Um Quartett de crueldade, amor e compreensão
Passados 19 anos sobre a estreia original, as companhias belgas tg STAN e Rosas regressam a Quartett, de Heiner Müller. Acontece que o tempo passou também para os intérpretes e a fisicalidade da peça é hoje mais rica. De terça a quinta, ocupa o palco do D. Maria II, em Lisboa. (...)

Um Quartett de crueldade, amor e compreensão
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Passados 19 anos sobre a estreia original, as companhias belgas tg STAN e Rosas regressam a Quartett, de Heiner Müller. Acontece que o tempo passou também para os intérpretes e a fisicalidade da peça é hoje mais rica. De terça a quinta, ocupa o palco do D. Maria II, em Lisboa.
TEXTO: Em 1999, a bailarina Cynthia Loemij e o actor Frank Vercruyssen tinham pouco mais de 30 anos. O seu encontro em palco, enquanto Merteuil e Valmont, seguindo as pistas do texto de Heiner Müller (Quartett) a partir do romance epistolar As Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos, num jogo de manipulação de afectos e desejos, em que ambos tentavam tanto seduzir quanto manietar o outro, tinha então uma carga muito diferente. Agora que regressam a essa peça – apresentações de terça a quinta-feira no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa – que iniciou uma série de colaborações entre as companhias belgas tg STAN (teatro) e Rosas (dança), os seus corpos são outros e as histórias que carregam consigo têm outro lastro. Deixaram de ser corpos quase só com futuro pela frente para passarem a ser corpos marcados pelo passado que acumulam. A riqueza do texto e as enormes possibilidades que oferece fizeram da peça de Müller uma das mais apetecíveis do reportório teatral, tendo originado encenações como aquela em que Isabelle Huppert se bateu com Ariel Garcia Valdès sob a direcção de Robert Wilson – por cá, ainda há dois anos Crista Alfaiate e Ivo Canelas se precipitavam para o fim do mundo sob o olhar de Jorge Silva Melo. No caso do encontro entre tg STAN e Rosas, em 1999, acabou por ser o pretexto perfeito para as irmãs Jolente e Anne Teresa de Keersmaeker criarem um espaço que permitisse o encontro entre duas fortíssimas linguagens de teatro e de dança. “Aquilo que a Anne Teresa e eu fizemos nesses anos”, lembra ao PÚBLICO Jolente de Keersmaeker, co-criadora de um espectáculo inventado a quatro, “foi uma pesquisa sobre o que acontece quando um bailarino fala e quando um actor dança. ” E foi a partir dessa pesquisa que Quartett começou a tomar forma, encaminhando-se para algo que Jolente acredita ter correspondido à descoberta de “uma terceira linguagem”. Nem música, nem dança – antes um híbrido, em que nenhuma expressão subjuga a outra. Tentando combinar dois métodos de trabalho muitíssimo distintos – as coreografias de Anne Teresa são de um enorme rigor, as peças dos STAN são ensaiadas em leituras de mesa, só se descobrindo verdadeiramente no palco quando se vêem diante do público –, a coreógrafa começou por criar sequências de movimentos para Cynthia e para Frank. Só depois o texto entrou e procuraram estabelecer ligações entre o movimento e a palavra, inscrevendo uma narrativa nos corpos e retrabalhando a gestualidade que acompanha as palavras. Quartett tinha ficado num lugar bonito das prateleiras dos tg STAN e da companhia Rosas, enquanto iluminada colaboração que injectava uma extraordinária fisicalidade ao jogo de gato-e-rato que Merteuil e Valmont desembainhavam em palco. E teria permanecido nessa condição de passado caso Marie Collin, directora do Festival d’Automne, em Paris, não tivesse pedido que a peça fosse remontada para a edição deste ano, que inclui um foco particular sobre a obra de Anne Teresa de Keersmaeker. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O desafio, recorda, Jolente de Keersmaeker, foi prontamente aceite. “Estando a Cynthia e o Frank quase 20 anos mais velhos, quisemos ver o que este texto faria com eles. ” E, na opinião da fundadora dos STAN, aquilo que aconteceu foi um profundo acréscimo de densidade. “É mesmo incrível”, comenta, não escondendo que prefere sem hesitações esta nova versão. “Cada palavra e cada significado nos jogos cruéis que eles têm um com o outro parecem muito diferentes. ” Mais do que a luta entre uma mulher e um homem, reconhece agora a actriz e encenadora, a peça coloca em cena “uma luta entre dois seres humanos que tentam viver juntos ou lidar com o outro”. O que importa não são questões de género ou de natureza sexual, acredita, mas sim “a linha ténue entre o amor e o ódio, a questão do que é realmente o amor e se é sempre cruel ou não”. Se há 19 anos esse jogo de crueldade era travado com as armas de uma enorme fisicalidade, essa característica mantém-se neste novo Quartett. Só que traz consigo corpos que, com os anos, se tornaram mais vulneráveis. A tentativa de manipulação e de controlo do outro, sem alterar uma vírgula ao texto, faz-se agora com as fraquezas mais expostas. E a idade operou em todos um olhar renovado sobre o texto de Müller, revelando sugestões de humor e toda uma série de nuances e ambiguidades que tornam a peça mais humana. A ponto de Jolente já não pensar de imediato apenas em crueldade em relação a Quartett, ocorrendo-lhe também as palavras “amor” e “compreensão”. Nem tudo é o que parece, diz-nos. Sobretudo passados 20 anos.
REFERÊNCIAS:
MBS: O ambicioso e carismático vencedor do jogo de tronos saudita
O primeiro príncipe moderno na Arábia Saudita é também o que reúne mais poder desde sempre na monarquia. Quer mudar tudo, quer fazê-lo agora. E gostaria que os EUA se envolvessem num conflito militar com o Irão. (...)

MBS: O ambicioso e carismático vencedor do jogo de tronos saudita
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.116
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181228200253/https://www.publico.pt/1777706
SUMÁRIO: O primeiro príncipe moderno na Arábia Saudita é também o que reúne mais poder desde sempre na monarquia. Quer mudar tudo, quer fazê-lo agora. E gostaria que os EUA se envolvessem num conflito militar com o Irão.
TEXTO: Dois anos e meio absolutamente frenéticos num reino que sempre se quis sereno culminaram, em Junho, na promoção de Mohammed bin Salman a sucessor directo do pai, o rei Salman. MBS, como é conhecido na Arábia Saudita, será o próximo rei de uma das últimas monarquias absolutas do mundo. O Irão, que o príncipe acusa de “tentar controlar o mundo islâmico” (promete, se necessário, “levar a guerra ao centro” do país), descreveu a mudança na linha de sucessão como “um golpe branco” (soft coup). Há quatro décadas que o reino dos santuários do islão disputa a hegemonia política regional com o Irão e vê na potência xiita o grande rival. Pouco depois da revolução de 1979, que transformou a histórica Pérsia numa teocracia, Riad ensaiou uma aliança árabe sunita (Conselho de Cooperação do Golfo) precisamente para tentar limitar a influência iraniana. E nos últimos anos, enquanto a Administração Obama negociava com Teerão um acordo nuclear que ditaria o fim do seu estatuto de pária e das sanções que asfixiavam os iranianos, toda a política externa saudita visou conter o Irão. MBS recebe o título de príncipe herdeiro depois de dois anos e meio como ministro da Defesa, cargo que o pai lhe entregou assim que chegou ao trono, quando o jovem tinha 29 anos. Desde então, a Arábia Saudita assumiu uma atitude assertiva e agressiva como nunca: foi MBS que esteve por trás da intervenção no Iémen, uma acção desastrosa que tornou uma guerra civil num conflito regional, oficialmente para combater os rebeldes apoiados pelo Irão. Foi também ele o grande promotor da actual crise com o Qatar, país aliado a que Riad impôs um bloqueio para o forçar a desistir das relações com Irão e com a Turquia (outro rival) e a encerrar a sempre incómoda televisão pan-árabe Al-Jazira. Como se a guerra síria e a violência no Iraque, para além do descalabro iemenita, na fronteira Sul do país, não fossem suficientes para ocupar Riad. A postura impressa por MBS é, em parte, a resposta às revoltas árabes dos últimos anos, vaga de protestos que beliscou sem fazer estremecer a monarquia. Mas é também o esforço necessário para garantir a sobrevivência do reino onde o extremismo da doutrina ortodoxa wahhabita é lei, o país que quer ser âncora numa zona do mundo em acelerado processo de desagregação. Agora, aos 31, MBS prepara-se para ser o mais jovem rei de sempre, na primeira sucessão geracional na monarquia em 64 anos. Ambicioso, demasiado segundo os detractores, “é muito agressivo na defesa da segurança e soberania do país” e “quer torná-lo autónomo e independente da América”, diz Bernard Haykel, professor de Estudos do Médio Oriente na Universidade de Princeton. Mas apesar do enorme orçamento militar (um dos maiores do mundo) de que dispõe, MBS sabe que este “não passa de um desejo”. A Casa Branca, garante Haykel, não foi tida nem achada nesta alteração que afastou da sucessão e retirou todos os cargos ao antigo herdeiro, Mohammed bin Nayef, sobrinho do rei, “o saudita preferido de Washington”. “A equipa de [Donald] Trump foi apanhada de surpresa pelo anúncio mas deu as boas-vindas ao novo príncipe herdeiro”, diz, por seu turno, Bruce Riedel, analista do think tank Brookings Institution e do Center for Middle East Policy, depois de 30 anos ao serviço da CIA. A liderança saudita, nota Riedel, “está contente por ter um parceiro americano que não apoia reformas políticas ou de igualdade de género”. Se MBS for bem-sucedido, pode já estar em curso uma profunda alteração dos termos de uma aliança antiga, aquela que foi forjada em 1945 a bordo do USS Quincy, quando o Presidente Roosevelt e o rei Abdul Aziz trocaram, em segredo, garantias de segurança militar por acesso seguro a petróleo. Aqui, a mudança será mesmo lenta e nunca assumida. Afinal, foi MBS que jantou com Trump na Casa Branca em Março, abrindo caminho à visita do Presidente americano a Riad, onde este fez questão de descrever os sauditas como aliados fundamentais no combate ao terrorismo e ao extremismo. O salto geracional começava a tornar-se inevitável. Quando subiu ao trono, Salman nomeou um dos seus irmãos, Muqrin, como príncipe herdeiro, e o sobrinho Bin Nayef como segundo na linha de sucessão. Três meses depois, bastaram alguns decretos para afastar Muqrin, fazer subir Nayef e colocar o seu filho favorito, até então quase desconhecido, no seu lugar. Nunca um filho do fundador, Abdul Aziz, tinha sido afastado – ao fazê-lo, o rei fortaleceu a chamada linha dura, os mais radicais e anti-reformistas entre os Al-Saud, ao mesmo tempo que reforçava o controlo do ramo dos Sudairi (o grupo de seis irmãos do rei Fahd, monarca que mais anos esteve no trono, o maior clã da família). Agora, explica Haykel, a sucessão vertical (em vez de horizontal) só é possível porque a maioria dos príncipes da segunda geração de monarcas “está velha, morta ou incapacitada”. O próprio rei tem 81 anos e especula-se que poderá abdicar em vida. Haykel duvida, a não ser em caso de incapacidade mental; Riedel lembra que “o processo de sucessão está incompleto já que não foi nomeado nenhum vice-príncipe herdeiro [como tem acontecido]” e diz que “até isso acontecer é pouco provável que o rei Salman abdique”. Certo é que MBS já tem um poder nunca antes concentrado num príncipe saudita: para além de ministro da Defesa, chefia o Conselho da Economia e do Desenvolvimento e é autor de uma ambiciosa reforma económica que visa acabar com a dependência do país face ao petróleo até 2030 e que gere ainda as políticas de Educação e Saúde, e é presidente do conselho de administração da petrolífera estatal, a Aramco, tendo planos para a sua privatização parcial. MBS vai chegar ao trono num país rodeado no centro de todas as crises no preciso momento em que a economia do reino se tornou insustentável. “A ‘Visão 2030’ [nome da grande reforma promovida por MBS] é um reconhecimento corajoso de que o Estado social saudita é insustentável com os baixos preços do petróleo”, descreve Riedel. “As propostas do príncipe herdeiro não são suficientemente ambiciosas mas são um passo na transição necessária”, acrescenta. O problema, nota o analista, é que “para ser bem-sucedido MBS terá de cortar drasticamente nos gastos militares, o que implica uma política externa mais flexível e uma abordagem regional mais moderada, o que significa um revés abrupto para o jovem príncipe”. Tudo aquilo em que MBS não parece preparado para ceder. “Mas com o Irão, como é que comunicamos? A lógica deles [xiitas] baseia-se na noção de que o imã Mahdi vai chegar e que devem preparar um ambiente fértil para a sua vinda e devem controlar o mundo muçulmano. Eles privaram o seu próprio povo de desenvolvimento por mais de 30 anos e fizeram-nos passar fome”, afirmou, numa das suas habituais intervenções televisivas, em Maio. MBS descreve o Irão como país das trevas por oposição à sua Arábia Saudita; não a actual, que ele sabe não ser muito diferente, mas a que diz desejar. “Sou jovem. Setenta por cento dos nossos cidadãos são jovens”, disse numa entrevista ao Washington Post em que sugeriu lamentar o excesso de poder da polícia religiosa no reino. Não se espera dele que quebre o equilíbrio entre os Al-Saud e os líderes religiosos que fez deste território um país, apenas que aligeire algumas regras sociais e ofereça aos sauditas oxigénio e diversão. O próximo rei vai querer os súbditos “entretidos”, estimam diferentes observadores, até para os distrair das dificuldades económicas. “Não queremos passar o resto das nossas vidas como nos últimos 30 anos. Queremos pôr fim a esta época agora”, afirmou ao Post. “Enquanto sauditas, queremos usufruir dos próximos tempos e concentrarmo-nos em desenvolver a nossa sociedade e nós mesmos como indivíduos e famílias, mantendo ao mesmo tempo a nossa religião e os nossos costumes. ”O príncipe quer tudo e isso ainda é pouco. No reino e mesmo no seio dos Al-Saud, “a sua inábil gestão da guerra no Iémen não é popular e a maioria considera-o arrogante”, diz Riedel. A sucessão foi apresentada como tranquila, mas sabe-se que nem todos estiveram de acordo (o New York Times escreve que desde que foi afastado Nayef está confinado ao seu palácio, em Jidá, para limitar a oposição ao novo herdeiro). Alguns líderes na Europa estão preocupados com a falta de experiência do príncipe e com a sua atitude e retórica bélica. Ao contrário dos reis anteriores, que chegaram ao trono depois dos 60 anos, este vai provavelmente governar durante décadas e há dirigentes ocidentais que ainda não sabem se podem confiar nele. Esperava-se alguma diplomacia silenciosa e menos agressividade nas palavras e nos actos. Haykel acredita que MBS é “mais realista e pragmático do que parece”, não “é ideológico, não é radical nem extremista”, é “um político que procura soluções para os problemas”. Ainda que às vezes essas soluções lhe pareçam impossíveis: “O modelo económico dele é Singapura, quer equilibrar isso com um sistema político autoritário”. O analista dá-lhe muito crédito por ter “vencido a enorme competição que se viveu dentro da família real, afastando centenas de primos, muitos mais velhos e experientes”. Fazê-lo, diz, só é possível “com muita competência”. Com um perfil público e seguidores nas redes sociais, MBS é um príncipe moderno como nenhum outro até aqui no reino. “É muito carismático e é um verdadeiro político”, diz Haykel. “Tem aquele toque de político, faz-nos sentir no centro do universo quando fala connosco”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Popular entre os jovens sauditas, assusta todos os outros que temem vê-lo pôr em causa os muitos equilíbrios que mantêm a Arábia Saudita unida. Na região, aplaude-se alguém que quer liderar mas receia-se que MBS contribua para mais polarização e fragmentação. No fundo, “o que a Arábia Saudita, tal como Israel, gostaria era de ver os Estados Unidos envolvidos num confronto militar com o Irão”, diz Haykel. “Espero que isso não aconteça, espero que a Administração Trump seja mais esperta do que isso. ” Pondo de lado esse cenário, o analista não vê nenhuma solução a curto prazo para a estabilidade na região. Haykel defende que MBS sabe que um dia terá de conversar com o Irão, quer é fazê-lo em posição de força. De momento quem olha de cima é mesmo Teerão. Para pôr fim à escalada nas tensões seria preciso um mediador, um papel que só os EUA poderiam desempenhar. Ora isso é algo que o académico não espera da “actual Administração, muito anti-Irão e contente por ver alguns dos seus aliados árabes numa frente unida contra Teerão”.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN
Sánchez anuncia governo socialista e já conta com a oposição dos que o puseram no poder
Novo executivo será "paritário e europeísta", diz o líder do PSOE. E terá muitas dificuldades em conseguir apoios no Parlamento. (...)

Sánchez anuncia governo socialista e já conta com a oposição dos que o puseram no poder
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Novo executivo será "paritário e europeísta", diz o líder do PSOE. E terá muitas dificuldades em conseguir apoios no Parlamento.
TEXTO: A frase é da maior aliada de Mariano Rajoy, a sua vice-presidente Soraya Sáenz de Santamaría: “Já começou a festa”, disse nos corredores do Congresso, citada pelo jornal El Mundo. Santamaría referia-se aos cinco vetos à Lei do Orçamento Geral do Estado registados esta sexta-feira por cinco partidos que votaram ao lado do novo primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez. Ora, o líder do PSOE e agora do país já dissera que vai cumprir o Orçamento aprovado pelo PP para 2018, o mesmo que descreveu como “um ataque ao Estado de bem-estar” e uma chantagem do PNV, os nacionalistas bascos que votaram ao lado de Rajoy e depois ajudaram Sánchez a derrotá-lo. Naturalmente, não vem do PNV nenhum dos vetos ao Orçamento: Podemos, PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão, do ex-líder da Generalitat, Carles Puigdemont), ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), Compromís (coligação que inclui o Podemos em Valência) e EH Bildu (bascos pró-independência) foram os partidos que votaram ao lado do PSOE na moção de censura que destronou Rajoy e o levou ao poder, horas antes de registarem esses vetos. A oposição destes partidos ao Orçamento não terá consequências práticas – o PP já confirmou que mantém a sua aprovação –, mas dá o tom para as dificuldades que esperam o novo chefe de Governo. Como afirmou o veterano Joan Tardà, porta-voz da ERC no Congresso, os votos do seu partido não foram a favor de Sánchez, mas sim “contra” Rajoy. Pablo Iglesias e o seu Podemos, essenciais para garantir o sucesso da moção de Sánchez, negociando e confirmando apoios nos bastidores, ofereceram-se para integrar o próximo executivo. O abraço entre Iglesias e Sánchez, no fim da votação, podia ser um símbolo para o futuro. Mas o líder do PSOE “agradece e recusa”, optando por formar um governo “inteiramente socialista e paritário” (algo que só José Luis Rodríguez Zapatero conseguiu, em 2004, com oito ministras em 16). “Espanha necessita de um governo estável e é muito difícil dar estabilidade a um governo com 84 deputados”, afirmou Iglesias, numa espécie de inversão de papéis – afinal, é o líder do Podemos, partido que tantos temem pelo seu suposto radicalismo, a bater na tecla da estabilidade, enquanto Sánchez, à frente de um partido com décadas de história, aposta num cenário mais arriscado. Para além de “socialista e paritário”, Sánchez, que toma oficialmente posse este sábado às 12h, promete um governo “europeísta, garante de estabilidade orçamental e económica e cumpridor dos seus deveres europeus”. Nada disto se antecipa fácil, principalmente se lhe juntarmos as promessas de “reconstruir” consensos sobre o Estado social, que diz terem sido “destruídos”, a recuperação do carácter universal do acesso ao sistema de saúde pública e uma lei que assegure a igualdade de género no trabalho. Mais complicado ainda será fazer isto tudo enquanto tenta resolver a crise catalã. Sánchez garante que não prometeu nada a nenhum partido em troca de votos (não precisava, a vontade de derrubar Rajoy aliada ao interesse em adiar eleições do PNV chegariam). Mas ofereceu diálogo a Barcelona sem abdicar um milímetro na questão da independência. Já se sabe que a proposta socialista é próxima da do Podemos e implica uma Espanha federal – e que os independentistas não têm nada contra, querem é um referendo em que surjam todas as possibilidades. Seja como for, onde as questões nacionalistas se colocam com mais urgência, na Catalunha e no País Basco, os socialistas estão muito mais bem colocados para as discutir do que estavam os populares. A imprensa catalã aposta até que o líder do PS da região, Miquel Iceta, volte a Madrid (já foi deputado no Congresso e responsável do Gabinete da Presidência nos anos 1990), talvez até como vice-presidente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sánchez disse que em democracia a corrupção não é uma banalidade e acertou, como acaba de se ver. A corrupção, defendeu, cria instabilidade. Governar exige um pouco mais e ele já admitiu que “nada será fácil”. O PSOE conseguiu juntar deputados suficientes para derrubar Rajoy, mas, tal como o PP, está num momento de mínimos históricos nas sondagens. Algo que esta moção tenderá a inverter, já que o apoio a Rajoy na questão catalã lhe custou apoios. Não falta quem enterre o seu Governo, antes mesmo de este anunciar os seus ministros – durantes uns dias, Sánchez vai governar com os ministros de Rajoy. Para além do PP e do Cidadãos (Albert Rivera jogou mal ao apostar que esta moção não passaria e que acabaria por conseguir provocar eleições antecipadas), sobram textos de comentaristas. “Tentar governar sem apoios ou, pior, com apoios contraproducentes, é uma imprudência”, escreve o diário El País num editorial intitulado Um Governo inviável. Para o mesmo jornal, Sánchez era um líder politicamente morto em 2016. Renasceu. Quem sabe o que mais conseguirá.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Sobreviventes
Simone Veil foi uma das últimas testemunhas do que o nacionalismo extremo é capaz de fazer aos homens. (...)

Sobreviventes
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170924011811/https://www.publico.pt/mundo/noticia/sobreviventes-1777630
SUMÁRIO: Simone Veil foi uma das últimas testemunhas do que o nacionalismo extremo é capaz de fazer aos homens.
TEXTO: 1. Entrevistei-a já lá vão muitos anos, creio que em finais dos anos 80, numa visita que fez a Lisboa e ao Parlamento português. Foi a primeira e única vez que tive diante dos olhos, sem as imagens dos filmes e as descrições dos livros, o número gravado no seu braço esquerdo, fruto da sua passagem por Auschwitz e Bergen-Belsen. Podia tê-lo feito remover. Não quis. A sua vida política, a sua determinação, a necessidade de levar até ao fim as suas causas e as suas convicções e nunca fugir às responsabilidades nasceram no dia em que entrou num comboio para gado com a mãe e uma irmã em direcção a Auschwitz. Tinha 16 anos, era de uma velha família judia francesa de Nice bem na vida. Quando desembarcou no campo de extermínio, alguém lhe sussurrou ao ouvido que devia dizer que tinha 18 anos — menos do que isso, seria inútil para os campos de trabalho e caminharia directamente para a câmara de gás. Uma “kapo” polaca e prostituta achou que “era bela de mais para morrer”. O pai e o irmão seguiram outro destino e ninguém sabe em que condições desapareceram. A mãe não resistiu à doença na caminhada de 70 quilómetros na neve em direcção a Bergen-Belsen, quando os alemães fugiam ao Exército Vermelho, que entrava na Polónia. Ao contrário de tantos sobreviventes que não conseguiram conviver com a sua sobrevivência, Simone Jacob, depois Veil, fez dessa sobrevivência a força que a acompanhou em tudo aquilo que fez. Era uma espécie de dever. Seguiu a magistratura e o conselho mais importante da sua mãe: para seres independente, tens de trabalhar. A memória da Shoah, os direitos das mulheres e a Europa foram as suas três grandes causas. Não deixa de ser notável que a ministra da Saúde de um governo de centro-direita, o primeiro a que pertenceu entre 1974 e 1979, tenha ousado travar a batalha pela legalização do aborto, numa altura em que era ainda um tabu. Fora uma promessa eleitoral de Giscard d’Estaing, que ela se encarregou de cumprir. Perdeu amigos e colegas de governo e enfrentou uma campanha sem piedade. Ganhou. Transformou-se num exemplo. Nunca deixou de lutar pela memória dos judeus franceses, 60 mil dos quais foram enviados para os campos de concentração. Denunciou com palavras serenas e rigorosas as sucessivas vagas de anti-semitismo que atingiram o seu país. Sabia que era preciso lembrar sempre, mas sem confundir o mal absoluto do Holocausto com o anti-semitismo que emergia quase sempre em função do que se passava no Médio Oriente. Amou sempre a França. O número no seu antebraço, a sua figura serena e o seu inesquecível olhar azul sombrio ficaram gravados na minha memória. Não era empatia, que não tinha, era uma sobriedade difícil de penetrar e uma firmeza que emanava da sua figura serena. Em 1979, Giscard desafiou-a a candidatar-se às primeiras eleições por sufrágio universal para o Parlamento Europeu. Foi a sua primeira presidente. Ela própria um símbolo da ideia que esteve na base da integração europeia: “Nunca mais. ” Para quem sobreviveu, a Europa era um imperativo. E Estrasburgo o lugar perfeito de um tempo ao qual ninguém queria regressar. A cidade alsaciana na fronteira entre a França e a Alemanha que foi sendo francesa e alemã ao longo da trágica história da primeira metade do século XX. Até à Comunidade Europeia, criada para abolir o significado de todas as fronteiras. Veil foi uma das últimas testemunhas do que o nacionalismo extremo é capaz de fazer aos homens, retirando-lhes toda a humanidade. Aos carrascos e às suas vítimas. Não havia humanidade nos campos, apenas seres transformados em fantasmas. Esqueletos sem vida embora ainda vivos. Ninguém poderia ter imaginado. Veil sobreviveu para dar um sentido à sobrevivência. 2. Primo Levi, depois de ter escrito Se isto é um Homem (1947), pôs termo à vida em 1987. Jorge Semprúm, que nasceu espanhol e morreu francês, foi preso e enviado pela Gestapo para Buchenwald, o destino dos resistentes à ocupação nazi, e apenas conseguiu escrever sobre a sua experiência muitos anos depois do fim da guerra. A Escrita ou a Vida foi uma das suas últimas obras. Robert Antelme, combatente da Resistência francesa, casado com a escritora Marguerite Duras, foi preso em 1944 e enviado para Buchenwald. Regressou para constatar que era impossível comunicar com aqueles que não estiveram lá. Escreveu apenas um livro: L’Espèce Humaine, onde registou o dia-a-dia do campo de concentração, como se o estivesse a observar de fora, distante da sua própria existência, reduzindo as palavras à mera descrição dos factos. Não era a mesma pessoa. A mesma vida não lhe era permitida. Página a página, a sua obsessão era provar que a degradação extrema não conseguira aniquilar o ser humano. Separou-se de Duras, cuja obra La Douleur transmite o mesmo sentimento de distância por vezes intransponível. Simone Veil sobreviveu. Para dar testemunho. Não pela escrita mas pela acção. “Sou o que aqueles anos fizeram de mim. ” Uma rocha. Uma vida para que ninguém esqueça. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 3. Ontem em Estrasburgo, pela primeira vez desde a fundação da Comunidade, a Europa organizou o seu primeiro “funeral de Estado”. No centro do gigantesco hemiciclo do Parlamento Europeu, o caixão de Helmut Kohl apenas coberto com a bandeira europeia, recebeu a última homenagem à sua dimensão política e humana. Mal-amado no seu próprio país, reconhecido pelos europeus como uma figura política central da construção europeia, na sua mais importante dimensão: impedir o regresso dos demónios que por duas vezes destruíram a Europa e mergulharam o mundo em duas guerras mundiais. Veil e Kohl, a França e a Alemanha, a sobrevivente dos campos e o jovem que ajudou a enterrar os mortos na sua cidade natal na Renânia, bombardeada pela aviação aliada, cuja idade o poupou ao recrutamento. Mas que nunca esqueceu. Ontem estiveram em Estrasburgo os líderes ocidentais com quem conviveu durante e depois do fim da Guerra Fria. Bill Clinton, Felipe González, Jean-Claude Juncker, a quem chamava “junior”, Medvedev, o primeiro-ministro russo exibindo a face mais aceitável do regime de Putin. Clinton, o grande comunicador, resumiu tudo numa frase: “Kohl deu-nos a oportunidade de participar em algo maior do que nós próprios, maior do que os nossos mandatos, maior do que as nossas carreiras. ” O antigo Presidente americano costumava ir com ele a uma pizzeria de Georgetown, para ambos se deliciarem com um número pouco recomendado de pizzas e outras espécies de junk-food. “Era a única pessoa que tinha mais apetite do que eu. ”González e Guterres eram os seus dois “enfants terribles”. Queriam sempre mais e Kohl estava quase sempre na disposição de passar um cheque. Era a sua grande arma para resolver conflitos. Com ele, a Alemanha ainda não era totalmente um país “normal”, como proclamou Gerhard Schroeder quando o destronou, em 1998. Reconhecia a dívida da Alemanha aos aliados, quando lhe permitiram juntar-se ao concerto das nações civilizadas pouco depois do fim da guerra. Emmanuel Macron e Angela Merkel discursaram na cerimónia, ao lado dos velhos companheiros de Kohl. O chanceler prometeu-lhes uma Alemanha europeia e não uma Europa alemã. Cumpriu. Como Veil. Resta saber quem estará agora à altura do testemunho.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto direitos homens guerra campo concentração homem comunidade doença espécie mulheres prostituta
Sampaio recorda inteligência e força moral do "amigo" Kofi Annan
Jorge Sampaio enaltece ainda a "faculdade extraordinária" que Kofi Annan tinha "de fazer sentir cada pessoa que encontrava especial e única, testemunhando-lhe sempre um afecto próprio e uma amizade certa". (...)

Sampaio recorda inteligência e força moral do "amigo" Kofi Annan
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-19 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20180819194144/https://www.publico.pt/n1841392
SUMÁRIO: Jorge Sampaio enaltece ainda a "faculdade extraordinária" que Kofi Annan tinha "de fazer sentir cada pessoa que encontrava especial e única, testemunhando-lhe sempre um afecto próprio e uma amizade certa".
TEXTO: O ex-presidente da República Jorge Sampaio recebeu hoje com "mágoa" a notícia da morte do "amigo" Kofi Annan, antigo secretário-jeral das Nações Unidas, que recorda pela "estatura intelectual e força moral", "dinamismo" e solidez de presença e convicções. "São raras as pessoas que dificilmente imaginamos que possam um dia desaparecer, mas Kofi Annan era seguramente uma delas. A sua estatura intelectual e força moral, o seu dinamismo, a solidez da sua presença e convicções sempre se sobrepuseram ao sentido da vida efémera e à mortalidade própria dos humanos", afirma Jorge Sampaio, num comunicado. Para o antigo Presidente da República, o "desaparecimento súbito" de Kofi Annan provoca um "sentimento de choque e injustiça que não são facilmente superáveis", principalmente para alguém que, como Jorge Sampaio, privou com ele "em contextos diversos e durante vários anos". Jorge Sampaio recorda como, enquanto Presidente da República, se encontrou com o então secretário-geral das Nações Unidas a propósito da causa de Timor Leste, da luta contra o HIV-SIDA e da agenda dos Objectivos do Desenvolvimento Milénio. Foi, aliás, Jorge Sampaio quem distinguiu Kofi Annan, em nome de Portugal e dos portugueses, com o grande colar da Ordem da Liberdade, em Outubro de 2005. Uma distinção que traduziu a homenagem portuguesa a quem soube "dar voz e defender os valores consagrados na Carta das Nações Unidas e conferir um novo sentido e uma nova urgência ao papel insubstituível que cabe a esta Organização desempenhar no mundo, em prol da paz, do desenvolvimento e da defesa dos direitos humanos". O antigo Presidente da República sublinha como, na altura, destacou em particular o "sentido de independência e a coragem" de Kofi Annan, bem como a sua "vigorosa" defesa dos direitos humanos, o empenho que colocou na promoção do estatuto da mulher e na igualdade de género, a prioridade à luta contra a pobreza e a doença, o "decisivo impulso" ao processo de reforma da Organização e o "papel fundamental" que desempenhou no processo que culminou na independência de Timor Leste. Jorge Sampaio evoca também o momento -- em Abril de 2006, já após o final do seu mandato de Presidente da República -- em que recebeu uma chamada telefónica de Kofi Annan, convidando-o para seu enviado especial para a luta contra a tuberculose, missão relacionada com a Agenda dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio. Esse desafio, permitiu o início de um novo ciclo de relacionamento de trabalho entre Jorge Sampaio e Kofi AnnanDepois de deixar a liderança das Nações Unidas, Kofi Annan manteve ainda contacto com Jorge Sampaio no âmbito da Comissão Global para a Política das Drogas. "Continuei a encontrar o meu amigo Kofi Annan, sempre extremamente activo e envolvido na promoção de causas em que entendia ser útil e poder marcar uma diferença", sublinha. Jorge Sampaio enaltece ainda a "faculdade extraordinária" que Kofi Annan tinha "de fazer sentir cada pessoa que encontrava especial e única, testemunhando-lhe sempre um afecto próprio e uma amizade certa". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Talvez seja esta faceta de Kofi Annan que guardarei sempre viva na memória e que tive ocasião de observar", fosse em situações mais formais, como as reuniões em Genebra, ou informais, como um encontro acidental numa remota sala de espera do aeroporto de Nairóbi. Jorge Sampaio termina evocando o "olhar frontal e sorriso luminoso" do antigo secretário-geral das Nações Unidas, bem como o seu "sentido de humor", "sabedoria funda, feita de experiência e inteligência rara". "Kofi Annan deixa-nos no ano do centenário do nascimento de Nelson Mandela. São dois vultos e dois legados que devemos celebrar conjuntamente, por tudo o que os une e que representam para a afirmação da nossa humanidade comum e da universalidade dos valores e princípios em que assenta", considera.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte humanos mulher doença igualdade género pobreza desaparecimento
Abusos sexuais no Porto: jovem foi identificada, mas não apresentou queixa
Situação ocorreu num autocarro, depois de uma das noites de Queima das Fitas do Porto. Segundo o Expresso, a jovem é maior de idade. (...)

Abusos sexuais no Porto: jovem foi identificada, mas não apresentou queixa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.3
DATA: 2017-05-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Situação ocorreu num autocarro, depois de uma das noites de Queima das Fitas do Porto. Segundo o Expresso, a jovem é maior de idade.
TEXTO: A polícia identificou a rapariga filmada num autocarro numa das noites da Queima das Fitas do Porto, quando estaria alegadamente a ser vítima de abusos sexuais. No entanto, a jovem não quis apresentar qualquer queixa, avança o Expresso. A edição desta quarta-feira do jornal Correio da Manhã divulga uma "alegada violação num autocarro do Porto" que, de acordo com "testemunhos e comentários que circulam em várias redes sociais, terá ocorrido durante a Queima das Fitas, entre 7 e 14 de Maio". Esta situação pode resultar num crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência, mas o respectivo inquérito só pode ser iniciado depois de apresentada queixa. O Expresso relata que a rapariga, que é maior de idade, não fez nenhuma denúncia relacionada com a suposta violação, nem a propósito da divulgação de imagens. A Polícia Judiciária (PJ) confirmou que tem inspectores "no terreno" para averiguar o caso. "Temos gente no terreno. Estamos a recolher elementos para ver se há matéria para investigação. Neste momento ainda não foi instaurado nenhum inquérito", disse à Lusa fonte da Judiciária ligada ao processo, acrescentando que este caso será considerado um crime semipúblico e, por essa razão, depende de queixa criminal para se avançar com uma investigação. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Também a divulgação do referido vídeo levou a uma série de reacções ao longo desta quarta-feira. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) abriu um processo para averiguar a transmissão pelo jornal Correio da Manhã de “um vídeo em que é visível um alegado abuso sexual sobre uma jovem”. O conselho deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CDSJ), por sua vez, condenou a divulgação pelo jornal e pela televisão do Correio da Manhã do vídeo. Em comunicado, o CDSJ "considera que o vídeo sobre uma suposta violação publicado pelo Correio da Manhã no seu site e exibido na CMTV atenta contra todas as regras do jornalismo e deve por isso ser retirado do site e não deve ser exibido na sua emissão televisiva". Além disto, a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) avançou para uma queixa contra o jornal no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, para apuramento de responsabilidade criminal, "uma vez que as imagens divulgadas indiciam a prática de crime contra a honra ou contra a reserva da vida privada". A CIG anunciou também que iria apresentar queixa no DIAP do Porto contra incertos, igualmente para apuramento de responsabilidade criminal, "uma vez que as imagens indiciam comportamentos que consubstanciam a prática de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual".
REFERÊNCIAS:
Entidades PJ
David Machado, construtor de paisagens afectivas
Paisagens afectivas, personagens cujos corpos guardam a memória do trauma e que estão em reconstrucão: Debaixo da Pele, de David Machado, confirma aquilo que já se adivinhava, uma grande capacidade de escrita. (...)

David Machado, construtor de paisagens afectivas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Paisagens afectivas, personagens cujos corpos guardam a memória do trauma e que estão em reconstrucão: Debaixo da Pele, de David Machado, confirma aquilo que já se adivinhava, uma grande capacidade de escrita.
TEXTO: David Machado (Lisboa, 1978) começou por escrever literatura infantil (leva cerca de uma dezena de títulos publicados), e mais tarde estreou-se no romance com O Fabuloso Teatro do Gigante (Presença, 2006), a que se seguiram Deixem Falar as Pedras e Índice Médio de Felicidade (vencedor do Prémio da União Europeia para a Literatura, e do Prémio Salerno Libro d’Europa, e traduzido em várias línguas). No seu mais recente romance, Debaixo da Pele, inicia uma viagem, que durará cerca de 30 anos, aos meandros das memórias deixadas por episódios de violência física em duas das personagens, Júlia (que aos 19 anos se tornou vítima), e de Catarina (que aos quatro ou cinco anos assistiu a episódios de violência doméstica entre os pais). Nessa viagem as personagens dão testemunho de um processo, que parece em construção permanente, de lidar com o trauma e de encontrar maneiras para lhe sobreviver, e que vão desde o silêncio sobre o que aconteceu, a uma reescrita da realidade vivida. Se nos romances anteriores Machado já aflorava o tema da memória, neste aprofunda-o de uma maneira bastante bem trabalhada literariamente, confirmando e ampliando o talento de escrita (e de domínio de técnicas narrativas) que era já evidente nos livros anteriores. Como é que aconteceu a escrita deste novo romance, que é dividido em três partes e cada uma com uma voz narrativa diferente? Foi difícil?Fiz muita coisa nestes últimos três anos, que foi o tempo que demorei a escrever o livro. Fiz muitas viagens, sobretudo por causa do Índice Médio de Felicidade, pois tive de o apresentar em vários sítios. Depois aconteceu também o filme [baseado nesse anterior romance e com estreia prevista para final de Agosto], e fui eu quem escreveu o guião. Basicamente, o romance foi escrito em três períodos muito separados. Cada uma das partes tem um narrador diferente, uma voz diferente, e as três histórias passam-se em épocas distintas, com personagens que se cruzam muito ao de leve de umas partes para outras. O mais difícil para mim é começar a escrever um livro, encontrar o tom, a voz do narrador, e por vezes as primeiras 20 páginas podem demorar quase tanto como o resto. No caso deste tive de começar três vezes, uma vez para cada uma das partes, como se fossem três novos livros. Também por isso foi muito difícil. O que é que pretendeu ao dividir o romance em histórias diferentes?Foi sobretudo um exercício de estilo e de estrutura narrativa que me apetecia experimentar. Mas também por causa dos temas que queria tratar, sobretudo o tema do trauma. Apetecia-me saber como é que o trauma se estende ao longo do tempo, como é que passa de personagem para personagem. E interessava-me muito dar uma história específica a cada personagem que vai aparecendo, uma história que apenas tocasse as outras em alguns pontos. Interessou-lhe perceber também como é que as personagens iriam reagindo ao passar do tempo? Como é que a memória iria reagir?Interessava-me o trauma enquanto memória, sim. E quando falo aqui em trauma refiro-me ao resultante de violência, sobretudo física mas não apenas, provocada por outros seres humanos. Não me refiro aos traumas por cataclismos, por exemplo. Mas ao mesmo tempo não me interessava muito a violência em si. Por isso, no livro quase sempre apanhamos as personagens já na fase pós-violência. Interessava-me perceber como é que as personagens ficam depois, mas sobretudo como fica a relação delas com os outros, com o mundo em redor. A confiança que têm nos outros fica destroçada. Queria perceber como se consegue continuar a viver, e se se recupera, ou não, a confiança nos outros. Isso era muito importante, como é que a memória, que é um dos nossos super-poderes, a capacidade que temos de recordar, como é que isso é ao mesmo tempo um martírio, o facto de ter de recordar situações e acontecimentos que se viveram de maneira dolorosa. Interessava-me a reacção ao trauma. A falta de confiança nos outros depois do trauma, ou seja a desconfiança crónica, é outro dos temas que explora no livro. Interessou-lhe perceber como evoluía esse mecanismo?Os casos de violência doméstica e de violência no namoro têm uma dimensão que me assusta particularmente e que é o facto de o agressor ser alguém muito próximo da vítima, alguém em quem a vítima confiava ou que até amava. Todos nós já amámos e confiámos, é fácil perceber porque é que frequentemente estas situações de agressão se arrastam durante tanto tempo, às vezes anos, às vezes a vida toda. E isso é assustador, claro. Mas é igualmente assustador pensar que, uma vez superada essa situação, será muito complicado para a vítima voltar a confiar noutro ser humano, entregar-se a alguém que ame. No romance, Júlia vive com essa incapacidade e a certa altura, na terceira parte, encontramo-la a viver com o filho no meio de nada, afastada do resto da humanidade. Nesse ponto da narrativa, interessava-me compreender não apenas a forma como ela continua, passados mais de vinte anos, a lidar com o seu trauma, mas também de que modo esse trauma afecta a vida do Manuel, o filho. Ela ensina-o a desconfiar de qualquer ser humano, o que para mim é, por sua vez, uma forma de violência. O próprio Manuel acaba por percebê-lo e a certa altura diz que estar sozinho é como não existir. Na segunda parte do romance há um escritor a explorar a relação entre a memória e a realidade. Escreveu a frase "o mal que nos fazem não pára de acontecer" na nossa memória, e o escritor tenta ali alterar as coisas. A ficção é a única saída para as personagens no romance?Não acho que seja a única. Ao longo de todo o livro eu vou tentando experimentar várias saídas. Todas as personagens, umas mais e outras menos, estão a viver situações de trauma. Eu próprio queria perceber qual é a saída disto. Queria saber quais são as saídas, se as há, e se são eficazes. A que o escritor [a personagem de nome Salomão] encontra é apenas uma delas: a de tentar reescrever uma outra versão dos acontecimentos. A nossa memória também faz isso. Mas as personagens parecem acabar por não fazer essa "reescrita" da realidade. Ou fazem?O Salomão [o escritor] tenta fazer a parte dele. O caso da Júlia [personagem principal na primeira parte] é diferente. A Júlia nunca reescreve aquela história. Essa era a personagem que eu tinha desde o início, e que foi crescendo dentro de mim. Não acho que as minhas histórias tenham de ter um final feliz quando as estou a escrever. Mas confesso que a partir de certo momento, por causa da empatia que fui criando com ela, de uma relação mais solitária com aquela personagem, que eu criei e que coloquei naquela situação, eu passei a estar muito atento aos sinais ou vestígios que me permitissem salvá-la. No fim isso não aconteceu, não a consegui salvar. E em certa medida a culpa do que lhe aconteceu é minha, e isso fez-me sentir mal. Que é o mesmo que dizer que eu neste livro me proponho encontrar soluções para o trauma, e não consegui. E por isso que depois aparece o outro escritor a tentar salvar as personagens, porque o David Machado se sentiu impotente com o salvamento da Júlia?Por isso ele tenta este recurso da escrita. E por isso na terceira parte aparece ainda o Manuel, filho da Júlia, um rapaz com onze anos, que traz um novo alento a todo o enredo. No final do livro nada fica decidido, mas há já no ar alguma esperança. Na minha cabeça a infância e as criancas trazem sempre esta hipótese de redenção e de salvação, que muitas vezes não se verifica. Uma criança pode vir sempre salvar alguma coisa. No comportamento da Julia há a violência que dá azo a mais violência, e que se prolonga, ou se contagia, numa espécie de cadeia. Esta é uma maneira para olharmos para as coisas de outra forma? Houve um olhar seu de compaixão para com esta personagem por ela ter sido vítima e assim tentar justificar a violência dela?Acho que é as duas coisas. Por um lado, o facto de ter sido vítima dá-lhe permissão para certas atitudes, que não são aceitaveis mas são compreensíveis. Outro dos exercicios do escritor é sempre tentar olhar o mundo pelos olhos de outro, e todos nós somos muito rápidos a julgar. Para mim é intrigante o que está por trás de cada gesto. E no caso da Júlia eu levei as coisas ao extremo, o que me angustiou bastante, não apenas emocionalmente mas tambem fisicamente. Nós estamos a seguir a cabeça da Júlia quase segundo a segundo, nós vemos o raciocinio que provocou o gesto dela ou a palavra que lhe saiu da boca. Temos tudo cá dentro, tudo aquilo que justifica os nossos actos. Mas não se corre o risco de se justificar assim toda a violência, numa espécie de jogo perigoso?Eu próprio também me interroguei sobre isso. Aliás, está no livro a frase, “quando é que isto pára?” Senão a violência está sempre a renovar-se ou a alimentar-se de si própria. Mas ao mesmo tempo acho que temos muita dificuldade em admitir que dentro de nós todos está o instinto da maldade. Nós nascemos com os instintos todos. E no início da vida, sobretudo na adolescência, conseguimos aprender a domesticá-los, a recalcá-los. Mas eles estão lá, existem dentro de nós. Ao passo que os valores universais são fabricados, como a amizade. Ainda bem. Mas o instinto da maldade existe, bem como outros que conduzem a este. E custa-nos muito admitir que somos maus, admitir que nós tambem somos maus. Ao mesmo tempo, por isso, não me custa admitir que a violência produz violência. “O corpo é o início de tudo, e também carrega memórias que são impossíveis de serem desfeitas. ” O tema da memória é constante nos seus livros…Sim, aparece em todos. Logo no primeiro, O Famoso Teatro do Gigante, esse tema surgiu de maneira quase inconsciente, esse é um livro sobre a saudade. O Deixem Falar as Pedras é um romance sobre transmissão de memórias entre gerações, e mesmo em o Índice Medio de Felicidade, que é um livro mais virado para o futuro, a questão do passado, das memórias, impede-nos de reformularmos a nossa visão do futuro. Neste último não foi nada muito premediato, eu tinha já as duas personagens. Mas a questão do trauma apareceu-me logo, e eu senti-me atraído pela ideia de o trauma ser a memória que o corpo guarda, mesmo sem nós nos darmos conta, ou lembrarmo-nos, do que aconteceu. Mas de alguma forma o corpo lembra-se. Isso interessou-me também como exercício literário, como é que o corpo pode acrescentar coisas à história. No livro escreveu que "mais tarde ou mais cedo, a memória de uma pessoa fica presa às tristezas e às dores e tudo o resto se perde numa espécie de nevoeiro". Teve esta sensação com as suas personagens? Foi por isto que Júlia não se salvou? Por causa desta prevalência de algumas memórias?Não é algo em que eu acredite. No romance, quem o diz é o Manuel, na terceira parte, citando de cor os ensinamentos da mãe, a Júlia, que ficou presa à memória da dor que viveu mais de vinte anos antes. Eu acredito na capacidade de os seres humanos se agarrarem às memórias felizes. Ou pelo menos de saberem equilibrar as más memórias com as boas. Por outro lado, sou capaz de imaginar acontecimentos terríveis que deixarão no corpo, na cabeça e na vida de uma pessoa marcas tão fortes que poderão ensombrar tudo o resto. Às vezes é mais fácil ficar a boiar nessa tristeza antiga do que reagir. É o que acontece à Júlia, que vai mais longe ainda, aceitando essas memórias e construindo toda a uma filosofia para a sua vida e a do filho que tem por base a ideia de que, na sua essência, os seres humanos são sempre maus e que por isso devem viver isolados. É a forma que ela encontra para se salvar. Percebe-se que a escrita deste livro pressupôs alguma preparação mais técnica em alguns campos específicos. Como é que o preparou?Li alguns livros sobre trauma, e outras coisas técnicas sobre psicologia. Mas não foi muita coisa. Depois foi o trabalho do escritor, de ir aos detalhes, de explorar, de ir ao pormenorzinho. Foi muito difícil, acho que nunca me tinha acontecido estar tão dentro da cabeça de uma personagem que vivesse coisas tão dificeis [Júlia]. E depois desligar o computador, tentar limpar tudo na minha cabeça, e ir buscar os meus filhos à escola. Sair daquela parte do romance [a primeira] foi um grande alívio. A que me deu mais gozo escrever foi a segunda, que é um exercício de estilo muito interessante, e que tem a ver com o próprio trabalho do escritor, com a reflexão que fazemos quando escrevemos um romance. O que é que deixamos de fora? O que incluimos e porquê? Porque tomamos esta e não aquela outra decisão? Além disso, foi muito interessante de fazer, escrever sobre a cabeça de um escritor. Mesmo aquela divisão gráfica da página deu-me bastante gozo. Depois a terceira parte voltou a ser dificil, apesar de ser menos exigente do que a primeira e menos fechada em termos espaciais e temporais. A primeira é muito claustrofobica, a personagem está sempre em espaços fechados, mesmo quando vai para o parque está debaixo de árvores, como que protegida. A terceira, que tem como personagem o filho, é mais aberta, quase solar. O que sentiu de diferente entre este romance e os anteriores, quer em termos de escrita, de estilo, de técnica narrativa? Sentiu que houve uma evolução, digamos assim?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Depois de ter escrito o Índice Médio de Felicidade, que é um romance muito linear, apesar de a personagem estar a falar com um amigo imaginário, que é a única coisa estranha, de resto é uma história contada de maneira convencial, eu queria fazer algo diferente em termos de estilo. Por isso decidi arriscar um pouco, sobretudo nas duas primeiras partes. Na primeira porque estou dentro da cabeça de uma personagem feminina, coisa que eu nunca tinha feito. E a segunda parte em que faço aquele exercício de estilo de que já falamos. Quando arriscamos estamos muito inseguros. Quando estava a escrever tinha por vezes a sensação de que aquilo não estaria a funcionar, o que por um lado foi bom. Mas ao mesmo tempo sabia que as ideias eram boas. Quando comecei a rever e a trabalhar com a editora [Maria do Rosário Pedreira] senti que as coisas estavam a resultar e aí senti-me mais confiante no livro. Perguntaram-me muitas vezes se por causa do sucesso do Índice Médio de Felicidade se eu estaria agora com medo. Não, agora é que eu não tinha medo nenhum de falhar, aquele livro já tinha feito a sua vida, e bem. Agora admito que este é um salto em relação ao anterior. Em Portugal não há a tradição do editor, à maneira americana. Mas alguns dos autores mais novos, entre os quais se inclui o David, começaram há uns anos a trabalhar com a editora Maria do Rosário Pedreira. Qual a importância de um editor como ela e qual a sua função?Para mim é mesmo muito importante. Eu comparo isso sempre ao papel do produtor nos discos. Nenhuma banda vai para um estúdio sozinha. O trabalho com a editora é sempre muito fluído. O que ela faz é dizer, ‘isto não está a resultar, esta personagem não faz sentido, este capítulo não percebo para onde vai’, mas não me dá soluções de nada, essas são minhas e são trabalho de casa. Quando lhe envio o manuscrito e a seguir nos encontramos para o discutir, tenho a mesma sensacão que tinha quando ia para um exame nos tempos da faculdade. Sinto que ela me vai questionar sobre quase tudo, e eu vou ter de justificar tudo. Por vezes a justificação pode ser apenas ‘porque eu acho que assim fica melhor’. Mas o trabalho dela é muito importante para mim, o de haver alguém que nos vem abanar e que de vez em quando parece tirar-nos o tapete de debaixo dos pés.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola humanos violência filho criança medo espécie doméstica corpo feminina infantil agressor
Lei das armas e entrega voluntária baixam à comissão para entendimentos à esquerda
Direita acusa Governo de interferir no património pessoal ao querer obrigar à entrega de armas herdadas, a esquerda argumenta com a necessidade de reduzir o uso pessoal de armas. (...)

Lei das armas e entrega voluntária baixam à comissão para entendimentos à esquerda
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Direita acusa Governo de interferir no património pessoal ao querer obrigar à entrega de armas herdadas, a esquerda argumenta com a necessidade de reduzir o uso pessoal de armas.
TEXTO: A proposta de lei do Governo sobre o novo regime da lei das armas e as propostas do PCP, PEV, BE e PAN para um programa de entrega voluntária de armas não registadas baixaram à comissão de Assuntos Constitucionais por 90 dias para a esquerda se conseguir entender sobre algumas medidas do Executivo. Com PSD e CDS o entendimento parece muito difícil, já que os dois partidos recusam alguns princípios de base das alterações que, por exemplo, limitam o número de armas e munições licenciadas por cidadão ou que consideram ilegal a manutenção de armas herdadas por quem não disponha de licença de uso e porte de arma. O ministro da Administração Interna não se cansou de argumentar que as restrições que pretende impor se devem à cada vez maior necessidade de manter Portugal um país seguro – e que tal é cada vez mais premente tendo em conta os fenómenos de violência e terrorismo que vão grassando na Europa. Eduardo Cabrita citou o milhão e meio de armas que estarão nas mãos de civis portugueses e acabou classificar de “demagogia pura” as críticas da direita de que se está a atentar contra liberdades individuais como a da propriedade. O PSD levantou questões técnicas como a classificação das armas e a deputada Andreia Neto criticou o fim das licenças vitalícias, a imposição de um limite no número de armas para quem hoje as tem de forma legal, acusando o Governo de espoliar, inconstitucionalmente, os cidadãos de propriedade privada, obrigando-os a entregar as armas para serem destruídas. Do centrista Telmo Correia, o ministro ouviu a acusação de que é o Estado quem não consegue garantir que o armamento vá parar às mãos de criminosos, como aconteceu com Tancos. E também a de que está a “atacar” os atiradores desportivos, a propriedade de quem herdou armas, e até a caça – e por arrastamento os territórios do interior que têm nessa actividade uma fonte de rendimento. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. À esquerda do PS, os partidos avisaram que o melhor seria não levar a lei já a votos porque concordam com os princípios de base mas querem “aperfeiçoar” algumas questões, além de que quererem consensualizar a abertura de um programa especial de entrega voluntária de armas que não estejam registadas sem que os seus proprietários fiquem sujeitos a processos judiciais – que poderá ser de quatro a seis meses. O deputado do Bloco de Esquerda José Manuel Pureza estima que a violência decorrente do uso de armas represente cerca de 180 milhões de euros por ano em Portugal – dos cuidados de saúde às indemnizações às vítimas ou compensações pelas faltas ao trabalho e defendeu a necessidade de uma “regulamentação robusta e exigente” para acabar com casos de “mortes estúpidas” de crianças ou de homicídios por violência doméstica. A ecologista Heloísa Apolónia salientou a necessidade de sensibilizar a sociedade para o desarmamento” e o deputado André Silva, do PAN, avisou que votará contra porque a lei promove a caça como um negócio. O comunista António Filipe avisou o Governo que na especialidade será preciso ter em conta a “razoabilidade” de alguns pareceres sobre, por exemplo, o sector da caça, as heranças, os colecionadores ou os desportos que usam armas. “Deve ser restringido o uso e posse indiscriminada de armas, mas também a discricionariedade da sua utilização pelas forças de segurança. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD PCP BE PEV
Ausência de Fernando Medina do debate orçamental irrita deputados
Quase dois meses depois de ter sido apresentado, o orçamento para 2019 foi aprovado na assembleia municipal. (...)

Ausência de Fernando Medina do debate orçamental irrita deputados
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.01
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quase dois meses depois de ter sido apresentado, o orçamento para 2019 foi aprovado na assembleia municipal.
TEXTO: A assembleia municipal aprovou esta quinta-feira o orçamento de Lisboa para 2019 e as Grandes Opções do Plano para 2019-2022. Numa reunião extraordinária, realizada de propósito para este debate, a ausência de Fernando Medina foi criticada por partidos da esquerda à direita e até Helena Roseta se mostrou incomodada. “Entendo que há responsabilidades que têm de ser assumidas”, disse a presidente da assembleia, anunciando que levará o assunto à conferência de representantes. A autarca manifestou-se depois de uma violenta intervenção de António Prôa, deputado do PSD. “Ninguém concebe, partidarites à parte, que o presidente da câmara, quem lidera o executivo, não esteja aqui hoje a dar a cara, a defender este documento que é fundamental para a sua gestão”, afirmou o social-democrata. Antes, já Modesto Navarro, do PCP, tinha dito que o facto de Medina não estar presente mostrava a “displicência com que trata a assembleia municipal e esta cidade”. E o CDS, através de Francisco Rodrigues dos Santos, fez um “voto de repúdio” pela ausência do autarca. “Faz lembrar aquela criança amuada que, não gostando do jogo, sai com a bola debaixo do braço e marca falta e não está presente no debate democrático”, disse. “Quando há grande ênfase na ausência do presidente numa reunião extraordinária marcada com uma pequena margem é porque não há grande crítica a fazer ao orçamento”, respondeu João Paulo Saraiva, vereador das Finanças, a quem coube a defesa da proposta orçamental da maioria PS/BE. No debate propriamente dito, as críticas da oposição centraram-se nas opções tomadas pela câmara, sobretudo tendo em conta o volume de receitas previsto para o próximo ano. “Lisboa beneficia de um orçamento milionário”, criticou Modesto Navarro, mas os fundos “não estão a ser canalizados para melhorar a vida de quem vive ou poderia viver na cidade. ” Também pelo PCP, Fernando Correia sublinhou que “o problema da mobilidade está longe de estar resolvido” e que “os serviços da Carris não estão melhores e os utentes sentem-no diariamente”. Pelo PAN, Inês Sousa Real lamentou que estejam destinados 800 mil euros para iluminações de Natal e 220 mil para três planos municipais de igualdade e prevenção de violência doméstica. A deputada criticou igualmente o peso do Hub Criativo do Beato (20, 3 milhões de euros) e da Web Summit (3 milhões). “São verbas muito elevadas se comparadas com todas as verbas para o combate à exclusão social, aos direitos humanos, à cultura”, disse. Crítica semelhante fez João Condeixa, do CDS, partido que, tal como o PSD, se centrou muito na questão fiscal. Condeixa acusou a câmara de “extorquir 623 milhões de euros em impostos” aos lisboetas, o que dá “1800 euros a cada família”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “O CDS é muito mau a fazer contas. Partem de números que muitas vezes nem sabemos onde os foram buscar”, respondeu João Paulo Saraiva. “Quando apresentam este número, onde é que o foram buscar? É que a nós dá-nos 700 euros. ”Congratulando-se com o cumprimento de algumas medidas do acordo político, o bloquista Ricardo Moreira lastimou, ainda assim, a aposta dos socialistas na “monocultura do turismo”. Perante um comentário recorrente à esquerda de que a autarquia está a passar cada vez mais responsabilidades para empresas municipais e prestadores de serviços, João Paulo Saraiva anunciou, para Janeiro, “um pacote que vai permitir monitorizar de forma mais intensa a actividade das empresas municipais”.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD PCP BE
Christian Rizzo desossou um tango (mas não para o tornar mais comestível)
Ad Noctum, o espectáculo que este sábado abre o festival Circular, completa a longa imersão do coreógrafo francês no mundo das danças anónimas de transmissão popular. E põe-no a enfrentar um tabu pessoal, o dueto – à sua heterodoxa maneira. (...)

Christian Rizzo desossou um tango (mas não para o tornar mais comestível)
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ad Noctum, o espectáculo que este sábado abre o festival Circular, completa a longa imersão do coreógrafo francês no mundo das danças anónimas de transmissão popular. E põe-no a enfrentar um tabu pessoal, o dueto – à sua heterodoxa maneira.
TEXTO: Christian Rizzo teve sempre tanto medo do dueto que conseguiu passar 20 anos a escalar a paisagem coreográfica francesa (chegou mais ou menos ao topo em 2015, quando foi chamado a suceder Mathilde Monnier na direcção do influente Centre Corégraphique National de Montpellier, agora rebaptizado Institut Chorégraphique International) sem se aproximar uma única vez dessa forma absolutamente seminal que integra a experiência da dança desde tempos imemoriais, e que ao longo dos séculos se foi cristalizando em figuras canónicas como os minuetes das cortes europeias do Antigo Regime, os pas de deux do ballet clássico, os tangos, as valsas e os chachachás dos salões de baile – e os slows das pistas de discoteca que fizeram incontáveis vítimas ao longo dos anos 80. Subentendemos, porque ele não desenvolve, que terá sido disso que o coreógrafo francês teve medo: dos protocolos obsoletos do dueto, da sua lógica binária incompatível com os múltiplos coming out que vêm tornando a identidade de género uma experiência tão mais caleidoscópica, e sobretudo das cascas de banana kitsch que já terá visto muito boa gente a pensar que conseguia evitar para logo a seguir se estampar ao comprido. Só que entretanto alguma coisa o fez querer enfrentar este e outros tabus pessoais, operação a que se dedicou consistentemente de 2013, o ano da estreia de D’après une histoire vraie, a 2016, o ano da estreia de Le Syndrome Ian. Entre o primeiro e o terceiro (e último) capítulo dessa “longa e reveladora aventura” que teve com as danças anónimas de transmissão popular, enfrentando primeiro o tabu de um elenco exclusivamente masculino para abordar o folclore, e por fim o tabu da sua própria história pessoal para abordar as práticas desclassificadas (ou mesmo clandestinas) do clubbing, Christian Rizzo encheu-se de coragem e atacou as danças de casal. Ad Noctum, o espectáculo com que abre este sábado, no Teatro Municipal de Vila do Conde, mais uma edição do Circular – Festival de Artes Performativas, é, diz ao Ípsilon dias antes de mais um regresso a Portugal, onde já veio mostrar as duas pontas da trilogia, o que acontece quando se tenta “desossar um tango”. Não exactamente, previnamos desde já, para o tornar mais comestível. Mais do que o miolo de uma investigação em torno do contágio entre as danças anónimas, vernaculares, e as danças de autor – “É uma dupla história, a da dança contemporânea: como na molécula do ADN, são duas hélices que se cruzam constantemente e que avançam em paralelo”, dizia Christian Rizzo há um ano, quando Le Syndrome Ian abriu a temporada do Teatro Municipal do Porto –, Ad Noctum é “de facto a sua peça central”. D’après une histoire vraie, levantada com um grupo de homens que se tornou “um verdadeiro bando”, tinha sido “uma experiência solar”, recapitula agora ao Ípsilon, e depois dela quis voltar à noite. Mas não à noite tal como sempre a conheceu – é o seu habitat natural, como o capítulo final da trilogia viria a explicitar, fixando em palco as quase três décadas que Christian Rizzo esteve acordado enquanto o mundo dormia (depois aprendeu a viver de dia, “e não é nada mau”…) –, e muito menos na sua companhia habitual. A noite de Le Syndrome Ian, concretiza, era “a noite antes de o dia se levantar”. Aqui, “o dia nunca se levantará”: Ad Noctum é “a noite mental, absoluta, infinita” que Julie Guibert e Kerem Gelebek atravessam “como se fossem o primeiro ou o último casal a dançar” em toda a história da nossa existência enquanto espécie, vigiados por outro ser vivo, um monólito emissor de luz, som e imagens que tanto pode estar aqui para minar este dueto (não há sexo, mas de repente isto é um threesome) como para o engendrar. Coreografia: Christian Rizzo Vila do Conde. Teatro Municipal de Vila do Conde. Avenida Doutor João Canavarro. T. 252290050. Sábado dia 22 de Setembro às 21h30. 5€ (Circular – Festival de Artes Performativas de Vila do Conde 2018)Por ser território escuro, e para ele totalmente desconhecido, Christian Rizzo não quis aventurar-se no dueto sozinho, e chamou dois bailarinos com quem já tem uma história (criou um solo para cada um, aliás: b. c. janvier 1545, fontainebleau para Julie Guibert; sakinan goze çöp batar, para Kerem Gebelek): “Queria ir para isto com pessoas que eu conhecesse bem e que me conhecessem bem: para podermos chegar todos mais longe, tinha de haver conhecimento e confiança. Mas já tinha muitas coisas antes de eles chegarem aos ensaios: aquela máquina, por exemplo, foi construída quando ainda não havia coreografia, porque muito rapidamente percebi que ia ter necessidade de um terceiro elemento que fosse simultaneamente um gerador e uma testemunha da dança que ali tem lugar. ”É uma dança que pode vir completamente dali, se acreditarmos no poder demiúrgico da máquina em que Christian Rizzo concentrou parte importante das vibrações de Ad Noctum, e à qual deu “uma protolinguagem” autónoma. Mas que vem seguramente também do tal tango que Christian Rizzo viu no YouTube e que se pôs a desossar – assim como de “todos os casais míticos do cinema clássico americano”, ou dos pares acidentais das danças de salão. Também eles, de resto, foram desossados: “Não queria explorar o tópico da sedução, que pode ser muito forte neste universo; queria sobretudo explorar as dinâmicas de escuta entre os dois elementos de um par. Portanto tratou-se de partir esse tango – podia ter sido um pas de deux, ou uma dança de corte – para depois o reconstruir a partir de um sistema que eu diria quase matemático. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Questão decisiva, o tango que Christian Rizzo escolheu para desossar passa-se entre dois homens, subvertendo um cânone ferozmente heterossexual. Também aí Ad Noctum se mostra infiel à sua genealogia: não há papéis de género neste dueto, ou se há “são flutuantes”. “À medida que fomos avançando na observação dos sistemas da dança a dois, percebemos que há um ponto fixo entre dois corpos que é o ponto de rotação, seja no rock, seja na valsa. Todo o nosso desafio passou a ser dilatar e contrair sucessivamente esse ponto, deslocá-lo – e para esse efeito a discussão das questões de género não era de todo relevante. ”O final, fantasioso e inexplicável como todas as histórias vindas do princípio ou do fim dos tempos, tratará de o sublinhar: duas figuras gémeas, anónimas, sem rosto nem sexo, continuam a dançar numa noite escura. Não sabemos se vêm do passado, do presente ou do futuro, o que houve antes ou o que haverá depois: sabemos que esta história também é a nossa história, e que numa destas noites, apenas porque somos humanos, encontraremos um par e nos poremos a dançar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens humanos sexo medo género espécie