O que é, afinal, o jogo suicidário Baleia Azul?
A participação no jogo Baleia Azul pode conduzir ao suicídio de adolescentes que se encontram vulneráveis. (...)

O que é, afinal, o jogo suicidário Baleia Azul?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2017-04-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A participação no jogo Baleia Azul pode conduzir ao suicídio de adolescentes que se encontram vulneráveis.
TEXTO: O jogo Baleia Azul – ou Siniy Kit, como é conhecido em russo ou Blue Whale, em inglês – é composto por um total de 50 desafios diários, e que deve, portanto, ser completado no final de 50 dias. Cada desafio é enviado diariamente por um “curador” ou “administrador” que pede provas (como fotografias ou vídeo) de que o desafio foi cumprido na íntegra pelos jogadores que são, por norma, adolescentes com problemas de depressão ou isolamento. Uma das premissas do jogo é que se deve jogar até ao fim, sem desistências e sem contar a ninguém. Este jogo acaba por ser, na realidade, um incentivo ao suicídio, já que grande parte dos desafios envolve automutilação e o último desafio é “Tira a tua própria vida”. O nome “Baleia Azul” vem de um dos desafios – em que é pedido ao jogador que se mutile e desenhe uma baleia azul no braço – com base na crença de que as baleias azuis (os animais) dão à costa voluntariamente com o intuito de perderem a vida. Apesar de alguns desafios serem simples ou até inócuos, a maior parte dos desafios está relacionada com a automutilação. O primeiro desafio é “Com uma navalha, escreve ‘F57’ na mão e envia uma fotografia para o curador”. Um dos desafios mais simples pede que seja partilhado nas páginas da rede social russa VKontakte (VK) a hashtag “#i_am_whale”; outro pede que se passe o dia sem falar com ninguém e, noutra, é sugerido que encontre alguém que também esteja a participar no jogo. Já vários outros desafios pedem que a pessoa se mutile repetidamente ou que suba a telhados ou pontes para se sentar na borda e, por fim, que tire a própria vida. Confira, em baixo, alguns dos desafios:O Baleia Azul é jogado sobretudo na famosa rede social russa VKontakte; noutros países, o fenómeno tem-se propagado por outras redes sociais. Alguns adolescentes são “identificados” pelos curadores através do uso de determinadas hashtags ou por fazerem parte de certos grupos nas redes sociais (como grupos sobre depressão ou suicídio). Depois de serem contactados por esse “administrador” ou por se voluntariarem a jogar, o jogador recebe um desafio diário que deve ser cumprido e registado. Os "curadores" são as pessoas responsáveis por introduzirem os jogadores – a maior parte jovens – nos desafios Baleia Azul. Todos os dias enviam mensagens com o desafio do dia e asseguram-se, pedindo fotografias ou vídeos como prova, de que os desafios foram cumpridos. Os curadores dizem ter em sua posse todas as informações do jogador, como o local de residência e quem são os seus familiares, informações essas que são usadas como ameaça no caso de o jogador querer desistir. Em Novembro do ano passado, Filipp Budeikin, de 21 anos, foi detido por suspeitas de ser um destes curadores e incentivar o suicídio entre os jovens. Ainda está a aguardar julgamento. Este fenómeno começou em 2016 e presume-se que tenha começado na Rússia, através da rede social mais utilizada no país, VKontakte. A Rússia é um dos países com a taxa mais elevada de suicídios entre a população jovem. De acordo com uma notícia publicada no jornal russo Novaia Gazeta, este jogo pode ter causado 130 suicídios na Rússia entre Novembro de 2015 e Abril de 2016. Ainda assim, muitos suicídios não têm qualquer relação comprovada entre a morte auto-induzida e o facto de terem aceitado fazer parte do jogo Baleia Azul. Mesmo que os dois fenómenos estejam directamente relacionados, importa referir que os casos de suicídio podem ter partido de pessoas que se encontravam fragilizadas ou já tinham a ideia de se suicidarem em mente, tendo o jogo funcionado como um contributo ou um estímulo. Mais recentemente, na Colômbia, a polícia terá detectado que uns 3200 jovens com perfil no Facebook terão participado no jogo. No Brasil foram noticiadas dezenas de suicídios cometidos por adolescentes com ligações à participação no jogo Baleia Azul. Sim. Uma jovem no Algarve atirou-se de um viaduto em Albufeira, na sequência da sua participação no jogo Baleia Azul. A jovem ficou ferida mas não morreu. A PSP confirmou ter tido conhecimento de outros dois casos, e garante que está a “monitorizar” o fenómeno, “tendo em conta as recentes notícias da adesão de crianças e jovens” ao jogo. Também em Espanha uma menor deu entrada nas urgências de um hospital em Barcelona. Numa mensagem publicada no Twitter, as autoridades espanholas admitem ter conhecimento de casos, “ainda que isolados” de jovens que praticaram actos relacionados com o jogo. Alguns dos desafios propostos no jogo podem ter resultados visíveis e detectáveis. Os golpes feitos por navalhas ou lâminas nos braços e nas mãos, assim como um corte com a palavra “sim” na coxa direita são alguns destes exemplos. Também a saída de casa por volta das 04h20 da manhã ou a publicação nas redes sociais da hashtag “#i_am_whale” podem indiciar que a pessoa se encontra dentro do jogo suicidário. Segundo recomendações da PSP, os pais são aconselhados a “manterem-se informados relativamente ao jogo e a alertar crianças e jovens para as suas implicações”, bem como a aumentarem a supervisão das actividades dos filhos na Internet e nas redes sociais. “Importa ainda que os pais alertem as crianças sobre os riscos de adicionar desconhecidos e recomendem que apenas a família, amigos e pessoas da escola façam parte da lista de amizades nas redes sociais”, acrescenta a PSP. Há ainda alguns sinais de alerta gerais, indicados pela Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS), de que alguém possa estar a pensar cometer suicídio: comentários acerca da morte ou suicídio, a preparação de documentos, o oferecimento de objectos pessoais de valor sentimental elevado ou a escrita de cartas a amigos ou familiares. “O nível de energia é também um factor importante a ter em conta”, lê-se no site da SPS, já que é na fase de remissão da depressão que o risco de suicídio aumenta. Há ainda outros sinais de risco exteriores como a sensação de desesperança, ansiedade intensa, autodesprezo, apatia, tristeza intensa, comportamento impulsivo e mudanças rápidas de humor”. A Sociedade Portuguesa de Suicidologia recomenda que a pessoa que esteja a contemplar o suicídio seja sempre ouvida e acompanhada. Existem ainda várias linhas de ajuda e apoio sobre o suicídio em Portugal e na Europa:SOS – Serviço Nacional de Socorro: 112SOS Voz Amiga (entre as 16 e as 24h00):SOS Telefone Amigo: 239 72 10 10Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Telefone da Amizade: 22 832 35 35Escutar - Voz de Apoio – Gaia: 22 550 60 70SOS Estudante (20h00 à 1h00): 808 200 204
REFERÊNCIAS:
Godard, em todo o lado
Um homem de 86 anos encontrou-se com os fãs através de telemóvel. Não esteve presente em Cannes, está em todo o lado. O seu Le Livre d’Image, leitura das mensagens com que as imagens do passado anunciam o nosso futuro, parece ter a violência do último dos homens. (...)

Godard, em todo o lado
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um homem de 86 anos encontrou-se com os fãs através de telemóvel. Não esteve presente em Cannes, está em todo o lado. O seu Le Livre d’Image, leitura das mensagens com que as imagens do passado anunciam o nosso futuro, parece ter a violência do último dos homens.
TEXTO: “Godard não está aqui, ou seja aqui em baixo, il est là-bas’” – algures em Rolle, no cantão de Vau, na Suíça. Mas a sua presença desceu este sábado sobre o Festival de Cannes, onde “il n’est pas ici en bas, il est là-bas” foi a nada inocente introdução do jornalista Gérard Lefort aos procedimentos para receber Jean-Luc Godard: por FaceTime, no telemóvel. Os jornalistas faziam fila para dizerem “bom-dia” a um ecrã — saudação intimidada ou excitada pelos nervos —, antes de apresentarem as suas questões; o som, a voz de Godard, depois irradiava para toda a sala das conferências de imprensa. Foi godardiana esta experiência do som e da imagem como vidas com vida própria, e foi um ritual íntimo, como entre amigos — estava-se entre espessuras variadas do “fã”, mas era comum a todos o quererem fazer um beija-mão virtual. Godard está em todo o lado, foi o que quis dizer Lefort, está desmaterializado e desdobrado. Está no cartaz do festival, a partir de uma foto de plateau de Pierrot le Fou. Está na história de Cannes, onde pela primeira vez apareceu em 1962 como figurante no Cléo de 5 à 7/ Duas horas da vida de uma mulher de Agnès Varda — e há 50 anos interrompia as festividades a pedir solidariedade para com os estudantes e operários que se manifestavam em Paris, no Maio de 68, chamando “estúpidos” aos que insistiam em falar de travellings e de grandes planos. O ano passado foi representado na competição por um “duplo” (Louis Garrel que o interpretava em Le Redoutable de Michel Hazanavicius) e enviou a sua ausência (o final do documentário de Agnès Varda e JR Visages Villages, em que falhava um encontro). Este ano enviou para o concurso um filme, Le Livre d’Image, que parece ter tido os dedos do último dos homens, a mão da violência e solidão do último dos homens. Diz ele que a maior parte dos filmes conta “aquilo que se faz”, o que está a tornar o cinema num Facebook, e que os dele “são sobre o que não se faz, por isso sobre aquilo que não está no facebook”. Filme sem actores (“os actores contribuem para o totalitarismo da imagem filmada contra a imagem pensada”) e até sem cão, o que havia ainda no anterior Adieu au langage, Le Livre d’Image é um filme-pilhagem como nas Histoire(s) du Cinéma, em que a rodagem é a montagem de arquivos, picando textos, músicas, filmes, quadros. Denuncia às tantas as mentiras de Joan Crawford no Johnny Guitar de Nicholas Ray cortando-lhe a palavra (sabe-se que os homens matam aquilo que amam) e acaba com a dança ferida de morte do velho que procura em vão a juventude perdida no episódio Le Masque, de Le Plaisir, de Max Ophuls. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Le Livre d’Image acaba ferido, com o som, a voz e os aforismos a sobreporem-se, a agredirem-se, tonitruante espectáculo desta leitura, nas ruínas do passado, dos convites que foram endereçados ao futuro. As imagens, alteradas, violentadas, empasteladas de cor, são portadoras de mensagens — a maior parte das vezes, porque Le Livre d’Image é um filme de Godard, criptadas. Existe o cinema (de Aldrich, de Welles, de Dovjenko, de Duvivier… há Marilyn, das fotografias de Bert Stern e de George Barris), existe a música e os textos, é impossível e inútil sinalizar e enumerar, é um território de guerra e em guerra. Não é metáfora, o filme fala do mundo árabe e do Ocidente. Não é análise geopolítica, não tem ambição ensaística, é parábola, conto, turbilhão. Disse Godard, quando falou à imprensa: “O Ocidente quer ocupar-se dos árabes, mas os árabes não precisam que tomem conta deles, foram até eles que inventaram a escrita. ”A violência de Le Livre d’Image, que é algo de autodestrutivo, poderia configurar também um objecto autoparódico. Isto se Godard se permitisse o humor — o que ele tem ou não tem era aliás o tema nos corredores, como operação de limpeza de estilhaços a seguir ao bombardeamento: ele não é generoso, ele dificulta de propósito, ele é um génio artístico mas um deficiente ser humano (“viste o que ele fez à Varda?”), ele não é como Buñuel, que permitia que se acedesse ao inexplicável através do humor, ele. . . etc. Ele é, isso sim, portador de uma solidão, e do sentido da sua espectacularização, que faz de Le Livre d’Image um momento de agudização — e obviamente de saturação — de uma experiência. E, claro, dos rituais de um festival. Não tenhamos dúvidas: Godard em Cannes não é experimentado contra Cannes, Godard em Cannes, tal como outra estrela de cinema, produz uma das suas apoteoses. 87 anos e tanta determinação, vitalidade no ecrã, como faz, o que o faz querer ainda dizer e fazer?, perguntaram-lhe. A voz que respondeu tem a idade e a tosse de um octogenário. “As pessoas têm geralmente muita coragem com as suas vidas mas não têm coragem para as imaginar. Eu saio-me mal com as coisas da minha vida mas tenho coragem para a imaginar”. E sobre testamentos. . . saiba-se que Jean-Luc Godard quer continuar, dependendo um pouco das suas pernas e muito das suas mãos.
REFERÊNCIAS:
Rui Vitória afasta euforia após goleada sobre o Sp. Braga
Técnico do Benfica confirmou intenção de trazer reforços em Janeiro. Frente ao Desportivo das Aves, equipa "encarnada" não terá muitas alterações em relação à vitória sobre os “arsenalistas”. (...)

Rui Vitória afasta euforia após goleada sobre o Sp. Braga
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Técnico do Benfica confirmou intenção de trazer reforços em Janeiro. Frente ao Desportivo das Aves, equipa "encarnada" não terá muitas alterações em relação à vitória sobre os “arsenalistas”.
TEXTO: O Benfica apenas precisa de um empate para o apuramento para a final a quatro da Taça da Liga. Depois da expressiva goleada para o campeonato frente ao Sp. Braga (6-2), Rui Vitória fez a antevisão à deslocação de sexta-feira à Vila das Aves, onde os “encarnados” medirão forças com o Desp. Aves que, em caso de vitória, rouba o apuramento às “águias”. Após uma fase menos boa na temporada, a equipa de Rui Vitória soma sete triunfos consecutivos. O bom momento de forma não passou despercebido ao técnico dos “encarnados” que confirma algumas mudanças internas no emblema da Luz que facilitaram esta melhoria: “Houve algumas mudanças internas no nosso funcionamento diário. Termos a consciência do que tínhamos de o fazer: sermos mais rigorosos, permanentemente exigentes, unirmo-nos cada vez mais, acreditar naquilo que estamos a fazer, não desviar o nosso foco. Existiram uma série de estratégias que utilizámos. É evidente que houve mais [alterações] do ponto de vista operacional que não vou esmiuçar. Estamos, de facto, a ganhar, mas não muda a nossa forma de pensar. Jogo a jogo, um passo de cada vez: é essa a forma de pensar nesta altura”. O treinador do Benfica aproveitou a conferência de imprensa para deixar uma “bicada” aos rivais, afirmando que existe uma diferença de tratamento nas vitórias tangenciais de outros clubes, comparativamente às do clube “encarnado”: “Vamos ver nos últimos dez jogos quantas equipas ganharam pela margem mínima. A nós esteve sempre associada uma vitória sofrida, em algumas equipas não aconteceu. Para essas equipas foi uma crença, determinação e para nós foi um fracasso. Nós resistimos a isso e temos de resistir. No último jogo fizemos uma exibição de enorme categoria e vamos tentar continuar. O importante é ganhar, se possível jogando bem”. Com a aproximação do mercado de Inverno, os clubes europeus começam a preparar a lista de reforços para a segunda metade da época. Rui Vitória, porém, garantiu que as transferências “encarnadas” não serão substanciais e que apenas se restringirão a uma ou duas posições: “Mais [importante] do que reforçar, são as mudanças que iremos fazer. Não serão substanciais, mas são pormenores que, no mercado de Janeiro, faremos. Terão sempre, como fundo, a questão financeira e a questão de valor. Trazer [um jogador] por trazer, não é isso que queremos fazer. É evidente que tenho as minhas ideias, mas não é altura indicada para estar a dizer quem é. A maioria dos negócios faz-se quase no último dia de Janeiro”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Já diz o ditado que “em equipa que ganha não se mexe” e, ao que tudo indica, essa filosofia será posta em prática frente ao Desp. Aves, na sexta-feira, com o técnico a confirmar que não tem “grandes intenções” de alterar a formação que goleou o Sp. Braga. Para terminar a conferência de imprensa, Rui Vitória fez questão de deixar uma palavra amiga a Bruno Simões, adepto benfiquista que ficou ferido após o autocarro em que seguia ter sido apedrejado, quando passavam por Barcelos. “Queria dar um abraço solidário ao Bruno Simões. O futebol não é isto. É um espectáculo muito bonito, que deve ser vivido pelas famílias. As pessoas têm que ir ao futebol com tranquilidade. Que todos pensemos que esta modalidade tem de ser bem defendida e promovida. A todos os Brunos e independentemente de todas as cores deste país”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aves
Vitória foi o primeiro a parar o "Keizerball"
"Leões" pederam em Guimarães e foram ultrapassados pelo Benfica no segundo lugar do campeonato. (...)

Vitória foi o primeiro a parar o "Keizerball"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-12-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Leões" pederam em Guimarães e foram ultrapassados pelo Benfica no segundo lugar do campeonato.
TEXTO: O V. Guimarães conseguiu fazer aquilo que mais ninguém conseguiu. Os minhotos foram os primeiros a derrubar o Sporting de Marcel Keizer, triunfando no D. Afonso Henriques por 1-0. Luís Castro misturou o antídoto perfeito para a fúria goleadora dos “leões”, que chegaram a Guimarães com 30 golos nos últimos sete jogos mas que, pela primeira vez, ficaram a zero desde que o holandês chegou. O Sporting perdeu em dia de vitórias de FC Porto e Benfica e, por isso, ficou mais longe do primeiro lugar e desceu para terceiro; o Vitória manteve o seu excelente momento e vai entrar em 2019 mas perto do rival do Minho. Injusto destacar apenas um jogador numa excelente exibição colectiva dos minhotos, muito bem orientados por Luís Castro, que, depois de derrotar o FC Porto, voltou a fazer a vida negra a um candidato ao título. A haver alguma crítica, talvez a falta de frieza na finalização, mas 1-0 também vale três pontos. Ficou muitas vezes frente a frente com os jogadores do Vitória e foi ganhando os duelos todos, com a excepção do golo sofrido, em que não teve culpa, e da saída imprudente num lance que foi anulado por fora-de-jogo de Guedes. Houve muita gente desinspirada no Sporting, mas esse estado foi muito evidente naqueles que costumam decidir. Bruno Fernandes decidiu quase sempre mal, muito complicativo na condução do ataque “leonino”. Foi um triunfo por números mínimos, o suficiente para o Vitória ficar com os três pontos, mas que não faz muita justiça ao domínio que os homens de Luís Castro tiveram durante quase todo o jogo, quase sempre no sítio certo a pressionar e impedir a circulação de bola rápida e em progressão que tem sido a imagem de marca do Sporting. Provocaram mais vezes o erro do adversário e tiveram o mérito de aguentar nas poucas vezes que o Sporting atacou com propósito e rapidez. Não fosse Renan Ribeiro a fechar a baliza e os números podiam ter sido outros. O Vitória foi a equipa mais perigosa logo nos primeiros minutos, pressionante na conquista da bola e rápida na sua condução rumo à baliza adversária, e justificou plenamente o lance feliz que resultou no único golo do jogo, aos 26’. Na sequência de um alívio de Mathieu após um canto vimaranense, Tozé recolheu a bola bem longe da área, encheu-se de fé e rematou. A bola raspou em dois jogadores do Sporting e mudou de trajectória o suficiente para enganar Renan. Estar a perder não era nada de novo para o “Keizerball”, a tal filosofia futebolística que tem como um dos princípios preferir ganhar por 4-3 do que por 1-0. De todas as vezes que tinha estado a perder (contra Desp. Aves e Nacional), o Sporting tinha emergido triunfante e goleador e a primeira reacção tinha sempre acontecido na primeira parte. Mas, pela primeira vez desde que Keizer chegou, os “leões” foram para o intervalo sem marcar. Na segunda parte, entraria Raphinha, que não jogava desde Outubro, para o lugar de Jovane, menos confortável como titular do que como suplente utilizado. Durante os primeiros minutos da segunda parte, o Sporting pareceu perto de encaminhar mais uma reviravolta. Ola John ainda ameaçou elevar para 2-0 quase no reatamento, mas Renan defendeu com competência. Na resposta, Miguel Luís conduziu o contra-ataque “leonino”, meteu em Raphinha e o brasileiro ex-Vitória disparou para uma bela defesa de Douglas, um raro momento de lucidez atacante no meio da desinspiração de homens que têm estado inspirados. Bas Dost, Bruno Fernandes e Diaby pouco se viram. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Depois, praticamente só deu Vitória. Douglas lançou Guedes em profundidade, Renan fez falta que daria expulsão (se fosse fora da área) ou penálti e amarelo (se fosse, como era o caso, dentro), mas, após revisão do videoárbitro (VAR), o árbitro assinalou fora-de-jogo de Guedes e anulou o lance. Renan e o poste (um cabeceamento de Pedro Henrique aos 74’) foram mantendo o resultado na diferença mínima e os homens que Keizer foi lançando para o jogo (Mané e Petrovic) pouco fizeram para evitar a derrota. O holandês bem tinha dito que este dia ia chegar. O segredo está em que dias destes não aconteçam muitas vezes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens ataque negra aves
Morreu PQP, o maior industrial do país
Pedro Queiroz Pereira tinha 69 anos e morreu numa queda no seu barco em Ibiza (...)

Morreu PQP, o maior industrial do país
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pedro Queiroz Pereira tinha 69 anos e morreu numa queda no seu barco em Ibiza
TEXTO: O empresário e presidente da Semapa e da Navigator, Pedro Queiroz Pereira (PQP), morreu ao final da noite de sábado, em Ibiza, onde estava de férias, na sequência de uma queda no seu barco onde habitualmente passa o mês de Agosto. Tinha 69 anos, três filhas. As suas herdeiras terão nas mãos o futuro do maior grupo industrial de base nacional. Esta segunda-feira o corpo será autopsiado em Espanha, sendo que tudo o que se vier a desenrolar de seguida está dependente desta intervenção. E desconhece-se quando será enviado o corpo para Portugal, para ser velado. A sucessão e a herança estão fechadas. O controlo da Semapa foi assegurado por PQP após a guerra com o GES que acabou no Outono de 2013. O empresário e as três filhas, Mafalda, Filipa e Lua, dominam mais de 50% da Semapa, detendo a mãe de PQP, de 96 anos, ainda uma posição accionista relevante na parte remanescente. Entretanto, em 2016, foi nomeada uma gestão profissional liderada por João Castelo Branco, actualmente à frente da Comissão Executiva, o que impede eventuais vazios de liderança que se possam abrir com a sua morte. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reagiu publicamente, apresentando “sentidas condolências à família de Pedro Queiroz Pereira” e lamentando “o prematuro desaparecimento desse grande industrial português”. Uma morte precoce que apanhou todos de surpresa. Um deles foi José Maria Ricciardi, antigo presidente do BESI, e que, ao PÚBLICO, evocou PQP como “o maior industrial do país e um criador de riqueza e de emprego, que eu conheci muito bem” e de “quem tive o privilégio de ser seu amigo. ” Para Ricciardi, “a sua morte é uma grande perda para a economia portuguesa e internacional”. José Maria Ricciardi recorda-o ainda como “um grande amigo dos seus amigos, que me ajudou muito na vida e a quem nunca esquecerei. ” E evidencia como “uma das características [de Pedro] que mais admirava, a determinação e a capacidade de se rodear de profissionais de elevadíssima qualidade, como Carlos Alves, João Castelo Branco e Diogo Silveira”. A partir de 2012, o antigo presidente do BESI alinhou, dentro do Grupo Espírito Santo (onde o grupo Queiroz Pereira detinha 7% do capital), com PQP, na luta contra as intenções de Salgado de dominar a Semapa. O outro banqueiro que se destacou nas tropas do empresário foi Fernando Ulrich, à época a presidir ao BPI, que possuía 10% da holding industrial. “Foi um grande choque, não estava à espera”, confessou ao PÚBLICO Fernando Ulrich, que conhecia PQP desde os tempos “da escola. ”“Foi ele o artífice da reconstrução do grupo familiar herdado do pai, Manuel Queiroz Pereira, o que fez com êxito, o que o tornou o empresário mais bem-sucedido da minha geração”. Para Ulrich o industrial “teve sempre a noção de qual era o seu papel enquanto empresário e qual era o papel dos técnicos e especialistas”. Em seu entender o sucesso do amigo a isto se deve: “À conjugação da vontade e da determinação com uma visão empresarial, que combinou rodeando-se sempre de pessoas muito competentes”. “Desde o primeiro momento em que me falava dos seus projectos, verifiquei que era uma obsessão rodear-se dos melhores profissionais, cujas opiniões ouvia genuinamente, e a que dava grande peso. Mas última palavra era sempre a dele”. Com efeito, quando, a 6 de Novembro de 2009, o Presidente Aníbal Cavaco Silva, ao participar na inauguração da nova fábrica da Portucel/Soporcel, o condecora com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Industrial, PQP assume-se o vértice da pirâmide: “Sou eu que a recebo [condecoração] mas ela é oferecida a todos os meus colaboradores, entre eles, o Carlos Alves e o José Honório [os principais executivos]. ”Em texto publicado no Expresso, o advogado Jorge Bleck recorda PQP como um “lutador nato”, que vivia para “desenvolver o país que amava”, um homem que “abominava os salões da política, as intrigas de palácio e a subjugação ao poder”. Mas PQP tinha paixões. E uma delas era o automobilismo. E é a ela que se deve a alcunha de “pêquêpê” que o “salvará” quando, em Março de 1975, por ordem do Otelo [Saraiva de Carvalho], o foram buscar a casa, no Restelo. A cena foi relatada ao PÚBLICO pelo próprio PQP: “Durante três horas insistiram que eu estava a esconder as armas para fazer a contra-revolução. ” A tese acentua-se quando “entraram na garagem e viram uns pneus próprios de ralis, parecidos com os usados pela Jeep, e me perguntaram: ‘Onde estão os ‘Jeeps’ da contra-revolução?’”. Explicou-lhes: “Eu e o meu irmão participamos em ralis. E identifiquei-me como o “Pêquêpê”. E bastou para o clima se desanuviar e “os cabos tornaram-se uns tipos porreiros, eh pá Pêquêpê. . . e já não revistaram mais nada. ” E PQP partiu para o Brasil, onde esteve durante um curto período. Muitos amigos continuaram a tratá-lo por “pêquêpê”. Um deles é Pedro Roriz que o conheceu com 10 anos no Colégio Militar, “de onde ele saiu a meio e eu continuei, para nos reencontramos depois, ele como piloto de automóveis e eu como jornalista”. “Ele preocupava-se mais com a velocidade e chegou mesmo a ser campeão nacional de velocidade em 87 e em 88. O Pedro fazia testes com o objectivo de tornar os carros mais competitivos”. “Competia no rali das camélias, em Sintra, à porta da sua casa, e no rali de Portugal (antigo Rali Internacional TAP), o mais importante”, nomeia Roriz, que, em 1984, é desafiado pelo empresário, já na época a trabalhar no grupo, a ser “o seu co-piloto no Rali de Portugal”. E “no terceiro dia da competição, quando vínhamos da Póvoa para Viseu, e estávamos a discutir o primeiro lugar dos portugueses com o Jorge Ortigão, voámos”. Ou seja, explicou Roriz, “saímos literalmente da estrada, que de um lado tinha barreiras e do outro a montanha, e a primeira vez que tocámos no chão foi 30 metros abaixo da estrada: o carro deu três cambalhotas e ficamos de patas para o ar. ”Um episódio ficou na memória dos dois: “Como não havia comunicações rápidas, o Guarda Nacional Republicano pegou no rádio e disse: ‘Atenção, atenção, despiste do carro número 26. Os dois membros da equipa estão completamente mortos’. A informação gerou pânico no Estoril Sol, na altura o centro nevrálgico do Rali de Portugal, que solicitou informações. A ver que os espectadores tinham colocado o automóvel direito, e que os dois passageiros estavam cá fora, “o GNR pegou no rádio e disse: ‘Atenção, atenção. Os dois membros da equipa estão completamente vivos. ’”PQP e Roriz constataram que a preocupação do GNR era dizer que estavam "completamente" vivos. Mas ambos com ferimentos. O desenlace serviu de aviso a “Pêquêpê”, pois foi o último Rali de Portugal em que participou. A velocidade atrai quem gosta de correr riscos. E correr riscos faz parte da vida de um empresário como PQP: “Nunca pus em risco os activos do grupo, o que seria extremamente arriscado era não ter feito nada. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Dali para cá PQP tornou-se o industrial do país com maior relevância. Desenvolveu o grupo que o pai deixou aos três filhos (mas que as irmãs venderam) “sem pedir um único euro aos accionistas, nunca houve um aumento de capital. Fiz tudo com o pelo do cão [e dívida], com o que sobrou do 25 de Abril. ”O Expresso refere que, em conjunto com a sua mãe, PQP era dono de uma fortuna avaliada em 779 milhões de euros, o que fazia dele o sétimo mais rico do país. Foi um grande empresário, deixou o maior grupo industrial do país. Mas até foi mais do que isso. Foi o primeiro a perceber que o seu então amigo, e sócio no Grupo Espírito Santo, Ricardo Salgado, tinha um padrão de actuação que não correspondia ao que todos imaginavam: era um banqueiro que fugia a dizer a verdade e recorria a métodos que hoje o Ministério Público suspeita de terem servido para burlar o banco, branquear capitais, fugir ao fisco, e corromper governantes.
REFERÊNCIAS:
Brooklyn, o bairro onde vivem pessoas reais
Não é a segunda Manhattan. Brooklyn é Brooklyn, com vida própria, um skyline recém-semeado, uma marginal resplandescente, street art com entranhas e vizinhos que se cumprimentam no alpendre. Do lado de cá do rio, neste oásis que parece um bairro gigante, o passo abranda e o sotaque torna-se mais espesso. (...)

Brooklyn, o bairro onde vivem pessoas reais
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.168
DATA: 2018-08-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não é a segunda Manhattan. Brooklyn é Brooklyn, com vida própria, um skyline recém-semeado, uma marginal resplandescente, street art com entranhas e vizinhos que se cumprimentam no alpendre. Do lado de cá do rio, neste oásis que parece um bairro gigante, o passo abranda e o sotaque torna-se mais espesso.
TEXTO: “Não interessa de onde és, estamos contentes por seres nosso vizinho. ” Escrita em três línguas (espanhol, inglês e árabe), a mensagem está afixada à porta daquela que será a nossa casa durante os próximos dias, “a primeira casa de contentores de navio de Nova Iorque”, anuncia o Airbnb. Não há um welcome literal, mas há um letreiro “Trump is a poopy head” e um babygrow com a inscrição “families belong together” pendurado como um espantalho num dos muitos canteiros que povoam a rua Keap. Mal chegamos e já nos sentimos à vontade com David, um nova-iorquino com raízes em Lower East Side e que há cerca de 20 anos trocou Manhattan por Brooklyn — porque o lado de cá passou a ser mais viável do que o lado de lá. “Há meio século que não havia nada nesta parcela”, explicaria mais tarde o nosso anfitrião, uma espécie de capitão Nemo, crítico relativamente ao rumo dos acontecimentos, preocupado com aqueles que considera oprimidos, sentado com o seu cão gigante Mormon (já foi Norman, mas um amigo da casa não queria ter o mesmo nome que o cão) ao comando do seu “submarino”, uma estrutura composta por seis contentores de navio encaixados em três andares que também representa a evolução de Nova Iorque nas últimas décadas e os movimentos migratórios dentro dos seus limites. “A minha falecida esposa era professora de Arquitectura e sempre quis fazer um projecto de um edifício que fosse barato e sustentável. Há arquitectos que sonham em construir um edifício rococó, uma mansão ou um arranha-céus. Ela queria uma casa de futuro para as pessoas. É isto que a casa é. ” Aqui não há “soldagens chiques” ou uma “construção extraordinária”. “A casa foi desenhada para ser replicável e os sistemas estão à vista para a estrutura ser usada como uma ferramenta de ensino. Há muitas escolas que nos visitam”, explica David, que aprendeu a ser empreiteiro por força de anos e anos de squatter (ocupa) no lado de lá. Aprendeu carpintaria, aprendeu a ser electricista, criou jardins comunitários em Lower East Side com os amigos e evoluiu para “um, dois, três, quatro. . . seis edifícios”. “Percebi que se conseguia ocupar terra também podia tomar edifícios. Ninguém parecia estar a prestar atenção. Depois vivemos uma pequena revolução e fomos expulsos pela polícia, armada de tanques. ”A evacuação foi inevitável. Numa página de Williamsburg Shorts, livro de ilustração de Lucio Zago (com fotos de Anders Goldfarb), as pessoas fogem em debandada perseguidos por robots da Guerra dos Mundos de H. G. Wells. “Nos anos 90 a ambição desmedida dos políticos fez da vida dos artistas de East Village um inferno. ” Nas páginas seguintes, como no Livro do Êxodo, apartam-se as águas do East River. “Os nossos pais pensaram reconstruir as suas vidas, ou criar novas, e descobriram um oásis de oportunidades do outro lado do rio, cheio de armazéns vazios e de rendas baratas. ”Lucio é um exemplo perfeito. Viveu 23 anos na agitada intersecção Grand/Lorimer e assistiu à transformação de uma comunidade da classe trabalhadora para uma das vizinhanças mais na moda do mundo — mudou-se recentemente para um apartamento seis quarteirões a sul por estar a ser perseguido pelos arranha-céus e pela especulação imobiliária que também cruzaram o rio. “De minha casa via o skyline de Manhattan e aos poucos passei a ter vista para as traseiras do skyline de Williamsburg”, confessa o ilustrador, para quem Williamsburg chegou a ser uma zona industrial e desolada. Hoje é uma marginal resplandescente, cheia de arranha-céus de vidro, de condomínios fechados, de galerias e estúdios da moda, de paredes imensas grafitadas por encomenda (de marcas multinacionais) e de hotéis com fila a meio da tarde para tomar um drink no terraço com vista para a ilha de Manhattan (William Vale é um deles). A 11 de Maio de 2005, a cidade de Nova Iorque aprovou (49 votos a favor, um contra) o plano de renovação da beira-mar Greenpoint-Williamsburg que abrangia 175 novos quarteirões ao longo de 350 hectares. Brooklyn estava de portas abertas. “Os táxis amarelos fugiam de Brooklyn como o diabo da cruz”, desenha Lucio. Vagaroso, Joey, vizinho de David, fala de uma “segunda Manhattan” onde “já não há tiros e gangues como nos anos 1980”. “A segurança mudou. Se os judeus vão é porque é seguro”, diz. Os judeus ultra-ortodoxos estabeleceram-se a sul da linha de comboio, no enfiamento da também ciclável Ponte de Williamsburg, os hipsters ficaram com a zona a norte da avenida Broadway — amor à primeira vista —, mais os porto-riquenhos, os italianos, os dominicanos e todos que chamam casa a Williamsburg. Morar em Brooklyn, resume Joey, “é conveniente”. “Essa é a chave”. Ainda é. Para David, a cena repete-se. “Nova Iorque”, recorda, “só se desenvolveu quando recebeu os carris”. “Em Brooklyn há bairros que vão desenvolver-se lentamente porque não têm acesso a transportes públicos. Os que se desenvolvem primeiro, e que são mais caros, têm transportes públicos. ” Essa espécie de inflação de proximidade parece só não afectar a Broadway, avenida de ferro “vacinada” pelo barulho do comboio que a “sobrevoa” ao longo de quase sete quilómetros. “Essa avenida está cheia de vida porque se poupa muito dinheiro quando escolhemos viver em sítios barulhentos, da mesma forma que é mais barato viver perto do aeroporto. ” A mudança, sustenta Emma, durante um copo no Norman, restaurante do espaço A/D/O, “está a acontecer num abrir e fechar de olhos, estação de metro em estação de metro”. “Não acontece no Harlem, que faz parte de Manhattan”, completa a directora geral da Pulse, a trabalhar com hubs criativos na zona de Williamsburg. “Ninguém vive aqui por acaso. As pessoas estão aqui porque querem fazer algo especial. E querem ser os melhores no que fazem. Há duas formas de visitar Brooklyn. Explorar Manhattan e dar um pulinho a Brooklyn — porque até tem as melhores vistas sobre Manhattan — ou ficar em Brooklyn, explorar o seu miolo e, se houver tempo, ver as atracções de Manhattan. A primeira fórmula inclui obrigatoriamente a concorrida travessia da ponte de Manhattan e um passeio prolongado pelo DUMBO (Down Under Manhattan Bridge Overpass) e a sua prazerosa promenade, uma antiga área fabril hoje repleta de jardins em socalcos, galerias de arte e apartamentos de luxo com vista de luxo, silêncio e tranquilidade (algo que em Manhattan custa ouro) e com transportes à mão de semear para chegar à ilha principal em 15 minutos. Os cinéfilos (e os instagramers) encontrarão por aqui, mais precisamente na rua Washington, de frente para a Ponte de Manhattan, a foto de capa de Era Uma Vez na América, último filme realizado por Sergio Leone (protagonizado por Robert De Niro “Noodles”) e que conta a história de um grupo de amigos de ascendência judaica que crescem entre gangues nas ruas de Lower East Side. A caminhar bem, Williamsburg fica a uma hora de distância. O sábado pode ser o dia perfeito para começar a descobrir os vícios de Brooklyn, para tentar perceber a ordem das peças. Sabbath e trajes a rigor do lado sul da Broadway (fotos não recomendáveis), enquanto a norte, na zona de acção dos criativos da cidade, as mil e uma receitas do mercado Smorgasburg, as tendências entre as avenidas Bedford e Manhattan e talvez um bom brunch antes do merecido descanso num dos dois parques das imediações (o East River ou o McCarren, onde o basebol amador é rei). O segundo plano de ataque diz-nos que Brooklyn é feito de bairros residenciais, onde vivem pessoas reais. Não que não vivam pessoas reais em Manhattan, mas mal atravessamos o rio para o lado de cá sentimos que o dresscode se torna mais casual, que o passo abranda, que o sotaque se torna mais espesso, o céu mais alto e espaçoso. Deste lado, o boom está a acontecer precisamente pela ligação umbilical de Brooklyn com Manhattan. Mas o encanto de Brooklyn é o facto de ter uma atmosfera relaxada, ligeiramente provinciana, seguramente e sempre multicultural. Sugestão: sair de casa e perguntar à primeira pessoa do bairro — pode ser ao vagaroso Joey, cão ao colo — que caminho seguir. Ir a pé. Só assim teremos acesso às pessoas reais e às pistas que elas nos deixam, como migalhas num conto infantil. O miolo de Brooklyn, de Greenpoint a East Williamsburg, de Newtown Creek a Bushwick (também já encontrámos migalhas em Ridgewood), está cheio de pequenos grandes projectos que vamos querer espreitar (tropeçámos logo no café japonês Brooklyn Ball Factory, na avenida Montrose, 95), de arte de rua pura que se confunde com a vida dura das ruas (ainda sem as mil e uma visitas guiadas dos locais mais turísticos), de carros clássicos escondidos com os pára-choques de fora, de pequenos gavetos que aos poucos se transformaram em hortas e jardins comunitários (são como “salas de ensaio para a democracia”, avisa-nos David; “as crianças aprendem o que é uma reunião, aprendem a conversar, a discutir temas e a falar cada um na sua vez”), de vias terrestres parcialmente cobertas por vias férreas onde os carros ligam os médios a meio da tarde. Tudo envolvido numa espécie de banda sonora, uma vibrante mistura entre a cadência dos comboios que nos “sobrevoam” (“stand clear of the closing door, please”), os carros de janela aberta a debitarem hip-hop e as biclas artilhadas de modernas colunas de som — com a mesma potência dos tradicionais boombox ou ghettoblaster. No número 168 da Avenida Johnson, Troy (natural da Califórnia, a viver em Brooklyn há 20 anos), um dos fundadores da Human Head Records, recorda um ambiente pesado. “Muita droga, muito crime, muita festa também, nada de polícia”, descreve sentado ao lado de um gira-discos e da pacata Penny, uma galga habituada a ouvir os milhares de discos que circulam pelas caixas e arquivos da loja (inclusive discursos de Martin Luther King a cinco dólares). A um quarteirão de distância, no Cup, ao lado da estação de metro Montrose Avenue, John (Colorado) serve-nos um café expresso brasileiro de torra local (Plowshares), “Há dez anos era perigoso. A coolness começou junto à água e alastrou”, recorda, antes de apontar no mapa um alfarrabista indispensável (outro é o Book Thug Nation). “O estranho é que há dez anos Williamsburg orgulhava-se de não ter cadeias internacionais, apenas lojas independentes”, sublinha Josh, atrás do balcão da atafulhada Human Relations (no número 1067 da Avenida Flushing está o letreiro em português “vende e compra livros em espanhol, francês, português e tudo mais. . . ”). “Esse sonho foi abandonado. Não se pode controlar. Só em Brooklyn vivem 3, 5 milhões de pessoas. A mudança é inevitável. Vivemos num limbo em que, por exemplo, as marcas se apropriam da street art. Nas últimas dez décadas, as pessoas iam presas por isso. ” Do lado de cá, ainda há quem ocupe e se instale. Sinta-se em casa. “Este lote estava desocupado nos anos 1990”, explica Dave (Seattle), dono da peculiar Better Read Than Dead, livraria instalada num dos quatro contentores marítimos encaixados num beco sem saída que albergam onze projectos independentes (tatuadores, velharias, pintores de letreiros e outros artigos e serviços mais ou menos punk) em plena Broadway (867). “Não havia nada em Brooklyn”, exagera Montse, arquitecta espanhola há dois anos a trabalhar em Manhattan. “Tinha medo. As pessoas caminhavam depressa. ” Hoje, cada pessoa com que falamos aponta uma área no mapa distorcido da dinâmica e mutável Brooklyn — ela aponta a zona residencial de Park Slope e, já agora, os sinais da gentrificação de Red Hook (Onde raio fica Red Hook? O centro cultural Pioneer Works responde), zona onde aterrou um IKEA e onde é possível chegar num belo passeio de ferry, que triangula com o DUMBO e Wall Street. Quando o calor apertar, procure-se uma boca de incêndio violada (sim, essa cena de filme existe bairro sim, bairro não). Quando as pernas começarem a ceder, teremos sempre jazz no LunÀtico (rua Halsey, 486; consumo obrigatório). Quando acharmos que há demasiado lixo à nossa volta para ser verdade, lembremo-nos das palavras e acções do nosso anfitrião, que sempre que vai passear o gigante Mormon leva um saco a tiracolo que enche de coisas para deixar numa mesinha no alpendre para os vizinhos se servirem (“No nosso bairro mantemos as coisas limpas e plantamos coisas. Acreditamos que a beleza pode empurrar a sujidade. É contagioso. As pessoas preocupam-se porque percebem que alguém se preocupa. ”) Quando perdermos o rasto das migalhas, reencontre-se a Broadway — a do lado de cá, a genuína, provavelmente a avenida mais cheia de vida do mundo. Vamos a Manhattan? Hoje não. Fica para outro dia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Café
REFERÊNCIAS:
Franchise, capítulo segundo
O que começou como uma “prequela” aos livros de Harry Potter começa a acusar o peso de ter de ser uma série de filmes a corpo inteiro. (...)

Franchise, capítulo segundo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-28 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181128200822/https://www.publico.pt/1850784
SUMÁRIO: O que começou como uma “prequela” aos livros de Harry Potter começa a acusar o peso de ter de ser uma série de filmes a corpo inteiro.
TEXTO: Não era surpresa que, embora tivesse dado por terminadas as aventuras de Harry Potter, , J. K. Rowling não tinha fechado por completo a porta de regresso ao seu universo mágico. E já aquando da estreia de Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los (2016) era sabido que a sua intenção era desenvolver uma nova série de “prequelas”, feitas directamente para o cinema, à volta de Newt Scamander, o autor do manual de animais mágicos que é leitura obrigatória em Hogwarts. Os Crimes de Grindelwald é o segundo dos cinco filmes previstos para esta nova série, mantendo toda a mesma equipa técnica e criativa dos filmes anteriores — a começar pelo realizador britânico David Yates (que parece ter encontrado emprego vitalício a traduzir em imagens a escrita de Rowling). Aqui, na Paris de 1927, o que se joga é a captura do feiticeiro Gellert Grindelwald, fugido à justiça e desafiando as leis do mundo mágico para impor um regime ditatorial de feiticeiros de “puro sangue”. E a chave desse domínio reside no jovem órfão Credence Barebone, que parece deter a chave que lhe permita assumir o domínio sobre os mundos paralelos dos humanos e dos feiticeiros. Realização: David Yates Actor(es): Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Jude Law, Johnny Depp, Zoë Kravitz, Callum TurnerConhecendo como conhecemos as múltiplas tomadas de posição pública da escritora, Rowling está a falar dos populismos e das demagogias dos nossos tempos: o seu Grindelwald é interpretado por Johnny Depp como um cruzamento entre o Bowie da fase Scary Monsters e um Hitler albino que sublinha a atracção maléfica da personagem. Mas o “número” tradicional de Depp a esconder-se por trás da máscara já não funciona como antes (sobretudo quando o actor está em piloto automático como vedeta convidada), e Os Crimes de Grindelwald é menos lúdico e divertido que Monstros Fantásticos, apesar de uma ou outra cena inspirada. A partir do momento em que se torna evidente que o novo filme não é mais do que um episódio de uma aventura maior e que (ao contrário do anterior) não funciona independentemente dos outros, o interesse dissipa-se e voltamos à adaptação puramente ilustrativa, perdendo a frescura que sentimos há dois anos. Talvez mudemos de opinião uma vez o ciclo fechado, mas a sensação é que para já este segundo capítulo é mais do mesmo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos
Jean-Paul Rappeneau: “Como é possível não amar os actores?”
O realizador francês trabalhou com Adjani, Binoche, Deneuve, Belmondo, Montand. E Depardieu, que dirigiu em Cyrano de Bergerac, agora de novo nas salas. Esteve em Lisboa, a convite da Festa do Cinema Francês, e falou ao PÚBLICO de uma carreira iluminada pelas grandes actrizes. (...)

Jean-Paul Rappeneau: “Como é possível não amar os actores?”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-10-13 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181013140819/http://publico.pt/1846496
SUMÁRIO: O realizador francês trabalhou com Adjani, Binoche, Deneuve, Belmondo, Montand. E Depardieu, que dirigiu em Cyrano de Bergerac, agora de novo nas salas. Esteve em Lisboa, a convite da Festa do Cinema Francês, e falou ao PÚBLICO de uma carreira iluminada pelas grandes actrizes.
TEXTO: Jean-Paul Rappeneau passou a sua carreira no cinema francês a pôr em destaque algumas das maiores vedetas do Hexágono: Catherine Deneuve, Isabelle Adjani, Juliette Binoche, Gérard Depardieu, Jean-Paul Belmondo, Yves Montand. O pormenor é que, entre 1965, ano da sua estreia na longa-metragem com Escândalo no Castelo, e este fim-de-semana de Outubro de 2018 em que visita Lisboa a convite da Festa do Cinema Francês da qual é o “padrinho” desta edição, Rappeneau, hoje com 86 anos de idade, assinou apenas oito longas-metragens. O que torna essa raridade invulgar é o êxito da maior parte delas; à cabeça, está Cyrano de Bergerac, a sua adaptação de 1990 da peça clássica de Edmond Rostand, nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro e de melhor actor (Gérard Depardieu, premiado em Cannes), que fez a abertura da Festa e está de regresso ao circuito comercial em versão restaurada. O autor de êxitos como Cyrano, Os Noivos da Revolução (1971, com Jean-Paul Belmondo e Marlène Jobert) ou O Meu Irresistível Selvagem (1975, com Catherine Deneuve e Yves Montand) não deveria precisar de esperar anos entre filmes. “Pois não!” ri-se Rappeneau num hotel lisboeta. “Sou uma jóia rara!”, continua. “Não tenho realmente resposta para isso. Nunca senti a necessidade de fazer filmes uns atrás dos outros, e quando termino um filme não tenho projectos na gaveta, não sei o que vou fazer a seguir. Há sempre um período em que ando à procura, leio livros, falam-me disto ou daquilo, e isso leva tempo. E também há casos em que levo tempo a desenvolver projectos que depois, por esta ou aquela razão, acabam por não avançar. ” Cita um projecto ambientado no mundo da diplomacia, com o título Negócios Estrangeiros, que chegou inclusive a iniciar construção de cenários e repérages em exteriores antes do produtor acabar por “atirar a toalha” e cancelar o projecto. “São coisas que acontecem. Ter uma carreira é fazer uma estranha dança com o tempo. . . ”A carreira de Rappeneau arrancou muito longe dos filmes clássicos de prestígio com que o identificamos (como Cyrano ou o posterior O Hussardo no Telhado, 1995, com Juliette Binoche). O realizador foi contemporâneo da Nouvelle Vague, trabalhando como assistente e argumentista de Louis Malle, em Zazie no Metro (1960) e Vida Privada (1962), ao mesmo tempo que escrevia para Alain Cavalier (O Duelo na Ilha, 1962) ou Philippe de Broca (O Homem do Rio, 1963, com Belmondo). A atenção ao argumento é uma das suas marcas registadas — “mas atenção, sou um realizador que escreve e não um argumentista que realiza, ” diz Rappeneau ao PÚBLICO. “Como muita gente da minha idade, era um rapazinho que lia muito, rato de biblioteca, e não ligava muito ao cinema. Descobri-o muito mais tarde, mas mesmo quando percebi que era cinema que eu queria fazer, as coisas começam sempre com papel e lápis, mesmo para fazer um storyboard. Talvez seja algo que venha da minha infância, do meu desejo de também poder um dia contar histórias. ”Curiosamente, os seus filmes mais conhecidos não são argumentos originais – Cyrano baseia-se na peça do século XIX de Edmond Rostand; O Hussardo no Telhado é um romance clássico de Jean Giono; Boa Viagem (2003), ambientado durante a invasão alemã da França durante a Segunda Guerra Mundial, foi criado com o romancista Patrick Modiano, vencedor do Nobel. “No princípio da minha carreira, ” confessa entre risos Rappeneau, “achava que era preciso ser eu a escrever, o autor na sua torre de marfim, um deus no centro do filme! Com a idade tornei-me muito menos teórico. Mas é verdade que nunca teria pensado em filmar Cyrano se não tivesse recebido um convite dos produtores. ”A origem desse filme, aliás, é digna de ser contada — coisa que Rappeneau faz com verve e graça. “Quando me propuseram Cyrano, eu estava a escrever um filme para Isabelle Adjani, e o meu agente telefonou-me a dizer para parar tudo, 'querem que faças o Cyrano de Bergerac'. 'O quê, a peça?' 'Sim!' 'Mas para a televisão?' 'Não, não, um filme. ' Torci o nariz. Tinha uma imagem de qualquer coisa antiga, poeirenta, não me apetecia muito pegar nisso. 'Mas também querem saber, se aceitasses, quem escolherias para o papel, com quem quererias fazer o filme. Precisamos de responder hoje. '” E o filme que é ainda hoje o título mais conhecido da carreira de Rappeneau resolveu-se, como ele diz, “num dia, depois do telefone tocar às dez de manhã”. Foi o realizador quem sugeriu o nome de Gérard Depardieu para o papel do fidalgo gascão, poeta, boémio e soldado de grande nariz. “Creio que os produtores estavam a pensar em Belmondo, mas nessa altura eu tinha vontade de trabalhar com Depardieu e a imagem apareceu-me como quem não quer a coisa. Alguém de muito forte e ao mesmo tempo muito frágil, com uma alma de criança. E havia muito de Depardieu em Cyrano. ”Cyrano é também um caso à parte na carreira de Rappeneau, que diz começar sempre um filme pensando na personagem feminina. “É preciso que uma mulher ilumine um projecto, é sempre pela mulher que começo. ” O que lhe criou algumas dificuldades quando trabalhou pela primeira vez com Yves Montand em O Meu Irresistível Selvagem, em 1975: “Ele era muito amigo da Deneuve, com quem contracenava, mas nunca tinha trabalhado comigo e estava convencido que eu estava a fazer o filme para ela e que ele estava só a fazer figura de corpo presente, e passou o tempo às turras comigo. Mudou de opinião depois de ver o filme, onde aliás ia muito bem. Telefonou-me depois da estreia a dizer 'Agora quero a vingança! Fazemos outro filme, serei um violoncelo entre os teus dedos, e vou deixar-te em paz. '”Esse filme foi A Vida é uma Festa (1982), onde Montand contracenava com Isabelle Adjani, com quem Rappeneau voltaria a filmar em Boa Viagem, ao lado de Gérard Depardieu… Se os actores se repetem nos seus filmes não é por acaso; é porque “se sentem amados, ” diz o realizador. “É uma história de amor, e aliás não sei como é possível não amar os actores. Vocês vão ter aqui em Lisboa uma retrospectiva do Henri-Georges Clouzot, que era uma figura odiosa, que filmou com a mais bela mulher do mundo que era a Brigitte Bardot e lhe deu um dia um estalo e gritou 'Cala-te!' Eu sou exactamente o contrário. Dizia-se que o Jean Renoir tirava o chapéu antes de arrancar uma cena por respeito aos actores, que são quem traz a vida ao filme. A mim já me aconteceu atravessar o décor depois de uma cena para ir abraçar e beijar os actores. Como se fossem uma dádiva do céu. E eles sentem isso. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A modéstia de Jean-Paul Rappeneau só pode vir de um cavalheiro francês à antiga, que confessa ter saudades dessa geração de estrelas. “É verdade, fazem falta actores como esses. Ainda os há — a Juliette Binoche no Hussardo no Telhado, por exemplo, onde me deixou siderado, emocionado, em lágrimas. Mas estou agora a preparar um filme que tem uma personagem feminina forte, jovem, olho à minha volta e não vejo quem poderia interpretá-la. Continuo atentamente à procura”, sorri cúmplice. Cyrano de Bergerac, apresentado em versão restaurada na abertura da Festa do Cinema Francês, está em exibição no circuito comercial. A Festa do Cinema Francês dedica ainda um pequeno ciclo às obras de Jean-Paul Rappeneau, com a exibição no cinema São Jorge, sempre às 19h00, de Boa Viagem (este domingo, dia 7) e Que Famílias! (segunda-feira, dia 8)
REFERÊNCIAS:
Uma exposição sobre incêndios e a inclusão que nasce das cinzas
Crianças e jovens com autismo visitaram exposição sobre os incêndios de Outubro de 2017 e o ano que se seguiu. A partir de Dever de Memória, pegaram numa câmara polaróide e fizeram-se fotógrafos por umas horas. Se um olhar salva do esquecimento, a fotografia pode ser uma arma de inclusão (...)

Uma exposição sobre incêndios e a inclusão que nasce das cinzas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Crianças e jovens com autismo visitaram exposição sobre os incêndios de Outubro de 2017 e o ano que se seguiu. A partir de Dever de Memória, pegaram numa câmara polaróide e fizeram-se fotógrafos por umas horas. Se um olhar salva do esquecimento, a fotografia pode ser uma arma de inclusão
TEXTO: Quando Ana Carolina observa as fotografias expostas nas paredes brancas da Quinta da Cruz, em Viseu, parece saber que um olhar pode salvar o mundo do esquecimento. Demora-se na contemplação. Comenta. Entristece ou entusiasma-se. Nunca fica indiferente. “Isto é um bocadinho triste”, diz: “Parece que as pessoas perderam tudo e agora só lhes resta acreditar numa Santa. ” A fotografia à frente dela mostra um altar, a Nossa Senhora, velas, flores. E um céu ainda avermelhado, de luto por uma noite que o lugar de Ventosa, em Vouzela, não esquecerá. Foi Adriano Miranda quem captou a cena, na manhã de 16 de Outubro de 2017, quando os incêndios acesos na noite anterior anunciavam ao país que a tragédia de Pedrógão não era ainda o fim do poço. O pior dia do ano, o pesadelo maior, era agora aquele. Ana Carolina foi ver a exposição Dever de Memória com mais dez crianças e jovens da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA) de Viseu. No fim, todos pegaram numa câmara polaróide e, com a orientação dos fotojornalistas Adriano Miranda e Nuno André Ferreira, autores da exposição, foram fotógrafos por umas horas. A fotografia é uma arma – e eles já sabiam. Mal cruzam o túnel escuro que dá entrada à exposição, cortinas pretas à frente, chão coberto de folhas e a cor do fogo nas fotografias das paredes, o espanto toma conta dos visitantes. “Quase parece que estamos lá”, alguém comenta em surdina. Martim Duarte, 12 anos, já entrou naquele edifício “milhares de vezes”, mas nunca para ver uma exposição sobre os incêndios. “Quando veio o fogo”, apressa-se a contar, teve até de “andar de máscara” por causa do fumo. E o avô “perdeu tudo, até ia ficando sem o cão”. Para aquelas crianças e jovens com perturbações do espectro do autismo, dos cinco aos 27 anos, a história dos incêndios não é apenas notícia de jornais ou televisão. Um amigo, um familiar, um vizinho: quase todos têm elos directos com aqueles dias de medo e incerteza. E sabem bem das dores e vidas suspensas, mas também da esperança possível numa narrativa tomada pelo negro. “Para além de louvar o espaço e a exposição”, Delfim Domingues quis notar a oposição entre o início da mostra, onde o incêndio começa, e o fim, cerca de um ano depois. “Numa sala temos casas destruídas e vidas arruinadas, na outra temos pessoas a saltar para a piscina”, escreveu no livro da exposição que fica em Viseu até ao fim do ano e deverá, em 2019, passar pelo Porto e Lisboa. Prazeres Domingues, presidente da direcção da APPDA de Viseu, está sempre pronta para deixar as paredes da associação e levar as suas crianças e jovens para o “mundo real”. Para ela, é esse o caminho mais curto para uma integração eficaz. “Um dos dramas do autismo é a falta de compreensão da sociedade para os comportamentos” que pessoas no espectro possam ter. E, por isso, ir para a rua é um duplo ganho: a comunidade aprende a lidar com eles e eles aprendem a viver melhor na comunidade. Ana Carolina tem muito clara a forma dos seus sonhos. É ainda “muito nova”, mas já decidiu o caminho profissional a tomar: “Quando crescer quero ser pintora, fotógrafa e escritora”, responde assertiva, óculos redondos, fita azulada na cabeça: “Já estou a escrever um livro. É uma comédia surrealista e chama-se Contos Absurdos: Aqui e Acolá. ” Aos 16 anos, a estudante da Escola Secundária de Viriato faz recortes de jornais para se inspirar, adora “inventar contos sem sentido”, tem o Inglês e História como disciplinas favoritas no 11º ano. “Gosto muito de História porque imagino como seria viver noutros tempos. Eu, a lady Carolina, ao lado de um rei qualquer”, diz sorridente, semblante lírico. Na mata da Quinta da Cruz, com máquinas fotográficas polaróides, todos andam em busca da sua ideia de belo. De uma mensagem a passar. Podem ser as paredes graníticas, uma árvore-estátua feita com ferramentas, flores e frutos, o recorte das árvores no céu carregado, pormenores arquitectónicos. “Adorava ter uma máquina destas”, comenta Ana Catarina ao mostrar a sua “obra” preferida, um retrato do amigo Delfim: “Esta imagem mostra felicidade, gosto muito de ver este sorriso. ” E Delfim Domingues, que no curso de Animação Socio Cultural até teve aulas de fotografia, “a preto e branco e com rolos”, estende a sua polaróide predilecta, retrato de grupo onde a diversão está estampada: “Não tenho de dizer mais nada”, desafia sorridente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A arte é quase sempre um meio privilegiado de expressão para pessoas com autismo. Dos 167 utentes da APPDA de Viseu, só três não adquiriam a fala. Alguns não alcançam muitas competências, outros têm até uma inteligência acima da média. Uns ficam pelos primeiros anos de ensino, outros chegam à faculdade. Carolina Camilo, 27 anos, veio do Brasil há pouco tempo. Quando o incêndio de Outubro aconteceu ela estava do outro lado do oceano, viu uma ou outra notícia na televisão. Mas não imaginava isto. “Só ao chegar percebi melhor. E aqui ficou clara a gravidade da situação”, comenta. Apesar de ser aluna do curso de Artes Plásticas, o contacto com a fotografia era nulo: “Foi a primeira vez que fotografei. Gostei muito. ”Prazeres Domingues não precisava de provas, mas acabou por recolher ali mais uma. Com a inspiração dos fotojornalistas Adriano Miranda, do PÚBLICO, e Nuno André Ferreira, do Correio da Manhã e Agência Lusa, as crianças e jovens da APPDA “ganharam o bichinho da fotografia”, comenta dias depois da iniciativa que, tal como a exposição, é promovida pela Câmara Municipal de Viseu. Na associação já se pensa em promover um atelier de fotografia no próximo ano: “Isto abriu-lhes novas perspectivas. ” E para progenitores de crianças e jovens com autismo, como a própria presidente da associação, não há alegria maior do que essa: “Qualquer pai que tem um filho diferente só deseja que ele seja aceite e se integre. Nada magoa tanto como o olhar de reprovação”, assegura. E se um olhar pode salvar do esquecimento, a fotografia pode também ser uma arma pela inclusão. Benedita, Ana Carolina, Filipe Domingues, Martim, Ricardo, Vera, Filipe Costa, Carolina, Delfim, João e Ana Catarina fazem uma roda. Cada um vai escolher a sua imagem favorita, para aparecer nas páginas do jornal. As restantes levarão para casa. Ou, juntando todas, pensam, talvez possam construir um álbum daquele momento. A exposição Dever de Memória, que deu também origem a um livro, “tocou ao coração” de Ana Carolina: “Tenho tios que perderam casas e depois disto consigo pôr-me nas sapatilhas deles. ” E na imagem eleita por Carolina Camilo há uma dupla leitura onde cabe a alma da mostra. “Há vegetação seca e outra verde”, descreve, "é o que foi destruído e o que já ficou bem. ” Lição mais do que apreendida.
REFERÊNCIAS:
“Fileira da gastronomia” vale 20% do PIB
“Do ponto de vista social e cultural, a gastronomia é um factor essencial para o país”, diz o ex-ministro Poiares Maduro. “Do ponto de vista económico falta potenciar as sinergias" entre vários sectores. (...)

“Fileira da gastronomia” vale 20% do PIB
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20180621174349/https://www.publico.pt/1769844
SUMÁRIO: “Do ponto de vista social e cultural, a gastronomia é um factor essencial para o país”, diz o ex-ministro Poiares Maduro. “Do ponto de vista económico falta potenciar as sinergias" entre vários sectores.
TEXTO: Quando estava no Governo de Pedro Passos Coelho como ministro do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro teve curiosidade de saber qual o valor económico daquilo a que chama a “fileira da gastronomia”. Um estudo sobre o assunto, encomendado pelo seu ministério, concluiu que, se somarmos as várias actividades com ligações à gastronomia (da agricultura à cerâmica), estas representam “mais de 20% do PIB”. Poiares Maduro foi uma das pessoas que Ana Músico, organizadora do festival Sangue na Guelra, ouviu atentamente no seu esforço para ajudar um grupo de chefs a organizar ideias para um manifesto sobre a cozinha portuguesa. E nessas conversas o antigo ministro defendeu a sua ideia. “Do ponto de vista económico falta potenciar as sinergias entre estes vários sectores”, explica Poiares Maduro ao PÚBLICO. “Estamos a falar de áreas de actividade que muitas vezes não estão relacionadas e por isso não se potencial o valor acrescentado que daí pode resultar. ”Conta que durante a sua passagem pelo Governo tentou explorar algumas dessas sinergias, aproximando, por exemplo, os chefs portugueses dos produtores de carne de raças autóctones ou dos artesãos que fazem peças em barro que podem valorizar a apresentação dos pratos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Além disso, continua, “do ponto de vista social e cultural, a gastronomia é um factor essencial para o país”. Sendo uma área que vem despertando um interesse cada vez maior, “pode ser simbólica para algo de que Portugal necessita muito: promover a criação e a inovação mas baseadas na tradição e na história. ”Por isso, defende, “o manifesto deve identificar muito claramente as mais-valias que quer promover, a cooperação e os efeitos de rede entre os diferentes actores, a valorização da tradição sem ter receio da inovação e da criatividade”. Lembra que outros países, como o Peru, criaram estratégias “para fazer da gastronomia o seu farol turístico e tiveram um impacto enorme”. Isso pode passar por coisas muito simples, como estabelecer que todas as embaixadas passem a usar obrigatoriamente produtos portugueses. No passado talvez fosse difícil fazer avançar uma ideia como esta – “havia quase vergonha de promover a gastronomia como actividade económica, se um governo dissesse que ia promover um plano estratégico para a valorização da nossa gastronomia, provavelmente arriscava-se a ter artigos nos jornais a dizer que ‘esses senhores querem é comer bem’”. Hoje as coisas mudaram, acredita Poiares Maduro, e o país cada vez percebe melhor a necessidade de potenciar uma área económica aproveitando os recursos endógenos. “Isso é que pode ser diferenciador”, afirma. A. P. C.
REFERÊNCIAS: