56 anos, estamos a falar de mais 200 milímetros, o que é muito significativo”, especifica o físico, referindo-se a dados da Agência Europeia do Ambiente (EEA, na sigla em inglês). O problema, diz o especialista, não é exclusivo de Portugal e abarca toda a Península Ibérica onde, segundo os mesmos dados da EEA, a precipitação anual diminuiu até um máximo de 90 milímetros por década, desde 1960. Infelizmente, este mau indicador parece manter a sua tendência. “Este ano é mais um exemplo disso. Estamos a ter uma precipitação reduzida, relativamente à média de há 60 ou 70 anos. Isto tem impactos muito significativos na agricultura e também no montado”, avisa. Por outro lado, nota, também se percebe que o padrão da chuva mudou e que, quando realmente chove, chove muito e durante pouco tempo. O que, entre outros efeitos, significa muitas vezes cidades inundadas por cheias. Nas cidades sentem-se as cheias mas não a falta da chuva que, aliás, (quando cai) incomoda muita gente. “As pessoas que vivem na cidade não notam a diminuição da precipitação, abrem a torneira e têm água e de qualidade. A chuva é uma chatice”, reconhece Filipe Duarte Santos, que acrescenta que “é muito diferente quando se é um agricultor no interior do país”. É preciso enfrentar este problema e planear uma resposta, sem esquecer que a solução tem de ser discutida com os nossos vizinhos espanhóis com quem partilhamos recursos importantes para nos adaptarmos a estes desafios, recomenda o físico. “Por outro lado, temos as ondas de calor”, continua Filipe Duarte Santos. Apesar de considerar que Portugal se tem adaptado bem a este fenómeno, com um programa de alerta dirigido à população, chamado Ícaro e que é da responsabilidade da Direcção-Geral da Saúde, o físico lembra que as ondas de calor são hoje mais frequentes. E há mais: “Também temos a questão dos fogos florestais. Com temperaturas mais altas e menor precipitação, o risco de incêndio florestal aumenta. Portugal é o único país do Sul da Europa em que a área florestal está a diminuir, por causa dos incêndios”, assinala. A privilegiada localização deste cantinho da Europa à beira-mar também tem desvantagens. “Há ainda a subida do nível do mar”, acrescenta Filipe Duarte Santos, que confirma que as projecções mais extremas apontam para uma subida média de um metro em 2100. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O investigador também foi o coordenador geral do ClimAdaPT. Local, um projecto para capacitar os municípios para as adaptações às alterações climáticas e ensiná-los a definir estratégias de adaptação. A verdade é que, para já, as mudanças do clima não afectam muito o dia-a-dia da maioria da população portuguesa. “Os problemas nos países desenvolvidos são mais facilmente resolvidos porque temos situações económicas mais favoráveis. Mas se pensar no Sahel, em África, no Mali, na República Centro Africana, na Nigéria, na Etiópia, na Somália, o que se está a passar é dramático! Eles também estão a ter secas mais frequentes mas não têm condições para se adaptar, se a agricultura falha as pessoas têm fome. ”Os problemas em África não parecem ter uma voz mediática mas há um “grito” que se ouve desde o Árctico, que nos últimos anos registou temperaturas invulgarmente elevadas e uma perda de gelo marítimo recorde. “O Árctico e a Antárctica, mas sobretudo o Árctico, são uma espécie de altifalante das alterações climáticas. É uma coisa completamente evidente e é por isso que os senhores decisores políticos vão visitar o Árctico para verem com os seus olhos que realmente há qualquer coisa que está a mudar profundamente no nosso planeta. ”Se fosse possível viajar no tempo e espreitar o futuro de Portugal em 2100, numa viagem maldita em que tudo corresse mal, veríamos um país sem montado, sem sobreiros e azinheiras. É apenas um exemplo. “Se não se cumprir o Acordo de Paris, o futuro do Sul de Portugal e de Espanha apresenta uma grande tendência para a desertificação. Se em Portugal tivermos um aumento de temperatura média global superior a dois graus Celsius até ao fim do século, o ecossistema do montado do Sul dificilmente resiste”, admite Filipe Duarte Santos. Por isso, conclui, a decisão de Donald Trump retirar os EUA do Acordo de Paris é “egoísta”. “Está a defender os interesses das grandes companhias e do lobby dos combustíveis fósseis, mas os países mais vulneráveis – e Portugal é vulnerável no contexto europeu mas há muitos outros países numa situação bastante mais vulnerável –, vão sofrer com isso. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Esquadra de Alfragide com mais dois processos de investigação na IGAI
Dois dos agentes agora acusados pelo Ministério Público por agressões a jovens da Cova da Moura foram alvo de suspensão por 90 e 70 dias, mas recorreram e continuam no activo. Ficou provada pela IGAI a falsificação do auto de notícia e o disparo de tiros na perna de uma das vítimas. (...)

Esquadra de Alfragide com mais dois processos de investigação na IGAI
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2019-11-15 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20191115170659/https://www.publico.pt/1778692
SUMÁRIO: Dois dos agentes agora acusados pelo Ministério Público por agressões a jovens da Cova da Moura foram alvo de suspensão por 90 e 70 dias, mas recorreram e continuam no activo. Ficou provada pela IGAI a falsificação do auto de notícia e o disparo de tiros na perna de uma das vítimas.
TEXTO: A Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) tem dois inquéritos a decorrer à esquadra de Alfragide onde 18 agentes da PSP estão acusados pelo Ministério Público (MP) da prática de vários crimes como falsificação de documento agravado, tortura e outros tratamentos cruéis, degradantes ou desumanos, com a agravante terem tido motivações racistas e xenófobas. A acusação do MP envolve a esquadra toda, algo que nunca aconteceu, afirmou ao PÚBLICO inspectora-geral Margarida Blasco. Os processos de "natureza inspectiva" foram abertos por “indícios de irregularidades”, segundo Margarida Blasco em entrevista ao PÚBLICO, estão em sigilo e são autónomos dos que deram origem à acusação do MP divulgada nesta segunda-feira à noite pelo jornal Diário de Notícias. Os seis jovens da Cova da Moura foram primeiro acusados pela PSP de “tentativa de invasão da esquadra” a 5 de Fevereiro de 2015. Dias depois, vários dos jovens, entre eles membros da direcção da Associação Moinho da Juventude (Prémio de Direitos Humanos da Assembleia da República), contaram ao PÚBLICO que tinham sido vítimas de violência e ofensas racistas. “Os polícias disseram que nós, africanos, temos de morrer”, relataram. Também contaram que ouviram da boca dos agentes frases como: “Vocês têm sorte que a lei não permite, senão seriam todos exterminados. "Ao PÚBLICO, a inspectora-geral disse nesta terça-feira que no âmbito desse caso a IGAI instaurou nove processos disciplinares aos agentes da PSP da esquadra de Alfragide, sendo que em apenas duas situações houve sanções – e estas não se efectivaram porque os agentes interpuseram recurso. A sanção aplicada a um dos agentes foi suspensão por 90 dias e, a outro, suspensão por 70 dias e afastamento da esquadra. “Ficou provada a falsificação de auto de notícia com a concordância do chefe de esquadra”, o facto de terem sido “prestadas falsas declarações perante o juiz”, e ainda os tiros na perna de um dos jovens, adiantou Margarida Blasco. Segundo o regulamento da PSP, o máximo de dias de suspensão de um agente são 240 dias, acrescentou. Foram arquivadas as acusações a sete dos nove agentes. Confrontada com o despacho do MP que agora acusa o dobro dos agentes que a IGAI na altura indiciou com processos disciplinares, Margarida Blasco recusa a ideia de a IGAI não ter cumprido o seu papel: “Estamos perante processos diferentes. No processo disciplinar foram deduzidas acusações, e a dois [agentes] foram propostas penas. Neste processo -crime [do MP] ainda estamos na fase da acusação. Não é comparável a tramitação processual”, afirmou. A inspectora não quis fazer comentários sobre a acusação do MP. “Mas como magistrada, defendo um princípio de direito que é a presunção da inocência. No final falaremos”, concluiu. Também remeteu para a Direcção-Geral da PSP a questão sobre se, face à acusação, os agentes continuarão em funções na esquadra. O PÚBLICO aguarda resposta da PSP. Na entrevista ao PÚBLICO, Margarida Blasco recusou a ideia de que exista racismo nas forças policiais portuguesas. “Quando existem indícios, abrimos de imediato um processo. Podem existir manifestações pontuais em que há vários tipos de [discriminações] mas são mínimas face às forças dos serviços de segurança. Temos acompanhado todas as situações que são do nosso conhecimento. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em 2016, segundo o relatório de actividades da IGAI, houve 730 queixas contra agentes das forças de segurança (PSP, GNR, SEF), mais 13 do que no ano anterior. Dessas, a maioria – 255 – foi por ofensa à integridade física, sendo as práticas discriminatórias o terceiro maior motivo de queixa com um total de 137. “Tudo o que tem de ser feito, é feito. Mesmo só com um caso investigamos”, concluiu. Esta terça-feira de manhã, Flávio Almada, um dos jovens da direcção do Moinho da Juventude que foi agredido, disse que ainda não tinha tido acesso à acusação do MP. Afirmou: "É um bom começo, mas é preciso esperar pelo julgamento terminar. "Já Lúcia Gomes, advogada dos seis jovens, disse ao PUBLICO que a decisão vai “fazer história”. “Este assumir, de uma esquadra inteira, tão óbvio daquilo que aconteceu e da motivação, nomeadamente da discriminação racial, é muito importante. Assume a existência de racismo nas instituições policiais, contradiz todas as versões oficiais que foram apresentadas à data, nomeadamente da direcção nacional da PSP e da própria IGAI. "
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR PSP SEF
Todos os deuses, algures na América
A adaptação televisiva de , romance de Neil Gaiman, está disponível em Portugal no serviço Amazon Prime. (...)

Todos os deuses, algures na América
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-11-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A adaptação televisiva de , romance de Neil Gaiman, está disponível em Portugal no serviço Amazon Prime.
TEXTO: A televisão por cabo, primeiro, e os serviços de streaming, depois, abriram a produção televisiva a todo um mundo novo de risco sobre o que se pode fazer. Impensável ter algo como Os Sopranos em horário nobre numa grande cadeia, mas, obrigado HBO por ter corrido o risco (e, já agora, por Guerra dos Tronos). O risco aparece em coisas que podem ser demasiado violentas, demasiado profanas, ou, no caso de não serem ideias originais, consideradas “inadaptáveis” até pelos autores do material de origem. American Gods, o romance escrito no início do novo século por Neil Gaiman, entrava em todas estas categorias. Violento, profano e inadaptável. Mas o que já se viu mostra que os deuses estão com American Gods. American Gods, disponível em Portugal através do serviço de streaming Amazon Prime, é uma história de deuses. Na América. Os velhos deuses foram para o Novo Mundo, com os crentes de diferentes fés que lá desembarcaram. Com o passar do tempo, os crentes passaram a acreditar em outras coisas, criaram novos deuses, e os velhos deuses não estão satisfeitos. É este o universo criado por Neil Gaiman, conhecido, sobretudo, como argumentista de banda desenhada (The Sandman é a sua obra mais celebrada, entre muitas outras coisa que fez para a DC, Marvel, e numerosas novelas gráficas), e que o próprio achava que nunca daria um filme, quanto mais uma série de televisão. E nem estava muito preocupado com isso. O livro foi publicado em 2001, passou por várias mãos e a HBO até se mostrou interessada, mas o projecto não andou por causa de uma certa série em que o Inverno está sempre quase a chegar. “Escrevo um livro que não pode ser filmado e divirto-me com isso. As pessoas vão-me ligando, ‘Olá, eu sou um realizador famoso que você conhece. Li o seu livro e acho que dava um filme fantástico, mas não sei como. Como é que você faria? E eu respondia, ‘Não sei’”, contava Gaiman numa entrevista ao site A. V. Club. Mas, ao contrário de Alan Moore, outro autor britânico famoso por já não querer nada seu no cinema (e com razão; veja-se A Liga dos Cavalheiros Extraordinários), Gaiman abraça a transposição do seu trabalho para outros meios (Stardust e Coraline são filmes com muitos méritos) e, para American Gods, encontrou uma alma compatível em Bryan Fuller, um produtor habituado a pisar o risco criativo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As peças encaixaram. Com Fuller, eminente criador de universos oníricos luminosos (Pushing Daisies) e sombrios (Hannibal), uma cadeia de televisão por cabo (Starz) que não tinha de se preocupar com palavrões, violência e sexo, um elenco de deuses a fazerem de deuses (Ian McShane, Gillian Anderson), e a colaboração do próprio Gaiman como um dos argumentistas, American Gods é um road movie em oito episódios que mostra deuses escondidos (e esquecidos) numa América escondida. São deuses nórdicos, bíblicos, eslavos, celtas e africanos contra os deuses dos tempos modernos (tecnologia, media), com os crentes pelo meio. A narrativa nem sempre linear e a violência profana de American Gods evocam uma série de referências televisivas do passado, que vão de Twin Peaks (que foi uma porta aberta no mainstream para este tipo de televisão alternativa e está de regresso), Ficheiros Secretos, Carnivale, The Stand ou até de coisas mais recentes como American Horror Story, Legion e Priest. Ainda não acabou a primeira temporada e já está confirmada uma segunda, o que só prova que o risco de adaptar o inadaptável vale a pena – e ajuda ter uma Gillian Anderson que se transforma, com a mesma facilidade, em Marilyn Monroe, Lucille Ball e David Bowie. Televisão é uma rubrica do P2
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra violência ajuda sexo
Cada vez mais negra
Operam em colectivos ou individualmente e possuem um público fiel, apesar de passarem ao lado dos grandes meios de comunicação de massas. Têm nomes como NGA, Grognation, Mike El Nite ou DarkSunn e personificam o estilhaçar do fenómeno do hip-hop em Portugal – e uma nova cultura urbana. (...)

Cada vez mais negra
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Operam em colectivos ou individualmente e possuem um público fiel, apesar de passarem ao lado dos grandes meios de comunicação de massas. Têm nomes como NGA, Grognation, Mike El Nite ou DarkSunn e personificam o estilhaçar do fenómeno do hip-hop em Portugal – e uma nova cultura urbana.
TEXTO: Não, não é uma questão de pele. Nunca foi, aliás. Dizemos música ou cultura negra, mas tal não existe. Como não há música ou cultura branca. Mas inevitavelmente dizemos as duas coisas porque ainda não encontrámos nenhuma palavra que queira dizer o mesmo sem que a ganga simbólica venha atrás. Sim, é uma merda, ainda pensamos através de estereótipos que remetem para simbologias. Vai demorar ainda mais algumas gerações até que aceitemos com naturalidade que a ideia de uma “cultura negra portuguesa” nada tem a ver com a cor da pele ou com um passado africano. A música está a mostrar isso mesmo. Mas a verdade, nua e crua, é que colectivos como os Força Suprema, Monster Jinx ou Grognation, no caso hip-hop, ou nomes como Buraka Som Sistema, Batida, DJ Marfox, Nigga Fox ou Throes + The Shine, por exemplo, no caso das mais recentes expressões urbanas, não fazem outra coisa que não música popular portuguesa. Claro que alguns destes agentes criativos também acabam por expor divisões, como se tivessem de optar entre ser “africanos” ou “portugueses”. Mas de onde vem a obrigatoriedade de escolher? Porque não acumular?Como é evidente o limbo existe, de parte a parte. Ou como diz NGA: “Não posso dizer que os portugueses não nos querem; afinal, criaram-nos e acolheram-nos, mas só até certo ponto. Até ao ponto em que não sejam postos em causa. ”Seja como for, a verdade é que, hoje, nos centros urbanos, nos espaços públicos ou nos carros, a música que se ouve mais é a kizomba, na sua versão mais plastificada, ou o hip-hop. E nas expressões de rua dos mais jovens sente-se a ginga maleável da língua portuguesa. Aquilo que até há uns anos dizíamos que estava confinado aos bairros da Grande Lisboa, chegou hoje ao centro. Nos lugares mais mundanos da capital, do Lux ao Park, ou ao Musicbox, as noites com hip-hop, na sua versão mais contemporânea, são uma realidade. O mesmo acontecendo com expressões como o kuduro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O que não significa visibilidade junto do grande público, uma realidade cada vez mais confinada a poucos, no mundo de ambiente comunicacional fragmentado em que vivemos. Como expõe DarkSunn: “Não tenho necessidade de enviar a minha música para as televisões, sem desprimor. A questão é que esse mercado generalista não me interessa porque não é ali que encontro as pessoas que se interessam pela nossa música. ”Nesse contexto, até a ideia de pertença se alterou. Os Força Suprema e os Grognation assumem-me como sendo da Linha de Sintra. No caso da Astro Records, ainda podemos identifica-la genericamente com a Grande Lisboa (os seus membros são de Alcântara, Telheiras, Vila Franca de Xira ou Massamá), mas no caso da Monster Jinx nem isso. Estão espalhados por todo o país, de Trás-os-Montes ao Algarve, com centro no Porto. É o país todo a ficar cada vez mais permeável à cultura negra urbana portuguesa.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Teju Cole e Han Kang na Feira do Livro que o Porto dedica a Sophia
Com uma programação cultural reforçada, a edição deste ano vem confirmar que o novo modelo de feira lançado em 2014 é mesmo para manter. (...)

Teju Cole e Han Kang na Feira do Livro que o Porto dedica a Sophia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com uma programação cultural reforçada, a edição deste ano vem confirmar que o novo modelo de feira lançado em 2014 é mesmo para manter.
TEXTO: A Feira do Livro do Porto regressa aos jardins do Palácio de Cristal no dia 1 de Setembro, homenageando este ano Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e propondo um extenso e variado programa cultural, que incluirá um conjunto de debates com escritores portugueses e estrangeiros comissariado por José Eduardo Agualusa, um ciclo de spoken word concebido por Anabela Mota Ribeiro, uma mostra de cinema, uma exposição de arte contemporânea centrada nos quatro elementos, uma série de “lições” dedicadas a escritores de língua portuguesa, e ainda sessões especiais das Quintas de Leitura e do ciclo Um Objecto e seus Discursos por Semana. A programação foi anunciada esta sexta-feira por Rui Moreira na Feira do Livro de Madrid, onde a Câmara do Porto está presente com um pavilhão próprio, utilizado para divulgar autores da cidade, mas também para promover internacionalmente a feira portuense. E o programa agora divulgado por Moreira sugere que a autarquia está empenhada em manter e desenvolver o modelo de feira estreado por Paulo Cunha e Silva em 2014: uma feira directamente organizada pela Câmara, que assume também a coordenação geral de todas as actividades paralelas. E a verdade é que, até ver, esta nova feira no Palácio de Cristal tem mostrado viver bem sem as mega-representações dos principais grupos editoriais que marcavam as anteriores edições promovidas pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros. O programa cultural desta edição de 2017 inicia-se no dia 1 de Setembro com a inauguração, na Galeria Municipal, da exposição de arte contemporânea Quatro Elementos, inspirada em dois versos de Sophia: “A terra o sol o vento o mar/ São a minha biografia e são meu rosto”. A Câmara convidou quatro curadores, atribuindo um elemento natural a cada um deles: Pedro Faro ficou com o fogo, Eduarda Neves com a terra, Nuno Faria com o ar e Ana Luísa Amaral com a água. Embora a feira encerre a 17 de Setembro, esta quádrupla exposição manter-se-á até Novembro para fazer a ligação ao Fórum do Futuro, que este ano tem como vasto tema o planeta que habitamos. Ainda no mesmo dia, à noite, inaugura-se o ciclo de spoken word com Uma Máquina Voadora Movida por Vontades, uma performance de André e. Teodósio e do Teatro Praga que assinala os 35 anos da publicação de Memorial do Convento, de José Saramago. O ciclo de debates com escritores começa no dia seguinte, sábado, e novamente sob o signo de Sophia, com uma sessão que assume como mote os já referidos versos do poema final do livro Geografia (1967), e que porá em diálogo Frederico Lourenço, o mais recente Prémio Pessoa, e a ensaísta e poetisa Ana Luísa Amaral, moderados por Miguel Sousa Tavares. O tributo a Sophia de Mello Breyner Andresen, que nasceu no Porto e sempre manteve fortes ligações à cidade, incluirá ainda a tradicional atribuição simbólica de uma das árvores da Alameda das Tílias, que se vai convertendo num passeio de escritores, onde têm já lugar cativo Vasco Graça Moura, Agustina Bessa-Luís e Mário Cláudio. Até ao final da feira, e sempre aos sábados e domingos, o programa dirigido por José Eduardo Agualusa, no qual se discutirão temas como O sagrado e o profano na literatura, Caminhos da nova literatura africana ou O corpo e o mal, levará ainda ao Palácio de Cristal os escritores José Tolentino Mendonça, José Luís Peixoto, Dulce Maria Cardoso, Bruno Vieira Amaral, Djaimilia Pereira, Alexandra Lucas Coelho, Gonçalo M. Tavares, a brasileira Tatiana Salem Levy, o nigeriano-americano Teju Cole e a coreana Han Kang, cujo romance A Vegetariana venceu o Booker International Prize em 2016, no mesmo ano em que Agualusa chegava à shortlist com Teoria Geral do Esquecimento. A sessão De Ana Hatherly a Tarkovski, com “palavras, imagens e um fio de música”, juntará no dia 8 quatro protagonistas com um pé (ou dois) no Brasil: a poetisa Matilde Campilho, o artista plástico, escritor e músico Tomás Cunha Ferreira, o compositor, cantor e poeta Mariano Marovatto e a cineasta e produtora russa Anastasia Lukovnikova. É o segundo momento do programa de spoken word, que evocará ainda os 40 anos da morte de Clarice Lispector e dedicará uma sessão ao romance de estreia de Bruno Vieira Amaral, As Primeiras Coisas. Também comissariado por Anabela Mota Ribeiro, o programa Lições é uma espécie de curso breve de literatura contemporânea de língua portuguesa, em cujas “aulas” será possível ouvir Carlos Mendes de Sousa falar de Clarice Lispector, Carlos Reis abordar o Memorial do Convento, Ana Luísa Amaral evocar a poesia de Sophia, Clara Rowland aventurar-se na Máquina do Mundo de Carlos Drummond de Andrade, e Fernando Pinto do Amaral mostrar como a poesia de David Mourão-Ferreira traça um percurso que vai “do tempo ao coração”. O já habitual ciclo de cinema co-organizado com a Medeia Filmes, cujas sessões são sempre apresentadas por um convidado, foi este ano concebido em torno do tema Os Quatro Elementos e dará a ver, no auditório da Biblioteca Almeida Garrett, Quando o Rio se Enfurece (1960), de Elia Kazan, O Sacrifício (1973), de Robin Hardy, O Fim do Mundo (1992), de João Mário Grilo, Adeus a Matiora (1983), de Elem Klimov, e Um Caso de Vida ou de Morte (1946), de Michael Powell e Emeric Pressburger. A estas sessões soma-se ainda, no dia 5, a exibição do documentário Terra e o Homem, de Manuel Guimarães, redescoberto em Braga no ano passado. Será agora mostrado em conjunto com o documentário que Leonor Areal montou a partir de excertos de filmes e textos deste realizador neo-realista que o salazarismo perseguiu e censurou: Nasci Com a Trovoada - Autobiografia Póstuma de Um Cineasta. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No dia 9, sábado, se já estiver um bocadinho cansado de correr as bancas de livros, nada como desentorpecer as pernas com uma cachimbada no auditório da biblioteca. Uma cachimbada simbólica, entenda-se, que a lei proíbe as literais, e por interposto cachimbo, mais precisamente o que pertenceu a António Nobre, protagonista de mais uma sessão do ciclo Um Objecto e seus Discursos, que terá como oradores o médico pneumologista António Ramalho de Almeida e a ensaísta Paula Morão. O que um e outro dirão do cachimbo não se sabe, mas sabe-se o que dele disse o próprio Nobre no final de um poema que lhe dedica no Só: “(…) Coloca, sob a travesseira/ O meu cachimbo singular/ E enche-o, solícita enfermeira, / Com ‘Gold-Fly’, para eu fumar. . . // Como passar a noite, amigo!/ No ‘Hotel da Cova’, sem conforto?/ Assim, levando-te comigo, / Esquecer-me-ei de que estou morto…”. Notícia alterada no dia 29 para corrigir o apelido de Pedro Faro.
REFERÊNCIAS:
Lugares no primeiro escalão à venda na África do Sul
Falhado o objectivo da subida de divisão, o AmaZulu FC resolveu o problema comprando o primeiro classificado (...)

Lugares no primeiro escalão à venda na África do Sul
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2017-09-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Falhado o objectivo da subida de divisão, o AmaZulu FC resolveu o problema comprando o primeiro classificado
TEXTO: Trabalhar uma época inteira e depois morrer na praia? Disputar uma competição secundária pode revelar-se bastante frustrante para quem luta pela subida de divisão e falha o objectivo por muito pouco. Após ficar a meros dois pontos dos lugares que davam acesso ao play-off de subida, um emblema na África do Sul arranjou uma solução original para esse problema: simplesmente comprou o clube que tinha terminado no primeiro lugar, garantindo assim a correspondente vaga no principal escalão. Quem tivesse acompanhado de perto a época do AmaZulu FC ia ficar confuso ao chegar ao site oficial e ler: “AmaZulu FC de regresso ao primeiro escalão”. O emblema verde foi quinto classificado na segunda divisão, a 15 pontos do primeiro lugar (o único com subida directa) e a dois pontos do terceiro, que tal como o segundo posto dá acesso a um play-off. Mas não era engano, o AmaZulu FC vai mesmo disputar o principal escalão em 2017-18. Já não é a primeira vez que o clube recorre ao músculo financeiro para comprar o que não tinha conseguido pela via desportiva. Aconteceu em 2006 e voltou a acontecer agora: depois de duas épocas consecutivas no segundo escalão, o emblema de Durban cansou-se de esperar. Adquiriu o controlo do Thanda Royal Zulu, que tinha ficado em primeiro lugar na II Divisão sul-africana, e vai ocupar o correspondente lugar entre a elite. O Thanda Royal Zulu, de Richards Bay (a mais de 170 quilómetros de Durban) deixa de existir, e no seu lugar o AmaZulu FC segue para o primeiro escalão. A metamorfose foi aprovada pela Liga sul-africana, apesar da polémica. “Corremos o risco de ter todos os clubes do primeiro escalão concentrados numa região do país, em vez de termos equipas espalhadas por todo o país”, lamentou Danny Jordaan, presidente da Federação sul-africana de futebol, acrescentando: “É um facto que comprar e vender clubes faz parte do jogo global e dos tempos económicos que vivemos. Basta olharmos para clubes como o Paris Saing-Germain, Chelsea ou Manchester City. Mas nenhum deles mudou de cidade ou de nome. ”As dificuldades financeiras que o Thanda Royal Zulu atravessa ajudaram a facilitar o negócio com o AmaZulu FC. A revista Soccer Laduma adiantava que o preço a pagar pela vaga no primeiro escalão foi de 60 milhões de rands (quatro milhões de euros). Tendo em conta a saúde financeira da generalidade dos clubes sul-africanos, até pode ter sido bom negócio. “Sei do que falo porque tive essa experiência em primeira mão. Quase 90% dos clubes estão em bancarrota. O futebol é óptimo para gerar contactos e visibilidade. Visto ao longe, é tudo muito bonito. Mas quando se chega perto percebe-se que não é o que se esperava. Esta foi a minha experiência no futebol”, afirmou Pat Malabela, responsável pela venda do Dynamos ao AmaZulu FC, em 2006. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Se surgir uma boa oferta, pega no dinheiro e não olhes para trás. Eu estava falido quando vendi o meu clube. Nem hesitei. Era uma saída fácil, caso contrário ter-me-ia afogado em dívidas”, acrescentou Malabela. Na altura, o valor pago pelo AmaZulu FC terá rondado os 41 milhões de rands (mais de 2, 7 milhões de euros, ao câmbio actual). Em Richards Bay, cuja autarquia tinha investido na renovação e iluminação artificial do estádio do Thanda Royal Zulu, a notícia não foi bem recebida. Mas pelo menos os adeptos não vão ficar sem equipa de futebol: no lugar da equipa comprada pelo AmaZulu FC surgiu o Richards Bay FC, que voltará a tentar a subida ao principal escalão. Desde que no final da época não volte a aparecer alguém apressado e com dinheiro. * Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast
REFERÊNCIAS: