Colaboração entre produtores e retalhistas será cada vez mais estreita
Consumidores exigem cada vez mais informação sobre o que colocam no carrinho de compras. (...)

Colaboração entre produtores e retalhistas será cada vez mais estreita
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Consumidores exigem cada vez mais informação sobre o que colocam no carrinho de compras.
TEXTO: Um relatório recente da consultora KPMG faz o diagnóstico da tendência: produtores, indústria e retalhistas vão trabalhar cada vez mais perto para garantir o abastecimento de alimentos. E isso pode traduzir-se não só no investimento directo dos comerciantes na produção (a chamada integração vertical), como em contratos de longo prazo ou até exclusivos com fornecedores. Nos mercados mais desenvolvidos, os cinco maiores operadores da distribuição alimentar (ou seja, as maiores cadeias de hiper e supermercados) detêm cerca de 80% das vendas de produtos alimentares. “É quase certo que, no futuro, as empresas terão de aumentar as suas actividades de controlo e esforços de colaboração além do sector onde operam”, refere Chris Stirling, responsável global pela área de ciências da vida da KPMG. O sector agro-alimentar resistiu à recessão mas é dos que enfrenta pesados desafios com as alterações climáticas, inovações tecnológicas e uma exigência cada vez maior de informação por parte dos consumidores. É, ainda, confrontado com escândalos que põem em causa a confiança nos produtos alimentares - da carne de cavalo detectada em lasanhas na Europa, ao leite contaminado na China (2008), além de tensões políticas como a do embargo russo. “Para ultrapassar estes desafios e prevenir tragédias futuras, será necessária mais colaboração na cadeia”, continua o relatório. A forma e extensão dessa parceria é uma decisão estratégica. Em Espanha, a Mercadona, um dos principais operadores, definiu uma estratégia com os seus “inter-fornecedores”, produtores com quem tem contratos estáveis de fabrico de marcas próprias. São 120 com mais de 220 fábricas que, em 2014, investiram um total de 500 milhões de euros, a maior parte destinados a 30 novas unidades fabris e linhas de produção para o grupo. A intenção é criar uma cadeia de abastecimento sustentável, com um projecto comum. Outros exemplos são a criação de clubes de produtores, como acontece por cá no Continente ou no Intermarché.
REFERÊNCIAS:
A Suprema Sagrada Congregação dos Santos Exames
A inteligência feudal do Iave justifica a anormalidade B com a anormalidade A. (...)

A Suprema Sagrada Congregação dos Santos Exames
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A inteligência feudal do Iave justifica a anormalidade B com a anormalidade A.
TEXTO: Para facilitar a leitura deste artigo, começo por um pequeno glossário:Nuno Crato – Presbítero da Suprema Congregação dos Santos Exames, em nome da qual vem destruindo a escola pública e perseguindo os professores. Oficialmente designado por ministro da Educação. Iave – Sigla de Instituto de Avaliação Educativa. Sucedeu ao Gabinete de Avaliação Educacional, num lance típico de algo mudar para tudo ficar na mesma. O presbítero, que financia a coisa e propõe os nomes para que o Governo designe quem manda na coisa, repete até à exaustão que aquilo é independente, julgando que prega a papalvos. Aquilo passa pelos erros que comete e pelas indigências que promove com a resiliência dos irresponsáveis. Cambridge English Language Assessment – Organização privada sem fins lucrativos, o que não significa que não facture generosamente o que faz e não pague principescamente a quem a serve. Pagar principescamente e gastar alarvemente é desiderato de algumas non profit organizations. PET – Do inglês, comummente entendido como animal de estimação, é aqui o acrónimo de Preliminary English Test for Schools. Personifica o mais actual exame de estimação de Nuno Crato. PACC – Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades. É o cordão umbilical que liga Nuno Crato a Maria de Lurdes Rodrigues em matéria de vexame público do ensino superior e da classe docente. O facto de persistir, depois de classificada pelo próprio Conselho Científico do Iave como prova sem validade, fiabilidade ou autenticidade, mostra de quem o Iave depende e contra quem manifesta a sua independência. Despachado o glossário, passemos ao calvário. Começou a mobilização da máquina da escola pública para operacionalizar o PET, teste que pretende certificar o domínio do nível de proficiência B1 em língua inglesa, de acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas. O teste implica uma considerável sobrecarga de trabalho escravo para os professores e um notório prejuízo do curso normal das actividades lectivas. O direito às aulas por parte dos alunos cedeu ao “direito” de uma instituição estrangeira utilizar professores pagos pelo Estado português, para os industriar na aplicação de instrumentos com os quais impõe a supremacia de uma língua, num quadro comunitário multicultural e plurilinguístico, vexando-os e vexando as universidades portuguesas. Falo de 2150 docentes licenciados, mestrados ou doutorados, que irão obrigatoriamente ao beija-mão de Cambridge. Com efeito, os graus académicos que o ensino superior português conferiu foram liminarmente ignorados pela Cambridge English Language Assessment, tendo os professores portugueses que se submeter a uma prova que verificará a sua proficiência linguística. Para serem classificadores de uma prova obrigatória dos alunos do 9. º ano do ensino obrigatório português, os professores portugueses são obrigados a sujeitar-se a uma prova atentatória do seu profissionalismo docente. O Iave comparou, para as justificar, as exigências da Cambridge English Language Assessment com a formação e certificação a que ele próprio, Iave, sujeita os professores portugueses, antes de os reconhecer capazes de classificarem os exames nacionais. Ou seja, a inteligência feudal daquela excrescência administrativa justificou a anormalidade B com a anormalidade A. Mas não ficam por aqui as surpresas que a vassalagem do ministro da Educação permitiu. O artigo 9. º do respectivo regulamento de aplicação consigna que o teste não é público e sublinha “que não pode ser reproduzido, no todo ou em parte, ou transmitido por qualquer forma ou por qualquer formato, processo eletrónico, mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia, digitalização ou gravação”. Secreto pois, em nome da transparência. À prova é atribuído um carácter de “diagnóstico”, sendo certo que apenas se lhe conhece um efeito: a atribuição de um certificado, facultativo mas ao preço de 25 euros, representando um potencial encaixe para a instituição sem fins lucrativos da ordem dos 2 milhões. Quanto ao mais, isto é, como serão utilizados os resultados, prevalece o segredo, quer para pais, quer para alunos, quer para professores.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola educação animal
Europeias: Resultados oficiais publicados em Diário da República
Confirma-se que a abstenção atingiu o valor mais elevado de sempre em eleições: 66,3%. Pouco mais de três milhões e duzentos mil eleitores foram às urnas. (...)

Europeias: Resultados oficiais publicados em Diário da República
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Confirma-se que a abstenção atingiu o valor mais elevado de sempre em eleições: 66,3%. Pouco mais de três milhões e duzentos mil eleitores foram às urnas.
TEXTO: Os resultados oficiais das eleições portugueses para o Parlamento Europeu, a 25 de Maio passado, nas quais foram eleitos 21 mandatos, e a relação dos deputados eleitos, foram publicados esta terça-feira em Diário da República. A abstenção nas eleições para o Parlamento Europeu registou um novo recorde em Portugal, com um valor de 66, 3%, o mais elevado de sempre em Portugal, só ultrapassado pela registada no referendo de 1998. De acordo com os dados da Comissão Nacional de Eleições, a distribuição dos 21 mandatos deu-se através dos votos de 3. 284. 452 pessoas, de um universo de 9. 753. 568 eleitores inscritos, o que equivale a 33, 67% de votação. A percentagem de votos em branco rondou os 4, 38% (143. 957), enquanto os nulos foram 3, 04% (99. 724). A CDU conseguiu um dos seus melhores resultados de sempre - passando a ter três eurodeputados -, enquanto o BE caiu para menos de metade em relação a 2009, sendo a surpresa da noite das eleições o resultado do MPT, com a eleição do cabeça-de-lista, António Marinho e Pinto, e do número dois José Inácio Faria. Votaram na CDU (Coligação Democrática Unitária -- PCP, PEV) 416. 925 eleitores, correspondendo a 12, 69%. Já o Movimento Partido da Terra (MPT) teve 7, 15% dos votos, o que representa 234. 788 votantes. O PS surge como o partido mais votado, com 31, 49%, através do voto de 1. 034. 249 pessoas, resultado com que elegeu oito mandatos, enquanto na Aliança Portugal (PPD/PSD, CDS-PP) votaram 910. 647 eleitores, o equivalente a 27, 73% e sete mandatos. A Nova Democracia (PND) obteve 0, 70% dos votos (23. 082), o Movimento Alternativa Socialista (MAS) 0, 38% (12. 497), o Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) 1, 72% (56. 431), o Partido Operário de Unidade Socialista (POUS) 0, 11% (3. 666), o Partido Trabalhista Português (PTP) 0, 69% (22. 542), o LIVRE 2, 18% (71. 495) , o Bloco de Esquerda 4, 56%, (149. 764), que lhe valeram um mandato. Já o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP) conseguiu 1, 67% dos votos (54. 708) , o Portugal pro Vida (PPV) 0, 37% (12. 008), o Partido Democrático do Atlântico (PDA) 0, 16% (5. 298), o Partido Nacional Renovador (P. N. R. ) 0, 45% (14. 887) e o Partido Popular Monárquico (PPM) 0, 54% (17. 785). Pelo PS foram eleitos os deputados Francisco Assis, Maria João Fernandes Rodrigues, José Carlos Zorrinho, Elisa Ferreira, Ricardo Serrão Santos, Ana Gomes, Pedro Silva Pereira e Liliana Góis. Já pela Aliança Portugal, foram escolhidos Paulo Rangel, Fernando Ruas, Sofia Ribeiro, João Nuno de Melo, Carlos Coelho, Cláudia de Aguiar e José Manuel Ferreira Fernandes. João Ferreira, Inês Zuber e Miguel Viegas foram os deputados eleitos pela CDU - Coligação Democrática Unitária, enquanto António Marinho e Pinto e José Antunes de Faria foram eleitos pelo Partido da Terra. Marisa Matias será a única representante portuguesa no Parlamento Europeu do Bloco de Esquerda.
REFERÊNCIAS:
André Príncipe encontrou Portugal
Há momentos assim, em que tudo acontece ao mesmo tempo. O cineasta, fotógrafo e editor André Príncipe mostra por estes dias trabalhos de cada uma das suas artes. O Cinema Ideal faz a estreia comercial de Campo de Flamingos Sem Flamingos, a Galeria Pedro Alfacinha inaugura a exposição Antena 2, a Pierre von Kleist, editora que ajudou a fundar, comemora cinco anos. É um turbilhão que cola bem com o autor. (...)

André Príncipe encontrou Portugal
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há momentos assim, em que tudo acontece ao mesmo tempo. O cineasta, fotógrafo e editor André Príncipe mostra por estes dias trabalhos de cada uma das suas artes. O Cinema Ideal faz a estreia comercial de Campo de Flamingos Sem Flamingos, a Galeria Pedro Alfacinha inaugura a exposição Antena 2, a Pierre von Kleist, editora que ajudou a fundar, comemora cinco anos. É um turbilhão que cola bem com o autor.
TEXTO: As imagens parecem nunca parar de circular na cabeça de André Príncipe. Ouvi-lo é como estar perante um vulcão em intensa actividade, incandescente, sempre pronto a largar ideias. Ideias com imagens, claro, que se projectam em várias direcções, num magma intelectual intenso. Nos últimos anos, a sua actividade artística tem-se desdobrado entre o cinema, a fotografia e a edição. Nesta semana, uma conjugação bem orquestrada de datas fez com que surgissem trabalhos em cada uma destas áreas. A partir de hoje, a Galeria Pedro Alfacinha, em Lisboa, mostra Antena 2, uma exposição de fotografia que tenta pôr de lado o arquétipo narrativo da viagem para ensaiar um jorro de imagens a partir de duas experiências de quase-morte ocorridas (segundo reza a sinopse) em 2012 e 2013. Príncipe conta que, quando acordou para a vida, ouviu na rádio a Antena 2, “o último reduto cultural” do país, “uma trincheira” onde nos podemos abrigar de rajadas de notícias sobre austeridade, troika, desemprego e crise. Foi também nas ondas da Antena 2 que ele e a sua mini -equipa se abrigaram desse noticiário frenético quando andaram pelo país a rodar Campo de Flamingos Sem Flamingos (2013), filme encantatório e contemplativo que desafia a imagem do Portugal real que nos é servida de bandeja nos telejornais – e aqui entra o Cinema Ideal, em Lisboa, que passará este filme até ao dia 26, às 19h30. Do lado da edição, Príncipe ainda vive no rescaldo do lançamento de Tokyo Diaries, prepara um novo livro, The Conference of the Birds, e celebra este mês os cinco anos da editora Pierre von Kleist, que fundou com o fotógrafo José Pedro CortesConversa na antecâmara de um cinema com a sessão das 19h prestes a começar e com a campainha do eléctrico 28 (e meia cena artística lisboeta) à mistura. No plano inicial de Campo de Flamingos sem Flamingos aparece uma televisão que mostra um debate no Parlamento. É uma ressonância que parece que vai desaparecer, mas mantém-se. Ao longo do filme há movimentos de dissidência em relação a esse plano. Dá ideia de que todo o filme quer sair daquele lugar. Como é que esse momento televisivo apareceu?Um dos motivos que me levaram a fazer este filme tem a ver com aquilo a que nos telejornais se chama “país real”, uma espécie de subgénero das notícias. É uma abordagem um bocado irritante e sempre me impressionou porque as histórias são tratadas de maneira absolutamente desonesta. É um “país real” que não me parece nada real. A televisão trata estas histórias com um tempo curto e sempre a decidir se os personagens são bons ou maus, se são desgraçados, heróicos, tudo num minuto e meio. Uma das premissas do filme era esta: o Portugal real será o que a televisão nos mostra, com a sua falta de tempo para tratar o tema? Poderei tratá-lo de maneira diferente? Durante a rodagem, filmámos muito em restaurantes. Havia sempre uma televisão ligada, como uma espécie de lareira, onde se juntam contadores de histórias. Só que este contador de histórias televisivo pode estar errado. No filme, há uma dissidência desse plano e dessa realidade. Mas há, sobretudo, uma disputa com essa centralidade televisiva. Estávamos nos primeiros meses da intervenção da troika. Esse plano em particular tem três momentos: começa com uns flamingos a levantarem voo durante um zapping; segue-se uma cena do Parlamento, em que não se sabe de um ministro (“está, não está…”); e depois há um barqueiro que desaparece na sua última travessia. Quando escrevi a sinopse deste trabalho afirmei que queria ser uma espécie de explorador do século XIX, no nosso território, à procura da fauna, da flora, de histórias e de imagens. Aqueles três episódios de televisão não resumem o filme, mas resultaram como se, de repente, o telejornal fosse um pouco de nós, uma coisa errada. Esse lado de explorador é interessante porque todo o filme nos faz olhar como se fosse a primeira vez para um território – há espanto. No plano com cavalos, por exemplo, há uma espécie de amanhecer do mundo. Isso foi resolvido na montagem ou aconteceu antes? A vossa viagem decorreu com esta predisposição?As três coisas. Quis fazer este filme também por causa de uma série de imagens que coleccionei. Eram imagens relativamente novas para mim. Por exemplo: vi um carro a perseguir uma avestruz no Alentejo. Vi imagens relacionadas com tuning, com festas trance… Havia qualidades nestas imagens que me levaram a pensar que estava perante o tal país real. E tinham sentidos novos? Sabias exactamente o que queriam dizer?Só quero filmar aquilo sobre o qual não estou seguro. Tentei sintonizar a minha equipa para nos perdermos, para perdermos o pé, para não sabermos o que estava a acontecer à nossa volta. Sintonizarmo-nos para a angústia logo no princípio da filmagem. Mas depois, com o tempo da rodagem, voltámo-nos para coisas como o vento, a luz, os elementos, as correntes de água, os animais. Dentro destas imagens, perguntávamo-nos: o que é que os humanos estão a fazer aqui dentro? O filme vai afunilando para a ideia de território, que era outra das premissas iniciais, a ideia de fronteira meio absurda entre Portugal e Espanha, que, apesar de ser a mais antiga do mundo, não faz muito sentido geograficamente (à excepção do Douro, tudo o resto é uma convenção). O filme passa de história para história, dos cavalos para o tuning, sem nos darmos conta. Como é que isso foi trabalhado?Há um dispositivo muito claro – um dia. Começa ao amanhecer, passa pela magic hour e vai para a noite. Penso que a montagem funcionou em delta. Ou seja, há várias histórias paralelas – a caça, o trance, o tuning, o João Cappas e Sousa –, que vão desaguando nalguma coisa. Quando cai a noite, o filme começa a diluir-se, há uns ecos. A certa altura queríamos que, por um lado, o filme levasse para o espectador a nossa experiência exploratória e, por outro, trabalhasse a ideia de narrador omnipresente. Nunca há uma ideia nítida de fronteira. . . Dizer que o filme é sobre fronteiras é como com um trapezista que tem uma rede em baixo. Se correr mal, usamos a rede. Aqui, o arquétipo narrativo mais forte é a viagem. A presença dos animais é fortíssima. Eles estão a olhar para quem está a filmar, o que significa que alguém chegou muito perto deles, e há ali um lado primitivo, ancestral…A coisa de que menos gosto nas imagens do National Geographic são as objectivas. Apanham tudo à distância. Acho que as lentes que apanham os homens e os animais devem ser as mesmas. Tem de ser uma coisa relacional. Antes de filmar havia um conjunto de situações que queriam tratar? Como é que cenas como a da caça, por exemplo, foram concebidas?O que havia à partida era uma série de vídeos que coleccionei no YouTube. Eram sobre todo o tipo de coisas que me suscitavam alguma reacção. Quando partimos para a rodagem havia alguns pontos definidos e umas datas. Mas tinha a noção clara do quão traiçoeira pode ser a produção feita a partir de um escritório na Almirante Reis [em Lisboa]. Sempre desconfiei que se pudessem encontrar boas histórias pelo telefone. A televisão é o repositório do real e o cinema o da ficção. A dissidência de que falávamos no início só nos parece possível através da fábula, da aventura e do sonho. É a única maneira de escapar ao que é grotesco e redutor. Essa relação com os animais parece quase infantil. De alguma maneira isso também desapareceu um pouco do cinema. Vermos isto agora numa sala é retomar um fascínio que desapareceu. Concordo. É tudo demasiado sofisticado e cínico. Neste filme há esse reclamar do real e da fábula ao mesmo tempo. Quero ter um pé em cada lado. Atiro a âncora para o real, e depois procuro a ficção. A imagem do João Cappa, que tem um formicário e é especialista em insectos, é uma das primeiras do livro O Perfume do Boi, que foi feito em paralelo com o filme. Porquê?Ao contrário do filme, em que a situação é das últimas, no livro é das primeiras porque funciona como se ele estivesse a contar uma fábula. Mas o livro tem uma construção totalmente independente do filme. A história do livro é sobre algo de errado que aconteceu entre os homens e os animais, talvez uma morte. E no fim há as avestruzes com um grito, um grito de revolta, a alertar para uma ordem que foi quebrada. No filme, quando ele aparece, sente-se uma espécie de eco com o espectador. Sentimo-nos a olhar de uma maneira diferente para as coisas, tal como ele. Esse momento aparece no meio, quando já temos uma experiência do filme. É alguém a dizer-nos que é preciso olhar para as coisas de outra maneira?Faço sempre isso nos meus trabalhos. Concebo um livro à maneira de uma pauta musical. No fundo, são estratégias para conseguir a mesma coisa, que é dizer ao espectador ou ao leitor: “Fiz tudo bem, mas o que fiz estará sempre incompleto, por isso preciso de uma atitude e da participação de quem vê. ” Os meus títulos fazem esse papel. Ou então o design. No fundo, é pedir uma certa predisposição. Funcionam com um engodo?Não, não é tanto isso. É um toque, uma proposta. Acho que é muito importante a intensidade da experiência. O filme flui entre blocos de energia e partes em que não é muito racional. É um pouco como as brincadeiras de crianças com aviões de papel. Quando o avião é atirado, querem que voe o máximo de tempo possível e não interessa se vai cair na casa da vizinha. Os títulos e o design são como este trajecto, com a diferença de que eu interesso-me por saber onde vai cair o avião. Claro que o que interessa mesmo é que voe o máximo. Ponho muita anergia a tentar garantir isso, mas essas propostas são como se dissesse: “Já agora, vamos por aqui. ”Como é que foi fotografar e filmar ao mesmo tempo? Quando é que se decidia travar uma coisa e libertar outra?Só reparei recentemente que isto já me aconteceu três vezes. Quando se está a rodar, o filme domina porque o cinema é muito mais exigente, muito mais difícil do que a fotografia. Neste caso em particular, fazia as fotografias depois de filmar. E há as diferenças todas óbvias que têm a ver com o cinema ser uma arte rítmica, ser imagem e som. No livro, o tempo é devolvido ao espectador. Mas há coisas comuns – os meus fotolivros vêm de recursos do cinema, como o fora de campo. No centro de tudo está a sequência de imagens, que é uma das linguagens mais primitivas que há, vem das cavernas. O Perfume do Boi é um livro em que a natureza assume protagonismo. Mas no meio há imagens que parecem caídas de pára-quedas (um camião na estrada, circo…). Com que objectivo aparecem?Não queria que o livro ficasse muito na imagem da floresta, fora do tempo. Queria que fosse agora, com o tuning, com o trance. . . Depois, as imagens dialogam. Como quando se vê um caçador a disparar e, na página seguinte, parece que é o carro de corrida que leva o tiro. Como é que se imagina um leitor/espectador perante estes dois objectos?É difícil falar sobre as duas coisas. Mas o que é que uma experiência acrescenta ou subtrai à outra?Nunca pensei nos dois trabalhos em complementaridade. Mas há aspectos que se tocam, como o fora de campo. . . Edito os meus livros e os dos outros como se fossem um filme. Penso sempre em termos narrativos, mesmo quando é para destruir a narrativa. Quando fico perante um conjunto de imagens, surge uma espécie de white noise, uma frequência, sem oscilações. Sequencio a partir dessa frequência. A primeira coisa que faço é pensar na primeira e na última imagem. Isto é o momento inaugural para um objecto narrativo. Trata-se de provocar imagens?Sim, quero sobretudo provocar imagens aos outros, reavivar imagens da infância, criar imagens do presente. É uma tentação de omnipresença. Sei que não vou conseguir mostrar todas as minhas imagens, mas sei também que a minha selecção vai provocar outras imagens. O espectador também traz imagens para os livros. Isso é óptimo, porque significa que eu posso provocar, pelo menos, a duplicação de imagens. O seu primeiro livro, Tunnels (2005), vai fazer dez anos. Vai?Vai. Fico surpreendido quando as pessoas gostam das minhas coisas, dos livros ou dos filmes. Penso sempre: a sério? É que são tão incompletos. Quando as pessoas nos perguntam como escolhemos os livros a editar, os nossos projectos… eu respondo: “Projectos? Não escolhemos projectos. ” Escolhemos uma mundivisão. Para se perceber isso em cada autor são precisos muitos livros. Acredito nisto e estou interessado em trabalhar a mundivisão de um fotógrafo como o António Júlio Duarte, por exemplo. Gosta de editar o trabalho de outros fotógrafos? Gosto muito. Quando é que um livro está fechado, se é que isso se consegue perceber?É um bocado como dizem os Lobos Antunes: é quando já não se consegue mexer mais. Às vezes, fico dois ou três dias sem olhar para o trabalho e, depois, quando volto a ele com a ideia de mexer, ele resiste. Como escolhem os autores que querem editar?Autores é a palavra certa. Não escolhemos projectos. Escolhemos autores. Também não escolhemos por maquetes, nem por livros quase prontos, nem por exposições que estão abertas, nem por dinheiro que já existe. É como disse, escolhemos por mundivisão. Pode haver um ou outro livro que faça sentido publicar fora destes critérios, mas estamos mais interessados em criar elipses não só dentro dos livros, mas entre vários livros e entre trabalhos de autor. A editora Pierre von Kleist está a correr bem?Está a correr bastante bem. Este é um momento de balanço. Não vamos poder fazer igual. Até porque já não temos a mesma energia. Mas temos vontade de continuar. Sinto que estamos em muito boa forma na edição, a um ponto que até começo a pôr em dúvida. E enquanto for assim, uma coisa excitante e apaixonada, continuaremos. Não é que nos levemos muito a sério, mas gostamos de fazer livros de uma forma empenhada. Há ideias interessantes para a editora nos próximos anos, mas ainda não posso revelar. E filmes?Isso é mais difícil. Por causa de dinheiros e do meu tempo. Mas tenho ideias para uns três ou quatro filmes. Um é sobre Olhão. Será uma coisa do tipo Twin Peaks. Há um crime e vai por ali fora. Acho Olhão um sítio estranhíssimo. Tem a comunidade estrangeira mais bizarra que conheço. Ao longo dos teus livros temos muito a ideia de viagem e de deslocação. Pelas imagens da exposição que vai inaugurar agora, Antena 2, dá a entender que puseste o pé na terra, que te fixaste mais. É assim?Sempre quis viajar. Quando era pequeno, li o Tintim e uma enciclopédia toda. Tenho uma ideia chatwiniana da viagem, segundo a qual o ser humano é nómada por natureza, está inscrito no nosso sistema nervoso central. Fora do meu trabalho subscrevo esta ideia. A viagem é também uma estrutura narrativa, um arquétipo que escolhi. Nesta exposição há uma resolução arquitectónica e de instalação para o espaço específico da Galeria Pedro Alfacinha. É um trabalho que dará também um livro, que se chamará The Conference of the Birds, um texto do poeta persa místico Farid ud-Din Attar, que também é uma viagem. Antena 2 parte de duas experiências de quase-morte, experiências através das quais há duas ideias feitas, um caminhar para a luz e um filme da nossa vida a andar para trás. Esta exposição é narrativa e não narrativa ao mesmo tempo. Não temos de nos perguntar onde são estas imagens, nem porque são estas dez e não outras. Eu respondo: tive experiências de quase-morte e vieram-me estas imagens à cabeça. No entanto, o sabor desta exposição é narrativo, quem entrar saberá que se trata de imagens vindas de uma experiência de quase-morte. Mas é só um gosto ténue, não quero que a narrativa se torne central. Mas há aqui alguma coisa que atire para um momento específico de Portugal? O que é que esta Antena 2 tem desse momento?Não sei se quero verbalizar muito isto. Mas a sinopse deixa algumas pistas: experiências de quase-morte nos últimos três anos, que no fundo são os três anos da troika. Conto como foram essas experiências, uma foi durante a viagem numa auto-caravana pelas fronteiras de Portugal, em 2012, a outra vez numa cozinha no centro de Lisboa, em 2013. Quando voltei a mim, em ambas a Antena 2 continuava a tocar no rádio, na sua trincheira intemporal. Tinha a ideia que toda a gente tem da Antena 2 – a rádio onde passa música clássica. Durante a rodagem do filme ouvíamos muita rádio porque cansávamo-nos da nossa música e o noticiário era quase sempre sobre a troika, as notícias eram atrozes. A televisão e a rádio sempre a falar da mesma coisa, o desemprego, a desertificação, a crise. . . Quando isso acontecia, sintonizávamos a Antena 2, como uma espécie de fuga. Quando começava a ladainha sobre a troika procurávamos logo Schubert, algo mais fora do tempo. Depois, reparei que na casa de um amigo só se ouve Antena 2. Vínhamos de um ano em que tinha acabado o Ministério da Cultura e parecia que estava tudo a acabar. Havia a ideia de que a cultura não era precisa para nada. A Antena 2 pareceu-me uma espécie de último reduto. Era inabalável, continua a passar as mesmas coisas, músicas de há 300 anos. Pareceu-me que personificava a última trincheira de uma luta. E pensei que também me queria alistar. E há também a experiência de ter ouvido esta rádio no país todo. Não é uma coisa lisboeta. Está no ar, invisível, partículas de Antena 2 por todo lado, está entre as coisas. Funciona como um estado emotivo para estas imagens?É como um toque, mais uma vez. Como lançar um avião de papel.
REFERÊNCIAS:
País, precisa-se
O país está em crise, as suas imagens também. E este filme parte — à procura de um território e das suas histórias. Não precisam de reality-show, precisam de sala às escuras. (...)

País, precisa-se
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O país está em crise, as suas imagens também. E este filme parte — à procura de um território e das suas histórias. Não precisam de reality-show, precisam de sala às escuras.
TEXTO: Vai passar por nós, e para nós. E não é objecto voador não identificado: será assim tão delirante a sensação de que os animais que nos olham do ecrã, e que deixaram que se aproximasse deles assim a presença humana? Parecem querer dizer: “Vocês já estiveram aqui”. Perante Campo de Flamingos sem Flamingos não sabemos se ainda é noite ou se já é dia, se o que vemos já começou ou já terminou, se os homens sobreviveram ou estão a acabar. . . é para esse espanto que servem as salas de cinema. É objecto identificado, traz as marcas de uma experiência antiga. E qual é o efeito especial? As pessoas, os lugares, os planos manterem inviolável, até ao fim, o seu mistério. É coisa reconhecível: é um filme. É coisa não alinhada. Antes de tactear a possibilidade de reactivar experiências (porque tudo se deve passar numa sala às escuras), Campo de Flamingos sem Flamingos abandona logo aquilo que não quer. O ministro das Finanças não foi ao Parlamento, anuncia o telejornal na sequência inicial. Era a crise que se instalava, aquela de que se começava a falar quando Campo de Flamingos sem Flamingos foi rodado — nos meses de Setembro a Dezembro de 2011 em que André Príncipe (fotógrafo, cineasta, editor), o director de fotografia Takashi Sugimoto e o operador de som Manuel Sá percorreram de caravana as fronteiras de Portugal. Mas é uma crise que se instalara há muito mais na televisão, o espaço em que o mundo é reality-show e a fabricação grotesca alastra para nos invadir. A esse país Campo de Flamingos sem Flamingos diz não. Há esse plano sobre uma TV e o seu telejornal. E depois a dissidência. Eis um filme que parte, à procura de um território e das suas histórias, que não precisam da televisão para existirem. Sandro Aguilar, o montador, encontra a forma de nos colocar numa fábula em movimento, um fluxo, contra o qual não podemos nada, que tem vida própria: homens e animais, cavalos, caça, nascer e pôr-do-sol, insectos e carros de corrida. Somos colocados sempre perante a experiência de algo que começa, o mundo sabe-nos a novo, apreendemos dele apenas contornos. Não há palavras, há uma aprendizagem sensorial a fazer — um coleccionador de insectos, a única personagem individualizada em Campo de Flamingos sem Flamingos, um homem cuja doença degenerativa lhe deu um olhar alternativo, talvez assinale um horizonte para o espectador. O filme parte, e coloca-se entre animais — as fabulosas cenas de caça. É o tal pacto a reinstalar antes que a viagem, sem mapa mas com vibrante energia de reencontro, prossiga. André Príncipe, Takashi Sugimoto e Manuel Sá são aventureiros num território que deixámos de conhecer (e é assim que se filmam na sequência final), como antes fizera Gonçalo Tocha no seu É na Terra, Não é na Lua (2011). Os títulos de ambos os filmes assinalam essa ausência que vem alastrando e o movimento de quem parte para contrariar esse vazio. É uma busca, de pessoas, de território — é a mais justa forma de descrever o que se passa em Campo de Flamingos sem Flamingos. Tocha e Príncipe, a terra e (não) a lua: não servirá isto para fabricar qualquer “tendência”, só para assinalar que há exploradores em actividade? E que esse desejo de aventura talvez seja o sinal de uma perda, de que estamos mesmo a precisar dele, do país. Parece pouco e talvez seja muito: é preciso uma sala às escuras.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo homem doença
Furto de gado volta a deixar agricultores do Baixo Vouga em alerta
Só um produtor perdeu quatro bezerros numa noite. Associação da Lavoura do Distrito de Aveiro exige medidas por parte do Ministério da Agricultura. (...)

Furto de gado volta a deixar agricultores do Baixo Vouga em alerta
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Só um produtor perdeu quatro bezerros numa noite. Associação da Lavoura do Distrito de Aveiro exige medidas por parte do Ministério da Agricultura.
TEXTO: Para alguns agricultores da zona do Baixo Vouga esta época festiva está a ter um sabor amargo. Na noite de sexta-feira para sábado, registaram-se novos casos de furtos de gado nesta zona agrícola da região de Aveiro. A situação já não é nova e, segundo Albino Silva, presidente da Associação da Lavoura do Distrito de Aveiro (ALDA), tem vindo a causar prejuízos avultados aos agricultores. A ALDA prepara-se para voltar a denunciar a situação junto do Ministério da Agricultura e lembrar que “é tempo de o Governo resolver os problemas do Vouga". “É lamentável, mas voltou a acontecer e já não foi a primeira vez, este ano, que os agricultores viram o seu gado seu furtado”, protestou o responsável máximo da ALDA, depois de os ladrões de gado terem voltado, este fim-de-semana, aos campos agrícolas de Estarreja. Ainda sem números exactos, Albino Silva refere que terão sido “vários” os produtores afectados. Só um agricultor viu desparecerem do seu terreno quatro bezerros. “São centenas de euros de prejuízo, sem que haja a possibilidade de os animais estarem cobertos por seguros”, garante o presidente da associação de agricultores, ao mesmo tempo que assegura que a GNR já está a par da situação e a investigar. Ainda há um ano, as autoridades policiais procederam à detenção de um comerciante, residente em Oliveira do Bairro – também na região de Aveiro -, por suspeitas de envolvimento em furto de gado bovino. O homem guardava, no estábulo da sua residência, uma vaca da raça autóctone Marinhoa que tinha sido furtada dos campos em Salreu (Baixo Vouga). Perante esta ameaça de uma nova onda de furtos de gado – em 2011 e em 2013, o número de animais furtados nesta zona agrícola chegou às quatro dezenas -, o presidente da ALDA prepara-se para voltar a lembrar à tutela que urge resolver os problemas do Baixo Vouga, que abrange os concelhos de Albergaria-a-Velha, Aveiro e Estarreja. “O emparcelamento dos terrenos agrícolas ajudaria a resolver estes problemas de segurança”, defende Albino Silva.
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Entidades GNR
Carta aberta aos irmãos guineenses
Mindjeris, Homis Garandis ku mininus, civis ku militares, generais ku soldados… (...)

Carta aberta aos irmãos guineenses
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mindjeris, Homis Garandis ku mininus, civis ku militares, generais ku soldados…
TEXTO: Estou nesta terra que Deus vos deu – a Guiné-Bissau – como vosso hóspede, há uns 14 meses. Viajei pelas regiões. Visitei ilhas, bairros, tabancas, mercados. Conversei com régulos, imãs, bispos, padres, pastores. Também com bideras (vendedeiras) e pescadores. Falei com estudantes, académicos. Dialoguei com militares, polícias, oficiais, soldados… Fui recebido por todos, homis ku mindjeres, garandis ku mininus, com sorrisos, apertos de mão, calor humano. Em mais de um ano nesta Terra de Deus não vi, nem ouvi falar de um único caso de vandalismo. Claro, há roubos, assaltos, às vezes à mão armada. A extrema pobreza, a fome, pode levar-nos a atos que normalmente não cometeríamos. Mas, quando Homis Garandis roubam muitos milhões de francos CFA e se apoderam de terras e casas do Estado com total impunidade, é difícil condenar aqueles que roubam alguns tostões para dar de comer lá em casa. Não é muito diferente do que se passa nos países ricos – os dos senhores dos grandes bancos que auferem escandalosos salários de milhões de dólares ou euros por ano, arruínam países e milhões de seres humanos pela sua incompetência e ganância, e não vão parar à prisão. Aliás, até recebem um bónus muito generoso de "despedida"!Em contrapartida, as prisões estão cheias dos pequenos delinquentes que, como Jean Valjean – o herói de Os Miseráveis, do clássico francês Victor Hugo –, roubaram apenas um saco de arroz para dar de comer aos seus muitos filhos. Na Guiné-Bissau, o delito comum continua a ser muito baixo, apesar da pobreza extrema. É um dos países mais seguros do mundo. Eu conheço dezenas de países e poderia dizer de cor o índice de criminalidade de cada um, na Ásia, África, Europa, América do Norte e do Sul. I. Finalmente, as eleiçõesDepois de muitas dificuldades e alguns sobressaltos ao longo de 12 meses, finalmente, no dia 13 de Abril vocês votaram. O meu país, a vossa Terra Irmã de Timor-Leste, ajudou um pouco e espero que continuará a ajudar – ajuda de um irmão pobre a outro irmão ainda mais pobre. Mas vocês nos deram mais, deram-nos lições de humildade e civilidade no dia-a-dia das vossas vidas e durante a campanha eleitoral. O GTAPE e a CNE fizeram um magnífico trabalho. E o Governo de transição, em particular o ministro da Adminisração Territorial e Poder Local, Baptista Te, invariavelmente com o seu chapéu, merecem o nosso aplauso. Os irmãos das Forças de Defesa e Segurança, incluindo a ECOMIB, também se portaram muito bem, apesar de que dispunham de meios motorizados escassos. Os partidos políticos (até desisti de contar quantos eram!) e candidatos (também sem conta) portaram-se todos bem, revelando muita maturidade e elevação, respeito mútuo e ausência de agressões verbais. Estamos na reta final do processo de transição. Já temos uma nova Assembleia Nacional eleita e já sabemos, portanto, quem vai ser o novo primeiro-ministro. Agora, vai-se eleger o primeiro magistrado da Nação – o Presidente da República. Todos devem, portanto, contribuir para que a segurança conjunta seja garantida, para que o clima de "carnaval da democracia" – que caracterizou a primeira fase destas eleições gerais – continue nesta derradeira segunda volta. II. Governo abrangente?Defendo o ponto de vista de que a Guiné-Bissau beneficiaria muito de um governo de base alargada. Sempre defendi o princípio de que nestas eleições não deveria haver "perdedores". O partido mais votado deveria convidar os seus adversários políticos para o diálogo e ser explorada a possibilidade de um governo inclusivo. Quero, acima de tudo, encorajar a ideia de que, no período pós-eleições, os vencedores e vencidos da contenda se transformem em parceiros comprometidos numa única causa: a da reconstrução do Estado rumo à normalização política e ao relançamento do desenvolvimento socioeconómico da Guiné-Bissau. E todos esperamos que o próximo Presidente da República venha a ser um homem conciliador, alguém que saberá dialogar e agir como Pai da Nação, ajudar a sarar as feridas antigas e as novas, criar condições propícias para que o Governo possa governar sem sobressaltos. Mas cabe aos irmãos guineenses absorver esta ideia, ou não. O primeiro-ministro eleito, o eng. º Domingos Simões Pereira, não tem sobre os seus ombros o peso da história – a parte negra da história –, pois pertence a uma nova geração de líderes. Mas ele vai precisar de muito apoio para cumprir com a agenda prometida, apoio leal no plano interno, e apoio urgente e generoso dos parceiros internacionais.
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Palavras-chave humanos prisão fome ajuda homem pobreza negra
Taurina: dá-lhe realmente asas?
Estudos efectuados à suplementação em taurina (ex.: bebidas energéticas) nos atletas não são conclusivos. (...)

Taurina: dá-lhe realmente asas?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estudos efectuados à suplementação em taurina (ex.: bebidas energéticas) nos atletas não são conclusivos.
TEXTO: A taurina é um dos típicos constituintes das bebidas energéticas. Ela é um ß-aminoácido contendo enxofre, classificado como aminoácido não essencial, e é o aminoácido livre mais abundante no cérebro, coração e músculo-esquelético (apesar de não ser incorporado nas proteínas musculares nem oxidado). As bebidas energéticas alegam melhorar o “nível” de energia, promover a perda de peso, aumentar o vigor, assim como melhorar o rendimento desportivo e cognitivo. A taurina, em particular, tem sido sugerida estar envolvida em processos como desenvolvimento e sinalização celulares, contração muscular, defesa antioxidante e metabolismo da glicose. Nos estudos com animais, nomeadamente em roedores, a suplementação com taurina tem tido resultados bastante interessantes. Nestes estudos, a suplementação foi associada (1) a um aumento do conteúdo de taurina muscular e do tempo de corrida até à exaustão e (2) a um aumento da força e diminuição do dano oxidativo após estimulação muscular prolongada. Por outro lado, exercício prolongado parece levar a uma diminuição do conteúdo muscular de taurina em roedores, afetando de forma negativa a capacidade do músculo-esquelético para exercitar. Porém, em humanos, nenhum destes efeitos foi ainda demonstrado. Em primeiro lugar, a maioria dos estudos avalia o efeito da taurina em combinação com muitas outras substâncias, algumas delas com efeito ergogénico comprovado (como a cafeína e os hidratos de carbono). Por essa razão, inviabiliza-se a associação dos efeitos positivos observados a qualquer uma das substâncias presentes no cocktail investigado. Além disso, alguns estudos têm outras falhas metodológicas, como (1) grupos controlo pouco adequados ou (2) variáveis interpretadas de forma questionável. Mais ainda, os processos envolvidos no transporte da taurina para o músculo têm-se mostrado resistentes aos aumentos marcados e prolongados dos níveis plasmáticos de taurina, conseguidos através de suplementação oral em humanos. Além disso, exercício de resistência prolongado parece não alterar os níveis musculares de taurina, ao contrário do que se tem observado nos estudos com roedores. De qualquer modo, existem estudos a demonstrar um aumento da oxidação de gordura durante 90 minutos a pedalar, e de rendimento numa corrida de 3km após suplementação aguda com taurina, apesar de existirem outros estudos onde estes resultados não foram verificados. A ter algum efeito, a taurina possivelmente atua via recetores na membrana da célula muscular, ou mesmo através de outros órgãos ou do sistema nervoso central. Concluindo, face aos resultados dos estudos efetuados até à data com suplementação em taurina, vários deles realizados com atletas, não existe evidência suficiente para comprovar o efeito ergogénico da taurina em humanos. Alguns autores, inclusive, são da opinião que esta substância não terá efeito ergogénico. É importante não esquecer que a ciência é uma entidade em constante desenvolvimento e aperfeiçoamento. Por essa razão, é fundamental reconhecer que alterações ou, por outro lado, confirmações, possam surgir no futuro. E não se esqueça! Se está a pensar iniciar a toma de algum suplemento, não o faça sem antes consultar um médico ou nutricionista especialista nesta área. *Mónica Sousa, nutricionista na componente desportiva, colaborou Federação Portuguesa de Atletismo. Foi nutricionista da equipa de futebol sénior do Vitória de Setúbal e colaborou com a Federação Portuguesa de Natação, entre outras modalidades. Doutoranda em Ciências do Desporto, especificamente na área de nutrição no desporto de alto rendimentoQualquer dúvida ou questão pode ser enviada por email para monicasousa. ionline@gmail. com
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Partidos LIVRE
Receitas dos casinos e dos bingos caíram 33% em seis anos
Queda acumulada desde 2008 é mais pronunciada nos bingos, que passaram de 23 para 16 salas. (...)

Receitas dos casinos e dos bingos caíram 33% em seis anos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Queda acumulada desde 2008 é mais pronunciada nos bingos, que passaram de 23 para 16 salas.
TEXTO: As receitas conjuntas dos bingos e dos jogos nos casinos caíram 33% em seis anos, alcançando, em 2014, pouco mais de 313 milhões de euros – o valor mais baixo desde 2008. A queda mais pronunciada sentiu-se nos bingos, onde as vendas obtidas nas salas passaram de 85 milhões de euros há seis anos para 46 milhões de euros em 2014, ou seja, menos 46%. Contudo, e de acordo com os dados fornecidos ao PÚBLICO pela Associação Portuguesa de Bingos (APB), o sector conseguiu aumentar a facturação no ano passado, na ordem dos 3%, de 44, 9 milhões em 2013 para 46 milhões em 2014. Pedro Pinho, vice-presidente da APB, explica que este crescimento se deveu à entrada de novos prémios, “como o Prémio Acumulado de Linha, Prémio Sala (Jogada Prima) e Incremento de Bingo e Bola da Sorte, autorizados pelo Turismo de Portugal”. Quanto ao número de empresas, há um ano funcionavam 16 salas, menos sete do que em 2008, o que teve reflexos no número de pessoas que este negócio emprega. De acordo com Pedro Pinho, terá reduzido “para menos de metade desde meados de 2009”: de cerca de 2000, restam agora 600 postos de trabalho. “Este facto deveu-se sobretudo ao encerramento de várias salas de bingo, como o Bingo do Barreiro, do Atlético da Amadora, Brasília, Olímpia, Farense, Jardim Zoológico", entre outros. O decréscimo acumulado nos últimos seis anos, diz Pedro Pinho, é explicado pelo facto de o “sector ter conhecido inegáveis dificuldades económicas, em virtude do contexto de crise em Portugal, da redução dos prémios concedidos e do incremento do jogo online, que abrange todas as faixas etárias e ambos os sexos e a legislação não acompanhou o desenvolvimento do mercado”. Este tipo de jogo virtual terá, pela primeira vez este ano, uma lei específica, que vem abrir o mercado a novos operadores e estabelecer regras. A APB também tem dúvidas quanto ao novo diploma que vai regular a actividade dos bingos, numa altura em que o grupo de origem espanhola Pefaco lançou uma operação de controlo exclusivo sobre nove bingos. No caso dos casinos, que representam a maior fatia das receitas obtidas com o jogo, o negócio reduziu de 381 milhões de euros para 267 milhões entre 2008 e 2014. Face a 2013, durante o ano passado a diminuição foi de 2%, menos pronunciada do que a que se verificou de 2012 para 2013 (6%). Estas empresas têm de pagar contrapartidas anuais de exploração que podem incidir sobre 50% do valor global das receitas. Entre 2001 e 2014, as concessões dos casinos renderam ao Estado 2359 milhões de euros e parte desse montante serviu para financiar o Turismo de Portugal a as actividades de promoção turística. Contudo, o sector tem dito que a quebra real acumulada é de menos 38% e aponta a crise, o jogo clandestino e a concorrência do jogo online como os principais causadores do decréscimo do negócio. Nos últimos anos, os casinos têm vindo a lamentar as elevadas contrapartidas que têm de desembolsar, dizendo que “estão desajustadas da realidade” e põe em risco a sobrevivência do sector. Recentemente, foi publicada uma nova lei que permite às empresas concessionárias do jogo pagar a prestações as contrapartidas. No diploma, o Governo sublinha que não se trata de um perdão de dívida e que estes pagamentos terão juros de mora. Tendo em conta a queda de receitas, o executivo diz querer dar “resposta às preocupações das concessionárias das zonas de jogo no sentido de apresentarem planos de pagamento dos montantes a pagar neste âmbito”. Esta semana, o Governo deverá dar luz verde ao diploma do jogo online e conta com um encaixe adicional de receitas de 25 milhões de euros, graças à regulação desta actividade. O modelo será aberto e os operadores terão de se candidatar a licenças de três anos, renováveis. Haverá um Imposto Especial sobre o Jogo Online (IEJO), cujo valor varia consoante as modalidades. No caso do jogo virtual de fortuna e azar e nas apostas hípicas mútuas, propõe-se uma tributação de 15 a 30% sobre a receita bruta. Nas apostas desportivas à quota e hípicas à quota, o imposto incide sobre o montante total das apostas a uma taxa que se situa entre os 8 e os 16%, variando em função da receita. Venda de nove salas de bingo aguarda luz verde do GovernoApesar de já ter o aval da Autoridade da Concorrência (AdC), a exploração de nove bingos pelo grupo espanhol Pefaco ainda terá de ser autorizada pela Secretaria de Estado do Turismo. Ao que o PÚBLICO apurou, a operação está a ser avaliada pelo gabinete de Adolfo Mesquita Nunes, que pediu à empresa para submeter o negócio à avaliação da AdC.
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Palavras-chave lei
Proclamação de Felipe VI marcada pela austeridade e ausência de emoção
Às zero horas desta quinta-feira, a Espanha muda de rei. Do novo monarca espera-se a mesma discrição que mostrou enquanto príncipe – mas não lhe compete resolver as grandes questões que o país enfrenta. (...)

Proclamação de Felipe VI marcada pela austeridade e ausência de emoção
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Às zero horas desta quinta-feira, a Espanha muda de rei. Do novo monarca espera-se a mesma discrição que mostrou enquanto príncipe – mas não lhe compete resolver as grandes questões que o país enfrenta.
TEXTO: Esta quinta-feira, 19 de Junho, era dia já reservado no calendário espanhol. Nas comunidades de Madrid e de Castela-e-Leão por ser feriado do Corpo de Deus. No imaginário fértil dos amantes do futebol por se estar na ressaca do jogo decisivo do mundial com o Chile. A abdicação de Juan Carlos I trouxe um significado suplementar: a proclamação do seu sucessor, Felipe VI – mas sem emoção. “Vieste para os faustos?” Juan, o empregado de mesa que nem uma década de conselhos ensinaram a tirar uma bica, não pergunta. Dá por assente que a presença do jornalista é para a proclamação. Sorri, encolhe os ombros e pergunta por Cristiano Ronaldo. O bar Frontón está decorado com bandeiras espanholas. “É para o jogo, a ver se há sorte…” É assim um pouco por todo lado em Madrid. Nas varandas, cafés e comércios as bandeiras são pela bola. O decisivo embate com o Chile que decorria ainda. Só no centro da capital, nas lojas de recordações, aparecem objectos para turista com a imagem do novo casal real impressa sobre a bandeira espanhola. Ou a figura de Felipe VI estampada nos mais diversos objectos. Nas pastelarias estão à venda bolachas comemorando o início do novo reinado. É um cenário pobre, nada comparável ao de Maio de 2004, quando Felipe e Letizia se casaram por entre o aplauso popular, com uma vasta representação da classe dirigente mundial e uma forte dose de emoção nacional. As sondagens dão dimensão e números às sensações. A do oficial Centro de Informações Sociológicas revela que apenas 1% dos espanhóis sentiu inquietação pela abdicação de Juan Carlos. Para 80%, a preocupação é o desemprego. No entanto, esta discrição não significa alheamento. Um estudo de opinião do El País esclarece que 62% dos inquiridos desejam um referendo sobre a monarquia. E que, em caso de consulta, o rei Felipe VI era preferível a um Presidente da República. Foi assim que se forjou a peculiar ideia dos socialistas: a consequência de serem republicanos é apoiarem a monarquia. “Esta monarquia caracterizou-se por nunca demonstrar simpatias políticas, soube estar acima das tensões, mudanças e dificuldades políticas”, observa ao PÚBLICO Trinidad Jiménez, ex-ministra dos Assuntos Exteriores do Governo de Zapatero – o que, assegura a antiga chefe da diplomacia espanhola, não está garantido com um Presidente saído dos partidos, num país em que a política fora da esfera partidária não existe. “Os comunistas, que preferiram a dicotomia ditadura/democracia à monarquia/república, deram agora uma reviravolta, como se a monarquia fosse contraditória com a democracia”, constata Santos Juliá. O catedrático de História Social e Pensamento Político admite, contudo, ser este um debate datado: “Creio que não tem futuro. ” Na origem desta mudança, que também afecta o comportamento das centrais sindicais, está o marasmo social face à crise económica. Questionar o regime é a forma de tentar congregar adesões. Foi a mediatização da presença das bandeiras republicanas, na sequência dos escândalos que afectaram nos últimos anos a família real, nomeadamente a fraude fiscal do casal infanta Cristina-Iñaki, que levou a uma sensação de vertigem política e de temor de uma ruptura próxima. Juan Carlos teve de pedir desculpa pelos gastos de uma caçada aos elefantes no Botswana em companhia de uma aristocrata alemã. Há muito, porém, que os espanhóis já tinham deixado de sorrir perante o relato de episódios da vida paralela do monarca. Por isso teve de sair de cena. Na cerimónia da manhã desta quinta-feira, o homem que elevou o afecto popular à categoria de classificação política com o juan-carlismo, está ausente. Apenas comparece ao lado do novo monarca na varanda do Palácio Real, na Praça do Oriente. Juan Carlos, que desde a meia-noite desta quinta-feira deixa de ser rei, não vai estar no Parlamento, nem na recepção aos dois mil convidados. Manhã cedo, é ele que coloca a faixa vermelha de capitão general ao seu filho no Palácio da Zarzuela. A partir daí cede-lhe o protagonismo. Com a proclamação de Felipe VI também muda a foto da família real. As infantas Elena e Cristina desaparecem. O virar de página que um novo reinado sempre encerra não fica por aqui. Na manhã desta quinta-feira, as 120 mil bandeiras espanholas que engalanam o trajecto do Rolls-Royce fechado, opção escolhida por motivos de segurança, foram iniciativa da Câmara de Madrid. E os empresários da cidade, por sua conta, encomendaram dezenas de milhares de cartazes com a foto do casal real. Não há espontaneidade popular.
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