Médicos cubanos já terão custado 12 milhões de euros ao Estado
O bastonário diz que o ministro “pode até contratar médicos chineses se oferecer as mesmas condições [que oferece aos cubanos] aos portugueses e estes não aceitarem”. (...)

Médicos cubanos já terão custado 12 milhões de euros ao Estado
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O bastonário diz que o ministro “pode até contratar médicos chineses se oferecer as mesmas condições [que oferece aos cubanos] aos portugueses e estes não aceitarem”.
TEXTO: O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, garante que, se os clínicos portugueses ganhassem “4230 euros por mês, mais casa , água e luz” - o valor auferido pelos clínicos cubanos contratados pelo Governo para trabalharem em centros de saúde do Alentejo e Algarve -, “também estariam dispostos a ir para lá”. O bastonário aproveitou a notícia do jornal i - que revela na edição desta terça-feira que a contratação de médicos cubanos custou nos últimos seis anos cerca de 12 milhões de euros a Portugal - para repetir que o Ministério da Saúde não oferece aos profissionais portugueses as mesmas condições que proporciona aos cubanos e desafiar a tutela a fazê-lo, de uma vez por todas. “[Os sucessivos ministros da Saúde] nunca avançaram com os incentivos”, lamentou o bastonário ao PÚBLICO, defendendo que “esta discriminação positiva” resolveria o problema da falta de médicos de família, que estima em “cerca de 600” em todo o país. “Alguém pensa que, a não ser por razões pessoais, um médico vai trabalhar para Portalegre por oito euros limpos à hora [valor pago aos clínicos contratados, os chamados “tarefeiros”]?”, pergunta José Manuel Silva. “O ministro pode até contratar médicos chineses se oferecer as mesmas condições [que oferece aos cubanos] aos portugueses e estes não aceitarem”, acrescenta. “Já dissemos isto ao ministro, já o desafiamos a fazer um mapa das necessidades, mas não há resposta”, lamenta. Após uma queixa do i à Comissão de Acesso a Documentos Administrativos, o Ministério da Saúde acabou por revelar o teor dos contratos assinados com Cuba desde 2009. O jornal analisou os documentos e calculou que o montante já pago pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) desde essa altura rondará os 12 milhões — apenas uma parte vai para os médicos, a outra fica para as autoridades cubanas financiarem a formação e o serviço de saúde de Cuba. O primeiro grupo de médicos cubanos chegou a Portugal a 8 de Agosto de 2009, no âmbito de um contrato celebrado entre os governos de Portugal e de Cuba, para prestar cuidados médicos em centros de saúde no Alentejo, Algarve e Ribatejo. Locais que ficavam sistematicamente sem candidaturas de médicos portugueses, na altura. De então para cá, os valores em jogo foram alterados. No início do protocolo, Portugal pagava mensalmente por cada médico ao Governo cubano 5900 euros. No final de 2011, o actual Governo reviu o valor para 4230 euros. O último aditamento ao acordo, de Abril de 2014, segundo o jornal, estabelece que os médicos cubanos a trabalhar no SNS têm uma carga horária de 44 horas semanais, "pagas a 96 euros à hora", três vezes “o tecto de 30 euros” que a lei portuguesa admite nas contratações a empresas fornecedoras de serviços médicos. Este cálculo está errado, porém. Dividindo os 4230 euros pelas 44 horas por semana, considerando que um mês terá quatro semanas, o valor à hora é 24 euros. Em Maio, o ministro da Saúde anunciou que mais 52 médicos cubanos iriam reforçar vários centros de saúde. A medida foi de imediato criticada pelo bastonário da OM, que notou na altura que aqueles profissionais iam custar perto de cinco mil euros, “o dobro” do que recebem os portugueses. É uma contratação que não faz sentido, numa altura em que médicos mais jovens estão a emigrar e os mais velhos se estão a reformar antecipadamente, argumentou então. José Manuel Silva repete agora os argumentos para desafiar o Governo a pagar o mesmo aos portugueses. O PÚBLICO já pediu à Administração Central do Sistema de Saúde uma reacção à notícia do i, bem como o teor dos contratos. Notícia actualizada com declarações do bastonário da Ordem dos Médicos e correcção do cálculo sobre o valor pago à hora aos médicos cubanos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei discriminação
Mais uma vez: o ascenso do "trumpismo" nacional
É um problema para a direita, que detesta o seu lado revolucionário e anticonservador, mas que o aceita muito mais do que o pode admitir. (...)

Mais uma vez: o ascenso do "trumpismo" nacional
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: É um problema para a direita, que detesta o seu lado revolucionário e anticonservador, mas que o aceita muito mais do que o pode admitir.
TEXTO: Falar de Donald Trump é a coisa mais importante sobre a qual se pode falar nestes dias. Tudo o resto parece menor e é efectivamente menor, e sinto-me quase escapista se falar de política doméstica face ao que está a acontecer ao mundo. Problemas na “geringonça”? Certamente que há, mas valem pouco. As desventuras de Passos Coelho no PSD? Sem dúvida que as há, mas também há muita imaginação criadora sobre o seu isolamento no PSD, pelo menos no aparelho do PSD. Os “afectos” do senhor Presidente? Esses enchem o mundo e são muito inócuos. As peripécias da banca? Sem dúvida que são importantes, irão ao nosso bolso, mas temos tempo para voltar a elas. A confusão do "Brexit"? Bom, aqui começamos a tocar em coisas mais importantes. A perplexidade europeia face ao ascenso de gente como a senhora Le Pen? Bom, aqui começamos a ter de falar muito a sério. O crescente caos no mundo, entre uma Rússia ascendente, um Irão enervado, uma China a preparar uma variante qualquer da “tortura chinesa” para os americanos? Sim, aqui já não é só preocupações, começamos a sentir o perigo. Perigo mundial, como há muito tempo não se via. E aqui já estamos claramente no domínio de Trump e dos efeitos da sua revolução. É por isso que falar de Trump é a coisa mais importante sobre a qual se pode falar nestes dias. E como falamos para Portugal, quando muito com efeitos caseiros, é de Trump em Portugal que tem interesse falar. Isto, porque Trump é a mais grave consequência de muitos anos de desleixo político em nome de uma certa “economia” política, da crise da social-democracia, que se impôs depois de 2008, e que pode ter efeitos muito perigosos, mas pode também ter efeitos benéficos. Trump polariza, a seu favor e contra, e esse efeito polarizador maximizará os seus apoiantes, mas também fará sair de uma longa letargia os seus adversários. Trump teve a vantagem de não permitir qualquer benefício da dúvida e de ser tão claro no sentido da sua intervenção, que provocou uma imediata reacção negativa, que, um pouco por todo o lado, tem vindo em crescendo. Esse fenómeno é global e não permite muitas hesitações. Theresa May viu isso, quando as suas ambiguidades na visita que fez a Trump a obrigaram a ter de usar no Parlamento britânico uma linguagem condenatória que tinha evitado usar nos EUA. A conversa irritada que teve o primeiro-ministro australiano com Trump e o cancelamento da visita do Presidente do México mostram que a paciência com Trump não existe em quase lado nenhum. Se é assim em cima, é muito mais em baixo. Será que são “radicais”, como acusa a direita portuguesa aos que não dão qualquer benefício de dúvida a Trump? Na linguagem simplista que, quer queiramos quer não, faz algum sentido na política redutora dos nossos dias, Trump é de esquerda ou de direita? A resposta é muito clara: Trump é de direita, de uma direita agressiva e pouco democrática, proteccionista e pouco liberal, que da política quer a opinião das massas, mas não quer os procedimentos da democracia e o primado da lei, ou seja, usa a demagogia, a irmã perversa da democracia, para um caminho perigosamente autoritário. Vejamos o seu programa: proteccionismo e nacionalismo económico, desregulação, fim de toda a legislação gerada depois da crise de 2008 para travar os excessos financeiros da banca, baixa dos impostos sobre os negócios, fim de qualquer regulamentação que limite a actividade das empresas e de Wall Street, fim de mecanismos de almofada contra a pobreza como era o Obamacare, etc. , etc. Ou seja, um programa que, com excepção do proteccionismo e nacionalismo económico, é da direita, incluindo a direita liberal. Há uma divergência com uma direita que se tornou internacionalista e partidária do livre comércio, da procura de salários baixos com a deslocalização das empresas, e a quem não agrada o “rasgar” dos tratados de comércio, mas para eles Trump reserva o seu comportamento de bullying, que até agora parece ter dado alguns resultados. Depois há as questões de costumes, os direitos das mulheres, dos homossexuais, o aborto e o planeamento familiar, o papel crescente das Igrejas evangélicas na vida política, um grupo de questões que são típicas da agenda da direita. E, por fim, um dos aspectos mais importantes, está o estilo autoritário de permanente ameaça, vingança ou retaliação, no limiar da legalidade e dos procedimentos aceitáveis em democracia. Estranhamente, não vejo muitos protestos contra factos que roçam a ilegalidade, como seja o convite para se “irem embora” aos mil funcionários do Departamento de Estado que assinaram um documento de divergência da política de Trump usando um mecanismo previsto pela própria lei interna, isto é, usando um direito garantido até hoje pelo departamento de que são funcionários. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De facto, se retirarmos o seu proteccionismo e o consequente isolacionismo americano, que explica a sua aproximação a Putin, que aplaude com todas as mãos; as suas reservas quanto à NATO, que Putin também aplaude com os pés e com as mãos, a política de Trump segue um padrão típico da direita em matérias de política interna. O que sobra do intervencionismo americano é errático e incoerente: o combate total ao ISIS, não se sabe como, mas certamente com os russos, após a legitimação do governo de Assad, a aproximação aos ultras israelitas, a belicosidade com o Irão e a China, que também não afectam o quadro geral dos interesses russos, e afastamento dos seus aliados tradicionais na Europa e na Ásia. Se exceptuarmos a aproximação à Rússia, o resto é muito pouco coerente, mas traduz o desinteresse que Trump tem pela política internacional. Neste contexto, Trump é um problema para a direita, que detesta o seu lado revolucionário e anticonservador, mas que o aceita muito mais do que o pode admitir. Aliás, é interessante verificar que, quase sem excepção, os artigos escritos à direita em Portugal sobre Trump têm como motivação muito mais a crítica aos críticos de Trump do que a crítica a Trump. Embora não possa garantir ter lido todos, ainda estou para ver um artigo, comentário, declaração vindo da direita portuguesa que seja apenas… contra Trump. E não faltam motivos. O que há é ataques aos que atacam Trump, e depois desgosto com a personagem, mas a economia da indignação vai para os “radicais” que o atacam, muitas vezes colocados no mesmo plano. Outra variante é dizer que Trump está a fazer o mesmo que fez Obama ou Clinton, só que gabando-se, em vez de esconder a mão, como eles fizeram. Na aparência pode ser verdadeiro, como é o caso do muro com o México que já existia, mas toda a gente sabe que, no domínio simbólico da política, o muro de Trump, “pago” pelos mexicanos como sinal da sua culpa colectiva, é uma coisa completamente diferente do de Obama. Do mesmo modo, há uma diferença abissal entre “banir” a entrada de imigrantes ilegais, e ter todo o cuidado com a imigração de zonas de conflito, e “banir” as entradas de países muçulmanos porque são muçulmanos. E mesmo assim “banir” só os países muçulmanos onde Trump não tem negócios, e não aqueles como a Arábia Saudita que efectivamente exportaram mais terroristas para os EUA e para todo o Médio Oriente. Trump chegou à presidência americana num período de geral radicalização da direita e de destruição do centro. Trump e a direita portuguesa partilham os inimigos. Ora, na lógica dos mecanismos redutores da política dos dias de hoje, essa direita vai-se encostar cada vez mais a ele, tanto mais quanto Trump pareça ir perder, porque os seus adversários são os seus, e os inimigos dos meus inimigos meus amigos são. A comunidade de adversários é, em tempos de crise, um poderoso factor de aproximação. Será muito pouco bonito de ser ver, mas vai-se ver, ou melhor, já se está a ver.
REFERÊNCIAS:
Morreu Alvin Toffler, autor de Choque do Futuro
Autor norte-americano previu vários desenvolvimentos económicos e tecnológicos. (...)

Morreu Alvin Toffler, autor de Choque do Futuro
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Autor norte-americano previu vários desenvolvimentos económicos e tecnológicos.
TEXTO: O escritor e analista social Alvin Toffler, autor de obras de sucesso que inspiraram vários dirigentes mundiais, morreu em Los Angeles aos 87 anos, anunciou nesta quarta-feira a empresa de consultoria por ele fundada. O autor morreu na segunda-feira, diz um comunicado da Toffler Associates, sem explicar as causas da morte. Na sua obra mais célebre, Choque do Futuro, publicada em 1970, Alvin Toffler debruçou-se sobre as mudanças sociais esperadas no mundo. A Terceira Vaga (1980) e Os Novos Poderes (1990) foram outros dos seus best-sellers. Ao longo da sua carreira, ele previu vários desenvolvimentos económicos e tecnológicos, como a clonagem, a popularidade dos computadores pessoais, a aceleração da transmissão de informação, a invenção da Internet e da televisão por cabo, além do advento dos casamentos entre homossexuais. Foi ele que popularizou a expressão “excesso de informação”. Vários dirigentes mundiais, como o ex-Presidente soviético Mikhail Gorbatchov ou o ex-secretário-geral do Partido Comunista chinês Zhao Ziyang, confessaram ter sido inspirados pelos livros de Toffler e revelaram que o consultaram mesmo nos anos 1980. O multimilionário mexicano Carlos Slim afirmou que conseguiu antecipar e apostar em sectores com potencial de crescimento graças às teorias de Toffler, de quem era amigo. Publicado em 50 países, Choque do Futuro vendeu 15 milhões de exemplares. O funeral de Toffler em Los Angeles será uma cerimónia privada, estando prevista a realização posterior de uma homenagem pública. Alvin Toffler nasceu a 4 de Outubro de 1928, em Nova Iorque. Filho de emigrantes polacos, cresceu na zona de Brooklin, com a irmã mais nova. O pai era comerciante de peles e foram os tios – um editor e uma poeta, que viviam na mesma casa que os Toffler –, que fizeram com que um muito jovem Alvin quisesse escritor. “Eles eram intelectuais da era da [Grande] Depressão e estavam sempre a falar de ideias entusiasmantes”, recordou Toffler, numa entrevista dada há dez anos ao The New York Times para o obituário que o jornal agora publicou. Aos sete anos, pouco depois de ter aprendido a ler e escrever, Alvin começou a escrever poemas e ficção – dois géneros para os quais, haveria de descobrir mais tarde por entre várias tentativas de escrita, não tinha vocação. Em 1946, Toffler entrou na Universidade de Nova Iorque, para estudar inglês. Tinha menos interesse pelas aulas do que pelo activismo político, contou àquele jornal. Uma das causas que defendia então eram os direitos da população negra nos EUA. Dois anos mais tarde, conheceu Adelaide Elizabeth Farrell (também conhecida por Heidi e “uma loira deslumbrante”, nas palavras de Toffler). Viriam a casar-se em 1950. A mulher foi fundamental para a obra Toffler. Trabalhou com eles nos livros e, embora as primeiras obras, que o notabilizaram como grande pensador, tenham sido assinadas apenas por ele, mais tarde o autor divulgou que se tratava de um trabalho conjunto. Nas obras mais recentes, Já surge o nome de Heidi e esta é apresentada como sendo co-autora dos livros anteriores. “‘Nós’ não é o habitual plural majestático dos autores”, explicou Toffler numa entrevista televisiva há vários anos. “‘Nós’ é, na verdade, duas pessoas. E a outra pessoa é a minha mulher. ”A influência de Heidi começou, porém, muito antes da escrita do primeiro livro. Foi ela que o convenceu a terminar o curso e decidiram depois mudar-se para a cidade industrial de Cleveland. Alvin queria – à semelhança de escritores que admirava, como Jack London e John Steinbeck – ter experiências antes de começar a escrever. Cada um arranjou emprego numa fábrica e começaram a reflectir sobre a produção em massa. Toffler trabalhou alguns anos como soldador e reparador de máquinas. Em 1954, tiveram uma filha (a única do casal, morreu em 2000) e o então operário, percebendo que não conseguia escrever boa ficção ou poesia, decidiu avançar para outra forma de escrita. Arranjou emprego a escrever para uma revista especializada em soldadura. Pouco depois, foi contratado como repórter num jornal de distribuição nacional editado por um sindicato de tipógrafos e daí seguiu para um jornal diário. Em 1959 deu o salto para uma publicação de renome e tornou-se o editor para assuntos laborais e colunista da revista Fortune, em Nova Iorque. Esteve na Fortune cerca de três anos, antes de sair para se tornar um escritor freelancer para revistas e outras publicações. Em 1960 foi contratado pela IBM para escrever um artigo sobre o impacto a longo prazo dos computadores. Na altura, estas máquinas existiam apenas em ambiente académico e empresarial e a era dos computadores pessoais estava a duas décadas de distância. Toffler, no entanto, era ecléctico nos temas que abordava. Um dos seus conhecidos trabalhos enquanto freelancer naquela altura é a entrevista ao escritor russo Vladimir Nabokov, autor de Lolita. Foi publicada em Janeiro de 1964, na revista Playboy. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No final daquele ano publicou o seu primeiro livro, que reflecte sobre a produção e o consumo de cultura nos EUA, numa altura em que a economia do país estava em crescimento e uma fatia considerável da população tinha satisfeitas as necessidades materiais básicas. Com o sucesso de Choque do Futuro, em 1970, os Tofflers dão um novo passo na carreira de pensadores e haveriam de lançar vários livros nas décadas seguintes. Em 1996, já com uma grande reputação, especialmente entre gestores, criam a Toffler Associates, uma empresa de consultoria. Notícia actualizada às 17h43 de 30/06/2016.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
“A maior expressão de preconceito racial consiste na negação deste preconceito”
A ministra da Justiça falou nesta terça-feira na conferência “Racismo, Xenofobia e Discriminação Étnico-Racial em Portugal”, na Assembleia da República. Leia a versão escrita do discurso na íntegra. (...)

“A maior expressão de preconceito racial consiste na negação deste preconceito”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 1.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: A ministra da Justiça falou nesta terça-feira na conferência “Racismo, Xenofobia e Discriminação Étnico-Racial em Portugal”, na Assembleia da República. Leia a versão escrita do discurso na íntegra.
TEXTO: Pensar, ponderar, analisar e acima de tudo, realizar estudos sobre os fenómenos do racismo, da xenofobia e da discriminação étnico-racial em Portugal, constitui uma necessidade imperiosa de uma sociedade que cresceu e se diversificou no plano étnico, no plano racial, no plano cultural. Felicito, por isso, a 1ª Comissão e, em particular a subcomissão para a igualdade e não discriminação por esta feliz e tão oportuna iniciativa. Sem informação obtida através de estudos, inquéritos e análises aprofundadas e sérias sobre estas temáticas nunca chegaremos a conhecê-las na sua dimensão integral, sendo incontornável que estes fenómenos existem e atravessam, transversalmente todos os estratos da sociedade. O relatório agora apresentado evidencia claramente essa necessidade de obtenção de informação estruturada, detalhada e atualizada. É redutor e pode ser indutor de erros que cada um de nós fundeie a sua opinião, apenas, em perceções e na análise da realidade limitada que conhece. Tenho a perceção – que julgo partilhada por muita gente -, de que na população racial ou etnicamente diferenciada se inscrevem:- Os economicamente mais desfavorecidos;- Os que possuem os empregos com posições de mais baixa qualificação e consequentemente mais mal pagos;- Os estudantes que apresentam taxas de reprovação e de retenção escolar mais elevadas e revelam maior abstenção escolar;- Os cidadãos com taxas de inserção no ensino superior mais baixas;- Os que registam uma maior taxa de encarceramento criminal;- Os que residem na periferia da periferia, juntando-se em bairros que tendem a transformar-se em guetos, não só económico-sociais, mas também culturais. Tenho, de igual modo, a perceção que essa realidade não é idêntica para as várias comunidades étnico-raciais que residem em Portugal. A discriminação é hierarquizada – existirão uns que estão mais no fim da cadeia do que outros. Ou seja, que o vivenciado pela comunidade negra, ou cigana, não é semelhante ao vivenciado, por exemplo, pelas comunidades de nepalesa, paquistanesa, da europa de leste, brasileira ou chinesa. No que diz respeito a estas últimas, a ideia que parece transparecer é a de que a sua inclusão, pelo menos do ponto de vista social e económico, se mostra um pouco menos difícil, apesar de não deixam de pertencer a grupos étnicos diferenciados. Mas, será esta perceção correta ou ela resultará, tão só, do desconhecimento sobre a vivência destas comunidades? O que se passará em relação à islamofobia e ao antissemitismo? Qual a medida da sua existência e que repercussões tem na sociedade portuguesa?A verdade é que, confesso, não gosto de formar juízos com base em perceções. Confio em factos e não simpatizo com presunções. Também por esta razão, me regozijo pela promoção e realização do trabalho que originou o relatório hoje aqui se apresentado e, mais ainda por a iniciativa partir dos eleitos do povo. Sobre estas temáticas relacionadas com o racismo, a xenofobia e a discriminação étnico-racial tende a recair um enorme manto de silêncio. Tanto quanto me é dado a conhecer, são realizados alguns estudos sectorais, mas não se encontra disponível informação ampla e abrangente, suscetível de ser cruzadas e trabalhada, com base na qual se possa extrair conclusões seguras sobre a realidade. Perguntas tão simples como as de saber quantos são os membros destas comunidades; que idade têm; quantos nasceram em Portugal; quantos aos que não nasceram, há quantos anos aqui residem, onde e como vivem, quanto auferem, que graus de escolaridade detêm, que acesso a empregos, a habitação, a cuidados de saúde ou a bens e serviços lhes são negados? Estas questões não têm hoje resposta. No entanto, se não conhecemos as várias vertentes do problema, nem tão pouco a sua dimensão, como é que poderemos atuar de forma integrada e eficaz?Parafraseando James Baldwin – uma das vozes mais influentes do movimento dos direitos civis, nos Estados Unidos, “nem tudo o que enfrentamos pode ser mudado. Mas nada pode ser mudado enquanto não for enfrentado. O confronto nem sempre traz uma solução para o problema, mas enquanto não enfrentarmos o problema, não teremos solução”. Durante décadas, apregoar a inexistência de fenómenos racistas na sociedade portuguesa tornou-se um quase lugar-comum. A repetição incessante da ideia não teve, contudo, a virtualidade de a converter em verdadeira. A maior expressão de preconceito racial consiste, precisamente, na negação deste preconceito. Porque, como escreveu Sophia de Mello Breyner, – «Vemos, ouvimos e lemos, Não podemos ignorar». E falando na primeira pessoa, eu acrescentaria que se para alem de vermos, ouvirmos e lermos, também sentimos – essa ideia da inexistência de fenómenos racistas na sociedade portuguesa foi, paulatinamente, perdendo solidez. Um número não despiciendo de pessoas passou então a acreditar, na sequência de uma corrente de pensamento que já emerge do século XIX, que a escola, o conhecimento e a cultura se encarregariam de resolver a questão. Bastaria esperar pelo decurso do tempo e pela emergência das novas gerações que, progressivamente, mais escolarizadas teriam, necessariamente, uma abordagem e uma estar diferenciado e iminentemente inclusivo. Claro que importa acreditar na educação e na escolarização, mas não há evidência de que essa seja, a solução para os problemas do racismo e da xenofobia nas nossas sociedades. Ninguém duvida que hoje, não só em Portugal, mas também na Europa, a população, principalmente a mais jovem, alcançou um grau de escolarização muito superior relativamente às gerações que a precederam. Mas esse facto determinou que tivesse diminuído, por exemplo, o discurso de ódio ou a reação perante a diferença racial ou étnica? Diria que não. Pelo contrário, parece ter-se refundado, em pleno século XXI, um discurso de ódio ao diferente, com óbvio recrudescimento das sociedades xenófobas e racistas. É esta constatação que conduz à conclusão de que, relativamente a estas temáticas, bem como em relação a outras, infelizmente a educação, o conhecimento e a cultura não consubstanciam a magia do Santo Graal. Um grau de escolaridade mais elevado poderá tornar as reações mais subtis, menos primárias ou grosseiras, mas não tem a faculdade de as eliminar. Quantas e quantas vezes ouvimos, proferida pelas pessoas mais diversas e diferenciadas: não sou racista mas …, sendo certo que após a adversativa se segue um comentário que, seguramente, exemplifica ou demonstra um qualquer estereótipo negativo que marcará a diferença entre “nós e os outros”. Inúmeras pessoas afirmarão, sem hesitar – que o racismo é estúpido. No entanto, algumas dessas pessoas provavelmente não admitirão, nem sequer perante si próprias, que a diferença os incomoda ou mesmo que lhes causa aversão e lhes determina a reações hostis. Como já alguém afirmou, o racismo é o crime perfeito – quem o comete acha sempre que a culpa é da vítima. Relativamente a estes fenómenos não há uma solução ou a solução. Existirão, ao invés, inúmeros ângulos que necessitam de ser abordados sendo que, entre estes, os mais prementes se prendem com a desigualdade e com a exclusão. Como intervir perante o medo da diferença? Como agir e o que fazer para a diferença não se transmute em desigualdade?Mais: como intervir na sociedade atual onde a coberto do anonimato potenciado pelas redes sociais floresce o sentimento anti-imigrante e onde grande parte dos males do mundo é imputado a um outro que, por qualquer razão, nos seja dissemelhante?Creio que uma das chaves – claro está que integrada numa miríade de outras – será a da inclusão. O receio, o medo e a hostilidade serão, creio, tanto menores, quanto mais o diferente nos seja próximo, quanto mais convivermos, repartirmos, e estabelecermos cumplicidades com esses outros. Essa inclusão apenas se alcançará se os que aparentemente não são iguais frequentarem as mesmas creches, o mesmo ensino pré-escolar, as mesmas escolas, forem vizinhos ou colegas de trabalho. Se tiverem os mesmos estímulos. Esta será, creio, uma das vias que possibilitará que a diferença deixe de convulsionar ou inquietar e se converta em normalidade. Essa normalidade poderá então criar a oportunidade para, fazendo minhas as palavras do Papa Francisco, «viver com a cultura do outro» e, ao vivê-la, a vermos e sentirmos como natural. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Importa, todavia, que não tenhamos ilusões: a estrada que importa percorrer é imensa e, não raras vezes, o caminho parece infinito. Não obstante, acredito, firmemente, que um dia virá que todos concordarão, sem reserva, com Gabriel García Marquez: uma pessoa só tem direito de olhar outra de cima para baixo no momento de a ajudar a levantar-se. Temos de construir sobre bons valores partilhados e ver na diversidade, não uma ameaça, mas antes uma riqueza: Portugal não merece nem espera de nós outra atitude. Termino felicitando mais a primeira Comissão por ter decidido iniciar um debate esclarecido sobre questões subalternizadas no pensamento e discurso institucionais. Nesta matéria o negacionismo, a persistência na desvalorização do fenómeno conduz ao desastre e à radicalização de posições.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos escola cultura exclusão educação racismo comunidade social igualdade medo racista negra imigrante discriminação xenofobia
Lojas em Beja usam sapos de barro para afastar ciganos
O sapo é uma figura maldita para os ciganos, que associam o animal ao azar e à infelicidade. E em Beja, onde vivem numerosas famílias ciganas no Bairro das Pedreiras, a figura daquele animal está espalhada por lojas e casas particulares, evidenciando a tensão que continua a existir naquela cidade do Baixo Alentejo. (...)

Lojas em Beja usam sapos de barro para afastar ciganos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 3 Ciganos Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O sapo é uma figura maldita para os ciganos, que associam o animal ao azar e à infelicidade. E em Beja, onde vivem numerosas famílias ciganas no Bairro das Pedreiras, a figura daquele animal está espalhada por lojas e casas particulares, evidenciando a tensão que continua a existir naquela cidade do Baixo Alentejo.
TEXTO: A situação deve ser abordada na 37. ª edição da Pastoral dos Ciganos que hoje se reúne em Beja. Durante três dias, os responsáveis de todas as organizações Cáritas do país vão discutir os problemas das comunidades romani nacionais. O PÚBLICO encontrou exemplares de sapos em diversos locais, sobretudo lojas comerciais, desde cafés a lojas de produtos chineses, onde também já se terá aprendido que estes objectos decorativos exercem um efeito secundário sobre os ciganos do Bairro das Pedreiras. O presidente da Associação do Comércio, Serviços e Turismo do Distrito de Beja, Francisco Carriço, frisa que "o fenómeno dos sapos de barro não se circunscreve apenas ao comércio". "Estende-se até às casas particulares e, ultimamente, o problema tem assumido alguma dimensão", reconhece o representante dos comerciantes, frisando que se recorre aos sapos "como forma de afastamento dos elementos da etnia cigana, por causa do receio de que possam ser assaltados". O mesmo dirigente associativo condena, porém, esta atitude dizendo que é sua convicção de que "não podem ser imputados aos ciganos" os assaltos que são praticados na cidade ou na região. "É um mito que não deve ser alimentado, até porque não é um bom exemplo para ninguém", conclui. Prática vulgarizadaPor Beja, vêem-se batráquios de barro em montras e balcões de lojas comerciais, jardins e portas de acesso a casas particulares. "Temos azar a esse bicho", diz Joaquim Estrela Marques, 94 anos, patriarca da comunidade cigana naquela cidade. "Cada vez que surge um, arrepiamos caminho", acrescenta Vítor Marques, presidente da União Romani Portuguesa. Não se trata de um exclusivo de Beja. Basta pesquisar os arquivos dos jornais portugueses para encontrar relatos de casos idênticos no passado. Em 2004, alguns diários noticiaram o facto de muitos comerciantes do Campo Grande, em Lisboa, recorrerem aos sapos para afugentar ciganos. Três anos depois, o Jornal de Notícias dava conta de que o retrato se repetia a norte, em Marco de Canaveses. Nem sequer é preciso recuar no tempo, porque em diversas cidades continua a ver-se as ditas figuras em espaços abertos ao público, com o intuito de repelir a presença de ciganos. No Bairro de Santos (Rego), em Lisboa, por exemplo, há muitos moradores de origem cigana que se deparam com estas figuras bem visíveis em balcões de cafés. Estigma e estereótipoQuestionada pelo PÚBLICO sobre esta prática em Beja, a alta-comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, sublinha que "importa saber qual é o motivo" por que se recorre aos sapos, admitindo que estes "também servem de adorno" nos jardins de casas particulares. Caso contrário, acrescenta, "estamos perante actos discriminatórios", o que reforça a necessidade de se promover "um caminho mútuo para acabar com este tipo de estereótipos", conclui a alta-comissária. O presidente da União Romani não tem dúvidas de que, no caso de Beja, há uma crescente presença de sapos em espaços comerciais devido à existência de um bairro de famílias ciganas e garante que as figuras de barro estão a ser usadas como "repelentes" desses moradores "para os estigmatizar". Vítor Marques invoca o que aconteceu em 2005, na cidade de Aveiro, onde em 24 horas apareceram muitos sapos de barro - e até vivos - em montras e lojas, depois de o próprio presidente da União Romani ter aludido à superstição que os ciganos têm em relação ao sapo, durante uma entrevista numa rádio local. "Pedimos na altura a intervenção do governador civil e boa parte dos comerciantes reconsiderou, através da associação que os representa, esse gesto" hostil, frisa Vítor Marques.
REFERÊNCIAS:
Morreu Jean-Loup Passek, o cinéfilo francês em que batia um coração português
Em 2005, inaugurou em Melgaço um Museu do Cinema recheado com o acervo recolhido ao longo da vida. Nascido em França, cinéfilo curioso, desenvolveu actividade no Festival de Cannes, no de La Rochelle e no Centro Pompidou. Dizia ter "espírito eslavo, nacionalidade francesa e coração português". (...)

Morreu Jean-Loup Passek, o cinéfilo francês em que batia um coração português
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em 2005, inaugurou em Melgaço um Museu do Cinema recheado com o acervo recolhido ao longo da vida. Nascido em França, cinéfilo curioso, desenvolveu actividade no Festival de Cannes, no de La Rochelle e no Centro Pompidou. Dizia ter "espírito eslavo, nacionalidade francesa e coração português".
TEXTO: Começou a chegar até nós quando, no início dos anos 1970, animado pelo espírito do cinema-verité, registava um conjunto de obras para a ampliação do metro de Paris. Os operários que ali filmou eram portugueses, e Jean-Loup Passek cimentou com alguns deles uma amizade que o levaria, anos depois, quando já tinha duas casas em Portugal, em que se refugiava durante parte considerável do seu tempo, a afirmar ter “espírito eslavo, nacionalidade francesa e coração português”. Em 2005, este historiador, crítico, programador e coleccionador de cinema, com percurso ligado ao Festival de Cannes e ao La Rochelle, ao Centro Pompidou e ao prestigiado Dictionnaire du Cinéma das edições Larousse, viu inaugurado o Museu do Cinema em Melgaço, a vila do Alto Minho em que tinha residência (a sua outra casa portuguesa encontrava-se em Pataias, Nazaré). Ali depositou o seu valioso acervo de memorabilia cinéfila, recolhida ao longo de toda a vida. Jean-Loup Passek morreu na madrugada deste domingo, aos 80 anos, revelou ao PÚBLICO fonte familiar. Em Setembro, a Cinemateca prestou-lhe homenagem com a programação de um ciclo de filmes e com uma exposição de cartazes do cinema clássico francês e da escola gráfica da Polónia, país de onde a sua família era originária (ou melhor, “de origem polaca ou russa conforme as vicissitudes da história”, dizia). Na sessão inaugural, a 9 de Setembro, em que não pode marcar presença por motivos de saúde, foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Cultural do Governo de Portugal. No texto de apresentação do ciclo – que contou com a presença, em Lisboa, do seu amigo de há muitas décadas Marin Karmitz –, destacava-se a existência no seu trajecto de “uma óbvia coerência e duas ou três linhas de força”. São elas: “dar a ver, dar a conhecer, contra cânones estabelecidos, gavetas ou fronteiras históricas”. Foi o que fez, por exemplo, no Centro Pompidou, onde ocupou o cargo de Conselheiro de Cinema entre 1978 e 2001, sendo responsável por grandes retrospectivas de cinematografias menos conhecidas, como as do cinema checo, húngaro, turco, grego, indiano, chinês ou português. A primeira homenagem em França a Manoel de Oliveira, em 1975, foi da sua responsabilidade, e a única retrospectiva de António Campos fora de Portugal aconteceu igualmente por sua iniciativa. Homenagem e retrospectiva surgiram no festival de La Rochelle, de que foi director em 1973 e 2001 (enquanto isso, coordenou a categoria Caméra d’Or do festival de Cannes, que distingue primeiras obras). Nascido em 1936, em Boulogne-sur-Seine, Jean-Loup Passek licenciou-se em História e Geografia na Sorbonne, em Paris. A ligação afectiva e profissional ao cinema ficou garantida quando preferiu assistir a Citizen Kane, de Orson Welles, em vez de marcar presença nas provas do concurso de professorado. A aproximação a Portugal chegou, por sua vez, através da relação estabelecida com a comunidade imigrante portuguesa em Paris, juntou da qual criou amizades que se mantiveram para o resto da vida. Em 2005, quando da inauguração do Museu do Cinema em Melgaço, dizia ao PÚBLICO: “Estou contente. É um verdadeiro milagre que o museu tenha podido nascer aqui, em Melgaço. Ninguém me propôs nada de concreto em França. Gastei o meu dinheiro a comprar isto tudo, e não queria que a colecção ficasse em França. Sinto-me um pouco egoísta. Para mim, Portugal é que é importante”, destacou, referindo que toda a sua vida foi gerida “por sentimentos”. E por um olhar sempre interessado no que o mundo guardava para mostrar. Como afirmou certo dia, “sou pela curiosidade total”. Reagindo à notícia da sua morte, a Câmara Municipal de Melgaço lamentou, em comunicado, o desaparecimento de "um amigo da terra". "É indiscutível a amizade que nos unirá para sempre. Jean-Loup Passek será para toda a eternidade lembrado como um grande Amigo de Melgaço", refere a autarquia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Também o ministro da Cultura prestou o "devido reconhecimento" ao trabalho de divulgação do cinema, e em particular do cinema português, realizado pelo historiador e crítico francês. Em comunicado enviado à Agência Lusa, Luís Filipe Castro Mendes sublinhou não esquecer "a generosidade de Jean-Loup Passek e a responsabilidade que representa o legado" de um homem cujo amor por Portugal "nos fez herdeiros do seu acervo, colecção que esteve na base da criação do Museu de Cinema de Melgaço". O funeral de Jean-Loup Passek realiza-se na sexta-feira de manhã, às 10h30, da Igreja de Saint-Germain-des-Prés para o cemitério do Père Lachaise, em Paris. Notícia actualizada às 16h35, com correcção do dia da morte – domingo, e não sábado –, reacções institucionais e data do funeral.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte escola cultura homem comunidade chinês imigrante desaparecimento
E quando os filhos saem de casa e os pais não sabem o que fazer?
O síndrome do ninho vazio existe e pode levar alguns pais à depressão. A receita é transmitir confiança aos filhos e deixá-los voar, recomendam os especialistas. Quanto aos pais, há projectos que podem pôr em prática. (...)

E quando os filhos saem de casa e os pais não sabem o que fazer?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: O síndrome do ninho vazio existe e pode levar alguns pais à depressão. A receita é transmitir confiança aos filhos e deixá-los voar, recomendam os especialistas. Quanto aos pais, há projectos que podem pôr em prática.
TEXTO: Na cozinha, uma mulher faz pãezinhos chineses com destreza. Põem-nos a cozer ao vapor e leva-os para a mesa, onde ela e o marido comem em silêncio. Ele sai para trabalhar e ela fica a terminar a refeição até que o último pãozinho, o bao, ganha vida. É um bebé que segue a mãe para todo o lado, mas à medida que cresce vai ganhando autonomia para mal daquela mãe que não se consegue adaptar. O fim fica para quem quiser ir ver a curta-metragem Bao, da realizadora Domee Shi, que antecede Os Incríveis 2, nos cinemas. Amanhã começam as candidaturas à primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior, altura em que muitos jovens optam por escolher cursos ou escolas que ficam longe da casa dos pais. Como lidam estes com a situação?Depende. Tal como a mãe chinesa de Bao, também os pais portugueses promovem pouco a autonomia dos filhos, começa por dizer a psicóloga Teresa Espassadim, da Clínica Psicodinâmica, em Lisboa, e que foi coordenadora do Gabinete de Orientação do Instituto Superior de Engenharia do Porto. “Há um estilo mediterrânico que parece que temos de estar muito juntos para sermos felizes enquanto há outros estilos parentais que promovem mais a autonomia”, aponta. Embora se verifiquem algumas mudanças – os jovens vão estudar para outra cidade ou para outro país, e, terminado o curso, emigram – os pais continuam com as suas vidas muito focadas e centradas nos filhos. E, por isso, quando eles saem de casa podem sofrer do chamado síndrome do ninho vazio, ou seja, podem mesmo adoecer, entrar em depressão porque deixam de ter uma missão na vida e as suas rotinas em torno dos filhos. “Continuam a existir pessoas a sofrer com um vazio que se instala. A sós ou acompanhadas”, aponta Júlio Machado Vaz, psiquiatra, por e-mail, reconhecendo que são sobretudo as mães as que mais sofrem com o alegado abandono. No entanto, Bárbara Ramos Dias, psicóloga clínica e especialista em psicologia adolescente, refere que começam a surgir pais que sofrem do mesmo mal. Bárbara Ramos Dias lembra que, por altura de os filhos saírem de casa, algumas mães passam pela menopausa. “A pessoa não se sente bem consigo, sente que já não tem objectivos na vida”, descreve. Teresa Espassadim acrescenta mais um dado para o sentimento de vazio: actualmente, muitos casais deixam para mais tarde a maternidade, logo, a idade da reforma pode coincidir com a altura em que os filhos abandonam o lar. “Quando as angústias são mascaradas por estar ocupado e preocupado com a vida de outros, os vazios podem ser mais angustiantes”, aponta a especialista. Por vezes, é quando os filhos saem de casa que os pais se confrontam consigo próprios e concluem que o que os unia era apenas a descendência. “Após 30 anos, as pessoas podem perceber que são estranhas [uma para a outra]”, refere Espassadim. “Se se trata de um casal é preciso avaliar o estado da relação, o face a face pode ser insuportável ou [por outro lado] uma oportunidade de viver mais livremente”, aponta Machado Vaz. Se há casais que escolhem esta altura para se separar, outros aproveitam para se (re)conhecer. “Muitos reencontram o amor que os uniu, outros dizem que não faz sentido. O mais importante é compreender que esta é uma nova fase da vida”, acrescenta Bárbara Ramos Dias. Mas não são só os pais que sofrem, os filhos também. A psicóloga que acompanha adolescentes conhece alguns casos de jovens que se sentem inseguros com o abandono da casa paterna. “E se não consigo pagar a renda? E se algo corre mal? E se a minha mãe passar o tempo todo a ligar-me? E se o meu pai ficar zangado pela decisão que tomei?” Estas são algumas das perguntas que surgem em consultas, revela Bárbara Ramos Dias. Desde que os filhos são pequenos que é importante prepará-los para serem autónomos – ensiná-los a cozinhar, a passar a roupa, a gerir o dinheiro – e responsáveis, propõe. “Quando saem para a faculdade ou quando querem ir viver com um amigo, os pais devem reconhecer que o filho tem coragem, dar-lhe força e apoiá-lo”, sugere. Teresa Espassadim é da mesma opinião: cabe aos pais dar espaço aos filhos para que estes possam fazer as suas escolhas. Voltando a Bao, a mãe do pãozinho chinês fica em stress quando este quer ir brincar com os outros meninos. A psicóloga lembra que muitos pais vão às festas de anos dos amigos dos filhos e lá permanecem. São pessoas que “vivem a vida social dos filhos, que não lhes dão espaço”. Por isso, “seria estranho que não sentissem algum vazio depois da sua saída de casa”, constata. Na verdade, os pais que sempre deram espaço ao casal, enquanto os filhos ainda estavam em casa, os que já tinham os seus projectos, poderão ser aqueles que menos sentem o vazio da casa quando os filhos a abandonam. “Preparar a saída é um trabalho a tempo inteiro, desde que os filhos nascem e à medida que eles vão crescendo, procurando ter sempre espaço para que os pais sejam eles próprios”, aconselha Teresa Espassadim. Mas há quem precise de ajuda profissional por se sentir depressivo, especialmente os que são muito dependentes dos filhos. “É preciso ajudar a pessoa a reconstruir o seu 'eu'”, diz Bárbara Ramos Dias. Como é que isso se faz? A pessoa precisa de voltar a olhar para si, para o que gosta de fazer, reencontrar amizades antigas, criar novas, redescobrir o amor, enumera a psicóloga. “Olhar para sonhos antigos e querer concretizá-los. Usar os PPP – pensamentos positivos permanentes – porque enquanto estivermos a pensar de forma positiva, vamos ter respostas diferentes. É uma oportunidade de crescimento. E fazer um detox mental, ou seja, deitar fora tudo o que não interessa, as raivas, as angústias, as ansiedades”, defende Ramos Dias. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pode ser uma altura difícil na vida dos pais porque confrontam-se com os seus próprios receios, refere Teresa Espassadim, salvaguardando que “isso é saudável”. “Tem de haver um ajuste e esse não se faz sem dor”, constata. Os pais têm de reconhecer que são mais do que isso. “Têm de deixar de se pôr em último lugar. Agora, já podem ir à hidroginástica, já podem comer a coxa do frango”, brinca a psicóloga. “Nós somos pessoas com vida própria e não apenas pais dos nossos filhos”, escreve por seu lado Machado Vaz. Se a maioria, segundo os especialistas ouvidos, ultrapassa a síndrome do ninho vazio e descobre outros motivos para viver que não apenas os filhos, outros há que os sufocam com medos e telefonemas por tudo e por nada, que os culpam por se sentirem e estarem sozinhos, e que só recuperam quando os netos chegam, encontrando assim uma nova missão na vida. Esses pais têm de “perceber que a missão está cumprida”, diz Bárbara Ramos Dias. Só depois de todo este processo – de reconhecimento que o ninho está vazio, de confiança que os filhos têm as ferramentas para voar e para fazer o seu próprio ninho – é que os pais estão preparados para novas rotinas, diz a psicóloga. “É o ciclo natural da vida. Temos de o encarar de forma positiva e reconstruir uma nova vida”, aconselha. Nessa, os filhos continuam a ter parte. “A saída física não significa abandono, a relação com os marotos mantém-se a outro nível. Hoje em dia, quantas vezes por Skype, com tanta emigração forçada para os jovens”, constata Júlio Machado Vaz.
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Termas: da receita médica ao puro bem-estar
As termas mudaram, já não são apenas um sítio de tratamento onde se bebem umas águas ou se tomam uns banhos, mas espaços de bem-estar, luxo e beleza. Quem lá vai fá-lo não apenas por recomendação médica como para fazer turismo de bem-estar. Em Vidago, Pedras Salgadas ou São Pedro do Sul. (...)

Termas: da receita médica ao puro bem-estar
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.214
DATA: 2018-07-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: As termas mudaram, já não são apenas um sítio de tratamento onde se bebem umas águas ou se tomam uns banhos, mas espaços de bem-estar, luxo e beleza. Quem lá vai fá-lo não apenas por recomendação médica como para fazer turismo de bem-estar. Em Vidago, Pedras Salgadas ou São Pedro do Sul.
TEXTO: Mónica Chaves cresceu a ver Vidago num alvoroço de gente que “enchia hotéis e alugava quartos” na época termal, que passava os portões do Vidago Palace Hotel para depois formar uma fila que dava a volta ao edifício da fonte para beber água mineral e curar as maleitas. Os tempos mudaram. A azáfama deu lugar à tranquilidade num spa termal procurado por pessoas mais jovens que procuram o bem-estar. Construídas de raiz, as termas tornaram-se um destino de luxo mundial, integradas no hotel reconstruído que mantém os cenários da Belle Époque e a famosa escadaria, mas que agora é um cinco estrelas de glamour. Vidago continua a receber doentes, mas já é mais procurado para prevenção da saúde, para o bem-estar e a beleza. Em pequena, Mónica, hoje médica hidrologista, assistia na primeira fila a todo aquele corrupio de gente carregada de malas, que atracava na vila durante um mês, na então época termal, entre Junho e Setembro. “Parecia uma romaria! As pessoas vinham de um ano para o outro e ficavam um mês a fazer tratamentos para doenças músculo-esqueléticas, de pele ou das vias respiratórias”, recorda. Gostava tanto de ver a vila cheia de vida, dos amigos que fazia e revia ano após ano, de toda aquela animação. “Via-se tanta gente a passear nos jardins para fazer tempo entre os intervalos das tomas de água prescritas pelo médico”, lembra a médica, enquanto percorre a alameda do recuperado hotel. “Chamávamos a isso passear as águas, porque, na prática, os utentes caminhavam nos parques com a água no estômago depois de beber numa nascente, enquanto esperavam pela próxima toma noutra fonte. Só em Pedras Salgadas eram cinco nascentes”, acrescenta Maria José David, manager do remodelado Pedras Salgadas Spa & Nature Park, um quatro estrelas plantado na natureza que tem como grande chamariz turístico as 12 eco-houses e as duas tree houses. Imagine adormecer nestas casas de árvore com uma janela gigante com os olhos colados às estrelas e acordar com vista para a vegetação num dia soalheiro. O parque fica a poucos quilómetros de distância de Vigado e tem ainda o spa termal, que foi reconstruído no antigo edifício das termas, com arquitectura de Siza Vieira, onde nos “anos 1990 chegavam pessoas mais velhas para fazer tratamentos músculo-esqueléticos e digestivos durante duas semanas”, recorda Maria José David. Por essa altura, lembra, “só abríamos de Maio a Setembro, que era a época termal pura e dura”, continua, enquanto mostra o quanto mudou o parque de 20 hectares, com circuitos terrestres sinalizados para caminhar e andar de bicicleta, com courts de ténis e piscinas interiores no spa termal e outra no exterior não muito longe do lago, e o restaurante Casa de Chá. “Os tempos áureos das termas foram os anos 1920 a 1950. Nos anos 1970 e 1980 foi o declínio, com o êxodo para as praias”, lembra a responsável do Pedras Salgadas Spa & Nature Park. Os tempos mudaram e as mentalidades também. Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), defende, em entrevista à Culto, que “as termas são uma alternativa aos banhos de mar e fazem melhor do que a praia. A água quente das termas é benéfica para a saúde enquanto a fria do mar, por exemplo, é má, assim como a exposição solar”. Actualmente, as termas continuam a ter muita procura, mas nada que se compare ao rodopio que era há algumas décadas, recorda Mónica Chaves, seguindo em direcção a uma das quatro fontes termais do Vidago Palace Hotel. Para trás deixa o edifício que abriu em 2010, cem anos depois de ter sido inaugurado. “Foi mandado construir por D. Carlos I, mas abriu no início da Implantação da República, a 6 de Outubro de 1910, como resort de luxo, aproveitando as propriedades das águas termais para a aristocracia e burguesia portuguesas e europeias”, conta Jorge Machado Almeida, director do hotel. “Mas as águas, a 17º ou 18º, foram descobertas em 1886 e tinham muita afluência. Vinham famílias durante meses”, realça. Esses tempos deixam saudades. “Ainda eu não estava aqui na fonte. Parecia uma romaria. Chegavam camionetas umas atrás das outras. Lembra-se, doutora Mónica? Até vinham carregados de garrafões para levar a água para casa”, recorda Maria Conceição Veiga, que guarda a fonte há oito anos. Mal sabia que, a dada altura da sua vida, passaria de espectadora das filas de gente a “guardiã” dessa mesma fonte, numa espécie de fortaleza de pedra, com a torneira da água sempre a correr. “Não se pode fechar. Sabia?”“Quando os vejo a entrar de garrafões, começo logo a rir, porque já sei que vão pedir para levar água para casa”, continua a “guardiã” da fonte, que amealhou tantas histórias que davam um livro. Mas ninguém sai dali sem provar, a não ser que não queira. Qualquer visitante bebe um copito enquanto os utentes em tratamento – ou hidropinia, que é a ingestão de água termal – podem fazer quatro ou seis tomas diárias, dependendo da prescrição médica, que têm de entregar a Maria Conceição Veiga. Quem experimenta pela primeira vez, estranha o sabor intenso e ferroso da água, “porque o mineral mais intenso é o ferro”, continua, acrescentando a receita para beber: “Um golinho, parar e voltar a beber. É um protector do estômago. ”Mónica Chaves ainda se lembra das injecções de água termal que eram ministradas aos doentes de Vidago. “Diziam que doíam muito”, conta. Foram depois proibidas, mas estão em vias de ser recuperadas em breve. “Hoje, cada vez mais se sente a procura dos clientes, não tanto por motivo de doença, mas, sim, como prevenção da mesma, procurando alternativas aos métodos invasivos ou químicos”, continua a médica. Esta é uma tendência em todo o país. “Em 2007, havia 75% de clientes de terapêutica, ou seja, termalismo clássico. Hoje anda na ordem dos 38%”, informa Victor Leal, director da Associação das Termas de Portugal (ATP). O que é fácil de explicar: as comparticipações do Serviço Nacional de Saúde (SNS) aos tratamentos foram suspensas em 2011, o que se reflectiu na redução do número de utentes e, por consequência, da facturação de termalismo tradicional. “Sentimos uma quebra muito significativa nesse ano: o sector perdeu 30 mil utilizadores”, realça Teresa Vieira, anterior presidente da ATP. Victor Leal crê que a reposição das comparticipações pelo Estado “será uma mais-valia para o desenvolvimento das termas”. Acrescentando: ”Estamos esperançosos de que os próximos cinco anos sejam de crescimento. ” Mais ainda, continua Teresa Vieira, “os balneários estão mais bem apetrechados, porque o grosso do parque termal nacional foi remodelado”. Apesar de haver mais clientes de bem-estar do que terapêuticos nas termas do país, Teresa Vieira assegura que os tratamentos clássicos representam 85% da facturação, o que tem um maior peso na hora de fazer contas. Bem explicado, entende-se porquê: exige uma consulta nas termas com o médico hidrologista que prescreve os tratamentos, que duram, em média, 14 dias. Em contrapartida, surge um público mais jovem, na grande maioria entre os 35 e os 50 anos, e activo, que procura as termas para prevenção e promoção de saúde, bem-estar, beleza e lazer, durante dois a cinco dias. O termalismo clássico puro e duro continua a ser mais procurado por pessoas com mais de 65 anos, na maior parte de nacionalidade portuguesa, acrescenta Victor Leal. A tendência do bem-estar está para ficar, basta olhar para os números, por exemplo dos spas termais de Vidago e de Pedras Salgadas, a poucos quilómetros de distância um do outro, adquiridos em 2002 pelo Super Bock Group, anterior Unicer. Só no Vidago Palace Hotel, 70% dos clientes são de bem-estar, segundo Jorge Machado Almeida, director dos dois espaços. Já no Pedras Salgadas Spa & Nature Park, o bem-estar abarca 85% dos clientes, diz Maria José David. “É um público que procura o spa, uma boa gastronomia e que foge às grandes multidões das praias para descansar e ter contacto com a natureza”, elucida o director. Em Vidago, por exemplo, “temos famílias que visitam o parque todos os anos, desde os avós aos netos”. A clientela do Vidago vai mudando conforme as épocas: entre os 50 e 70 anos durante os dias de semana na Primavera e no Outono; entre os 35 e os 50 anos durante os fins-de-semana e férias escolares. São maioritariamente portugueses seguidos dos ingleses e espanhóis. Já nas Pedras Salgadas, o público-alvo é mais jovem, dos 25 aos 45 anos, que leva filhos e até os pais, que gosta do conceito mais descontraído eco-resort, mais direccionado para a natureza e ecologia, e, por norma, fica três ou quarto noites. Este público aproveita o spa com circuito de piscinas – a mais pequena de água não mineral a 27º e a grande a 32º –, a sauna, o banho turco e as massagens; e ainda anda de bicicleta e a pé no parque arbóreo. Maria de Fátima Faria e o marido, Jean-Guy Hubens, fazem parte do crescente número dos que procuram o bem-estar nas termas. Os dois nadam na piscina de água quente enquanto fixam a baleia desenhada por Siza Vieira na parede do spa do hotel de Vidago. O casal não se cansa de admirar as linhas modernas deste projecto e a paisagem verde que lhes entra, como se de um quadro se tratasse, a partir do enorme rasgo envidraçado, pela parede ao fundo da piscina. Lá fora chove torrencialmente e não tarda nada o casal vai juntar-se a umas quantas pessoas que estão na piscina exterior a uma temperatura de 35º. “Há uns meses nevava e fomos na mesma para lá. Nem imagina a sensação que é levar com os jactos de água quentíssimos nas pernas e na cervical enquanto a neve cai na cara. Foi espectacular, não foi, Jean?”, questiona, maravilhada com todo aquele ambiente interior do espaço que já foi classificado como o melhor spa internacional e o melhor destino spa de luxo. O marido anui com um sorriso de orelha a orelha: “Foi muito bom, sobretudo depois de ter estado na sauna”, para onde tenciona ir, agora que já acabaram de dar umas braçadas na piscina interior a uma temperatura de 29º. “Aproveitamos ao máximo o spa termal por uma questão de prevenção de saúde e de bem-estar. Nunca por estarmos doentes”, garante Jean-Guy Hubens, que sente logo benefícios a nível respiratório e da pele quando frequenta o spa termal, sobretudo os tratamentos que têm água termal, como o duche de jactos ou o de massagem Vichy. Este último, explica a hidrologista Mónica Chaves, “é dos mais completos, por juntar o efeito terapêutico da água termal que sai de uma coluna suspensa ao longo do corpo com a massagem dirigida pelo terapeuta. É dos mais utilizados para doenças músculo-esqueléticas, osteoarticulares, ansiedade, stress ou para tonificar”. É também o mais procurado, acrescenta Gabriela Silva, gerente do spa do hotel de Vidago, licenciada em Ciências do Desporto. Estes tratamentos complementares aos clássicos só fazem bem a Maria de Fátima Faria, que sente a diferença. “Não nos queixamos das costas como muita gente faz. Se tenho uma dor na cervical, resultante de má postura, faço um tratamento terapêutico e fico como nova”, elucida. “Só não vimos mais porque fica dispendioso”, lamenta, um tratamento de 40 minutos pode custar 70 euros. O casal não está hospedado no hotel, mas mora em Vidago desde que veio “de vez” de Estrasburgo. “Já nessa altura aproveitávamos os tratamentos terapêuticos e até fazíamos termas sempre que vínhamos de férias, só por uma questão de prevenção e bem-estar”, conta Jean-Guy Hubens, que sabe que se quiser fazer mais do que dois tratamentos tem de ir ao médico hidrologista. “Se for preciso, também faço os tratamentos terapêuticos que duram 14 dias, mas não por estar doente, não é, Jean?”, pergunta ao marido. Talvez agora que o Estado passará, em breve, a comparticipar os tratamentos possam fazer mais, logo se verá. Por enquanto, o casal vai dando as suas braçadas na piscina, fazendo um ou outro tratamento, e depois bebe um copo de água mineral da fonte para “fazer melhor a digestão”. Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), defende os tratamentos termais. Estes “surtem efeito em várias situações clínicas e doenças crónicas, como a sinusite e as doenças músculo-esqueléticas”, exemplifica. Nos casos que não são de termalismo clássico, continua a médica de Vidago e Pedras Salgadas, “tentamos orientar os tratamentos para aquelas que são as principais preocupações dos clientes: o estado físico em que se encontram, o nível habitual de actividade, a duração da estada, entre outros factores, resultando sempre numa prescrição personalizada”. A médica esclarece ainda que a forma como a água é administrada vai ao encontro do que se pretende. Pode ser através de hidropinia (ingestão oral da água directamente das fontes com uma dose crescente, em dois períodos diferentes no dia) para o tratamento de azia, enfartamento, doença de refluxo, gastrite crónica, doenças inflamatórias intestinais e discinesia biliar. Também pode ser por aerossol, mais utilizada em doenças respiratórias. Depois existem os banhos de imersão simples, de hidromassagem com jactos controlados ou subaquático, ambos muito utilizados para doenças de pele, como, por exemplo, eczema atópico, psoríase, dermatites alérgicas, doenças osteoarticulares, músculo-esqueléticas, mas também para relaxamento, diminuição da ansiedade e do stress. Gabriela Silva, do spa de Vidago, onde também há tratamentos de medicina tradicional chinesa, revela que há uma grande procura de programas de bem-estar de três dias, que incluem uma caminhada na natureza, pelas fontes de água mineral com prova de água, com a terapeuta como personal trainer. O cliente pode fazer até dois tratamentos termais, ter acesso às piscinas, fazer banho turco e andar de bicicleta no parque. Um programa assim, com estada no hotel, pode custar 800 euros; sem alojamento são 250 euros. Quem está à frente dos spas termais já percebeu a mudança e promove programas complementares aos tratamentos clássicos. Estes locais de luxo acenam aos turistas com pequenas escapadinhas em que podem juntar turismo de natureza com tratamentos terapêuticos, cuidados de bem-estar e de beleza. No entanto, estes “não deixam de ser programas de promoção de saúde e [prevenção e tratamento] de doença”, salvaguarda Teresa Vieira. Por exemplo, os picos de procura nas Pedras Salgadas são Julho e Agosto para estética, tratamentos anticelulíticos, manicure e pedicure. “Quem faz termas vem para atenuar, para passar melhor o Inverno. No bem-estar vêm pelo relaxamento, para aliviar a tensão músculo-esquelética acumulada. As pessoas sentem-se bem ao fazerem termas”, elucida Júlia Costa, terapeuta do spa de Pedras Salgadas. Durante duas horas, o cliente pode fazer o circuito relax – piscina, sauna e banho turco – por 15 euros. Se quiser usar só a piscina, são seis euros. O bem-estar começa a ter um peso tão grande que as termas das Caldas de São Jorge abrem ao sábado só para o público de bem-estar com uma experiência que inclui circuito na piscina e dois tratamentos, como o duche de massagem tipo Vichy ou escocês (de agulheta com alternância de temperaturas) e massagem relaxante (entre os 40 e 60 euros). Em São Pedro do Sul, onde Victor Leal é director, os dois balneários termais têm piscina com água termal que é sulfurosa, oferecem massagens e tratamentos. Aqui a água destina-se ao tratamento das vias respiratórias e problemas músculo-esqueléticos, sendo este último tratamento o mais procurado. Desde 2014 que naquelas termas existem duas linhas de produtos em que um dos ingredientes é a água sulfurosa. Uma linha hidratante (com creme de rosto, óleo corporal, base lavante e sabonete) e outra anti-rugas (creme e máscara de rosto). “Só em 2017 facturámos 170 mil euros com os produtos de dermocosmética”, revela, acrescentando que em breve vão lançar uma linha para homem numa parceria com a Universidade da Beira Interior. Já as Termas da Terronha, em Vimioso, que abriram em 2013, e foram homologadas em 2016 para doenças músculo-esqueléticas e das vias respiratórias, também são mais procuradas para bem-estar – mais de 65% só no ano passado. Sobretudo para o duche de massagem tipo Vichy (15 euros), que pode incluir esfoliante, lava vulcânica e aroma de cacau; além do duche escocês (oito euros) e da massagem de aromaterapia com água termal com aromas de plantas silvestres da região. “Aqui a água termal tem propriedades diuréticas”, refere Francisco Bruço, do complexo termal. Mas é o termalismo clássico que fica à frente nos meses de Julho a Setembro, porque o público é o da emigração. Um tratamento terapêutico é receitado para 14 dias – e pode incluir duche Vichy, banho escocês e de vapor à coluna, com um custo de até 200 euros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Recentemente, o Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) lançou uma edição com as 20 estâncias termais sob a sua alçada, em contexto de paradisíacas paisagens, bom alojamento, golfe e gastronomia. Para Melchior Moreira, presidente do TPNP, o novo guia vem “reforçar a aposta na promoção de produtos diferenciadores para alavancar o turismo no território durante a época baixa e aumentar a estada média”, que, ao nível do segmento do bem-estar, é de dois dias e, quando motivada por questões médicas, passa para sete a 14, consoante o subsistema de saúde do cliente. “Em 2017, as termas motivaram 7% da procura global registada nas lojas de turismo, numa subida de 5% em relação a 2016, sendo que, entre os visitantes que se alojaram na região para usufruir dos seus balneários, 34% eram espanhóis e 16% franceses”, revela o responsável. O presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica e Climatologia e de Hidrologia Internacional, Pedro Cantista, recomenda as termas, “uma tradição muito antiga”. “Viemos da água e somos água, precisamos dela para viver”, justifica. “As populações querem viver melhor. ” Apesar de não ser comparticipado pelo SNS, realça, “ainda se prescreve bastante e está em crescendo”. Para o também director clínico das termas de Caldas de São Jorge e do Luso, que relembra que o termalismo vem do tempo dos romanos, “é do conhecimento e bom senso público que, se promovermos a saúde – que inclui a prevenção, o tratamento, a reabilitação –, adoecemos menos”.
REFERÊNCIAS:
Um embaraço europeu que quase todos sacodem para o lado
Por que é que a Comissão nunca se deu ao trabalho de regulamentar as autorizações de residência é uma questão para a qual ninguém parece ter resposta (...)

Um embaraço europeu que quase todos sacodem para o lado
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Por que é que a Comissão nunca se deu ao trabalho de regulamentar as autorizações de residência é uma questão para a qual ninguém parece ter resposta
TEXTO: A tendência crescente de grande parte dos países da União Europeia (UE) de “vender” autorizações de residência em troca de investimento no território nacional – mais conhecidas em Portugal por “vistos gold” – está a causar algum embaraço em Bruxelas, sobretudo porque ninguém parece saber o que fazer. Oficialmente, várias fontes europeias contactadas pelo PÚBLICO sacodem a água do capote, lembrando que a concessão de autorizações de residência a cidadãos de países exteriores à UE constitui uma competência nacional. Juridicamente não é totalmente assim: desde o Tratado de Lisboa de 2009 que esta passou a ser uma competência partilhada entre a UE e os seus Estados membros. Só que, como a Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, ainda não regulamentou esta competência, a questão permanece efectivamente nas mãos dos Estados. Quase todos os membros da UE têm esquemas de concessão acelerada e facilitada de residência a cidadãos “endinheirados” de países terceiros. A tendência acentuou-se nos últimos anos sobretudo nos países com maiores dificuldades financeiras. Nestes casos, a concessão destas autorizações está sobretudo ligada à compra de imobiliário, no valor mínimo de 500 mil euros no caso de Portugal e Espanha, 300 mil em Chipre e 250 mil na Grécia. Nos outros países europeus, a regra tem mais a ver com investimentos em empresas ou em títulos do tesouro, do que com a compra de imóveis. A Holanda tem um esquema de concessão de residência para quem invista 1, 250 milhões de euros em empresas nacionais. A Alemanha é menos exigente: 250 mil euros para o arranque e operação de empresas. No Reino Unido, a condição é a compra de títulos do Tesouro no valor mínimo de 1, 5 milhões de libras. Outros esquemas comparáveis existem em países da UE como Bélgica, França, Irlanda, Áustria ou Chipre, mas igualmente em vários países terceiros, como Estados Unidos, Canadá, Austrália ou Singapura. No caso da UE, a grande questão que estes vistos especiais levantam é que permitem aos seus detentores deslocarem-se pela totalidade da zona Schengen sem controlos nas fronteiras, abarcando todos os países da UE (com excepção do Reino Unido, Irlanda, Bulgária, Roménia, Chipre e Croácia), mais a Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Um “visto gold” permitirá assim, por exemplo, aos chineses com um título de residência destes em Portugal deslocarem-se livremente por todos os países de Schengen quando, em condições normais, precisariam de obter vistos de entrada em cada um. Os peritos europeus consideram que todos estes esquemas, sem serem exactamente ilegais, desvirtuam as regras europeias porque permitem aos “imigrantes ricos” contornar a política comum de vistos, comprando o seu direito de residência. Tanto mais, alegam, que o direito de residência resulta por definição de uma ligação efectiva do imigrado ao país em causa, sobretudo em termos de residência efectiva e de trabalho, o que não é o caso da maior parte dos esquemas de “vistos gold”. Em Portugal, por exemplo, a lei determina que os detentores de “vistos gold” só precisam de estar fisicamente presentes no país durante 7 dias no primeiro ano, e 14 nos anos seguintes. O que significa que as condições para os imigrantes ricos são muito menos exigentes do que para os imigrantes que entram pela via “normal” e que, apesar de viverem, trabalharem e pagarem impostos no país de destino, perdem o direito de residência se se ausentarem por alguns meses. Por todas estas razões, os “vistos gold” contrariam, para estes peritos europeus, um princípio básico do Tratado da UE, que é o da “cooperação leal” entre Estados, porque representa, no mínimo, uma entorse, à política comum de vistos e ao espírito dos acordos de Schengen. A Comissão Europeia reconhece nas entrelinhas precisamente a mesma coisa mas insiste em lavar as mãos da questão insistindo em que se trata de uma competência dos Estados. Só que, mesmo nas áreas de competência nacional, o princípio da “cooperação leal” implica, segundo o que está estipulado logo no artigo 4º do Tratado da UE, que “os Estados-Membros facilitam à União o cumprimento da sua missão e abstêm-se de qualquer medida susceptível de pôr em perigo a realização dos objectivos da União”. Porque é que a Comissão nunca se deu ao trabalho de regulamentar as autorizações de residência é uma questão para a qual ninguém parece ter resposta.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Sentença do casos dos vistos gold adiada por causa da greve dos funcionários judiciais
Leitura da decisão judicial estava marcada para esta sexta-feira. (...)

Sentença do casos dos vistos gold adiada por causa da greve dos funcionários judiciais
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Leitura da decisão judicial estava marcada para esta sexta-feira.
TEXTO: A leitura do acórdão do caso vistos gold, que estava marcada para as 16h desta sexta-feira, foi adiada devido à greve parcial dos funcionários judiciais. O dia 4 de Janeiro foi a nova data marcada para a leitura da sentença. Este caso envolve o ex-ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, o ex-presidente do Instituto de Registos e Notariado (IRN), António Figueiredo, o ex-director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Manuel Jarmela Palos, a ex-secretária-geral do Ministério da Administração Interna, Maria Antónia Anes, três empresários chineses e um angolano, bem como o empresário da indústria farmacêutica Paulo Lallanda de Castro e dois funcionários do IRN. Miguel Macedo demitiu-se em Novembro de 2014 de ministro da Administração Interna, tendo-lhe sido imputado pelo Ministério Público. Segundo o Ministério Público cometeu quatro crimes, um de tráfico de influência e três de prevaricação, ao conseguir que o secretário de Estado das Finanças Paulo Núncio – que nunca foi arguido no processo – perdoasse 1, 8 milhões de euros de IVA ao seu amigo Jaime Gomes num negócio de tratamento de feridos de guerra líbios em hospitais portugueses. Diz ainda a acusação que Miguel Macedo também pediu ao então ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, para facilitar a vinda dos feridos para Portugal. Em causa está também a contratação de meios aéreos de combate a incêndios: fez chegar antecipadamente a uma empresa de helicópteros de combate a incêndios o caderno de encargos de um concurso que o seu ministério ainda não tinha lançado. Também se reuniu em casa de Jaime Gomes com representantes da mesma firma, a Faasa, que está a ser investigada em Espanha por envolvimento num mega-caso de corrupção. "Era para convencer a Faasa a entrar no concurso público", justificou. O antigo governante alegou que, tendo um concurso anterior ficado deserto e estando a época dos fogos a aproximar-se, não podia dar-se ao luxo de voltar a não ter concorrentes. Daí que tenha tentado aliciá-los. “Deu ordens expressas para serem consultados todos os operadores” e não apenas um, garantiu durante o julgamento o seu advogado, Castanheira Neves. Por fim, Miguel Macedo responde por ter tentado fazer nomear um oficial de ligação para Pequim para a área da emigração. Essa nomeação, que nunca chegou a acontecer, teria como objectivo facilitar os negócios imobiliários de amigos seus que envolviam a atribuição de vistos dourados portugueses a cidadãos chineses. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O caso tem 21 arguidos (17 pessoas singulares e quatro empresas) e em julgamento está a alegada prática dos crimes de corrupção activa e passiva, recebimento indevido de vantagem, peculato de uso, abuso de poder e branqueamento de capitais, além de tráfico de influência e prevaricação. Nas alegações finais do julgamento, o Ministério Público pediu a condenação de António Figueiredo a uma pena até oito anos de prisão e a sua suspensão de funções públicas por um período de dois a três anos. Para os restantes arguidos, incluindo Miguel Macedo e Maria Antónia Anes, o procurador José Niza defende que sejam condenados a uma pena suspensa não superior a cinco anos de prisão, à excepção do empresário Jaime Gomes, para o qual pediu prisão efectiva. Vários dos advogados dos arguidos lamentaram o adiamento, apesar de reconhecerem o direito à greve dos funcionários. O acórdão deste caso chegou a estar previsto para 21 de Setembro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra prisão abuso