Chauvet: a caverna das maravilhas já tem uma réplica
Gruta no Sul de França guarda as mais antigas pinturas rupestres. A original está fechada, mas a réplica que foi agora inaugurada pelo Presidente francês deverá abrir já no dia 25. (...)

Chauvet: a caverna das maravilhas já tem uma réplica
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Gruta no Sul de França guarda as mais antigas pinturas rupestres. A original está fechada, mas a réplica que foi agora inaugurada pelo Presidente francês deverá abrir já no dia 25.
TEXTO: A original está guardada e interdita a turistas. Os únicos que a podem visitar são os investigadores autorizados, uma comunidade restrita que tem o privilégio de ficar frente a frente com algumas das mais antigas manifestações artísticas do homem. E, a avaliar pelas reproduções amplamente difundidas, Chauvet não é “apenas” uma gruta no Sul de França repleta de pintura rupestre (só isto já seria extraordinário, é claro), é uma galeria impressionante com mais de 30 mil anos que permaneceu intocada. Nela é notória a aplicação de várias técnicas de pintura e de gravação que contribuem para a criação de imagens de grande impacto e movimento – sim, é possível pensar nos primórdios do cinema (Werner Herzog fê-lo em 2010 com o documentário A Gruta dos Sonhos Perdidos) quando se olha para as panteras, rinocerontes, ursos, auroques, leões, mamutes e cavalos que os artistas do paleolítico ali deixaram, exibindo um imenso domínio no uso das sombras e dos volumes. Teriam sido feitas só para passar o tempo ou como forma de transmitir conhecimento no domínio da caça, essencial à sobrevivência das comunidades que ali viviam? Estariam ligadas a um ritual? Haveria nelas já uma intenção artística?Para Jean Clottes, o historiador francês que foi o primeiro especialista em Pré-história a entrar em Chauvet, há 20 anos, a gruta, como todas as cavernas para o homem deste período, está ligada ao universo do simbólico. É também este professor, referência nos estudos da arte rupestre, que diz agora que a réplica, de tão exacta, vai "deslumbrar" os visitantes e "despertar emoções". Os inventores da pinturaDescoberta por espeleólogos em 1994 - Jean-Marie Chauvet, Christian Hillaire e Eliette Brunel localizaram-na a 18 de Dezembro - e desde Junho de 2014 património mundial, Chauvet foi protegida pela natureza – há 20 mil anos a queda de uma rocha tapou a entrada desta “caverna das maravilhas” – e precisava agora de ser salvaguardada pelo homem. Por isso, as autoridades francesas ordenaram a construção de uma réplica, num projecto ambicioso que levou quatro anos a concluir e que exigiu um investimento de 55 milhões de euros, de acordo com a AFP. A ideia é mostrar o que a caverna original esconde por trás de uma porta de metal que pesa meia tonelada e que tem um código de acesso que só três pessoas conhecem, escreve a agência de notícias francesa. Se aos turistas fosse permitido entrar, as mais de 1000 pinturas de Chauvet – 425 das quais representando animais – ficariam imediatamente em risco, isto porque o delicado equilíbrio de humidade e temperatura que existe nesta gruta a 25 metros de profundidade, e que tem permitido a conservação desta arte pré-histórica, seria comprometido de imediato. Todos os dias, os responsáveis por este sítio arqueológico, o mais antigo dos bens registados como património da humanidade pela UNESCO (organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura, na sigla em inglês), monitorizam as condições de conservação na gruta, procurando bactérias, algas, cogumelos e outros fungos que possam ameaçar a integridade do conjunto. Na réplica que o Presidente francês François Hollande inaugurou esta sexta-feira, e que deverá abrir a 25 de Abril, foi recriada a atmosfera da caverna original, embora a luz seja bem diferente. Vista do céu, assemelha-se a uma pata de urso e, por dentro, tal como a descoberta em 1994, é fria e húmida. Diz quem conhece as duas que até o cheiro é igual. Criada com recurso às mais evoluídas tecnologias 3D, a réplica de 3000 m2 situada na comuna de Vallon-Pont-d’Arc foi construída por engenheiros, escultores, pintores e artistas visuais que reproduziram fielmente, e a carvão, as figuras com 36 mil anos, mais do dobro da idade das representações que se podem encontrar noutra gruta do Sul de França, também famosa pela sua arte rupestre – Lascaux. François Hollande, que esteve mais de uma hora a passear pela réplica que, espera-se, venha a atrair mais de 350 mil visitantes por ano, não poupou elogios às equipas que ali trabalharam. “Foi aqui que o homem inventou a pintura… Aqui, com uma impressão da mão, inventou o auto-retrato… E quando brincou com a luz e a sombra, inventou o cinema”, disse o Presidente francês. E acrescentou: “Nunca deixarei de dizer aonde quer que vá: ‘Queres saber de onde vens? Vai a uma caverna em Pont-d’Arc e estarás precisamente em casa. ”
REFERÊNCIAS:
Perder uma cidade é perder a história
As cidades antigas do norte do Iraque têm vindo a ser atacadas pelos radicais islâmicos, que depois transformam os raides de destruição em vídeos-propaganda. Dois arqueólogos falam da Mesopotâmia e da importância de fazer a desconstrução crítica destas imagens. No terreno, garantem, o desastre é ainda maior. (...)

Perder uma cidade é perder a história
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: As cidades antigas do norte do Iraque têm vindo a ser atacadas pelos radicais islâmicos, que depois transformam os raides de destruição em vídeos-propaganda. Dois arqueólogos falam da Mesopotâmia e da importância de fazer a desconstrução crítica destas imagens. No terreno, garantem, o desastre é ainda maior.
TEXTO: É um território de revoluções, daquelas que ficam para a história. Foi na antiga Mesopotâmia que nasceu a escrita e que surgiram as cidades. Foi também ali, nos vales dos rios Tigre e Eufrates, que se fundaram os primeiros impérios e que se fixaram as primeiras leis. É esta região, abrangendo hoje o Iraque, parte da Síria e parte do Irão, que tem aparecido sistematicamente nas notícias por causa de ataques ao património. Sobretudo o norte do Iraque, onde o autoproclamado Estado Islâmico (EI) tem vindo a saquear cidades milenares como Hatra e Nimrud e a destruir artefactos e esculturas em museus e sítios arqueológicos. No dia 11, os extremistas divulgaram mais um vídeo com que, alegadamente, documentam a destruição de Nimrud. Um vídeo que chega um mês depois de fontes no terreno terem informado as autoridades iraquianas de que os jihadistas tinham avançado sobre esta cidade com 3000 anos com bulldozers, arrasando várias estruturas e esmagando diversas esculturas, entre elas exemplares dos célebres lamassu – seres híbridos representados com corpo de leão ou de touro, asas de águia e rosto humano – que guardavam os templos e palácios assírios. Não é a primeira vez que o EI recorre ao vídeo como forma de propaganda – fê-lo em Fevereiro no Museu de Mossul e outra vez quando quis mostrar a ofensiva sobre Hatra, um dos melhores exemplos das cidades fortificadas do Médio Oriente – e também não é a primeira vez que as imagens levantam dúvidas. Sem confirmações independentes no terreno – as notícias chegam, por regra, através de fontes anónimas ou ligadas ao Partido Democrático do Curdistão (KDP) – é difícil aferir a extensão dos danos. Mesmo que a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) já tenha classificado os raides dos extremistas contra estas duas cidades-Estado que formam com Nínive um triângulo de referência do mundo antigo como “crimes de guerra”. Que a destruição tem vindo a ocorrer parece ser consensual, até porque não há quem tenha dúvidas de que o tráfico de antiguidades é uma das fontes de financiamento do EI. Mas, o que foi realmente destruído já é matéria de debate. Os radicais que avançaram sobre estas cidades património mundial querem eliminar os vestígios do passado pré-islâmico, defendendo que a destruição de esculturas, frisos, relevos e documentos milenares ligados a este berço da civilização faz parte do seu combate contra a idolatria, proibida pelo Profeta. O PÚBLICO falou com dois arqueólogos que fizeram parte de uma missão ibérico-síria que, entre 2005 e 2011, escavou uma garganta no Eufrates, entre a Síria e o Iraque, à procura de uma fronteira. Francisco Caramelo, professor da Universidade Nova, e Juan Luis Montero, da Universidade da Corunha, defendem uma desconstrução crítica das imagens veiculadas pelo EI e dizem que a situação no terreno é ainda mais grave do que parece. A destruição, garantem, acontece há anos e não se limita ao Iraque nem aos jihadistas. “O EI nunca vai desaparecer – vai mudar de nome, mas vai continuar lá”, diz Montero. Evitar manipulaçõesPara os dois arqueólogos é preciso ter muito cuidado com a análise dos vídeos dos radicais. No Museu de Mossul, por exemplo, terá havido uma montagem que não é imediatamente perceptível: “São introduzidas imagens de baixos-relevos que não estão lá, que não fazem parte da colecção do museu. Mas isso só quem é profundamente conhecedor daquele património é capaz de ver”, explica Francisco Caramelo. “O EI tem sido exímio no uso dos media, da imagem, e nós temos de estar preparados para evitar manipulações”, acrescenta, sublinhando que isto não implica a “desvalorização do desastre”. Muitas informações que vão chegando, lembra Juan Luis Montero, não são verificáveis por fontes idóneas no terreno. Há interesses de parte a parte e é preciso tê-los em conta para que a propaganda de um dos lados não seja contestada pela do outro. No caso de Nimrud e Hatra, há património integrado que não seria facilmente transportável – os touros e leões alados pesam mais de 20 toneladas -, mas há outro que é muito apetecível em termos comerciais. Caramelo garante que o “desastre” é muito maior do que o que mostram as imagens recentes, porque resulta de um processo que se alastra há vários anos e que tem afectado centros tão ou mais significativos que Hatra e Nimrud. Refere-se, em concreto, a Mari, uma das primeiras e mais importantes cidades da Mesopotâmia, hoje em território sírio, a 15 quilómetros da fronteira com o Iraque. Mari, nas margens do Eufrates, fundada em 2900 a. C. , é saqueada há um ano sem que nada seja feito. A destruição é permanente, diz, porque os sítios arqueológicos são devassados por caçadores de tesouros. E estes caçadores existem, acrescenta Montero, “porque há uma máfia organizada que assegura o tráfico” e que tem como principais mercados negros o Reino Unido, os EUA e a Suíça. Montero escavou cinco anos em Mari e conhece bem a realidade arqueológica da Síria e do Iraque. Garante que o saque organizado não é o único responsável pela destruição e lembra que a invasão americana do país, em 2003, deixou danos irreparáveis: “Babilónia, uma das cidades mais importantes da história universal, foi transformada pelos Estados Unidos e os seus aliados num acampamento militar para quatro mil soldados. E o mundo assistiu, sem escândalo. ”Tal como esta última, Mari é uma cidade ligada ao império babilónio e a Hammurabi, o rei do célebre código – um dos mais antigos conjuntos de leis, hoje no Museu do Louvre, em Paris -, centro sofisticado em que é notória a relação que os povos desta região mantinham com a escrita, pondo-a desde logo ao serviço da difusão de procedimentos administrativos ou de textos religiosos e proféticos. A revolução da escrita“Sempre que um sítio é saqueado, o que se perde é a história, não é só património iraquiano, é história universal”, diz Montero, defendendo que a escrita é a maior revolução da humanidade. “A Mesopotâmia é um território de grandes experiências humanas. Só a escrita, a ideia de que se pode deixar um pensamento para o futuro, uma ideia, é absolutamente transcendental. ” Primeiro usada como forma de fixar procedimentos administrativos, a escrita cedo evoluiu para a esfera do pensamento religioso e mesmo para aquilo a que hoje chamamos literatura. Falar de Mesopotâmia implica falar de revoluções, já que à da escrita podemos juntar a das cidades. E aqui falamos de cidade não apenas como espaço físico, mas como “construção mental”, explica o arqueólogo espanhol. “É um mundo de grande complexidade este em que a cidade e a escrita nascem. ” Em que surge a ideia de Estado, acrescenta Caramelo, uma “abstracção importante” que se torna difícil de substanciar com artefactos. “Infelizmente, não posso escavar e encontrar um Estado”, ironiza Juan Luis Montero, “nem posso perguntar a Hammurabi que ideia tem de monarquia ou para que é que serve a burocracia, mas posso e devo correlacionar isto tudo se quero pensar sobre este território”. E que território é este?A Mesopotâmia compreende os territórios dos vales dos rios Tigre e Eufrates e seus afluentes. Política e geograficamente falando, abrange o Iraque, parte da Síria e parte do Irão, embora culturalmente, adverte Francisco Caramelo, ultrapasse as fronteiras actuais. “É um espaço de muitos encontros entre os finais do 4. º milénio a. C. e o 1. º milénio a. C. . ” Um mundo que é uma “simbiose” de que os assírios, e depois os babilónios, são herdeiros. E uma simbiose que resulta em avanços notáveis na matemática e nas artes, na astronomia e noutras ciências. “Em Nimrud está congelado o que é a civilização mesopotâmica, o período neo-assírio, que vai do século X ao VII a. C. . Era o maior império até àquele momento”, sublinha Caramelo, acrescentando que os seus domínios iam da parte ocidental do planalto iraniano ao antigo Egipto. Apresentados como bárbaros por gregos e persas – há muita propaganda negativa na Bíblia e nos textos clássicos, defendem os dois arqueólogos – os assírios só começaram a contar a sua própria história no século XIX, quando foi decifrada a escrita cuneiforme, desenvolvida por volta de 3500 a. C. . E, desde então, têm vindo a ser definidos como conquistadores, é certo, mas também como um povo de “grande sensibilidade”. A irmã pobre do EgiptoO saque no Museu de Mossul ou no de Bagdad é gravíssimo, reconhece Montero, mas a destruição de um sítio arqueológico como Nimrud ou Mari também, ainda que o público em geral tenda a desvalorizá-la. “Quando um sítio é destruído perdemos os objectos e os seus contextos, quando um museu é saqueado perdemos ‘apenas’ os objectos”, diz. Em qualquer dos casos, resume, perde-se conhecimento, algo que é já escasso nestes territórios, sobretudo quando comparados com o do antigo Egipto. Mesmo a Babilónia, talvez a mais estudada das cidades da região, a do poderoso Nabucodonosor II, o rei dos célebres jardins suspensos, foi muito pouco escavada. “Sabemos que a arqueologia é um processo longo, mas quando se escavou apenas 3% da Babilónia, não podemos dizer que sabemos muito sobre a Babilónia. E se não conhecemos não podemos valorizar. A Mesopotâmia é a irmã pobre do Egipto. Ninguém sabe o que é Nimrud, mas muitos sabem o que é Abu Simbel. ” E este desequilíbrio torna-se ainda mais estranho, acrescenta Caramelo, quando percebemos que, como civilização, devemos muito mais à antiga Mesopotâmia: “A própria ideia de Deus dos textos religiosos da Mesopotâmia conduz-nos à Bíblia, ao Antigo Testamento. A continuidade é muito maior. ”A continuidade pode ser maior, mas a arte, menos figurativa, e a arquitectura em terra, que deixou menos estruturas imponentes, parece afastar as pessoas deste passado colectivo. “Até a escrita cuneiforme repele quando comparada com os hieróglifos”, acrescenta este professor da Nova. Quando hoje toma conhecimento de mais um raid de destruição dos extremistas do EI no Iraque ou lê outra notícia sobre as consequências dos bombardeamentos no património de Alepo, na Síria, Francisco Caramelo pensa, sobretudo, nos miúdos que conheceu nas escavações do Eufrates, pergunta-se o que terá acontecido às famílias que os recebiam todos os dias ao pequeno-almoço. E pensa também no espólio recolhido pela equipa, em depósito no museu local. As autoridades sírias, garante, estavam até 2011, ano do início da guerra, a trabalhar com muito empenho na protecção do património do país, mas todos os seus esforços pararam. Sabe-se que reuniram as principais colecções num mesmo local em Damasco, cuja localização não foi, como é natural, divulgada. Antes do começo do conflito, acrescenta Montero, havia mais de 200 missões arqueológicas estrangeiras a trabalhar na Síria, muitas delas vindas do Iraque. Desde aí, muitas foram forçadas a fazer o movimento inverso e instalaram-se no Curdistão iraquiano. A equipa de Montero e Caramelo também está, aliás, a ponderar voltar ao terreno no próximo ano e o Iraque é um dos destinos possíveis, tal como a Turquia e o Irão. Se a escolha recair sobre o Líbano ou os territórios palestinianos – outro dos cenários em cima da mesa – já não se tratará de um projecto a abranger o universo cultural mesopotâmico, mas os fenícios e o mundo do Mediterrâneo. Sem fim à vistaAlepo foi arrasada e parte de Palmira destruída. Hatra e Nimrud terão sofrido perdas irreparáveis, mas a acção do EI, defendem, só agora começou. E é por isso que “a arqueologia do Médio Oriente vive o seu pior momento de sempre”, diz Montero. “Não há nada comparável, sobretudo porque está no começo e abrange todos os períodos. E falamos da destruição de um património único, excepcional, irrepetível. ”É ainda mais grave do que o saque autorizado conduzido pelas potências da arqueologia europeia em período colonial? “É claro que a arqueologia do objecto que se praticava no século XIX e no início do século XX fez com que cidades como Nínive e Nimrud perdessem alguns dos seus maiores tesouros assírios, que hoje estão nos museus de Paris [Louvre], Londres [Museu Britânico], Nova Iorque [Metropolitan] e Berlim [Pérgamo]. Mas aqui falamos de uma destruição completa sem fim à vista”, e que pode estender-se a outros países da região, como a Líbia. Em Nínive e Nimrud, cidades em que predomina a arquitectura de terra, a preservação levanta ainda mais desafios do que em Hatra ou Palmira, já ligadas ao mundo clássico. Mas, quando se trata de “provocar o Ocidente” através da destruição sistemática de sítios arqueológicos que fazem parte da história universal, tanto umas como outras cumprem, sem esforço, os objectivos dos extremistas, argumentam os dois arqueólogos. “Estes bombardeamentos e saques são uma aberração que nada têm a ver com o islão nem com as populações locais, que se sentem profundamente orgulhosas do seu passado. Falamos de países com situações sociais extremamente difíceis e, que ainda assim, fazem um esforço para proteger o património”, conclui Caramelo. A Síria, lembra, pôs a deusa de Mari nos selos dos correios.
REFERÊNCIAS:
A juventude enquanto tempestade
Um filme sempre na contradição entre uma leitura “simbólica”, e pormenores, reais, vivos, que vêm interromper o desfile da simbologia (...)

A juventude enquanto tempestade
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um filme sempre na contradição entre uma leitura “simbólica”, e pormenores, reais, vivos, que vêm interromper o desfile da simbologia
TEXTO: É o primeiro filme da japonesa Naomi Kawase, há algum tempo uma habituée do circuito dos festivais internacionais, a estrear em Portugal. Nota-se, talvez excessivamente, que Kawase filma a pensar numa audiência global, a tal ponto o Japão do seu filme vive à beira de um exotismo calculado e até – tudo o que tem a ver com a filosofia e a religiosidade ancestrais – sobre-explicado ou pelo menos sobre-verbalizado, duma maneira mais pitoresca, mais turística, do que verdadeiramente sentida e orgânica. Apesar de tudo, e se a aposta distintiva do filme é esse olhar sobre algo que vem do “fundo” do Japão cruzado com a sociedade moderna (de resto, um tema perene do cinema do japonês, de ontem e de hoje), A Quietude da Água mostra uma cineasta com talento suficiente para não ser reduzida à “Mira Nair japonesa”. É basicamente uma história de crescimento e passagem, e no seu centro está um par de semi-namorados, cada um com os seus problemas. A miúda tem a mãe a morrer, o miúdo tem os pais separados, e o núcleo do filme acompanha uma dupla aprendizagem: o entendimento da morte e da separação, mas também o entendimento da atracção (os primeiros sentimentos sexuais) entre eles. A força do filme está essencialmente nisto, e na presença do par adolescente, de uma delicadeza que também conserva alguma coisa em bruto. Kawase envolve-os na natureza, a natureza de uma pequena ilha habitada por camponeses e pescadores, animais e vegetação – e se por vezes se sente que o lado “paisagístico” do filme é forçado, que os seus longos planos “vazios” sobre o mar ou sobre o bosque são mais um artifício do que outra coisa, há na integração dos miúdos nessa natureza uma espontaneidade, mesmo uma naturalidade, que acaba por ser convincente. Por outro lado, se Kawase usa e abusa dos elementos folclóricos (as canções e as cerimónias musicais de preparação para a morte da mãe da miúda, por exemplo) eles ganham pleno sentido quando a vida, a imperfeição, toma conta deles (e a miúda se engana durante a execução musical de uma canção). O filme está sempre nesta contradição entre o que parece artificioso e “programado”, em excesso de abertura a uma leitura “simbólica”, e pequenos pormenores, muito reais, muito vivos, que vêm interromper o desfile da simbologia. E embora seja com ela que o filme termina (os miúdos e a “quietude da água”) antes disso há a melhor sequência do filme, que resolve muito bem a confluência do clima narrativo com o clima meteorológico – uma noite de tempestade e vendaval, que abre para um dia de onde todos emergem pacificados. De certa forma, é também essa sequência que nos pacifica, espectadores, com um filme desequilibrado e frequentemente exasperante mas que, como se costuma dizer, tem “qualquer coisa”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte adolescente japonês
No Sri Lanka ainda ferido da guerra o Papa apelou à reconciliação
Visita, primeira etapa da segunda deslocação à Ásia, acontece dias depois da inesperada derrota do Presidente que derrotou rebelião tâmil e endureceu repressão no país. (...)

No Sri Lanka ainda ferido da guerra o Papa apelou à reconciliação
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Visita, primeira etapa da segunda deslocação à Ásia, acontece dias depois da inesperada derrota do Presidente que derrotou rebelião tâmil e endureceu repressão no país.
TEXTO: Um coro de crianças, danças tradicionais, elefantes revestidos com panos festivos e uma imensa multidão acolheram nesta terça-feira o Papa à chegada ao Sri Lanka, etapa inicial da sua segunda deslocação à Ásia, uma das regiões onde o catolicismo está em rápida expansão. Auspiciosamente, a visita coincide com a surpreendente eleição de Maithripala Sirisena, o novo Presidente que prometeu pôr fim à repressão e à perseguição das minorias religiosas, num país onde seis anos depois do fim da sangrenta guerra civil as feridas continuam abertas. Francisco não perdeu tempo e, mal aterrou em Colombo, deixou o primeiro de vários apelos à reconciliação e ao respeito pelos direitos humanos, temas explosivos numa nação que viveu 26 anos de um conflito com raízes étnicas e religiosas. Em 2011, um relatório das Nações Unidas concluiu que até 40 mil civis poderão ter morrido, em 2009, no cerco final do Exército aos Tigres Tâmil, guerrilha que lutava pela instauração de um estado independente para aquela etnia, maioritária no norte da ilha. A derrota dos rebeldes deu ao ex-Presidente Mahinda Rajapakse o estatuto de herói entre a maioria cingalesa, permitindo-lhe reforçar o poder e rejeitar qualquer investigação independente ao desfecho do conflito. “A grande obra da reconciliação deve atender às necessidades materiais mas deve também, e ainda de forma ainda mais importante, promover a dignidade humana, o respeito pelos direitos humanos e a plena integração de todos os membros da sociedade”, disse o Papa, num clara referência à governação de Rajapakse, que presidiu a anos de rápido crescimento económico, mas também de crescente autoritarismo e corrupção. Num aparente apoio à comissão que o novo chefe de Estado prometeu criar para investigar as atrocidades cometidas por ambas as partes, Francisco defendeu que “a busca da verdade é essencial, não para abrir velhas feridas, mas como um meio necessário para promover a justiça, a cura e a unidade”O budismo é a religião dominante no Sri Lanka, seguido por 70% da população, sobretudo da maioria cingalesa, enquanto o hinduísmo é a religião prevalecente entre a minoria tâmil. Os católicos não serão mais de 7%, mas o Vaticano acredita que pode ter um papel importante no processo de reconciliação, aproveitando o facto de ter crentes entre as duas etnias. Mas na partida para a Ásia, Francisco disse igualmente querer contribuir para “encorajar as diferentes formas de diálogo inter-religioso” no país, confrontado nos últimos anos com uma vaga de ataques a mesquitas e igrejas, atribuídos a fundamentalistas budistas. “Todos os membros da sociedade devem trabalhar em conjunto e terem voz. Todos devem ser livres de expressar as suas preocupações, necessidades, aspirações e medos”, acrescentou o Papa, antes de subir a bordo de um jipe descapotável em que percorreu os mais de 20 quilómetros que separam o aeroporto da cidade de Colombo, a capital comercial da ilha. Ao longo de todo o percurso, multidões saudaram efusivamente Francisco, chegando a fazer parar o cortejo. A longa marcha, sob um calor abrasador, deixaram exausto o Papa, que acabou por cancelar um encontro com bispos locais, poupando energia para os dois momentos altos da visita. Na manhã de quarta-feira celebra uma missa à beira mar durante a qual será canonizado Joseph Vaz, missionário goês que no século XVII reergueu a presença católica na ilha, instituída pelos portugueses e perseguida depois durante a ocupação holandesa. Francisco segue depois para o santuário de Madhu, o principal local de peregrinação católica no país, situado numa das regiões mais devastadas pela guerra. Para Sirisena, a visita do Papa é um importante palco para demonstrar a seriedade das promessas que fez depois de sexta-feira ter vencido, contra todas as expectativas, o homem que há uma década governava o Sri Lanka. Antigo ministro de Rajapakse, só em Novembro se distanciou do ex-Presidente, mas conquistou os eleitores comprometendo-se a inverter o caminho de autoritarismo e repressão seguido nos últimos anos – acabaria por vencer com 51, 2% dos votos, beneficiando de uma inédita afluência às urnas, notada sobretudo nas regiões de maioria tâmil. Na tomada de posse, no domingo, prometeu “proteger os direitos dos hindus, muçulmanos e católicos”, definiu como prioridade o combate à corrupção, convidou dissidentes e opositores exilados a regressarem ao país e anunciou o fim da censura na Internet e nos jornais. As organizações de defesa dos direitos humanos não acreditam, no entanto, que Sirisena autorize uma investigação da ONU aos crimes de guerra cometidos na fase final do conflito, altura em que liderava o Ministério da Defesa.
REFERÊNCIAS:
Religiões Budismo Hinduísmo
Quem passa recibo verde é obrigado a entregar um anexo extra com o IRS
Quem acumula trabalho dependente com recibos verdes também é obrigado a preencher o chamado Anexo SS. Segurança Social diz que obrigação vem de 2014 mas que não irá aplicar multas. (...)

Quem passa recibo verde é obrigado a entregar um anexo extra com o IRS
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.1
DATA: 2015-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quem acumula trabalho dependente com recibos verdes também é obrigado a preencher o chamado Anexo SS. Segurança Social diz que obrigação vem de 2014 mas que não irá aplicar multas.
TEXTO: Os trabalhadores por conta de outrem que também têm recibos verdes são obrigados, este ano, a preencher o Anexo SS juntamente com a declaração do IRS. O período de entrega do Modelo 3 do IRS começou a 1 de Maio e termina a 31, mas só no dia 7 o Instituto de Segurança Social (ISS) publicou no seu site uma nota a dar conta desta obrigação. Em causa estão várias categorias de trabalhadores que em 2013 tinham sido isentados dessa obrigação, nomeadamente os trabalhadores independentes que acumulem recibos verdes com uma actividade profissional por conta de outrem e os trabalhadores a recibos verdes não atingiram um rendimento superior a 2515, 32 euros (seis vezes o valor do Indexante dos Apoios Sociais - IAS). É também obrigado a entregar o Anexo SS quem acumula trabalho independente com pensões de invalidez ou de velhice e com pensão por incapacidade para o trabalho igual ou superior a 70%. Na mesma situação estão os independentes que também sejam titulares de rendimentos da categoria B resultantes exclusivamente da produção de electricidade por intermédio de unidades de microprodução. Quem já entregou o Modelo 3 e não preencheu o Anexo SS poderá ainda corrigir, até ao final do mês, a sua declaração de rendimentos. Em todos estes casos, porém, não é necessário preencher o quadro 6 do anexo, alerta o ISS. Na nota publicada no site, o instituto esclarece que este quadro destina-se apenas ao “apuramento das entidades contratantes” e deve ser preenchido “apenas” pelos trabalhadores independentes que prestam serviços a pessoas colectivas e a pessoas singulares com actividade empresarial e que estejam sujeitos ao cumprimento da obrigação de contribuir e tenham um rendimento anual obtido com a prestação de serviços igual ou superior a 2515, 32 euros (seis vezes o IAS). Continuam excluídos da obrigação de preenchimento do Anexo SS os advogados e os solicitadores que estejam integrados obrigatoriamente na respectiva Caixa de Previdência; os trabalhadores que exerçam em Portugal, com carácter temporário, actividade por conta própria e que provem o seu enquadramento em regime de protecção social obrigatório de outro país. Na mesma situação estão os agricultores que recebam subsídios ou subvenções no âmbito da Política Agrícola Comum de montante anual inferior 1676, 88 euros (quatro vezes o IAS) e que não tenham quaisquer outros rendimentos de trabalho independente; assim como os titulares de direitos sobre explorações agrícolas, ainda que nelas desenvolvam alguma actividade, desde que os produtos se destinem predominantemente ao consumo dos seus titulares e agregado familiar e desde que os rendimentos da actividade não ultrapassem os 1676, 88 euros. Ficam também isentos da obrigação os proprietários de embarcações de pesca local e costeira, que integrem o rol de tripulação e exerçam efectiva actividade profissional nestas embarcações; os apanhadores de espécies marinhas e os pescadores apeados; e finalmente, os titulares de rendimentos da categoria B resultantes exclusivamente da produção de electricidade por intermédio de unidades de microprodução, quando estes rendimentos sejam excluídos de tributação em IRS. O Anexo SS é destinado unicamente à Segurança Social e a informação aí constante "é necessária para que a Segurança Social possa aferir com o rigor, para além do apuramento do rendimento relevante, as situações de isenção e exclusão do regime dos trabalhadores independentes", adianta o ISS numa resposta ao PÚBLICO. Nesse sentido, a informação agora solicitada "servirá para obviar que a mesma seja solicitada ao trabalhador independente posteriormente”. Entrega já era obrigatória em 2014, diz ISSA Segurança Social garante que os procedimentos seguidos em 2015 são os mesmos que foram seguidos no ano anterior. Mas, aparentemente, nem os trabalhadores, nem os oficiais de contas sabiam disso. Numa nota publicada no site do ISS a 8 de Maio de 2013 (durante o período de entrega do Modelo 3 do IRS relativo ao ano de 2012), os trabalhadores agora abrangidos eram excluídos da obrigatoriedade de entregar o Anexo SS. No ano passado, porém, não foi publicada qualquer nota ou esclarecimento, pelo que o entendimento dos trabalhadores nestas condições e dos oficiais de contas foi manter os procedimentos de 2013. Em resposta ao PÚBLICO, o ISS garante “não ter havido qualquer alteração aos grupos contribuintes sujeitos à obrigação declarativa” no corrente ano. “A única diferença que houve este ano é que o ISS optou por incluir também no seu portal a informação que é prestada na rede de atendimento da Segurança Social, informação essa que também foi prestada na rede de atendimento no ano de 2014”, garante o instituto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos trabalhador exclusão social consumo
Atirador era um dinamarquês de 22 anos inspirado pelos ataques de Paris
Jovem matou um homem num debate organizado por cartoonista que desenhou Maomé e outro numa sinagoga, antes de ser abatido pela polícia. (...)

Atirador era um dinamarquês de 22 anos inspirado pelos ataques de Paris
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150429092254/http://www.publico.pt/1686193
SUMÁRIO: Jovem matou um homem num debate organizado por cartoonista que desenhou Maomé e outro numa sinagoga, antes de ser abatido pela polícia.
TEXTO: O pesadelo que Paris viveu em Janeiro começou na manhã de dia 7 e só acabou quando os três suspeitos de vários ataques que fizeram 17 mortos foram abatidos pela polícia, no final do dia 9. O de Copenhaga teve início com 30 disparos contra um centro cultural onde decorria um debate sobre “Arte, blasfémia e liberdade”, que era também uma homenagem às vítimas do Charlie Hebdo: 14 horas depois, na madrugada de domingo, a polícia anunciava ter morto a tiro o suspeito atacante. No debate, organizado pelo sueco Lars Vilks, ameaçado desde que em 2007 assinou uma série de cartoons onde Maomé surgia com cabeça de cão, foi morto um documentarista que estava na assistência. Ao início da madrugada, o mesmo suspeito atacou a principal sinagoga da cidade onde decorria uma cerimónia. “Estamos a trabalhar a partir da hipótese de que esta pessoa tenha sido inspirada pelos acontecimentos no Charlie Hebdo, em Paris”, o jornal satírico que foi o alvo principal dos atentados de Janeiro, afirmou Jens Madsen, chefe dos serviços secretos dinamarqueses. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, também sublinhou “o mimetismo da sequência dinamarquesa com os atentados em Paris: “Primeiro, um ataque contra o símbolo da liberdade de expressão, depois um ataque contra judeus, em seguida o confronto com a polícia”. O suspeito atacante foi morto depois de ter disparado contra os agentes, alertados para um apartamento perto da estação de comboios de Norrebro, um bairro multicultural dos subúrbios. Foi a descrição de um taxista que terá transportado o atirador depois do primeiro ataque a conduzir a polícia ao local. As autoridades divulgaram que o atirador era dinamarquês de 22 anos conhecido por actos de violência, ligações a gangs e posse de armas, mas não divulgaram o seu nome. Segundo o jornal Ekstra Bladet, trata-se de Omar el-Hussein, que tinha saído da prisão há duas semanas, depois de cumprir pena por apunhalar um jovem de 19 anos. Hussein faria parte de um gang conhecido como Brothas, que actua precisamente no bairro popular de Norrebro. As autoridades tinham inicialmente admitindo que o atacante tivesse sido influenciado “pela propaganda islamista do Estado Islâmico e de outros grupos terroristas”. A Dinamarca é actualmente um dos países de onde mais jovens saem para combater ao lado de jihadistas no Iraque e na Síria. No café do centro cultural onde decorria o debate de sábado à tarde – alvo de vigilância especial pela presença de Vilks –, foi morto Finn Norgaard, um realizador de 55 anos. Três polícias ficaram feridos. Na sinagoga de Copenhaga, quando um homem chegou e começou a disparar, foi morto Dan Uzan, um membro da comunidade que estava de guarda ao local onde se realizava uma cerimónia de confirmação. Tal como aconteceu a seguir a Paris, quando um cúmplice dos irmãos que atacaram o jornal satírico Charlie Hebdo fez quatro mortos numa mercearia judaica, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, voltou a convidar os judeus da Europa a irem para Israel. “Israel é a vossa casa”, disse, em Jerusalém. “Apreciamos o convite, mas somos dinamarqueses, este é o nosso país”, respondeu Dan Rosenber Asmussen, presidente da Associação Judaica da Dinamarca. Há uma década que a Dinamarca temia, e esperava, um ataque deste tipo: Desde que o jornal Jyllands Posten publicou 12 cartoons com o Profeta, incluindo um onde o turbante de Maomé estava transformado numa bomba, em Setembro de 2005. Na altura, a publicação desencadeou protestos que fizeram pelo menos 50 mortos em vários países muçulmanos, houve ataques contra embaixadas dinamarquesas e boicotes aos produtos de algumas das suas empresas. Tal como Charb (Stéphane Charbonnier), director do Charlie Hebdo, Vilks figurava numa lista antiga da Al-Qaeda de “alvos a abater”. O mesmo acontece com Kurt Westergaard, o autor do cartoon do turbante. “A pequena audiência experimentou medo e horror – e tragédia”, escreveu no seu blogue Vilks, que já foi alvo de ataques e conspirações para o matar. “Enquanto nação, vivemos uma série de horas que nunca vamos esquecer”, afirmou a primeira-ministra dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt. “Provámos o sabor horrível do medo e da impotência provocado pelo terror. Mas também respondemos, como uma nação. ”Ao longo do dia, milhares de dinamarqueses foram até à sinagoga da capital deixar ramos de flores. “Somos um país pequeno e estas coisas não acontecem aqui”, disse à Reuters o estudante Frederikke Baastrup. “Vamos fazer todos os possíveis para proteger a nossa comunidade judaica”, disse ainda a chefe do Governo. Mas Thorning-Schmidt sublinhou que os desafios que o seu país enfrenta não têm como responsável o islão. “Esta não é uma batalha entre o islão e o ocidente, nem uma batalha entre muçulmanos enão muçulmanos, é uma batalha entre os valores da liberdade dos indivíduos e uma ideologia obscura. ”
REFERÊNCIAS:
O extraordinário Michel Houellebecq
Tragico e cómico, o escritor polémico torna-se actor funâmbulo em dois filmes extravagantes, Experiência de Quase-Morte e O Rapto de Michel Houellebecq. (...)

O extraordinário Michel Houellebecq
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.333
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tragico e cómico, o escritor polémico torna-se actor funâmbulo em dois filmes extravagantes, Experiência de Quase-Morte e O Rapto de Michel Houellebecq.
TEXTO: Está obcecado pela morte. Largar tudo, fugir, desaparecer. Esta tristeza existencial tem um corolário, surpreendente mas previsível: é cómica, muito cómica. Sabemo-lo bem, há muito tempo: todos aqueles que nos fazem rir, simples pessoas próximas ou vedetas do humor, são, muitas vezes, seres que sofrem. No fundo, os palhaços são sempre tristes. Michel Houellebecq, o escritor, tornou-se actor pelo tempo de dois filmes. Dois filmes extra-terrestres (poderia ser de outro modo com ele, criatura genial e fora do seu tempo?), lançados ao mesmo tempo. Duas longa-metragens, duas narrativas muito diferentes e, no entanto, um mesmo actor que explode no ecrã, habitado por uma comicidade subtil e afundado num abismo de melancolia poética. Experiência de Quase-Morte: uma abertura crepuscular. Durante dois minutos e meio, uma trovoada e a noite convidam à introspecção, à imobilidade animal perante o cenário do dilúvio. E, de repente, estamos num restaurante de província. Ao balcão, Michel Houellebecq bebe um pastis, troca algumas palavras com outros circunstantes e continua a beber. Está fisicamente esgotado, o rosto exaurido, tocante. Reencontramo-lo na rua, ao sol, imóvel, como que em choque. Volta a casa visivelmente exausto e reencontra a mulher, os filhos, cujos rostos não vemos. Gritinhos das crianças, frases banalíssimas trocadas com indiferença. O cão ladra no vazio, Houellebecq fuma, Houellebecq espreme uma embalagem de vinho tinto até dela extrair a última gota. Degradação. Em seguida, de novo, a noite. Houellebecq diz à mulher que vai sair, mas não demora. Monta na bicicleta, envergando um equipamento coleante e fluorescente, ridículo. Começa a rolar, sai do campo da câmara, que permanece fixa. E parte. A fuga começou. O resto do filme vai desenrolar-se no sumptuoso cenário de uma montanha quase deserta, onde o herói vai tentar fugir à sua medíocre condição de empregado sobrecarregado de call-center em pleno esgotamento, e ir ao encontro de uma fada imaginária, Endorfina, tentando várias vezes o suicídio. Mas a busca é difícil e Endorfina não oferece a sua morte doce ao primeiro que aparece. . . Poema colectivoBenoît Delépine é co-realizador de Experiência de Quase-Morte com Gustave Kervern, figuras do humor francês, anticonformistas e contestatários: “É um poema colectivo filmado. Éramos um grupo muito pequeno e pacífico, passávamos horas sem falar no meio daquela montanha magnífica, numa espécie de regresso ao fundamental. Não tínhamos a pressão do sucesso porque queríamos realmente fazer um poema fílmico. Graças à voz off [Michel Houellebecq], o poeta fala. Também queríamos que isso se visse na imagem, e sobretudo não queríamos um olhar clínico sobre o black-out. Mostramos uma busca espiritual que não é religiosa nem está ligada a um qualquer deus, mas etérea, ligeira. O filme chama-se Experiência de Quase-Morte porque Michel Houellebecq brinca, no sentido lúdico, com a morte. Há também uma segunda leitura que ofereço. Ao ler os testemunhos de pessoas que tiveram uma verdadeira experiência de quase-morte e regressaram, vemos exactamente isso: algo muito luminoso, um bem-estar, o passado que volta, anjos, etc. Fizemos uma mistura de todas essas narrativas. ”O filme está marcado por uma tal melancolia e lentidão, e até por uma tal tensão subjacente, que se poderia pensar ser perigoso mostrá-lo a alguém que não estivesse de bem com a vida. “Mas não é esse o caso, de modo nenhum. Tivemos reacções espantosas como: 'Obrigado, isto evitou-me dez anos de psicanálise!' Na altura, a minha mulher teve uma grande depressão e tive medo de lhe mostrar Experiência de Quase-Morte. Mas quando o viu, pelo contrário, recuperou a energia. . . e, depois, há coisas bizarras: uma enfermeira que cuida de pessoas em estado terminal disse-me: 'Finalmente, vejo falar da morte como a conheço há anos. '”Houellebecq é claramente a chave do êxito deste momento cinematográfico tão atípico. Não cessamos de nos admirar com as suas capacidades de representação, quando o conhecemos como grande escritor e figura polémica e introvertida até ao mutismo. “É muito fácil conviver com Michel Houellebecq. Sentamo-lo numa pedra e ele é capaz de lá ficar durante duas horas sem se mexer, perdido nos seus pensamentos. Nunca tem caprichos, nunca há tensão. Entre cenas, conversamos. Não é uma pessoa complicada. À noite, tínhamos discussões espirituais. Há uma coisa estranha: eu perdi a minha mãe durante a preparação do filme, o Michel perdeu o pai e Gustave Kervern perdeu uma pessoa próxima durante a montagem. Atravessávamos todos, portanto, uma fase reflexiva. Juntos, naquela montanha, vivemos um grande momento de apaziguamento. ”Esta maleabilidade do escritor tornado actor vai muito longe. É filmado muitas vezes em planos muito próximos e acabamos, afinal, por encontrar beleza no seu rosto telúrico e acabado. Vemo-lo suar, arfar, tossir, vomitar baba, a cara contra o solo rugoso, comendo terra. . . Benoît Delépine ainda está espantado: “Extraordinário. Há anos que andava a pensar no Michel. Isto teria sido impossível com outro actor. Aliás, tivemos uma recusa de um actor conhecido, para quem era impensável fazer aquelas cenas humilhantes. Com o Michel, em nenhum momento houve a mínima recusa. Nunca se queixou, mesmo nas cenas mais físicas, apesar de fumar muito e de não praticar desporto há 16 anos! Optámos por uma imagem muito granulosa, como a de uma velha câmara, nada da precisão da alta definição de hoje. Em alta definição, seria horrível. Levámos algum tempo a escolher o grão para obter este lado pictórico. O rosto de Michel é espantoso e nele reside o interesse do filme: é desconhecido. Com um actor conhecido, seria cansativo para o espectador vê-lo sempre em grande plano. O Michel, ele, tem graciosidade, é um bailarino. ”Experiência de Quase-Morte estreou-se em França muito antes da recente e estrondosa polémica sobre o último livro de Michel Houellebecq, Submissão, que esta semana é editado em Portugal e que imagina uma França islamizada, com um presidente muçulmano no poder e a xaria como nova lei da república. Não podemos deixar de inquirir Benoît Delépine sobre o assunto. Teria feito o filme após a polémica e as acusações de islamofobia contra Houellebecq, ele, o realizador tão à esquerda? “Esse não é um problema nosso. Veja [Gérard] Depardieu e Putin. Deus sabe que Putin está nos antípodas de tudo o que eu penso e, contudo, também trabalhei com Depardieu. Isso não fere em nada o seu talento. Tanto ele como o Michel são pessoas formidáveis do ponto de vista humano, as mais espantosas do mundo. Faz parte do jogo. Eu, que sou um ateu confesso, fui escrever este filme para um mosteiro em Poitiers, longe do mundo. Quando tive discussões algo espirituais com o Michel, não me parecia estar a falar de religião, mas de ficção científica. Somos ambos fãs de ficção científica. O Michel foi depois para esse mosteiro que lhe recomendei e que encontramos em Submissão. Na verdade, não devemos tomar tudo pelo valor facial. ”Retrato inesperadoGuillaume Nicloux, realizador de O Rapto de Michel Houellebecq, também faz um julgamento severo da acesa polémica que eclodiu em simultâneo com o atentado, em Paris, contra o Charlie Hebdo – que, por funesta coincidência, fazia uma capa fustigando a alegada islamofobia do escritor no dia em que parte da redacção foi assassinada por terroristas. Guillaume Nicloux teria feito exactamente o mesmo filme, sem mudar nada, se o tivesse realizado depois desses acontecimentos: “Não leio a imprensa, não ouço rádio, não vejo televisão. Estou protegido desses excessos habituais. Retrospectivamente, tenho, de resto, a impressão de que tudo isso está esgotado. Tinha a vantagem de ser amigo do Michel há muito tempo e conhecia-o como um homem alegre, cáustico, com sentido de humor – nada a ver com os estereótipos veiculados pela comunicação social. Quis propor uma visão dele mais vasta e, espero, liberta dessa redução mediática. Conheço-o intimamente e, portanto, quis fazer um retrato inesperado dele. ”E conseguiu. Descobrimos um Houellebecq com uma força cómica incrível. Cada uma das suas palavras e das suas atitudes, que julgávamos conhecer de cor pelas aparições na televisão, ganha uma dimensão de comicidade totalmente inesperada, revelando, se tal fosse ainda necessário, a complexidade, a densidade, a multiplicidade do escritor, que neste filme desempenha o seu próprio papel. “O Michel não sabia que conseguia ser tão engraçado. Descobriu-o na primeira projecção mundial, no Festival de Berlim, perante duas mil pessoas. 'Olha, as pessoas gostam de mim porque faço rir. . . ' Era uma coisa nova para ele. ”O Rapto de Michel Houellebecq tem como ponto de partida um acontecimento real datado de 2011, quando o escritor está em plena promoção de um livro. Houellebecq desaparece de um dia para o outro, desencadeando um frenesim mediático e todo o tipo de especulações, algumas absurdas, ao ponto de ver nisso a mão da Al-Qaeda. Os motivos do desaparecimento permaneceram envoltos em mistério e, apesar de Guillaume Nicloux conhecer a verdadeira história, não faz mais que dar-nos a “sua” versão num filme que se diverte a confundir a realidade (com o realismo de um documentário), com o álibi de ser ficção: “Cada um é ele próprio no filme. Há o lutador, o culturista, o estrangeiro, etc. O que me interessa é confrontar universos completamente diferentes e observar a colisão dos pontos de vista, gerar confissões, comicidade. Fujo da 'representação'. Instaurei um clima que permite às pessoas serem elas mesmas e esquecer que estão a fazer um filme. ”No filme, Houellebecq é raptado por três cromos improváveis e sequestrado numa cabana perdida no meio de uma ruralidade sórdida. Desse choque entre mundos nasce uma profusão de situações risíveis e, por vezes, comoventes, com uma obsessão para o escritor: que lhe devolvam o seu isqueiro, pois já não aguenta ter de pedir lume de cada vez que lhe apetece fumar: “Luuuumeeee!!!”, acaba por berrar, de cabelo hirsuto e algemas nos pulsos. Parece uma evidência uma vez na tela mas, para captar esses momentos hilariantes, hiper-realistas e corrosivos, o realizador utilizou inúmeras estratégias: “É um misto bastante singular de escrita e improvisação. Havia uma estrutura narrativa muito precisa, com um esqueleto cinematográfico tradicional, mas introduzi amplos espaços de liberdade para que o improviso pudesse fluir. Outra técnica consistiu em dar um texto a certas personagens, e não dar às outras. Obtinha assim uma dinâmica variada de onde pudesse resultar a incongruência. Por fim – e isso não se ouve na montagem final, porque o retirei –, dava frequentemente instruções em voz alta durante os takes. ”E, seguramente, também a extraordinária espontaneidade de Houellebecq, que não é um actor profissional: “Trabalhei de forma não convencional, para começar, na ordem cronológica da história. Depois filmava em continuidade e em take único, com quatro câmaras, o que dá um resultado muito impulsivo e naturalista. ”Porém, se O Rapto de Michel Houellebecq é um filme bastante cómico, não deixa de tratar temas profundos e pesados, tal como Experiência de Quase-Morte. Eis um ponto comum, provavelmente inspirado pela personalidade do escritor. Mais uma vez, o palhaço triste. “Tinha vontade de abordar os temas dos meus filmes anteriores: a filiação, a busca existencial. Somos todos fruto do caos, dos danos causados pela família, eu e tantos outros. ” Também ele descreve um homem singular, calmo e de trato fácil: “Falamos de coisas das nossas vidas, por vezes muito banais. Entre amigos, fugimos do 'sensacional'. Podemos rir, discutir, falar de tudo. Menos do filme. Nunca falo do filme com as minhas personagens. ” Com Houellebecq, pode fazer-se tudo sem que ele se zangue. Mesmo estar realmente bêbedo quando interpreta uma personagem embriagada (pois bebe e fuma sempre muito neste filme)? “[Risos] Bem, sim, é o que é divertido no pressuposto do filme: fuma-se droga, bebe-se, conduz-se depressa, fazem-se coisas proibidas. Há as cenas de amor com Fatima. Vivemos realmente no meio mais mentiroso do mundo. É prático, o alibi da ficção, porque mesmo que o tenhamos feito de verdade, podemos sempre dizer que não era. . . ”Ninguém pode prever que êxito terão estas obras excêntricas. Em primeiro lugar, porque saem ao mesmo tempo, com a aposta numa pedra angular absoluta que é o único Michel Houellebecq, personalidade que tanto fascina como choca. Depois, porque o público só se desloca maciçamente quando lhe dão o que está habituado a receber, e aqui são-nos propostos dois objectos singulares. Por último, porque eles se querem intimistas, de pequeno orçamento – e, no entanto, tão ricos de revelações sobre o escritor e sobre as nossas vidas. Não obstante toda a vontade dos seus realizadores de revelar um rosto mais autêntico que a sua imagem mediática falseada, o espectador sairá da sala maravilhado, mas perguntando-se ainda – e poderia ser de outro modo? – quem é Michel Houellebecq.
REFERÊNCIAS:
União Europeia autoriza cravos lilases transgénicos
Várias variedades de milho, soja, colza e algodão receberam também luz verde da Comissão (...)

União Europeia autoriza cravos lilases transgénicos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Várias variedades de milho, soja, colza e algodão receberam também luz verde da Comissão
TEXTO: A União Europeia autorizou nesta sexta-feira a importação de comercialização de 19 organismos geneticamente modificados, entre os quais dois cravos de cor lilás. No seu ADN foram inseridos genes de outras flores para serem capazes de transformar o pigmento vermelho antocianina no azul que é raro encontrar na natureza, e assim dar origem a cravos de uma cor inesperada. Estas autorizações surgem dois dias depois de a Comissão liderada por Jean-Claude Juncker ter proposto uma reforma que, se for aprovada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho de Ministros da União Europeia, permitirá aos 29 Estados-membros proibirem determinados organismos geneticamente modificados (OGM) no seu território, mesmo que tenham sido aprovados após avaliação pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla em inglês). Os países que exerçam esse direito, no entanto, terão de justificar a sua decisão sem usarem como argumento questões ambientais ou relativas à saúde que já tenham sido avaliadas ao nível europeu. Há 42 outros produtos transgénicos (com genes de outros organismos) à espera de aprovação da Comissão Europeia, mas aqueles que agora foram autorizados estavam só à espera de uma decisão final, depois de terem recebido luz verde da EFSA. São autorizações de importação e comercialização, e não de cultivo. Há variedades de algodão, de milho e de soja, e também de colza – uma planta de cujas sementes se extrai o óleo de colza, ou canola, como foi baptizado o óleo produzido através de uma variedade transgénica canadiana. A autorização agora concedida é imediata e válida por dez anos. As autorizações de importação e comercialização destes organismos estavam suspensas porque os Estados-membros não tinham chegado a um entendimento para constituir uma maioria a favor ou contra a sua comercialização. Apenas uma variedade transgénica está autorizada para cultivo neste momento na Europa, e precisamente em Portugal e Espanha: o milho MON810 produzido pela multinacional Monsanto. Nos produtos humanos há muito pouco que seja autorizado de OGM, mas o mesmo não se passa na alimentação animal. Segundo a Reuters, 60% das necessidades da UE em proteínas vegetais para alimentar o gado são satisfeitas por soja importada de países onde está muito espalhado o cultivo de soja transgénica.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
O tigre e o jacaré, ou a vida real filmada pelo cinema no IndieLisboa
Numa das melhores competições de sempre do festival, uma mão-cheia de “ficções do real” constroem-se a partir do mundo à sua volta. E a melhor delas é brasileira: Ela Volta na Quinta (...)

O tigre e o jacaré, ou a vida real filmada pelo cinema no IndieLisboa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Numa das melhores competições de sempre do festival, uma mão-cheia de “ficções do real” constroem-se a partir do mundo à sua volta. E a melhor delas é brasileira: Ela Volta na Quinta
TEXTO: Dizer que a realidade é mais estranha que a ficção tornou-se num lugar-comum. Afinal, quantos achariam há uns anos atrás que Hollywood passasse a basear todo o seu modelo de negócio em filmes de super-heróis, como se o cinema não passasse de um negócio de feira?Enquanto isso, há quem guarde um tigre e um jacaré no 21º andar de um bloco de apartamentos do Harlem nova-iorquino. Parece ser o tipo de coisa de que só o cinema se lembra, mas aconteceu mesmo na vida real e serve de pretexto para falarmos de uma das mais intrigantes linhas de programação do IndieLisboa 2015: a presença cada vez mais forte na sua competição internacional dos chamados “cinemas do real”, filmes que diluem deliberadamente a fronteira entre “ficção” e “documentário”. Se é no DocLisboa que se tem sentido uma atenção mais regular aos cinemas do real, a verdade é que, dos onze títulos a concurso no Indie 2015 – e é um dos concursos mais fortes de sempre do certame -, quatro instalam-se propositadamente nessa “terra de ninguém”. Contam histórias que são verdadeiras embora não tenham acontecido exactamente assim, ou que não são verdadeiras mas podiam ter sido. Vêm dos quatro cantos do planeta e a sua proximidade em termos de produção e estilo é significativa do que se passa no mundo real onde o cinema não precisa de super-heróis para falar ao seu público. Comece-se mesmo pela história do tigre e do jacaré: o nova-iorquino Antoine Yates teve mesmo durante alguns anos um tigre e um jacaré, a que chamou respectivamente Ming e Al, no seu apartamento do Harlem, e que foram descobertos em 2003. O artista plástico britânico Phillip Warnell conta essa história como ponto de partida para questionar ideias de inocência, natureza e civilização na sua longa Ming of Harlem – Twenty One Storeys in the Air (Culturgest, domingo 26, 21h30; Ideal, quarta 29, 22h00). O filme é francamente interessante nas suas “pontas” documentais, que acompanham Yates a regressar aos seus velhos poisos nova-iorquinos e recordar a sua relação com Ming. A secção central, contudo, é enfurecedora: espantosas imagens do tigre a habituar-se à casa (filmadas em 2014 num apartamento simulado na segurança de um jardim zoológico), por si só fortíssimas na sua abordagem falsamente documental, aparecem sonorizadas por um texto insuportável do filósofo Jean-Luc Nancy que leva, infelizmente, Ming of Harlem para o ensaio abstracto. Daqui passamos para as ficções semi-improvisadas com actores na sua maioria não-profissionais. Da Eslováquia chega-nos Koza (São Jorge, sábado 25, 16h00; Ideal, segunda 27, 22h00), onde Ivan Ostrochovsky filma o antigo boxeur olímpico checo Peter Baláz numa ficção inspirada pela sua própria vida. No filme, Baláz vive de biscates e ensaia um regresso aos ringues para ganhar o dinheiro suficiente para pagar o aborto da namorada; na vida real, era um sem-abrigo que a demorada produção do filme (quatro anos) permitiu manter à tona e devolver a uma vida normal. Ostrochovsky, que havia anteriormente filmado um curto documentário sobre o boxeur, desenvolve Koza como uma ficção clássica sobre a exploração do homem pelo homem que se parece construir pacientemente sob os nossos olhos, mas o resultado final não traz sinais particulares que o distingam do neo-realismo pós-moderno na senda dos irmãos Dardenne. É, aliás, um pouco esse o problema de Sivas (Culturgest, quarta 29, 19h00; Ideal, sexta 1, 22h00), do documentarista turco Kaan Müjdeci, ainda assim mais sólido do que Koza. A história de um miúdo que recupera um cão de combate como atalho para a sua aceitação e respeito é uma ficção sem complacências baseada na realidade da Anatólia rural e na própria experiência do realizador a filmar a região, contaminada por um olhar atento às tradições e jogos de poder locais que se mantém sempre à altura do seu herói (Dogan Izci, um miúdo não-profissional com uma presença de fazer inveja a muito veterano). Tanto Koza como Sivas evitam o exotismo sórdido, mas escorregam em demasia para a gaveta do “filme de festival” que se está a tornar numa armadilha perigosa. Sobra o mais estimulante e convincente destes exercícios - tanto mais estimulante quanto marca a constante “pontaria” do Indie na divulgação dos novos talentos do cinema do “país irmão”. Depois de Kleber Mendonça Filho (O Som ao Redor) em 2012, Marcelo Lordello (Eles Voltam) em 2013 e Renata Pinheiro (Amor, Plástico e Barulho) em 2014, é a vez de André Novais Oliveira com Ela Volta na Quinta (São Jorge, terça 28, 21h45; Ideal, sábado 2, 22h00), exemplo perfeito do que deve ser uma “ficção do real”. O que aparenta ser um documentário sobre o quotidiano dos pais do realizador revela-se rapidamente ser uma ficção encenada, inspirada por factos verdadeiros e interpretada pelos próprios intervenientes. Ela Volta na Quinta mantém intacta a curiosidade e a disponibilidade do olhar documental (onde uma coisa tão simples como uma amolgadela num frigorífico pode ser um ponto de partida), mas usa-o como motor de uma ficção montada com estonteante naturalidade, uma estafeta entre os modos diferentes como os Novais Oliveira (pai, mãe e dois filhos) vão reagindo, enquanto indivíduos, às questões que os afectam enquanto família. É um dos momentos altos de uma das melhores secções competitivas de sempre do Indie, no exacto ponto intermédio entre a ficção desenvolta e fresca de Güeros, do mexicano Alonso Ruizpalacios, e o magnífico documentário-ensaio de Jean-Gabriel Périot, Une Jeunesse Allemande. E não são precisos super-heróis para chegar lá; basta só gente real.
REFERÊNCIAS:
Criada rede que retém petróleo mas deixa passar água
Rede de aço inoxidável coberta com nano-partículas de sílica pode vir a ser utilizada em desastres ambientais, como o derramamento de petróleo. (...)

Criada rede que retém petróleo mas deixa passar água
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rede de aço inoxidável coberta com nano-partículas de sílica pode vir a ser utilizada em desastres ambientais, como o derramamento de petróleo.
TEXTO: Uma equipa de investigadores da Ohio State University, nos Estados Unidos, criou uma espécie de malha de aço inoxidável coberta com nano-partículas de sílica que consegue repelir petróleo quando adicionado a água. O aspecto do material pode não ser impressionante mas a sua utilidade pode mudar a forma como se combatem desastres ambientais em rios, lagos ou no mar, e os custos que envolve. No vídeo de apresentação da universidade, um dos elementos da equipa de investigadores mistura água com petróleo e deita o líquido sobre a malha, colocada sobre um copo. Ao passar pela rede com sílica, o óleo fica à superfície e a água sai limpa, ficando os dois líquidos isolados. Bharat Bhushan, professor de engenharia mecânica na universidade norte-americana e um dos elementos da equipa, explica que a malha é inspirada nas folhas de lótus, que repelem a água mas não líquidos oleosos, devido à microarquitectura irregular que caracteriza as suas folhas. O objectivo da equipa foi fazer o contrário e para isso experimentou pulverizar a rede de aço inoxidável com nano-partículas de sílica, para criar uma superfície irregular, e colocaram por cima camadas de micropartículas embebidas em surfactante, substância utilizada nos detergentes. O resultado foi que a água e o óleo ficaram separados quando passados pela malha. Qualquer um destes materiais é não-tóxico e pouco dispendioso, o que justificou a sua escolha, sublinha Bharat Bhushan, citado pelo gabinete de imprensa da Ohio State University. O professor estima que a malha desenvolvida pela sua equipa, ainda em tamanho muito reduzido, poderá vir a ser criada por menos de um dólar por metro quadrado. Durante as investigações, a equipa descobriu ainda que criando diferentes combinações de ingredientes nas camadas para criar a malha, esta pode passar a ter outras propriedades. “O truque está em seleccionar as camadas certas”, explica Bharat Bhushan, acrescentando que essas alterações podem dar propriedades de absorção do óleo em vez de o repelir. A malha de aço inoxidável pulverizada como nano-partículas de sílica pode vir a ser utilizada para limpar manchas de combustível derramado no mar, por exemplo, ou para procurar depósitos de petróleo no subsolo. “Se aumentarmos a malha em escala, é como se conseguíssemos resolver um derramamento de óleo com uma rede”, sintetiza Bharat Bhushan. O investigador pretende continuar a estudar com a sua equipa as superfícies naturais que existem no meio ambiente, sejam folhas, asas de borboleta ou a pele de alguns animais, para “entender como a Natureza resolve certos problemas”. “Agora queremos ir mais longe do que a Natureza é capaz com o objectivo de resolver novos problemas”, concluiu o docente.
REFERÊNCIAS: