O adeus de Pedro Proença
Pedro Proença anunciou o fim da carreira como árbitro. Foram 466 jogos, incluindo presenças nas grandes competições do futebol internacional, um currículo ímpar na arbitragem portuguesa. (...)

O adeus de Pedro Proença
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pedro Proença anunciou o fim da carreira como árbitro. Foram 466 jogos, incluindo presenças nas grandes competições do futebol internacional, um currículo ímpar na arbitragem portuguesa.
TEXTO: A 10 de Setembro de 2000, Pedro Proença Oliveira Alves Garcia fazia o seu jogo de estreia na primeira divisão. A primeira tarefa do jovem árbitro era um Desportivo das Aves-Campomaiorense, na Vila das Aves. Aos 17’, Duka, defesa da equipa alentejana, foi o alvo de um cartão amarelo exibido pelo árbitro de Lisboa, o primeiro de oito que Proença haveria de mostrar. “O jogo correu-me mal, ficaram alguns cartões por mostrar e alguns penáltis por marcar”, admitiria mais tarde. Foi tão contestado pelos adeptos da Vila das Aves que só conseguiu sair do estádio duas horas depois do jogo, sob escolta policial. Passaram mais de 14 anos e Pedro Proença transformou-se numa referência da arbitragem internacional, acumulando presenças em todas as grandes competições. Nesta quinta-feira, este lisboeta de 44 anos anunciou o que era um segredo mal guardado, uma “decisão ponderada e tomada em consciência”: o fim da sua carreira como árbitro. Proença justificou a decisão com o “desgaste físico e mental” sofrido durante a longa carreira que teve na arbitragem. Assim, a pouco menos de um ano de atingir a idade limite, o último jogo da carreira de Proença acabou por ser um Cruz Azul-Auckland City em Marraquexe, que definiu o terceiro e quarto classificados do Mundial de clubes, em Dezembro passado. “Tenho consciência de que deixo uma imagem de competência, profissionalismo e credibilidade perante todos os agentes desportivos com quem me cruzei. Mesmo reconhecendo que possa ter errado dentro de campo e sofrendo com esses mesmo erros, estou consciente de que muito fiz para melhorar as minhas capacidades”, declarou o agora ex-árbitro, garantindo que abandona a arbitragem “a bem com toda a gente”, não se referindo aos problemas que teve num passado recente com Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Na sua intervenção, Vítor Pereira também não se referiu a estas divergências, classificando o abandono de Proença como “prematuro”. Neste adeus do qual já havia dado indícios em várias ocasiões, Proença mostrou-se satisfeito pela carreira que teve. “Estive em competições extraordinárias com os mais talentosos intervenientes. Estar presente em várias finais únicas, como a Liga dos Campeões e o Campeonato da Europa, foi uma jornada para a qual eu e a minha equipa muito trabalhámos. Aliás, vai para eles o meu profundo agradecimento”, referiu. Proença não rejeita voltar ao futebol e à arbitragem num futuro próximo. “Estou disponível para contribuir no que for necessário em prol da arbitragem e do futebol português”, garantiu. Mas o seu futuro imediato, acrescenta, passa por ser administrador e director financeiro, e dedicar-se à docência académica. Considerado o melhor árbitro português de sempre e o melhor do mundo em 2014, Proença frisou que é altura de “dar lugar aos actuais valores” e que “o futuro da arbitragem portuguesa está assegurado”. Acorreram à cerimónia realizada na sede da FPF muitas personalidades do futebol português, incluindo Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, Carlos Pereira, presidente do Marítimo. O FC Porto esteve representado por Antero Henrique, director-geral da SAD portista, que, no dia anterior, havia sido expulso durante o Sp. Braga-FC Porto por protestar contra a arbitragem de Cosme Machado — o juiz da Associação de Futebol de Braga não esteve presente na homenagem a Proença. Muitos árbitros marcaram presença, tal como Luís Duque, presidente da Liga de Clubes, Fernando Gomes, presidente da FPF, e antigos jogadores como Pauleta e Humberto Coelho, ambos quadros da federação. Árbitro desde os 17 anos, Pedro Proença subiu à primeira categoria em 2000, tornou-se internacional em 2003, marcando presença nas fases finais do Euro 2012 (em que dirigiu a final) e do Mundial 2014. Segundo as contas da FPF, Proença dirigiu, desde 2000, 466 jogos, dos quais 362 em competições nacionais e 104 em competições internacionais. O primeiro escalão da divisão portuguesa foi a competição mais “visitada” por Proença, com 179 jogos, seguido da segunda divisão, com 113. Internacionalmente, esteve em 37 jogos da Liga dos Campeões, incluindo a final de 2012, em Munique, entre o Bayern e o Chelsea. A este currículo, só faltou mesmo acrescentar a final do Mundial.
REFERÊNCIAS:
O dia em que Pedro e Partimpim venceram o lobo
Prokofiev e Partimpim, pela mão de Adriana Calcanhotto e da Orquestra Gulbenkian, tiveram um encontro feliz em Lisboa. Duas apresentações a 1 de Março, ambas com lotação esgotada. (...)

O dia em que Pedro e Partimpim venceram o lobo
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Prokofiev e Partimpim, pela mão de Adriana Calcanhotto e da Orquestra Gulbenkian, tiveram um encontro feliz em Lisboa. Duas apresentações a 1 de Março, ambas com lotação esgotada.
TEXTO: Quem tem seguido a trajectória de Partimpim, o alter-ego “infantil” (como soa deslocada, aqui, esta palavra) de Adriana Calcanhotto, não teria qualquer dificuldade em imaginá-la no papel de narradora do clássico (e eterno) conto sinfónico de Prokofiev Pedro e o Lobo. Juntar esse papel ao de Partimpim, ela mesma, e envolver tudo em arranjos para orquestra, com uma peça nova pelo meio, acabou por ser o resultado de tal desafio. Já apresentado no Brasil, o espectáculo vem com a marca de André Mehmari, jovem e talentoso pianista a quem foram encomendados não só arranjos orquestrais para uma meia dúzia de canções de reportório de Partimpim (para crianças e adultos, porque, como Adriana disse um dia, fazer “discos só para crianças é a pior maneira de criar uma geração de ouvintes”) mas também uma peça orquestral nova. Nessa peça, que Mehmari intitulou Festa dos Bichos, ele quis que os ouvintes imaginassem o que sucederia se os animais do conto sinfónico de Prokofiev fossem, por uns tempos, aspirar os ares do Brasil. Tudo isto, em palco, numa hora: Prokofiev, Mehmari, Partimpim. Com muitas crianças e muitos adultos na sala (confortavelmente renovada) do Grande Auditório da Gulbenkian, num domingo. No palco, a Orquestra Gulbenkian dirigida pelo maestro Rui Pinheiro. Adriana entrou depois, no papel de narradora. Um papel já desempenhado, até hoje, por dezenas de personagens ilustres: além da própria mulher do compositor, Lina Prokofiev, foram narradores de Pedro e o Lobo Sir John Gielgud, Peter Ustinov, Alec Guinness, Boris Karloff, Leonard Bernstein, André Previn, Sir Ralph Richardson, Jack Lemon, Sean Connery, Sophia Loren, José Ferrer, Antonio Banderas, Jeremy Nicholas, Richard Baker, David Bowie ou Sting. No Brasil, Rita Lee e Roberto Carlos já desempenharam tal papel, protagonizado em Portugal por Eunice Muñoz ou Catarina Furtado. Voltando a Adriana: de cartola e com uma espécie de fraque escuro, ela mostrou-se (na primeira das duas apresentações, a única a que se refere este texto, a das 11h), uma narradora eficaz, não só pela boa dicção como pela mímica, integrando-se harmoniosamente nos tempos da partitura. Com um único senão, que não foi culpa sua: o volume da voz de sala estava abaixo do exigível para um bom equilíbrio entre voz e instrumentos (desajuste também influenciado pelo volume da monitorização ao ouvido, este mais alto e dando-lhe a ilusão de que na sala a voz se ouvia bem). Mas enfim: o lobo lá saiu (caçado, é claro, mas para “um zoológico”), ficando na sala a pairar uma sensação de triunfo reforçada por mil aplausos. Festa dos Bichos, de Mehmari, pegou no Andantino de Pedro e o Lobo (que ele usou, aliás, para pontuar até as orquestrações para os temas de Partimpim) e daí partiu para uma viagem que, embora cumprisse no essencial a premissa da aproximação a sonoridades brasileiras, deixou a sensação de que poderia ter sido mais ousada. Basta pensar em Le Carnaval des Animaux, de Saint-Saëns (composto em 1886, muito antes de Pedro e o Lobo) para achar o Brasil proposto por Mehmari demasiado conforme aos cânones. Já na readaptação, para orquestra, das canções de Partimpim, Mehamri fez um trabalho notável, permitindo que elas respirassem muito bem nesta outra atmosfera. Assim sucedeu com a sempre bela Ciranda da bailarina, mas também com Canção da falsa tartaruga, O mocho e a gatinha, O trenzinho do caipira (pérola imortal de Heitor Villa-Lobos) e Elefantinho, a fechar. Depois, num primeiro encore, Adriana puxou do violão e cantou e tocou (sem orquestra) Fico assim sem você, repetindo, num segundo encore, e de novo com orquestra, Ciranda da bailarina. Os muitos aplausos deram um final feliz à história do dia em que Pedro e Partimpim venceram o lobo. Com André Mehmari, claro, a Orquestra Gulbenkian, Rui Pinheiro e uma plateia atenta; e deixando, através da música, algo de muito agradável a pairar no meio de nós. Chamemos-lhe arte.
REFERÊNCIAS:
No quarto de Pessoa
A compositora brasileira Adriana Calcanhotto passou a noite do passado dia 5 de Março no quarto que foi o de Fernando Pessoa nos 15 últimos anos da sua vida. Este é o texto que resultou dessa experiência. A convite da directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, por lá já passaram também a espanhola Rosa Montero, os brasileiros João Gilberto Noll e Tatiana Salem Levy, os portugueses Valter Hugo Mãe, Jacinto Lucas Pires, José Mário Silva, José Tolentino Mendonça, Jaime Rocha e Leonor Xavier. (...)

No quarto de Pessoa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A compositora brasileira Adriana Calcanhotto passou a noite do passado dia 5 de Março no quarto que foi o de Fernando Pessoa nos 15 últimos anos da sua vida. Este é o texto que resultou dessa experiência. A convite da directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, por lá já passaram também a espanhola Rosa Montero, os brasileiros João Gilberto Noll e Tatiana Salem Levy, os portugueses Valter Hugo Mãe, Jacinto Lucas Pires, José Mário Silva, José Tolentino Mendonça, Jaime Rocha e Leonor Xavier.
TEXTO: Escrevo à mão, de pé, com o caderno pousado sobre uma cómoda. Aquela mesma, que teve o privilégio de ser a cómoda onde Fernando Pessoa, em uma única noite, criou o poeta Alberto Caeiro, que escreveu o Guardador de rebanhos de uma tacada só. Jamais ousei sonhar com uma noite como essa, passada no quarto onde Fernando Pessoa dormiu os últimos 15 anos de sua vida. Lembrava-me, quando estive pela primeira vez visitando a casa, da sensação inesperada ao adentrar o quarto, de achar tudo muito pequenino, o próprio quarto, a cama de solteiro estreita, a cómoda muito simples, igual à que encontraríamos na casa de qualquer pescador, tudo extremamente austero e embora eu não houvesse criado maiores expectativas elocubrando como poderia vir a ser o quarto do poeta, não foi pequena a surpresa em relação às proporções do aposento. Que coisa impressionante sair tão grande poesia de um recinto tão pequenino. Evidentemente nada tem a ver uma coisa com a outra, do Palácio de Buckingham não saíram poemas da estatura dos dele, mas impressiona um bocadinho ao entrar-se aqui pela primeira vez, no quarto com duas janelas para a rua, com a cabeceira da cama entre elas. Agora, aqui, a escrever sobre a mesma cómoda onde nasceu Alberto Caeiro em uma noite mágica, reparo que ela não é alta como o poeta dissera. Tem a altura normal de uma cómoda normal. Não é alta para uma cómoda antiga, nem para uma contemporânea. Por que será que ele adjetivou a peça assim? Dizendo que a cómoda onde escrevia sua poesia era alta em vez de dizer que escrevia, na sua cómoda, alta poesia? O que será que quis dizer o poeta sobre o móvel no qual tenho agora deitado o meu caderno?Não há cadeira no quarto, então a única maneira de escrever-se aqui é assim, de pé sobre a superfície possível de se apoiar um papel, a cómoda. Sobre a arca, cheia de manuscritos, no chão, à esquerda da porta, não seria muito cómodo, com trocadilho, por favor. E depois, a cómoda era do poeta, esta arca é uma réplica. A arca original esteve aqui no quarto por anos, agora só há a réplica e eu pergunto “mas por que”? e a resposta é sempre “não conheces a aristocracia do Porto?”Escrever de pé dá uma certa urgência à escrita. Sentado o escritor está em estado comtemplativo, passivo. De pé estamos como que de passagem pela escrita. Para um poeta que goste de andar por sua cidade, escrever de pé o mantém ereto. Sem passadas, mas na trilha. De andar e escrever. De seguir e escrever e seguir escrevendo, de pé, nesta cómoda. Percebe-se melhor a transitoriedade do caminho. Estamos ao meio do percurso e escrevemos sem “parar” para escrever. Estamos entre uma girada e outra desta maçaneta branca, entre o almoço e o jantar. Entre uma caminhada pela cidade e outra. Entre um eu e um outro. Entre um pastel de nata e um café. Impossível não ficar olhando para esta maçaneta a imaginar quantas vezes e em que diferentes estados de espírito ele a girou para entrar aqui, pensando em Ofélia, ou logo depois de encontrá-la, depois de estar com amigos, depois de tomar uns copos. Quantas vezes a terá girado para sair do quarto desejando sair, não só para as ruas de Lisboa, mas de si mesmo. Quantas vezes a terá girado ansioso para voltar, à sua cómoda, para ser salvo pelo Barão de Tevere, para os seus eus, para a sua poesia, enorme, saída daqui, deste modesto quartinho da Rua Coelho da Rocha. Impossível não ficar a imaginar.
REFERÊNCIAS:
Gruta de Altamira reabre ao público já depois da Páscoa
Decisão contraria posição de peritos mas apoia-se em estudo que indica que o ser humano não é um perigo para as importantes gravuras rupestres. (...)

Gruta de Altamira reabre ao público já depois da Páscoa
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Decisão contraria posição de peritos mas apoia-se em estudo que indica que o ser humano não é um perigo para as importantes gravuras rupestres.
TEXTO: A polémica não demoveu as autoridades espanholas e a gruta de Altamira vai mesmo reabrir ao público, já depois da Páscoa, para mostrar um dos monumentos paleolíticos mais importantes do mundo a grupos semanais de cinco pessoas. A decisão foi tomada ao final desta tarde na reunião do Patronato de Altamira e transformou-a na única importante gruta pré-histórica aberta ao turismo em toda a Europa. Com par apenas no sítio arqueológico de Lascaux e Chauvet, em França, Altamira, que fica no norte de Espanha na região da Cantábria, tinha o seu destino por decidir depois de ter estado encerrada cerca de uma década. E de ter sido reaberta no último ano para o que foi chamado um “período experimental” em que se realizavam visitas de cinco pessoas, que obtinham ingresso por sorteio e eram acompanhadas por um guia todas as sextas-feiras. A última dessas visitas realizou-se no final de Fevereiro, estando então pendente a decisão sobre se as grutas voltariam a ficar encerradas para fins de conservação ou se reabririam para os turistas. A decisão, unânime, foi assim no sentido de reabertura, mantendo um modelo similar ao do período de testes. Isto uma semana e meia depois de se ter tornado pública uma carta enviada à UNESCO – que classificou Altamira em 1985 como Património da Humanidade - por um grupo de académicos espanhóis que se opõe à reabertura da gruta e suas gravuras pré-históricas e que gerou polémica. Os peritos da Universidade Complutense de Madrid argumentavam que a presença regular de pessoas em Altamira “põe em perigo um legado frágil” e acusavam o poder político de ceder à “pressão política e posições eleitoralistas”. Esses peritos foram secundados pelos 70 investigadores do reputado Instituto de História do Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) espanhol que já em 2009 tinha produzido um estudo, compilado ao longo de 12 anos, em que alertava que já tinham sido ultrapassados todos os limiares do risco de perda das gravuras em Altamira. Outros peritos mundiais em Pré-História concordam com os académicos espanhóis, temendo que os danos que se venham a produzir só sejam visíveis dentro de anos, como foi o caso de Lascaux em que as gravuras rupestres estiveram em vias de desaparecer. Como avança a imprensa espanhola, o esquema será agora o seguinte: uma vez por semana, cinco pessoas poderão entrar na gruta e lá permanecer, com dois guias, durante 37 minutos. A experiência tornar-se-á regra e, descreve o diário El País, as visitas serão “controladas e muito regradas”. A gruta continuará a ser estudada, estando reservados para investigação períodos mais alargados. Na reunião do Patronato de Altamira, que integra representantes do governo regional da Cantábria, do governo espanhol e do museu de arqueologia e da universidade cantábricos, esta decisão foi justificada por um estudo de conservação feito nos últimos dois anos a pedido do Ministério da Cultura e que concluiu que a presença humana no interior da gruta não é “significativa” para a preservação das suas gravuras. Descobertas em 1879, as grutas que contêm imagens de arte rupestre do Paleolítico estiveram abertas ao público desde 1985 (tinham fechado antes entre 1977 e 82), e têm pinturas na rocha com mais de 15 mil anos que representam animais vários (bisontes, cavalos, veados) e símbolos. Atraíram durante décadas milhares de turistas e visitantes – segundo a agência de notícias espanhola EFE, a cadência era de 175 mil visitas por ano. No período experimental que decorreu de Fevereiro de 2014 a Fevereiro de 2015, 250 pessoas entraram na gruta. O encerramento em 2002 deveu-se ao risco das mudanças na atmosfera da gruta e que criariam condições para a propagação de microorganismos que se alimentam da luz e que podem ser prejudiciais à conservação das pinturas. O plano de conservação que serviu de base a esta decisão indica agora que a deterioração das pinturas se deve a causas naturais, relata o El País. Em resposta à carta dos académicos, a tutela espanhola enviou a sua própria missiva à UNESCO em que revela que o estudo mais recente concluiu que a principal ameaça à preservação das gravuras é “a lavagem da superfície das pinturas pela água que goteja continuamente no interior da gruta”. Tanto Lascaux quanto Chauvet não estão abertas ao público e tal como Altamira desenvolveu desde 2002, dispõem de réplicas nas imediações dos respectivos sítios arqueológicos para os visitantes.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
Investigadores avisam UNESCO que reabrir Altamira é um "perigo"
Governo espanhol contra a carta enviada por académicos que criticam a cedência à “pressão política e posições eleitoralistas" na iminente decisão sobre o destino da gruta que é Património da Humanidade. (...)

Investigadores avisam UNESCO que reabrir Altamira é um "perigo"
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Governo espanhol contra a carta enviada por académicos que criticam a cedência à “pressão política e posições eleitoralistas" na iminente decisão sobre o destino da gruta que é Património da Humanidade.
TEXTO: A polémica está instalada: peritos da Universidade Complutense enviaram à UNESCO uma carta que alerta que a reabertura ao público das grutas de Altamira, cujas pinturas pré-históricas são Património da Humanidade, “põe em perigo um legado frágil” e que acusa o poder político de ceder à “pressão política e posições eleitoralistas”. Os 17 peritos da Complutense, todos os membros do Departamento de Pré-História, e que tiveram o apoio dos cerca de 70 investigadores do reputado Instituto de História do Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) espanhol, argumentam que “o novo programa do Ministério da Cultura de Espanha, um plano que inclui a abertura da gruta a novos visitantes, coloca questões importantes de conservação” de Altamira. E defendem ainda que esse mesmo plano põe em risco as pinturas essenciais “para a compreensão da sociedade paleolítica” e que só têm par nas grutas de Lascaux e Chauvet, em França. "Sendo que nem as provas científicas nem o número de visitantes previstos apoiam a abertura da gruta, só resta reconhecer que são a pressão política e as posições eleitoralistas as motivações subjacentes” às intenções da tutela, lê-se ainda na missiva. A carta, enviada em Dezembro pelos académicos à UNESCO, que em 1985 as declarou Património da Humanidade, diz ainda que “Espanha tem a obrigação” não só de estudar a gruta como também “de preservar este património”, concluindo que “as acções empreendidas pelo Ministério da Cultura de Espanha representam uma clara ameaça” à conservação. As grutas de Altamira, na região da Cantábria, no Norte de Espanha, constituem um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo. Estiveram fechadas ao público mais de uma década, tendo sido encerradas em 2002 pelo risco que representava as mudanças na atmosfera da gruta, que criariam condições para a propagação de microorganismos que podem ser prejudiciais à conservação das pinturas. Durante o último ano, pequenos grupos de visitantes tiveram acesso, por sorteio, às grutas. Esse período experimental de visitas terminou em Fevereiro e brevemente o Patronato de Altamira, que gere as grutas e que integra representantes do governo regional da Cantábria, deve decidir se Altamira permanecerá aberta – e em que moldes - ou se encerrará ao público. A próxima reunião do organismo está agendada para dia 26. De acordo com o diário espanhol El País, a maior parte dos peritos do sector acredita que a decisão será de manter as grutas visitáveis e, numa reacção à carta enviada à UNESCO, o presidente da Cantábria, Ignacio Diego, disse ao jornal local espanhol El Diario Montañés que ainda não está fora de questão o encerramento total da gruta. Diego considerou a carta dos peritos da Complutense “uma opinião” e uma falta de respeito para com os mais de 50 investigadores que nos últimos dois anos estão a acompanhar o plano de gestão daquele património e que terão concluído que as visitas controladas, semanais e de pequenos grupos, não representam risco para a sua conservação. Em 2011, os resultados da investigação ao estado de conservação de Altamira e da sua resistência à pressão humana contemporânea, feita por dois dos maiores peritos mundiais em arte rupestre – Sergio Sánchez-Moral e Cesáreo Saiz-Jiménez, do CSIC –, foram publicados na revista científica Science. E eram peremptórios, como recorda o El País: já tinham sido ultrapassados todos os limiares do risco e a presença de seres humanos na gruta era impensável, muito porque para as visitas é preciso luz e a dita alimenta microorganismos que se alimentam dela e que degradam as pinturas. O mesmo motivo que originou o encerramento ao público de Altamira em 2002, à semelhança do que acontece nas suas congéneres francesas, e que agora poderá voltar a pôr em perigo as gravuras. Descobertas em 1879, as grutas que contêm imagens de arte rupestre do Paleolítico estiveram abertas ao público desde 1985 (tinham fechado antes entre 1977 e 82), exibindo pinturas na rocha com mais de 15 mil anos que representam animais vários (bisontes, cavalos, veados) e símbolos. Símbolos do apogeu da arte rupestre paleolítica, atraíram durante décadas milhares de turistas e visitantes – segundo a agência de notícias espanhola EFE, a cadência era de 175 mil visitas por ano. Desde o encerramento em 2002 e até à mais recente reabertura faseada, criou-se uma instalação com réplicas das gravuras dos famosos bisontes. E no último ano, a solução encontrada pela tutela espanhola foi então a organização de visitas por sorteio, que permitiram a 250 pessoas entrar na gruta. Em grupos de cinco pessoas, mais um guia, todas as sextas-feiras tinham um pouco menos de 40 minutos para explorar o sítio arqueológico. Entretanto, e segundo El Diario Montañés, o Ministério da Cultura espanhol e a equipa científica que está a avaliar a conservação de Altamira vão também enviar uma carta à UNESCO em resposta às críticas dos académicos.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
Desta vez, Ricardo III vai ter a sua despedida real
Foi o descendente indirecto de Ricardo III que construiu o caixão onde os restos mortais do antigo monarca, descobertos em 2012, vão ser enterrados. (...)

Desta vez, Ricardo III vai ter a sua despedida real
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi o descendente indirecto de Ricardo III que construiu o caixão onde os restos mortais do antigo monarca, descobertos em 2012, vão ser enterrados.
TEXTO: Michael Ibsen é marceneiro e está acostumado aos pedidos de clientes para construir mobílias à medida, como estantes, portas ou armários. Mas o pedido para construir um caixão para o seu antepassado real, imortalizado numa peça de teatro de William Shakespeare, é de longe o pedido mais invulgar que alguma vez recebeu. O público viu pela primeira vez, neste último domingo, o caixão construído à mão por Michael Ibsen com os restos mortais com 530 anos do rei Ricardo III. O monarca será finalmente enterrado na próxima quinta-feira na catedral de Leicester. “Por duas vezes tive a oportunidade de estar ao lado dos restos mortais, e uma pessoa pensa: ‘Que extraordinário que é. Estou aqui junto desta figura histórica’”, disse Michael Ibsen, de 58 anos. “E depois de esta ideia ser filtrada pela mente, pensei: ‘Uau, sou um familiar [de Ricardo III]’. ”Apesar de ser canadiano, o marceneiro vive no Reino Unido há 30 anos e é uma figura central na identificação dos restos do antigo rei, que em 2012 fez as manchetes da comunicação social em todo o mundo, quando o esqueleto foi desenterrado num parque de estacionamento em Leicester. Nesta quinta-feira, o esqueleto de Ricardo III voltará a ser enterrado num funeral, que vai ser transmitido nas televisões, cuja cerimónia será conduzida pelo arcebispo de Canterbury. Nesta história, Michael Ibsen acabou por ser não só um construtor de caixões mas foi também o “fazedor de um rei”. O canadiano é sobrinho de Ricardo III em 17ª geração, e o seu ADN – a informação genética que está nas células e passa de pais para filhos – ajudou a confirmar que o esqueleto escavado pertencia, de facto, ao último rei da dinastia Plantageneta. No poder seguiram-se os Tudor, com Henrique VII. Ricardo III morreu na famosa batalha de Bosworth, em 1485, dois anos depois de se tornar rei. Na altura, o seu enterro foi apressado. Mas mais de cinco séculos depois, os restos mortais do monarca, que estavam perdidos, vão ter um funeral moderno com a pompa britânica. No domingo passado, um cortejo fúnebre – que saiu da Universidade de Leicester, onde o esqueleto foi estudado – passou pelos principais lugares ligados aos últimos dias de Ricardo III, incluindo o sítio onde terá morrido e a igreja onde se pensa que terá ido à missa na véspera da sua última batalha. Chumbo, carvalho e teixoA cidade de Leicester, a 160 quilómetros a noroeste de Londres, está completamente ciente deste momento histórico. Por estes dias, haverá lançamentos de livros, exposições sobre a época medieval e conferências dos geneticistas e arqueólogos que estiveram envolvidos na escavação dos restos mortais e na sua identificação. No sábado, a Universidade de Leicester teve o “Dia de Ricardo III”, onde os visitantes puderam observar o esqueleto e provar os alimentos da época daquele rei, como tarte de carne de veado. “Esperávamos que houvesse algum interesse no rei medieval, mas fomos apanhados de surpresa com o fenómeno global que se gerou”, disse Philippa Langley, uma argumentista e membro da Sociedade Ricardo III, que considera que o rei passou a ser muito mal visto devido à peça de Shakespeare. No texto dramático, o escritor inglês conta a história de um rei corcunda que ordena o assassínio dos seus jovens sobrinhos na Torre de Londres e morre na batalha, gritando: “Um cavalo! Um cavalo! O meu reino por um cavalo!”A argumentista foi a força motriz – e que conseguiu angariar o dinheiro – da escavação. Philippa Langley estava convencida de que os restos mortais de Ricardo III não tinham sido perdidos e que, ao contrário do que os historiadores pensavam, não tinham ido parar a um rio próximo. Em vez disso, ela acreditava que estavam enterrados por baixo de um parque de estacionamento, onde, no passado, se situava a igreja Greyfriars. E, de facto, os restos mortais foram lá encontrados. Mas mesmo depois do esqueleto, com a coluna vertebral encurvada, ter sido descoberto, foi necessário fazer um trabalho de detective usando a genética. Os historiadores encontraram uma linhagem hereditária entre Ana de York, a irmã mais velha de Ricardo III, e a mãe de Michael Ibsen, Joy, que morreu em 2008. No entanto, o seu filho providenciou amostras do seu próprio ADN e verificou-se que correspondia ao de Ana de York. [A análise teve em conta o ADN das mitocôndrias – as chamadas “baterias das células”, que lhes dão energia e são transmitidas apenas por via materna –, confirmando que Michael Ibsen e Ricardo III partilham a mesma linhagem. ]Antes de construir um caixão para o seu antepassado real, o marceneiro passou muito tempo a investigar as antigas técnicas de enterramento de reis e descobriu que, na altura de Ricardo III, os monarcas não eram sepultados em caixões de madeira. Eram “basicamente cobertos por chumbo e colocados directamente em sepulturas onde eram enterrados”, explicou.
REFERÊNCIAS:
Brasil à valenciana
Alceu Valença, um dos nomes históricos da criação musical de Pernambuco, lança um disco ao vivo com a Orquestra Ouro Preto, Valencianas. Já nas lojas, deve chegar aos palcos em Janeiro de 2015. (...)

Brasil à valenciana
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Alceu Valença, um dos nomes históricos da criação musical de Pernambuco, lança um disco ao vivo com a Orquestra Ouro Preto, Valencianas. Já nas lojas, deve chegar aos palcos em Janeiro de 2015.
TEXTO: Conhecem Cavalo de pau? Coração bobo? Tropicana? Talismã? Então conhecem uma pequena parte da obra gravada de Alceu Valença, cantor e compositor pernambucano que foi um dos protagonistas do luminoso Grande Encontro. O tal que juntou no Canecão, em 1996, Alceu, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e Zé Ramalho para um concerto acústico antológico e que vendeu, em disco, mais de um milhão de cópias. Ora Alceu, que nunca deixou de compor e gravar (aos 68 anos já soma 23 discos de estúdio e dez ao vivo), lança agora Valencianas, registo de um concerto no Palácio das Artes em Belo Horizonte, em Novembro de 2012, com a Orquestra Ouro Preto. O disco chega este mês às lojas, o concerto virá a Portugal em 2015. Nascido a 1 de Julho de 1946 em São Bento do Una, no estado de Pernambuco, Alceu Paiva Valença cresceu rodeado de música. “São Bento do Una tinha cinco mil habitantes, cinco grupos teatrais e dois cinemas. O meu avô materno tocava bandolim, o irmão dele tocava violino e a irmã do meu avô tocava piano. Do lado paterno, o meu avô tocava violão, viola caipira, bombardino. E eu, numa dessas serestas, peguei num bombo. Mas eu era tão pequeno (devia ter uns quatro anos) que não sabia que tinha de acompanhar. E fazia toc, toc, toc no bombo, mas para mim. O meu avô mandou-me tirar dali, dizendo: ‘Alceu não tem compasso, não tem ritmo. ’ E isso me persegue até hoje. Se me lembrar do meu avô, perco o ritmo [risos]. ”Mas o avô não foi o único na família a tentar arredá-lo da música, o pai também estava atento a tentações. “Hoje no Brasil se estuda muito. Mas naquele tempo as famílias é que tinham de cuidar dos estudos. Na família do meu pai todos estudaram menos os dois que tocavam violão, que viviam mais na boémia. Então o meu pai temia que se eu me virasse para o lado da música iria virar boémio, não iria estudar. ” Por isso tentou, ao máximo, afastá-lo desses caminhos. Até que um dia a mãe, desafiando o poder paterno, levou-o até à cidade e fê-lo parar diante da vitrina de uma loja. “Disse: escolha um instrumento para você. E eu, vendo aqueles violões todos, fiquei com medo de pedir um e ela não me dar. Pedi o pequenininho, um cavaquinho. Mas ela disse: ‘Não, você merece um violão’. E comprou um violão para mim. ” Só que o poder paterno voltou a impor-se. E não o deixaram ter aulas de violão, embora houvesse um professor disponível, que ensinava “todos os meninos da rua”. O pai, que concorrera para procurador da Fazenda do Estado, não gostava de advogados, embora tivesse exercido como tal. Mas preferia ver o filho seguir a carreira da advocacia do que a “perder-se” nos caminhos da música que o perseguiam através do rádio. Foi assim que Alceu, já depois se ter iniciado na literatura e no cinema que lhe iam chegando (Manuel Bandeira, Lins do Rego, Drummond, Rubem Braga, Pessoa, Godard, Truffaut, Antonioni) se tornou bacharel pela Faculdade do Recife. Mas desistiu depressa, ao representar o cobrador de uma dívida pela compra de uma televisão: “Fiquei a favor da outra parte. Achei que o devedor tinha razão, tinha sido impelido por uma propaganda enganosa. Disse: não pague. E vim embora, do caso e da advocacia. ” Tentou depois o jornalismo, no Jornal do Brasil e em revistas nacionais como a Manchete. “Aí, eu tinha acesso aos jornais do Sul do país. Vi que havia o Festival Internacional da Canção e resolvi colocar lá uma música. E cantei pela primeira vez no Maracanãzinho, onde cantavam os maiores cantores do mundo. ”Quando volta do Rio, dedica-se aos festivais universitários. Larga o jornalismo devido a uma lei que obrigava quem o exercesse a ter o respectivo curso (e ele, que cursara direito, não queria começar tudo outra vez) e, aos poucos, vai-se entregando em definitivo à música que há muito o atraía. “Na casa de meus pais era quase proibido ouvir rádio. Então eu tinha de ouvir em casa dos amigos. Foi na casa de um vizinho meu chamado Edinho que eu ouvi pela primeira vez o Elvis Presley. Havia música de Portugal [trauteia Lisboa, velha cidade…], tangos, música francesa, americana, espanhola, tudo. ” Luiz Gonzaga era considerado, à época, “uma coisa cafona”, por isso não tocava na rádio. Mas Alceu conhecia os seus sons, bem como os que o antecediam, provenientes da colonização portuguesa. E misturava-os, na sua cabeça, com o rock’n’roll. “Havia uma certa similitude. Aí, eu, proibido de um, ouvi e gostei do outro. Se eu cantasse as coisas de Luiz Gonzaga, eram capazes de cuspir na minha cara. Por isso peguei o Elvis. E isso até foi bom. Porque não me pareço com ninguém. Peguei tantas referências e coloquei essas referências dentro de um liquidificador imaginário, que terminou tirando um produto meu. Quando eu fiz o Cool Jazz Festival em Nova Iorque, um jornalista do New York Times disse-me: isso é o rock que não é rock. Não soube definir. ” O mestre Luiz Gonzaga, no entanto, deu-lhe depois uma definição extraordinária, ao ouvi-lo misturar pífanos nordestinos com guitarras eléctricas: “Você toca uma banda pifeléctrica”. Comovente AnunciaçãoMas, afinal, o que tem a música de Alceu Valença? Ele resume: “Tenho xote, baião, frevo, maracatu, samba meio bossa, toadas, blues, tudo o que se pode imaginar. ” Ora é todo esse imaginário que Alceu revisita no seu novo trabalho, gravado com a Orquestra Ouro Preto, uma formação criada em Maio de 2000 e constituída na sua maioria por músicos jovens. Com uma particularidade: repete-se, aqui, algo que já lhe sucedera no Rock In Rio de 1985, quando toda a assistência cantou Anunciação e ele se comoveu. A época era outra, estava-se nas vésperas da eleição de Tancredo Neves para o Planalto e a ditadura estava no fim. Mas agora, a repetição desse “coral” improvisado no final da canção ainda tem ecos de profecia. O disco (o concerto, para sermos exactos) começa com um longo tema orquestral, Abertura valenciana, 13 minutos onde os sons de Alceu surgem entrelaçados numa estrutura de suite, seguindo-se temas de várias épocas recriados para os dias de hoje: Sino de ouro (1985), Ladeiras (1994), Cavalo de pau (1982), Coração bobo (1980), Talismã (1972), Estação da luz (1985), Porto da saudade (1981). Até que chega a Acende a luz, instrumental. “Eu fiz essa na boca, para orquestra, e o maestro adorou. A história é a seguinte: Em Pernambuco há 1012 eventos em todo o carnaval e eu fui convidado pela prefeitura para cantar num bairro pobre chamado Chão de Estrelas [título de uma célebre canção de Orestes Barbosa]. Ao chegar lá, a luz faltou. E eu fiquei triste porque não pude cantar para aquele povo. Mas fiz essa música, Acende a luz. E no ano seguinte voltei lá e cantei. ”Depois seguem-se Junho e Sete desejos (ambas de 1991), Le Belle de Jour e Girassol, ligadas (de 1991 e 1997), Tropicana (1982) e, por fim, Anunciação (1983), com um final épico. “Esse projecto foi pensado pelo Paulo Rogério Lagos, de Minas Gerais, que tem uma relação com a Orquestra Ouro Preto. Ele dizia: ‘Vamos fazer um trabalho com a tua música’. E eu ‘tudo bem’, mas sem conhecer a orquestra. Até que ele me levou a Olinda o Mateus Freire [mais tarde o autor da abertura Suíte valenciana], paraíbano, que faria os arranjos; e o maestro Rodrigo Toffolo. Aí começámos a falar do projecto, escolhemos 60 músicas, depois passámos para 40 e foi diminuindo até ao número de músicas que ficou. ” E foi tudo gravado “de uma vez só”, num concerto em Belo Horizonte. Uma aventura que sintetiza uma carreira. Ou que abre um caminho esplendoroso para conhecê-la.
REFERÊNCIAS:
O Ouro de Minas e as valências de Alceu
Em Lisboa, o concerto de Alceu Valença com a Orquestra Ouro Preto foi merecidamente aplaudido. Uma prova de que popular e erudito podem partilhar as mesmas paixões. (...)

O Ouro de Minas e as valências de Alceu
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Lisboa, o concerto de Alceu Valença com a Orquestra Ouro Preto foi merecidamente aplaudido. Uma prova de que popular e erudito podem partilhar as mesmas paixões.
TEXTO: Aos 68 anos de idade e 40 de carreira, Alceu Valença mantém viva a irreverência e a boa forma vocal. Mostrou-o em Lisboa, num Teatro Tivoli praticamente cheio, na noite de 20 de Janeiro, depois de se estrear na véspera na Casa da Música, no Porto (também às 21h30). Valencianas, o trabalho que o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença (nascido em São Bento do Una, a 1 de Julho de 1946) apresentou nestas duas salas, não é apenas mais um disco dos muitos que gravou, é uma revisitação da sua obra com o envolvimento da Orquestra Ouro Preto, jovem e dinâmica formação de Minas Gerais dirigida pelo maestro Rodrigo Toffolo. Isto quer dizer que, para além de novos arranjos, várias das suas canções foram transformadas em peças orquestrais, das quais a mais arrojada é a suite que abre o concerto. Intitulada Abertura valenciana, mistura vários géneros (lamento sertanejo, martelo alagoano, aboio, cordel, embolada) numa envolvência de cordas, percussões e marimbau, instrumento de uma só corda percutida como a do berimbau mas aplicada numa caixa e tocada como numa guitarra “slide”. Essa foi a abertura no Tivoli, tal como no disco (aliás, o alinhamento do espectáculo seguiu-o sem alterações), e foi efusivamente aplaudida. Nessa altura, Alceu não tinha ainda entrado em palco, deixando a ribalta e as honras à orquestra. Quando finalmente o fez, por entre aplausos, foi para cumprir a sequência pré-determinada: Sino de ouro, Ladeiras e Cavaco de pau, saudado e aplaudido logo aos primeiros acordes. Uma versão épica, dramática, verdadeiramente excelente. Coração bobo, um agitador-mor de plateias, manteve a fasquia alta. Mérito dele e da sua música. Depois, voltaram os instrumentais. Uma sequência onde ritmo e lirismo surgiram alternados, primeiro com a suavidade de Talismã (com a “voz” principal entregue a um violoncelo), depois com a batida sincopada de Estação da luz (aqui ouviram-se os primeiros “bravo!” e “lindo!” na plateia), passando em seguida à melancolia de Porto da saudade e encerrando com a acelerada marchinha Acende a luz, composição bem mais recente mas nem por isso menos aplaudida. O regresso de Alceu ao palco fez-se com Junho, como previsto (dedicou o tema a José Eduardo Agualusa, “um grande escritor que se encontra aqui presente”), passando depois a Sete desejos e La belle de jour (tema com nítida influência de Elvis Presley) misturada com Girassol. O que se seguiu foi uma festa: Tropicana, outro dos seus maiores sucessos (integrou o excelente disco Cavalo de Pau, de 1982) pôs o público, com uma forte presença brasileira, a ecoar-lhe os versos e levou Alceu a brincar com variantes, como “Ó minha gente lusitana/ cante agora por favor” ou “Ó minha gente tão bacana/ eu quero o teu sabor”. Para alguns, foi o delírio. Mas o momento mais tocante terá sido o encerramento com a belíssima Anunciação, a que os arranjos orquestrais de Mateus Freire dão o estatuto de ode triunfal: “Tu vens, tu vens/ eu já escuto os teus sinais. ” Ouro de Minas (o da orquestra) e filigranas do Nordeste (as de Alceu) em comunhão absoluta. O que sobrava para o encore? Nada, já tudo havia sido tocado. Por isso, depois de brincar com o ritual dos encores (por que teria ele de ficar atrás da cortina à espera, por que não podia esperar no palco pelo final dos aplausos?) e multiplicar agradecimentos e vivas (gritou “Viva a Cultura!”, comentando num aparte: “Entretenimento eu acho um saco”), Alceu pôs à “votação” as canções que iria repetir. Ganhou Coração bobo, com palmas mais fortes (e ele cantou-a em parte, limitando-se na outra a “reger” o imenso coro que tomou de assalto a canção), mas a segunda mais “votada” também teve o seu momento: Tropicana. Até que: “Mas que gente tão bacana/ agora é que me vou”. E foi mesmo, quando o espectáculo já atingira o auge. Valências de Alceu. Para os interessados, como adenda aos concertos, é lançado em Lisboa esta quinta-feira, 22 de Janeiro, o primeiro livro de poemas de Alceu Valença, intitulado O Poeta da Madrugada, com edição simultânea em Portugal e no Brasil. Com chancela da Chiado Editora, a sessão de lançamento é no Vestigius (Cais do Sodré, Armazém A, n. º 17), às 18h, na presença do autor.
REFERÊNCIAS:
Quercus contra construção de empreendimento turístico em Milfontes
Ambientalistas consideram que os impactos do projecto Vila Formosa na paisagem e no estuário do rio Mira estão subavaliados. (...)

Quercus contra construção de empreendimento turístico em Milfontes
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ambientalistas consideram que os impactos do projecto Vila Formosa na paisagem e no estuário do rio Mira estão subavaliados.
TEXTO: A associação ambientalista Quercus reafirmou a sua posição contra a construção do empreendimento Vila Formosa junto a Vila Nova de Milfontes, no litoral do concelho de Odemira, por considerar que o projecto não está em conformidade com os planos de ordenamento do território e tem fortes impactos ambientais. A Quercus já se tinha manifestado desfavorável à construção do empreendimento, que contempla um hotel de cinco estrelas, três aldeamentos turísticos, um equipamento de desporto e lazer e uma área de comércio e serviços, entre outros, aquando da fase de consulta pública do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), há cerca de três anos. A associação ambientalista reafirmou agora a sua posição no âmbito da consulta pública do Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (RECAPE), que terminou na semana passada, uma formalidade exigida pela Declaração de Impacte Ambiental Favorável Condicionada emitida pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo. "A Quercus reitera a posição anteriormente assumida [. . . ] de que as autoridades competentes se deverão pronunciar no sentido da não construção do mesmo [projecto turístico] na referida localização", lê-se no documento enviado pela associação à CCDR do Alentejo. O Projecto de Desenvolvimento Turístico e Ambiental de Vila Formosa, da responsabilidade da empresa Real Formosa, prevê a criação de mais de 1350 camas, numa área de implantação total aproximada de 41. 700 metros quadrados, nas herdades de Vila Formosa e de Montalvo, localizadas na freguesia de Longueira/Almograve, no concelho de Odemira, distrito de Beja. Para a Quercus, o projecto "não está em conformidade e não é compatível com os instrumentos de gestão territorial aplicáveis", nomeadamente o Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo, o Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e o Plano Director Municipal de Odemira. A associação considera ainda que os impactos na paisagem circundante e no estuário do rio Mira estão "subavaliados", além de não terem sido estudadas as alternativas legalmente exigíveis. Paulo Lucas, da Quercus, sublinha que a associação repudia a implantação de empreendimentos imobiliários e turísticos em áreas classificadas, como é o caso das herdades de Vila Formosa e de Montalvo, que se situam em pleno PNSACV e se integram na Rede Natura 2000. Os ambientalistas insistem ainda num modelo turístico que privilegie os aglomerados populacionais existentes, realizando intervenções em edifícios já construídos, como forma de beneficiar também as populações locais, o que não acontece se os turistas "ficarem fechados num resort", referiu o dirigente da Quercus. Contactada pela Lusa, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) informou que não se pronunciou sobre o RECAPE, por impossibilidade de o analisar. Na fase anterior, a SPEA havia rejeitado o EIA, alegando "deficiências" que violavam a legislação nacional e comunitária, nomeadamente as directivas Aves e Habitats, e pedido à CCDR do Alentejo para declarar "a desconformidade ambiental" do projecto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo aves
Negócio com patentes terá de aumentar 10% ao ano até 2020
Novo pacote de fundos europeus PDR 2020 inclui 100 milhões de euros para a inovação no sector agro-alimentar. Laboratórios do Estado terão de ser “motores de desenvolvimento” para os produtores. (...)

Negócio com patentes terá de aumentar 10% ao ano até 2020
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Novo pacote de fundos europeus PDR 2020 inclui 100 milhões de euros para a inovação no sector agro-alimentar. Laboratórios do Estado terão de ser “motores de desenvolvimento” para os produtores.
TEXTO: Os resultados de exploração de patentes e propriedade industrial no sector agrícola e alimentar terão de aumentar em média 10% ao ano até 2020, passando dos actuais 50 mil euros (dados de 2013) para 97 mil euros nos próximos cinco anos. Esta é uma das metas traçadas pelo Ministério da Agricultura que, nesta sexta-feira, apresenta oficialmente a estratégia para a investigação e inovação no sector. O novo quadro comunitário desenhado para estas actividades económicas (PDR2020) tem destinado uma verba específica de 100 milhões de euros para a inovação, cujas candidaturas arrancam na primeira quinzena de Maio. Nuno Vieira e Brito, secretário de Estado da Alimentação e Inovação Agro-alimentar, acredita que haverá uma corrida aos fundos, tendo em conta o dinamismo que as empresas têm demonstrado nos últimos anos. “O sector está a correr bem, cada vez mais temos mais jovens e mais pessoas qualificadas e interessadas em novos produtos e que reconhecem a importância da inovação e a necessidade de, não tendo essa capacidade, se aproximarem das instituições que o podem fazer. Estou seguro de que teremos as candidaturas esgotadas”, disse ao PÚBLICO. Além dos 100 milhões de euros do PDR2020, há 4400 milhões de euros disponíveis no POCI, o Programa Operacional de Competitividade e Internacionalização, cujo primeiro eixo temático é direccionado ao reforço da investigação, do desenvolvimento tecnológico e da inovação. O Horizonte 2020 dispõe ainda de 77. 000 milhões de euros especificamente orientados para o apoio à investigação. Aumentar a produção científica, as parcerias internacionais, ligar empresas e universidades, criar clusters e centros de competência dedicados a produtos concretos (50 em 2020), ou acreditar os laboratórios do Ministério da Agricultura são algumas das intenções desta estratégia. As estruturas do Estado (quatro laboratórios e quatro estações experimentais) também vão aproveitar os fundos disponíveis. “A expectativa é que, mesmo a nível do próprio ministério, os laboratórios e as estações experimentais sejam motores de desenvolvimento para os produtores. Que olhemos para as estruturas e que passem a acompanhar [a inovação] e se possível a dinamizar o sector agrícola e agro-alimentar português”, diz Nuno Vieira e Brito. Ao contrário do que sucede noutras actividades, a inovação na alimentação tem estado “nas mãos do Estado (laboratórios e universidades públicos)”. É, por isso, preciso aproximar as empresas dos investigadores e partilhar conhecimento – necessidade que há muito está diagnosticada. Outra das intenções é que as pequenas empresas, com menos capacidade financeira e de recursos humanos para ter estruturas de I&D, também recorram à investigação disponível nas universidades. Foram definidas sete linhas de orientação, que também serão seguidas pelas estruturas públicas, alvo de uma reestruturação recente. Incluem desde a produção de alimentos à protecção animal, ecossistemas florestais ou alterações climáticas. “Fomos ao encontro de um facto positivo da inovação e investigação. Quando a agricultura não era uma actividade interessante, a investigação ressentiu-se e, do ponto de vista oficial, não houve grandes investimentos. Quem o fez foram as empresas”, diz Nuno Vieira e Brito. O último relatório da União Europeia coloca Portugal entre os países “moderadamente inovadores”, ocupando o 16. º lugar entre 27 Estados-membros e o sexto entre os que estão abaixo da média da UE. Há uma “elevada dependência do ensino superior (50%) e do sector Estado (34%). Na agricultura, apenas 14% da inovação é proveniente das empresas", indica o Innovation Union Scoreboard (2013). A despesa total de Portugal em I&D foi de 2748 milhões de euros, 101 milhões de euros dos quais na agricultura, ou sejam apenas 3, 7%. Do gelado de algas aos enchidos de coelhoApesar de a despesa em investigação e desenvolvimento estar longe dos patamares europeus, as pequenas empresas têm vindo a lançar novos produtos na área alimentar, usando parcerias com universidades e matéria-prima nacional. A gelataria Emanha, na Figueira da Foz, criou um gelado de kefir com algas marinhas em parceria com o Grupo de Investigação em Recursos Marinhos da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, do Instituto Politécnico de Leiria. Em Bragança, a Grão a Grão alargou a produção de fumeiro tradicional à carne de coelho. Manteve todos os processos de fabrico mas mudou a matéria-prima principal, mais magra e com menos calorias. Já em Beja, a Mestre Cacau tem usado o medronho para produzir paté, em parceria como Centro de Excelência para a Valorização dos Recursos Mediterrânicos. Na lista de novos produtos estão ainda o medronho seco coberto com chocolate, trufas com aguardente de medronho ou medronho seco confitado. Há ainda o exemplo da aguardente da Lourinhã, uma das três aguardantes classificadas na Europa, que tem sido aplicada em bombons ou pastéis, num projecto da Câmara Municipal da Lourinhã para dinamizar o produto.
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