Espanha sai a ganhar na distribuição dos apoios ao leite face a Portugal
Produtores portugueses dizem que ajuda de 4,8 milhões atribuída pela Comissão para travar a crise no sector é insuficiente e dá menos de mil euros por exploração. Em Espanha chega aos 1700. (...)

Espanha sai a ganhar na distribuição dos apoios ao leite face a Portugal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Produtores portugueses dizem que ajuda de 4,8 milhões atribuída pela Comissão para travar a crise no sector é insuficiente e dá menos de mil euros por exploração. Em Espanha chega aos 1700.
TEXTO: Portugal vai receber 4, 8 milhões de euros de um pacote de 420 milhões definido por Bruxelas para apoiar os produtores de leite e de carne de porco, numa altura de baixa de preços e excesso de produção. Assunção Cristas, ministra da Agricultura, adianta que vai reunir ainda esta semana com o sector para definir como se irá aplicar a verba atribuída a Portugal, que considera “positiva”. Contudo para os produtores a ajuda, mesmo que “bem-vinda”, é curta: dará menos de mil euros por exploração. Fernando Cardoso, director-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Leite e Lacticínios (Fenalac), faz as contas: dividindo os 4, 8 milhões pela produção de leite, obter-se-á um apoio de 0, 25 cêntimos por litro. “O preço do leite ao produtor está nos 28 cêntimos, com a ajuda aumenta para 28, 25 cêntimos. Há doze meses estava nos 33. É uma ajuda muito pequena, tendo em conta o que se passou no mercado”, sustenta. Outra questão que deixou os produtores “perplexos” é a disparidade face a Espanha que irá receber da Comissão Europeia 25, 5 milhões de euros. “A produção em Espanha é três vezes maior que em Portugal, por isso, seria de esperar que obtivesse cerca de 15 milhões de euros. Mas houve outros critérios para definir os envelopes comunitários. Espanha tinha uma quota leiteira três vezes superior a Portugal, mas acabou por conseguir verbas cinco vezes maiores”, lamenta. Contas feitas, arrecadou 1670 euros de ajudas por exploração, acrescenta. Os dois países estão “muito interligados” na produção de leite, sobretudo, a região Norte e a Galiza, onde se concentram a maioria das explorações. “Não queremos ver os produtores numa situação de concorrência desleal e vamos chamar a atenção da tutela para esta situação”, esclarece. Cerca de 80% dos 420 milhões comunitários foram distribuídos a cada país com base nas quotas de produção de leite de 2014. Os restantes 20% foram “alocados com base em critérios que garantem assistência adicional a agricultores de Estados-membros que foram particularmente atingidos pela queda de preços na carne de porco e do leite (à produção), com a seca e pelo impacto do embargo russo”, descreve a Comissão Europeia, em comunicado. A Alemanha recebe a maior fatia dos 420 milhões (69, 2 milhões de euros). Seguem-se a França e o Reino Unido, com 62, 9 milhões e 36, 1 milhões, respectivamente. Phil Hogan, comissário de Agricultura, acredita que a fórmula encontrada para distribuir os novos apoios é “justa” e “solidária”. Contudo, deixou claro que estas ajudas são excepcionais, lembrando que não haverá mais fundos provenientes das multas por excesso de quotas. Já Assunção Cristas, ministra da Agricultura saiu satisfeita da reunião e, em declarações ao PÚBLICO, antecipou que vai reunir ainda esta semana com o sector “para ver como será a melhor forma de aplicar a verba” atribuída a Portugal. Cada país terá a “máxima flexibilidade” para direccionar as ajudas que considera mais adequadas. Entre as novidades anunciadas nesta terça-feira por Bruxelas a ministra destaca que, pela primeira vez, haverá financiamento a 100% da armazenagem privada de leite em pó. Este mecanismo serve para reduzir a oferta no mercado e ajudar à recuperação dos preços. A comissão apenas cobria os custos de armazenamento por um período de três a seis meses, no final do qual os produtos seriam de novo colocados à venda. Agora, a ajuda financeira à armazenagem de leite em pó é aumentada em 100% e o período foi estendido para um ano. Em Portugal há sete mil toneladas de leite em pó armazenadas, de acordo com a Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios. “Os agricultores podem agora recorrer a fundos totalmente europeus”, sublinha Assunção Cristas, defendendo que a medida pode ser “muito interessante para o sector”. Ficou também confirmada a antecipação para Outubro de 70% das ajudas previstas na PAC para o sector leite. “Correspondem a nove milhões de euros de ajudas”, adianta. Portaria que dá luz verde à isenção da Segurança Social está a ser ultimadaEm Agosto, o valor do leite pago aos produtores caiu 16% em comparação com o mesmo mês de 2014 e está agora nos 28 cêntimos por litro. Mas de acordo com a Aprolep, Associação dos Produtores de Leite de Portugal, há quem esteja a receber 23 cêntimos e nenhum destes valores compensa o custo estimado de 32 a 33 cêntimos por cada litro produzido. A PAC prevê medidas de intervenção pública se os preços caírem até um determinado nível (21, 7 cêntimos por litro no caso dos lacticínios – leite em pó e manteiga). Neste caso, os agricultores podem vender os produtos à Comissão que passa a ser responsável por comercializá-los quando os preços sobem. Contudo, Bruxelas tem recusado aumentar o valor estipulado para esta intervenção pública, argumentando que a crise que afecta os produtores de leite não vai durar para sempre. Além disso, o preço limite de 21, 7 cêntimos foi revisto em 2013 e aumentá-lo daria “um sinal errado ao mercado e os produtores não seriam encorajados a reduzir a produção de leite”.
REFERÊNCIAS:
Afogamento dos direitos humanos no Mediterrâneo
A resposta aos islamistas não é a criação de uma fortaleza fechada. (...)

Afogamento dos direitos humanos no Mediterrâneo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A resposta aos islamistas não é a criação de uma fortaleza fechada.
TEXTO: O que está a acontecer aos migrantes vindos do sul, no Mediterrâneo e às portas das cidades europeias, coloca em cima da mesa com toda a força a questão dos mais elementares direitos humanos. Os relatos dos migrantes vindos do sul daquele mar assustam, chocam, tal é grau de crueldade e maldade contra gente indefesa e incapaz de se defender. Essas levas humanas fogem à miséria, à fome, para acalentar a esperança de poderem continuar a viver. Para eles não haverá grande diferença entre morrerem na Líbia, na Síria, na Etiópia, no Sudão, às mãos sanguinárias do Estado Islâmico, ou no Mediterrâneo, em Calais abocanhados por cães, ao rés de um muro em construção na Hungria, em Viena encerrados em camiões (em condições bem piores que animais), em praias da Grécia, Turquia ou Itália. Pode ser que não morram pelo caminho e que sobrevivam em ”barcos” que os levam à Europa, onde esperam poder continuar as suas vidas em paz e segurança. Fogem ao despotismo e às guerras que incendeiam a região. Fogem ainda de situações em que todos estão contra todos até à vitória do que reunir mais força económica ou militar em territórios retirados ao controlo de Estados saídos do Acordo Sykes-Picot, assinado em 1916. A bandeira do E. I. ergue-se num território maior que o Reino Unido e estende-se o Mediterrâneo na Síria até ao Iraque profundo. Para quem pretendeu justificar as suas intervenções militares ou de outra ordem em defesa dos direitos do homem haveremos de concordar que esses princípios são diariamente espezinhados em toda a região. É o Inverno, a Primavera foi-se. A NATO ao bombardear os sustentáculos do regime que tinha à frente Kadhafi e colocando no poder a oposição fez surgir uma onda de violência imparável entre tribos e bandos armados liquidando os frágeis alicerces do Estado líbio. A Líbia é um imenso território de desordem, saque e caos entre o Estado Islâmico e outros islamistas e outro tipo de bandidos escudados em causas alegadamente religiosasA invasão do Iraque deu origem ao mundo da violência mais brutal entre diferentes comunidades iraquianas criando condições para o E. I. ter tomado o poder em vastas áreas do país incluindo algumas com exploração do petróleo, vendendo-o no mercado negro, alimentando assim o seu poderoso exército capaz de se bater com o exército iraquiano e sírio, como se viu em Faluja, Mosul, Raqa e Palmira. É dever recordar que Bush, Dick Cheney, Condoleezza Rice e Cª, após ter sido desmascarada a falsidade da existência de armas de destruição maciça no Iraque, passaram a defender que a invasão visava proteger os direitos humanos. Ninguém questiona que hoje no Iraque os direitos humanos se encontram em situação bem pior do que estavam durante o regime brutal de Saddam Hussein. A guerra civil síria, aliada à situação caótica no Iraque, na Líbia e em parte no Egito e Tunísia, criam vastas áreas onde o poder ou não existe, ou está nas mãos do Estado Islâmico ou de grupos armados. Nestas zonas o mais elementar direito, o direito à vida, sem o qual os outros não fazem sentido, não está assegurado. Grande parte das populações estão sujeitas a todo o tipo de violência dos poderes de direito ou de facto. Só lhes resta migrar. Morrer a caminho da esperança é diferente de morrer às mãos perversas da crueldade política ou religiosa ou bandidesca ou ainda de todas juntas. Por isso fogem. Mas há o mar que os separa de um continente que veem como terra de liberdade e fartura. O desespero leva-os a riscos terríveis na travessia. E são já alguns milhares que em vez de segurança encontraram a morte no Mediterrâneo; e os que sobrevivem vão encontrar, no continente de grandes revoluções que significaram conquistas incríveis, muros, redes de arame farpado ligado á corrente elétrica, cães. E , também, felizmente solidariedade. São famintos, doentes a necessitarem de ajuda devido a sua fragilidade numa União em que a circulação do capital é livre, mas não a de seres humanos. Os direitos humanos não podem ficar à porta dos países com governos cruéis e obscurantistas só porque os negócios das grandes multinacionais norte-americanas, inglesas, francesas ou italianas dão balúrdios. A resposta aos islamistas não é a criação de uma fortaleza fechada e que vive do confronto com os países do sul do Mediterrâneo.
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Partidos LIVRE
Evolução das bactérias nos intestinos vale prémio a equipa portuguesa
Revista científica distingue artigo de cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência como o melhor do ano. (...)

Evolução das bactérias nos intestinos vale prémio a equipa portuguesa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Revista científica distingue artigo de cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência como o melhor do ano.
TEXTO: A revista científica PLOS Genetics anunciou esta quinta-feira a atribuição do melhor artigo científico que publicou em 2014 ao trabalho de investigação de uma equipa do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras. No valor de 5000 dólares (cerca de 4600 euros), o dinheiro do prémio será aplicado em investigação científica. Criado no 10º aniversário da revista internacional, o prémio distingue o nível de excelência científica e o impacto na comunidade de um artigo científico que tenha sido publicado. O trabalho vencedor é um contributo para o conhecimento da evolução das bactérias intestinais dentro dos intestinos e resultou de uma colaboração entre grupos de investigação em evolução, microbiologia e imunologia do Instituto Gulbenkian da Ciência, coordenadas respectivamente por Isabel Gordo, Karina Xavier e Jocelyne Demengeot (https://www. plos. org/genetics-research-prize/). Neste artigo, os oito cientistas agora premiados utilizaram uma metodologia original para estudar a colonização dos intestinos de ratinhos pelas bactérias intestinais Escherichia coli e analisarem a sua adaptação e evolução a este ecossistema complexo, onde coexistem milhares de bactérias de diferentes espécies, explicou ao PÚBLICO Isabel Gordo, que coordenou todo o projecto. “Pela primeira vez, este trabalho mostra que é possível estudar a evolução bacteriana, de forma detalhada e quantitativa, no ecossistema onde estas bactérias vivem [o intestino]. ” Geralmente, as experiências de evolução de bactérias são feitas em condições laboratoriais controladas, mas, como salienta Isabel Gordo, “o intestino é um sistema complexo e muito diferente de um tubo de ensaio”. Para a cientista, este trabalho tem outro importante contributo: “Além disso, pela primeira vez, observámos que os caminhos evolutivos [as alterações genéticas observadas nas bactérias estudadas ao longo de um mês de experiências] foram semelhantes entre ratos: houve um paralelismo na evolução. Foi surpreendente observar isto num ecossistema com esta complexidade e de um modo muito rápido — esta foi para nós a descoberta mais surpreendente. ”Isabel Gordo ressalta que esta última descoberta tem implicações práticas importantes, por exemplo para estudos sobre os efeitos de genes específicos em animais, que deverão ter em conta esta rápida evolução. A colaboração que se estabeleceu entre os grupos de Isabel Gordo, Karina Xavier e Jocelyne Demengeot, de áreas científicas distintas, mas interrelacionadas, foi a chave que permitiu desenvolver este trabalho inovador. “Temos de olhar para o sistema nas suas várias vertentes: a microbiologia e o estudo das relações entre os micróbios; o sistema imunitário e o estudo da interacção entre os micróbios e a o hospedeiro; e a evolução e as alterações genéticas que ocorrem em todas as espécies. ”A investigação que deu origem ao artigo científico foi um começo. As colaborações entre os grupos do IGC e os projectos de investigação nesta área não terminaram aqui. Os três grupos têm continuado os seus trabalhos de investigação usando este novo modelo para estudar a evolução bacteriana nos ratos. “Este artigo foi pioneiro. Com este modelo, podemos agora responder a outras perguntas”, conclui Isabel Gordo. Texto editado por Teresa Firmino
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave comunidade estudo
Numa sala com mosquitos, à espera de um laboratório único na Península Ibérica
Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, aguarda que a criação de um laboratório de alta segurança para artrópodes seja financiada em 800.000 euros. (...)

Numa sala com mosquitos, à espera de um laboratório único na Península Ibérica
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.375
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151119191858/http://www.publico.pt/1714246
SUMÁRIO: Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, aguarda que a criação de um laboratório de alta segurança para artrópodes seja financiada em 800.000 euros.
TEXTO: A porta abre-se, mas é também preciso desviar uma rede para se entrar numa pequena sala de um laboratório do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), em Lisboa. Lá dentro, estamos rodeados de Anopheles stephensi em diversas fases do seu ciclo de vida: larvas e pupas dentro de recipientes de plásticos rectangulares, e mosquitos dentro de gaiolas tapadas com redes. Este insecto, que vive na região da Índia, pode transportar o Plasmodium falciparum, o famoso parasita da malária. Na natureza, uma picada deste mosquito numa pessoa pode causar malária. Na sala onde estamos, se por acaso um mosquito fugir da gaiola, não há perigo. Estes mosquitos não têm o parasita da malária. O laboratório não está preparado para isso. Mas o IHMT quer mudar esta situação, e tem o projecto de construir a Estrutura de Alta Segurança para Artrópodes In Vivo, uma instalação que terá condições técnicas e de equipamento para produzir, manter e usar para investigação artrópodes que são vectores de doenças. Ou seja, têm organismos que causam doenças nos humanos como a malária, o dengue, a leishmaniose, a doença de Chagas e a febre da carraça. “Seria importante ter a capacidade de fazer investigação com os organismos patogénicos que afectam os humanos”, diz ao PÚBLICO Henrique Silveira, subdirector para a área científica do IHMT e investigador em malária, justificando a razão para esta aposta. De há alguns anos para cá, o instituto tem-se preparado para este avanço. “Vamos poder dar respostas científicas mais interessantes e aumentar a reputação do instituto. ”Não há um laboratório com este nível de segurança em Portugal. Aliás, na Europa, só países como a França, a Holanda e o Reino Unido têm laboratórios de biossegurança de nível III para artrópodes, como aquele que se quer construir em Portugal. Mas a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), tutelada pelo Ministério da Ciência, abriu ainda em 2013 o concurso para um Roteiro de Infra-estruturas de Investigação, com o objectivo de dotar o país com instalações nas mais variadas áreas científicas. O IHMT candidatou-se com o projecto do laboratório de alta segurança para artrópodes, coordenado pela investigadora Carla Sousa. Nos resultados do concurso, divulgados em Dezembro de 2014, o projecto teve boa nota, com “recomendação para integração no roteiro”. Depois, foi avaliado quanto à sua sustentação financeira. “A infra-estrutura não é para fazer lucros, mas terá de se pagar. É um critério da FCT, que quer assegurar a sustentabilidade”, explica Henrique Silveira. Esperando pelo dinheiroO instituto já tem o projecto arquitectónico em andamento, já escolheu o edifício que será adaptado para receber a estrutura, onde também está o biotério (instalações com os animais para as experiências científicas) do IHMT. Só falta o dinheiro. “Estamos à espera do financiamento”, diz o biólogo. A FCT diz que dentro de pouco tempo vai abrir o concurso para financiar as infra-estruturas do roteiro. “Abrirá brevemente — espera-se que em Novembro”, diz a FCT ao PÚBLICO por escrito, num email enviado pela coordenadora do gabinete de comunicação, Ana Godinho. E será “dirigido a todas as infra-estruturas que integram o Roteiro Nacional de Infra-estruturas seleccionadas no concurso da FCT”. O dinheiro para todas estas infra-estruturas será “cerca de 200 milhões de euros”, que “corresponde aos montantes apresentados pelas infra-estruturas no concurso FCT”. “Não esperamos que o financiamento seja negado”, espera Henrique Silveira. O projecto irá custar 800. 000 euros, incluindo a adaptação de salas, que terão de ter pressão negativa para que os insectos voadores não fujam para a natureza, e técnicos especializados para manter os vários tipos de artrópodes, e que vão precisar de formação para trabalhar naquele espaço. Henrique Silveira gostaria que o laboratório de artrópodes já estivesse a funcionar em meados do próximo ano. Se o projecto avançar, abrem-se novas possibilidades de investigação. “Podemos providenciar serviços para a comunidade científica nacional e internacional e aumentar as colaborações”, diz Henrique Silveira.
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Antigo bombeiro voluntário fez o transplante mais extenso de cara
Enxerto incluiu orelhas, tubos auditivos e couro cabeludo. Cirurgia não deixou cicatrizes na cara. (...)

Antigo bombeiro voluntário fez o transplante mais extenso de cara
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.166
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Enxerto incluiu orelhas, tubos auditivos e couro cabeludo. Cirurgia não deixou cicatrizes na cara.
TEXTO: Uma equipa do Centro Médico Langone da Universidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, realizou um transplante total da cara, do couro cabeludo, das orelhas e dos canais auditos a um antigo bombeiro voluntário. A intervenção foi apresentada como tendo sido o transplante de cara mais extenso de sempre até hoje. Este não é o primeiro transplante total de cara, mas o professor e cirurgião Eduardo Rodriguez, que dirigiu a operação em Agosto, assegurou que vários elementos da intervenção são um avanço. Notavelmente, é a primeira vez que a cirurgia não produz nenhuma cicatriz ou irregularidade na cara (as cicatrizes estão no pescoço e no crânio), explicou o médico, numa conferência de imprensa esta segunda-feira. O resultado foi obtido graças ao trabalho preparatório da operação, que consistiu em retirar uma quantidade importante do tecido do antigo bombeiro antes de lhe ser enxertada a nova cara, explicou Eduardo Rodriguez. A equipa transplantou igualmente fragmentos de ossos, e colocou placas e parafusos, para dar à cara um aspecto simétrico e regular. Os enxertos das orelhas e dos canais auditivos também foram estreias. O cirurgião sublinhou que, neste caso, foram feitos progressos para gerir melhor a reacção imunitária do organismo, que terá de lidar agora com um corpo estranho. O doente, chamado Patrick Hardison, com 41 anos, deverá, ainda assim, ter de tomar medicamentos imunossupressores durante o resto da sua vida. Em Setembro de 2001, quando estava a combater um incêndio num prédio no Mississípi, o bombeiro voluntário sofreu queimaduras na cara, no pescoço e no tronco. Como resultado das queimaduras, perdeu as orelhas, os lábios, grande parte do nariz, o cabelo e as pálpebras. Um milhão de dólaresTrês meses depois da operação, as fotografias de Patrick Hardison mostram uma cara sem cicatrizes aparentes e sem marcas evidentes, a não ser os olhos e as pálpebras que parecem inchados. As fotografias mostram ainda que o seu cabelo e a sua barba crescem agora de forma normal. Ele está agora pronto para se alimentar “normalmente” e a sua fala, embora ainda seja difícil a pronunciação, “irá melhorar significativamente” nos próximos meses, afirmou o cirurgião. “Acabou de comer um kebab”, disse Eduardo Rodriguez, referindo-se ao doente, que não esteve presente na conferência de imprensa. Durante um ano, mais de 150 pessoas organizaram e prepararam esta cirurgia. A intervenção durou 36 horas. Patrick Hardison recebeu a cara de um homem de 26 anos que teve morte cerebral após um acidente de bicicleta em Brooklyn, em Julho. A operação, estimada entre 850. 000 e um milhão de dólares (entre 796. 630 e 940. 000 euros), foi apoiada por uma bolsa especial do Centro Médico Langone, referiu Eduardo Rodriguez. O cirurgião disse que tinha informado Patrick Hardison e a sua família de que a intervenção tinha uma probabilidade de sucesso de 50%, embora a equipa contasse com uma probabilidade de 90%, explicou Eduardo Rodriguez. O doente vai ainda ser operado em Janeiro e em Fevereiro para ajustar os tecidos ao redor dos olhos e da boca, referiu o cirurgião, que defendeu ainda que as técnicas de transplante estão hoje suficientemente avançadas para se começarem a operar feridos de guerra. O primeiro enxerto de cara de sempre foi realizado há dez anos, em Novembro de 2005, em França, por uma equipa de Bernard Devauchelle, do centro hospitalar de Amiens, no departamento de Somme, no Norte de França. Isabelle Dinoire, de 38 anos, foi a primeira pessoa a receber um transplante de cara – ainda que parcial. Tinha sido desfigurada por um cão. O primeiro transplante de cara total, com pálpebras e todo o sistema lacrimal, foi feito cinco anos depois, em Junho de 2010, também em França, no Hospital Henri Mondor de Créteil (Val-de-Marne), pela equipa de Laurent Lantieri. Em 2012, Eduardo Rodriguez já tinha realizado com sucesso um transplante de cara integral a Richard Norris, um norte-americano da Virgínia, vítima de um acidente de caça, em 1997. Em todo o mundo, fizeram-se já mais de 30 transplantes de cara.
REFERÊNCIAS:
Portugueses procuram uma refeição sem sangue para mosquito da malária
Fundação Bill e Melinda Gates atribuiu mais de 90.000 euros a projecto do Instituto de Higiene e Medicina Tropical. Objectivo é produzir “montanhas de mosquitos” para a luta contra a malária. (...)

Portugueses procuram uma refeição sem sangue para mosquito da malária
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fundação Bill e Melinda Gates atribuiu mais de 90.000 euros a projecto do Instituto de Higiene e Medicina Tropical. Objectivo é produzir “montanhas de mosquitos” para a luta contra a malária.
TEXTO: O mosquito Anopheles gambiae é uma chave importante para encontrar uma solução definitiva para a doença da malária. Os humanos partilham o parasita que causa a malária com este mosquito conhecido como anófeles. É nas picadas das fêmeas do anófeles nos humanos que o famoso Plasmodium falciparum passa ora da saliva do mosquito para o sistema circulatório humano, ora do sangue humano para o estômago do mosquito, causando doença e morte neste ciclo. Para o parar, é inevitável estudar o parasita plasmódio, e isso só é possível produzindo mosquitos no laboratório. No entanto, esta produção de anófeles necessita de sangue de mamíferos para as fêmeas gerarem os ovos. Esta exigência traz limitações na produção de anófeles no laboratório, o que dificulta não só a investigação científica mas também a almejada produção em massa de vacinas contra a malária. Agora, uma equipa de cientistas do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) e do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve ganhou uma bolsa da Fundação Bill e Melinda Gates de 100. 000 dólares (93. 120 euros) para descobrir a receita de uma refeição sem sangue para a fêmea do anófeles, foi divulgado nesta quinta-feira. Estes investigadores, liderados por Henrique Silveira, já identificaram a pequena molécula no sangue que torna a picada do mosquito um acto fundamental para a reprodução da fêmea do anófeles. E vão, nos próximos 18 meses, desenvolver mais estudos para se aproximarem daquela receita. O prémio foi atribuído no concurso Grand Challenges Explorations da fundação. “O objectivo deste Grand Challenges era encontrar uma dieta artificial para o mosquito que fosse tão eficaz como a refeição sanguínea”, explica ao PÚBLICO Henrique Silveira. “Se quisermos ter algumas ferramentas para o controlo de vectores [organismos que transmitem doenças], como uma vacina ou a introdução na natureza de mosquitos transgénicos ou estéreis, precisamos de produzir em massa mosquitos e a necessidade de sangue é uma limitação grande. ”Só elas é que comem sangueNormalmente, nos laboratórios pelo mundo fora que estudam o parasita da malária e o seu mosquito, usam-se ratos ou refeições preparadas com sangue para alimentar as fêmeas de anófeles. “As fêmeas que não conseguem alimentar-se de sangue não conseguem produzir ovos”, diz Henrique Silveira. Esta relação é antiga na evolução, porque há mosquitos a picar aves, répteis e muitos outros mamíferos além dos humanos. “Algures no processo evolutivo, a refeição sanguínea passou a ser uma vantagem para os mosquitos. Deu-se uma especialização, e só a fêmea é que precisa de sangue para produzir os ovos. ”Há cerca de 150 milhões de anos, os antepassados do plasmódio da malária aproveitaram esta adaptação e passaram a infectar os animais picados pelos mosquitos. Ao longo das eras, os antepassados do plasmódio continuaram a infectar espécies até chegarmos aqui. Pensa-se que o parasita da malária tenha saltado de um grande símio, como o gorila ou o chimpanzé, para o humano. Hoje, a malária continua a matar muito, principalmente na África subsariana. Só em 2013, morreram 453. 000 crianças com menos de cinco anos devido a esta doença, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde. A maioria delas em África. O número total foi de 584. 000 mortes. E 198 milhões de pessoas ficaram doentes nesse ano, o que é um fardo enorme para a sociedade, já que se está perante uma doença cujos sintomas são muitos fortes. O plasmódio passa por uma sucessão de transformações ao longo da sua vida. Quando entra na corrente sanguínea da pessoa, o parasita infecta primeiro as células do fígado, onde se multiplica e muda de forma. De seguida, dirige-se para o sangue, onde se reproduz repetidamente nos glóbulos vermelhos, explodindo-os e causando os sintomas da malária — febre altas, dores no corpo, dores de cabeça e, por vezes, a morte. Depois, alguns destes parasitas transmutam-se para uma forma capaz de se reproduzirem entre si. Mas a reprodução só acontece dentro do mosquito, depois de serem sugados pela fêmea do anófeles. Aí, o ciclo fecha-se.
REFERÊNCIAS:
Cidade do futuro dentro de uma nave espacial estacionada em Braga
Praça da República recebe peça arquitectónica que junta micro-organismos vivos e tecnologia digital capaz de absorver 1,5 quilogramas de dióxido de carbono por dia e produzir proteínas. (...)

Cidade do futuro dentro de uma nave espacial estacionada em Braga
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Praça da República recebe peça arquitectónica que junta micro-organismos vivos e tecnologia digital capaz de absorver 1,5 quilogramas de dióxido de carbono por dia e produzir proteínas.
TEXTO: A estrutura metálica pintada de negro e o complexo sistema de tubagens, onde corre um líquido esverdeado, parecem saídos de um filme de ficção científica. O contraste com a Arcada e os demais edifícios históricos da Praça da República, no centro de Braga, não podia ser mais evidente. Talvez por isso, mais de uma centena de curiosos juntaram-se à sua volta, na manhã desta terça-feira, enquanto o criador da peça a apresentava. “Nos últimos dias, enquanto fazíamos a montagem, veio muita gente ter connosco perguntando se isto é uma nave espacial”, conta o arquitecto Marco Poletto que assina a peça. Chama-se Urban Algae Folly e é uma estrutura arquitectónica, que reúne micro-organismos vivos, no caso algas, e tecnologia digital, que faz a monitorização dos processos biológicos e físicos que ocorrem no seu interior. A intenção é “testar o que pode ser o futuro das cidades”. “De certo modo, isto é mesmo uma nave espacial”, continua Poletto. No entanto, esta não nos vai levar a viajar para fora do planeta, mas “vai permitir-nos continuar a viver nele durante muito mais anos”. A peça é o resultado de seis anos de investigação deste arquitecto italiano radicado no Reino Unido, que tem vindo a debruçar-se sobre os problemas da sustentabilidade do planeta. “Temos que encontrar novas formas de gerar energia, alimento e limpar a atmosfera que nos rodeia”, explica. É precisamente isso que a Urban Algae Folly faz. O líquido esverdeado que corre nas tubagens que captam a atenção de quem passa no centro de Braga está carregado com chlorella vulgaris, uma alga com elevada eficiência fotossintética, que contém até 7% de clorofila natural – a percentagem mais alta de qualquer planta conhecida na terra. A intenção deste arquitecto é que, no futuro, seja possível construir infra-estruturas urbanas que, não só incorporam elementos da natureza, como “intensificam as propriedades da natureza”, como é o caso. A alga que aqui vai desenvolver-se pode ser colhida e transforma-se num produto alimentar com vitaminas, minerais e ácidos gordos essenciais, fundamentais para o corpo humano, bem como proteínas. Todos os dias, a estrutura vai gerar 35 gramas de chlorella, o que, em termos de proteína, é o equivalente a 750 gramas de carne. Nos três meses em que vai estar instalada em Braga, será capaz de produzir o equivalente de proteína de meia vaca de pequeno porte. Os micro-organismos e a tecnologia incorporadas nesta peça são também dez vezes mais eficazes do que dez árvores de grande porte a fazer a purificação da atmosfera urbana, garante o seu autor. A promessa é que esta estrutura absorva 1, 5 quilogramas de dióxido de carbono por dia e produza metade desse valor de oxigénio, o equivalente ao consumo de um humano adulto diário. Assim será o futuro, garante Marco Poletto: “vamos cada vez mais incorporar bio-tecnologia e tecnologia digital nos ambientes urbanos”. A visão do arquitecto italiano é que, tal como as urbes da Revolução Industrial — que faziam das suas centrais de produção de energia o seu verdadeiro coração —, possa haver nas cidades do futuro estruturas capazes de devolver a produção às zonas urbanas e possamos voltar a saber de onde vem a energia ou a comida que consumimos. A Urban Algae Folly foi criada pelo estádio londrino ecoLogicStudio, liderado pelo arquitecto italiano e teve a sua primeira apresentação na exposição mundial de Milão, que aconteceu entre Maio e Outubro naquela cidade de Itália. A peça agora instalada em Braga usa o mesmo conceito e a mesma tecnologia, mas é uma estrutura totalmente nova, que custou 50 mil euros e foi comissariada pelo Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL, na sigla internacional), Câmara de Braga e Fundação Francisco Manuel dos Santos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave negro carne consumo corpo vaca
E se os pagantes exigirem bis?
Com uma identidade plástica singular, a peça inverte a relação de poder entre intérpretes e audiência. (...)

E se os pagantes exigirem bis?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com uma identidade plástica singular, a peça inverte a relação de poder entre intérpretes e audiência.
TEXTO: O arranque da peça é impactante: um súbito clarão revela-nos um aglomerado colorido de indivíduos elevados sobre um andaime, qual enorme escultura viva. Uma alusão, diz a folha de sala, a Le Crayon Guidant le Peuple, foto tirada na estátua à República (Paris) e tornada viral aquando das manifestações após o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo. Os 15 minutos seguintes são potentes: 20 bailarinos da Companhia Nacional de Bailado (CNB) e quatro actores do Cão Solteiro (CS - com a cadelinha Zuzu), de garridos figurinos a evocar ícones do espectáculo (personagens shakespearianos, uma actriz de musicais em amarelo berrante, bailarinas clássicas de tutu azul cobalto, cossacos de vermelho e negro, das danças de carácter do ballet, uma artista circense de maillot de lantejoulas…) formam uma amálgama heterogénea a avançar e recuar no proscénio, repetindo ao paroxismo acções de agradecimento e suas hierarquias protocolares, sob incessantes e estrondosíssimas ovações (em off) de um hipotético público. A relação de poder é invertida: reféns da audiência, os intérpretes estão no centro de um circo romano. Com a repetição o ritual perde o nexo: os sorrisos estampados acercam-se do esgar, quase sofrimento. Entre a apreensão e a indiferença dos demais, um dos artistas esvai-se, como se acometido de uma síncope, mas a cena surreal prossegue, “o espectáculo tem de continuar”. Em Morceau de bravoure (momento performativo particularmente virtuoso) a parada é alta: a peça começa pelo final. É uma variação em torno do território conceptual do colectivo Cão Solteiro: a forte dimensão visual, a problematização do elo assimétrico entre palco e assistência. Não sendo novo, o tema é bem lançado. Há, porém, propostas por explorar (a escultura viva, a morte do actor em cena) e o eixo organizador da peça deriva numa rapsódia sobre a fatuidade da ribalta: vistosos solos e pas de deux de Lago dos Cisnes e Quebra-Nozes alternam com tiradas teatrais (de Ricardo III, de Shakespeare, e textos originais), transfiguram-se em concerto pop, numa discoteca ou em musicais (evocam-se os Beatles, as Doce, Cândida Branca Flor, Judy Garland…). Teatro e dança justapostos retiram, porém, a primazia ao texto (há dicções difíceis de seguir) e colocam os bailarinos num registo teatral, sem favorecer os respectivos potenciais ou criar a espessura de um “terceiro corpo”: é o caso do grupo a perfilar-se como um exército (ou são manifestantes?) obediente, da rábula do actor acossado pelo stage frigth, ou do pranto da actriz a desmascarar-se durante a desmontagem do cenário (representa, ou é finalmente ela mesma?), que nos lembra (por contraste) a intensidade trágica minimal dos versos de Beatriz (Chico Buarque), a actriz que chora no quarto de hotel, entre paredes feitas de giz… "Se ela um dia despencar do céu/E se os pagantes exigirem bis…"Morceau… tem, sem dúvida, uma identidade plástica singular, a envolvência insólita é amiúde divertida e há apontamentos felizes: quando as luzes se acendem ao fundo do palco, a súbita perspectiva dos intérpretes em contraluz dá-nos a ver o espectáculo a partir dos bastidores. A destacar, ainda, a aposta corajosa da CNB ao associar-se a colectivos artísticos fora do mainstream. Mas quando (realmente) o pano cai, paira uma ambiguidade: paradoxalmente, esta crítica ao lado fátuo (da sociedade) do espectáculo sobrevive, em parte, graças à colagem ao registo de entretenimento do qual se quer desagrilhoar.
REFERÊNCIAS:
Câmara de Lisboa desviou 800 mil euros do Orçamento Participativo para outras obras
Mais de 1500 pessoas deram o seu voto, em 2011, para que a câmara decidisse fazer, com o dinheiro do Orçamento Participativo, uma obra por ela avaliada em 800 mil euros. Afinal a obra custa 480 mil euros e é paga pela EDP. O dinheiro do OP foi para fazer outras coisas na mesma zona. (...)

Câmara de Lisboa desviou 800 mil euros do Orçamento Participativo para outras obras
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mais de 1500 pessoas deram o seu voto, em 2011, para que a câmara decidisse fazer, com o dinheiro do Orçamento Participativo, uma obra por ela avaliada em 800 mil euros. Afinal a obra custa 480 mil euros e é paga pela EDP. O dinheiro do OP foi para fazer outras coisas na mesma zona.
TEXTO: Três anos depois da data prevista para o seu acabamento, está actualmente em construção a última fase do Parque Urbano do Rio Seco, junto ao pólo universitário da Ajuda, em Lisboa. Designada como “Parque Urbano do Rio Seco - 4ª fase”, a obra é da responsabilidade da EDP, que a financia integralmente no quadro de um protocolo celebrado com o município em 2011. Os 800 mil euros que a câmara inscreveu no seu plano de investimentos de 2012 e 2013 para pagar um projecto exactamente com o mesmo nome e para o mesmo local, eleito pelos munícipes no âmbito do Orçamento Participativo (OP) de 2011, foram desviados para a empreitada de qualificação do espaço público do vizinho Bairro 2 de Maio, já terminada. A construção da 4ª fase do Parque Urbano do Rio Seco, no vale situado entre a Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa e o bairro camarário 2 de Maio, perto do Palácio da Ajuda, é uma das quatro obras que a EDP se comprometeu a realizar e financiar. O compromisso consta de um protocolo aprovado em Junho de 2011 pelo executivo camarário e assinado no mês seguinte por António Costa e pelo presidente da EDP. Para lá da conclusão do Parque Urbano do Rio Seco, cujas segunda e terceira fases — relativas à zona do monumento geológico e das grutas do Rio Seco, situadas na parte inferior do vale —, tinham sido financiadas pelo OP de 2008 e 2010, a EDP obrigou-se então a criar um espaço verde na Quinta do Zé Pinto, em Campolide, e outros dois em Marvila e no Alto de São João. Eleito com 1539 votosA intervenção da EDP nestes locais correspondia a uma parte das compensações negociadas com o município em troca dos terrenos necessários à construção, naquelas zonas, de quatro sub-estações de distribuição de electricidade. Embora o protocolo tenha sido aprovado em Junho de 2011 e contemplasse o financiamento da conclusão do parque do Rio Seco pela EDP, no valor de 480 mil euros, a câmara deixou nesse mesmo Verão que o projecto da obra, elaborado pelos seus serviços com um orçamento muito superior, de 800 mil euros, fosse incluído no OP desse ano, recebendo 1539 votos. O projecto com o nome “Implementação do Parque Urbano do Rio Seco - 4ª Fase”, elaborado pelos serviços camarários a partir das propostas dos munícipes que desejavam ver o parque terminado, foi o quarto mais votado entre os 227 submetidos a votação e foi contemplado com 800 mil euros. Nesse ano, conforme o regulamento do OP então em vigor e em resultado da votação, a câmara comprometeu-se a financiar e concretizar, no prazo de 24 meses, os cinco projectos vencedores com um total de 4, 6 milhões de euros saídos do seu orçamento. A execução do projecto do Rio Seco foi inscrita no plano de investimentos do município para 2012 e 2013 na rubrica correspondente às despesas em “parques e jardins” do Departamento da Estrutura Verde, com a verba atribuída de 800 mil euros. Até há alguns meses, porém, a parte superior do vale do Rio Seco, ao lado e por baixo do Instituto Superior de Ciência Sociais e Políticas, permaneceu ao abandono, sem qualquer obra. No princípio do Verão, um painel de grandes dimensões instalado no local anunciava que a obra então iniciada era da responsabilidade da EDP e intitulava-se “Parque Urbano do Rio Seco - 4ª fase”. De então para cá foram abertos caminhos, montada a respectiva iluminação, construído um conjunto de pombais em madeira, um picadeiro e instalações apropriadas para os 20 cavalos de moradores na zona que ali ocupavam algumas barracas, mas ainda falta fazer muita coisa. Tudo faz pensar que está finalmente em construção a última fase do parque urbano cujo projecto venceu o OP de 2011. A obra, no entanto, está a ser paga pela EDP, ao abrigo do protocolo que lhe atribuiu 480 mil euros, e não pelo orçamento camarário onde tinha sido inscrita com 800 mil euros do OP. A explicação da câmaraQuestionada insistentemente pelo PÚBLICO sobre o destino dado a esta verba do OP, a Câmara de Lisboa respondeu por escrito que “o Parque Urbano do Rio Seco 4ª fase, divide-se em duas frentes: envolvente do Bairro 2 de Maio, resultante do projecto vencedor do Orçamento Participativo 2011/12, e qualificação do Vale e Planalto do Rio Seco, cuja execução está em curso a cargo da EDP. ”
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Morreu o Nobel da Literatura alemão Günter Grass
O autor de O Tambor de Lata (1959), considerado por muitos a mais importante figura literária alemã do pós-guerra, tinha 87 anos. (...)

Morreu o Nobel da Literatura alemão Günter Grass
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O autor de O Tambor de Lata (1959), considerado por muitos a mais importante figura literária alemã do pós-guerra, tinha 87 anos.
TEXTO: O escritor alemão Günter Grass morreu aos 87 anos, informou nesta segunda-feira a sua editora Steidl. O Prémio Nobel da Literatura morreu no hospital da cidade de Lübeck, na Alemanha. Tinha acabado há poucos dias de terminar um livro de contos, poemas e desenhos, estava “cheio de planos literários” para o futuro próximo, e a sua morte apanhou os mais próximos de surpresa, disse ao PÚBLICO a directora do Instituto Alemão de Lisboa, Claudia Hann-Rabe, que logo após a morte do escritor falou com a sua secretária. “Estava de férias, voltou a Lübeck para se tratar desta infecção respiratória, tomou antibóticos durante um dia ou dois, e morreu de forma completamente inesperada”, diz Claudia Hann-Rabe. Ainda segundo as informações recolhidas pela directora do Instituto Alemão de Lisboa, o funeral de Günter Grass será uma cerimónia “muito privada”, mas está já a ser preparada uma sessão oficial de homenagem ao escritor, que deverá ocorrer no dia 1 de Maio, data ainda sujeita a confirmação. “Isto é muito triste. Um verdadeiro gigante, inspiração e amigo”, escreveu no Twitter o escritor Salman Rushdie. Günter Grass foi ao longo da vida uma personagem controversa, algumas vezes contraditória, mas sempre com o cuidado (ou foi o acaso que assim o quis) de não se afastar muito daquilo que é “politicamente correcto” para o momento. Grass, um homem de esquerda que no debate público sempre criticou ferozmente os defeitos da Alemanha, foi visto por muitos, durante mais de 30 anos, como uma espécie de “consciência moral da nação alemã”. A publicação do primeiro volume da sua autobiografia Descascando a Cebola (Casa das Letras, 2007), que descreve o período entre 1939 e 1959, quase atingiu a dimensão de escândalo nacional com a revelação de que aos 17 anos de idade se alistara voluntariamente nas SS. Mas a sua “honestidade tardia”, como alguns lhe chamaram, acabou por não manchar muito a imagem dos que sempre o viram como uma figura livre e desassombrada com os traumas alemães. Depois de Descascando a Cebola, o escritor alemão escreveu A Caixa (Casa das Letras, 2009) para continuar a falar da sua vida, agora focando-se mais no campo familiar e não no político. Günter Grass escreveu aqui sobre o período entre 1959 e 1999, ano em que lhe é atribuído o Nobel, por retratar “a face esquecida da história”. Para a Academia Sueca, Günter Grass concedeu um novo começo à literatura alemã, “depois de décadas de destruição linguística e moral”. Em 2011, com a publicação do terceiro volume da autobiografia, ainda inédito em português, Grimms Wörter. Eine Lieberserklärung (As Palavras dos Grimm. Uma declaração de amor), o escritor deu por terminada a sua longa actividade literária. Precocemente, como se constata pelo novo livro que afinal escreveu e deixou pronto a publicar. Quando da apresentação de Grimms Wörter em Bamberg (uma pequena cidade no norte da Baviera), disse numa entrevista ao PÚBLICO: “Falta-me o ânimo para escrever. Acabou o meu prazo de validade. Já escrevi tudo. Na minha idade, já se começa a ficar surpreendido quando chegamos à próxima Primavera. E eu sei o tempo que um livro pode demorar a escrever. ” Mais adiante deixou um recado aos jovens escritores: “A minha geração parece ser a última que foi activa politica e socialmente. Os escritores mais jovens, especialmente os da última geração, parecem já não querer saber. Fazem mal, porque há cada vez mais temas onde poderiam ser úteis intervindo. E muitas razões para o fazerem. ”Membro da Academia das Artes de Berlim, Günter Grass, que ganhou o reconhecimento internacional com O Tambor de Lata, publicado em 1959, recebeu, além do Nobel, distinções tão importantes como o Prémio Literário Príncipe das Astúrias, o Prémio Internacional Mondello ou a Medalha Alexander-Majakovsky. O Tambor de Lata é o primeiro volume da chamada Trilogia de Danzig (os outros são O Gato e o Rato e O Cão de Hitler), em que Grass recria com ironia e humor cáustico o ambiente da sua cidade natal, Danzig (actualmente a cidade polaca de Gdansk), antes e durante a II Guerra Mundial. Na Alemanha, o escritor discutiu ao longo da sua vida ideias com veemência, sobretudo as do chanceler Helmut Kohl sobre a reunificação alemã, mas sempre invocando argumentos “fáceis” e que cairiam bem a muitos, sobretudo os que receavam a mudança, argumentos como o de que a divisão alemã foi uma maneira de proteger a Alemanha de si própria e, ao mesmo tempo, uma espécie de punição pelo Holocausto: “[…] face a Auschwitz, o pretenso direito à unidade alemã, no sentido de uma nacionalidade reunificada, não pode senão fracassar”, escreveu num ensaio. De entre todas as afirmações feitas na época, a que esteve mais perto da “incorrecção” política talvez tenha sido a de pôr em causa a legitimidade democrática do Bundestag, o parlamento alemão, para decidir sobre a unificação.
REFERÊNCIAS: