Jonah Lomu nunca foi saudável, mas foi o melhor
Morreu aos 40 anos aquele que é considerado a primeira superestrela do râguebi mundial. (...)

Jonah Lomu nunca foi saudável, mas foi o melhor
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.375
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Morreu aos 40 anos aquele que é considerado a primeira superestrela do râguebi mundial.
TEXTO: O Mundial de râguebi em 1995 ficou para a história, porque um triunfo desportivo ajudou a reconstruir um país. Nelson Mandela queria uma Nação Arco-Íris e a selecção de râguebi foi uma arma fundamental para ajudar a África do Sul a ultrapassar o trauma do apartheid. Mas também foi neste ano que o mundo reparou num jovem com 20 anos, com 1, 96m de altura e 120kg de peso, ponta do Nova Zelândia. Ninguém sabia muito bem quem era Jonah Tali Lomu. Depois desse Mundial, nunca mais ninguém se esqueceu dele. Infelizmente para o râguebi e para ele próprio, nem a sua carreira, nem a sua vida foram muito longas. Lomu era um homem que impressionava pelo físico. Rápido, forte, imparável, mas que, aos 40 anos, seria derrotado pelo próprio corpo. O ataque cardíaco que provocou a sua morte na última terça-feira, em Auckland, na Nova Zelândia, foi, tão-só, a consequência de décadas de convivência com a síndrome nefrótica, uma doença rara nos rins que lhe foi diagnosticada aos 20 anos, que o obrigava a hemodiálise regular e que o forçou a um transplante. Quando espantou o Mundo em 1995 com a camisola dos All-Blacks, Lomu já sabia que o seu corpo não era perfeito e que se cansava mais depressa que os outros. “Agora imaginem o que eu não teria feito se fosse saudável”, contava numa entrevista recente ao Telegraph, uma das últimas que concedeu antes de morrer. Lomu foi a primeira superestrela do râguebi mundial e um dos grandes responsáveis por tornar a modalidade um dos grandes espectáculos desportivos do planeta – o Mundial de râguebi é considerado o terceiro maior evento desportivo, depois do Mundial de futebol e dos Jogos Olímpicos. Nunca foi campeão mundial com os All Blacks, ao serviço dos quais somou “apenas” 63 jogos entre 1994 e 2002, o primeiro com apenas 19 anos e 45 dias, na altura o mais novo de sempre a estrear-se na equipa principal da Nova Zelândia. Foi naquele Mundial da África do Sul que Lomu explodiu. Antes do torneio, era um jovem de quem muitos duvidavam que tivesse estofo para jogar pelos lendários All-Blacks, mas entrou a matar logo no primeiro jogo com a República da Irlanda, com dois ensaios – viria a marcar 15 durante os dois Mundiais em que participou, um recorde igualado este ano pelo sul-africano Bryan Habana. A final desse Mundial seria para a África do Sul, num triunfo difícil sobre a Nova Zelândia. Lomu não teve um grande impacto nesse jogo, ao contrário do que acontecera poucos dias antes, na meia-final com a Inglaterra. Quatro ensaios e uma demonstração de potência eram bem a prova de que Lomu estava preparado. Palavra ao inglês Mike Catt, que tentou fazer-lhe uma placagem antes de Lomu arrancar o primeiro ensaio: “Lembro-me de pensar: ‘Eu tenho 90kg, ele tem 120kg, vai ser como parar um comboio em andamento. ’ Tentei fazer o que me ensinaram, mergulhar e fazer a placagem pelo tornozelo. Depois só me lembro de cair para trás, olhar pelo ombro e vê-lo a marcar um ensaio. ”Da delinquência ao desportoLomu não teve apenas de jogar contra o seu corpo. O seu início de vida podia ter facilmente descarrilado para algo muito pior, não fosse a sua aptidão natural para o desporto. Nascido em 1975, em Auckland, filho de emigrantes do Tonga, Jonah Lomu ainda não tinha um ano de vida quando foi viver com os tios para uma das ilhas deste arquipélago da Polinésia. Aos sete anos, regressou à Nova Zelândia, mas sentia-se desenraizado e nem falar inglês sabia. E teve de lidar com um contexto familiar difícil. O pai era alcoólico e batia-lhe, e o jovem Jonah procurava passar o menor tempo possível em casa – acabaria por sair de casa aos 15 anos e não falou com o pai durante 17. Passou a alinhar com gangs dos arredores de Auckland e, durante a adolescência, conviveu bem de perto com a violência. A única coisa que tinha a seu favor era a habilidade atlética. Enquanto aluno de liceu, Lomu fazia uns excepcionais 10, 89s nos 100m e, aos 14 anos, já era indiscutível no principal XV da escola. Aos 16, já jogava nos sub-17 da Nova Zelândia, aos 18 estava na equipa de sub-21 e, aos 19, estreava-se pela equipa de sevens dos All-Blacks. Nesse mesmo ano, Lomu cumpriu os seus dois primeiros jogos contra a França, ambos derrotas para o XV neozelandês.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Portugal à espanhola
Um marco fundamental da historiografia portuguesa contemporânea, à atenção de um público alargado (...)

Portugal à espanhola
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um marco fundamental da historiografia portuguesa contemporânea, à atenção de um público alargado
TEXTO: Não faltam, hoje, as Histórias de Portugal. Estão disponíveis para todos os gostos, tanto do ponto de vista ideológico, como analítico. Pressões políticas, institucionais, académicas e comerciais têm pesado na multiplicação de obras que cultivam o género. A procura de um público que tenta compreender a sua própria identidade, em tempos pós-coloniais e de viragem europeia, surge como uma das explicações para o facto de tantos universitários se dedicarem à escrita de tais obras. Por sua vez, os que se envolvem no que poderia ser denominado mercado dos bens nacionais — da sua história, memória e interpretação — não são só historiadores. Geógrafos, economistas, antropólogos, sociólogos, politólogos, ensaístas, críticos literários, filósofos e arquitectos em busca do “português suave” concorrem entre si, no interior de um campo onde a universidade passou a exercer um peso hegemónico. A este respeito, um dos casos mais sérios e persistentes da exploração académica e editorial do referido mercado dos bens nacionais veio da antropologia e concretizou-se, nos últimos 40 anos, na colecção Portugal de Perto (D. Quixote), dirigida por Joaquim Pais de Brito. É neste quadro de contributos variados que esta nova História Contemporânea de Portugal tem de ser apreciada. Quais são as suas forças e fraquezas?Primeiro ponto a destacar: a evidente passagem de testemunho por parte de uma geração de historiadores em torno dos 60 anos, todos com provas dadas em obras individuais e colectivas, relativamente a investigadores mais novos, rondando os 40 anos, com uma enorme capacidade de inovação. A este nível, uma das sequências temáticas mais arrojadas do conjunto dos volumes em causa (e outras existem!) diz respeito ao tratamento das questões culturais, entregue a uma nova geração com obra já firmada: Paulo Silveira e Sousa, Luís Trindade, Daniel Melo e João Pedro George. Porém, a mobilização de um grupo de historiadores neste projecto colectivo passou de geração, mas não passou de género. Por descuido, com certeza, nem uma única mulher foi convidada a participar. Ora, um descuido deste tipo seria considerado discriminatório e impossível de justificar, em campos universitários bem conhecidos por quem dirige o projecto. Segundo ponto, em cada um dos cinco volumes — bem escritos e revistos, suportados por dados quantitativos seleccionados de forma clara no que respeita às questões económicas cuja história progride a passos largos — existe um tratamento sério da imagem como documento e não como ilustração. Este aspecto merece ser destacado, porque, ao ter sido desenvolvido de um modo sistemático, se afigura inédito entre nós em obras do género. Tão-pouco o cuidado posto no tratamento da imagem pode ser visto como um dado isolado, pois insere-se numa preocupação geral que percorre toda a obra e que consiste em cruzar fontes, de forma rigorosa e crítica. Porém, faltam mapas, uma base cartográfica que represente, por exemplo, as assimetrias e que dê conta das questões territoriais, permitindo — no futuro próximo — pensar melhor a História não tanto nas suas determinações geográficas, mas num quadro capaz de colocar questões de ecologia e sustentatibilidade, num mundo em mutação climática. Terceiro, talvez pela primeira vez em Portugal, um grupo de cerca de 20 investigadores universitários — que trabalham, sobretudo, na Universidade Nova de Lisboa (Faculdade de Economia e Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) e no ICS-Universidade de Lisboa — uniu esforços para escrever uma História de Portugal, bem ancorada noutras ciências sociais — economia, sociologia, ciência política, relações internacionais, etc. Esta abertura da História às ciências sociais, suscitada por quem dirige e coordena os diferentes volumes, inspira-se nos grandes projectos de inovação interdisciplinar que marcaram tanto a História como as outras ciências sociais e políticas ao longo do século XX, sobretudo na Alemanha, em França e nos Estados Unidos. Este mesmo diálogo sustenta sucessivas abordagens, organizadas por temas e problemas, orientadas para a procura de causas e consequências; no fundo, uma perspectiva analítica de fôlego, que se afasta das abordagens descritivas e narrativas em que muitas sínteses históricas derrapam por miopia ou convicção simplista. Contudo, o diálogo entre a História e as ciências sociais — ao mesmo tempo que revela a presença de um discurso académico, frio e objectivo, em que as análises são correctamente submetidas a construções tipológicas e procuram a demonstração de argumentos — parece anular qualquer tipo de envolvimento dos historiadores com os seus projectos. A crítica é delicada e os melindres são inevitáveis. Entre nós, Rui Ramos é o historiador do período contemporâneo que representa cada vez mais e melhor esse outro lado, constituído por projectos historiográficos comprometidos politicamente e desligados de um diálogo com as ciências sociais (o que não impediu que o seu volume sobre a República, na História de Portugal dita de Mattoso, ofereça estimulantes perspectivas), donde as suas interpretações revisionistas da República e do Estado Novo terem suscitado debate e polémica. Mas não é tanto esse tipo de envolvimento político que está em causa quando se escreve História em contacto com as ciências sociais. Lucien Febvre, nas suas lições do Collège de France proferidas durante a ocupação nazi, escreveu belas páginas acerca de Michelet, criador da história de França (Michelet, créateur de l’histoire de France — Cours au Collège de France, 1943-1944, Vuibert, 2014). O contexto era de luta. Michelet era mais um pretexto para fazer da História um instrumento de combate relativamente aos usos do passado no presente. Que pelo menos se libertasse a História da nação e da ideia de raça e que não se considerasse passível de justificação pelo passado o nacionalismo equiparado ao racismo. A construção da nação nada tinha que ver com a existência de uma raça pura, de eleitos. Assim argumentava, ou quase vociferava contra os nazis, um dos maiores inventores da historiografia moderna, que dirigiu essa utopia intitulada Encyclopédie Française, provavelmente uma das últimas a procurar sustentar uma ideia francesa de civilização. Claro que os tempos e o contexto em que se trabalha, hoje, em Portugal são diversos. A História e as outras disciplinas interessadas na compreensão da sociedade foram monopolizadas pelas universidades, que ditam as suas regras de rigor e neutralidade, não sendo possível escapar às rotinas quase burocráticas impostas pelo funcionamento das instituições. Paralelamente, é inegável que Portugal, tal como a Europa, sofre, segundo o historiador Mark Mazower, “de exaustão ideólogica” e que “a política se tenha tornado numa actividade desprovida de qualquer visão”. Por todas as razões aduzidas, fará sentido exigir que uma obra colectiva de História se comprometa num qualquer combate? De facto, talvez não se possa esperar que o mesmo tipo de envolvimento manifestado por Febvre seja, agora, partilhado pelos que dirigem e colaboram nestaHistória Contemporânea de Portugal. E, no entanto, quem dirige chega mesmo a declarar que a novidade da orientação, a marca de distinção deste projecto colectivo, estaria na sua orientação ibérica, atlântica e global. Um programa que, depois de anunciado, parece ter sido posto de lado, pois não serviu realmente de guião para a escrita dos cinco volumes. Porventura mais consequente ao longo da obra é a recusa em pensar qualquer tipo de nacionalismo; mas não será que com esta recusa os directores se interditam de analisar um dos objectos sem dúvida mais difíceis mas absolutamente necessários, sobretudo num quadro comparativo dos usos contemporâneos do nacionalismo posterior aos trabalhos de Benedict Anderson, Ernest Gellner e Eric Hobsbawm?O mesmo se diga da estrutura temática reproduzida geometricamente nos cinco volumes, todos divididos em “chaves do período”, política, “Portugal no mundo”, economia, “população e sociedade”, e “cultura”. Nada a opor a essa tipologia que poderá facilitar comparações de período para período, mas não será que ela supõe uma concepção do tempo a régua e esquadro que deixa escapar a percepção de uma multiplicidade de texturas temporais, em que os ritmos são diferentes segundo os vários sistemas? Ou seja, será que a economia muda ao mesmo ritmo que a política, a sociedade ou a cultura? É que bem pode Álvaro Ferreira da Silva, num dos mais brilhantes capítulos desta colecção sobre a economia, declarar que o “seu” período 1890-1930 não tem unidade, o certo é que foi nele que a sua análise teve de encaixar-se. A bem de quê? Presumo que, no seu caso, a bem de uma periodização espanhola que tem nos anos de 1890 um dos seus marcos. E o resultado é um Portugal à espanhola. . . Também passível de discussão crítica é o espaço concedido ao império colonial, que surge apenas sob o tema “Portugal no mundo”, em que inadvertidamente se reproduz uma formulação do Estado Novo que Cavaco Silva recuperou quando primeiro ministro. Umas escassas páginas por volume, que parecem emagrecer à medida que se progride no tempo, são dedicadas ao império. A responsabilidade não poderá ser atribuída aos que abordaram o tema, nos diferentes períodos, tratando o império em função das relações internacionais de Portugal. O problema está numa concepção do Portugal contemporâneo esvaziada de uma das suas dimensões essenciais — o império colonial —, ao lado das persistências de uma sociedade rural e da emigração. Quarto e último ponto, de natureza editorial, suscitador de uma série de questões: como interpretar o facto de as duas últimas histórias de Portugal lançadas no mercado terem sido promovidas por editoras ou instituições espanholas? Refiro-me à História de Portugal dirigida por Rui Ramos, em co-autoria com Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno G. Monteiro (Esfera dos Livros), e, agora, à História Contemporânea de Portugal. Será esta coincidência a expressão de um genuíno interesse ibérico em conhecer o nosso país? Ou será que se trata da ocupação de um espaço deixado livre depois de uma espécie de saturação do mercado português por parte de editoras e instituições portuguesas?Em suma, as forças e fraquezas, as dúvidas e perplexidades aqui apontadas não beliscam sequer o carácter rigoroso e a capacidade de dar conta de inúmeros progressos de investigação que esta obra de síntese em si concentra. Mais: pelo seu carácter sistemático e equilibrado, fora dos luxos de campanhas publicitárias de promoção que foram possíveis algumas décadas atrás, a obra constituir-se-á num marco fundamental da historiografia portuguesa e de leitura obrigatória por parte de um público alargado.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Apoio a UKIP no nível mais baixo do último ano
Eurocépticos britânicos têm agora 10% das intenções de voto, contra 19% há um ano. (...)

Apoio a UKIP no nível mais baixo do último ano
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Eurocépticos britânicos têm agora 10% das intenções de voto, contra 19% há um ano.
TEXTO: O Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) obteve o seu valor mais baixo na última sondagem das eleições britânicas, que acontecem a 7 de Maio: 10% contra 19% obtidos em Outubro passado. A sondagem da ComRes citada pela Reuters mostra o valor mais baixo do partido desde há um ano, e segue-se a uma série de escândalos no movimento liderado por Nigel Farage, que se distingue por uma vertente eurocéptica e uma posição dura em relação à imigração, recusando as acusações de racismo. Numa das últimas polémicas, foi este o motivo: um candidato do partido, Tim Wilson, demitiu-se depois de um deputado do Parlamento escocês ter comparado Humza Yousaf, membro do Governo escocês, a Abu Hamza, um líder religioso condenado por terrorismo. O líder do UKIP, Nigel Farage, desdramatizou “uma piada de mau gosto”. Wilson disse que os comentários racistas do partido o incomodavam, em especial a falta de crítica do líder a esta afirmação, decidindo assim afastar-se. No outro caso polémico para um partido que se apresenta como “anti-establishment” e livre dos pecadilhos dos políticos “normais”, um candidato foi afastado por ter apresentado nas suas despesas uma “conta de restaurante inflacionada”. O UKIP parece estar sobretudo a roubar eleitores aos conservadores. Nestas eleições, o primeiro-ministro conservador, David Cameron, tenta reeleger-se, e o seu partido está neste momento empatado com os trabalhistas liderados por Ed Miliband, ambos com 35% das intenções de voto. Desde Setembro de 2013 que estes dois partidos não conseguiam tão larga percentagem de votos em conjunto: 70%. A sondagem da ComRes foi conduzida antes da declaração de Cameron de que não tentaria um terceiro mandato, que lhe valeu muitas críticas por o fazer parecer contar com uma vitória que não está a parecer assim tão certa. Quanto ao UKIP, a estratégia dos tories (ou os tiros no pé do próprio UKIP) parece estar a contribuir para a descida dos eurocépticos. O Partido Conservador começou por lidar com o UKIP adoptando alguns dos seus temas – prometendo um referendo à permanência britânica na União Europeia ou cortes à imigração –, mas ignorando o partido. Nigel Farage, o seu líder, não deveria ser nomeado, assim como o partido. Mas depois de dois conservadores abandonarem o partido para se juntar ao UKIP, há cerca de seis meses os estrategas de Cameron começaram a tentar uma nova abordagem, diz o Guardian. Sublinham que, ao votar Farage, os eleitores arriscam-se a afastar Cameron do Governo e a acabar por eleger Miliband. Um dos locais interessantes para observar o UKIP nesta votação vai ser South Thanet, onde concorre o próprio Farage, que tenta pela sétima vez ser eleito deputado. Se não conseguir entrar para a Câmara dos Comuns, o líder do UKIP (desde 2006) já prometeu demitir-se. Ambos os deputados que o UKIP tem na Câmara dos Comuns foram eleitos em intercalares depois de saírem do partido de Cameron para o de Farage. Retratado como o partido que poderia definir as eleições deste ano obtendo números antecipados como vitórias históricas, o partido parece começar a diminuir o seu apoio. Nas eleições europeias de 2014, em que tipicamente os partidos de protesto têm mais votos, o UKIP fez campanha contra os imigrantes europeus que procuram trabalho no Reino Unido e que baixam os salários para os britânicos, numa série de cartazes em que foram acusados de racismo, e foi o mais votado com 26, 6%, contra 24, 4% dos trabalhistas e 23, 1% dos conservadores.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
A França e o multiculturalismo de gueto
Está a criar-se uma sociedade explosiva em França e na Europa. Impõe-se urgentemente revertê-la. (...)

A França e o multiculturalismo de gueto
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Está a criar-se uma sociedade explosiva em França e na Europa. Impõe-se urgentemente revertê-la.
TEXTO: 1. Os recentes e dramáticos acontecimentos de 7/1 e de 9/1 em França trouxeram, de novo, para o centro do debate político, a discussão sobre o que deve ser uma "boa" sociedade numa democracia europeia do século XXI. No âmbito da teoria da democracia tende a ser consensual que deve ser aberta, plural e tolerar a diferença. Todavia, se isso gera um tendencial acordo, já é muito mais controverso saber qual a forma concreta como estas ideias se devem traduzir numa determinada sociedade. Mais polémico ainda é traçar o ponto até ao qual pode, ou deve, ir o grau de abertura e pluralidade de uma sociedade. Várias interrogações ocorrem aqui. A abertura ou pluralidade são um fim em si mesmos, devendo o Estado, através de políticas públicas, promover essa abertura e fomentar a diversidade cultural na sociedade? Deve antes ser neutral em relação à diversidade cultural, não interferindo nesses processos? Ou deve ainda, face à diversidade da sociedade, atuar como um elemento promotor da integração, numa certa lógica de homogeneização da cidadania?2. A discussão desta problemática está estreitamente associada ao multiculturalismo. Porém, o termo é ambíguo e susceptível de múltiplos usos. Um primeiro passo em qualquer discussão séria sobre este assunto deve ser, por isso, a clarificação do uso que se está a fazer deste. Num primeiro sentido – que é provavelmente o mais usual na linguagem comum –, o multiculturalismo descreve um facto, uma realidade da vida que é a diversidade cultural. Esta é observável, por exemplo, em qualquer uma das grandes cidades europeias – Paris é um caso óbvio –, onde circulam pessoas com diferentes aspectos étnicos, de vestuário, etc. Num segundo sentido, usado sobretudo nas discussões mais especializadas, o multiculturalismo é uma política pública de Estado (fala-se, assim, em políticas multiculturais); tem também uma dimensão ideológica, explícita ou implícita, na medida em que há um objetivo político de promover a diversidade. O pressuposto é o de que todas as culturas têm um valor idêntico e de que a construção de uma “boa” sociedade assenta na diversidade cultural, vista como um fim em si mesmo. 3. Para a discussão que aqui pretendo efetuar dois outros usos do termo são fundamentais. O multiculturalismo que designo como cosmopolita, em que pessoas e grupos minoritários oriundos de diferentes culturas se integram numa cultura maioritária e fundem os seus valores com esta, num processo fundamentalmente enriquecedor para ambas e de influencias recíprocas. E o multiculturalismo de gueto, em que a presença num mesmo país e território, normalmente suburbano, é feita através de um acantonamento em áreas específicas. Por sua vez, os contactos com a cultura maioritária da sociedade de acolhimento, as interações e a partilha de valores com o mainstream dessa sociedade são mínimos. Nos anos 1950 e 1960, quando começou o atual processo de aumento da diversidade cultural das sociedades europeias e ocidentais – essencialmente devido a fluxos migratórios ligados, ou não, à descolonização –, a expectativa era a da criação de um multiculturalismo cosmopolita. Da França à Suécia, da Itália à Holanda, da Grã-Bretanha à Alemanha, a realidade hoje mostra-nos que predomina largamente um multiculturalismo de gueto. Como se chegou a esta situação? Tipicamente, há duas lógicas explicativas que se detectam, quer nas discussões comuns, quer nas mais sofisticadas: as que colocam a culpa na sociedade de acolhimento e no grupo maioritário; e as que colocam a culpa nas populações migrantes e nas culturas minoritárias. Na primeira ótica, mais ou menos subsidiária do multiculturalismo ideológico, a explicação normalmente esgota-se num catálogo de “fobias” e “ismos” – xenofobia, racismo, islamofobia e falta de políticas sociais-multiculturais dos países de acolhimento. Na segunda ótica, próxima da extrema-direita e da direita populista, os emigrantes e/ou minorias culturais tendem a ser vistos estereotipadamente como atrasados, preguiçosos e uma fonte de despesa social para o Estado, excluindo-se, motu proprio. 4. A prevalência deste quadro mental tem criado um terreno social e político perigoso, do qual os grandes ganhadores são, por um lado, o islamismo radical – no sentido ideológico do conceito –, e, por outro, a extrema-direita e a direita populista. Vou mostrar como se tem alimentado esta engrenagem. Em primeiro lugar, importa compreender como se estratificam as nossas sociedades atualmente. Por cima, temos uma elite política, empresarial, intelectual e social que, em graus variáveis, corporiza o multiculturalismo cosmopolita atrás referido. Esta elite é sobretudo uma criação dos efeitos conjugados dos processos de integração europeia e de globalização, nas suas múltiplas dimensões. Apesar das críticas que dirige a esses processos, especialmente à globalização, sente-se, de um modo geral, confortável, ganhadora. Está mais próxima dos seus pares noutros países do que do cidadão comum do seu próprio país. Depois, na pirâmide da estratificação social, temos uma larga faixa da população, usualmente designada como classe média. Esta tem sido a mais afetada pelas transformações dos processos de integração económica e de globalização. Se isso já era verdade antes da crise de 2007/2008, agora acentuou-se drasticamente. No fundo da pirâmide social, temos as camadas baixas e populares, de dimensão mais ou menos significativa em todos os países europeus. Juntamente com a classe média e média-baixa, está aqui o núcleo duro das populações mais agarradas aos valores nacionais tradicionais. Isto ocorre devido à prevalência de uma educação mais tradicional, a níveis mais baixos de qualificações e à de falta de meios económicos. É também a faixa da população tradicionalmente destinatária das prestações sociais.
REFERÊNCIAS:
Religiões Islamismo
O ódio não dividirá Manchester, a cidade onde a música une
Ao longo dos anos, a imagem da cidade foi difundida mundialmente pela vibrante cena musical, dos Joy Division à Haçienda, projectando ideais de tolerância e de inclusão, os valores que agora parecem ter sido atacados. (...)

O ódio não dividirá Manchester, a cidade onde a música une
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.8
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao longo dos anos, a imagem da cidade foi difundida mundialmente pela vibrante cena musical, dos Joy Division à Haçienda, projectando ideais de tolerância e de inclusão, os valores que agora parecem ter sido atacados.
TEXTO: Foi há cinco anos. Estávamos na Universidade de Preston, a 20 minutos de carro do centro da cidade, na chamada "Grande Manchester", num auditório repleto ouvindo alguém especial: o músico Peter Hook, histórico baixista de Joy Division e New Order, dois emblemáticos grupos de Manchester e dos mais influentes das últimas décadas na música popular globalizada. Peter Hook discorria sobre como a segunda maior cidade inglesa se havia tornado conhecida em todo o mundo, “não só pelo Manchester United”, gracejou, mas também “por Joy Division, New Order, Fall, Smiths, Stone Roses, Happy Mondays e outros”. Às tantas, para o exemplificar, pôs a tocar Atmosphere dos Joy Division, uma das canções mais solenes alguma vez feitas, e na sala irrompeu um silêncio respeitoso. No fim, talvez para atenuar o clima emocionado, Hook disse, sorrindo: “Ao que parece é uma das canções que as pessoas mais gostam de tocar em funerais. ”É bem provável que por estes dias essa mesma canção esteja a ser ouvida em alguns dos funerais das vítimas do atentado de segunda-feira. Para ocasiões mais celebrativas os grupos da cidade têm também muito para oferecer. Talvez nenhuma outra urbe inglesa respire tanto a cultura musical, e tudo o que ela projecta, ao nível da criatividade, da tolerância, da diversidade, da inclusão e da independência, como Manchester. Nunca saberemos se esses valores estiveram na base do ataque. Mas pode dizer-se que constituem a antítese do que o Daesh, que reivindicou o atentado, representa, como foi lembrado por Tim Jonze no The Guardian. “You’ve got the wrong city if you think hate will tear us apart”, escreveu depois dos ataques Dave Haslam, um dos DJ que passaram pelo mítico clube Haçienda, numa alusão a uma outra conhecida canção dos Joy Division: Love will tear us apart. A mensagem, que tem sido repetida nas últimas horas, é clara: apesar do ataque, em Manchester, professa-se a ligação entre todos e o desejo de continuar com um estilo de vida em que a música e a cultura surgem como um dos símbolos mais fortes de celebração da existência. Ao longo dos anos, em diversas manifestações culturais pelas quais a cidade ficou conhecida, é como se a música tivesse funcionado como essa utopia e que, independentemente da origem, da idade, da cor da pele, da religião, da carteira, da classe social ou da roupa, todos pudessem unir-se e partilhar os mesmos valores. Aconteceu isso, por exemplo, com a experiência da editora Factory ou do clube Haçienda, exemplos de paixão e independência, que influenciaram gerações, apesar de a cidade, na segunda metade dos anos 1970 e início dos anos 1980, ser bastante diferente da de hoje. A meio dos anos 1970, em Londres, os Sex Pistols e os punks olhavam com raiva para o estado do mundo. Em Manchester acontecia o mesmo, mas anos mais tarde também se começou a olhar para dentro, com desespero, e sem ironia, e grupos como Joy Division, Durutti Column – que gravaria um álbum em Lisboa intitulado Amigos em Portugal – ou A Certain Ratio, todos reunidos na editora Factory de Tony Wilson, davam nas vistas. Com o fim dos Joy Division, depois do suicídio do cantor Ian Curtis, e o nascimento dos New Order, uma nova era é prenunciada, com música mais física, tecnológica e intercultural, reflectindo as diversas miscigenações culturais da cidade, abrindo caminho para a cultura acid-house e para a afirmação de grupos como Stone Roses ou Happy Mondays. É a época de ouro do Haçienda, onde todas as mesclas sociais são possíveis, como é retratado no documentário 24 Hour Party People (2002). Nos anos 1990, quando as indústrias culturais e criativas passaram a constar da agenda política, Manchester era invariavelmente referida como um exemplo de como uma cidade que anteriormente parecia fragilizada havia ganho uma nova dinâmica. Em termos urbanísticos, zonas industriais anteriormente esquecidas foram recuperadas e as actividades culturais, em particular a música, emergiram como a sua principal montra de afirmação. Apostou-se na atracção de massa crítica, através da promoção da tolerância e de políticas de imigração progressistas, ao mesmo tempo que se projectava um ambiente cultural vibrante, com um planeamento urbano capaz de proporcionar qualidade arquitectónica. Não espanta que nesses anos um dos principais directores criativos na operação de revitalização da cidade tenha sido Peter Saville, um conhecido designer que havia alcançado fama a desenhar as capas dos discos dos Joy Division e New Order, num estilo depurado, minimalista, eterno. Numa conferência realizada em 2009, no âmbito da ExperimentaDesign, dizia que o seu desafio “era perceber como Manchester podia ser única, original e moderna”. Hoje o cinzento industrial do Norte de Inglaterra ainda se sente por aquelas bandas, mas acima de tudo vislumbra-se o caleidoscópico vibrante de uma cidade cosmopolita. É ali que acontece um dos festivais multidisciplinares mais estimulantes da Europa na actualidade – o Manchester Internacional Festival, que decorre todos os anos em Junho – e é também ali que está a ser construído um novo e gigante centro de artes pelo arquitecto Rem Koolhaas. A cidade vive dias de luto – mas a música não se silenciará. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração cultura suicídio ataque social luto
Facebook deixa páginas com muitos likes ignorar regras
Celebridades, políticos e páginas com muitos seguidores seguem regras especiais no Facebook. A rede social diz que o objectivo é garantir que pontos de vista controversos não são eliminados, mas uma investigação do canal britânico Channel 4 apresenta o dinheiro como outro argumento. (...)

Facebook deixa páginas com muitos likes ignorar regras
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Celebridades, políticos e páginas com muitos seguidores seguem regras especiais no Facebook. A rede social diz que o objectivo é garantir que pontos de vista controversos não são eliminados, mas uma investigação do canal britânico Channel 4 apresenta o dinheiro como outro argumento.
TEXTO: O Facebook admitiu que as páginas mais populares têm direito a excepções quando partilham conteúdo problemático. Mesmo com várias publicações que violem as regras do site (por exemplo, imagens de violência), estas páginas não podem ser eliminadas directamente pelas pessoas contratadas para rever o conteúdo do site. Em vez disso, passam por aquilo que a empresa chama de shielded review (“revisão à porta fechada”). O processo é explicado num documentário do canal britânico Channel 4, que enviou um repórter para trabalhar, à paisana, na CPL Resources, em Dublin, uma empresa contratada pelo Facebook para fazer a moderação de conteúdo no Reino Unido. O objectivo era perceber o trabalho das pessoas que têm o poder de decidir sobre o que deve, e não deve, ser publicado na rede social. Durante o período de formação, um moderador da CPL Resources diz ao repórter que páginas extremistas como a organização ultranacionalista Britain First não são logo eliminadas, mesmo quando partilham várias publicações racistas, porque “têm muitos seguidores, e por isso geram uma grande receita ao Facebook”. Apesar de queixas repetidas, a página só foi removida do site em Março de 2018, depois dos líderes serem detidos por uma série de crimes de ódio contra muçulmanos. Em teoria, páginas do Facebook com cinco ou mais publicações, vídeos ou imagens apagadas por violar as regras do site são logo eliminadas. As excepções deviam ser reservadas apenas a páginas de agências noticiosas e governos que precisam de ter as publicações avaliadas por uma equipa de revisores adicional para perceber se têm mesmo conteúdo proibido (como nudez e violência) ou estão a relatar acontecimentos. Em Outubro de 2016, por exemplo, a rede social foi criticada por eliminar imagens de Kin-Phuc, a criança a correr nua para fugir de uma bomba de napalm, durante a guerra do Vietname, apesar do seu elevado relevo histórico. Porém, como o Channel 4 mostra, publicações problemáticas de páginas muito populares como celebridades ou grupos extremistas também são enviadas para uma equipa do próprio Facebook rever à porta fechada. Com 900 mil seguidores, a página ultranacionalista de Tommy Robinson, o antigo líder da organização britânica anti-islão English Defense League (EDL), é outro exemplo de uma página com regras especiais. A rede social confirma o processo, mas diz que não é uma questão de dinheiro. “Isto é sobre discurso político. As pessoas estão a debater coisas muito sensíveis no Facebook, incluindo a imigração. Não querer mais imigração em certas partes do mundo, pode ser um ponto de vista legítimo”, explica Richard Allan, o responsável pelas soluções políticas do Facebook, quando foi contactado pelo Channel 4. “Ter mais pessoas responsáveis pela revisão do conteúdo em páginas onde está a ocorrer debate faz todo o sentido, e acho que as pessoas esperam que nós sejamos cuidadosos antes de remover os seus pontos de vista políticos. ” Para Allan, a informação dada pelos moderadores do documentário resulta de rotinas de formação desactualizadas com material incorrecto. Contactado pelo PÚBLICO, a equipa da rede social remete para a transcrição completa da entrevista entre Richard Allan e o jornalista do canal de televisão. Para o Facebook, a análise apresentada pelo canal de televisão não é correcta. “Fazemos dinheiro através de anúncios na rede social. Tal como quando se vê televisão, a experiência é interrompida por um breve anúncio. Isso não está associado a qualquer tipo de conteúdo. Conteúdo chocante não nos dá mais dinheiro”, diz Richard Allan, no documento. O responsável pelas soluções políticas do Facebook explica ainda que, por vezes, são os próprios pais de crianças a serem atacadas em vídeos violentos que não querem ver as publicações fora da rede social para que mantenham como um alerta. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em declarações ao Channel 4, Roger McNamee, um dos primeiros investidores do Facebook, argumenta, porém, que “é desejável ter pessoas a passar mais tempo no site quando se tem um negócio baseado em publicidade” e que, por isso, que “conteúdo extremista pode ser visto como uma fonte de lucro”. Apesar de discordar com essa visão, o Facebook admite que os erros com o processo de revisão apresentados no documentário são uma fraqueza. Outro dos problemas foi a forma como os moderadores eram treinados para ignorar provas de que utilizadores com menos de 13 anos usavam o site. “A pessoa tem de admitir, ela mesma, que é menor. Caso contrário, fingimos que somos cegos", disse um dos responsáveis pela formação, ao jornalista. De acordo com a rede social, desde as filmagens a equipa de moderadores da CPL Resources, em Dublin, já teve acesso a novas formações. A controvérsia com o documentário, chega numa altura em que várias redes sociais estão a ser alvo de escrutínio nos EUA sobre a forma como não impedem conteúdo problemático e ofensivo de circular nos seus sites. Esta terça-feira, executivos do Facebook, Twitter e Youtube vão prestar declarações à Comissão de Assuntos Judiciários da Câmara dos Representantes, nos EUA, sobre como estão a tentar resolver o problema.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Nova direcção do grupo xenófobo Pegida demite-se
Kathrin Oertel queixou-se da intromissão do antigo dirigente, Lutz Bachmann. (...)

Nova direcção do grupo xenófobo Pegida demite-se
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2015-02-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Kathrin Oertel queixou-se da intromissão do antigo dirigente, Lutz Bachmann.
TEXTO: A nova líder do Pegida, o grupo anti-islão da Alemanha, demitiu-se uma semana apenas após ter chegado ao lugar. O motivo da decisão, explicou a demissionária Kathrin Oertel, é a continua intromissão do antigo dirigente, Lutz Bachmann. Lutz Bachmann saiu da liderança do grupo na semana passada, devido à polémica provocada por uma fotografia sua mascarado de Hitler. Quatro outras figuras do corpo dirigente do Pegida demitiram-se com Oertel. Um deles disse ao jornal Bild que as demissões se deveram ao facto de Bachmann continuar a exercer a sua influência. Além disso, explicou a fonte da revista, o grupo irmão do Pegida, o Legida (de Leipzig), mais radical, está a assumir um papel cada vez mais determinante nas acções do grupo. O Pegida chegou a juntar manifestações de 25 mil pessoas em em várias cidades alemãs, sobretudo em Dresden, onde o grupo nasceu, para protestar contra os imigrantes muçulmanos. Pegida é a sigla do grupo cujo nome alemão significa "patriotas europeus contra a islamização do ocidente". O grupo começou também a ser cortejado por vários dirigentes do partido eurocéptico Alternativa para a Alemanha. A rápida progressão das marchas, e o número crescente de pessoas nelas, levou a chanceler Angela Merkel a participar numa marcha contra a intolerância e o racismo. Na sua última manifestação em Dresden, no domingo, apenas participaram 12 mil pessoas, diz a AFP. Na página do grupo na rede social Facebook, o Pegida explica que a demissão é temporária e deve-se aos ataques dos media - com os quais o grupo se recusa a falar, acusando-os de mentir. "A verdade é que Kathrin se demitiu do seu posto por enquanto. Isto aconteceu devido às mensagens hostis e às ameaças que lhe chegaram de forma maciça e que prejudicaram a sua carreira", diz o comunicado do grupo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave racismo social corpo
Líderes do partido grego Aurora Dourada vão ser julgados
Processo envolve 72 pessoas, na maioria membros da Aurora Dourada, acusadas de “participação em organização criminosa”. (...)

Líderes do partido grego Aurora Dourada vão ser julgados
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.15
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Processo envolve 72 pessoas, na maioria membros da Aurora Dourada, acusadas de “participação em organização criminosa”.
TEXTO: Os juízes do tribunal de recurso de Atenas decidiram nesta quarta-feira que 72 pessoas por participação em organização criminosa ligada ao partido de extrema-direita Aurora Dourada vão ser julgadas. Entre os acusados há vários dirigentes e ex-deputados, assim como o fundador e líder do partido, Nikos Michaloliakos. A acusação principal é a “participação em organização criminosa”, mas também serão julgados por tentativa de assassínio, posse de armas e violência racista. A investigação começou há 15 meses, depois do músico anti-fascista Pavlos Fyssas ter sido assassinado na rua por um apoiante da Aurora Dourada, em Setembro de 2013. A data do julgamento ainda não foi marcada, mas deverá ocorrer antes de Maio, que é quando chega ao fim a detenção provisória do líder Michaloliakos, do antigo porta-voz do partido Ilias Kasidiaris, e de cinco outros deputados do partido detidos, diz a AFP. Segundo o diário grego Kathimerini, os acusados incorrem em penas que podem ir até aos 20 anos de prisão. O partido de extrema-direita Aurora Dourada entrou pela primeira vez no Parlamento grego nas legislativas de 2012, impulsionado pela crise. Nas eleições há duas semanas ficou em terceiro lugar (atrás do Syriza e da Nova Democracia) elegendo 17 deputados no Parlamento de 300. Destes, 13 foram reeleitos a 25 de Janeiro. Nos últimos anos, tem sido ligado a diversos actos de violência contra imigrantes e militantes de esquerda. O partido tem laivos neonazis – o seu símbolo parece uma suástica e militantes já foram filmados a fazer a saudação nazi.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência tribunal prisão racista assassínio
AR organiza em Maio “grande cimeira” sobre problemas das migrações
O parlamento português está há quase um ano a preparar uma cimeira em que estarão presentes os presidentes dos parlamentos da União Europeia e os presidentes dos parlamentos da bacia do Mediterrâneo para debater o tema que está "em cima da mesa", afirmou Assunção Esteves. (...)

AR organiza em Maio “grande cimeira” sobre problemas das migrações
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O parlamento português está há quase um ano a preparar uma cimeira em que estarão presentes os presidentes dos parlamentos da União Europeia e os presidentes dos parlamentos da bacia do Mediterrâneo para debater o tema que está "em cima da mesa", afirmou Assunção Esteves.
TEXTO: Antes do minuto de silêncio pelos imigrantes ilegais que morreram no Mediterrâneo que se fez nesta quarta-feira na Assembleia da República (AR), a presidente Assunção Esteves anunciou a realização a 11 e 12 de Maio de uma "grande cimeira" com a participação dos presidentes dos parlamentos da União Europeia e da bacia do Mediterrâneo para debater o tema em causa. “Esta tragédia chama a atenção das lideranças, sobretudo europeias”, disse Assunção Esteves, depois de os vários partidos se terem pronunciado sobre os imigrantes ilegais que tentam chegar à Europa. “Quero juntar-me firmemente às intervenções que aqui tiveram lugar”, começou por dizer Assunção Esteves. No final da intervenção adiantou que “o Parlamento português está desde há quase um ano a preparar uma grande cimeira em que estarão presentes os presidentes dos parlamentos da União Europeia e os presidentes dos parlamentos da bacia do Mediterrâneo para debater este tema”. Pretende-se que seja um encontro “com sentido prático”, do qual resulte “um rol de medidas concretas de curto e de médio prazo que serão apresentadas precisamente pela presidência portuguesa [da assembleia parlamentar para o Mediterrâneo] ao Conselho Europeu, à Comissão Europeia e ao Parlamento Europeu", afirmou a presidente da AR, para quem este é “o tema que se põe em cima da mesa” e que tem de ser resolvido “sem olhar a esforços”. Assunção Esteves lembrou que o parlamento português tem actualmente a presidência da assembleia parlamentar para o Mediterrâneo, tendo conduzido o seu mandato sob o tema único das migrações. “Hipocrisia”A palavra “hipocrisia” foi repetida por vários deputados. “Tem que acabar aqui o momento da hipocrisia. É fácil falarmos do drama e é fácil falarmos da tragédia; é fácil lamentarmos os milhares de mortos que tem havido, mas é preciso mais”, afirmou o deputado do PSD António Rodrigues, para quem o problema dos naufrágios no Mediterrâneo não é apenas de Itália ou da União Europeia, mas global, e não se resolverá “só com reforço do dinheiro”. O líder parlamentar do CDS/PP, Nuno Magalhães, sublinhou que o facto de os recentes naufrágios não terem sido “uma tragédia isolada” torna a questão “ainda mais brutal”. É “inaceitável” que o Mediterrâneo se esteja a transformar “numa vala comum”, disse. Nuno Magalhães acredita que do Conselho Europeu, marcado para esta quinta-feira, não sairão “infelizmente soluções milagrosas”: “Não se resolverá o problema, mas a indiferença não é nunca solução face a este horror. ” E acrescentou: “Não podemos acreditar que uma mera reunião de um Conselho Europeu, ainda que ao mais alto nível e convocada de urgência, possa resolver este problema. Mas temos o dever de acreditar, diria até de exigir que saiam medidas concretas, não declarações de intenções, de princípios. ”Essas medidas passam, na opinião do centrista, por “não haver qualquer tipo de condescendência” em relação às “máfias organizadas” que prometem levar os imigrantes até à Europa: “Temos de ser absolutamente implacáveis no combate a essas redes”, afirmou, defendendo igualmente que o problema é de todos, “não é de Roma, de Madrid, é também de Berlim, de Copenhaga”. “E aqui, muitas vezes, a separação norte-sul nos conselhos e no interesse e atenção dados a estas matérias gera situações de ambiguidade, para não dizer mesmo de hipocrisia. Era bom que isso não acontecesse no Conselho Europeu de amanhã”, frisou. Também o comunista António Filipe usou a palavra “hipocrisia” para se referir aos dirigentes europeus que “lamentam as consequências” destas tragédias, “depois de terem promovido as causas”. E fez questão de sublinhar que a União Europeia “não pode lamentar os mortos e expulsar os sobreviventes”: “As pessoas que conseguem chegar à Europa nestas condições têm de ser tratadas com dignidade. Exige-se que os países da EU tratem de forma humana e digna essas pessoas sem ceder aos ventos de racismo e de xenofobia”, disse o comunista, para quem esses “ventos”, a par das máfias envolvidas nas tragédias, têm de ser “combatidos de forma intransigente”. O líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, afirmou que o que tem acontecido no Mediterrâneo “é um horror e uma vergonha”. “Há que ajudar com actos, e não com palavras, a paz e o desenvolvimento no sul do Mediterrâneo. Não esquecendo os erros que nos últimos anos aí foram cometidos pela Europa e pela União Europeia. ”“Os estados europeus da União Europeia e não só, do Mediterrâneo, têm de encontrar soluções humanas, práticas”, disse. Também para Helena Pinto, do BE, “o genocídio nas águas do Mediterrâneo tem de ter um fim” e “a Europa e a União Europeia” têm a “responsabilidade de o travar”. São precisas “soluções imediatas que coloquem a vida e a dignidade humanas em primeiro lugar”, disse. O deputado dos Verdes, José Luís Ferreira, defendeu igualmente alterações às políticas de imigração da União Europeia.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD BE
D. Carlos Azevedo: “Maria não vem do céu por aí abaixo”
Delegado pontifício da Cultura no Vaticano diz que é o momento de se falar com a “linguagem exacta” sobre o que se passou há 100 anos na Cova da Iria: foram visões místicas, não aparições. O Papa Francisco anunciou ontem a canonização dos pastorinhos para 13 de Maio. (...)

D. Carlos Azevedo: “Maria não vem do céu por aí abaixo”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Delegado pontifício da Cultura no Vaticano diz que é o momento de se falar com a “linguagem exacta” sobre o que se passou há 100 anos na Cova da Iria: foram visões místicas, não aparições. O Papa Francisco anunciou ontem a canonização dos pastorinhos para 13 de Maio.
TEXTO: D. Carlos Azevedo, bispo-delegado do Conselho Pontifício da Cultura no Vaticano, defende que a leitura de Fátima não pode ser literal, mas teológica, “há uma interpretação a fazer” porque os fenómenos místicos “são naturais”. E acredita que o Papa Francisco “vai iluminar a actualidade da mensagem de Fátima” sobre a humanidade e a co-responsabilização dos cristãos perante o futuro: “Se não mudarmos os critérios, vamos ter consequências negativas dos nossos comportamentos. ”Entre o trabalho que desenvolve hoje na área cultural no Vaticano e a investigação nos seus arquivos sobre a Igreja portuguesa, adianta que o segundo grande congresso de música sacra vai realizar-se em 2018 em Roma, desta vez destinado aos compositores contemporâneos, e que a consulta de processos até agora intactos tem revelado histórias de personagens que não quiseram ser bispos e cartas desconhecidas de D. António Barroso, cujo processo de canonização está em curso. Nos arquivos do Vaticano encontrou documentos que mostram como foi restaurada a diocese de Leiria e reaberta a Nunciatura Apostólica em Portugal. Teve a surpresa de, sendo acontecimentos contemporâneos dos de Fátima, não ver ligação entre eles. Qual a importância destes episódios para a história da Igreja em Portugal?Encontrei dados inéditos. Havia a questão de a diocese de Leiria ter sido restaurada em Janeiro de 1918, o bispo só ter sido nomeado em 1920. Não se sabia porque demorara tanto tempo e encontrei essa documentação. Primeiro, a restauração da diocese. Alguns historiadores diziam que fora restaurada em 1918, talvez já por influência das visões de 1917. Sabíamos que o movimento [para a sua reabertura] vinha quase desde que a diocese fora suprimida no século XIX, mas especialmente a partir de 1914. Foi até criado um jornal de propósito em Leiria para lutar pela restauração. Esse movimento teve algum resultado junto da nunciatura, na altura com um encarregado de negócios, Aloisi Masella, porque em 1910 tinha sido suspensa a presença do núncio. Fez conhecer ao secretário de Estado do Vaticano toda essa vontade. Masella é muito ajudado por António Antunes, natural de Leiria e vice-reitor em Coimbra. Os dois tinham-se conhecido como estudantes na universidade em Roma. António Antunes ajuda-o a criar todo o processo de justificação para a restauração da diocese. A novidade é que em 30 de Abril de 1917, a quinze dias das primeiras visões, ele envia uma informação ao secretário de Estado a dizer que está decidida a restauração da diocese e que falta escolher a data oportuna para o dar a conhecer: prova que não teve absolutamente nada a ver com as visões, não havia notícia disso. Depois conto por que se atrasou a escolha do primeiro bispo. António Antunes, que tinha ajudado ao processo de restauração, é o escolhido pelos bispos. Era de Leiria conhecia a diocese e não se falava ainda em nada de visões. Mas ele estava doente e não queria ser bispo; achava que não tinha energia. A Santa Sé cede e o bispo de Coimbra pede-o para auxiliar. Acabaria por o suceder [mais tarde]. É assim que [num novo processo aberto, o padre] José Alves Correia da Silva é escolhido para Leiria. Tem três bispos que votam nele e três em Agostinho de Jesus e Sousa. O Núncio envia o processo e remete a decisão para Roma. Da parte de Portugal não houve qualquer pressão. Como historiador, isto é conhecer a memória, é um serviço que se pode fazer à Igreja, estando em Roma, e conhecer a nossa realidade histórica. Por que é que o pároco de Fátima que estava a reunir dados sobre o fenómeno de Fátima não os enviava para o Patriarcado de Lisboa [a que pertencia então Leiria]?Ele ouvia sempre os pastorinhos passados uns dias de cada uma das visões, mas nunca enviou informação para Lisboa. Acreditava que viria um bispo para Leiria e que depois lha podia entregar directamente. Há aqui todo um conjunto de razões que se tornam mais explicáveis devido a esta investigação. Tenho centenas de páginas de documentação inédita que vou encontrando nas caixas que vou abrindo. Publiquei três livros e tenho mais em andamento, fora do trabalho pastoral. Em todo o seu livro Fátima, das Visões dos Pastorinhos à Visão Cristã nunca fala em aparições, mas sim em visões imaginativas. Porquê?Chegou o momento para falarmos com linguagem exacta. Joseph Ratzinger no ano 2000, quando fez o comentário teológico à última parte do segredo de Fátima, usou sempre a palavra visões e esse é o rigor teológico. O grande teólogo Karl Rahner também escreveu um livro sobre visões e profecias, usando a palavra visões. Esse é o termo exacto. As visões, de vários tipos, são fenómenos místicos, espirituais, não físicos. Claro que uma pessoa ao descrever uma visão projecta os seus arquétipos, o que tem na sua mente, a sua memória, e na mensagem que recebe já entra a fé. Há uma mensagem que a transcende e que tem de ser interpretada. É a revelação particular que depois tem de ser interpretada à luz do evangelho e da doutrina, segundo as regras que a Congregação da Doutrina da Fé publicou em 2011, mas já conhecidas desde 1998. Há muitos fenómenos de visões. Nós, párocos, conhecemos sempre alguém que nos vem dizer que tem visões. Estes fenómenos são naturais, sobretudo em períodos de crise, de dificuldade, ou da própria pessoa ou do mundo, em período de guerra, como foi o caso de 1917. É impressionante a densidade de factos do ano de 1917 em Portugal e no mundo. Há uma interpretação a fazer e essa interpretação é a da presença maternal de Maria na vida dos cristãos, como disse João Paulo II quando foi a primeira vez a Fátima. Todos os cristãos sentem essa presença mas alguns podem-na sentir de modo mais intenso. Isso então é uma visão, uma experiência mística. A presença de Maria não vem do céu por aí abaixo. Essas descrições são mais simples, mais imediatas, para entender o que é uma visão mística, mas precisamos de usar a linguagem exacta para não cair no ridículo. Gostava que este livro servisse para quem não crê ter respeito para com o episódio, ainda que não acredite. E integra disciplinas como a psicologia?A psicologia e a teologia espiritual. São estes dois ramos do saber. A teologia espiritual tem muito de psicologia, e descreve a diferença entre uma alucinação, sugestão, a diferença entre vários elementos de uma experiência psicológica. Os pastorinhos viveram uma visão imaginativa?Sim, conforme Ratzinger classificou já no ano 2000 e o próprio Rahner já o tinha feito nos anos de 1940. Está contra uma "acção milagreira de Deus", defende que os fenómenos místicos não podem ir contra os conhecimentos científicos e devem atender a cultura sua contemporânea. Olhamos para a história dos santos e milagres da igreja e está povoada de pastorinhos. Hoje não havia lugar para eles. O que fica, para a Igreja?Lugar para a mística. Há muita experiência urbana de grandes místicos. Por exemplo, Adriana von Speyr, que é pouco conhecida em Portugal, que foi uma grande mística com o teólogo Urs von Balthasar no século XX. De certo modo podemos comparar com São João da Cruz com Teresa de Ávila. Adriana era uma mística que tinha visões. Acontecem no século XX coisas reais, profundas, muito evangélicas e com base nos critérios que dão autenticidade. E continuam a acontecer. Temos que estar despertos para essas realidades na vida da Igreja actual. No seu livro pergunta como é que Fátima emerge actual, quando o factor religioso, debilitado no Ocidente cristão e vigoroso num Islão intolerante, se traduz em aspiração espiritual. Que resposta encontrou?Encontrei uma resposta clara e penso que o Papa Francisco ao ir a Portugal vai iluminar a actualidade da mensagem de Fátima. O fenómeno da Cova de Iria acontece na Primeira Guerra Mundial e aponta já para a Segunda Guerra - "se não mudarem os critérios de vida, vem uma guerra pior". Agora, o Papa Francisco tem falado numa terceira guerra "em episódios". Nestes últimos dias temos recebido notícias de um perigo de armamentos, ameaças a que é preciso dizer "tenham juízo". É preciso um apelo de Deus, ter confiança no futuro com base na mudança de critérios políticos, económicos, como o Papa tem dito, para bem de toda a humanidade. A palavra fundamental no apelo de Fátima - "se não mudardes, o mal vai vencer" - é a conversão, que muitas vezes se aplica só a uma questão muito individual e não à História. [O fenómeno de] Fátima é extremamente profético, as crianças tiveram um carisma profético. Aquilo que disseram marcou a história da humanidade, a ponto de João Paulo II sentir que se aplicou à sua própria vida. A terceira parte do segredo abre mesmo para o futuro, não ficou reduzida ao Papa, aplica-se à humanidade actual, ao seu futuro: se não mudarmos os critérios, vamos ter consequências negativas dos nossos comportamentos, de uma economia que dá cabo da vida das pessoas. Tudo isto é muito concreto. O apelo de Fátima à conversão emerge muito actual. Num mundo agitado e divido por um Brexit, populismos e ameaças, espera essa mensagem do Papa?Vivemos em todo o mundo, não apenas na Europa, uma complexidade de situações, com populismos e grandes impérios seduzidos por essa atitude, não apenas os pequenos países como a Venezuela. Temos o problema das migrações que está a desestabilizar a aparente segurança da Europa, temos uma realidade africana cheia de dramas e uma dificuldade em encontrar líderes que vejam o bem comum do povo. Em todo o mundo há situações de ausência do bem comum, do bem da humanidade. O Papa vem ao centenário de Fátima carregar às suas costas o drama actual da humanidade e prevenir para terem cuidado, a continuar assim isto não terá grande saída, não haverá um êxodo de libertação, mas de desgraça. Na vinda de Paulo VI a Fátima ficou célebre a expressão "homens, sede homens" na homilia. É preciso que a humanidade seja mais humana, tenha em conta o bem comum. Não é só a globalização económica que tem consequências nos outros. As nossas atitudes no dia-a-dia também têm no futuro da humanidade. Somos co-responsáveis pelo mal da humanidade. Enquanto permitirmos, muitos ditadores são ditadores por voto popular, como se viu agora na Turquia. É preciso ter consciência do bem e não ir na sedução fácil de um líder que manobra o povo. Propõe uma leitura teológica de Fátima, não literal: a visão do inferno como apocalipse bíblico, a Rússia como Babilónia, a execução do bispo vestido de branco como perseguição à Igreja. Esta Fátima de que fala não está longe do que motiva os seus peregrinos?Se interpretamos a Bíblia, que é a palavra de Deus, aplicando ao contexto do nosso tempo, muito mais devemos aplicar uma mensagem que é particular. A própria Lúcia, ao longo das suas memórias, vai interpretando, digerindo, porque vai ganhando cultura espiritual e teológica, que não tinha aos 10 anos. É espantoso como crianças com aquela idade, num lugar sem cultura teológica, recebem uma mensagem com uma densidade tão forte e implicações tão grandes na história da humanidade. Não é essa perspectiva que tem mobilizado os peregrinos que vão a Fátima, seguramente a sua maioria. São histórias pessoais. Como se fará essa ponte?Esse é o trabalho da mediação que a Igreja é chamada a fazer. Os pastores na Igreja são chamados a acolher todas as pessoas com o nível de ansiedade espiritual com que chegam. Cada um, com a carga das suas feridas e história pessoal, entrega e espera uma consolação espiritual da vida e uma esperança renovada. Mas a mensagem de Fátima é também de inquietação, de conversão, e esta dimensão é mais difícil de fazer passar. Exige um trabalho pedagógico da Igreja para que se possa ajudar a que a pessoa verifique que as suas próprias feridas são fruto dos males da sociedade. As causas são da própria história, como quando as pessoas iam a Fátima na guerra colonial, ou na emigração. O seu sofrimento é mais largo, tem causas, e é preciso tratar essas causas. O pastor é chamado a ajudar as pessoas a perceber os seus dramas, mas não a personalizá-los, no sentido de uma privatização. É muito importante que a fé seja personalizada, que cada um tome consciência, mas que a perceba incluída na comunhão da Igreja e de toda a sociedade. A igreja é chamada, a partir do sofrimento pessoal, a dizer por que cada um sofre, a ir às razões profundas do mal e a tentar curar a sociedade em que o cristão está inserido. Vai também à realidade da política, porque se houve mensagem de visões no mundo que fosse política, foi exactamente Fátima. Hoje, os teólogos escrevem sobre Fátima, dizem isso, mas fica muito em congressos, ao nível de uma elite. É preciso ajudar as pessoas a terem uma amplitude da sua experiência pessoal e a inclui-la em algo mais largo e mais profundo. Fátima teve, nas suas palavras, períodos de “apropriação”, que significa manipulação, especialmente pela ideologia nacionalista. O que propõe agora implica uma sintonia dentro da própria Igreja em relação a Fátima que historicamente também não se sente, com sectores críticos em relação ao fenómeno. É preciso transformar algumas elites que já têm esse sentido crítico em linguagem acessível e comunicação que ajude os próprios peregrinos a fazerem um itinerário mais profundo, para além da razão que os leva lá. Esse é um serviço que é necessário multiplicar, desenvolver, exige uma conversão pastoral como o próprio Papa Francisco tem dito e uma conversão de critérios para que a transmissão da fé seja mais exigente, mais cristã. As atitudes de sofrimento, da relação com Deus, podem tornar-se rapidamente fanáticas, fundamentalistas. Vemos noutras religiões, mas também no cristianismo, na medida em que reduzimos a mensagem ao nosso próprio problema. Jesus não veio fazer isso: católico quer dizer universal [do grego katholikos]. Quando o Papa fala ele está a defender os interesses da humanidade, isso é que é o serviço. Temos de ajudar cada um a sair de si, da sua concha, para implicar-se com a transformação da sociedade. Este trabalho não é fácil. É mais fácil dar explicações mágicas da realidade do que as que implicam transformação pessoal. Na história dos outros santuários marianos também vemos oração, penitência, conversão. Em que Fátima é diferente?É diferente devido a todo o contexto histórico em que ocorreram as visões, e devido à implicação da mensagem, concretamente a parte do segredo que foi conhecido já nos anos 1940, e o que foi escrito em 1944 mas só foi conhecido no ano 2000. Essa leitura que tem implicações históricas deu a visão concreta aplicada à transformação da história. Nenhum outro santuário tinha esta amplitude profética - houve [nos outros] uma questão mais espiritual, de renovação interior, mais de uma oração de comunhão com Deus, de ter o olhar de Deus sobre a vida. Curiosamente Fátima diz que o olhar sobre a vida leva a olhar de modo diferente o mundo, e faz esta passagem, do ponto de vista pessoal para as consequências. A visão do inferno [foi transmitida] com linguagem própria da época, é preciso perceber o que significa hoje. Daí o esforço teológico que tem de ser feito, e que tento recolher da reflexão dos teólogos que já têm avançado alguma iluminação sobre as várias mensagens de Fátima. E percebemos que elas têm um alcance como não era habitual em outros santuários. Não voltamos a um certo profetismo, como foi o nacionalista?Lúcia foi a que ficou com a responsabilidade de transmitir a perspectiva. Não foi fruto de sebastianismos ou visões de missão profética de Portugal no mundo que depois podemos aplicar e comparar. É a própria mensagem que está lá contida, no que Lúcia escreveu, nas memórias, na parte da comunicação da mensagem essencial. A experiência de João Paulo II personalizou Fátima?O Papa João Paulo II foi fundamental na relação com Fátima sobretudo pela devoção pessoal a Maria, com o seu lema totus tuus, e com a sua própria história universalizar ainda mais Fátima - na relação com o drama e os problemas da humanidade e com o atentado ter sido a 13 de Maio. Não se impôs a perspectiva do milagre?É sempre o risco da religião. Somos seguidores de Jesus que tentou libertar-nos dessa visão. Ele sempre disse "a tua fé te salvou", "foste tu", "tu é que acreditaste e conseguiste vencer o teu problema". Ele sempre relacionou a capacidade de acolher na fé os problemas que temos e esse é que é o sentido que damos à palavra milagre. É a renovação excepcional que alguém é capaz de ter devido à fé. Por exemplo, o Papa Pio XII foi ordenado no mesmo dia 13 de Maio de 1917, e daí ele ter pessoalmente sentido uma implicação em Fátima. Para quem não tem fé são meras coincidências, para quem tem fé não são. A fé transforma os factos numa implicação pessoal. Relativamente à pequisa que tem feito nos arquivos do Vaticano, que mais dados novos tem encontrado sobre a história mais recente da Igreja portuguesa?Como andei nas caixas dos processos dos bispos por causa da restauração da diocese e a nomeação do bispo, encontrei, por exemplo, personagens que não aceitaram ser bispos e que tiveram uma pressão enorme para o ser. Encontrei também muitas cartas desconhecidas de D. António Barroso, que não estavam no processo de canonização. A carta que escreve para o núncio sobre a escolha dos bispos [à época] é de um sentido de Igreja muito profundo. Não podemos esquecer que os bispos só puderam escolher os bispos a partir de 1910, porque antes era o rei. A Igreja só teve liberdade de escolher os bispos a partir de 1910. Era uma coisa nova. E, ao procurar coisas sobre a Inquisição, para o Terramoto Doutrinal, também encontrei sermões de autos de fé inéditos de bispos portugueses. Já transcrevi todos e estou a agora a fazer a introdução e a preparar a publicação. É este o contributo para dar a conhecer um fenómeno muito discutido que era a Inquisição, como era aproveitada a Bíblia, no caso dos sermões, e como se pode estragar a palavra de Deus para condenar inocentes. Encontrei algo de dramático que tem de ser lido no contexto da época, mas diz sobre a responsabilidade dos pastores. Como dizia João Moutinho [em Terramoto Doutrinal], a igreja em Portugal é herética. Ao aceitar a Inquisição, está a aceitar uma instituição que é contrária ao evangelho, portanto, está em heresia. Foi para Roma trabalhar como delegado-pontifício para a cultura. Em que projecto sob a sua tutela com maior impacto para a Igreja se envolveu?O último foi o grande congresso de música sacra. O documento de música sacra tem 50 anos. Comecei a preparar a comemoração da data há três anos. Foi feito um inquérito de 40 perguntas às conferências episcopais de todo o mundo sobre como vai a música. Recolhemos as respostas num documento de 100 páginas e a partir daí conseguimos este congresso de 400 pessoas em Roma [foi de 3 a 5 de Março], com a presença do santo padre no último dia. Foi gente de todo o mundo. Só de Espanha foram 40 pessoas. De Portugal infelizmente não houve muita sensibilidade, porque a conferência episcopal não fez comunicar isso à Igreja, foi a conferência episcopal convidada a estar representada e teve uma presença de cinco pessoas. Dos EUA foram 20, do Brasil 15. Houve uma sensibilidade grande para a questão da música. Qual é a mudança que se perspectiva?Com o concílio Vaticano II mudou o paradigma das línguas. Antes era em latim: uma música composta em latim servia para todo o mundo. Ao mudar a língua vernácula, mudou o paradigma. Algumas igrejas foram capazes de manter uma certa qualidade com compositores que escreveram para uma nova realidade, mas o nível baixou imenso e as pessoas vão a uma igreja e não saem de lá de alma cheia, do ponto de vista da música. Muitas vezes é uma banalidade, prefere-se música light. A liturgia exige qualidade e isto foi uma reflexão para todo o mundo. As igrejas do norte da Europa conseguiram adaptar-se mais facilmente com alguma qualidade, mas na parte sul, na América latina, a África teve alguma adaptação mas é muito rural, começa agora a estudar música para ser capaz de transcrever em partitura a tradição muito concreta do povo. A expressão da fé exige qualidade, como exigem as liturgias. Quando se fala em música sacra pensa-se nas grandes composições do passado. Quando a música gregoriana foi composta ela era cantada nas celebrações. Quando os grandes compositores, como Bach e outros, compuseram a sua música ela era executada nas catedrais. Foi um momento de auge e de grande génio e é necessário continuar a proporcionar. Estamos a preparar um outro congresso para 2018 só para compositores contemporâneos. Que balanço faz do Átrio dos Gentios, de diálogo entre crentes e não crentes?Trabalho mais na valorização da arte e do património e na relação da Igreja com a arte, mas tenho ajudado no Átrio dos Gentios. Fui com o cardeal Ravasi ao Brasil e a Braga. Em todo o mundo é uma experiência que tem deixado eco. As várias conferências episcopais têm procurado prosseguir esta atitude de diálogo. Os problemas da humanidade exigem a colaboração entre os que crêem e os que não crêem. Houve um debate no Parlamento italiano, provocado pelo Átrio dos Gentios, sobre eutanásia com todos os deputados crentes e não crentes. Conseguiram chegar a uma reflexão que faz livrar a leitura destes grandes problemas da humanidade de uma visão religiosa, porque são problemas humanos. Eu posso vê-los do meu ângulo religioso, como um não crente pode até ser mais exigente para com a humanidade nessas situações. A densidade de humanidade está independente de ser crente ou não crente. Os problemas de hoje exigem este confronto e esta abertura. Em 2013, foi conhecida uma acusação de assédio sexual contra si. O que daí resultou?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Trata-se de uma situação que foi dura, acolhi-a com algum sofrimento mas fui encontrando também a reconciliação com a história e sobretudo a procura, na situação nova em que me encontrei, de um sentido, uma ajuda e um trabalho de serviço à Igreja num contexto diferente. O resto não foi nem é comigo. Vivi com atitude de perdão e de misericórdia. O importante é encontrarmos o nosso lugar e respeitarmos a realidade de cada situação. Actualizado às 11h04 de 22. 04. 17 nas referências às áreas cultural e de investigação
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo