A nova presidente do FED dá 10 a 0
Goste-se ou não, um dos cargos com mais poder em todo o mundo é o de presidente da Reserva Federal Americana (FED). O actual presidente, Ben Bernanke, é classificado em sexto na lista das pessoas mais influentes do mundo, logo atrás do Papa. O presidente Barack Obama acabou de nomear Janet Yellen para esse lugar. Poucos terão dúvidas que o que esta boa senhora vier a decidir na condução do mais poderoso Banco Central será determinante para a economia o que, em especial no contexto actual, reforça o interesse nas suas aptidões e na sua visão estratégica, que por certo terão impacto na vida de qualquer um de nós. É... (etc.)

A nova presidente do FED dá 10 a 0
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2013-10-11 | Jornal Público
TEXTO: Goste-se ou não, um dos cargos com mais poder em todo o mundo é o de presidente da Reserva Federal Americana (FED). O actual presidente, Ben Bernanke, é classificado em sexto na lista das pessoas mais influentes do mundo, logo atrás do Papa. O presidente Barack Obama acabou de nomear Janet Yellen para esse lugar. Poucos terão dúvidas que o que esta boa senhora vier a decidir na condução do mais poderoso Banco Central será determinante para a economia o que, em especial no contexto actual, reforça o interesse nas suas aptidões e na sua visão estratégica, que por certo terão impacto na vida de qualquer um de nós. É nesta perspectiva que me interessou o tema e que tentarei demonstrar porque é que a reacção dos ditos mercados à nomeação desta senhora foi tão positiva. Obama anunciou na passada quarta-feira esta nomeação. Yellen sucede a Bernanke, cujo mandato termina no final do próximo mês de Janeiro. Este acto precisa agora de ratificação do Senado mas é quase consensual que, com as suas credenciais académicas e a larga experiencia profissional, em especial na área da política monetária, seja difícil defender uma outra alternativa. É a primeira mulher a exercer este cargo, teremos agora três dos lugares com maior impacto na economia global a serem exercidos por mulheres, a presidente do FED, a Chanceler alemã Angela Merkel e Christine Lagarde, presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Esta é apenas uma observação, com uma curiosidade acrescida, é que nenhuma das três precisou da instituição de quotas para chegarem ao lugar que ocupam. O percurso de Yellen justifica por si esta escolha. Licenciada e Doutorada em economia pelas Universidades de Brown e de Yale, professora em várias universidades desde 1971, presidente do Conselho de Assessores Económicos do presidente Clinton entre 1997 e 1999, presidente e CEO do Banco da Reserva Federal de São Francisco entre 2004 a 2010, Vice presidente do Conselho de Governadores do FED desde 2010. Autora de vários estudos académicos publicados nas mais prestigiadas revistas da área tem como principais interesses na sua investigação o desemprego e o mercado de trabalho, as políticas fiscais e monetárias, o comercio internacional e as politicas de investimento. Penso que a congressista democrata Nancy Pelosi resume de forma graciosa a sua aprovação por esta nomeação: “não é apenas por ser mulher, tem um extraordinário talento”. As minhas observações pelo género da pessoa escolhida não passam disso mesmo, há uma tendência global para uma maior participação das mulheres, quer em cargos como este como nas administrações das empresas de todas as dimensões, o que será naturalmente explicado pelo talento e pela dedicação que a generalidade das mulheres aporta ao exercício dos seus cargos. As estatísticas da maioria das Universidades confirmam que esta será uma tendência duradoura, o que levanta algumas questões que deixarei para debater numa outra oportunidade. Pelo percurso académico e profissional não temos portanto nada a temer da nomeação de Yellen. Repare-se que nem o atual governador Ben Bernanke nem o anterior Alan Greenspan tinham a experiencia desta senhora para desempenharem o cargo que ocuparam. Por certo que as suas posições e opiniões no âmbito do seu cargo no FED também contaram para esta escolha de Obama. O jornal Washington Post enumera várias qualidades que reforçam a confiança que se pode ter em Yellen. Tentarei resumir algumas. Um dos temas porque é conhecida, aliás é também uma das suas principais áreas de interesse nos seus trabalhos de investigação académica, é o desemprego. Várias são as deliberações do FED em que Yellen evidencia que o desemprego é o maior problema do FED. Não deixa de ser curioso, para nós que estamos habituados à actuação dos Bancos Centrais, em especial do Banco Central Europeu e antes disso, do Banco de Portugal, em ouvir que o desemprego é o problema principal do FED. De facto, espantem-se alguns, o objectivo de uma política de pleno emprego não consta da Constituição americana, nem tão pouco de nenhum decreto presidencial ou mesmo de nenhuma política ou objectivo do Ministério do Trabalho. Há no entanto uma lei aprovado no longínquo ano de 1946, no pós-guerra portanto, que define um objectivo para o governo americano de se obter o pleno emprego mas até hoje, a Reserva Federal foi a única instituição a ter essa preocupação e objectivo na sua agenda e na definição das suas políticas. Veja-se que só em 1977, 30 anos depois, é que se consignou também ao FED o objectivo do controlo dos preços e portanto da inflação. O FED passou a ter este duplo objectivo, que vulgarmente se chama de crescimento económico e controlo de preços. Esta é uma diferença enorme em relação ao Banco Central Europeu, que na prática e em resumo, tem apenas como objectivo o controlo dos preços, sendo o problema do crescimento económico e consecutivamente do desemprego uma área da competência política de cada Estado-membro. Claro que na economia, como em quase tudo na vida, falamos sempre em compromissos, bom era que se pudesse encharcar a economia de dinheiro até estarmos todos confortáveis sem que isso fosse um problema. Sabemos que, contrariamente a muitos dos discursos políticos que isso não é assim, os recursos são escassos de facto e a habilidade é de os gerir direito. O duplo compromisso do FED, de promover o pleno emprego e controlar os preços, é um excelente exemplo e, na minha opinião claro, também aqui Yellen já mostrou o seu bom senso para gerir estes dois problemas. Na década de 90, quando fazia parte do Conselho de Governadores, defendeu que a taxa de desemprego estava excessivamente baixa. Pois é! Não foi ninguém que formatou a cabeça da senhora nestes tempos, as políticas é que têm que estar de acordo com o contexto económico! Yellen dizia e bem que o nível tão baixo do desemprego era uma ameaça. Os empregadores, nesta conjuntura teriam que aumentar os ordenados mas este crescimento teria um custo: a inflação! “Isto é um risco importante. Obviamente que precisamos estar vigilantes às estatísticas e muito atentos aos sinais de aumento de salários e remunerações. ” – dizia Yellen. Acredito que alguns tomem estas declarações como prova de alguma ideologia neoliberal desta economista. Para mim é algum descanso que a futura presidente do FED saberá tomar conta do recado quando a inflação se tornar um problema nos EUA, porque por certo este é um risco real num país onde se emite 2 mil milhões de dólares por dia. Uma característica importante para quem ocupe este lugar na Reserva Federal Americana é a sua capacidade de previsão. Não estou a falar de intuição, neste caso de intuição feminina, que já por si muitos poderiam pensar ser suficiente, estou a falar de uma real capacidade de interpretar em tempo útil os indicadores económicos disponíveis. O Wall Street Journal publicou um estudo em que 700 discursos e declarações de 14 responsáveis pela condução da política do FED, entre 2009 e 2012, eram analisadas. Janet Yellen foi a mais assertiva nas suas previsões (Bernanke foi 5º). O FED costuma publicar excertos das reuniões sobre a condução da política monetária, que são feitas à porta fechada. Em Dezembro de 2007, quando a maioria dos membros do Conselho dizia que o pior da crise do subprime já tinha passado, ela avisava “a possibilidade de uma crise no crédito e consecutivamente uma recessão económica é um risco muito real” Pois claro que tinha razão!No tempo em que Greenspan era presidente do FED Yellen, como aliás Bernanke, faziam parte dum grupo que defendia a explicitação de um objectivo numérico para a inflação. A maioria da altura nunca aprovou estas coisas com o argumento de que tiraria liberdade à actuação no FED mas é evidente que Yellen está aberta a este tipo de ferramentas. Aliás, há quem defenda que esta nomeação é muito apoiada por um conjunto de economistas, entre os quais o professor Michael Woodford, reconhecido como o maior especialista vivo em política monetária, que vão muito para além da explicitação de um objectivo da inflação, defendem sim é que se defina um objectivo para o PIB nominal. Este é um assunto técnico, polémico e sensível mas muitos defendem que a utilização deste mecanismo evitará futuros períodos de recessão. Não será certo a utilização desta medida mas sabemos que desde 1995 que Yellen defende politicas com o objectivo de minimizar o diferencial entre a inflação prevista e real e também entre o produto esperado e o real. Ora, chamando os bois pelos nomes, isto não é mais que fixar um PIB nomina!Uma crítica recorrente ao FED é que é o principal responsável pelas bolhas especulativas. Entenda-se responsável pelo que faz e pelo que não faz. É hoje fácil dizer que a especulação imobiliária americana teve como principal motor algumas maldades frequentes que os Bancos utilizam com o objectivo de ganharem dinheiro sem olhar a meios. Ora os Bancos fazem o que o FED os deixa fazer. Claro que as autoridades de supervisão são sempre responsáveis pelo que de mau acontece nos seus sectores. O paradoxo é que se levarem ao máximo a diligência de evitar o pior também condenam à partida o sector que regulam. A posição da futura presidente do FED é clara neste ponto. O ponto principal para a regulação financeira é estabelecer maiores necessidades de capital nos Bancos. Basicamente é dizer: podem correr riscos, mas desde que tenham dinheiro (próprio) que chegue. Outras medidas que poderemos esperar relacionam-se com os chamados “bancos sombra”, algo que na prática existe fora das competências atuais do regulador financeiro. Em resumo é prevenir recessões em vez de minimizar os seus efeitos, algo que parece lógico e que não é mais que o principal objectivo da política monetária. Não que isto possa ser considerado uma característica de Yellen mas não deixa de ser uma curiosidade. Estamos habituados a que a figura de “primeira-dama”, ou neste caso de “primeiro-cavalheiro”, se é que se pode usar este termo em relação à presidência do FED, seja alguém com interesses distintos. Ora neste caso não é, George Akerlof, com quem Yellen é casada, é também um economista reconhecido. Foi prémio Nobel de economia em 2001 pelo seu interessantíssimo trabalho sobre informação assimétrica (para quem não sabe o que é, é aquela coisa em que o exemplo mais usado é dos vendedores de carros usados, por não dizerem tudo o sabem aos potenciais compradores) e tem desenvolvido muita investigação na área das crises financeiras e da regulação financeira, em especial num aspecto da regulação que eu tratei aqui há uns meses, quando há conflito de interesses entre os incentivos dos gestores bancários e os Bancos respectivos, que muitos defendem ter estado na origem da crise do “sub-prime”. Há sempre, na nomeação destes lugares, como outros com efectiva relevância para as nossas vidas, uma enorme expectativa mas também desconfiança em quem os vai ocupar. Neste caso a escolha parece quase consensual, esta senhora terá tudo o que “precisamos” que tenha e dá 10 a 0 a qualquer possível alternativa. Evidentemente que lhe desejo o maior sucesso no desempenho do seu mandato até porque, parafraseando o nosso principal político, se as coisas lhe correm mal é o Mundo que perde!
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA FMI
Mónica Baldaque renuncia ao cargo de vereadora na Câmara do Porto
Mónica Baldaque, que integrou a lista de Luís Filipe Menezes à Câmara do Porto em terceiro lugar, renunciou ao mandato de vereadora para o qual foi eleita no dia 29 de Setembro, afirma a escritora num comunicado enviado ao PÚBLICO. “Pese ser nobilíssimo exercer o mandato de vereadora seja em que situação for, dado que era candidata independente, entendi devolver o mandato ao PSD, ponderando as razões subjacentes à minha candidatura e as que resultaram do acto eleitoral”, acrescenta Mónia Baldaque. A primeira mulher a integrar a candidatura Porto Forte reafirma no comunicado o seu “agradecimento” a Luís Filipe Men... (etc.)

Mónica Baldaque renuncia ao cargo de vereadora na Câmara do Porto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-16 | Jornal Público
TEXTO: Mónica Baldaque, que integrou a lista de Luís Filipe Menezes à Câmara do Porto em terceiro lugar, renunciou ao mandato de vereadora para o qual foi eleita no dia 29 de Setembro, afirma a escritora num comunicado enviado ao PÚBLICO. “Pese ser nobilíssimo exercer o mandato de vereadora seja em que situação for, dado que era candidata independente, entendi devolver o mandato ao PSD, ponderando as razões subjacentes à minha candidatura e as que resultaram do acto eleitoral”, acrescenta Mónia Baldaque. A primeira mulher a integrar a candidatura Porto Forte reafirma no comunicado o seu “agradecimento” a Luís Filipe Menezes, ao PSD e a todos os que estiveram na base do convite para se candidatar à Câmara do Porto, pelo apoio dado durante a campanha e pela compreensão para com a sua decisão de renunciar ao cargo. A pintora e escritora Mónica Baldaque segue, assim, as pisadas do cabeça de lista do PSD à Câmara do Porto, Luís Filipe Menezes, que, depois de alguns dias de reflexão, acabou por renunciar ao cargo de primeiro vereador eleito pelo PSD, na semana passada. Com a saída de Menezes, o primeiro vereador do PSD na Câmara do Porto passou a ser Amorim Pereira, advogado e ex-mandatário financeiro da candidatura social-democrata, e Ricardo Almeida, líder demissionário da concelhia do partido, passou a ter lugar no executivo. Agora devido à renúncia de Mónica Baldaque, Ricardo Valente é o senhor que se segue para o ocupar o cargo de vereador no município que vai ser presidido pelo independente Rui Moreira.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Felicidade Pública (7): A cultura faço-a eu!
“Porque me vestem com roupas emprestadas?”, Macbeth, William Shakespeare (I, iii, 109-110). A filósofa norte-americana Susan Neiman, no seu livro O Mal no Pensamento Moderno: para uma História Alternativa da Filosofia, descreve o terramoto de Lisboa de 1755 como a razão que levou ao fim do optimismo na cultura ocidental. Justifica com o fato do mal – seja natural, como o representado pelo terramoto, ou o moral, como o corporizado em Auschwitz ou Hiroshima – ameaçar a razão humana, desafiando assim a nossa esperança de que o mundo faça sentido. O terramoto foi um evento dramático da nossa história nacional que dei... (etc.)

Felicidade Pública (7): A cultura faço-a eu!
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.437
DATA: 2013-10-21 | Jornal Público
TEXTO: “Porque me vestem com roupas emprestadas?”, Macbeth, William Shakespeare (I, iii, 109-110). A filósofa norte-americana Susan Neiman, no seu livro O Mal no Pensamento Moderno: para uma História Alternativa da Filosofia, descreve o terramoto de Lisboa de 1755 como a razão que levou ao fim do optimismo na cultura ocidental. Justifica com o fato do mal – seja natural, como o representado pelo terramoto, ou o moral, como o corporizado em Auschwitz ou Hiroshima – ameaçar a razão humana, desafiando assim a nossa esperança de que o mundo faça sentido. O terramoto foi um evento dramático da nossa história nacional que deixou, portanto, uma pesada pegada cultural, em nós e no resto do mundo. Ao reler esta perspectiva histórica voltei a encarar a aparente dicotomia paradoxal e ondulante na retórica da nossa cultura, que parece tão marcadamente nossa: entre o acreditar e o não acreditar no futuro, entre o optimismo e o pessimismo, entre a vitimização e o desenrascanço, num “vai-se andando” de existências que não se expõem aos extremos, e que receiam afirmar-se, assim tricotando a nossa cultura de hoje. Como regra, o português não tem a coragem decidida de dizer que está bem ou muito bem, nem que está totalmente mal, como confirmamos no estudo que fizemos com o Instituto da Felicidade: navegamos nas águas não comprometidas dos 50%, do “mais ou menos”, da desresponsabilização, de uma assumida ausência de compromissos sobre o que sentimos ou o que esperamos ser. Tentamos passar pela vida assépticos, sem nos “sujarmos”, receosos, escondidos, sem posições deliberadas. Defesa da neutralidade? Preferência medrosa por emoções estéreis? Quem sabe se resquícios e fantasmas de um fascismo que ainda nos consome a existência coletiva. Não me comprometo. Ponto. Prefiro o silêncio à escolha resolvida e demarcada. Elejo a neutralidade na existência. Nem sim nem não. Não arrisco. O inferno são mesmo os outros. Aliás. . . Estas roupas são emprestadas, nem são minhas. . . Mas se a cultura é de facto feita de silêncios – o que decidimos omitir, o que ignoramos, o que desleixamos, o que descartamos – é também feita de palavras, que preenchem os nossos espaços relacionais. É igualmente da qualidade e sofisticação dos nossos discursos privados e públicos que se faz cada cultura, a qual é executada nas escolhas gramaticais, nas frases quotidianas, às vezes repetidas ad nausium. Como uma névoa corrosiva, as palavras e as frases que oferecemos ou impomos, mas não pensamos, os silêncios que não medimos ou que usamos intencionalmente para manipular, criam mundos e casulos de que somos autores, sem nos darmos por donos – porque isso era assumir um risco que os “mais-ou-menos” da vida repugnam. Mergulhados na cultura, deixamos de ver para além dela. O horizonte fixa-se na distância milimétrica dos nossos olhares míopes. As rotinas ensurdecem-nos. Habituados ao som, não somos capazes de ouvi-las. Estamos tão dentro das nossas próprias formas culturais – as quais manufaturamos a cada minuto – que acabamos exilados delas. Quer experimentar pensar no que já fez recentemente pela nossa cultura?Relembre o que já disse hoje. Que palavras usou para falar de si, da vida, do futuro, dos colegas, dos políticos, dos seus amores, dos media, do passado, do que está a ser este dia?. . . O que calou, o que preferiu suprimir?Se calhar já hoje disse “Vai-se andando. . . ”, ou começou frases por “Não. . . ”, quando a seguir ia concordar com o que estava em discussão. Ou neste dia em que falamos já iniciou qualquer tipo de conversas, mesmo sobre o bom da existência, por expressões como “O problema é. . . ”, mostrando que acredita, e leva outros a acreditar, que a vida é isso mesmo: uma sucessão imparável de problemas, sem dar tempo a fôlegos recuperadores, assim nos impedindo a todos uma vitalidade rejuvenescedora – até mesmo quando falamos do positivo. Provavelmente já referiu hoje, com muito ênfase: “É tudo muito complicado!” e assim espelhou a vida com perplexidades desanimadoras, que minoraram as oportunidades; como quando disse a um filho que com esforço atingiu um sucesso: “Não fizeste mais do que a tua obrigação”. É possível que já hoje tenha generalizado as experiências mais desagradáveis (“Nunca estás quieto”; “Este meu colega é sempre tão agressivo!”; “Não tens jeito nenhum para matemática”) e desacreditado as boas (“Uhm. . . Está-me a elogiar? Deve querer qualquer coisa. . . Esta palmadinha nas costas traz água no bico. . . ”). É provável que já hoje tenha falado de alguém “pelas costas”, mas tenha fugido a ser frontal em algo que precisava dizer-lhe. Que complexidades gramaticais e emotivas tem a nossa cultura!Por um lado não nos comprometemos, pugnando pela flacidez das posições ou pelo silêncio bem calado; por outro guiamos a vida e a cultura em direção a micro-apocalipses, enviesando a existência, dissimulando responsabilidades, consolidando formas cinzentas de viver. Quantas vezes não mutilamos aspirações com a forma como nos expressamos, ou não nos desresponsabilizamos porque evitamos emocionar-nos na vida publica? Quantas vezes também não delimitamos o publico e o privado, separando a vida como se os afetos fossem algo impossível de coexistir com a ciência, a política, ou a economia? Porque serão certos sentimentos aceites e valorizados na esfera privada e julgados irrelevantes ou até chocantes na esfera publica, convidando-nos a sectarismo artificiais e ao consequente amorfismo social e cultural?Uma explicação possível é a de que a consciência de nós mesmos em contexto, como parte de um todo, membros vivos de um coletivo, nos tenha sido estripada: convenceram-nos que aquilo que somos como pessoas em privado em nada se liga como o que somos como cidadãos; que o que se passa nos nossos discursos íntimos em nada alimenta uma cultura. Aliás, como todos aprendemos, o bom profissional deixa em casa as emoções. . . até porque não se pode mostrar vulnerável. . . Numa economia de mercado, dizem Oskar Negt e Alexander Kluge, a exclusão sistemática da experiência vivida é critica à sua manutenção e à vantagem do discurso político. Defendo por isso que é perigoso para a cultura e para a democracia que continue assim. Esta semana vivi na pele e no coração a integração harmoniosa destas artificiais dicotomias. Em discussões públicas dos trabalhos dos alunos finalistas do Executive Master em Psicologia Positiva Aplicada a decorrer no ISCSP da Universidade de Lisboa, fui testemunha de micro-transformações culturais e novas gramáticas, que uniram o público e o privado: uma juíza do Ministério Público a descrever um programa da sua autoria para potenciar o amor perante casos de violência doméstica; uma técnica de serviço social a apresentar empolgada os resultados fascinantes de um projeto que fez com mais três colegas para a promoção da consciência das virtudes e forças pessoais em jovens delinquentes sobre a alçada da justiça; uma professora portadora de nanismo acondroplásico a falar de maior bem-estar das pessoas com esta característica genética face ao comum dos cidadãos, uma historiadora a descrever o valor de longevidade de pessoas de idade avançada do interior sul do país que voltam a ter verdadeiro sentido de comunidade. . . Discursos decididamente posicionados, afetivos, diria mesmo apaixonados, pessoal e profissionalmente mesclados, que mostram propostas ontológicas e epistemológicas complementares à cultura vigente, e por isso mesmo, arquitetam cultura. E não são mudanças soltas nem insignificantes. No seu recente livro Emoções Politicas: Porque é que o Amor é importante para a Justiça, Martha Nussbaum faz o estudo dos discursos, da retórica e do enquadrar das Emoções Públicas para dar sentido ao que se passa na esfera coletiva e na sociedade civil. Crente de que os sentimentos mobilizam certas trajetórias – politicas, culturais, humanistas – a autora defende a relevância da promoção das emoções, e neste caso particular do Amor, como forma de reavivar as múltiplas mortes anunciadas das nossas existências conjuntas. Sem amor, diz-nos, não há políticas democráticas bem oleadas nem justiça social. Sim: unir a política e as políticas a emoções como o amor. Receio que o amassar da cultura pelas nossas próprias mãos – tal como, queiramos ou não, fazemos todos os dias – se continuar a ser feito esterilmente, sem nos comprometermos, e sem consciência do nosso poder, se arrisque a transformar numa forma de controlo social e ideológico, poderosa, invisível e acrítica, uma espécie de autoridade moral, perigosamente e inconscientemente feita por cada um de nós a cada instante. Seremos assim autores de textos culturais anónimos: uma espécie de névoa corrosiva que serve de proteção psicológica, que parece dizer: “Detesto a nossa cultura. . . mas não me considero parte dela. São os outros que a fazem”. Com uma cultura sonsa, dissimulada e não consciente, lesamos a possibilidade de novas linguagens e gramáticas de vida, e submergimos o poder da transformação. Seremos todos colonizadores, mas continuaremos a sentir-nos como população indígena, maltratados pela cultura, que acreditamos que nos é externa. Poderemos continuar a sentir-nos vítimas, claro, mas creio antes que nos cabe ser expoentes de uma liberdade criativa no fazer culturas, aquela liberdade que detestam os decisores e burocratas das certezas. Se estes não forem tempos para sermos irreverentes, subversivos e criativos, se não for o momento para cultivar emoções escolhidas e cruzar privado e público, se não for a altura para tomarmos posições comprometidas, então quando será?A cultura somos nós. Comecemos por isso com a dúvida – que Jorge Luis Borges diz ser outro nome para Inteligência – e reconheçamos o nosso papel na viragem para outra forma de existir em cultura. Porque a cultura consciente arranca de nós uma dimensão existencial escondida, uma voz abafada, que temos que gritar, alto, cada vez mais alto. Precisamos de mais demarcação, de mais afetos e de mais consciência para tornar a vida coletiva de novo real, visível e vivível. Devemos isso à história. Permita-me que lhe pergunte: o que está disposto(a) a gritar em voz bem alta?Helena Marujo é professora universitária no ISCSP/UTL. A autora escreve ao abrigo do acordo ortográfico. Referências:Neiman, S. (2004). Evil in Modern though: an alternative history of Philosophy. Princeton: Princeton University Press. Instituto da Felicidade: http://cocacola. pt/institutodafelicidade/Negt, O. , & Kluge, A. (1993). Public Sphere and Experience: Toward an Analysis of the Bourgeois and Proletarian Public Sphere. Minneapolis: University of Minnesota Press. Nussbaum M. (2013). Political Emotions: Why Love Matters for Justice. Harvard: Harvard University Press.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência cultura exclusão filho comunidade social estudo espécie doméstica
Meter a colher
Adistinção entre espaço público e espaço privado é um conceito fundamental da modernidade, e está fora de causa um jornal de referência invadir a privacidade de quem não a deseja mostrar. Mas o PÚBLICO, ao optar, até ao momento em que escrevo, por não noticiar o caso Bárbara Guimarães/Manuel Maria Carrilho, está a fazer uma outra coisa, que me parece criticável - manter como privado aquilo que os envolvidos decidiram tornar público. Ora, há uma diferença significativa entre ir espreitar pelo buraco da fechadura, como é próprio dos tablóides, e tapar os olhos com as mãos porque se considera que o espectáculo é ind... (etc.)

Meter a colher
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-31 | Jornal Público
TEXTO: Adistinção entre espaço público e espaço privado é um conceito fundamental da modernidade, e está fora de causa um jornal de referência invadir a privacidade de quem não a deseja mostrar. Mas o PÚBLICO, ao optar, até ao momento em que escrevo, por não noticiar o caso Bárbara Guimarães/Manuel Maria Carrilho, está a fazer uma outra coisa, que me parece criticável - manter como privado aquilo que os envolvidos decidiram tornar público. Ora, há uma diferença significativa entre ir espreitar pelo buraco da fechadura, como é próprio dos tablóides, e tapar os olhos com as mãos porque se considera que o espectáculo é indigno, como o PÚBLICO está a fazer. Esta atitude, embora cheia de boas intenções e justificada por nobres motivos éticos e jornalísticos, acaba por ser uma forma indirecta de paternalismo, particularmente discutível quando aquilo que está em causa é uma denúncia de violência doméstica, a que se seguiu um ataque descabelado de Manuel Maria Carrilho à mãe e aos avós dos seus dois filhos mais novos. Repito, para que não fiquem quaisquer dúvidas sobre isto: ainda que uma figura pública retire benefícios do seu estatuto - desde logo, reconhecimento, que se traduz em prestígio e em dinheiro -, tal não significa que tenhamos o direito de exigir em troca a eliminação da sua privacidade. Isso seria expropriar um cidadão do direito à intimidade, valor sagrado em qualquer democracia, tanto para anónimos como para famosos. Contudo, quando é a própria figura pública a optar por expor a sua privacidade, ainda que da forma mais crua e pelos piores motivos, nós não devemos eximir-nos de efectuar um escrutínio público (e, já agora, moral, essa palavra que assusta tantos filósofos da pós-modernidade) das suas acções, até porque tais acções são amplificadas precisamente por se ser uma figura pública. A opção pela não-notícia, nesse sentido, acaba paradoxalmente por ser uma opção muito pouco neutra, porque ela opta pelo silenciamento num caso em que se exige a denúncia de um comportamento a todos os títulos inadmissível. Não noticiar é condescender, é dar corpo à velha máxima "entre marido e mulher não se mete a colher". Ora, como me parece óbvio, há casos, como este, em que se tem a obrigação de meter a colher - não porque se saiba que Bárbara Guimarães foi efectivamente vítima de violência doméstica (o que existe neste momento é uma queixa), mas porque se sabe que Manuel Maria Carrilho, enquanto marido mas sobretudo enquanto pai, ultrapassou todos os limites do civismo e da decência nas sucessivas declarações que proferiu à comunicação social. Reduzir o que se está a passar a simples voyeurismo das massas é, por isso, uma falácia. Em primeiro lugar, porque a questão da violência doméstica é um problema gravíssimo em Portugal, que está longe de ter a atenção que merece, e que temos a obrigação de levar sempre a sério - e investigar - quando é denunciado. Em segundo lugar, porque um jornal de referência não é só feito de páginas de política e de economia, e quando um caso de vida se impõe com tanta força como este, ignorar não é uma opção. Pelo contrário: ignorar pode ser considerado uma forma, ainda que involuntária, de indiferença. Ora, nem toda a gente que pára diante de um acidente é um mirone. Há quem queria apenas ajudar. E ajudar a compreender o que acontece, e a denunciar aquilo que está mal, é a mais nobre das tarefas de um jornal de referência. Como o PÚBLICO se orgulha, justamente, de ser. Jornalista jmtavares@outlook. com
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência ataque mulher social doméstica corpo
Alguém se esqueceu de salvar o capitalismo?
Em todas as épocas há paradoxos ou situações desconfortáveis face ao uso de certas palavras (mesmo sem se perceber bem porquê). Por exemplo, por não usarmos mais vezes a palavra "capitalismo" podemos estar à beira de continuar a fazer mais disparates do que as economias de mercado podem suportar. Há palavras em desuso, como "proletariado", e outras que se vai aprendendo a usar, como "precariado". Falamos muito de "mercados", inclusive definimos o nosso mundo económico como "economia de mercado", mas falamos pouco de "capitalismo". E isso é um problema, porque quando não falamos, ignoramos. E ignorar leva a que nã... (etc.)

Alguém se esqueceu de salvar o capitalismo?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-01 | Jornal Público
TEXTO: Em todas as épocas há paradoxos ou situações desconfortáveis face ao uso de certas palavras (mesmo sem se perceber bem porquê). Por exemplo, por não usarmos mais vezes a palavra "capitalismo" podemos estar à beira de continuar a fazer mais disparates do que as economias de mercado podem suportar. Há palavras em desuso, como "proletariado", e outras que se vai aprendendo a usar, como "precariado". Falamos muito de "mercados", inclusive definimos o nosso mundo económico como "economia de mercado", mas falamos pouco de "capitalismo". E isso é um problema, porque quando não falamos, ignoramos. E ignorar leva a que não questionemos e, por consequência, não detectemos as falhas. Em Portugal, mesmo no período da "Grande Recessão" em que vivemos, dificilmente encontramos quem (à direita ou à esquerda) publicamente se sinta à vontade para numa conversa, formal ou informal, falar sobre o "capitalismo". No entanto, falamos todos os dias muito sobre "mercados", "bancos", "os mais ricos de Portugal" (sim, no masculino, pois a desigualdade de género impera também na riqueza) e também sobre "salários", "investimentos", "moeda" e menos sobre "trabalhadores", mas ainda assim bastante sobre "sindicatos". Porquê falar sobre estas palavras todas? Porque pode ser que o nosso pensamento sobre o futuro e sobre a nossa capacidade de construir riqueza e crescimento esteja assente em premissas erradas. Ou seja, e se a solução para o crescimento não passar apenas por tentar ter mais empreendedores ou ter mais cortes?E se não for possível, com a actual estrutura de distribuição de riqueza, ter mais crescimento que os 1, 5% nos países europeus? E nem ter o crédito abundante necessário para investir?E se o problema estiver na concentração excessiva de riqueza em 1% da nossa população e no exagero salarial entre "quem gere" e "quem tem emprego"? E não apenas nas metas políticas de austeridade e equilíbrio de contas públicas?Com dúvidas? Sim? Óptimo? Avancemos então e passemos das palavras às letras. Se "r > g", então o empreendedorismo e as políticas de austeridade e equilíbrio de contas públicas podem não servir para grande coisa, pois estamos a tratar sintomas e não as causas dos problemas. As duas letras e o sinal de maior, "r > g", fazem parte do título da conclusão do livro de Thomas Piketty, recentemente traduzido para inglês pela Harvard University Press e intitulado Capital no Século XXI - o qual lidera actualmente o top de vendas de livros da Amazon. com. Piketty analisa, ao longo dos últimos séculos, a evolução da riqueza nos EUA, França e outros países europeus concluindo que a principal força de desestabilização das economias de mercado reside no facto de "r" (taxa de retorno do capital investido, isto é, lucros, dividendos, juros e rendas) poder ser quase sempre maior, durante larguíssimos períodos de tempo, do que o "g" (taxa de crescimento económico). A contradição a que se refere Piketty é que, no actual quadro de funcionamento das economias, o empreendedor inevitavelmente se transforma em gestor de rendas, com cada vez mais domínio face aqueles que não possuem mais do que o seu trabalho. Os ricos mais ricos ficam enquanto todos os outros, que dependem dos seus empregos, lutam para manter o que ganham acima da linha da inflação. A análise de Piketty demonstra que o capital acumulado se reproduz muito mais rápido do que o rendimento do trabalho. A riqueza acumulada no passado cresce mais rapidamente que os salários e, portanto, o passado devora o futuro. Após um maior equilíbrio episódico, ocorrido nas três primeiras décadas da segunda metade do século XX, estamos aceleradamente a regressar a uma era de capitalismo patrimonial. Essa "normalidade" corresponde à situação histórica em que uma muito pequena minoria vive de rendas da riqueza acumulada o que, virtualmente, condiciona também o reinvestimento directo na produção económica. É verdade que o crescimento pode ser encorajado por investimentos na educação, conhecimento e tecnologias não poluentes, mas nenhuma destas opções vai aumentar as nossas taxas de crescimento para 4 a 5% ao ano por forma a acompanhar a rentabilidade das rendas de capital. Se a isto tudo juntarmos que, estando os nossos países europeus na fronteira tecnológica actual, não são previsíveis taxas de crescimento económico como as vividas no passado europeu, ou actualmente na China, teremos completo o quadro expectável onde nos iremos movimentar nos próximos anos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Da mudança de presidente à mudança de regime
Os turcos elegem directamente, pela primeira vez, um Presidente da República. Até agora era eleito pelo Parlamento. Estas eleições têm, no entanto, um alcance muito maior: abrem caminho a uma mudança de regime. Recep Tayyip Erdogan aposta num sistema presidencialista, que lhe dará vastos poderes. Tem em mente o modelo francês. Quando se fala em mudança de regime não se pensa apenas no aspecto constitucional: refere-se o risco de uma deriva para um regime de poder pessoal, uma democracia plebiscitária. Os adversários acusam-no de sonhar com Luís XIV: “L’Etat, c’est moi. ”Comecemos pela votação de hoje e pela polít... (etc.)

Da mudança de presidente à mudança de regime
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-10 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140810170304/http://www.publico.pt/1665950
TEXTO: Os turcos elegem directamente, pela primeira vez, um Presidente da República. Até agora era eleito pelo Parlamento. Estas eleições têm, no entanto, um alcance muito maior: abrem caminho a uma mudança de regime. Recep Tayyip Erdogan aposta num sistema presidencialista, que lhe dará vastos poderes. Tem em mente o modelo francês. Quando se fala em mudança de regime não se pensa apenas no aspecto constitucional: refere-se o risco de uma deriva para um regime de poder pessoal, uma democracia plebiscitária. Os adversários acusam-no de sonhar com Luís XIV: “L’Etat, c’est moi. ”Comecemos pela votação de hoje e pela política corrente. Erdogan tem sorteAs últimas sondagens disponíveis (realizadas em Julho) indicam a provável vitória do líder do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) logo na primeira volta. Desde 2002, o AKP ganhou oito eleições consecutivas: três parlamentares, três locais e dois referendos. Erdogan é um extraordinário actor eleitoral. Por outro lado, teve à sua disposição uma esmagadora máquina de propaganda, inclusive com recursos do Estado. A sua popularidade, embora em relativa erosão, permanece muito alta. Os dois principais partidos da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP, secularista de esquerda) e o Partido do Movimento Nacionalista (MHP, nacionalista de direita) “ajudaram” Erdogan. Escolheram um candidato de unidade, independente e com perfil religioso: Ekmeleddin Ihsanoglu. É um intelectual prestigiado, diplomata competente e antigo secretário-geral da Organização para a Cooperação Islâmica. No entanto, mostrou não ter carisma nem experiência política. Defendeu a manutenção do regime parlamentarista, mas foi infeliz na formulação ao declarar que o Presidente “não deve fazer política”. Deu o melhor argumento de campanha a Erdogan, que prometeu ser um presidente activo, decidido a impor as suas escolhas ao governo e a promover reformas profundas. O terceiro candidato, o curdo Selahattin Demirtas, 41 anos, será a surpresa. Poderá duplicar a votação tradicional do partido curdo, aproximando-se dos 10 %. O segredo foi alargar a sua campanha para lá da causa curda, tornando-se porta-voz de todas as minorias, do feminismo, do ambiente, da tolerância dos costumes e da descentralização administrativa. A chave da popularidadeA que deve Erdogan tanta popularidade após mais de uma década de poder? Kemal Karpat, o grande historiador político da Turquia, responde numa entrevista: “O AKP fez coisas extraordinárias na última década. (. . . ) A Turquia mudou em termos materiais. Há seis meses viajei pela Anatólia. É inacreditável. As aldeias e cidades que conheci há seis anos mudaram completamente. ” O rendimento per capita da população foi multiplicado por quatro. Mas, ao mesmo tempo, a sociedade mudou. “Emergiu uma nova geração, assumindo novos valores e aspirações. Os antigos padrões já não são suficientes. Estou a falar nos padrões de há 15 anos atrás. O AKP fez isto. ” E reside aqui o novo desafio: saberá responder aos novos valores e aspirações? É o critério por que Erdogan será julgado. O AKP protagonizou, com o apoio das elites liberais e com a cobertura da Europa, uma outra mudança de regime: pôs termo à democracia tutelada pelos militares. Desde os anos 1960 que a regra era: “Os militares mandam mas não governam. ” As grandes decisões políticas e estratégicas dependiam dos comandos militares. Bastava um comunicado do estado-maior para fazer cair um governo. Eram os guardiões da ortodoxia kemalista e da unidade nacional — em particular na questão curda. O ano decisivo foi 2007 quando as Forças Armadas vetaram a candidatura de Abdullah Gül à presidência e tiveram de recuar. E, em 2010-11, Erdogan impôs a supremacia do governo na nomeação das chefias militares. O secularismo radical dos kemalistas, que dominavam a administração pública e os tribunais, foi abolido. Também aqui, os “padrões” de há 15 anos atrás mudaram radicalmente. Democracia em risco?A grande questão está noutro plano. É assim equacionada pelo editorialista Kerim Balci no diário Zaman: “Não é segredo que o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan está a planear transformar a democracia parlamentar turca numa oligarquia presidencial. Está a planear o controlo dos quatro poderes — o legislativo, o executivo, o judicial e os media — de forma tornar-se num presidente que tudo concentra. ” Balci, tal como o Zaman, estão ligados ao movimento do líder religioso Fetullah Gülen, que de aliado de Erdogan se tornou no seu mais severo crítico.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave feminismo
Nobel da Paz 2003 pede libertação dos presos políticos iranianos
A nova Prémio Nobel da Paz, a jurista iraniana Shirin Ebadi, pediu hoje a libertação dos prisioneiros políticos no Irão e manifestou-se contra qualquer intervenção estrangeira no seu país de origem. Falando na primeira conferência de imprensa desde que foi galardoada pelo Comité Nobel norueguês, realizada em Paris, Ebadi fez questão de sublinhar que o Islão "não é incompatível com os direitos do Homem". "Actualmente, inúmeras pessoas que lutam pela liberdade e pela democracia estão na prisão. Desejo a sua libertação o mais rapidamente possível", afirmou aos jornalistas. "O combate pelos direitos humanos está a se... (etc.)

Nobel da Paz 2003 pede libertação dos presos políticos iranianos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2003-10-10 | Jornal Público
TEXTO: A nova Prémio Nobel da Paz, a jurista iraniana Shirin Ebadi, pediu hoje a libertação dos prisioneiros políticos no Irão e manifestou-se contra qualquer intervenção estrangeira no seu país de origem. Falando na primeira conferência de imprensa desde que foi galardoada pelo Comité Nobel norueguês, realizada em Paris, Ebadi fez questão de sublinhar que o Islão "não é incompatível com os direitos do Homem". "Actualmente, inúmeras pessoas que lutam pela liberdade e pela democracia estão na prisão. Desejo a sua libertação o mais rapidamente possível", afirmou aos jornalistas. "O combate pelos direitos humanos está a ser travado no Irão pelo povo iraniano e estamos contra qualquer intervenção do estrangeiro no nosso país", acrescentou, numa referência às crescentes ameaças dos EUA contra o país. "O tempo das revoluções e das guerras acabou", insistiu. A jurista Ebadi foi a primeira mulher a ascender à magistratura iraniana ainda antes da Revolução Islâmica de 1979 disse que a distinção da Academia Nobel é "uma grande honra". "Este dia não me pertence a mim, mas a todos os militantes dos direitos humanos em todo o mundo", disse. Ebadi, a primeira mulher muçulmana a ser distinguida com o Nobel da Paz, sublinhou que esta distinção dará um novo alento à sua causa, dando-lhe novas forças "para continuar a lutar neste combate por um mundo melhor". Na sua primeira conferência de imprensa, Ebadi não esqueceu a actual situação dos direitos humanos nos territórios palestinianos, "porque vive-se aí uma situação diferente dos restantes países muçulmanos". "É uma guerra desigual de pedras contra um Exército tão poderoso" como o israelita, sublinhou. Afastada pela Revolução Islâmica da magistratura, a jurista destaca-se actualmente como activista dos direitos humanos, em particular na defesa das mulheres e crianças, e pelo ensino na Universidade de Teerão. Ebadi, que já tinha sido distinguida com o prémio Rafto em 2001, também relativo à defesa dos direitos humanos, dissera já este ano que no Irão "existe uma luta contínua pela democracia e pelos direitos humanos" e que "o povo iraniano quer reformar o seu sistema político e legal", por isso, vai continuar a lutar "contra as poucas pessoas que detêm o poder". O galardão atribuído a Ebadi será, por isso, de difícil digestão para a teocracia iraniana, numa altura em que o país enfrenta pressões crescentes da comunidade internacional devido à intenção de Teerão de desenvolver um programa nuclear. A facção mais conservadora do regime iraniano terá ficado especialmente incomodada com a distinção atribuída à Ebadi, já que o Comité Nobel a destacou como um exemplo de coexistência entre a religião islâmica e os direitos humanos. Shirin Ebadi é a décima primeira mulher a receber o galardão desde que este foi instituído, em 1901. O prémio consiste na distinção internacional, mas também na atribuição de dez milhões de coroas suecas (cerca de 1, 4 milhões de euros). Ebadi foi distinguida de entre um lote de 165 candidatos, entre os quais figuravam o Papa João Paulo II e o antigo Presidente checo Vaclav Havel. Analistas citados pela Reuters afirmam que a comissão terá escolhido a magistrada iraniana em função de uma aposta na mudança, ao invés do reconhecimento do trabalho de uma vida, como seria o caso da atribuição ao Papa, que era por muitos tido como o vencedor mais provável.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Portugal perdeu "uma grande mulher"
Maria de Lourdes Pintasilgo morreu esta madrugada, aos 74 anos, depois de uma vida dedicada à política e às questões sociais do país. Recordada por várias personalidades, a grandiosidade e generosidade são as qualidades mais destacadas naquela que foi a primeira e única mulher portuguesa a assumir a chefia do Governo. Numa nota emitida pela Presidência da República, Jorge Sampaio diz ter sido "com muito pesar e tristeza" que recebeu a notícia da morte de Maria de Lourdes Pintasilgo, "de quem era velho amigo e admirador", apresentando "sentidas condolências aos que lhe eram próximos". "Perdemos assim uma cidadã no... (etc.)

Portugal perdeu "uma grande mulher"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.8
DATA: 2004-07-10 | Jornal Público
TEXTO: Maria de Lourdes Pintasilgo morreu esta madrugada, aos 74 anos, depois de uma vida dedicada à política e às questões sociais do país. Recordada por várias personalidades, a grandiosidade e generosidade são as qualidades mais destacadas naquela que foi a primeira e única mulher portuguesa a assumir a chefia do Governo. Numa nota emitida pela Presidência da República, Jorge Sampaio diz ter sido "com muito pesar e tristeza" que recebeu a notícia da morte de Maria de Lourdes Pintasilgo, "de quem era velho amigo e admirador", apresentando "sentidas condolências aos que lhe eram próximos". "Perdemos assim uma cidadã notável, que serviu Portugal nos mais altos cargos e funções, sempre com grande talento, dedicação inexcedível e numa atitude permanentemente inovadora", afirma o Presidente da República, que na última semana tinha recebido a antiga primeira-ministra no âmbito das consultas efectuadas sobre a crise política criada com a demissão do primeiro-ministro. Jorge Sampaio destaca ainda que Pintasilgo, "como primeira- ministra, embaixadora, deputada ao Parlamento Europeu, marcou a sua acção por um sentido ímpar de serviço à comunidade, pela energia contagiante e mobilizadora, pela originalidade de propostas e métodos de trabalho, que sacudiam as rotinas do pensamento e os hábitos instalados, pela militância nas grandes causas emancipadoras e solidárias do nosso tempo". O primeiro-ministro cessante, Durão Barroso, manifestou também o seu pesar pela morte de Pintasilgo, sublinhando que "é-lhe devido o maior tributo por ter dado o seu melhor ao serviço do país, com a sua sensibilidade e com as suas convicções", numa mensagem enviada à família da primeira mulher que chefiou um governo em Portugal. Também o líder do PSD, Pedro Santana Lopes, recordou Pintasilgo e manifestou o "pesar pelo desaparecimento de uma grande senhora, uma senhora com causas, convicções, sempre preocupada com os mais desfavorecidos", que "esteve sempre com elegância" ao longo da sua vida pública, e que o "respeito pelos adversários" era a sua imagem de marca. "Serviu sempre o nosso país de modo distinto. Portugal fica a perder", concluiu o líder dos social-democratas. Já o secretário-geral do CDS-PP, Luís Pedro Mota Soares, afirmou que, "independentemente das diferenças ideológicas, o CDS-PP mostra o seu respeito pela convicção com que Maria de Lourdes Pintasilgo dirigiu toda a sua vida, dedicada às causas em que acreditava, e no serviço que colocou à causa pública". Ferro Rodrigues deixou igualmente o seu lamento pela morte de Pintasilgo, a quem se referiu como "uma grande portuguesa". "Maria de Lourdes Pintasilgo manteve, até ao fim da sua vida, uma intervenção cívica sempre guiada por um princípio básico: uma luta intransigente e incessante pelos desfavorecidos", sublinhou. Por sua vez, o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, salientou que Portugal "perdeu uma mulher combativa, uma democrata e uma lutadora". "Foi com grande tristeza que soube da morte de Maria de Lourdes Pintasilgo, uma amiga com quem estive nos governos provisórios e lado a lado em muitos acontecimentos da nossa vida política e colectiva", disse Carvalhas. O Bloco de Esquerda lembrou a "generosidade" e o "mérito" de Pintasilgo, com Francisco Louçã a frisar que a ex-primeira-ministra foi uma pessoa que "marcou muito Portugal". "Foi a primeira mulher com grande destaque na democracia, e com grande mérito", afirmou o dirigente bloquista, concluindo que "a sua generosidade tem de ser uma marca na política portuguesa". A deputada e líder do Partido Ecologista "Os Verdes", Isabel de Castro, recordou Pintasilgo como "uma mulher singular e, seguramente, na sua marca diferenciada, um património da esquerda", "uma mulher de causas que se bateu apaixonadamente em defesa da igualdade entre mulheres e homens e por uma justiça social e ambiental no mundo". Maria de Lourdes Pintasilgo morreu esta madrugada na sua casa, em Lisboa, vítima de paragem cardíaca. O seu corpo encontra-se em câmara ardente a partir das 16h00 na Basílica da Estrela, em Lisboa. O funeral realiza-se amanhã, às 14h30, no Cemitério dos Prazeres. Hoje será celebrada uma primeira missa às 21h30.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD PCP
Pobreza ameaça um quinto da população portuguesa
Dois em cada dez portugueses encontram-se em "risco de pobreza", segundo o relatório da agência Habitat das Nações Unidas. A União Europeia (UE) tem registado um aumento "dramático" da pobreza nos últimos30 anos devido à imutabilidade do desemprego. Portugal ocupa o segundo lugar, atrás da Grécia, no que toca aos níveis de pobreza da antiga UE a 15. O relatório aponta que cerca de 22 por cento da população portuguesa "está em risco de pobreza ou vive com um salário que equivale a menos de 60 por cento da média nacional de rendimentos". Estes números não são surpresa para as instituições que trabalham com a popula... (etc.)

Pobreza ameaça um quinto da população portuguesa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2004-09-14 | Jornal Público
TEXTO: Dois em cada dez portugueses encontram-se em "risco de pobreza", segundo o relatório da agência Habitat das Nações Unidas. A União Europeia (UE) tem registado um aumento "dramático" da pobreza nos últimos30 anos devido à imutabilidade do desemprego. Portugal ocupa o segundo lugar, atrás da Grécia, no que toca aos níveis de pobreza da antiga UE a 15. O relatório aponta que cerca de 22 por cento da população portuguesa "está em risco de pobreza ou vive com um salário que equivale a menos de 60 por cento da média nacional de rendimentos". Estes números não são surpresa para as instituições que trabalham com a população carenciada, como a Cais. Segundo Vanda Ramalho, daquela associação, deve-se até quadruplicar as estatísticas sobre a pobreza e os sem-abrigo, pois existem sempre franjas da população que escapam aos estudos. "Estes dados devem funcionar como um alerta de que a pobreza também existe nas grandes potências mundiais e não se trata de um fenómeno exclusivo do terceiro mundo", acrescenta. No estudo que avalia o estado das cidades, a Suécia é o país que regista o valor mais baixo de pobreza populacional, com 8 por cento. Os países que têm um índice de pobreza acima da média dos 15 da UE (15 por cento) são o Reino Unido, a Itália, a Irlanda e a Espanha. O número de sem-abrigo na Europa Ocidental tem aumentado e atinge actualmente o valor mais elevado em 50 anos. Calcula-se que mais de três milhões de pessoas vivem nas ruas das principais cidades europeias (ver texto nestas páginas). Os sem-abrigo portugueses são referidos no relatório das Nações Unidas, que aponta para a existência de 1300 pessoas a viverem nas ruas de Lisboa, em 2000, e 1000 no Porto. No entanto, Vanda Ramalho defende que o número é mais elevado, reflectindo-se, por exemplo, no número de cartões dos refeitórios da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para os sem-abrigo, que são 1700. As causas apontadas pelas Nações Unidas para esta situação são os problemas económicos, a violência doméstica e o HIV/sida. A violência doméstica está também relacionada com o aumento dos sem abrigo, pois só no Reino Unido 63 por cento das mulheres que vivem na rua fugiram de situações de violência doméstica. A associação Cais concorda com estas conclusões, pois a maioria das pessoas que vivem na rua sofreram rupturas afectivas e sentem-se excluídas da sociedade. O relatório refere ainda que é impossível a comparação internacional nesta área, devido às diversas definições nacionais de sem abrigo. A solução para estes problemas passa por "repensar a política social e torná-la uma prioridade em todas as áreas" conclui Vanda Ramalho.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Três cosmonautas vindos da ISS regressaram à Terra
A cápsula espacial que transportava três cosmonautas - dois russos e um malaio - aterrou esta manhã nas estepes do Cazaquistão quando eram 11h43 (hora de Lisboa), anunciou o Centro russo de controlo dos voos espaciais. Sheikh Muszaphar Shukor descolou a 10 de Outubro do cosmódromo russo de Baikonur, no Cazaquistão, a bordo de um foguetão Soiuz, em direcção à Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês), com a americana Peggy Whitson, a primeira mulher a comandar a ISS, e o russo Iuri Malentchenko. Os seus dois colegas russos, de regresso à Terra, Fedor Iurtchikhin e Oleg Kotov, chegados em Abril à ISS, p... (etc.)

Três cosmonautas vindos da ISS regressaram à Terra
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2007-10-21 | Jornal Público
TEXTO: A cápsula espacial que transportava três cosmonautas - dois russos e um malaio - aterrou esta manhã nas estepes do Cazaquistão quando eram 11h43 (hora de Lisboa), anunciou o Centro russo de controlo dos voos espaciais. Sheikh Muszaphar Shukor descolou a 10 de Outubro do cosmódromo russo de Baikonur, no Cazaquistão, a bordo de um foguetão Soiuz, em direcção à Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês), com a americana Peggy Whitson, a primeira mulher a comandar a ISS, e o russo Iuri Malentchenko. Os seus dois colegas russos, de regresso à Terra, Fedor Iurtchikhin e Oleg Kotov, chegados em Abril à ISS, passaram seis meses no espaço.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher