Portugal é o maior fornecedor de Cabo Verde
Vendas portuguesas representam 43,3% do total importado pelo país africano. (...)

Portugal é o maior fornecedor de Cabo Verde
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Vendas portuguesas representam 43,3% do total importado pelo país africano.
TEXTO: Portugal manteve-se como maior fornecedor de Cabo Verde e segundo destino das exportações cabo-verdianas no primeiro trimestre de 2015 em relação a idêntico período de 2014, informou esta sexta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE) de Cabo Verde. Segundo o INE, Portugal lidera entre os fornecedores de Cabo Verde, com 43, 3% do total, seguido dos Países Baixos (13, 7%), China (8, 3%) e Espanha (8, 2%). Nas exportações de Cabo Verde, Portugal, com 20, 1%, fica atrás da Espanha (70, 8%). Os dados provisórios apurados pelo INE, no inquérito ao comércio externo, indicam que, no período, o défice da balança comercial aumentou 17, 8% e a taxa de cobertura deteriorou-se em 3, 9 pontos percentuais. De acordo com os resultados, a Europa continua a ser o principal cliente de Cabo Verde, absorvendo cerca de 92, 2% do total das exportações cabo-verdianas. Entre os produtos exportados de Cabo Verde no primeiro trimestre de 2015, os peixes, crustáceos e moluscos ocupam o primeiro lugar, representando 51%, e as conservas de peixes vêm depois, com 29, 2% do total, tendo perdido cerca de 16, 6 pontos percentuais em relação ao valor registado no mesmo período do ano anterior. Estes dois produtos representaram, no período em análise, 80, 1% do total das exportações de Cabo Verde. Os dados revelaram, por outro lado, um acréscimo nas importações cabo-verdianas, nesse período, de 12, 8%, face ao mesmo período do ano anterior. Conforme o INE, o continente europeu continua a ser o principal fornecedor de Cabo Verde, com 78, 5% do montante total, contra 82, 2% do mesmo período do ano transato. As exportações deste continente para Cabo Verde, aumentaram 7, 7%, no período em análise. Registou-se, também, um aumento no montante das importações provenientes da África (164%) e da Ásia (58, 6%) e uma redução das que tiveram como origem a América (-9, 6%). Dos fornecedores, China e Marrocos registaram as maiores taxas de variação positiva (144, 9% e 160, 7% respectivamente), em comparação com o mesmo período do ano transacto. Os bens de consumo continuam a ser os mais importantes na importação, não obstante uma variação homóloga negativa do seu peso no total das importações, 2, 6 pontos percentuais.
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Palavras-chave consumo
Senado aprova o terceiro mandato de Kagame no Ruanda
Constituição de 2003 limita o Presidente a dois mandatos. Paul Kagame junta-se a outros líderes africanos relutantes em transferir o poder. (...)

Senado aprova o terceiro mandato de Kagame no Ruanda
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Constituição de 2003 limita o Presidente a dois mandatos. Paul Kagame junta-se a outros líderes africanos relutantes em transferir o poder.
TEXTO: O Senado ruandês votou por unanimidade uma alteração à Constituição que permite a Paul Kagame candidatar-se a um terceiro mandato presidencial. A decisão será votada num referendo, e, se a alteração for aprovada, Kagame, que tem 58 anos, pode ficar no poder até 2034. O Presidente está na liderança do Ruanda desde 2003. Depois de vencer as últimas presidenciais em 2010, com 93% dos votos, o fundador da Frente Patriótica Ruandesa (FPR) assumiu o segundo mandato, que termina em 2017. Com a aprovação da Constituição, explica a Reuters, e segundo a emenda que foi aprovada pelo Senado, o Presidente poderá recandidatar-se a mais dois mandatos de sete anos e, depois, a outros dois de cinco. “O processo do referendo já foi iniciado. Não o devemos adiar mais”, declarou a porta-voz do Parlamento Donatille Mukabalisa, numa conferência de imprensa esta quarta-feira. O presidente do Senado, Bernard Makuza, espera que a votação pública aprove a alteração à Constituição, mas declarou aos jornalistas que “tudo depende da vontade do Presidente”. O chefe de Estado não se pronunciou ainda sobre a decisão, mas já tinha afirmado antes estar “aberto à persuasão” para a alteração de uma Constituição que ele próprio aprovou e que limita o cargo a dois mandatos. A popularidade de Paul Kagame desde que assumiu a presidência subiu ao passo do crescimento económico e o desenvolvimento social do país nos últimos 20 anos. Um dos líderes da minoria tutsi que pôs um fim ao genocídio de 1994, Kagame é, no entanto, acusado de reprimir a liberdade política no país. “Não existe uma democracia real no Ruanda”, afirmou Carina Tertsakian, investigadora da ONG Human Rights Watch. “Os partidos de oposição não conseguem funcionar. Existem dois líderes da oposição detidos, condenados a 15 e a quatro anos de prisão, respectivamente, e membros de outros partidos que entram e saem da prisão várias vezes”. O Partido Democrático Verde, o único da oposição reconhecido oficialmente e sem lugares no Parlamento, tentou bloquear a alteração constitucional na justiça, mas o Supremo Tribunal rejeitou o pedido sob a premissa de que cabe aos cidadãos decidir. Frank Habineza, líder do partido, disse à agência Reuters que a decisão do Senado não irá impedir o PDV de se opor às alterações da Constituição: “Iremos continuar com a nossa campanha contra a alteração”. Os Estados Unidos, país cuja ajuda financeira ajudou à recuperação do Ruanda, condenaram a decisão do Senado. “Esperamos que o Presidente Kagame continue a seguir os compromissos que assumiu de promover uma nova geração de líderes no Ruanda, deixando o poder no final do seu mandato, em 2017”, disse Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado, adiantando que para já o apoio ao Governo de Kigali se irá manter. Também no Burundi o Presidente Pierre Nkurunziza anunciou a candidatura a um terceiro mandato, abrindo no país uma onda de violentos protestos que causaram já mais de 200 mortes. Na vizinha República Democrática do Congo, a alteração constitucional foi aprovada e Sassou Nguesso irá pela terceira vez candidatar-se à presidência do país no próximo ano.
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Palavras-chave tribunal prisão ajuda social minoria
Jorge Andrade, actor português, cria moeda própria em Moçambique
Moçambique, da Mala Voadora, é uma comédia iconoclasta sobre a memória do país africano, mas sobretudo sobre Portugal hoje, país de precariedade e esforço inglório, compensados com sorrisos amarelos, ironia e lantejoulas. (...)

Jorge Andrade, actor português, cria moeda própria em Moçambique
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.6
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Moçambique, da Mala Voadora, é uma comédia iconoclasta sobre a memória do país africano, mas sobretudo sobre Portugal hoje, país de precariedade e esforço inglório, compensados com sorrisos amarelos, ironia e lantejoulas.
TEXTO: Este Moçambique, escrito e dirigido por Jorge Andrade, faz no teatro português o que o projecto Batida, de Pedro Coquenão, faz na música, augurando um tempo e um espaço cada vez mais descolonizados para as artes portuguesas, no meio de tanta tralha imperialista, vestida com pele de cordeiro, que nos vai entrando casa dentro ou ocupando a cena. O projecto é politicamente carregado, mas sem que a autonomia das formas e do jogo sejam postas em causa. Pelo contrário, é na brincadeira com as convenções teatrais e narrativas que a Mala Voadora, como sempre, encontra a libertação de qualquer jugo, estético ou político. O ponto de vista explícito da narração é o do próprio Jorge Andrade, que se propõe apresentar ao público a fantasia de um país pessoal, a partir de uma memória de infância, que seria um território de aventura capitalista, e cruzando-o com factos históricos, primeiro, e com as necessidades do melodrama, por outro. Desse cruzamento sai uma comédia iconoclasta, cheio de truques teatrais para dar conta do movimento múltiplo e contraditório que se pretende capturar. Autoria:Jorge AndradeImaginando o que teria sido a sua vida se tivesse partido para África em 1984, Jorge Andrade usa a sua biografia para criar uma ficção em Moçambique que em tudo se parece com a realidade. A Mala Voadora aterra esta semana no Rivoli, no Porto, e na seguinte no Maria Matos, em Lisboa. Por Gonçalo FrotaNão vou revelar o enredo farsesco, para não estragar as várias reviravoltas da peça. No texto, é inventada uma história alternativa, ou contrafactual, de um português e um Moçambique especiais. Os episódios dessa história são postos em causa por uma trupe pós-(mas mesmo pós-)colonial, cujas nacionalidades e pronúncias desmontam qualquer racialismo. Dessas pequenas crises é feito o fio condutor do espectáculo, que avança de contradição em contradição, de cada vez negando a cena anterior, às vezes repetindo-a e levando-a por outro caminho, e termina voltando ao princípio, que é também negado, por sua vez, tal como é negado, no fim de tudo, o pressuposto fictício em que assenta o espectáculo inteiro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O labirinto de cenas aparentemente iguais umas às outras, mas ligeiramente diferentes, vai montando uma realidade própria em cena. O espelhamento — triplo ou quádruplo — entre as pessoas reais, os papéis teatrais, e os segundos ou terceiros papéis teatrais (alternativas fictícias às pessoas e aos papéis iniciais), criam uma espiral que sustenta no vazio essa mesma realidade cénica. A Mala Voadora consegue fazer ao mesmo tempo e no mesmo lugar uma mistura entre mise-en-abyme e trompe-l’oeil, o que, como se vê pela necessidade de utilização de expressões afrancesadas, só pode ser bom. Mas se o tema é a imaginação da comunidade nacional moçambicana e o debate é sobre quem faz parte dessa comunidade ou não — após séculos de exploração colonial, décadas de guerra e anos de confraternização involuntária — nada melhor do que materializar o jogo da verdade e da ilusão no palco. O apuramento da linguagem do grupo é inegável. Desde o melodrama a Pirandello, passando pelas influências britânicas, a Mala Voadora criou uma divisa própria, que não desvaloriza, porque é falsa — como todas as moedas, parecem querer dizer, e eu concordo. A peça tem um número muito discreto, quando as personagens decidem baixar o vencimento para pagar aos trabalhadores, em que uma das actrizes faz um telefonema quase às escondidas, para explicar a alguém que têm de reduzir despesas pessoais. É o equivalente do número sério da revista, mas feito para lá da cortina. Estou certo que muita gente da plateia se reconheceu nesse acto de apertar o cinto que é telefonar para o esposo ou o filho e dizer que “não vai dar”. Quem diz o familiar, diz o profissional das artes do espectáculo a quem o produtor telefona por causa do cachet, das ajudas de custo, do recibo verde ou da segurança social. O espectáculo não é apenas sobre a memória — fictícia ou não — de Moçambique, mas também, ou sobretudo, sobre a dimensão paralela dessa memória, que é o tempo actual em Portugal, feito de precariedade e esforço inglório, compensado com muito sorriso amarelo, muita ironia e muita lantejoula brilhante. Senão, vejamos: a produção desta obra singular, que resulta do esforço de dezenas de pessoas e tem a ambição de comentar os mundos de milhões delas, redundará, até ver, em cerca de uma dúzia de apresentações, pouco mais, em três cidades portuguesas. O espelho dessa frustração são os números de dança com que os actores recheiam os saltos no tempo da narrativa, usados para dar conta de reuniões com o Banco Mundial ou das negociações de paz, necessariamente fora do alcance da forma usada na peça. Enquanto as negociações prosseguem no segredo dos gabinetes, aos artistas resta dançar.
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Palavras-chave guerra filho comunidade social
Emissões da RTP África e RDP na Guiné-Bissau cortadas ao início da manhã
Só a Lusa mantém a sua actividade naquele país africano. (...)

Emissões da RTP África e RDP na Guiné-Bissau cortadas ao início da manhã
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.1
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Só a Lusa mantém a sua actividade naquele país africano.
TEXTO: O Governo da Guiné-Bissau concretizou neste sábado, ao início da manhã, o corte do sinal das emissões da RTP África e da RDP no país, disse à Lusa fonte do Ministério da Comunicação Social guineense. Outras testemunhas confirmaram não conseguir ver, nem ouvir, a RTP África e RDP, respectivamente. O ministro da Comunicação Social guineense, Vítor Pereira, anunciou sexta-feira a suspensão das actividades da RTP, da RDP na Guiné-Bissau, alegando a caducidade do acordo de cooperação no sector da comunicação social assinado entre Lisboa e Bissau. Em conferência de imprensa, Vítor Pereira informou que a partir da meia-noite deste sábado em Bissau (1h em Lisboa) ficariam suspensas todas as actividades naquele país dos três órgãos portugueses até que o governo de Lisboa abrisse negociações para a assinatura de um novo acordo. Posteriormente, o ministro da Comunicação Social anunciou que o Governo guineense recuou na decisão de suspender a actividade da Lusa, mantendo-se a decisão no caso da RTP e RDP. O Governo de Bissau alegou que não recebeu qualquer resposta ao pedido de revisão do protocolo de cooperação na área da comunicação social entre os dois países, algo que o governante português nega. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Recebemos no passado dia 7 de Junho uma proposta de revisão do protocolo na área da comunicação social”, que foi dirigida ao Ministério da Cultura português, explicou Augusto Santos Silva. “Essa proposta foi reencaminhada para a RTP, empresa pública, para que ela desse o seu parecer e, do nosso ponto de vista, os trabalhos necessários [para iniciar a renegociação] estão em curso. Ao contrário do que ouvi o senhor ministro da Comunicação Social da Guiné-Bissau dizer, o ministro da Cultura [português] respondeu à carta” da Guiné-Bissau, disse Santos Silva. O actual governo da Guiné-Bissau, de iniciativa presidencial, não tem o apoio do partido que ganhou as eleições com maioria absoluta e este impasse político tem levado vários países, entre os quais Portugal, e instituições internacionais a apelarem a um consenso.
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Palavras-chave cultura social
Timor-Leste: Os bastidores das negociações
Já poucos acreditavam que Timor conseguisse a independência. Mesmo em Portugal. Algures entre a "feitiçaria africana" de Kofi Annan, a queda de Suharto e a sabedoria da diplomacia portuguesa de propor ideias sem que parecessem suas está o segredo do sucesso desta história improvável. (...)

Timor-Leste: Os bastidores das negociações
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento -0.4
DATA: 2018-08-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Já poucos acreditavam que Timor conseguisse a independência. Mesmo em Portugal. Algures entre a "feitiçaria africana" de Kofi Annan, a queda de Suharto e a sabedoria da diplomacia portuguesa de propor ideias sem que parecessem suas está o segredo do sucesso desta história improvável.
TEXTO: Este artigo foi originalmente publicado a 18 de Maio de 2012. É agora recuperado por ocasião da morte de Kofi Annan, antigo secretário-geral que teve um papel determinante no processo timorense. Acabara mais uma ronda de negociações entre Portugal e a Indonésia e os jornalistas queriam saber quais tinham sido os progressos — se algum. E é então que Jaime Gama, sempre misterioso e sisudo, diz sobre Ali Alatas, ministro indonésio dos Negócios Estrangeiros, a mais inesperada das frases: "Alatas parecia um diplomata português a falar de Timor-Leste. Quase o cumprimentei com 'Bom dia, Sr. Gama'. "Na sala, diplomatas e jornalistas soltaram uma gargalhada. É conhecido o humor desconcertante do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português — surge quando não se espera e sem provocar a mínima alteração na sua cara. Mas estava-se a 7 de Fevereiro de 1999 e a reunião à porta fechada fora decisiva. Mais ou menos adormecida na agenda internacional até Kofi Annan tomar posse como secretário-geral das Nações Unidas em Janeiro de 1997, a "questão de Timor" manteve-se quase imutável durante 20 anos. Poucos acreditavam numa solução. Mesmo em Portugal. "O José Ramos-Horta fartava-se de pedir para ser recebido, mas ninguém queria. Fui eu o primeiro a recebê-lo, já em 1981", conta André Gonçalves Pereira, então ministro dos Negócios Estrangeiros. Sucessivos governos "deixaram os anos passar sem terem qualquer iniciativa", diz a eurodeputada socialista Ana Gomes, que, como diplomata, esteve durante anos envolvida no processo. "Toda a gente achava sempre impossível, só um imbecil de um português é que podia acreditar na independência", diz o recém-reformado embaixador Fernando Neves, que liderou, com o ministro Gama, o processo negocial. Não foi uma nem duas vezes que recebeu "advertências" de diplomatas estrangeiros para não falar "outra vez de Timor". "Éramos quase ameaçados por colegas, directores-gerais de países europeus, para não levantarmos a questão de Timor em reuniões internacionais", conta. Ana Gomes arrisca um número e diz que até ao massacre de Santa Cruz, em 1991, que tanto emocionou o mundo, "80% dos diplomatas portugueses davam Timor como perdido". "[Estava-se em plena Guerra Fria e os EUA] diziam-nos clarissimamente que [o ditador indonésio] Suharto era um aliado americano e que os guerrilheiros da Fretilin eram comunistas", conta Gonçalves Pereira. O embaixador Neves lembra-se de estar em Bruxelas em 1986 quando, durante um episódio crítico relacionado com Timor, Portugal sentiu solidariedade pela primeira e única vez em anos. "Só a Grécia — e a Irlanda mais tarde — foi consistente no apoio a Timor. "E, por isso, quando Kofi Annan nomeia o embaixador paquistanês Jamsheed Marker como representante pessoal do secretário-geral para Timor-Leste, logo nos primeiros dias do seu mandato, o gesto foi interpretado como um sinal de que a ONU ia injectar ambição no assunto. Havia "muitos e óptimos dossiers na sede da ONU sobre a questão", conta Marker nas suas memórias sobre o processo negocial que começou em 1997 e culminou, dois anos depois, com o acordo que permitiu a Timor escolher, num referendo, que queria a independência. Mas ao lê-los "não era possível ter grande optimismo". A seguir à invasão de Timor pela Indonésia, em 1975, houve o corte de relações diplomáticas e comerciais entre Lisboa e Jacarta e durante anos o contacto foi inexistente. Em 1983, começou um diálogo formal, mediado pela ONU, mas sem progressos. "Havia uma grande incompreensão, as pessoas diziam que não acontecia nada, 'para que servia aquilo?'", diz Fernando Neves. "Sem perceberem que as reuniões tripartidas foram o pé que permitiu que não se fechasse a porta de Timor. " Se calhar, diz o embaixador com um sorriso irónico, "os indonésios não compreenderam que, ao aceitarem discutir na ONU, estavam a reconhecer que Timor era um problema internacional — não se discute o Minho com mediação das Nações Unidas". Mas na prática, os dois países "não se ouviam", queixou-se o bispo Ximenes Belo, quando o enviado da ONU visitou Díli pela primeira vez em 1997. Porque tinham posições diferentes, mas também porque havia "um choque entre a mentalidade oriental de "conversas nas sombras" e a mentalidade cartesiana da discussão aberta dos portugueses", escreve Marker em Timor-Leste - Relato das Negociações para a Independência (Ed. MNE/ID, 2009). "Lisboa não conhecia o seu interlocutor", confirma António Pinto da França, que foi embaixador de Portugal em Jacarta nos anos 1960. "Os diplomatas javaneses são muito subtis e sofisticados, muito ingleses. E os javaneses querem sempre resolver tudo com o tempo - tempo tidak apa, dizem eles, o tempo não importa. Não gostam de confronto e seguem o alus, a suavidade. "Uma palavra esquisita para quem estava em Nova Iorque à mesa das negociações. "Era um bocado difícil estar a negociar com os indonésios e não ter presente a crueldade do que se passava em Timor", diz Fernando Neves. Com mais ou menos alus, a verdade é que em 1997, quando Annan agarrou no dossier, Lisboa e Jacarta diziam exactamente o mesmo há 15 anos. "A Indonésia defendia que a integração de Timor-Leste era completa e final e Portugal defendia que ainda faltava um acto de autodeterminação", escreve Marker. "E nestas duas rochas de intransigência haviam soçobrado todas as negociações até então. "A 7 de Fevereiro de 1999, quando Gama elogia o velho inimigo indonésio à frente de toda a imprensa internacional, na conferência de imprensa em Nova Iorque, já estavam para trás dois anos intensos de rondas, dezenas de reuniões e viagens entre Nova Iorque, Lisboa, Jacarta e Díli, muitos pequenos avanços e ainda mais recuos, desconfiança, azedume e exaltações. Chegava-se a um desbloqueio crucial. Gama tinha boas razões para estar contente e deixar abrir a sua couraça: se os timorenses quisessem, as duas partes — timorenses e indonésios — seguiriam "caminhos separados". Três meses depois desta reunião, Lisboa e Jacarta assinavam naquela mesma sala de imprensa da sede da ONU, em Nova Iorque, o célebre Acordo de 5 de Maio que deu lugar ao referendo em Timor-Leste, cujo resultado inequívoco levou à independência do país, faz este domingo dez anos. É no seu livro de memórias que Jamsheed Marker conta os bastidores desta reunião: "Para os indonésios, era anátema utilizar a palavra 'referendo', ao passo que para os portugueses tudo o que não parecesse um referendo era nevrálgico. "Agarrado ao seu lema — "A nossa paciência dar-nos-á mais do que a nossa força" —, Marker propusera uma solução: porque não chamar "consulta popular" ao referendo que não se podia chamar referendo? Este problema semântico, que poderá parecer ridículo todos estes anos depois, demonstra a importância que a diplomacia teve para revolver o longo impasse de Timor-Leste, concordam diplomatas e políticos ouvidos pelo PÚBLICO. Mais decisivo ainda, defende Ana Gomes, foi Portugal ter feito uma proposta para uma autonomia alargada para Timor e "ter tido a habilidade de fazer crer que não tínhamos sido nós a pôr a ideia em cima da mesa". Neves conta: "Fui ter com Gama com uma folha A4 com um novo quadro de autonomia. " A Indonésia continuaria responsável pela diplomacia, defesa, moeda e finanças, e a autonomia regional teria poder legislativo, executivo e judicial, além de autonomia total cultural, incluído a educação, língua e promoção da cultura. No fim dizia que para a Indonésia autonomia implicava integração e para a comunidade internacional era um processo incompleto. Gama diz: "Isto é o tipo de coisas que a ONU gosta. "Mais tarde, quando levou a proposta a Marker e aos seus assistentes no processo, o catalão Francesc Vendrell e o eritreu Tamrat Samuel, todos disseram em coro: "Oh, isso é impossível. Os indonésios nunca vão aceitar!" À tarde, porém, Samuel pede a Neves para subir e explicar melhor a ideia. E então Neves diz: "Nenhuma destas propostas pode ser apresentada como sendo portuguesa. Tem que ser da ONU. " Todos conheciam o peso do reflexo pavloviano nas negociações. E assim foi. De tal modo, diz Ana Gomes, que mais tarde a Indonésia faz uma proposta que apresenta como "nova" mas que é quase igual à que, meses antes, Portugal apresentara. A arte de não querer ficar sempre com os louros, poder-se-ia dizer. Ou simplesmente "a arte da diplomacia", diz Neves, que "é fazer o impossível". "Nenhuma solução aparece caída do nada", diz Zacarias da Costa, actual ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor. "O referendo não foi o resultado de um longo processo negocial e não foi o resultado das mudanças do regime indonésio: foi o resultado de ambos", diz. O que nos leva ao Verão de 1997. Os EUA continuavam ambivalentes e Nelson Mandela, já livre e Presidente da África do Sul, começou a pedir publicamente a libertação de Xanana Gusmão, o líder da guerrilha timorense. Quando foi a Jacarta, Mandela pediu a Suharto para se encontrar com Xanana, mas o ditador respondeu com uma pergunta: "Porque quer falar com ele? Não passa de um criminoso comum. " Quando Mandela lhe disse: "Foi precisamente isso que disseram de mim durante 25 anos", o ditador autorizou Xanana a sair para jantar com Mandela. "Não posso atestar a veracidade desta história, mas tem um ar autêntico", diz Marker. Sabe-se, pelo menos, que o jantar aconteceu e que dele "nasceu um enorme respeito mútuo". No Natal, apareceram as "primeiras rachas na gigantesca e monolítica pirâmide financeira da Indonésia", lembra Marker. Dias depois, Suharto assinou um acordo de ajuda financeira com o FMI e a fotografia correu mundo: o velho Presidente indonésio está sentado a assinar e ao lado, de pé e com os braços cruzados, o director-geral do FMI, o francês Michel Camdessus, com um sorriso contido. Pecado mortal. Numa cultura onde salvar a face é muito valorizado, a fotografia foi uma humilhação. "Começou a inquietação", diz Marker. Logo a seguir, começaram os rumores sobre o estado de saúde do Presidente. A doença de Suharto era interpretada de forma oposta. Alatas insistia que era "agora ou nunca", pois os sucessores de Suharto, mais novos e sem conhecimento do dossier, teriam ainda mais dificuldade em aceitar a ideia de que Timor não era parte da Indonésia. Alatas chegou a dizer a Marker que, se Suharto caísse, a pasta da diplomacia seria entregue a outra pessoa. Portugal, pelo contrário, achava que a questão não se poderia resolver enquanto Suharto estivesse no poder. A 3 de Abril de 1998, quando B. J. Habibie, vice-presidente de Suharto, se encontra pela primeira vez com Kofi Annan, a Indonésia age e fala como se o regime estivesse de pedra e cal. Não foi um encontro agradável. Habibie disse ao secretário-geral da ONU que "tinha tão pouca confiança nos portugueses que nem valia a pena reunir-se com o primeiro-ministro" António Guterres, uma proposta portuguesa. Teve "várias exclamações efervescentes e surpreendentes", escreve Marker, e defendeu que a Indonésia melhorara muito a vida dos timorenses. A argumentação não era nova. Um ano antes, quando o enviado da ONU falou com Suharto, o Presidente indonésio disse-lhe que "ao fim de 400 anos de ocupação colonial, os portugueses [tinham deixado] Timor-Leste com 20km de estrada e um médico", e que "aceitar a integração" da meia ilha em 1975 fora um "fardo pesado" que obrigara a Indonésia a "sacrificar o desenvolvimento nas outras 26 províncias". Annan ouviu Habibie e falou no fim. De forma "delicada mas firme", disse-lhe que o "investimento económico em nada alterara a atmosfera política em Timor-Leste, que Jacarta não conquistara o coração e a opinião dos timorenses e que subsistia um enorme problema político". A reacção? "Habibie não ficou satisfeito, mas aceitou o comentário com elegância. "Um mês depois, o velho ditador Suharto foi forçado a demitir-se. Trinta e dois anos depois de um regime brutal, a gota de água foi a morte de seis estudantes universitários durante uma manifestação contra as medidas de austeridade impostas pelo FMI. Habibie sobe a Presidente. Em Portugal e em Timor, a pergunta é uma: a mudança ajuda ou complica as negociações diplomáticas em curso?Ana Gomes não tem dúvidas: "Sabíamos que era a nossa janela de oportunidade. " Um dos segredos do sucesso, diz Neves, foi "Portugal saber aproveitar as mudanças". A situação está cada vez mais volátil. Num desabafo, Marker diz a Kofi Annan que trabalhar na questão de Timor naquele momento "era como arear as pratas no Titanic". Annan, que "não tem "desencorajamento" no seu vocabulário", escreve o diplomata paquistanês, ri-se e responde: "Mas vamos continuar a fazê-lo. "Todos sabiam como Jacarta e Lisboa podiam passar anos a fio a discutir coisas aparentemente simples sem chegar a lado nenhum. Nas suas memórias sobre as negociações (The Pebble in the Shoe — The Diplomatic Struggle for East Timor, Ed. Aksara Karunia, 2006) Ali Alatas, que afinal manteve o seu lugar à frente da diplomacia, conta com pormenor como Portugal e a Indonésia passaram quatro anos e meio a discutir a visita de uma delegação de deputados portugueses a Timor, que nunca chegou a acontecer. Nesta nova fase, já nos anos 1990, se houve coisa que evoluiu foi o vocabulário. As posições de ambos eram imutáveis, mas iam-se encontrando novas palavras para que o diálogo continuasse. Marker, cuja escolha levantara inicialmente alguns sobrolhos em Portugal — era amigo próximo de Ali Alatas, a quem tratava por "Alex" -, rapidamente tomou partido. Basta ver como descreve os timorenses integracionistas a primeira vez que visita Díli. "O seu ar elegante, arrogante e confiante era um contraste brutal com o dos grupos pró-independência, andrajosos, esqueléticos e com expressões desesperadamente esperançadas nos olhos. "Um primeiro grande passo nas negociações foi aceitar discutir a autonomia sem decidir, a priori, se essa autonomia seria uma solução definitiva ou provisória. Em Junho de 1998, Alatas telefona a Marker e diz que tem "uma proposta importante" a fazer. Os EUA começavam a mudar, Stanley Roth, númerodois para a Ásia da diplomacia americana, tinha conhecido Xanana na prisão e dissera a Marker que lhe vira uma "atitude extremamente objectiva e de estadista". Marker, por seu lado, viu no líder guerrilheiro "uma versão mais jovem de Mandela". E veio a proposta. Habibie atirava para a mesa de negociações uma proposta de "autonomia especial, alargada" para Timor. Insistia que um referendo "viria apenas reabrir feridas antigas, reacender confrontos e conflitos" e que poderia "conduzir a uma nova guerra civil". Portugal achou o "documento útil", conta Marker. O Presidente Jorge Sampaio ficou "especialmente impressionado" e Jaime Gama disse que eram "desenvolvimentos muito, muito positivos". Havia, claro, reservas: Gama perguntou se os indonésios estariam prontos a permitir a formação de partidos políticos timorenses e Sampaio insistiu que "não faria sentido" aceitar a proposta de autonomia como solução final e continuar a negociar. Hoje, Ana Gomes ri-se: "Era a nossa proposta!"Era preciso "conceber" modalidades para uma "abordagem gradual", como, por exemplo, um período de transição, em que a questão do estatuto da autonomia ficasse em suspenso. Numa reunião pouco depois, em Jacarta, Habibie voltou a dizer à ONU que a autonomia era o "limiar máximo" e que um referendo em Timor levaria à desintegração da Indonésia. Exaltado, disse "categoricamente que não libertaria Xanana". Em dois anos, falou-se em "autonomia especial", em "autonomia alargada", em "região autónoma especial" e até numa "autonomia regional mais". Mas sempre que se dava um passo, batia-se no mesmo obstáculo: seria a autonomia de uma parte da Indonésia ou a autonomia de um "território sem governo próprio" ainda à espera de um processo de descolonização?É por isso que ainda hoje se discute o que motivou uma inversão tão radical de B. J. Habibie. A 27 de Janeiro de 1999, o novo Presidente anuncia que o conselho de ministros indonésio decidira que Timor iria receber uma "autonomia regional mais". A bomba veio na frase seguinte: "Se a maioria dos timorenses não a quiser, [o Governo vai sugerir ao Parlamento que] Timor seja libertado da Indonésia. " Em Lisboa, o embaixador Fernando Neves estava a fazer a barba quando ouviu a notícia na rádio. "Senti-me perdido. Era uma boa notícia, mas senti o tapete a fugir-me dos pés. " Os que seguiam o tema tiveram ainda mais uma surpresa: Xanana passaria a regime de prisão domiciliária. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Marker defende que o volte-face "partiu exclusivamente de Habibie", que "abraçou o projecto" e "lançou esta jangada na tumultuosa corrente de liberdade que atravessava a Indonésia", escreve o mediador da ONU. Habibie queria ganhar capital político para se reposicionar na nova Indonésia, seguiu "genuínos sentimentos de humanitarismo" ou foi simplesmente calculista, consciente de que o custo de não mudar seria maior?"Habibie é um engenheiro, uma pessoa prática", diz o chefe da diplomacia timorense, Zacarias da Costa. "Queria livrar-se de um grande peso para poder desenhar essa nova Indonésia. " E estava bem rodeado, defende. "A sua conselheira Dewi Fortuna Anwar, uma mulher especial de uma nova geração, foi decisiva na mudança. " Muitos defendem — incluindo Alatas — que a única razão que levou Habibie a aceitar a hipótese da independência foi não acreditar, nem por um segundo, que os timorenses não preferissem a integração na Indonésia. Em pouco meses, a "pequena fatia da humanidade" que há anos "pedia ajuda", nas palavras enfáticas de Marker, "espécie de florzinha de estufa", estava à beira de escolher o seu futuro. Faltava ainda um último grande duelo. O da segurança no dia do referendo, em relação ao qual a ONU e Portugal aceitaram condições insatisfatórioas correndo riscos — com o aval de Xanana. E todas as partes práticas da "consulta popular". Havia que decidir quem votava, como era o boletim e como seria feita a consulta. "E foi então que vi a mais brilhante intervenção numa ronda negocial", conta Neves. Kofi Annan está a presidir e em frente, do outro lado da mesa, Gama e Alatas. O secretário-geral pergunta como acham as partes que se deve fazer a votação. Alatas começa e, como é seu estilo, "fala 12, 14 minutos, uma imensidão, e propõe que a ONU podia ir de carro, de aldeia em aldeia, ao longo de três dias, recolher os votos dos timorenses, e continua por ali cheio de pormenores", conta Neves. Quando se cala, todos esperam que Gama pegue na palavra e exponha a ideia portuguesa. Mas nada. Gama, que está em frente a Annan, olha serenamente algures para um ponto perdido, talvez a parede, talvez o tecto. Os segundos passam, o que nestas situações parecem horas. Até que Kofi Annan diz: "Ministro Gama, não quer dizer alguma coisa?" Gama explica então a teoria geral do escrutínio — algo como "primeiro as pessoas são recenseadas, depois as pessoas votam, depois os votos são contados" — e a seguir diz que a Indonésia vai em breve ter umas eleições em todo o país num só dia. "Não vejo porque a consulta em Timor não seja feita num só dia também. " Alatas não disse mais nada.
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Partidos LIVRE
Ainda há um atleta olímpico em Francis Obikwelu?
Chegou a Portugal há 25 anos, foi vice-campeão olímpico há 15 e levou o atletismo português a sítios onde nunca tinha ido. Aos 40 anos, o velocista que nasceu na Nigéria ainda é o português mais rápido de sempre e tem-se mantido ocupado a correr provas de veteranos, mas ainda pensa em mais qualquer coisa. (...)

Ainda há um atleta olímpico em Francis Obikwelu?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chegou a Portugal há 25 anos, foi vice-campeão olímpico há 15 e levou o atletismo português a sítios onde nunca tinha ido. Aos 40 anos, o velocista que nasceu na Nigéria ainda é o português mais rápido de sempre e tem-se mantido ocupado a correr provas de veteranos, mas ainda pensa em mais qualquer coisa.
TEXTO: Será que Francis Obikwelu ainda tem pernas para correr os 100 metros em menos de dez segundos? E para voltar a correr numa edição dos Jogos Olímpicos? Aurelién Henry, o seu treinador, acredita que sim. “Ainda tem tudo no lugar”, diz este treinador/preparador físico francês sobre um homem que, há 15 anos, foi vice-campeão olímpico, a um centésimo daquele que é o actual campeão mundial.
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Palavras-chave homem
O mapa de uma barbárie segundo Peter Carey
Willie, um indígena de pele clara, serve a Peter Carey para se confrontar com a brutalidade da colonização branca na Austrália. Ele é um dos protagonistas de Longe de Casa, 14º romance do mais aclamado escritor australiano vivo, duas vezes vencedor do Booker Prize. É um livro sobre a colonização, a hegemonia do pensamento branco, o racismo, a apropriação cultural ou culpa histórica. Mas também sobre a ignorância, o amor e a violência. Foi escrito por um branco que não quis morrer sem tratar um dos assuntos fulcrais da história do seu país. (...)

O mapa de uma barbárie segundo Peter Carey
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Willie, um indígena de pele clara, serve a Peter Carey para se confrontar com a brutalidade da colonização branca na Austrália. Ele é um dos protagonistas de Longe de Casa, 14º romance do mais aclamado escritor australiano vivo, duas vezes vencedor do Booker Prize. É um livro sobre a colonização, a hegemonia do pensamento branco, o racismo, a apropriação cultural ou culpa histórica. Mas também sobre a ignorância, o amor e a violência. Foi escrito por um branco que não quis morrer sem tratar um dos assuntos fulcrais da história do seu país.
TEXTO: Quando estava a escrever Oscar e Lucinda, o romance que lhe deu o seu primeiro Man Booker Prize, Peter Carey recebeu do líder de uma comunidade aborígene australiana o pedido para não escrever sobre os povos indígenas. O argumento era o de que, apesar de todas as boas intenções, havia tantos equívocos históricos, antropológicos, científicos a circular no discurso público sobre a colonização e sobre o que era ser indígena, que levar o assunto na ficção não ajudaria nada. Isso aconteceu no início dos anos 80, o romance saiu em 1988 acabando por aludir apenas ao tema sem que ele se impusesse – ou sequer se notasse – enquanto preocupação do escritor. Quase trinta anos depois, muita coisa mudou, mas o que se alterou foi a percepção de Carey acerca da sua escrita e do seu tempo pessoal. “Uma pessoa chega a uma certa idade e pensa que pode morrer sem ter de facto escrito sobre a barbárie iniciada pelos europeus e pelo mundo cristão com o intuito de destruir a cultura indígena. Para mim, enquanto escritor australiano, seria muito triste se tal acontecesse, ignorar um dos aspectos mais marcantes da história da Austrália”, afirma ao Ípsilon. Escrever um romance sobre esse tema era uma questão moral? “Sim, claro que era uma obrigação moral”, responde, sem um indício de hesitação.
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Palavras-chave cultura comunidade
“Hoje as bases da Renamo são pessoas de meia-idade: querem oportunidades para os filhos”
Duas semanas após a morte do líder histórico, especialista em política africana faz ponto da situação: os sinais positivos, os retratos cirúrgicos e a antecipação do futuro de Moçambique segundo Alex Vines. (...)

“Hoje as bases da Renamo são pessoas de meia-idade: querem oportunidades para os filhos”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Duas semanas após a morte do líder histórico, especialista em política africana faz ponto da situação: os sinais positivos, os retratos cirúrgicos e a antecipação do futuro de Moçambique segundo Alex Vines.
TEXTO: Alex Vines, fundador e director do Programa de África da Chatham House, o prestigiado think tank britânico, conhece Moçambique desde 1984. Publicou um livro em 1991 (Renamo: terrorism in Mozambique) e integrou a equipa eleitoral da UNOMOZ, a missão da ONU que acompanhou as presidenciais de 1994, em Chibuto, província de Gaza. Vines é o tipo de analista que, a seguir à morte de Afonso Dhlakama, telefona a várias pessoas da Renamo e da Frelimo para tomar o pulso ao ambiente político. Diz que os ex-guerrilheiros continuam a ter muito poder e que a escolha de Ossufo Momade para supervisionar a transição da Renamo após a morte do líder histórico o coloca como o candidato mais forte na linha de sucessão. O que viu de relevante em Moçambique desde a morte de Dhlakama, a 3 de Maio?Foi muito importante o facto de o funeral ter tido muita dignidade. O discurso do Presidente de Moçambique e de outras pessoas no funeral; a presença de diferentes grupos da Renamo nas cerimónias; do outro partido, o MDM [Movimento Democrático de Moçambique], com Daviz Simango e José Domingos; e até Ivete Fernandes, viúva do antigo secretário-geral da Renamo [Evo Fernandes, assassinado em Lisboa em 1988]: tudo isso foi muito importante e vai ajudar a Renamo no futuro. A nomeação de Ossufo Momade como líder interino também é uma boa decisão, porque uma parte-chave da Renamo são os militares e os funcionários públicos de meia-idade. Ossufo vai conseguir gerir essa transição de forma responsável. Tive uma surpresa: a intervenção no funeral de Ivone Soares, a sobrinha de Dhlakama. Percebo que é uma das candidatas à sucessão de Dhlakama, mas nas cerimónias fúnebres soou deslocada. Avaliou mal a situação, usando-a para aumentar a sua base de apoio na corrida à liderança do partido. O que quer dizer com “má avaliação”?O Presidente Nyusi mostrou atitude de Estado e sensibilidade, dada a história difícil entre a Renamo e a Frelimo. A única nota desafinada foi Ivone Soares. A meu ver, isso significa que ela estará a sentir-se sob pressão e enfraquecida. Ela apoiava-se muito no tio. A morte de Dhlakama muda essa dinâmica. O que o impressionou tanto na intervenção de Ivone Soares?Estava muito emocionada, não usou um tom muito conciliador, tentou apelar ao apoio dos jovens da Renamo, mostrou demasiado as suas credenciais — deixando claro que era a sobrinha de Dhlakama e líder da bancada parlamentar da Renamo na Assembleia da República. Foi um discurso que surpreendeu. Em inglês dizemos raised eyebrows. E, no caso, Ivone Soares fez enrugar a testa à Frelimo, aos diplomatas e até na própria Renamo houve caras de espanto. É claro que ela estava comovida. Dhlakama é da família, não é apenas o seu líder. Isso explica uma parte. Mas também é indicativo de que a luta pela sucessão está em cima da mesa. Na Renamo, há alas que a vêem como uma mulher demasiado jovem, urbana e cosmopolita para representar o partido. Qual é a sua leitura?Tudo isso é verdade. Não me parece que um moçambicano de 40 ou 50 anos que vive em Sussundenga [Manica] ou Gorongosa [Sofala] lhe dê grande atenção. O poder de Ivone Soares decorre muito do seu tio. Ela é uma senhora de Maputo, cosmopolita e urbana. E, além disso, não tem muito autocontrolo e tem grande dificuldade em perdoar a Frelimo. É neste aspecto que ter Ossufo Momade como figura de transição — e ele pode vir a tornar-se o líder da Renamo — é uma boa escolha. Ele é mais ponderado, tem a experiência da guerra, tem o respeito dos antigos combatentes. Alguma imprensa, sobretudo da África do Sul, disse que “a Renamo de Momade” ameaçara abandonar as negociações de paz com a Frelimo, mas não é de todo verdade. Não há dúvida sobre qual é a vontade da Renamo: eles querem acordos de paz duradouros. O processo de paz vai avançar. Esse foi o último desejo de Dhlakama. Ele compreendia as pessoas do centro de Moçambique, que são as bases do partido. Sabia o que elas querem. Hoje, as bases da Renamo são pessoas de meia-idade: querem oportunidades para os filhos. Isso significa que há aqui uma possibilidade. Mas os políticos têm de agir com boa-fé. Tanto a Renamo como a Frelimo. Civil ou militar: qual é o melhor perfil para o futuro líder da Renamo?A escolha terá que ser feita pelo partido. Na Renamo nunca houve discussão democrática. Tudo girou sempre em torno do comandante Dhlakama. Vamos ver quão aberto vai ser este debate. Mas o facto é que a principal base de apoio da Renamo são os ex-guerrilheiros do centro de Moçambique. São eles que dão à Renamo o poder negocial que obriga o governo a negociar e a chegar a compromissos. Imagino que os militares vão ter um papel predominante nesta questão. A escolha de Ossufo Momade para supervisionar a transição já mostra isso. Dos três interessados ao lugar — Ivone Soares, Bissopo e Momade — ele está, naturalmente, na posição mais forte. É um antigo guerrilheiro. Bissopo é de uma geração mais nova, nunca lutou na guerra civil, que acabou em 1992. Aliás, uma das coisas incríveis da Renamo é que os “seus” jovens votam no partido, mas não querem lutar por ele. Há anos que toda a actividade militar da Renamo é feita por homens de meia-idade e são eles próprios que dizem aos jovens para se manterem afastados do conflito e concentrarem-se na sua educação. Esta é uma questão geracional. E é um sinal forte de que a Renamo quer encontrar uma solução duradoura para as questões pendentes. Parece que a eleição dos governadores [das províncias, hoje nomeados pelo Presidente da República] está resolvida: a Frelimo já concordou e só falta oficializar. Quanto aos outros temas pendentes — integração dos ex-militares nas forças de segurança nacionais e a desmobilização — há um acordo praticamente fechado. Quando Dhlakama morreu, estavam a oito semanas de o terminar. A morte de Dhlakama ajuda ou complica esse processo?A curto prazo, vai desacelerar o processo. Penso que não vão conseguir anunciar um acordo dentro das oito semanas previstas — vão estar ocupados a encontrar um novo líder. Mas a longo prazo, e se o Governo agir de boa-fé, pode significar a sobrevivência do acordo. Uma das fraquezas de Dhlakama era ser inconsistente. A sua opinião era a da última pessoa com quem tinha falado. Melhorou muito com os anos, mas a complexidade da sua personalidade pode significar que a implementação dos acordos que venham a ser feitos seja mais fácil e mais duradoura sem ele. Nesse aspecto, Momade é muito diferente. A Renamo ainda não decidiu se o novo líder será escolhido num congresso extraordinário, pelo Conselho Nacional ou por um Conselho Nacional alargado. Ainda é um partido sem regras internas claras?Sim. Os congressos da Renamo foram sempre simples exercícios de confirmação de Dhlakama. Até houve um congresso que teve de ser feito por telefone: Dhlakama estava escondido no centro, ligou para a Beira, onde os militantes estavam reunidos, e foi reconduzido por telefone. Para mim, o que é surpreendente é a Renamo — mesmo tendo Dhlakama estado várias vezes à beira de ser morto pelo Governo — nunca ter acreditado que um dia ele morreria. Estavam totalmente impreparados para a sua morte. Isto também mostra que Dhlakama era um homem muito inseguro e que nunca deu espaço para que outros emergissem — talvez a excepção tenha sido, um pouco, a sobrinha. Na Renamo, a sucessão nunca foi tema de debate. Uma das questões é saber se a Renamo tem fundos para fazer um congresso extraordinário para eleger o futuro líder. A Renamo não tem dinheiro, tem muito pouca experiência e todas as pessoas do partido com quem falei nos últimos dias estão muito traumatizadas com a morte de Dhlakama. Não há instituições, não há procedimentos. Os congressos do partido nunca foram democráticos. O paradoxo é que Dhlakama autoproclamou-se “pai da democracia de Moçambique” — e a Renamo forçou, com sucesso, a abertura do espaço político —, mas nunca houve democracia na Renamo. O primeiro congresso foi organizado pelo governo da África do Sul no tempo do apartheid. A história da Renamo está cheia de contradições. Infelizmente é para “inglês ver”, nada mais. Nesse sentido, a Frelimo, com as suas facções, sempre foi mais democrática. Desde que Dhlakama regressou à violência armada, a disciplina foi reforçada. O regresso à violência armada, em 2013, foi uma forma de reafirmar a sua autoridade. É realista a Renamo adiar a escolha do novo líder durante meses?A Renamo só vai precisar de resolver a questão da liderança no princípio de 2019. Nessa altura, precisam de um candidato para as eleições presidenciais. Para as autárquicas não é muito relevante. Provavelmente vão concorrer com Ossufo Momade e podem à mesma conseguir bons resultados, uma vez que há muitos moçambicanos decepcionados com a Frelimo. Nas últimas autárquicas, a Renamo não concorreu e o MDM ficou com os seus votos. Neste momento, uma das questões é saber se haverá uma plataforma comum da oposição. Esta “nova era” é uma possibilidade para uma democratização interna da Renamo?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os políticos profissionais da geração mais nova, como Ivone Soares e Bissopo, dizem que os militares não devem controlar a Renamo e que é necessário mais democracia. Vamos ver. Suspeito que o coração da Renamo continuará a ser formado pelos militares do partido: são eles que têm as armas, são eles que têm poder sobre a Frelimo, pois podem forçá-la a regressar às negociações — e um dos resultados disso poderá ser a eleição dos governadores das províncias e a Renamo ganhar cinco províncias, o que seria um enorme sucesso. Nunca tiveram nenhum. Sim e isso terá sido interpretado por Dhlakama como um sinal de que tão cedo não seria Presidente de Moçambique. Para a sobrevivência da Renamo, ele tinha de mostrar algum progresso e eleger governadores era uma forma de o fazer. Mas a Frelimo também tem de compreender que, numas eleições livres, poderá perder a maioria na Assembleia da República. Para um partido de libertação nacional que está no poder esse é um cenário muito difícil de aceitar.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Segredos nas Nossas Mães
Um guia prático escrito pela sul-africana (de ascendência inglesa) Vivienne Bolton. Dividido em quatro capítulos, cada um deles dedicado a uma das estações do ano, apresenta dicas sobre como tratar das plantas, fazer pão, doces ou marmelada, como preparar um banho de aromas ou como confeccionar gelados e sorvetes para celebrar o Verão. (...)

Segredos nas Nossas Mães
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-07-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um guia prático escrito pela sul-africana (de ascendência inglesa) Vivienne Bolton. Dividido em quatro capítulos, cada um deles dedicado a uma das estações do ano, apresenta dicas sobre como tratar das plantas, fazer pão, doces ou marmelada, como preparar um banho de aromas ou como confeccionar gelados e sorvetes para celebrar o Verão.
TEXTO: Autor: Vivienne BoltonFotografias: Catherine GratwickeEditor: Círculo de Leitores9, 90 euros
REFERÊNCIAS:
Receita: compota de tomate verde
Uma receita para quatro frascos de compota retirada do livro Segredos nas Nossas Mães (Círculo de Leitores), um guia prático escrito pela sul-africana (de ascendência inglesa) Vivienne Bolton. (...)

Receita: compota de tomate verde
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento -0.2
DATA: 2011-07-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma receita para quatro frascos de compota retirada do livro Segredos nas Nossas Mães (Círculo de Leitores), um guia prático escrito pela sul-africana (de ascendência inglesa) Vivienne Bolton.
TEXTO: Ingredientes: 1 quilo de tomates verdes, 1 quilo de açúcar branco não refinado, sumo de um limão e 125 ml de água. Preparação: cortar grosseiramente os tomates, colocá-los numa taça de porcelana ou de vidro, incorporar o açúcar e o sumo de limão. Tapar e levar ao frigorífico de um dia para o outro. Reservar as metades de limão espremido. No dia seguinte, deitar a mistura numa caçarola, adicionar os125 ml de água e as metades espremidas do limão e levar a lume brando até levantar fervura. Retirar do lume e deitar fora as metades do limão. Deixar repousar até arrefecer. Levar mais uma vez a mistura ao lume até levantar fervura e deixar ferver verificando mais ou menos a cada dois minutos. Quando endurecer, retirar do lume e colocar nos frascos.
REFERÊNCIAS:
Marcas NOS