“Dar mais poderes ao Parlamento Europeu não diminuiu o défice democrático” da UE
Para Joseph Weiler, há um problema de concepção na estrutura da União Europeia: os cidadãos não elegem quem os governa nem determinam a direcção das suas políticas. (...)

“Dar mais poderes ao Parlamento Europeu não diminuiu o défice democrático” da UE
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20161229032031/https://www.publico.pt/n1755256
SUMÁRIO: Para Joseph Weiler, há um problema de concepção na estrutura da União Europeia: os cidadãos não elegem quem os governa nem determinam a direcção das suas políticas.
TEXTO: Por que é que os líderes europeus nunca assumem as responsabilidades na degradação do projecto europeu?A cultura em que ninguém se sente responsável por nada também se estende aos governantes. Os governos dizem que tudo o que corre mal a culpa é da UE. A UE diz que a culpa é dos Estados-membros. Quem é que está a fazer introspecção e a pensar: “Em que momento é que escolhemos o caminho errado que explica o “Brexit”? Ninguém. Estão todos a dizer: “A culpa é destes britânicos terríveis, eles é que nunca quiseram nada, e agora vão sofrer”. E quais foram os caminhos errados?Falemos então da UE. Digo-lhe qual foi o mais fundamental. Nos anos 1960, 70 e mesmo depois toda a gente entendia que havia um défice democrático na CEE. Achava-se que isso acontecia porque o Parlamento Europeu não tinha poderes. Para corrigir isso era preciso dar-lhe plenos poderes. Mas há aqui um problema de concepção. Porquê? Porque não entende o essencial na democracia. Se olharmos para o aconteceu entre 1979, a primeira vez que houve eleições directas para o Parlamento Europeu, e 2004, quando foi aprovado o Tratado de Lisboa, vemos que a cada revisão dos tratados, os poderes do Parlamento aumentaram sempre. Mas a cada eleição, menos e menos eleitores votaram – em 1979 foram 65%, em 2014 menos de 40% e em alguns países foram apenas 20%, a mais baixa participação de sempre. Como é que explicamos isto? Eu tenho uma explicação muito simples. Que é?Em todos os sistemas há duas condições essenciais para a democracia. Uma é que se não gostarmos do Governo podemos mudá-lo, pelo menos uma vez a cada quatro ou cinco anos a maioria tem o poder de decisão. A escolha política está no cerne da democracia. A segunda condição é que se um número suficiente de pessoas votarem de uma determinada forma essa preferência vai traduzir-se em políticas: se o Governo for de centro-esquerda será diferente de um Governo de centro-direita. Na estrutura da UE estas duas condições não existem. Quando elegemos o Parlamento Europeu não determinamos quem governa. E ninguém foi capaz de demonstrar que ao mudar a maioria no Parlamento Europeu a direcção das políticas mude. Não é uma questão de défice democrático, o que há é um défice político. A democracia sem política não é democracia. A democracia sem escolha não é democracia. E o povo é sábio e é por isso que não vota. Porque haveria de votar se não pode decidir sobre estes dois aspectos essenciais: sobre quem o governa e como é governado. É por isso que o slogan mais inteligente da campanha do “Brexit” foi “Take back control” (Reconquistar o controlo). Mas quem é que hoje, na reacção referendo admite que o sistema democrático na UE é defeituoso, que as pessoas sentem que não têm poderes?Alterar isso obrigaria a UE a grandes reformas quando ninguém quer mudar quase nada. Pois, em vez disso, estão a dizer: vamos fazer coisas que possamos concretizar e que levem as pessoas a perceber que a UE vale a penaOs projectos sobre defesa europeia, a aposta no emprego jovem…Sabe quem inventou isso? O Império romano. Chamou-lhe pão e circo. O pão muda, o circo muda, mas é a mesma coisa. Se a nossa reacção ao “Brexit” é pão e circo… Se me pergunta o que correu mal, posso dar-lhe uma lista longa, mas a coisa mais importante é a UE não perceber não perceber que dar mais poderes ao Parlamento Europeu não diminuiu o défice democrático. A UE tem enormes poderes – e eu sou um europeísta convicto, é um projecto nobre – mas tem este mal-estar no seu centro e as pessoas têm medo de politizar a União, mas isso é uma condição para a democracia. Esse era um dos argumentos da campanha pelo “Brexit”: é impossível reformar a UE, precisamos de sair. O facto de terem sido eles a dizê-lo não significa que seja errado. Eu apenas discordo da opinião que é impossível reformá-la. Certamente é impossível se não fizermos uma análise correcta do que está errado. E se a nossa resposta é só pão e circo, isso não vai funcionar, porque as pessoas se preocupam com outras coisas. As pessoas querem sentir que têm poder, querem que exista esta combinação de democracia e liderança. Falava da importância do patriotismo, de as pessoas têm de se sentir que fazem parte de uma comunidade. Sim, e de não se sentirem envergonhadas de serem patriotas. Isso cria uma contradição no quadro de uma união que procura mais integração. Não há contradição. Essa é a essência da União, é essa a sua originalidade, é por isso que é diferente de um Estado federal. É uma das razões porque não gostei da transição [efectuada pelo Tratado de Maastricht] da designação de “Comunidade” para “União”. Aquilo que a UE conseguiu é algo que nunca existiu em lado nenhum ou em momento nenhum da História – a de termos um nível elevado de integração e ao mesmo tempo Estados-membros muito robustos, um sentido muito forte de identidade nacional, de especificidade cultural que não é contraditório com mais integração, desde que seja feito de forma voluntária, desde que haja limites. E isso é outra coisa que correu mal – falamos de direitos fundamentais, mas não de limites fundamentais e este discurso perdeu-se. Hoje em dia qualquer coisa que a União queira fazer, parece puder fazer. Sim, o excesso de regulamentação. . . Exacto. É um erro fundamental que foi feito. Já escrevi sobre isso ad nauseam e ad tedium. Os direitos fundamentais e os limites fundamentais são ambos muito importantes para a UE. Tem de haver a noção de que há coisas que não são da sua competência. Mas não há uma contradição. Quem tem irmãos sabe que todos têm uma vida autónoma, diferente da nossa, mas não deixamos por isso de ser uma mesma família. Essa é uma palavra muito importante, estamos sempre a falar da família europeia. Mas nos últimos anos essa noção esbateu-se. O irmão mais pobre não foi bem tratado pelos outros. Pois não. Isso é o resultado de décadas de negligência. Há 20 anos que falo de família, da necessidade de cultivar a solidariedade na Europa. São os agraços (uvas amargas) de que o profesta Isaías falava. Estamos a comê-las após anos de negligência. O projecto de cidadania europeia falhou e porquê? Porque 90% do projecto se focava na mobilidade, na liberdade de circulação. Eu defendo a liberdade de circulação, mas isso não é um projecto mobilizador. Sabe qual é a percentagem da população europeia que vai trabalhar para outro país? 7%. Para a maioria das pessoas, ter de ir para outro país é uma solução de recurso. As pessoas querem viver no seu país, ver os seus filhos e netos a crescer, viver na sua comunidade, apoiar a sua equipa de futebol, mas de repente as condições económicas pioram e têm de se mudar. Isto é uma necessidade, não é algo que seja mobilizador. Mas foi nisso que se baseou o projecto de cidadania. E o que devia estar no cerne da cidadania?Exactamente aquilo que eu lhe falava. Responsabilidade mútua. Ter a coragem, que nenhum político europeu teve ou tem, de propor um imposto europeu. Os impostos são mais importantes do que o voto na política. Deixe-me dar-lhe um exemplo. Nos anos de 1980, nos EUA, o estado do Texas teve o mesmo tipo de crise bancária que afectou a Irlanda – excesso de exposição ao sector privado. Tal como na Irlanda houve o risco de todo o sistema bancário colapsar. Na altura houve o mesmo debate que houve agora na UE – “se os ajudarmos, os banqueiros vão voltar a fazer o mesmo, se não os ajudarmos quem vai pagar são os pequenos depositantes, não os grandes” – mas com uma diferença, ninguém na Califórnia duvidou se devia ajudar ou não os texanos. Por solidariedade?Não, por dinheiro. Porque não era dinheiro californiano, era dinheiro americano. Mas nós não temos dinheiro europeu. Os impostos têm um enorme simbolismo político. Eu detesto a situação em Espanha, onde o País Basco paga a Madrid pelos serviços federais – aquilo que recebemos de vocês é pago, se houver um sismo na Andaluzia isso não é problema nosso. O dinheiro, os impostos têm um enorme significado político. Os impostos também criam responsabilidade. As pessoas votariam para o Parlamento Europeu, iriam querer saber o que eles estavam a fazer com o dinheiro do imposto que pagaram. Querem cidadania europeia, então criem uma taxação europeia. Não é popular, mas às vezes é preciso fazer coisas que não são populares. Actualmente é quase impossível um político fazer uma proposta dessas…Sim, hoje é. Mas há 15 anos, quando havia dinheiro a circular em abundância e optimismo era mais fácil. Estamos sempre a discutir como é actualmente difícil fazer coisas. Mas quando me pergunta o que correu mal eu digo-lhe que houve condições para criar dinheiro europeu. Só que a Europa fez aquilo que os gregos fizeram, nos bons tempos não pensámos nos tempos maus que podiam surgirFalemos do futuro. Há quem diga que 2017 pode ser um ano pior do que 2016, para a Europa e não sóEm relação ao Trump, o que é realmente devastador é o facto de tantos americanos terem votado nele, de o terem eleito. Mas em relação ao que ele irá fazer, não podemos saber porque ele propõe coisas tão contraditórias, tem uma personalidade tão volátil, não sei o que ele poderá fazer. Em relação à Europa, temos quatro eleições importantes – provavelmente em Itália, depois do fiasco do referendo, na Alemanha, em França e na Holanda. E não sabemos o que pode acontecer. A única coisa que sabemos com certeza é que não podemos acreditar no que dizem as sondagens. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em relação ao referendo britânico disse que a campanha foi pior para a UE do que o desfecho. O mesmo pode ser dito em relação às eleições holandesas ou francesas?Sim, é o discurso do “Brexit” – o que é bom para nós, o que é mau para nós. A minha esperança são os jovens. Quanto mais jovens são os eleitores menos votam em partidos como estes. Não sei o que acontecerá em 2017, mas temos de depositar a nossa esperança nos mais novos. Porque os mais jovens não estão dispostos a perder a UE. Para eles, a Europa é uma comunidade de destino. A ideia de sair da UE, de deixar de ser cidadãos europeus é inconcebível para alguém com menos de 40 anos. Com estas crises, esta falta de responsabilização de confiança, ainda há esperança para o projecto de integração?O artigo que escrevi para o El País – Qué te há pasado, Europa (8/6/2016) – terminava com uma nota de esperança, porque ter esperança não é ter certeza, mas eu acho que somos uma comunidade de destino, quer queiramos, quer não. É por isso que uma saída ordenada do Reino Unido da UE é do interesse de todos, porque muda o discurso e confronta os outros países com a questão: quer realmente sair? A minha esperança é que a maior parte diga não. E a alternativa da esperança num sonho é o pesadelo e para mim a desintegração da UE é impensável, é um pesadelo. É o regresso aos anos de 1930 de que tanta a gente fala. Não, não estamos em 1939, estamos em 1914. Em 1939 toda a Europa sabia o que aí vinha, foi tudo muito transparente. Em Fevereiro de 1914, se perguntasse a qualquer pessoa se haveria guerra na Europa dentro de seis meses, as pessoas diriam que estávamos a sonhar acordados. Para mim, isto é mais parecido com 1914, com o que aconteceu há cem anos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA UE
O que a Câmara de Lisboa, a EDP e Serralves compraram na ARCO
Autarquia fez investimento de cem mil euros. Galeristas fazem o balanço deste feira de arte contemporânea de Lisboa que teve dez mil visitantes. (...)

O que a Câmara de Lisboa, a EDP e Serralves compraram na ARCO
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Autarquia fez investimento de cem mil euros. Galeristas fazem o balanço deste feira de arte contemporânea de Lisboa que teve dez mil visitantes.
TEXTO: A Câmara Municipal de Lisboa (CML) comprou 21 obras de 14 artistas na ARCOlisboa, num investimento de cerca de cem mil euros, que duplicou o valor do ano passado. Já as fundações EDP e Serralves, que também fizeram compras, não revelaram o valor das suas aquisições. O curador Sérgio Mah, que fez parte da comissão que escolheu as peças na feira de arte contemporânea para a CML, disse ao PÚBLICO que este ano foi feito um conjunto de aquisições mais equilibrado, porque se conseguiu comprar muito mais cedo, logo no início da ARCOlisboa, que este domingo terminou na Cordoaria Nacional. “Conseguimos cruzar bastantes coisas: várias galerias portuguesas, algumas não contempladas no ano passado, galeristas estrangeiros com artistas portugueses e artistas emergentes e de média carreira com alguns consagrados", disse. Da lista de compras fazem parte 14 galerias, uma das quais estrangeira, com trabalhos de Paulo Nozolino (Galeria Quadrado Azul), Luísa Cunha (Miguel Nabinho), João Queiroz (Vera Cortês), Ana Manso (Pedro Cera), Paulo Brighenti (Pedro Oliveira), Susanne Themlitz (Ángeles Baños), Pedro Calhau (Módulo), José Loureiro (Fonseca Macedo), Fernanda Fragateiro (Baginski), João Marçal (Graça Brandão), Alexandre Conefrey (Belo-Galsterer), António Júlio Duarte (Pedro Alfacinha), Sara Chang Yan (Madragoa) e Ângela Ferreira (Filomena Soares). Num comunicado de imprensa divulgado antes do encerramento, a ARCO fazia já um “balanço positivo” da sua segunda edição em Lisboa, em que terá recebido “cerca de dez mil visitantes” (menos do que os 13 mil de 2016). O comunicado identificava as compras feitas por mais três instituições, desde a Fundação ARCO à Fundação EDP, passando pela Fundação Serralves. Miguel Coutinho, director da Fundação EDP, disse ao PÚBLICO que a EDP realizou uma dezena de compras para a sua colecção, esclarecendo que as aquisições foram propostas pelo director do MAAT, Pedro Gadanho, e avaliadas pelo conselho de administração da fundação, conforme as regras da casa. O director não revelou o valor das aquisições. Em várias galerias portuguesas, a EDP comprou obras de Ana Vidigal (Galeria Baginski), Gil Heitor Cortesão (Pedro Cera), Patrícia Almeida (Pedro Oliveira) Marco Pires e Vasco Barata (Fonseca Macedo), Carlos Roque e Miguel Palma (Presença). Segundo o comunicado da Arco, a Fundação de Serralves comprou trabalhos de Yonamine (Galeria Cristina Guerra ), Gerardo Burmester (Fernando Santos), Pedro Barateiro (Filomena Soares) e Renato Leotta (Madragoa). Já a Fundação ARCO adquiriu uma obra do artista Pedro Neves Marques, da galeria italiana Umberto di Marino, que passará a integrar a Colecção ARCO, no CA2M de Madrid. Com 58 galerias, segundo os organizadores, a ARCOlisboa destacou-se “pelo aumento do volume de vendas”, “apesar de não haver ainda dados oficiais”. Na secção Opening, dedicada às galerias mais novas, que este ano existiu pela primeira vez e teve comissariado de João Laia, uma galeria como a mexicana José García não estava tão optimista. “Para nós [a feira] não foi tão boa, porque o público em geral fica muito nas galerias locais. Talvez os nossos formatos e materiais não sejam os mais adequados”, explicou Ana Castella, directora da galeria, num stand que apresentava obras feitas com peles de animais ou gravatas Hermès. Castella, que destacou o comissariado de João Laia desta secção com oito galerias, afirmou que fez novos contactos com profissionais do meio, “que talvez se possam desenvolver em coisas futuras para a galeria”. Venderam apenas uma peça da artista dinamarquesa Nina Beier, antes de a feira começar, para um coleccionador que já conheciam. Já a lisboeta Galeria Madragoa, com um ano de vida, vendeu cinco peças, entre as quais duas para a CML e uma para a EDP. “Para nós com estas vendas foi bom. E houve contactos também muito bons”, afirma o italiano Matteo Consonni, director da Madragoa. “É muito importante que o Opening traga mais galerias jovens do estrangeiro com um programa radical. ”Tal como outros colegas, Matteo Consonni é da opinião de que a secção Opening não estava bem sinalizada e de que as pessoas tiveram alguma dificuldade em encontrá-la. Mas mais relevante do que a feira correr bem para a Madragoa, o galerista defende que “é importante que corra bem para galerias estrangeiras, como a José García, que já fazem a feira de Basileia, por exemplo”. A Hawaii-Lisbon, uma galeria que se instalou há sete meses na Parede, diz que se tudo o que está prometido acontecer será muito positivo: “Tenho o stand quase todo vendido. Para já são só reservas, mas vão-se concretizar!” Na sua galeria, que tem seis artistas, apenas um, Margarida Gouveia, é português. No stand, destacam-se uma tela feita de toalha turca ou esculturas construídas com peças de canalização. No espaço principal da Cordoaria, entre as galerias brasileiras, havia quem estivesse contente e quem ainda esperasse boas notícias. Anita Schwartz, que veio pela primeira vez do Rio de Janeiro, com algumas peças na casa dos 200 mil euros e um stand histórico, estava à espera de concretizar uma venda importante para a participação poder ser positiva. Na Galeria Vermelho, de São Paulo, destacava-se o interesse pela obra de Cinthia Marcelle, que acabou de receber uma menção honrosa na Bienal de Veneza. “Foi bom. Fizemos bons contactos e colocámos pontualmente obras em boas colecções”, diz Marina Buendia, directora da galeria. Na francesa Pietro Sparta, que trouxe uma das maiores obras da feira, uma escultura em verga do italiano Mario Merz com quatro metros de altura, Pascale Petit achava que este ano talvez houvesse menos público, porque o programa paralelo era muito intenso. A feira correu “muito bem”, “melhor do que no ano passado”, por causa dos “contactos com coleccionadores da Bélgica, Suíça e França” Destacou as vendas de uma escultura de Thomas Schütte, um consagrado, e de uma instalação de parede de Alice Bidault, uma artista de 23 anos. Na espanhola Leandro Navarro, não se tinham vendido duas pequenas Vieiras da Silva, que rondavam os 60 mil euros, mas Iñigo Navarro Valero estava contente porque vendeu melhor do que no ano passado. “As pessoas já conheciam e voltaram. Perguntavam pela Vieira da Silva, mas o interesse estava mais nas coisas internacionais, em Miró e Tapiès. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No comunicado de domingo, a ARCO revelou que já se está a preparar para uma nova edição em 2018. Notícia actualizada às 20h35 com depoimentos de galeristas. Dia 22 foi corrigido o nome da artista Margarida Gouveia, anteriormente identificada como Mariana.
REFERÊNCIAS:
O TLS é que é
Na edição de 17 de Maio há uma carta magnífica sobre Harper Lee, escrita por um amigo dela, George Malko. Não é preciso gostar de Harper Lee para ficar comovido. (...)

O TLS é que é
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na edição de 17 de Maio há uma carta magnífica sobre Harper Lee, escrita por um amigo dela, George Malko. Não é preciso gostar de Harper Lee para ficar comovido.
TEXTO: O TLS, que dantes se chamava Times Literary Supplement, é excepcional: é o único jornal de língua inglesa que está a melhorar. Os outros que conheço — alguns mais (Spectator, Telegraph, Times), outros menos — vão piorando de ano para ano. Quando Stig Abell, que era subdirector do Sun, foi indicado para substituir o excelentíssimo Peter Stothard como director, entrei em pânico. Agora, graças a Abell e às pessoas que ele pôs a escrever, ler o TLS é um prazer gloriosamente imprevisível. Depois de lido até vou ouvir o podcast para verificar que, em geral, é melhor ler autores do que ouvi-los — mas ouvi-los também é inesperado e divertido. A versão Kindle do TLS custa menos de 2 euros por edição, uma pechincha que faz perdoar as falhas de transcrição. Na edição de 17 de Maio há uma carta magnífica sobre Harper Lee, escrita por um amigo dela, George Malko. Não é preciso gostar de Harper Lee para ficar comovido. Também não é preciso gostar de ciclismo para rir com as dentadas bem dadas que John Foot aplica nas pernas truculentas de dois desgraçados que escreveram livros sobre o Giro d’Italia. Richard Smyth, no ensaio How British Is It? é preclaro e contundente sobre fronteiras animais e políticas, mencionando a única ave britânica que é endémica: a Loxia scotica. Uma escritora impaciente e subversiva que passarei a ler sempre é Claire Lowdon, autora (na edição de 12 de Maio) de Crying Wolf, uma apreciação impiedosa e hilariante da descendência literária de Angela Carter.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave pânico
Skyr é queijo
O skyr é um queijo farinhento que se apresenta como um iogurte islandês. A versão natural até é saudável mas a consistência e o sabor são desagradáveis. (...)

Skyr é queijo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O skyr é um queijo farinhento que se apresenta como um iogurte islandês. A versão natural até é saudável mas a consistência e o sabor são desagradáveis.
TEXTO: É preciso dar os parabéns aos propagandistas do skyr. É a campanha publicitária mais bem montada do milénio. Não se fala noutra coisa. Deixou-se até esgotar para se dizer que era a malta fit dos ginásios que estava a comprá-lo todo. O skyr é um queijo farinhento que se apresenta como um iogurte islandês. A versão natural até é saudável mas a consistência e o sabor são desagradáveis. Por isso, nas versões ditas de fruta, disfarça-se com adoçantes e amidos. Sairia mais barato e mais saudável comprar um iogurte e uma peça de fruta ou outro queijo de leite desnatado com muitas proteínas, poucas calorias e pouca gordura. É tanta a propaganda que é difícil encontrar avaliações sensatas e bem informadas na Internet, como é o caso de "What Is Skyr?" de Carolyn Brotherton na Cook's Science. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No Oxford Companion To Cheese de Catherine Donnelly ela explica que o skyr era feito com o que restava do leite depois de se ter tirado a nata (para fazer manteiga). Acrescentava-se leite fresco aquecido e coalho (de origem animal, claro). Depois de azedar, escorria-se para tirar o soro, essencial para preservar carne e peixe. O que restava era o skyr que aproveitavam para comer. Dada a dureza dos invernos era uma questão de sobrevivência. Escusado será dizer que os micróbios que ocorriam naturalmente na Islândia (durante os tais "mais de 1000 anos" da publicidade) não são os mesmos que usam nas fábricas de onde saem as toneladas de skyr que compramos. Sim, mas a verdade nunca tem tanta graça.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave carne animal
A Feira do Livro de Lisboa continua a remar contra as quebras do mercado
Mais visitantes e mais vendas, a APEL diz que resultados são muito positivos e que ultrapassam a edição anterior. (...)

A Feira do Livro de Lisboa continua a remar contra as quebras do mercado
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2017-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mais visitantes e mais vendas, a APEL diz que resultados são muito positivos e que ultrapassam a edição anterior.
TEXTO: A organização da Feira do Livro de Lisboa acredita que o número de visitantes terá sido superior ao do ano passado, apesar de ainda não terem números oficiais. “Para termos uma comparação, um mau dia nesta edição era um bom dia da anterior”, diz Bruno Pires Pacheco, secretário-geral da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), quando lhe pedimos para fazer um balanço dos 19 dias que durou o evento, que terminou esta segunda-feira e proporcionou o encontro entre autores, editores e leitores no Parque Eduardo VII, em Lisboa. Com o dia da abertura, a 26 de Maio, entre os de maior adesão e com a presença do Presidente da República, a feira literária recebeu muitos visitantes durante os dias da semana, a sua maior parte a partir do meio da tarde e, especialmente, durante a Hora H, a última hora da feira em que os leitores tiveram a oportunidade de comprar livros editados há mais de 18 meses, com um mínimo de 50% de desconto. “A Hora H já existe há cinco anos e funciona, porque faz com que a feira ganhe o período da noite”, afirma Bruno Pires Pacheco. No entanto, os fins-de-semana registaram a maior enchente, com excepção do último, coincidente com o festival Nos Primavera Sound e com as festas dos Santos Populares em Lisboa. Entre os editores, é unânime que esta Feira do Livro correu melhor do que a do ano anterior, com os números de vendas a subir ligeiramente e os grandes grupos editoriais a registarem um crescimento. Na Porto Editora, “as vendas estiveram 10% acima do ano passado”, de acordo com Paulo Rebelo Gonçalves, do gabinete de comunicação do grupo. Entre os títulos mais vendidos, encontram-se Um Cão Chamado Leal, de Luis Sepúlveda, que teve lançamento na feira e superou os 500 exemplares, os livros de José Eduardo Agualusa e de José Luís Peixoto e os dois renovados volumes da colecção Vampiro. No Grupo Leya, as vendas também ultrapassaram a edição passada. “Já é o segundo ano consecutivo em que isso acontece, o que é muito bom”, afirma o director de comunicação José Menezes. Uma Aventura na Madeira, de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães, O Coro dos Defuntos, de António Tavares (Prémio Leya 2015), e Assim Nasceu Portugal: A Vitória do Imperador, de Domingos Amaral, foram alguns dos livros mais procurados. A editora Bárbara Bulhosa, da Tinta-da-China, ressalva que “este continua a ser um evento muito importante para quem gosta de livros” e afirma que, independentemente das vendas, “o contacto entre editores e leitores é muito benéfico”. O livro mais vendido na editora foi a banda desenhada Os Vampiros, da autoria de Filipe Melo e Juan Cavia, com cerca de 900 exemplares. A Gradiva, casa do autor português que mais vende neste momento em Portugal, José Rodrigues dos Santos, também obteve resultados satisfatórios. Segundo Helena Rafael, do departamento de comunicação, os livros deste autor são os mais vendidos na editora, nomeadamente o recém-lançado O Pavilhão Púrpura e As Flores de Lótus. Na colecção de ciência da editora, destacaram-se Ciência Cosmológica, de Jorge Dias de Deus, e A Teoria de Tudo, de Stephen Hawking. O infanto-juvenil também é uma aposta da editora, com boas vendas do livro A Bruxa Mimi e a Casa Assombrada, de Valerie Thomas. Também para a Relógio D'Água “as vendas correram claramente melhor que em 2015”, segundo o editor Francisco Vale, e a autora mais procurada foi Elena Ferrante, nomeadamente a sua tetralogia napolitana e o livro Crónicas do Mal de Amor, seguido de Todos os Contos, de Clarice Lispector. “É um balanço positivo, apesar do peso excessivo que foi dado na feira à gastronomia (Portugal já parece demasiado um país de chefs e futebolistas para que a Feira do Livro de Lisboa confirme essa imagem)”, acrescenta o editor. Já a Editorial Presença destaca a maior dinâmica conseguida pela organização. “Cada editora procurou acompanhar o ritmo da maior festa do livro ao ar livre”, diz Inês Mourão, do departamento de comunicação. A Presença privilegiou o público infantil na sua praça e alguns dos livros mais vendidos foram Curso Intensivo para Sobreviveres à Escola, de Miguel Luz, e Conquistadores, Como Portugal Criou o Primeiro Império Global, de Roger Crowley. A grande surpresa da Feira do Livro de Lisboa foi o título mais vendido da editora Guerra e Paz, Mein Kampf, de Adolf Hitler. Disponibilizado numa trilogia, da qual fazem parte Manifesto Comunista, de Friedrich Engels e Karl Marx, e O Livro Vermelho, de Mao Tsetung, o livro foi lançado na íntegra, em Portugal, pela primeira vez este ano. “São livros esteticamente muito apelativos, quase livros-objecto, a vermelho e negro, com prefácios críticos”, conta Manuel Fonseca. O editor refere que a Guerra e Paz teve o melhor dos seis anos em que esteve presente na feira, com um “crescimento de 40% de vendas”. Mais do que limitar-se à compra e venda de livros, a Feira do Livro tem apostado nas actividades culturais como atractivo de público, promovendo lançamentos, debates e sessões de autógrafos. Terão passado por esta edição mais de mil autores e aconteceram 450 iniciativas. “A nível comercial, igualar o ano anterior já seria bom, por isso superá-lo é muito positivo”, reconhece o secretário-geral da APEL Bruno Pires Pacheco. Em Portugal, o mercado dos livros tem sofrido uma queda de vendas na ordem dos 20 a 30% nos últimos anos, o que demonstra a particular importância de um evento como a Feira do Livro de Lisboa, que “há cinco anos rema em contra corrente”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Uma das grandes novidades desta edição foi a aplicação criada para Android e iOS que permitiu aos leitores navegar pelas editoras presentes e saber os eventos que estavam a decorrer no momento. Bruno Pires Pacheco destaca esta interactividade como uma mais-valia, pois “as pessoas acharam que valia a pena pegar no smartphone e ver o que estava a acontecer”. A Feira do Livro de Lisboa contou, nesta 86. ª edição, com 600 editoras e chancelas participantes e um número recorde de 277 pavilhões e, recebeu, ainda, a visita de editores estrangeiros, numa iniciativa que pretendia que comprassem, na capital, os direitos de livros de autores nacionais. Começam, agora, os 11 meses de espera pelo próximo encontro entre autores e leitores no Parque Eduardo VII, com mais livros e actividades para toda a família. Texto editado por Isabel Coutinho
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Judith Malina: Ela sonhava com um teatro revolução e fez esse teatro até ao fim
Com aproximadamente uma centena de peças no seu historial, o Living Theatre revolucionou a prática teatral ao apresentar-se fora das salas e procurando uma constante acção política e social. A sua fundadora, Judith Malina, morreu sexta-feira, aos 88 anos. (...)

Judith Malina: Ela sonhava com um teatro revolução e fez esse teatro até ao fim
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com aproximadamente uma centena de peças no seu historial, o Living Theatre revolucionou a prática teatral ao apresentar-se fora das salas e procurando uma constante acção política e social. A sua fundadora, Judith Malina, morreu sexta-feira, aos 88 anos.
TEXTO: Em Fevereiro de 2013, pondo fim à mais longa permanência do Living Theatre num mesmo espaço nova-iorquino, o grupo era “despejado” de Clinton Street. Mais de seis décadas depois de Judith Malina e Julian Beck terem fundado a sua companhia de teatro, a essência continuava tão marginal quanto sempre havia sido. Aos 88 anos, Malina era ainda movida pelo mesmo “sonho de uma bela revolução anarquista não-violenta”, apresentando na noite de despedida desse espaço Here We Are, uma peça que afirmava a ineficácia de um sistema político montado sobre a ideia da democracia representativa. Judith Malina morreu aos 88 anos na passada sexta-feira. O seu sonho não – continua vivo, depositado nas mãos do seu filho Garrick Beck e dos restantes sucessores na direcção do Living Theatre. Mesmo com um estado de saúde tão fragilizado quanto as finanças do grupo, Malina encontraria ainda forças para estrear, em 2014, a sua derradeira criação, Nowhere to Hide. Prova de uma vontade férrea em fazer vingar a sua visão utópica de um teatro implicado política e socialmente, Malina carregaria a missão do Living Theatre depois de perder os seus dois companheiros – Beck morreu em 1985, Hanon Reznikov, seu segundo marido, desapareceu em 2008. A notícia da morte de Malina na Lillian Booth Actor Home, devido a uma doença pulmonar, foi avançada pelo jornal The New York Times. Embora seja naturalmente tentador recordar a marca de actriz de Malina na série Os Sopranos ou nos filmes Os Dias da Rádio, de Woody Allen, ou Um Dia de Cão, de Sidney Lumet, a grande obra da sua vida seria o trabalho constante com o Living Theatre, fundado em 1947. A experiência de Ouro PretoAnimado por uma postura de contra-cultura e de revolução da linguagem teatral, propondo-se libertá-la do palco, levando-a para as ruas, o Living Theatre pautou-se desde o início por uma relação de confrontação com todo o tipo de convenções, nomeadamente quebrar o mais possível a fronteira entre actores e público, entre ficção e realidade, entre arte e política. Exemplo máximo dessa visão teatral terá sido Paradise Now, espectáculo que causou um sério impacto em Sérgio Godinho quando o viu em Genebra em 1969, onde então estudava. “Fiquei impressionado com aquela experiência de teatro bastante inovadora, feita de fragmentos, porque não era uma peça no sentido convencional”, lembra o músico ao PÚBLICO. Pouco depois, na sequência de vários encontros em Paris quando Godinho integrava o elenco do musical Hair, o Living Theatre convidá-lo-ia a juntar-se-lhe em Ouro Preto, no Brasil, onde se iriam apresentar num festival de teatro. “Nessa altura já tinham feito uma ruptura com o teatro de salas, queriam fazer um teatro de rua e assumidamente anarquista e de agitação”, diz o músico português, justificando o porquê de não ter hesitado em embarcar com a sua companheira, Sheila Charlesworth, a caminho do Brasil. A companhia preparava nesses dias de 1971, em pleno período de ditadura militar no país, um espectáculo em apoio aos trabalhadores da multinacional canadiana de alumínios Alcan. O teatro fazia-se, afinal, onde eles estivessem. Era vivo nesse sentido – não se desligava depois da saída do palco. Aliás, o palco tinha sido eliminado para que o teatro existisse sempre. No entanto, acabariam todos presos em Belo Horizonte devido a uma acção de extrema-direita no primeiro dia do festival. “Primeiro, fomos acusados de subversão e de posse de maconha. Estivemos presos dois meses e acabámos por ser expulsos do Brasil depois de uma grande contestação internacional [liderada por nomes como Susan Sontag e Jean-Paul Sartre], embora tenhamos sido absolvidos”, recorda Godinho. A garra de Judith“É impossível falar da Judith sem falar do Julian”, argumenta Sérgio Godinho. “Mas a Judith era fantástica e tinha mais afinidade com ela do que com o Julian, porque era uma judia nova-iorquina com sentido de mordacidade e extremamente culta, sempre ligada às teorias mais avançadas do teatro, sobretudo do Piscator. ” Nascida na Alemanha, em 1926, Malina mudou-se com a família para Nova Iorque e foi precisamente com Erwin Piscator que se formou como actriz e encenadora. A sua vida ficaria marcada pelo encontro com o pintor expressionista Julian Beck. A estreia da companhia deu-se em 1951, com Dr. Faustus Lights the Lights, de Gertrude Stein, tendo seguido depois para autores como T. S. Eliot. Jean Cocteau ou William Carlos Williams. Em 1977, o crítico de arte e programador Ernesto de Sousa chamou a companhia para a histórica exposição Alternativa 0, na Galeria de Arte Moderna, em Belém, tendo apresentado três performances em Lisboa e seguido depois em digressão para Coimbra e Porto, onde montaram o espectáculo Sete Meditações sobre Sado-Masoquismo Político. Em cada momento, de profunda convicção na revolução social pelo teatro, “a garra da Judith Malina determinou todo aquele nervo que o Living Theatre teve”, acredita Sérgio Godinho.
REFERÊNCIAS:
Uma monstruosa representação do amor
Mickaël de Oliveira e Nuno M. Cardoso pegaram numa mãe e numa filha, enfiaram-nas dentro de uma casa e puseram-nas a planear assassinar um presidente e fugir para a Noruega. Mas em Oslo – Fuck them All and Everythig Will Be Wonderful só contam o grotesco e a ausência de amor. (...)

Uma monstruosa representação do amor
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mickaël de Oliveira e Nuno M. Cardoso pegaram numa mãe e numa filha, enfiaram-nas dentro de uma casa e puseram-nas a planear assassinar um presidente e fugir para a Noruega. Mas em Oslo – Fuck them All and Everythig Will Be Wonderful só contam o grotesco e a ausência de amor.
TEXTO: A filha faz 35 anos. A mãe, rodeada de alguns convidados, propõe um brinde: “Vocês, aqui, à volta desta mesa, são quem nós temos, os verdadeiros amigos que nunca fugiram. ” Ergue o copo com champanhe, desculpa-se pelo jantar de frango de churrasco e batatas fritas – enfim, já lhes cortaram a água e o gás – e aproveita o embalo do festejo para juntar uma outra celebração. Estão de partida daquela casa, vão previsivelmente para Oslo, logo depois de assassinarem o Presidente. E depois deste, havendo outros presidentes, a mãe voltará para os matar. “Porque o que mais me incomoda é o nome ‘presidente’. Vou propor-lhes ‘coordenador geral’”, justifica. A filha está calada. A mãe pede que recordem como a pequena era dantes, “sempre alegre, linda, ambiciosa, a trabalhar naquele bar”. Um homem diz lembrar-se perfeitamente. Olha para ela: “Eras feia, com acne, bons velhos tempos. ” A filha continua calada e mãe gaba-lhe o milagre da introspecção. A filha nada diz, tem uma cabeça cheia de ar. Não é que seja tonta; é simplesmente uma boneca insuflável. Em tempos, a filha teve um corpo. Foram outros tempos da peça Oslo – Fuck them All and Everything Will Be Wonderful, escrita por Mickaël de Oliveira e co-encenada com Nuno M. Cardoso, em cena no Teatro-Estúdio Mário Viegas a partir da próxima quinta-feira, 23. Nessa altura, em 2006, quando Mickaël venceu o Prémio de Nova Dramaturgia instituído pelo Teatro Maria Matos, esta mesma peça chamava-se O que É Teu Entregou aos Mortais. Mas, apesar do prémio, o dramaturgo não se atreveu a roubar o texto à gaveta. De vez em quando voltava a trabalhá-lo, mas o destino era sempre o repouso, longe dos palcos, mesmo que periodicamente fosse lido em público. “A grande crítica que tinha em relação ao texto”, conta ao Ípsilon, “prendia-se com ser demasiado regular. Tinha um pathos, no sentido de sofrimento profundo, que achava completamente desadequado. ” A solução passou então por transformar a sua ideia inicial em algo “mais irregular e monstruoso – sobretudo com um olhar grotesco e com um falso pathos associado”. Tudo o que havia de clássico na estrutura e no ambiente foi cuidadosamente extraído e ao fim de dez versões, alteradas, rasuradas, reescritas, emergiu aquilo a que o autor chama “uma espécie de freak show”. “A mãe vive num processo de negação, porque supostamente perdeu a filha e substituiu-a por uma boneca insuflável”, clarifica. Mais ou menos. Mickaël usa a palavra “supostamente” porque nem ele próprio parece conhecer aquela mãe que lhe saiu das mãos, interpretada por Mónica Calle, nem manifesta sequer um interesse particular em dissecar a sua própria personagem que anda por ali no palco, em carne e osso, ao contrário da sua filha ficcional que tem de ser bombeada antes de entrar em cena. A relação entre as duas é assumida como motor da peça, mas como afirmam autor e encenador, “o motor não interessa”. O que interessa é o resumo que a mãe faz quase ao cair do pano, depois de repetir uma e outra vez que “as pessoas são uma merda”. O que interessa é a sua constatação de que não há apensos a esta encenação uma crítica sócio-política, nem um ataque ao consumo, nem uma intenção real de matar presidentes ou de chegar a Oslo. “Este espectáculo é sobre o amor que nunca irão conhecer”, afirma de forma peremptória Mónica “mãe” Calle. E como para Mickaël de Oliveira a temática amorosa cai quase sempre no patético, foi nesse terreno que decidiu investir as suas palavras. “Então vou tornar isto o mais patético possível e vou tentar violentar a representação do amor”, pensou o dramaturgo. Family Guy ou American Dad“Tinha acabado um relacionamento bastante profundo, aquilo bateu-me muito mal e decidimos sair daqui”, recorda Mickaël de Oliveira em relação ao período da reescrita definitiva do texto. Nuno M. Cardoso pegou-o pelo braço, pararam nalgumas outras cidades, mas foi Oslo que, nas palavras do encenador, “serviu de catarse”. Mas também o contacto acidental com a obra Mother and Child (Divided), de Damien Hirst, mãe e filha, vaca e bezerra biseccionadas, “foi impactante para escolher um pouco da imagética e do relacionamento que é esta separação – não só do outro mas de si próprio”, comenta Nuno. Os dois tinham já trabalhado juntos, mais notadamente em Boris Yeltsin, e foram puxando por forças diferentes na definição de Oslo. “Existe uma cumplicidade entre nós”, continua Cardoso, “mas trouxemos diferentes linguagens, porque o Mickaël tem um universo muito específico e eu tenho outro bastante diferente. Gosto de me confrontar com esta visão mais cínica e aguçada, em que eu vou jogando e lançando uma perspectiva mais esperançosa. ” O grotesco poderá, eventualmente, evocar o trabalho do argentino Rodrigo García, próximo do mundo dramatúrgico de Mickaël de Oliveira, mas essa sombra é recusada por ambos. “Aquelas frases, as punch lines, os slogans que gosto de usar, é o que fazem o Family Guy, o American Dad ou o South Park”, defende o autor. “Porque os desenhos animados exploram o grotesco e o óbvio, não tentam esconder nada. É um processo de apedrejamento contínuo. ”A preferência pelo grotesco sinaliza também, entre outras coisas, a recusa de ambos em tratar a mãe como um caso de demência ou de distúrbio psiquiátrico. Não é disso que se trata. É antes de uma “revolução íntima que vai acabar com a revolução política”. “Com isso”, justifica Mickaël, “a mãe atinge uma apoteose qualquer, o paraíso que é Oslo e que ela prometeu a si própria”. A mãe, ocupada quase inteiramente pela perda, pelo vazio e pela ausência, esboça e anuncia repetidamente esse plano de fuga – da casa, da vila, da sua vida, rumo a uma nova existência com ou sem uma filha que não resistirá, qual Bela Adormecida, ao fuso de uma roca. Por fim, atira rancorosa a ideia de que, tal como ela, também o público não terá direito a conhecer o amor. “Fuck them all”, diz uma vez mais. Não por acaso, Oslo adapta o genérico inicial falado de O Desprezo, de Jean-Luc Godard, recorre à música do filme composta por Georges Delarue até à exaustão e a citação do filme patrocina tanto o desprezo que a mãe cospe em direcção a todo o mundo quanto o tal grotesco daninho que os encenadores deixam crescer livremente entre as personagens. No chão do palco, ao lado daquela casa da qual a mãe não consegue escapar, um holofote aponta para a um outro “fuck them all”, inscrito à margem do cenário. Exacto – que se fodam as personagens. Cada uma delas.
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O Teatrão no Brasil para contar como é a crise em Portugal
Digressão da companhia de Coimbra começa nesta sexta-feira em São Paulo e inclui programa paralelo de debates e oficinas. (...)

O Teatrão no Brasil para contar como é a crise em Portugal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Digressão da companhia de Coimbra começa nesta sexta-feira em São Paulo e inclui programa paralelo de debates e oficinas.
TEXTO: Sim, ainda há os jornais (e uma língua comum simplificada, Acordo Ortográfico oblige, para ver se finalmente nos entendemos), e as notícias sobre a crise que mesmo depois da saída limpa enchem páginas que amanhã servirão para embrulhar peixe acabado de pescar (ou então a rede propriamente dita, de clique em clique). Mas depois há o teatro, e os que acreditam no poder que os actores em cima do palco têm de fazer das palavras a carne viva do passado, do presente e do futuro. É precisamente disso que se trata no caso desta digressão que uma companhia de Coimbra, O Teatrão, leva a partir desta sexta-feira, 24, ao Brasil, traduzindo a crise que abalou o país em linguagem paritária, porque é também de crise (social, política) que falamos quando falamos do Brasil. Razão mais do que suficiente, acredita O Teatrão, para ir fazer o 25 de Abril do outro lado do Atlântico, com um programa que inclui a apresentação do três-em-um Conta-me Como É, estreado em Portugal pelos 40 anos da Revolução dos Cravos. Retrato do país por três jovens dramaturgos premiados (Jorge Palinhos, Pedro Marques e Sandra Pinheiro), o espectáculo encenado pelo crítico do PÚBLICO Jorge Louraço Figueira fica no SESC Bom Retiro, em São Paulo, até dia 26, e apresenta-se depois no Espaço Cultural Escola SESC, do Rio de Janeiro, a 2 de Maio, integrando o Festival Palco Giratório. Paralelamente, O Teatrão promove uma série de actividades paralelas na Oficina Cultural Oswald de Andrade, também em São Paulo, que incluem uma mesa-redonda sobre A Arte da Crise (dia 25), reflectindo sobre os modos diferenciados como as perturbações económicas, sociais e políticas afectam os espectáculos de teatro na Europa do Sul e na América Latina, em Portugal e no Brasil, e, aproveitando a presença do cineasta Sérgio Tréfaut pelo país, mostra o seu Outro País (1999), recentemente reestreado depois de restauro digital — o documentário inaugural de Tréfaut é, de resto, uma das assumidas inspirações de Conta-me Como É. Um seminário de discussão e intercâmbio entre dramaturgos portugueses e brasileiros (5 a 7 de Maio) e uma oficina de dramaturgia para produção de textos inspirados numa das cenas do Terror e Miséria no Terceiro Reich, de Bertolt Brecht (29 e 30 de Abril), completam o programa das festas d'O Teatrão em São Paulo. Já no Rio, haverá também uma oficina de dança com uma companhia de São Luís do Maranhão, o Núcleo Atmosfera, a partir de matrizes das danças populares e das suas possibilidades de reconversão para os pés e os corpos de dois países irmãos em tudo, até na crise.
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Palavras-chave escola carne social
Como mudar o mundo sem sair do sofá
Trinidad González está obcecada com “a violência das nossas vidas íntimas”. Pájaro, a peça com que regressa a Portugal, instala essa violência numa sala de estar que talvez já tenhamos visto em qualquer lado, para que fique claro que o sistema somos todos. (...)

Como mudar o mundo sem sair do sofá
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Trinidad González está obcecada com “a violência das nossas vidas íntimas”. Pájaro, a peça com que regressa a Portugal, instala essa violência numa sala de estar que talvez já tenhamos visto em qualquer lado, para que fique claro que o sistema somos todos.
TEXTO: Há uma parte de Trinidad González que está em guerra com o mundo e outra parte que está em guerra com ela própria, por não fazer nada para o mudar. “Nada”, entendamo-nos, que esteja ao nível de “ir para o hospital tratar doentes”, o que explica parte da culpa com que a actriz, encenadora e dramaturga chilena (exactamente por esta ordem) senta as suas personagens no sofá em que começa e acaba Pájaro (2014), e parte da culpa com que ela própria, em casa, já completamente fora de cena, se senta no seu sofá. Não há-de ser no teatro que esta culpa se resolve, pelo contrário. Em parte, é do teatro que ela vem: “A culpa acompanha-me desde sempre: a culpa de ter tido certas oportunidades e certos privilégios, a culpa de não fazer mais, a culpa de me dedicar ao teatro, no sentido em que o teatro é tão pouco concreto e tão pouco mensurável nos seus efeitos… “, diz Trinidad ao Ípsilon por telefone, não muitas horas depois de aterrar em Lisboa, onde Pájaro inicia esta quinta-feira, no Teatro Teatro Maria Matos, uma curta digressão nacional que também passará pelo Porto (2 e 3 de Junho, no Teatro Municipal Rivoli, integrando a 40. ª edição do FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica) e por Loulé (4 de Junho, Cineteatro Louletano). Pájaro amplifica essa culpa, que no fundo é a culpa de continuar a viver com o sistema capitalista global sabendo que ele é atroz, mesmo que para isso seja preciso levantar uma barricada de cinismo, ou de egoísmo, ou de vinho caro, ou de tudo ao mesmo tempo como no caso das três personagens que encontramos no sofá de uma sala de estar na madrugada mais fria do ano. Pájaro é a peça que Trinidad escreveu para essas personagens, que são carne da sua própria carne (e não apenas por serem artistas). Mas é também a peça que escreveu para o intruso que uma delas encontra a dormir na rua, com a cabeça ensanguentada por uma pedrada recente, e convida a entrar para beber um copo – um intruso que dirá ser um pássaro, por já não se identificar com os homens. É na violência desse encontro (ou melhor: desse desencontro) que a chilena projecta a violência das relações humanas, o tema que verdadeiramente lhe interessa desde que pôs um ponto final no seu primeiro texto para teatro, La Reunión (2012), que em 2014 passou por Lisboa no âmbito do programa Próximo Futuro (este, a propósito, integra a programação de Lisboa 2017 – Capital Ibero-Americana de Cultura). “La Reunión ainda estava em cartaz quando comecei a escrever Pájaro, e é por isso que retoma uma personagem que aparecia no fim dessa peça. Quando uma pessoa tem uma ideia na cabeça, é difícil esgotá-la num só espectáculo – e na verdade eu mal a aflorava. Há autores que mesmo tendo escrito dezenas de romances dizem que passaram a vida toda a escrever o mesmo livro…”, explica-nos. Pode vir a ser um deles, admite, está obcecada “pela violência nas nossas vidas íntimas”: a sua próxima peça vai voltar a ser sobre este assunto. La Reunión, em que Trinidad González ficcionava sobre o poder (dos conquistadores, da Igreja Católica, das oligarquias) a partir de um facto histórico – a ordem de prisão dada a Cristóvão Colombo e aos seus irmãos pelos Reis Católicos, em 1500 –, terminava com um miúdo, indígena, a dirigir-se ao descobridor da América e a profetizar o seu próprio futuro: “Com sorte, poderei chegar a ser um pássaro, mas quando estiver a voar um de vocês vai atirar-me uma pedra porque sim e eu vou morrer porque sim, rebentado nalgum caminho. ”Companhia:Fundación Teatro a Mil Encenação:Trinidad González Texto:Trinidad González Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa, Quinta, de 25 de Maio de 2017 a 26 de Maio de 2017 às 21h30 Teatro Rivoli, Porto, Sábado, de 2 de Junho de 2017 a 3 de Junho de 2017 às 19h Cine-Teatro Louletano, Loulé, Domingo, 4 de Junho de 2017 às 17hÉ uma imagem que nunca lhe saiu da cabeça, e que lhe permitiu aproximar-se novamente da violência – mas desta vez não é da violência brutalmente física, sanguinária, da colonização espanhola que Trinidad quer falar, ainda que a apresentação desta peça no ciclo Utopias do Maria Matos, acompanhando o programa de debates Questões Indígenas: ecologia, terra e saberes ameríndios, possa induzir o tema (e depois, lembramos, há aquele momento deste serão entre amigos em que alguém usa a palavra “nativa”, sinónimo de “pré-histórica”, como se usa um insulto…). “Em La Reunión sim, eu tratava da maneira como os brancos arrasaram a cultura indígena e impuseram a sua cultura um pouco decadente – ao contrário de outros territórios em que a colonização foi 'apenas' brutal, no caso da América Latina ela teve uma intenção civilizadora, o que a tornou muito particular. Mas aqui essa história de submissão é só um pequeno apontamento: Pájaro não vai de todo por aí, é mais sobre o modo como destruímos, às vezes sem qualquer sentido, qualquer pessoa que decida viver de maneira diferente. ”O homem-pássaro que rebenta nalgum caminho e casualmente se converte, por umas horas, na ave rara do sofá lá de casa (isto se não acabar na cama, como noutras histórias de submissão), não é, esclarece Trinidad, “nem um pobre nem um louco de origem”, simplesmente alguém que escolheu outra via por não estar de acordo com esta. “Alguém que estudou contigo, que até andou na universidade, que tem ferramentas culturais iguais às tuas – só que com uma sensibilidade, uma maneira de ser que de repente o põem fora do mundo, até que essa marginalidade passa a ser igual à de um mendigo ou de um esquizofrénico”, diz ao Ípsilon a dramaturga e encenadora que já perto da estreia acabou também por ter de acumular essas funções com um dos quatro papéis de Pájaro, o da artista idealista e um pouco retirada do mundo, ou derrotada por ele, que às tantas parece apaixonar-se pelo seu surpreendente convidado (é um auto-retrato, mas são todos…). Este homem-pássaro, continua, é um fenómeno directamente observável em todo o Ocidente (“Vivemos em sociedades tão globalizadas que às vezes é difícil encontrar as diferenças…”), e não apenas no Chile: “Pájaro é a sensação que eu tenho sobre este mundo hiper-competitivo, totalmente obcecado com o êxito, dominado pelo lucro e pelo dinheiro, em que os valores mais simples do afecto e da comunidade ficaram muito lá para trás. A violência da solidão absoluta não é um problema existencial, é um problema absolutamente concreto. ” Mesmo – e aqui vamos ter de discordar de Trinidad – quando o vemos numa peça de teatro. Estamos entre amigos, portanto, horas depois de um jantar em que se esvaziaram demasiadas garrafas. O sítio certo, a hora certa para a violência rebentar – com toda a sua tralha, da ameaça de cyberbullying (os telemóveis, aponta subtilmente uma cena de Pájaro, são a nova arma de destruição maciça) ao assédio sexual, do cinismo da faca nas costas ao paternalismo de mão no ombro. “A sociedade está tão, tão, tão apertada que basta um pequeno estímulo para que se solte a violência mais desatada”, reflecte Trinidad González, fazendo coro com a sua personagem-título, porque “o facto de hoje podermos ver uma decapitação no YouTube faz dos nossos tempos os mais violentos de sempre”: “Vivemos uma época terrível. Há que dizê-lo sem gaguejar. Mas há movimentos subterrâneos. São pequenas acções. Somos poucos, mas somos fortes. Somos consistentes. Somos decentes. Reconhecemo-nos nas ruas. ”É natural que Trinidad o reconheça também – e que se reconheça nele. “Há uma parte de mim, uma parte de rebeldia, de cansaço, de tristeza, de raiva, que é o pássaro. As coisas que ele diz são as coisas que eu penso, as coisas que qualquer pessoa com um pouco de sensibilidade e de consciência pensa. Como: ‘Por que é que não param de se bombardear e chegam a um acordo?’. Parece de uma ingenuidade ridícula, mas a sério: porque não?”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Talvez não possamos ser pássaros o tempo todo: é preciso ganhar a vida, pagar a renda. “Há muitos momentos em que nos esquecemos do mundo – e é bom, porque não estaríamos vivos se não pudéssemos alienar-nos um pouco de tudo o que é terrível. ” Mas como actriz, como encenadora e como dramaturga (de novo: exactamente por esta ordem), Trinidad não trocaria os seus “momentos de hiper-consciência”, por muito que doam, por essas ausências. É por isso que praticamente nos senta no sofá com as suas personagens – deixando bem claro que o sistema somos todos, mas permitindo que façamos o nosso coming out como gente decente: “Em Portugal o público estará connosco no palco, o que é muito inteligente, porque esta peça precisa de proximidade: os espectadores começam a sentir-se parte da festa e deixam de saber como reagir. Há alguns que gritam ‘não, não façam isso!’, outros que têm o impulso de se levantar para ajudar o pássaro. Gosto que haja esses impulsos, porque eles induzem uma reflexão activa e o teatro deixa de ser só uma experiência estética, intelectual, e passa a ser uma experiência vivencial. ”Talvez não seja assim tão absurda a ideia de mudar o mundo a partir de uma sala de estar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra violência cultura prisão homem carne comunidade sexual assédio
Baleias só começaram a crescer nos últimos três milhões de anos
O que levou as baleias a aumentarem tanto de tamanho tem sido um mistério. (...)

Baleias só começaram a crescer nos últimos três milhões de anos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: O que levou as baleias a aumentarem tanto de tamanho tem sido um mistério.
TEXTO: A baleia-azul, o maior animal vertebrado do mundo, que pode atingir mais de 30 metros de comprimento, só começou a crescer num passado recente, entre há dois a três milhões de anos. Segundo um estudo do Museu Nacional de História Natural Smithsonian na cidade de Washington (nos Estados Unidos), publicado na revista Proceedings of the Royal Society B (a série B é que publica investigações da área da biologia), só muito recentemente as baleias se tornaram animais com a envergadura que têm hoje. No trabalho, o curador do museu para a área dos fósseis de mamíferos marinhos, Nicholas Pyenson, em conjunto com colaboradores de duas universidades norte-americanas, traça a evolução do tamanho das baleias ao longo de 30 milhões de anos e diz que as baleias muito grandes apareceram há “apenas” dois ou três milhões de anos, refere um comunicado de imprensa do Museu Nacional de História Natural Smithsonian. O aumento das placas de gelo no hemisfério Norte nesse período deverá ter afectado a forma como o alimento das baleias se distribuía no mar e aumentou os benefícios de possuir um corpo grande, concluíram os investigadores. O que levou as baleias a crescerem tanto tem sido um mistério até agora, em parte por ser difícil interpretar um registo de fosseis incompleto. Nas palavras de Nicholas Pyenson, não se pode medir o comprimento de uma baleia que está representada por um pedaço de fóssil. Mas recentemente este investigador estabeleceu que a largura do crânio da baleia era um bom indicador do tamanho total. O museu de história natural tem as maiores e mais ricas colecções de crânios de baleias, de espécies actuais, o que permite obter dados para examinar as relações evolutivas de diferentes baleias. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os investigadores mediram uma grande variedade de crânios fósseis da colecção do museu e, com dados adicionais, estimaram o comprimento de 63 espécies de baleias extintas. A análise incluiu espécies ancestrais das baleias, com mais de 30 milhões de anos, mas também dados sobre 13 espécies de baleias actuais. E os dados, segundo a equipa, mostram claramente que as grandes baleias que existem hoje não estavam presentes na maior parte da história das baleias. “Vivemos num tempo de gigantes”, disse um dos investigadores, Jeremy Goldbogen, da Universidade de Stanford (EUA), acrescentando que as baleias nunca foram tão grandes como hoje. A mudança evolutiva terá ocorrido no início da Idade do Gelo e, de acordo com a explicação apresentada no estudo publicado esta quarta-feira, deveu-se a alterações climáticas que também mudaram o suprimento alimentar das baleias, que se concentrava nas zonas costeiras e aumentava sazonalmente. As baleias, pela forma como se alimentam, filtrando pequenas presas, estavam bem equipadas para tirar proveito das grandes concentrações de comida.
REFERÊNCIAS: