Portuguesa, negra, cidadã europeia
Um governo de um país da UE que queira fazer sentir aos cidadãos europeus que não são bem-vindos só tem um caminho legítimo para o fazer — sair da União Europeia. (...)

Portuguesa, negra, cidadã europeia
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.08
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um governo de um país da UE que queira fazer sentir aos cidadãos europeus que não são bem-vindos só tem um caminho legítimo para o fazer — sair da União Europeia.
TEXTO: Linda Pereira, uma estudante portuguesa de sociologia que é voluntária no Corpo Europeu de Solidariedade, foi agredida física e verbalmente, com insultos racistas — Linda é negra —, na cidade polaca de Sosnowiec onde trabalha com crianças em situação de vulnerabilidade emocional e social. Quando a polícia chegou após ter sido chamada, deu-se uma situação ainda mais reveladora: ao passo que os colegas que a ajudaram e tentaram salvar, também de outros países europeus, mas brancos, foram pedidos apenas os bilhetes de identidade, a Linda Pereira era pedido insistentemente o passaporte. O pressuposto é evidente: como se uma negra não pudesse ser cidadã europeia. Mas pode, e é, e é isso que faz de um caso como este especialmente merecedor de atenção. Comecemos pelo contexto. A Polónia é o país onde a pertença à União Europeia é mais popular. Em todos os eurobarómetros são sempre mais de noventa por cento os polacos a quererem que o seu país permaneça na União Europeia. E uma das principais razões para essa popularidade é, ao contrário do que se possa pensar, a liberdade de circulação. Com a liberdade de circulação na União Europeia, os polacos ganharam o direito de viver, estudar ou trabalhar em outros 27 países do continente europeu. Pois bem, aquilo que vale para os polacos no resto da União Europeia é também o que tem de valer para os outros cidadãos europeus na Polónia. A liberdade de circulação não pode ser sacrossanta para os polacos no resto da UE e um risco para os outros europeus na Polónia, se se der o caso de serem negros. Se cada país tem o direito de determinar as suas políticas de estrangeiros, de fronteiras e de imigração, não pode ser esquecido que a Polónia decidiu em plena consciência uma parte dessas políticas quando quis, através da adesão à UE, conquistar a liberdade de circulação para os seus cidadãos. De acordo com essa decisão soberana, a Polónia comprometeu-se a tratar uma cidadã europeia como Linda Pereira não como uma imigrante, mas como uma cidadã europeia exercendo direitos recíprocos de que os polacos também gozam. E pelos Tratados e pela Carta de Direitos Fundamentais, comprometeu-se a que esses direitos fossem usufruídos sem qualquer discriminação de origem ou racial. Isto é apenas a basezinha. O próprio governo polaco, ainda que seja agora um governo de um partido ultra-conservador e nacionalista, estará muito consciente de tudo o que foi dito atrás. O problema é quando governos como o polaco ou o húngaro acham que não têm de fazer o suficiente para que estes direitos sejam usufruídos na sua plenitude. Há anos que relatórios do Parlamento Europeu notam que as autoridades policiais e judiciárias polacas e húngaras não levam a sério os ataques racistas naqueles países e que os governos não fazem qualquer esforço para que haja uma mudança de atitude das autoridades no tratamento desses ataques. Jornalistas e ONG têm sugerido que esta desvalorização é deliberada, e que serve para demonstrar na prática que os estrangeiros não são bem-vindos. E isto é algo que não pode ser tolerado. Um governo de um país da UE que queira fazer sentir aos cidadãos europeus que não são bem-vindos só tem um caminho legítimo para o fazer — sair da União Europeia. Caso contrário, estará a dizer-nos que para todos os efeitos devemos considerar que os seus cidadãos devem ter mais direitos na nossa casa do que os nossos na casa deles. É por isso que o apoio a um cidadã europeia como Linda Pereira deve ir mais longe do que o apoio consular normal. É necessário questionar as autoridades polacas sobre o que está a ser feito para que as autoridades policiais mudem a sua atitude e passem a agir decididamente contra este tipo de ocorrências, ou para que não exijam a uma cidadã europeia negra documentação exagerada ou desnecessária. Os direitos que estão nos Tratados da UE e na Carta de Direitos Fundamentais não são meros direitos no papel, princípios abstratos que não se destinam a ser exercidos por ninguém. São direitos reais, para pessoais reais, pessoas como Linda Pereira. Se as circunstâncias tornam o exercício desses direitos especialmente difícil, é como se o direito não existisse. E isso é grave não só para Linda Pereira mas para todos nós. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas há mais. Linda Pereira é voluntária de um novo tipo de programa europeu — o Corpo Europeu de Solidariedade, que permite a jovens entre os 18 e os 31 anos realizarem ações de solidariedade na UE e fora dela (os voluntários recebem apoio de viagem, alojamento, refeições, seguros médicos e um pagamento para despesas diárias). O Corpo Europeu de Solidariedade é uma das poucas boas ideias a nascer nas instituições da UE nos últimos anos, mas exige delas responsabilidade acrescida — nomeadamente à Comissão Europeia. As famílias dos voluntários não podem estar incertas quanto à segurança dos seus familiares ou dependentes dos humores de juízes politizados por governos de extrema-direita. A Comissão Europeia tem de dar apoio acrescido a estes voluntários — uma linha permanente para emergências é uma boa ideia, um contacto imediato com as autoridades melhor ainda, apoio jurídico imediato e gratuito é indispensável. Os voluntários estão ao serviço da UE e devem ser tratados, durante a vigência do seu voluntariado, como se fossem funcionários dela. Linda Pereira decidiu, para já, não regressar da Polónia: “No meu trabalho com as crianças tenho percebido que tenho tido uma boa influência na vida delas. É uma boa influência ter alguém em termos culturais e mesmo em termos físicos diferente deles”. Ao ter estas considerações em mente, Linda Pereira está a fazer mais pelo projeto europeu do que muitos políticos. Mas não deve nem pode fazê-lo arriscando a sua segurança, e precisa da ajuda de todos os nós. Para que se perceba de uma vez por toda que ser cidadão europeu não é exclusivo de quem tem apenas um determinado tom de pele. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
A propósito da comemoração da luta contra a discriminação racial
Se persistir a lógica do discurso radical e sectário, acabaremos a alimentar o problema em vez de o prevenir e combater. (...)

A propósito da comemoração da luta contra a discriminação racial
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se persistir a lógica do discurso radical e sectário, acabaremos a alimentar o problema em vez de o prevenir e combater.
TEXTO: Na passada quinta-feira, na comemoração do Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial, a ministra Mariana Vieira da Silva alertou para a persistência de desigualdades estruturais e discriminações ocultas em Portugal. O debate público sobre as questões da discriminação racial é relevantíssimo, mas impressiona negativamente a ausência de um conhecimento sustentado sobre a dimensão do fenómeno e a existência de dados contraditórios, que potenciam, dum e doutro lado, discursos demagógicos e por isso pouco produtivos. Enquanto a Agência Europeia para os Direitos Fundamentais diz que a nossa taxa de discriminação étnico-racial, nos indicadores de violência e vitimização e integração no mercado de trabalho, está muito abaixo da média europeia (Being Black in EU), o European Social Survey diz, ao contrário, que temos um índice de racismo biológico e cultural bastante superior à média na Europa (investigação Atitudes Sociais dos Portugueses). No que se refere à incidência de discriminação racial nos sistemas de segurança pública e justiça, os dados disponíveis mostram também contradições difíceis de entender. Por um lado, diz-se que somos dos países europeus com mais violência policial (Comité Anti-Tortura do Conselho da Europa) e que a nossa justiça é “mais dura” para os negros, com desequilíbrios nas taxas de condenação e encarceramento prisional ("Racismo à Portuguesa”, PÚBLICO); mas, por outro lado, olhando para as estatísticas das queixas por práticas discriminatórias, vemos baixas taxa de incidência nas forças de segurança e na justiça, respectivamente de 5% e 2, 8% (Relatório anual 2017, CICDR). Já no que respeita à integração de imigrantes – indicador conexo com a incidência de racismo –, a situação de Portugal é muito favorável. As políticas de acolhimento e integração de estrangeiros (4, 1% em 2017, segundo a PORDATA) colocam o nosso país no 2. º lugar em 38 países analisados, só atrás da Suécia, na avaliação global dos índices de mobilidade no mercado de trabalho, reunião familiar, acesso a educação e saúde, participação política, residência permanente, aquisição da nacionalidade e políticas anti-discriminação (Migrant Integration Policy Index 2015). Na verdade, Portugal pode ser considerado um case study em matéria de acolhimento de imigrantes. Temos políticas e legislação de acolhimento em contraciclo com a tendência de fechamento na Europa, temos o Alto Comissariado para as Migrações, dependente da Presidência do Conselho de Ministros, dedicado à execução dessas políticas, temos centros de apoio descentralizados, que dão auxílio integrado aos imigrantes em matérias de extrema importância, como legalização da residência, educação, saúde, segurança social, registo civil, habitação, reunião familiar, sobreendividamento, emprego e condições de trabalho, que atendeu 279. 314 pessoas em 2017, em 14 idiomas, e temos normas de autorização de residência e aquisição de nacionalidade extremamente vantajosas. A isso acresce o facto de o nosso país não ter sido (ainda) “infectado” pelo vírus dos populismos nacionalistas. A representatividade dos partidos e movimentos que perfilham essas ideologias é residual entre nós, quando comparada com outros países europeus: Hungria (44, 9%), Polónia (37, 6%), Suíça (29, 4%), Dinamarca (21, 6%), Áustria (20, 6%), Bélgica (20, 4%), Finlândia (18%), Itália (18%), França (13, 7%), Suécia (13%), Reino Unido (12, 6%), Holanda (10%), Grécia (7%) e Alemanha (4, 7%) – (“Ressurgimento dos Nacionalismos na Europa”, Joana Lopes). Portanto, em balanço, as políticas públicas do Governo para o acolhimento e integração de imigrantes e para prevenir e combater a incidência de factores de racismo em Portugal são muito positivas e devem orgulhar-nos no contexto do espaço europeu. Há, no entanto, uma necessidade de aprofundar o conhecimento da verdadeira dimensão do problema, o que só se conseguirá com o envolvimento das instituições públicas relevantes e das organizações não-governamentais dedicadas a esta temática. De outra maneira, se persistir a lógica do discurso radical e sectário, seja em que sentido for, acabaremos a alimentar o problema em vez de o prevenir e combater.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos violência educação racismo social discriminação
Obama tem um sonho: igualdade económica para todos os americanos
O aniversário do discurso I Have a Dream serviu ao primeiro Presidente negro dos Estados Unidos para fazer um apelo ao activismo. “Não somos reféns dos erros da história”, afirmou (...)

Obama tem um sonho: igualdade económica para todos os americanos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.2
DATA: 2013-08-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: O aniversário do discurso I Have a Dream serviu ao primeiro Presidente negro dos Estados Unidos para fazer um apelo ao activismo. “Não somos reféns dos erros da história”, afirmou
TEXTO: Quando o Presidente norte-americano surgiu nas escadas do Lincoln Memorial em Washington, ocupando o mesmo lugar onde há 50 anos Martin Luther King fez o seu mais famoso discurso, I Have a Dream, e profetizou uma sociedade pós-racial, as expectativas eram imensas. Mas o orador que falou nesta quarta-feira, num dia chuvoso, apresentou um discurso familiar — tão familiar que os junkies políticos de Washington foram buscar os primeiros e famosos discursos de Obama (como o que fez na Convenção Democrata em 2004) para concluir que eram semelhantes. Obama mencionou a palavra “raça” seis vezes, sempre num contexto genérico (“todas as raças”), e actualizou o “sonho” de King para os dias de hoje. Ele nunca disse as famosas palavras “eu tenho um sonho”, mas deixou claro qual é a causa desta nova era: igualdade de oportunidades, não só para “alguns”, mas para “muitos”, para o “segurança negro, o operário siderúrgico branco e o lavador de pratos imigrante”. Ele notou, como tem vindo a fazer em entrevistas, que os oradores de 1963 também vieram a Washington reclamar empregos decentes e oportunidade económica, não apenas o fim da segregação racial. Muitos esperavam que este fosse o primeiro discurso de Obama sobre raça desde a sua primeira campanha presidencial em 2008. O primeiro Presidente negro da América decepcionou muitos negros por raramente falar de questões raciais em público durante o seu primeiro mandato e alguns dos seus críticos esperavam que ele corrigisse isso no seu discurso de quarta-feira, animado pelo espírito de outro grande líder negro americano, King. Afinal, há um mês, no rescaldo do veredicto sobre o homicídio do adolescente negro Trayvon Martin, Obama falou francamente sobre o tema, notando que existem poucos afro-americanos que não tenham experimentado preconceitos raciais — incluindo ele. Ele reconheceu, como tantos oradores antes dele, incluindo dois ex-presidentes, Jimmy Carter e Bill Clinton, que o sonho de King não foi completamente cumprido. Mas converteu essa constatação num apelo ao activismo — como o organizador comunitário que foi em tempos, antes da sua carreira política. “Manter as conquistas que este país fez requer vigilância constante, em vez de complacência”, disse. “A Marcha em Washington mostrou-nos que não somos reféns dos erros da história. Somos mestres do nosso destino. ” E também: “A mudança não vem de Washington, mas para Washington”, disse. Obama fez apenas uma breve referência ao seu lugar único no progresso racial da América dizendo que por causa das pessoas que marcharam há 50 anos, “eventualmente, a Casa Branca mudou”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homicídio negro adolescente igualdade imigrante raça
Líder do partido grego Aurora Dourada fica detido
Nikos Mihaloliakos ficou detido na madrugada desta quinta-feira por suspeitas de organização de um grupo criminoso, assassínio, ataques violentos e lavagem de dinheiro. (...)

Líder do partido grego Aurora Dourada fica detido
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.15
DATA: 2013-10-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nikos Mihaloliakos ficou detido na madrugada desta quinta-feira por suspeitas de organização de um grupo criminoso, assassínio, ataques violentos e lavagem de dinheiro.
TEXTO: O líder do partido grego de extrema-direita Aurora Dourada, Nikos Mihaloliakos, ficou detido preventivamente depois de ter sido interrogado em tribunal por suspeitas de organização de um grupo criminoso, assassínio, ataques violentos e lavagem de dinheiro. A audiência, que começou na quarta-feira e que se prolongou pela madrugada, terminou ao fim de mais de seis horas com a decisão judicial de que Mihaloliakos deveria ficar detido, à semelhança de um outro deputado do seu partido, avança a BBC. Esta é a primeira acção deste género contra um líder partidário eleito em décadas. O líder do Aurora Dourada foi um dos seis parlamentares detidos durante o fim-de-semana, na sequência de suspeitas do assassinato de um músico anti-racista, Pavlos Fyssas. Na quarta-feira, outros três deputados do partido do Aurora Dourada foram libertados sob fiança, ficando um quarto a aguardar julgamento na prisão. Nenhum deles poderá sair do país até o caso estar encerrado. Fica por ouvir o seu "número dois", Christos Pappas, que se entregou no domingo à polícia depois da detenção do líder, no sábado. Até agora todos negaram qualquer responsabilidade pelas acusações que lhes são imputadas. De acordo com o jornal grego Ekathimerini, durante o interrogatório o líder do Aurora Dourada lamentou a morte do músico mas disse não ter tido qualquer envolvimento do caso. "Eu não sou um nazi", insistiu. Já à saída, quando era acompanhado pelos polícias para a prisão, escreve a Reuters, Mihaloliakos reforçou aos jornalistas a mesma ideia e acrescentou: "Longa vida para a Grécia, vitória". A libertação de três dos quatro deputados levou muitos a questionar a força do caso contra os políticos e membros do Aurora Dourada, iniciado após o assassínio de um activista de esquerda por um apoiante do partido. Até agora foram detidas 22 pessoas e continuam as buscas em casas de pessoas ligadas ao partido. Organizações de direitos humanos já vinham a alertar para a violência cometida por elementos deste grupo contra imigrantes – uma violência que aumentou com a eleição de 18 deputados para o Parlamento nas eleições do ano passado. Testemunhos de dois antigos membros falam de uma estrutura bem organizada e coordenada, com lideranças fortes, treino paramilitar e ataques programados. O partido – que favorecia a entrada de homens com treino em artes marciais – terá campos de treino para uso de armas de fogo. Na sede foram encontrados bastões, facas e matracas. Durante a investigação, a polícia encontrou também armas (sem licença) em casa do líder do partido, que estão a ser submetidas a testes balísticos. O partido Aurora Dourada passou da irrelevância (nem 1% dos votos) nas eleições de 2009 para uma votação de quase 7% (que lhe deu 18 deputados) em 2012. A crise foi o principal catalisador do partido, que aproveitou o mau funcionamento das instituições e promoveu acções de segurança a moradores de zonas cada vez mais afectadas pela criminalidade e distribuiu comida e roupa, em acções destinadas apenas a cidadãos gregos. A chegada de imigrantes à Grécia – que procuram passar para outros países da Europa mas ficam concentrados no centro de Atenas – também foi terreno fértil para as ideias anti-imigração do partido, que defende a expulsão dos imigrantes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte homens humanos violência imigração tribunal prisão género assassinato racista assassínio
Extrema-direita: Farage, Le Pen e Wilders em rota para vencer eleições europeias
Sondagens indicam que um novo grupo parlamentar, liderado pela Frente Nacional e pelo Partido da Liberdade holandês, pode surgir no Parlamento Europeu. (...)

Extrema-direita: Farage, Le Pen e Wilders em rota para vencer eleições europeias
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.4
DATA: 2014-04-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sondagens indicam que um novo grupo parlamentar, liderado pela Frente Nacional e pelo Partido da Liberdade holandês, pode surgir no Parlamento Europeu.
TEXTO: A quatro semanas das eleições europeias, as sondagens mostram que o terramoto que se anuncia há meses está perto de se concretizar: no Reino Unido, em França e na Holanda, as projecções colocam na frente das intenções de voto os partidos xenófobos e populistas, que, imunes a polémicas, parecem ter encontrado a fórmula certa para tirar o melhor partido do descontentamento dos eleitores. Uma sondagem publicada no domingo pelo jornal Sunday Times atribuiu ao Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) 31% das preferências, três pontos acima dos trabalhistas, com os conservadores reduzidos a 19% a um inédito terceiro lugar em votações nacionais. Um cenário já admitido por analistas, mas que só agora ganha força nas sondagens: o estudo do instituto YouGov é apenas o segundo em 16 realizados neste ano a prever a vitória do partido de Nigel Farage e o primeiro a atribuir-lhe mais do que dois pontos de vantagem sobre o Labour. O UKIP, que faz da saída da União Europeia a razão da sua existência, cresce à custa dos tories, da quase aniquilação do Partido Nacional Britânico (dos 6% que em 2009 lhe valeram a eleição de um eurodeputado, o BNP obtém agora menos de 1%), e Farage admite que o seu alvo são agora os eleitores trabalhistas das cidades operárias do Norte, receosos de que o aumento da imigração reduza os salários no país. Uma subida que não é travada pelos escândalos ou a má imprensa – sucedem-se os militantes do partido desautorizados por causa de afirmações racistas e o próprio Farage foi visado numa investigação do Times por causa de despesas abusivas que apresentou enquanto eurodeputado. “É muito preocupante ver que eles desenvolveram uma imunidade em relação à verdade”, disse ao jornal Guardian o antigo ministro trabalhista Peter Hain, para quem a verdadeira arma do UKIP não é o eurocepticismo, mas a ideia de que são um partido anti-sistema e que lhes permite canalizar o voto de quem sente os efeitos da crise europeia e não se revê já nos partidos tradicionais. Cenário idêntico, a mesma tendência verifica-se em França, onde duas sondagens divulgadas no final da semana passada atribuem à Frente Nacional 24% das intenções de voto, dois pontos acima da UMP (direita) e a quatro dos socialistas. “O nosso objectivo é ficar na frente a nível nacional”, insiste Marine Le Pen, que depois dos bons resultados nas municipais espera transformar as eleições de 25 de Maio no trampolim definitivo para a primeira fila da política francesa. E as boas notícias para Le Pen não se esgotam em França. As previsões da Pollwatch2014, que analisa a tendência das sondagens nos 28 países da UE, indicam que a aliança que a Frente Nacional firmou com o Partido da Liberdade (PVV) do holandês Geert Wilders (que parece ter ultrapassado o escândalo que provocou ao defender “menos marroquinos em Haia” e que lidera de novo as intenções de voto) pode dar origem a um novo grupo no Parlamento Europeu. Para formar um novo bloco parlamentar são precisos pelo menos 25 eurodeputados de sete Estados-membros – a última projecção da Pollwatch2014 indica que a aliança entre a FN e o PVV, a que se juntaram entretanto o Partido da Liberdade austríaco, a Liga Norte italiana, o Vlaams Belang da Bélgica e dois pequenos partidos de extrema-direita da Suécia e da Eslovénia poderão eleger 38 deputados, o que lhes garantiria ajudas de dois milhões de euros por ano. De fora deste bloco ficam os partidos neonazis da Aurora Dourada (Grécia) e Jobik (Hungria) e também o UKIP que, pela segunda vez, recusou o convite que lhe foi endereçado por Le Pen. O partido de Farage explica que, apesar do discurso mais moderado da filha de Jean-Marie Le Pen, a FN tem “no seu ADN o preconceito, e em particular anti-semitismo” que diz repudiar.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Tudo sobre a revolução, de Ferguson a Ouagadougou
O rapper senegalês Didier Awadi foi a figura mais inspiradora da terceira edição do Atlantic Music Expo, que anteontem terminou em Cabo Verde. É a sua missão: “Não basta fazer belas canções de amor.” (...)

Tudo sobre a revolução, de Ferguson a Ouagadougou
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O rapper senegalês Didier Awadi foi a figura mais inspiradora da terceira edição do Atlantic Music Expo, que anteontem terminou em Cabo Verde. É a sua missão: “Não basta fazer belas canções de amor.”
TEXTO: Por estes dias, a agenda de Didier Awadi, activista e pai fundador do hip-hop senegalês e, em geral, de toda a África Ocidental (“vieux père” é de resto como o trata Tibass, o jovem rapper congolês que acompanha Awadi em digressão, quando lhe emprestamos o telemóvel para que nos facilite o contacto, atendendo a que isto está difícil…), parece o cronograma de um processo revolucionário em curso. Na verdade, são vários, televisionados ou por televisionar. Aos 45 anos, Awadi é um revolucionário em digressão, um revolucionário que finalmente (gratos, Tibass) encontramos no infernal trânsito entre Dakar, onde se orgulha de em 2012 ter forçado, na rua e nas urnas, a saída de um Presidente da República, Abdoulaye Wade, que pretendia manter-se em funções até que a morte os separasse (“Manifester c’est bon, voter c’est encore mieux” ficou, como slogan, para memória futura de uma rara transição democrática) e Ouagadougou, a capital do Burkina Faso pós-revolucionário que ele também ajudou a ganhar, contra “um Governo de criminosos profissionais”, com os manifestos pan-africanistas que desde 1998 vem gravando no seu Studio Sankara e que se tornaram a bandeira da juventude sónica local. Não sabemos se é ele que anda atrás das revoluções ou se são as revoluções que andam atrás dele. Por exemplo agora: está na Cidade da Praia, onde no passado dia 30 centenas de cabo-verdianos, sobretudo jovens, se manifestaram contra o diploma que pretendia aumentar em 65% os salários da classe política num país de emigrantes e desempregados. Convidado a participar na mesa-redonda que a terceira edição do Atlantic Music Expo, o grande mercado transatlântico com que desde 2013 Cabo Verde quer pôr-se no mapa das indústrias culturais, dedicou ao tema A revolução não será televisionada. Como é que a cultura está a construir um novo futuro, Awadi dividiu-se entre uma conferência, um concerto – lugar estranho, e de facto pan-qualquer coisa, esse onde Beyoncé, Shakira e White Stripes se cruzam com manifestos anti-corrupção e citações do anticolonialista Frantz Fanon no corpo gigante de um rapper que ainda há dias estava no Burkina Faso a reunir uma brigada para gravar um single colectivo em protesto contra a violência sexual da seita islamista radical Boko Haram na Nigéria, ou em Kinshasa a exigir a libertação de artistas detidos ilegalmente numa manifestação pró-democracia pelo Governo do General Kabila –, dezenas de entrevistas e os inevitáveis contactos com seguidores. Entre eles está Eleanor Dubinsky, americana de Ferguson que nunca mais cantou da mesma maneira desde que ouviu Sara Tavares mas de momento não pensa se não em atirar-se a um projecto de edição dos textos de Awadi na plataforma Kickstarter. Awadi não esteve nos protestos de Novembro contra o assassinato do afro-americano Michael Brown por um polícia armado na cidade onde Eleanor cresceu, mas esteve em Chicago quando a América teve o seu primeiro Presidente negro, ainda que não seja ingénuo: “O Obama não é ninguém. É só um detalhe da História. De resto, políticos americanos fazem políticas americanas”, diz ao PÚBLICO dias depois da mesa-redonda. Certo, gostaria de editar os textos, embora a maioria do seu discurso seja “freestyle”: “A comunidade negra, mesmo na América, não é politizada. E se ficar por politizar estará sempre na cauda”, responde a Eleanor, que entretanto continua a acompanhar os estados de alma em Ferguson através do hip-hop que os motins geraram. “Há a canção do John Legend [Glory], e há muitas mais coisas a acontecer. Há muitos rappers em Ferguson, e uma longa tradição musical ligada ao jazz e aos blues de Saint Louis: o Miles Davis vem de lá, o Chuck Berry vem de lá, a Josephine Baker vem de lá… Mas não há estúdios, não há estrutura, não há negócio, não há indústria, não há tutoria, não há respeito… Pelo contrário, em Dakar, parece que as pessoas se organizam”, desabafa. Awadi, continua, “é um belo exemplo do que se pode fazer numa comunidade predominantemente afro-americana como Ferguson, para a qual a música pode funcionar como arma de propaganda ou de sedução mas também como agente de transformação”. AutodeterminaçãoAté chegar a este patamar em que é consultor da Universal Music, em que força a aprovação de leis de direitos de autor no Senegal e atende o telefone a ministros congoleses para os ajudar a sair o mais ilesos possível de crises como a de Março em Kinshasa (conselho de Awadi: “Liberte-os, caso contrário vai criar um monstro”), Awadi estava ocupado a fundar o hip-hop em wolof, a língua da etnia dominante no Senegal, e a montar aquele que é até hoje um dos melhores estúdios de gravação daquela metade da África Ocidental, o Sankara, que actualmente emprega “entre 30 a cem pessoas, consoante as campanhas”. Era, explica a uma plateia mais ou menos siderada, uma questão de autodeterminação, género os artistas africanos seriam independentes ou não seriam. “Creio que sim, a revolução será televisionada; já estamos na batalha dos conteúdos e temos de ser nós a produzi-los e a vendê-los, para que se pareçam connosco, para que tenham os nossos códigos mentais, as nossas referências. É o tipo de missão de que temos de ocupar-nos; não basta fazer belas canções de amor. Quando estás numa sala e há 30 ou 40 mil pessoas que levantam a mão quando abres a boca, já não é só um espectáculo. ”Tão ou mais importante do que o estúdio onde ganha dinheiro é a rede de protecção que Awadi e outros activistas afro-americanos parecidos com ele construíram: “De cada vez que um artista é ameaçado, todas as pessoas se levantam. E os Governos têm medo do Tribunal Penal Internacional. Claro que pode ser perigoso, mas quando somos numerosos…”Isso, sublinha, é o papel que os artistas têm de fazer em África. Depois há o papel que têm de fazer no resto do mundo ocidentalizado: “Os programadores de festivais adoram convidar músicos africanos. Cantam, dançam, tocam tambor, sorriem! Mas é preciso que os ocidentais saibam que há uma parte da juventude que não tem meios para ser feliz. O estúdio, à sua escala, serve para que os músicos senegaleses possam existir artisticamente sem viagens forçadas à Europa e sem formatações. O nosso hip-hop é verdadeiramente do Senegal. Tem as nossas percussões, as nossas melodias, os nossos cantos tradicionais, as nossas línguas. ” E depois tem Shakira, Beyoncé e White Stripes, “porque é necessário”: “Se és demasiado político, as pessoas fogem. É preciso piscar-lhes o olho aqui e ali, encontrar astúcias para as fazer chegar às tuas ideias. E a minha ideia é que África já é o futuro. A África de hoje é urbana, tem as mais altas taxas de população jovem e de matérias-primas do mundo, não permite que os ditadores decidam por si, está pronta a assumir as suas responsabilidades. Acho que há um complexo que finalmente está prestes a morrer nas cabeças africanas. ”De regresso à plateia, a história de Awadi parece ser comum. Mamou Daffé, o director do Festival Sur le Niger que há meses organizou uma Caravana Cultural pela Paz disposta a percorrer o Mali e fazer activismo contra a opressão islamista, levanta-se para dizer que “ouvir o Didier [lhe] dá esperança no continente”. E depois há Teshome Wondimu, o fundador da ONG Selam, com bases em Estocolmo e em Adis Abeba: “Precisamos de mil Awadis em África. ”Um herói local, Awadi? “Não, não me vejo como um herói. Sou um activista musical, um agitador. A nossa rede fez pequenas mudanças. Não é ficção: vivi isso, vi a revolução a acontecer. ” E não foi pela televisão. O PÚBLICO viajou a convite da Tumbao
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN
Morreu Johnny Otis, o "padrinho do r&b"
Nunca resumiu o talento à música e por isso destacou-se também como produtor, compositor, empresário musical e DJ. Johnny Otis, conhecido como o “Padrinho do r&b” morreu na terça-feira em casa, em Altadena, Califórnia. Tinha 90 anos. O músico estava doente há vários anos. (...)

Morreu Johnny Otis, o "padrinho do r&b"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-01-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nunca resumiu o talento à música e por isso destacou-se também como produtor, compositor, empresário musical e DJ. Johnny Otis, conhecido como o “Padrinho do r&b” morreu na terça-feira em casa, em Altadena, Califórnia. Tinha 90 anos. O músico estava doente há vários anos.
TEXTO: Johnny Otis foi uma figura fulcral na passagem do rhythm & blues para o rock'n'roll. Descobriu talentos como Etta James, Jackie Wilson ou Big Mama Thornton, para quem produziu em 1952 “Hound Dog”, a icónica canção que Elvis Presley regravaria em 1956, até hoje um dos maiores sucessos do “Rei do rock"n"roll”. “O seu papel na música pop e rock"n"roll tornou-o numa lenda, ele conseguia fazer tudo. Ele é um dos maiores talentos da música americana e foi também um grande americano”, recordou à Reuters, Tom Reed, amigo de Otis e historiador de música. Um grande americano mas filho de imigrantes gregos, cujas raízes europeias nunca escondeu. Nascido John Veliotes em 28 de Dezembro de 1921, esta quinta-feira, o New York Times citava Johnny Otis numa entrevista ao San Jose Mercury News: "Geneticamente, sou um grego puro. Psicologicamente, ambientalmente, culturalmente e por escolha, sou um membro da comunidade negra", lembrando que cresceu numa comunicado afro-americana em Berkeley, Califórnia. Na adolescência mudou mesmo de nome, defendendo que Johnny Otis soava mais negro. “Em criança, eu decidi que se a nossa sociedade ditava que uns eram brancos e outros negros, eu seria negro”, contou uma vez, citado pela AP. E foi mesmo a música negra a sua grande paixão. Como músico (baterista e vibrafonista), como compositor e vocalista (cantou “Willie and the hand jiv”, compôs “Every beat of my heart” para as “Gladys Knight and the Pips”) e como divulgador incansável na rádio ou na televisão. Dizia muitas vezes que a música não era apenas notas musicais. “É a cultura, a forma como a avó cozinha, a forma como o avô conta histórias, a forma como as crianças andam e falam. ”Figura empenhada na luta pelos direitos civis e dedicado à agricultura biológica desde os anos 1990, o cognominado "Padrinho do Rhythm & Blues" é pai do guitarrista blues Shuggie Otis. Johnny Otis ao vivo
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Palavras-chave direitos cultura filho negro comunidade criança negra
Eslovénia elege primeiro presidente de câmara negro da Europa Central
Foi uma vitória apertada (por 51,4 por cento dos votos), mas já fez história: o médico Peter Bossman, oriundo do Gana, venceu em segunda volta as eleições municipais de Piran, no Sudoeste da Eslovénia, e assim tornou-se no primeiro presidente de câmara negro da Europa Central. (...)

Eslovénia elege primeiro presidente de câmara negro da Europa Central
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.027
DATA: 2010-10-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi uma vitória apertada (por 51,4 por cento dos votos), mas já fez história: o médico Peter Bossman, oriundo do Gana, venceu em segunda volta as eleições municipais de Piran, no Sudoeste da Eslovénia, e assim tornou-se no primeiro presidente de câmara negro da Europa Central.
TEXTO: Candidato pelo Partido Social Democrata (de centro-esquerda, no poder a nível nacional), Bossman bateu o incumbente, também médico, Tomaz Gantar (do centro-direita), que até se tinha saído melhor à primeira ronda, realizada a 10 de Outubro. Chamam-lhe o “Obama de Piran”, uma cidade costeira de cerca de 17 mil habitantes que os analistas dizem ter revelado, com este resultado, que a Eslovénia – antiga parte da Jugoslávia – é um “país maduro”, ao ter elegido um “representante político que não é branco”. Peter Bossman, de 54 anos, cujo pai é também médico e político no Gana, chegou à Eslovénia na década de 1970, para estudar medicina. Casou com uma colega de faculdade, Karmena, oriunda da Croácia, com quem teve duas filhas, e decidiu ficar no país. “Nos primeiros meses em que vivi na Eslovénia senti que as pessoas não nos queriam aqui [aos imigrantes africanos]. Mas nestes últimos dez ou 15 anos não tive quaisquer problemas, não fui alvo de discriminação. Acho que as pessoas já não vêem a cor da minha pele quando olham para mim, apenas um bom médico e um bom homem”, afirmou, manifestando-se “feliz e orgulhoso” pela vitória eleitoral. “Dificilmente se pode dizer que sou o típico cidadão esloveno, mas o facto de ter sido eleito mostra com clareza o nível de democracia existente na Eslovénia”, prosseguiu o novo presidente da câmara de Piran. Com uma população de cerca de dois milhões de habitantes a Eslovénia regista uma imigração com origens mais comuns em outros países da ex-Jugoslávia, como a Bósnia Herzegovina ou a Sérvia. A população negra no país não é senão uma fatia extremamente residual. Com uma campanha que exortava ao diálogo, Bossman foi amplamente criticado por não falar esloveno fluentemente ao fim de mais de trinta anos no país. A esta crítica respondeu, numa entrevista a um dos principais jornais do país ainda antes da segunda volta, que um seu amigo, professor de esloveno, se ofereceu para lhe dar aulas adicionais. “Esta é a minha casa agora. Vou ao Gana a cada dois anos para visitar a minha mãe, mas Piran é que é a minha casa. E o meu pai sempre me disse que se pudermos, temos que ajudar a sociedade, a comunidade a que pertencemos. ”
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Palavras-chave imigração homem comunidade social negra discriminação
Fascistas e anti-semitas: os eleitos mais à direita que Le Pen
Para além de eurocépticos, foram eleitos eurodeputaos claramente racistas. (...)

Fascistas e anti-semitas: os eleitos mais à direita que Le Pen
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.392
DATA: 2014-05-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para além de eurocépticos, foram eleitos eurodeputaos claramente racistas.
TEXTO: Este Parlamento Europeu vai ser tomado de assalto por uma multidão de deputados eurocépticos, mas entre eles há um subgrupo de eleitos cujas ideias podem ser descritas como fascistas e racistas e, sobretudo entre os que são provenientes da Europa de Leste, anti-semitas. É o caso do Jobbik húngaro, um partido de extrema-direita que tanto no discurso como em acções é anti-judeus e anti-ciganos. Com 14, 7%, o Jobbik elegeu três eurodeputados, apesar de pouco tempo antes das eleições de 25 de Maio, um deputado desta formação ter sido acusado de espiar no Parlamento Europeu a favor da Rússia. Mas a grande surpresa veio da Alemanha, em que os neonazis do Partido Democrata Nacional, que concorreram com um programa anti-imigração, mas são classificados como racistas e anti-semitas, elegeram pela primeira vez um eurodeputado. Os seus líderes dizem coisas como “a Europa é um continente branco” e têm cartazes com frases como “dá-lhe gás”. O partido eurocéptico Alternativa para a Alemanha obteve também sete deputados para o Parlamento Europeu. Na Grécia, o Aurora Dourada, partido de clara inspiração nazi, elegeu três eurodeputados, apesar de o seu líder, Nikos Michaloliakos, e vários deputados, estarem presos. Estes partidos não estão aliados com a Frente Nacional ou o Partido da Liberdade de Geert Wilders e não se sabe se conseguirão formar um grupo parlamentar à parte. No entanto, a onda eurocéptica acabou por retirar votos a algumas das forças mais extremistas e violentas de extrema-direita que perderam os seus eurodeputados, segundo uma tabela feita pelo centro de investigação britânico Counterpoint, como o Attaka búlgaro, o Partido Nacional Britânico ou até mesmo o Partido Nacional Eslovaco. Correcção do número de eleitos pelo Jobbik: 3 e não 12
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração assalto
Hoje somos todos franceses. E amanhã?
Os atentados de Paris são também um teste a Hollande e à sua capacidade política de conduzir a França neste momento de tragédia. (...)

Hoje somos todos franceses. E amanhã?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os atentados de Paris são também um teste a Hollande e à sua capacidade política de conduzir a França neste momento de tragédia.
TEXTO: 1. Hoje, em Paris, os líderes europeus vão encabeçar uma manifestação que se prevê gigantesca. É contra o terrorismo mas é sobretudo a favor dos valores da tolerância e da liberdade que todos partilham. É reconfortante ver Angela Merkel e David Cameron ou Matteo Renzi e Passos Coelho desfilarem ao lado de François Hollande para dizer que são todos parisienses. Faz bem à alma europeia, hoje ferida por tanta desilusão. Transmite aos terroristas a mensagem contrária aos seus objectivos. Seria bom que ninguém se lembrasse de levar consigo símbolos partidários ou religiosos, para mostrar que há valores comuns que ninguém discute. Não chega para avaliar com rigor o efeito do que aconteceu na Cidade-Luz na quinta-feira passada, quando três terroristas fortemente armados tiraram a vida a 12 pessoas na sede do Charlie Hebdo e a mais quatro numa mercearia de um bairro judeu. O que aconteceu inaugura uma nova estirpe de terrorismo, que pode não exigir grandes recursos ou especial planeamento, mas que é igualmente eficaz. Os terroristas identificaram-se como da Al Qaeda do Iémen. Mas é o Estado Islâmico, com a sua violência demencial, que é hoje o apelo mais forte ao regresso da jihad. É com esta nova estirpe que a Europa vai ter de se confrontar. O risco já tinha sido avaliado, com os milhares de jovens franceses ou alemães ou de outra nacionalidade europeia dispostos a partir para se juntar ao E. I. O seu regresso seria sempre um problema. Mas a lição mais evidente do que se passou é que bastaram três homens para matar 16 pessoas e lançar o caos em Paris. Ninguém acredita que seja um acto isolado. É uma forma de terror muito diferente dos atentados da Al-Qaeda de Bin Laden. E, sobretudo, pode ser perpetrado por gente que que é tão francesa como aqueles que mata. Não vale a pena subestimá-lo. 2. Foi também reconfortante ver tanta gente nas ruas de Paris manifestando a sua solidariedade com os que foram o alvo escolhido pelos terroristas. Mas não vale a pena termos ilusões. Há uma parte da França que vê nos atentados de Paris mais uma razão para render-se às ideias de Marine Le Pen. Contra a globalização, contra a Europa, contra as comunidades de imigrantes ou de franceses de origem islâmica, contra o outro. A primeira coisa que disse foi que só ela dizia a verdade aos franceses sobre o fundamentalismo islâmico. A Frente Nacional, revista e corrigida por ela, recolhe mais apoio nas sondagens do que qualquer outro partido francês. O medo é a sua grande arma de propaganda e o terrorismo alimenta o medo. É esta a realidade que voltará inexoravelmente ao de cima. Não é caso único, embora seja talvez o mais preocupante. O UKIP de Nigel Farage disse que “era uma guerra” e responsabilizou por ela o multiculturalismo britânico. Geert Willders, na Holanda, desafiou o primeiro-ministro “e os outros líderes ocidentais a perceberem finalmente qual era a mensagem. ” Há meia dúzia de meses, os resultados das eleições europeias foram um grito de alarme rapidamente esquecido. A pobreza ideológica em que caíram os partidos europeus está a deixar um enorme vazio que os extremismos facilmente conseguem ocupar. São eles que podem beneficiar mais com o terrorismo. Esta devia ser uma preocupação comum aos líderes que vão desfilar em Paris. Quentin Peel, antigo colunista do Financial Times, escrevia ontem que deveriam estar “inconfortavelmente cientes” de que “estas atrocidades podem representar um recuo perante os valores liberais das elites que eles representam”. E também perguntava: quando Cameron regressar a Londres vai insistir no mesmo discurso? Provavelmente vai. É esse o risco maior que hoje a Europa enfrenta. A crise europeia, com as feridas que abriu e as expectativas que matou, deixou a Europa mais vulnerável ao medo. Se hoje somos livres de nos proclamar todos Charlie, amanhã será provavelmente Le Pen a retirar o maior proveito político dos atentados de Paris. 3. A França tem um problema particular (em alguns aspectos, semelhante ao do Reino Unido) porque alberga a mais vasta comunidade islâmica da Europa. A revolta dos banlieues parisienses em 2005 foi um aviso, embora muitos dos problemas continuem lá. O laicismo, que está na base da cultura francesa e se traduziu recentemente na proibição do lenço ou da burka em lugares públicos (da escola às empresas), é a mesma “religião” que sempre inspirou o Hebdo. No Reino Unido, onde vive também uma grande comunidade islâmica, os atentados terroristas de 7 de Julho de 2005 foram cometidos por jovens de nacionalidade britânica. O modelo de integração é o oposto: cada comunidade é livre de viver como quiser. A vaga de atentados da Al Qaeda levou a um intenso debate sobre qual era o melhor sistema. A questão é que há mais de vinte milhões de crentes no Islão que são hoje cidadãos europeus como todos os outros.
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