Nova direcção do grupo xenófobo Pegida demite-se
Kathrin Oertel queixou-se da intromissão do antigo dirigente, Lutz Bachmann. (...)

Nova direcção do grupo xenófobo Pegida demite-se
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2015-02-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Kathrin Oertel queixou-se da intromissão do antigo dirigente, Lutz Bachmann.
TEXTO: A nova líder do Pegida, o grupo anti-islão da Alemanha, demitiu-se uma semana apenas após ter chegado ao lugar. O motivo da decisão, explicou a demissionária Kathrin Oertel, é a continua intromissão do antigo dirigente, Lutz Bachmann. Lutz Bachmann saiu da liderança do grupo na semana passada, devido à polémica provocada por uma fotografia sua mascarado de Hitler. Quatro outras figuras do corpo dirigente do Pegida demitiram-se com Oertel. Um deles disse ao jornal Bild que as demissões se deveram ao facto de Bachmann continuar a exercer a sua influência. Além disso, explicou a fonte da revista, o grupo irmão do Pegida, o Legida (de Leipzig), mais radical, está a assumir um papel cada vez mais determinante nas acções do grupo. O Pegida chegou a juntar manifestações de 25 mil pessoas em em várias cidades alemãs, sobretudo em Dresden, onde o grupo nasceu, para protestar contra os imigrantes muçulmanos. Pegida é a sigla do grupo cujo nome alemão significa "patriotas europeus contra a islamização do ocidente". O grupo começou também a ser cortejado por vários dirigentes do partido eurocéptico Alternativa para a Alemanha. A rápida progressão das marchas, e o número crescente de pessoas nelas, levou a chanceler Angela Merkel a participar numa marcha contra a intolerância e o racismo. Na sua última manifestação em Dresden, no domingo, apenas participaram 12 mil pessoas, diz a AFP. Na página do grupo na rede social Facebook, o Pegida explica que a demissão é temporária e deve-se aos ataques dos media - com os quais o grupo se recusa a falar, acusando-os de mentir. "A verdade é que Kathrin se demitiu do seu posto por enquanto. Isto aconteceu devido às mensagens hostis e às ameaças que lhe chegaram de forma maciça e que prejudicaram a sua carreira", diz o comunicado do grupo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave racismo social corpo
Líderes do partido grego Aurora Dourada vão ser julgados
Processo envolve 72 pessoas, na maioria membros da Aurora Dourada, acusadas de “participação em organização criminosa”. (...)

Líderes do partido grego Aurora Dourada vão ser julgados
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.15
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Processo envolve 72 pessoas, na maioria membros da Aurora Dourada, acusadas de “participação em organização criminosa”.
TEXTO: Os juízes do tribunal de recurso de Atenas decidiram nesta quarta-feira que 72 pessoas por participação em organização criminosa ligada ao partido de extrema-direita Aurora Dourada vão ser julgadas. Entre os acusados há vários dirigentes e ex-deputados, assim como o fundador e líder do partido, Nikos Michaloliakos. A acusação principal é a “participação em organização criminosa”, mas também serão julgados por tentativa de assassínio, posse de armas e violência racista. A investigação começou há 15 meses, depois do músico anti-fascista Pavlos Fyssas ter sido assassinado na rua por um apoiante da Aurora Dourada, em Setembro de 2013. A data do julgamento ainda não foi marcada, mas deverá ocorrer antes de Maio, que é quando chega ao fim a detenção provisória do líder Michaloliakos, do antigo porta-voz do partido Ilias Kasidiaris, e de cinco outros deputados do partido detidos, diz a AFP. Segundo o diário grego Kathimerini, os acusados incorrem em penas que podem ir até aos 20 anos de prisão. O partido de extrema-direita Aurora Dourada entrou pela primeira vez no Parlamento grego nas legislativas de 2012, impulsionado pela crise. Nas eleições há duas semanas ficou em terceiro lugar (atrás do Syriza e da Nova Democracia) elegendo 17 deputados no Parlamento de 300. Destes, 13 foram reeleitos a 25 de Janeiro. Nos últimos anos, tem sido ligado a diversos actos de violência contra imigrantes e militantes de esquerda. O partido tem laivos neonazis – o seu símbolo parece uma suástica e militantes já foram filmados a fazer a saudação nazi.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência tribunal prisão racista assassínio
AR organiza em Maio “grande cimeira” sobre problemas das migrações
O parlamento português está há quase um ano a preparar uma cimeira em que estarão presentes os presidentes dos parlamentos da União Europeia e os presidentes dos parlamentos da bacia do Mediterrâneo para debater o tema que está "em cima da mesa", afirmou Assunção Esteves. (...)

AR organiza em Maio “grande cimeira” sobre problemas das migrações
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O parlamento português está há quase um ano a preparar uma cimeira em que estarão presentes os presidentes dos parlamentos da União Europeia e os presidentes dos parlamentos da bacia do Mediterrâneo para debater o tema que está "em cima da mesa", afirmou Assunção Esteves.
TEXTO: Antes do minuto de silêncio pelos imigrantes ilegais que morreram no Mediterrâneo que se fez nesta quarta-feira na Assembleia da República (AR), a presidente Assunção Esteves anunciou a realização a 11 e 12 de Maio de uma "grande cimeira" com a participação dos presidentes dos parlamentos da União Europeia e da bacia do Mediterrâneo para debater o tema em causa. “Esta tragédia chama a atenção das lideranças, sobretudo europeias”, disse Assunção Esteves, depois de os vários partidos se terem pronunciado sobre os imigrantes ilegais que tentam chegar à Europa. “Quero juntar-me firmemente às intervenções que aqui tiveram lugar”, começou por dizer Assunção Esteves. No final da intervenção adiantou que “o Parlamento português está desde há quase um ano a preparar uma grande cimeira em que estarão presentes os presidentes dos parlamentos da União Europeia e os presidentes dos parlamentos da bacia do Mediterrâneo para debater este tema”. Pretende-se que seja um encontro “com sentido prático”, do qual resulte “um rol de medidas concretas de curto e de médio prazo que serão apresentadas precisamente pela presidência portuguesa [da assembleia parlamentar para o Mediterrâneo] ao Conselho Europeu, à Comissão Europeia e ao Parlamento Europeu", afirmou a presidente da AR, para quem este é “o tema que se põe em cima da mesa” e que tem de ser resolvido “sem olhar a esforços”. Assunção Esteves lembrou que o parlamento português tem actualmente a presidência da assembleia parlamentar para o Mediterrâneo, tendo conduzido o seu mandato sob o tema único das migrações. “Hipocrisia”A palavra “hipocrisia” foi repetida por vários deputados. “Tem que acabar aqui o momento da hipocrisia. É fácil falarmos do drama e é fácil falarmos da tragédia; é fácil lamentarmos os milhares de mortos que tem havido, mas é preciso mais”, afirmou o deputado do PSD António Rodrigues, para quem o problema dos naufrágios no Mediterrâneo não é apenas de Itália ou da União Europeia, mas global, e não se resolverá “só com reforço do dinheiro”. O líder parlamentar do CDS/PP, Nuno Magalhães, sublinhou que o facto de os recentes naufrágios não terem sido “uma tragédia isolada” torna a questão “ainda mais brutal”. É “inaceitável” que o Mediterrâneo se esteja a transformar “numa vala comum”, disse. Nuno Magalhães acredita que do Conselho Europeu, marcado para esta quinta-feira, não sairão “infelizmente soluções milagrosas”: “Não se resolverá o problema, mas a indiferença não é nunca solução face a este horror. ” E acrescentou: “Não podemos acreditar que uma mera reunião de um Conselho Europeu, ainda que ao mais alto nível e convocada de urgência, possa resolver este problema. Mas temos o dever de acreditar, diria até de exigir que saiam medidas concretas, não declarações de intenções, de princípios. ”Essas medidas passam, na opinião do centrista, por “não haver qualquer tipo de condescendência” em relação às “máfias organizadas” que prometem levar os imigrantes até à Europa: “Temos de ser absolutamente implacáveis no combate a essas redes”, afirmou, defendendo igualmente que o problema é de todos, “não é de Roma, de Madrid, é também de Berlim, de Copenhaga”. “E aqui, muitas vezes, a separação norte-sul nos conselhos e no interesse e atenção dados a estas matérias gera situações de ambiguidade, para não dizer mesmo de hipocrisia. Era bom que isso não acontecesse no Conselho Europeu de amanhã”, frisou. Também o comunista António Filipe usou a palavra “hipocrisia” para se referir aos dirigentes europeus que “lamentam as consequências” destas tragédias, “depois de terem promovido as causas”. E fez questão de sublinhar que a União Europeia “não pode lamentar os mortos e expulsar os sobreviventes”: “As pessoas que conseguem chegar à Europa nestas condições têm de ser tratadas com dignidade. Exige-se que os países da EU tratem de forma humana e digna essas pessoas sem ceder aos ventos de racismo e de xenofobia”, disse o comunista, para quem esses “ventos”, a par das máfias envolvidas nas tragédias, têm de ser “combatidos de forma intransigente”. O líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, afirmou que o que tem acontecido no Mediterrâneo “é um horror e uma vergonha”. “Há que ajudar com actos, e não com palavras, a paz e o desenvolvimento no sul do Mediterrâneo. Não esquecendo os erros que nos últimos anos aí foram cometidos pela Europa e pela União Europeia. ”“Os estados europeus da União Europeia e não só, do Mediterrâneo, têm de encontrar soluções humanas, práticas”, disse. Também para Helena Pinto, do BE, “o genocídio nas águas do Mediterrâneo tem de ter um fim” e “a Europa e a União Europeia” têm a “responsabilidade de o travar”. São precisas “soluções imediatas que coloquem a vida e a dignidade humanas em primeiro lugar”, disse. O deputado dos Verdes, José Luís Ferreira, defendeu igualmente alterações às políticas de imigração da União Europeia.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD BE
D. Carlos Azevedo: “Maria não vem do céu por aí abaixo”
Delegado pontifício da Cultura no Vaticano diz que é o momento de se falar com a “linguagem exacta” sobre o que se passou há 100 anos na Cova da Iria: foram visões místicas, não aparições. O Papa Francisco anunciou ontem a canonização dos pastorinhos para 13 de Maio. (...)

D. Carlos Azevedo: “Maria não vem do céu por aí abaixo”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Delegado pontifício da Cultura no Vaticano diz que é o momento de se falar com a “linguagem exacta” sobre o que se passou há 100 anos na Cova da Iria: foram visões místicas, não aparições. O Papa Francisco anunciou ontem a canonização dos pastorinhos para 13 de Maio.
TEXTO: D. Carlos Azevedo, bispo-delegado do Conselho Pontifício da Cultura no Vaticano, defende que a leitura de Fátima não pode ser literal, mas teológica, “há uma interpretação a fazer” porque os fenómenos místicos “são naturais”. E acredita que o Papa Francisco “vai iluminar a actualidade da mensagem de Fátima” sobre a humanidade e a co-responsabilização dos cristãos perante o futuro: “Se não mudarmos os critérios, vamos ter consequências negativas dos nossos comportamentos. ”Entre o trabalho que desenvolve hoje na área cultural no Vaticano e a investigação nos seus arquivos sobre a Igreja portuguesa, adianta que o segundo grande congresso de música sacra vai realizar-se em 2018 em Roma, desta vez destinado aos compositores contemporâneos, e que a consulta de processos até agora intactos tem revelado histórias de personagens que não quiseram ser bispos e cartas desconhecidas de D. António Barroso, cujo processo de canonização está em curso. Nos arquivos do Vaticano encontrou documentos que mostram como foi restaurada a diocese de Leiria e reaberta a Nunciatura Apostólica em Portugal. Teve a surpresa de, sendo acontecimentos contemporâneos dos de Fátima, não ver ligação entre eles. Qual a importância destes episódios para a história da Igreja em Portugal?Encontrei dados inéditos. Havia a questão de a diocese de Leiria ter sido restaurada em Janeiro de 1918, o bispo só ter sido nomeado em 1920. Não se sabia porque demorara tanto tempo e encontrei essa documentação. Primeiro, a restauração da diocese. Alguns historiadores diziam que fora restaurada em 1918, talvez já por influência das visões de 1917. Sabíamos que o movimento [para a sua reabertura] vinha quase desde que a diocese fora suprimida no século XIX, mas especialmente a partir de 1914. Foi até criado um jornal de propósito em Leiria para lutar pela restauração. Esse movimento teve algum resultado junto da nunciatura, na altura com um encarregado de negócios, Aloisi Masella, porque em 1910 tinha sido suspensa a presença do núncio. Fez conhecer ao secretário de Estado do Vaticano toda essa vontade. Masella é muito ajudado por António Antunes, natural de Leiria e vice-reitor em Coimbra. Os dois tinham-se conhecido como estudantes na universidade em Roma. António Antunes ajuda-o a criar todo o processo de justificação para a restauração da diocese. A novidade é que em 30 de Abril de 1917, a quinze dias das primeiras visões, ele envia uma informação ao secretário de Estado a dizer que está decidida a restauração da diocese e que falta escolher a data oportuna para o dar a conhecer: prova que não teve absolutamente nada a ver com as visões, não havia notícia disso. Depois conto por que se atrasou a escolha do primeiro bispo. António Antunes, que tinha ajudado ao processo de restauração, é o escolhido pelos bispos. Era de Leiria conhecia a diocese e não se falava ainda em nada de visões. Mas ele estava doente e não queria ser bispo; achava que não tinha energia. A Santa Sé cede e o bispo de Coimbra pede-o para auxiliar. Acabaria por o suceder [mais tarde]. É assim que [num novo processo aberto, o padre] José Alves Correia da Silva é escolhido para Leiria. Tem três bispos que votam nele e três em Agostinho de Jesus e Sousa. O Núncio envia o processo e remete a decisão para Roma. Da parte de Portugal não houve qualquer pressão. Como historiador, isto é conhecer a memória, é um serviço que se pode fazer à Igreja, estando em Roma, e conhecer a nossa realidade histórica. Por que é que o pároco de Fátima que estava a reunir dados sobre o fenómeno de Fátima não os enviava para o Patriarcado de Lisboa [a que pertencia então Leiria]?Ele ouvia sempre os pastorinhos passados uns dias de cada uma das visões, mas nunca enviou informação para Lisboa. Acreditava que viria um bispo para Leiria e que depois lha podia entregar directamente. Há aqui todo um conjunto de razões que se tornam mais explicáveis devido a esta investigação. Tenho centenas de páginas de documentação inédita que vou encontrando nas caixas que vou abrindo. Publiquei três livros e tenho mais em andamento, fora do trabalho pastoral. Em todo o seu livro Fátima, das Visões dos Pastorinhos à Visão Cristã nunca fala em aparições, mas sim em visões imaginativas. Porquê?Chegou o momento para falarmos com linguagem exacta. Joseph Ratzinger no ano 2000, quando fez o comentário teológico à última parte do segredo de Fátima, usou sempre a palavra visões e esse é o rigor teológico. O grande teólogo Karl Rahner também escreveu um livro sobre visões e profecias, usando a palavra visões. Esse é o termo exacto. As visões, de vários tipos, são fenómenos místicos, espirituais, não físicos. Claro que uma pessoa ao descrever uma visão projecta os seus arquétipos, o que tem na sua mente, a sua memória, e na mensagem que recebe já entra a fé. Há uma mensagem que a transcende e que tem de ser interpretada. É a revelação particular que depois tem de ser interpretada à luz do evangelho e da doutrina, segundo as regras que a Congregação da Doutrina da Fé publicou em 2011, mas já conhecidas desde 1998. Há muitos fenómenos de visões. Nós, párocos, conhecemos sempre alguém que nos vem dizer que tem visões. Estes fenómenos são naturais, sobretudo em períodos de crise, de dificuldade, ou da própria pessoa ou do mundo, em período de guerra, como foi o caso de 1917. É impressionante a densidade de factos do ano de 1917 em Portugal e no mundo. Há uma interpretação a fazer e essa interpretação é a da presença maternal de Maria na vida dos cristãos, como disse João Paulo II quando foi a primeira vez a Fátima. Todos os cristãos sentem essa presença mas alguns podem-na sentir de modo mais intenso. Isso então é uma visão, uma experiência mística. A presença de Maria não vem do céu por aí abaixo. Essas descrições são mais simples, mais imediatas, para entender o que é uma visão mística, mas precisamos de usar a linguagem exacta para não cair no ridículo. Gostava que este livro servisse para quem não crê ter respeito para com o episódio, ainda que não acredite. E integra disciplinas como a psicologia?A psicologia e a teologia espiritual. São estes dois ramos do saber. A teologia espiritual tem muito de psicologia, e descreve a diferença entre uma alucinação, sugestão, a diferença entre vários elementos de uma experiência psicológica. Os pastorinhos viveram uma visão imaginativa?Sim, conforme Ratzinger classificou já no ano 2000 e o próprio Rahner já o tinha feito nos anos de 1940. Está contra uma "acção milagreira de Deus", defende que os fenómenos místicos não podem ir contra os conhecimentos científicos e devem atender a cultura sua contemporânea. Olhamos para a história dos santos e milagres da igreja e está povoada de pastorinhos. Hoje não havia lugar para eles. O que fica, para a Igreja?Lugar para a mística. Há muita experiência urbana de grandes místicos. Por exemplo, Adriana von Speyr, que é pouco conhecida em Portugal, que foi uma grande mística com o teólogo Urs von Balthasar no século XX. De certo modo podemos comparar com São João da Cruz com Teresa de Ávila. Adriana era uma mística que tinha visões. Acontecem no século XX coisas reais, profundas, muito evangélicas e com base nos critérios que dão autenticidade. E continuam a acontecer. Temos que estar despertos para essas realidades na vida da Igreja actual. No seu livro pergunta como é que Fátima emerge actual, quando o factor religioso, debilitado no Ocidente cristão e vigoroso num Islão intolerante, se traduz em aspiração espiritual. Que resposta encontrou?Encontrei uma resposta clara e penso que o Papa Francisco ao ir a Portugal vai iluminar a actualidade da mensagem de Fátima. O fenómeno da Cova de Iria acontece na Primeira Guerra Mundial e aponta já para a Segunda Guerra - "se não mudarem os critérios de vida, vem uma guerra pior". Agora, o Papa Francisco tem falado numa terceira guerra "em episódios". Nestes últimos dias temos recebido notícias de um perigo de armamentos, ameaças a que é preciso dizer "tenham juízo". É preciso um apelo de Deus, ter confiança no futuro com base na mudança de critérios políticos, económicos, como o Papa tem dito, para bem de toda a humanidade. A palavra fundamental no apelo de Fátima - "se não mudardes, o mal vai vencer" - é a conversão, que muitas vezes se aplica só a uma questão muito individual e não à História. [O fenómeno de] Fátima é extremamente profético, as crianças tiveram um carisma profético. Aquilo que disseram marcou a história da humanidade, a ponto de João Paulo II sentir que se aplicou à sua própria vida. A terceira parte do segredo abre mesmo para o futuro, não ficou reduzida ao Papa, aplica-se à humanidade actual, ao seu futuro: se não mudarmos os critérios, vamos ter consequências negativas dos nossos comportamentos, de uma economia que dá cabo da vida das pessoas. Tudo isto é muito concreto. O apelo de Fátima à conversão emerge muito actual. Num mundo agitado e divido por um Brexit, populismos e ameaças, espera essa mensagem do Papa?Vivemos em todo o mundo, não apenas na Europa, uma complexidade de situações, com populismos e grandes impérios seduzidos por essa atitude, não apenas os pequenos países como a Venezuela. Temos o problema das migrações que está a desestabilizar a aparente segurança da Europa, temos uma realidade africana cheia de dramas e uma dificuldade em encontrar líderes que vejam o bem comum do povo. Em todo o mundo há situações de ausência do bem comum, do bem da humanidade. O Papa vem ao centenário de Fátima carregar às suas costas o drama actual da humanidade e prevenir para terem cuidado, a continuar assim isto não terá grande saída, não haverá um êxodo de libertação, mas de desgraça. Na vinda de Paulo VI a Fátima ficou célebre a expressão "homens, sede homens" na homilia. É preciso que a humanidade seja mais humana, tenha em conta o bem comum. Não é só a globalização económica que tem consequências nos outros. As nossas atitudes no dia-a-dia também têm no futuro da humanidade. Somos co-responsáveis pelo mal da humanidade. Enquanto permitirmos, muitos ditadores são ditadores por voto popular, como se viu agora na Turquia. É preciso ter consciência do bem e não ir na sedução fácil de um líder que manobra o povo. Propõe uma leitura teológica de Fátima, não literal: a visão do inferno como apocalipse bíblico, a Rússia como Babilónia, a execução do bispo vestido de branco como perseguição à Igreja. Esta Fátima de que fala não está longe do que motiva os seus peregrinos?Se interpretamos a Bíblia, que é a palavra de Deus, aplicando ao contexto do nosso tempo, muito mais devemos aplicar uma mensagem que é particular. A própria Lúcia, ao longo das suas memórias, vai interpretando, digerindo, porque vai ganhando cultura espiritual e teológica, que não tinha aos 10 anos. É espantoso como crianças com aquela idade, num lugar sem cultura teológica, recebem uma mensagem com uma densidade tão forte e implicações tão grandes na história da humanidade. Não é essa perspectiva que tem mobilizado os peregrinos que vão a Fátima, seguramente a sua maioria. São histórias pessoais. Como se fará essa ponte?Esse é o trabalho da mediação que a Igreja é chamada a fazer. Os pastores na Igreja são chamados a acolher todas as pessoas com o nível de ansiedade espiritual com que chegam. Cada um, com a carga das suas feridas e história pessoal, entrega e espera uma consolação espiritual da vida e uma esperança renovada. Mas a mensagem de Fátima é também de inquietação, de conversão, e esta dimensão é mais difícil de fazer passar. Exige um trabalho pedagógico da Igreja para que se possa ajudar a que a pessoa verifique que as suas próprias feridas são fruto dos males da sociedade. As causas são da própria história, como quando as pessoas iam a Fátima na guerra colonial, ou na emigração. O seu sofrimento é mais largo, tem causas, e é preciso tratar essas causas. O pastor é chamado a ajudar as pessoas a perceber os seus dramas, mas não a personalizá-los, no sentido de uma privatização. É muito importante que a fé seja personalizada, que cada um tome consciência, mas que a perceba incluída na comunhão da Igreja e de toda a sociedade. A igreja é chamada, a partir do sofrimento pessoal, a dizer por que cada um sofre, a ir às razões profundas do mal e a tentar curar a sociedade em que o cristão está inserido. Vai também à realidade da política, porque se houve mensagem de visões no mundo que fosse política, foi exactamente Fátima. Hoje, os teólogos escrevem sobre Fátima, dizem isso, mas fica muito em congressos, ao nível de uma elite. É preciso ajudar as pessoas a terem uma amplitude da sua experiência pessoal e a inclui-la em algo mais largo e mais profundo. Fátima teve, nas suas palavras, períodos de “apropriação”, que significa manipulação, especialmente pela ideologia nacionalista. O que propõe agora implica uma sintonia dentro da própria Igreja em relação a Fátima que historicamente também não se sente, com sectores críticos em relação ao fenómeno. É preciso transformar algumas elites que já têm esse sentido crítico em linguagem acessível e comunicação que ajude os próprios peregrinos a fazerem um itinerário mais profundo, para além da razão que os leva lá. Esse é um serviço que é necessário multiplicar, desenvolver, exige uma conversão pastoral como o próprio Papa Francisco tem dito e uma conversão de critérios para que a transmissão da fé seja mais exigente, mais cristã. As atitudes de sofrimento, da relação com Deus, podem tornar-se rapidamente fanáticas, fundamentalistas. Vemos noutras religiões, mas também no cristianismo, na medida em que reduzimos a mensagem ao nosso próprio problema. Jesus não veio fazer isso: católico quer dizer universal [do grego katholikos]. Quando o Papa fala ele está a defender os interesses da humanidade, isso é que é o serviço. Temos de ajudar cada um a sair de si, da sua concha, para implicar-se com a transformação da sociedade. Este trabalho não é fácil. É mais fácil dar explicações mágicas da realidade do que as que implicam transformação pessoal. Na história dos outros santuários marianos também vemos oração, penitência, conversão. Em que Fátima é diferente?É diferente devido a todo o contexto histórico em que ocorreram as visões, e devido à implicação da mensagem, concretamente a parte do segredo que foi conhecido já nos anos 1940, e o que foi escrito em 1944 mas só foi conhecido no ano 2000. Essa leitura que tem implicações históricas deu a visão concreta aplicada à transformação da história. Nenhum outro santuário tinha esta amplitude profética - houve [nos outros] uma questão mais espiritual, de renovação interior, mais de uma oração de comunhão com Deus, de ter o olhar de Deus sobre a vida. Curiosamente Fátima diz que o olhar sobre a vida leva a olhar de modo diferente o mundo, e faz esta passagem, do ponto de vista pessoal para as consequências. A visão do inferno [foi transmitida] com linguagem própria da época, é preciso perceber o que significa hoje. Daí o esforço teológico que tem de ser feito, e que tento recolher da reflexão dos teólogos que já têm avançado alguma iluminação sobre as várias mensagens de Fátima. E percebemos que elas têm um alcance como não era habitual em outros santuários. Não voltamos a um certo profetismo, como foi o nacionalista?Lúcia foi a que ficou com a responsabilidade de transmitir a perspectiva. Não foi fruto de sebastianismos ou visões de missão profética de Portugal no mundo que depois podemos aplicar e comparar. É a própria mensagem que está lá contida, no que Lúcia escreveu, nas memórias, na parte da comunicação da mensagem essencial. A experiência de João Paulo II personalizou Fátima?O Papa João Paulo II foi fundamental na relação com Fátima sobretudo pela devoção pessoal a Maria, com o seu lema totus tuus, e com a sua própria história universalizar ainda mais Fátima - na relação com o drama e os problemas da humanidade e com o atentado ter sido a 13 de Maio. Não se impôs a perspectiva do milagre?É sempre o risco da religião. Somos seguidores de Jesus que tentou libertar-nos dessa visão. Ele sempre disse "a tua fé te salvou", "foste tu", "tu é que acreditaste e conseguiste vencer o teu problema". Ele sempre relacionou a capacidade de acolher na fé os problemas que temos e esse é que é o sentido que damos à palavra milagre. É a renovação excepcional que alguém é capaz de ter devido à fé. Por exemplo, o Papa Pio XII foi ordenado no mesmo dia 13 de Maio de 1917, e daí ele ter pessoalmente sentido uma implicação em Fátima. Para quem não tem fé são meras coincidências, para quem tem fé não são. A fé transforma os factos numa implicação pessoal. Relativamente à pequisa que tem feito nos arquivos do Vaticano, que mais dados novos tem encontrado sobre a história mais recente da Igreja portuguesa?Como andei nas caixas dos processos dos bispos por causa da restauração da diocese e a nomeação do bispo, encontrei, por exemplo, personagens que não aceitaram ser bispos e que tiveram uma pressão enorme para o ser. Encontrei também muitas cartas desconhecidas de D. António Barroso, que não estavam no processo de canonização. A carta que escreve para o núncio sobre a escolha dos bispos [à época] é de um sentido de Igreja muito profundo. Não podemos esquecer que os bispos só puderam escolher os bispos a partir de 1910, porque antes era o rei. A Igreja só teve liberdade de escolher os bispos a partir de 1910. Era uma coisa nova. E, ao procurar coisas sobre a Inquisição, para o Terramoto Doutrinal, também encontrei sermões de autos de fé inéditos de bispos portugueses. Já transcrevi todos e estou a agora a fazer a introdução e a preparar a publicação. É este o contributo para dar a conhecer um fenómeno muito discutido que era a Inquisição, como era aproveitada a Bíblia, no caso dos sermões, e como se pode estragar a palavra de Deus para condenar inocentes. Encontrei algo de dramático que tem de ser lido no contexto da época, mas diz sobre a responsabilidade dos pastores. Como dizia João Moutinho [em Terramoto Doutrinal], a igreja em Portugal é herética. Ao aceitar a Inquisição, está a aceitar uma instituição que é contrária ao evangelho, portanto, está em heresia. Foi para Roma trabalhar como delegado-pontifício para a cultura. Em que projecto sob a sua tutela com maior impacto para a Igreja se envolveu?O último foi o grande congresso de música sacra. O documento de música sacra tem 50 anos. Comecei a preparar a comemoração da data há três anos. Foi feito um inquérito de 40 perguntas às conferências episcopais de todo o mundo sobre como vai a música. Recolhemos as respostas num documento de 100 páginas e a partir daí conseguimos este congresso de 400 pessoas em Roma [foi de 3 a 5 de Março], com a presença do santo padre no último dia. Foi gente de todo o mundo. Só de Espanha foram 40 pessoas. De Portugal infelizmente não houve muita sensibilidade, porque a conferência episcopal não fez comunicar isso à Igreja, foi a conferência episcopal convidada a estar representada e teve uma presença de cinco pessoas. Dos EUA foram 20, do Brasil 15. Houve uma sensibilidade grande para a questão da música. Qual é a mudança que se perspectiva?Com o concílio Vaticano II mudou o paradigma das línguas. Antes era em latim: uma música composta em latim servia para todo o mundo. Ao mudar a língua vernácula, mudou o paradigma. Algumas igrejas foram capazes de manter uma certa qualidade com compositores que escreveram para uma nova realidade, mas o nível baixou imenso e as pessoas vão a uma igreja e não saem de lá de alma cheia, do ponto de vista da música. Muitas vezes é uma banalidade, prefere-se música light. A liturgia exige qualidade e isto foi uma reflexão para todo o mundo. As igrejas do norte da Europa conseguiram adaptar-se mais facilmente com alguma qualidade, mas na parte sul, na América latina, a África teve alguma adaptação mas é muito rural, começa agora a estudar música para ser capaz de transcrever em partitura a tradição muito concreta do povo. A expressão da fé exige qualidade, como exigem as liturgias. Quando se fala em música sacra pensa-se nas grandes composições do passado. Quando a música gregoriana foi composta ela era cantada nas celebrações. Quando os grandes compositores, como Bach e outros, compuseram a sua música ela era executada nas catedrais. Foi um momento de auge e de grande génio e é necessário continuar a proporcionar. Estamos a preparar um outro congresso para 2018 só para compositores contemporâneos. Que balanço faz do Átrio dos Gentios, de diálogo entre crentes e não crentes?Trabalho mais na valorização da arte e do património e na relação da Igreja com a arte, mas tenho ajudado no Átrio dos Gentios. Fui com o cardeal Ravasi ao Brasil e a Braga. Em todo o mundo é uma experiência que tem deixado eco. As várias conferências episcopais têm procurado prosseguir esta atitude de diálogo. Os problemas da humanidade exigem a colaboração entre os que crêem e os que não crêem. Houve um debate no Parlamento italiano, provocado pelo Átrio dos Gentios, sobre eutanásia com todos os deputados crentes e não crentes. Conseguiram chegar a uma reflexão que faz livrar a leitura destes grandes problemas da humanidade de uma visão religiosa, porque são problemas humanos. Eu posso vê-los do meu ângulo religioso, como um não crente pode até ser mais exigente para com a humanidade nessas situações. A densidade de humanidade está independente de ser crente ou não crente. Os problemas de hoje exigem este confronto e esta abertura. Em 2013, foi conhecida uma acusação de assédio sexual contra si. O que daí resultou?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Trata-se de uma situação que foi dura, acolhi-a com algum sofrimento mas fui encontrando também a reconciliação com a história e sobretudo a procura, na situação nova em que me encontrei, de um sentido, uma ajuda e um trabalho de serviço à Igreja num contexto diferente. O resto não foi nem é comigo. Vivi com atitude de perdão e de misericórdia. O importante é encontrarmos o nosso lugar e respeitarmos a realidade de cada situação. Actualizado às 11h04 de 22. 04. 17 nas referências às áreas cultural e de investigação
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
Com um nim, Nikki Haley esconde um não
Nikki Haley vai dar que falar nos próximos anos. Até ao último minuto, muitas pessoas tentaram convencer o Presidente a não rasgar o Acordo de Paris. A sua embaixadora na ONU não foi com certeza uma delas. (...)

Com um nim, Nikki Haley esconde um não
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170602175615/https://www.publico.pt/n1774287
SUMÁRIO: Nikki Haley vai dar que falar nos próximos anos. Até ao último minuto, muitas pessoas tentaram convencer o Presidente a não rasgar o Acordo de Paris. A sua embaixadora na ONU não foi com certeza uma delas.
TEXTO: Em Janeiro, na audiência de confirmação no Senado para a sua nomeação como embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU, Nikki Haley conseguiu esconder o que pensava sobre o Acordo de Paris. Só quem não quis ver um não é que viu um nim. O senador democrata Tom Udall, que se apresentou como “um fortíssimo defensor das Nações Unidas”, fez-lhe três perguntas sobre o Acordo de Paris. — Concorda que os EUA são indispensáveis e têm de manter a liderança em relação ao Acordo de Paris de modo a garantir que os países cumprem as suas obrigações ambientais?— As alterações climáticas devem estar sempre em cima da mesa. Mas quando olhamos para o Acordo de Paris, devemos reconhecer que não queremos fazer o que achamos que devemos fazer a expensas da nossa indústria e dos nossos empresários. Como governadora da Carolina do Sul, sei que trabalhamos imenso para atrair as empresas estrangeiras e, quando chega o momento de elas verem todas as regras e regulamentos que lhes são exigidos, começam a recuar. Não quero prejudicar a nossa economia, mas as alterações climáticas têm de estar sempre em cima da mensa e ser um dos factores sobre os quais falamos. — Mas não quer ser a pessoa que rasga o Acordo de Paris, fazendo com que os EUA, que ajudaram a juntar todos estes países pela primeira vez numa geração, lhes virem costas. — Queremos trabalhar nas coisas que acreditamos que beneficiam o mundo e os EUA. Mas se virmos obstáculos que estão a prejudicar as nossas empresas, diria que isso é uma coisa com a qual eu não concordo. — Compromete-se a ser parte do Acordo de Paris, dos seus objectivos e das suas metas?— As alterações climáticas estarão sempre em cima da mesa. Esta é a transcrição completa das três perguntas. Não escolhi umas partes em detrimento de outras. A estratégia resultou. Quando chegou o momento de votar, os senadores deram-lhe 96 votos a favor e apenas quatro contra. Não foi uma surpresa para ninguém. Nikki Haley defende as ideias mainstream dos republicanos em relação à política externa norte-americana e, na sua biografia, tanto democratas como republicanos, conservadores ou liberais, conseguem encontrar pontos de identificação. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nikki Haley nunca apoiou Donald Trump nas eleições primárias (anunciou o apoio formal a Marco Rubio, o que lhe valeu um tweet simpático de Trump: “O povo da Carolina do Sul está envergonhado com Nikki Haley!”) e nas presidenciais disse que votaria em Trump, apesar de “não ser fã”. Mais tarde, quando surgiu a ordem executiva para impedir muçulmanos de entrarem nos EUA, a embaixadora foi contra, talvez por ela própria ser filha de imigrantes (nasceu em 1972 em Bamberg, na Carolina do Sul, com o nome de Nimrata Randhawa, filha de um casal sikh da Índia recém-chegado aos EUA). Do mesmo modo que em 2015, após o massacre de nove afro-americanos numa igreja metodista de Charleston, se empenhou em convencer os legisladores locais a darem menos protagonismo à bandeira da confederação no edifício do Capitólio. E no ano seguinte foi um dos 15 governadores que assinaram uma carta a Barack Obama contra o acordo nuclear com o Irão, que recebeu luz verde do Conselho de Segurança da ONU. Nada espanta no seu perfil. Nem mesmo o facto de em 2011 ter sido muito criticada por causa de uma curta viagem de diplomacia económica à Europa com empresários do seu estado na qual foram gastos 127 mil dólares em hotéis e restaurantes de luxo. Nikki Haley é uma estrela em ascensão no Partido Republicano. Vai dar que falar nos próximos anos. Até ao último minuto, muitas pessoas à volta de Trump tentaram convencer o Presidente a não rasgar o Acordo de Paris, incluindo a filha, Ivanka Trump. Nikki Harley não terá perdido tempo com o assunto. No seu nim ficou claro que valoriza sobretudo o curto prazo. Esta terça-feira, quando se soube que Trump ia retirar os EUA do Acordo de Paris, o secretário-geral da ONU, António Guterres, que se licenciou em Engenharia Electrotécnica, mas sabe o bê-á-bá da física, deixou um aviso: “Está provado que o vácuo existe na física. Mas na geoestratégia, não há vácuo. Isso significa que se um país decidir não estar presente — e estou a falar de países grandes como os Estados Unidos ou a China — se um país decide deixar um vazio, posso garantir que alguém o vai ocupar. ” Já todos sabem que é a China. A começar por Nikki Haley.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA
Duas memórias sobre hoje e não o Maio de 68
O historiador e colunista do PÚBLICO Rui Tavares lembra a França de 1998, quando viveu em Paris, e Daniel Cohn-Bendit, um dos rostos rostos do Maio de 68, com quem se cruzou enquanto eurodeputado e no grupo parlamentar dos Verdes. (...)

Duas memórias sobre hoje e não o Maio de 68
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O historiador e colunista do PÚBLICO Rui Tavares lembra a França de 1998, quando viveu em Paris, e Daniel Cohn-Bendit, um dos rostos rostos do Maio de 68, com quem se cruzou enquanto eurodeputado e no grupo parlamentar dos Verdes.
TEXTO: Quando cheguei a França o Maio de 68 fazia trinta anos. O presidente era o conservador Jacques Chirac e o primeiro-ministro era o socialista Lionel Jospin, um dos mais à esquerda na União Europeia, que nessa época tinha só 15 estados-membros. O ministro da educação era um senhor chamado Claude Allègre e lá fomos alegremente, no Outono de 1998, participar numa manifestação de estudantes dos liceus contra ele. O serviço de segurança da manifestação era assegurado pelos sindicatos, mas a polícia de choque não estava longe. Quando sentiam um tumulto no meio da marcha, os seguranças entravam pela multidão adentro munidos de matracas e pegavam num dos jovens a quem consideravam casseurs — literalmente, “aqueles que partem coisas”, os “quebradores” — para o entregar à polícia. O suposto casseur podia ser apenas um rapaz dos subúrbios, na maior parte das vezes de uma minoria, a aproveitar a oportunidade para apreciar uma vinda a Paris com os amigos, apanhado no meio da confusão por ter a pele mais escura. Ou podia ser mesmo um casseur verdadeiro: quando passámos em frente a uma das instituições de ensino superior a que os franceses chamam pretensiosamente uma “grande école”, alguém partiu a fachada de vidro da entrada do edifício. Por acaso essa era a escola onde eu iria começar a estudar na segunda-feira seguinte. Depois de tratadas as formalidades, lá descobrimos onde era a sala dos computadores e arranjámos uns emails para nos podermos comunicar com Portugal. Passado uns dias, fui expulso da sala, agarrado pelo braço, por um dos grandes demógrafos franceses, que achava que um mero doutorando não deveria poder ter acesso aos computadores. Só quem esteve na França do Maio de 68 sabe como foi o Maio de 68 — e eu não posso falar do Maio de 68. As pessoas que então estiveram em Paris falam do Maio de 68 como um período em que houve uma suspensão do tempo, em que o ritmo das coisas se tornou diferente, como quando as pessoas se apaixonam ou têm uma epifania. A França que eu conheci é a outra França: a França normal, a França não-revolucionária. Se só se pode compreender o Maio de 68 tendo vivido o Maio de 68, também só se pode compreender porque é que a França tem de vez em um quando uma revolução vivendo a França não-revolucionária. Se, vista de fora, a França tem fama de revolucionária, só vendo a França de dentro se percebe como se trata de um país centralizador, disciplinador e hierárquico. É a direita, e não a esquerda, que determina a França. Entre o Maio de 68 e hoje, a França teve apenas dois presidentes eleitos à esquerda, François Mitterrand e François Hollande, e este com apenas um mandato. De direita teve Charles De Gaulle, Georges Pompidou, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy. Eleitos pelo centro, mas governando apoiados à direita teve Valéry Giscard d'Estaing e agora Emmanuel Macron. É porque se trata de uma panela de pressão que a França de vez em quando rebenta. A Paris hierárquica resume as tensões em que vive a sociedade francesa. A capital é separada dos seus subúrbios por uma circular chamada “boulevard périphérique” — o “périph”, para os amigos. Eu vivia na Cidade Internacional Universitária de Paris, a poucos metros de distância: bastava passar por debaixo do viaduto e ir à cidade de Gentilly fazer as compras aos merceeiros árabes ou aos minimercados portugueses. Nos anos 70 ou 80 tinha havido uma proposta para deslocalizar a minha escola para Gentilly, com uma localização e edifícios perfeitamente convenientes. Os professores recusaram horrorizados. Na França de 1998 falava-se um pouco do Maio de 68, mas falava-se muito mais do Campeonato do Mundo de Futebol que a França tinha ganho em casa contra o Brasil por 3-0, com dois golos de Zinédine Zidane. A equipa campeã mundial, francesa e multicultural, deixou o país eufórico e esperançoso de ultrapassar as suas tensões (por outro lado, um colega brasileiro que foi à esquadra de polícia denunciar um roubo acabou por lá ficar, depois de ter insultado um polícia que o provocou com o trois-zéro). Mas por detrás do entusiasmo com a equipa da bandeira tricolor, ambiente a partir do qual se cunhou a expressão black-blanc-beur — preto, branco e “árabe” —, persistiam as mesmas feridas abertas pela Guerra da Argélia, a discriminação dos muçulmanos e o nascimento do fundamentalismo. Uns anos antes, a França tinha visto uma série de 14 atentados, os primeiros do terrorismo islamista moderno, culminando com um às portas do metro da Rue de Rennes, que usávamos quase todos os dias. A capital francesa foi a primeira cidade europeia a ter militares com metralhadoras por todo o lado, bem antes do 11 de Setembro. O securitarismo facilmente descambava em paranóia e racismo. O meu amigo, colega historiador e camarada de aventuras, André Belo, moreno e orgulhoso das suas origens algarvias, era sistematicamente parado no metro para verificação de bilhetes. Creio que o mesmo nunca me aconteceu. Saí de França em 2002. Jospin e Chirac estavam a par nas sondagens para as eleições presidenciais. Na rua, um cartaz de uma estupidez inominável apelava à abstenção alegando que Jospin e Chirac eram indiferentes, e com o mau gosto de mostrar as colunas dos candidatos a 50% nos gráficos das sondagens como se fossem as duas torres gémeas de Nova Iorque, que tinham acabado de ser destruídas no ano anterior. Ninguém ligava grande coisa às sondagens para a primeira volta — onde a esquerda, junta no governo, tinha decidido apresentar seis candidatos diferentes — até rebentar a surpresa: quem passou à segunda volta foi o fascista Jean-Marie Le Pen. Umas semanas antes, nem era certo que o “pai” Le Pen se pudesse apresentar às eleições, por falta de assinaturas. Agora, o país estava virado do avesso. As primeiras manifestações de protesto começaram a passar debaixo da nossa janela nessa mesma noite, em direção à Place de la République. Depois de toda a condescendência da esquerda, era um pouco tarde demais. A França doente iria em breve tornar-se um problema europeu com outra surpresa, ao chumbar o tratado que estabelecia uma Constituição para a Europa. E boa parte do que estamos a viver hoje na Europa tem as raízes nessa outra França que não é a França dos libertinos no século XVII, dos philosophes no século XVIII, dos revolucionários da Comuna no século XIX, da Frente Popular e do Maio de 68 no século XX — mas a perpétua França reacionária, a República onde a classe política vive permanentemente obcecada com a escolha do próximo presidente-rei e onde a liberdade-igualdade-fraternidade é decantada pelo desdém aristocrático com que os ricos e bem-nascidos olham para os suburbanos, os provinciais e os imigrantes. E isso leva-me a uma segunda memória relacionada com o Maio de 68, mas que não é sobre o Maio de 68. Anos mais tarde, no Parlamento Europeu, convivi e trabalhei com Daniel Cohn-Bendit, o símbolo da contestação estudantil no Maio de 68, e assisti de perto ao fim da sua carreira parlamentar. Nunca falámos do Maio de 68 porque ele não tinha pachorra para ter de falar pela enésima vez no Maio de 68. O livro mais recente em que ele tinha tentado encerrar o assunto chamava-se Forget 68, “esqueçam 68” assim mesmo em inglês para chatear os seus compatriotas: “Escrevi Forget 68 porque 1968 foi um momento extraordinário para todos aqueles que o viveram, foi um acelerador da história, mudou muitas coisas, mas hoje vivemos noutro mundo”, justificava ele numa entrevista. Há só duas coisas que distinguem Daniel Cohn-Bendit do narcisismo intenso que afeta grande parte dos políticos-estrela como ele. A primeira é que se trata de alguém profundamente anti-autoritário: não só por tratar toda a gente por tu, como toda a gente o trata por Dani, mas porque mesmo enquanto presidente do grupo parlamentar dos Verdes europeus era tão intensamente indiferente à decisão final que cada um tomasse sobre o seu voto como tinha sido empenhado na discussão que levasse a essa decisão. A segunda é que se trata de alguém profundamente não-cínico, e isso porque há uma coisa que o emociona na política, e essa coisa é a Europa. Em 2014, Daniel Cohn-Bendit fez o seu discurso de despedida no Parlamento Europeu, na sessão que lembrava o início da I. ª Guerra Mundial, deflagrada cem anos antes. Tinha cinco minutos de tempo de palavra. Falou dez. Em alemão no início, em francês quase o tempo todo — e com uma palavra em árabe. Com a garganta a quebrar, às vezes num fio de voz, explicou que a União Europeia não nasceu no fim da I. ª Guerra Mundial nem no fim da IIª Guerra Mundial por causa das ilusões de hegemonia da Alemanha e dos grandes estados coloniais como a França e a Grã-Bretanha. Enquanto franco-alemão, virando-se sucessivamente para cada um dos seus dois países, explica que dali a poucos anos nenhum país europeu faria parte do G8 — “nicht mal Deutschland!”, grita, nem sequer a Alemanha!, “é preciso que os alemães ponham isso na cabeça” — a não ser que haja uma Europa unida, e essa Europa unida tem de ser descentralizada “porque é preciso que os franceses percebam que o modelo centralizado da République Française não funciona nos dias de hoje”. A União Europeia só pode funcionar se as ambições hegemónicas forem anuladas: “Se temos uma crise política hoje é porque há tendência hegemónicas na Europa, há tendência a achar que a verdade só se encontra num país, e eu digo-vos: se continuamos assim, vamos acabar a destruir aquilo que construímos. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Aí, nessa ocasião, como a seguir no seu verdadeiro último discurso parlamentar europeu, na reunião do nosso grupo parlamentar, Daniel Cohn-Bendit conta a mesma história que contou inúmeras vezes, de cada vez que visita uma escola secundária, por exemplo: “Nasci em 1945; fui concebido no primeiro momento biologicamente possível para os meus pais após o desembarque na Normandia; pois bem, imaginem que eu nascia e dizia aos meus pais ‘daqui a cinquenta anos não vai haver fronteiras na Europa, o Reno entre a Alemanha e a França vai ser um rio como os outros’ — pois bem, os meus pais diriam ‘temos dois problemas: o miúdo fala cedo demais e só diz disparates’”. “Na Europa conseguimos o inverosímil — inch’Allah! inch’Allah!” (“louvado seja Deus” — dito em árabe para irritar os islamófobos). Não houve uma palavra sobre o Maio de 68 então; mas há uma linha fiel que liga o Maio de 68 a esse discurso sobre o passado e o futuro da Europa. É que o Maio de 68 pode ter sido uma revolta em França, mas 1968 foi uma revolução europeia e mundial, de Praga a Chicago. Não foi a primeira revolução europeia: essa terá sido 1848, a famosa Primavera dos Povos. Mas foi uma revolução contra dois géneros de autoritarismo paternalista: um paternalismo nacional, representado por De Gaulle em França e pelo silêncio dos pais que tinham convivido com o nazismo na Alemanha, e um autoritarismo internacional, representado pelos tanques soviéticos que esmagaram a Checoslováquia e pelos bombardeamentos de napalm dos EUA no Vietnam. E dessa dupla oposição nasceu uma esquerda que reencontrou as suas raízes libertárias e as voltou a juntar à sua paixão pela igualdade, e que ao fazê-lo teve de recusar os dois imperialismos em simultâneo, o soviético e o americano. Essa esquerda libertária cresceu depois com a luta contra a proliferação nuclear e acabou por atingir a maturidade na criação do movimento ecológico. Mas talvez um judeu alemão de língua francesa como Cohn-Bendit, nascido como apátrida e expulso da universidade francesa após o Maio de 68, tenha extraído da sua identidade particular uma sensibilidade para a dimensão europeia como sendo o espaço fundamental para a ação dessa esquerda eco-libertária. Ainda que depois tenha redescoberto as suas raízes nos grandes visionários do século XIX e XVIII, de Victor Hugo a Voltaire, essa esquerda pró-europeia que celebrou a queda do Muro de Berlim tem de facto o seu nascimento no Maio de 68. Mas os seus herdeiros são os estudantes Erasmus que já terão feito, diz-se, mais de um milhão de bebés nas últimas décadas. É aí que está o futuro. É por isso que autoritários paternalistas de todos os géneros continuam a olhar com muita desconfiança para o Maio de 68, como olham hoje com desconfiança para as identidades cosmopolitas dos jovens europeus. É por isso também que a melhor maneira de comemorar 1968 é viver resolutamente em 2018 sabendo que o tempo não volta para trás.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
O mundo louco da cozinha que Bourdain nos mostrou
Foi com o livro Kitchen Confidential que Anthony Bourdain se tornou um nome conhecido. Nele, contava sem papas na língua o lado negro da restauração. (...)

O mundo louco da cozinha que Bourdain nos mostrou
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi com o livro Kitchen Confidential que Anthony Bourdain se tornou um nome conhecido. Nele, contava sem papas na língua o lado negro da restauração.
TEXTO: No final da década de 1990, Anthony Bourdain decidiu enviar de forma espontânea um texto para a New Yorker. “Um chef de Nova Iorque conta alguns segredos do sector”, lia-se na entrada do artigo, que a revista decidiu publicar. “Foi o lado desagradável da cozinha profissional que me atraiu logo à partida”, contava então o chef, entre relatos de serviços caóticos, horas extremas e pratos a voar pelo ar. Avisava-nos para nunca pedirmos peixe à segunda-feira e revelava que as luvas e o chapéu de cozinheiro passavam mais tempo longe dos cozinheiros do que imaginávamos. No ano seguinte, com o best-seller autobiográfico Kitchen Confidential – que o elevou a estatuto de celebridade –, debruçou-se a fundo no lado negro da cozinha e do negócio da restauração: as práticas negligentes, corrupção, drogas, álcool, sexo e a depressão, entre outros aspectos. Escreveu sem papas na língua (e com algum humor) sobre a incompetência e estupidez de alguns profissionais; contou sobre a sua própria luta com a dependência de heroína e cocaína e relatou episódios chocantes com algum detalhe – como quando um dos seus colegas decidiu fazer uma pausa de cinco minutos para fazer sexo com a noiva recém-casada, durante uma recepção. Apesar de ter ultrapassado o problema das drogas já na década de 1980, foi um tema do qual nunca de afastou. Num post do Reddit AMA (ask me anything, em português, perguntem-me o que quiserem), em 2014, um utilizador interrogava-o como o chef conseguia beber [álcool], depois de ter lutado contra um problema de abuso. “Sou um caso muito pouco comum. Estás correcto. A maior parte das pessoas que larga a heroína e cocaína tem de deixar tudo. Talvez por as minhas experiências terem sido tão horríveis, nunca me senti tentado a ter uma recaída”, respondeu, citado pela Newsweek. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Bourdain levou ainda para o diálogo da indústria da restauração uma série de outros temas, que não eram discutidos. Foi, por exemplo “um dos primeiros a contar que o serviço em muitos restaurantes de renome de Nova Iorque deixaria de existir sem o talento e dos funcionários mexicanos”, gerando assim um debate à volta das políticas de emigração, condições laborais e racismo, escreve o New York Times. Até porque, como nota a CNN, além de ajudar “os espectadores a pensar de forma diferente na comida”, Bourdain “defendia populações marginalizadas e fazia campanha para condições de trabalho mais seguras”. Também inspirou uma legião de cozinheiros que lhe quiseram seguir as pegadas, como é o caso de Vincent Wood, ex-chef de cozinha e jornalista, que escreve no Independent ter sentido a mesma atracção pela loucura e glamour do mundo da cozinha que Bourdain descrevia. Quanto ao lado mais negro desta área, Wood lembra que os mesmos problemas – dependência de álcool e drogas e depressão – continuam, de alguma forma, a estar presente nos dias de hoje. Bourdain deve servir, aponta, "como um lembrete de que as cozinhas têm de trabalhar para proteger aqueles dispostos a dedicar 80 horas por semana de sangue, suor e lágrimas”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave negro racismo sexo abuso
Entrevista: Cada soldado tem a sua guerra
Maria José Lobo Antunes volta ao passado da guerra colonial, que também foi a do seu pai, como antropóloga. Para investigar, teve de “construir” a distância. No seu livro, o pai é “o ex-alferes médico miliciano” ou “o escritor”. (...)

Entrevista: Cada soldado tem a sua guerra
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Maria José Lobo Antunes volta ao passado da guerra colonial, que também foi a do seu pai, como antropóloga. Para investigar, teve de “construir” a distância. No seu livro, o pai é “o ex-alferes médico miliciano” ou “o escritor”.
TEXTO: É a bebé nas cartas que António Lobo Antunes escreveu à mulher quando estava na guerra (D’Este Viver aqui Neste Papel Descripto), é a filha que nasce com o pai longe, em Angola, no romance Os Cus de Judas. Mas não é disso que trata o seu primeiro livro. Em Regressos quase Perfeitos (edições Tinta-da-China), que resulta de quatro anos de investigação no âmbito do seu doutoramento em antropologia na Universidade de Lisboa, cartas e livro passam de objectos de família a documentos históricos. A investigadora do Centro em Rede de Investigação em Antropologia comparou versões mas nunca quis procurar nem factos nem verdades. Na primeira entrevista que dá, fala de um mapa de silêncios da guerra. Quais são as suas “memórias” de guerra? Desde quando ouviu falar da guerra em casa?Desde sempre. Não era da guerra, era de África, de a minha mãe, o meu pai e eu termos estado em Angola, era de eu ser um bebé no meio de militares. As memórias que eu herdei são memórias de um passado distante que nunca me foi contado como uma coisa má, era tudo bom. À medida que foi crescendo, a narrativa foi ganhando mais pormenores?Não, foi sendo constante. Era de um tempo singular da vida da minha família. O tempo em que o meu pai não estava cá quando eu nasci e depois a família reuniu-se [em Angola]. Um tempo de felicidade no meio do horror. O horror nunca me foi contado, para além do facto de o meu pai estar longe e de a minha mãe estar cá sozinha grávida e depois com um bebé pequenino. Quando é que a experiência de guerra se torna mais complexa? Quando é que leu as cartas dos seus pais pela primeira vez?Nunca mexi em nada. Eu e a minha irmã sempre soubemos que havia uma caixa de madeira com os aerogramas e sempre soubemos que um dia era para serem publicados. Só depois de a minha mãe morrer é que mexemos nas cartas e percebemos que eram um documento histórico muitíssimo importante [D’Este Viver aqui Neste Papel Descripto, de 2005, organizado por ambas, que foi também adaptado a filme]. Quando leu as cartas, mergulhou na intimidade dos seus pais. O que sentiu?Descobri que eram muito mais do que cartas de amor, que o são, e são muito pessoais, mas são sobretudo um documento imenso sobre uma época. Conseguiu ter o olhar de uma antropóloga?Agora que trabalhei com elas para a tese de doutoramento e para o livro tornaram-se um documento histórico como a história da unidade BART 3835 [Batalhão de Artilharia que António Lobo Antunes acompanhou como médico]. Conseguiu pôr-se de fora…E construir a distância. Claro. O livro de cartas serviu para recuperar uma linha cronológica de acontecimentos da companhia, para observar no tempo, no imediatismo daquele tempo passado, do que era a guerra para um alferes médico miliciano, e para relacionar esse documento com as outras versões sobre a mesma época. Não deixam de ser cartas de amor do seu pai para a sua mãe. . . Certo, mas no meu trabalho tornaram-se mesmo um documento. Esta distância que eu digo que foi construída é absolutamente necessária para analisar. Durante toda a investigação, foi um documento. Fora da tese e do livro, é território meu. É outra coisa. Sobre a qual não quer falar?Pois. A forma como se relaciona com elas mudou depois da investigação?Não sei como as senti quando as li há cerca de 11 anos, não me lembro. Sei que são um documento extraordinário. A minha relação com aquela guerra, com aquela companhia da qual o meu pai faz parte — e eu e a minha mãe também, marginalmente — mudou. De que forma?Já não é uma imagem impressionista. Já não é uma coisa que apenas me diz respeito a mim. É muitíssimo mais do que isso. Diz respeito àquelas pessoas que viveram aquilo. Impressionista?Feita de pequenos episódios que se vão ouvindo, como em qualquer família. A minha família é um pequeníssimo ponto. É muito mais vasto. E quando leu pela primeira vez Os Cus de Judas?No início da adolescência, talvez. Como se sente a ser “uma personagem” do livro? Aparece o seu nascimento. Ai aparece? Já nem me lembrava. “Como na tarde de 22 de Junho de 71, no Chiúme, em que me chamaram ao rádio para me anunciar de Gago Coutinho, letra a letra, o nascimento da minha filha. . . ”Essa parte eu já sabia, o meu pai só soube no dia a seguir. Eu nasci a 21. Os Cus de Judas apanhou-a de surpresa?Era o outro lado da mesma coisa. É um livro que dizia muito mais do que em casa eu sabia, mas que não foi surpresa. Fala da violência e do horror da guerra. Não só Os Cus de Judas, as entrevistas que o meu pai dá, crónicas, tudo. . . Havia o contraste entre um relato mais violento com esse mundo mais sereno da guerra que lhe era contado em casa?O facto de não se falar de violência em casa para mim não me aparece como um mundo sereno. Há um mundo de contenção em que se pode adivinhar, entre as palavras, tudo o que não está lá. Como a contenção que encontrou nas entrevistas que fez aos militares da companhia do seu pai na sua investigação?No meu livro há muita violência, apesar de haver poucos episódios de violência. Não é a violência do sangue, que existe mas pouco. É a violência do desterro, a violência de, alguns deles, partirem e acharem que “Angola é nossa” e descobrirem a opressão colonial. A violência do Estado Novo visível na pobreza daquelas vidas: muitos daquele homens começaram a trabalhar na escola primária, acordavam às 5h00, não tinham horizontes para além do mundo em que viviam. A violência de uma guerra que deixou de existir de um momento para o outro e que os deixou sem chão. Porque é que escolheu este tema para o seu doutoramento?Depois das cartas e percebendo que aquela guerra existia fora da minha família, conhecendo estes homens — andei dois a três anos nos almoços antes do doutoramento —, percebi que a guerra eram coisas muito diferentes do que eu tinha aprendido na história da minha família. A memória da guerra surgiu naturalmente como um tema de investigação. O que era diferente da guerra para a sua família?Eram outras histórias, outras pessoas, outra maneira de olhar para coisas semelhantes, mundos muito diferentes do mundo em que eu cresci. Não sendo a Maria José uma entrevistadora qualquer, era a bebé que eles se lembram de ter conhecido. Que desafios é que isto lhe trouxe?Quando escolhi trabalhar esta companhia, um dos factos que me levaram a escolhê-la era haver relações pessoais, já ia aos almoços, achei que me iria facilitar a vida e facilitou. Fui recebida com grande generosidade. Mas se eu não fosse mulher, filha do médico, talvez o que tivesse tido acesso pudesse ter sido diferente. Posso ter perdido algumas coisas que não queriam partilhar com a filha de um camarada, com uma mulher, que já foi criança, que viveu com eles, embora não se lembre. Eles convocavam as suas supostas memórias, como se se lembrasse delas. . . “Lembras-te do quartel?”, “Lembras-te quando aconteceu não sei o quê?” Acontecia muito. Eu dizia “não me lembro”. Não me lembro de nada. Saí de lá com um ano e pouco. Mais do que sobre a guerra, esta tese é sobre as imperfeições da memória, sobre como se gere a lembrança e o esquecimento. Começa logo por dizer que não é a procura de factos e verdades que a move…Desde o início que sabia que, trabalhando sobre a memória, estava a trabalhar sobre terreno pantanoso, que o que recordamos está constantemente a ser mudado. Interessava-me saber de que forma isso acontece: de que forma pessoas que participaram na guerra, 40 anos depois, recordam, calam, omitem. Era o meu ponto de partida e acabou por ser o ponto de chegada. Porquê?Confrontando as memórias daquele tempo de 31 militares com o relatório que a instituição militar fez sobre a companhia e comparando com as narrativas daquele que foi, em tempos, um dos alferes médicos do batalhão e que viria a tornar-se um escritor, pude perceber como esse passado é reconstruído de muitas maneiras através das várias vozes de pessoas que hoje andam nos 60 anos. Fala “de narrativas coincidentes”, “zonas pantanosas de inconsistências” e “áreas de silêncios narrativos”. Começando pelo que coincide, o que lembram da mesma forma?Lembram da mesma forma “as decências que sobrevivem às indecências do combate”, uma frase do historiador Jay Winter que eu uso. As historinhas?Não são historinhas, são mais do que isso. São os episódios cómicos que, à falta de melhor termo, eu chamei “anedóticos”. São histórias normalmente risíveis, que fazem as pessoas regressar atrás, não pondo em causa a experiência nem o que sobrou dela no presente. Uma área em que todos convergem é a afirmação da camaradagem, com muitas histórias que a ilustram e que são as que circulam nos almoços. São as coisas boas que sobram do horror e da violência que eles viveram mas que naquelas reuniões anuais não são pronunciadas. E “as zonas pantanosas de inconsistências”?Há vários níveis. Há o confronto do relatório militar da história da unidade com as memórias dos entrevistados. No relatório não se fala, por exemplo, do uso de napalm e os entrevistados falam disso, e houve estudos recentes que comprovaram o seu uso nos três cenários de guerra. Assim como a colaboração com militares sul-africanos, que era uma aliança secreta. E, mesmo ao nível das baixas, há muitos feridos ligeiros que não constam do arrolamento. Outros territórios pantanosos são as coisas que preferem não lembrar e o que os pares lembram. Por exemplo. . . O desespero de um soldado que seguia numa patrulha a pé e que, com a enorme sede que sentia, teve desmaios sucessivos — isto contado por outras pessoas — e pediu para lhe darem um tiro para acabar com o sofrimento. Ele próprio em entrevista comigo encurtou a história, disse apenas que foi complicado. Ou coisas que umas pessoas recordam e outras não, ou dizem não recordar. Há muitos pedaços deste “país estrangeiro” que é aquela guerra e que é impossível saber se aconteceram, porque não existem no relatório oficial e porque as versões dos vários antigos militares não coincidem e também porque não aparecem nas cartas que eram um registo diário. A expressão da guerra como “um país estrangeiro” serve para dizer que este passado é inacessível, ao qual não se consegue chegar mesmo casando todas estas versões?É possível aceder a ele de forma aproximada. A frase é de L. P. Hartley e foi usada por um dos grandes livros sobre a memória, de David Lowenthal, cujo título é O Passado É Um País Estrangeiro. A frase traduz de forma clara a dificuldade que é conhecer o passado, porque é outro mundo. Que silêncios narrativos encontrou?Aquilo a que eu tive acesso é uma versão autorizada, expurgada, limpa do que se passou. Tenho a clara noção de que o que eu conheci e analisei na tese, depois das entrevistas, da observação dos almoços, é apenas uma parte muito pequena. Tenho a certeza de que aconteceu muito mais que não me foi dito a mim e que, se calhar, só é dito entre eles. Uma boa parte suponho que tenha que ver com violência e horror. Esse é talvez o mais surpreendente dos silêncios: ouvir tão pouco sobre o combate, os feridos, sobre o que era feito aos prisioneiros de guerra. Já no romance do seu pai, a violência é dita de forma muito clara. A ficção pôde romper esse silêncio?Fala de forma muito mais aberta do que qualquer um dos meus entrevistados. Eu não sei se é ficção, é ficção sobre uma experiência, imagino eu. Não quero entrar por aí porque eu não sou o autor. O que os ex-militares dizem nos almoços que observou, à mesa e no palco, é sobretudo o lado positivo. . . Os almoços são o lado solar e luminoso de uma experiência tão violenta como é a guerra. Desaparece tudo o que possa criar desacordo, agora que são homens de 60 anos, questões como “qual o sentido da guerra”, “a legitimidade da presença portuguesa em África”, “África e os seus habitantes”. Nada disso é falado. É deixado de fora. Quem está de fora pergunta-se porque é que estes homens se continuam a encontrar 40 anos depois?Nos homens desta companhia parece existir uma vontade de unir o passado que esteve separado do presente. Durante 28 anos aquelas pessoas não se encontraram. E é através de rituais e do encontro, e da manifestação da amizade e coragem, que se cria esta linha entre passado e presente, e que se garante que o passado não vai desaparecer enquanto eles estiverem vivos. Porque é que a maioria dos convívios de ex-combatentes só começa a acontecer tanto tempo depois da guerra, no caso da companhia do seu pai quase 30 anos após a desmobilização?Eles voltaram a 1 de Março 1973, um ano depois deu-se o 25 de Abril, e em 1975 a descolonização. Houve uma aceleração do processo histórico nos anos a seguir e o Estado Novo e a guerra tornaram-se um imenso silêncio, uma zona de incómodo que era difícil de gerir. Esta é uma parte da resposta. Só com o distanciamento que o tempo traz se começou lentamente a voltar a falar da guerra. As condições “da possibilidade da memória” alteraram-se. Mas, por exemplo, Os Cus de Judas foi publicado em 1979, pouco tempo depois do fim da guerra…Num primeiro momento, houve a literatura que veio questionar e romper este silêncio; depois, a linguagem do trauma, com as associações de antigos combatentes a reivindicarem a visibilidade pública do trauma e do dano que aquela guerra causou a milhares de pessoas. E depois, lentamente, este espaço da guerra foi-se abrindo à possibilidade de ser revisitado e reformulado, em que falar de guerra deixou de ser sinónimo de se ser adepto do Estado Novo e do colonialismo. Havia também o tempo das biografias daquelas pessoas, que estavam em movimento: casaram-se, tiveram filhos, emigraram, tiveram vários empregos. Com o tempo, tornou-se evidente que o passado poderia desaparecer se não houvesse um acto qualquer que reivindicasse a possibilidade de se falar do passado no presente. Juntaram-se aí várias circunstâncias que tornaram possível voltar a falar da guerra e, para alguns deles, voltar a encontrar o passado nos camaradas. Porquê o título Regressos quase Perfeitos?Com este trabalho, percebi que as maneiras como lembram e contam a história daquele passado são sempre aproximações imperfeitas ao que aconteceu, sendo que eu não sei o que é que aconteceu. Tenho apenas várias versões com as quais trabalho e lembrei-me desse poema do Walt Whitman em que ele diz que “não há mentiras nem mentirosos” e que “uma mentira é um regresso perfeito”. Com isto não quero dizer que o que está no livro são mentiras, mas são “regressos quase perfeitos” ao passado. São regressos que procuram evitar e contornar os aspectos mais dolorosos e incómodos de um passado que não é apenas importante para eles enquanto homens, mas que continua a ser importante para Portugal. A narrativa da guerra é dulcificada para não ser incómoda e poder inscrever-se na esfera pública?Mesmo privadamente. Eu uso um conceito de um académico australiano que é a “composição”. A ideia de que nós compomos as nossa memórias usando as linguagens públicas, mas também compomos para construir um passado e uma imagem do presente com os quais seja possível viver. Eu não acho que seja necessariamente uma dulcificação. São “regressos quase perfeitos” mas, mesmo assim, são muito imperfeitos, porque se percebe que, apesar de não a mencionarem de forma muito aberta, a violência está lá. Fala da ida do seu pai aos almoços e diz que ele faz como os outros, nos almoços deixa a violência de fora: “O escritor escolhe celebrar com os presentes os instantes memoráveis que sobraram do tempo sombrio da guerra”. . . Sim, o meu pai nos almoços é um dos pares. Mas tem um estatuto social. Quando falam dele, não dizem “o alferes”, como quase todos que têm posto, ele é “o doutor”. Não é o escritor?Ele é o doutor. Uma forma de tratamento que remete para o passado. A partir de que momento é que o doutor passou a ser, para esta companhia, também o escritor?Nos almoços que observei, ele é sempre o doutor, mas são lidos excertos dos seus livros que têm que ver com a guerra, que vão sendo incorporados nesta grande narrativa comum que todos os anos é construída e negociada. Sei que a partir do momento em que, em 2005, as cartas foram lançadas, ele se reaproximou dos camaradas. É impossível recuperar o momento em que, além do doutor, passou a ser o escritor. De que forma esta companhia se sente especial por ter tido a sua experiência plasmada na obra literária do seu pai? Escreve que eles se chamam a si mesmos “Os príncipes do António Lobo Antunes”. “Os príncipes do António Lobo Antunes” é um cartaz que vai sempre à frente no autocarro em que eles vêm e que tem que ver com um acontecimento no Porto [no final do lançamento de um livro, o apresentador disse que, na guerra, “o escritor viveu rodeado de homens humildes”, ao que este respondeu “não são homens humildes, são príncipes”]. Não fiz a pergunta, só posso inferir. Há relações muito diferentes com a obra. Há uns que o lêem, uns que coleccionam crónicas, os que têm livros em casa, há quem não leia, há quem use expressões dos livros, não sei se é de os terem lido ou de ouvirem nos almoços. De que forma isso os faz sentir especiais? Não sei, mas sei que é importante. Isso foi muito visível no lançamento das cartas de guerra, eram várias dezenas de homens que nas cartas reencontraram uma parte do seu passado. Escreve que o escritor “tornou inapagável a guerra que com ele partilharam”. Deu-lhe ordem e sentido?Seguindo outros trabalhos semelhantes sobre narrativas semelhantes e o impacto que elas têm sobre outros militares, atrever-me-ia a dizer que sim. A fixação de um passado, através da publicação de cartas ou de um romance, pode dar sentido às versões pessoais e caóticas do passado, por constituírem “recordações colectivas por interposta pessoa”. Pode ir buscar elementos para organizar a experiência. Isso é tanto mais verdade quanto essas narrativas publicadas estejam longe do mundo ideal da guerra, dos heróis, dos grandes acontecimentos históricos. O Cus de Judas quebrou um silêncio que hoje é “uma vozearia”. Como olha para esta “explosão de passados”, em que a guerra está por todo lado, em livros de não ficção, de ficção, documentários?É melhor ser uma vozearia, porque se pode ir coleccionando, apanhando, analisando, lendo várias versões sobre as mesmas coisas. Não é uma coisa que aconteça só em Portugal. No caso francês, há autores que falam da “explosão de memórias cinzentas”. Em Portugal, terão surgido mais tardiamente por causa da revolução e da descolonização. Porquê memórias cinzentas?Não são a preto e branco. Procuram questionar e reconfigurar um passado recente que está ainda a ser escrutinado. Ainda se discute em blogues o colonialismo, a presença portuguesa em África, a guerra. Ainda tudo está a ser discutido. Em Portugal, parece que ainda se está à procura dos termos exactos para se poder fazer o regresso ao passado também do colonialismo. E quando deixarão de ser “cinzentas”? Só quando estas pessoas morrerem?Provavelmente. Há uma expressão de um outro autor que diz que [isso ocorre] quando os protagonistas deixarem de ser “causa de incerteza e se tornarem factos históricos”. Provavelmente vai prevalecer uma qualquer versão sobre o passado, à medida que o tempo for passando e que estas “causas de incerteza histórica” — que são as pessoas que viveram aquele tempo do Estado Novo, do colonialismo, da guerra — forem desaparecendo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No livro diz que “talvez haja tantas guerras quanto os soldados que a combateram”. . . Nos almoços, consensualizam-se narrativas, no meu livro são confrontadas, mas eu não procuro saber o que é verdade. Quando me deparo com várias versões dos mesmos acontecimentos, limito-me a mapeá-las, a dizer que existem. Até porque todos nós temos uma relação territorial com o nosso passado. Territorial?O nosso passado é nosso e nós é que sabemos a verdade do nosso passado. Quando se fala da memória de guerra, isso é ainda mais evidente. Cada uma das pessoas que viveu isso reivindica a sua autoridade enquanto testemunha, enquanto participante. Há várias verdades aqui e eu não sei qual é a mais verdadeira.
REFERÊNCIAS:
Alemanha aprova multas até 50 milhões para "discurso de ódio" nas redes sociais
Redes sociais têm 24 horas após uma queixa para eliminar conteúdo que incite ao ódio, difamatório ou falso na Alemanha. (...)

Alemanha aprova multas até 50 milhões para "discurso de ódio" nas redes sociais
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.38
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Redes sociais têm 24 horas após uma queixa para eliminar conteúdo que incite ao ódio, difamatório ou falso na Alemanha.
TEXTO: Na Alemanha, as redes sociais que não consigam eliminar conteúdo ilegal, falso ou racista em menos de 24 horas serão multadas com coimas até 50 milhões de euros. A proposta de lei feita em Março foi aprovada, esta sexta-feira, pelo parlamento alemão. “Termina a lei da selva na Internet”, diz o ministro da justiça alemão, Heiko Maas, em comunicado, acrescentando que “a liberdade de expressão termina quando o direito criminal começa. ”As redes sociais não serão multadas de imediato após a primeira infracção, mas após falhas sucessivas em bloquear ou eliminar conteúdo ilegal. A lei obrigará as redes sociais a apresentarem um relatório trimestral revelando como têm resolvido as queixas recebidas, especificando o número de denúncias recebidas a porção destas que foram ou não resolvidas. Ainda assim, trata-se da medida mais dura aprovada por um país europeu para combater a divulgação de conteúdo odioso e notícias falsas em plataformas sociais como o Twitter e o Facebook. O objectivo é reduzir a presença de conteúdo odioso e “notícias falsas” nas redes sociais, incluindo a negação do Holocausto, que é ilegal na Alemanha. O Facebook, porém, não está confiante do sucesso das novas medidas. “A lei, tal como ela é agora, não vai melhorar os esforços para enfrentar este problema social”, lê-se num comunicado da empresa que sente que existiu uma falta de “escrutínio e consulta” no tema por parte do Governo alemão. A rede social garante, no entanto, que vai “continuar a fazer tudo aquilo que pode para garantir a segurança das pessoas" na nossa plataforma. Recentemente, o Facebook, a Microsoft, o Twitter, e o Youtube anunciaram a criação de um fórum global para combater discursos extremistas online, trabalhando em conjunto para definir métodos de remoção. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Conselho Central dos Judeus na Alemanha está entre os apoiantes da nova lei alemã: “É o próximo passo lógico para enfrentar, efectivamente, o discurso odioso visto, que todos os acordos voluntários com os prestadores de serviços nas plataformas [de redes sociais] não têm tido sucesso practicamente nenhum”, lê-se num comunicado da organização. O partido político alemão de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) – conhecida por ideologias de anti-imigração e eurocepticismo – disse que está a considerar recorrer ao tribunal de recurso para lutar contra a lei. Porém, a nova legislação também preocupa defensores dos direitos humanos. No início do mês, antes de a lei ir a votação, David Kaye, o relator das Nações Unidas para a liberdade de expressão escreveu que “muitas das violações consideradas pela lei estão extremamente dependentes do contexto”, e que o impedimento de partilhar informação por ser considerada “insultuosa” ou “difamatória” eram “critérios vagos e ambíguos”. Para Kaye, "as obrigações impostas às empresas privadas para regular e reduzir o conteúdo suscitam preocupação em relação à liberdade de expressão”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei humanos imigração tribunal social racista ilegal
Famílias separadas por Trump reúnem-se em biblioteca atravessada pela linha de fronteira
Uma biblioteca situada em cima da fronteira entre os EUA e o Canadá tornou-se num ponto de encontro entre pais, filhos e irmãos iranianos separados pelo veto migratório republicano. Oficialmente, estas reuniões de família não são permitidas, mas acabam por ser toleradas. Não sem gerar tensão. (...)

Famílias separadas por Trump reúnem-se em biblioteca atravessada pela linha de fronteira
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma biblioteca situada em cima da fronteira entre os EUA e o Canadá tornou-se num ponto de encontro entre pais, filhos e irmãos iranianos separados pelo veto migratório republicano. Oficialmente, estas reuniões de família não são permitidas, mas acabam por ser toleradas. Não sem gerar tensão.
TEXTO: Durante a viagem de carro de seis horas de Nova Iorque até uma pequena cidade no norte do estado norte-americano do Vermont, a estudante iraniana Shirin Estahbanati emocionou-se ao pensar que estaria prestes a rever o seu pai pela primeira vez em quase três anos. O pai de Shirin sofreu um ataque cardíaco desde a última vez que estiveram juntos, mas a sua filha não se atreveu a sair da América para o ir visitar. Mas ao viajar rumo a norte, Shirin não conseguia evitar preocupar-se com algo em específico. E se se enganasse na estrada e atravessasse a fronteira dos Estados Unidos com o Canadá por engano? Estahbanati, tal como muitos estudantes iranianos que vivem nos EUA, tem um visto de entrada única e não pode sair do país sem correr o risco de não ser autorizada a reentrar. Os seus pais, enquanto cidadãos iranianos, estão impedidos de entrar nos EUA devido ao veto migratório, dirigido a cidadãos de países de maioria muçulmana, que foi decretado pelo Presidente norte-americano Donald Trump. Shirin não queria por isso arriscar a errar o seu destino: a biblioteca Haskell em Derby Line, no Vermont. Estahbanati e a sua família combinaram encontrar-se por volta das nove da manhã na biblioteca, que devido a uma anomalia histórica está localizada em cima da fronteira dos EUA com o Canadá (a linha divisória atravessa literalmente o edifício), e que entretanto se transformou num improvável ponto de encontro de famílias separadas pelas políticas de imigração da actual administração norte americana. A iraniana de 31 anos estacionou o seu carro e, lutando para controlar a ansiedade que sentia, dirigiu-se até a entrada do edifício vitoriano. Duas horas depois, os seus pais e a sua irmã ainda não tinham aparecido no lado canadiano da biblioteca e as chamadas que Shirin fez para o telemóvel da sua irmã permaneciam sem resposta. Finalmente, Shririn avistou-os. Devido a obras perto da biblioteca, o seu aparelho de GPS mandou-os seguir para o posto fronteiriço dos EUA. Como os pais de Shirin não tinham o visto de entrada nos EUA, foram detidos pelos agentes fronteiriços. Depois de aproximadamente duas horas, foram libertados e autorizados a juntar-se a Estahbanati no lado canadiano da biblioteca. Quando se abraçaram, parecia que o seu pai tinha encolhido. Respirou fundo enquanto abraçava a sua filha com força. "Senti saudades do teu cheiro", disse ele. Ao recordar aquele momento, o sorriso de Shirin esbateu-se e tentou não se emocionar. "Quando abracei os meus pais, só desejava conseguir parar todos os relógios do mundo”, disse à Reuters. Este ano, e ao mesmo tempo que famílias de imigrantes da América Latina são separadas na fronteira sul dos EUA, uma história semelhante mas com algumas nuances desenrola-se na fronteira norte com o Canadá, onde dezenas de famílias iranianas têm-se reunido na biblioteca Haskell. Atraídos pelo poder do "passa a palavra" e por um conjunto de publicações nas redes sociais, foram parar a esta zona geopolítica neutra situada numa biblioteca na fronteira rural entre Derby Line, Vermont e Stanstead, na província canadiana do Quebeque. As famílias iranianas fazem viagens árduas e dispendiosas para terem a possibilidade de passarem algumas horas juntas nos espaços da biblioteca. Ainda que vários iranianos tenham dito que não enfrentaram nenhum impedimento por parte das autoridades migratórias, outros afirmaram que os agentes de fronteira dos EUA detiveram-nos durante várias horas, tentaram impedi-los de entrar na biblioteca ou disseram-lhes que não deveriam encontrar-se naquele lugar, ou que deveriam limitar as suas visitas a apenas alguns minutos. E as autoridades americanas e canadianas já ameaçaram fechar a biblioteca devido a estes encontros, disse um funcionário do edifício. "Esta é uma área neutra, mas o governo dos EUA não aceita essa situação, e colocam-nos sob muita pressão", disse Sina Dadsetan, um iraniano que vive no Canadá e que viajou até à biblioteca para ver a sua irmã, no mesmo dia em que Estahbanati se foi encontrar com a sua família. A administração Trump diz que a proibição de entrada de cidadãos de países de maioria muçulmana é necessária para proteger os Estados Unidos, e argumenta que os países em questão, como o Irão, Líbia, Coreia do Norte, Somália, Síria, Iémen e também a Venezuela, não compartilham informações suficientes sobre os seus cidadãos que confirmem que os mesmos não são uma ameaça, ou uma possível fonte de ameaça terrorista. O Departamento de Alfândega e de Protecção de Fronteiras dos EUA, que supervisiona a polícia fronteiriça, recusou um pedido de entrevista da Reuters sobre o caso desta biblioteca. Um porta-voz do departamento, Michael McCarthy, recusou-se a prestar quaisquer comentários sobre as famílias ou sobre a acusação feita pelo referido funcionário da biblioteca sobre as ameaças de encerramento. "A polícia fronteiriça dos EUA trabalha em colaboração com os nossos colegas canadianos, bem como com a comunidade local, para impedir quaisquer actividades transfronteiriças ilegais", disse McCarthy num comunicado. Erique Gasse, porta-voz da Real Polícia Montada do Canadá (RPMC), negou igualmente qualquer ameaça de fechar a biblioteca. "Não é assim que agimos", disse ele. “Não fazemos isso”. Gasse insistiu em dizer que a RPMC não patrulha a área regularmente e que só se desloca ao local quando é chamada. "Não temos nenhum problema com a biblioteca", afirmou. Mahsa Izadmehr, uma estudante iraniana de doutoramento em engenharia da Universidade de Illinois-Chicago, passou sete anos sem ver a sua irmã mais nova, que vive na Suíça. No final de Setembro, as duas irmãs reencontraram-se na biblioteca. Quando se aproximaram da fronteira, delimitada do lado de fora da biblioteca por uma linha de vasos de flores, um agente da Patrulha de Fronteira dos EUA saiu de imediato de um carro que estava estacionado nas proximidades. “O agente disse-nos: ‘Fechámos a biblioteca há cerca de um mês, não permitimos que ninguém se encontre aqui’”, disse Izadmehr. “Perguntei-lhe: Permite-me, pelo menos, abraçar a minha irmã”?O agente permitiu que as irmãs se abraçassem, mas impediu-as de trocarem os presentes que trouxeram - vestidos, chocolates suíços e um relógio. O agente vigiou-as enquanto conversavam em lados opostos, afastadas pela linha de vasos de flores. As irmãs conseguiram finalmente entrar na biblioteca quando um funcionário lhes ofereceu uma visita, mas os agentes da polícia fronteiriça criticaram posteriormente o funcionário, disse Izadmehr, que testemunhou o episódio. McCarthy recusou-se a comentar o incidente. Richard Creaser, autarca da vila de Derby Line, disse que compreende o porquê das visitas familiares serem um "ponto de tensão" para os funcionários da polícia fronteiriça, uma vez que os iranianos pisam solo americano ao entrar na biblioteca. “Percebo em que medida o reencontro das famílias na biblioteca possa ser um problema", afirmou Creaser. O Supremo Tribunal dos EUA aprovou em Junho o veto migratório a cidadãos de países de maioria muçulmana durante este Verão depois de uma longa batalha judicial. As pessoas mais afectadas por esta proibição têm sido estudantes universitários iranianos nos Estados Unidos, normalmente de famílias de classe média que conseguem suportar os custos de viagens internacionais. Vários iranianos disseram à Reuters que também se têm encontrado com as suas famílias, nos últimos meses, no parque do Arco da Paz, localizado na fronteira entre o estado norte-americano de Washington e a província canadiana da Colúmbia Britânica, na costa oeste da América do Norte. Mas para as famílias iranianas com membros a viver nas grandes cidades do leste, o custo de atravessar o continente é proibitivo, o que deixa a biblioteca de Haskell como a sua única opção. Ainda assim, Sina Dadsetan e a sua irmã estimam que a sua família gastou mais de 1600 dólares (cerca de 1400 euros) no seu reencontro de dois dias em Haskell, sem incluir as viagens de avião dos seus pais que vieram do Irão, por um total de dez horas juntos. A biblioteca é vulnerável a eventuais manobras de pressão por parte das autoridades porque, embora o edifício esteja situado em terras americanas e canadianas, a sua entrada fica do lado dos EUA. As autoridades americanas permitem que os funcionários e visitantes do Canadá se desloquem alguns metros em solo americano sem atravessarem um posto fronteiriço. “Acontecem frequentemente altercações com a RPMC ou com a polícia fronteiriça”, disse o bibliotecário Joel Kerr durante uma breve entrevista no início de Novembro, num dia em que duas famílias iranianas se reuniram na biblioteca. "Tentam sobretudo assustar-nos e ameaçar-nos com o encerramento da biblioteca. "Kerr, que assumiu o seu cargo em Outubro, afirmou não poder facultar detalhes sobre como as agências ameaçaram fechar a biblioteca. Os membros do conselho de administração da biblioteca, que recentemente se manifestaram contra as visitas, também não quiseram comentar a polémica. A biblioteca é uma herança de uma época em que os americanos e os canadianos, dizem os moradores, podiam atravessar a fronteira simplesmente com um aceno aos guardas fronteiriços. Foi um presente de uma família local, no início de 1900, para as comunidades vizinhas canadianas e americanas. "O que nos deixa orgulhosos é termos uma biblioteca com apenas uma porta de acesso", disse Susan Granfors, ex-membro da direcção da biblioteca. “Não necessita do seu passaporte. Estaciona do seu lado, eu estaciono do meu lado, mas todos nós vamos entrar pela mesma porta”. Depois dos ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, a fronteira norte dos EUA passou a ser patrulhada mais intensamente, e a presença das forças de autoridade na zona tornou-se mais visível. Em Setembro deste ano, um cidadão canadiano foi condenado a 51 meses de prisão por fazer contrabando de mais de 100 armas para o Canadá, algumas delas através da biblioteca Haskell. Ainda assim, dentro do edifício, decorado com painéis de madeira, vitrais e, no lado canadiano, uma cabeça de alce, predominam os velhos costumes. Utentes e funcionários atravessam livremente a fronteira internacional, delimitada por uma fina linha preta lascada que se estende ao longo da sala de leitura infantil e pelo corredor principal. Na manhã de 14 de Agosto, Estahbanati estacionou o carro no pequeno lote da biblioteca e dirigiu-se até à entrada de granito cinza. Foi lá que encontrou Sina Dadsetan e os pais dele por volta das 11 da manhã, quando chegaram à biblioteca para se reencontrarem com Saba, a irmã de Sina, uma estudante iraniana que vivia na Pensilvânia. Quando a família Dadsetan se aproximou da biblioteca em lados opostos da fronteira, Estahbanati, em lágrimas, perguntou-lhes se tinham visto a sua família. Não viram. Mesmo quando os Estahbanatis chegaram finalmente à biblioteca, os seus problemas não ficaram por aí. Uma obra nas proximidades tinha causado o corte de água na biblioteca e esta foi inesperadamente encerrada. Um funcionário da biblioteca tinha dado permissão por escrito às famílias para se reunirem nas instalações da biblioteca, mas os agentes fronteiriços proibiram o encontro daquelas famílias no local. "Foi muito angustiante, eu só queria estar com meus pais", disse Estahbanati. Estahbanati suplicou aos agentes, e estes acabaram por ceder e permitiram que se reunissem fora da biblioteca por 20 minutos. Passaram-se 20 minutos e, embora os agentes estivessem a controlar as famílias de perto, permitiram que as mesmas ficassem juntas durante várias horas naquele dia. No segundo dia, os Estahbanatis e os Dadsetans reuniram-se na biblioteca e pelo menos duas outras famílias iranianas também lá estavam, disseram eles. Várias mães tinham, preparado pratos iranianos mais elaborados para os seus filhos. Estahbanati pediu à mãe que fizesse o seu prato favorito de infância, um bolo de arroz crocante chamado tahchin. A mãe de Estahbanati até trouxe um pouco de açafrão do Irão para colocar na comida. “Ela estava feliz por poder cozinhar para mim”, disse Estahbanati”, “e eu fiquei feliz por poder comer o que a minha mãe tinha cozinhado”. É difícil saber ao certo quantas famílias se reuniram na biblioteca Haskell, mas um livro de assinaturas perto da entrada mostra cerca de 12 nomes claramente iranianos entre os meses de Março e Novembro. A Reuters identificou outras sete famílias, todas iranianas, que visitaram a biblioteca ou que tentaram fazê-lo durante este ano. Pessoas com uma ligação próxima à biblioteca mostraram-se relutantes em falar sobre as visitas, preocupadas que a divulgação dos encontros atraísse mais famílias, e consequentemente causasse mais pressão por parte das autoridades. "Estamos a tentar manter-nos neutrais”, disse Patricia Hunt, actual membro do conselho de administração da biblioteca, numa breve entrevista por telefone. O bibliotecário Kerr disse que planeia fazer uma reunião entre os funcionários da biblioteca e as autoridades de ambos os países para elaborar um plano para conseguirem lidar melhor com as reuniões familiares. "Não queremos acabar com as reuniões, necessariamente, mas precisamos de deter o controlo de alguma forma para que possamos permanecer abertos", afirmou Kerr. "As reuniões são apenas consentidas por ambos os lados, porque tecnicamente, não deveriam ser permitidas". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Num sábado, no início de Novembro, duas famílias iranianas reuniram-se na biblioteca, conversando em voz baixa nas duas salas de leitura. O funcionamento normal da biblioteca prosseguiu no meio de reuniões emotivas e despedidas nos cantos do edifício: Pais e filhos entravam e saíam para devolver livros e vasculhar as prateleiras. Os adolescentes acediam à internet nos computadores da biblioteca e consultavam a colecção de DVD's. Os iranianos ignoravam os sinais em inglês e francês que, por ordem do conselho de administração da biblioteca, “as reuniões de família não são permitidas”. Kerr disse, que os sinais foram colocados apenas uma semana antes. Tradução de Raquel Grilo
REFERÊNCIAS: