Portuguesas envolvidas em casamentos por conveniência e bigamia no Reino Unido
Projecto de lei britânico quer combater casamentos por conveniência. Em 2012, foram denunciados 1891 casos suspeitos. (...)

Portuguesas envolvidas em casamentos por conveniência e bigamia no Reino Unido
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Projecto de lei britânico quer combater casamentos por conveniência. Em 2012, foram denunciados 1891 casos suspeitos.
TEXTO: Em apenas dois dias, uma portuguesa foi condenada por bigamia e outra presa por suspeita do mesmo crime devido ao envolvimento em casamentos por conveniência com imigrantes ilegais nigerianos no Reino Unido. Estes dois casos fazem parte de uma realidade mais alargada que chega a envolver redes criminosas. O parlamento do Reino Unido está agora a discutir um projecto de lei que pretende reduzir o risco de casamentos por conveniência usados para facilitar a imigração ilegal. Um casamento é considerado por conveniência quando um cidadão não europeu casa com outro de um país da União Europeia com a intenção de obter um visto de residência de longa duração, bem como o direito de trabalhar e reclamar apoios sociais. Actualmente, os noivos têm de entregar os papéis para o casamento 15 dias antes na igreja ou conservatória do registo civil, cujos dados serão afixados em edital, mas o governo quer estender este período para 28 dias e, em alguns casos, para 70 dias. O objectivo é permitir às autoridades investigar as suspeitas levantadas pelos conservadores ou sacerdotes. “Os casamentos por conveniência são um alvo fácil há muito tempo para imigrantes que procuram contornar as nossas leis de imigração, muitas vezes com a ajuda de redes criminosas”, afirmou recentemente o secretário de Estado para a imigração, Mark Harper. O ministério do Interior britânico calcula que, todos os anos, quatro a 10 mil pedidos de visto de residência no Reino Unido são feitos com base em casamentos por conveniência. Só em 2012, foram denunciados 1891 casos suspeitos, indicam números oficiais. O envolvimento de portugueses tem sido notado pelos serviços consulares, tendo em 2011 o então cônsul, José Macedo Leão, afirmado à agência Lusa de ter tido conhecimento de “pelo menos vinte”, acrescentando que nem todos lhe eram comunicados pelas autoridades britânicas. Quatro casamentos em dois anosTânia Aniceto, de 25 anos, foi condenada a 18 de Outubro a quatro anos de prisão por bigamia e por auxílio à imigração ilegal no Reino Unido após casar com quatro nigerianos no espaço de dois anos. A portuguesa só foi apanhada porque o seu nome e outro falso que também usava, Sandra Monteiro, levantaram suspeitas pois apareciam repetidos nas candidaturas dos homens para obter autorização de residência. Durante o julgamento confessou que cobrava 400 libras (470 euros) por cada casamento, que tiveram lugar entre Maio de 2010 e Junho de 2012 em quatro locais diferentes: Brent, Lewisham, Rochdale e Southwark. Uma acusação de posse de documentos de identificação falsa foi retirada, mas Tânia Aniceto acabou por declarar-se culpada de cinco crimes de auxílio à imigração ilegal e quatro de bigamia. Apenas dois dias antes, a 16 de Outubro, uma outra portuguesa de 22 anos foi detida em flagrante a casar com um imigrante nigeriano de 32 anos, em Harrow, no norte de Londres, aguardando agora julgamento. A polícia interrompeu a cerimónia numa conservatória do registo civil e confirmou as suspeitas de irregularidade quando questionaram cada um individualmente e perceberam que pouco sabiam sobre o respectivo noivo. Numa reportagem transmitida na Sky News, os agentes que conduziram a operação disseram suspeitar que a mulher, cuja identidade não foi revelada, já tinha casado antes nas mesmas circunstâncias. No últimos meses, foram vários os portugueses apanhados pelas autoridades em casamentos falsos: em Setembro, Naydyne Botelho, de 27 anos, e Cátia Lima, de 32 anos, foram condenadas a 12 meses e 16 meses de prisão, respectivamente. Ambas eram residentes em Londres mas foram detidas ao tentarem casar na Irlanda do Norte com dois homens do Bangladesh. Rede criminosaEm Novembro do ano passado, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) desmantelou uma rede criminosa de casamentos de conveniência, auxilio à imigração ilegal e falsificação de documentos, numa operação em simultâneo em França e no Reino Unido. Segundo o SEF, esta rede criminosa dedicava-se a angariar homens e mulheres portugueses “em situação económica precária” para casarem com cidadãos estrangeiros em vários países europeus a troco de avultadas somas em dinheiro, entre 15 mil a 20 mil euros. Os casamentos realizavam-se em países como Espanha, França, Suécia, Reino Unido, Dinamarca e Alemanha e a maioria dos “noivos” era oriunda de países como a Índia, o Paquistão ou o Bangladesh, mas também da Nigéria.
REFERÊNCIAS:
Amnistia Internacional acusa governos poderosos de bloquearem justiça internacional
Os governos poderosos bloqueiam os avanços da justiça internacional e colocam-se acima da lei no que diz respeito aos direitos humanos, protegendo os seus aliados e agindo apenas quando lhes é politicamente conveniente, denuncia a Amnistia Internacional (AI) no seu relatório de 2010, hoje divulgado. (...)

Amnistia Internacional acusa governos poderosos de bloquearem justiça internacional
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.099
DATA: 2010-05-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os governos poderosos bloqueiam os avanços da justiça internacional e colocam-se acima da lei no que diz respeito aos direitos humanos, protegendo os seus aliados e agindo apenas quando lhes é politicamente conveniente, denuncia a Amnistia Internacional (AI) no seu relatório de 2010, hoje divulgado.
TEXTO: “A repressão e a injustiça encontram-se em florescimento num ambiente de falta de justiça global, condenando milhões de pessoas ao abuso, à opressão e à pobreza”, denuncia o secretário-geral interino da Amnistia, numa síntese do relatório divulgada ontem à tarde pelo ramo português da organização. A AI, que documenta abusos cometidos em 159 países, defende que crimes contra a humanidade possam ser julgados em qualquer parte do mundo e entende que os países que reivindicam uma liderança global “têm a responsabilidade de dar o exemplo”. É por isso que desafia países do G20 (20 maiores economias do mundo) que ainda não aderiram ao Tribunal Penal Internacional - Estados Unidos, China, Rússia, Turquia, Índia, Indonésia e Arábia Saudita – a fazerem-no. “Estes países deverão aproveitar a reunião internacional do Tribunal, que terá lugar em Kampala, Uganda, a 31 de Maio, para mostrar o seu apoio à instituição. ”A emissão, em 2009, de um mandado de captura para o Presidente sudanês Omar Al Bashir, por crimes contra a humanidade, é considerada um marco pela Amnistia, por mostrar que “nem líderes em exercício de funções estão acima da lei”. Mas a recusa em cooperar nesse caso manifestada pela União Africana é considerada “um péssimo exemplo”. O relatório documenta casos de tortura e maus-tratos em pelo menos 111 países, julgamentos injustos em pelo menos 55, restrições à liberdade de expressão em pelo menos 96 e dá conta da existência de prisioneiros de consciência em pelo menos 48. Em muitos países, organizações de direitos humanos e activistas foram atacados ou impedidos pelos governos de exercerem a sua actividade. Os conflitos “têm sido marcados por um escandaloso desrespeito” das populações civis em países como a República Democrática do Congo, o Sri Lanka, e o Iémen. Em Gaza e no Sul de Israel têm também provocado vítimas civis, recorda a AI, que se insurge igualmente contra os abusos sofridos por civis no Afeganistão, Paquistão, Iraque e Somália. “Na maioria dos conflitos, mulheres e raparigas foram vítimas de violação sexual e outros tipos de violência, exercida sobre elas tanto por forças governamentais como por grupos armados. "O relatório denuncia a restrição do “espaço de liberdade da sociedade civil e de vozes independentes” em países da Europa e da Ásia Central, como Rússia, Turquia, Turquemenistão, Azerbaijão, Bielorrússia e Uzbequistão. Na mesma região regista-se igualmente um crescimento de racismo, xenofobia e intolerância. Países como Arábia Saudita, Síria e Tunísia são apontados como exemplos de “intolerância governamental” face às críticas no Médio Oriente e Norte de África, onde os ataques de grupos armados, alguns alegadamente ligados à Al-Qaeda, têm aumentado a insegurança. Irão, China, Coreia do Norte e Birmânia são apontados como palco de repressão. No caso da região Ásia-Pacífico, a AI denuncia particularmente a exploração e violência contra imigrantes em muitos países, incluindo Coreia do Sul, Japão e Malásia. As centenas de assassinatos cometidos por forças de segurança em países como o Brasil, Jamaica, Colômbia e México, bem como a impunidade de violações de direitos relacionados com as políticas anti-terroristas dos Estados Unidos, compõem o retrato traçado para o continente americano. Violências várias contra mulheres em países como o México, a Guatemala, El Salvador, Honduras e Jamaica, são igualmente condenadas. Mas, apesar do quadro negro, a AI regista alguns progressos, designadamente a reabertura na América Latina de investigações sobre crimes protegidos por leis de amnistia, que levaram a julgamentos de antigos líderes por crimes contra a humanidade e às condenações do antigo Presidente do Peru, Alberto Fujimori, e do último Presidente militar da Argentina, Reynaldo Bignone, por crimes de rapto e tortura. Repressão e assassinato de dissidentes pelos governos da Guiné Equatorial e Madagáscar, repressão de qualquer tipo de críticas em países como o Egipto e o Uganda, são violações de direitos humanas destacadas em África, onde os desalojamentos forçados em países como Angola, Gana, Quénia e Nigéria se tornaram também uma tendência.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei humanos violência tribunal negro racismo violação sexual mulheres maus-tratos pobreza assassinato abuso rapto xenofobia
Seis mil em defesa da Suécia multicultural
Felicia Margineanu está duplamente em choque. Primeiro, pelos avanços da extrema-direita no seu país; depois, porque desde que convocou uma manifestação de repúdio através do Facebook que o telefone não pára. Aos 17 anos, ainda antes de poder votar, esta é a sua estreia na política. (...)

Seis mil em defesa da Suécia multicultural
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Felicia Margineanu está duplamente em choque. Primeiro, pelos avanços da extrema-direita no seu país; depois, porque desde que convocou uma manifestação de repúdio através do Facebook que o telefone não pára. Aos 17 anos, ainda antes de poder votar, esta é a sua estreia na política.
TEXTO: Por causa dela, milhares de suecos (seis mil segundo a polícia) saíram à rua em Estocolmo na segunda-feira. Ouviam-se palavras de ordem como "Esmaguem os racistas", "Somos pela diferença" e "Sim à vida em conjunto, não ao racismo!". Vozes que antes tinham estado caladas e que agora desafiaram o conforto do sofá. "Depois das eleições havia muita gente a reagir com comentários furiosos. Em vez de ficar sentada, pensei no que poderíamos fazer", conta Felicia Margineanu por telefone ao PÚBLICO. Em duas horas teve duas mil respostas e o movimento foi crescendo. Filha de pai romeno e mãe sueca, Felicia nasceu na Suécia, e foi lá que sempre viveu. Não está na universidade porque quer concentrar-se apenas a fazer fotografia. No seu site podemos ver mulheres em traje de samba, meninas supersexy de véu e sem ele, negros em fato-de-banho e óculos escuros. Mas na rua há um mundo menos glamouroso e ela também tem olhado para ele. "Vejo racismo nas escolas, nos autocarros, em todo o lado. Pessoas que comentam coisas quando nos viramos, má educação. Mas as pessoas têm ignorado isso. " Não é uma especificidade sueca. "O racismo existe em toda a parte. Haverá também em Portugal. . . Quando não há trabalho, culpa-se os outros. E os outros são os imigrantes. " Na Suécia, são 14 por cento da população. "Os suecos pensam que os imigrantes lhes ficam com os empregos, e os imigrantes pensam que os suecos são todos racistas", diz Felicia. Ela, morena de olhos castanhos, já sentiu a discriminação na pele. "Mas não fico presa a isso. "O país tem resultados económicos invejáveis para qualquer dos seus parceiros europeus, com um crescimento de 4, 5 por cento, um por cento de défice (o menor da UE) e uma taxa de desemprego em queda (embora ainda ronde os 8 por cento, atingindo sobretudo jovens). Foi com uma campanha contra a imigração que o partido Democratas Suecos (SD), de Jimmie Akesson, conseguiu eleger 20 deputados, arrastando o país para um cenário de incerteza política. O primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt ainda poderá conseguir uma maioria depois de contados os boletins enviados por correio bem como as primeiras votações, disse à Reuters um académico. Reinfeldt afirmara que tinha ficado aquém da maioria por sete mil votos. Os 5, 8 por cento conquistados pelo SD criaram um sismo que continua a reverberar. Com a sua entrada no Parlamento, fica em causa a imagem da Suécia moderada. E será mais difícil ignorar as questões que levanta. "Muita gente nem sequer conhecia bem o SD" antes de votar, comenta Felicia. "Mas acham que a imigração está a crescer tanto que vai tomar conta da Suécia. " Antes já era evidente um ambiente anti-imigração, diz. "As pessoas ficaram à espera de que alguma coisa acontecesse, passivamente. Agora vão ter que se esforçar mais", participando em manifestações, ou criando organizações para combater o racismo, defende. Um voto contra o sistemaOs resultados espantaram Anton Carlström. "Para ser franco, nunca pensei que o SD tivesse este apoio todo", diz ao PÚBLICO este estudante de Economia, de 21 anos, através de um chat no Facebook. Nem ele, nem talvez Reinfeldt. "Os outros partidos terão de se responsabilizar por não os terem convidado para os debates", afirma. Para alguns analistas ouvidos pela AFP, o voto no SD foi mais uma manifestação antipartidos tradicionais, "e sobretudo um descontentamento com os sociais-democratas [que tiveram o pior resultado de sempre] que os eleitores não conseguiram expressar de outro modo", refere Aake Hammarstedt, presidente social-democrata de Bromölla. Anton, que se diz de esquerda, parece concordar. E salienta que esta é "uma oportunidade de se começar a levar [o SD] mais a sério". Se for convidado para debates, rapidamente sairá de cena, acredita. Desde domingo que Anton vê outra Suécia, e não gostou. "A Suécia onde cresci é multicultural. "
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Entidades UE
Governo apresenta hoje segundo programa de acção contra Mutilação Genital Feminina
O Governo apresenta hoje o II Programa de Acção para Eliminação da Mutilação Genital Feminina, essencialmente “um programa de continuidade”, mas com “algumas novidades”, segundo a secretária de Estado da Igualdade. (...)

Governo apresenta hoje segundo programa de acção contra Mutilação Genital Feminina
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.033
DATA: 2011-02-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Governo apresenta hoje o II Programa de Acção para Eliminação da Mutilação Genital Feminina, essencialmente “um programa de continuidade”, mas com “algumas novidades”, segundo a secretária de Estado da Igualdade.
TEXTO: A propósito do Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina (MGF), que se assinala anualmente a 6 de Fevereiro, a secretária de Estado Elza Pais, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Manuel Pizarro, e o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Domingos Simões Pereira, entre outras personalidades, vão estar esta manhã na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, para apresentar o II Programa de Acção para Eliminação da MGF 2011-2013. Este será sobretudo “um programa de continuidade”, mas com “algumas novidades”, disse à agência Lusa Elza Pais, frisando que é necessário “consolidar a estrutura de referenciação” para sinalizar “eventuais casos” de MGF. A escolha da Maternidade Alfredo da Costa para apresentar o programa de acção não foi um acaso, inserindo-se na sensibilização dos profissionais de saúde, realçou Elza Pais. As linhas de actuação para os profissionais de saúde que atendem mulheres mutiladas ou em risco de o serem estão em elaboração há anos, sem que daí tenha ainda resultado um documento comum. Mas Elza Pais garante que um “sistema de indicadores” sobre a MGF está já “em fase de conclusão” e vai ser “progressivamente” integrado no site da Direção Geral da Saúde. O grupo de trabalho intersectorial sobre a MGF passa também a incluir mais dois ministérios, Justiça e Administração Interna, que se juntam aos da Saúde e da Educação, para que também os profissionais da justiça e da polícia possam saber “como lidar com estas situações”, que representam “uma grave violação de direitos humanos”, frisou a secretária de Estado. A MGF -- uma prática corrente em cerca de 30 países, sobretudo africanos, mas também importada por comunidades imigrantes na Europa -- já afectou mais de 130 milhões de mulheres, segundo a Organização Mundial de Saúde, sendo que outros três milhões estão em risco todos os anos.
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Entidades CPLP
Strauss-Kahn declara-se inocente e abre caminho a julgamento
Texto publicado originalmente na secção Mundo do jornal, no dia 07/06/2011A estratégia da defesa já o fazia prever, e o francês Dominique Strauss-Kahn confirmou-o de viva voz. "Inocente", disse o ex-director-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), quando ontem, no Supremo Tribunal de Nova Iorque, foi confrontado com as acusações de crimes sexuais que o levaram à cadeia. A declaração de inocência, feita em inglês, seguiu-se à leitura da acusação pelo juiz Michael Obus e abre caminho a julgamento. (...)

Strauss-Kahn declara-se inocente e abre caminho a julgamento
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2011-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Texto publicado originalmente na secção Mundo do jornal, no dia 07/06/2011A estratégia da defesa já o fazia prever, e o francês Dominique Strauss-Kahn confirmou-o de viva voz. "Inocente", disse o ex-director-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), quando ontem, no Supremo Tribunal de Nova Iorque, foi confrontado com as acusações de crimes sexuais que o levaram à cadeia. A declaração de inocência, feita em inglês, seguiu-se à leitura da acusação pelo juiz Michael Obus e abre caminho a julgamento.
TEXTO: A audiência de ontem marca o início do que pode ser um moroso processo legal e um julgamento por um júri, em que Strauss-Kahn incorre numa pena de até 25 anos de prisão por sete acusações que incluem tentativa de violação, abuso sexual e sequestro de uma empregada de hotel. A próxima sessão foi marcada para 18 de Julho, data em que poderá ser marcado o início do julgamento. Até lá, segundo o diário “Le Monde”, as partes deverão trocar documentos e provas. Caso se tivesse declarado culpado, o que seria uma surpresa, face às repetidas declarações de inocência dos seus advogados e do próprio, Strauss-Kahn poderia negociar uma redução da pena. Essa possibilidade mantém-se, mas não parece fazer parte da estratégia da defesa. Na carta de demissão do FMI, que se seguiu à detenção, DSK, como é conhecido em França, rejeitara já "com a maior firmeza" as acusações de crimes sexuais. Aquele que era, até há poucas semanas, um dos homens mais influentes do mundo, chegou ao tribunal de fato e gravata azuis-escuros, de braço dado com a mulher, a jornalista Anne Sinclair. De acordo com a descrição das agências noticiosas, passou por dezenas de repórteres e de trabalhadoras de hotel vestidas com farda de empregada de quarto, que lhe gritaram: "Envergonhe-se". Os protestos, promovidos por uma organização sindical, prolongaram-se durante a audiência e podiam, segundo a AFP, ouvir-se na sala onde decorreu a audiência, no décimo segundo andar do tribunal. "Ela é nossa irmã, nós apoiamo-la", explicou à Reuters Peter Ward, da New York Hotel Workers Union. A audiência de ontem, numa sala repleta de jornalistas, principalmente franceses, durou apenas sete minutos, ainda que Strauss-Kahn tenha permanecido no edifício do tribunal durante cerca de uma hora. Foi a terceira vez desde a detenção, a 14 de Maio, que, acompanhado pelos seus dois advogados, esteve perante o juiz. O antigo homem forte do FMI, de 62 anos, saiu de mão dada com a mulher, de regresso à luxuosa residência do Sul de Manhattan em que está, sob prisão domiciliária, com pulseira electrónica e sob vigilância permanente. No exterior do tribunal, tendo a imprensa como intermediário, os advogados esgrimiram argumentos e deram indícios sobre a sua estratégia. Um dos defensores de DSK, Benjamin Brafman, disse que a declaração de inocência foi "forte e eloquente" e que "vai ficar claro que não há indícios fortes de [que a mulher] que tenha sido forçada" a ter relações sexuais. A afirmação foi vista como uma resposta a um dos advogados da empregada de hotel, Kenneth Thompson, que considerou "absurda" a alusão de que a mulher tivesse mantido relações sexuais de livre vontade. "É uma mulher digna e respeitável", que foi vítima de uma "agressão sexual terrível", declarou. "A vítima deseja que saibam que todo o poder, dinheiro e influência de Dominique Strauss-Kahn não impedirá [que se apure] a verdade sobre o que fez nesse quarto de hotel", disse, segundo a AFP. Caso se concretize o julgamento, a mulher testemunhará contra ele, garantiu. Benjamin Brafman, uma estrela da barra dos tribunais, está, contudo, optimista. "Não posso por agora entrar em detalhes, mas estou confiante, não acho que o senhor Strauss-Kahn seja culpado dos factos que lhe são imputados, e prevejo que será libertado", disse no fim-de-semana à estação televisiva francesa M6. Acusado de ataques sexuais a uma imigrante africana de 32 anos, empregada do luxuoso Hotel Sofitel, em Manhattan, Dominique Strauss-Kahn foi detido pela polícia a bordo de um avião da Air France quando se preparava para deixar Nova Iorque a caminho de Paris. O antigo ministro francês, um dos homens mais influentes do mundo, devido ao cargo no FMI, era considerado um forte candidato à Presidência da República nas eleições do próximo ano.
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Partidos LIVRE
Uma ré silenciosa no maior julgamento de neonazis da Alemanha
Os crimes da célula de Zwickau deixaram a Alemanha chocada. Mas há quem diga que uma desconfiança latente em relação aos imigrantes continua a marcar a acção da polícia e que nada mudou. O maior julgamento de neonazis da Alemanha e um dos processos judiciais mais importantes no país desde o final da II Guerra Mundial começa hoje em Munique. A principal figura do processo é Beate Zschäpe, 38 anos, a única sobrevivente do grupo auto-intitulado "Nacional-Socialista Clandestino" (NSU). Zschäpe prometeu não quebrar o silêncio que tem mantido desde há ano e meio. No banco dos réus estão ainda quatro cúmplices de uma re... (etc.)

Uma ré silenciosa no maior julgamento de neonazis da Alemanha
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
TEXTO: Os crimes da célula de Zwickau deixaram a Alemanha chocada. Mas há quem diga que uma desconfiança latente em relação aos imigrantes continua a marcar a acção da polícia e que nada mudou. O maior julgamento de neonazis da Alemanha e um dos processos judiciais mais importantes no país desde o final da II Guerra Mundial começa hoje em Munique. A principal figura do processo é Beate Zschäpe, 38 anos, a única sobrevivente do grupo auto-intitulado "Nacional-Socialista Clandestino" (NSU). Zschäpe prometeu não quebrar o silêncio que tem mantido desde há ano e meio. No banco dos réus estão ainda quatro cúmplices de uma rede de 129 pessoas que terão ajudado, directa ou indirectamente, o trio do NSU. E a polícia e os serviços de informação interna da Alemanha vão estar de novo a ver escrutinadas as suas falhas na investigação dos crimes. O trio terá levado a cabo uma onda de assassínios entre 2000 e 2007: sete turcos ou alemães de origem turca, um grego, e uma agente da polícia. As autoridades investigaram os assassínios um a um, sem suspeitar de um motivo racista. Muitas vezes, apontaram para possíveis crimes das vítimas, ligações a grupos mafiosos, actividades ilegais que explicassem ajustes de contas. "Sinto que o meu pai foi morto duas vezes", sintetizou Semiya Simsek, filha de Enver Simsek, a primeira vítima. "Parece que os neonazis dispararam contra ele, mas as autoridades alemãs mataram-no uma segunda vez. " A mãe chegou a ser suspeita. "Durante 11 anos, não tivemos o direito de ser vítimas. "Esta foi uma das questões levantadas por estes casos - cuja resolução aconteceu por acaso, em 2011, numa perseguição policial a dois homens que levaram a cabo um assalto, falhado, a um banco, em Eisenach (ex-RDA). A polícia conseguiu estabelecer um cerco à zona de um parque de campismo para onde tinham fugido, e, ao pressentirem que seriam apanhados, os dois morreram num aparente pacto de suicídio. Tratava-se de Uwe Mundlos, então com 38 anos, e Uwe Böhnhardt, 34. Na caravana - à qual tinham pegado fogo - a polícia encontrou uma pistola Ceska, a arma com que tinham sido mortas todas as vítimas, sempre à queima-roupa. E um DVD, pronto a enviar a órgãos de comunicação social, mostrando imagens dos crimes e reivindicando a sua autoria. Pouco depois, Beate Zschäpe terá visto o suicídio nas notícias e incendeia o apartamento em que os três viviam na cidade de Zwickau, também no Leste da Alemanha, e foge. Quatro dias mais tarde, aparece numa esquadra de polícia e diz: "Sou aquela que procuram. "E, desde então, pouco mais disse. Negou os crimes de que é acusada - apesar das provas, desde a arma do crime ao DVD com a reivindicação (em que uma pantera cor-de-rosa aponta os locais do crime, intercalada com imagens das vítimas). "Toda a Alemanha sabe o seu nome, mas ninguém sabem quem é", resumia o diário Die Welt. Sabe-se que Zschäpe, nascida em Jena (então na RDA), foi afectada pelo alto nível de desemprego na região que se seguiu à reunificação da Alemanha. Mudou de apelido várias vezes no primeiro ano de vida - o pai, provavelmente romeno, nunca assumiu a paternidade - e aos investigadores disse que os dois companheiros eram a sua família. Terá sido com eles que começou a sua radicalização e teve ligação romântica com ambos. Descrita como uma rapariga normal, terá sido quem evitou suspeitas sobre o grupo. Explosivos na garagemOs três viviam em clandestinidade desde 1998, quando a polícia descobriu bombas caseiras com 1, 4 quilos de TNT numa garagem alugada por Zschäpe, uma espingarda e um jogo chamado Pogromly (uma versão neonazi do Monopólio) em sua casa, segundo a revista Der Spiegel. Desde então, o grupo viveu de assaltos a bancos (a polícia disse entretanto que lhes poderia imputar uns 15 assaltos) e com relativa impunidade. As autoridades foram fustigadas por uma série de erros. Um dos mais preocupantes terá sido um racismo inculcado que as fez sempre suspeitar primeiro das vítimas e nunca ponderar um motivo racista. Uma frase de um documento interno do estado de Baden-Württemberg de 2007 ficou agora tristemente célebre: o assassino não poderia ser da Europa ocidental. "Porque na nossa cultura a morte de seres humanos é um grande tabu. "Gurcan Daimaguler, advogado que representa algumas das vítimas (77 familiares aparecem como queixosos no processo), diz que na Alemanha "há uma desconfiança em relação à comunidade imigrante". O facto é que a polícia parece ter dificuldade em ver motivações racistas em crimes. Segundo o Ministério do Interior, houve 63 assassínios racistas entre 1990 e 2012. Mas o semanário Die Zeit e o diário Tagesspiegel documentaram pelo menos 152 mortes por criminosos de extrema--direita no mesmo período. Activistas da defesa dos direitos de imigrantes dizem que pouco mudou, mesmo depois de o país acordar, chocado, para a violência deste trio. Biplab Basu, activista de um grupo de ajuda a vítimas de violência racista em Berlim, contou um caso recente à revista Der Spiegel: um jovem negro tinha sido agredido no bairro berlinense de Neukölln. Ao chegar ao local, a primeira coisa que a polícia fez foi algemar o jovem, achando que era ele o criminoso.
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Marine Le Pen condenada a “matar o pai”
A “execução política” de Jean-Marie Le Pen será um episódio de grande violência. (...)

Marine Le Pen condenada a “matar o pai”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A “execução política” de Jean-Marie Le Pen será um episódio de grande violência.
TEXTO: A França política assiste a uma "guerra de família" que se desenvolve mais no registo de folhetim do que no de tragédia. Um "Dallas" francês que mal acaba de começar. Jean-Marie Le Pen, 86 anos, declarou guerra à filha, Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (FN) por ele fundada. "Nunca somos traídos senão pelos nossos", lamenta. "Marine Le Pen deseja a minha morte". Mas "o cadáver ainda mexe", previne. "Não se sai do ringue senão em sangue, seja-se vencedor ou vencido. " E promete "a morte da FN" se for expulso. Marine agiu depressa. Vetou a candidatura do pai às eleições regionais de Dezembro e acusou-o de se lançar "numa espiral entre a estratégia da terra queimada e o suicídio político. A FN não pode ficar refém das suas grosseiras provocações. " Quer impor-lhe sanções disciplinares. Seria uma banal luta pelo poder se não fosse um "combate mortal" entre pai e filha. Mas o folhetim poderá mudar o tabuleiro político francês. A entrevista ao RivarolDe repente, a FN volta a ocupar o centro das atenções mediáticas. "Pouco importa que falem bem ou mal de nós, o importante é que falem" — é uma máxima do velho Le Pen. Para Marine, parece a oportunidade dourada de fazer a ruptura final com o pai, distanciar-se da herança da extrema-direita e concluir a "desdiabolização" da FN. Não pode hesitar perante o parricídio. Mas a "execução política" de Jean-Marie Le Pen será inevitavelmente um episódio de grande violência", prevê o historiador Nicolas Lebourg. O primeiro ajuste de contas será feito dentro de dias na comissão executiva do partido. Os atritos entre pai e filha começaram logo em 2011 quando ela assumiu a liderança da FN e escolheu a linha da "desdiabolização". Ele prosseguiu na linha das provocações. Ela procurou relativizá-las ou desculpá-las. Cedo se percebeu que a ruptura era inelutável. Jean-Marie sempre disse: "Uma FN amável não interessa a ninguém. (. . . ) O eleitor prefere sempre o original à cópia. " Não tolera que a "desdiabolização" faça da FN "um partido como os outros". Foi Jean-Marie quem abriu as hostilidades no dia 2 de Abril. Recorreu a uma provocação que usou pela primeira vez em 1987 e que repete quando quer atrair as atenções: as câmaras de gás "são um detalhe" da II Guerra Mundial. Estas gafes não são espontâneas, são politicamente calculadas. Enfureceu Marine e forçou-a a uma rápida condenação. Era apenas uma amostra. Deu a seguir uma longa entrevista ao Rivarol, jornal da velha extrema-direita francesa e especialista em anti-semitismo. O seu director, Jerôme Bourbon, escreveu quando Marine foi eleita presidente da FN: "Para mim, Marine Le Pen é um demónio, a inimiga absoluta de todos os pontos de vista, no plano moral, no plano político e no plano intelectual (. . . ) e cujo círculo é composto por arrivistas sem escrúpulos, judeus patenteados e invertidos notórios. ""Não é uma entrevista, é uma declaração de guerra", disse um analista. Nela, Le Pen alinha e radicaliza todas as velhas provocações. Absolve o regime do marechal Pétain; insiste no "detalhe da História"; diz-se cansado das referências de Marine à República; propõe a aliança com a Rússia "para salvar a Europa boreal e o homem branco". Enfim: "Somos governados por imigrantes" como Manuel Valls. "Qual é a sua ligação real à França?" Ataca os colaboradores da filha e o seu suposto "lobby homossexual", visando Florian Philippot, o seu estratego eleitoral. Le Pen quis deliberadamente mostrar, contra a filha, "a dimensão racista e anti-semita da FN", resume o historiador Jean Garrigues. O ponto fulcral é o anti-semitismo. Le Pen gostava de "enforcar" árabes em público para ganhar votos, mas em privado preferia alvejar os judeus. Marine, ao contrário, quer atrair a comunidade judaica. Com algum sucesso. Roger Cukierman, presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (CRIF), desencadeou uma tempestade ao afirmar que, ao contrário do pai, Marine Le Pen é, do ponto de vista do anti-semitismo, uma personalidade "irrepreensível". Louis Alliot, vice-presidente da FN, respondeu imediatamente. "A entrevista de Jean-Marie Le Pen nesse pasquim anti-semita é perfeitamente escandalosa e as nossas divergências políticas são doravante insanáveis. " Alliot é o companheiro de Marine. Quase todo o aparelho da FN é solidário com Marine, mas Jean-Marie tem uma base de apoio própria. E um trunfo de reserva: a sua neta Marion Maréchal-Le Pen (sobrinha de Marine), deputada da FN. Aos 25 anos, é uma das favoritas dos militantes e muito próxima das posições do avô. Pode vir a ser uma das grandes vedetas nas eleições regionais. De momento ninguém contesta Marine. A prazo, Marion é uma concorrente.
REFERÊNCIAS:
Étnia Árabes
“A esquerda tem mostrado uma maturidade enorme para engolir sapos”
Antes da primeira volta das eleições brasileiras, visitou Lula na prisão, onde encontrou um polícia que tinha lido os seus livros. O Brasil preocupa-o. Portugal deixa-o optimista. A “inovação” portuguesa tem todas as condições para se repetir, entende. Sobre os críticos, diz que apenas o insultam, mas que não discutem as suas ideias. “No fundo, a mediocridade grandiloquente é muito grande em Portugal” (...)

“A esquerda tem mostrado uma maturidade enorme para engolir sapos”
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Antes da primeira volta das eleições brasileiras, visitou Lula na prisão, onde encontrou um polícia que tinha lido os seus livros. O Brasil preocupa-o. Portugal deixa-o optimista. A “inovação” portuguesa tem todas as condições para se repetir, entende. Sobre os críticos, diz que apenas o insultam, mas que não discutem as suas ideias. “No fundo, a mediocridade grandiloquente é muito grande em Portugal”
TEXTO: Aos 77 anos, Boaventura de Sousa Santos continua a dividir o tempo entre Portugal, onde dirige o Centro de Estudos Sociais (CES), e os Estados Unidos, onde lecciona na Universidade de Wisconsin-Madison. Pelo meio, o sociólogo e jurista é um observador atento da América Latina, tendo participado na elaboração das constituições do Equador e Bolívia. É dos académicos portugueses de maior projecção internacional e mantém-se atento aos desenvolvimentos no Brasil, onde a eleição de Jair Bolsonaro representa mais um episódio no “ciclo reacionário global”. Falou ao P2 no seu gabinete no CES, em Coimbra, organização que ajudou a fundar e que assinala esta semana 40 anos. Sobre Bolsonaro disse que “é mau, grotesco, grosseiro, sexista e racista”. E, agora, Presidente do Brasil. Como vê os próximos quatro anos?Com muita preocupação. Muito do discurso e da retórica usada nos momentos de campanha, não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos, é extremamente violenta, agressiva e que tem uma característica nova, antidemocrática. Nestes casos, há uma recusa em discutir as ideias dos adversários. Como disse Bolsonaro na campanha, “os meus rivais políticos só têm dois caminhos: ou a prisão ou o exílio”. Bem, isto é o fim da democracia. Mas isto é o que se diz em campanha. O que é que se vai realizar depois é diferente. O próprio Trump manteve o seu discurso, mas teve de se articular com o sistema político que está no terreno. No Brasil, o problema é saber qual vai ser o sistema político com que ele vai ser recebido. Vai ser Presidente num Congresso onde 75% da câmara dos deputados é conservadora. Ainda assim de vários partidos. O partido de Bolsonaro é a segunda maior bancada, a seguir ao Partido dos Trabalhadores. Mas, no conjunto, são mais os partidos conservadores. Dentro deles há partidos de extrema-direita, que hoje têm alguma representação. Pelo menos na câmara dos deputados ele vai ter um Congresso consonante com as políticas que promete pôr em vigor. A preocupação é a de saber como é que esta consonância entre um Presidente que é obviamente de extrema-direita e um Congresso muito conservador vai enfrentar uma sociedade em que 47 milhões de pessoas votaram em Fernando Haddad e em que 30% não quis a polarização — não votou, votou nulo ou branco. É muita gente. Este Presidente não só elevou o nível de medo daqueles que são seus opositores, mas criou expectativas altíssimas entre aqueles que são seus apoiantes. É uma lógica militar que volta ao poder pela via democrática. A transição [para a democracia] foi muito controlada pelos militares e eles têm não só uma visão política diferente da população civil e dos partidos, mas uma ideia de superioridade moral. Esta superioridade moral vai ser transferida para dentro do governo, com ministros militares. Essa ideia é perigosa?É, porque toda a diferença é estigmatizada. Se eu me considero superior moralmente e penso que uma família é um homem e uma mulher, tenho toda a justificação para liquidar os homossexuais. É uma lógica repressiva. O Brasil, ao contrário de outros países da América Latina, tem uma sociedade civil bastante organizada, com muitos movimentos sociais. É evidente que vai haver resistência. Há uma sociedade civil que não está desarmada social e politicamente. Nas últimas semanas houve uma mobilização extraordinária, que não foi suficiente, mas mostra um apego à democracia que o Latinobarómetro não previa. Como é que vai ser enfrentada? Pela concertação ou pela repressão? Se acreditarmos no discurso do Bolsonaro, será pela repressão. Tendo em conta essas preocupações, a eleição de Jair Bolsonaro significa mais um passo na erosão da democracia ou a evolução para uma ditadura a curto prazo?É difícil de prever. Costumo dizer que os sociólogos são bons a prever o passado. Está a preocupar-me uma confusão cada vez maior entre os conceitos de “ditadura” e de “democracia”. Estamos a entrar em regimes híbridos. Têm elementos de democracia, na medida em que há partidos, e continua a haver uma disputa eleitoral. Mas são democracias truncadas ou de baixíssima intensidade. Por exemplo, os militares, neste momento, falam da nova democracia, que é uma democracia sem o PT, sem a esquerda. Isto não é novo. Tivemos isso na Europa, depois da II Guerra Mundial, na parte Ocidental, a partir de 1945, na Itália e depois na Grécia. Os comunistas tinham a maioria devido à sua luta contra o nazismo e houve uma política de contenção desses partidos. Falava da composição do Congresso. Mecanismos como o Supremo Tribunal Federal ou a imprensa são suficientes para combater esse ímpeto autoritário? Por exemplo, nos EUA, fala-se no sistema de checks and balances. Um meu colega de Harvard, Steve Levitsky, acaba de publicar um livro fabuloso, How Democracies Die. Basicamente é [sobre] o fim do checks and balances que está a acontecer. A partir da nomeação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal dos EUA, temos uma maioria conservadora. Vão começar a surgir as decisões contra o aborto. Um retrocesso. Os checks and balances estão a ser postos em causa devido à retórica e trabalho de Donald Trump. É um problema mundial. Estamos a passar por um ciclo reaccionário global. Não é apenas o Brasil, também na Europa e noutros países da América Latina. A minha esperança é que esses sistemas de controlo sejam accionados. Podemos pensar nos meios de comunicação. É curioso que Bolsonaro diga da Globo e da Folha de S. Paulo o que Trump diz da CNN, do New York Times e do Washington Post. A lógica é a mesma, porque [o ex-conselheiro principal de Donald Trump] Steven Bannon lá vai dando as mesmas dicas do que se deve dizer. Quanto à imprensa, vamos ver: 120 milhões de utilizadores do Whatsapp têm como única fonte de informação o Facebook e o Whatsapp. Isto significa uma capacidade tóxica muito grande. Por outro lado, quanto aos tribunais, a minha preocupação também é grande. Vejo que foi a fraqueza dos checks and balances que levou Bolsonaro ao poder. Isto é, toda a operação Lava-Jato e atropelos à legalidade que se cometeram nesta investigação fizeram com que ela não fosse apenas uma luta contra a corrupção — que é perfeitamente legítima — mas uma luta de desestruturação do sistema político. Já tínhamos assistido a isso nos anos 1990, em Itália, e deu no [Sílvio] Berlusconi. Aqui deu no Bolsonaro. A direita ganharia tranquilamente as eleições de 2018 se deixasse estar Dilma Rousseff no poder. Não haveria destruição do sistema. Disse já que um dos problemas do governo de Lula e do PT foi não ter promovido uma efectiva redistribuição de riqueza, mas antes canalizou o excedente. Fui solidário, mas muito crítico em relação aos governos do PT exactamente por isso. Foi uma oportunidade histórica que se perdeu, porque tinha uma grande aceitação popular e podia ter feito uma reforma do sistema politico. Conseguiu-se reduzir o financiamento das campanhas eleitorais pelos empresários, que já não foi mau de todo. Havia realmente possibilidades. Por exemplo, quando se dá o grande boom da China, ninguém pensa que em 2009-2010 ia cessar. Disse que o julgamento de Lula tinha sido politicamente instrumentalizado para evitar a sua candidatura. Com a eleição de Bolsonaro, qual espera que seja o desfecho?Tenho um grande apreço pelo primado do direito e pelo respeito da legalidade nas democracias. No caso do presidente Lula, acho que não foram respeitadas. Se estivesse solto, tinha ganho as eleições, o que significava que o golpe tinha sido um fracasso. O grande erro que o PT cometeu [na campanha eleitoral] foi só ter visto o lado bom da história. Mesmo na prisão, Lula era o candidato mais popular. Mas o segundo candidato mais popular era aquele que tinha o ódio mais visceral e mais primário ao PT, que subestimou a demonização do petismo. Foi um erro absolutamente histórico. Visitei o presidente Lula na prisão, li as sentenças e não há nenhuma argumentação jurídica que justifique aquela decisão. Por outro lado, temos de construir uma política democrática no futuro que não pode repetir os erros do passado. Isto é, o “lulismo” não pode voltar. Mas a figura do presidente Lula não pode ser condenada historicamente e morrer na prisão. Será de uma injustiça histórica enorme em relação a um homem que, com todos os erros que cometeu, conseguiu tirar 50 milhões de pessoas da miséria e da fome. Por outro lado, se as outras forças se concentrarem exclusivamente no slogan “Lula livre”, que eu próprio tenho defendido bastante, é uma luta em relação ao passado. Não apresenta uma alternativa de futuro. E, bem ou mal, esta política foi rejeitada. Penso que é um novo capítulo que está a inaugurar-se. Neste momento há Fernando Haddad, um homem honesto, muito moderado. Mas falta-lhe o carisma de Lula. Não sou grande adepto de carismas. O Hugo Chávez também tinha um grande carisma. O problema do carisma é que se cria uma grande desertificação à sua volta, depois só há o líder. Agora é preciso reconstruir. Prevejo que possa haver um novo partido de esquerda, um partido-movimento, a partir dos movimentos sociais, que mostraram o que houve de melhor nesta candidatura. A grande liderança [que surgiu], no meu entender, foi o Guilherme Boulos, do PSOL. O Brasil vai ter de jogar uma coisa muito difícil em democracia, que é manter a memória. Perderam a memória da ditadura. Agora podem correr o risco de perder a memória dos anos de alguma inclusão social. Obviamente por causa da corrupção — e eu fui crítico na altura própria do modo como se estava a fazer a governação. A esquerda devia ter tolerância zero para com a corrupção, mas não foi essa a linha seguida. O futuro é esta ideia de que todas as esquerdas têm de se unir, mas não devem privilegiar uniões com a direita. A direita brasileira mostrou que só é democrática quando se pode servir da democracia para manter os seus privilégios. Visitou Lula na prisão no final de Agosto. Sobre o que falaram?A minha visita foi de meia hora, antes do Martin Schulz. Entro no edifício da Polícia Federal, que foi inaugurado pelo Presidente Lula há 11 anos. Está lá uma grande placa. Sou levado para a cela, por um jovem polícia federal, cujos quadros superiores têm formação universitária. No caminho, diz-me: “Professor, eu sou um devorador dos seus livros. ” Fico com um sorriso amarelo e digo que os meus livros não dão para justificar a prisão do presidente Lula. Ele diz-me: “Pois é, professor, mas eu tenho de obedecer a ordens. ” A cela é solitária, bastante arejada e grande, com uma passadeira para fazer ginástica, televisão, etc. Já o conhecia. Ele perguntou-me sobre a conjuntura da América Latina. Dei-lhe a minha perspectiva, de que o continente estava a mudar de uma certa esquerda — problemática, é certo — para uma direita. Depois perguntei-lhe porque não liberava o seu sucessor. Eu fui adepto de que ele liberasse Haddad o quanto antes. Achava que uma coisa é o afecto que o povo tem a Lula. Mas a adesão a Lula não era uma adesão às pessoas indicadas por Lula. Depois, o presidente Lula disse-me que está inocente e que vai lutar toda a vida para provar a sua inocência. Sobre Bolsonaro, preocupa-o mais a atitude autoritária ou a política económica?A política económica. No fundo, é isto: o ciclo reaccionário global é o capital financeiro, que não precisa de gente, que cria riqueza a partir do dinheiro e não da produção industrial. O Brasil desindustrializou-se muito nestes últimos anos. O capital financeiro vai ser o Paulo Guedes. É um homem que esteve com a política económica do Pinochet, é dos Chicago Boys [grupo de economistas chilenos que estudaram nos EUA nos anos 70 e 80] e que conhece muito bem a política neoliberal. Começa agora um capitalismo financeiro que é concentrador de riqueza — como vimos em Portugal durante a troika — e um ataque aos direitos sociais. Como eles já são fracos no Brasil, vai ser muito fácil destruí-los. O meu alarme foi quando o grupo de Nouriel Roubini — o economista turco que previu a crise de 2008 — apresentou um estudo a dizer que os mercados nada tinham contra Bolsonaro. Vi que era o certificado de legitimação, não de Bolsonaro, mas da política dele. Sobre economia, ele manda para o Paulo Guedes. Durante a ditadura militar, o crescimento económico ajudou a legitimar o regime. Receia que aconteça o mesmo?A política económica liderada pelo capital financeiro não está a aumentar o nível de desenvolvimento em nenhum país. A própria Europa tem vindo penosamente a ver isso. Não prevejo um grande boom económico porque não vejo a China a promover a mineração como antes. Steve Bannon ainda agora veio dizer que o Brasil estava dominado pela China e que tem que articular-se é com os EUA. Mas os EUA são tão predadores quanto a China. Qualquer um quer o seu máximo de lucro. Na área extractivista pode haver mais algum crescimento, mas nada do que aconteceu no tempo da ditadura. Nesse tempo foi possível um desenvolvimento de infra-estruturas nacionalista. A Embraer é produto da ditadura. Vai ser comprada pela Boeing e vai desaparecer. A Petrobras era uma grande empresa. Claro que houve corrupção, mas era bom eliminar a corrupção e manter a empresa. Mas a empresa está a vender ao desbarato praticamente toda a riqueza do Brasil. Estamos a assistir a uma mudança de ciclo regional na América Latina? Há uns anos tínhamos um grupo de países alinhados à esquerda. Penso que não é regional. A tendência parece-me global. Estamos num interregno entre duas globalizações. A que começou em 1989, com a queda do muro de Berlim e que veio até ao dia de hoje, que assentou em grandes níveis de rentabilidade para os EUA, com a cooperação satélite da Europa, foi a Internet dos computadores pessoais. Essa fase está a entrar em crise. Os computadores e programas são baratos, os smartphones cada vez custam menos. A rentabilidade desta inovação caiu. Quando cai, termina a fase da globalização e aumenta a rivalidade entre países. Foi assim de 1870 a 1914 e depois tivemos duas guerras praticamente seguidas. Neste momento, estamos a ver quem vai controlar a próxima globalização. A inovação tecnológica da próxima globalização vai ser a robótica, a automação e a inteligência artificial. Quem é que está bem posicionado para a controlar? A China. Neste momento, toda a política internacional é a rivalidade entre os Estados Unidos e a China. Só que a China é credora da dívida americana e muitas empresas americanas funcionam à custa do seu investimento na China. Portanto, não pode ser atacada directamente. Tem de ser atacada através dos seus aliados. Basta ver o que diz Steve Bannon na Folha de São Paulo desta semana: era preciso neutralizar a China na América Latina. Quando há rivalidade entre países, o império em decadência quer lealdade total. Não aceita autonomias. Por exemplo, a União Europeia ainda tem lógicas que não são totalmente amigas dos negócios dos EUA. A política dos EUA, neste momento, é destruir a UE. É muito mais fácil lidar com uma Europa dividida do que com uma Europa unida. Mas acredita que a ascensão do eurocepticismo está relacionada com isso?Exactamente. Não é teoria da conspiração. Porque é que o “Brexit” foi apadrinhado pelos Estados Unidos? Para criar a primeira fractura na Europa. Porque é que os EUA dizem que os únicos países que estão a seguir um caminho correcto são a Polónia e a Hungria? São os que estão a contestar a UE. O objectivo é criar nas próximas eleições — e Steve Bannon está aí com o seu The Movement — uma maioria de eurocépticos que desmembre a União Europeia e os Estados Unidos possam negociar país a país. E, nessa altura, isolam a Alemanha, a grande potência económica da Europa. Na América Latina, é o alinhamento total. É Macri na Argentina, é Piñera no Chile e é agora Bolsonaro no Brasil. Nós conhecemo-la menos, mas a China também está a ter uma estratégia de hegemonia. Aquela grande infra-estrutura continental, a iniciativa belt and road, é para criar aliados. Para dar a última chave disto: onde é que a guerra de tarifas com a China está a incidir? Nas transferências de alta tecnologia. Os estudos da CIA, altamente sofisticados, dizem claramente no Global Trends 2030 que a China será a primeira economia mundial em 2030. Toda a política dos EUA é para impedir que isso ocorra. Estamos a chegar ao fim da legislatura. Continua a ver com bons olhos esta solução governativa?Continuo. Acho que tem todas as condições para continuar. Portugal é uma inovação. O efeito desta aliança de esquerda foi puxar um bocado a direita para o centro. O PSD teve de se passar para o centro. Perdeu o excesso neoliberal de Passos Coelho como única solução de poder. Penso que uma direita neoliberal que se opõe a qualquer política social, como foi a política de Passos, por agora, está neutralizada. A actual solução teve por base “convergências mínimas” para chegar ao poder em 2015. Passava por afastar Passos Coelho, por exemplo. Não havendo essa circunstância, acha que mesmo assim é repetível?Não vejo nenhuma razão para não acontecer. Na Alemanha, uma coligação de outro tipo, que era o SPD com uma direita muito moderada e do centro, durou muito tempo. Está agora em crise, mas é ao fim de muitos anos. Não vejo nenhuma razão para que ela tenha de ser apenas uma solução de emergência contra a austeridade. Mas teria de alargar as convergências. Provavelmente. E teria de haver um pouco de mais ousadia e de cumprir as promessas de 2016. A ideia é que a partir de 2018 teríamos alguma folga para fazer investimento nas infra-estruturas e na função pública. Isso tem de ser cumprido. A esquerda tem mostrado uma maturidade enorme para engolir alguns sapos. Por exemplo, no caso da legislação laboral, que foi negociada com a direita. Depende um pouco do PS, que continua a ter dentro de si próprio uma corrente mais à direita. Não é a corrente de Mário Soares, que António Costa representa, mas são outras correntes que se foram construindo na lógica de Tony Blair. Um deles é Augusto Santos Silva, meu colega sociólogo. [Agora] É-lhes mais difícil, porque tudo o que diziam da grande desgraça que seria o PS articular-se com a esquerda não aconteceu. A esquerda tem mostrado contenção, um sentido de regime democrático e de defesa da democracia, embora com divergências. O PCP é contra a NATO, o PS é a favor, o PCP é contra o euro, o PS é a favor. Mas vão-se entendendo. São alianças pragmáticas. A questão sobre a possibilidade de repetir a solução ia nesse sentido, de haver diferenças em que não há convergência possível. Sim, mas onde há convergência ainda há muita matéria. Foi para parar a austeridade. . . . que agora já não se coloca. Coloca. Não chegámos ainda aos níveis de vida que tínhamos antes da crise. Ao nível de desemprego, sim. Portugal estava a aproximar-se da média europeia até 2000. Quando Portugal entrou para a UE em 1986, tínhamos 50% do rendimento médio da União. Em 2000, estávamos em 75%. Desde 2000 temos vindo a regredir. Nem sequer começámos uma aproximação. Estancámos e agora era preciso começar uma aproximação. Para isso, uma solução de esquerda era melhor. De uma perspectiva de esquerda, acha que foi feito o suficiente nos últimos quatro anos. Houve uma política de reversões das medidas da troika. Mas isso é suficiente?Não é. O que estava nos acordos era que uma primeira fase da articulação parlamentar fosse conter a austeridade. Era parar a privatização do que ainda era possível privatizar. Estancar também o empobrecimento das classes médias e baixas. Isso fez-se. Temos vindo a ver que, ao nível da função pública, há alguma tentativa de repor os rendimentos perdidos. Há limitações europeias muito graves e aqui é que a UE vai ter uma palavra decisiva. O facto de a legislação laboral ser votada à direita não é apenas por vontade do PS, é uma política da UE, que quer a flexibilização, ou seja, a precarização das relações do trabalho. Acho que os portugueses ficaram muito ofendidos com a agressividade de 2011, sobretudo jovens, mandados emigrar, que não tinham lugar no país. . . Ficaram com uma má memória daqueles tempos. Ainda assim, a direita teve a maior parcela dos votos em 2015. Mas isso sempre foi tradicional em Portugal. Desde 1974 que a maioria vota à esquerda e somos governados à direita porque a direita está unida e a esquerda está dividida. Não digo em todos, mas em grande parte dos ciclos eleitorais o país tem votado à esquerda. Agora há uma unidade de esquerda e tem de haver a mesma vontade dos três partidos em manter a coligação. Não vejo nenhuma razão para que seja impossível. Sobretudo pela credibilidade que a experiência portuguesa teve na UE. Quando está a ser atacada pelos Salvinis, pelos Kaczynskis e pelos Orbáns, vai dar um tiro no pé e virar-se contra estes, que são os que estão a defender a UE? Portugal tem todas as condições para que as instituições europeias facilitem a continuação desta experiência. O que eu prevejo, e posso estar a ser optimista, é que a própria UE está a começar a olhar para si própria e a ver esta política neoliberal, que é construída por mais de 600 lobbyistas em Bruxelas. Em 2017, também se mostrava optimista em relação a uma eventual exportação da “geringonça”. Mantenho-me optimista. Este livrinho [puxa da prateleira o livro Esquerdas do Mundo, Uni-vos!] saiu no Brasil e vou lançar agora a edição espanhola. Estão a pedir edições em Itália, no México, na Colômbia e na Argentina, para já. Esta ideia da unidade de esquerda está a fervilhar na política. Não como soluções de governo, mas como articulação. É uma vitória contra o dogmatismo e o sectarismo que dominou a esquerda durante muito tempo. Penso que as esquerdas começam a ver que têm de se unir, porque qualquer dia é tarde demais. Falou do papel central da Alemanha. Agora que a saída de Angela Merkel está no horizonte, há a hipótese de a crise das democracias chegar a Berlim? O AfD, de direita radical, está a crescer. É um perigo real. A Alemanha destruiu a Europa duas vezes pela guerra. Quando veio a crise da Grécia, o meu medo era que a Alemanha destruísse a Europa por via financeira. Temos muito medo da Alemanha. No entanto, ao contrário do que acontece no Brasil, a memória do nazismo foi muito forte. Não houve um branqueamento. Terminou o doutoramento em Yale em 1973 e voltou nesse ano para Coimbra. Cinco anos depois fundou o CES, que está agora a comemorar 40 anos. Estava contratado para ficar na Universidade de Nova Iorque, mas vim a Portugal, para ver como estava. Era um período de abertura do regime marcelista e tinha-se criado em Coimbra uma faculdade nova [a de Economia] pelo ministro mais liberal, Veiga Simão. Comecei a dar aulas sem compromisso em Setembro e a 25 de Abril do ano seguinte veio a Revolução. Nessa altura, decidi voltar a Portugal e desvinculei-me da Universidade de Nova Iorque. Depois fui liderar a Faculdade de Economia, que ainda não tinha Sociologia. Em 1978, criámos aqui o CES, para começar a fazer investigação na área das ciências sociais. Na altura, havia apenas o gabinete do doutor [Adérito] Sedas Nunes, em Lisboa, que deu origem depois ao Instituto de Ciências Sociais (ICS). Havia um défice de estudos académicos nessa área?Absolutamente. O único grupo era o Gabinete de Investigações Sociais, de Sedas Nunes, que era tolerado. Quando vim dos EUA, tive uma conversa com ele, que me convidou para ficar. Eu disse-lhe que queria fazer alguma coisa em Coimbra. O CES surge tardiamente na Europa, mas hoje somos um dos maiores centros de ciências sociais, uma comunidade de 800 pessoas. Na altura, éramos meia dúzia. Juntámo-nos e tentámos fazer do atraso uma força. O atraso social do país justificava que surgisse um centro do género?Todas as teorias sociológicas que tinha estudado nos EUA não se aplicavam a Portugal, que não era um país do primeiro mundo, nem era do terceiro mundo. Era um país intermédio, a que chamámos depois a “semiperiferia”. O objectivo era mostrar que a especificidade sociológica e política exigia uma análise feita por nós próprios com base em quadros teóricos feitos por nós a partir do conhecimento internacional. Fizemos do atraso um avanço. Somos hoje uma instituição muito internacionalizada, de tamanho médio, com publicações científicas muito fortes e com uma responsabilidade cidadã. Durante a crise, o Observatório das Crises e Alternativas foi uma alternativa ao pensamento único. O CES confunde-se com a sua actividade cívica?Não. O CES é extremamente plural. Tem gente que está próxima de praticamente todos os partidos e actividades cívicas muito diferentes. Sofremos um bocadinho de “Lisboa-centrismo”, que cria estereótipos. Alguns cientistas sociais conservadores não gostam da posição que nós temos no país. É uma posição de compromisso com a cidadania e com a democracia. Sou o alvo preferido de alguma direita do país, mas sou apenas o director científico do CES. O CES são 800 pessoas, 150 investigadores. Muita gente. O facto de se posicionar à esquerda influencia a forma como as pessoas percepcionam o seu trabalho?Não. Há outras esquerdas aqui dentro, tem outras pessoas que não têm a minha posição. Gostaria de saber porque é que sou o alvo preferido de alguma direita na comunicação social. Talvez porque lhes cause alguma impressão. Normalmente não discutem os meus argumentos, insultam-me. Tem que ver com posicionamento político ou com uma ideia de ciências sociais?Temos nas ciências sociais duas correntes que convivem democraticamente há muitos anos em todo o mundo: há uma ciência que acha que, para ser objectiva, tem de ser neutra social e politicamente e outra que acha que pode ser objectiva mas não neutra. A segunda até vem da física quântica. Quando observamos os átomos, ou observamos a sua velocidade ou a sua posição. Não podemos analisar as duas coisas. Com os cientistas sociais é o mesmo. Eu quero ser objectivo, mas tenho de saber de que lado estou. Aprendi isto nos EUA e em Yale, num centro conservador do conhecimento. Eu estou do lado dos oprimidos ou dos opressores? Do lado de quem discrimina ou de quem é discriminado? Há uma corrente, que se baseou no positivismo, que diz que objectividade é neutralidade. Se olhar para o comportamento cívico desses cientistas sociais, são todos de direita. Portanto, consideram-se cientistas sociais objectivos e neutros e têm uma posição cívica de direita. Porquê? Porque não são neutros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Diz que os seus críticos não discutem as suas ideias, insultam-no. É mesmo assim?Pois claro. Dei uma entrevista à Análise Social [uma publicação do ICS, em 2012] e dois membros do conselho consultivo, a doutora [Maria] Filomena Mónica e o doutor António Barreto, demitem-se por me terem feito uma entrevista? Isto é ciência? Não podemos aceitar a pluralidade? Eu nem gosto de pôr nomes, mas quando uma dessas pessoas diz numa sua croniqueta que o CES é a instituição de ciência mais nefasta do país, acha que não é um insulto? Não têm coragem de discutir. Os meus livros estão aqui [mostra um livro da sua autoria, The End of The Cognitive Empire, da Duke University Press], eu publico nas melhores editoras norte-americanas. Portugal é muito provinciano. Essas pessoas nunca aceitaram que houvesse ciências sociais fora de Lisboa. Sou um grande amigo da actual directora do ICS, da Karin Wall. São coisas que passaram com uma certa corrente nessa instituição rival, que já não está presente sequer. Foram coisas do passado que eu gostava que ficassem no passado. Se eu quero unir as esquerdas, não quero também unir os cientistas sociais na sua diversidade? Não quero que sejam todos antipositivistas, mas que mostrem o que falam. No fundo, a mediocridade grandiloquente é muito grande em Portugal. Não é só na academia que tem críticos. Há um de estimação na última página do seu jornal que aproveita qualquer oportunidade. Depois, como têm alguma influência, tenho de responder a jornalistas estrangeiros coisas que ouvem e pensam que são verdade. Por exemplo, converteram-me num defensor da Venezuela. Eu fui muito crítico de Hugo Chávez. Isso foi por causa do artigo que escreveu Em Defesa da Venezuela. Contra a demonização e o embargo! Mas nunca foi uma defesa total do regime da Venezuela. Enfim, uma crónica no seu jornal, “Boaventura rima com ditadura”, diz tudo. É um insulto, não é uma análise. De modo que, meu caro, temos de estar preparados, porque isto é uma luta política.
REFERÊNCIAS:
Uma implosiva geografia exílica
O que escreve Djaimilia Pereira de Almeida pode entender-se como poderosa ferramenta de transformação da visão da paisagem humana portuguesa. (...)

Uma implosiva geografia exílica
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181220192552/https://www.publico.pt/n1854334
SUMÁRIO: O que escreve Djaimilia Pereira de Almeida pode entender-se como poderosa ferramenta de transformação da visão da paisagem humana portuguesa.
TEXTO: Li Esse Cabelo (2015), o primeiro romance de Djaimilia Pereira de Almeida — essa “inusitada história de um cabelo crespo” — após uma colega brasileira, professora de literatura, me ter abordado indagando o que eu pensava do romance pois estaria a ponderar a possibilidade de fazer um pós-doutoramento sobre uma (possível) literatura portuguesa de autoria negra, em que, através de um viés comparatista (com a escrita negra brasileira), buscaria problematizar os processos de produção e circulação dessa literatura em ambos os países. Autoria: Djaimilia Pereira de Almeida Companhia das LetrasLi-o e disse-lhe, evitando referir a questão primordial da sua abordagem, que talvez estivéssemos perante uma escrita ensaística em que a veia do romance prevalece pelo modo como a autora narrativiza as suas reflexões e, no caso do livro em questão, a sua experiência de vida a braços com um cabelo “aspero e intratável” — estaríamos, porventura, perante um romance de projecção autobiográfica. Pois em Luanda, Lisboa, Paraíso (2018) a autora regressa a — (sua?) mesmo que (re)inventada — uma história de vida: um pai (não já o “avó Castro”, mas Cartola de Sousa) viaja de Luanda a Lisboa em 1984 com o intuito de acompanhar o tratamento do calcanhar esquerdo malformado do filho mais novo, Aquiles, e hospedam-se — tal como o “avó Castro” e seu filho — na Pensão Covilhã, em Lisboa. Tornando-os paradigma da simultânea condição de exilados, imigrantes e minoritários, as personagens, pai e filho, encetam um percurso pelos meandros dessa tripla condição, rastreando os efeitos de uma realidade desigual e as consequências de uma visão monolítica e teleológica de identidade, sempre na contramão da teoria huntingtoniana do “choque de civilizações” e do que se considera serem “valores universais”. Interessante, neste contexto, é a relação de Pepe, o galego, com Cartola, duas almas que, no limiar da perifericidade, seja ela cultural ou étnica, de âmbito nacionalizante (angolana, portuguesa ou galega/espanhola) — não faltando uma sugestão de homossexualidade por que Aquiles manifestaria uma vergonhosa tristeza ao perceber (ou pensando ter percebido) que os dois homens “[h]aviam cruzado uma fronteira”. Interessante é também o facto de o ponto de viragem da vida de pai e filho em Lisboa (sobretudo do pai, o foco narrativo privilegiado) ser marcado por dois incêndios: o primeiro, “que asfixiou Mizé da Assunção e o seu filho de nove meses”, obrigou-os a mudarem-se da Pensão Covilhã para um casebre “num pátio no fim da estrada velha de Paraíso a caminho de Caneças”, onde Pepe entra em suas vidas e começariam a dura vida de imigrantes negros “protegidos pela bruma que era a sua existência sem documentos” e que, para sobreviverem, têm de trabalhar nas obras de construção, sejam quais forem as suas habilitações académicas ou a sua profissão no seu país de origem; o segundo, quando o casebre da Quinta do Paraíso se incendeia e pai e filho perdem tudo, mudando-se para o barracão de Pepe, nas traseiras da taberna — Pepe, o único ser com quem podiam contar na terra que se tornara um deserto de afectos, sobretudo entre os dois: “Apenas esse zé-ninguém sem qualidades redentoras, pisado e comido pelo veneno da guerra, pôde testemunhar o seu rosto alumiado pela amizade quando deles se aproximava e os acordava porque era dia”. Parece que é então que os dois se apresentam — são-nos apresentados — como exilados da sua própria existência: “[S]em entender[em] por que se tinham tornado incapazes de chorar, por que tinha a memória da sua terra desaparecido do seu coração, porque não se decidiam a regressar e por que não se queixavam”. Porém, já antes, os dois tinham começado um processo de metamorfose exílica — dois momentos dessa transição notam-se em Cartola, Aquiles ainda numa cama do hospital: “O pai de Aquiles queria vomitar Luanda, mas ainda não conseguia; queria livrar-se da primeira vida, mas ela fazia-lhe frente; passar à próxima etapa, mas era ainda o mesmo homem”, enquanto “ainda no hospital, Aquiles [tinha] deixado de se sentir angolano”. Nesse sentido, ocorre-me o termo exiliência, tradução do neologismo proposto por Alexis Nouss em La Condition de l’Exilé (2015) para designar “o núcleo existencial comum a todas as experiências de sujeitos migrantes”, e que refere processos de subjectividade e do trabalho da memória como elementos que interferem nas construções identitárias dos sujeitos, atravessando gerações e grupos socioculturais. Estas questões — desveladas pela exiliência, que se constrói sobre dois pilares, a condição concreta e a consciência — ajudam a explicar espacialidades e temporalidades singulares (individuais, pois o processo exílico de Cartola não é semelhante ao de Aquiles), ao mesmo tempo em que gera uma dinâmica de múltiplos pertencimentos — que não se enquadram nas grelhas de qualquer análise socio-económica a que normalmente são reduzidas as abordagens referentes a estrangeiros pobres negros em Portugal, ditos invariavelmente imigrantes (a contrastar com o termo expatriado atribuído a europeus, brancos, em Africa, onde se encontram igualmente por razões económicas). São estas questões que constituem trilhos para que o Futuro seja sempre redimensionado e reescrito a partir de novas perspectivas: tanto do ponto de vista político-ideológico (como o binómio colonial/pós-colonial), quanto do sócio-psico-cultural, em que uma “identidade exílica” (Julie Lussier) se vai processando, como atrás se viu, “identidade exílica” que foi sendo cultivada no bojo de uma precária alteridade (negros indocumentados, trabalhadores braçais à jorna). Com efeito, “Da aldeia de Quinzau a Lisboa, com residência clandestina em Paraíso, passando por Luanda”, poderia ser o resumo deste novo romance de Djaimilia Pereira de Almeida. Então, em 2015, como agora (2018), o que a autora nos apresenta é a corporificação das contradições históricas, a partir da encenação de um Passado constantemente a assombrar o Presente — no sentido literal do termo: a constituir-se como fantasma num jogo entre ausências e emergências memorialistas que se vão interseccionando com/em os eventos e questionando as interpretações que deles se fazem. E isso desde a infância de Cartola na aldeia do Quinzau, a relação com o pai, a viagem até Luanda há 50 anos, o casamento com Glória, o trabalho de enfermeiro como ajudante do Dr. Barbosa da Cunha em Moçâmedes, o nascimento dos filhos, a doença de Glória, a viagem a Lisboa: é um Passado dialéctico, que interfere nas perspectivas do Presente, tornando-se elemento fundamental no desenvolvimento da história — o que é reforçado pela estrutura dinâmica da narrativa, num vaivém temporal, em que se cruzam flash-backs e antecipações (como nesse início do Capítulo VI: “A primeira operação de Aquiles correu tão mal quanto as três que se seguiram”), e em que se desenvolvem sequências narrativas encadeadas. E se pensarmos que a literatura — e sobretudo o romance, pela sua dimensão de “género do devir” e de reflexão sobre a condição social do homem (Georg Lukács) — ganha sentido estabelecendo-se, no processo de leitura, como possibilidade de interpretar e questionar o mundo, escrever sobre uma existência silenciosa — como são os negros em Portugal, sejam imigrantes ou portugueses negros (normalmente “creditados” como africanos de segunda geração) —, o que escreve Djaimilia Pereira de Almeida pode entender-se como poderosa ferramenta de transformação da visão da paisagem humana portuguesa, não se rasurando — antes reunindo-os um curativa convivência — os fragmentos dolorosos de uma história feita de frustrações e desilusões (como a que provoca o desafecto do Dr. Barbosa da Cunha), de fracturas e distanciamentos (como o afastamento entre pai e filho) e de ambíguos sentimentos (como o que Cartola nutria pela mulher doente). E de total desesperança: “De Portugal, a cidadania dos mortos foi o seu [de Cartola] único visto de residência. Da cidade de onde tinha vindo, e que em tempos se chamara Luanda, pouco restava depois do grande incêndio e, além disso, continuava a ser muito longe”. A história de Cartola, de Aquiles, de Pepe, de Glória e de Iuri surge como veículo para a compreensão da experiência dos marginalizados (negros, pobres e imigrantes despossuídos) em toda sua extensão como vidas sem sentido, repletas de silenciamentos, que se apropriam do espaço que está historicamente construído por e para as vozes do centro). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. São essas essas vozes resilientes (embora vencidas, como Iuri, Pepe e Cartola, que, em diferentes níveis, sucumbem) que a pena de Djaimilia Pereira de Almeida faz invadir o espaço privilegiado da literatura, fazendo dialogar política, ética e estética e compondo, desta forma, a sinfonia da resistência, para além da intensificação das diferenças, corolários da ideologia colonial e neoliberal. Na resposta à colega brasileira, fait-divers com que abri esta recensão, porque a questão me foi posta dessa forma tão binária, respondi que podia tratar-se de literatura portuguesa, sim. Porém, porque não literatura africana, angolana no caso, da diáspora? Este seria, no entanto, tema para uma (outra) discussão. E ainda que estejamos muito, muito longe da “nação arco-íris” — ideia tão euforicamente celebrada, porventura mais pela autoria do que pela substância —, Portugal caminha, inexoravelmente, para o reconhecimento (e a aceitação) de uma diversidade étnico-racial da sua nação. Neste contexto, este romance, que se lê bem (sem ser de um só fôlego) transita também nesses produtivos entrelugares nacionais e diaspóricos, sem a exclusão da lógica do esforço de integração numa sociedade muito complexa em que a lógica da exclusão pela diferença se naturalizou.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra exclusão filho mulher homem social doença género casamento negra
Partido anti-UE obtém resultado pior do que o antecipado na Holanda
Partido de Geert Wilders poderá ter ficado em terceiro lugar na Holanda e perdido um eurodeputado, segundo sondagens à boca das urnas. Holanda e Reino Unido foram os primeiros países a votar para o Parlamento Europeu. (...)

Partido anti-UE obtém resultado pior do que o antecipado na Holanda
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.4
DATA: 2014-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Partido de Geert Wilders poderá ter ficado em terceiro lugar na Holanda e perdido um eurodeputado, segundo sondagens à boca das urnas. Holanda e Reino Unido foram os primeiros países a votar para o Parlamento Europeu.
TEXTO: Ainda a maior parte dos 28 Estados-membros da União Europeia não chegou ao dia de reflexão para as eleições europeias e já há sondagens à boca das urnas num deles, a Holanda. As primeiras previsões são uma surpresa: o partido-sensação do populista anti-UE Geert Wilders ficou em terceiro lugar, perdendo tanto em votação como em número de eurodeputados, se os resultados se confirmarem (os dados oficiais só serão divulgados domingo à noite depois de toda a Europa votar). A Holanda e o Reino Unido foram os primeiros países a votar, nesta quinta-feira, mas apenas os holandeses optaram por autorizar a divulgação das sondagens à boca das urnas. Os dois países partilham o pouco entusiasmo pela votação europeia, e a previsão de bons resultados para partidos anti-União Europeia. Contrariamente à percepção comum, segundo a qual o voto de protesto é o que vai mais facilmente às urnas, o instituto holandês TNS NIPO indicava antes da votação que apenas 33% dos eleitores holandeses anti-União Europeia planeavam ir votar, comparado com 65% pró-UE. “Ainda que o eurocepticismo esteja num ponto alto, os ‘eurófilos’ parecem estar a fazer um esforço para que as suas vozes sejam ouvidas”, comentava o instituto. Se na Holanda o dia foi marcado pela não-tão-boa votação do partido do populista de cabelo louro platinado, do Reino Unido não se esperava divulgação de resultados, mas as sondagens apontavam quase todas para uma vitória do Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP). Se for o mais votado, será a primeira vez desde a I Guerra Mundial que um partido não trabalhista nem conservador fica em primeiro lugar em eleições nacionais. Isto apesar de uma série de notícias que parecem saídas de jornais satíricos: um membro do partido que empregava imigrantes ilegais, outro que defende que a culpa do mau tempo é dos homossexuais, e um líder, Nigel Farage, que depois de ter dito a um entrevistador que ele “sabia a diferença” entre imigrantes alemães e romenos, se justificou dizendo que estava “cansado”. Selfies e abstençãoNo Reino Unido, as autoridades estavam a aconselhar os eleitores para não tirarem selfies com os telefones nas cabines de voto – no Twitter havia alguma indignação: “por um lado queixam-se da baixa participação, do outro não autorizam selfies”, queixava-se um britânico no site de microblogging. Com 36% e 34% de participação em 2009, Holanda e Reino Unido são dos países com maior abstenção na União Europeia (a Eslováquia, Lituânia e Roménia estão muito acima, Portugal surge a par da Holanda). Há cinco anos, a participação nas eleições para o Parlamento Europeu foi de 43%, o valor mais baixo de sempre (desde 1979, ainda com nove estados, a participação foi de 61, 99%); este ano espera-se que baixe para os 40% ou ainda menos. Quem tenta capitalizar com este ambiente de desapontamento é a extrema-direita de Marine Le Pen, por exemplo, que também aparece nas sondagens como o partido mais votado de França (23% correspondentes a 23 deputados, com a UMP, na oposição, a 22% com 20 eurodeputados). França é segundo país em termos de eurodeputados. Mesmo na recta final da campanha, o presidente-fundador do partido, Jean-Marie Le Pen, pai da actual presidente Marine, disse que o vírus do Ébola poderia resolver o “problema da imigração”. Marine Le Pen – cuja nova Frente Nacional renovada insiste que não é racista – não comentou. Le Pen e Wilders foram os protagonistas do anúncio da tentativa de um grupo anti-União Europeia no Parlamento Europeu (tentando cortejar o britânico Farage, mas este tem até agora recusado o convite). Alguns analistas esperavam com antecipação o resultado holandês como um “barómetro” para a tendência anti-europeia, assim, as projecções podem dar alguma esperança aos “eurófilos”. Populistas também na AlemanhaMas não é só a extrema-direita que beneficia com o ambiente de descontentamento. Em Itália, a grande incógnita é o partido do antigo comediante Beppe Grillo, o Movimento 5 Estrelas. Apesar de estar em segundo, não é claro o que poderá fazer quando chegar ao Parlamento Europeu – é o maior dos partidos que os analistas dizem que estão “soltos” e podem decidir juntar-se a um qualquer grupo. A principal proposta de Grillo é um referendo à manutenção da Itália na zona euro. Na Grécia, a austeridade leva ao primeiro lugar a Coligação de Esquerda Radical (Syriza) cujo candidato é também o cabeça de lista da esquerda europeia, Alexis Tsipras (que dá ainda o nome a um conjunto de partidos de esquerda em Itália). Este quer lutar contra a política de austeridade e renegociar o memorando e reestruturar a dívida.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE