Presidente del Govierno Mariano Já-Foi: Traje de luces fundidas
Ao PP arderam 2,4 milhões de votos. O PSOE perdeu 700 mil nas eleições municipais e autonómicas. Será que o fim do bipartidarismo significa o fim do corruptismo, do austerismo e da conversa-de-chachismo que assola Espanha desde 2011? O presidente de Castela-Leão pediu a Rajoy que se olhasse ao espelho antes de avançar para as eleições gerais. Mas o que vê Mariano no espelho rachado do PP? (...)

Presidente del Govierno Mariano Já-Foi: Traje de luces fundidas
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao PP arderam 2,4 milhões de votos. O PSOE perdeu 700 mil nas eleições municipais e autonómicas. Será que o fim do bipartidarismo significa o fim do corruptismo, do austerismo e da conversa-de-chachismo que assola Espanha desde 2011? O presidente de Castela-Leão pediu a Rajoy que se olhasse ao espelho antes de avançar para as eleições gerais. Mas o que vê Mariano no espelho rachado do PP?
TEXTO: Mariano Rajoy Brey (n. 1955, Santiago de Compostela) foi um líder do PP — Partido Popular espanhol que, depois de ganhar perdendo (ou de perder ganhando) as eleições regionais, em vez de olhar para o espelho e se demitir, como os históricos do partido sugeriram, reagiu com firmeza: lá para, hum… Julho ou coisa assim vai pensar em mudanças, pouco a pouco, logo se vê. Tenemos líder!Mariano não engoliu a verdade: perdeu mais de 10% dos votos (de 37, 5% para 27%) desde as últimas autonómicas de 2011. Já para não falar dos 45% que lhe deram maioria absoluta nas legislativas do mesmo ano. Foi aí que começou um rigoroso programa de austeridade, em linha com as orientações europeias, para salvar o país da bancarrota e do despesismo socialista e dos exageros socráticos, ai bolas, isto é tudo tão parecido, do zapaterismo de José Zapatero, assim é que foi. Mas no último ano, vendo que a economia e as exportações finalmente cresceram com menos Estado e mais iniciativa privada, sentindo a baixa do nível do paro (o desemprego), o povo que sofreu duramente a crise iria reconhecer o esforço do Governo, deixar-se de aventuras e votar na continuidade. A cartilha austeritária explicada às crianças. Não aconteceu. O PP ganhou “rés-vés Plaza de Cibeles” e perdeu todas as maiorias absolutas nas regiões autónomas, além das comunidades de Barcelona e, talvez (à hora de cierre desta página era o mais provável), a grande capital, Madrid. Porque o que os espanhóis viram em Mariano Rajoy y sus muchachos (prometemos acabar com estes insuportáveis apartes espanholados agora mesmo, descansem) foram quatro anos de arraial Popular. Uma sequência de vómito com escândalos, corrupções impunes ou abafadas, desvios de dinheiro, envelopes de notas, gravações manhosas. Uma percentagem quase impossível de imaginar de políticos e políticas do PP, de todas as regiões que controlavam em Espanha, envolvida em crimes de branqueamento, fraude fiscal, suborno, gastos milionários de fundos públicos em luxos privados, tráfico de influências. Só nos últimos dois anos, os subornos com construtores, avaliados pela justiça, serão de 250 milhões de euros. O próprio Rajoy teria — da fama não se livra — recebido cerca de 25 mil euros por ano de fundos ilegais do ex-tesoureiro do PP, o proscrito Luis Cardénas, uma dessas criaturas de gel na nuca. Isto tudo numa rubrica que Cardénas descrevia a azul, nos seus caderninhos secretos revelados pelo jornal El País, como “Trajes Mariano”. Até podia ser o nome de uma loja de província, assim como — lembra-te, cabeça, da infância — Confecções Umbelino, mas pelos vistos era o nome que se dava a uma caixa de sapatos cheia de dinheiro (11 mil euros num mês), para Rajoy supostamente comprar fatos e gravatas e aparecer bonito em público. Rajoy, o homem que usa sempre barba para esconder as cicatrizes de um acidente na juventude. O tempo em que Mariano ainda se olhava ao espelho. Foi entre 1997 e 2009 que este cidadão “foi mais imperfeito”, como diz o outro. Agora parece que está a acabar a tourada do PP, que se seguiu à festa do PSOE (lembram-se desses tempos, quando os pobres eram os jovens mileuristas que só (!) recebiam 1000 euros por mês). Vieram depois os nimileuristas, seguidos dos “nem-quinhentos-euristas”, e, finalmente, dos desempregados que só queriam uma sandes antes de emigrar. Os jovens que ficaram ocuparam durante meses o centro de Madrid. Forças políticas independentes emergiram para se transformar em partidos e plataformas de poder, como o Podemos. Mais tarde, e à direita, o Ciudadanos. A mudança em Espanha é tão evidente que se pode ler e tocar o medo daquela metade de Espanha que deixou de ser metade. O jornal ABC, refúgio e púlpito do PP, agelatina-se nos editoriais: “os empresários temem a fuga de investimentos por causa do populismo”; “a chegada da extrema-esquerda a enclaves tão importantes como Madrid e Barcelona terá consequências económicas muito negativas”. Não sabem, como Rajoy, se hão-de sair e apagar as luzes (já fundidas), se arriscam ficar à mercê do que o povo decidir. As boas notícias são para a antropologia e a linguística comparada: há duas novas línguas oficiais na Península Ibérica, a juntar ao português, castelhano, basco, catalão, etc. Dois tipos de politiquês “língua-de-madeira” que se influenciam mutuamente. Uma saudável livre-circulação de frases palavrosas que dizem tudo e não dizem nada. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De um lado, o mariano-rajoyês, de que é exemplo a resposta oficial ao desaire eleitoral: “No partido iremos tomando as decisões que sejam pouco a pouco mais oportunas e convenientes para nos apresentarmos da melhor forma possível às eleições gerais. ”Do outro lado, o nosso passos-coelhês, refinado pelo primeiro-ministro de Portugal na biografia Somos o Que Escolhemos Ser. Aí, um amigo de juventude informa que “o Pedro escrevia e escreve esplendorosamente bem, melhor do que qualquer um de nós”. Mas a falar suplanta-se. Exemplo de expressão que deverá querer dizer qualquer coisa nessa língua: “Nunca usei a minha capacidade de intervenção para atingir um objectivo preciso de uma forma artificial, que não tivesse que ver com a convicção que tinha quanto ao julgamento que fazia do que pensava do que defendia. ”Rajoy, toma e embrulha! Ou melhor, Rajoy, empaquetate y embrolhate!
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
No Brasil diz-se sim à mandioca
E a muitos outros produtos. Dos produtores mais pequenos situados na zona do Vale do Paraíba, na Mata Atlântica, aos restaurantes de estrelas Michelin em São Paulo, o país redescobre em força os seus produtos nativos. O grito do Ipiranga da independência gastronómica está lançado: o que é bom não é o importado, é o nacional. (...)

No Brasil diz-se sim à mandioca
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: E a muitos outros produtos. Dos produtores mais pequenos situados na zona do Vale do Paraíba, na Mata Atlântica, aos restaurantes de estrelas Michelin em São Paulo, o país redescobre em força os seus produtos nativos. O grito do Ipiranga da independência gastronómica está lançado: o que é bom não é o importado, é o nacional.
TEXTO: “Mandioca é raiz do Brasil, o único ingrediente que se consome de Norte a Sul do país, de Este a Leste, por rico e por pobre, por todas as classes sociais. Dizer que a feijoada é ‘o’ prato brasileiro é uma verdade incompleta, pois a tapioca e a mandioca são algo muito mais presente. ” Quem o diz é Alex Atala, chef-ícone de uma culinária que redescobre os sabores nativos, quando o interpelamos a meio do menu de 14 pratos, no qual a tapioca está presente em vários momentos. Havemos de provar também utilizações (algumas fora do habitual) da cachaça (servida em cocktail e não em caipirinha, no início e no final da refeição), de peixe do Amazonas, de coco fresco, de ervas e flores selvagens, de mel fermentado de abelha indígena e da formiga da Amazónia. Mais tarde, saberemos que Atala saiu por umas horas do hospital onde se encontrava internado para vir supervisionar este jantar no D. O. M. , restaurante onde nos encontramos. Fê-lo porque é grande a importância que dá à divulgação do que é o produto brasileiro, hoje a este grupo de oito jornalistas de várias partes do mundo no qual nos incluímos e que se sentam na única mesa redonda que há no espaço: um tampo de vidro, sobre um magnífico tronco de árvore tratada, que ainda não tem um único prato, talher ou copo para nos receber: “No D. O. M. sempre começamos a refeição com a mesa assim”, diz-nos. Sem nada, para acolher esta viagem pelos sabores do Brasil. Quando voltou a deixar os cuidados hospitalares foi passado dois dias, para a conferência e workshop do segundo dia do festival gastronómico Mesa São Paulo, cuja sala está cheia. Ainda fraco, solicita que não lhe peçam para tirar fotografias, e dará o primeiro plano aos seus sous-chefs na demonstração de uma nova técnica de legumes fermentados usando a cera de abelha apis mellifera, na defesa do zero waste e do aproveitamento de todas as partes do mel que usa em vários pratos. Mas ganha entusiasmo e emoção no discurso sobre o Brasil e do que este oferece em termos de bons produtos: “Um bom ingrediente é tudo o que o cozinheiro precisa. ”Da agitada São Paulo para a Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba. Situada no Vale do Paraíba, o rio cujo nome em tupi-guarani significa águas claras, fica a duas horas e meia de carro da metrópole, na direcção que liga São Paulo ao Rio, a autoestrada, aqui ‘rodovia’, Governador Carvalho Pinto, por onde passam todos os dias cerca de 1, 5 milhões de pessoas. A viagem começa bem cedo, às sete da manhã, para evitar o trânsito (que em São Paulo pode ser intenso – e extenso) e faz-se tranquila, com direito a uma paragem ao estilo "em Roma, sê romano". Numa estação de serviço, a meio caminho, provamos o pão de queijo, a coxinha e a média: tosta na chapa com manteiga acompanhada de um café. Depois desta imersão no apeadeiro de São José dos Campos, o mais tradicional, onde todos os condutores parecem parar, a lembrar-nos as viagens de camioneta dos anos 1980 Lisboa-Porto e da paragem no Manjar do Marquês, em Pombal, “acordamos” para a paisagem: o cimento da cidade dá lugar ao verde do interior do estado, ladeiam-nos campos seguidos de campos, pontuados por localidades e algumas zonas fabris, muita pastagem e respectivas vacas. Patrick Ayervie Assumpção é a quarta geração ao comando da Fazenda Coruputuba, que existe desde 1911 e que começou com o cultivo de arroz, madeiras, café e, mais tarde, papelão (feito da palha do arroz), tendo sido em meados do século XX a maior fábrica de papel da América do Sul. Recebe-nos de sorriso tímido, enquanto nos abre o portão automático da quinta, um pormenor tecnológico que contrasta com o edifício tradicional, de cor rosa-velho esbatida e ligeiramente descascada, e o ambiente de época que paira no ar: tal como num cenário de uma novela brasileira, esperamos que um sinhô e um caipira saiam de uma das muitas portas da casa articulando um qualquer trecho de diálogo. Quem fala, no entanto, é Patrick, sobre Coruputuba e como implementou o sistema agroflorestal (SAF) de cultivo: “Nos últimos 20 anos temos estado a restaurar a floresta com agricultura. A agrofloresta é uma das formas de recuperar a terra, e no Vale do Paraíba, onde terrenos baixios e altos se alternam e têm cada um as suas especificidades, é uma das formas ideais de o fazer. ” Trata-se de cruzar várias espécies, cada uma com diferentes tempos de cultivo e impacto ambiental, que ‘usam’ o terreno e os recursos de água de uma forma complementar. Um exemplo: a plantação de guanandi (que substituiu a de eucalipto) está intercalada com mandioca (que representa cerca de 20% do total da fazenda) e nas entrelinhas da mandioca podemos encontrar bananeira, árvores nativas e juçara. “A mandioca agroflorestal gerou renda anual e resgatou a história da fazenda Coruputuba (. . . ). O consórcio com o guanandi conservou o solo e os SAF ainda fornecem outros produtos, tais como feijão guandu, banana e frutos da palmeira juçara”, podemos ler numa apresentação feita para a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro que Patrick nos mostra. O dia está bem cinzento, nada convidativo a terrenos cheios de lama e visitas sob a chuva para ver estas formas de plantio que procuram respeitar (e sobretudo recuperar) uma terra cansada da monocultura e dos excessos de cultivo. Por isso, é com grande entusiasmo que, depois de uma visita, chegamos ao celeiro, onde está um pouco da história da fazenda e onde vamos conhecer produtores locais e seus produtos. O sistema agroflorestal no sentido lato recupera o ambiente, sim, mas também as comunidades e os pequenos produtores. Sendo esta uma zona de pastagens, nada faria mais sentido do que começarmos pelos queijos e frios (traduzindo: enchidos maturados) de Thyago Novaes, da Entre-Serras, uma empresa dedicada à produção artesanal que fica nesta zona de ‘Pinda’ – já adquirimos o costume local e usamos apenas o diminutivo. Do queijo, conhecemos as duas curas disponíveis: o Amarillo, um queijo de textura macia e amanteigada, “com olhaduras pequenas, sabor leve e casca semidura de coloração amarelo-ouro”, e o Mantiqueira (da serra com o mesmo nome que visitaremos mais tarde no dia), de leite de vaca com massa prensada e maturação de 45 dias, sabor intenso, salgado e levemente picante. “Fazemos cerca de dez queijos por dia, uma produção artesanal, na qual utilizamos apenas produtores de leite locais. ” O mesmo se passa com os enchidos, feitos com fornecedor da zona, defumados e maturados de forma sazonal: Bresaola, Coppa, Lonzino, Filleto, Salame, Bacon, Roast Beef, Tender, Lombo Defumado, Coppa Defumada, Pastrami. . . Provamos uma espécie de paio de porco de cura mais crua que o habitual em Portugal, e a Coppa maturada, uma carne marmoreada muito saborosa. Conhecemos de seguida os arrozes Alto do Marins, de Neto Reis, que nos salienta que “o Vale do Paraíba tem arrozes especiais”. “Nós criámos duas novas espécies, um basmati vermelho – conseguido com o cruzamento do basmati indiano com o arroz vermelho caipira – e um mini-arroz arbóreo, para um risotto mais aromático. ” Neto segura as suas criações para a nossa foto, enquanto nos refere que o chef Alex Atala esteve envolvido na criação deste movimento para serem feitos novos tipos de produtos brasileiros, neste caso o arroz. Voltamos à tecnologia, entramos no site do D. O. M. e confirmamos, na secção ‘Por Trás do Sabor’, onde fala de alguns produtos que usa nas suas cozinhas: “Arroz preto, arroz vermelho e mini-arroz: fornecidos pelo rizicultor Chicão Ruzene, que trabalha com tipos especiais de arroz no Vale do Paraíba. Estimulado pela parceria com o chef Alex Atala, Ruzene criou em sua fazenda um laboratório para a pesquisa de novas variedades, o que resultou em produtos de altíssima qualidade e incentivou outros produtores da região. ”Os sumos de fruta de vaia (o cor-de-laranja) e de cambuci (o verde-claro), que Amilton Hamerton nos dá a provar, têm sabores definitivamente tropicais, um pouco difíceis de definir, mas ambos deliciosos, entre o doce e o ácido. Estas duas frutas, assim como a jabuticaba, desta última há várias árvores na quinta mas que não conseguimos provar por estarem já maduras de mais, são nativas do bioma onde nos encontramos, a Mata Atlântica, segundo Patrick “um dos mais importantes do Brasil”. “Quando os portugueses chegaram ao continente era uma floresta maior em dimensão do que a Amazónia, une o Norte a Sul do país, e actualmente, graças a projectos como estes, é o único bioma que cresce novamente. ”Juntamente com os sumos, provamos dois bolos caseiros, um de tapioca, e outro feito com a folha ora-pro-nobis, algo semelhante ao espinafre, mas com quantidade grande de proteína que é conhecida como a “carne dos pobres”, ambos sem glúten. Saboreamos sem culpa as duas fatias, lentamente, enquanto conversamos com estes três exemplos dos 25. 000 pequenos produtores que existem nos 500. 000 hectares de cultivo que perfazem o total do Vale do Paraíba – como nos afirma Sandra Silva, pesquisadora científica da Apta – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Questionamos sobre a certificação orgânica, uma preocupação tão válida quanto na moda, mas essa não é o principal foco da agrocultura. É antes a qualidade do solo, que é posta em causa pela monocultura intensa. Mais do que o orgânico, o mind set está na qualidade, desde a semente até à elaboração do produto. E na fórmula “produce local, travel less”, que acarreta uma preocupação de sustentabilidade. Esta necessidade de “produzir local e viajar menos” é bem evidente na frase de Jean-François Daniel: “Uma das maiores exportações do Brasil é o cacau, o de melhor qualidade era exportado para fazer chocolate fino, que depois de feito é importado e comprado pelo brasileiro – com grande acréscimo de custo e impacto ambiental. ” De origem francesa, mas assumidamente casado com o Brasil através de Nara, a mulher, Jean-François fundou a marca Doce Revolução, de chocolates feitos com cacau indígena do Brasil e açúcar de coco orgânico. “Decidi fazer um chocolate simples e autêntico, um chocolate nacional de qualidade internacional. ”Esta conversa já decorre a duas horas de carro da fazenda, na serra da Mantiqueira. Comprovámos que, no Brasil, quando nos dizem que “é já ali”, se pode efectivamente demorar quase duas horas a chegar, uma janela de tempo que para um português lhe permite atravessar metade do seu país, mas que aqui nem nos faz sair do estado de São Paulo. Em Santo António do Pinhal, ainda no Vale do Paraíba, no estrado de madeira com vista para a serra da fábrica de cerveja artesanal Araukarien, aberta para degustações às sextas, sábados e feriados, Gabriela Carvalho, filha do fundador Thiago Carvalho, explica-nos que o logótipo é a estilização gráfica do corte horizontal de uma pinha, porque o nome da marca é a versão germânica de araucária, um pinheiro do hemisfério Sul que se encontra em vias de extinção. Percorremos o processo de fabrico artesanal das seis cervejas disponíveis, com graduações entre os 5 e os 7, 5º, diferentes fermentações e sabores muito distintos. Na hora da prova, perguntamos qual tem mais gás, saberia bem algo para fazer esquecer os quilómetros percorridos, mas acabamos por provar um pouco de todas. A agência brasileira de promoção de exportações e investimentos, Apex Brasil, “apoia mais de 80 sectores produtivos brasileiros, dos quais 25% são dedicados à promoção de alimentos e bebidas”. A lista integra produtos como água de coco, pão de queijo, tapioca, cachaça, açaí, palmito, cafés gourmet, brigadeiro de colher, goiabada, catupiry, castanha do Pará, leite de coco, bananada, caipirinha pronta, pimentas brasileiras e a linha de produtos prontos embalados a vácuo: canjica, feijão, mandioquinha, carne seca. Três perguntas a Márcia Gomide, da Apex Brasil. Quais os principais mercados potenciais para esses produtos?Uma das estratégias é o chamado mercado da saudade, que busca exportar para países onde há grande número de imigrantes brasileiros. Porém, actualmente, a diversidade de sabores e produtos brasileiros podem conquistar outros consumidores além do mercado da saudade. A ideia é utilizá-lo como porta de entrada para demais públicos estrangeiros, mostrando a qualidade, diversidade e riqueza dos sabores brasileiros. O projecto busca, também, o segmento gourmet, trabalhando com chocolates diferenciados, cafés especiais, especiarias, entre outros. Actua ainda no mercado de produtos saudáveis, pois alguns produtos brasileiros apresentam atributos diferenciados, tais como a tapioca, sucos de frutas frescos (prensados a frio), açaí, castanhas, palmito e água de coco. ”Quais as acções específicas para promover esses produtos?Cada projecto tem sua estratégia definida através de um planeamento estratégico específico para exportação. É formatada uma proposta de parceria, onde, por um período de dois anos, são definidas as diversas acções que o projecto realizará, subdivididas em acções estruturantes, acções de comunicação e marketing, acções de promoção de negócios. Geralmente são realizadas rodadas de negócios; feiras internacionais, projecto comprador, dentre uma série de outras actividades, como estudos de inteligência comercial, capacitações, projecto, imagem. Quais os principais mercados de destino desses produtos?Os principais mercados dos produtos da saudade são Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Portugal, países que possuem grande quantidade de imigrantes brasileiros, cada um com objectivos distintos. Num minuto de ausência, enquanto olhamos para a paisagem, Alessandro Mikaelian, que também trabalha na Fazenda Coruputuba, e que, juntamente com todos os outros produtores nos acompanharam à serra, diz-nos: “Venha cá. ” Tira umas folhas de uma enorme árvore de tronco a desfazer-se, esfrega-as na nossa mão e instrui: “Cheire. . . ” É a árvore do chá, de onde se retira o óleo essencial Tea Tree, com propriedades desinfectantes e antialérgicas, e cheira exactamente a este, mas menos intenso. Como, na cidade, com um frasco na mão, estamos distantes do produto original, pensamos. O cheiro acompanha-nos ainda quando conversamos com outra produtora rural, Heloísa Zorovich, que nos fala das suas ervas Sítio Quintal – Cultivo Consciente, Terra Preservada. “Começamos por nos dedicar ao cultivo do morango e da alcachofra. Mas o terreno tinha uma vocação natural para o cultivo de ervas para infusões e temperos. ” Arquitecta, antes de se mudar de São Paulo para a serra com o marido Berto, trabalhava em paisagismo, pelo que começar a fazer esta produção de erva orgânica certificada foi uma evolução, digamos, orgânica. Cultiva de forma consciente e faz as suas misturas de ervas e chás que vende para espaços em São Paulo, que lhe põem a sua marca. O passo seguinte será criar e vender directamente uma marca própria? “Ainda não decidi, estamos a ver para onde tudo evolui, dado que o negócio das ervas é ainda recente e lento. ”Beber café é algo instituído em Portugal e no Brasil, mas querer beber um café de qualidade, perceber como é filtrado, a moagem, a origem do grão (aqui todos de pequenos produtores brasileiros), assistir a um verdadeiro ritual do café, é algo que não se consegue em muitos lugares. Na Coffee Lab, de Isabela Raposeiras, pode fazer isso e mais, como uma mistura de grãos só sua ou até a sua roast to demand (torrefacção). Pode também, e deve, experimentar um dos Rituais, como por exemplo o 5, no qual o mesmo café é servido em Aeropress, em filtragem (Clever S) e em Expresso: ficam todos com cor e sabor diferente. Coffee Lab Rua Fradique Coutinho, 1340 Vila Madalena Horário: Todos os dias, das 10h às 18h coffeelab. com. brUma maneira de pensar em defesa do património agroalimentar que aposta numa agricultura amiga do meio ambiente, da sau´de e das culturas locais, como é defendido pelo movimento Slow Food. Este “trabalha para preservar a biodiversidade, promove um sistema de produção e consumo alimentar sustentável e amigo do ambiente e aproxima os produtores de alimentos de qualidade dos co-produtores (consumidores responsáveis) através de eventos e iniciativas, para divulgar a educação sensorial e o consumo responsável”, podemos ler no documento que a organização internacional, fundada em 1989, “com o objectivo de lutar contra o desaparecimento das tradições alimentares locais e contra a difusão da cultura do fast food”, nos envia. “Alimento bom, limpo e justo para todos. Bom por ser saudável, além de prazeroso do ponto de vista organoléptico; limpo por ser produzido com um baixo impacto ambiental e respeitando o bem-estar animal; justo por respeitar o trabalho de quem produz, processa e distribui os alimentos”, continua. Voltamos a entrar no autocarro e preparamo-nos mentalmente para mais umas horas de carro. Mas afinal, e literalmente, descemos dois minutos a serra, atravessamos a estrada e entramos no corte de estrada quase em frente, para almoçar no Caminho das Gerais, restaurante onde nos aguardam mais de 20 pratos de comida mineira, todos dispostos sobre um forno a lenha para se manterem bem quentes. Estamos todos unidos nesta degustação, um jornalista de cada país, produtores regionais, assessores de imprensa, representantes do Estado, ao fim de um dia de tantas experiências, sentimo-nos próximos e trocamos impressões – e até receitas. Como a que Irene Lunes nos dá para conseguirmos fazer os peixinhos, folhas panadas semelhantes aos nossos peixinhos da horta: “Três partes de farinha de milho, duas de pão ralado, uma de trigo (ou fécula de batata se não quiser usar trigo). É como se consegue que fiquem assim crocantes, usando diferentes farinhas. ” Resolvemos questionar a cozinheira como questionámos o chef, sobre a mandioca, e com um vale e uma serra a separá-los, ou se calhar sem nada que os separe, a resposta é quase a mesma: “É um alimento que está presente em todo o Brasil, de Norte a Sul. ”“A relação do homem com o alimento precisa ser revista. Precisamos aproximar o saber do comer, o comer do cozinhar, o cozinhar do produzir, o produzir da natureza; agir em toda a cadeia de valor, com o propósito de fortalecer os territórios a partir de sua biodiversidade, agrodiversidade e sociodiversidade, para garantir alimento bom para todos e para o ambiente. ” Palavras do manifesto de Atá, o instituto fundado por Alex Atala, entre outros, que sumarizam o que todos estes personagens da vida real da gastronomia brasileira estão a tentar fazer, no dia-a-dia deste Vale do Paraíba. “Vamos viver muitas emoções estes três dias”, refere Georges Schnyder no dia seguinte na abertura de um dos maiores festivais gastronómicos da América do Sul, o Mesa São Paulo, ele que é também o presidente da Slow Food no Brasil e um dos fundadores do Instituto Atá. Durante os próximos dias haveremos de conhecer muitos chefs e sobretudo muitos outros pequenos produtores, de vinho, de farofa pronta, óleos essenciais, cafés, queijos, cacau, enchidos, frutas frescas e secas, e tantos produtos brasileiros que dariam todo um outro artigo. O primeiro orador do Mesa SP Tendências, onde durante três dias haverá palestras e show cookings, é Francis Mallmann, cujos churrascos inesperados, num barco num rio ou no meio de Paris, são a sua imagem de marca. As frases que diz no castelhano de sotaque argentino tão cativante parecem mesmo estar a querer resumir muito do que sentimos nos últimos dias: “Na formação de um cozinheiro, como no vinho, o terroir é muito importante. (. . . ) O lugar onde nos formamos vai marcar-nos muito. (. . . ) Na contrariedade, no contraste, no quente/frio, no macio/crocante, é que nos definimos. Acredito nos opostos na cozinha – e na vida. A rotina e o medo são os nossos piores inimigos, deixam-nos duros. Ao longo da vida temos de lutar para poder mudar, porque a mudança é tudo. (. . . ) O mais ‘lindo’ do cozinheiro é quando vai simplificando – a simplicidade é o melhor e o mais difícil de fazer. (. . . ) O ‘lindo’ do nosso percurso é quando deixamos a vontade de impressionar e encontramos a nossa voz própria. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nesta mesma manhã no Mesa SP, mais de 300 profissionais da gastronomia brasileira, entre chefs, professores, estudiosos e jornalistas, assinaram outro manifesto, desta vez o “Marco em Defesa da Cultura Alimentar do Brasil”: Alex Atala, Ana Luiza Trajano, Bel Coelho, Helena Rizzo, Rodrigo Oliveira, Paulo Machado, Guga Rocha, Mara Salles, Janaína Rueda, Geovane Carneiro, Tereza Paim, Claude Troisgros e Laurent Suaudeau, entre outros. Muitos sobem ao palco e lêem em voz alta os 12 valores finais, para toda a plateia. É um momento emocionante, de compromisso, unificador de um país através das emoções que se criam com a comida e através da gastronomia. Esta é, finalmente, a vez da cozinha brasileira. D. O. M. Rabo de Galo, um cocktail feito com cachaça, vermute e lima, é servido logo na entrada do menu degustação “Maximus”. “Queremos abrir a refeição com cachaça, consumida de forma diferente da caipirinha, que no Brasil fazemos tradicionalmente em vários momentos da refeição”, diz-nos a escanção de tranças e sorriso no rosto. Sorbet de pimenta de cheiro; ostra com tapioca; lagostins com coco fresco; ceviche de flores com mel de abelha nativa; minipão de queijo; pirarucu (peixe da Amazónia) com açaí; codorniz com chocolate da ilha de Cambu e tucupi (suco extraído da mandioca selvagem); cupim, mandioquinha e toffee; priprioca, um ravióli de limão e banana ouro; e claro, a Formiga Amazónica, são alguns dos pratos criados pelo chef Alex Atala neste espaço com 2 estrelas Michelin. D. O. M. Rua Barão de Capanema, 549 Jardins São Paulo Tel. : +55 (11) 3088 0761 domrestaurante. com. brCasa do PorcoNo menu degustação “De Tudo Um Porco: do Focinho ao Rabo”, da autoria do chef Jefferson Rueda, viajamos por várias partes e produtos do interior do Brasil: começamos por um misto quente (uma minitosta mista), ao que se seguem alguns ‘embutidos’. “Comendo com as Mãos” vê misturar um sushi da papada de porco com tucupi preto e nori; ou um lardo de porco com cambuci (fruta endémica da Mata Atlântica); ou até uma inesperada pancetta com goiabada e pickles de cebola roxa. Não é por acaso que este está entre os 100 melhores restaurantes do mundo pela The World 50th Best. Efectivamente, a carne de porco é das coisas mais saborosas e versáteis que existe!Casa do Porco R. Araújo, 124 Centro, São Paulo Tel. : +55 (11) 3258 2578 acasadoporco. com. brManiO caju fresco aparece com toda a sua cor garrida numa caipirinha para nos iniciar no menu degustação “Mani”, da chef Helena Rizzo, que começa com um ceviche do mesmo caju com raspadinha de cajuína (a bebida feita do fruto típica do Nordeste). Havemos de viajar por outros estados: com o crocante de pupunha; com o ouriço do mar; a tempura de quiabo e camarão; a vieira com salada de mamão verde e leite de coco; o peixe assado na folha de taioba, com creme de iogurte e jaca; e com o pescoço de cordeiro com iogurte de ovelha e masala de iquiriba. Nos doces, a compota de toranja com sorvete de gin, espuma de coalhada seca e merengue de azeitonas é uma agradável surpresa fresca, logo rematada pelo creme de café, cacau, compota de laranja Kinkan e sorvete de cardamomo. Uma estrela Michelin. Mani R. Joaquim Antunes, 210 Jardim Paulistano, São Paulo Tel. :+55 (11) 3085 4148 manimanioca. com. brMocotóO único destes restaurantes que fica na “periferia”, e que para lá arrasta multidões. Comida nordestina autêntica, consagrada pelo pai mas a que o filho, o chef Rodrigo Oliveira, deu “tratamento técnico”. Tudo começa ainda na rua, enquanto esperamos por mesa (não há marcações): os torresmos, o caldinho de feijão e os dadinhos de tapioca com molho agridoce são comidos com gula por uma clientela heterogénea. Sentados na enorme mesa do primeiro piso, é a vez das entradas: peixe frito com maionese, limão e laranja; mocofada (feito com pé de cabra, que era o único ingrediente possível para o pai comprar quando abriu o restaurante); e tripa, tudo acompanhado de pão feito aqui com farinha paranaense orgânica. Nos pratos, a carninha de sol; o peixe pirarucu; e a moqueca vegetariana. E sobremesas: cartola (banana com queijo coalho, açúcar e canela); sorvete de rapadura; e pudim de tapioca. Porque decidiu fechar a Esquina Mocotó, mesmo ao lado, que tinha uma estrela Michelin?, perguntamos a Rodrigo. “Trazer uma estrela para este bairro foi óptimo, mostrou que era possível fazê-lo. Mas também nos mostrou que não precisávamos dela. ”Mocotó Av. Nossa Sra do Loreto, 1100 Vila Medeiros, São Paulo mocoto. com. brTordesilhas“Não cobiçar o jeito de comer alheio, exigindo dos pratos brasileiros o minimalismo dos franceses, a leveza das cozinhas orientais, a sofisticação dos restaurantes chiques de Nova Iorque. Eles têm um jeito mais informal e rústico de ser, um formato mais vigoroso e tropical. Nem melhor, nem pior, diferente”, podemos ler no mandamento sete dos dez que o Tordesilhas assume como os da cozinha brasileira. Do primeiro tacacá (caldo feito com tucupi, jambu, tapioca e camarão seco) ao último prato, cocada de tabuleiro, sorvete de tapioca e calda de tamarindo, passando pelos pasteizinhos de carne, pela casquinha de siri (Ilhéus, Bahia), pelo queijo coalho com melado de cana (Agreste, Pernambuco), pela moqueca de peixe baiana e pelo barreado (carne cozida em pote selado por 12 horas), o jeito brasileiro está conseguido pela chef Mara Salles e recomenda-se. Tordesilhas Al. Tietê, 489 Jardins, São Paulo Tel. : +55 (11) 3107 7444 tordesilhas. comTujuO chef Ivan Ralston defende a gastronomia autoral e tem nas traseiras do restaurante uma horta própria, de onde saem muitas das folhas usadas nos seus pratos. Em destaque no menu de 14 pratos deste duas estrelas Michelin, a lambreta com vinagrete de pitanga, batata-doce e coentros; o tartar de ostra, maçã verde e algas catarinense; o acarajé de umami vegetal (vatapá, aipo e brócolos); os espargos marinados no miso de castanha e óleo de amendoim caseiro; o caril de caranguejo; a costeleta de cordeiro. Para finalizar vem o pão, com manteigas e queijos, um sorbet de jabuticaba, calda de amora, mirtilo e beterraba, e chocolates Tuju. Tuju R. Fradique Coutinho, 1248 Tel. : +55 (11) 2691 5548 tuju. com. brA Fugas viajou a convite da Apex – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos e do festival Mesa São Paulo
REFERÊNCIAS:
Os meus queridos livros de Agosto
Sete sugestões de livros para férias contra a ideia feita de que, nesta época, o cérebro só absorve literatura light. (...)

Os meus queridos livros de Agosto
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sete sugestões de livros para férias contra a ideia feita de que, nesta época, o cérebro só absorve literatura light.
TEXTO: Regularmente tenho apresentado neste espaço algumas sugestões de livros para férias. Com a mesma regularidade tenho-me pronunciado contra a ideia feita de que, nesta época, o cérebro só absorve literatura light. Pelo contrário, quando temos mais tempo para ler, podemos descobrir mundos desconhecidos (enfatizo a palavra “descobrir”, agora maldita), dando novos mundos a nós mesmos. Alinho aqui alguns títulos, todas eles edições recentes, por ordem alfabética do apelido do autor. — André, João Paulo, Poções e Paixões. Química e Ópera, Gradiva. Este livro, ricamente ilustrado, de um professor de Química da Universidade do Minho e entusiasta da ópera, é uma obra singular que reúne as “duas culturas”, ao relacionar de uma maneira assaz cativante duas áreas tão aparentemente distantes como a química e a ópera. Com sabedoria e elegância, o autor revela-nos que há muita química na ópera. — Camarneiro, Nuno, O Fogo Será a Tua Casa, Dom Quixote. Tenho acompanhado a obra do autor, engenheiro físico que foi meu aluno na Universidade de Coimbra. Depois de ter ganho o Prémio Leya de 2012 (Debaixo de Algum Céu), escreveu a colecção de contos, Se Eu Fosse Chão, e agora faz uma incursão literária pelo Médio Oriente, onde a guerra tudo incendeia. Aqui descreve-se o drama de um grupo de reféns, de vários países, nas mãos de fundamentalistas islâmicos. — Endo, Shusaku, O Samurai, Dom Quixote. O autor é o mesmo de O Silêncio, que conta a odisseia de dois jesuítas portugueses no Japão no século XVII e que serviu de guião ao filme de Martin Scorsese. Este livro, que é uma reedição, conta a aventura de um japonês, Hasekura Tsunemaga, que, no mesmo século, chegou a Espanha via México. Está ainda por contar em literatura a viagem de Bernardo de Kagoshima, outro samurai japonês que se tornou jesuíta e que, 60 anos antes de Tsunemaga, foi o primeiro japonês a chegar à Europa. Descobriu-nos, portanto. — Magalhães, Gabriel, Os Crimes Inocentes, Planeta. Do autor, professor de Literatura na Universidade da Beira Interior, li com muito gosto o Como Sobreviver a Portugal continuando a ser Português (um original ensaio sobre a portugalidade) e Restaurante Canibal (uma divertida sátira). E, por isso, está no meu saco de férias o último romance dele, que parte de um crime perpetrado no Museu dos Coches, que vai ser deslindado por uma filha de emigrantes que vive de empregos precários. Juntando cultura e política, humor e horror, o livro promete. . . — Magdalena, Carlos, O Messias das Plantas. Aventuras em busca das espécies mais raras do mundo, Bizâncio. Magdalena é horticultor nos Jardins Botânicos Reais de Kew, perto de Londres, um dos maiores e melhores jardins botânicos do mundo. Tem dedicado a sua vida a salvar plantas em vias de extinção, procurando-as nos mais remotos cantos do planeta. Um volume imprescindível para quem se interessa pelo prodigioso mundo vegetal. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. — Reeves, Hubert, O Banco do Tempo Que Passa. Meditações Cósmicas, Gradiva. O conhecido astrofísico e divulgador de ciência canadiano, que escreveu Um pouco mais de azul e vários outros bons livros, dá-nos neste livro uma súmula do seu pensamento científico e filosófico, em que cabem tanto o fascínio pelo imensíssimo cosmos, como o alerta pela necessidade de defesa da biodiversidade na Terra. A Gradiva publicou também recentemente duas bandas desenhadas de Reeves, ambas desenhadas por Daniel Casanave. — Verney, Luís António, O Verdadeiro Método de Estudar, Círculo de Leitores (coordenação, introdução e notas de Adelino Cardoso). Esta é uma das obras maiores da cultura nacional, por ter sido o primeiro tratado pedagógico escrito na nossa língua. Quando saiu, em 1746, suscitou uma enorme polémica, entre “antigos” e “modernos, ” tendo mais tarde inspirado a Reforma Pombalina da Universidade. Obra ecléctica, trata tanto da poética e da retórica como da física e da química, é o vol. 27 da colecção Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, coordenada por José Eduardo Franco e por mim, que reúne o “ADN da cultura nacional”. Já saíram dez volumes, alguns deles sobre as descobertas marítimas dos portugueses. Boas leituras. Boas férias!
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime guerra filha cultura extinção japonês
A Itália na batalha europeia
O governo de Roma proclama ter “eliminado a pobreza pela primeira vez na História”. Toda a política está já virada para as europeias de Maio de 2019. (...)

A Itália na batalha europeia
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O governo de Roma proclama ter “eliminado a pobreza pela primeira vez na História”. Toda a política está já virada para as europeias de Maio de 2019.
TEXTO: São raros os dias com boas notícias. Ontem, o Movimento 5 Estrelas (M5S) anunciava no Facebook: “Eliminámos a pobreza. Pela primeira vez na História. ” É pena que seja uma notícia imaginária para consumo dos eleitores, com os olhos postos nas eleições europeias de Maio de 2019. Celebrava a aprovação da “lei financeira” que consagra a proposta-bandeira do seu programa eleitoral, o “rendimento de cidadania”. O seu líder, Luigi di Maio, assinalou o “facto histórico” — o primeiro “orçamento do povo” — numa varanda do Palácio Chigi (sede do governo) perante o delírio de algumas centenas de adeptos. Na segunda-feira, tinha sido a vez de a Liga, de Matteo Salvini, fazer aprovar a sua “lei da imigração e da segurança”, mostrando que cumpre as suas promessas e recolhendo aplausos muito para lá do seu partido. A fixação do défice em 2, 4%, durante três anos, foi uma vitória de Di Maio e Salvini sobre o ministro das Finanças, Giovanni Tria, após um longo braço-de-ferro. Teve imediatos reflexos na bolsa e nos juros da dívida. Tria não se demitiu. Ele representa o “sentido da realidade” e a “máquina do Estado”, servindo de garante junto dos investidores e da UE. A demissão seria uma “arma atómica” que dificilmente poderia usar. Nota relevante: a abertura de um contencioso com Bruxelas será capitalizada por Salvini e não por Di Maio. O “rendimento de cidadania” é o nome político de um subsídio. Não é universal (destina-se sobretudo ao Sul), não é igual para todos, nem aparece integrado num programa articulado de combate à pobreza. Pode beneficiar 6, 5 milhões de italianos (mas não os imigrantes), com rendimentos abaixo do limiar da pobreza — 760 euros. Teria este mesmo valor, mas poderá ficar numa média de 560 euros. Para os críticos, é “um retrocesso ruinoso em direcção ao assistencialismo da I República” (Corriere della Sera). O ponto mais polémico é o impacto no défice e nos juros da dívida. O comissário europeu Pierre Moscovici advertiu Roma: “Os italianos não se devem enganar. Cada euro a mais na dívida é um euro a menos para as auto-estradas, para escola, para a justiça social. ”O debate é retórico e inflamado. Di Maio proclama: “O nosso horizonte não é este ano ou o fim da legislatura, mas 2050. ” Na realidade, o horizonte são as europeias de Maio. Massimo Giannini, colunista do La Republica, replica: “O ‘orçamento do povo’, de Di Maio e Salvini, por muito sedutor que seja na forma, arrisca-se a ser para o país um banho de sangue na substância. ”Que pensam os italianos? De momento, estão satisfeitos com o Governo — uma taxa de aprovação de 62%, a mesma de que Matteo Renzi gozava no primeiro ano de governo. A antiga “partidocracia” continua a ser execrada. A oposição desintegrou-se. O Partido Democrático (PD) é hoje uma espécie “em vias de extinção” (Roberto d’Alimonte). O berlusconismo sofreu uma hemorragia em favor da Liga. Continua a lua- de-mel entre o Governo e o país. Contra isto não há argumentos. A coligação não tem adversários externos. O “inimigo” estará no interior da própria maioria, do ministro Tria aos conflitos entre os dois partidos. O M5S e a Liga representam populismos distintos, e até irreconciliáveis, que se aliaram por uma razão simples: conquistar o governo. “Os cinco estrelas propõem-se resolver o problema da representação política e a rejeição da elite através da democracia directa. Salvini quer restituir o poder ao Estado nacional” contra as instâncias supranacionais (Giovanni Orsina). Em termos económicos, o M5S, refém das promessas eleitorais, exige o aumento da despesa. A Liga, com a sua principal base no Norte, defende a redução da receita através dos impostos. As suas políticas de segurança são “mais baratas”. Representa uma nova direita, nacionalista, xenófoba e estatista. E, ao contrário do M5S, tem mais de duas décadas de experiência do poder. Não despreza a oportunidade de um confronto com a UE sobre o Orçamento. O risco está na explosão dos juros da dívida. Aconteceu, entretanto, uma inversão na relação de forças: a erosão do M5S, que desceu de 32% para 28%, e a ascensão da Liga, que subiu de 18% para 32-34%. A Liga é o primeiro partido e, graças à imigração, Salvini afirmou-se como líder da maioria. A incógnita é saber se a coligação se vai manter até às europeias de Maio. Vão concorrer separados e não haverá trégua. Salvini olha as sondagens que lhe dão a perspectiva de sair vencedor de eleições antecipadas. Mas, para governar, precisará de aliados. Pior está Di Maio. “Não pode afastar Salvini pela simples razão de que, se o afastar, reencontra-se pura e simplesmente na oposição, isto é, está liquidado” (Pasquale Pasquino). A crise do PD, para a qual muito contribuiu, deixa o M5S sem alternativas de aliança. Que acontecerá se a popularidade do Governo começar a baixar? Tudo isto passa pelas europeias de Maio. É algo que há muito sabemos: pela primeira vez, desde a eleição directa do Parlamento Europeu (1979), as eleições europeias ultrapassam o âmbito nacional para serem um voto sobre a Europa. Foi lançado um desafio pelo populismo soberanista, que vê no PE a instância ideal para pôr em causa a natureza da UE. Durante meses, os soberanistas de todas as famílias, da direita nacionalista à extrema-direita, apostaram na ruptura do Partido Popular Europeu (PPE). Enfraquecido o grupo socialista, seria a oportunidade dourada para mudar o jogo. A ascensão do soberanismo nas opiniões públicas europeias é indiscutível e colocou os europeístas na defensiva. Uma vez mais, graças à imigração. A politização das eleições de Maio assenta num facto simples: através do seu impacto na UE, os seus resultados condicionarão pesadamente as políticas nacionais. A primeira batalha desta campanha travou-se em Bruxelas, a 12 de Setembro, quando o PE aprovou o princípio de sanções à Hungria: o PPE abandonou os parceiros húngaros. “A UE está dividida, mas já não está anestesiada”, disse alguém. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A segunda batalha está a desenrolar-se na Itália, o grande laboratório político da Europa Ocidental. O que se passa na Itália é inédito, não é o mesmo que as derrapagens do Leste europeu. A Itália e a Alemanha, onde o soberanismo aumentou a pressão e Merkel está ameaçada no próprio partido, serão os mais críticos “teatros de guerra”. Na Itália o jogo não está pré-determinado. “Volta a subir a confiança na Europa por medo de a perder”, escreve o politólogo Ilvo Diamanti com base em sondagens recentes. A única previsão possível é que será uma batalha crescentemente dura, a começar no interior da maioria, e com um desfecho talvez surpreendente.
REFERÊNCIAS:
Partidos Partido Popular Europeu
“Isto não é uma inauguração do MAAT”
Com a reabertura, o novo museu da EDP inaugura a sua exposição-manifesto. Utopia/Distopia ocupa as quatro galerias. Numa delas, o mexicano Héctor Zamora propõe destruir ao vivo sete barcos de pesca portugueses. (...)

“Isto não é uma inauguração do MAAT”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com a reabertura, o novo museu da EDP inaugura a sua exposição-manifesto. Utopia/Distopia ocupa as quatro galerias. Numa delas, o mexicano Héctor Zamora propõe destruir ao vivo sete barcos de pesca portugueses.
TEXTO: Quase podíamos dizer que Miguel Coutinho, director da Fundação EDP, encarnou esta terça-feira René Magritte e a sua célebre pintura, Ceci n'est pas une pipe, para negar aquilo que estávamos a ver: o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT) finalmente terminado. À frente das novíssimas recepção e loja, com o merchandising do MAAT já no lugar, Miguel Coutinho começou o encontro com os jornalistas sublinhando a frase, com alguma ironia, e transformando-a num aviso-slogan: “Isto-não-é-uma-inauguração-do-MAAT. Isso, se bem se lembram, foi em Outubro. Isto é a inauguração de três exposições, momento muito interessante e relevante para a Fundação EDP. Esperamos que o MAAT e o seu campus se transformem num pólo de cultura e lazer de Lisboa. ”O novo museu da EDP teve uma soft opening no início de Outubro, para coincidir com a Trienal de Arquitectura de Lisboa, e fazer a apresentação do novo edifício do campus da EDP, desenhado pela arquitecta britânica Amanda Levete. Agora, chamava a atenção Miguel Coutinho, ao lado do director do museu, Pedro Gadanho, é tempo de nos focarmos nos conteúdos. O novo edifício encerrou a 6 de Fevereiro, mantendo-se em funcionamento só o espaço MAAT-Central, que corresponde ao antigo edifício da Central Tejo, para reabrir com três novas exposições e as performances de Michelangelo Pistoletto, um nome histórico da Arte Povera, e Allard van Hoorn. “Estamos finalmente a ocupar integralmente todo o edifício”, explicou Pedro Gadanho. Ao contrário do que acontecia em Outubro, quando o espaço foi visto “em estado puro”, o que se descobre agora com a exposição Utopia/Distopia é um layout possível para a Galeria Principal, “em que vários volumes quebram uma escala difícil de controlar”. A mostra agrega também as outras duas galerias disponíveis no piso inferior, o Project Room e o Video Room. Gadanho chama-lhe uma exposição-manifesto, a única, acrescenta, que no horizonte dos próximos dois ou três anos vai usar todos os espaços disponíveis no novo edifício, inclusive a Galeria Oval, situada no piso da entrada, onde começou o encontro com os jornalistas. Exposição-manifesto também porque vai explicar com a ambição de um gesto fundador o que quer ser o MAAT, “onde artistas e arquitectos são colocados ao mesmo nível intelectual”. “Uns não são convidados dos outros. Precisamos de inverter a tendência e afirmar a função cultural da arquitectura”, argumenta, resgatando-a de uma dimensão meramente “funcional”. Com curadoria de Gadanho, João Laia e Susana Ventura, Utopia/Distopia junta cerca de 60 artistas e arquitectos, nacionais e estrageiros, em cinco secções: Cidades Ideais?, Ruínas da Modernidade, Visões Tecnológicas, Utopias Pessoais, A Situação Corrente. O tema da exposição é devedor dos 500 anos da Utopia de Thomas More, que logo em 1516 evocava um espaço imaginário para dar corpo aos projectos alternativos de sociedade. Utopia/Distopia chama a atenção para a substituição da tradição utópica pela ideia de um progresso distópico. Algumas das obras resistem à distopia, propondo micro-utopias ou as utopias realizáveis, de que falava Yona Friedman. Utopia/Distopia tem um prólogo que é, na verdade, uma outra mostra: Ordem e Progresso, uma instalação-performance na Galeria Oval do artista mexicano Héctor Zamora, com curadoria de Inês Grosso e apresentada em parceria com a BoCA Bienal e a Lisboa 2017 – Capital Ibero-Americana de Cultura. Sete barcos, entre traineiras e lanchas de madeira, foram recolhidos em cidades e vilas piscatórias portuguesas, de Sesimbra a Aveiro, passando por Ericeira, Nazaré e Figueira da Foz. Um recebeu o nome de Abutre, outro de Paraíso Encantado. Ordem e Progresso é a divisa inscrita na bandeira do Brasil, onde o artista viveu, mas recua também até ao pensamento positivista de Auguste Comte e às suas promessas de que depois da ordem virá o progresso. Héctor Zamora explica que a instalação dos sete barcos na Galeria Oval é apenas o começo. Na quarta-feira, com início marcado para as 18h, está prevista a parte da performance, em que 30 operários vão destruir os sete barcos com marretas, martelos e machados. “O progresso é os barcos a serem destruídos. Portugal não existiria sem esta relação tão íntima com o mar, uma das bases da sua cultura é a pesca, mas a indústria global e as quotas impostas pela Comissão Europeia estão a fazer desaparecer a pesca tradicional. ” O barco, que é um símbolo universal de viagem, representa também a tragédia do que está a acontecer no Mediterrâneo com os imigrantes. Ao contrário do que acontecia com a instalação que anteriormente ocupou a Galeria Oval, o público vai ficar de fora a assistir à performance, que como o artista explicou teve a sua apresentação original em Lima, no Peru, em 2012, e uma segunda versão no Palais de Tokyo, Paris, em 2016. Com essa disposição, explica a curadora Inês Grosso, evocam-se as naumaquias do império romano, memória sublinhada pela forma oval da galeria. Essas batalhas navais, que faziam a apologia da violência, têm uma declinação neste “espectáculo brutal”. Somos convidados a assistir ao “abate” dos sete barcos, para usar o termo da burocracia de Bruxelas. Os operários que vão executar o espectáculo são trabalhadores da construção civil. “Esperamos que na sua maioria sejam imigrantes negros, que trarão mais uma camada de leitura possível à obra. ” No MAAT, depois da performance desta quarta-feira, ficará apenas disponível o registo sonoro, ao lado dos destroços dos barcos, enquanto o vídeo terá a sua vida na Internet. Utopia/Distopia continua no andar inferior com uma imagem da gravura que fez o frontispício da primeira edição da obra de Thomas More. Outras cidades (ideais) que aqui aparecem? A síntese de várias cidades de vanguarda do WAI Think Tank, um atelier de Beijing, a Lagos do vídeo 360º, do arquitecto e artista de origem nigeriana Olalekan Jeyifous, ou a feira de cubos de açúcar do artista português Rodrigo Oliveira, que faz parte da colecção EDP. Pedro Bandeira, numa colaboração com o colectivo 18:25, já em plena secção dedicada às Ruínas da Modernidade, mostra um dos seus “projectos específicos para clientes genéricos”, em que interpela lugares da cidade do Porto que podiam ter outros usos. Desta vez, transforma o Pavilhão Rosa Mota num jardim tropical. Explora a distância curta entre utopia e distopia, numa peça intitulada Paraíso que é também um crítica ao turismo contemporâneo. Como explicou João Laia, as secções pretendem ser fluidas, híbridas e com muitas contaminações. Quem vê a exposição “tem de ter isso presente conceptualmente e espacialmente”. Também nas Ruínas da Modernidade encontramos o vídeo de Cyprien Gaillard, Pruitt Igoe Falls, que refere no seu título o infame complexo habitacional construído nos anos 50 em Saint Louis, nos Estados Unidos, e deitado abaixo em 1972. A última data foi usada posteriormente para assinalar a morte da arquitectura moderna. O autor do complexo, Minoru Yamasaki, é também o arquitecto das Torres Gémeas, destruídas em 2001 por um ataque terrorista. O trabalho de Timo Arnall, assinala Pedro Gadanho, “é capaz de ser a peça mais angustiante de toda a exposição” e está na secção Visões Tecnológicas, dedicada às questões das utopias tecnológicas vistas muitas vezes como soluções milagrosas. Somos colocados no ponto de vista de robôs que tentam mapear a realidade envolvente, espelhando o controlo do espaço urbano pela Inteligência Artificial. Ausente da exposição está o trabalho da artista alemã Hito Steyerl, que não foi possível trazer a Lisboa. Acabou por cair, explica o director do museu, porque na montagem de uma exposição há sempre adaptações a fazer. Do MoMA, por exemplo, em vez de viajar o original de 1968 do arquitecto Arata Isozaki, Re-ruined Hiroshima, project, Hiroshima, Japan (Perspective), que obriga a despesas grandes com seguros, está exposta uma reprodução. “Mas temos originais fantásticos como o do Aldo Rossi. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pedro Gadanho sublinhou também a importância de o MAAT chamar curadores externos para programar espaço e conteúdos. A colecção EDP, tema da terceira nova exposição a abrir agora ao público, é olhada por Inês Grosso (interna) e Luiza Teixeira de Freitas, numa exposição intitulada O Que Eu Sou. À excepção do director, os quatro curadores andam todos na casa dos 30 anos, porque, como disse em Outubro Gadanho, é preciso trazer pessoas mais novas para a curadoria em Portugal. Faltavam os últimos pormenores, como desmontar as protecções do estaleiro, mas o jardim do novo museu da EDP ficou pronto esta semana, e chegou com a Primavera. “Está todo plantado e já está concluído”, comentava o director da Fundação EDP, Miguel Coutinho, na conferência de imprensa de reabertura do MAAT. Inaugurado em Outubro, o novo museu da EDP encerrou no início de Fevereiro para acabar definitivamente os trabalhos e preparar as novas exposições que agora abrem ao público. Já a ponte pedonal do MAAT, que ligará a zona ribeirinha a Belém sobre a linha de comboio, promete estar pronta em Maio ou Junho. “Mais Junho do que Maio. A montagem, que é a parte mais fácil, deve ser rápida”, continua Miguel Coutinho. Esta semana deve também ficar escolhida a empresa que vai ficar com a concessão do restaurante, com uma vista deslumbrante sobre o rio. A Fundação EDP fez quatro convites e já recebeu as propostas. O restaurante-cafetaria deve abrir em Outubro ou Novembro. A colecção EDP de arte contemporânea, tratada numa das três exposições agora inauguradas, dispõe este ano de 200 mil euros para fazer aquisições, disse ao PÚBLICO Miguel Coutinho.
REFERÊNCIAS:
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Falta de verbas para desassoreamento ameaça encerrar portos do Norte
A informação está a indignar os pescadores, que renovam a ameaça de bloquearem por tempo indeterminado o porto de Leixões: não há nenhuma intervenção de desassoreamento prevista para os portos de mar entre a Póvoa de Varzim e Caminha, onde a acumulação de areias já está a pôr em causa a actividade piscatória. (...)

Falta de verbas para desassoreamento ameaça encerrar portos do Norte
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-01-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A informação está a indignar os pescadores, que renovam a ameaça de bloquearem por tempo indeterminado o porto de Leixões: não há nenhuma intervenção de desassoreamento prevista para os portos de mar entre a Póvoa de Varzim e Caminha, onde a acumulação de areias já está a pôr em causa a actividade piscatória.
TEXTO: A garantia foi dada por um dirigente do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM) ao presidente da associação de pescadores de Vila Praia de Âncora, Vasco Presa, na última semana. Os pescadores foram então avisados de que o instituto não tem qualquer indicação para avançar com dragagens nos portos da Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Esposende, Castelo de Neiva, Vila Praia de Âncora e Caminha. Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Associação Pró Maior Segurança dos Homens do Mar, José Festas, referiu que já tinha ficado com esta ideia numa reunião, em Novembro, com a ministra do Ambiente. Assunção Cristas terá dito na altura, segundo José Festas, que não havia dinheiro para avançar com as dragagens fundamentais para manter os portos de mar em actividade. O PÚBLICO tentou ouvir o IPTM e o Ministério do Ambiente sobre esta questão, mas não obteve respostas até ao fecho desta edição. Em Outubro, via email, o presidente do conselho directivo do IPTM, João Carvalho, informou que a dragagem de todos os portos sob a sua administração, prevista para 2012, estava dependente da "existência de verbas correspondentes". Estas informações, sobre a impossibilidade de realizar as intervenções por falta de disponibilidade financeira, são contraditórias relativamente às garantias recentemente avançadas pelo eurodeputado José Manuel Fernandes de que há fundos comunitários disponíveis para o desassoreamento dos portos de mar portugueses. Em Dezembro, este eurodeputado do PSD, eleito por Braga, declarou ter sido informado, pela comissária europeia para os Assuntos do Mar e das Pescas, Maria Damanaki, da existência de fundos comunitários, disponíveis através do Feder - Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional, passíveis de afectação às dragagens, que classificou como "prioritárias". José Manuel Fernandes alertava para a importância de aproveitar imediatamente as ajudas de Bruxelas, porque, argumentou, através do Feder era possível obter uma comparticipação de 95% para desassorear os portos de mar portugueses. Em declarações ao PÚBLICO, o eurodeputado acrescentou que o desassoreamento dos portos de mar do Norte do país, entre Caminha e a Póvoa de Varzim, era apenas uma questão de "vontade política". Acidentes omitidosImpedidos pela areia de irem ao mar, mesmo em dias de bom tempo, e sem soluções à vista, os pescadores começam a dar sinais de desespero. "Se até ao Verão a situação não estiver resolvida, pode haver uma guerra civil. Isso é garantido!" A ameaça é feita pelo presidente da Associação Pró Marior Segurança dos Homens do Mar. José Festas garante que os pescadores estão "dispostos a tudo", até a bloquear, por "tempo indeterminado", o porto de Leixões. O aviso surge numa altura em que os portos de pesca do Norte estão em risco de encerrarem, por falta de condições de segurança. A acumulação de areias é tal que as barras estão constantemente fechadas, impedindo os pescadores de trabalhar. Segundo os números avançados por José Festas, em causa está a continuidade da laboração de cerca de mil embarcações e três a quatro mil homens. Em Vila Praia de Âncora, onde está um dos portos mais assoreados, metade da frota de 30 barcos já está parada. O presidente da associação local de pescadores, Vasco Presa, adianta que muitos dos profissionais, desempregados, já emigraram. Conta que ele mesmo já teve de despedir dois dos quatro tripulantes do seu barco.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Pedro Costa leva a Locarno o testamento do sr. Ventura
Cavalo Dinheiro é uma fantasmagoria opaca e sumptuosa que tem deixado a imprensa internacional perplexa, entre a rendição e a confusão (...)

Pedro Costa leva a Locarno o testamento do sr. Ventura
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cavalo Dinheiro é uma fantasmagoria opaca e sumptuosa que tem deixado a imprensa internacional perplexa, entre a rendição e a confusão
TEXTO: Desde Juventude em Marcha (2006), a última das três “longas das Fontainhas”, que Pedro Costa fez da figura espectral e inteira do emigrante caboverdiano Ventura a trave-mestra das suas ficções. Cavalo Dinheiro, que teve esta quarta-feira estreia mundial a concurso no festival de Locarno, não foge a essa regra mas faz explodir uma outra dimensão, mais onírica e surreal, que não tem primado pela presença no cinema do realizador português. Ventura, envelhecido, doente, é aqui uma espécie de Orfeu em descida aos infernos em busca da sua Eurídice (Zulmira, a esposa que nunca encontra); os infernos são as catacumbas de um hospital, as ruínas de uma fábrica, um elevador avariado, as barracas onde viveu toda a vida. E Pedro Costa é o poeta altivo que acompanha Ventura e conduz o espectador por uma viagem sem regresso no comboio fantasma de um Portugal assombrado pela guerra colonial, pela revolução, pela descolonização. Sejam bem-vindos a Cavalo Dinheiro. Uma fantasmagoria que deixou perplexos aqueles que esperavam do novo filme a arte povera da trilogia das Fontaínhas; à saída da sessão de imprensa, havia muito quem expressasse “mixed feelings”, quem se perguntasse se tudo isto não era demasiado específico do passado português para ser apreendido por um público estrangeiro. Talvez sim, mas Costa nunca foi um cineasta linear e Cavalo Dinheiro é melhor visto como uma alucinação pictorial e narcótica, confimando o realizador como um dos mais extraordinários criadores de imagens do cinema moderno. É, aliás, aí que os observadores são unânimes: é um filme formalmente glorioso, cada imagem um quadro que pode ser estudado ad infinitum, cada fotograma ao mesmo tempo instantâneo e retrato, sugestão e descrição. Cavalo Dinheiro é uma obra de uma beleza plástica de cortar a respiração que parece “fechar o círculo” iniciado com O Sangue – ao longo dos anos, Costa foi despojando a sua imagem até nada restar e, depois do limite que foi No Quarto da Vanda, tem aplicado as lições desse hieratismo e retrabalhado o seu requinte formal de outro modo. Mas, como convém a uma alucinação, este é um filme elíptico, esquivo, fugidio, onde as coisas não seguem uma lógica narrativa convencional mas sim uma espécie de estafeta sensorial pontuada por imagens e sons, canções e conversas, objectos e vozes. Como se tudo fosse o delírio de Ventura no quarto de hospital onde o vemos no princípio do filme, o seu testamento à beira da morte, vendo a sua vida a passar à frente dos olhos com epicentro no 25 de Abril, mas sem que haja verdadeiramente diferença entre o “antes” e o “depois”. Ainda assim: Há uma questão de “ovo e galinha” que não é possível afastar face a Cavalo Dinheiro, que é a sua relação com Sweet Exorcist, a contribuição de Costa para o filme colectivo Centro Histórico. O cineasta nunca escondeu que aquela curta era um “fragmento” de um filme maior, mas dizer que esta longa é meramente uma expansão de Sweet Exorcist (ou que a curta era um “compacto” de Cavalo Dinheiro) é redutor. E, no fundo, nem é assim tão importante – mesmo que a “cena do elevador” que ancorava Sweet Exorcist seja aqui também uma das chaves do filme, confirmando a dimensão de “testamento”, ou de exorcismo, que paira por estes quadros quase renascentistas. O Nosso Homem, a curta com que Costa ganhou Vila do Conde 2012, era uma espécie de “súmula” dos filmes das Fontaínhas; Cavalo Dinheiro é outra coisa, só não sabemos se fecho de um ciclo, abertura de outro, filme de transição.
REFERÊNCIAS:
José Neves: quando a arquitectura faz filmes
Prémio Secil em 2010, professor universitário, José Neves, desenha, constrói e requalifica casas, escola, museus. Em continuidade com o que encontra nos lugares, numa relação sempre intensa com a paisagem o cinema, Perfil de um arquitecto que, neste ano, foi um cineasta no Museu de Serralves. (...)

José Neves: quando a arquitectura faz filmes
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Animais Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Prémio Secil em 2010, professor universitário, José Neves, desenha, constrói e requalifica casas, escola, museus. Em continuidade com o que encontra nos lugares, numa relação sempre intensa com a paisagem o cinema, Perfil de um arquitecto que, neste ano, foi um cineasta no Museu de Serralves.
TEXTO: Na Internet, na página pessoal de José Neves, sob o nome de uma casa, encontra-se um fotograma de A Desaparecida, de John Ford. Ethan Edwards (John Wayne) a afastar-se na paisagem, enquadrado por uma porta escurecida que se fechará sobre o filme. Acção, lugar, luz e escuridão. Poder-se-ia dizer que estes são, também, elementos de Companhia, a exposição que em Serralves reuniu Pedro Costa a um conjunto de amigos: Rui Chafes, Paulo Nozolino, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, António Reis e Margarida Cordeiro, Pablo Picasso, Robert Bresson, Walker Evans, João Queiroz, John Ford, Jeff Wall, Jacques Tourneur, Maria Capelo, Andy Rector, Jean-Luc Godard, Max Beckmann. Outros cineastas, outros artistas, entre os quais o próprio José Neves. Foi este arquitecto e professor que concebeu a transformação do espaço do Museu de Serralves para servir como casa temporária de Pedro Costa, trabalhando com as circunstâncias, rearticulando a arquitectura, trazendo o escuro do cinema para um lugar atravessado pela luz natural e pelas relações com o exterior. Do seu desenho, do trabalho colectivo que o permitiu materializar, José Neves fez passagens, percursos, colunas, uma sala de cinema. Um trabalho para estar com os outros. José Neves não faz filmes, desenha e constrói casas, edifícios, escolas. Mas ama o cinema. No seu trabalho, as duas artes fazem companhia uma à outra, a arquitectura a tomar a dianteira e o cinema, mudo ou sonoro, a iluminar, ainda que na rectaguarda, o caminho. No seu atelier, na Rua Nova do Almada, em Lisboa, recorda o primeiro encontro com a arte dos Lumière: “Os Irmãos Marx de Um Dia Nas Corridas, numa matinée de um cinema de bairro, o Cinema da Encarnação, antes de saber ler. ” Mas a relação apaixonada surgiu quando começou a estudar arquitectura. Alguns dos grandes ciclos de cinema na Gulbenkian, organizados por João Bénard da Costa, coincidiram, conta, com o início do estudo da arquitectura. “O Hitchcock, o Buñuel, o Ford, o Hawks. O ciclo do Hitchcock foi exactamente no primeiro ano do curso. Houve outras coincidências, amigos com que comecei a ver filmes e que também eram estudantes de arquitectura, como o Clemente Semide. ”O estudo e o trabalho da arquitectura e a paixão e o interesse pelo cinema caminharam juntos e lentamente o segundo começou a inspirar o primeiro. É o que nos dizem o desenho da Casa Rui Jordão, a presença da luz nos Blocos de Habitação do Cartaxo, a grande abertura para o exterior na Escola Francisco de Arruda em Lisboa (cuja requalificação e ampliação lhe valeu o Prémio Secil em 2012). “Não me caberá a mim dizê-lo, mas com certeza não seria a mesma pessoa, ou o mesmo arquitecto, se não gostasse de cinema como gosto”, concede. “Um dia destes estava numa obra que está em construção, uma casa num sítio chamado Pinheiros Bravos, no Alentejo, voltada para uma paisagem espantosa e muito extensa, e pensei exactamente nisto. Quando tenho uma grande extensão em frente, abro portas, envidraçados e construo espaços cobertos entre o espaço interior e o exterior, para estabelecer uma determinada relação com a violência dessa paisagem. Se nunca tivesse visto A Desaparecida talvez não fizesse assim. Não são decisões premeditadas. São coisas que verifico depois. Acontece uma situação parecida com uma casa que desenhei para os cineastas Joaquim Pinto e Nuno Leonel, perto da Lourinhã, que é um pequeno refúgio debaixo de uma laje coberta de flores, que parece flutuar e que se abre também através de um espaço coberto para um vale. ”A arquitectura estabelece uma relação com a violência da paisagem. Mas que relação é essa? Ou melhor, que sentido tem essa violência? “A arquitectura serve para estabelecer relações com o mundo, com os outros. Serve para dar um nexo às nossas acções e às nossas palavras”, considera. Nexo tem o sentido de um entre, de uma distância para que uma relação se possa fundar. Eis o que a arquitectura, como parte do artifício humano, oferece. “As paisagens na Lourinhã, no Alentejo, são encantadoras, mas também muito violentas”, continua José Neves. “Não aguentamos a intensidade de estar permanentemente a contemplar uma paisagem. A arquitectura faz com que possamos dar um nexo a essa intensidade, para podermos, para sabermos viver com ela. Como esta mesa à volta da qual estamos sentados, este tecto e estas paredes altas, estas janelas de onde vem a luz dá um nexo à nossa conversa. Não será a mesma coisa estarmos aqui, assim, ou noutro sítio qualquer. A arquitectura permite que aconteçam coisas que noutras circunstâncias não aconteceriam. Por exemplo, é muito diferente estar a ver cinema num sítio qualquer ou estar a ver cinema numa sala de cinema”. O cinema. José Neves tem uma predilecção especial por um certo cinema que traz para a arquitectura. “O cinema que me interessa demonstra, sublinha em cada segundo uma das evidências mais importantes para o trabalho de um arquitecto: as acções têm sempre um lugar, nunca estão desligadas dos lugares, há uma aliança entre as acções e os lugares em que elas se dão. Isto acontece tanto num filme do Manoel de Oliveira como num filme do Vítor Gonçalves, tanto num do Buñuel como no Mizoguchi, no Fritz Lang, no Buster Keaton… em todo o cinema a que se costuma chamar de 'clássico', antes de o espaço filmado ter passado a ser quase sempre mera informação, ou decoração. Há casos extraordinários como Os Verdes Anos, por exemplo, ou muitos dos filmes do Pedro Costa ou do Antonioni, em que a arquitectura ou os lugares aparecem mesmo como uma personagem. Isto não significa que para um filme ser bom a arquitectura do filme tenha de ser boa. Não, os cineastas trabalham com as circunstâncias, tal como nós, arquitectos. ”Próximos, cinema e arquitectura não se substituem, não são subsidiárias uma da outra. A relação é de diálogo, não de dependência. “É habitual reconhecermos cidades que visitamos dos filmes que vimos, mas estarmos lá é muito diferente. A experiência da arquitectura não é substituível por desenhos, fotografias ou filmes. A arquitectura é para ser experimentada independentemente das suas representações. Não há nada que substitua isso”. Mas não pode o cinema dar a ver a arquitectura de outra maneira? A esta pergunta, o arquitecto responde com um episódio: “Numa das minhas aulas, estava a mostrar Juventude em Marcha [de Pedro Costa] e, numa cena em que o Ventura está a visitar a casa que lhe foi destinada no Casal da Boba, houve um aluno que exclamou: ‘mas isto é a sala da minha da casa e, ao mesmo tempo, parece uma nave espacial! ’ Reconheceu a sala da casa dele como uma coisa estranha. O cinema fê-lo ver, pela primeira vez, de outra maneira”. Estabelecer um lugar para as acções, mostrar os lugares de um modo que antes não tínhamos visto são coisas que o cinema faz na sua relação com a arquitectura, mas tratando-se esta de uma arte pública, o cinema faz algo mais: torna visíveis os outros. Esta é uma possibilidade do cinema que também interessa José Neves, como demonstram a publicação do texto Os Lugares dos Imigrantes em 24 Filmes, de Trás-os-Montes a Sicília!, publicado no Jornal Arquitectos em 2009 ou o livro O Lugar dos Ricos e dos Pobres no Cinema e na Arquitectura em Portugal (Dafne, 2014). “Podemos pensar nesta visibilidade de duas maneiras. Uma é tornar visível uma coisa que está escondida. Há muitas coisas que estão escondidas ou esquecidas para muitos de nós. Esse texto sobre os lugares dos imigrantes é disso que trata – dos filmes em que vemos Ellis Island, ou os camiões apinhados de mexicanos, a salto, ou Paris às cinco da manhã, em que apenas se vêem os homens que limpam as ruas e as criadas que chegam à cidade, ou o bairro das Fontaínhas. E fazer isso sem ser obsceno é muito difícil. São necessárias uma violência e uma ternura que só o cinema muito bom consegue ter. Mas o cinema também nos dá o familiar como surpreendente, como revelação. O familiar como aquilo que pensamos conhecer e afinal não conhecíamos bem. Nesse sentido, talvez seja de facto a melhor maneira de mostrar arquitectura. ”. Neste sentido, aquilo que o cinema faz não está muito distante daquilo que arquitectura faz. “O cinema reorganiza o nosso olhar a partir de um ponto de vista sobre a realidade. No caso da arquitectura, quando chegamos a um sítio para intervir, já existe lá qualquer coisa. Podemos ignorar isso, mas quando construímos, estamos inevitavelmente a reorganizar o que já lá estava. Para mim isso é fundamental. Os limites do que projectamos são sempre muito maiores do que os limites físicos do objecto arquitectónico propriamente dito. Aquilo que está à volta, perto, longe, faz parte do projecto. Pode haver rupturas, mas há uma reorganização e uma continuidade”. Esta é uma abordagem que se manifesta em Companhia, a exposição no Museu de Serralves. José Neves reorganizou o que lá estava, trabalhando com as circunstâncias, os seus limites e possibilidades. “Completamente”, concorda. “Havia o sítio, o Museu de Serralves, do arquitecto Álvaro Siza Vieira. Havia, digamos, o dono da casa, o Pedro Costa e os hóspedes dele, os outros artistas, e um programa, as obras para mostrar. ” A reorganização comportava, no entanto, um paradoxo. “A primeira alínea do programa era: ‘Zé, traz-me a escuridão do cinema para dentro desta casa’. Ora, aquela casa é uma casa cheia de luz, de relações fortes com o jardim. Poderia parecer um contrassenso trazer para aquele museu tão luminoso e com uma arquitectura tão intensa, a escuridão da sala de cinema e do cinema. ” Mas Companhia não se fechou no escuro, como uma blackbox, semelhante às que acolhem as obras em “vídeo” nos museus de arte contemporânea. “Uma das coisas em que pensámos logo foi a cor. Que escuridão trazer para ali? E, com a ajuda do João Pernão, que trabalha sempre connosco neste aspecto, acabámos por usar o amarelo mais escuro que existe, ou o negro mais luminoso que existe, porque tem amarelo. A percepção que teríamos e a memória que ficaria se fosse um negro neutro seria completamente diferente”. Escolhida a cor, ela caiu sobre as salas, entretanto rearticuladas, reorganizadas com uma subtileza intensa. Entramos na exposição pelo corredor e a rampa que sempre estiveram lá, mas não assim, sublinhados, separados das salas contíguas, conduzindo-nos à vertigem de Trás-os-Montes e à instalação de Rui Chafes e Pedro Costa. O espaço ao lado é um percurso em torno da sala onde se pode ver a instalação Alto Cutelo, que tem a configuração em planta da clarabóia existente, apagada. A sala é escura, mas aberta de um lado e do outro, permite que a luz penetre a partir de uma janela que se deixou aberta e que ilumina a carta de Robert Desnos. Deambulamos entre imagens, pintura, filmes, ecrãs grandes e pequenos, conduzidos pela arquitectura. A propósito da sala em que Paulo Nozolino e Pedro Costa se encontram, José Neves comenta: “Foi também uma alegria muito grande poder participar num trabalho em que, pela primeira vez, o Paulo Nozolino e o Pedro Costa estão juntos. Foi difícil. Como juntar bem um e outro? Aquele tríptico do Nozolino e aquele díptico do Pedro Costa? Também aqui se tratou de encontrar a posição e a distância certas entre eles num espaço que não existia no museu e que foi construído para este encontro se dar”. Fazer espaço ou fazer o espaço do museu desaparecer, sensação que se vai insinuando quando, depois de descermos as escadas, passeamos pela clareira das pinturas, entramos na floresta sagrada das fotografias de Jacob Riis. De repente, estamos mais próximos do cinema do que da arquitectura, com as colunas a sacralizarem os retratos profanos de pessoas. “Sim, aí há uma excepção, há um esquecimento da arquitectura do museu. Trata-se de uma espécie de sala hipostila, um espaço arquetípico na arquitectura, com muitas colunas. Na exposição, formam uma floresta de elementos verticais”. A floresta, que também pode ser vista como uma catacumba, antecipa o culminar da exposição, com Sweet Exorcist, simulando aí, no fim, uma sala de cinema. De volta às disciplinas, é pertinente considerar Companhia um puro trabalho de arquitectura? E se sim, não será mais efémero que o trabalho convencional? “Sim, é mais efémero. Vai desaparecer rapidamente e permanecer apenas na memória. Mas toda a arquitectura é efémera, mais até do que as outras artes. A obra do Proust está como ele a escreveu. Diria que quase nenhuma obra daquele tempo estará hoje como foi construída. A arquitectura é para ser vivida e as marcas que vai incorporando com essa vida fazem parte da sua natureza, mas vai-se degradando, vai sendo alterada, demolida, quando não é destruída desde logo com uma construção má ou descuidada. ”Para lá da memória e da permanência, são as circunstâncias que determinam a organização e a requalificação do espaço. Todas as obras são distintas. “Estar a fazer uma casa a partir de um pequeno reduto do século XVIII, sobre um penhasco, a dez metros do mar, na Ilha da Madeira, ou fazer um pequeno Museu, num edifício urbano, em Tomar também são situações completamente diferentes”, sublinha antes de regressar ao cinema. “Nessa casa, a relação com a vista do mar é feita por uma grande janela, uma espécie de cinemascope exagerado. Um enquadramento que acompanha o horizonte. Aí não há alpendre”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Aproveitando o desvio, eis a oportunidade para perguntar: o Ideal era um projecto que o arquitecto José Neves tinha desejado ou imaginado fazer? “Nós, os arquitectos, nunca sabemos bem o que nos vai calhar em sorte (risos). A sala de cinema é feita para desaparecer, de certo modo, enquanto está a ser usada. Mas a memória que tenho do cinema é a da sala estar sempre presente e nunca esquecermos que estávamos num espaço, juntos, a ver cinema. O interior da maioria das salas de cinema não era pintado de negro”. E José Neves regressa à Encarnação: “Lembro-me de estar no balcão e de ver, de cima, os outros miúdos. A arquitectura tem a ver com a condição de estarmos a sós, profundamente sós, e em companhia. Ora, essa condição transportada para o cinema é para mim é uma das experiências mais intensas que conheço. ” Para o Ideal, a solução foi fazer um halo escuro à volta do ecrã, um tecido negro que o isola, mas deixando perceptível o resto da sala. Um equilíbrio, pois, considera José Neves, não vemos cinema, sozinhos, num sítio totalmente escuro, mas num lugar específico onde estão outras pessoas. A ver e a ouvir. “Fazer o projecto do Cinema Ideal foi um grande prazer”, observa. “O Pedro Borges demonstrou uma grande coragem cívica. Pensou sobre o que existe e o que não existe hoje em Lisboa e encontrou um modo de resistir”. Voltamos à arquitectura. Onde se coloca José Neves quando pensa e desenha? “Quando estava a fazer o Cinema Ideal, a posição do espectador era para mim imediata, facílima”, responde. ” Mas quando estou a construir uma escola também sou eu que estou a dar aulas, que sou a criança no recreio, que sou o funcionário que está a abrir a porta de manhã, cedo. Esta posição é vital. O Fernando Pessoa dizia que era poeta para estar sozinho. Qualquer arquitecto dirá: eu sou arquitecto para estar com os outros”. E como cineasta, imagina-se José Neves enquanto tal? Não o terá sido já em Companhia? “Sim, talvez… Como se trata de uma exposição, há uma relação entre o espaço e o tempo que é muito diferente da relação que existe na maior parte dos programas de arquitectura. Há neste caso uma sequência, uma sequência organizada a partir de um programa, de uma montagem definida pelo Pedro Costa. Uma exposição presta-se a esse passeio em sequência, a uma promenade architecturale como lhe chamava Le Corbusier. A organização espacial do Centro de Artes do Carnaval, em Torres Vedras, que está neste momento em obra, corresponde exactamente a uma sequência contínua de espaços, e a ideia que tenho é, de facto, a de uma montagem. Entramos por um velho matadouro, subimos umas escadas escuras circulares, desembocamos numa nave com uma janela ao fundo que enquadra a escarpa que resta de uma velha pedreira, voltamos a descer, estamos numa praça pública, etc. . É um plano sequência, com contrastes entre o escuro e claro, com uma sequência muito nítida de espaços. O gosto pelo cinema também não pode deixar de entrar nessa relação entre montagem e organização. A montagem é organização dos planos, e nós fazemos a organização dos espaços”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens escola violência ajuda negro criança estudo espécie
SOS Racismo acusa Polícia Municipal de Lisboa de xenofobia
A Polícia Municipal de Lisboa deu parecer negativo à realização de arraiais populares na zona do Martim Moniz, sustentando que este espaço é problemático em termos de segurança, sendo frequentado por pessoas de tez negra, toxicodependentes e pessoas que se prostituem. A denúncia é feita em comunicado pela associação SOS Racismo, entidade que pretendia realizar na zona do Martim Moniz, durante o mês de Junho, a 6ª edição da Festa da Diversidade, uma iniciativa que já decorreu no local no ano passado e que a organização descreve como tendo sido um estrondoso sucesso, sem que se tivessem registado qualquer tipo... (etc.)

SOS Racismo acusa Polícia Municipal de Lisboa de xenofobia
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2004-06-11 | Jornal Público
TEXTO: A Polícia Municipal de Lisboa deu parecer negativo à realização de arraiais populares na zona do Martim Moniz, sustentando que este espaço é problemático em termos de segurança, sendo frequentado por pessoas de tez negra, toxicodependentes e pessoas que se prostituem. A denúncia é feita em comunicado pela associação SOS Racismo, entidade que pretendia realizar na zona do Martim Moniz, durante o mês de Junho, a 6ª edição da Festa da Diversidade, uma iniciativa que já decorreu no local no ano passado e que a organização descreve como tendo sido um estrondoso sucesso, sem que se tivessem registado qualquer tipo de problemas. Este ano, contudo, a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) não permitiu que a iniciativa tivesse lugar no Martim Moniz, tendo justificado a decisão com o facto da realização do Euro 2004 aconselhar o afastamento das actividades culturais do centro da cidade, segundo o SOS Racismo. Contudo, ao ter conhecimento do ofício da Polícia Municipal, a organização acredita que os verdadeiros argumentos prendem-se com a simples presença da população imigrante e com os medos racistas daquela força. No comunicado enviado à EGEAC, o sub-intendente Almeida Rodrigues, comandante da Polícia Municipal, desaconselha a realização de uma iniciativa que poderia criar novos problemas de segurança "numa zona já de si problemática devido aos seus frequentadores, descritos como pessoas de tez negra, toxicodependentes e pessoas que se prostituem. O documento afirma também que os usos e costumes de origem daqueles frequentadores "terá trazido ainda mais promiscuidade àquela zona. O texto tece ainda considerações sobre os princípios étnicos destes frequentadores, que diz alimentarem uma atitude de inconformidade face aos agentes da autoridade, que já resultou em confrontos físicos. Instado pela TSF a clarificar estas afirmações, o sub-intendente Almeida Rodrigues rejeitou qualquer atitude racista, afirmando que a referência a pessoas de tez negra visou apenas especificar qual o tipo de pessoas que circulam maioritariamente naquela zona e que podem trazer problemas. Questionado sobre as referências aos usos e costumes dos frequentadores do Martim Moniz, o responsável policial afirmou: Se continuarmos a pôr música só africana, vamos chamar mais africanos para esse local. Logo, isso vai trazer, em princípio, problemas se não houver elementos de segurança naquela zona. Perante esta atitude, o SOS Racismo vai apresentar queixa à Comissão Para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, tendo solicitado aos partidos políticos com assento parlamentar que se pronunciem sobre esta questão. Estas afirmações, descritas num documento oficial, são gravíssimas e a Câmara Municipal de Lisboa não pode permitir que um comandante abertamente racista e xenófobo se mantenha à frente dos serviços da Polícia Municipal, lê-se no comunicado da organização, que pediu já uma audiência com o presidente da Câmara Municipal, Pedro Santana Lopes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave racismo igualdade racista negra imigrante discriminação
Soldados nas ruas de Joanesburgo e Durban para conter violência
Os confrontos diminuíram de intensidade, mas o Governo quer garantir que o rastilho da violência não se reacende. (...)

Soldados nas ruas de Joanesburgo e Durban para conter violência
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os confrontos diminuíram de intensidade, mas o Governo quer garantir que o rastilho da violência não se reacende.
TEXTO: O Exército sul-africano foi enviado nesta terça-feira para as ruas de Joanesburgo e de Durban para prevenir novos ataques contra imigrantes, apesar da acalmia que se vive nos últimos dias. A decisão foi anunciada pela ministra da Defesa, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, que esclareceu que os soldados vão apenas apoiar a polícia e não substituí-la. “Mesmo o envio e o planeamento serão feitos sob as instruções da polícia”, acrescentou a ministra, citada pelo Mail and Guardian. É nas zonas mais afectadas pelos confrontos dos últimos dias que os soldados vão reforçar a segurança: na township (subúrbios sul-africanos de maioria negra) de Alexandra, a norte de Joanesburgo, e em algumas áreas da província de KwaZulu-Natal, onde se situa Durban. A violência explodiu nas últimas semanas com vários confrontos na região de Durban, que depois se estenderam a Alexandra – um local onde são frequentes episódios de violência com cariz xenófobo. Houve pelo menos sete mortos, entre os quais um cidadão moçambicano, e 300 pessoas foram detidas. Nos últimos dias, a intensidade dos confrontos diminuiu e as autoridades sul-africanas querem assegurar-se que não são reactivados. “Estamos a reclamar a autoridade de Estado da República da África do Sul”, disse a ministra, à saída do posto da polícia de Alexandra. Uma medida semelhante foi adoptada em 2008, quando episódios de violência xenófoba provocaram mais de 60 mortos em Joanesburgo e noutras cidades. Na altura o Exército também foi enviado para conter os confrontos que duraram várias semanas. O envio de forças militares foi visto como positivo pelo analista Helmoed Romer Heitman, entrevistado pelo Mail and Guardian, que considera que pode funcionar durante algum tempo “até as coisas acalmarem”. A partir daí, disse, “as questões devem ser resolvidas a um nível político”. Num país com uma elevada taxa de desemprego – 24%, dos quais mais de metade entre a população jovem –, a ira é canalizada contra as comunidades imigrantes, sobretudo de outros países africanos, e materializada em violência. Num apelo que deixou aos compatriotas, Mapisa-Nqakula deu a entender que o Governo considera haver uma orquestração por detrás dos conflitos que espera ganhar algo com a instabilidade no país. “Sul-africanos, não sejamos crédulos e vulneráveis perante as pessoas que têm os seus próprios interesses em destruir o Estado e o Governo da República da África do Sul, pessoas que querem provocar instabilidade permanente, que não querem a paz. ”
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano