Desta vez, Ricardo III vai ter a sua despedida real
Foi o descendente indirecto de Ricardo III que construiu o caixão onde os restos mortais do antigo monarca, descobertos em 2012, vão ser enterrados. (...)

Desta vez, Ricardo III vai ter a sua despedida real
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi o descendente indirecto de Ricardo III que construiu o caixão onde os restos mortais do antigo monarca, descobertos em 2012, vão ser enterrados.
TEXTO: Michael Ibsen é marceneiro e está acostumado aos pedidos de clientes para construir mobílias à medida, como estantes, portas ou armários. Mas o pedido para construir um caixão para o seu antepassado real, imortalizado numa peça de teatro de William Shakespeare, é de longe o pedido mais invulgar que alguma vez recebeu. O público viu pela primeira vez, neste último domingo, o caixão construído à mão por Michael Ibsen com os restos mortais com 530 anos do rei Ricardo III. O monarca será finalmente enterrado na próxima quinta-feira na catedral de Leicester. “Por duas vezes tive a oportunidade de estar ao lado dos restos mortais, e uma pessoa pensa: ‘Que extraordinário que é. Estou aqui junto desta figura histórica’”, disse Michael Ibsen, de 58 anos. “E depois de esta ideia ser filtrada pela mente, pensei: ‘Uau, sou um familiar [de Ricardo III]’. ”Apesar de ser canadiano, o marceneiro vive no Reino Unido há 30 anos e é uma figura central na identificação dos restos do antigo rei, que em 2012 fez as manchetes da comunicação social em todo o mundo, quando o esqueleto foi desenterrado num parque de estacionamento em Leicester. Nesta quinta-feira, o esqueleto de Ricardo III voltará a ser enterrado num funeral, que vai ser transmitido nas televisões, cuja cerimónia será conduzida pelo arcebispo de Canterbury. Nesta história, Michael Ibsen acabou por ser não só um construtor de caixões mas foi também o “fazedor de um rei”. O canadiano é sobrinho de Ricardo III em 17ª geração, e o seu ADN – a informação genética que está nas células e passa de pais para filhos – ajudou a confirmar que o esqueleto escavado pertencia, de facto, ao último rei da dinastia Plantageneta. No poder seguiram-se os Tudor, com Henrique VII. Ricardo III morreu na famosa batalha de Bosworth, em 1485, dois anos depois de se tornar rei. Na altura, o seu enterro foi apressado. Mas mais de cinco séculos depois, os restos mortais do monarca, que estavam perdidos, vão ter um funeral moderno com a pompa britânica. No domingo passado, um cortejo fúnebre – que saiu da Universidade de Leicester, onde o esqueleto foi estudado – passou pelos principais lugares ligados aos últimos dias de Ricardo III, incluindo o sítio onde terá morrido e a igreja onde se pensa que terá ido à missa na véspera da sua última batalha. Chumbo, carvalho e teixoA cidade de Leicester, a 160 quilómetros a noroeste de Londres, está completamente ciente deste momento histórico. Por estes dias, haverá lançamentos de livros, exposições sobre a época medieval e conferências dos geneticistas e arqueólogos que estiveram envolvidos na escavação dos restos mortais e na sua identificação. No sábado, a Universidade de Leicester teve o “Dia de Ricardo III”, onde os visitantes puderam observar o esqueleto e provar os alimentos da época daquele rei, como tarte de carne de veado. “Esperávamos que houvesse algum interesse no rei medieval, mas fomos apanhados de surpresa com o fenómeno global que se gerou”, disse Philippa Langley, uma argumentista e membro da Sociedade Ricardo III, que considera que o rei passou a ser muito mal visto devido à peça de Shakespeare. No texto dramático, o escritor inglês conta a história de um rei corcunda que ordena o assassínio dos seus jovens sobrinhos na Torre de Londres e morre na batalha, gritando: “Um cavalo! Um cavalo! O meu reino por um cavalo!”A argumentista foi a força motriz – e que conseguiu angariar o dinheiro – da escavação. Philippa Langley estava convencida de que os restos mortais de Ricardo III não tinham sido perdidos e que, ao contrário do que os historiadores pensavam, não tinham ido parar a um rio próximo. Em vez disso, ela acreditava que estavam enterrados por baixo de um parque de estacionamento, onde, no passado, se situava a igreja Greyfriars. E, de facto, os restos mortais foram lá encontrados. Mas mesmo depois do esqueleto, com a coluna vertebral encurvada, ter sido descoberto, foi necessário fazer um trabalho de detective usando a genética. Os historiadores encontraram uma linhagem hereditária entre Ana de York, a irmã mais velha de Ricardo III, e a mãe de Michael Ibsen, Joy, que morreu em 2008. No entanto, o seu filho providenciou amostras do seu próprio ADN e verificou-se que correspondia ao de Ana de York. [A análise teve em conta o ADN das mitocôndrias – as chamadas “baterias das células”, que lhes dão energia e são transmitidas apenas por via materna –, confirmando que Michael Ibsen e Ricardo III partilham a mesma linhagem. ]Antes de construir um caixão para o seu antepassado real, o marceneiro passou muito tempo a investigar as antigas técnicas de enterramento de reis e descobriu que, na altura de Ricardo III, os monarcas não eram sepultados em caixões de madeira. Eram “basicamente cobertos por chumbo e colocados directamente em sepulturas onde eram enterrados”, explicou.
REFERÊNCIAS:
Brasil à valenciana
Alceu Valença, um dos nomes históricos da criação musical de Pernambuco, lança um disco ao vivo com a Orquestra Ouro Preto, Valencianas. Já nas lojas, deve chegar aos palcos em Janeiro de 2015. (...)

Brasil à valenciana
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Alceu Valença, um dos nomes históricos da criação musical de Pernambuco, lança um disco ao vivo com a Orquestra Ouro Preto, Valencianas. Já nas lojas, deve chegar aos palcos em Janeiro de 2015.
TEXTO: Conhecem Cavalo de pau? Coração bobo? Tropicana? Talismã? Então conhecem uma pequena parte da obra gravada de Alceu Valença, cantor e compositor pernambucano que foi um dos protagonistas do luminoso Grande Encontro. O tal que juntou no Canecão, em 1996, Alceu, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e Zé Ramalho para um concerto acústico antológico e que vendeu, em disco, mais de um milhão de cópias. Ora Alceu, que nunca deixou de compor e gravar (aos 68 anos já soma 23 discos de estúdio e dez ao vivo), lança agora Valencianas, registo de um concerto no Palácio das Artes em Belo Horizonte, em Novembro de 2012, com a Orquestra Ouro Preto. O disco chega este mês às lojas, o concerto virá a Portugal em 2015. Nascido a 1 de Julho de 1946 em São Bento do Una, no estado de Pernambuco, Alceu Paiva Valença cresceu rodeado de música. “São Bento do Una tinha cinco mil habitantes, cinco grupos teatrais e dois cinemas. O meu avô materno tocava bandolim, o irmão dele tocava violino e a irmã do meu avô tocava piano. Do lado paterno, o meu avô tocava violão, viola caipira, bombardino. E eu, numa dessas serestas, peguei num bombo. Mas eu era tão pequeno (devia ter uns quatro anos) que não sabia que tinha de acompanhar. E fazia toc, toc, toc no bombo, mas para mim. O meu avô mandou-me tirar dali, dizendo: ‘Alceu não tem compasso, não tem ritmo. ’ E isso me persegue até hoje. Se me lembrar do meu avô, perco o ritmo [risos]. ”Mas o avô não foi o único na família a tentar arredá-lo da música, o pai também estava atento a tentações. “Hoje no Brasil se estuda muito. Mas naquele tempo as famílias é que tinham de cuidar dos estudos. Na família do meu pai todos estudaram menos os dois que tocavam violão, que viviam mais na boémia. Então o meu pai temia que se eu me virasse para o lado da música iria virar boémio, não iria estudar. ” Por isso tentou, ao máximo, afastá-lo desses caminhos. Até que um dia a mãe, desafiando o poder paterno, levou-o até à cidade e fê-lo parar diante da vitrina de uma loja. “Disse: escolha um instrumento para você. E eu, vendo aqueles violões todos, fiquei com medo de pedir um e ela não me dar. Pedi o pequenininho, um cavaquinho. Mas ela disse: ‘Não, você merece um violão’. E comprou um violão para mim. ” Só que o poder paterno voltou a impor-se. E não o deixaram ter aulas de violão, embora houvesse um professor disponível, que ensinava “todos os meninos da rua”. O pai, que concorrera para procurador da Fazenda do Estado, não gostava de advogados, embora tivesse exercido como tal. Mas preferia ver o filho seguir a carreira da advocacia do que a “perder-se” nos caminhos da música que o perseguiam através do rádio. Foi assim que Alceu, já depois se ter iniciado na literatura e no cinema que lhe iam chegando (Manuel Bandeira, Lins do Rego, Drummond, Rubem Braga, Pessoa, Godard, Truffaut, Antonioni) se tornou bacharel pela Faculdade do Recife. Mas desistiu depressa, ao representar o cobrador de uma dívida pela compra de uma televisão: “Fiquei a favor da outra parte. Achei que o devedor tinha razão, tinha sido impelido por uma propaganda enganosa. Disse: não pague. E vim embora, do caso e da advocacia. ” Tentou depois o jornalismo, no Jornal do Brasil e em revistas nacionais como a Manchete. “Aí, eu tinha acesso aos jornais do Sul do país. Vi que havia o Festival Internacional da Canção e resolvi colocar lá uma música. E cantei pela primeira vez no Maracanãzinho, onde cantavam os maiores cantores do mundo. ”Quando volta do Rio, dedica-se aos festivais universitários. Larga o jornalismo devido a uma lei que obrigava quem o exercesse a ter o respectivo curso (e ele, que cursara direito, não queria começar tudo outra vez) e, aos poucos, vai-se entregando em definitivo à música que há muito o atraía. “Na casa de meus pais era quase proibido ouvir rádio. Então eu tinha de ouvir em casa dos amigos. Foi na casa de um vizinho meu chamado Edinho que eu ouvi pela primeira vez o Elvis Presley. Havia música de Portugal [trauteia Lisboa, velha cidade…], tangos, música francesa, americana, espanhola, tudo. ” Luiz Gonzaga era considerado, à época, “uma coisa cafona”, por isso não tocava na rádio. Mas Alceu conhecia os seus sons, bem como os que o antecediam, provenientes da colonização portuguesa. E misturava-os, na sua cabeça, com o rock’n’roll. “Havia uma certa similitude. Aí, eu, proibido de um, ouvi e gostei do outro. Se eu cantasse as coisas de Luiz Gonzaga, eram capazes de cuspir na minha cara. Por isso peguei o Elvis. E isso até foi bom. Porque não me pareço com ninguém. Peguei tantas referências e coloquei essas referências dentro de um liquidificador imaginário, que terminou tirando um produto meu. Quando eu fiz o Cool Jazz Festival em Nova Iorque, um jornalista do New York Times disse-me: isso é o rock que não é rock. Não soube definir. ” O mestre Luiz Gonzaga, no entanto, deu-lhe depois uma definição extraordinária, ao ouvi-lo misturar pífanos nordestinos com guitarras eléctricas: “Você toca uma banda pifeléctrica”. Comovente AnunciaçãoMas, afinal, o que tem a música de Alceu Valença? Ele resume: “Tenho xote, baião, frevo, maracatu, samba meio bossa, toadas, blues, tudo o que se pode imaginar. ” Ora é todo esse imaginário que Alceu revisita no seu novo trabalho, gravado com a Orquestra Ouro Preto, uma formação criada em Maio de 2000 e constituída na sua maioria por músicos jovens. Com uma particularidade: repete-se, aqui, algo que já lhe sucedera no Rock In Rio de 1985, quando toda a assistência cantou Anunciação e ele se comoveu. A época era outra, estava-se nas vésperas da eleição de Tancredo Neves para o Planalto e a ditadura estava no fim. Mas agora, a repetição desse “coral” improvisado no final da canção ainda tem ecos de profecia. O disco (o concerto, para sermos exactos) começa com um longo tema orquestral, Abertura valenciana, 13 minutos onde os sons de Alceu surgem entrelaçados numa estrutura de suite, seguindo-se temas de várias épocas recriados para os dias de hoje: Sino de ouro (1985), Ladeiras (1994), Cavalo de pau (1982), Coração bobo (1980), Talismã (1972), Estação da luz (1985), Porto da saudade (1981). Até que chega a Acende a luz, instrumental. “Eu fiz essa na boca, para orquestra, e o maestro adorou. A história é a seguinte: Em Pernambuco há 1012 eventos em todo o carnaval e eu fui convidado pela prefeitura para cantar num bairro pobre chamado Chão de Estrelas [título de uma célebre canção de Orestes Barbosa]. Ao chegar lá, a luz faltou. E eu fiquei triste porque não pude cantar para aquele povo. Mas fiz essa música, Acende a luz. E no ano seguinte voltei lá e cantei. ”Depois seguem-se Junho e Sete desejos (ambas de 1991), Le Belle de Jour e Girassol, ligadas (de 1991 e 1997), Tropicana (1982) e, por fim, Anunciação (1983), com um final épico. “Esse projecto foi pensado pelo Paulo Rogério Lagos, de Minas Gerais, que tem uma relação com a Orquestra Ouro Preto. Ele dizia: ‘Vamos fazer um trabalho com a tua música’. E eu ‘tudo bem’, mas sem conhecer a orquestra. Até que ele me levou a Olinda o Mateus Freire [mais tarde o autor da abertura Suíte valenciana], paraíbano, que faria os arranjos; e o maestro Rodrigo Toffolo. Aí começámos a falar do projecto, escolhemos 60 músicas, depois passámos para 40 e foi diminuindo até ao número de músicas que ficou. ” E foi tudo gravado “de uma vez só”, num concerto em Belo Horizonte. Uma aventura que sintetiza uma carreira. Ou que abre um caminho esplendoroso para conhecê-la.
REFERÊNCIAS:
O Ouro de Minas e as valências de Alceu
Em Lisboa, o concerto de Alceu Valença com a Orquestra Ouro Preto foi merecidamente aplaudido. Uma prova de que popular e erudito podem partilhar as mesmas paixões. (...)

O Ouro de Minas e as valências de Alceu
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Lisboa, o concerto de Alceu Valença com a Orquestra Ouro Preto foi merecidamente aplaudido. Uma prova de que popular e erudito podem partilhar as mesmas paixões.
TEXTO: Aos 68 anos de idade e 40 de carreira, Alceu Valença mantém viva a irreverência e a boa forma vocal. Mostrou-o em Lisboa, num Teatro Tivoli praticamente cheio, na noite de 20 de Janeiro, depois de se estrear na véspera na Casa da Música, no Porto (também às 21h30). Valencianas, o trabalho que o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença (nascido em São Bento do Una, a 1 de Julho de 1946) apresentou nestas duas salas, não é apenas mais um disco dos muitos que gravou, é uma revisitação da sua obra com o envolvimento da Orquestra Ouro Preto, jovem e dinâmica formação de Minas Gerais dirigida pelo maestro Rodrigo Toffolo. Isto quer dizer que, para além de novos arranjos, várias das suas canções foram transformadas em peças orquestrais, das quais a mais arrojada é a suite que abre o concerto. Intitulada Abertura valenciana, mistura vários géneros (lamento sertanejo, martelo alagoano, aboio, cordel, embolada) numa envolvência de cordas, percussões e marimbau, instrumento de uma só corda percutida como a do berimbau mas aplicada numa caixa e tocada como numa guitarra “slide”. Essa foi a abertura no Tivoli, tal como no disco (aliás, o alinhamento do espectáculo seguiu-o sem alterações), e foi efusivamente aplaudida. Nessa altura, Alceu não tinha ainda entrado em palco, deixando a ribalta e as honras à orquestra. Quando finalmente o fez, por entre aplausos, foi para cumprir a sequência pré-determinada: Sino de ouro, Ladeiras e Cavaco de pau, saudado e aplaudido logo aos primeiros acordes. Uma versão épica, dramática, verdadeiramente excelente. Coração bobo, um agitador-mor de plateias, manteve a fasquia alta. Mérito dele e da sua música. Depois, voltaram os instrumentais. Uma sequência onde ritmo e lirismo surgiram alternados, primeiro com a suavidade de Talismã (com a “voz” principal entregue a um violoncelo), depois com a batida sincopada de Estação da luz (aqui ouviram-se os primeiros “bravo!” e “lindo!” na plateia), passando em seguida à melancolia de Porto da saudade e encerrando com a acelerada marchinha Acende a luz, composição bem mais recente mas nem por isso menos aplaudida. O regresso de Alceu ao palco fez-se com Junho, como previsto (dedicou o tema a José Eduardo Agualusa, “um grande escritor que se encontra aqui presente”), passando depois a Sete desejos e La belle de jour (tema com nítida influência de Elvis Presley) misturada com Girassol. O que se seguiu foi uma festa: Tropicana, outro dos seus maiores sucessos (integrou o excelente disco Cavalo de Pau, de 1982) pôs o público, com uma forte presença brasileira, a ecoar-lhe os versos e levou Alceu a brincar com variantes, como “Ó minha gente lusitana/ cante agora por favor” ou “Ó minha gente tão bacana/ eu quero o teu sabor”. Para alguns, foi o delírio. Mas o momento mais tocante terá sido o encerramento com a belíssima Anunciação, a que os arranjos orquestrais de Mateus Freire dão o estatuto de ode triunfal: “Tu vens, tu vens/ eu já escuto os teus sinais. ” Ouro de Minas (o da orquestra) e filigranas do Nordeste (as de Alceu) em comunhão absoluta. O que sobrava para o encore? Nada, já tudo havia sido tocado. Por isso, depois de brincar com o ritual dos encores (por que teria ele de ficar atrás da cortina à espera, por que não podia esperar no palco pelo final dos aplausos?) e multiplicar agradecimentos e vivas (gritou “Viva a Cultura!”, comentando num aparte: “Entretenimento eu acho um saco”), Alceu pôs à “votação” as canções que iria repetir. Ganhou Coração bobo, com palmas mais fortes (e ele cantou-a em parte, limitando-se na outra a “reger” o imenso coro que tomou de assalto a canção), mas a segunda mais “votada” também teve o seu momento: Tropicana. Até que: “Mas que gente tão bacana/ agora é que me vou”. E foi mesmo, quando o espectáculo já atingira o auge. Valências de Alceu. Para os interessados, como adenda aos concertos, é lançado em Lisboa esta quinta-feira, 22 de Janeiro, o primeiro livro de poemas de Alceu Valença, intitulado O Poeta da Madrugada, com edição simultânea em Portugal e no Brasil. Com chancela da Chiado Editora, a sessão de lançamento é no Vestigius (Cais do Sodré, Armazém A, n. º 17), às 18h, na presença do autor.
REFERÊNCIAS:
Quercus contra construção de empreendimento turístico em Milfontes
Ambientalistas consideram que os impactos do projecto Vila Formosa na paisagem e no estuário do rio Mira estão subavaliados. (...)

Quercus contra construção de empreendimento turístico em Milfontes
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ambientalistas consideram que os impactos do projecto Vila Formosa na paisagem e no estuário do rio Mira estão subavaliados.
TEXTO: A associação ambientalista Quercus reafirmou a sua posição contra a construção do empreendimento Vila Formosa junto a Vila Nova de Milfontes, no litoral do concelho de Odemira, por considerar que o projecto não está em conformidade com os planos de ordenamento do território e tem fortes impactos ambientais. A Quercus já se tinha manifestado desfavorável à construção do empreendimento, que contempla um hotel de cinco estrelas, três aldeamentos turísticos, um equipamento de desporto e lazer e uma área de comércio e serviços, entre outros, aquando da fase de consulta pública do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), há cerca de três anos. A associação ambientalista reafirmou agora a sua posição no âmbito da consulta pública do Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (RECAPE), que terminou na semana passada, uma formalidade exigida pela Declaração de Impacte Ambiental Favorável Condicionada emitida pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo. "A Quercus reitera a posição anteriormente assumida [. . . ] de que as autoridades competentes se deverão pronunciar no sentido da não construção do mesmo [projecto turístico] na referida localização", lê-se no documento enviado pela associação à CCDR do Alentejo. O Projecto de Desenvolvimento Turístico e Ambiental de Vila Formosa, da responsabilidade da empresa Real Formosa, prevê a criação de mais de 1350 camas, numa área de implantação total aproximada de 41. 700 metros quadrados, nas herdades de Vila Formosa e de Montalvo, localizadas na freguesia de Longueira/Almograve, no concelho de Odemira, distrito de Beja. Para a Quercus, o projecto "não está em conformidade e não é compatível com os instrumentos de gestão territorial aplicáveis", nomeadamente o Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo, o Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e o Plano Director Municipal de Odemira. A associação considera ainda que os impactos na paisagem circundante e no estuário do rio Mira estão "subavaliados", além de não terem sido estudadas as alternativas legalmente exigíveis. Paulo Lucas, da Quercus, sublinha que a associação repudia a implantação de empreendimentos imobiliários e turísticos em áreas classificadas, como é o caso das herdades de Vila Formosa e de Montalvo, que se situam em pleno PNSACV e se integram na Rede Natura 2000. Os ambientalistas insistem ainda num modelo turístico que privilegie os aglomerados populacionais existentes, realizando intervenções em edifícios já construídos, como forma de beneficiar também as populações locais, o que não acontece se os turistas "ficarem fechados num resort", referiu o dirigente da Quercus. Contactada pela Lusa, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) informou que não se pronunciou sobre o RECAPE, por impossibilidade de o analisar. Na fase anterior, a SPEA havia rejeitado o EIA, alegando "deficiências" que violavam a legislação nacional e comunitária, nomeadamente as directivas Aves e Habitats, e pedido à CCDR do Alentejo para declarar "a desconformidade ambiental" do projecto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo aves
Negócio com patentes terá de aumentar 10% ao ano até 2020
Novo pacote de fundos europeus PDR 2020 inclui 100 milhões de euros para a inovação no sector agro-alimentar. Laboratórios do Estado terão de ser “motores de desenvolvimento” para os produtores. (...)

Negócio com patentes terá de aumentar 10% ao ano até 2020
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Novo pacote de fundos europeus PDR 2020 inclui 100 milhões de euros para a inovação no sector agro-alimentar. Laboratórios do Estado terão de ser “motores de desenvolvimento” para os produtores.
TEXTO: Os resultados de exploração de patentes e propriedade industrial no sector agrícola e alimentar terão de aumentar em média 10% ao ano até 2020, passando dos actuais 50 mil euros (dados de 2013) para 97 mil euros nos próximos cinco anos. Esta é uma das metas traçadas pelo Ministério da Agricultura que, nesta sexta-feira, apresenta oficialmente a estratégia para a investigação e inovação no sector. O novo quadro comunitário desenhado para estas actividades económicas (PDR2020) tem destinado uma verba específica de 100 milhões de euros para a inovação, cujas candidaturas arrancam na primeira quinzena de Maio. Nuno Vieira e Brito, secretário de Estado da Alimentação e Inovação Agro-alimentar, acredita que haverá uma corrida aos fundos, tendo em conta o dinamismo que as empresas têm demonstrado nos últimos anos. “O sector está a correr bem, cada vez mais temos mais jovens e mais pessoas qualificadas e interessadas em novos produtos e que reconhecem a importância da inovação e a necessidade de, não tendo essa capacidade, se aproximarem das instituições que o podem fazer. Estou seguro de que teremos as candidaturas esgotadas”, disse ao PÚBLICO. Além dos 100 milhões de euros do PDR2020, há 4400 milhões de euros disponíveis no POCI, o Programa Operacional de Competitividade e Internacionalização, cujo primeiro eixo temático é direccionado ao reforço da investigação, do desenvolvimento tecnológico e da inovação. O Horizonte 2020 dispõe ainda de 77. 000 milhões de euros especificamente orientados para o apoio à investigação. Aumentar a produção científica, as parcerias internacionais, ligar empresas e universidades, criar clusters e centros de competência dedicados a produtos concretos (50 em 2020), ou acreditar os laboratórios do Ministério da Agricultura são algumas das intenções desta estratégia. As estruturas do Estado (quatro laboratórios e quatro estações experimentais) também vão aproveitar os fundos disponíveis. “A expectativa é que, mesmo a nível do próprio ministério, os laboratórios e as estações experimentais sejam motores de desenvolvimento para os produtores. Que olhemos para as estruturas e que passem a acompanhar [a inovação] e se possível a dinamizar o sector agrícola e agro-alimentar português”, diz Nuno Vieira e Brito. Ao contrário do que sucede noutras actividades, a inovação na alimentação tem estado “nas mãos do Estado (laboratórios e universidades públicos)”. É, por isso, preciso aproximar as empresas dos investigadores e partilhar conhecimento – necessidade que há muito está diagnosticada. Outra das intenções é que as pequenas empresas, com menos capacidade financeira e de recursos humanos para ter estruturas de I&D, também recorram à investigação disponível nas universidades. Foram definidas sete linhas de orientação, que também serão seguidas pelas estruturas públicas, alvo de uma reestruturação recente. Incluem desde a produção de alimentos à protecção animal, ecossistemas florestais ou alterações climáticas. “Fomos ao encontro de um facto positivo da inovação e investigação. Quando a agricultura não era uma actividade interessante, a investigação ressentiu-se e, do ponto de vista oficial, não houve grandes investimentos. Quem o fez foram as empresas”, diz Nuno Vieira e Brito. O último relatório da União Europeia coloca Portugal entre os países “moderadamente inovadores”, ocupando o 16. º lugar entre 27 Estados-membros e o sexto entre os que estão abaixo da média da UE. Há uma “elevada dependência do ensino superior (50%) e do sector Estado (34%). Na agricultura, apenas 14% da inovação é proveniente das empresas", indica o Innovation Union Scoreboard (2013). A despesa total de Portugal em I&D foi de 2748 milhões de euros, 101 milhões de euros dos quais na agricultura, ou sejam apenas 3, 7%. Do gelado de algas aos enchidos de coelhoApesar de a despesa em investigação e desenvolvimento estar longe dos patamares europeus, as pequenas empresas têm vindo a lançar novos produtos na área alimentar, usando parcerias com universidades e matéria-prima nacional. A gelataria Emanha, na Figueira da Foz, criou um gelado de kefir com algas marinhas em parceria com o Grupo de Investigação em Recursos Marinhos da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, do Instituto Politécnico de Leiria. Em Bragança, a Grão a Grão alargou a produção de fumeiro tradicional à carne de coelho. Manteve todos os processos de fabrico mas mudou a matéria-prima principal, mais magra e com menos calorias. Já em Beja, a Mestre Cacau tem usado o medronho para produzir paté, em parceria como Centro de Excelência para a Valorização dos Recursos Mediterrânicos. Na lista de novos produtos estão ainda o medronho seco coberto com chocolate, trufas com aguardente de medronho ou medronho seco confitado. Há ainda o exemplo da aguardente da Lourinhã, uma das três aguardantes classificadas na Europa, que tem sido aplicada em bombons ou pastéis, num projecto da Câmara Municipal da Lourinhã para dinamizar o produto.
REFERÊNCIAS:
Colaboração entre produtores e retalhistas será cada vez mais estreita
Consumidores exigem cada vez mais informação sobre o que colocam no carrinho de compras. (...)

Colaboração entre produtores e retalhistas será cada vez mais estreita
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Consumidores exigem cada vez mais informação sobre o que colocam no carrinho de compras.
TEXTO: Um relatório recente da consultora KPMG faz o diagnóstico da tendência: produtores, indústria e retalhistas vão trabalhar cada vez mais perto para garantir o abastecimento de alimentos. E isso pode traduzir-se não só no investimento directo dos comerciantes na produção (a chamada integração vertical), como em contratos de longo prazo ou até exclusivos com fornecedores. Nos mercados mais desenvolvidos, os cinco maiores operadores da distribuição alimentar (ou seja, as maiores cadeias de hiper e supermercados) detêm cerca de 80% das vendas de produtos alimentares. “É quase certo que, no futuro, as empresas terão de aumentar as suas actividades de controlo e esforços de colaboração além do sector onde operam”, refere Chris Stirling, responsável global pela área de ciências da vida da KPMG. O sector agro-alimentar resistiu à recessão mas é dos que enfrenta pesados desafios com as alterações climáticas, inovações tecnológicas e uma exigência cada vez maior de informação por parte dos consumidores. É, ainda, confrontado com escândalos que põem em causa a confiança nos produtos alimentares - da carne de cavalo detectada em lasanhas na Europa, ao leite contaminado na China (2008), além de tensões políticas como a do embargo russo. “Para ultrapassar estes desafios e prevenir tragédias futuras, será necessária mais colaboração na cadeia”, continua o relatório. A forma e extensão dessa parceria é uma decisão estratégica. Em Espanha, a Mercadona, um dos principais operadores, definiu uma estratégia com os seus “inter-fornecedores”, produtores com quem tem contratos estáveis de fabrico de marcas próprias. São 120 com mais de 220 fábricas que, em 2014, investiram um total de 500 milhões de euros, a maior parte destinados a 30 novas unidades fabris e linhas de produção para o grupo. A intenção é criar uma cadeia de abastecimento sustentável, com um projecto comum. Outros exemplos são a criação de clubes de produtores, como acontece por cá no Continente ou no Intermarché.
REFERÊNCIAS:
A Suprema Sagrada Congregação dos Santos Exames
A inteligência feudal do Iave justifica a anormalidade B com a anormalidade A. (...)

A Suprema Sagrada Congregação dos Santos Exames
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A inteligência feudal do Iave justifica a anormalidade B com a anormalidade A.
TEXTO: Para facilitar a leitura deste artigo, começo por um pequeno glossário:Nuno Crato – Presbítero da Suprema Congregação dos Santos Exames, em nome da qual vem destruindo a escola pública e perseguindo os professores. Oficialmente designado por ministro da Educação. Iave – Sigla de Instituto de Avaliação Educativa. Sucedeu ao Gabinete de Avaliação Educacional, num lance típico de algo mudar para tudo ficar na mesma. O presbítero, que financia a coisa e propõe os nomes para que o Governo designe quem manda na coisa, repete até à exaustão que aquilo é independente, julgando que prega a papalvos. Aquilo passa pelos erros que comete e pelas indigências que promove com a resiliência dos irresponsáveis. Cambridge English Language Assessment – Organização privada sem fins lucrativos, o que não significa que não facture generosamente o que faz e não pague principescamente a quem a serve. Pagar principescamente e gastar alarvemente é desiderato de algumas non profit organizations. PET – Do inglês, comummente entendido como animal de estimação, é aqui o acrónimo de Preliminary English Test for Schools. Personifica o mais actual exame de estimação de Nuno Crato. PACC – Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades. É o cordão umbilical que liga Nuno Crato a Maria de Lurdes Rodrigues em matéria de vexame público do ensino superior e da classe docente. O facto de persistir, depois de classificada pelo próprio Conselho Científico do Iave como prova sem validade, fiabilidade ou autenticidade, mostra de quem o Iave depende e contra quem manifesta a sua independência. Despachado o glossário, passemos ao calvário. Começou a mobilização da máquina da escola pública para operacionalizar o PET, teste que pretende certificar o domínio do nível de proficiência B1 em língua inglesa, de acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas. O teste implica uma considerável sobrecarga de trabalho escravo para os professores e um notório prejuízo do curso normal das actividades lectivas. O direito às aulas por parte dos alunos cedeu ao “direito” de uma instituição estrangeira utilizar professores pagos pelo Estado português, para os industriar na aplicação de instrumentos com os quais impõe a supremacia de uma língua, num quadro comunitário multicultural e plurilinguístico, vexando-os e vexando as universidades portuguesas. Falo de 2150 docentes licenciados, mestrados ou doutorados, que irão obrigatoriamente ao beija-mão de Cambridge. Com efeito, os graus académicos que o ensino superior português conferiu foram liminarmente ignorados pela Cambridge English Language Assessment, tendo os professores portugueses que se submeter a uma prova que verificará a sua proficiência linguística. Para serem classificadores de uma prova obrigatória dos alunos do 9. º ano do ensino obrigatório português, os professores portugueses são obrigados a sujeitar-se a uma prova atentatória do seu profissionalismo docente. O Iave comparou, para as justificar, as exigências da Cambridge English Language Assessment com a formação e certificação a que ele próprio, Iave, sujeita os professores portugueses, antes de os reconhecer capazes de classificarem os exames nacionais. Ou seja, a inteligência feudal daquela excrescência administrativa justificou a anormalidade B com a anormalidade A. Mas não ficam por aqui as surpresas que a vassalagem do ministro da Educação permitiu. O artigo 9. º do respectivo regulamento de aplicação consigna que o teste não é público e sublinha “que não pode ser reproduzido, no todo ou em parte, ou transmitido por qualquer forma ou por qualquer formato, processo eletrónico, mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia, digitalização ou gravação”. Secreto pois, em nome da transparência. À prova é atribuído um carácter de “diagnóstico”, sendo certo que apenas se lhe conhece um efeito: a atribuição de um certificado, facultativo mas ao preço de 25 euros, representando um potencial encaixe para a instituição sem fins lucrativos da ordem dos 2 milhões. Quanto ao mais, isto é, como serão utilizados os resultados, prevalece o segredo, quer para pais, quer para alunos, quer para professores.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola educação animal
Europeias: Resultados oficiais publicados em Diário da República
Confirma-se que a abstenção atingiu o valor mais elevado de sempre em eleições: 66,3%. Pouco mais de três milhões e duzentos mil eleitores foram às urnas. (...)

Europeias: Resultados oficiais publicados em Diário da República
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Confirma-se que a abstenção atingiu o valor mais elevado de sempre em eleições: 66,3%. Pouco mais de três milhões e duzentos mil eleitores foram às urnas.
TEXTO: Os resultados oficiais das eleições portugueses para o Parlamento Europeu, a 25 de Maio passado, nas quais foram eleitos 21 mandatos, e a relação dos deputados eleitos, foram publicados esta terça-feira em Diário da República. A abstenção nas eleições para o Parlamento Europeu registou um novo recorde em Portugal, com um valor de 66, 3%, o mais elevado de sempre em Portugal, só ultrapassado pela registada no referendo de 1998. De acordo com os dados da Comissão Nacional de Eleições, a distribuição dos 21 mandatos deu-se através dos votos de 3. 284. 452 pessoas, de um universo de 9. 753. 568 eleitores inscritos, o que equivale a 33, 67% de votação. A percentagem de votos em branco rondou os 4, 38% (143. 957), enquanto os nulos foram 3, 04% (99. 724). A CDU conseguiu um dos seus melhores resultados de sempre - passando a ter três eurodeputados -, enquanto o BE caiu para menos de metade em relação a 2009, sendo a surpresa da noite das eleições o resultado do MPT, com a eleição do cabeça-de-lista, António Marinho e Pinto, e do número dois José Inácio Faria. Votaram na CDU (Coligação Democrática Unitária -- PCP, PEV) 416. 925 eleitores, correspondendo a 12, 69%. Já o Movimento Partido da Terra (MPT) teve 7, 15% dos votos, o que representa 234. 788 votantes. O PS surge como o partido mais votado, com 31, 49%, através do voto de 1. 034. 249 pessoas, resultado com que elegeu oito mandatos, enquanto na Aliança Portugal (PPD/PSD, CDS-PP) votaram 910. 647 eleitores, o equivalente a 27, 73% e sete mandatos. A Nova Democracia (PND) obteve 0, 70% dos votos (23. 082), o Movimento Alternativa Socialista (MAS) 0, 38% (12. 497), o Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) 1, 72% (56. 431), o Partido Operário de Unidade Socialista (POUS) 0, 11% (3. 666), o Partido Trabalhista Português (PTP) 0, 69% (22. 542), o LIVRE 2, 18% (71. 495) , o Bloco de Esquerda 4, 56%, (149. 764), que lhe valeram um mandato. Já o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP) conseguiu 1, 67% dos votos (54. 708) , o Portugal pro Vida (PPV) 0, 37% (12. 008), o Partido Democrático do Atlântico (PDA) 0, 16% (5. 298), o Partido Nacional Renovador (P. N. R. ) 0, 45% (14. 887) e o Partido Popular Monárquico (PPM) 0, 54% (17. 785). Pelo PS foram eleitos os deputados Francisco Assis, Maria João Fernandes Rodrigues, José Carlos Zorrinho, Elisa Ferreira, Ricardo Serrão Santos, Ana Gomes, Pedro Silva Pereira e Liliana Góis. Já pela Aliança Portugal, foram escolhidos Paulo Rangel, Fernando Ruas, Sofia Ribeiro, João Nuno de Melo, Carlos Coelho, Cláudia de Aguiar e José Manuel Ferreira Fernandes. João Ferreira, Inês Zuber e Miguel Viegas foram os deputados eleitos pela CDU - Coligação Democrática Unitária, enquanto António Marinho e Pinto e José Antunes de Faria foram eleitos pelo Partido da Terra. Marisa Matias será a única representante portuguesa no Parlamento Europeu do Bloco de Esquerda.
REFERÊNCIAS:
André Príncipe encontrou Portugal
Há momentos assim, em que tudo acontece ao mesmo tempo. O cineasta, fotógrafo e editor André Príncipe mostra por estes dias trabalhos de cada uma das suas artes. O Cinema Ideal faz a estreia comercial de Campo de Flamingos Sem Flamingos, a Galeria Pedro Alfacinha inaugura a exposição Antena 2, a Pierre von Kleist, editora que ajudou a fundar, comemora cinco anos. É um turbilhão que cola bem com o autor. (...)

André Príncipe encontrou Portugal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há momentos assim, em que tudo acontece ao mesmo tempo. O cineasta, fotógrafo e editor André Príncipe mostra por estes dias trabalhos de cada uma das suas artes. O Cinema Ideal faz a estreia comercial de Campo de Flamingos Sem Flamingos, a Galeria Pedro Alfacinha inaugura a exposição Antena 2, a Pierre von Kleist, editora que ajudou a fundar, comemora cinco anos. É um turbilhão que cola bem com o autor.
TEXTO: As imagens parecem nunca parar de circular na cabeça de André Príncipe. Ouvi-lo é como estar perante um vulcão em intensa actividade, incandescente, sempre pronto a largar ideias. Ideias com imagens, claro, que se projectam em várias direcções, num magma intelectual intenso. Nos últimos anos, a sua actividade artística tem-se desdobrado entre o cinema, a fotografia e a edição. Nesta semana, uma conjugação bem orquestrada de datas fez com que surgissem trabalhos em cada uma destas áreas. A partir de hoje, a Galeria Pedro Alfacinha, em Lisboa, mostra Antena 2, uma exposição de fotografia que tenta pôr de lado o arquétipo narrativo da viagem para ensaiar um jorro de imagens a partir de duas experiências de quase-morte ocorridas (segundo reza a sinopse) em 2012 e 2013. Príncipe conta que, quando acordou para a vida, ouviu na rádio a Antena 2, “o último reduto cultural” do país, “uma trincheira” onde nos podemos abrigar de rajadas de notícias sobre austeridade, troika, desemprego e crise. Foi também nas ondas da Antena 2 que ele e a sua mini -equipa se abrigaram desse noticiário frenético quando andaram pelo país a rodar Campo de Flamingos Sem Flamingos (2013), filme encantatório e contemplativo que desafia a imagem do Portugal real que nos é servida de bandeja nos telejornais – e aqui entra o Cinema Ideal, em Lisboa, que passará este filme até ao dia 26, às 19h30. Do lado da edição, Príncipe ainda vive no rescaldo do lançamento de Tokyo Diaries, prepara um novo livro, The Conference of the Birds, e celebra este mês os cinco anos da editora Pierre von Kleist, que fundou com o fotógrafo José Pedro CortesConversa na antecâmara de um cinema com a sessão das 19h prestes a começar e com a campainha do eléctrico 28 (e meia cena artística lisboeta) à mistura. No plano inicial de Campo de Flamingos sem Flamingos aparece uma televisão que mostra um debate no Parlamento. É uma ressonância que parece que vai desaparecer, mas mantém-se. Ao longo do filme há movimentos de dissidência em relação a esse plano. Dá ideia de que todo o filme quer sair daquele lugar. Como é que esse momento televisivo apareceu?Um dos motivos que me levaram a fazer este filme tem a ver com aquilo a que nos telejornais se chama “país real”, uma espécie de subgénero das notícias. É uma abordagem um bocado irritante e sempre me impressionou porque as histórias são tratadas de maneira absolutamente desonesta. É um “país real” que não me parece nada real. A televisão trata estas histórias com um tempo curto e sempre a decidir se os personagens são bons ou maus, se são desgraçados, heróicos, tudo num minuto e meio. Uma das premissas do filme era esta: o Portugal real será o que a televisão nos mostra, com a sua falta de tempo para tratar o tema? Poderei tratá-lo de maneira diferente? Durante a rodagem, filmámos muito em restaurantes. Havia sempre uma televisão ligada, como uma espécie de lareira, onde se juntam contadores de histórias. Só que este contador de histórias televisivo pode estar errado. No filme, há uma dissidência desse plano e dessa realidade. Mas há, sobretudo, uma disputa com essa centralidade televisiva. Estávamos nos primeiros meses da intervenção da troika. Esse plano em particular tem três momentos: começa com uns flamingos a levantarem voo durante um zapping; segue-se uma cena do Parlamento, em que não se sabe de um ministro (“está, não está…”); e depois há um barqueiro que desaparece na sua última travessia. Quando escrevi a sinopse deste trabalho afirmei que queria ser uma espécie de explorador do século XIX, no nosso território, à procura da fauna, da flora, de histórias e de imagens. Aqueles três episódios de televisão não resumem o filme, mas resultaram como se, de repente, o telejornal fosse um pouco de nós, uma coisa errada. Esse lado de explorador é interessante porque todo o filme nos faz olhar como se fosse a primeira vez para um território – há espanto. No plano com cavalos, por exemplo, há uma espécie de amanhecer do mundo. Isso foi resolvido na montagem ou aconteceu antes? A vossa viagem decorreu com esta predisposição?As três coisas. Quis fazer este filme também por causa de uma série de imagens que coleccionei. Eram imagens relativamente novas para mim. Por exemplo: vi um carro a perseguir uma avestruz no Alentejo. Vi imagens relacionadas com tuning, com festas trance… Havia qualidades nestas imagens que me levaram a pensar que estava perante o tal país real. E tinham sentidos novos? Sabias exactamente o que queriam dizer?Só quero filmar aquilo sobre o qual não estou seguro. Tentei sintonizar a minha equipa para nos perdermos, para perdermos o pé, para não sabermos o que estava a acontecer à nossa volta. Sintonizarmo-nos para a angústia logo no princípio da filmagem. Mas depois, com o tempo da rodagem, voltámo-nos para coisas como o vento, a luz, os elementos, as correntes de água, os animais. Dentro destas imagens, perguntávamo-nos: o que é que os humanos estão a fazer aqui dentro? O filme vai afunilando para a ideia de território, que era outra das premissas iniciais, a ideia de fronteira meio absurda entre Portugal e Espanha, que, apesar de ser a mais antiga do mundo, não faz muito sentido geograficamente (à excepção do Douro, tudo o resto é uma convenção). O filme passa de história para história, dos cavalos para o tuning, sem nos darmos conta. Como é que isso foi trabalhado?Há um dispositivo muito claro – um dia. Começa ao amanhecer, passa pela magic hour e vai para a noite. Penso que a montagem funcionou em delta. Ou seja, há várias histórias paralelas – a caça, o trance, o tuning, o João Cappas e Sousa –, que vão desaguando nalguma coisa. Quando cai a noite, o filme começa a diluir-se, há uns ecos. A certa altura queríamos que, por um lado, o filme levasse para o espectador a nossa experiência exploratória e, por outro, trabalhasse a ideia de narrador omnipresente. Nunca há uma ideia nítida de fronteira. . . Dizer que o filme é sobre fronteiras é como com um trapezista que tem uma rede em baixo. Se correr mal, usamos a rede. Aqui, o arquétipo narrativo mais forte é a viagem. A presença dos animais é fortíssima. Eles estão a olhar para quem está a filmar, o que significa que alguém chegou muito perto deles, e há ali um lado primitivo, ancestral…A coisa de que menos gosto nas imagens do National Geographic são as objectivas. Apanham tudo à distância. Acho que as lentes que apanham os homens e os animais devem ser as mesmas. Tem de ser uma coisa relacional. Antes de filmar havia um conjunto de situações que queriam tratar? Como é que cenas como a da caça, por exemplo, foram concebidas?O que havia à partida era uma série de vídeos que coleccionei no YouTube. Eram sobre todo o tipo de coisas que me suscitavam alguma reacção. Quando partimos para a rodagem havia alguns pontos definidos e umas datas. Mas tinha a noção clara do quão traiçoeira pode ser a produção feita a partir de um escritório na Almirante Reis [em Lisboa]. Sempre desconfiei que se pudessem encontrar boas histórias pelo telefone. A televisão é o repositório do real e o cinema o da ficção. A dissidência de que falávamos no início só nos parece possível através da fábula, da aventura e do sonho. É a única maneira de escapar ao que é grotesco e redutor. Essa relação com os animais parece quase infantil. De alguma maneira isso também desapareceu um pouco do cinema. Vermos isto agora numa sala é retomar um fascínio que desapareceu. Concordo. É tudo demasiado sofisticado e cínico. Neste filme há esse reclamar do real e da fábula ao mesmo tempo. Quero ter um pé em cada lado. Atiro a âncora para o real, e depois procuro a ficção. A imagem do João Cappa, que tem um formicário e é especialista em insectos, é uma das primeiras do livro O Perfume do Boi, que foi feito em paralelo com o filme. Porquê?Ao contrário do filme, em que a situação é das últimas, no livro é das primeiras porque funciona como se ele estivesse a contar uma fábula. Mas o livro tem uma construção totalmente independente do filme. A história do livro é sobre algo de errado que aconteceu entre os homens e os animais, talvez uma morte. E no fim há as avestruzes com um grito, um grito de revolta, a alertar para uma ordem que foi quebrada. No filme, quando ele aparece, sente-se uma espécie de eco com o espectador. Sentimo-nos a olhar de uma maneira diferente para as coisas, tal como ele. Esse momento aparece no meio, quando já temos uma experiência do filme. É alguém a dizer-nos que é preciso olhar para as coisas de outra maneira?Faço sempre isso nos meus trabalhos. Concebo um livro à maneira de uma pauta musical. No fundo, são estratégias para conseguir a mesma coisa, que é dizer ao espectador ou ao leitor: “Fiz tudo bem, mas o que fiz estará sempre incompleto, por isso preciso de uma atitude e da participação de quem vê. ” Os meus títulos fazem esse papel. Ou então o design. No fundo, é pedir uma certa predisposição. Funcionam com um engodo?Não, não é tanto isso. É um toque, uma proposta. Acho que é muito importante a intensidade da experiência. O filme flui entre blocos de energia e partes em que não é muito racional. É um pouco como as brincadeiras de crianças com aviões de papel. Quando o avião é atirado, querem que voe o máximo de tempo possível e não interessa se vai cair na casa da vizinha. Os títulos e o design são como este trajecto, com a diferença de que eu interesso-me por saber onde vai cair o avião. Claro que o que interessa mesmo é que voe o máximo. Ponho muita anergia a tentar garantir isso, mas essas propostas são como se dissesse: “Já agora, vamos por aqui. ”Como é que foi fotografar e filmar ao mesmo tempo? Quando é que se decidia travar uma coisa e libertar outra?Só reparei recentemente que isto já me aconteceu três vezes. Quando se está a rodar, o filme domina porque o cinema é muito mais exigente, muito mais difícil do que a fotografia. Neste caso em particular, fazia as fotografias depois de filmar. E há as diferenças todas óbvias que têm a ver com o cinema ser uma arte rítmica, ser imagem e som. No livro, o tempo é devolvido ao espectador. Mas há coisas comuns – os meus fotolivros vêm de recursos do cinema, como o fora de campo. No centro de tudo está a sequência de imagens, que é uma das linguagens mais primitivas que há, vem das cavernas. O Perfume do Boi é um livro em que a natureza assume protagonismo. Mas no meio há imagens que parecem caídas de pára-quedas (um camião na estrada, circo…). Com que objectivo aparecem?Não queria que o livro ficasse muito na imagem da floresta, fora do tempo. Queria que fosse agora, com o tuning, com o trance. . . Depois, as imagens dialogam. Como quando se vê um caçador a disparar e, na página seguinte, parece que é o carro de corrida que leva o tiro. Como é que se imagina um leitor/espectador perante estes dois objectos?É difícil falar sobre as duas coisas. Mas o que é que uma experiência acrescenta ou subtrai à outra?Nunca pensei nos dois trabalhos em complementaridade. Mas há aspectos que se tocam, como o fora de campo. . . Edito os meus livros e os dos outros como se fossem um filme. Penso sempre em termos narrativos, mesmo quando é para destruir a narrativa. Quando fico perante um conjunto de imagens, surge uma espécie de white noise, uma frequência, sem oscilações. Sequencio a partir dessa frequência. A primeira coisa que faço é pensar na primeira e na última imagem. Isto é o momento inaugural para um objecto narrativo. Trata-se de provocar imagens?Sim, quero sobretudo provocar imagens aos outros, reavivar imagens da infância, criar imagens do presente. É uma tentação de omnipresença. Sei que não vou conseguir mostrar todas as minhas imagens, mas sei também que a minha selecção vai provocar outras imagens. O espectador também traz imagens para os livros. Isso é óptimo, porque significa que eu posso provocar, pelo menos, a duplicação de imagens. O seu primeiro livro, Tunnels (2005), vai fazer dez anos. Vai?Vai. Fico surpreendido quando as pessoas gostam das minhas coisas, dos livros ou dos filmes. Penso sempre: a sério? É que são tão incompletos. Quando as pessoas nos perguntam como escolhemos os livros a editar, os nossos projectos… eu respondo: “Projectos? Não escolhemos projectos. ” Escolhemos uma mundivisão. Para se perceber isso em cada autor são precisos muitos livros. Acredito nisto e estou interessado em trabalhar a mundivisão de um fotógrafo como o António Júlio Duarte, por exemplo. Gosta de editar o trabalho de outros fotógrafos? Gosto muito. Quando é que um livro está fechado, se é que isso se consegue perceber?É um bocado como dizem os Lobos Antunes: é quando já não se consegue mexer mais. Às vezes, fico dois ou três dias sem olhar para o trabalho e, depois, quando volto a ele com a ideia de mexer, ele resiste. Como escolhem os autores que querem editar?Autores é a palavra certa. Não escolhemos projectos. Escolhemos autores. Também não escolhemos por maquetes, nem por livros quase prontos, nem por exposições que estão abertas, nem por dinheiro que já existe. É como disse, escolhemos por mundivisão. Pode haver um ou outro livro que faça sentido publicar fora destes critérios, mas estamos mais interessados em criar elipses não só dentro dos livros, mas entre vários livros e entre trabalhos de autor. A editora Pierre von Kleist está a correr bem?Está a correr bastante bem. Este é um momento de balanço. Não vamos poder fazer igual. Até porque já não temos a mesma energia. Mas temos vontade de continuar. Sinto que estamos em muito boa forma na edição, a um ponto que até começo a pôr em dúvida. E enquanto for assim, uma coisa excitante e apaixonada, continuaremos. Não é que nos levemos muito a sério, mas gostamos de fazer livros de uma forma empenhada. Há ideias interessantes para a editora nos próximos anos, mas ainda não posso revelar. E filmes?Isso é mais difícil. Por causa de dinheiros e do meu tempo. Mas tenho ideias para uns três ou quatro filmes. Um é sobre Olhão. Será uma coisa do tipo Twin Peaks. Há um crime e vai por ali fora. Acho Olhão um sítio estranhíssimo. Tem a comunidade estrangeira mais bizarra que conheço. Ao longo dos teus livros temos muito a ideia de viagem e de deslocação. Pelas imagens da exposição que vai inaugurar agora, Antena 2, dá a entender que puseste o pé na terra, que te fixaste mais. É assim?Sempre quis viajar. Quando era pequeno, li o Tintim e uma enciclopédia toda. Tenho uma ideia chatwiniana da viagem, segundo a qual o ser humano é nómada por natureza, está inscrito no nosso sistema nervoso central. Fora do meu trabalho subscrevo esta ideia. A viagem é também uma estrutura narrativa, um arquétipo que escolhi. Nesta exposição há uma resolução arquitectónica e de instalação para o espaço específico da Galeria Pedro Alfacinha. É um trabalho que dará também um livro, que se chamará The Conference of the Birds, um texto do poeta persa místico Farid ud-Din Attar, que também é uma viagem. Antena 2 parte de duas experiências de quase-morte, experiências através das quais há duas ideias feitas, um caminhar para a luz e um filme da nossa vida a andar para trás. Esta exposição é narrativa e não narrativa ao mesmo tempo. Não temos de nos perguntar onde são estas imagens, nem porque são estas dez e não outras. Eu respondo: tive experiências de quase-morte e vieram-me estas imagens à cabeça. No entanto, o sabor desta exposição é narrativo, quem entrar saberá que se trata de imagens vindas de uma experiência de quase-morte. Mas é só um gosto ténue, não quero que a narrativa se torne central. Mas há aqui alguma coisa que atire para um momento específico de Portugal? O que é que esta Antena 2 tem desse momento?Não sei se quero verbalizar muito isto. Mas a sinopse deixa algumas pistas: experiências de quase-morte nos últimos três anos, que no fundo são os três anos da troika. Conto como foram essas experiências, uma foi durante a viagem numa auto-caravana pelas fronteiras de Portugal, em 2012, a outra vez numa cozinha no centro de Lisboa, em 2013. Quando voltei a mim, em ambas a Antena 2 continuava a tocar no rádio, na sua trincheira intemporal. Tinha a ideia que toda a gente tem da Antena 2 – a rádio onde passa música clássica. Durante a rodagem do filme ouvíamos muita rádio porque cansávamo-nos da nossa música e o noticiário era quase sempre sobre a troika, as notícias eram atrozes. A televisão e a rádio sempre a falar da mesma coisa, o desemprego, a desertificação, a crise. . . Quando isso acontecia, sintonizávamos a Antena 2, como uma espécie de fuga. Quando começava a ladainha sobre a troika procurávamos logo Schubert, algo mais fora do tempo. Depois, reparei que na casa de um amigo só se ouve Antena 2. Vínhamos de um ano em que tinha acabado o Ministério da Cultura e parecia que estava tudo a acabar. Havia a ideia de que a cultura não era precisa para nada. A Antena 2 pareceu-me uma espécie de último reduto. Era inabalável, continua a passar as mesmas coisas, músicas de há 300 anos. Pareceu-me que personificava a última trincheira de uma luta. E pensei que também me queria alistar. E há também a experiência de ter ouvido esta rádio no país todo. Não é uma coisa lisboeta. Está no ar, invisível, partículas de Antena 2 por todo lado, está entre as coisas. Funciona como um estado emotivo para estas imagens?É como um toque, mais uma vez. Como lançar um avião de papel.
REFERÊNCIAS:
País, precisa-se
O país está em crise, as suas imagens também. E este filme parte — à procura de um território e das suas histórias. Não precisam de reality-show, precisam de sala às escuras. (...)

País, precisa-se
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O país está em crise, as suas imagens também. E este filme parte — à procura de um território e das suas histórias. Não precisam de reality-show, precisam de sala às escuras.
TEXTO: Vai passar por nós, e para nós. E não é objecto voador não identificado: será assim tão delirante a sensação de que os animais que nos olham do ecrã, e que deixaram que se aproximasse deles assim a presença humana? Parecem querer dizer: “Vocês já estiveram aqui”. Perante Campo de Flamingos sem Flamingos não sabemos se ainda é noite ou se já é dia, se o que vemos já começou ou já terminou, se os homens sobreviveram ou estão a acabar. . . é para esse espanto que servem as salas de cinema. É objecto identificado, traz as marcas de uma experiência antiga. E qual é o efeito especial? As pessoas, os lugares, os planos manterem inviolável, até ao fim, o seu mistério. É coisa reconhecível: é um filme. É coisa não alinhada. Antes de tactear a possibilidade de reactivar experiências (porque tudo se deve passar numa sala às escuras), Campo de Flamingos sem Flamingos abandona logo aquilo que não quer. O ministro das Finanças não foi ao Parlamento, anuncia o telejornal na sequência inicial. Era a crise que se instalava, aquela de que se começava a falar quando Campo de Flamingos sem Flamingos foi rodado — nos meses de Setembro a Dezembro de 2011 em que André Príncipe (fotógrafo, cineasta, editor), o director de fotografia Takashi Sugimoto e o operador de som Manuel Sá percorreram de caravana as fronteiras de Portugal. Mas é uma crise que se instalara há muito mais na televisão, o espaço em que o mundo é reality-show e a fabricação grotesca alastra para nos invadir. A esse país Campo de Flamingos sem Flamingos diz não. Há esse plano sobre uma TV e o seu telejornal. E depois a dissidência. Eis um filme que parte, à procura de um território e das suas histórias, que não precisam da televisão para existirem. Sandro Aguilar, o montador, encontra a forma de nos colocar numa fábula em movimento, um fluxo, contra o qual não podemos nada, que tem vida própria: homens e animais, cavalos, caça, nascer e pôr-do-sol, insectos e carros de corrida. Somos colocados sempre perante a experiência de algo que começa, o mundo sabe-nos a novo, apreendemos dele apenas contornos. Não há palavras, há uma aprendizagem sensorial a fazer — um coleccionador de insectos, a única personagem individualizada em Campo de Flamingos sem Flamingos, um homem cuja doença degenerativa lhe deu um olhar alternativo, talvez assinale um horizonte para o espectador. O filme parte, e coloca-se entre animais — as fabulosas cenas de caça. É o tal pacto a reinstalar antes que a viagem, sem mapa mas com vibrante energia de reencontro, prossiga. André Príncipe, Takashi Sugimoto e Manuel Sá são aventureiros num território que deixámos de conhecer (e é assim que se filmam na sequência final), como antes fizera Gonçalo Tocha no seu É na Terra, Não é na Lua (2011). Os títulos de ambos os filmes assinalam essa ausência que vem alastrando e o movimento de quem parte para contrariar esse vazio. É uma busca, de pessoas, de território — é a mais justa forma de descrever o que se passa em Campo de Flamingos sem Flamingos. Tocha e Príncipe, a terra e (não) a lua: não servirá isto para fabricar qualquer “tendência”, só para assinalar que há exploradores em actividade? E que esse desejo de aventura talvez seja o sinal de uma perda, de que estamos mesmo a precisar dele, do país. Parece pouco e talvez seja muito: é preciso uma sala às escuras.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo homem doença