SEF desmantela rede de prostituição em Viseu
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras deteve três mulheres que permaneciam ilegalmente no país e que foram presentes ao Tribunal de Viseu para interrogatório judicial e para aplicação das respectivas medidas de coação. (...)

SEF desmantela rede de prostituição em Viseu
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras deteve três mulheres que permaneciam ilegalmente no país e que foram presentes ao Tribunal de Viseu para interrogatório judicial e para aplicação das respectivas medidas de coação.
TEXTO: As detenções hoje anunciadas decorreram na passada quinta-feira no âmbito de uma operação de investigação no combate ao auxílio à imigração ilegal e lenocínio, que decorreu em Viseu. O objectivo, segundo explica o SEF em comunicado, era “desmantelar uma organização criminosa de cariz transnacional que se dedicava, de forma reiterada, à exploração sexual de mulheres em apartamentos na cidade”. Na mesma nota, o serviço acrescenta que “Foram executados três mandados judiciais para realização de buscas a domicílios de suspeitos bem como demais diligências para recolha de prova. Em causa está a prática de crimes de auxílio à imigração ilegal e lenocínio, entre outros, incluindo assim a angariação de mulheres em situação ilegal, em Portugal e no estrangeiro, para a prática da prostituição”. Da operação resultou, ainda, a constituição como arguidas no processo de uma cidadã nacional e de uma cidadã estrangeira. Foram também recolhidas provas, como “comprovativos de transferências, depósitos bancários, numerário e demais documentação relacionada com os ilícitos sob investigação”. O inquérito está agora nas mãos do Ministério Público de Viseu.
REFERÊNCIAS:
Entidades SEF
Secretária de Estado estranha que se trafiquem mais homens que mulheres em Portugal
A secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais, estranha que Portugal tenha “mais homens traficados que mulheres” e mais tráfico de seres humanos para “exploração laboral do que para exploração sexual”. (...)

Secretária de Estado estranha que se trafiquem mais homens que mulheres em Portugal
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.225
DATA: 2011-10-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais, estranha que Portugal tenha “mais homens traficados que mulheres” e mais tráfico de seres humanos para “exploração laboral do que para exploração sexual”.
TEXTO: Esta “não é a tendência que se regista no mundo inteiro” nem na Europa, designadamente “em relação aos países com quem faz sentido que nos comparemos”, sublinhou a governante, que falava aos jornalistas hoje, em Coimbra, à margem do colóquio “Tráfico de Seres Humanos”, promovido pela lus Gentium Conimbrigae/Centro de Direitos Humanos, da Faculdade de Direito daquela cidade. “Os números retirados do último relatório de tráfico de seres humanos”, divulgado há pouco tempo, revelam “uma situação que, a existir em Portugal com estes contornos, destoa fortemente da tendência europeia e mundial”, afirmou Teresa Morais. Com tal constatação, a secretária de Estado da Igualdade não quer, todavia, dizer que os dados do relatório do Observatório do Tráfico dos Seres Humanos (OTSH) – que se limita a “registar os números que recebe dos órgãos de polícia criminal” – “não são fiáveis”, mas antes, que pode estar a acontecer em Portugal aquilo que já sucedeu noutros países. Perante a “dificuldade da prova do crime de tráfico, podem estar a ser sinalizados crimes como sendo tráfico, mas depois confirmados sobre outra forma, designadamente lenocínio, emigração ilegal, associação criminosa, sequestro”, admite a governante. “Precisamos de ter a certeza se essa dificuldade da prova do crime do tráfico não está a provocar algum desvio na qualificação dos actos criminosos que são identificados pelas polícias e que perante essa dificuldade acabam por confirmar a existência de outro crime mais fácil de provar”, salientou Teresa MoraisInstada pelos jornalistas, a secretária de Estado explicitou assim a afirmação que fizera na abertura do colóquio, considerando que “as estatísticas portuguesas podem não ser perfeitas” e que “é altura de clarificar essas dúvidas”. Entretanto, “vai ser feita uma reunião de trabalho com todos os órgãos de polícia criminal”, para “perceber as dificuldades com que se deparam os agentes” para a qualificação deste tipo de crimes, revelou Teresa Morais. No âmbito do colóquio que decorre hoje – Dia Europeu contra o tráfico de seres Humanos – o OTSH, que funciona junto do Ministério da Administração Interna, assinou, após a sessão de abertura, um memorando de entendimento com 16 entidades, entre as quais GNR, PSP, Polícia Judiciária e Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), além de outras entidades públicas e não-governamentais. Embora estivesse anunciada a presença do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo não participou na abertura do colóquio e formalização daquele memorando de entendimento, por “impedimento de última hora”, disse Teresa Morais.
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR PSP SEF
Com a eleição de Leo Varadkar abrem-se as portas para uma nova e moderna Irlanda
O jovem político e médico foi eleito líder do Fine Gael, abrindo caminho para a chefia do Governo. Homossexual assumido, promete tornar a Irlanda conservadora numa Irlanda socialmente moderna. (...)

Com a eleição de Leo Varadkar abrem-se as portas para uma nova e moderna Irlanda
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.168
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O jovem político e médico foi eleito líder do Fine Gael, abrindo caminho para a chefia do Governo. Homossexual assumido, promete tornar a Irlanda conservadora numa Irlanda socialmente moderna.
TEXTO: Está escolhido o novo líder do partido irlandês Fine Gael, que vai suceder a Enda Kenny, anterior Taoiseach (primeiro-ministro), que abdicou da função em Maio. Leo Varadkar está a um passo de se tornar no primeiro chefe do Governo assumidamente homossexual na República da Irlanda, marcando assim um corte na tradicional e conservadora sociedade irlandesa, marcadamente influenciada pela Igreja Católica. Muito pode mudar na agenda social de Dublin, mas os analistas avisam que o filho de um imigrante indiano terá de se concentrar primeiro na missão hercúlea de unir o partido democrata-cristão. Caso contrário, o seu destino poderá ser igual ao do antecessor. Varadkar, que é médico de formação, teve uma ascensão meteórica: entrou na vida política irlandesa aos 22 anos, aos 27 foi eleito para o Parlamento, foi ministro dos Transportes, Turismo e Desporto de 2011 a 2014, ano em que passou para a pasta da Saúde e foi até agora ministro da Protecção Social. Aos 38, está a caminho de se tornar no mais jovem chefe do Governo da Irlanda. Mas antes, em 2015, assumiu publicamente que era homossexual quando o país, que descriminalizou a homossexualidade em 1993, discutia a adopção do casamento entre pessoas do mesmo sexo – tendo sido o primeiro país a aprová-lo através do voto popular. Por esta altura, era já evidente o declínio no domínio da Igreja Católica irlandesa, profundamente abalada pelos vários escândalos de abusos sexuais. Apesar de tentar constantemente traçar uma separação entre a competência política e a orientação sexual, Varadkar rapidamente se tornou na imagem da possível modernização social da Irlanda. O próximo passo pode ser a legalização do aborto. A votação para a liderança do partido teve três grandes eleitores: os 73 membros do Parlamento do Fine Gael, cujos votos representaram 65% do total; os 21 mil membros do partido, que perfizeram 25% e os representantes locais, que valeram 10%. Varadkar terá até ao fim deste mês para garantir o apoio dos deputados independentes e do Fianna Fáil para ser nomeado primeiro-ministro no Parlamento. A nomeação está, à partida, assegurada, pois tanto os independentes como a oposição já afirmaram que não se vão opor à eleição do novo líder do Fine Gael. Leo Varadkar conseguiu obter a vitória através dos deputados e representantes locais. Simon Coveney, o seu rival, ministro da Habitação de 44 anos, obteve 65% dos votos dos membros do partido, sendo que Varadkar reuniu 55% votos dos representantes locais contra 44% do opositor, e, na votação mais valiosa, recebeu o apoio de 51 deputados contra 22 de Coveney. Kenny anunciou em Maio aquilo que já era esperado e demitiu-se da liderança do Fine Gael, 15 anos depois de lá ter chegado, e consequentemente da chefia do Governo, para onde foi eleito em 2011. O primeiro-ministro demissionário não resistiu a intensas pressões no interior do próprio partido resultantes da insatisfação com a sua liderança, e devido aos resultados das legislativas do ano passado, onde o Fine Gael perdeu um quarto dos parlamentares. Imediatamente saltaram para a linha de sucessão Varadkar e Coveney. Iniciando a campanha “Levar a Irlanda Para a Frente”, o jovem político começou a expor algumas das suas ideias para o futuro, confirmando a separação entre a antiga Irlanda firmemente católica e a futura Irlanda socialmente moderna que pretende construir. Numa entrevista ao Irish Times durante a campanha, o novo líder do Fine Gael tentou explicar o seu posicionamento político e ideológico: “A minha dificuldade com toda a construção direita/esquerda é que não penso que isso descreva a política moderna”. “Se tivesse que me descrever nos termos de uma filosofia política, colocar-me-ia como um liberal económico e social, que é aquilo que as pessoas tipicamente descrevem como sendo de centro-esquerda nos assuntos sociais e de centro-direita em temas económicos”, explicou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Como lembra o Politico, Leo Varadkar procurou ainda inspiração num antigo candidato presidencial norte-americano, dizendo no início de Maio: “Robert Kennedy disse uma vez: ‘Algumas pessoas vêem o mundo tal como ele é e perguntam, porquê? Outros imaginam o mundo como poderia ser e perguntam, porque não?’ Para mim, isto resume o que é a política: imaginar a Irlanda como poderia ser e desenvolver políticas para que isso aconteça”. Varadkar já garantiu que em 2018 irá lançar um referendo sobre a legalização do aborto. Além disso, planeia criar um novo sistema de segurança social, tornar a assistência infantil mais acessível, apostar nas energias renováveis e reduzir os impostos sobre os rendimentos mais altos. Tudo isto serve para convencer os eleitores até às eleições legislativas de 2019. Mas antes terá de unir o partido para conseguir criar um contexto de vitória eleitoral. Aliás, nesta corrida à liderança partidária, uma sondagem nacional do Irish Times mostrou que 42% dos eleitores preferiam ver Coveney à frente do Fine Gael e 37% Varadkar. Por isso, e como apontam os analistas irlandeses, tem de juntar à sua volta um partido estilhaçado depois do afastamento de um líder marcado por acusações de negligência política, fracos resultados eleitorais, e com o principal rival, o Fianna Fáil, a piscar o olho ao regresso ao Governo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto filho social sexo sexual casamento homossexual imigrante infantil
Companhia de seguros nega discriminação da exposição de João Pedro Vale
A Companhia de Seguros Tranquilidade negou hoje que a exposição de João Pedro Vale prevista para abrir no Espaço Arte, a 2 de Setembro, em Lisboa, tenha sido cancelada por motivos de discriminação à temática homossexual do conteúdo. (...)

Companhia de seguros nega discriminação da exposição de João Pedro Vale
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Companhia de Seguros Tranquilidade negou hoje que a exposição de João Pedro Vale prevista para abrir no Espaço Arte, a 2 de Setembro, em Lisboa, tenha sido cancelada por motivos de discriminação à temática homossexual do conteúdo.
TEXTO: Após um contacto da Lusa sobre o cancelamento, a Tranquilidade respondeu, em comunicado, que “nas suas diferentes dimensões de posicionamento e comportamento no mercado, sejam elas comerciais ou institucionais, a companhia defende uma política intransigente de não discriminação de qualquer tipo, seja ela religiosa, de género, orientação sexual ou de raça”. A exposição intitula-se “P-Town” e resulta de um projecto conjunto entre João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, resultado de uma residência artística realizada em Provincetown, nos Estados Unidos, cuja história é marcada por elementos que interessam ao trabalho da dupla de artistas. Uma primeira parte do projecto - que junta a identidade portuguesa da cidade, pela emigração proveniente dos Açores, o seu passado recente como centro artístico e por estar ligada à comunidade homossexual - esteve em exposição em Julho, na galeria NurtureArt, em Nova Iorque. A segunda parte, com alguns elementos novos, iria agora ser apresentada no Espaço Arte, mas, segundo João Pedro Vale, quando a seguradora teve conhecimento do conteúdo de temática homossexual, pediu outro projecto ao artista, tendo este recusado, considerando ter sido uma “atitude de censura” ao seu trabalho. No comunicado, a Tranquilidade afirma que “a expressão artística não deve ser refém de convenções, mas tem o dever de assegurar nos seus espaços o respeito pela sensibilidade de um número o mais alargado possível de stakeholders [accionistas], não estando em causa a orientação sexual do tema”. “É, pois, de lamentar a forma intencional e dolosa como o nome da companhia está a ser usado numa estratégia de promoção pessoal”, sustenta, no mesmo comunicado. A seguradora recorda ainda que no Espaço Arte Tranquilidade, inaugurado em 2008, “já expôs um alargado conjunto de artistas, numa clara intenção de contribuir para o acesso à arte contemporânea por parte dos diferentes públicos”. Actualmente o espaço é dinamizado em conjunto com três galerias de arte de Lisboa - Filomena Soares, Miguel Nabinho e Bajinsky - através de um acordo estabelecido para esse efeito, sendo que estas assumem a responsabilidade pela programação do espaço. A seguradora indica ainda que a situação agora ocorrida “não condicionará o firme propósito da companhia em prosseguir a sua estratégia de mecenato cultural”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave comunidade género sexual homossexual raça discriminação
Republicana Michele Bachmann anuncia candidatura à presidência dos EUA
A republicana Michele Bachmann, de 55 anos, anunciou ontem num debate televisivo a sua candidatura à presidência dos EUA. É a primeira mulher a entrar na corrida à Casa Branca nas eleições presidenciais do próximo ano. (...)

Republicana Michele Bachmann anuncia candidatura à presidência dos EUA
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-06-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: A republicana Michele Bachmann, de 55 anos, anunciou ontem num debate televisivo a sua candidatura à presidência dos EUA. É a primeira mulher a entrar na corrida à Casa Branca nas eleições presidenciais do próximo ano.
TEXTO: “Enviei hoje [segunda-feira] os documentos necessários para a minha candidatura à presidência dos EUA”, disse Bachmann no âmbito do debate em que participavam outros seis candidatos republicanos. Referindo-se a Barack Obama como um “Presidente de um só mandato”, Bachmann criticou fortemente as reformas do actual Presidente no plano da saúde. Num comunicado posterior ao anúncio na televisão, a candidata sublinhou que o país “precisa de um líder que compreenda as dificuldades que as pessoas por toda a América têm enfrentado nos últimos anos e que faça o que for preciso para renovar o sonho americano”. E acrescentou: “Temos de voltar a ser uma América orgulhosa e forte e vejo claramente um caminho melhor para um futuro mais brilhante”. Apoio do "Tea PartyBachmann, representante do Minnesota, conta com o apoio do movimento conservador “Tea Party”, no qual tem vindo a ganhar importância. Sobre este movimento, a candidata avançou que “ao contrário do que os media têm retratado erradamente, o 'Tea Party' é feito de democratas insatisfeitos, de independentes, de pessoas que nunca foram políticos, libertários, republicanos – uma enorme faixa da América a unir-se. ”Durante o debate, os sete pré-candidatos discutiram questões como o sistema de saúde – o Obamacare -, imigração, economia, direitos dos homossexuais e aborto. Michele Bachmann tem sido uma voz altamente crítica das reformas da saúde do actual Presidente norte-americano e frisou que os americanos não podiam "arriscar e dar mais quatro anos de mandato a Obama ". Apesar de ter sido a revelação do debate de ontem à noite, Bachmann continua porém menos conhecida para os eleitores americanos que Mitt Romney, o ex-governador do estado de Massachusetts que anunciou há duas semanas a sua candidatura à Casa Branca pelo Partido Republicano. Numa sondagem publicada na semana passada, Obama e Romney - que já tinha disputado as primárias republicanas em 2008 - apresentavam um empate técnico. Ao mesmo tempo, continua a especulação sobre se a senadora Sarah Palin; o antigo mayor de Nova Iorque Rudy Giuliani; ou Rick Perry, o governador do Texas, estarão na corrida à Casa Branca. Notícia actualizada às 08h55
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Novo primeiro-ministro australiano diz que país não pode ser "à prova de futuro"
Actual primeiro-ministro perdeu liderança do partido e do país. Malcolm Turnbull, seu velho rival, quer reaproximar Governo da opinião pública com uma liderança mais progressista. (...)

Novo primeiro-ministro australiano diz que país não pode ser "à prova de futuro"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.045
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Actual primeiro-ministro perdeu liderança do partido e do país. Malcolm Turnbull, seu velho rival, quer reaproximar Governo da opinião pública com uma liderança mais progressista.
TEXTO: Tony Abbott foi afastado da liderança do Partido Liberal australiano e, por consequência, do cargo de primeiro-ministro, ao sido derrotado pelo rival Malcolm Turnbull numa eleição interna realizada nesta segunda-feira. Esta é a quarta vez que a chefia de Governo muda de mãos na Austrália em dois anos. Foi durante a manhã que Turnbull atirou a toalha para o ringue, ao anunciar que iria demitir-se do cargo de ministro das Comunicações para desafiar a liderança de Abbott, a quem acusou de ser incapaz de dar ao executivo a energia necessária para mudar a actual política e colocar os liberais de novo à frente dos trabalhistas nas sondagens. “Se continuarmos com Abott a primeiro-ministro, é evidente o que acontecerá. Ele deixará de ser primeiro-ministro e será sucedido por Shorten”, disse Turnbull, referindo-se ao líder do partido trabalhista, Bill Shorten. Abbott ainda resistiu, apelando aos colegas que não cometessem os mesmos erros do Labor – que defenestrou dois chefes de governo em apenas três anos –, mas acabou vencido na votação realizada já noite dentro pelos deputados liberais. Turnbull venceu a votação, por 54 votos contra 44, e promete um novo estilo de liderança “respeitador e isento de slogans”. O golpe palaciano é uma repetição da novela que abalou o Labor desde 2010, ano em que o então primeiro-ministro Kevin Rudd foi afastado pela rival Julia Gillard. Rudd respondeu na mesma moeda, em Junho de 2013, a meses de novas legislativas, destronou Gillard, acabando por perder as eleições para Abbott. O remake de 2015 é ainda mais idêntico porque Turnbull já tinha liderado o Partido Liberal entre 2008 e 2009, altura em que perdeu as eleições internas para Abbott por apenas um votoEspera-se do novo primeiro-ministro uma abordagem menos conservadora do que a de Abott em temas como o acolhimento de imigrantes e refugiados, combate às alterações climáticas e legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Todas áreas nas quais o actual Governo se foi gradualmente distanciando da opinião pública australiana. Sobretudo na resposta à recente vaga de imigrantes e refugiados que partem em barcos do Sul e Sudeste Asiático – em Junho, o executivo de Abott esteve sob fogo por ter alegadamente dado dinheiro a um traficante da Indonésia para que este fizesse regressar a sua embarcação em vez de entrar na Austrália. Abott acabou por ceder à pressão internacional e nacional e anunciou há uma semana que aceitaria mais 12 mil refugiados sírios para além da quota anual de cerca de 13 mil pedidos de asilo na Austrália. Isto apesar de o seu Governo ter defendido prioridade para sírios cristãos e sem que Abott acedesse a dar entrada aos barcos de rohingya vindos do Bangladesh, Indonésia e Birmânia. Liberal à esquerda“Não podemos ser defensivos”, disse Turnbull aos jornalistas, já depois da vitória. “Não podemos ser à prova de futuro”, acrescentou, com Julie Bishop ao seu lado, que continuará como vice-líder do partido e ministra dos Negócios Estrangeiros. Antes advogado e empresário, o novo primeiro-ministro australiano estudou direito em Sidney e, mais tarde, em Oxford. Ficou célebre quando, no final da década de 80, anulou as tentativas do Reino Unido de proibir a publicação do livro de um antigo espião britânico, Peter Wright. Defende um “Governo Liberal de compromisso com a liberdade, o indivíduo e o mercado”, mas é mais conhecido pelas suas propostas progressistas, como a luta contra o aquecimento global e a legalização do casamento homossexual. Estas são as mesmas bandeiras que o fazem um elemento relativamente divisivo num partido que caminhou para a direita sob o governo de Tony Abott e que está agora fracturado por lutas internas.
REFERÊNCIAS:
Étnia Asiático
Marco Martins lançou achas na fogueira
Um realizador que lida com a abundância publicitária é capaz de empatia com a precaridade. Um tipo que não aprecia televisão fez algo que durante oito semanas foi o acontecimento lúdico, adulto e inteligente de toda a TV portuguesa. Provisional Figures: Great Yarmouth e Sara foram dele e agora são os nossos melhores de 2018. (...)

Marco Martins lançou achas na fogueira
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um realizador que lida com a abundância publicitária é capaz de empatia com a precaridade. Um tipo que não aprecia televisão fez algo que durante oito semanas foi o acontecimento lúdico, adulto e inteligente de toda a TV portuguesa. Provisional Figures: Great Yarmouth e Sara foram dele e agora são os nossos melhores de 2018.
TEXTO: O melhor teatro e a melhor televisão foram dele. Com Provisional Figures: Great Yarmouth, Marco Martins continuou a interceptar a violência da crise nos corpos, trazendo para o palco a síntese de dois anos de trabalho em Inglaterra junto de um “matadouro” da dignidade, um colosso da indústria alimentar do Reino Unido movido a mão-de-obra barata importada da periferia da União Europeia. Isto, que foi o espectáculo de 2018 para o Ípsilon, vai dar, em 2019, um filme — tendo em conta as derivas do encenador/realizador, será proposta de elevação do real pela ficção. Como é que um homem que faz publicidade, que lida com o conforto da abundância audiovisual, é capaz de empatia com a precaridade?E como é que um tipo que não aprecia televisão faz Sara, o retrato caleidoscópico de uma actriz em crise de lágrimas que durante oito semanas foi o acontecimento lúdico, adulto e inteligente da televisão portuguesa? Talvez seja por Marco Martins não gostar de TV que Sara — coisa nada cínica; foi evidente o espectáculo de sintonia de toda uma equipa — é uma fogueira onde, no território do audiovisual, se queimam fragmentos de Velvet Underground ou Pasolini, Beyoncé, Led Zeppelin ou Strindberg e Sarah Kane. Uma orgia do fim dos tempos. Cinema, teatro, publicidade — e agora televisão. Há uma narrativa?Isso é difícil para as pessoas à minha volta. A minha agenda é compartimentada: “Não pode ser hoje, tem de ser amanhã. ” “Amanhã já não posso. . . estou a fazer outra coisa. ” A publicidade são projectos contidos no tempo — entre a preparação, a rodagem e o filme ir para o ar passa um mês e tudo é feito com uma equipa que trabalha comigo há anos. É um trabalho partilhado, funciono como chefe de orquestra. Há muitos recursos disponíveis e essa abundância, que não existe nem no teatro nem no cinema, é a graça da publicidade. Gosto da ideia de resolver um problema de alguém: uma campanha corresponde à vontade de uma marca, trata-se de vender um desejo, uma ideia, um conceito. Existe uma relação de confiança que permite uma liberdade bastante grande. Quando passa da abundância da publicidade para o confronto com vidas precárias, como aconteceu com o projecto Provisional Figures: Great Yarmouth [peça com um grupo de imigrantes portugueses no coração da indústria de transformação alimentar britânica], há um curto-circuito?A palavra “material” pode parecer desajustada, mas de facto é trabalhar com um material com características diferentes — na resistência, no tempo que se demora a trabalhá-lo. Great Yarmouth, pela sua longevidade, é um projecto de grande violência emocional. Mas não posso dizer: a publicidade é um intervalo. Não, é um compartimento. Que necessidades ela satisfaz?Desde logo há um lado financeiro que me permite grande liberdade. Antes de ter financiamento para Great Yarmouth eu já estava a trabalhar em Inglaterra. Depois, gosto muito desse lado de começar e acabar algo que é curto e com um objectivo precioso e que desencadeia uma reacção imediata. No cinema estamos a trabalhar anos num filme e não temos reacção a esse trabalho. O que me permite fazer tudo isto é o facto de ter estruturas separadas. Tendo a fazer os filmes fora do Ministério, a minha produtora, que é feita a pensar em publicidade. A minha produtora de teatro, Arena, funciona por ela própria. E os filmes tendo a fazê-los externamente, e tenho variado. É importante que as coisas permaneçam estanques. Mas o que é que contamina o quê?Venho do cinema. Em última análise é aquilo a que respondo mais, é a minha linguagem. Penso em filme, não penso em teatro ou em publicidade. Não sou um publicitário em cinema. Trata-se mesmo de me livrar no cinema daquilo de que não gosto na publicidade. Mesmo na publicidade sou atípico. Se calhar a publicidade é que é contaminada pela minha formação cinematográfica, o contrário já não. O teatro para mim é a zona de maior experimentação. O que me interessa são os actores, é a linguagem. O meu cinema não se constrói em cima da palavra, a palavra é utilitária. O teatro é difícil fazê-lo sem palavra, é uma zona onde a posso explorar. E é um lugar hoje de cruzamentos de linguagens, e são essas fronteiras que me apetece explorar. Mas aí o cinema e o teatro entroncam-se: o cruzamento entre a ficção e a realidade, entre o documental e o não documental. É o que me apetece fazer neste momento. Até porque foi por causa de teatro que redireccionou o seu cinema. . . Sim, o projecto Estaleiros [em Viana do Castelo, 2012] permitiu-me começar a trabalhar com não actores, a construir um texto dramático baseado em testemunhos pessoais. Isso interessa-me muito no teatro. E a possibilidade de alteração de registos dentro do mesmo espectáculo, não só a ficção e não ficção, falo de registos estéticos, experimentação com o corpo do actor e com o espaço cénico. Por exemplo, a próxima peça, com a Beatriz [Batarda] e o Romeu [Runa], é um texto sobre a figura do pai que estamos os três a construir, e que cruza testemunhos pessoais deles com outros textos, Kafka por exemplo. O pai era uma matéria que se adensava nos episódios finais de Sara. Sempre trabalhei sobre a família. E há uma altura em que começamos a olhar para nós. Queria fazer um texto sobre a descendência. Nas primeiras residências a figura do pai começou a ser obsessiva. Também sou pai, três crianças, e há uma mudança. Começámos a falar sobre a família, pai, mãe e irmão, a peça começou a ficar mais sobre o pai. Quer para a Beatriz, quer para o Romeu, é uma figura marcante nas suas personalidades. O que fazemos com os afectos que nos dão? Às vezes deixam-nos um monte de pedras, às vezes um castelo. Como construímos a partir daí a nossa personalidade? A família é algo a que não se pode fugir, está presente na nossa construção enquanto indivíduos. Ser pai é algo de distinto da maternidade, o laço biológico é diferente, o papel social que se atribui ao pai e à mãe também — interessa-me isso. Sara, então. Mesmo não sendo espectador de séries. . . Também não. . . . . . e desconfiando do cliché segundo o qual “o bom cinema está na televisão”, há que reconhecer um feitiço televisivo neste momento. Uma das coisas que se sente é que o realizador de Sara não gosta de televisão. Quanto maior é esse desgosto, tanto melhor a série. Há um lado apocalíptico. Os genéricos iniciais e finais são fogueiras de citações, de Pasolini a Ibsen, passando por Strindberg ou Sarah Kane, e fragmentos de canções, de Murray Perahia a Velvet Underground, de Gloria Gaynor a Rodrigo Amarante. . . . . . a montagem prolongou-se no tempo, a rodagem não, e, aquela, sim, foi contaminada pelo que andava a ler e a fazer. Essas citações de teatro não estavam previstas, eram coisas que andava a ler ou a fazer — foram seis meses de montagem. . . Para além dos genéricos, dentro dos episódios há uma vampirização de canções e livros de outros autores, B Fachada e Valter Hugo Mãe. Como a música dos genéricos é matraqueante, parece que fomos bombardeados por fragmentos de um mundo que já não existe — uma ideia e uma prática de cultura, por exemplo. Alguém tem um cartaz de um filme de Buñuel no quarto. Isso já não serve de nada, é irrisório. Está absolutamente certo. Nunca quis fazer televisão, nem sou espectador de séries. Vi o início de Os Sopranos. . . mas nunca quis passar o meu tempo assim, acho que estou a perder a oportunidade de ver um filme. Porque há filmes de que não me lembro bem. . . . . . os filmes são sempre outros. . . . . . são sempre outros. Revê-los é sempre um novo filme — aconteceu-me com os Mizoguchis. . . eram outros filmes. A ideia de fazer uma série nunca esteve presente. Até porque o meio, pelo que vai saindo em termos de produção, é muito pobre — espreito quando há actores de que gosto ou um amigo, mas vejo pouco, cinco ou dez minutos e chega. A ideia passou a estar no horizonte no momento em que se tratou de uma série sobre televisão e se tratou de trabalhar com a Beatriz numa forma quase de longa-metragem: construir à volta dela, alguém com quem trabalho há muitos anos, mas com quem nunca tinha feito esse tipo de trabalho, porque os meus protagonistas tendem a ser masculinos — As Criadas (2017) do Genet era teatro. Trabalhar com a Beatriz numa reflexão sobre o meio, sobre a representação, sobre as escolhas de uma mulher de 45 anos agradava-me. No início, havia um lado meio pop a funcionar como alter ego, o formato mais leve. O trabalho era até mais partilhado, a escrita era feita com o Bruno [Nogueira] e com o Ricardo [Adolfo]. Mas as coisas ganharam densidade, é a gravidade de que falou. São as escolhas que se colocam àquela mulher. Nunca tinha trabalhado em comédia ou tragicomédia. Demorei a aperceber-me do peso que isso continha. A minha opinião sobre o meio está lá, não queria acrescentar muito. O que aconteceu à série é um reflexo desse meio: foi sendo adiada. Ficou pronta um ano antes de se estrear. A RTP ficou incomodada?Ninguém me disse directamente, houve várias desculpas para ser sempre adiada. Ou porque não havia dinheiro para pagar — as séries são pagas quando são emitidas —, ou outra coisa qualquer. Mas a verdade é que se estreava tudo e aquilo ficava na prateleira. Foi Teresa Paixão [directora de programas da RTP2] que gostou muito e que disse que não fazia sentido aquilo estar parado. E mesmo assim foi para o segundo canal, o que não era condizente com um investimento daqueles. Não custou muito mais do que as outras séries: 55 mil euros por episódio. Mas na altura havia um interesse, quando o Nuno Artur Silva [administrador com a área dos conteúdos] me chamou e ao Bruno. Havia um interesse que fosse um primeiro passo para mais coisas. Nuno Artur Silva sai [no início do ano] e a nova situação não reconhece, é isso?Rapidamente Sara ficou num limbo, nem a antiga direcção a conseguiu introduzir na programação. Em última análise, a paixão que tínhamos não era partilhada. Isso é um reflexo do meio, um meio pobre e que se rege por uma ideologia que não consigo qualificar. Por exemplo, segundo a RTP, numa série contemporânea não podia haver personagens que expressassem opiniões políticas ou pertencessem a partidos políticos. . . ou ainda os palavrões. . . Foram constrangimentos que não respeitámos. É difícil fazer ficção adulta assim. Que tipo de pessoas são as personagens? Deixaram-nos fazer tudo, mas o resultado é que nunca mais ia para o ar. Há um momento em que a banda sonora, tal como as citações, passam a ser acontecimentos, como quando se espera uma participação especial: fica-se à espera para se confirmar o que ouvimos, como se se confirmasse um actor. Se calhar as citações são a narrativa da série. E sobre a banda sonora: os adiamentos constantes da série fizeram com que tivesse um tempo de montagem enorme: em permanência três montadores durante oito meses. Isto só acontece nas longas, mas mesmo aí é diferente. Estar durante um ano a montar São Jorge [2016] é um processo que se envenena a si próprio, nunca se sai dali. Aqui fui fazendo coisas, peças, fui para Inglaterra, e quando voltava havia aquela coisa maravilhosa de vir de fora. A série tem isso, o olhar de um corpo que se distancia de si. A série teve muitas montagens não para corrigir algo, mas pelas visões que fomos tendo. Isso fez com que tivesse um ritmo e uma consistência particulares. Em relação à música, uma coisa que faço quando começo um processo, peça, filme, é construir uma playlist. Às vezes é só a letra que me interessa, outras vezes, raramente, é uma música que quero usar. Aqui tinha uma vantagem: a dada altura a nossa directora de produção disse-nos, sobre os direitos autorais, que devido a um acordo da RTP com a SPA podíamos usar o que quiséssemos, eles pagam anualmente, desde que não seja música do genérico e que não apareça duas vezes. Pela primeira vez na vida tive a oportunidade. . . . . . de ser DJ. . . [risos]. Por isso agora estamos com problemas com a edição em DVD, porque aqueles direitos só cobrem a emissão na televisão. Aquela dieta de Beatles e Velvet Underground talvez não seja exactamente assim, mas tentaremos manter o máximo possível. O nosso cinema não vem daí, dos filmes do Paul Thomas Anderson, por exemplo, ou dos Coen, para falar em filmes que estudámos. Mas parecia-me possível de reproduzir no universo português. Em relação à banda sonora composta pelo [Nuno] Malo, cheguei à conclusão de que o que funcionava era essa coisa da música usada numa função clássica, de coro grego, e em muitas situações dizendo coisas diferentes do que estávamos a ver, colocando o espectador num sítio instável. Essa instabilidade é testada também com a utilização de canções de B Fachada, que se conhecem, como sendo da “autoria” de uma personagem, interpretada por Tónan Quito. O mesmo em relação aos textos de Valter Hugo Mãe, que na série são escritos pela personagem do pai de Sara. Estas colagens são testes à adesão do espectador. A personagem do cantautor foi logo escrita assim, um cantautor desta nova tradição portuguesa que escrevia canções de amor e que não era o tipo que interessava à Sara. Paraceu-me evidente que não nos íamos pôr a escrever canções e que tinha de ir buscar canções de alguém. Falámos com o B Fachada, propusemos que ele fizesse um cameo, uma personagem baseada nele, ele não quis. . . . . . ainda bem. Nada contra B Fachada, mas este “duplo” torna a coisa mais interessante. Aliás, essas apropriações contribuem para o mundo em chamas de Sara. É toda uma história essa coisa dos acidentes de percurso. Esse foi mesmo um happy mistake. Ele não quis, o Tónan começou a ensaiar, tem uma voz completamente distinta — o B Fachada tem afinações dificílimas — e isso confere à personagem uma fragilidade e um lado cómico que não estava na escrita. E foi assim também com o Valter Hugo Mãe. O pai [de Sara] era escritor, era um contraponto importante ele falar sobre a morte, aspectos metafísicos de que não se fala directamente na série, mas que começam a desempenhar um papel maior — como contraponto à comédia e como história anterior da Sara. Não nos ocorreu escrever um texto literário, e com tanta literatura fomos à procura de um livro que nos interessasse. Sobre Beatriz Batarda: mesmo tendo em conta como foi impressionante em Noite Escura (2004), de João Canijo, há momentos em que o processo por que a personagem passa parece agressão da actriz ao seu corpo e à sua estabilidade, e isso lembra-me A Caixa (1994), de Oliveira. . . Foi um dos nossos primeiros filmes, dela [como actriz] e meu [como estagiário]. Curioso. . . Dito isto, a surpresa é Albano Jerónimo — que parece um sósia do Justin Theroux de Mulholland Drive de Lynch — pelo júbilo, pela loucura. É a sensação que gera a série: a alegria, a sintonia, todos a caminhar para a mesma direcção. Tinha trabalhado só uma vez com o Albano, no meu segundo filme [Como Desenhar Um Círculo Perfeito, 2009], num pequeno papel, era o namorado da Beatriz. Depois foi cortado. Mas vou começar pela Beatriz: não tenho dificuldades em ver que é o trabalho mais fascinante dela. É uma actriz diferente da do Quaresma [José Álvaro Morais, 2003], há uma transformação do corpo e da pessoa. É um papel de grande exposição, não tanto pela proximidade da Sara da Beatriz. . . . . . há piscadelas de olho, para forçar essa fusão. . . Sim, um nome, Moreno, por exemplo, é comum às duas. . . Fizemos muitas entrevistas com a Beatriz, sobre as questões que se colocam a uma actriz daquela idade. Somos amigos desde crianças, mas é diferente fazer um trabalho a partir daquela pessoa, do zero, como se não a conhecesse — porque há coisas que nunca lhe tinha perguntado. É um papel de grande exposição. Primeiro porque nunca tinha feito televisão e porque aparece num registo que nunca experimentara, ou seja, tanto eu como ela não era suposto estarmos ali. Há um risco assumido pelos dois, de grande cumplicidade. A Beatriz tem uma série de registos que nunca desenvolveu, porque as pessoas tendem a ser postas em compartimentos. A Beatriz é maior do que qualquer compartimento. Aquele corpo, aquela transformação, nunca se viu na TV portuguesa. Sendo a série uma reflexão sobre a representação, vamos pôr uma mulher de 40/50 anos, sem maquilhagem, a acordar na cama, como uma base zero a evoluir para outros registos. Hoje, reflectindo sobre a série, há uma coisa simples e feliz: passo a vida como encenador ou realizador a tentar descobrir outras realidades, o desconhecido, mas era a primeira vez que estávamos a falar sobre nós. Falamos sempre sobre nós noutras personagens e realidades, mas a liberdade de falar sobre o que somos é maior: sabemos quando estamos a transgredir, sabemos quando estamos a ser factuais. A Beatriz, por estar num projecto que era meu e do Bruno, sentiu-se segura para experimentar. Há um lado caleidoscópico em Sara, é essa a memória essencial da série. Por outro lado, aqueles risos que a Beatriz faz. . . sobretudo nas cenas com o agente — ela já conhecia o Albano Jerónimo, já o tinha encenado, aliás — são de grande exposição. Quando falamos de nós próprios através de uma interposta pessoa, mas em que a realidade de que falamos está próxima, há um lado de catarse. Isso está presente para ela e para mim. Não por acaso as cenas que mais gostava de fazer eram as de novela. . . . . . como se se confrontasse consigo próprio, se se risse de si próprio. . . . . . sim, sim. A personagem do agente foi escrita em várias fases. No início era um hipster, que queria transformar a Sara em actriz de novela e olhava para o dinheiro mais do que para qualquer outro lado. Mas não tinha interesse e começámos a pensar nele como um alter ego. O Albano é um actor de que gosto muito, mas quem se lembrou dele foi o Bruno. A personagem estava escrita, mas a composição é dele. Foi ele que levou a personagem para aquela intensidade, aquela precisão de representação. Tenho de dizer que aquilo era a interpretação dele da Beatriz. Estou a lembrar-me do episódio no lar, quando irrompe a coreografia, momento lunático. . . Estava escrito?Estava escrito que ele estava no lar. E depois a última cena é daquelas coisas que escrevo e que é para improvisação. Linhas em que uma pessoa lê e pensa logo: “Só isto aqui é um dia de rodagem. ” Estava assim: “Eles dançam. ” E depois: “Há uma aula de Sara com os idosos do lar. ” O assistente de realização já sabe que era um dia ali. A duração dos episódios. . . não são os 50 minutos da praxe, nem os 25 de uma sitcom, varia entre 30/40 minutos, marca dessa forma o ritmo biológico da série. Começamos a sentir esse batimento, a respirar com esse ritmo. Boa questão. Os guiões tinham durações diferentes, e na negociação com a RTP interessava-me que não tivessem uma duração certa. Muito do trabalho de montagem foi para encontrar esse ritmo biológico. Passei dois meses a montar o primeiro e o segundo episódios só para descobrir como. Não foi imediato. E sobre Great Yarmouth: a ideia de um filme fazia parte do projecto. Sim, pela primeira vez juntar uma coisa à outra. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas com tanto investimento, dois anos, para chegar ao palco, como é que ainda consegue imaginar algo num material que já tratava por tu?Vai ser diferente. O sítio é o mesmo, as pessoas as mesmas, mas o filme permite fazer uma cristalização daquela realidade, tornar visível o que é invisível para quem não conhece aquela realidade. A manipulação daquele material, que é muito rico, permitirá com o filme uma reflexão maior. É como se a peça erguesse os factos, os depoimentos, e o filme permitisse uma reflexão sobre aquele sítio, sobre o que está ali em jogo. Como no filme São Jorge, a ficção é forma de elevar o real. . . Sim, a mentira diz uma verdade maior. Temos de construir uma narrativa sobre aquele real para aquele real existir realmente. Isso ainda não está feito. Neste momento tenho uma mistura de actores e personagens, mas a maior parte do elenco serão actores, a Beatriz, o Nuno [Lopes], o Romeu, e vou ter muitos não actores, ingleses e portuguesas que vivem lá, a comunidade portuguesa que resta, em pequenos papéis. Tentei passar no espectáculo a dureza que é um trabalho naquela fábrica. Criámos uma forma de representação da dureza, mas há coisas que o filme permite — a não ser o cheio terrível a sangue e excrementos — que o teatro não dá. Mas a dureza dos animais abertos, do tirar tripas o dia todo, a relação disso com a transformação dos corpos e com a sociedade, isso é algo que o filme vai permitir de uma forma muito distinta. Tenho de fechar este capítulo.
REFERÊNCIAS:
Os jovens estão a desistir da política, e a política parece prescindir deles
Há um reverso na abstenção jovem: os partidos e candidatos consideram inútil apresentar medidas que os convençam a votar. Porque os jovens, garantidamente, votam menos que o resto dos portugueses (...)

Os jovens estão a desistir da política, e a política parece prescindir deles
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há um reverso na abstenção jovem: os partidos e candidatos consideram inútil apresentar medidas que os convençam a votar. Porque os jovens, garantidamente, votam menos que o resto dos portugueses
TEXTO: Já não é a primeira vez que acontece. Um responsável de uma candidatura chega à última e decisiva semana da campanha eleitoral e pergunta: A quem é que falta chegar? Que parte do eleitorado ainda pode ser mobilizada? Os jovens? "Não. Os jovens não votam. "De facto, todos os estudos demonstram que isso é verdade. António Salvador, responsável pela empresa de estudos de mercado Intercampus, fez uma pergunta à sua amostra de 1043 eleitores portugueses, na última semana de campanha eleitoral para as presidenciais. "No próximo dia 24 de Janeiro de 2016 vai realizar-se a eleição para o Presidente da República. Com base nesta lista, gostaria que me dissesse qual destas frases corresponde à sua situação. " As opções eram cinco. De "é minha intenção ir votar de certeza" até "não estou a pensar ir votar". Quando se olha para as respostas, os jovens (entre os 18 e os 34 anos, 269 pessoas, no total) são os que menos declaram ter a certeza de ir votar (61, 3%, contra percentagens sempre acima dos 70 nos outros intervalos etários). E são também aqueles que mais afirmam a intenção de se absterem: 13, 4%, nesta amostra, numa proporção de quase dois para um, face aos maiores de 35 anos. O que é novo, ou se mostra agora de uma maneira mais evidente, é que essa abstenção pode ter como consequência o risco de irrelevância política dos jovens. Pedro Sales, que integrou a direcção de campanha de Sampaio da Nóvoa, sublinha: "Com o progressivo alheamento dos jovens, corre-se o risco de os partidos passarem a olhar para eles como instrumento de retórica, sobretudo para atingir o voto dos pais e dos avós. "Disso são exemplos os únicos temas dirigidos à juventude que conseguiram ser centrais ao discurso políticos nas duas últimas eleições: a precariedade laboral, as políticas de natalidade e a emigração de jovens qualificados. Esses foram assuntos importantes, que afectam os eleitores sub-40, e que os maiores partidos, e os principais candidatos à Presidência, insistiram em manter no topo da agenda. Mas, como sublinha Sales, mais com o objectivo de "criar empatia" em quem realmente vota, os pais e avós. Quando se procuram as razões para esse alheamento, elas surgem quase óbvias: "Falta de confiança na política", "falta de interesse pela política", "o voto é inconsequente, não muda nada". Estas três respostas representam quase 70% das razões apresentadas pelos abstencionistas portugueses, num dos poucos estudos pós-eleitorais feitos recentemente. Este inquérito do Eurostast, que foi realizado após as eleições europeias de Maio de 2014 demonstra que são os jovens que, em Portugal, mais se abstêm. Apenas 19% dos que têm entre 18 e 24 anos admitiu ter votado. A média europeia - porque este problema não é exclusivamente nacional -, no mesmo estrato etário, foi de 28%. Nuno Garoupa, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, faz algumas contas simples e aponta um exemplo: "Votam normalmente cinco milhões de portugueses. Basta somar 2, 5 milhões de pensionistas e 800 mil funcionários públicos e fica claríssimo onde está o centrão, a convergência dos grandes partidos. Não havia nas últimas eleições um único partido que dissesse que ia cortar nas pensões dos mais velhos para salvar as pensões dos mais novos. Porquê? Porque essa gente não vota. Nem a PAF nem o PS explicavam o que queriam para a segurança social por isso. "Diogo Belford Henriques participou na última campanha da coligação PSD/CDS, e discorda desta premissa. Lembra, até, o investimento que foi feito nas redes sociais, um meio de chegar, sobretudo, aos mais jovens. O problema é outro, para Diogo Belford: os temas especificamente "jovens" estão resolvidos, na política portuguesa. O serviço militar obrigatório acabou. Os temas "pós-materiais" avançaram (aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo). Desse ponto de vista, as propinas foram, provavelmente, o último dos temas que os jovens portugueses conseguiram trazer para a agenda política. Mas existem outros temas, que o discurso político exclui, e são relevantes para as novas gerações de eleitores. Na Europa do Norte, surgiram movimentos pela liberdade de partilha na internet - representados pelos "partidos piratas". Em Portugal, pouco se ouve falar dessa reivindicação. Miguel Morgado, deputado do PSD, e professor de ciência política, considera que "não é nada evidente que o voto corresponda aos interesses de camadas sociais. " Com a excepção, óbvia, dos pensionistas, Morgado garante que "não temos muita evidência de haver uma faixa etária a votar de acordo com o que seriam os seus interesses". E mesmo aí, com nuances, porque os pensionistas são avós, e se preocupam com o impacto futuro das medidas. Por isso, muito mais do que "um eleitorado atomizado", que vota em quem promete defender a sua agenda, Morgado acredita que os jovens se conquistam por "adesão ideológica". O que, mais uma vez, os escassos dados provam, é que são os partidos mais afastados do "centro" os que mais captam voto jovem. Num estudo coordenado por Pedro Magalhães, no âmbito do projecto Comportamento Eleitoral dos Portugueses, realizado após as legislativas de 2009, o voto jovem beneficiava, sobretudo, o Bloco de Esquerda e o CDS. Ambos os partidos conseguiam, entre os jovens, percentagens superiores à media nacional (16 e 12%, respectivamente). Se só os jovens votassem, nessa eleição, o BE ficava a apenas 4% do PSD e 13% acima da CDU. O Presidente da República encomendou, recentemente, dois estudos sobre a participação política dos jovens. Do primeiro (2007) para o segundo (2015) houve mudanças significativas. O mais recente, coordenado por Marina Costa Lobo, mostra que são menos os jovens que consideram que a democracia funciona bem (17, 3%, cerca de metade do que acontecia no estudo anterior). Descida ainda mais acentuada é da valorização do voto. Quando 90% considerava muito importante o voto, em 2007, no último inquérito são apenas 70%. Lembrando que o problema da abstenção é europeu, e se tem tornado "gravíssimo", António Salvador aponta os responsáveis: "Se os jovens não votam, a culpa é dos políticos. E o problema vai-se agudizando. Os políticos não falam para os jovens porque acham que não votam. " Nuno Garoupa usa o mesmo adjectivo: "O que acontece neste momento é que há uma grande abstenção jovem, gravíssima, de longa duração, de pessoas de 30 anos que nunca votaram e dificilmente votarão. "É essa preocupação que está na origem de uma campanha "dirigida particularmente aos estudantes do ensino superior e aos jovens", que as associações de estudantes universitários e o Conselho Nacional de Juventude lançaram: "Pretendemos que ajas, reajas e que sejas tu também um agente de promoção do envolvimento de todos em mais um momento decisivo para o futuro de Portugal. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Num final de tarde, na Rua Galeria de Paris, o centro da noite portuense, a rua ainda está vazia, mas um dos bares mais conhecidos, o 56, com as suas paredes com vitrines cheias de brinquedos antigos, está cheio. Os Vampiros, de Zeca Afonso, passam no sistema de som. A primeira fila de cadeiras, umas 30 pessoas, ocupada por cinquentões e sexagenários. A acção de campanha que Sampaio da Nóvoa tinha consagrado aos jovens foi tomada pelos pais, e alguns avós. Foi assim, em quase todos os momentos desta campanha das presidenciais: Maria de Belém em lares e Misericórdias, Marcelo Rebelo de Sousa a distribuir afectos pela população idosa. O ciclo vicioso pode bem ser esse: uns desinteressam-se os outros desistem. Mas não é inevitável que os jovens se tornem numa faixa demográfica eleitoral irrelevante. NÚMEROS13, 4%Eleitores entre os 18 e os 34 anos que afirmou abster-se nas eleições presidenciais. É a percentagem mais alta de todas as faixas etárias. Fonte: Intercampus19%Portugueses entre os 18 e os 24 anos que admitiram ter votado nas últimas eleições europeias. Fonte: Eurostat17, 3%Dos jovens consideram que a democracia portuguesa funciona bem. Fonte: Inquérito à participação política dos jovens, Presidência da República, coord. Marina Costa Lobo
REFERÊNCIAS:
André Ventura escolhe militar da GNR condenado para encabeçar lista do Chega pelo Porto
O líder do Chega diz que só vai desistir quando a terceira República acabar. (...)

André Ventura escolhe militar da GNR condenado para encabeçar lista do Chega pelo Porto
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.1
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O líder do Chega diz que só vai desistir quando a terceira República acabar.
TEXTO: Sem vozes a destoar, a primeira convenção do Chega resultou numa votação praticamente unânime em torno de André Ventura. Com apenas uma lista apresentada a sufrágio neste domingo, pouco mais de uma centena de delegados deram 94% dos votos favoráveis às escolhas do professor e comentador televisivo. Num auditório em Algés repleto de recém-convertidos à mensagem política do Chega, Ventura garantiu que “não haverá alianças nem coligações ao centro” porque, diz, o partido “vale por si próprio”. Os militantes do Chega, que vêm essencialmente de partidos da direita tradicional, enquadram-se agora num partido “conservador nos costumes, liberal na economia, nacional na identidade e personalista”. Virada está a página das eleições europeias, nas quais, em coligação com o PPM e o PPV, André Ventura chegou perto dos 50 mil votos (1, 49%), mas não elegeu qualquer eurodeputado. Das listas para as legislativas ainda pouco se sabe. Ventura será o primeiro por Lisboa e, a repetir-se o resultado das europeias, poderá ser eleito. Para o distrito do Porto a escolha é mais polémica: a lista será encabeçada pelo militar da GNR Hugo Ernano que matou a tiro um jovem de 13 anos durante uma perseguição policial, em 2008. Após o pedido de recurso, Hugo Ernano foi condenado, em Junho de 2014, a quatro anos de pena suspensa e a pagar uma indemnização de 55 mil euros. Na internet surgiu então uma petição com mais de 100 mil assinaturas para pedir à absolvição do militar. No primeiro discurso como líder eleito do Chega, André Ventura disse “acreditar no homem e nos valores” de Hugo Ernano, e assumiu que “não cede ao politicamente correcto”. O momento mais aplaudido na sala foi quando Ventura, após anunciar que o Chega iria ter um candidato próprio às próximas eleições presidenciais, enumerou críticas ao actual Presidente da República. “Não é que não goste de pessoas que nadam no rio, nem temos nada contra quem liga para o Programa da Cristina”, começou por dizer, referindo-se a Marcelo. Mas logo a seguir garantiu nunca apoiar “aqueles que, em vez de estarem ao lado da esquadra da polícia, estão a tirar selfies com criminosos”, numa referência à visita do Presidente da República ao bairro da Jamaica, no Seixal. O discurso de André Ventura foi de crítica em todas as direcções: ao excesso de carga fiscal, porque “hoje os escravos somos nós”; ao sistema, porque “é corrupto e decrépito”; à burocracia, que nos acompanha “até na morte”; ou à política de integração dos imigrantes, apesar de garantir que não existia “ponta de xenofobia” na sala onde discursava. O líder do Chega apostou nos slogans que já enchem cartazes na rua, garantindo que o “objectivo é resistir" e eleger deputados à Assembleia da República. O primeiro combate é “contra a abstenção” e a primeira promessa é proibir os condenados por corrupção de terem cargos públicos. Em tom de ironia, que ia pautando o discurso, afirmou que, na sala, “haviam de estar todos reformados antes de Sócrates ir preso” - nas primeiras filas, a idade média da plateia era já relativamente elevada. Reafirmou ainda que defende a existência de menos deputados, abaixo do mínimo constitucional de 180 parlamentares. “Prefiro perder o meu lugar a mudar a minha convicção”. Para os delegados à primeira convenção do Chega ficou a promessa de um encontro com o espanhol VOX neste mês de Julho - um partido “com coerência de valores”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ventura sonha também que em meia dezena de anos “o Chega se torne uma referência” lá fora, esperando por isso deixar de ser chamado de “Trump de Loures” ou “Bolsoluso”, que rejeita por “não fazer vídeos em casa de calções” e por não preferir “um filho morto a um filho homossexual”. Num momento para a fotografia, o discurso acabou com Ventura de mão no peito a cantar o hino nacional. Seguiu-se "música épica”, que havia tocado toda a manhã em loop, digna de um qualquer episódio de Guerra dos Tronos. Ventura disse-se “pronto para a luta” pelo seu lugar no Parlamento e assumiu que só vai desistir quando a terceira República (que se iniciou com a Revolução de Abril de 1974) acabar. Para esse objectivo, garante, tem um “enorme apoio das pessoas face a um sistema que as ignorou”.
REFERÊNCIAS:
Partidos PPM
Charles Aznavour, o adeus a um incansável obreiro da canção
O cantor francês morreu aos 94 anos. Era um marco da chanson, dando voz a temas como She ou La bohème. Nos últimos dez anos actuou por duas vezes em Portugal, onde foi presença assídua nos anos 1950 e 1960. (...)

Charles Aznavour, o adeus a um incansável obreiro da canção
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O cantor francês morreu aos 94 anos. Era um marco da chanson, dando voz a temas como She ou La bohème. Nos últimos dez anos actuou por duas vezes em Portugal, onde foi presença assídua nos anos 1950 e 1960.
TEXTO: O cantor francês Charles Aznavour morreu esta segunda-feira na sua residência no Sul de França. Tinha 94 anos e se não morreu em palco (“poderei morrer à mesa de trabalho, não em palco”, disse ele numa entrevista a Adelino Gomes, para a revista do PÚBLICO, em 2008) morreu entre concertos. Planeava actuar em Bruxelas no mês que agora se inicia e andava em digressão pelo Japão, mas foi forçado a regressar a França e a cancelar os concertos que tinha em agenda porque partiu um braço numa queda, da qual já não recuperou. Com uma carreira de impressionante longevidade (85 anos, aos nove já actuava como cantor e comediante), Aznavour escreveu ou co-escreveu mais de 1000 canções, gravou 1200, cantou em seis línguas, lançou 91 álbuns de estúdio e vendeu mais de 180 milhões de discos. Não se considerava uma estrela, mas “um trabalhador incansável da canção” ou, como disse na entrevista já citada, “um dos últimos artesãos da canção. ”Nascido Shahnour Vaghinagh Aznavourian em Paris, em 22 de Maio de 1924, filho de emigrantes arménios, ele cantor e ela actriz, os pais tinham um restaurante que fechou nos anos 1930 devido à crise económica. Isso empurrou o jovem Aznavour para uma ribalta que já conhecia da família, iniciando aos nove anos no Théâtre du Petit Monde uma carreira de cantor e de comediante. O encontro com o pianista Pierre Roche, em 1941, já em plena II Guerra Mundial, deu-lhe novo rumo: formaram o duo Roche e Aznavour, que mais tarde seria convidado por Édith Piaf para a acompanharem em digressão por França e pelos Estados Unidos, no final dos anos 1940. Foi Piaf, aliás, que convenceu Aznavour a iniciar uma carreira a solo. Ele seguiu-lhe os conselhos, mas esteve prestes a desistir, porque o sucesso que alcançava nas canções não tinha eco nos palcos. Numa canção que gravou em 1960, Je m’voyais déjà, ele sintetizará esses tempos de decepção, mas sem deixar de anotar neles alguma esperança. “Ainda não tive a minha oportunidade/ Outros conseguiram-no com pouca voz mas muito dinheiro/ Eu talvez seja demasiado puro ou vá muito à frente/ Mas um dia virá em que lhe mostrarei que tenho talento!” Esse dia não tardou muito. Em 1954, lançada em disco, a canção Sur ma vie foi um enorme sucesso. E o compositor passou a ser encarado como um cantor a seguir, nos discos e em palco. Mas ficou a dever esse sucesso à sua persistência, como se deduz do que escreveu na mini-autobiografia que foi publicada no seu site oficial: “Os professores que consultei eram categóricos: desaconselhavam-me de cantar. Portanto, cantarei até rebentar a glote. ”Ao longo da sua longa carreira, Aznavour deu voz a canções como La bohème, Que c’est triste, Venise, She, Il faut savoir, Hier encore, Sa jeunesse, Emmenez-moi ou Fado, onde enfatizou “os amores ardentes de Portugal”, país onde foi presença assídua nas décadas de 1950 e 1960. E onde a sua ligação maior foi Amália Rodrigues. No livro de memórias Amália, Uma Biografia, de Vítor Pavão dos Santos (Presença, 2005), ela recordava assim essa ligação: “O Aznavour queria fazer uma cantiga para mim. Ouviu-me cantar o Ai Mouraria e para fazer um bocadinho de fado apanhou-lhe o princípio e fez o Aïe Mourir Pour Toi, que eu tive mesmo que cantar no Olympia [1957] e fez bastante sucesso. ” Na última década, Aznavour voltou duas vezes a Portugal para dois grandes concertos e na mesma sala lisboeta, o antigo Pavilhão Atlântico (da segunda vez já Meo Arena e hoje Altice Arena): em Fevereiro de 2008, ano em que recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores; e em Dezembro de 2016. Este último concerto ocorreu um ano após sair o seu último disco de estúdio, Encores, com onze canções da sua autoria, uma em homenagem a Édith Piaf (De la môme à Édith), além de uma versão de um original de Nina Simone, You’ve got to learn, que decidiu cantar no inglês original. Mas a música era apenas uma das facetas do seu trabalho. Outra era a de actor, e nessa condição participou em mais de 80 filmes e telefilmes. Começou com um papel menor, não creditado, em La Guerre des Gosses, de Eugène Deslaw e Jacques Daroy (1936), vindo depois a desempenhar papéis de maior relevo. Da longa lista, destacam-se filmes como O Testamento de Orfeu (de Jean Cocteau, 1959), Disparem Sobre o Pianista (de François Truffaut, 1960), Le Temps des loups (de Sergio Gobbi, 1969), O Tambor (de Volker Schlöndorff, 1979), Les Fantômes du chapelier (de Claude Chabrol, 1982) e, com especial relevo, Ararat (2002), do realizador arménio Atom Egoyan, filme que reflecte sobre o genocídio dos arménios pelo império otomano e onde Aznavour teve o papel principal que, segundo se escrevia esta segunda-feira no Le Monde, foi “o seu filme mais pessoal. ”A Arménia foi, aliás, sempre uma causa presente para Charles Aznavour. Em 1988, quando um terramoto ali fez cerca de 50 mil mortos, ele criou a fundação Aznavour Pela Arménia e gravou, com a colaboração de mais de 80 outros artistas a sua canção Pour toi Arménie, registo filmado pelo realizador de origem arménia Henri Verneuil. A canção, feita para acudir à tragédia, vendeu em disco mais de 1 milhão de exemplares e Aznavour foi, depois, nomeado embaixador permanente na Arménia pela UNESCO. A fechar a autobiografia que está no seu site oficial, Aznavour escreveu: “Aquilo que fiz, fi-lo com amor e seriedade, embora me tenha sempre divertido, e fi-lo respeitando o meu público e os meus valores. ”Na entrevista a Adelino Gomes, no PÚBLICO, citava até dois outros Charles como sua referência artística mundial: em França, Trenet; nos EUA, Ray Charles. E sobre o acto de compor, dizia: “Há os que fazem coisas políticas, eu prefiro canções humanitárias (…). Por isso escrevo ‘eu vivo nos subúrbios’, não ‘nós’. Quando escrevi sobre a homossexualidade, não disse ‘ele vive com a mãe’, mas sim ‘eu vivo’. Podem pensar que sou homossexual. Estou-me nas tintas. Quando nos comprometemos, devemos fazê-lo a 100%. ” E noutra passagem: “Nunca canto canções em que não esteja implicado. Para mim, uma grande canção é um grande texto. A música passa de moda. Um grande texto permanece um grande texto. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com três casamentos e seis filhos, multipremiado (tem uma estrela no Passeio da Fama, em Hollywood), Charles Aznavour não se imaginava a morrer em palco, embora ainda por eles andasse, com destemor e sem poupar na voz, em idades que requerem mais cuidados, aos 80 e 90 anos. Voltando à já citada entrevista a Adelino Gomes: “Morrer em palco? Não, seguramente. Poderei morrer à mesa de trabalho, não no palco. ” Já a finalizar, enfrentava deste modo algumas perguntas sobre a vida e a morte: “Já disse que não é muito de acreditar em Deus. . . ”, perguntava o jornalista. “Depende dos dias”, dizia Aznavour. “E na outra vida?” “Aquilo lá em cima deve estar muito atravancado. Tenho dificuldade em acreditar que haja um éden onde está toda a gente. Imagine a quantidade de pessoas que existiram desde o princípio do mundo. É verdade que há um inferno que se encarregaria de muitas. Deve estar, aliás, muito mais cheio que o paraíso. ”Nova pergunta: “Teve uma vida cheia?” “Sim, sem excessos. Enfim, sem excessos, a partir de certa idade. Antes do meu último casamento [o terceiro], cometi algumas loucuras, próprias da idade. Digamos que aproveitei bem a vida. ” Uma última pergunta: “Mas chegará, então, esse tal momento em que vai abandonar a vida. . . ” Resposta breve: “Eu não vou abandonar a vida. A vida é que me vai abandonar. Esse é que é o problema. ”
REFERÊNCIAS: