A exploração em direcção ao céu
Grow Home vive da botânica vertical, ramificação de um local especial. (...)

A exploração em direcção ao céu
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Grow Home vive da botânica vertical, ramificação de um local especial.
TEXTO: Contemplar o cardume de nuvens na soleira da minha nave, a sua molenga deslocação sobre a curvatura do planeta - o que eu escalei para merecer este minuto. O azul toma conta de tudo, o seu dégradé transmuta o tom num mais escuro e deixa-se ser salpicado por incontáveis e ínfimos pontos brancos, carreiros desordenados de estrelas, poalha. Eis o final de Grow Home, jogo surpresa anunciado e publicado pela Ubisoft Reflections em semanas. A mensagem é clarividente desde o seu início: fazer crescer uma planta num planeta estranho para salvar o nosso. Lá em cima, a nossa nave em tom encarnado espera pacientemente a conclusão do nosso desígnio. Entre o primeiro e o último segundo estão 2000 metros verticais à espera de serem conquistados, reclamados pela insistência na perícia trepadora. A aventura é vivida aos controlos de um franzino robot, um Botanical. Utility. Droid. - ou BUD. A aparente fragilidade da sua compleição proporciona imediatamente um contraste com a tarefa que lhe foi incutida, hercúlea e desafiante, enfim, um provar de que é capaz. Não ao jogador, esse atestar-lhe-á cada movimento em tempo real, mas sim à M. O. M. - acrónimo atribuído a um chip que o vai informando ao longo da aventura. Como seria de esperar face à alusão feita à palavra “mãe” em inglês, M. O. M. acaba por ser uma figura maternal, zelando pela sua motivação com incentivos variados e comentários que roçam o sarcástico - Depois de uma enorme queda diz “estás a progredir bem, tenho muito orgulho em ti”, ou “olha para ti, és tão adorável quando explodes”. Controlar o seu passo revela uma oscilação de movimentos, como se estivesse a aferi-los agora pela primeira vez - o seu corpo rebola no chão onde trôpego cai sobre si próprio; vacila como um canavial embalado pelo vento. Tirando escassas situações na segunda metade do jogo, o controlo da personagem na horizontal nunca chega a interferir com o cerne da jogabilidade de Grow Home. Devidamente calculado pela produtora, este controlo é usado em prol da ligação entre o jogador e o personagem, sendo impelido a tomar conta de quem mal se aguenta em pé, de quem, sobretudo, nunca chegaria ao desabrochar da planta em flor sem a nossa ajuda. Isto também se deve ao nervo da jogabilidade estar na exploração vertical. Já foi mencionado que trepamos uma planta, mas não foi testemunhado como esse passeio em direcção às estrelas se processa. Para fazer crescer a “Star Plant” temos que chegar aos rebentos vermelhos designados por “Star Shoot” e pressionando uma tecla ou botão fazê-los despontar, guiá-los pelo cenário desimpedido em direcção às várias “Energy Rocks”. Ali a planta alimentará-se-á e crescerá, elevando-se em direcção ao objectivo final. O crescimento de cada “Star Shoot” quase nunca é suficiente para chegar à fonte de seiva de uma tomada só, algo que nos obriga a retroceder um pouco pelo seu caule abaixo e aproveitar os novos rebentos mais pequenos entretanto nascidos, fazendo-os crescer para chegar mais longe. É um procedimento por camadas, por investidas até atracarmos a sua ponta à refeição que a natureza preparou. Além de ser simples, nunca se torna cansativo, pois o retrocesso nunca é demasiado. À sua cabeça sentimos que fazemos parte de um rodeo vegetal, desesperadamente indicando para onde queremos ir tendo como única certeza de onde viemos. A prática ensina-nos a controlar melhor esta parte do jogo, porém, nunca chega a sensação que este espraiar está totalmente dominado. O resultado são nós em tom verde, riscas rocambolescas, um emaranhado de caules e folhas, caminho enovelado que testemunha a nossa passagem por ali, a nossa progressão em direcção ao topo do mundo. O cerne da jogabilidade está na maneira como BUD trepa o labirinto que vai sendo tecido. A produtora recomenda que usem um comando ligado ao PC, como por exemplo o comando com fio da Xbox 360. Contudo, o sistema de controlos também compreende a velha combinação que junta o rato ao teclado. As direcções estão entregues ao tradicional quarteto WASD, mas os braços de BUD são controlados independentemente pelos dois botões do rato. Um pouco como já foi feito em Octodad mas sem o lado cómico. Resulta bastante bem, não demorando muito a assimilar a combinação das teclas com o ritmo de cada membro superior - a cadência esquerda-direita passa a ser norma. Onde a jogabilidade falha de forma mais notória é na concretização de alguns saltos. Seria de esperar que a última parte do jogo fosse mais complicada, mas esta falha acontece quase aleatoriamente, o que resulta num exercício pouco tranquilo: subir 10 metros para cair 50. Em alguns destes casos, o desfecho foi detonar o robot, sacrificar a sua existência mecânica e ser teletransportado para o ponto “Tele-Router” mais próximo. Depois de desbloqueados, estes pontos servem como “checkpoints”, prática que evita que tenham que começar a escalada de novo quando tudo falha e caem do céu aos trambolhões. Há um encanto em cair quando a queda é movida pela nossa vontade e não por uma zanga do jogo com os seus controlos. Com a certeza que temos um dos pontos mencionados por perto, deixar o BUD cair 1500 metros é encantador: ver o que já edificámos, reparar na nossa pegada vertical verde. “Fui eu que fiz isto nas últimas horas, ” pensarão muitos. “Foi este o meu trajecto pelo jogo acima, ” poderão atirar em tom complementar. E a queda não tem que ser livre. Desde o início que podemos abrir um malmequer que serve como pára-quedas. As pétalas vão-se soltando, limitando o tempo que desafiam a gravidade, porém, podem ser repostas quando apanharem outra flor. Melhor ainda, a “Glide Leaf”, uma folha que vos deixa planar pelo cenário, caindo com tempo suficiente para que várias memórias fiquem gravadas. Grow Home tem 100 cristais espalhados e escondidos pelo seu cenário. Não são obrigados a procurá-los, mas é um exercício recomendável, pois vão desbloqueando parâmetros que complementam a jogabilidade: desde permitir o ajuste no zoom da câmara até ajudas que melhoram a propulsão entre saltos. Ainda na onda dos coleccionáveis, podem apanhar e depositar várias plantas e animais no “Tele-Router”. Se o fizerem, podem consultar informações adicionais sobre cada um no “Data Bank”. Um “Gourdle” pode ser usado em guisados e risottos, aparentemente. Invistam o vosso tempo todo no crescimento da planta e Grow Home é um jogo extremamente curto. uas horas e estarão a ver os créditos finais junto dos dois botões azuis na nave e a decidir se querem aceitar a missão secundária que vos impele a recolher oito “Star Seeds” adicionais. Contudo, jogar desta maneira é como pagar para se deslocarem a um país novo e chegados a território desconhecido nunca sair da auto-estrada. A criatividade do cenário merece mais, merece que saiam do trilho principal e explorem o que é secundário ao vosso ritmo, a vosso bel-prazer. Façam-no e descobrem grutas escondidas, a já mencionada centena de cristais. Mais: deslumbrar-se-ão com estas ilhas flutuantes, as suas criaturas, as suas montanhas de cocuruto coberto pela neve. Inspirem e absorvam os detalhes que outros se escusam a contemplar. Muito mais do que o final - desapontante por sinal - é na viagem que está o encanto de Grow Home. Cada poro exulta criatividade, resíduo de um trabalho que quis adornar cada canto e esquina. Parem e observem os detalhes gráficos do ciclo noite/dia. Complementando o que escrevi no primeiro parágrafo deste texto, o verde fluorescente da planta dá lugar ao azul da noite reflectido nas suas texturas. Tudo complementado por uma sonoplastia que atesta a sua originalidade. Sem sinfonias ou vocalizações, apenas o sentimento da desolação de BUD, longe de tudo e de todos, mas cada vez mais perto do jogador. Uma agradável surpresa, portanto. Na esteira de títulos como Valiant Hearts e Child of Light, a Ubisoft, produtora gaulesa normalmente associada a títulos de grande investimento, prova que às vezes basta deixar uma pequena equipa colocar num jogo a criatividade que lhe vai nas veias. Grow Home é um dia primaveril que pode ser jogado num qualquer dia do ano. Mais críticas em VideoGamer Portugal
REFERÊNCIAS:
Morreu o fadista João Ferreira-Rosa, o eterno amador do Fado do Embuçado
O intérprete tinha 80 anos e do seu reportório fazem parte temas como Fado dos saltimbancos, Arraial e Fragata. "Canto quando me apetece", costumava dizer, e por isso resistia a espectáculos e discos. (...)

Morreu o fadista João Ferreira-Rosa, o eterno amador do Fado do Embuçado
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2018-07-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O intérprete tinha 80 anos e do seu reportório fazem parte temas como Fado dos saltimbancos, Arraial e Fragata. "Canto quando me apetece", costumava dizer, e por isso resistia a espectáculos e discos.
TEXTO: O fadista e letrista João Ferreira-Rosa, de 80 anos, um dos mais reconhecidos intérpretes do Fado do Embuçado, morreu este domingo de manhã no hospital de Loures, nos arredores de Lisboa, disse à agência Lusa fonte próxima do artista. João Ferreira-Rosa era proprietário do Palácio de Pintéus, Loures, que pertencera à poetisa Maria Amália Vaz de Carvalho e que serviu de cenário a vários programas de fado transmitidos pela RTP, em que participaram os fadistas Alfredo Marceneiro, Maria do Rosário Bettencourt, Teresa Silva Carvalho e João Braga, e os músicos Paquito, José Pracana e José Fontes Rocha, entre muitos outros. Figura assídua das galas anuais Carlos Zel, no Casino Estoril, do seu repertório constam, entre outros, o Fado dos saltimbancos, Arraial, Fragata, Portugal verde encarnado, O meu amor anda em fama, Mansarda e Os lugares por onde andámos. Escrevendo letras para si e para outros intérpretes, João Ferreira-Rosa, foi autor, por exemplo, do poema Triste sorte, que gravou no Fado Cravo, de Marceneiro. Tal como Amália Rodrigues e Manuel de Almeida, Alfredo Marceneiro é, aliás, uma das grandes referências deste fadista nascido em Lisboa e convictamente monárquico, que sempre resistiu a gravar (são poucos os discos da sua longa carreira). “Eu sou um fadista amador”, disse numa entrevista a Baptista-Bastos publicada no livro Fado Falado (Ediclube, 1999). “Eu canto quando me apetece. ”João Ferreira-Rosa nasceu em Lisboa em Fevereiro de 1937 e cedo começou a cantar entre familiares e amigos. Aos 13 anos, já como aluno da Escola Agrícola de Santarém, deu o seu primeiro espectáculo, no Teatro Rosa Damasceno, naquela cidade ribatejana, em que cantou, entre outros temas, Fado Hilário. A sua estreia como intérprete coincidiu com o início da actividade como letrista, algo que haveria de marcar o seu percurso. “Carreira”, lembrava muitas vezes, era palavra que não gostava de ver aplicada à sua actividade como fadista não-profissional. Mais adepto do fado espontâneo, que nasce num jantar ou numa tertúlia à volta da mesa, do que do trabalho de estúdio ou de palco, Ferreira-Rosa tem uma discografia limitada que começa em 1964, ano em que grava o seu tema mais famoso, o Embuçado (letra de Gabriel de Oliveira e música do Fado Tradição, da cantadeira Alcídia Rodrigues), o mesmo que haveria de dar nome à casa que inaugura em 1966, no coração de Alfama. Pela Taverna do Embuçado, lembrou na mesma entrevista a Baptista-Bastos, passaram grandes nomes do fado – Amália, Teresa Silva Carvalho, João Braga… –, mas também artistas plásticos, escritores e chefes de Estado. “Não havia ninguém de fora que viesse, príncipe ou rei ou Presidente, que não tivesse de ir. Diziam até que era obrigatório ir ao Embuçado e era realmente”, disse ao jornalista. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Homem do fado, mas também dos toiros e dos cavalos, era um feroz opositor à República e esteve, de início, ligado ao Partido Popular Monárquico (PPM), afastando-se com a saída dos seus fundadores, Gonçalo Ribeiro Telles e Henrique Barrilaro Ruas. No centenário da República, aliás, aceitou o desafio de uns amigos para explicar por que razão a monarquia lhe parecia preferível como sistema de governo, numa entrevista que está hoje disponível online (Diálogos com João Ferreira-Rosa sobre a arte de continuar a ser Português no ano do centenário da República). Quanto ao afastamento do PPM, e para que não restassem dúvidas em relação às suas motivações, justificava-o assim: “A monarquia devia ser um movimento, uma ideia, e nunca um partido. Porque alinhar com a Assembleia da República, a mim, já me parece mal. ”Da curta discografia de João Ferreira-Rosa fazem ainda parte títulos como Ontem e Hoje (1996) e No Wonder Bar do Casino do Estoril (2004). Em 2003 participou no álbum Encantamento, num dueto com Mafalda Arnauth, uma das intérpretes da actual geração de fadistas que mais admirava.
REFERÊNCIAS:
Partidos PPM
Start-ups dependem cada vez mais das exportações
Percentagem de empresas que exportam no primeiro ano de vida aumentou para 10%, diz estudo. Start-ups já representam 18% do emprego criado em Portugal todos os anos. (...)

Start-ups dependem cada vez mais das exportações
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Percentagem de empresas que exportam no primeiro ano de vida aumentou para 10%, diz estudo. Start-ups já representam 18% do emprego criado em Portugal todos os anos.
TEXTO: A percentagem de empresas que exportam no primeiro ano de vida aumentou de 8%, em 2007, para 10% em 2013. E, nestas, mais de metade do volume de negócios foi conseguido no estrangeiro, em concreto 67%, a percentagem mais alta desde 2007. De acordo com o estudo O Empreendedorismo em Portugal: 2007-2014, elaborado pela Informa D&B, as start-ups representam em média 18% do emprego criado em Portugal todos os anos. As que foram criadas há menos de cinco anos valem 46% dos postos de trabalho gerado em cada ano. Actualmente, 34% das empresas em Portugal são consideradas start-ups. Valem 9, 6% do volume de negócios do tecido empresarial e 15% do emprego. “Os sectores da agricultura, pecuária, pesca e caça (+16%), telecomunicações (+10%) e alojamento e restauração (+4%) são os que registam maior crescimento médio anual de novas empresas no período de 2007 a 2013”, analisa a Informa D&B. No lado oposto estão a construção, as imobiliárias, os serviços ou o retalho, que perderam atractividade. Quanto ao perfil destas empresas, a sociedade unipessoal (com apenas um sócio) passou a ser a forma jurídica mais escolhida na hora de fundar uma empresa, cenário diferente de 2007, quando 60% das novas empresas tinham dois ou mais sócios. A maioria das novas organizações tem, agora, um capital social mais baixo, até porque a partir de Abril de 2011 passou a ser possível abrir uma empresa com um capital de um euro por sócio. Em 2014, 50% das sociedades foram constituídas com um capital inferior a cinco mil euros. Quanto ao volume médio de negócios, caiu em relação a 2007. Nesse ano era de 86 mil euros e em 2013 foi de 74 mil euros. O número médio de empregados também é inferior: de 2, 4 trabalhadores para 2, 1.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social estudo
Congresso do Partido Popular entre a opção centrista e a viragem à direita
A luta pela liderança foi marcada por rivalidades pessoais e de clãs. O debate ideológico foi mínimo. É um partido ameaçado e no seu congresso vai eleger um líder e uma linha política. (...)

Congresso do Partido Popular entre a opção centrista e a viragem à direita
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.442
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: A luta pela liderança foi marcada por rivalidades pessoais e de clãs. O debate ideológico foi mínimo. É um partido ameaçado e no seu congresso vai eleger um líder e uma linha política.
TEXTO: O Partido Popular (PP) inaugura nesta sexta-feira, nos arredores de Madrid, o congresso para eleger o novo líder. Depois das primárias de 5 de Julho, ficaram em cena dois candidatos: Soraya Sáenz de Santamaría, de 47 anos, antiga vice-presidente dos governos de Mariano Rajoy, e Pablo Casado, de 37, vice-secretário de comunicação do PP. A votação realiza-se no sábado ao fim da manhã. Pará lá da disputa da liderança, estão em jogo a reconstrução e a orientação de um partido que ocupa um lugar central no mapa político espanhol. Isso passa por suster a hemorragia de eleitores e apresentar uma alternativa ao socialista Pedro Sánchez. Não há um favorito claro. Santamaría venceu a “primeira volta” com 37% dos votos, à frente de Pablo Casado, com 34%, e eliminando todos os outros candidatos, designadamente María Dolores de Cospedal, secretária-geral do PP. Nessa etapa, o combate era entre as duas “generalas” inimigas, mas Casado interpôs-se e acabou por reunir o apoio de todos os vencidos. A decisão cabe agora aos 3082 delegados. Acontece que os delegados não seguirão necessariamente o sentido do voto nas primárias. Se uma grande parte deles já se terão decidido, muitos querem ter a certeza de apostar no “cavalo vencedor”, escreve o jornalista Iñigo Aduriz. No PP, o líder “tem a capacidade de repartir os cargos no executivo e de designar os candidatos às eleições municipais e regionais”, já em 2019. Não havendo sondagens entre os delegados, tanto Santamaría como Casado, procuram demonstrar a superioridade dos apoios de que gozam. Ambos dizer ter seguros 60% dos votos. Os apoios do aparelho e dos “notáveis” repartem-se pelas duas candidaturas. O presidente galego, Alberto Nuñez Feijóo, diz-se neutral mas parece favorável a Casado. Os “aznaristas” estão assumidamente ao lado do mesmo Casado. Por outro lado, muitos delegados votam consoante interesses regionais. E, por fim, deverão ter em conta a grande pergunta: qual o candidato com melhores condições para suster a hemorragia de eleitores e reocupar o espaço eleitoral perdido para o Cidadãos, de Albert Rivera. As sondagens continuam a confirmar a lenta erosão do PP, agora em terceiro lugar nas intenções de voto, abaixo do PSOE e do Cidadãos, ou seja, após sete anos de poder, o PP vê ameaçado o seu estatuto de partido de governo. Qual é o líder mais apto a renovar o partido e inverter a curva de declínio? Observa a politóloga Sandra León que há líderes mais aptos para ganhar no congresso, outros para mobilizar os militantes e outros ainda para segurar os eleitores. “E o candidato de ouro é aquele que consegue tudo isso e que, depois, é capaz de vencer umas eleições nas urnas. ”Segundo as sondagens, a maioria dos eleitores prefeririam Santamaría. Mas que líder escolherá o aparelho? Entram aqui as questões ideológicas e a estratégia política. As linhas de clivagem são pouco claras, porque o PP é um partido em que nunca houve debate: de resto, os eleitores de direita tendem a apreciar mais a unidade do que o pluralismo e a divisão. Não houve debate público na campanha, porque os militantes “têm um medo enorme, que se explica pela falta de hábito de debater os seus problemas em público e de que se exibam e se limpem as nódoas [em público]”, explica a jornalista Victoria Prego. Ao longo das semanas, Santamaría passou a significar a continuidade da era Rajoy. E Casado procurou demarcar-se, apresentando-se como “renovador”. Quanto mais não seja por ser mais jovem. À falta de uma definição mais clara, os dois campos foram anexados às figuras tutelares e rivais de José Maria Aznar e Mariano Rajoy. “O processo participativo do PP, improvisado à pressa, não está a unir, mas a distanciar, os dois espíritos do partido: o aznarismo e o marianismo”, escreve o politólogo Victor Lapuente. Seria um sucedâneo da “tensão entre conservadores e liberais noutras direitas europeias”. Rajoy afastou-se e é já passado. Aznar diz não se intrometer mas a Fundação FAES, o seu “braço ideológico”, apoia abertamente Casado e incentiva à “refundação do PP”. Santamaría é assim empurrada para assumir uma postura mais centrista e Casado incentivado a fazer uma viragem à direita. Nos últimos dias subiram de tom os “rancores fraternos” e houve episódios de “guerra suja” que, segundo o El País, “horrorizaram” os militantes. Mas não são o suficiente para pôr em causa a unidade. O problema é outro. Depois do “calvário judicial da corrupção”, da surpresa da perda do poder e da súbita orfandade perante o abandono de Rajoy, os “populares” sabem que têm dentro de um ano o desafio de eleições municipais e regionais — e talvez nacionais — e vêem o Cidadãos disputar o seu espaço eleitoral. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O politólogo Fernando Vallespín não é muito optimista sobre o futuro da direita. “Para todos seria benéfico um centro-direita moderno e com capaciadade para, chegada a ocasião, saber também entender-se com a esquerda. As direitas siamesas [PP e Cidadãos] estão condenadas a devorarem-se entre si. Só pode ficar uma. ”Não está claro que o PP faça uma viragem à direita. A haver, deixará mais espaço a Albert Rivera. Conclui Sandra León: “Está por ver se os delegados do PP preferem a continuidade e as garantias de Santamaría ou se escolhem combater um contexto político incerto e em mutação com a resposta ideológica que Casado lhes oferece. ”É uma opção decisiva na história do PP e da política espanhola.
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Ministros obrigados a escolher dirigentes públicos em 30 dias
Proposta de Lei do Governo retira margem aos ministérios e passa para a Cresap a responsabilidade de definir o perfil dos candidatos. (...)

Ministros obrigados a escolher dirigentes públicos em 30 dias
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Proposta de Lei do Governo retira margem aos ministérios e passa para a Cresap a responsabilidade de definir o perfil dos candidatos.
TEXTO: Os ministros vão passar a ter um prazo de 30 dias para nomearem os dirigentes dos organismos públicos e, ao mesmo tempo, a Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (Cresap) vai ter mais poder na definição dos perfis dos candidatos aos concursos. As medidas estão previstas numa proposta de lei do Governo, que surge depois dos atrasos sucessivos de alguns ministros na nomeação dos dirigentes públicos; das notícias sobre as ligações partidárias de alguns dirigentes escolhidos, como aconteceu na Segurança Social, e de críticas à nomeação de dirigentes em regime de substituição. Em cima da mesa está a alteração ao Estatuto do Pessoal Dirigente e à lei que estabelece as regras para a selecção dos altos dirigentes do Estado, acolhendo algumas das sugestões que João Bilhim, presidente da comissão, tinha deixado aos deputados em Fevereiro passado. Uma das alterações previstas na proposta, a que o PÚBLICO teve acesso, dá aos ministros um prazo de 30 dias, contados a partir da data em que recebem a lista com os três finalistas do concurso seleccionados pela Cresap, para escolherem o candidato ao lugar. Até agora, os membros do Governo não tinham qualquer prazo para designar o dirigente e, em alguns casos, a decisão levou mais de um ano a ser tomada e há cargos que estão desde 2013 por preencher. Ao mesmo tempo, o Governo pretende evitar que as nomeações em regime de substituição (que ocorrem quando o titular do cargo está ausente por mais de 60 dias ou quando o lugar não está ocupado) se prolonguem no tempo. O regime ainda em vigor estipula que a substituição deve cessar na data em que o titular do cargo retoma funções “ou passados 90 dias sobre a data da vacatura do lugar, salvo se estiver em curso procedimento tendente à designação de novo titular”. No futuro, haverá uma exigência adicional: a substituição termina passados 30 dias após a entrega da lista de finalistas, sem que tenha havido decisão do nome que irá ocupar o lugar. A proposta de lei, que está para consulta dos sindicatos, altera também os procedimentos a seguir quando os concursos não têm um número suficiente de candidatos. Nesse caso, a comissão deve publicar de novo o aviso de abertura de concurso e, verificando-se o mesmo resultado, o membro do Governo pode então escolher uma pessoa para o lugar que - e esta é a alteração agora proposta - terá de passar por uma avaliação “não vinculativa” da Cresap. O Governo quer também esclarecer as situações em que um dos três finalistas desiste, uma situação que não está prevista na lei em vigor. Quando isso acontece nos 15 dias seguintes à apresentação da lista de finalistas, o ministro que tutela o serviço em causa pode solicitar ao júri da Cresap que indique “outros candidatos que tenha por adequados para colmatar aquela desistência". Ministros deixam de definir perfil dos candidatosA definição do perfil dos candidatos aos concursos deixará de estar nas mãos dos membros do Governo e passará a ser uma competência da comissão de recrutamento. Esta mudança vai no sentido da proposta que João Bilhim tinha feito durante uma audição da comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, em Fevereiro, e pretende evitar a tentação de os perfis serem desenhados em função de determinadas pessoas. Em entrevista ao PÚBLICO, o responsável da Cresap admitiu que, em alguns concursos, o júri detectou perfis feitos à medida, que tiveram de ser corrigidos. Aos ministros, refere a proposta, caberá “identificar os requisitos gerais do cargo, caracterizando o mandato de gestão, as principais responsabilidades e funções que lhe estão associadas, bem como a carta de missão do respectivo serviço ou órgão”. Depois, a Cresap elabora uma proposta de perfil e remete-a ao membro do Governo para homologação. Se não houver oposição do ministro no prazo de dez dias, a proposta considera-se tacitamente aceite. Nas alterações que o Governo quer fazer aos diplomas esclarece-se ainda que a Cresap , além do recrutamento e selecção de candidatos para cargos de direcção superior da Administração Pública, deve também intervir nos "cargos a estes equiparado a qualquer título”, tentando evitar que algumas nomeações escapem ao crivo de um júri. Na proposta, seguindo também uma proposta de João Bilhim, reforça-se a garantia de sigilo da identidade dos candidatos, que não pode ser divulgada “até à decisão final do júri do concurso”. Outra das mudanças que se pretende introduzir tem a ver o percurso académico dos candidatos a cargos de direcção superior. Na lei em vigor exige-se que tenham licenciatura há pelo menos 12 ou oito anos, consoante se trate de candidatos a cargos de primeiro ou segundo grau. No futuro, têm de ser licenciados há pelo menos dez ou seis anos. Antes de ser aprovada, a proposta de lei ainda vai ser discutida com os sindicatos, que reúnem com o secretário de Estado da Administração Pública, José Leite Martins, na próxima semana. O diploma também terá de passar pela Assembleia da República, onde poderá ser alvo de contributos dos partidos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei social
Conhecer o Porto, um desenho de cada vez
Oito centenas de desenhadores urbanos tomaram conta da Ribeira do Porto num "Passeio de Desenho". É o encontro mundial do grupo Urban Sketchers, que decorre até sábado. (...)

Conhecer o Porto, um desenho de cada vez
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Oito centenas de desenhadores urbanos tomaram conta da Ribeira do Porto num "Passeio de Desenho". É o encontro mundial do grupo Urban Sketchers, que decorre até sábado.
TEXTO: Alison é escocesa, mas vive na Alemanha. Chegou na madrugada desta quarta-feira ao Porto para o Simpósio Internacional do grupo Urban Sketchers. Mãe e contabilista, há dois anos encontrou no desenho uma forma de registar o que ia acontecendo na sua vida – e à sua volta. Alison é um dos 800 participantes do encontro mundial que decorre até sábado (21) na Alfândega do Porto. “Posso desenhar no conforto de minha casa, mas adoro estar na rua e tornar-me parte da cidade. ” Quem o diz é Liz Steel. Há 11 anos descobriu o Urban Sketching e deixou a arquitectura para ensinar esta forma de desenhar em workshops por todo o mundo e na internet. Numa mesa de café, num banco de jardim ou nos transportes públicos, desenho a desenho, os urban sketchers imortalizam as paisagens, os indivíduos e os pormenores do quotidiano nos seus diários gráficos - assim se chama o caderno onde figuram os seus esboços. Os Urban Sketchers são um colectivo de autores que desenham as cidades onde vivem e os locais por onde viajam. Neste momento são mais de 120 mil pessoas no mundo que partilham esta paixão. Encontram-se regularmente para desenhar em grupo e estão associados em países de todo mundo. Liz está em viagem há dois meses e acaba de conhecer Anya Toomre. Anya conheceu Gabriel Campanário, fundador do Urban Sketchers, no ano passado no Simpósio em Chicago. Apaixonou-se por esta técnica e já fez dois dos cursos online de Liz. “Ela não faz ideia de quem eu sou, talvez reconheça o meu nome”, confessa a americana. Liz participou em todos os encontros internacionais – já lá vão nove edições – e está habituada a ser abordada por rostos desconhecidos. Como tudo, primeiro estranha-se, depois entranha-se. “Uma das melhores partes é contactar com estas pessoas que me conhecem, sabem como o meu cérebro funciona e ouvem as parvoíces que digo nos vídeos”, revela a australiana, de sorriso no rosto e caderno na mão. Numa década, Liz já preencheu 250 cadernos com rascunhos do seu dia-a-dia. Não diz aos alunos como ou que fazer – dá a cana (os conceitos) e ensina a pescar, o resto é com eles. Para a ex arquitecta, toda a gente pode tornar-se num desenhador urbano, é “como tocar piano”: uma questão de paciência e prática. Não se trata apenas de talento, é preciso aprender a olhar o mundo de uma forma diferente: “em vez de ver um edifício ou uma árvore, vemos formas e contornos”, explica. O feliz encontro de Liz e Anya não é único. Na verdade, o que mais se fez neste Sketchwalk ("Passeio de Desenho") desde o edifício da Alfândega até à ponte D. Luís I foi “dar caras aos nomes” que se conhecem da Internet. Nicola Doucedame tem 63 anos e quando perguntamos se estava a viajar sozinho respondeu “não, só com a minha esposa”. Mas nos poucos minutos em que conversamos, foram várias as pessoas que interromperam para dizer bonjour ao francês. “Conheço-os da internet, do Facebook”, justificou. Nicola é urban sketcher há cinco anos. Antes de se reformar era ilustrador e há uns anos abriu uma escola de arte para adultos, em Aix-en-Provence. Nesta técnica, procura surpresa. “Precisas de estar alerta e deixar-te levar pela surpresa do que está à tua volta, passar isso para o desenho”, afirma o francês enquanto dá os últimos retoques numa Serra do Pilar em aguarela. Próximo de Nicola, está Scott Renk, que fundou o grupo de Urban Sketchers no estado da Carolina do Norte. No simpósio, quer “absorver o máximo que puder” do contacto com os outros participantes. “Está ao rubro”, afirma o americano. E está mesmo: olhe-se por onde se olhar, não há espaços vazios na Ribeira do Porto. Nos bancos, no chão, de pernas penduradas para o rio, nas escadas e nas esplanadas, centenas de pessoas a desenhar. Uma paisagem difícil de esquecer, ainda mais para quem a olha com atenção e a transpõe no papel. Para Scott, desenhar é como escrever uma história. “Eu reduzo-o a três palavras: personagens, conflito e desenlace”, afirma, folheando as páginas do seu caderno. Das oito dezenas de participantes, duas vêm dos Estados Unidos e apenas 20% são portugueses. Filipe Almeida é engenheiro civil e descobriu o Urban Sketching Portugal (USkP) em 2012, através de uma amiga. “É tão simples como trazer um caderno e uma caneta, faz-se em qualquer lugar”, diz o lisboeta de 41 anos. Para Filipe, a inspiração encontra-se “cruzando esquinas e passeando na rua”, não dentro de quatro paredes. Luís Ferreira viu no voluntariado a oportunidade de participar no evento (o valor dos passes ia dos 120 aos 377 euros). “Comecei com o urban sketching porque achava que precisava de me soltar mais, tinha um estilo muito rigoroso e faltava-me expressividade”, conta o aluno da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Desenhar ao vivo obrigou o jovem a ser a “ser mais rápido e objectivo”, fundamentalmente para desenhar a figura humana. Só agora Isa Silva começa a gostar de desenhar pessoas. É de Lisboa mas assina a Torre dos Clérigos inclinada que serve de logótipo ao Simpósio. Diz que a ideia surgiu imediatamente após ter lido o regulamento do concurso. “É o símbolo da cidade e transformei-o numa torre curiosa que se inclina para espreitar os desenhos”, explica a artista visual. Há oito anos que Isa faz parte do grupo nacional de desenhadores urbanos, que conta já com mais de 200 “rabiscadores”, como lhes chama. Foi a liberdade do estilo que a atraiu para esta forma de fazer arte: “Não há regras como costumamos aprender na escola, aqui é precisamente o oposto. ”Quadrados, rectangulares, pequenos, grandes, horizontais ou verticais, a grande maioria prefere os blocos de desenho mas aos 72 anos Bob Laine prefere desenhar no tablet. “Quando desenhamos com caneta não podemos corrigir os erros, no iPad sim”, afirma. Em 2005, Bob teve um ataque cardíaco e deixou de trabalhar. Começou a pintar e chegou mesmo a vender vários quadros. Há dois anos participou no encontro internacional em Manchester e nunca mais parou. É impossível ter uma noção das vezes que o Cais de Gaia, a Serra do Pilar e a Ponte D. Luis I foram fotografados, mas é com certeza que se pode afirmar que nunca antes tantos olhares atentaram naquela parte da cidade do Porto enquanto as mãos desenhavam o que os olhos viam. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Simpósio Internacional de Desenhadores Urbanos é organizado pelos USkP e pela delegação do Norte e decorre até dia 21 de Julho na Alfândega do Porto. As primeiras 600 vagas para inscrições esgotaram em meia hora e contam-se mais de duas dezenas de nacionalidades presentes no evento que junta profissionais e amadores na partilha de conhecimentos e no aperfeiçoamento de técnicas. No total, vão ocorrer mais de uma centena de acções formativas, nomeadamente quatro workshops dirigidos por 36 instrutores e especialistas em várias áreas do desenho urbano, três dos quais são portugueses. Texto editado por Ana Fernandes
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola ataque
Na jaula das hienas
Num relato moderno para o seu tempo, entre a crónica jornalística e a prosa poética, Valle-Inclán mostra-nos uma outra visão da guerra. (...)

Na jaula das hienas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num relato moderno para o seu tempo, entre a crónica jornalística e a prosa poética, Valle-Inclán mostra-nos uma outra visão da guerra.
TEXTO: O prolífico dramaturgo, poeta e escritor galego Ramón del Valle-Inclán (1866-1936), filho tardio da Geração 98 (Miguel de Unamuno, Pio Baroja, Azorín, entre outros), representante do Modernismo espanhol, é um dos autores mais importantes da literatura hispânica da primeira metade do século XX. Originário da pequena aristocracia rural galega, desde cedo se dedicou à literatura — publicando muitas das suas obras em fascículos, em jornais e em revistas, antes de os fazer publicar em livro. Foi talvez por causa dessa sua veia “jornalística” que o governo francês o convidou, em 1915, a visitar a frente de guerra ocidental (a frente do Somme) e a escrever várias crónicas — o intuito era serem publicadas simultaneamente em jornais de vários países. Este convite chegou-lhe por intermédio do cônsul francês em Espanha — o seu amigo, tradutor e grande admirador, Jacques Chaumié — e não é dispicienda a ideia de que tenha sido feito por sua influência. Valle-Inclán saiu de Madrid no final de Abril de 1916, e instalou-se, em Paris. Foi nos dias do final de Maio e do começo de Junho que o escritor galego visitou a frente de guerra, as trincheiras, e voou sobre as linhas alemãs. “Os ecos da guerra enlaçam-se desde a costa nortenha até aos montes alsacianos!”Os relatos desta viagem aventurosa, escritos em duas partes, foram publicados alguns meses mais tarde, no jornal El Imparcial, em forma de folhetim: aconteceu entre Outubro de 1916 e Fevereiro de 1917. Meses depois, uma versão da primeira parte (consideravelmente reescrita), titulada A Meia-Noite. Visão Estelar de Um Momento de Guerra, foi publicada como livro. Autoria: Ramón del Valle-Inclán (Trad. Pedro Ventura) Assírio & Alvim Ler excertoConta Valle-Inclán na breve nota que antecede a narrativa, que era seu propósito condensar neste livro os variados e “diversos lances de um dia de guerra em França”. Mas para o fazer teria de estar em “diversos lugares” ao mesmo tempo, por isso todos os relatos “estão limitados pela presença geométrica do narrador”. Mas o escritor galego parece ter resolvido bem este problema de carácter formal ao adoptar uma espécie de visão desde o alto — para isto terá sido inspirador um reconhecimento aéreo da frente feito a bordo de um avião militar, que muito o terá impressionado (conta-se na introdução a este livro, da autoria do tradutor, que o voo incluiu o “sector de Ypres”, onde o Corpo Expedicionário Português viria a participar, em Abril de 1918, na chamada Batalha de La Lys). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Valle-Inclán descreve a vida na frente de batalha, numa atmosfera lúgrube e funesta: as aldeias bombardeadas, as trincheiras, a morte. Em capítulos muito breves (raramente mais do que duas páginas), faz uso de múltiplos protagonistas — que aparecem, dizem por vezes uma ou duas frases, e logo desaparecem — num discurso fragmentado, e numa multiplicidade de cenários em que a única coisa que têm em comum é o cheiro da morte, como se aquela “guerra de trincheiras” se travasse dentro de uma “jaula de hienas”. “Dos bosques montanheiros da região alsaciana até à costa brava do mar nortenho, espreitam os exércitos agachados nos fossos do seu entrincheiramento, onde fede a morto como na jaula das hienas. ”É notório que ao escritor galego não interessa uma prosa épica, a narrativa ampliada de grandes batalhas, as grandes movimentações de exércitos com as consequentes grandes vitórias. Interessam-lhe os anónimos, os populares que são apanhados nas margens do conflito, os hospitais, as aldeias destruídas, os pequenos movimentos dentro das trincheiras, os mortos de ventre inchado e pernas negras que dão à costa e que os vivos não enterram mas deixam que “o vento os leve”, interessa-lhe sobretudo como nos relacionamos em ambiente trágico, interessa-lhe quem são aqueles marinheiros que rezam e que sonham. “São pescadores da Normandia e da Bretanha, moços crédulos, de olhos claros, almas infantis valentes para o mar, abertas ao milagre e temerosas dos mortos. Muitos rezam em voz baixa, lembrando-se das aparições nos cemitérios e nos pinhais das suas aldeias. ”Valle-Inclán foi autor de uma prolífica produção literária, ampla e por vezes complexa, usando todos os géneros mas sem nunca se cingir às suas normas. Com este A Meia-Noite. Visão Estelar de Um Momento de Guerra, num registo entre a crónica jornalística e a prosa poética, o escritor galego, mais uma vez, alterou o rumo artístico da sua obra; e iria torná-lo a fazer uns anos mais tarde com a publicação desse romance inovador que foi Tirano Banderas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra filho espécie corpo morto
Em São João da Madeira há um festival de se lhe tirar o chapéu
Este fim-de-semana, o centro da cidade vai animar-se com cerca de 60 performances artísticas. Da música ao novo circo, há muito para ver num programa que gira à volta da celebração da indústria chapeleira. (...)

Em São João da Madeira há um festival de se lhe tirar o chapéu
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Este fim-de-semana, o centro da cidade vai animar-se com cerca de 60 performances artísticas. Da música ao novo circo, há muito para ver num programa que gira à volta da celebração da indústria chapeleira.
TEXTO: O município de São João da Madeira quer celebrar a sua tradição na indústria chapeleira e para o fazer preparou um festival urbano que promete animar o centro da cidade, a partir de hoje e até domingo. Chama-se Festival Hat Weekend e, como seria de esperar, coloca o chapéu no centro das atenções. Em cada performance e exibição, este será um assessório indispensável, “o que obrigou os artistas a adaptarem ou a criarem de raiz as suas apresentações”, destaca Suzana Menezes, chefe da divisão de Cultura da câmara municipal. À espera do público, no espaço público — entre o Museu da Chapelaria e a Praça Luís Ribeiro —, estarão cerca de 60 performances. Instalações artísticas, espectáculos e performances de teatro, novo circo e música, experiências imersivas narrativas, arruadas e espectáculos das mais antigas bandas de música e de renovadas confrarias portuguesas são algumas das propostas do programa que arranca às 18h00 de hoje (com a inauguração da primeira obra do circuito de arte urbana). Algumas das propostas que serão apresentadas ao público são estreias absolutas, uma vez que foram encomendadas de propósito para o festival. É o caso do espectáculo Tangran e o Chapeleiro, criado pela Companhia Art’lier, e que combina video mapping, teatro-circo e multimedia, entre realidade e ficção, para fazer um elogio ao património da chapelaria (será apresentado hoje, pelas 22h30). Recorrendo à figura de um “chapeleiro louco”, poetizado em torno do fantástico universo de Lewis Carroll [autor de Alice no País das Maravilhas], este espectáculo constitui “um momento de reflexão sobre a indústria da chapelaria e a figura do chapeleiro”, realça Suzana Menezes. “No século XIX havia um grave problema de demência dos chapeleiros motivado pelo mercúrio que eles inalavam para tratar o feltro e este ‘chapeleiro louco’ do espectáculo é a representação dessa parte da história”, acrescenta a também directora do festival. Ao longo de todo o fim-de-semana, estará patente, na Praça Luís Ribeiro, a Feira do Feltro e do Chapéu — na qual artesãos, criativos, designers e lojas irão expor e vender os seus produtos —, que concitará as atenções a par da feira de doçaria Chapéus Doces. Os concertos, claro está, são outra das apostas fortes do programa, estando previstas as actuações da Cottas Club Jazz Band, Orquestra Improvável, Mimo’s Dixie Band e Banda de Música de São João da Madeira, entre outros grupos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para o Hat Weekend foram também convidadas as confrarias gastronómicas que usam chapéu. Amanhã, a partir das 15h00, reúnem-se em São João da Madeira, “transformando a cidade no grande palco das especificidades identitárias de várias regiões portuguesas”, assegura a organização do festiva. As confrarias farão um desfile entre o Museu da Chapelaria e a Praça Luís Ribeiro, acompanhadas pela banda de música do município. No domingo, igualmente a partir das 15h00, o mesmo formato irá ser seguido com bandas musicais de todo o país que tenham como elemento comum o uso de chapéu no seu fardamento oficial. Segunda edição, dez anos depoisEsta é já a segunda edição do Festival Hat Weekend, muito embora aconteça dez anos depois da primeira. “Fizemos uma primeira experiência em 2008, na sequência da abertura do Museu da Chapelaria, em 2005, e que serviu para testarmos o conceito”, enquadra Suzana Menezes. Não obstante os resultados positivos, o evento acabou por não ter seguimento nos anos seguintes. O motivo? “Nestes dez anos, São João da Madeira teve dois executivos municipais diferentes, que já cá não estão. Só faria sentido serem os próprios a apontar as razões que levaram a que o festival não tivesse acontecido nos anos seguintes”, argumenta a directora do Hat Weekend. Passado à parte, importa o presente e também o futuro, uma vez que o “festival já tem igualmente garantida a edição do próximo ano”, adianta.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura circo
Terapia genética pré-natal corrigiu erro que causa doença rara
Experiência em ratinhos demonstrou que é possível activar o gene que produz uma enzima que não está presente nas pessoas com doença de Gaucher, que é rara e nas suas formas mais graves pode ser fatal. (...)

Terapia genética pré-natal corrigiu erro que causa doença rara
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Experiência em ratinhos demonstrou que é possível activar o gene que produz uma enzima que não está presente nas pessoas com doença de Gaucher, que é rara e nas suas formas mais graves pode ser fatal.
TEXTO: Uma equipa de cientistas conseguiu, numa experiência com ratinhos, evitar o desenvolvimento da forma mais grave da doença de Gaucher através de uma intervenção pré-natal. Os cientistas usaram um vírus para conseguir chegar até ao cérebro dos ratinhos ainda em gestação e “acordar” um gene que produz a enzima que não está presente nas pessoas que sofrem desta doença rara. O artigo foi publicado na última edição da revista Nature Medicine. A doença de Gaucher é uma doença genética e autossómica recessiva, ou seja, para a desenvolver é preciso herdar as duas cópias “com defeito” do gene que lhe está associado. Em Portugal, apesar de alguns especialistas acreditarem que a doença está subdiagnosticada, há pouco mais de 100 pessoas identificadas. As manifestações menos graves da doença têm desde há alguns anos um tratamento que se baseia na administração da enzima em falta. Tudo porque se descobriu que a causa desta doença era a deficiente produção de uma enzima que “capta e recicla” determinadas substâncias nas células. Sem este agente de limpeza a trabalhar numa espécie de “centro de reciclagem” que temos nas células (e que se chama lisossoma), há substâncias prejudicais (produtos químicos gordurosos) que se acumulam. O resultado são sintomas como o inchaço do fígado e baço, graves problemas ósseos, dor, anemia, fadiga, entre outras manifestações da doença que podem afectar muito a qualidade de vida destes doentes. E se para algumas formas menos graves da doença de Gaucher já existe o tal tratamento de reposição enzimática, nas formas mais graves esta doença neurodegenerativa de início precoce pode não ter tratamento e ser mesmo fatal. Foi precisamente para cenário mais grave que os cientistas apontaram o alvo de uma terapia genética. E como a manifestação é bastante precoce, quiseram fazê-lo numa fase pré-natal, quando os ratinhos ainda eram fetos e estavam dentro do ventre. O método pode parecer assustador, mas resultou. Numa intervenção cirúrgica, os cientistas injectaram no cérebro dos fetos dos ratinhos (modelos animais da doença de Gaucher, incapazes portanto de produzir a enzima cuja deficiência a caracteriza) um vector viral que foi especialmente concebido para “acordar” o gene que produz a enzima em falta. Simon Waddington, investigador no University College de Londres e na unidade de investigação de terapia genética antiviral na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Witswatersrand, em Joanesburgo (África do Sul), é o primeiro autor do artigo que relata a experiência que concluiu que os animais tratados no útero com esse vector exibiram uma degeneração cerebral inferior e viveram mais tempo quando comparados com ratinhos que não foram submetidos a este tratamento. O artigo especifica que os ratinhos não tratados manifestaram sintomas da doença e desenvolveram uma neurodegeneração fatal em apenas 15 dias. Por outro lado, 18 semanas após o tratamento, os ratinhos que receberam a terapia genética mostravam sinais de boa saúde, “activos e com total mobilidade”. Com é fácil de imaginar, uma intervenção deste género com recurso a uma injecção intracraniana, consideravelmente invasiva e que acarretaria sérios riscos, não seria transponível para fetos humanos. Assim, para já e num passo em direcção a uma eventual futura aplicação clínica, os investigadores também desenvolveram métodos que passaram por usar ultra-sons para guiar e orientar a entrega de vectores semelhantes de transferência de genes para os cérebros de primatas não humanos no útero. “Este estudo tinha dois elementos. Por um lado, a demonstração de eficácia terapêutica em ratinhos e, por outro, a demonstração da eficácia técnica (da terapia genética fetal) em humanos”, explica Simon Waddington ao PÚBLICO. O investigador adianta que o seu trabalho permite para já concluir que “a terapia genética fetal para doenças letais neurodegenerativas de início precoce é biologicamente viável e tecnicamente possível” e também “fornece provas de que a doença de Gaucher pode ser tratável por terapia genética”. Agora, há novos desafios pela frente. Para os ensaios clínicos em humanos, o cientista sugere o recurso a um vector que já tenha demonstrado eficácia pós-natal, como é o caso, exemplifica, da terapia genética para a atrofia muscular espinhal de tipo I. Para optimizar a técnica, Simon Waddington adianta que já está a trabalhar para encontrar um vector que possa ser usado em ensaios clínicos de terapia genética em humanos com doença de Gaucher na fase pós-natal. Quais os principais obstáculos de uma intervenção deste género nos humanos? A intervenção teria de ser realizada “por obstetras especializados em ecografia, uma vez que não seria tão rotineira quanto uma única injecção intravenosa após o nascimento”, responde o investigador, sublinhando, no entanto, esta abordagem na fase pré-natal permitiria que o gene fosse “entregue mais eficientemente do que após o nascimento”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O cientista adianta que não foram observados efeitos colaterais desta intervenção. “O único lado negativo foi que não curamos completamente os ratinhos, mas esperamos que possamos melhorar isso com vectores optimizados. Existe sempre um risco pequeno, mas finito, com injecção fetal, de causar um parto prematuro. Na terapia genética fetal há preocupações de que o gene possa passar para a linha germinativa, mas isso também é uma preocupação com a terapia genética pós-natal”, afirma. A equipa sublinha que são necessárias mais investigações e experiências para, entre outras dúvidas, esclarecer por exemplo a duração do efeito desta terapia genética, ou seja, por quanto tempo é que os genes “acordados” continuam a produzir a enzima. E, frisa ainda, os testes agora deverão ser feitos em sistemas nervosos centrais maiores do que o dos ratinhos, neste caso de primatas não humanos. Mais uma vez, Simon Waddington apoia-se em experiências anteriores que usaram com sucesso a terapia genética noutras doenças e aponta o exemplo do “efeito duradouro observados nos lactentes tratados para atrofia muscular espinhal (com mais de dois anos) e hemofilia (mais de seis anos)”. “No entanto, estamos no reino da medicina experimental humana e, por isso, só descobriremos com o tempo”, conclui. Além da duração do efeito da terapia, num pequeno resumo da Nature Medicine sobre este artigo fica o alerta para o facto de estas abordagens de terapia genética exigirem diagnósticos precoces e muito precisos da doença numa fase pré-natal.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos doença género estudo espécie
Da mera reabilitação ao foco nas artes multimédia, já há projectos para S. Geraldo
Hoje inactivo, o cineteatro vai-se reinventar como coração das artes multimédia, categoria que elevou Braga a Cidade Criativa da UNESCO. Com mais ou menos foco na tecnologia, já há quatro projectos preliminares apresentados para o ‘novo’ S. Geraldo, com verbas que se estendem dos 2,8 aos 4,8 milhões de euros. (...)

Da mera reabilitação ao foco nas artes multimédia, já há projectos para S. Geraldo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.5
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Hoje inactivo, o cineteatro vai-se reinventar como coração das artes multimédia, categoria que elevou Braga a Cidade Criativa da UNESCO. Com mais ou menos foco na tecnologia, já há quatro projectos preliminares apresentados para o ‘novo’ S. Geraldo, com verbas que se estendem dos 2,8 aos 4,8 milhões de euros.
TEXTO: Com uma fachada ainda intacta, voltada para o Largo Carlos Amarante, mas um interior degradado, o cineteatro S. Geraldo pode, num futuro próximo, recuperar a dignidade, reabrindo ao público enquanto sala que mantém uma configuração mais similar àquela que acolheu os seus primeiros espectadores, em 1917, tendo uma plateia com 350 lugares e um balcão com 192 e custando 2, 8 milhões de euros (sem IVA). Mas, com um investimento de 4, 8 milhões, também sem IVA, o edifício também pode vir a albergar um espaço ora com um auditório até 400 lugares, ora com um espaço em pé para 900 pessoas, coroado com um aumento de volumetria para acolher um “território” de 368 metros quadrados dedicados exclusivamente às artes multimédia, campo que valeu à cidade o reconhecimento da UNESCO, a 31 de Outubro de 2017. Estas são duas das quatro versões preliminares apresentadas ao público, nesta segunda-feira, no Gnration, para requalificar o S. Geraldo, edifício pertencente à Arquidiocese de Braga que se vai transformar num espaço cultural, depois de arrendado à Câmara. Não sendo ainda certo que o projecto final de reabilitação seja qualquer um dos projectos divulgados, a coordenadora da candidatura de Braga a Cidade Criativa da UNESCO, Cláudia Leite, admitiu que a ideia mais cara é a que valoriza mais o espaço: pode acolher concertos, espectáculos e ‘performances’, e, ao mesmo tempo, um “espaço único na Península Ibérica” a nível das artes multimédia. A também administradora do Theatro Circo reconheceu, no entanto, que, apesar de estar a par de um financiamento do programa Horizonte para reabilitação de edifícios, não tem a certeza se haverá dinheiro para avançar e se essa proposta se enquadra até no posicionamento desejado pela autarquia. Caso seja construída, essa sala, acrescentou o arquitecto Gonçalo Louro, um dos autores dos projectos provisórios, vai funcionar como uma espécie de “black box”, dotada com condições técnicas para acolher obras que envolvam o espectador numa “experiência audiovisual imersiva”. Das quatro opções, há uma outra que prevê uma nova sala com esse intuito, mas à custa do balcão da sala, retirando, ao mesmo tempo, capacidade à sala principal – teria 238 lugares. Esta opção está, por isso, praticamente excluída, admitiu Cláudia Leite. “Achamos que não faria muito sentido. Essa versão é a mais limitadora. Não faz muito sentido a recuperação nesse contexto”, considerou. A outra versão divulgada, com um custo a rondar os 3, 2 milhões, aproveita o facto de o S. Geraldo estar neste momento sem auditório, para criar um auditório com bancada retráctil até 420 lugares e um espaço em pé para 750 pessoas, ao qual se juntam os lugares disponíveis no balcão.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO