Strauss-Kahn declara-se inocente e abre caminho a julgamento
Texto publicado originalmente na secção Mundo do jornal, no dia 07/06/2011A estratégia da defesa já o fazia prever, e o francês Dominique Strauss-Kahn confirmou-o de viva voz. "Inocente", disse o ex-director-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), quando ontem, no Supremo Tribunal de Nova Iorque, foi confrontado com as acusações de crimes sexuais que o levaram à cadeia. A declaração de inocência, feita em inglês, seguiu-se à leitura da acusação pelo juiz Michael Obus e abre caminho a julgamento. (...)

Strauss-Kahn declara-se inocente e abre caminho a julgamento
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2011-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Texto publicado originalmente na secção Mundo do jornal, no dia 07/06/2011A estratégia da defesa já o fazia prever, e o francês Dominique Strauss-Kahn confirmou-o de viva voz. "Inocente", disse o ex-director-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), quando ontem, no Supremo Tribunal de Nova Iorque, foi confrontado com as acusações de crimes sexuais que o levaram à cadeia. A declaração de inocência, feita em inglês, seguiu-se à leitura da acusação pelo juiz Michael Obus e abre caminho a julgamento.
TEXTO: A audiência de ontem marca o início do que pode ser um moroso processo legal e um julgamento por um júri, em que Strauss-Kahn incorre numa pena de até 25 anos de prisão por sete acusações que incluem tentativa de violação, abuso sexual e sequestro de uma empregada de hotel. A próxima sessão foi marcada para 18 de Julho, data em que poderá ser marcado o início do julgamento. Até lá, segundo o diário “Le Monde”, as partes deverão trocar documentos e provas. Caso se tivesse declarado culpado, o que seria uma surpresa, face às repetidas declarações de inocência dos seus advogados e do próprio, Strauss-Kahn poderia negociar uma redução da pena. Essa possibilidade mantém-se, mas não parece fazer parte da estratégia da defesa. Na carta de demissão do FMI, que se seguiu à detenção, DSK, como é conhecido em França, rejeitara já "com a maior firmeza" as acusações de crimes sexuais. Aquele que era, até há poucas semanas, um dos homens mais influentes do mundo, chegou ao tribunal de fato e gravata azuis-escuros, de braço dado com a mulher, a jornalista Anne Sinclair. De acordo com a descrição das agências noticiosas, passou por dezenas de repórteres e de trabalhadoras de hotel vestidas com farda de empregada de quarto, que lhe gritaram: "Envergonhe-se". Os protestos, promovidos por uma organização sindical, prolongaram-se durante a audiência e podiam, segundo a AFP, ouvir-se na sala onde decorreu a audiência, no décimo segundo andar do tribunal. "Ela é nossa irmã, nós apoiamo-la", explicou à Reuters Peter Ward, da New York Hotel Workers Union. A audiência de ontem, numa sala repleta de jornalistas, principalmente franceses, durou apenas sete minutos, ainda que Strauss-Kahn tenha permanecido no edifício do tribunal durante cerca de uma hora. Foi a terceira vez desde a detenção, a 14 de Maio, que, acompanhado pelos seus dois advogados, esteve perante o juiz. O antigo homem forte do FMI, de 62 anos, saiu de mão dada com a mulher, de regresso à luxuosa residência do Sul de Manhattan em que está, sob prisão domiciliária, com pulseira electrónica e sob vigilância permanente. No exterior do tribunal, tendo a imprensa como intermediário, os advogados esgrimiram argumentos e deram indícios sobre a sua estratégia. Um dos defensores de DSK, Benjamin Brafman, disse que a declaração de inocência foi "forte e eloquente" e que "vai ficar claro que não há indícios fortes de [que a mulher] que tenha sido forçada" a ter relações sexuais. A afirmação foi vista como uma resposta a um dos advogados da empregada de hotel, Kenneth Thompson, que considerou "absurda" a alusão de que a mulher tivesse mantido relações sexuais de livre vontade. "É uma mulher digna e respeitável", que foi vítima de uma "agressão sexual terrível", declarou. "A vítima deseja que saibam que todo o poder, dinheiro e influência de Dominique Strauss-Kahn não impedirá [que se apure] a verdade sobre o que fez nesse quarto de hotel", disse, segundo a AFP. Caso se concretize o julgamento, a mulher testemunhará contra ele, garantiu. Benjamin Brafman, uma estrela da barra dos tribunais, está, contudo, optimista. "Não posso por agora entrar em detalhes, mas estou confiante, não acho que o senhor Strauss-Kahn seja culpado dos factos que lhe são imputados, e prevejo que será libertado", disse no fim-de-semana à estação televisiva francesa M6. Acusado de ataques sexuais a uma imigrante africana de 32 anos, empregada do luxuoso Hotel Sofitel, em Manhattan, Dominique Strauss-Kahn foi detido pela polícia a bordo de um avião da Air France quando se preparava para deixar Nova Iorque a caminho de Paris. O antigo ministro francês, um dos homens mais influentes do mundo, devido ao cargo no FMI, era considerado um forte candidato à Presidência da República nas eleições do próximo ano.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Uma ré silenciosa no maior julgamento de neonazis da Alemanha
Os crimes da célula de Zwickau deixaram a Alemanha chocada. Mas há quem diga que uma desconfiança latente em relação aos imigrantes continua a marcar a acção da polícia e que nada mudou. O maior julgamento de neonazis da Alemanha e um dos processos judiciais mais importantes no país desde o final da II Guerra Mundial começa hoje em Munique. A principal figura do processo é Beate Zschäpe, 38 anos, a única sobrevivente do grupo auto-intitulado "Nacional-Socialista Clandestino" (NSU). Zschäpe prometeu não quebrar o silêncio que tem mantido desde há ano e meio. No banco dos réus estão ainda quatro cúmplices de uma re... (etc.)

Uma ré silenciosa no maior julgamento de neonazis da Alemanha
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
TEXTO: Os crimes da célula de Zwickau deixaram a Alemanha chocada. Mas há quem diga que uma desconfiança latente em relação aos imigrantes continua a marcar a acção da polícia e que nada mudou. O maior julgamento de neonazis da Alemanha e um dos processos judiciais mais importantes no país desde o final da II Guerra Mundial começa hoje em Munique. A principal figura do processo é Beate Zschäpe, 38 anos, a única sobrevivente do grupo auto-intitulado "Nacional-Socialista Clandestino" (NSU). Zschäpe prometeu não quebrar o silêncio que tem mantido desde há ano e meio. No banco dos réus estão ainda quatro cúmplices de uma rede de 129 pessoas que terão ajudado, directa ou indirectamente, o trio do NSU. E a polícia e os serviços de informação interna da Alemanha vão estar de novo a ver escrutinadas as suas falhas na investigação dos crimes. O trio terá levado a cabo uma onda de assassínios entre 2000 e 2007: sete turcos ou alemães de origem turca, um grego, e uma agente da polícia. As autoridades investigaram os assassínios um a um, sem suspeitar de um motivo racista. Muitas vezes, apontaram para possíveis crimes das vítimas, ligações a grupos mafiosos, actividades ilegais que explicassem ajustes de contas. "Sinto que o meu pai foi morto duas vezes", sintetizou Semiya Simsek, filha de Enver Simsek, a primeira vítima. "Parece que os neonazis dispararam contra ele, mas as autoridades alemãs mataram-no uma segunda vez. " A mãe chegou a ser suspeita. "Durante 11 anos, não tivemos o direito de ser vítimas. "Esta foi uma das questões levantadas por estes casos - cuja resolução aconteceu por acaso, em 2011, numa perseguição policial a dois homens que levaram a cabo um assalto, falhado, a um banco, em Eisenach (ex-RDA). A polícia conseguiu estabelecer um cerco à zona de um parque de campismo para onde tinham fugido, e, ao pressentirem que seriam apanhados, os dois morreram num aparente pacto de suicídio. Tratava-se de Uwe Mundlos, então com 38 anos, e Uwe Böhnhardt, 34. Na caravana - à qual tinham pegado fogo - a polícia encontrou uma pistola Ceska, a arma com que tinham sido mortas todas as vítimas, sempre à queima-roupa. E um DVD, pronto a enviar a órgãos de comunicação social, mostrando imagens dos crimes e reivindicando a sua autoria. Pouco depois, Beate Zschäpe terá visto o suicídio nas notícias e incendeia o apartamento em que os três viviam na cidade de Zwickau, também no Leste da Alemanha, e foge. Quatro dias mais tarde, aparece numa esquadra de polícia e diz: "Sou aquela que procuram. "E, desde então, pouco mais disse. Negou os crimes de que é acusada - apesar das provas, desde a arma do crime ao DVD com a reivindicação (em que uma pantera cor-de-rosa aponta os locais do crime, intercalada com imagens das vítimas). "Toda a Alemanha sabe o seu nome, mas ninguém sabem quem é", resumia o diário Die Welt. Sabe-se que Zschäpe, nascida em Jena (então na RDA), foi afectada pelo alto nível de desemprego na região que se seguiu à reunificação da Alemanha. Mudou de apelido várias vezes no primeiro ano de vida - o pai, provavelmente romeno, nunca assumiu a paternidade - e aos investigadores disse que os dois companheiros eram a sua família. Terá sido com eles que começou a sua radicalização e teve ligação romântica com ambos. Descrita como uma rapariga normal, terá sido quem evitou suspeitas sobre o grupo. Explosivos na garagemOs três viviam em clandestinidade desde 1998, quando a polícia descobriu bombas caseiras com 1, 4 quilos de TNT numa garagem alugada por Zschäpe, uma espingarda e um jogo chamado Pogromly (uma versão neonazi do Monopólio) em sua casa, segundo a revista Der Spiegel. Desde então, o grupo viveu de assaltos a bancos (a polícia disse entretanto que lhes poderia imputar uns 15 assaltos) e com relativa impunidade. As autoridades foram fustigadas por uma série de erros. Um dos mais preocupantes terá sido um racismo inculcado que as fez sempre suspeitar primeiro das vítimas e nunca ponderar um motivo racista. Uma frase de um documento interno do estado de Baden-Württemberg de 2007 ficou agora tristemente célebre: o assassino não poderia ser da Europa ocidental. "Porque na nossa cultura a morte de seres humanos é um grande tabu. "Gurcan Daimaguler, advogado que representa algumas das vítimas (77 familiares aparecem como queixosos no processo), diz que na Alemanha "há uma desconfiança em relação à comunidade imigrante". O facto é que a polícia parece ter dificuldade em ver motivações racistas em crimes. Segundo o Ministério do Interior, houve 63 assassínios racistas entre 1990 e 2012. Mas o semanário Die Zeit e o diário Tagesspiegel documentaram pelo menos 152 mortes por criminosos de extrema--direita no mesmo período. Activistas da defesa dos direitos de imigrantes dizem que pouco mudou, mesmo depois de o país acordar, chocado, para a violência deste trio. Biplab Basu, activista de um grupo de ajuda a vítimas de violência racista em Berlim, contou um caso recente à revista Der Spiegel: um jovem negro tinha sido agredido no bairro berlinense de Neukölln. Ao chegar ao local, a primeira coisa que a polícia fez foi algemar o jovem, achando que era ele o criminoso.
REFERÊNCIAS:
Marine Le Pen condenada a “matar o pai”
A “execução política” de Jean-Marie Le Pen será um episódio de grande violência. (...)

Marine Le Pen condenada a “matar o pai”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A “execução política” de Jean-Marie Le Pen será um episódio de grande violência.
TEXTO: A França política assiste a uma "guerra de família" que se desenvolve mais no registo de folhetim do que no de tragédia. Um "Dallas" francês que mal acaba de começar. Jean-Marie Le Pen, 86 anos, declarou guerra à filha, Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (FN) por ele fundada. "Nunca somos traídos senão pelos nossos", lamenta. "Marine Le Pen deseja a minha morte". Mas "o cadáver ainda mexe", previne. "Não se sai do ringue senão em sangue, seja-se vencedor ou vencido. " E promete "a morte da FN" se for expulso. Marine agiu depressa. Vetou a candidatura do pai às eleições regionais de Dezembro e acusou-o de se lançar "numa espiral entre a estratégia da terra queimada e o suicídio político. A FN não pode ficar refém das suas grosseiras provocações. " Quer impor-lhe sanções disciplinares. Seria uma banal luta pelo poder se não fosse um "combate mortal" entre pai e filha. Mas o folhetim poderá mudar o tabuleiro político francês. A entrevista ao RivarolDe repente, a FN volta a ocupar o centro das atenções mediáticas. "Pouco importa que falem bem ou mal de nós, o importante é que falem" — é uma máxima do velho Le Pen. Para Marine, parece a oportunidade dourada de fazer a ruptura final com o pai, distanciar-se da herança da extrema-direita e concluir a "desdiabolização" da FN. Não pode hesitar perante o parricídio. Mas a "execução política" de Jean-Marie Le Pen será inevitavelmente um episódio de grande violência", prevê o historiador Nicolas Lebourg. O primeiro ajuste de contas será feito dentro de dias na comissão executiva do partido. Os atritos entre pai e filha começaram logo em 2011 quando ela assumiu a liderança da FN e escolheu a linha da "desdiabolização". Ele prosseguiu na linha das provocações. Ela procurou relativizá-las ou desculpá-las. Cedo se percebeu que a ruptura era inelutável. Jean-Marie sempre disse: "Uma FN amável não interessa a ninguém. (. . . ) O eleitor prefere sempre o original à cópia. " Não tolera que a "desdiabolização" faça da FN "um partido como os outros". Foi Jean-Marie quem abriu as hostilidades no dia 2 de Abril. Recorreu a uma provocação que usou pela primeira vez em 1987 e que repete quando quer atrair as atenções: as câmaras de gás "são um detalhe" da II Guerra Mundial. Estas gafes não são espontâneas, são politicamente calculadas. Enfureceu Marine e forçou-a a uma rápida condenação. Era apenas uma amostra. Deu a seguir uma longa entrevista ao Rivarol, jornal da velha extrema-direita francesa e especialista em anti-semitismo. O seu director, Jerôme Bourbon, escreveu quando Marine foi eleita presidente da FN: "Para mim, Marine Le Pen é um demónio, a inimiga absoluta de todos os pontos de vista, no plano moral, no plano político e no plano intelectual (. . . ) e cujo círculo é composto por arrivistas sem escrúpulos, judeus patenteados e invertidos notórios. ""Não é uma entrevista, é uma declaração de guerra", disse um analista. Nela, Le Pen alinha e radicaliza todas as velhas provocações. Absolve o regime do marechal Pétain; insiste no "detalhe da História"; diz-se cansado das referências de Marine à República; propõe a aliança com a Rússia "para salvar a Europa boreal e o homem branco". Enfim: "Somos governados por imigrantes" como Manuel Valls. "Qual é a sua ligação real à França?" Ataca os colaboradores da filha e o seu suposto "lobby homossexual", visando Florian Philippot, o seu estratego eleitoral. Le Pen quis deliberadamente mostrar, contra a filha, "a dimensão racista e anti-semita da FN", resume o historiador Jean Garrigues. O ponto fulcral é o anti-semitismo. Le Pen gostava de "enforcar" árabes em público para ganhar votos, mas em privado preferia alvejar os judeus. Marine, ao contrário, quer atrair a comunidade judaica. Com algum sucesso. Roger Cukierman, presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (CRIF), desencadeou uma tempestade ao afirmar que, ao contrário do pai, Marine Le Pen é, do ponto de vista do anti-semitismo, uma personalidade "irrepreensível". Louis Alliot, vice-presidente da FN, respondeu imediatamente. "A entrevista de Jean-Marie Le Pen nesse pasquim anti-semita é perfeitamente escandalosa e as nossas divergências políticas são doravante insanáveis. " Alliot é o companheiro de Marine. Quase todo o aparelho da FN é solidário com Marine, mas Jean-Marie tem uma base de apoio própria. E um trunfo de reserva: a sua neta Marion Maréchal-Le Pen (sobrinha de Marine), deputada da FN. Aos 25 anos, é uma das favoritas dos militantes e muito próxima das posições do avô. Pode vir a ser uma das grandes vedetas nas eleições regionais. De momento ninguém contesta Marine. A prazo, Marion é uma concorrente.
REFERÊNCIAS:
Étnia Árabes
“A esquerda tem mostrado uma maturidade enorme para engolir sapos”
Antes da primeira volta das eleições brasileiras, visitou Lula na prisão, onde encontrou um polícia que tinha lido os seus livros. O Brasil preocupa-o. Portugal deixa-o optimista. A “inovação” portuguesa tem todas as condições para se repetir, entende. Sobre os críticos, diz que apenas o insultam, mas que não discutem as suas ideias. “No fundo, a mediocridade grandiloquente é muito grande em Portugal” (...)

“A esquerda tem mostrado uma maturidade enorme para engolir sapos”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Antes da primeira volta das eleições brasileiras, visitou Lula na prisão, onde encontrou um polícia que tinha lido os seus livros. O Brasil preocupa-o. Portugal deixa-o optimista. A “inovação” portuguesa tem todas as condições para se repetir, entende. Sobre os críticos, diz que apenas o insultam, mas que não discutem as suas ideias. “No fundo, a mediocridade grandiloquente é muito grande em Portugal”
TEXTO: Aos 77 anos, Boaventura de Sousa Santos continua a dividir o tempo entre Portugal, onde dirige o Centro de Estudos Sociais (CES), e os Estados Unidos, onde lecciona na Universidade de Wisconsin-Madison. Pelo meio, o sociólogo e jurista é um observador atento da América Latina, tendo participado na elaboração das constituições do Equador e Bolívia. É dos académicos portugueses de maior projecção internacional e mantém-se atento aos desenvolvimentos no Brasil, onde a eleição de Jair Bolsonaro representa mais um episódio no “ciclo reacionário global”. Falou ao P2 no seu gabinete no CES, em Coimbra, organização que ajudou a fundar e que assinala esta semana 40 anos. Sobre Bolsonaro disse que “é mau, grotesco, grosseiro, sexista e racista”. E, agora, Presidente do Brasil. Como vê os próximos quatro anos?Com muita preocupação. Muito do discurso e da retórica usada nos momentos de campanha, não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos, é extremamente violenta, agressiva e que tem uma característica nova, antidemocrática. Nestes casos, há uma recusa em discutir as ideias dos adversários. Como disse Bolsonaro na campanha, “os meus rivais políticos só têm dois caminhos: ou a prisão ou o exílio”. Bem, isto é o fim da democracia. Mas isto é o que se diz em campanha. O que é que se vai realizar depois é diferente. O próprio Trump manteve o seu discurso, mas teve de se articular com o sistema político que está no terreno. No Brasil, o problema é saber qual vai ser o sistema político com que ele vai ser recebido. Vai ser Presidente num Congresso onde 75% da câmara dos deputados é conservadora. Ainda assim de vários partidos. O partido de Bolsonaro é a segunda maior bancada, a seguir ao Partido dos Trabalhadores. Mas, no conjunto, são mais os partidos conservadores. Dentro deles há partidos de extrema-direita, que hoje têm alguma representação. Pelo menos na câmara dos deputados ele vai ter um Congresso consonante com as políticas que promete pôr em vigor. A preocupação é a de saber como é que esta consonância entre um Presidente que é obviamente de extrema-direita e um Congresso muito conservador vai enfrentar uma sociedade em que 47 milhões de pessoas votaram em Fernando Haddad e em que 30% não quis a polarização — não votou, votou nulo ou branco. É muita gente. Este Presidente não só elevou o nível de medo daqueles que são seus opositores, mas criou expectativas altíssimas entre aqueles que são seus apoiantes. É uma lógica militar que volta ao poder pela via democrática. A transição [para a democracia] foi muito controlada pelos militares e eles têm não só uma visão política diferente da população civil e dos partidos, mas uma ideia de superioridade moral. Esta superioridade moral vai ser transferida para dentro do governo, com ministros militares. Essa ideia é perigosa?É, porque toda a diferença é estigmatizada. Se eu me considero superior moralmente e penso que uma família é um homem e uma mulher, tenho toda a justificação para liquidar os homossexuais. É uma lógica repressiva. O Brasil, ao contrário de outros países da América Latina, tem uma sociedade civil bastante organizada, com muitos movimentos sociais. É evidente que vai haver resistência. Há uma sociedade civil que não está desarmada social e politicamente. Nas últimas semanas houve uma mobilização extraordinária, que não foi suficiente, mas mostra um apego à democracia que o Latinobarómetro não previa. Como é que vai ser enfrentada? Pela concertação ou pela repressão? Se acreditarmos no discurso do Bolsonaro, será pela repressão. Tendo em conta essas preocupações, a eleição de Jair Bolsonaro significa mais um passo na erosão da democracia ou a evolução para uma ditadura a curto prazo?É difícil de prever. Costumo dizer que os sociólogos são bons a prever o passado. Está a preocupar-me uma confusão cada vez maior entre os conceitos de “ditadura” e de “democracia”. Estamos a entrar em regimes híbridos. Têm elementos de democracia, na medida em que há partidos, e continua a haver uma disputa eleitoral. Mas são democracias truncadas ou de baixíssima intensidade. Por exemplo, os militares, neste momento, falam da nova democracia, que é uma democracia sem o PT, sem a esquerda. Isto não é novo. Tivemos isso na Europa, depois da II Guerra Mundial, na parte Ocidental, a partir de 1945, na Itália e depois na Grécia. Os comunistas tinham a maioria devido à sua luta contra o nazismo e houve uma política de contenção desses partidos. Falava da composição do Congresso. Mecanismos como o Supremo Tribunal Federal ou a imprensa são suficientes para combater esse ímpeto autoritário? Por exemplo, nos EUA, fala-se no sistema de checks and balances. Um meu colega de Harvard, Steve Levitsky, acaba de publicar um livro fabuloso, How Democracies Die. Basicamente é [sobre] o fim do checks and balances que está a acontecer. A partir da nomeação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal dos EUA, temos uma maioria conservadora. Vão começar a surgir as decisões contra o aborto. Um retrocesso. Os checks and balances estão a ser postos em causa devido à retórica e trabalho de Donald Trump. É um problema mundial. Estamos a passar por um ciclo reaccionário global. Não é apenas o Brasil, também na Europa e noutros países da América Latina. A minha esperança é que esses sistemas de controlo sejam accionados. Podemos pensar nos meios de comunicação. É curioso que Bolsonaro diga da Globo e da Folha de S. Paulo o que Trump diz da CNN, do New York Times e do Washington Post. A lógica é a mesma, porque [o ex-conselheiro principal de Donald Trump] Steven Bannon lá vai dando as mesmas dicas do que se deve dizer. Quanto à imprensa, vamos ver: 120 milhões de utilizadores do Whatsapp têm como única fonte de informação o Facebook e o Whatsapp. Isto significa uma capacidade tóxica muito grande. Por outro lado, quanto aos tribunais, a minha preocupação também é grande. Vejo que foi a fraqueza dos checks and balances que levou Bolsonaro ao poder. Isto é, toda a operação Lava-Jato e atropelos à legalidade que se cometeram nesta investigação fizeram com que ela não fosse apenas uma luta contra a corrupção — que é perfeitamente legítima — mas uma luta de desestruturação do sistema político. Já tínhamos assistido a isso nos anos 1990, em Itália, e deu no [Sílvio] Berlusconi. Aqui deu no Bolsonaro. A direita ganharia tranquilamente as eleições de 2018 se deixasse estar Dilma Rousseff no poder. Não haveria destruição do sistema. Disse já que um dos problemas do governo de Lula e do PT foi não ter promovido uma efectiva redistribuição de riqueza, mas antes canalizou o excedente. Fui solidário, mas muito crítico em relação aos governos do PT exactamente por isso. Foi uma oportunidade histórica que se perdeu, porque tinha uma grande aceitação popular e podia ter feito uma reforma do sistema politico. Conseguiu-se reduzir o financiamento das campanhas eleitorais pelos empresários, que já não foi mau de todo. Havia realmente possibilidades. Por exemplo, quando se dá o grande boom da China, ninguém pensa que em 2009-2010 ia cessar. Disse que o julgamento de Lula tinha sido politicamente instrumentalizado para evitar a sua candidatura. Com a eleição de Bolsonaro, qual espera que seja o desfecho?Tenho um grande apreço pelo primado do direito e pelo respeito da legalidade nas democracias. No caso do presidente Lula, acho que não foram respeitadas. Se estivesse solto, tinha ganho as eleições, o que significava que o golpe tinha sido um fracasso. O grande erro que o PT cometeu [na campanha eleitoral] foi só ter visto o lado bom da história. Mesmo na prisão, Lula era o candidato mais popular. Mas o segundo candidato mais popular era aquele que tinha o ódio mais visceral e mais primário ao PT, que subestimou a demonização do petismo. Foi um erro absolutamente histórico. Visitei o presidente Lula na prisão, li as sentenças e não há nenhuma argumentação jurídica que justifique aquela decisão. Por outro lado, temos de construir uma política democrática no futuro que não pode repetir os erros do passado. Isto é, o “lulismo” não pode voltar. Mas a figura do presidente Lula não pode ser condenada historicamente e morrer na prisão. Será de uma injustiça histórica enorme em relação a um homem que, com todos os erros que cometeu, conseguiu tirar 50 milhões de pessoas da miséria e da fome. Por outro lado, se as outras forças se concentrarem exclusivamente no slogan “Lula livre”, que eu próprio tenho defendido bastante, é uma luta em relação ao passado. Não apresenta uma alternativa de futuro. E, bem ou mal, esta política foi rejeitada. Penso que é um novo capítulo que está a inaugurar-se. Neste momento há Fernando Haddad, um homem honesto, muito moderado. Mas falta-lhe o carisma de Lula. Não sou grande adepto de carismas. O Hugo Chávez também tinha um grande carisma. O problema do carisma é que se cria uma grande desertificação à sua volta, depois só há o líder. Agora é preciso reconstruir. Prevejo que possa haver um novo partido de esquerda, um partido-movimento, a partir dos movimentos sociais, que mostraram o que houve de melhor nesta candidatura. A grande liderança [que surgiu], no meu entender, foi o Guilherme Boulos, do PSOL. O Brasil vai ter de jogar uma coisa muito difícil em democracia, que é manter a memória. Perderam a memória da ditadura. Agora podem correr o risco de perder a memória dos anos de alguma inclusão social. Obviamente por causa da corrupção — e eu fui crítico na altura própria do modo como se estava a fazer a governação. A esquerda devia ter tolerância zero para com a corrupção, mas não foi essa a linha seguida. O futuro é esta ideia de que todas as esquerdas têm de se unir, mas não devem privilegiar uniões com a direita. A direita brasileira mostrou que só é democrática quando se pode servir da democracia para manter os seus privilégios. Visitou Lula na prisão no final de Agosto. Sobre o que falaram?A minha visita foi de meia hora, antes do Martin Schulz. Entro no edifício da Polícia Federal, que foi inaugurado pelo Presidente Lula há 11 anos. Está lá uma grande placa. Sou levado para a cela, por um jovem polícia federal, cujos quadros superiores têm formação universitária. No caminho, diz-me: “Professor, eu sou um devorador dos seus livros. ” Fico com um sorriso amarelo e digo que os meus livros não dão para justificar a prisão do presidente Lula. Ele diz-me: “Pois é, professor, mas eu tenho de obedecer a ordens. ” A cela é solitária, bastante arejada e grande, com uma passadeira para fazer ginástica, televisão, etc. Já o conhecia. Ele perguntou-me sobre a conjuntura da América Latina. Dei-lhe a minha perspectiva, de que o continente estava a mudar de uma certa esquerda — problemática, é certo — para uma direita. Depois perguntei-lhe porque não liberava o seu sucessor. Eu fui adepto de que ele liberasse Haddad o quanto antes. Achava que uma coisa é o afecto que o povo tem a Lula. Mas a adesão a Lula não era uma adesão às pessoas indicadas por Lula. Depois, o presidente Lula disse-me que está inocente e que vai lutar toda a vida para provar a sua inocência. Sobre Bolsonaro, preocupa-o mais a atitude autoritária ou a política económica?A política económica. No fundo, é isto: o ciclo reaccionário global é o capital financeiro, que não precisa de gente, que cria riqueza a partir do dinheiro e não da produção industrial. O Brasil desindustrializou-se muito nestes últimos anos. O capital financeiro vai ser o Paulo Guedes. É um homem que esteve com a política económica do Pinochet, é dos Chicago Boys [grupo de economistas chilenos que estudaram nos EUA nos anos 70 e 80] e que conhece muito bem a política neoliberal. Começa agora um capitalismo financeiro que é concentrador de riqueza — como vimos em Portugal durante a troika — e um ataque aos direitos sociais. Como eles já são fracos no Brasil, vai ser muito fácil destruí-los. O meu alarme foi quando o grupo de Nouriel Roubini — o economista turco que previu a crise de 2008 — apresentou um estudo a dizer que os mercados nada tinham contra Bolsonaro. Vi que era o certificado de legitimação, não de Bolsonaro, mas da política dele. Sobre economia, ele manda para o Paulo Guedes. Durante a ditadura militar, o crescimento económico ajudou a legitimar o regime. Receia que aconteça o mesmo?A política económica liderada pelo capital financeiro não está a aumentar o nível de desenvolvimento em nenhum país. A própria Europa tem vindo penosamente a ver isso. Não prevejo um grande boom económico porque não vejo a China a promover a mineração como antes. Steve Bannon ainda agora veio dizer que o Brasil estava dominado pela China e que tem que articular-se é com os EUA. Mas os EUA são tão predadores quanto a China. Qualquer um quer o seu máximo de lucro. Na área extractivista pode haver mais algum crescimento, mas nada do que aconteceu no tempo da ditadura. Nesse tempo foi possível um desenvolvimento de infra-estruturas nacionalista. A Embraer é produto da ditadura. Vai ser comprada pela Boeing e vai desaparecer. A Petrobras era uma grande empresa. Claro que houve corrupção, mas era bom eliminar a corrupção e manter a empresa. Mas a empresa está a vender ao desbarato praticamente toda a riqueza do Brasil. Estamos a assistir a uma mudança de ciclo regional na América Latina? Há uns anos tínhamos um grupo de países alinhados à esquerda. Penso que não é regional. A tendência parece-me global. Estamos num interregno entre duas globalizações. A que começou em 1989, com a queda do muro de Berlim e que veio até ao dia de hoje, que assentou em grandes níveis de rentabilidade para os EUA, com a cooperação satélite da Europa, foi a Internet dos computadores pessoais. Essa fase está a entrar em crise. Os computadores e programas são baratos, os smartphones cada vez custam menos. A rentabilidade desta inovação caiu. Quando cai, termina a fase da globalização e aumenta a rivalidade entre países. Foi assim de 1870 a 1914 e depois tivemos duas guerras praticamente seguidas. Neste momento, estamos a ver quem vai controlar a próxima globalização. A inovação tecnológica da próxima globalização vai ser a robótica, a automação e a inteligência artificial. Quem é que está bem posicionado para a controlar? A China. Neste momento, toda a política internacional é a rivalidade entre os Estados Unidos e a China. Só que a China é credora da dívida americana e muitas empresas americanas funcionam à custa do seu investimento na China. Portanto, não pode ser atacada directamente. Tem de ser atacada através dos seus aliados. Basta ver o que diz Steve Bannon na Folha de São Paulo desta semana: era preciso neutralizar a China na América Latina. Quando há rivalidade entre países, o império em decadência quer lealdade total. Não aceita autonomias. Por exemplo, a União Europeia ainda tem lógicas que não são totalmente amigas dos negócios dos EUA. A política dos EUA, neste momento, é destruir a UE. É muito mais fácil lidar com uma Europa dividida do que com uma Europa unida. Mas acredita que a ascensão do eurocepticismo está relacionada com isso?Exactamente. Não é teoria da conspiração. Porque é que o “Brexit” foi apadrinhado pelos Estados Unidos? Para criar a primeira fractura na Europa. Porque é que os EUA dizem que os únicos países que estão a seguir um caminho correcto são a Polónia e a Hungria? São os que estão a contestar a UE. O objectivo é criar nas próximas eleições — e Steve Bannon está aí com o seu The Movement — uma maioria de eurocépticos que desmembre a União Europeia e os Estados Unidos possam negociar país a país. E, nessa altura, isolam a Alemanha, a grande potência económica da Europa. Na América Latina, é o alinhamento total. É Macri na Argentina, é Piñera no Chile e é agora Bolsonaro no Brasil. Nós conhecemo-la menos, mas a China também está a ter uma estratégia de hegemonia. Aquela grande infra-estrutura continental, a iniciativa belt and road, é para criar aliados. Para dar a última chave disto: onde é que a guerra de tarifas com a China está a incidir? Nas transferências de alta tecnologia. Os estudos da CIA, altamente sofisticados, dizem claramente no Global Trends 2030 que a China será a primeira economia mundial em 2030. Toda a política dos EUA é para impedir que isso ocorra. Estamos a chegar ao fim da legislatura. Continua a ver com bons olhos esta solução governativa?Continuo. Acho que tem todas as condições para continuar. Portugal é uma inovação. O efeito desta aliança de esquerda foi puxar um bocado a direita para o centro. O PSD teve de se passar para o centro. Perdeu o excesso neoliberal de Passos Coelho como única solução de poder. Penso que uma direita neoliberal que se opõe a qualquer política social, como foi a política de Passos, por agora, está neutralizada. A actual solução teve por base “convergências mínimas” para chegar ao poder em 2015. Passava por afastar Passos Coelho, por exemplo. Não havendo essa circunstância, acha que mesmo assim é repetível?Não vejo nenhuma razão para não acontecer. Na Alemanha, uma coligação de outro tipo, que era o SPD com uma direita muito moderada e do centro, durou muito tempo. Está agora em crise, mas é ao fim de muitos anos. Não vejo nenhuma razão para que ela tenha de ser apenas uma solução de emergência contra a austeridade. Mas teria de alargar as convergências. Provavelmente. E teria de haver um pouco de mais ousadia e de cumprir as promessas de 2016. A ideia é que a partir de 2018 teríamos alguma folga para fazer investimento nas infra-estruturas e na função pública. Isso tem de ser cumprido. A esquerda tem mostrado uma maturidade enorme para engolir alguns sapos. Por exemplo, no caso da legislação laboral, que foi negociada com a direita. Depende um pouco do PS, que continua a ter dentro de si próprio uma corrente mais à direita. Não é a corrente de Mário Soares, que António Costa representa, mas são outras correntes que se foram construindo na lógica de Tony Blair. Um deles é Augusto Santos Silva, meu colega sociólogo. [Agora] É-lhes mais difícil, porque tudo o que diziam da grande desgraça que seria o PS articular-se com a esquerda não aconteceu. A esquerda tem mostrado contenção, um sentido de regime democrático e de defesa da democracia, embora com divergências. O PCP é contra a NATO, o PS é a favor, o PCP é contra o euro, o PS é a favor. Mas vão-se entendendo. São alianças pragmáticas. A questão sobre a possibilidade de repetir a solução ia nesse sentido, de haver diferenças em que não há convergência possível. Sim, mas onde há convergência ainda há muita matéria. Foi para parar a austeridade. . . . que agora já não se coloca. Coloca. Não chegámos ainda aos níveis de vida que tínhamos antes da crise. Ao nível de desemprego, sim. Portugal estava a aproximar-se da média europeia até 2000. Quando Portugal entrou para a UE em 1986, tínhamos 50% do rendimento médio da União. Em 2000, estávamos em 75%. Desde 2000 temos vindo a regredir. Nem sequer começámos uma aproximação. Estancámos e agora era preciso começar uma aproximação. Para isso, uma solução de esquerda era melhor. De uma perspectiva de esquerda, acha que foi feito o suficiente nos últimos quatro anos. Houve uma política de reversões das medidas da troika. Mas isso é suficiente?Não é. O que estava nos acordos era que uma primeira fase da articulação parlamentar fosse conter a austeridade. Era parar a privatização do que ainda era possível privatizar. Estancar também o empobrecimento das classes médias e baixas. Isso fez-se. Temos vindo a ver que, ao nível da função pública, há alguma tentativa de repor os rendimentos perdidos. Há limitações europeias muito graves e aqui é que a UE vai ter uma palavra decisiva. O facto de a legislação laboral ser votada à direita não é apenas por vontade do PS, é uma política da UE, que quer a flexibilização, ou seja, a precarização das relações do trabalho. Acho que os portugueses ficaram muito ofendidos com a agressividade de 2011, sobretudo jovens, mandados emigrar, que não tinham lugar no país. . . Ficaram com uma má memória daqueles tempos. Ainda assim, a direita teve a maior parcela dos votos em 2015. Mas isso sempre foi tradicional em Portugal. Desde 1974 que a maioria vota à esquerda e somos governados à direita porque a direita está unida e a esquerda está dividida. Não digo em todos, mas em grande parte dos ciclos eleitorais o país tem votado à esquerda. Agora há uma unidade de esquerda e tem de haver a mesma vontade dos três partidos em manter a coligação. Não vejo nenhuma razão para que seja impossível. Sobretudo pela credibilidade que a experiência portuguesa teve na UE. Quando está a ser atacada pelos Salvinis, pelos Kaczynskis e pelos Orbáns, vai dar um tiro no pé e virar-se contra estes, que são os que estão a defender a UE? Portugal tem todas as condições para que as instituições europeias facilitem a continuação desta experiência. O que eu prevejo, e posso estar a ser optimista, é que a própria UE está a começar a olhar para si própria e a ver esta política neoliberal, que é construída por mais de 600 lobbyistas em Bruxelas. Em 2017, também se mostrava optimista em relação a uma eventual exportação da “geringonça”. Mantenho-me optimista. Este livrinho [puxa da prateleira o livro Esquerdas do Mundo, Uni-vos!] saiu no Brasil e vou lançar agora a edição espanhola. Estão a pedir edições em Itália, no México, na Colômbia e na Argentina, para já. Esta ideia da unidade de esquerda está a fervilhar na política. Não como soluções de governo, mas como articulação. É uma vitória contra o dogmatismo e o sectarismo que dominou a esquerda durante muito tempo. Penso que as esquerdas começam a ver que têm de se unir, porque qualquer dia é tarde demais. Falou do papel central da Alemanha. Agora que a saída de Angela Merkel está no horizonte, há a hipótese de a crise das democracias chegar a Berlim? O AfD, de direita radical, está a crescer. É um perigo real. A Alemanha destruiu a Europa duas vezes pela guerra. Quando veio a crise da Grécia, o meu medo era que a Alemanha destruísse a Europa por via financeira. Temos muito medo da Alemanha. No entanto, ao contrário do que acontece no Brasil, a memória do nazismo foi muito forte. Não houve um branqueamento. Terminou o doutoramento em Yale em 1973 e voltou nesse ano para Coimbra. Cinco anos depois fundou o CES, que está agora a comemorar 40 anos. Estava contratado para ficar na Universidade de Nova Iorque, mas vim a Portugal, para ver como estava. Era um período de abertura do regime marcelista e tinha-se criado em Coimbra uma faculdade nova [a de Economia] pelo ministro mais liberal, Veiga Simão. Comecei a dar aulas sem compromisso em Setembro e a 25 de Abril do ano seguinte veio a Revolução. Nessa altura, decidi voltar a Portugal e desvinculei-me da Universidade de Nova Iorque. Depois fui liderar a Faculdade de Economia, que ainda não tinha Sociologia. Em 1978, criámos aqui o CES, para começar a fazer investigação na área das ciências sociais. Na altura, havia apenas o gabinete do doutor [Adérito] Sedas Nunes, em Lisboa, que deu origem depois ao Instituto de Ciências Sociais (ICS). Havia um défice de estudos académicos nessa área?Absolutamente. O único grupo era o Gabinete de Investigações Sociais, de Sedas Nunes, que era tolerado. Quando vim dos EUA, tive uma conversa com ele, que me convidou para ficar. Eu disse-lhe que queria fazer alguma coisa em Coimbra. O CES surge tardiamente na Europa, mas hoje somos um dos maiores centros de ciências sociais, uma comunidade de 800 pessoas. Na altura, éramos meia dúzia. Juntámo-nos e tentámos fazer do atraso uma força. O atraso social do país justificava que surgisse um centro do género?Todas as teorias sociológicas que tinha estudado nos EUA não se aplicavam a Portugal, que não era um país do primeiro mundo, nem era do terceiro mundo. Era um país intermédio, a que chamámos depois a “semiperiferia”. O objectivo era mostrar que a especificidade sociológica e política exigia uma análise feita por nós próprios com base em quadros teóricos feitos por nós a partir do conhecimento internacional. Fizemos do atraso um avanço. Somos hoje uma instituição muito internacionalizada, de tamanho médio, com publicações científicas muito fortes e com uma responsabilidade cidadã. Durante a crise, o Observatório das Crises e Alternativas foi uma alternativa ao pensamento único. O CES confunde-se com a sua actividade cívica?Não. O CES é extremamente plural. Tem gente que está próxima de praticamente todos os partidos e actividades cívicas muito diferentes. Sofremos um bocadinho de “Lisboa-centrismo”, que cria estereótipos. Alguns cientistas sociais conservadores não gostam da posição que nós temos no país. É uma posição de compromisso com a cidadania e com a democracia. Sou o alvo preferido de alguma direita do país, mas sou apenas o director científico do CES. O CES são 800 pessoas, 150 investigadores. Muita gente. O facto de se posicionar à esquerda influencia a forma como as pessoas percepcionam o seu trabalho?Não. Há outras esquerdas aqui dentro, tem outras pessoas que não têm a minha posição. Gostaria de saber porque é que sou o alvo preferido de alguma direita na comunicação social. Talvez porque lhes cause alguma impressão. Normalmente não discutem os meus argumentos, insultam-me. Tem que ver com posicionamento político ou com uma ideia de ciências sociais?Temos nas ciências sociais duas correntes que convivem democraticamente há muitos anos em todo o mundo: há uma ciência que acha que, para ser objectiva, tem de ser neutra social e politicamente e outra que acha que pode ser objectiva mas não neutra. A segunda até vem da física quântica. Quando observamos os átomos, ou observamos a sua velocidade ou a sua posição. Não podemos analisar as duas coisas. Com os cientistas sociais é o mesmo. Eu quero ser objectivo, mas tenho de saber de que lado estou. Aprendi isto nos EUA e em Yale, num centro conservador do conhecimento. Eu estou do lado dos oprimidos ou dos opressores? Do lado de quem discrimina ou de quem é discriminado? Há uma corrente, que se baseou no positivismo, que diz que objectividade é neutralidade. Se olhar para o comportamento cívico desses cientistas sociais, são todos de direita. Portanto, consideram-se cientistas sociais objectivos e neutros e têm uma posição cívica de direita. Porquê? Porque não são neutros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Diz que os seus críticos não discutem as suas ideias, insultam-no. É mesmo assim?Pois claro. Dei uma entrevista à Análise Social [uma publicação do ICS, em 2012] e dois membros do conselho consultivo, a doutora [Maria] Filomena Mónica e o doutor António Barreto, demitem-se por me terem feito uma entrevista? Isto é ciência? Não podemos aceitar a pluralidade? Eu nem gosto de pôr nomes, mas quando uma dessas pessoas diz numa sua croniqueta que o CES é a instituição de ciência mais nefasta do país, acha que não é um insulto? Não têm coragem de discutir. Os meus livros estão aqui [mostra um livro da sua autoria, The End of The Cognitive Empire, da Duke University Press], eu publico nas melhores editoras norte-americanas. Portugal é muito provinciano. Essas pessoas nunca aceitaram que houvesse ciências sociais fora de Lisboa. Sou um grande amigo da actual directora do ICS, da Karin Wall. São coisas que passaram com uma certa corrente nessa instituição rival, que já não está presente sequer. Foram coisas do passado que eu gostava que ficassem no passado. Se eu quero unir as esquerdas, não quero também unir os cientistas sociais na sua diversidade? Não quero que sejam todos antipositivistas, mas que mostrem o que falam. No fundo, a mediocridade grandiloquente é muito grande em Portugal. Não é só na academia que tem críticos. Há um de estimação na última página do seu jornal que aproveita qualquer oportunidade. Depois, como têm alguma influência, tenho de responder a jornalistas estrangeiros coisas que ouvem e pensam que são verdade. Por exemplo, converteram-me num defensor da Venezuela. Eu fui muito crítico de Hugo Chávez. Isso foi por causa do artigo que escreveu Em Defesa da Venezuela. Contra a demonização e o embargo! Mas nunca foi uma defesa total do regime da Venezuela. Enfim, uma crónica no seu jornal, “Boaventura rima com ditadura”, diz tudo. É um insulto, não é uma análise. De modo que, meu caro, temos de estar preparados, porque isto é uma luta política.
REFERÊNCIAS:
Uma implosiva geografia exílica
O que escreve Djaimilia Pereira de Almeida pode entender-se como poderosa ferramenta de transformação da visão da paisagem humana portuguesa. (...)

Uma implosiva geografia exílica
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181220192552/https://www.publico.pt/n1854334
SUMÁRIO: O que escreve Djaimilia Pereira de Almeida pode entender-se como poderosa ferramenta de transformação da visão da paisagem humana portuguesa.
TEXTO: Li Esse Cabelo (2015), o primeiro romance de Djaimilia Pereira de Almeida — essa “inusitada história de um cabelo crespo” — após uma colega brasileira, professora de literatura, me ter abordado indagando o que eu pensava do romance pois estaria a ponderar a possibilidade de fazer um pós-doutoramento sobre uma (possível) literatura portuguesa de autoria negra, em que, através de um viés comparatista (com a escrita negra brasileira), buscaria problematizar os processos de produção e circulação dessa literatura em ambos os países. Autoria: Djaimilia Pereira de Almeida Companhia das LetrasLi-o e disse-lhe, evitando referir a questão primordial da sua abordagem, que talvez estivéssemos perante uma escrita ensaística em que a veia do romance prevalece pelo modo como a autora narrativiza as suas reflexões e, no caso do livro em questão, a sua experiência de vida a braços com um cabelo “aspero e intratável” — estaríamos, porventura, perante um romance de projecção autobiográfica. Pois em Luanda, Lisboa, Paraíso (2018) a autora regressa a — (sua?) mesmo que (re)inventada — uma história de vida: um pai (não já o “avó Castro”, mas Cartola de Sousa) viaja de Luanda a Lisboa em 1984 com o intuito de acompanhar o tratamento do calcanhar esquerdo malformado do filho mais novo, Aquiles, e hospedam-se — tal como o “avó Castro” e seu filho — na Pensão Covilhã, em Lisboa. Tornando-os paradigma da simultânea condição de exilados, imigrantes e minoritários, as personagens, pai e filho, encetam um percurso pelos meandros dessa tripla condição, rastreando os efeitos de uma realidade desigual e as consequências de uma visão monolítica e teleológica de identidade, sempre na contramão da teoria huntingtoniana do “choque de civilizações” e do que se considera serem “valores universais”. Interessante, neste contexto, é a relação de Pepe, o galego, com Cartola, duas almas que, no limiar da perifericidade, seja ela cultural ou étnica, de âmbito nacionalizante (angolana, portuguesa ou galega/espanhola) — não faltando uma sugestão de homossexualidade por que Aquiles manifestaria uma vergonhosa tristeza ao perceber (ou pensando ter percebido) que os dois homens “[h]aviam cruzado uma fronteira”. Interessante é também o facto de o ponto de viragem da vida de pai e filho em Lisboa (sobretudo do pai, o foco narrativo privilegiado) ser marcado por dois incêndios: o primeiro, “que asfixiou Mizé da Assunção e o seu filho de nove meses”, obrigou-os a mudarem-se da Pensão Covilhã para um casebre “num pátio no fim da estrada velha de Paraíso a caminho de Caneças”, onde Pepe entra em suas vidas e começariam a dura vida de imigrantes negros “protegidos pela bruma que era a sua existência sem documentos” e que, para sobreviverem, têm de trabalhar nas obras de construção, sejam quais forem as suas habilitações académicas ou a sua profissão no seu país de origem; o segundo, quando o casebre da Quinta do Paraíso se incendeia e pai e filho perdem tudo, mudando-se para o barracão de Pepe, nas traseiras da taberna — Pepe, o único ser com quem podiam contar na terra que se tornara um deserto de afectos, sobretudo entre os dois: “Apenas esse zé-ninguém sem qualidades redentoras, pisado e comido pelo veneno da guerra, pôde testemunhar o seu rosto alumiado pela amizade quando deles se aproximava e os acordava porque era dia”. Parece que é então que os dois se apresentam — são-nos apresentados — como exilados da sua própria existência: “[S]em entender[em] por que se tinham tornado incapazes de chorar, por que tinha a memória da sua terra desaparecido do seu coração, porque não se decidiam a regressar e por que não se queixavam”. Porém, já antes, os dois tinham começado um processo de metamorfose exílica — dois momentos dessa transição notam-se em Cartola, Aquiles ainda numa cama do hospital: “O pai de Aquiles queria vomitar Luanda, mas ainda não conseguia; queria livrar-se da primeira vida, mas ela fazia-lhe frente; passar à próxima etapa, mas era ainda o mesmo homem”, enquanto “ainda no hospital, Aquiles [tinha] deixado de se sentir angolano”. Nesse sentido, ocorre-me o termo exiliência, tradução do neologismo proposto por Alexis Nouss em La Condition de l’Exilé (2015) para designar “o núcleo existencial comum a todas as experiências de sujeitos migrantes”, e que refere processos de subjectividade e do trabalho da memória como elementos que interferem nas construções identitárias dos sujeitos, atravessando gerações e grupos socioculturais. Estas questões — desveladas pela exiliência, que se constrói sobre dois pilares, a condição concreta e a consciência — ajudam a explicar espacialidades e temporalidades singulares (individuais, pois o processo exílico de Cartola não é semelhante ao de Aquiles), ao mesmo tempo em que gera uma dinâmica de múltiplos pertencimentos — que não se enquadram nas grelhas de qualquer análise socio-económica a que normalmente são reduzidas as abordagens referentes a estrangeiros pobres negros em Portugal, ditos invariavelmente imigrantes (a contrastar com o termo expatriado atribuído a europeus, brancos, em Africa, onde se encontram igualmente por razões económicas). São estas questões que constituem trilhos para que o Futuro seja sempre redimensionado e reescrito a partir de novas perspectivas: tanto do ponto de vista político-ideológico (como o binómio colonial/pós-colonial), quanto do sócio-psico-cultural, em que uma “identidade exílica” (Julie Lussier) se vai processando, como atrás se viu, “identidade exílica” que foi sendo cultivada no bojo de uma precária alteridade (negros indocumentados, trabalhadores braçais à jorna). Com efeito, “Da aldeia de Quinzau a Lisboa, com residência clandestina em Paraíso, passando por Luanda”, poderia ser o resumo deste novo romance de Djaimilia Pereira de Almeida. Então, em 2015, como agora (2018), o que a autora nos apresenta é a corporificação das contradições históricas, a partir da encenação de um Passado constantemente a assombrar o Presente — no sentido literal do termo: a constituir-se como fantasma num jogo entre ausências e emergências memorialistas que se vão interseccionando com/em os eventos e questionando as interpretações que deles se fazem. E isso desde a infância de Cartola na aldeia do Quinzau, a relação com o pai, a viagem até Luanda há 50 anos, o casamento com Glória, o trabalho de enfermeiro como ajudante do Dr. Barbosa da Cunha em Moçâmedes, o nascimento dos filhos, a doença de Glória, a viagem a Lisboa: é um Passado dialéctico, que interfere nas perspectivas do Presente, tornando-se elemento fundamental no desenvolvimento da história — o que é reforçado pela estrutura dinâmica da narrativa, num vaivém temporal, em que se cruzam flash-backs e antecipações (como nesse início do Capítulo VI: “A primeira operação de Aquiles correu tão mal quanto as três que se seguiram”), e em que se desenvolvem sequências narrativas encadeadas. E se pensarmos que a literatura — e sobretudo o romance, pela sua dimensão de “género do devir” e de reflexão sobre a condição social do homem (Georg Lukács) — ganha sentido estabelecendo-se, no processo de leitura, como possibilidade de interpretar e questionar o mundo, escrever sobre uma existência silenciosa — como são os negros em Portugal, sejam imigrantes ou portugueses negros (normalmente “creditados” como africanos de segunda geração) —, o que escreve Djaimilia Pereira de Almeida pode entender-se como poderosa ferramenta de transformação da visão da paisagem humana portuguesa, não se rasurando — antes reunindo-os um curativa convivência — os fragmentos dolorosos de uma história feita de frustrações e desilusões (como a que provoca o desafecto do Dr. Barbosa da Cunha), de fracturas e distanciamentos (como o afastamento entre pai e filho) e de ambíguos sentimentos (como o que Cartola nutria pela mulher doente). E de total desesperança: “De Portugal, a cidadania dos mortos foi o seu [de Cartola] único visto de residência. Da cidade de onde tinha vindo, e que em tempos se chamara Luanda, pouco restava depois do grande incêndio e, além disso, continuava a ser muito longe”. A história de Cartola, de Aquiles, de Pepe, de Glória e de Iuri surge como veículo para a compreensão da experiência dos marginalizados (negros, pobres e imigrantes despossuídos) em toda sua extensão como vidas sem sentido, repletas de silenciamentos, que se apropriam do espaço que está historicamente construído por e para as vozes do centro). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. São essas essas vozes resilientes (embora vencidas, como Iuri, Pepe e Cartola, que, em diferentes níveis, sucumbem) que a pena de Djaimilia Pereira de Almeida faz invadir o espaço privilegiado da literatura, fazendo dialogar política, ética e estética e compondo, desta forma, a sinfonia da resistência, para além da intensificação das diferenças, corolários da ideologia colonial e neoliberal. Na resposta à colega brasileira, fait-divers com que abri esta recensão, porque a questão me foi posta dessa forma tão binária, respondi que podia tratar-se de literatura portuguesa, sim. Porém, porque não literatura africana, angolana no caso, da diáspora? Este seria, no entanto, tema para uma (outra) discussão. E ainda que estejamos muito, muito longe da “nação arco-íris” — ideia tão euforicamente celebrada, porventura mais pela autoria do que pela substância —, Portugal caminha, inexoravelmente, para o reconhecimento (e a aceitação) de uma diversidade étnico-racial da sua nação. Neste contexto, este romance, que se lê bem (sem ser de um só fôlego) transita também nesses produtivos entrelugares nacionais e diaspóricos, sem a exclusão da lógica do esforço de integração numa sociedade muito complexa em que a lógica da exclusão pela diferença se naturalizou.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra exclusão filho mulher homem social doença género casamento negra
Partido anti-UE obtém resultado pior do que o antecipado na Holanda
Partido de Geert Wilders poderá ter ficado em terceiro lugar na Holanda e perdido um eurodeputado, segundo sondagens à boca das urnas. Holanda e Reino Unido foram os primeiros países a votar para o Parlamento Europeu. (...)

Partido anti-UE obtém resultado pior do que o antecipado na Holanda
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.4
DATA: 2014-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Partido de Geert Wilders poderá ter ficado em terceiro lugar na Holanda e perdido um eurodeputado, segundo sondagens à boca das urnas. Holanda e Reino Unido foram os primeiros países a votar para o Parlamento Europeu.
TEXTO: Ainda a maior parte dos 28 Estados-membros da União Europeia não chegou ao dia de reflexão para as eleições europeias e já há sondagens à boca das urnas num deles, a Holanda. As primeiras previsões são uma surpresa: o partido-sensação do populista anti-UE Geert Wilders ficou em terceiro lugar, perdendo tanto em votação como em número de eurodeputados, se os resultados se confirmarem (os dados oficiais só serão divulgados domingo à noite depois de toda a Europa votar). A Holanda e o Reino Unido foram os primeiros países a votar, nesta quinta-feira, mas apenas os holandeses optaram por autorizar a divulgação das sondagens à boca das urnas. Os dois países partilham o pouco entusiasmo pela votação europeia, e a previsão de bons resultados para partidos anti-União Europeia. Contrariamente à percepção comum, segundo a qual o voto de protesto é o que vai mais facilmente às urnas, o instituto holandês TNS NIPO indicava antes da votação que apenas 33% dos eleitores holandeses anti-União Europeia planeavam ir votar, comparado com 65% pró-UE. “Ainda que o eurocepticismo esteja num ponto alto, os ‘eurófilos’ parecem estar a fazer um esforço para que as suas vozes sejam ouvidas”, comentava o instituto. Se na Holanda o dia foi marcado pela não-tão-boa votação do partido do populista de cabelo louro platinado, do Reino Unido não se esperava divulgação de resultados, mas as sondagens apontavam quase todas para uma vitória do Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP). Se for o mais votado, será a primeira vez desde a I Guerra Mundial que um partido não trabalhista nem conservador fica em primeiro lugar em eleições nacionais. Isto apesar de uma série de notícias que parecem saídas de jornais satíricos: um membro do partido que empregava imigrantes ilegais, outro que defende que a culpa do mau tempo é dos homossexuais, e um líder, Nigel Farage, que depois de ter dito a um entrevistador que ele “sabia a diferença” entre imigrantes alemães e romenos, se justificou dizendo que estava “cansado”. Selfies e abstençãoNo Reino Unido, as autoridades estavam a aconselhar os eleitores para não tirarem selfies com os telefones nas cabines de voto – no Twitter havia alguma indignação: “por um lado queixam-se da baixa participação, do outro não autorizam selfies”, queixava-se um britânico no site de microblogging. Com 36% e 34% de participação em 2009, Holanda e Reino Unido são dos países com maior abstenção na União Europeia (a Eslováquia, Lituânia e Roménia estão muito acima, Portugal surge a par da Holanda). Há cinco anos, a participação nas eleições para o Parlamento Europeu foi de 43%, o valor mais baixo de sempre (desde 1979, ainda com nove estados, a participação foi de 61, 99%); este ano espera-se que baixe para os 40% ou ainda menos. Quem tenta capitalizar com este ambiente de desapontamento é a extrema-direita de Marine Le Pen, por exemplo, que também aparece nas sondagens como o partido mais votado de França (23% correspondentes a 23 deputados, com a UMP, na oposição, a 22% com 20 eurodeputados). França é segundo país em termos de eurodeputados. Mesmo na recta final da campanha, o presidente-fundador do partido, Jean-Marie Le Pen, pai da actual presidente Marine, disse que o vírus do Ébola poderia resolver o “problema da imigração”. Marine Le Pen – cuja nova Frente Nacional renovada insiste que não é racista – não comentou. Le Pen e Wilders foram os protagonistas do anúncio da tentativa de um grupo anti-União Europeia no Parlamento Europeu (tentando cortejar o britânico Farage, mas este tem até agora recusado o convite). Alguns analistas esperavam com antecipação o resultado holandês como um “barómetro” para a tendência anti-europeia, assim, as projecções podem dar alguma esperança aos “eurófilos”. Populistas também na AlemanhaMas não é só a extrema-direita que beneficia com o ambiente de descontentamento. Em Itália, a grande incógnita é o partido do antigo comediante Beppe Grillo, o Movimento 5 Estrelas. Apesar de estar em segundo, não é claro o que poderá fazer quando chegar ao Parlamento Europeu – é o maior dos partidos que os analistas dizem que estão “soltos” e podem decidir juntar-se a um qualquer grupo. A principal proposta de Grillo é um referendo à manutenção da Itália na zona euro. Na Grécia, a austeridade leva ao primeiro lugar a Coligação de Esquerda Radical (Syriza) cujo candidato é também o cabeça de lista da esquerda europeia, Alexis Tsipras (que dá ainda o nome a um conjunto de partidos de esquerda em Itália). Este quer lutar contra a política de austeridade e renegociar o memorando e reestruturar a dívida.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
O pesadelo do PNR é Portugal "transformado num gigantesco Martim Moniz"
PNR convocou um meet para a praça mais multicultural da capital. O partido garante não estar contra os estrangeiros, mas contra os políticos. Contudo, atacou apenas um. (...)

O pesadelo do PNR é Portugal "transformado num gigantesco Martim Moniz"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: PNR convocou um meet para a praça mais multicultural da capital. O partido garante não estar contra os estrangeiros, mas contra os políticos. Contudo, atacou apenas um.
TEXTO: “A nossa verdadeira acusação não vai para estas pessoas, mas contra os políticos!” Já depois da volta à praça, foi assim que o presidente do PNR, José Pinto-Coelho, explicou a razão de ser do meet nacionalista, organizado este sábado no Martim Moniz, em Lisboa. Foi na praça mais multicultural da capital que se juntaram os apoiantes daquele partido para protestarem contra a descaracterização da identidade portuguesa, que, na opinião do PNR, arrisca ser “subjugada” por “usos e costumes contrários à nossa matriz. ”Por mais de uma vez, aquele dirigente fez questão de frisar que o alvo não são os imigrantes de origem asiática, magrebina e africana que se concentravam por ali. “Os grandes culpados são os políticos que empurram os portugueses para a emigração e que depois subsidiam esta invasão”, explicou ao PÚBLICO. Não foi uma questão de pele, garantiu, que os levou ali. Foram os políticos que permitiram uma “invasão, que não é inocente”, insistiu. O problema do PNR, contudo, é a aparente contradição entre esse discurso e as mensagens subliminares ou os desabafos dos apoiantes quando se vêem confrontados com o desafio do diferente. Uma contradição que saltou à vista, logo que Pinto-Coelho personalizou o ataque. Depois de tantos governos – tanto de direita como de esquerda – com um discurso favorável em relação à entrada de imigrantes, o presidente do partido apontou o dedo apenas ao presidente da câmara de Lisboa, António Costa. Que acusou de ter como “agenda política transformar Portugal num gigantesco Martim Moniz”. Depois disso, atacou os políticos que “obrigam os portugueses a passar fome e a abandonar o seu país”, sem nunca se referir, por exemplo, ao primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que há dois anos considerava a emigração como uma “oportunidade” para os mais jovens. O verniz da mensagem polida também estalou mais facilmente quando quem começou a falar não fazia parte da direcção. A dada altura, quando o grupo saía já do Centro Comercial da Mouraria, depois da intervenção dos seguranças privados, dois jovens participantes faziam o balanço da passagem pelos corredores ocupados por lojas de chineses. “Isto é de ficar de olhos em bico”, atirou um. “Um gajo até fica laranja”, respondeu o outro. Momentos antes, o vice-presidente do PNR, João Pais Amaral, pediu à “fila indiana” para não tirar fotos no interior do recinto comercial. “Ninguém quer fotos porque aqui não há facturas”, gritou com um sorriso nos lábios. Ao longo da volta, foi notório o esforço da organização para evitar provocações. Quando o ajuntamento arrancou para dar a volta à praça, seguiu-se silêncio, em “fila indiana” como solicitado, e sem palavras de ordem. A assinalar o partido, apenas duas bandeiras e uns quantos coletes fluorescentes com a sigla PNR. As insinuações foram subliminares e, como tal, os visados nem se aperceberam quem estava ali a passar-lhes pela porta dos estabelecimentos comerciais. Uma idosa de etnia cigana, ao ver passar a comitiva, julgou ver no ajuntamento algo diferente. “Mais um deputado?”, perguntava desconfiada. Não foram os imigrantes, portanto, quem reagiu à passagem da coluna. Foi na rua, quando os manifestantes se preparavam para entrar no segundo centro comercial, que a palavra de ordem “Portugal” provocou uma desgarrada com o grupo de jovens que perseguia a coluna. “Antifascista!”, começou a ouvir-se do centro da praça. “Portugal sempre!”, gritaram em resposta. “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!”, contra-atacava um grupo de jovens. “Portugal independente!”, vociferavam os apoiantes do PNR. “Nazis, fascistas, chegou a vossa hora, os imigrantes ficam, vocês vão embora!”O contingente policial à vista – que por esta altura já contabilizava cerca de 20 elementos – foi controlando a situação com duas barreiras de agentes até que os dois lados perderam o interesse na disputa verbal. Do lado do contra, os sorrisos imperavam, como se uma batalha tivesse sido ganha. Enquanto o grupo cantava “Grândola, Vila Morena”, Pedro Lima, que garantiu não fazer parte de qualquer partido, explicou ao PÚBLICO que a comparência dos cerca de 20 que ali estavam resultava dos alertas lançados pelas redes sociais. Houve “eventos criados” no facebook a defender uma resposta, explicava Pedro Lima. “E grupos diferentes de pessoas apareceram”, rematou.
REFERÊNCIAS:
Tarefas urgentes para antifascistas
Quando ainda era o tempo das crónicas a alertar para o regresso do fascismo nunca pensei que a versão atualizada do século XXI viesse a ser tão caricaturalmente parecida com o original. (...)

Tarefas urgentes para antifascistas
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quando ainda era o tempo das crónicas a alertar para o regresso do fascismo nunca pensei que a versão atualizada do século XXI viesse a ser tão caricaturalmente parecida com o original.
TEXTO: Acabaram-se as crónicas a alertar para a possibilidade de um regresso do fascismo: ele aí está, inconfundível e indesmentível. Quando o governo dos EUA separa crianças dos pais para as encerrar em campos de detenção. Quando o ministro do interior da Itália diz que vai fazer um censo para expulsar todos os ciganos estrangeiros e acrescenta que “infelizmente teremos de ficar com os ciganos italianos porque não os podemos expulsar”. Quando o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, faz um discurso dizendo que “nenhum compromisso europeu será possível em matéria de imigração e asilo” porque “a Hungria é contra a mistura” com povos estrangeiros. Quando tudo isto acontece, o regresso do fascismo já se deu. Sem eufemismos e sem pleonasmos. Sim, é verdade que ainda não ocorreram as piores calamidades — mas alguém quer ficar sentado de braços cruzados a ver se é possível lá chegar? O facto é que a infra-estrutura legal, política, institucional e cultural que possibilita as piores tragédias já está montada. Este não é o momento de esperar para ver. Este é o momento da solidariedade e da resistência. Este é o momento de os antifascistas procurarem entender quais são as suas tarefas prioritárias. Adiante estão aquelas que considero serem as minhas. Em primeiro lugar: contra o fascismo eu tenho aliados na esquerda, no centro e na direita democráticas. Todos aqueles que forem a favor do Estado de direito e dos direitos fundamentais são meus amigos no contexto atual. Discordarei com eles sobre a austeridade, o politicamente correto, o progressismo e o conservadorismo e todas as coisas sobre as quais já discordávamos antes. Mas se eles e elas sentirem a mesma urgência em fazer, em primeiro lugar, barragem contra a barbárie, estamos juntos. Em segundo lugar: é inadmissível justificar moralmente as atitudes que os fascistas do século XXI estão a tomar nos EUA e na Europa, nem branquear a responsabilidade moral que têm aqueles que os apoiam. Isto não impede que continuemos a discutir se as causas deste febrão estão na economia ou na cultura, na austeridade de que foram vítimas os pobres e a classe média ou no egoísmo desenfreado de muitos ricos. Estas discussões são interessantes, são até importantes, e continuaremos a tê-las. Mas é preciso traçar uma linha muito clara entre a compreensão do fenómeno e a sua justificação. Não me venham dizer para assumir como natural que uma vítima da austeridade ou um perdedor da globalização passe a ser racista e adepta de tiranetes — primeiro porque isso não é verdade, e em segundo lugar porque as tendências xenófobas e autoritárias se combatem com nada menos do que intransigência, venham de onde vierem. Em terceiro lugar, esta é uma luta global a precisar de solidariedade global. Não me façam discursos sobre o respeito que os nacionais-populistas dizem ter pela soberania e pelo princípio da não-ingerência. Está na cara que eles estão organizados numa “Internacional Nacionalista”. Está na cara que Putin adora intrometer-se nas eleições dos outros. Esteve à vista de todos que Trump anteontem interferiu na política interna alemã para tentar ajudar à queda do governo e à ascensão dos nacionais-populistas germânicos. A resposta deve ser igualmente clara: onde houver um opositor democrático a Trump, Putin, Orbán e Salvini, eu estou com ele ou ela de todas as maneiras que encontrar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em quarto lugar, é preciso salvar a UE e a ONU. Alguns não concordarão comigo. Tanto pior — como eu disse, estas são as minhas prioridades e não serão as de todos. Pois para mim a ideia de que há algo de bom a ganhar com o colapso da UE ou da ONU — de que sair da UE pode servir para “fazer o socialismo” ou algo do género — é a mais perigosa das fantasias. Do colapso da UE ou da ONU só resultaria o mesmo vale de lágrimas que se seguiu ao colapso da Sociedade das Nações. Em quinto lugar, é preciso cuidar do nosso jardim. No século XX, Portugal foi dos primeiros países a entrar na noite escura e dos últimos a sair. Se o pior vier a acontecer, há que lutar para garantir que desta vez Portugal seja, se tiver de o ser, uma ilha de democracia e progressismo. As condições que temos não são das piores. Tratemos de manter o consenso pelo estado de direito entre e a democracia pluralista que temos entre nós. Quando ainda era o tempo das crónicas a alertar para o regresso do fascismo — escrevo sobre o que se está a passar na Hungria, por exemplo, desde o Verão de 2010 — nunca pensei que a versão atualizada do século XXI viesse a ser tão caricaturalmente parecida com o original. Se alguém então me revelasse que em 2018 estaríamos a assistir a qualquer dos eventos mencionados no primeiro parágrafo eu provavelmente responderia: calma, é possível que o fascismo volte, mas não com tanta desfaçatez e arrogância. Talvez não exatamente com campos de concentração, censos anti-ciganos e apelos à limpeza étnica. Pois bem, eis-me lamentavelmente a reconhecer: se errei, foi por defeito e não por excesso.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA UE
Marine Le Pen desafia Nigel Farage na luta pela chefia dos eurocépticos europeus
A francesa e o britânico estiveram em Bruxelas a aliciar possíveis aliados para um grupo no Parlamento Europeu. (...)

Marine Le Pen desafia Nigel Farage na luta pela chefia dos eurocépticos europeus
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: A francesa e o britânico estiveram em Bruxelas a aliciar possíveis aliados para um grupo no Parlamento Europeu.
TEXTO: Quem vai ser o principal eurocéptico de Bruxelas? Nigel Farage, que tem co-liderado o grupo Europa Liberdade e Democracia, ou Marine Le Pen, que com o holandês Geert Wilders tenta estabelecer uma aliança concorrente depois da recusa de Farage em juntar-se ao grupo da extrema-direita francesa?Em Bruxelas, Marine Le Pen deu esta quarta-feira uma conferência de imprensa para dizer que não tem “qualquer preocupação com a existência” de um grupo de extrema-direita. “As combinações possíveis são consideráveis”, disse, sem revelar os contactos que fez. “O princípio de uma negociação exige discrição”, concluiu. Já do lado de Nigel Farage, soube-se que houve um almoço com Beppe Grillo, o líder do Movimento 5 Estrelas em Itália, mas não houve conferências de imprensa. Apesar de em número de deputados haver espaço para dois grupos, a barreira está no número de nacionalidades necessárias – sete. E se é muito importante para estes partidos ter um grupo para financiamento e influência, também é importante evitar certas associações – partidos como o neonazi Aurora Dourada da Grécia deverá ser evitado tal como foi o Jobbik da Hungria. Para já, Marine Le Pen e Geert Wilders contam com partidos como o Bloco Flamengo belga, o FPÖ austríaco e a Liga Norte, que até agora integrou o grupo de Farage. Com mais dois países, seria formado um grupo. Farage teria vantagem por ter já um grupo estabelecido, mas deverá perder aliados. Primeiro, para Le Pen – não só a Liga Norte de Itália, como um antigo presidente da Lituânia. Segundo, para o grupo Conservadores e Reformistas formado pelo primeiro-ministro britânico David Cameron: o Partido do Povo da Dinamarca (anti-imigração), que vendeu as eleições no país, e o Finlandeses (antigo Verdadeiros Finlandeses, anti-política de resgates aos países da crise) procuram mais respeitabilidade e prefeririam juntar-se a Cameron; resta saber se este os aceita, porque enfrentará riscos se se associar a partidos que já manifestaram laivos racistas. O grupo perdeu ainda um deputado ultranacionalista eslovaco (que, lembra o Financial Times, disse uma vez que os ciganos mereciam “um longo chicote num quintal pequeno”) que não foi reeleito. As notícias sobre o almoço de Farage e Grillo aumentaram a especulação de que o UKIP, que quer a saída do Reino Unido da UE, e o 5 Estrelas, que quer a saída da Itália do euro, se possam associar. Também os alemães da Alternativa para a Alemanha (AfD, anti-política de resgates e por um euro em menos países) consideram juntar-se a este grupo. Actualmente, Le Pen e Wilders formam com o bloco flamengo e o FPÖ uma aliança com base em Malta e que já lhes permite receber fundos do PE (quase 400 mil euros por ano). Mas um grupo político seria diferente, tanto em financiamento (chegando a um a três milhões de euros por ano) como sobretudo em influência nas questões a discutir e na agenda até à participação nas comissões. E ambos querem este poder para, como anunciaram na constituição desta aliança, “destruir por dentro o monstro de Bruxelas”. O grupo de Farage não usou muito deste poder de influência. Os eurocépticos foram o grupo menos participativo no Parlamento cessante. Segundo o estudo Conflicted Politicians – the populist radical right in the European Parliament, de Marley Morris, especialista em direita populista do centro de estudos britânico Counterpoint Institute, não houve relatórios revelantes, e nem em propostas de alterações de legislação o grupo teve grande sucesso: em 65 propostas, apenas duas foram aprovadas: uma da Liga Norte pedindo mais indicações do país de origem de alguns produtos importados de países terceiros, e outra em relação ao tempo de resposta do Presidente ou do secretário-geral aos eurodeputados. O que os populistas têm feito, diz Heather Grabbe, da Open Society. ao Financial Times, é usar o Parlamento Europeu “como um canal de YouTube gigante” para os seus discursos (e alguns acabam mesmo por ser populares no site de vídeos, como o de Farage a dizer que Herman von Rompuy tem “o carisma de uma esfregona”). “A “grande mudança” será se começarem realmente a tentar participar nos trabalhos do Parlamento. “Esse será um jogo completamente diferente”, notou. Com os partidos pró-União Europeia a dominarem 70% do Parlamento, o número de eurocépticos não será o suficiente para realmente aprovar medidas extremistas, mas a sua participação poderá passar das longas intervenções de alguns deputados para estratégias mais organizadas de dificultar os trabalhos.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Franceses protestam contra expulsão de ciganos
Milhares de pessoas marcham através da capital francesa e mais uma centena de outras cidades do país - e pela Europa - num protesto às políticas de "xenofobia" do Presidente, Nicolas Sarkozy. (...)

Franceses protestam contra expulsão de ciganos
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Milhares de pessoas marcham através da capital francesa e mais uma centena de outras cidades do país - e pela Europa - num protesto às políticas de "xenofobia" do Presidente, Nicolas Sarkozy.
TEXTO: O volume de manifestantes, que contestam a expulsão de ciganos de França, foi-se avolumando em Paris desde a primeira hora da congregação, às 14h (locais, menos uma hora em Portugal), e segue já numa grossa coluna em direcção à praça do município, com dezenas de membros da etnia cigana à cabeça da marcha. A participação parece, porém, estar abaixo das expectativas dos grupos anti-racismo que apelaram ao protesto, os quais esperavam umas 30 mil pessoas só em Paris, segundo foi testemunhado pelo correspondente da BBC em França. O número de polícias anti motim era, de início, mesmo superior ao dos manifestantes, na grande maioria imigrantes ilegais oriundos de países africanos, era descrito. Outras cidades francesas como Marselha, Lyon, Rennes, Lille e Bordeaux, tinham igualmente alguns milhares de pessoas nas ruas, num total de 138 protestos organizados por todo o país, assim como junto às embaixadas de França em várias capitais europeias. Os manifestantes estão contra as expulsões levadas a cabo pelo Governo francês – no mês passado, mil ciganos regressaram à Roménia e Bulgária. A questão provocou fortes críticas internacionais (e até dentro do Governo do Presidente Sarkozy), mas as sondagens sugerem que mais de metade dos franceses apoiam o Governo nesta medida. A Liga de Direitos Humanos, que apelou para as manifestações, diz que quer contrariar a xenofobia do Governo e o que descreve como os abusos sistemáticos dos ciganos em França. Os protestos são ainda apoiados pelo Partido Socialista e pela Confederação Geral do Trabalho. De acordo com números oficiais, foram expulsos mais de 11 mil ciganos de França no ano passado. No entanto, no mês passado começou uma campanha de grande visibilidade nos campos de ciganos ilegais, uma medida que o Governo liga à sua promessa de combater a criminalidade e violência. A acção foi anunciada após uma série de incidentes violentos que tiveram como alvo a polícia, depois de um agente ter morto a tiro um assaltante num tiroteio. Notícia actualizada às 15h40
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos violência racismo morto xenofobia