Rota do Românico: há uma História de Portugal em obras
Há uma parcela da História de Portugal, relativa à fundação da nacionalidade, que se encontra em obras. Quase meia centena de monumentos da Rota do Românico, nos vales do Sousa, do Tâmega e do Douro, estão a ser objecto de restauros e beneficiações. Um programa para promover uma região deprimida no Norte do país. (...)

Rota do Românico: há uma História de Portugal em obras
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há uma parcela da História de Portugal, relativa à fundação da nacionalidade, que se encontra em obras. Quase meia centena de monumentos da Rota do Românico, nos vales do Sousa, do Tâmega e do Douro, estão a ser objecto de restauros e beneficiações. Um programa para promover uma região deprimida no Norte do país.
TEXTO: Ao princípio da tarde de terça-feira, dois autocarros coloridos param no terreiro frente ao Mosteiro do Salvador de Travanca, Amarante, e deles sai uma excursão de utentes do Inatel, com aquele sorriso feliz que só os passeios e os dias de sol proporcionam. “Houve aqui festa há pouco tempo, e o mosteiro está agora mais bonito do que da última vez que aqui viemos”, comenta um dos passageiros para o seu vizinho. No chão, um tapete de flores calcadas e já murchadas conduzindo até à porta principal do templo denunciava a festa, que, de facto, aí tinha ocorrido no sábado anterior. Foi a cerimónia de dedicação do novo altar da igreja numa missa celebrada por D. António Taipa, bispo auxiliar do Porto, e que fez lotar de novo este templo no Vale do Tâmega, terminadas as obras de remodelação e conservação realizadas ao longo do último ano. De facto, o Mosteiro de Travanca e quatro dezenas de outros monumentos – igrejas, capelas, torres, castelos, pontes… – da Rota do Românico dos vales do Sousa, do Tâmega e do Douro estiveram, estão ou vão entrar em obras de conservação e beneficiação, num projecto integrado lançado pelas autarquias desta região do Norte do país. Ao todo, são 58 os monumentos (25 dos quais classificados como património nacional) actualmente ancorados nesta Rota, que foi lançada em 1998 pela associação de municípios do Vale do Sousa, e que posteriormente se estendeu aos concelhos vizinhos. “Para além de salvaguardar o património, queremos apostar na promoção cultural, consciencializar para a identidade local a partir das escolas, reforçar o orgulho próprio das populações”, explica ao PÚBLICO, na sede da Rota do Românico, em Lousada, a directora do programa, Rosário Correia Machado. A confirmar esta aposta da região – uma população de meio milhão de habitantes dispersa por uma área de quase 2 mil kms2, e que se encontra no centro do “Triângulo das Bermudas” do Património Mundial constituído pelo Porto, Guimarães e o Douro Vinhateiro – está já um vasto catálogo de realizações (as obras), ao lado de edições, eventos culturais e de lazer, incremento do turismo, e vários prémios nacionais e internacionais acumulados na última década e meia. Uma aposta de sete milhões de eurosO presente ciclo de obras nesta região que coincide territorialmente com a história da formação da nacionalidade – D. Afonso Henriques e Egas Moniz são as principais figuras de referência –, iniciado em 2010, orça já os 7 milhões de euros, maioritariamente comparticipados por verbas da União Europeia. O PÚBLICO visitou meia dúzia dos sítios que estão (ou estiveram) a ser intervencionados numa longa viagem entre a geografia dos montes e vales inclinados para os rios Sousa, Tâmega e Douro, com passagens por Lousada, Paredes, Penafiel, Amarante, Baião e Marco de Canaveses. E parou mais demoradamente no Mosteiro de Travanca, fundado no séc. XI e reconhecidamente um dos espécimes mais notáveis do património medieval e românico de toda a região. A igreja e a torre senhorial construída separadamente – um caso raro, e uma das mais elevadas torres medievais existentes em Portugal – parecem agora novas, depois da limpeza e beneficiação realizadas, com um custo superior a meio milhão de euros. Além da renovação das coberturas e da conservação de várias secções do conjunto monumental, foram introduzidas inovações com a marca do nosso tempo: um altar com sete pilares, certamente representando os sete dons do Espírito Santo, esculpido pelo arquitecto Miguel Malheiro, que foi o responsável pelo programa geral da intervenção, mas também novo mobiliário e iluminária. “É importante assumirmos o tempo presente”, diz o engenheiro civil Ricardo Magalhães, responsável técnico pela obra na equipa da Rota do Românico, e, com o historiador e intérprete José Augusto Costa, um dos guias da viagem. A igreja do Mosteiro de Travanca é um dos três monumentos da região que tem três naves (com as de Pombeiro, Felgueiras, e do Paço de Sousa, Penafiel). É um bom exemplar do chamado “românico português”, ou “nacionalizado”, resultante da utilização das técnicas construtivas e decorativas de cada região, bem como da sua sucessiva actualização ao longo dos séculos e dos estilos. “No contexto do românico português, a arquitetura do Tâmega e Sousa apresenta características muito peculiares” – diz o bem documentado Guia da Rota do Românico, que acaba de ser editado –, manifestas na singularidade da sua escultura decorativa, onde pontuam representações vegetalistas e animalistas bem desenhadas, segundo a técnica do bisel, normalmente inspiradas na sintaxe introduzida pelas sés de Coimbra (considerada a casa-mãe do românico nacionalizado), do Porto e de Braga.
REFERÊNCIAS:
Tempo terça-feira sábado
A aversão aos doces
José Tavares, economista e ex-gestor, decidiu atravessar o Atlântico num barco a remos. Sozinho. Durante quatro meses vai escrever para o PÚBLICO. Esta é a terceira crónica. (...)

A aversão aos doces
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: José Tavares, economista e ex-gestor, decidiu atravessar o Atlântico num barco a remos. Sozinho. Durante quatro meses vai escrever para o PÚBLICO. Esta é a terceira crónica.
TEXTO: Excerto do livro Ensaio sobre a Solidão (continuação. . . ) Naquele meu sonho havia uma ilha: ainda que a simbologia mais óbvia de uma ilha seja a solidão e o isolamento, “na interpretação dos sonhos prefere optar-se geralmente pelos significados de recurso e livre arbítrio que a ideia de ilha também sugere. Se vemos que sonhamos com uma ilha desde o mar, desde uma costa ou desde o ar, isso indica o desejo reprimido de nos livrarmos de coisas que nos abrumam e de poder viver mais livres. Se num sonho te encontras já numa ilha, seguramente os teus desejos serão cumpridos”. Há ainda uma nuance para o caso de essa ilha estar deserta ou de chegar a ela após um naufrágio: isso “assinala que obter essa liberdade te custará algum sacrifício”. Se as emoções influenciam a realidade e os sonhos, por que não os sonhos influenciarem a realidade? Afortunadamente, a bem de minha sanidade, Jane diz também que “ainda que pouco frequente, o sonho pode ser apenas uma espécie de fantasia, com pouco significado”. Entre o sonho e a realidade pode estar a fantasia e pode estar o desejo. Paulo Coelho referia-se provavelmente a esse desejo quando (em “Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei”) escreveu: “Às vezes, a felicidade é uma bênção – mas geralmente é uma conquista. O instante mágico do dia ajuda-nos a mudar, faz-nos ir em busca dos nossos sonhos”. Eu tinha um ‘desejo’, mais do que um sonho, de viajar por mar… “uma grande viagem em autonomia”… Estes textos são o retrato desse desejo e da acção que pretende levar à sua possível concretização, bem como a um futuro livro. Para a concretização deste desejo os patrocínios são um elemento essencial. Empresas que se reconheçam com a importância do tema ‘Alterações Climáticas’ (eficiência energética, zero emissões, energias alternativas, reciclagem, etc) e que podem contribuir para suprir a logística deste projecto são as que podem ter mais interesse em revelar ao público o seu lado ‘amigo do ambiente’ e a sua contribuição para um ‘Desenvolvimento Sustentável’. Esta contribuição pode ser feita através de medidas directas de melhoria de eficiência (e redução) no consumo e exploração de recursos, tendentes a minimizar os impactos na natureza (eco-eficiência), ou de medidas que contribuam para a adequação de atitudes e comportamentos, como o apoio a projectos que contenham uma forte mensagem de alerta e sensibilização para o tema ‘alterações climáticas’, com um grande potencial de mediatização, como é o caso do presente. Em que consiste o Projecto:Seguir a rota de Pedro Álvares Cabral pelo oceano Atlântico até ao Brasil, numa homenagem aos navegadores portugueses e também aos aviadores pioneiros, Gago Coutinho e Sacadura Cabral (90 anos depois da sua tavessia); levar uma mensagem de alerta para o problema crescente das ‘Alterações Climáticas’, em geral, e da desflorestação da floresta amazónica, em particular, e lembrar a necessidade de recorrer a energias alternativas; estender ao povo brasileiro um abraço com votos do reforço dos laços que nos unem. A rota será feita, remando em solitário, entre Marrocos/ilhas Canárias/Cabo Verde e Natal/Brasil, numa extensão de cerca de 4. 500 km de oceano. Estou a sul da Gran Canária. Nesta semana recordei a quantidade ingente de doces que levo a bordo (chocolates, marmelada, leite condensado, compota, nutela. . . ). Mas ainda não lhes toquei! Não consumi nada disto! Com o movimento do barco, desperta-me a naúsea só de pensar em coisas doces para comer. Como me disse um pescador ao largo de Arinaga (Gran Canária): nada como o pão! Vou 'picando' o pão torrado e bolachas de água e sal, mas destas não trago muita quantidade (além de que aportam pouca energia). O problema é que, de uma dieta calculada para atingir as 4 mil calorias/dia, creio não estar a consumir sequer 2 mil calorias. Estou em perda clara. E nota-se!As crónicas de José Tavares são financiadas no âmbito do projecto Público Mais
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Distúrbios nas Festas de Cascais “podiam ter sido uma mortandade”
Câmara e PSP minimizam incidentes durante concerto de Anselmo Ralph, que fez pelo menos três feridos (...)

Distúrbios nas Festas de Cascais “podiam ter sido uma mortandade”
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Câmara e PSP minimizam incidentes durante concerto de Anselmo Ralph, que fez pelo menos três feridos
TEXTO: Resultaram em pelo menos três feridos, e num susto para quem estava a assistir, os distúrbios do concerto de encerramento das Festas do Mar, anteontem à noite, em Cascais, com o cantor angolano Anselmo Ralph. A prontidão com que o artista interrompeu o espectáculo para chamar a polícia contribuiu para que os desacatos não alastrassem. “Podia ter sido uma mortandade”, avisa um dos administradores do Hotel Baía, Jorge Sampaio, para quem só a irresponsabilidade pode ter levado a câmara municipal a juntar 50 ou 55 mil pessoas na baía de Cascais. Mas tanto a PSP como o presidente da autarquia, Carlos Carreiras, minimizam o sucedido, apesar das inúmeras imagens televisivas mostrarem que aos distúrbios defronte do palco do concerto se seguiram algumas escaramuças, com os agentes a perseguirem e a algemarem vários jovens, quer defronte do hotel quer na Praia dos Pescadores, ali mesmo ao lado. Várias pessoas foram levadas para a esquadra, algumas delas mesmo antes dos confrontos que levaram à interrupção do concerto. A polícia assegura, porém, que “não fez detenções”, tendo-se limitado a “identificar quatro pessoas”. Sobre o número de agentes envolvidos na operação, que incluiu elementos da Unidade Especial de Polícia, um porta-voz do comando metropolitano, Rui Costa, mostra-se lacónico: “Nunca divulgamos o efectivo destacado para nenhuma acção operacional. É uma informação de carácter reservado”. Feridos contabilizados pela polícia foram três, um dos quais com gravidade, contando-se entre eles um agente das forças de segurança, que apenas sofreu arranhões. Mas foram mais as pessoas a necessitar de assistência, parte das quais por se terem sentido mal no meio da confusão, para a qual até crianças foram levadas. Mas o que se passou ao certo? Terão os distúrbios sido causados no quadro de um meet, um encontro de jovens semelhante ao que teve lugar junto ao centro comercial Vasco da Gama? Carlos Carreira assegura que não, e conta que tudo aconteceu por causa de um saco pousado no chão. A multidão era mais que muita, e romper por entre as pessoas tornava-se tarefa praticamente impossível. Havia filas de automóveis de quilómetros para aceder ao centro da vila e assistir às festas. Um grupo de jovens terá tentado furar por entre a multidão e pisado, sem querer, a mala que uma espectadora havia pousado no chão, defronte do palco. Quando se travou de razões com os rapazes, o marido e o filho, já adulto, intervieram, e ter-se-á gerado o desacato. O marido, que sofreu um corte nas costas, foi o ferido mais grave da turbulenta noite. “Foi uma situação pontual, uma rixa entre dois indivíduos”, repetiu o autarca. O cenário presenciado por Anselmo Ralph a partir do palco foi, porém, ligeiramente diferente: “Vi um tumulto de jovens, ali na confusão, a brigar. E havia muitas crianças ali no meio”. Ciente do que podia vir a suceder, o cantor já tinha iniciado o espectáculo pedindo paz à assistência. Mas de nada valeu. De um momento para o outro dezenas de pessoas começaram a fugir, em pânico, por um corredor de segurança aberto no meio da multidão compacta pelas autoridades, que serviu também para fazer passar as ambulâncias. A observar o desenrolar dos acontecimentos do terraço do hotel, Jorge Sampaio conta o que viu: “Vi diversos desacatos mesmo antes daquele que deu origem aos feridos sem que a policia lá pudesse chegar célere, vi pessoas e crianças a entrarem pela praia adentro a fugirem do pânico instalado, vi ambulâncias a quererem subir a avenida e a ficarem bloqueadas tal era a imensidão de pessoas, vi crianças e pessoas com o medo espelhado no rosto”. Colocou este relato na página do Facebook da autarquia, a que muitos munícipes recorreram ontem para mostrarem o seu desagrado para com a câmara municipal e a sua desvalorização do sucedido. “Vi pessoas e jovens que nada tinham a ver com desordeiros a levar cargas da policia, pessoas e famílias a serem insultadas e ameaçadas, vi jovens com garrafas de vidro a beberem desalmadamente e depois da garrafa vazia a atirarem-na para o meio da multidão”, descreve o administrador do Hotel Baía. Cerca de duas dezenas de pessoas que entraram pelas traseiras e se escapuliram para o último andar para verem melhor o concerto tiveram de ser dali retiradas pelas autoridades. Usando também este terraço como ponto de observação privilegiado, alguns graduados da PSP iam transmitindo informações aos colegas que estavam cá em baixo. Jorge Samapaio diz que lhe confidenciaram que, se tivessem voto na matéria, jamais permitiriam que um evento destes tivesse lugar na baía de Cascais, por causa da falta de condições do local. Um agente ouvido pelo PÚBLICO nessa noite expressou a mesma opinião.
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Entidades PSP
Confrontos em concerto de Anselmo Ralph em Cascais fazem pelo menos três feridos
Estava convocado um meet para o local. Presidente da Câmara diz que se tratou de "uma rixa entre dois indivíduos", uma "situação pontual". (...)

Confrontos em concerto de Anselmo Ralph em Cascais fazem pelo menos três feridos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.3
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estava convocado um meet para o local. Presidente da Câmara diz que se tratou de "uma rixa entre dois indivíduos", uma "situação pontual".
TEXTO: O programa de encerramento das Festas de Cascais, na noite deste domingo, foi interrompido devido a confrontos entre pessoas que estavam a assistir ao concerto do cantor angolano Anselmo Ralph. Há pelo menos três feridos, dois dos quais foram transportados de ambulância para o hospital de Cascais. Um permanecia internado até às 11h desta segunda-feira, com um ferimento que terá resultado de agressão com arma branca. Os distúrbios começaram pelas 23h30, estava o espectáculo quase a terminar, bem em frente ao palco montado na zona da baía de Cascais, junto à Praia dos Pescadores. De sobreaviso estavam dezenas de polícias. Foi o próprio cantor que, perante o que se estava a passar, interrompeu o concerto e chamou as autoridades. “Vi um tumulto de jovens, ali no meio da confusão, a brigar. E havia muitas crianças ali no meio”, descreveu mais tarde aos jornalistas, justificando a sua atitude. Ciente do que podia vir a suceder, já tinha iniciado o espectáculo pedindo paz à assistência. Mas de nada valeu. Depois dos primeiros confrontos, dos quais resultaram os três feridos, registaram-se ainda várias escaramuças entre polícias e jovens, alguns dos quais acabaram por ser detidos, depois de perseguições policiais por entre a multidão, que depois de terminar o concerto se tinha dispersado mas continuava quer junto ao palco quer no areal da praia. Terão sido detidas três pessoas e identificadas várias outras. Segundo um amigo de um dos jovens levados para a esquadra de Cascais, que pediu para não ser identificado, os agentes da PSP não conseguiram apanhar os verdadeiros responsáveis pelos distúrbios – razão pela qual detiveram quem conseguiram agarrar – “curiosamente, quatro pessoas de raça negra e um caucasiano”. Dentro da esquadra "foram espancados", assegurava. "Os polícias dizem que foram ofendidos verbalmente. Não sei se é verdade", referia, enquanto esperava por um advogado que vinha dar assistência ao amigo, jogador de futebol. Foram muitas as críticas à actuação policial por parte da assistência. "A gente somos do ghetto", observava uma estudante de Hotelaria do Vale da Amoreira. "E os bófias gostam muito de atrofiar connosco. Têm de aprender que somos como uma família. Se batem num de nós. . . "Apesar dos insistentes pedidos de informação, nenhum oficial da PSP nem qualquer outro agente presentes no local prestaram esclarecimentos à comunicação social sobre o sucedido na noite de domingo. O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP remeteu todos os esclarecimentos para um comunicado que será emitido até ao final da manhã desta segunda-feira. Entre os polícias ouviam-se, porém, comentários sobre a falta de condições do local para acolher um evento com tanta gente. Segundo o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, assistiram ao concerto entre 50 e 55 mil pessoas. A multidão compacta que se juntou não deixava sequer os hóspedes do Hotel Baía entrarem no edifício. Cerca de duas dezenas de pessoas que entraram pelas traseiras e se escapuliram para o último andar para verem melhor o concerto tiveram de ser dali retiradas pelas autoridades. Anselmo Ralph ainda retomou o espectáculo depois dos distúrbios, mas deu-o por terminado logo a seguir. “Nós não podemos festejar quando há gente ferida. Vão em segurança e vão em grupo”, disse, numa alusão à insegurança que se fazia sentir. Agentes da Unidade Especial de Polícia criaram então um cordão humano à volta da multidão, permitindo depois que algumas centenas de espectadores se deslocassem da zona do palco para a praia, ali mesmo ao lado. O fogo-de-artifício que estava previsto para dar as Festas de Cascais por encerradas acabou por ser lançado nessa altura, eram 0h30, quando parte das pessoas que assistiam ao concerto desceu ao areal e ficou por ali a conversar. Para o local e para a hora do concerto estava marcado um meet, o mesmo tipo de encontro de jovens convocado pela Internet que esteve na origem dos incidentes registados esta semana no centro comercial Vasco da Gama, em Lisboa. Mas o presidente do município, que falou à comunicação social à 1h20, tentou minimizar o sucedido, negando que se tivesse tratado de um "encontro marcado" e resumindo tudo a "uma rixa entre dois indivíduos", uma "situação pontual" que foi "muito empolada" e da qual teriam resultado "dois feridos".
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Um ferido ainda internado e quatro pessoas identificadas nos distúrbios em Cascais
Câmara Municipal minimiza incidentes durante concerto de encerramento das Festas do Mar. (...)

Um ferido ainda internado e quatro pessoas identificadas nos distúrbios em Cascais
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Câmara Municipal minimiza incidentes durante concerto de encerramento das Festas do Mar.
TEXTO: A Polícia de Segurança Pública (PSP) identificou quatro pessoas envolvidas nos distúrbios ocorridos na noite de domingo durante o concerto de encerramento das Festas do Mar, em Cascais. Num comunicado, a PSP refere que os primeiro recursos policiais no local contabilizaram três feridos, um dos quais com gravidade. Até ao final da manhã de segunda-feira, ainda estava internado. Os distúrbios começaram pelas 23h30, estava o concerto do cantor Anselmo Ralph quase a terminar, bem em frente ao palco montado na zona da baía de Cascais, junto à Praia dos Pescadores. De sobreaviso estavam dezenas de polícias. Foi o próprio cantor que, perante o que se estava a passar, interrompeu o concerto e chamou as autoridades. “Vi um tumulto de jovens, ali no meio da confusão, a brigar. E havia muitas crianças ali no meio”, descreveu mais tarde aos jornalistas, justificando a sua atitude. Ciente do que podia vir a suceder, já tinha iniciado o espectáculo pedindo paz à assistência. Mas de nada valeu. Dos três feridos mencionados pela PSP, um – o mais grave – terá sido alvo de uma “suposta agressão com arma branca”, segundo o comunicado. Os outros dois – um deles um agente da PSP – tinham ferimentos ligeiros. Segundo o hospital de Cascais, até ao final da manhã um dos feridos permanecia internado. Não foi fornecida informação sobre o seu estado de gravidade, referindo-se apenas que o doente estava "estabilizado". Durante os distúrbios algumas pessoas também terão se sentido mal. Depois dos primeiros confrontos junto ao palco do concerto, registaram-se ainda várias escaramuças entre polícias e jovens, alguns dos quais acabaram por ser detidos, depois de perseguições policiais por entre a multidão, que depois de terminar o concerto se tinha dispersado mas continuava quer junto ao palco quer no areal da praia. Entre os polícias ouviram-se, no local, comentários sobre a falta de condições do local para acolher um evento com tanta gente. Segundo o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, assistiram ao concerto entre 50 e 55 mil pessoas. A multidão compacta que se juntou não deixava sequer os hóspedes do Hotel Baía entrarem no edifício. Cerca de duas dezenas de pessoas que entraram pelas traseiras e se escapuliram para o último andar para verem melhor o concerto tiveram de ser dali retiradas pelas autoridades. Anselmo Ralph ainda retomou o espectáculo depois dos distúrbios, mas deu-o por terminado logo a seguir. “Nós não podemos festejar quando há gente ferida. Vão em segurança e vão em grupo”, disse, numa alusão à insegurança que se fazia sentir. Agentes da Unidade Especial de Polícia criaram então um cordão humano à volta da multidão, permitindo depois que algumas centenas de espectadores se deslocassem da zona do palco para a praia, ali mesmo ao lado. O fogo-de-artifício que estava previsto para dar as Festas de Cascais por encerradas acabou por ser lançado nessa altura, eram 0h30, quando parte das pessoas que assistiam ao concerto desceu ao areal e ficou por ali a conversar. Para o local e para a hora do concerto estava marcado um meet, o mesmo tipo de encontro de jovens convocado pela Internet que esteve na origem dos incidentes registados esta semana no centro comercial Vasco da Gama, em Lisboa. Mas o presidente do município, que falou à comunicação social à 1h20, tentou minimizar o sucedido, negando que se tivesse tratado de um "encontro marcado" e resumindo tudo a "uma rixa entre dois indivíduos", uma "situação pontual" que foi "muito empolada" e da qual teriam resultado "dois feridos". Tudo terá tido origem, segundo o autarca, numa "troca de palavras menos educadas", que "teve uma resposta que não se imagina que possa ter entre pessoas normais". Carlos Carreiras elogiou o sangue-frio e o profissionalismo de Anselmo Ralph ao interromper o concerto para chamar a polícia. “Não são dois indivíduos que vão estragar as Festas do Mar”, declarou Carlos Carreiras. O cantor admitiu que foi a primeira vez que lhe aconteceu algo do género em Portugal. Num comunicado emitido esta segunda-feira, a Câmara de Cascais atribui os "desacatos" já não a dois mas a um "pequeno número de indivíduos". A situação "dificilmente seria notícia não fosse a atenção criada em torno deste concerto", refere a autarquia, assegurando que nunca, nos anos anteriores, se registou "qualquer tipo de ocorrência" nas festas. "Cascais é e continuará a ser um concelho seguro para os grandes eventos nacionais e internacionais", frisa a autarquia.
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Entidades PSP
O adeus de Pedro Proença
Pedro Proença anunciou o fim da carreira como árbitro. Foram 466 jogos, incluindo presenças nas grandes competições do futebol internacional, um currículo ímpar na arbitragem portuguesa. (...)

O adeus de Pedro Proença
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pedro Proença anunciou o fim da carreira como árbitro. Foram 466 jogos, incluindo presenças nas grandes competições do futebol internacional, um currículo ímpar na arbitragem portuguesa.
TEXTO: A 10 de Setembro de 2000, Pedro Proença Oliveira Alves Garcia fazia o seu jogo de estreia na primeira divisão. A primeira tarefa do jovem árbitro era um Desportivo das Aves-Campomaiorense, na Vila das Aves. Aos 17’, Duka, defesa da equipa alentejana, foi o alvo de um cartão amarelo exibido pelo árbitro de Lisboa, o primeiro de oito que Proença haveria de mostrar. “O jogo correu-me mal, ficaram alguns cartões por mostrar e alguns penáltis por marcar”, admitiria mais tarde. Foi tão contestado pelos adeptos da Vila das Aves que só conseguiu sair do estádio duas horas depois do jogo, sob escolta policial. Passaram mais de 14 anos e Pedro Proença transformou-se numa referência da arbitragem internacional, acumulando presenças em todas as grandes competições. Nesta quinta-feira, este lisboeta de 44 anos anunciou o que era um segredo mal guardado, uma “decisão ponderada e tomada em consciência”: o fim da sua carreira como árbitro. Proença justificou a decisão com o “desgaste físico e mental” sofrido durante a longa carreira que teve na arbitragem. Assim, a pouco menos de um ano de atingir a idade limite, o último jogo da carreira de Proença acabou por ser um Cruz Azul-Auckland City em Marraquexe, que definiu o terceiro e quarto classificados do Mundial de clubes, em Dezembro passado. “Tenho consciência de que deixo uma imagem de competência, profissionalismo e credibilidade perante todos os agentes desportivos com quem me cruzei. Mesmo reconhecendo que possa ter errado dentro de campo e sofrendo com esses mesmo erros, estou consciente de que muito fiz para melhorar as minhas capacidades”, declarou o agora ex-árbitro, garantindo que abandona a arbitragem “a bem com toda a gente”, não se referindo aos problemas que teve num passado recente com Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Na sua intervenção, Vítor Pereira também não se referiu a estas divergências, classificando o abandono de Proença como “prematuro”. Neste adeus do qual já havia dado indícios em várias ocasiões, Proença mostrou-se satisfeito pela carreira que teve. “Estive em competições extraordinárias com os mais talentosos intervenientes. Estar presente em várias finais únicas, como a Liga dos Campeões e o Campeonato da Europa, foi uma jornada para a qual eu e a minha equipa muito trabalhámos. Aliás, vai para eles o meu profundo agradecimento”, referiu. Proença não rejeita voltar ao futebol e à arbitragem num futuro próximo. “Estou disponível para contribuir no que for necessário em prol da arbitragem e do futebol português”, garantiu. Mas o seu futuro imediato, acrescenta, passa por ser administrador e director financeiro, e dedicar-se à docência académica. Considerado o melhor árbitro português de sempre e o melhor do mundo em 2014, Proença frisou que é altura de “dar lugar aos actuais valores” e que “o futuro da arbitragem portuguesa está assegurado”. Acorreram à cerimónia realizada na sede da FPF muitas personalidades do futebol português, incluindo Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, Carlos Pereira, presidente do Marítimo. O FC Porto esteve representado por Antero Henrique, director-geral da SAD portista, que, no dia anterior, havia sido expulso durante o Sp. Braga-FC Porto por protestar contra a arbitragem de Cosme Machado — o juiz da Associação de Futebol de Braga não esteve presente na homenagem a Proença. Muitos árbitros marcaram presença, tal como Luís Duque, presidente da Liga de Clubes, Fernando Gomes, presidente da FPF, e antigos jogadores como Pauleta e Humberto Coelho, ambos quadros da federação. Árbitro desde os 17 anos, Pedro Proença subiu à primeira categoria em 2000, tornou-se internacional em 2003, marcando presença nas fases finais do Euro 2012 (em que dirigiu a final) e do Mundial 2014. Segundo as contas da FPF, Proença dirigiu, desde 2000, 466 jogos, dos quais 362 em competições nacionais e 104 em competições internacionais. O primeiro escalão da divisão portuguesa foi a competição mais “visitada” por Proença, com 179 jogos, seguido da segunda divisão, com 113. Internacionalmente, esteve em 37 jogos da Liga dos Campeões, incluindo a final de 2012, em Munique, entre o Bayern e o Chelsea. A este currículo, só faltou mesmo acrescentar a final do Mundial.
REFERÊNCIAS:
O dia em que Pedro e Partimpim venceram o lobo
Prokofiev e Partimpim, pela mão de Adriana Calcanhotto e da Orquestra Gulbenkian, tiveram um encontro feliz em Lisboa. Duas apresentações a 1 de Março, ambas com lotação esgotada. (...)

O dia em que Pedro e Partimpim venceram o lobo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Prokofiev e Partimpim, pela mão de Adriana Calcanhotto e da Orquestra Gulbenkian, tiveram um encontro feliz em Lisboa. Duas apresentações a 1 de Março, ambas com lotação esgotada.
TEXTO: Quem tem seguido a trajectória de Partimpim, o alter-ego “infantil” (como soa deslocada, aqui, esta palavra) de Adriana Calcanhotto, não teria qualquer dificuldade em imaginá-la no papel de narradora do clássico (e eterno) conto sinfónico de Prokofiev Pedro e o Lobo. Juntar esse papel ao de Partimpim, ela mesma, e envolver tudo em arranjos para orquestra, com uma peça nova pelo meio, acabou por ser o resultado de tal desafio. Já apresentado no Brasil, o espectáculo vem com a marca de André Mehmari, jovem e talentoso pianista a quem foram encomendados não só arranjos orquestrais para uma meia dúzia de canções de reportório de Partimpim (para crianças e adultos, porque, como Adriana disse um dia, fazer “discos só para crianças é a pior maneira de criar uma geração de ouvintes”) mas também uma peça orquestral nova. Nessa peça, que Mehmari intitulou Festa dos Bichos, ele quis que os ouvintes imaginassem o que sucederia se os animais do conto sinfónico de Prokofiev fossem, por uns tempos, aspirar os ares do Brasil. Tudo isto, em palco, numa hora: Prokofiev, Mehmari, Partimpim. Com muitas crianças e muitos adultos na sala (confortavelmente renovada) do Grande Auditório da Gulbenkian, num domingo. No palco, a Orquestra Gulbenkian dirigida pelo maestro Rui Pinheiro. Adriana entrou depois, no papel de narradora. Um papel já desempenhado, até hoje, por dezenas de personagens ilustres: além da própria mulher do compositor, Lina Prokofiev, foram narradores de Pedro e o Lobo Sir John Gielgud, Peter Ustinov, Alec Guinness, Boris Karloff, Leonard Bernstein, André Previn, Sir Ralph Richardson, Jack Lemon, Sean Connery, Sophia Loren, José Ferrer, Antonio Banderas, Jeremy Nicholas, Richard Baker, David Bowie ou Sting. No Brasil, Rita Lee e Roberto Carlos já desempenharam tal papel, protagonizado em Portugal por Eunice Muñoz ou Catarina Furtado. Voltando a Adriana: de cartola e com uma espécie de fraque escuro, ela mostrou-se (na primeira das duas apresentações, a única a que se refere este texto, a das 11h), uma narradora eficaz, não só pela boa dicção como pela mímica, integrando-se harmoniosamente nos tempos da partitura. Com um único senão, que não foi culpa sua: o volume da voz de sala estava abaixo do exigível para um bom equilíbrio entre voz e instrumentos (desajuste também influenciado pelo volume da monitorização ao ouvido, este mais alto e dando-lhe a ilusão de que na sala a voz se ouvia bem). Mas enfim: o lobo lá saiu (caçado, é claro, mas para “um zoológico”), ficando na sala a pairar uma sensação de triunfo reforçada por mil aplausos. Festa dos Bichos, de Mehmari, pegou no Andantino de Pedro e o Lobo (que ele usou, aliás, para pontuar até as orquestrações para os temas de Partimpim) e daí partiu para uma viagem que, embora cumprisse no essencial a premissa da aproximação a sonoridades brasileiras, deixou a sensação de que poderia ter sido mais ousada. Basta pensar em Le Carnaval des Animaux, de Saint-Saëns (composto em 1886, muito antes de Pedro e o Lobo) para achar o Brasil proposto por Mehmari demasiado conforme aos cânones. Já na readaptação, para orquestra, das canções de Partimpim, Mehamri fez um trabalho notável, permitindo que elas respirassem muito bem nesta outra atmosfera. Assim sucedeu com a sempre bela Ciranda da bailarina, mas também com Canção da falsa tartaruga, O mocho e a gatinha, O trenzinho do caipira (pérola imortal de Heitor Villa-Lobos) e Elefantinho, a fechar. Depois, num primeiro encore, Adriana puxou do violão e cantou e tocou (sem orquestra) Fico assim sem você, repetindo, num segundo encore, e de novo com orquestra, Ciranda da bailarina. Os muitos aplausos deram um final feliz à história do dia em que Pedro e Partimpim venceram o lobo. Com André Mehmari, claro, a Orquestra Gulbenkian, Rui Pinheiro e uma plateia atenta; e deixando, através da música, algo de muito agradável a pairar no meio de nós. Chamemos-lhe arte.
REFERÊNCIAS:
No quarto de Pessoa
A compositora brasileira Adriana Calcanhotto passou a noite do passado dia 5 de Março no quarto que foi o de Fernando Pessoa nos 15 últimos anos da sua vida. Este é o texto que resultou dessa experiência. A convite da directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, por lá já passaram também a espanhola Rosa Montero, os brasileiros João Gilberto Noll e Tatiana Salem Levy, os portugueses Valter Hugo Mãe, Jacinto Lucas Pires, José Mário Silva, José Tolentino Mendonça, Jaime Rocha e Leonor Xavier. (...)

No quarto de Pessoa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A compositora brasileira Adriana Calcanhotto passou a noite do passado dia 5 de Março no quarto que foi o de Fernando Pessoa nos 15 últimos anos da sua vida. Este é o texto que resultou dessa experiência. A convite da directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, por lá já passaram também a espanhola Rosa Montero, os brasileiros João Gilberto Noll e Tatiana Salem Levy, os portugueses Valter Hugo Mãe, Jacinto Lucas Pires, José Mário Silva, José Tolentino Mendonça, Jaime Rocha e Leonor Xavier.
TEXTO: Escrevo à mão, de pé, com o caderno pousado sobre uma cómoda. Aquela mesma, que teve o privilégio de ser a cómoda onde Fernando Pessoa, em uma única noite, criou o poeta Alberto Caeiro, que escreveu o Guardador de rebanhos de uma tacada só. Jamais ousei sonhar com uma noite como essa, passada no quarto onde Fernando Pessoa dormiu os últimos 15 anos de sua vida. Lembrava-me, quando estive pela primeira vez visitando a casa, da sensação inesperada ao adentrar o quarto, de achar tudo muito pequenino, o próprio quarto, a cama de solteiro estreita, a cómoda muito simples, igual à que encontraríamos na casa de qualquer pescador, tudo extremamente austero e embora eu não houvesse criado maiores expectativas elocubrando como poderia vir a ser o quarto do poeta, não foi pequena a surpresa em relação às proporções do aposento. Que coisa impressionante sair tão grande poesia de um recinto tão pequenino. Evidentemente nada tem a ver uma coisa com a outra, do Palácio de Buckingham não saíram poemas da estatura dos dele, mas impressiona um bocadinho ao entrar-se aqui pela primeira vez, no quarto com duas janelas para a rua, com a cabeceira da cama entre elas. Agora, aqui, a escrever sobre a mesma cómoda onde nasceu Alberto Caeiro em uma noite mágica, reparo que ela não é alta como o poeta dissera. Tem a altura normal de uma cómoda normal. Não é alta para uma cómoda antiga, nem para uma contemporânea. Por que será que ele adjetivou a peça assim? Dizendo que a cómoda onde escrevia sua poesia era alta em vez de dizer que escrevia, na sua cómoda, alta poesia? O que será que quis dizer o poeta sobre o móvel no qual tenho agora deitado o meu caderno?Não há cadeira no quarto, então a única maneira de escrever-se aqui é assim, de pé sobre a superfície possível de se apoiar um papel, a cómoda. Sobre a arca, cheia de manuscritos, no chão, à esquerda da porta, não seria muito cómodo, com trocadilho, por favor. E depois, a cómoda era do poeta, esta arca é uma réplica. A arca original esteve aqui no quarto por anos, agora só há a réplica e eu pergunto “mas por que”? e a resposta é sempre “não conheces a aristocracia do Porto?”Escrever de pé dá uma certa urgência à escrita. Sentado o escritor está em estado comtemplativo, passivo. De pé estamos como que de passagem pela escrita. Para um poeta que goste de andar por sua cidade, escrever de pé o mantém ereto. Sem passadas, mas na trilha. De andar e escrever. De seguir e escrever e seguir escrevendo, de pé, nesta cómoda. Percebe-se melhor a transitoriedade do caminho. Estamos ao meio do percurso e escrevemos sem “parar” para escrever. Estamos entre uma girada e outra desta maçaneta branca, entre o almoço e o jantar. Entre uma caminhada pela cidade e outra. Entre um eu e um outro. Entre um pastel de nata e um café. Impossível não ficar olhando para esta maçaneta a imaginar quantas vezes e em que diferentes estados de espírito ele a girou para entrar aqui, pensando em Ofélia, ou logo depois de encontrá-la, depois de estar com amigos, depois de tomar uns copos. Quantas vezes a terá girado para sair do quarto desejando sair, não só para as ruas de Lisboa, mas de si mesmo. Quantas vezes a terá girado ansioso para voltar, à sua cómoda, para ser salvo pelo Barão de Tevere, para os seus eus, para a sua poesia, enorme, saída daqui, deste modesto quartinho da Rua Coelho da Rocha. Impossível não ficar a imaginar.
REFERÊNCIAS:
Gruta de Altamira reabre ao público já depois da Páscoa
Decisão contraria posição de peritos mas apoia-se em estudo que indica que o ser humano não é um perigo para as importantes gravuras rupestres. (...)

Gruta de Altamira reabre ao público já depois da Páscoa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Decisão contraria posição de peritos mas apoia-se em estudo que indica que o ser humano não é um perigo para as importantes gravuras rupestres.
TEXTO: A polémica não demoveu as autoridades espanholas e a gruta de Altamira vai mesmo reabrir ao público, já depois da Páscoa, para mostrar um dos monumentos paleolíticos mais importantes do mundo a grupos semanais de cinco pessoas. A decisão foi tomada ao final desta tarde na reunião do Patronato de Altamira e transformou-a na única importante gruta pré-histórica aberta ao turismo em toda a Europa. Com par apenas no sítio arqueológico de Lascaux e Chauvet, em França, Altamira, que fica no norte de Espanha na região da Cantábria, tinha o seu destino por decidir depois de ter estado encerrada cerca de uma década. E de ter sido reaberta no último ano para o que foi chamado um “período experimental” em que se realizavam visitas de cinco pessoas, que obtinham ingresso por sorteio e eram acompanhadas por um guia todas as sextas-feiras. A última dessas visitas realizou-se no final de Fevereiro, estando então pendente a decisão sobre se as grutas voltariam a ficar encerradas para fins de conservação ou se reabririam para os turistas. A decisão, unânime, foi assim no sentido de reabertura, mantendo um modelo similar ao do período de testes. Isto uma semana e meia depois de se ter tornado pública uma carta enviada à UNESCO – que classificou Altamira em 1985 como Património da Humanidade - por um grupo de académicos espanhóis que se opõe à reabertura da gruta e suas gravuras pré-históricas e que gerou polémica. Os peritos da Universidade Complutense de Madrid argumentavam que a presença regular de pessoas em Altamira “põe em perigo um legado frágil” e acusavam o poder político de ceder à “pressão política e posições eleitoralistas”. Esses peritos foram secundados pelos 70 investigadores do reputado Instituto de História do Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) espanhol que já em 2009 tinha produzido um estudo, compilado ao longo de 12 anos, em que alertava que já tinham sido ultrapassados todos os limiares do risco de perda das gravuras em Altamira. Outros peritos mundiais em Pré-História concordam com os académicos espanhóis, temendo que os danos que se venham a produzir só sejam visíveis dentro de anos, como foi o caso de Lascaux em que as gravuras rupestres estiveram em vias de desaparecer. Como avança a imprensa espanhola, o esquema será agora o seguinte: uma vez por semana, cinco pessoas poderão entrar na gruta e lá permanecer, com dois guias, durante 37 minutos. A experiência tornar-se-á regra e, descreve o diário El País, as visitas serão “controladas e muito regradas”. A gruta continuará a ser estudada, estando reservados para investigação períodos mais alargados. Na reunião do Patronato de Altamira, que integra representantes do governo regional da Cantábria, do governo espanhol e do museu de arqueologia e da universidade cantábricos, esta decisão foi justificada por um estudo de conservação feito nos últimos dois anos a pedido do Ministério da Cultura e que concluiu que a presença humana no interior da gruta não é “significativa” para a preservação das suas gravuras. Descobertas em 1879, as grutas que contêm imagens de arte rupestre do Paleolítico estiveram abertas ao público desde 1985 (tinham fechado antes entre 1977 e 82), e têm pinturas na rocha com mais de 15 mil anos que representam animais vários (bisontes, cavalos, veados) e símbolos. Atraíram durante décadas milhares de turistas e visitantes – segundo a agência de notícias espanhola EFE, a cadência era de 175 mil visitas por ano. No período experimental que decorreu de Fevereiro de 2014 a Fevereiro de 2015, 250 pessoas entraram na gruta. O encerramento em 2002 deveu-se ao risco das mudanças na atmosfera da gruta e que criariam condições para a propagação de microorganismos que se alimentam da luz e que podem ser prejudiciais à conservação das pinturas. O plano de conservação que serviu de base a esta decisão indica agora que a deterioração das pinturas se deve a causas naturais, relata o El País. Em resposta à carta dos académicos, a tutela espanhola enviou a sua própria missiva à UNESCO em que revela que o estudo mais recente concluiu que a principal ameaça à preservação das gravuras é “a lavagem da superfície das pinturas pela água que goteja continuamente no interior da gruta”. Tanto Lascaux quanto Chauvet não estão abertas ao público e tal como Altamira desenvolveu desde 2002, dispõem de réplicas nas imediações dos respectivos sítios arqueológicos para os visitantes.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
Investigadores avisam UNESCO que reabrir Altamira é um "perigo"
Governo espanhol contra a carta enviada por académicos que criticam a cedência à “pressão política e posições eleitoralistas" na iminente decisão sobre o destino da gruta que é Património da Humanidade. (...)

Investigadores avisam UNESCO que reabrir Altamira é um "perigo"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Governo espanhol contra a carta enviada por académicos que criticam a cedência à “pressão política e posições eleitoralistas" na iminente decisão sobre o destino da gruta que é Património da Humanidade.
TEXTO: A polémica está instalada: peritos da Universidade Complutense enviaram à UNESCO uma carta que alerta que a reabertura ao público das grutas de Altamira, cujas pinturas pré-históricas são Património da Humanidade, “põe em perigo um legado frágil” e que acusa o poder político de ceder à “pressão política e posições eleitoralistas”. Os 17 peritos da Complutense, todos os membros do Departamento de Pré-História, e que tiveram o apoio dos cerca de 70 investigadores do reputado Instituto de História do Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) espanhol, argumentam que “o novo programa do Ministério da Cultura de Espanha, um plano que inclui a abertura da gruta a novos visitantes, coloca questões importantes de conservação” de Altamira. E defendem ainda que esse mesmo plano põe em risco as pinturas essenciais “para a compreensão da sociedade paleolítica” e que só têm par nas grutas de Lascaux e Chauvet, em França. "Sendo que nem as provas científicas nem o número de visitantes previstos apoiam a abertura da gruta, só resta reconhecer que são a pressão política e as posições eleitoralistas as motivações subjacentes” às intenções da tutela, lê-se ainda na missiva. A carta, enviada em Dezembro pelos académicos à UNESCO, que em 1985 as declarou Património da Humanidade, diz ainda que “Espanha tem a obrigação” não só de estudar a gruta como também “de preservar este património”, concluindo que “as acções empreendidas pelo Ministério da Cultura de Espanha representam uma clara ameaça” à conservação. As grutas de Altamira, na região da Cantábria, no Norte de Espanha, constituem um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo. Estiveram fechadas ao público mais de uma década, tendo sido encerradas em 2002 pelo risco que representava as mudanças na atmosfera da gruta, que criariam condições para a propagação de microorganismos que podem ser prejudiciais à conservação das pinturas. Durante o último ano, pequenos grupos de visitantes tiveram acesso, por sorteio, às grutas. Esse período experimental de visitas terminou em Fevereiro e brevemente o Patronato de Altamira, que gere as grutas e que integra representantes do governo regional da Cantábria, deve decidir se Altamira permanecerá aberta – e em que moldes - ou se encerrará ao público. A próxima reunião do organismo está agendada para dia 26. De acordo com o diário espanhol El País, a maior parte dos peritos do sector acredita que a decisão será de manter as grutas visitáveis e, numa reacção à carta enviada à UNESCO, o presidente da Cantábria, Ignacio Diego, disse ao jornal local espanhol El Diario Montañés que ainda não está fora de questão o encerramento total da gruta. Diego considerou a carta dos peritos da Complutense “uma opinião” e uma falta de respeito para com os mais de 50 investigadores que nos últimos dois anos estão a acompanhar o plano de gestão daquele património e que terão concluído que as visitas controladas, semanais e de pequenos grupos, não representam risco para a sua conservação. Em 2011, os resultados da investigação ao estado de conservação de Altamira e da sua resistência à pressão humana contemporânea, feita por dois dos maiores peritos mundiais em arte rupestre – Sergio Sánchez-Moral e Cesáreo Saiz-Jiménez, do CSIC –, foram publicados na revista científica Science. E eram peremptórios, como recorda o El País: já tinham sido ultrapassados todos os limiares do risco e a presença de seres humanos na gruta era impensável, muito porque para as visitas é preciso luz e a dita alimenta microorganismos que se alimentam dela e que degradam as pinturas. O mesmo motivo que originou o encerramento ao público de Altamira em 2002, à semelhança do que acontece nas suas congéneres francesas, e que agora poderá voltar a pôr em perigo as gravuras. Descobertas em 1879, as grutas que contêm imagens de arte rupestre do Paleolítico estiveram abertas ao público desde 1985 (tinham fechado antes entre 1977 e 82), exibindo pinturas na rocha com mais de 15 mil anos que representam animais vários (bisontes, cavalos, veados) e símbolos. Símbolos do apogeu da arte rupestre paleolítica, atraíram durante décadas milhares de turistas e visitantes – segundo a agência de notícias espanhola EFE, a cadência era de 175 mil visitas por ano. Desde o encerramento em 2002 e até à mais recente reabertura faseada, criou-se uma instalação com réplicas das gravuras dos famosos bisontes. E no último ano, a solução encontrada pela tutela espanhola foi então a organização de visitas por sorteio, que permitiram a 250 pessoas entrar na gruta. Em grupos de cinco pessoas, mais um guia, todas as sextas-feiras tinham um pouco menos de 40 minutos para explorar o sítio arqueológico. Entretanto, e segundo El Diario Montañés, o Ministério da Cultura espanhol e a equipa científica que está a avaliar a conservação de Altamira vão também enviar uma carta à UNESCO em resposta às críticas dos académicos.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO