Joana Amaral Dias sobre a nudez: “Porque não?”
A cabeça de lista por Lisboa da coligação Agir reconhece que a sua decisão de posar sem roupa na capa de uma revista a um mês das eleições tem uma intenção política. Mas há riscos, dizem especialistas. (...)

Joana Amaral Dias sobre a nudez: “Porque não?”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: A cabeça de lista por Lisboa da coligação Agir reconhece que a sua decisão de posar sem roupa na capa de uma revista a um mês das eleições tem uma intenção política. Mas há riscos, dizem especialistas.
TEXTO: À pergunta sobre a intenção política de surgir sem roupa e a exibir a sua gravidez na capa de uma revista, Joana Amaral Dias responde com outra questão: “Porque não?”Indignada com as interrogações dos jornalistas – ainda que reconheça que “não são uma surpresa” -, a cabeça de lista por Lisboa da coligação Ag!r/PTP/MAS assume ao PÚBLICO que se tratou de uma “decisão pessoal” na “plenitude da mulher e da candidata, que são uma só”, e atira-se à “hipocrisia” da comunicação social e de “muitas pessoas que se dizem libertárias e de esquerda”. “As minhas intenções foram mostrar que a comunicação social é capaz de passar como cão por vinha vindimada pelos programas e propostas eleitorais [dos pequenos partidos], mas depois não larga o osso” quando um candidato assume uma atitude inédita como a sua. A candidata tornou-se a primeira política portuguesa ao posar nua com o companheiro na capa de uma revista que foi para as bancas a um mês das eleições legislativas. As reacções negativas, afirma, “não me põem a nu a mim, põem a nu essa hipocrisia”. E isso não é uma mera constatação, mas um objectivo assumido, além da vontade de falar sobre a sua gravidez de risco, sobre a maternidade e as questões da natalidade. Joana Amaral Dias assume que a sua decisão foi pessoal, embora “trabalhada com as pessoas do Agir”, mas não partilhada com os parceiros de coligação, nomeadamente Gil Garcia, dirigente do Movimento Alternativa Socialista (MAS) e cabeça de lista pelo Porto. Gil Garcia não gostouCerto é que Gil Garcia não gostou do “fait divers”. “Joana Amaral Dias é senhora do seu corpo e livre de usar a sua imagem, mas também é cabeça de lista por Lisboa de uma coligação e deve ter calculado que esta iniciativa ia ser analisada do ponto de vista político. Como tal devia ter sido articulada com a coligação”, diz ao PÚBLICO. Embora afirme que “a coligação não está beliscada”, Gil Garcia não esconde que “preferia que Joana Amaral Dias se distinguisse pela defesa das grandes causas políticas da coligação”, como “a união da esquerda contra as políticas da austeridade” ou “a defesa de uma moratória do serviço da dívida que sufoca os orçamentos do Estado”. “Isto colocou a coligação na boca do mundo, mas não pelos motivos que devia ser”, diz Gil Garcia, sem tirar nenhuma conclusão sobre se isto beneficia ou prejudica a coligação. Que efeitos poderá ter essa imagem na campanha é algo que “logo veremos”, diz Joana Amaral Dias. O consultor de comunicação João Tocha também não arrisca dizer se tal vai beneficiar ou prejudicar a candidata e a coligação, pois considera que isso vai depender da forma como as pessoas interpretam a atitude. “Se entenderem que se trata de oportunismo político, vai funcionar contra ela. Mas se entenderem que a atitude cola ao ADN da candidata e da candidatura, que quer sair fora do carril e usa esta imagem como estratégia para chamar a atenção, pode ser uma maneira de ganhar notoriedade”, diz ao PÚBLICO. Tocha reconhece que a proposta da coligação Agir/PTP/MAS não tem conseguido notoriedade e que “isto bem pode ter sido uma estratégia para a conseguir”. Mas considera que “ultrapassou um bocado o limite, pois esta ousadia não tem sido o estilo de Joana Amaral Dias”. "Marketing a mais"Já outro especialista que pediu o anonimato considera que “é marketing a mais”. Este marketeer que se diz “muito pouco convencional” defende que “há convenções mínimas que o consumidor tem como guias para perceber se o ‘produto’ é fiável e que, nos políticos, se reflecte num certo decoro e pose que são um garante de que as pessoas estão na posse das suas faculdades e podem ser eleitos para cargos públicos”. Ora, a nudez de Joana Amaral Dias representa, em seu entender, “a perda de decoro, um exagero, embora seja uma atitude normal numa actriz ou estrela de música”. “Está a ver a Hillary Clinton a fazer isto?”, questiona. Mas Joana Amaral Dias não é a primeira política a usar o corpo como arma política. Aqui ao lado, em Espanha, pelo menos três candidatos já se despiram este ano em cartazes de propaganda. Luis Alberto Nicolás Pérez, candidato do PSOE nas regionais da Cantábria, fez por conta própria alguns cartazes onde surgia nu, com uma rosa a esconder os genitais e uma frase: “Sou melhor que tu e tu sabes disso”. O próprio partido não gostou e os cartazes foram removidos em algumas horas, mas não se falou noutra coisa durante algum tempo.
REFERÊNCIAS:
Partidos de Garcia Pereira e Marinho e Pinto vão receber 170 mil euros por ano
Por cada voto, os partidos recebem 2,84 euros de subvenção anual, que é paga pela Assembleia da República. (...)

Partidos de Garcia Pereira e Marinho e Pinto vão receber 170 mil euros por ano
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Por cada voto, os partidos recebem 2,84 euros de subvenção anual, que é paga pela Assembleia da República.
TEXTO: Os partidos liderados por António Marinho e Pinto (PDR) e José Garcia Pereira (PCTP/MRPP) não conseguiram eleger qualquer deputado nas legislativas deste domingo, mas por terem conseguido mais de 50 mil votos vão receber uma subvenção anual superior a 170 mil euros cada um durante os quatro anos que dura a legislatura. De acordo com a lei do financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais, todos os partidos que obtenham mais de 50 mil votos nas eleições legislativas têm direito a receber uma subvenção que é calculada com base no salário mínimo nacional (SMN) de 2008. Cada voto vale 1/135 do valor do SMN 2008 (426 euros), ou seja, 3, 155 euros. Mas, devido às medidas de austeridade do Governo de Pedro Passos Coelho, até Dezembro de 2016, o montante final sofre um corte de 10%. Assim, para efeitos de cálculo, cada voto vale, em termos líquidos, 2, 84 euros. Tendo em conta os 60. 912 votos obtidos pelo PDR em território nacional, quando estão ainda por apurar os resultados no estrangeiro, o partido liderado pelo antigo bastonário do advogados e actual eurodeputado irá receber pelo menos cerca de 173 mil euros por ano. Este dinheiro é pago pela Assembleia da República em duodécimos, como se de uma renda mensal se tratasse. Já o PCTP/MRPP, que se estreou nas subvenções em 2009, mesmo sem qualquer eleito, vai receber anualmente 170 mil euros por ano pelos quase 60 mil votos que obteve (59. 812 apenas em território nacional). O PAN – Pessoas, Animais, Natureza, que já recebera esta subvenção mesmo sem eleitos em 2011, obteve agora um mandato, mas recebe igualmente a subvenção anual de 212 mil euros. Mesmo ainda não estando apurados os votos dos dois círculos eleitorais do estrangeiro, de acordo com os resultados do território nacional, a coligação Portugal à Frente pode já contar com 5, 62 milhões de euros por ano, o PS com 4, 942 milhões, o Bloco receberá pelo menos 1, 56 milhões, e a CDU 1, 26 milhões de euros. Para além desta subvenção anual para financiamento dos partidos, as forças que concorrem a, no mínimo, 51% dos lugares a sufrágio e obtenham alguma representação, podem candidatar-se ainda a uma subvenção eleitoral para pagar despesas de campanha. Esta é composta por um orçamento definido por lei que, no caso das legislativas, é de 20 mil SMN, mas que está também reduzido em 20% até ao final de 2016. Contas feitas, este bolo tem um valor de 6, 816 milhões de euros. Um quinto disso (1, 363 milhões) é distribuído por todos os partidos que concorrem a mais de 51% dos lugares a sufrágio, tendo em conta as despesas de campanha que declararem ao Tribunal Constitucional. Os restantes 80% serão distribuídos pelos partidos que elegeram deputados num cálculo proporcional dos resultados. Mas as subvenções estatais não se ficam por aqui. Há ainda outra calculada por cada deputado eleito. Segundo a lei, a cada grupo parlamentar ou, no caso do PAN, ao seu deputado único, é atribuída uma verba para encargos de assessoria, actividade política e partidária e outras despesas de funcionamento, que corresponde a quatro vezes o IAS – Indexante de Apoios Sociais anual, mais metade do valor do mesmo, por deputado, que será paga mensalmente. Ou seja, cada grupo parlamentar recebe, por mês, uma base de 20. 122 euros, a que acrescem mais 209, 61 euros por cada deputado. No final de 2014, o Tribunal Constitucional considerou que esta subvenção era formalmente inconstitucional, porém, a Assembleia da República tem continuado a pagá-la.
REFERÊNCIAS:
Inquérito diário: Indecisos aumentam a uma semana das eleições
Na projecção com distribuição de indecisos, a coligação de Passos e Portas tem 5,1 pontos de vantagem sobre o PS de António Costa. (...)

Inquérito diário: Indecisos aumentam a uma semana das eleições
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na projecção com distribuição de indecisos, a coligação de Passos e Portas tem 5,1 pontos de vantagem sobre o PS de António Costa.
TEXTO: O número de indecisos e de indivíduos que se recusam a responder tem vindo progressivamente a aumentar desde a divulgação, em 22 de Setembro, do primeiro inquérito diário da Intercampus para o PÚBLICO, a TVI e a TSF. Na sétima entrega deste estudo, na projecção com indecisos, 22, 8% dos inquiridos. afirmam não saber em quem vão votar ou recusam revelar a intenção de voto. Este valor é o mais elevado da série, depois de nas primeiras três entregas este nível se ter situado sempre abaixo dos 20%. O resultado do trabalho de campo de hoje, realizado entre 23 e 26 de Setembro num total de 1025 entrevistas, marca o nível mais elevado desta categoria. Entre o primeiro estudo e o inquérito mais recente, os indecisos passaram de 18, 5 para 22, 8%, ou seja, cresceram 4, 3 pontos percentuais. Esta tendência foi, assim, sempre em crescendo. Mais homogéneo é o comportamento dos inquiridos que afirmaram não irem votar. Ou seja, que já decidiram optar pela abstenção. No primeiro estudo, num universo de 753 entrevistados, 55 admitiram esta opção. Este número, segundo exercício do PÚBLICO, corresponde a 7, 3% dos inquridos. No inquérito que hoje divulgamos, em 1025 entrevistados, 75 declaram não votar, ou seja, os mesmos 7, 3%. Pelo meio, a percentagem de inquiridos que se declararam abstencionistas variou entre um mínimo de 6, 4% e um máximo de 7, 6%. Quanto aos resultados por partido, a projecção com distribuição de indecisos continua a ser liderada por Portugal à Frente (PaF), a coligação do PSD e do CDS/PP. A PaF obtém 38, 1%, conseguindo uma vantagem de 5, 1 pontos para o PS, que alcança 33%. Esta é, até agora, a maior vantagem da força liderada por Passos Coelho e Paulo Portas face aos socialistas de António Costa. Veja a evolução desta tracking pollEm terceiro lugar, está a CDU, a coligação do PCP com Os Verdes, com uma projecção de nove por cento, uma décima mais do que na véspera. Já o Bloco de Esquerda mantém-se nos 6, 7%. A distribuição de votos noutros partidos cai 0, 4 pontos, para 4, 1%, e a percentagem de brancos e nulos também desce meio ponto, passando a ser de 9, 1%. Por faixa etária, a coligação governamental lidera em todos os três segmentos considerados – 18 a 34, 35 a 54, e 55 e mais anos. Na distribuição geográfica, a força de Passos e Portas está à frente no Norte, Centro, Lisboa e recupera o Algarve aos socialistas. Pelo que o PS de Costa só lidera no Alentejo. Entre as forças sem representação parlamentar, o Partido Democrático e Republicano (PDR) de Marinho e Pinto mantem-se à frente. Existe um triplo empate no segundo lugar, entre o Livre/Tempo de Avançar de Rui Tavares e Ana Drago, o PCTP/MRPP de Garcia Pereira e o Pessoas, Animais e Natureza (PAN). Depois de nos primeiros inquéritos aparecer eleitoralmente desapercebido, o Livre tem vindo em recuperação. Movimento de sentido contrário é o do PCTP/MRPP. Contudo, trata-se de um pequeno universo, pois o número de respostas favoráveis é de oito a quatro. Donde, o seu significado é restrito. Ficha técnicaSondagem realizada pela Intercampus para TVI, PÚBLICO e TSF com o objectivo de conhecer a opinião dos portugueses sobre diversos temas da política nacional incluindo a intenção de voto para as próximas eleições legislativas de 2015. O universo é constituído pela população portuguesa, com 18 e mais anos de idade, eleitoralmente recenseada, residente em Portugal continental. A amostra é constituída por 1025 entrevistas, recolhidas através de entrevista telefónica, através do sistema CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing). Os lares foram seleccionados aleatoriamente a partir de uma matriz de estratificação que compreende a Região (NUTS II). Os respondentes foram seleccionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruzou as variáveis Sexo e Idade (3 grupos). Os trabalhos de campo decorreram entre 23 e 26 de Setembro de 2015. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de ± 3, 1%. A taxa de resposta obtida neste estudo foi de: 58, 1%. O que é uma tracking pollUma tracking poll é um inquérito diário, que, mais do que os números do dia, indica a evolução das tendências de subida e descida das intenções de voto nos partidos. Trata-se de um exercício com longa tradição nos Estados Unidos e que ganha especial relevância num cenário de grande imprevisibilidade de resultados. “As sondagens são retratos do momento”, explica António Salvador, director-geral da empresa de estudos de mercado Intercampus. A tracking poll, por seu turno, é uma fotografia em movimento do impacto da campanha nos eleitores, uma “observação diária das percepções dos portugueses” a partir do estudo de uma amostra em permanente renovação.
REFERÊNCIAS:
Costa é visto como mais próximo e competente do que Passos
Dois terços dos participantes na Bússola Eleitoral já estão certos quanto à sua opção de voto. O PS destaca-se como partido com maior probabilidade de vir a ser o preferido pelos ainda indecisos. (...)

Costa é visto como mais próximo e competente do que Passos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2015-09-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dois terços dos participantes na Bússola Eleitoral já estão certos quanto à sua opção de voto. O PS destaca-se como partido com maior probabilidade de vir a ser o preferido pelos ainda indecisos.
TEXTO: O socialista António Costa é visto como mais próximo e mais competente do que Pedro Passos Coelho na síntese exploratória dos dados da Bússola Eleitoral promovida pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Esta é uma das conclusões da análise às respostas, via Internet, de 34. 436 cidadãos que, entre os dias 4 e 15 deste mês, responderam aos 30 temas considerados relevantes para mapear o seu posicionamento político e o dos partidos. “António Costa e Passos Coelho sobressaem por serem considerados mais competentes que os restantes candidatos (…) sendo que Costa leva ligeira vantagem na média dos inquiridos, não só em relação à competência como à proximidade”, refere o relatório da autoria dos investigadores Marina Costa Lobo, José Santana Pereira e Edalina Sanches. O secretário-geral do PS obtém valores de 3, 6 e 4, 1, respectivamente na proximidade e competência, enquanto o primeiro-ministro alcança, nestes itens, 3, 4 e 3, 9. Por outro lado, a popularidade de Passos entre os votantes na coligação Portugal à Frente (PaF) é equivalente à de Costa entre o eleitorado socialista. O que, assinalam os autores do estudo, revela que o PaF não se ressente de ser uma coligação de dois partidos e de o primeiro-ministro ser líder de apenas um deles. Dito de outra forma: a imagem de Paulo Portas, líder do CDS/PP, não é considerada. Entre os líderes dos restantes partidos com representação parlamentar concorrentes às eleições legislativas de 4 de Outubro, Jerónimo de Sousa é avaliado com 3, 1 em proximidade e 3, 2 em competência. A dirigente bloquista Catarina Martins empata com o secretário-geral do PCP em proximidade, mas está duas décimas abaixo (3, 0) em competência. Nos líderes de formações actualmente não representadas no Parlamento, a melhor avaliação é de Rui Tavares, do Livre/Tempo de Avançar: 2, 8 e 2, 7 em proximidade e competência. Segue-se, depois, Marinho e Pinto, do Partido Democrático e Republicano (PDR), com 1, 5 e 1, 4. Já o também advogado Garcia Pereira, do PCTP/MRPP, tem um valor idêntico de 1, 2 para proximidade e competência. Também com um empate a 0, 7 nestes itens está o actual eurodeputado e dirigente do MPT [Movimento Partido da Terra], José Inácio Faria, enquanto André Silva, do Pessoas Animais e Natureza (PAN) foi pontuado com 0, 6 e 0, 7, respectivamente em proximidade e competência. A síntese dos dados da Bússola Eleitoral não pode ser confundida com uma sondagem. Por um lado, 73% dos inquiridos são homens – e no censo de 2011 existiam 48% de indivíduos do sexo masculino -, e 40% dos utilizadores têm licenciatura, quando na população portuguesa existem, de acordo com dados do ano passado, apenas 17% de licenciados. Por fim, 55% dos que responderam ao inquérito têm 35 ou menos anos, faixa etária que contribui com 39% para a população. Ainda assim, este perfil sócio demográfico é considerado representativo dos que, em Portugal, se interessam por política. Daí que as conclusões sejam interessantes. “O PS destaca-se dos restantes por ser o partido com maior probabilidade de voto, seguido de perto pela coligação de PSD e CDS-PP”, refere o estudo. Segue-se o Bloco de Esquerda. Entre as outras forças políticas concorrentes às eleições, a análise assinala a performance do Livre/Tempo de Avançar: “Apesar de ter tido muito pouco visibilidade mediática nas últimas semanas, destaca-se dos partidos mais pequenos, como o PAN, MPT, ou PDR, com uma possibilidade de voto idêntica à da CDU [coligação do PCP com Os Verdes] e muito próxima da do BE. ” O que, naturalmente, é fruto da especificidade do perfil dos que responderam. Também dois terços dos cerca de 35 mil utilizadores não têm dúvidas quanto à sua opção de voto. E o facto de o eleitorado do Livre, BE, CDU e PDR se sentir mais próximidade de António Costa do que de Passos Coelho pode ter consequências. “Estes eleitores (…), a manterem-se os empates técnicos nas sondagens, poderão mais facilmente ceder à pressão do voto útil e entregar o seu voto ao PS com o propósito de facilitar a obtenção de uma maioria por parte daquele partido”, concluem os investigadores.
REFERÊNCIAS:
Seis candidaturas confirmadas às eleições de 29 de Março na Madeira
PS lidera coligação com outros três partidos de menor representatividade nacional. (...)

Seis candidaturas confirmadas às eleições de 29 de Março na Madeira
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2015-09-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: PS lidera coligação com outros três partidos de menor representatividade nacional.
TEXTO: Está confirmada a participação de, pelo menos, seis forças políticas concorrentes às eleições legislativas da Madeira, antecipadas para 29 de Março. Dos oito partidos representados na assembleia regional, dissolvida esta quarta-feira pelo Presidente da República, três anunciaram que concorrem isoladamente - PSD, CDS/PP e PND - e há duas coligações: a CDU (PCP e Verdes) e a coligação Mudança, que reune os restantes quatro partidos – PS, PTP, PAN e MPT. Actualmente sem assento no hemiciclo da Avenida do Mar, o Bloco de Esquerda volta a candidatar-se, depois de ter rejeitado fazer parte da coligação liderada por Victor Freitas (PS). A recusa do nome deste dirigente para encabeçar a lista como candidato a presidente do governo regional foi também invocada pelo CDS/PP e pelo PND, neste caso em ruptura com os socialistas na câmara do Funchal, para não aderirem a este projecto aglutinador de forças oposicionistas na Madeira. Dependentes da decisão pelo Tribunal Constitucional sobre o processo de constituição em partido para poderem concorrer, estão o movimento Juntos pelo Povo (JPP), liderado pelo ex-socialista Filipe Sousa e vencedor das últimas eleições autárquicas em Santa Cruz, uma das sete câmaras que o PSD perdeu na Madeira, e o Partido Democrático Republicano (PDR), fundado por Marinho e Pinto, ex-bastonário da Ordem dos Advogados, e apoiado na região por João Isidoro, dissidente socialista e ex-Movimento Partido da Terra (MPT). Caso não consigam “luz verde” antes de 17 de Fevereiro, último dia para apresentação das listas de candidatos a deputados, as duas forças políticas deverão integrar a coligação liderada pelo PS. Com seis deputados no parlamento dissolvido, o PS (11, 5% nas regionais de 2011) garantiu a manutenção de três lugares potencialmente elegíveis ao Partido Trabalhista (6, 86%), de José Manuel Coelho, e de um lugar a cada um dos seus aliados PMT (1, 93%) e PAN-Partido pelos Animais e pela Natureza (2, 13%). O PSD (com 48, 5% em 2011, a mais curta maioria de sempre) tinha 25 dos 47 deputados que compõem a assembleia, o CDS (17, 6%) estava representado por nove eleitos, o PCP/CDU (3, 7%) pelo deputado Edgar Silva e o PND (3, 27%) por Hélder Spínola, irmão do líder regional do PS, Victor Freitas. As candidaturas de deputados para a próxima legislatura deverão ser apresentadas pelos partidos perante juízos cíveis do Tribunal Comarca do Funchal até 17 de Fevereiro, dia de Carnaval. A campanha eleitoral inicia-se no dia 15 e finda às 24 horas da antevéspera da ida às unas. Ao anunciar a dissolução do parlamento e a marcação das eleições para 29 de Março, o Presidente da República apelou a que “este acto eleitoral, bem como a campanha que o precederá, decorram com serenidade e elevação, e que o debate democrático entre as diversas forças políticas constitua um exemplo de pluralismo e uma oportunidade para o esclarecimento de todos os madeirenses quanto ao seu futuro”. Cavaco Silva sublinhou também que “o actual Governo Regional mantém-se em funções até à tomada de posse do novo Governo, ficando, no entanto, por imperativos constitucionais e legais, limitado à prática dos actos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos da Região”. Ao formalizar o pedido de demissão de presidente do governo regional, depois da eleição de Miguel Albuquerque como líder do PSD, Alberto João Jardim garantiu que, mesmo em funções de gestão, iria continuar "a fazer tudo e mais alguma coisa, menos o que puder ser adiado", tendo desde então procedido a nomeações para cargos dirigentes da administração regional, à adjudicação de obras e à concessão de empréstimos a empresas públicas. Diplomas caemApesar da dissolução da assembleia madeirense, a Assembleia da República mantém agendadas para serem discutidas esta quinta-feira, na generalidade, a proposta de lei de fixação de um sistema fiscal regional e três iniciativas do PCP, sobre a protecção e direitos da criança. Nos termos do Estatuto Político-Administrativo da Madeira (art. 37º), as propostas de lei “caducam com o termo da legislatura ou com a dissolução, quer da Assembleia da República, quer da Assembleia Legislativa” regional, mas o Parlamento (com o acordo da maioria) entendeu que os diplomas só caducam com o início de uma nova legislatura. No hemiciclo da Avenida do Mar, no Funchal, caducam já as 188 propostas de decreto legislativo regional e de resolução que, incluídos na ordem de trabalhos, não foram discutidos no último plenário, a 8 de Janeiro.
REFERÊNCIAS:
A grande festa da democracia
Falou-se de tudo na campanha eleitoral: de reis, de escudos, de austeridade e até de pensos higiénicos. (...)

A grande festa da democracia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2015-10-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Falou-se de tudo na campanha eleitoral: de reis, de escudos, de austeridade e até de pensos higiénicos.
TEXTO: Hoje, à meia-noite, termina a campanha eleitoral para as legislativas de 4 de Outubro. Quarenta anos depois das primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte e 40 anos depois de Chico Buarque ter saudado a Revolução dos Cravos com a canção Tanto mar, apetece dizer: “Foi bonita a festa, pá. Fiquei contente. ” Não só fiquei contente, como fiquei esclarecido. Foram apresentadas ideias, debatidas propostas, rebatidos argumentos com 16 forças políticas a lutarem pelo voto dos portugueses na grande festa da democracia. Aqui e ali, há sempre alguém a exagerar e a querer estragar a festa. Um deles foi o PCTP/MRPP que afixou cartazes a ameaçar “Morte aos Traidores”. A Comissão Nacional de Eleições (CNE) disse tratar-se de uma “metáfora”, acrescentando que “os visados não se queixaram”. Pudera! A CNE estava à espera que alguém fosse à esquadra da polícia dizer: "Bom dia, sou um traidor e queria apresentar uma queixa contra o partido do sr. dr. Garcia Pereira que ameaçou matar-me”?Mas o MRPP foi uma excepção numa campanha em que a maioria dos pequenos partidos tentou apresentar propostas pela positiva. Houve propostas para todos os gostos, algumas patetas, algumas ridículas, umas boas, outras nem por isso. Houve quem propusesse o regresso do escudo e outros que alvitraram o regresso do rei. Uns querem proibir o sexo com animais, outros querem acabar com a corrupção. Há quem tenha prometido a felicidade aos portugueses, sugerindo que se passasse a calcular a Felicidade Interna Bruta (FIB). Na intimidade do lar, uns como Marinho Pinto prometem um combate sem tréguas à "cultura onanística que se tem vindo a disseminar na sociedade" e outros como o PAN propõe a substituição do uso de pensos higiénicos e de tampões por um recipiente reutilizável. É a grande festa da democracia. Cabe tudo, cabem todos. Entre os partidos que actualmente têm assento parlamentar, as campanhas eleitorais da CDU e do Bloco de Esquerda surpreenderam pela positiva e ambos estão a lutar para tentar chegar a um número redondo de deputados. Jerónimo de Sousa quer passar dos 16 para os 20 – a última vez que o PCP teve duas dezenas de deputados foi há quase 30 anos. Catarina Martins não vai provavelmente repetir a proeza de 2009 de Francisco Louça dos 16 deputados, mas as sondagens permitem-lhe almejar subir dos oito para os dez. As campanhas de ambos conseguiram surpreender, não tanto pela mensagem, que a cassete continua igual, mas pela energia, capacidade de mobilização e facilidade em agarrar os temas da actualidade e transformá-los em armas de arremesso político contra a direita e contra os socialistas. Às vezes, diga-se, com alguma ligeireza e demagogia à mistura. Mas o nosso sistema político precisa de uma CDU e de um Bloco fortes, o quanto baste. Não para governar, porque têm ideias anacrónicas e nalguns casos descabidas e perigosas, mas para fiscalizar a governação. E isso quer um, quer outro são competentes a fazer. Os socialistas levaram tareia da direita e da esquerda, mas foram sem dúvida a grande desilusão da campanha eleitoral. António Costa chegou tarde à campanha. Chegou tarde, porque demorou uma eternidade para decidir desafiar a liderança de António José Seguro; e uma oposição não se constrói da noite para o dia. Muitos dos erros que António Costa cometeu na recta final da campanha já os devia ter cometido há dois, três, quatro anos. Para isso é que servem as travessias no deserto. Chegou tarde, teve de encurtar caminho e desencantar um programa eleitoral pronto-a-vestir que foi feito, e de uma forma bastante competente, diga-se, por Mário Centeno. Mas até o Excel de Mário Centeno chegou atrasado. O economista gizou um programa para ajudar a tirar o país de uma situação de emergência, mas quando o apresentou a economia já estava a crescer. Centeno faz lembrar aquele bombeiro que chega para apagar o fogo, quando o incêndio já está praticamente dominando. E continua teimosamente a regar, arriscando-se a provocar uma grande inundação. A proposta de baixar a TSU dos trabalhadores para espevitar o consumo, à custa das pensões futuras, é uma ideia brilhante para uma situação de emergência, e arriscada numa altura em que o consumo já está a crescer.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN PCP
Paulo Morais apela a alterações à Lei Eleitoral antes das legislativas
O candidato a Belém propõe criação de um círculo nacional de compensação. (...)

Paulo Morais apela a alterações à Lei Eleitoral antes das legislativas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: O candidato a Belém propõe criação de um círculo nacional de compensação.
TEXTO: O candidato à Presidência da República Paulo Morais defendeu esta terça-feira alterações à Lei Eleitoral com o argumento de que o “sistema de representação proporcional nos actos eleitorais vem sendo sucessiva e reiteradamente violado”. E propôs a criação de um círculo nacional de compensação, corrigindo parcialmente a desproporção entre o número de votos e de eleitos. Numa carta enviada esta terça-feira à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, Paulo Morais adverte que a “Constituição impõe, através do seu artigo 288. º, o sistema de representação proporcional nos actos eleitorais, mas que esse preceito constitucional vem sendo sucessiva e reiteradamente violado”. “Bastará atentar aos inúmeros exemplos de desvio grosseiro à proporcionalidade verificados nos últimos actos eleitorais para verificar que este preceito constitucional tem vindo a ser violado”, aponta. Centrando-se nos resultados das eleições legislativas de 2011, o antigo vereador da Câmara do Porto revela que o “PSD elegeu um deputado por cada 19. 992 votos e, no outro extremo, o BE necessitou de 36. 115 votos para cada deputado eleito”, exemplificou, sublinhando que “os deputados do PSD são, assim, eleitos com praticamente metade dos votos dos do BE”. Para além disso, revela, “as listas do PAN [Partido pelos Animais e Natureza] e do PCTP-MRPP não elegeram qualquer deputado, apesar de terem recebido muito mais votos do que o número de sufrágios por deputado de qualquer uma das listas com deputados eleitos”. A cinco meses das eleições, o candidato a Belém, que faz da luta contra a corrupção a sua bandeira eleitoral, diz que “seria de todo necessário, ainda antes das legislativas, repor a proporcionalidade no sistema eleitoral nos termos em que a Constituição impõe”, pelo que sugere alterações pontuais à Lei Eleitoral para a Assembleia da República. "A distribuição dos mandatos pelos círculos deve obedecer ao critério do quociente eleitoral e não ao método de Hondt, defende, explicando que este método, que vem sendo utilizado para este fim, deveria ser usado apenas para a ‘conversão de votos em mandatos’ como estipulado no artigo 16. º da mesma lei”. Esta proposta decorre do resultado de um estudo de impacto destas medidas nos resultados eleitorais das últimas legislativas feito pelos professores José Matos e Paulo B. Vasconcelos. Os dois professores simularam as consequências do impacto das medidas em termos de distribuição de mandatos parlamentares.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN PSD BE
Na cama com Edward Snowden, longe das breaking news
Citizenfour não é um documentário sobre Edward Snowden na ressaca de se ter tornado o homem mais procurado do mundo. (...)

Na cama com Edward Snowden, longe das breaking news
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Citizenfour não é um documentário sobre Edward Snowden na ressaca de se ter tornado o homem mais procurado do mundo.
TEXTO: Não é, em suma, o retrato de um fugitivo a lidar com as consequências pessoais e planetárias (quando uma borboleta bate as asas…) dos seus actos – ter revelado que o Governo americano recolhe secretamente informação sobre os emails, chamadas de telefone, pesquisas na Internet e os hábitos de navegação online de, virtualmente, toda a gente no mundo, incluindo Angela Merkel. Citizenfour foi filmado precisamente no momento em que Snowden fez essas revelações, num quarto de hotel em Hong Kong, em Junho de 2013. Decorridos quase dois anos, essas revelações são, hoje, old news e o documentário não oferece muito material inédito desse ponto de vista (mesmo a revelação final de que os assassínios de alvos específicos através de ataques de drones são decididos por uma cadeia de comando encabeçada pelo Presidente Obama já tinha sido avançada pelo New York Times). “Fazer um documentário não tem nada a ver com breaking news [notícias de última hora]”, diz a realizadora americana Laura Poitras ao telefone a partir de Nova Iorque. "Eu sabia que o material que tinha era muito diferente da actualidade informativa. E que tinha de ser mais intemporal. O meu filme mostra a História a acontecer e pessoas a arriscarem as suas vidas. Eu sabia que ver isso a acontecer em tempo real seria único. ”Talvez o mundo não tivesse ouvido falar de Edward Snowden até hoje se não fosse Laura Poitras. Em Janeiro de 2013, ela recebeu um email anónimo pedindo a sua chave pública de encriptação (um código que permite trocar mensagens por uma via segura, que só o destinatário poderá ler). Poitras obedeceu e o desconhecido respondeu com instruções para criar um sistema ainda mais invulnerável para proteger a correspondência entre os dois, prometendo revelar informação sensível. Algumas mensagens enviadas então por Snowden tinham o determinismo de uma divindade anónima – o tipo de coisa que faz soar alarmes no espectro das suspeitas. “Você perguntou por que é que eu a escolhi. Não fui eu que a escolhi. Foi você mesma. ” Havia, no mínimo, duas hipóteses que Laura Poitras teria de excluir: que o anónimo fosse um louco ou um espião americano tentando obter informações sobre as fontes que a realizadora contactara para o documentário sobre vigilância estatal que ela andava a fazer. “Fiz-lhe toda a espécie de perguntas no início. 'Como posso saber que isto não é uma armadilha?’ Esse foi o meu segundo email para ele. E ele respondeu de forma muito convincente”, lembra a realizadora. "Ainda assim, mantive algum cepticismo, o que provavelmente é uma atitude sábia em situações como essa. Ele estava a fazer declarações muito arrojadas sobre uma agência do Governo [National Security Agency, ou NSA] de onde não saem muitas fugas de informação. Em todo o caso, o meu instinto inicial é que ele era para levar a sério. ”Glenn Greenwald, um jornalista freelance que escrevia artigos e colunas de opinião críticos e combativos sobre as políticas contraterroristas e sobre a erosão das liberdades individuais na América pós-11 de Setembro, tinha sido contactado por Snowden antes de Poitras, mas a comunicação entre os dois não durou muito: Greenwald ignorou o pedido de Snowden para montar um sistema de encriptação que protegesse a correspondência. O que terá feito Snowden procurar Laura Poitras foi a experiência pessoal da realizadora com a paranóia securitária do Governo americano. Em 2006, depois de concluir um documentário crítico da guerra do Iraque, My Country, My Country, Poitras descobriu que o seu nome fora incluído numa lista do Departamento de Segurança Nacional (Homeland Security). Todas as vezes que viajava de avião tinha de se submeter a ser revistada ou levada para um interrogatório sobre as suas viagens e o seu trabalho. Uma vez, em Viena, o agente de segurança do aeroporto informou-a de que ela estava identificada como uma ameaça de alerta máximo. Ela perguntou se isso era um sistema de classificação europeu ou americano. A resposta foi: “Não, isto foi feito pelo seu Governo e foi ele que nos pediu para a deter. "Poitras calcula que foi retida em aeroportos umas 40 vezes entre 2006 e 2012. Numa dessas ocasiões o seu computador e telemóvel foram confiscados durante semanas. No Outono de 2012, mudou-se para Berlim. Figurar numa lista do seu Governo como uma suspeita tornou-a particularmente sensível ao tema da vigilância de Estado. Mas, mais importante do que isso, diz, deu-lhe a preparação certa para lidar com Snowden quando ele apareceu. “Estar na lista ajudou-me a fazer Citizenfour. Como tive de tomar muito cuidado para proteger as minhas fontes, recorrendo à encriptação e coisas do género, isso deu-me o treino que eu precisava”, ri-se. “Além disso, eu já tinha sido retida tantas vezes no aeroporto que decidira que não ia parar de fazer o meu trabalho só porque o Governo me estava a tentar intimidar. Quando Snowden apareceu, a decisão foi fácil. Não me preocupei com os riscos que poderiam estar envolvidos. ”Se o Garganta Funda tivesse caraEdward Snowden fez saber que não tencionava permanecer anónimo por muito tempo, ao contrário do que é mais comum com whistleblowers, os denunciantes que expõem actividades secretas ou informação considerada sensível pelo Governo americano. Bradley Manning, o militar por detrás da fuga de documentos secretos divulgados pela WikiLeaks em 2010 (relatórios de guerra e documentos diplomáticos), foi exposto por um ex-pirata informático que se tornara seu confidente. “Foi uma surpresa para mim porque pensei que Snowden não quereria ser identificado. Quando ele me disse o contrário pedi que nos encontrássemos pessoalmente”, explica Poitras. “ Pessoas como Bradley Manning nunca tiveram realmente uma voz. As suas opiniões foram filtradas pela comunicação social. É isso que faz com que este caso seja singular. Ao decidir tornar pública a sua identidade, Snowden conseguiu articular a sua perspectiva, em vez de ela ser filtrada apenas pela narrativa do Governo ou dos media. "Em Junho de 2013, Poitras e Glenn Greenwald (por recomendação de Snowden, que avisou Poitras de que ela iria precisar de ajuda) viajaram até Hong Kong para conhecer o ex-analista de infraestruturas subcontratado pela NSA. Um terço de Citizenfour corresponde a esse encontro, que se desenrola ao longo de oito dias num quarto de hotel. Vemos Snowden responder às perguntas de Glenn Greenwald, a explicar as suas motivações ("Estou mais disposto a ser preso do que a aceitar o enclausuramento da minha liberdade intelectual”), a reagir aos acontecimentos à medida que eles ocorrem. Quando os três – Snowden, Poitras e Greenwald – fazem o vídeo de 12 minutos e meio que revela a identidade do informador e a sua cara está em todas as televisões do mundo como se fosse um criminoso foragido, Edward Snowden é, apenas, um homem frustrado com o estado do cabelo. Snowden está em frente ao espelho da casa-de-banho, a compor o cabelo, mas sempre insatisfeito com os resultados. A preocupação com esse detalhe contrasta com a indiferença que parece mostrar em relação ao circo mediático que está a decorrer no televisor do seu quarto, causado por ele próprio. Citizenfour é o que Os Homens do Presidente poderia ter sido se o Garganta Funda, o informador secreto do escândalo de Watergate, que derrubou Richard Nixon e o seu Governo, tivesse tido uma cara (a sua identidade só foi revelada mais de 30 anos depois). Quando Greenwald questiona Snowden sobre as suas motivações pessoais, a resposta é: "Os media concentram-se demasiado em personalidades. Eu não sou a história aqui. ”Mas por mais que Citizenfour procure dar um contexto mais lato, alargando o seu espectro a outras figuras (whistleblowers e activistas como William Binney, Jacob Appelbaum, Julian Assange, e o próprio Greenwald), estas parecem personagens secundárias, quando não efémeras, convocadas para preparar a chegada do verdadeiro protagonista, Edward Snowden, ou mostrar as repercussões dos seus actos, no terceiro acto do filme. Snowden foi imediatamente definido como um herói corajoso que se sacrificou em nome do interesse público, ou um traidor irresponsável que expôs informação sensível aos inimigos da América e fugiu para não ser apanhado – conforme o ponto de vista. A imprensa americana escrutinou a sua biografia, iluminando antecedentes que soaram duvidosos para alguns ou sedutoramente humanos para outros (as inclinações políticas, a namorada stripper, as aparentes contradições de carácter). Vendo Citizenfour, percebe-se até que ponto ele permanecia uma figura abstracta até agora, definido por especulações e suposições. Apesar de ter ouvido o ocasional “Fiquei com uma ideia diferente dele depois de ter visto o seu filme”, Poitras garante que não se preocupou com a percepção pública em relação a Snowden. “Enquanto cineasta, quero fazer filmes que levem as pessoas a conclusões diferentes. Não estou interessada em projectar apenas o que eu penso. ” Poitras, que se descreve como ""uma jornalista visual”, nota que a abordagem jornalística "inclui opiniões diferentes”, concluindo: "Não quero falar em nome do público. ”Não é que o seu filme, que ganhou recentemente o Óscar de melhor documentário, decifre o enigma que é Snowden – felizmente. A sua abnegação tranquila, a sofisticação com que lida com jornalistas apesar da sua inexperiência mediática, a forma excepcionalmente articulada como responde às perguntas que lhe colocam, sugerem outros mistérios. Tudo o que ficamos a saber sobre Edward Snowden é que é um homem preocupado com o cabelo.
REFERÊNCIAS:
Maldita Lituânia
Portugal continua nos cuidados intensivos. Felizmente está melhor, mas ainda não se curou. (...)

Maldita Lituânia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Portugal continua nos cuidados intensivos. Felizmente está melhor, mas ainda não se curou.
TEXTO: Nestes dias de muito boas notícias (o desemprego em baixa, o crescimento em alta, o défice finalmente domado na casa dos 2%), os desmancha-prazeres do Expresso deram-se ao desplante de titular na primeira página do último sábado: “PIB: Lituânia ultrapassa Portugal em 2017”. No actual clima de ranço e ódio que abunda nas redes sociais, quando ter uma opinião é um risco que ou leva à condenação por serventia ao Governo ou submissão à oposição, a notícia de desempenhos como o da Lituânia servirá apenas de festa para alguns e de desdém para outros tantos. Mas, esqueçamos por um momento esse país a preto e branco que a devoção acéfala ou o ódio bafiento à “geringonça” suscita e comparemos os resultados da frente económica com os resultados dos outros. Não, não é para desesperar: é apenas para firmar os pés na terra e evitar o embandeiramento em arco que há tão pouco tempo nos levou ao limiar do precipício. Comecemos pelo princípio, pelos dados da economia e das finanças, para esclarecer o óbvio: Portugal vive um dos seus mais esperançosos períodos da última década. Os resultados que os ministros da Economia, das Finanças ou o primeiro-ministro apresentaram ficaram muito para lá das melhores expectativas. Raramente houve igual fundamento para um Governo abrir o peito às balas da oposição e reclamar louros. Negar é realidade só se faz por ressabiamento, fundamentalismo partidário ou ideológico ou por mau perder. Diga-se o que se disser (e nesta coluna disseram-se muitas coisas sobre os limites do modelo do Governo para a economia), António Costa, Mário Centeno e Manuel Caldeira Cabral estão em alta. Não apenas por causa dos indicadores fechados em 2016 mas, principalmente, porque em causa está uma tendência de aceleração no crescimento, no emprego e no investimento que podem tornar 2017 ainda mais optimista. Só que fazer destes dados uma festa que ilustra a genialidade do Governo e atesta a incompetência da oposição é como comer batatas com batatas e exibir no rosto uma satisfação pantagruélica. Os resultados, principalmente o do crescimento de 1. 4%, só são bons porque deixámos de ter expectativas. Perante os erros da troika, a vacuidade do anterior governo e a fragilidade e inconsistência programática do actual, face à dívida, ao rating da República à condição da Europa e do Mundo, limitamo-nos trocar estados de alma ao ritmo dos resultados trimestrais. Há 30 anos jurávamos a pés juntos que haveríamos de ser prósperos e modernos como os alemães; agora, nem sequer somos capazes de ser tão ricos como a Lituânia, ou Malta, ou Chipre, ou a Eslováquia, ou a República Checa. Ficámos para trás, cada vez mais perto da cauda da Europa. Os resultados só são bons porque contrariam o pessimismo e a falta de confiança que uma boa parte do país depositou no Governo. E são-no também porque depois de 2000 nos viciámos no discurso da sobrevivência, ou da resistência, e alimentámos o vício com doses industriais de desesperança. Foram-nos dizendo que o problema se resolveria com tempo, com dádivas da Europa, com o brilho da nova geração de crânios ou de empresas e muitas reacções aos novos indicadores da economia parecem legitimar essa expectativa sobre a existência de milagres. Com excepção dos anos da troika, em que o sobressalto fez disparar as exportações, reinventou a agricultura e nos levou a desprezar a protecção aos “campeões nacionais” designados na secretária de Ricardo Salgado, José Sócrates e quejandos, gostamos de viver na modorra. O Governo de António Costa, com o floreado do virar da página é de alguma forma o regresso a essa vida calma, previsível, onde crescer 1. 4% até é bom. O mundo, infelizmente, não é bem assim. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A Lituânia passou entre 2008 e 2010 por um ajustamento duríssimo, com reduções dos salários públicos de 20 a 30%, com cortes nas pensões acima de 10%, com toda a coreografia dramática das exigências do FMI (pobreza, desemprego, desesperança) e se está hoje onde está é porque o sacrifício valeu a pena. O mesmo aconteceu na Irlanda. Ou, em parte, na Espanha. Se Portugal continua a ter ainda hoje um PIB abaixo do que registava em 2009, se cresce a ritmo de caracol, se a pobreza se mantém na ordem dos 20% da população e se continua a ser ultrapassado pelo cão e o gato é porque o sacrifício não valeu a pena. Afinal, Portugal não deixou de ser um paraíso para as corporações patrocinadas pelo Estado. Não deixou de ser condescendente com ministros que fogem à verdade. Permite fugas de dez mil milhões de euros para os off-shores perante a passividade das autoridades tributárias. Subalterniza a matemática e o português nas escolas. Dá horários de privilégio a funcionários públicos. Isenta os restaurantes da equidade fiscal. É este nível de abdicação que ora legitima o quanto pior melhor do PSD e do CDS, ora o discurso triunfal dos que vêm na travagem do défice ou na aceleração da economia uma Aljubarrota dos tempos modernos. Se por um instante desviarmos o olhar de Costa, de Passos ou de Assunção Cristas e olharmos para os bálticos havemos de perceber o ridículo da festa. Se a teoria do “virar de página da austeridade” era arriscada e perigosa (e falsa), o mesmo risco e perigo poderá acontecer se o “optimismo crónico e ligeiramente irritante” do primeiro-ministro (a expressão é do Presidente da República), o levar a decretar o estado de graça e o fim da crise. Cair na tentação de crer que tudo corre sobre rodas, que o Governo faz milagres com o beneplácito do Bloco e do PCP, que Deus é português, que a coisa se resolve, que os povos, como os indivíduos ou as famílias, não são sujeitos a tempos de reequilíbrio e de luta árdua, será uma forma de varrer o lixo para debaixo do tapete. Com a dívida pública nos 130% e a dos privados nos 181% do PIB, com a falta crónica de capital para investir, com o rating no lixo e os juros condicionados pela acção do BCE, Portugal continua nos cuidados intensivos. Não é alarmismo, é pura verdade: cuidados intensivos. Felizmente está melhor, mas ainda não se curou. Um diagnóstico optimista pode ser bom de ouvir para o paciente, mas jamais o levará a seguir a dureza da cura. Como se sabe (e os últimos anos confirmaram), o país é muito melhor quando age sob pressão, quando tem de ir para a Índia ou para o Brasil. Quando relaxa com as especiarias, o ouro, os fundos europeus ou discursos delicodoces torna-se tão mole que até os Bálticos que há pouco tempo saíram da tirania colectivista o ultrapassam.
REFERÊNCIAS:
Quando se desliga este gene, os neurónios crescem
Investigadores portugueses perceberam que um gene ligado à dislexia interfere no crescimento dos prolongamentos dos neurónios. A descoberta pode ser útil para a dislexia mas também para tratar lesões medulares. (...)

Quando se desliga este gene, os neurónios crescem
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Investigadores portugueses perceberam que um gene ligado à dislexia interfere no crescimento dos prolongamentos dos neurónios. A descoberta pode ser útil para a dislexia mas também para tratar lesões medulares.
TEXTO: Um dos grandes desafios dos cientistas é encontrar formas de reactivar o crescimento das células nervosas que, depois do desenvolvimento embrionário, perdem essa capacidade. Encontrar soluções para esta limitação pode ajudar a reparar problemas como doenças neurodegenerativas ou lesões na medula. Um grupo de investigadores portugueses investigou um gene que já tinha sido associado à dislexia e percebeu que, quando este gene não está “ligado”, as células nervosas crescem. A descoberta vem descrita num artigo publicado na revista Cerebral Cortex. No processo de formação, os neurónios migram a um determinado ritmo para os sítios onde devem estar quando somos adultos e estendem um prolongamento de fibra (o axónio) que transmite os impulsos eléctricos para os locais certos. É com esta impressionante e coordenada “instalação eléctrica” que o cérebro se organiza. Às vezes, como sabemos, as coisas não correm de forma perfeita. A dislexia é um problema que surge durante este complexo processo do desenvolvimento embrionário. Em estudos anteriores, os cientistas tinham já concluído que as pessoas que sofrem de dislexia (em Portugal estima-se que afecte uma em cada 25 crianças) têm níveis baixos de uma proteína chamada KIAA0319, que permite que os neurónios recebam sinais do meio que os rodeia. Porém, não se sabia, até agora, qual a função deste gene nas células nervosas. O gene KIAA0319, que comanda a produção a proteína com o mesmo nome, ficou conhecido pelas suas ligações íntimas à dislexia e pensava-se que a sua função seria controlar, de alguma forma, a migração dos neurónios. “O que mostrámos foi que não controla a migração dos neurónios, controla o crescimento do axónio”, aponta Mónica Sousa, investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S) da Universidade do Porto, que liderou a investigação. Para o estudo da dislexia, estas pistas serão exploradas agora por outra equipa do Reino Unido que colaborou no trabalho. Os cientistas podem, por exemplo, experimentar aumentar os níveis desta proteína durante o desenvolvimento embrionário para perceber se isso produz algum efeito na prevenção da dislexia. Porém, os investigadores portugueses estão centrados sobretudo na regeneração do tecido nervoso e, por isso, apanhando a boleia desta capacidade do KIAA0319, fizeram um desvio para fora do cérebro. “Além do cérebro, este gene é expresso noutras partes do sistema nervoso, na medula espinal, nos nervos periféricos”, explica a investigadora do I3S que quis perceber se esta proteína conseguia fazer com que as células nervosas crescessem num adulto quando é preciso, ou seja, quando existe uma lesão. Assim, a equipa investigou a acção do KIAA0319 em ratinhos adultos, com experiências in vitro e depois in vivo. “Tínhamos dois tipos de animais: um grupo sem KIAA e uns animais que faziam a sobreexpressão do KIAA. Foram provocadas lesões nos dois grupos e o que mostrámos é que, nos animais sem KIAA, os axónios crescem mais. Regeneram mais facilmente. Nos outros não há regeneração”, explicou ao PÚBLICO. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Ou seja, a presença da KIAA0319 e a quantidade em que está presente nos neurónios determina o efeito que um sinal pode ter quando chega à célula”, refere o comunicado de imprensa do I3S sobre o estudo. No mesmo documento, Filipa Franquinho Ferreira, a primeira autora do trabalho, esclarece: “A sobreexpressão do gene que codifica a proteína KIAA0319 reduz o crescimento dos axónios – o prolongamento dos neurónios que estabelece conexão com outros neurónios para estabelecer as redes neuronais –; e a subexpressão estimula o crescimento e desenvolvimento de neuritos [os axónios e as dendrites, a árvore de ramificações dos neurónios]”. Então, menos proteína significa mais crescimento dos axónios das células e isso provoca problemas como a dislexia? “Parece um contra-senso”, admite Mónica Sousa, que sublinha, no entanto, que “crescer mais durante o desenvolvimento não é necessariamente uma coisa boa”. O bom desenvolvimento do nosso cérebro tem de acontecer de uma forma perfeitamente sincronizada e precisa. O axónio de cada um dos neurónios tem de se estender do sítio certo, ao ritmo certo e para o sítio certo. “Se crescerem mais ou menos ou para um sítio diferente é potencialmente mau. ”E agora? Os grupos dedicados à dislexia podem usar este conhecimento para explorar a actuação deste gene e a sua relação com os sinais que recebe, para de alguma forma tentar interferir no processo de desenvolvimento dos neurónios, especula Mónica Sousa. Já a equipa do I3S, vai tentar encontrar formas de “desligar” este gene num modelo animal (adulto), promovendo assim o crescimento dos axónios das células nervosas numa situação em que é preciso que isso aconteça, como é o caso de uma lesão medular. “Vamos montar um ensaio pré-clínico que permita testar alguns inibidores farmacológicos deste gene. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo animal