Patrícia Mamona critica Lux Frágil por ter sido impedida de entrar e tratada “de maneira diferente”
A atleta do Sporting diz que o seu grupo de amigos negros foi barrado quando queria entrar na discoteca lisboeta. Mais tarde, escreveu: "Por favor, não me chamem Serena Williams". (...)

Patrícia Mamona critica Lux Frágil por ter sido impedida de entrar e tratada “de maneira diferente”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-09-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: A atleta do Sporting diz que o seu grupo de amigos negros foi barrado quando queria entrar na discoteca lisboeta. Mais tarde, escreveu: "Por favor, não me chamem Serena Williams".
TEXTO: A atleta portuguesa Patrícia Mamona denunciou nas redes sociais o facto de ter sido impedida de entrar na discoteca lisboeta Lux Frágil, juntamente com os seus amigos na madrugada de sexta-feira. “Quando vês pessoal a entrar de chinelos e sem convite, mas te tratam de maneira diferente porque tu e os teus black friends bem vestidos e tal não se enquadram no perfil da Lux”, escreveu a campeã europeia de 2016 no Instagram. “Triste, mas acontece. ”“Eu sou a primeira pessoa a dizer que há muito pessoal que tem a mania de usar a carta do racismo para tudo que acontece de mal… Mas quando começas a ver o pessoal a entrar… ui!”, respondeu Patrícia Mamona a um utilizador da rede social, dizendo que até perceberia se não os deixassem entrar se estivessem mal vestidos — mas que não fora o caso. “Quando me reconheceram vieram falar comigo”, acrescenta nos comentários a atleta do triplo salto do Sporting, que conquistou em 2016 o título de campeã da Europa. Durante a tarde desta sexta-feira, e depois de o caso se ter tornado viral nas redes sociais, a atleta voltou ao tema com uma nova publicação no Instagram. “Fiquem descansados que situação foi facilmente resolvida da maneira que achamos correcta, fomos embora”, escreve. “Por favor, não me chamem Serena Williams, estou apenas a ser eu, e desculpem se ofendi alguém por ser eu. Tenho uma época desportiva muito difícil pela frente, e é isso [em] que tenho que me focar. Aprender a lidar com as situações que aparecem por mais difícil que sejam, o caminho é em frente, tudo isto é uma lição de vida. ”No Twitter, o velocista do Benfica David Lima apelou ao boicote do espaço nocturno, localizado em Santa Apolónia, dizendo que os seus critérios para escolher quem entra têm por base uma “perfilagem racial”. “Ninguém me pode convencer do contrário”, remata. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Lisboa, há outros casos de discotecas que foram acusadas de racismo. Um dos casos mais memoráveis é o do espaço nocturno Urban Beach, em Santos, que foi somando denúncias de racismo e agressões por parte dos seguranças. Em 2014, a denúncia partiu do atleta português e antigo campeão olímpico no triplo salto Nelson Évora. Através das redes sociais, Évora denunciou que o seu grupo de amigos, onde se incluíam outros atletas como Francis Obikwelu, Naide Gomes e Susana Costa, foi barrado à entrada do Urban Beach por existirem “demasiados pretos no grupo”. “Estarei a exagerar ou foi mesmo racismo?”, questionava. Na altura, um responsável do grupo a que pertence a discoteca afirmava que algumas pessoas desse grupo não respeitavam o dress code exigido. O Governo acabou por mandar encerrar a discoteca em Novembro do ano passado, depois de mais um caso de violência. O PÚBLICO tentou contactar a atleta Patrícia Mamona, que ainda não respondeu, e a discoteca Lux Frágil — que remeteu explicações para mais tarde.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência racismo social
A dura e cruel vida dos homens brancos americanos
Como é sabido, a vida do homem branco nos Estados Unidos é uma narrativa carregada de dificuldades. Com todo o sarcasmo que se adivinha, Paul Zaloom apresenta no FIMFA uma sátira política em que o humor, corrosivo, cai em cima da sua própria cabeça. (...)

A dura e cruel vida dos homens brancos americanos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.3
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Como é sabido, a vida do homem branco nos Estados Unidos é uma narrativa carregada de dificuldades. Com todo o sarcasmo que se adivinha, Paul Zaloom apresenta no FIMFA uma sátira política em que o humor, corrosivo, cai em cima da sua própria cabeça.
TEXTO: Paul Zaloom estava à espera da sua vez, entre muitos outros humoristas, para apresentar a uma série de produtores o pitch para um novo espectáculo que tinha em mente. Na verdade, só teria de fazer esse “discurso de vendedor” no dia seguinte, mas enquanto via os outros comediantes a tentarem a sua sorte foi percebendo que “todos os espectáculos eram sobre afro-americanos a falarem da sua identidade, ou latinos a contarem a sua história como latinos nos Estados Unidos”. Ao ouvir aquelas sinopses, pensou instintivamente “Então e eu?!”. E logo se riu do pensamento absurdo que o tinha invadido. “De facto, eu tenho sido eu desde o primeiro dia, 24 horas por dia. Achei que seria hilariante fazer um espectáculo sobre isso [isso sendo a vida dura do homem branco na América do Norte] e durante a noite redefini o que ia apresentar. ”No dia seguinte, mostrou aos produtores os primórdios daquilo que viria a ser The Adventures of White-Man, espectáculo que parte desse desconforto enquanto homem caucasiano nos Estados Unidos, sabendo que o corpo lhe traz as mais variadas vantagens e que a atenção mais recentemente dedicada às minorias resultou naquilo a que chama white fragility – uma postura defensiva deste grupo que, nos últimos anos, começou a sentir-se ameaçado por uma eventual perda de privilégios. “Nós, os brancos, somos muito frágeis, somos flores delicadas”, diz ao Ípsilon com uma óbvia nota de sarcasmo. Numa das versões anteriores de The Adventures of White-Man, que então se chamava White Like Me, Zaloom começava o espectáculo com um número de ventriloquismo em que explicava ao boneco sentado no seu colo que o homo sapiens caucasiano (também conhecido por “cabeça de leite”, “rabo plano”, “marshmallow”, “Martha Stewart” ou “entendido em maionese”) estava a deixar de ser maioritário em estados como a Califórnia. Em seguida, tinha de convencer o boneco de que passar a minoria não implicava o downgrade para “escolas merdosas e bairros maus”, não correspondia automaticamente a ter dificuldades para apanhar um táxi em Los Angeles, nem sequer a um aumento da probabilidade de cair no desemprego ou à obrigação de incluir nas rotinas familiares recomendações especiais aos filhos para terem cuidado com a políciaActor(es):Paul Zaloom Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa, Sexta, de 19 de Maio de 2017 a 21 de Maio de 2017 às 21h30 Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa, Sábado e Domingo, de 19 de Maio de 2017 a 21 de Maio de 2017 às 19hÉ uma introdução às aventuras de um caucasiano que o 17. º FIMFA leva ao Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, desta sexta a domingo. Um caucasiano originário do planeta Caucazoid em busca de novos mundos que possa colonizar, doutrinar, evangelizar, corrigir e anular. Esta ideia de que nada existe até à sua validação pelos “brancos descobridores” estabelece um link evidente com a experiência dos nativos americanos (partilhada por tantos outros territórios colonizados) e com um relato com que Zaloom se deparou no seu processo de pesquisa. “Penso que isto não chegou a ser implementado, mas houve planos dos colonos brancos nos Estados Unidos para espalharem vírus de varíola em cobertores a distribuir pelos nativos para que estes apanhassem a doença e morressem. ”A provocação constante de Paul Zaloom, figura de enorme popularidade nos Estados Unidos – e na América Latina – graças ao programa televisivo Beakman’s World, não tardou a gerar controvérsia. E as vozes ofendidas fizeram-se escutar. O senador republicano John McCain haveria de emitir um comunicado denunciando a atribuição de fundos estatais à produção de um espectáculo de marionetas que, na sua teve lotação esgotada no dia do espectáculo. “Cheguei a ter algum respeito por ele, mas isso já lá vai”, diz Zaloom sobre o senador. “Quando ele nomeou a Sarah Palin [para sua candidata a vice-presidente nas eleições presidenciais de 2008, vencidas por Barack Obama], todo o respeito voou pela janela. Mas é verdade que é o único republicano a fazer frente ao Trump. Enfim, tenho sentimentos ambivalentes, mas feitas as contas é um idiota. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em relação a Donald Trump, os sentimentos de Paul Zaloom não são propriamente ambivalentes. Aliás, ao longo destes meses que já leva a nova administração norte-americana, a vida do White-Man tem sido “fabulosa, tudo é perfeito”, descreve Zaloom. “Os brancos estavam zangados, sentiam-se marginalizados; quando escrevi o espectáculo, muito antes das eleições, toda a ansiedade quanto à circunstância de deixarmos de estar em primeiro lugar era muito palpável. ” Em cada frase de Zaloom, como é evidente, há tanto de análise crítica quanto de derramamento de ácido sobre o seu próprio discurso. Como se curto-circuitasse em permanência. Trump – regressemos a ele – fascina Paul Zaloom por ser “um tipo sem qualquer filtro”. “Acho-o hilariante. A forma como ele fala, como usa a linguagem, a sintaxe, o ritmo, tudo nele é a quintessência do nova-iorquino idiota. ” O humorista nunca o diz. Mas a forma como fala do Presidente faz pensar que poderia tratar-se de uma marioneta, o receptáculo exagerado e caricatural de uma personagem arquetípica da sociedade norte-americana. E se um dos reconhecidos efeitos de Trump foi o de soltar a língua ao preconceito, Zaloom responde na mesma moeda, defendendo que sente que “a América merece ter como Presidente um otário monumental”. “Claro que os outros antes dele também o eram, e Hilary Clinton, enfim… Mas há muitas coisas que posso fazer em resposta: posso estar informado, posso ler jornais, ir a manifestações e fazer donativos, mas também posso fazer espectáculos de marionetas sobre estes temas, para que as pessoas se permitam rir de assuntos que estão a dar cabo delas. ”É impossível a Paul Zaloom saber o que teria sido de The Adventures of White-Man se tivesse sido imaginado já durante ou após as eleições – acredita que poderia não ter conseguido o financiamento necessário –, mas não ignora que estes são tempos especialmente desafiantes para fazer sátira política. O desafio passa até por estar em competição com uma realidade tão exagerada e absurda que rouba algum espaço de manobra ao humor. Mas há uma vantagem com as marionetas: “É tão ridículo aquilo que fazemos que temos uma grande margem de tolerância. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homem doença minoria corpo desemprego ansiedade
O Museu da Culpa do Homem Branco
O branco de 2018 é culpado pelos actos do esclavagista de 1718 para que o negro de 2018 possa ser vítima da escravatura de 1718. (...)

O Museu da Culpa do Homem Branco
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: O branco de 2018 é culpado pelos actos do esclavagista de 1718 para que o negro de 2018 possa ser vítima da escravatura de 1718.
TEXTO: Ando há semanas entusiasmadíssimo a ler tudo o que é publicado acerca do polémico “Museu das Descobertas”. Descobri várias coisas. Em primeiro lugar, descobri que a palavra “Descobertas” está tão ultrapassada quanto as calças à boca de sino. Mas não só: se o museu se chamasse da Descoberta (no singular), da Expansão ou da Viagem (outras hipóteses faladas) o problema seria exactamente o mesmo. Aquilo de que os seus críticos andam à procura não é de um nome – é de um sentimento de culpa. Eles batem-se pelo reconhecimento colectivo de todos os actos de violência cometidos pelos portugueses no último meio milénio contra ameríndios e africanos, como, aliás, já se viu na polémica com as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a escravatura na ilha de Gorée, no Senegal, ou com a estátua do padre António Vieira no Chiado, rodeado de três crianças índias. O que esses críticos querem não é apenas a edificação de um novo espaço cultural com determinadas características, mas sim a criação de um novo espaço mental a que poderemos chamar o Museu da Culpa do Homem Branco. Outra coisa que descobri: há nessa postura uma estranha mistura de catolicismo com judaísmo, demonstrando que certa esquerda progressista está a reentrar na Igreja, ainda que pela porta dos fundos. Nos activistas anti-Descobertas há uma insistência imensa na assunção de velhos pecados e na necessidade de contrição, associado a uma noção de culpa colectiva centenária que é tão bizarra quanto o orgulho nacional salazarista – como se algum de nós tivesse qualquer razão para se sentir responsável pelos actos de quem viveu há 300 anos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E depois há essa coisa profundamente judaica que é sentir que a destruição do Segundo Templo ocorreu não há dois milénios, mas anteontem. Nos judeus, percebe-se: historicamente, foi o poder da religião e da memória comum que permitiu a preservação de um povo apátrida. No caso da escravatura, contudo, o excesso de memória e a sua permanente invocação serve apenas para fabricar artificialmente uma linha contínua entre o português do século XXI e o esclavagista do século XVIII. Para quê? Simples: para permitir a vitimização histórica do português de origem africana no presente. O branco de 2018 é culpado pelos actos do esclavagista de 1718 para que o negro de 2018 possa ser vítima da escravatura de 1718. Mas como é difícil argumentar que a geração pós-25 de Abril andou de chicote na mão, ou que alguém, acima de idiota ou de skinhead (a bem dizer, são sinónimos), acha hoje em dia que a pigmentação da pele diz o que quer que seja sobre a inteligência ou a capacidade de um indivíduo, a estratégia passa por investir nos erros não assumidos do passado histórico português ou naquilo a que chamam “nano-racismos” (cito: “os pequenos, mas impactantes, gestos e atitudes racistas que pontuam linguagem e acção quotidianas”). Mais uma vez, é a linguagem, e não os actos, que se torna campo de batalha. Nós não escravizámos, mas a nossa língua ainda escraviza. Estão em causa (palavras de Clara Silva) “expressões idiomáticas que carregam na sua história a escravidão, e que estão intrinsecamente carregadas de sentidos negativos e opressores”. “Negro” não se pode dizer – remete para a escravatura. “Mulata” não se pode dizer – remete para mula. E por aí adiante. A prova de que somos opressores está na fala. E assim como o homem branco é culpado mal abre a boca, também um museu inexistente é culpado só pela mera intenção de existir.
REFERÊNCIAS:
A culpa e a reparação
A ideia de que os portugueses de hoje têm de reparar o que os de há cem ou duzentos anos fizeram é totalmente absurda! (...)

A culpa e a reparação
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: A ideia de que os portugueses de hoje têm de reparar o que os de há cem ou duzentos anos fizeram é totalmente absurda!
TEXTO: A desigualdade “racial” (e por vezes religiosa, étnica…) é tema infinito. Em Portugal e no resto do mundo. Entre nós, está agora mais vivo do que no passado, o que se fica a dever a intervenções de brancos e negros, africanos e europeus, cristãos e muçulmanos, judeus e gentios. Sem falar em académicos, artistas e políticos. O tema merece-o. Raros são os assuntos tão perenes na história e com opiniões tão diversas.
REFERÊNCIAS:
Países Portugal
A empresa do "caso Nicol" no Porto faz segurança à Casa Pia e EDP
Empresa de segurança 2045 continuava sem esclarecer nesta sexta-feira se o fiscal que se vê num vídeo com os joelhos em cima de uma jovem ainda está ao serviço. Com 3000 funcionários, tem uma carteira vasta de clientes, segundo se lê no seu site. (...)

A empresa do "caso Nicol" no Porto faz segurança à Casa Pia e EDP
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Empresa de segurança 2045 continuava sem esclarecer nesta sexta-feira se o fiscal que se vê num vídeo com os joelhos em cima de uma jovem ainda está ao serviço. Com 3000 funcionários, tem uma carteira vasta de clientes, segundo se lê no seu site.
TEXTO: Os partidos pediram contas ao Governo. O Ministério da Administração Interna abriu um processo administrativo. A STCP — Sociedade de Transportes Colectivos do Porto já disse que nunca mais trabalha com o segurança acusado de agressão racista à jovem Nicol Quinayas no Bolhão, na noite de 24 de Junho. O Ministério Público abriu um inquérito e o caso está a ser investigado. Mas até agora, a entidade que se manteve praticamente em silêncio foi a 2045, a empresa para quem o segurança trabalha e que faz a fiscalização na STCP. Num curto comunicado no dia 27, apenas disse que estava a fazer averiguações internas. Nesta sexta-feira continuava sem esclarecer se o fiscal ainda estava ao serviço. Fundada em 1990 pelo “Capitão de Abril” e comando Jaime Neves e pelo comando Sousa Gonçalves, a 2045 tem três mil funcionários e várias grandes empresas como clientes, segundo se lê no seu site: a EDP, o ISCTE, a Casa Pia, o IEFP, a ANA, o Continente, a Sonae Sierra (proprietária do PÚBLICO), o Sporting Club de Portugal, os Transportes de Lisboa, o Metro do Porto, a Direcção Geral dos Serviços Prisionais e o Instituto de Segurança Social, entre outras mencionadas. O Estado Maior-General das Forças Armadas pagou-lhe, em Maio de 2013, 53. 574, 33 euros (foi substituída em 2016 por outra empresa), de acordo uma investigação do PÚBLICO. Nicol Quinayas, colombiana de 21 anos que vive em Portugal desde os cinco, acusou o fiscal da 2045 de a agredir brutalmente e de ter proferido insultos racistas na noite de São João, como “Tu aqui não entras, preta de merda!" Várias testemunhas confirmam-no. Nicol diz também que os polícias que se deslocaram à paragem de autocarros onde tudo aconteceu não a identificaram. A PSP só elaborou o auto do acontecimento no local três dias depois e tem estado debaixo de críticas por isso. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O segurança da empresa que faz a fiscalização dos autocarros da STCP é visto num vídeo que circula na Internet com os joelhos em cima do corpo da jovem, a imobilizar-lhe o braço. Há sangue no chão. O Ministério da Administração Interna (MAI) afirmou que a Inspecção-Geral da Administração Interna pediu à Direcção Nacional da PSP para averiguar o que se passou, através de um processo administrativo. Por sua vez, a PSP diz que foi aberto um processo de averiguação interno. O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, afirmou em comunicado que “não tolerará fenómenos de violência nem manifestações de cariz racista ou xenófobo”.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP MAI IEFP
Depois de alegada "invasão", agentes abandonaram esquadra de Alfragide sem pedir reforços
No terceiro dia de julgamento, agente da PSP disse que não chamou reforços depois da alegada "invasão". Minutos a seguir ao episódio, a esquadra ficou com menos quatro elementos que foram acompanhar colega ao hospital. “Como é que depois de uma invasão a esquadra se dá ao luxo de desguarnecer de quatro elementos?”, questionou juiz. (...)

Depois de alegada "invasão", agentes abandonaram esquadra de Alfragide sem pedir reforços
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.05
DATA: 2018-10-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: No terceiro dia de julgamento, agente da PSP disse que não chamou reforços depois da alegada "invasão". Minutos a seguir ao episódio, a esquadra ficou com menos quatro elementos que foram acompanhar colega ao hospital. “Como é que depois de uma invasão a esquadra se dá ao luxo de desguarnecer de quatro elementos?”, questionou juiz.
TEXTO: Quando avistou os "10 a 15 jovens" a aproximarem-se da esquadra, o agente da PSP Marco Monteiro formou um cordão com outros colegas para tentar conter a alegada invasão. Segundo o seu depoimento desta terça-feira ao colectivo de juízes presidido por Ester Pacheco, do Tribunal de Sintra – onde 17 polícias estão a ser julgados por vários crimes alegadamente cometidos em Fevereiro de 2015, como tortura e falsificação de auto, agravados por ódio racial – viu “pedras a cair” e a serem atiradas. O cenário que descreveu parecia a qualquer ouvinte intimidante. Mas, passados cinco a dez minutos de os jovens terem sido detidos, ele e três agentes foram acompanhar ao hospital o agente André Quesado, alegadamente ferido num primeiro momento deste episódio. Não chamaram reforços depois disso, disse ao advogado dos assistentes. O juiz Paulo Cunha, que nesta terça-feira fez a sua primeira intervenção desde que o julgamento começou a 22 de Maio, questionou o facto de o agente, ao ver 15 pessoas a aproximar-se da esquadra, ter continuado na mesma posição e não ter chamado reforços. Disse ao arguido que o modo como estava a ser descrito o episódio por ele e pelos colegas indicava que acusavam os jovens de terem efectuado uma invasão, não apenas de terem tentado invadir. Por isso perguntou: “Como é que depois de uma invasão a esquadra se dá ao luxo de se desguarnecer de quatro elementos?”A forma como foi feito o depoimento deste agente levou, aliás, a sua advogada a irritar-se – “explique”, “diga” – e a juíza a comentar, sorrindo, condescendente: “Tem que dar mais emoção ao seu relato. "No auto de notícia sobre o que aconteceu no bairro da Cova da Moura, no dia 5 de Fevereiro de 2015, o agente André Castro e Silva disse ter visto o ofendido Bruno Lopes, acompanhado de um grupo de dez indivíduos, a atirar uma pedra contra a viatura da PSP que dirigia. Na primeira sessão do julgamento, voltou a afirmá-lo ao colectivo de juízes. Um segundo polícia, André Quesado, disse nesta terça-feira que também ele tinha visto Bruno Lopes a mandar uma pedra que partiu o vidro da carrinha – e que esta lhe foi parar aos joelhos. O que, aliás, tem sido uma das versões mantidas pelos agentes, assim como uma alegada tentativa de invasão de esquadra pelos seis jovens que se seguiu à detenção de Bruno Lopes, mas que o Ministério Público, suportado por uma investigação da Polícia Judiciária, contestou no despacho de acusação há cerca de um ano. O juiz Paulo Cunha, que expôs as contradições que apareceram neste dia, disse ao arguido: “Não foi só o senhor André Castro e Silva a ver uma pessoa a arremessar uma pedra, o senhor também se apercebeu. ”Depois de o ter levado a responder que tinha visto Bruno Lopes “num grupo de sete ou dez pessoas”, questionou-o: “Então no meio de dez pessoas consegue ver um braço a arremessar uma pedra?” Ele estava à frente, justificou o agente. “Quando a pedra chega ao senhor já estava a contar levar com ela, não gritou para os seus colegas: ‘cuidado, pedra!'?’”, questionou ainda o juiz. Porque até agora nenhum reportou ter dado este alerta aos colegas. Na sala de tribunal, os advogados e os juízes quiseram apurar se houve uso excessivo da força na detenção de Bruno Lopes, quando foi disparado um tiro de shotgun por outro agente da PSP, João Nunes. Segundo André Quesado, Bruno Lopes tentou resistir à detenção e começou a dar-lhe pontapés, tendo este agente ficado lesionado. Com voz paciente, ponderada, e entre alguns comentários antes das respostas dos agentes como “não estou a dizer que foi assim”, a juíza faz perguntas num tom compreensivo. Ao contrário do que aconteceu na primeira sessão, poucas vezes mostrou alguma desconfiança sobre a versão que lhe esteve a ser contada. “Nenhum de nós espera que uma situação deste tipo possa decorrer pacificamente. Se, segundo a vossa versão, há resistência à detenção é evidente que isto tem que correr mal. ” O que tem “de ser respondido”, continuou, é se decorreu “algo de anormal”. E questionou: “Se tivesse sido utilizada força excessiva aquele homem, Bruno, tinha saído de lá, além do corte do nariz, com mais qualquer coisa?”Porém, sobre o auto assinado pelo agente João Nunes, autor dos disparos de shotgun na Cova da Moura e na esquadra de Alfragide, a juíza afirmou: “Neste momento esse auto já está contestado. " Porque na sessão anterior o agente Paulo Santos negou ter-lhe dado a ordem de disparo – algo que João Nunes escreveu no documento oficial. Nenhum destes 17 arguidos pediu a abertura de instrução do processo, ao contrário do que aconteceu com uma agente que o fez e não foi a julgamento. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Causou interrogações à juíza o facto de alguns agentes agora contestaram a forma como a PJ fez os reconhecimentos – vários alegam ter ido à civil quando estavam fardados na data em que os factos lhes são imputados –, ou a versão do agente Hugo Gaspar que disse não ter tido contacto com nenhum dos seis jovens ofendidos dentro da esquadra e referiu que se tinha deslocado ao reconhecimento da PJ convencido de que iria participar como figurante e saiu de “lá arguido”. O único dos arguidos que está a ser defendido por um advogado isoladamente, Arlindo Silva, com mais de 20 anos de profissão, ouviu da juíza, quando criticou a PJ: “Vocês são tão experientes, merecia ter sido explicado mais cedo”, comentou. “Fomos mal instruídos”, justificou. Manteve a versão de todos os agentes até agora de que não houve nem agressões, nem ofensas verbais na esquadra. Tanto Hugo Gaspar como Arlindo Silva são acusados no despacho de ofensas racistas aos ofendidos. Na próxima audiência a 19 de Junho deverão ser ouvidos os últimos agentes.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP PJ
Jovem baleado descreve "um cenário de pânico". "Não houve um agente que dissesse 'já está bom'"
Celso Lopes foi baleado a 5 de Fevereiro de 2015 por um agente na Esquadra de Alfragide com uma bala de borracha. “Senti que a minha vida estava em risco”, disse ao Tribunal de Sintra. (...)

Jovem baleado descreve "um cenário de pânico". "Não houve um agente que dissesse 'já está bom'"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.399
DATA: 2018-10-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Celso Lopes foi baleado a 5 de Fevereiro de 2015 por um agente na Esquadra de Alfragide com uma bala de borracha. “Senti que a minha vida estava em risco”, disse ao Tribunal de Sintra.
TEXTO: No dia 5 de Fevereiro de 2015 Celso Lopes foi almoçar a casa, na Cova da Moura, fazendo um intervalo do seu trabalho num projecto da Universidade de Aveiro, que decorria naquele bairro. Eram por volta das 13h30 e ouviu um tiro, seguido de outros quatro. Secretário da mesa da assembleia geral da Associação Moinho da Juventude, veio a saber depois pelos pais que a PSP tinha detido um jovem, Bruno Lopes, na Rua do Moinho. Quando foi à Esquadra de Alfragide tentar saber o que tinha acontecido, Celso Lopes viu três agentes à porta, dois deles a “apressarem-se para entrar”. Aproximou-se, com Flávio Almada. Disse “boa tarde” e pediu para falar com o chefe. O agente recusou. “Tive a percepção que não seria possível estabelecer qualquer tipo de diálogo porque a postura era muito hostil”, relatou nesta sexta-feira ao colectivo de juízes do Tribunal de Sintra, que está a julgar 17 agentes da PSP acusados pelo Ministério Público de falsificação de auto, tortura e racismo contra seis jovens da Cova da Moura, entre eles Celso Lopes, Bruno Lopes e Flávio Almada. Os polícias negam as acusações e defendem que houve tentativa de invasão da esquadra. “Puxei do telemóvel e no momento em que estou a fazer a chamada ouço: ‘malta, cheguem aqui’", contou Celso Lopes. "Vejo entre 15 a 20 agentes a formarem um cordão, a carregarem contra nós com bastonadas, insultos, a dizerem ‘pretos do caralho’. ”De acordo com a sua versão do que aconteceu a 5 de Fevereiro de 2015 — num depoimento que irá continuar na próxima sessão pois só houve tempo para a presidente do colectivo de juízes do Tribunal de Sintra, Ester Pacheco, lhe fazer algumas perguntas — Celso Lopes tentou evitar ser atingido por pontapés e bastonadas. “Há um agente que empunha uma caçadeira. Tentei dizer para ele não disparar, ele fez um disparo para o chão” — e essa bala acertou-lhe na perna. “Estupefacto com tudo aquilo”, percebeu que tinha sido alvo de outro disparo na coxa esquerda, contou. “O agente diz: 'Este tem que ficar. ' Ele e outro atiram-me para o chão. Imobilizam-me, senti dois joelhos a apertar-me contra o pavimento. "Ao tribunal, contou ainda que tentou dizer ao polícia que estava a ficar com falta de ar. “E ele diz: ‘Preto vais morrer’ (…) O meu pensamento foi: ‘Já fiquei. ' Senti que a minha vida estava em risco, não estava a conseguir respirar. ”Viu Flávio Almada a ser agredido com “agentes em cima dele”. A ele, Celso Lopes, atiraram-no para cima de um pneu, contou ainda no tribunal. Outro polícia disse, segundo relatou: “A merda é para estar no chão. " Puseram-lhe o seu cachecol na cara: “Vocês vão morrer, o vosso bairro de merda vai acabar, a vossa raça de merda vai ser eliminada. ” Os jovens ficaram no chão, naquela posição, deitados no chão — “com o sangue à nossa volta”. No tribunal, Celso Lopes comentou: “Aquilo era para nós um cenário de pânico constante. O que é estranho é que não houve em momento algum um [agente] que dissesse: 'Calma lá. ' Não houve uma única pessoa que tivesse coração ou a sensibilidade para dizer ‘já está bom’. É isso que me faz mais confusão. ”O interrogatório a Celso Lopes foi marcado por alguma tensão, com a juíza a querer que o jovem se limitasse “aos factos” e ele a tentar introduzir um contexto mais geral para explicar o que sentira nesse dia. A acusação do Ministério Público divide-se em dois momentos: um primeiro, em que uma equipa da PSP vai à Cova da Moura fazer patrulhamento e detém Bruno Lopes, alegando que este tinha atirado pedras à carrinha da polícia — aí, o agente terá disparado dois tiros e atingido duas moradoras; um segundo, quando amigos deste jovem, entre eles um membro da direcção do Moinho da Juventude, instituição galardoada com prémio de Direitos Humanos da Assembleia da República, se dirigem à esquadra para pedir esclarecimentos mas acabam detidos e acusados de invasão da esquadra. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Momentos antes, na inquirição anterior a Flávio Almada — que se deslocou ao tribunal para terminar o depoimento iniciado há uma semana — a juíza criticou a advogada dos agentes, Isabel Gomes da Silva, por querer escrutinar uma música da autoria de Flávio Almada, insinuando que era um “contra-senso” alguém que aprendeu técnicas de comunicação não-violenta — algo que Flávio Almada dissera na sessão anterior — escrever uma letra contra a polícia. “Está mais que assumido que este homem tem músicas de contestação contra os polícias, e se calhar contra os tribunais. Tem músicas de protesto. A verdade é que vivemos num estado democrático, não é verdade?”, comentou a juíza. E face à insistência da advogada, a juíza afirmou: “Com o devido respeito, estamos a inverter os termos da situação. Este senhor é ofendido, não é arguido. O que a sôtora está a tentar fazer já percebemos, mas não é esse o caminho. Já percebemos que este homem tem músicas de contestação à polícia. É cultura de bairro e nós temos a obrigação de a conhecer. ”A inquirição de Celso Lopes prossegue na próxima terça-feira, de manhã.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
PJ confirma que cartuchos que atingiram vítima da Cova da Moura saíram de arma da PSP
Julgamento de 17 agentes da esquadra de Alfragide teve testemunho de dois peritos de balística da PJ. Arguidos tentaram provar que cartuchos encontrados por vítima não tinham sido disparados por arma da PSP. PJ confirmou que sim. (...)

PJ confirma que cartuchos que atingiram vítima da Cova da Moura saíram de arma da PSP
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.07
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Julgamento de 17 agentes da esquadra de Alfragide teve testemunho de dois peritos de balística da PJ. Arguidos tentaram provar que cartuchos encontrados por vítima não tinham sido disparados por arma da PSP. PJ confirmou que sim.
TEXTO: No Tribunal de Sintra, durante o julgamento dos 17 agentes da PSP da Esquadra de Alfragide acusados de racismo e tortura contra seis jovens da Cova da Moura, a defesa dos arguidos tem tentado descredibilizar relatos de uma série de testemunhas sobre tiros de bala de borracha que atingiram a moradora Jailza Sousa, quando ela estava à varanda. Depois de várias testemunhas terem dito que ouviram e viram a PSP a disparar tiros de shotgun na Rua do Moinho, na Cova da Moura, esta sexta-feira os peritos do Laboratório de Polícia Científica da PJ confirmaram em tribunal existir relação entre os cartuchos entregues por Jailza Sousa (e que esta encontrou no chão perto de sua casa) e a arma que analisaram. A juíza Ester Pacheco perguntou ao perito de balística da PJ, Mário Goulart: “É absolutamente seguro que aquele cartucho foi apenas disparado por aquela arma?” Ele respondeu: “Sim. Chegámos à conclusão que foi aquela arma que deflagrou o cartucho que examinámos e quando fazemos isso excluímos automaticamente todas as outras armas. Para o afirmar é porque encontrámos coincidência de vestígios absolutamente satisfatória. A probabilidade de ser outra arma é praticamente impossível”, afirmou com segurança. A juíza insistiu: “é tipo ADN ou impressão digital?” Ele respondeu que as concordâncias só são encontradas numa arma. Disse mais: “Qualquer perito de qualquer laboratório chegaria à mesma conclusão. ”Jailza Sousa já esteve no tribunal a afirmar que tinha sido atingida por um tiro de bala de borracha no dia 5 de Fevereiro de 2015, quando viu vários polícias a deterem e a agredirem Bruno Lopes, na Rua do Moinho. Nos autos de notícia e em tribunal os agentes — também acusados de falsificação de auto notícia — localizaram os acontecimentos na Avenida da República com o cruzamento da Rua Principal da Cova da Moura. Foi lá, alegam, que Bruno Lopes foi detido depois de atirar uma pedra ao carro da PSP. Bruno Lopes disse ao tribunal ter sido detido e agredido sem que houvesse motivo para tal. Como prova desta versão, os advogados dos jovens entregaram à PJ os cartuchos de bala de borracha que Jailza Sousa disse ter recolhido naquele dia a seguir ao episódio. Esses cartuchos são laranja e a PSP insiste que não podem ter sido disparados da arma do agente João Nunes, que já testemunhou em tribunal, porque todos os que foram distribuídos pela PSP naquela altura eram brancos. Esta sexta-feira, a juíza quis saber a cor de cartuchos distribuídos pela PSP e o técnico disse que já analisou cartuchos de várias cores, inclusivamente verdes. Adiantou também que a marca que “está aqui em causa” fabrica cartuchos brancos e de cor laranja. “Se a PSP usa uns ou outros já não posso responder. ”No tribunal, já mais de oito testemunhos situaram os acontecimentos no mesmo local referido pelo Ministério Público e pelos advogados dos jovens. Parece ficar, assim, cada vez menos verosímil a versão dos agentes sobre o local de detenção de Bruno Lopes. A acusação do MP divide-se em dois momentos, um primeiro que se passa no bairro e um segundo na esquadra de Alfragide quando os jovens são acusados de tentativa de invasão. A advogada dos agentes quis ter a certeza: tendo havido uma distância temporal entre o exame aos cartuchos e buchas e a análise da arma da PSP, isso não afectou a perícia, até porque esteve em utilização durante mais de um ano? Não, respondeu o técnico. “O desgaste destes componentes é muito reduzido, a não ser que dê muitos disparos mas já foram feitos testes e ao fim de milhares de disparos ainda é possível relacionar os elementos”, afirmou. Outro dos advogados dos agentes, Hélder Cristóvão, quis descredibilizar a fiabilidade da análise daquele técnico da PJ, insinuando que ele e o colega tinham dado “uma opinião”. A juíza respondeu: “Isto não é uma opinião. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Outro perito forense da PJ, Pedro Mora, também confirmou que as buchas eram do mesmo calibre dos cartuchos examinados. Disse ainda que as buchas não poderiam ter tido projécteis metálicos pois caso isso tivesse acontecido “os disparos teriam deixado as suas marcas na bucha”. Afastou a hipótese levantada em tribunal de que se tratariam de cartuchos de caça. “Estas buchas não são típicas de cartuchos de caça. ” Tendo sido relatado pela PJ que havia oxidação nos cartuchos, o MP quis saber quanto tempo levaria a oxidar ao que o especialista respondeu que dependia das condições de conservação: podem ser dias ou anos, concluiu. Os advogados dos arguidos quiseram que respondesse a várias hipóteses como a probabilidade de as buchas e cartuchos serem encontrados perto uns dos outros. O perito respondeu: “Não posso descartar essa hipótese. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP PJ
“Portugal ainda resiste a olhar para o seu passado de forma desassombrada e crítica”
Os investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, organizaram o livro As Voltas do Passado, que reúne um conjunto de textos sobre o último fôlego do passado colonial português. (...)

“Portugal ainda resiste a olhar para o seu passado de forma desassombrada e crítica”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-08-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, organizaram o livro As Voltas do Passado, que reúne um conjunto de textos sobre o último fôlego do passado colonial português.
TEXTO: O pretexto para a publicação do livro As Voltas do Passado é o CROME, o projecto do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, que procura compreender como se foram reconfigurando as memória das guerras, desde a independência dos vários países até à actualidade. O subtítulo da publicação, A Guerra Colonial e as Lutas de Libertação, traduz essa tentativa de tratar “diferentes processos de memorialização”, tanto provenientes de Portugal como das ex-colónias. O resultado acaba por ser um mosaico de vozes, de geografias e de gerações, com o colonialismo português como pano de fundo. No livro, lançado recentemente pela Tinta da China, cabem os momentos cuja importância é mais frequentemente reconhecida na história, como o discurso de Salazar que marcou o início da guerra, em 1961, o 25 de Abril de 1974 ou as independências após a revolução. Mas cabem também episódios menos conhecidos: desde a vida a bordo Vera Cruz, o paquete que transportava tropas a partir da metrópole, às páginas mais negras do domínio português em África, ilustradas pelos massacres de Batepá (São Tomé e Príncipe), Pidjiguiti (Guiné), Mueda e Wiriamu (Moçambique). O cruzamento de memórias, afirmam os coordenadores da obra que reúne textos de mais de 40 autores, Bruno Sena Martins, doutorado em sociologia, e Miguel Cardina, doutorado em história e coordenador do CROME, “dá-nos um outro olhar sobre esse passado”. Defendem também que essa polifonia ajuda a explicar parte da organização social do país actual. Falam de um “longo apagamento da guerra colonial no espaço público”. Por que é que aconteceu?Bruno Sena Martins — Isto no contexto português. Se nos países que nasceram das independências a guerra é vista como um momento fundador da nação, em Portugal tem um lugar de difícil inscrição. Representa um momento de violência colonial, não apenas daqueles 13 anos de guerra, mas de toda a história portuguesa imperial, marcada pela violência da escravatura, da opressão colonial. Uma identidade portuguesa que celebra os descobrimentos, uma ideia de um colonialismo especial, muito luso-tropicalista, de convívio com os povos, tem dificuldade em inscrever esta narrativa. Uma outra dimensão do silenciamento sobre a guerra colonial é que o regime que resulta do 25 de Abril teve a participação activa dos militares que participaram na guerra colonial. Qualquer guerra tem momentos de violência, traumáticos, de massacres de populações, que criam uma espécie de tabu. Miguel Cardina — Faz com que a figura do militar seja paradoxal. É o herói da democracia e é quem faz a guerra. O facto de o 25 de Abril ter sido feito por militares e o próprio processo histórico que inaugura significar o desfecho da guerra, transforma-o num evento do passado sobre o qual não seria muito interessante falar. Há também na sociedade em geral uma falta de vontade em ouvir aquelas pessoas. Eu fazia no outro dia uma entrevista a um ex-combatente e ele dizia que só começou a falar da guerra no final dos anos 90. Por que é que acontecia? “Eu não falava porque acho que ninguém me queria ouvir sobre o assunto. ”A demora em abrir a discussão contribuiu para prolongar a ideia luso-tropicalista do “bom colonizador”?MC — Certamente. Diria que essa ideia ainda é prevalecente e dominante. BSM — Temos a experiência de ir às escolas e percebemos quer pelos currículos, quer pela concepção que alguns professores acabam por reproduzir, que a ideia de um colonialismo benigno ainda tem uma força muito estabelecida. Muitas das discussões que temos tido recentemente, seja acerca do Museu das Descobertas, seja o facto de termos um Portugal dos Pequenitos que celebra o mundo luso-afro-brasileiro criado por Portugal, são [apenas] possíveis numa sociedade constituída sobre uma olímpica desmemória em relação à violência colonial. Ao mesmo tempo, diz-se no livro que se está a abrir um espaço para essa discussão. Porquê agora?MC — Há um tempo que passou e que começa agora a ser observado com um olhar crítico, distanciado e reflexivo. Por outro lado, há o surgimento de projectos como o nosso e há a articulação disso com uma crítica a este olhar ainda luso-tropical vinda de sectores dos movimentos sociais, ligados ao anti-racismo. Isso faz com que estejamos hoje a viver um período particularmente interessante de questionamento das imagens dominantes em relação ao passado colonial. Não entendo que sejam ainda essas as leituras hegemónicas na sociedade. Mas acho que, apesar de tudo, têm existido vozes, como foi o caso da Djass (Associação de Afrodescentes) para a construção do monumento à escravatura, todo o debate sobre o Museu da Interculturalidade, da Viagem, dos Descobrimentos. . . A discussão sobre o nome [do museu] mostra que há um olhar mais crítico?MC — Sobretudo mostra o atraso dessa discussão, porque ainda nem sequer conseguimos nomear o que aconteceu. Estamos num momento interessante e importante. O nosso trabalho é sobre a memória da guerra e da luta, mas também se articula com estas questões mais amplas sobre os passados coloniais. BSM — A presença do tema da guerra colonial crescente no espaço público não implica uma leitura que consideramos crítica. Muitas vezes essa presença vem sob a forma de nostalgia imperial. Muita da literatura que ganhou alguma projecção sobre a guerra tinha um pendor nostálgico ou melancólico de perda em relação à vivência em África. Mesmo as memórias dos combatentes são paradoxais. Não esquecer que, para essas pessoas, o tempo da guerra corresponde à juventude. Mais recentemente, tem surgido uma perspectiva que permite pensar o que é que a guerra representou para Portugal e qual a relação que tem com as desigualdades que são ainda marcadamente baseadas na questão da raça. Os episódios do livro ajudam a explicar problemas como o racismo ou a menor integração das comunidades de afro-descendentes do Portugal actual?BSM — Absolutamente. Para nós entendermos o lugar que as comunidades afro-descendentes têm em Portugal temos, sem dúvida, que retornar à guerra colonial e perceber em que medida alguns processos migratórios foram até incentivados — claramente no caso de Cabo Verde — como uma forma de romper o tecido social que se estava a levantar contra a guerra. Devemos entender que essas pessoas que vieram para Portugal nunca foram vistas a partir desta história tensa do colonialismo. Isto fez com que o nexo colonial racista que criou Portugal enquanto nação imperial — e que continua a existir na nação pós-imperial — nunca tenha sido suficientemente debatido e discutido. Trazer a guerra é trazer um tempo da violência colonial que, num certo limite, permanece até hoje sob a forma de violência racista, de exclusão social e de desigualdade que afecta desproporcionadamente as pessoas negras. Porque é que esse nexo nunca foi debatido?BSM — Por um lado, pela força da narrativa luso-tropicalista. A ideia de Portugal enquanto nação que praticou um colonialismo afável e que tem, em relação às populações negras que habitam o seu território, uma posição de abertura, de hospitalidade e receptividade, fez escola. Mesmo as comunidades que foram sendo afectadas por processos de racialização ou exclusão não tiveram a capacidade de se constituir enquanto protagonista político. Foi preciso algum tempo, mas isso está a acontecer recentemente, o que tem também a ver com tendências internacionais. Muitas das lutas das pessoas que vieram das ex-colónias eram lutas pela integração, pela sobrevivência e esta dimensão política apareceu sempre de uma forma embrionária, não suficientemente capaz de se impor como uma agenda política. O facto de estar a acontecer agora é mais pela tendência internacional ou por pressão de movimentos no país?MC — É difícil de distinguir. Estamos a falar de activismos que têm procurado articular suas vivências com um olhar mais vasto sobre Portugal e o seu passado. Obviamente que isto se relaciona com dinâmicas internacionais, mas tem uma concretização muito evidente no modo como Portugal ainda resiste a olhar para o seu passado de forma desassombrada e crítica. As questões relacionadas com o museu têm a ver com isso. Isso está a mudar, no sentido em que estes movimentos têm hoje uma capacidade de chegar ao espaço público. Este é um debate sobre a democracia, o Portugal de hoje e a forma como lida ou não com o seu passado. BSM — Há uma politização anti-colonial e anti-racista da memória da desigualdade social em Portugal profundamente relacionada com uma bola de neve política que se criou. Por um lado, pela politização das novas gerações, que têm um capital académico e social que lhes permite ter maior acesso ao espaço público e lhes permite também acesso às redes internacionais anti-coloniais e anti-racistas. Todo este quadro cria uma situação em que se torna insustentável, por exemplo, a ausência de figuras negras no Parlamento. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há uma [Hélder do Amaral, do CDS]. BSM — Sim, mas pessoas que assumam isto como uma agenda política da sua presença. Torna-se também insustentável nomes de ruas e monumentos que celebram uma memória colonial. É insultuoso para pessoas descendentes ou que se reconhecem como parte daqueles que sofreram a violência colonial e racista. Há quem diga também que a retirada desses monumentos é reescrever a história. BSM — Não estou a dizer que se deva retirar os monumentos. Estou a dizer que devem ser contextualizados. Não seria a minha posição que se atirasse uma bomba sobre o Portugal dos Pequenitos. Mas, sem dúvida, aquilo devia ser visto como um monumento ao imperialismo e deve ser lido de uma forma crítica. Deve fazer-se um enquadramento histórico. Em alguns outros casos — não tenho problema nenhum em dizê-lo — deve alterar-se o nome das ruas e não permitir que se erijam hoje monumentos que são realmente insultuosos a quem se reconhece como descendente de quem foi vítima. MC — No fundo, é a discussão sobre que tipo de sociedade queremos. A história é sempre reescrita, vivemos num processo de reflexão constante sobre o nosso passado. O passado não nos chega enquanto bloco estanque que temos que abraçar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra escola violência exclusão ajuda racismo social espécie racista raça escravatura
Amazon retira roupa de bebé e outros produtos com referências nazis
Suásticas e outros símbolos são usados em vários produtos à venda no site da empresa. (...)

Amazon retira roupa de bebé e outros produtos com referências nazis
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Suásticas e outros símbolos são usados em vários produtos à venda no site da empresa.
TEXTO: A Amazon está a aumentar os esforços para não ter produtos com referências nazis na sua plataforma, depois de renovada pressão por parte de várias organizações não-governamentais nos EUA. Esta semana, a gigante online anunciou que vai começar a bloquear – permanentemente – todos os retalhistas que tentem vender aqueles produtos. Até ao mês passado, era possível encontrar jóias, colares e roupa de bebé com suásticas. Apesar de a Amazon já proibir conteúdo que “promova ou glorifique ódio, violência, ou intolerância religiosa, racial ou sexual”, no começo de Julho um relatório do Centro de Acção sobre Raça e a Economia encontrou vários objectos a promover um pensamento racista e intolerante. Entre os artigos problemáticos estavam ainda livros do fundador do Partido Americano Nazi e t-shirts com a bandeira da Confederação (que representa os antigos Estados Confederados da América que lutaram, na guerra civil americana, por uma economia esclavagista). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na altura, a Amazon foi acusada de “permitir a celebração de ideologias que promovem o ódio e a violência ao permitir a venda de símbolos de ódio no seu site, incluindo imagens contra negros, imagem fascistas e nazis, e imagens do movimento nacionalista moderno. ”Em resposta às críticas, a empresa reforça que “monitoriza e responde aos avisos de cliente e de terceiros sobre violações de produtos nas páginas” e que “toma medidas proactivas para garantir que os utilizadores e retalhistas na plataforma cumprem a lei. ” A empresa diz que usa algoritmos específicos para impedir conteúdo proibido de circular na plataforma, cujo trabalho é complementado por uma equipa humana. Em declarações ao New York Times, a Amazon diz que tinha começado a remover os produtos problemáticos a defender a ideologia nazi antes de receber as queixas de Julho, mas admite que ainda não conseguiu retirar todos os artigos dos seus armazéns.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA