Ambientalistas preocupados com as escolhas de Juncker para a Comissão Europeia
Carta enviada ao novo presidente fala em "despromoção" e "retrocesso" das políticas ambientais. (...)

Ambientalistas preocupados com as escolhas de Juncker para a Comissão Europeia
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Carta enviada ao novo presidente fala em "despromoção" e "retrocesso" das políticas ambientais.
TEXTO: Os ambientalistas europeus temem o pior na sua área com a escolha nova equipa da Comissão Europeia liderada por Jean-Claude Juncker. Numa carta ao novo presidente da Comissão, que substituirá Durão Barroso em Novembro, dez organizações ambientalistas de âmbito europeu manifestam “graves preocupações” com as escolhas de Juncker, alegando que elas revelam “um sério rebaixamento do ambiente” e o risco de um retrocesso em políticas já estabelecidas. A carta é subscrita, entre outras, pela Greenpeace, Amigos da Terra, WWF, European Environmental Bureau e Climate Action Network. Uma das suas principais preocupações é a junção da pasta do ambiente – hoje exclusivamente a cargo de um comissário – com a dos assuntos marítimos e das pescas. Isto, segundo o documento, “representa uma clara despromoção das questões ambientais na ordem de prioridades políticas”. Jean-Claude Juncker escolheu para liderar esta pasta o maltês Karmenu Vella, que não tem experiência conhecida nesta área. Malta tem sido criticada por várias organizações por permitir a caça de milhares de aves migratórias na Primavera, uma prática proibida na União Europeia mas ali permitida devido a um regime de excepção. Os ambientalistas dizem que Vella, uma vez nomeado comissário, estará em boa posição para alterar a legislação europeia em favor daquela prática. Os ambientalistas não gostaram também da indicação do espanhol Miguel Arias Cañete para liderar a pasta do clima, agora unida à da energia, junção também que inquieta as organizações que assinam a carta. Cañete tem sido apontado como tendo “ligações” ao mundo dos combustíveis fósseis, detendo acções de companhias do sector petrolífero. Na nova comissão de Juncker, o trabalho de 20 comissários estará subordinado à coordenação de sete vice-presidentes. A pasta do clima e da energia estará sob a tutela directa da vice-presidência para união energética. Isto pode significar, segundo os ambientalistas, “que a acção climática está subordinada a considerações do mercado energético”. A carta tem o apoio da associação portuguesa Quercus, que é membro de duas federações que a assinam. Em Portugal, a Quercus chegou a adoptar posições distintas das que estão agora no documento. Aplaudiu, por exemplo, a junção do ambiente com a agricultura e o mar no início do Governo de Pedro Passos Coelho e também a união posterior do ambiente com a energia. Nuno Sequeira, presidente da Quercus, diz que no primeiro caso a ideia não deu certo. “Depois de dois anos, o ambiente acabou por ser engolido pela agricultura”, afirma. Quanto ao clima e a energia, Sequeira entende que, num momento em que a Europa tem grandes desafios à frente quanto à sua política climática, “seria muito importante haver uma divisão clara”. O desenvolvimento sustentável, a eficiência de recursos, a economia verde, nada disso está nos mandatos dos vice-presidentes, alerta a carta dos ambientalistas europeus. Isto significa que a comissão “vai trabalhar com base no paradigma ultrapassado do crescimento económico”, completa o documento.
REFERÊNCIAS:
No sábado há caça às hastes na Tapada de Mafra
Veados e gamos perdem as hastes na Primavera e os visitantes podem ajudar a encontrá-las. (...)

No sábado há caça às hastes na Tapada de Mafra
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Veados e gamos perdem as hastes na Primavera e os visitantes podem ajudar a encontrá-las.
TEXTO: O exercício tem um nível de dificuldade semelhante ao da série infanto-juvenil “Onde está o Wally”, mas o desafio é outro: em vez de tentar encontrar um rapaz vestido com camisola e gorro às riscas vermelhas e brancas no meio de uma multidão, o objectivo é encontrar hastes de veados caídas no meio da floresta, na Tapada Nacional de Mafra. A tarefa, garantem os biólogos, não é fácil. No próximo sábado, os visitantes da Tapada podem participar na “Caça às Hastes”, uma iniciativa que aproveita o início do desmoque (queda das hastes dos veados e dos gamos), que ocorre sempre na Primavera, para atrair mais turistas à floresta. “Não é tarefa fácil encontrar as hastes, mas é uma actividade muito divertida, porque pode cair só a esquerda e os animais têm ainda a direita na cabeça e as hastes podem cair em qualquer lado do mato, por isso os visitantes vão poder sair dos trilhos e percorrer os locais por onde andam os animais", explica à Lusa a bióloga Margarida Gago, da Tapada. Os animais “ficam envergonhados” quando perdem uma das hastes e costumam bater com a outra nos arbustos para que ela se solte. Segundo Margarida Gago, as hastes "caem primeiro aos mais velhos e os jovens permanecem mais tempo com elas, por isso, nesta altura, percebe-se que quem manda ou quem come primeiro são os mais jovens e não os mais velhos e há aqui uma troca de papéis. Como as hastes estão em crescimento, também não há lutas". Depois de analisadas pelos biólogos, as hastes podem ser adquiridas pelos visitantes, podendo ser usadas como cabides, para decoração de casas mais rústicas, para fazer cabos de navalhas ou servirem de suplemento alimentar a outros animais. E há hastes para todos os gostos: ramificadas no caso dos veados e espalmadas no caso dos gamos. Por terem uma cor semelhante à do solo e aspecto parecido com os galhos das árvores, as hastes são difíceis de encontrar mas é através da sua recolha que os biólogos estudam a população de cervídeos existente na mata, que ronda as duas centenas no caso dos gamos e meia centena de veados. As fêmeas estão em maioria. Os interessados podem inscrever-se nesta actividade, que dura duas horas, através do email geral@tapadademafra. pt. A participação custa cinco euros por pessoa ou 17 euros por família (dois adultos e duas crianças até aos 12 anos). Em 2014, a Tapada aumentou em mais de 18% o número de visitantes, tendo sido visitada por cerca de 51 mil pessoas, contra as 43 mil de 2013. Este aumento deve-se a uma estratégia para atrair visitantes à "floresta encantada", proporcionando actividades que captem diferentes tipos de turistas durante todo o ano. A oferta de novas experiências aos visitantes, como ateliês de apicultura, percursos de geocaching, ensino de treino de uma ave de rapina como se fosse um falcoeiro ou observação de aves, num total de 20 actividades diferentes, contribuiu também para esse aumento.
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Palavras-chave aves
Romance de estreia de Ana Margarida de Carvalho ganha Grande Prémio da APE
História que cruza a geração dos resistentes ao fascismo com a que cresceu em democracia, Que Importa a Fúria do Mar foi eleito por unanimidade entre mais de uma centena de romances. (...)

Romance de estreia de Ana Margarida de Carvalho ganha Grande Prémio da APE
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: História que cruza a geração dos resistentes ao fascismo com a que cresceu em democracia, Que Importa a Fúria do Mar foi eleito por unanimidade entre mais de uma centena de romances.
TEXTO: Que Importa a Fúria do Mar, de Ana Margarida de Carvalho, venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE), tendo sido escolhido por unanimidade, entre os 107 livros admitidos a concurso, por um júri composto por José Correia Tavares, Annabela Rita, Cândido Oliveira Martins, José Manuel de Vasconcelos, Teresa Carvalho e Vergílio Alberto Vieira. Romance de estreia da autora, a acção de Que Importa a Fúria do Mar (Teorema, 2013) inicia-se em 1934, após a célebre revolta operária de 18 Janeiro desse ano, na Marinha Grande, e parte de uma cena em que um homem lança um maço de cartas da janela de um comboio, esperando que alguém as faça chegar à mulher para quem foram escritas. O homem, que se chama Joaquim, foi detido na sequência da revolta de 1934 e irá integrar a leva de prisioneiros políticos que inaugura o campo do Tarrafal, em Cabo Verde. Muitos anos depois, Joaquim será entrevistado por uma jornalista, Eugénia, na qual se adivinha um alter-ego da autora, que trabalha actualmente na revista Visão, e que já tinha uma longa carreira na imprensa (reconhecida com vários prémios) quando se aventurou a escrever o seu primeiro romance. Após ter estado entre os finalistas do prémio LeYa, Que Importa a Fúria do Mar ganhou agora o da APE, no valor de 15 mil euros, um prémio estreado em 1982 com A Balada da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires, e entre cujos anteriores vencedores se conta também o pai da Ana Margarida Carvalho, o romancista Mário de Carvalho, premiado em 1994 pelo romance Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde. Entrevistada para o PÚBLICO por Isabel Lucas, por ocasião do lançamento de Que Importa a Fúria do Mar, um livro que cruza a geração dos resistentes ao fascismo com a que já iniciou a sua vida adulta em democracia, Ana Margarida Carvalho falava com entusiasmo do prazer que fora experimentar a “imensa liberdade na forma” que a ficção permite, por contraste com a escrita jornalística, mas mostrava também um desarmante, e hoje cada vez mais raro, espírito autocrítico, afirmando, por exemplo, que ficava contente se as pessoas gostavam do livro, mas que lhe parecia “cheio de imperfeições”, e que evitava relê-lo para não ver alguns “erros de principiante” que achava ter feito. E quantos escritores confessariam como ela, sem rebuço, que gostam de dicionários e escrevem com eles por perto? A sorte de autora foi não ter sido chamada a julgar em causa própria, ou teria ganho na mesma o prémio da APE, mas não decerto por unanimidade. Prémios Pen ClubeTambém o Pen ClubePortuguês anunciou esta quinta-feira os prémios PEN para obras publicadas em 2013, cujos júris optaram por escolher dois vencedores ex aequo em todas as categorias à excepção da de Ensaio, conquistada pelo livro Para que Serve a História? (Tinta-da-China), do historiador Diogo Ramada Curto, também crítico do PÚBLICO. Gastão Cruz e Golgona Anghel dividiram o prémio de poesia, respectivamente com Fogo (Assírio & Alvim) e Como Uma Flor de Plástico na Montra de Um Talho (Assírio & Alvim), e o de narrativa foi atribuído ex aequo a Ana Luísa Amaral, por Ara (Sextante) e Bruno Vieira Amaral, pelo romance As Primeiras Coisas (Quetzal). Também na categoria de primeiras obras, o prémio foi dividido, consagrando Ensaio sobre o Pensamento Estético de Adorno (Vendaval), de João Pedro Cachopo, e o livro de poemas Cinza (Tinta da China), de Rosa Oliveira. João David Pinto-Correia, Fernando Martinho e Pedro Eiras compuseram o júri de poesia, Maria João Cantinho, Paula Morão e Nuno Crespo o de ensaio, e o de narrativa incluiu Teresa Salema, Vítor Viçoso, Filipa Melo. O prémio para primeiras obras é atribuído por elementos dos júris das categorias anteriores.
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Palavras-chave campo mulher homem cães
Pratos à base de catacuzes, espargos e carrasquinhas abrem o apetite em Alvito
Fim-de-semana gastronómico promove pratos tradicionais do Alentejo, confeccionados com estas ervas aromáticas. (...)

Pratos à base de catacuzes, espargos e carrasquinhas abrem o apetite em Alvito
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fim-de-semana gastronómico promove pratos tradicionais do Alentejo, confeccionados com estas ervas aromáticas.
TEXTO: Pratos à base de catacuzes, espargos e carrasquinhas vão abrir o apetite e enriquecer ementas de dez restaurantes no concelho de Alvito (Beja) neste fim-de-semana, numa iniciativa gastronómica dedicada às ervas tradicionalmente usadas na cozinha alentejana. Esta iniciativa, promovida pela Câmara de Alvito, faz parte do ciclo gastronómico "As Ervas da Baronia", que pretende promover a gastronomia alentejana à base de ervas típicas da região e dinamizar o sector da restauração e a economia do concelho. Açorda de catacuzes com bacalhau ou queijo, migas de espargos com carne de alguidar e cozido de grão com carrasquinhas são alguns dos manjares que os apreciadores de ervas aromáticas poderão degustar durante o fim-de-semana nos restaurantes aderentes. A iniciativa inclui também o 1. º Workshop "Ervas de Comer", no sábado, no mercado municipal da vila, onde especialistas da Escola Profissional de Alvito vão confeccionar pratos à base de catacuzes, espargos e carrasquinhas. O ciclo "As Ervas da Baronia" inclui três iniciativas gastronómicas ao longo do ano. Além desta, decorre uma segunda em Junho, dedicada às beldroegas, enquanto a terceira está agendada para Outubro, dedicada aos poejos, coentros e hortelãs.
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Palavras-chave escola carne
PSD preocupado com baixos caudais no Tejo e com o açude de Abrantes
Deputados de Santarém questionaram o Ministério do Ambiente sobre o tema e querem apurar responsabilidades sobre a morte de uma tonelada de peixes na semana passada. (...)

PSD preocupado com baixos caudais no Tejo e com o açude de Abrantes
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Deputados de Santarém questionaram o Ministério do Ambiente sobre o tema e querem apurar responsabilidades sobre a morte de uma tonelada de peixes na semana passada.
TEXTO: Os deputados do PSD eleitos por Santarém questionaram nesta sexta-feira o Ministério do Ambiente sobre a "escassez do caudal" do rio Tejo "ao longo do distrito" e sobre a "operacionalidade da escada 'passa peixe' do açude" de Abrantes. No conjunto de perguntas dirigidas ao ministro Jorge Moreira da Silva, os deputados do PSD enumeram os vários problemas que têm vindo a público nos últimos tempos: "escassez do caudal" no Tejo, "aparentes variações" do caudal do rio ao longo do distrito de Santarém; "morte de cerca de uma tonelada de peixes" junto ao açude de Abrantes e "falta de manutenção" deste equipamento que, na opinião dos deputados, "alterou significativamente as condições naturais do curso de água". "Segundo vários populares, pescadores e ambientalistas, ter-se-á registado um elevado número de mortes de peixes na última semana (de 30 de Março a 4 Abril) por razões ainda desconhecidas", sublinham. Esta situação foi confirmada à Lusa pelo vereador responsável pelo Ambiente da Câmara de Abrantes, Manuel Valamatos, segundo o qual o nível do caudal do rio Tejo estava "extraordinariamente baixo" naquela altura. "Deve ter existido uma descarga acentuada de água por parte de uma barragem, que fez com que a água entrasse na escada 'passa peixe', seguido de um abaixamento repentino, o que levou a que os peixes ficassem ali reféns e sem água, acabando por morrer", advogou o autarca. Na reunião de executivo da Câmara de Abrantes, realizada nesta terça-feira, Manuel Valamatos reiterou a preocupação com os baixos caudais do rio, tendo admitido a existência de "alguns problemas" de operacionalidade nas comportas da escada 'passa peixe', situação que atribuiu a "actos de vandalismo". O deputado Duarte Marques, um dos subscritores das perguntas enviadas ao Governo, disse à Lusa estar "preocupado com a situação descrita", razão que sustenta o conjunto de questões dirigidas ao ministro do Ambiente. "Esta nossa iniciativa pretende aferir responsabilidades neste processo onde morreu uma tonelada de peixe, responsabilizar quem não efectuou a respetiva manutenção do açude, que acreditamos ser responsabilidade da autarquia de Abrantes, e saber que diligências tomou a Agência do Ambiente para fiscalizar a situação", destacou. "Caso se confirme a falta de manutenção no açude, ou da eficiência do mesmo, considera o Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia existir enquadramento no PT 2020 [novo programa de financiamentos com fundos comunitários] ou no próprio Orçamento de Estado para as autoridades competentes corrigirem os eventuais erros existentes?", perguntam os deputados. Duarte Marques disse ainda que, quanto ao caudal do rio Tejo, o PSD quis "alertar oficialmente o Ministro do Ambiente, saber se Espanha está a violar o acordo, e pressionar o Governo para intervir junto da EDP e do Governo espanhol para encontrar uma solução que normalize o caudal do Tejo".
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Partidos PSD
Açores lembram a Passos Coelho obrigações de serviço público
Primeiro-ministro realiza esta semana a sua primeira vista a uma região autónoma (...)

Açores lembram a Passos Coelho obrigações de serviço público
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro-ministro realiza esta semana a sua primeira vista a uma região autónoma
TEXTO: O governo regional dos Açores espera que a visita do primeiro-ministro ao arquipélago, que decorre de domingo à noite até quarta-feira, sirva para "dar um grande impulso" para o cumprimento de obrigações de serviço público para as ligações aéreas com o continente, Universidade, rádio e televisão. A revitalização da base das Lajes, de onde os EUA ponderam retirar parte significativa do contingente que ali têm, é outro assunto incontornável na primeira vista oficial do actual primeiro-ministro a uma região autónoma. “Esta pode ser uma boa oportunidade para dar um grande impulso na resolução destes dossiês e, se não resolvê-los definitivamente, pelo menos, habilitar, desde logo, o senhor primeiro-ministro e a comitiva que o acompanha, a um conhecimento mais detalhado, mais aturado, daquelas que são as questões inerentes a esses dossiês", afirmou o presidente do executivo açoriano, Vasco Cordeiro. A aguardar a aprovação de diplomas regulamentares pelo Conselho de Ministro está o novo modelo de ligações aéreas para a região, acordado pelos governos da República e da Região em Julho. O modelo fixa uma tarifa máxima para todos os residentes de 134 euros nas ligações áreas com o continente e prevê a liberalização das rotas entre o continente e as ilhas de São Miguel e Terceira. Vasco Cordeiro diz não ter "motivo nenhum para pôr em causa a vontade do Governo da República em cumprir o que foi acordado" sobre as ligações aéreas. O novo modelo terá de ser atempadamente ratificado para permitir aos operadores interessados incluírem este destino na sua programação do verão de 2015. A definição do serviço público de rádio e televisão dos Açores é outro dos assuntos pendentes entre os governos central e regional. O executivo açoriano enviou há três meses uma contraproposta a Poiares Maduro, que remeteu o processo para o Conselho Geral Independente da RTP. Em Abril passado, numa deslocação a Ponta Delgada, o ministro com a tutela da comunicação social apresentou uma proposta para a RTP/Açores que passa pela criação de uma empresa regional para garantir a parte de conteúdos audiovisuais, ficando a RTP com a área da informação. Em Junho, o governo açoriano enviou três alternativas ao ministro, propondo a criação de uma "empresa 100% pública, 100% regional", a criação de uma "empresa de capitais partilhados" entre o executivo açoriano e a RTP e uma "solução minimalista", que mantém o actual centro regional da RTP. Questões financeiras deverá estar também presentes na cimeira entre governos, nomeadamente os constrangimentos da Universidade dos Açores e a subida dos impostos no arquipélago devido à alteração à lei das finanças regionais imposta pela troika na sequência do plano de resgate da Madeira. Os açorianos reivindicam o regresso aos 30% do diferencial fiscal. Na sua primeira visita oficial a uma região autónoma desde que foi empossado como primeiro-ministro, em Junho de 2011, Passos Coelho desloca-se às três ilhas onde estão sedeadas as principais instituições autonómicas. Na segunda-feira reúne com o executivo açoriano na cidade de Ponta Delgada (ilha de ao Miguel) e com a presidente do parlamento regional na Horta (Faial). No dia seguinte tem encontros com o representante da República e com o presidente da Associação de Municípios dos Açores em Angra do Heroísmo (Terceira). O programa inclui uma visita à fábrica Unileite, ao departamento de oceanografia e pescas da Universidade dos Açores, à base militar das Lajes, ao museu da vinha do Pico e à zona do Lajido, classificada como património da Humanidade da Unesco. Como líder nacional do PSD, Passos Coelho deslocou-se duas vezes a Ponta Delgada para participar na sessão de encerramento do congresso regional do partido, em Abril de 2012 e Janeiro de 2013. Na Madeira, que nunca visitou na qualidade de primeiro-ministro, também esteve três vezes, sendo duas para encerrar o congresso regional do partido, em Abril de 2011 e Novembro de 2012, e, antes, convidado pela câmara do Funchal como líder da posição nacional para a sessão do Dia da Cidade em Agosto de 2010.
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"Tenho um medo permanente de isto ter acabado"
António Lobo Antunes escreve Caminho como uma Casa em Chamas, um livro com cenário num prédio de quatro andares e um sótão. O amor, a morte, o tempo, o envelhecimento e o que cada um faz da sua vida são o pretexto para muitas interrogações. Algumas estão nesta conversa meio vadia (...)

"Tenho um medo permanente de isto ter acabado"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: António Lobo Antunes escreve Caminho como uma Casa em Chamas, um livro com cenário num prédio de quatro andares e um sótão. O amor, a morte, o tempo, o envelhecimento e o que cada um faz da sua vida são o pretexto para muitas interrogações. Algumas estão nesta conversa meio vadia
TEXTO: O sol bate nas cortinas e é entre elas que a conversa começa na casa onde vive na Rua do Conde de Redondo, em Lisboa, um antigo café. A olhar para uma fotografia nova na sala. A mãe. “Era muito bonita. Foi embora há menos de um mês. ” Que idade na foto? “A gente tem a idade com que nasce. Dez, setenta. Ela era muito nova”. A conversa alonga-se, uma tarde inteira. Pede algumas reservas. Vai sendo assim. Com interrupções e alguns entusiasmos sobre si enquanto protagonista de uma escrita que diz não controlar, rodeado pelos livros dos outros, por frases e palavras escritas a marcador nas paredes, como fazia em criança no quarto em casa dos pais, em Benfica. Essa casa que se fechou agora e pode voltar a abrir-se como museu, ou fundação. Não quer falar disso. Estamos no espaço onde António Lobo Antunes lê e onde escreve o tempo todo entre cigarros e a certeza de que quer escrever até morrer. Parece ser a única num homem que diz não ter um discurso sobre a sua literatura quando completa 35 anos de escrita publicada. A outra foi queimada na figueira do quintal porque era má e íntima. “Não falo de livros, falo do que me vem à cabeça…” É mais ou menos assim…Vamos falar deste livro?Não me lembro de nada. Já escrevi um a seguir que talvez seja a coisa melhor que fiz. E agora estou com outro que está complicado. Numa das suas crónicas, disse que ele nasceu quando começou a desenhar uma casa. Sim, era o plano. Mas foi só isso. Não sei o que me passou pela cabeça porque escrevo sem plano, é o livro que se faz a ele mesmo. Mas para este desenhei várias casas, a ver quem punha aqui e ali, no rés-do-chão, no primeiro andar… [faz no ar o movimento da caneta no papel]. Em 25 romances tem ideia de quantas personagens já criou?Eu não tenho personagens. Mas tem gente, vozesNão faço a menor ideia. Só aparecem quando estou a escrever. Depois calam-se e só voltam com a caneta na mão, quando estou sentado. De resto, não penso nas vozes. Ao princípio ficava a pensar no livro, agora só quando me voltar a sentar àquela mesa, daqui a nada. Tem horas para isso?Tenho. É o tempo todo. Diz que não gosta de chamar romances aos seus livros. O que são?É, não sei se são romances. Tenho tantas dúvidas em classificar aquilo. Para mim são livros. Não há histórias. Acho que tive muita sorte. A Memória de Elefante sai por acaso, ninguém sabia que eu escrevia, e um amigo meu, o Daniel Sampaio, andou com aquilo pelas editoras e ninguém queria. A Bertrand, onde estava a minha actual editora, a Maria da Piedade Ferreira, recusou o livro. Acabou por sair numa editora pequenina chamada Veja, em 1979, e vendeu loucamente. Percebo porquê. Nos escritores antes do 25 de Abril a acção passava-se em países imaginários, ou na antiguidade; a seguir ao 25 de Abril ficámos à espera dos romances que estavam na gaveta, já escritos e não podiam ser publicados, e não saiu nada. Aparece em 1977 o livro do Dinis Machado, O Que Diz Molero. E foi só. O Memória de Elefante já estava escrito nessa altura. Três meses depois sai Os Cus de Judas, que estava pronto havia tempo, e chega uma carta da América de um agente…Nestes 35 anos que passaram escreveu-se muito sobre si, deu muitas entrevistas. Como constrói ainda o seu discurso sobre a literatura que faz? Eu não falo dos livros. Falo do que me vem à cabeça, mas não falo dos livros. Porquê?Tenho muito pudor, tenho vergonha. Não acha que os livros são a sua maior exposição?Acha? Talvez seja então por isso. Eu mostrava os livros ao Zé [Cardoso Pires], fazíamos editing um ao outro. Ele dava-me páginas e páginas com sugestões que eu não seguia. Era a única pessoa que lia os meus livros antes de saírem. Sempre escrevi e ninguém lia. Eu não mostrava a ninguém. Queimava tudo na figueira do quintal. Porquê?Porque era íntimo e porque era mau. Mas, o que o inibe a falar deles, é o medo da crítica, o julgamento do leitor?Não tenho nenhum medo da crítica porque sei o que eles valem. Não sou parvo. Mas acho que não tenho direito de estar a maçar as pessoas. Está a fazer-me pensar em coisas sobre as quais não sei bem o que dizer. Por exemplo, esta pilha [aponta para um monte de folhas A4]. É o que estou a fazer agora e acho que está tudo mal. Os últimos livros têm saído exactamente como eu queria e este não, este foge-me. Não nos estamos a dar bem, não me sinto confortável com ele e se calhar ele não se sente confortável comigo. E o modo como escreve, tem mudando?Normalmente cada vez escrevo mais depressa. O problema são as correcções. Aí perco muito tempo. Mas a primeira versão sai-me mais depressa. Antes, trabalhando o dia inteiro, saía-me meia página por dia. Continuo a escrever à mão. Começo por escrever em folhas pequenas, depois passo para folhas A 4 em letra maior e começo a corrigir. Faço umas dez correcções e mando dactilografar. Quando vem já não parece escrito por mim e há muito menos narcisismo nessa leitura, sacode a água a mais. [Olha para a capa do livro] Esta capa… Não sei se gosto se não gosto. Não folheei o livro, sequer. Mas não escolho as capas. É a editora. Mas lembra-se da dedicatória, “Ao Zé Manel, com amorzade”?Lembro-me. Gosto do amorzade, que não é meu. É uma dedicatória do Valerio Adami. Ele vive em Paris na casa do Dali, mesmo diante da igreja em Montmartre. Escreveu-me num desenho: “para o António com amorzade”. E eu gostei tanto daquela fórmula e acho-a tão verdadeira e tenho amorzade por esse homem. Este livro está cheio de perguntas sobre a vida, o amor, a morte, o tempo. Tem dito que há mais perguntas que respostas. Continua a ser assim, um inquiridor…?Acha que sou? Não faço muitas perguntas. Talvez seja uma das técnicas da análise, nunca fazer uma pergunta com ponto de interrogação. Se quer saber qualquer coisa, aprendi quando era médico, é repetir a última frase da pessoa que está a falar. Por exemplo, a pessoa diz: “hoje estou muito nervosa”, e em vez de perguntar porquê, dizer: “estou muito nervosa…” Isso obriga o outro a transformar a linguagem noutra linguagem. Mas há alguns pontos de interrogação. Quando um dos inquilinos do prédio fala sobre a relação com o divino, “o que sente um judeu?”, a tal pergunta mais íntima. Como vai a sua relação com o sagrado?Uma vez perguntaram ao Voltaire como era a relação dele com Deus: “cumprimentamo-nos mas não nos falamos”. É uma relação ao mesmo tempo complicada e simples. A minha relação com Deus modificou-se desde que estreitei amizade com [Frei] Bento Domingues. Ele diz, por exemplo: “eu não vou ao cemitério porque não está lá ninguém”. Eu faço perguntas como estas: “E os que morrem, onde é que estão?”; “Andam por aí”, reponde ele. Não sei, houve uma altura da minha vida em que lia muito os físicos… Porque é que os grandes físicos, e grandes matemáticos, eram quase todos profundamente crentes? O Einstein dizia “esta coisa de Deus, por exemplo, os meus filhos têm de Deus a ideia de um vertebrado gasoso”. É a ideia que nós temos todos, e que a catequese nos dá. E Deus não é um vertebrado gasoso, como é evidente. Começamos a perceber que é qualquer coisa muito para lá disso. Passei por coisas difíceis nestes últimos anos em que tinha muitas probabilidades de morrer e o que é engraçado é que não tinha medo. Estava tão espantado e indiferente, demasiado absorvido pelo sofrimento físico, que foi brutal. Passei por uma quimioterapia de grande violência. Não sabia se ia viver ou morrer. Só gostava de viver mais uns tempos porque tinha mais uns livros dentro de mim -- e sinto que ainda tenho – e queria escrevê-los. Mas não queria que Deus me salvasse da morte. As noites nos hospitais são tremendas. É um bocado como conta o Proust, ficar à espera da manhã como se a manhã salvasse de alguma coisa e não salva de nada. E depois pensava: tenho vivido tão mal. . . Porquê?Porque havia uma data de coisas para as quais eu tinha os olhos fechados. E porque procuramos a porta nas paredes em que sabemos que não há porta, quase nos sentimos culpados de ser felizes, se é que isso existe… Mas estar aqui sentado já é uma vitória do caraças, sair para a rua, ver o sol. Disse que não queria morrer porque sentia que tinha mais livros para escrever. Os livros são a sua vida?Há uma serie de anos o Libération ressuscitou aquele inquérito dos surrealistas, Porquoi écrivez-vous? Havia pessoas que respondiam uma página inteira. A resposta mais curta era a do Beckett, Bon qu’à ça. Eu digo que escrevo porque não sei dançar como o Fred Astaire. Se soubesse dançar como ele escusava de escrever. Não quer dizer que trabalhasse menos. Escrever é a mesma coisa. O Renoir sustentava que não há talentos, há bois. Mas há muito poucas pessoas com talento. Já reparou no deserto? Compare com o século XIX em que tinha 30 génios ao mesmo tempo. Na Rússia, de repente, Tolstoi, Dostoiesvki, Gogol, Pushkin, Lermontov, podemos continuar… Em França uma data deles, em Inglaterra… Agora não há. Quem é que o António lê?Gosto muito de ler, sempre foi um prazer enorme. Há livros bons de que a gente não gosta e outros de que gostamos e não são tão bons. Por exemplo, o Thomas Mann é bom mas não gosto, chateia-me. O Musil é bom, mas não gosto. O Broch já gosto, o primeiro capítulo de A Morte de Virgílio é espantoso. É a experiência de vida a ditar o gosto?Claro. Se tivesse de falar assim de repente em escritores de que gosto, o Conrad, o Tolstoi… já reparou o que ele faz com frases tão simples? “Está frio, a cerejeira floriu, amanhã vamos à cidade”, com frases destas ele consegue exprimir tudo, filho da puta. Os manuscritos dele estão cheios de emendas. O que aquele homem trabalhava os textos… Só d’A Morte de Ivan Ilitch, do primeiro capítulo, há catorze versões conhecidas. Em Portugal nunca tivemos grandes escritores, ao nível destes. Quem é que o nosso século XIX tem para apresentar? O Eça e o Camilo. Uma vez vi uma crítica inglesa ao Eça que o destruía por completo porque o comparava com escritores de quem ele era contemporâneo. São estes nomes de que falámos. E de facto ao pé deles ele é um pigmeu. Temos óptimos poetas. Há poetas vivos muito bons. Mandaram-me um livro do José Luís Barreto Guimarães e gostei imenso daquilo. É bom. O José Tolentino Mendonça é bom. Mas em prosa não consigo. O problema pode estar em mim. O que falta?O meu pai tinha uma expressão para isso: falta faísca. Quando aparecia um bom artista ele dizia “tem faísca”. É um não sei o quê. Não sei o que faz com que o Proust seja o Proust ou o Céline seja o Céline. Noutro dia pus-me a reler o Céline e não tem uma prega. O Sartre tinha consciência disso porque quando lhe diziam: “este é o século do Sartre”, ele dizia: “não este é o século do Céline”. E ninguém lê o Sartre, já o Céline continua vivo da Costa. Aquilo não tem uma prega. Isto leva-nos também para o escritor e a sua biografia. Mas repare, quem são os dois escritores franceses do século XX? Este não é um desporto de competição, mas os nomes que me vêm à cabeça são os de Céline e o Proust, que tiveram histórias pessoais completamente diferentes. Homens tão diferentes, que escreviam de formas tão diferentes. Uma vez estava a falar com o meu editor francês e quando lhe perguntei “mas tu gostas do Beckett?” Ele respondeu: “Je respecte”. É o que eu sinto em relação ao Beckett. Mais respeito do que gosto. Gosto do Molloy (1951), mas o resto acho chato. É o meu gosto pessoal. O Ulisses… às vezes irrita-me por sentir a proeza pela proeza. No Faulkner aquilo está ao serviço do texto. Mas depois vai ler o Nabokov que diz mal desta gente toda. Para ele o Conrad era um escritor para crianças, o Faulkner escrevia histórias de plantadores de milho. Então de quem é que gosta? Updike e Robbe Grillet… ou seja aqueles que não lhe podem fazer sombra. O que acha do Nabokov?Não gosto. Uma vez estava a falar disto com o [George] Steiner quando fui a Cambridge para estar com ele. Nós temos sempre medo que a pessoa que a gente admira nos desiluda e ele, o Steiner, não me desiludiu nada. É um homem excepcional, com uma apreensão do fenómeno literário… A certa altura falei na Emily Bronte…O Monte dos Vendavais?Sim, dizendo que tinha gostado muito. Ele fez uma pausa comprida e disse-me: “mas não acha o livro um bocado histérico?” Eu nunca tinha pensado nisso e, de repente, dei por mim a olhar para aquele livro com os olhos dele. E conseguiu ver histeria?Sim, ele tinha razão. Ele preferia a Jane Austen, que é uma grande escritora, de facto. Ou a George Eliot. Tenho tanto respeito pelos escritores, gente que… como é que o Apollinaire diz no verso? “Pitié pour nous qui combattons toujours aux frontières. De l’illimité et de l’avenir…”É o trabalho condenado a não estar inacabado?Pois é. Essa frase que disse o Marcel Duchamp, que um quadro nunca está inacabado, está definitivamente inacabado. Porque é sempre possível melhorar. Permanece um “e se…”?Claro. Acho que está acabado quando o livro está farto de mim, não quer mais emendas… é como quando deixamos de gostar de uma pessoa e se dorme num cantinho da cama que pode ser que ela não nos toque, quando já qualquer toque nos irrita. É tão triste o fim de uma relação…Com o livro também?Também. Sinto que já não querem que lhes toque. Não sei explicar isto. Passa-se a numa espécie de estado segundo que não consigo traduzir em palavras. Sei lá porque é que escrevo estas coisas. Não sei. Muita gente já lhe disse que a sua escrita é muito marcada, reconhecível. Entra-se num livro seu e percebe-se logo a autoria…É isso que me chateia. A marca?Estava a escrever a Explicação dos Pássaros [1981] na Alemanha em casa da tradutora e do marido, e mostrei-lhe, dizendo que era diferente dos outros. Ela respondeu que lhe bastava ler três linhas e percebia que era meu. Tenho uma maneira de escrever muito marcada e isto dá para a malta imitar. É como a caricatura. Há imitadores por todos os cantos e não me refiro a Portugal. E porque acha que o imitam?Não sei. Não sei porque é que escrevo assim. Isto foi a pouco e pouco. Acho que só comecei a fazer livros como deve ser para aí no sétimo ou oitavo. A Memória de Elefante é claramente um primeiro livro cheio de incorrecções. Noutro dia recebi uma edição nova, já vai em mais de trinta edições – e continua a vender— e fiquei espantado porque o livro está cheio de erros de principiante, mas tem uma força… Os erros, já os esperava, mas a força do livro é que me espantou. Como é que lida com o seu erro?Em que sentido?No sentido em que sempre que um livro é lançado diz que faz o melhor que pode, mas…Acho que faço, mas posso estar enganado. Acho que o livro a seguir a este é a melhor coisa que já escrevi na vida. Deste não me lembro mesmo. Não sei porquê, ficou apagado em mim. Tanto assim que eu não queria publicá-lo. Mas acho que uma parte da obra, aquela mais experimental, em que tento algumas coisas novas para mim como na Exortação aos Crocodilos (1989), Não Entres tão depressa Nessa Noite Escura (2000), Eu Hei-de Amar uma Pedra (2004)… Aqueles calhamaços são difíceis de ler como o caraças e eu achava aquilo claro e estava todo contente. Com a vida que há agora é muito difícil ler aqueles livros. Não dá para estar sempre a interromper. A vida não é assim, as pessoas têm de trabalhar no dia seguinte. Isto devia apanhar-se com uma doença. Falava nas conversas com escritores. O que há de fantástico nelas, o chegar perto do enigma, do enigma do talento?Talvez. Não sei. Ainda vou à feira do livro e fico a olhar para a fila dos autógrafos dos outros e a olhá-los porque eles escrevem. Os autores. E volto a ser o miúdo que era quando vinha do liceu e passava ao pé do Jardim Zoológico. Havia ali uma cervejaria chamada Coral onde comiam grandes génios à quinta-feira, a Natália Correia, o David Mourão-Ferreira, e eu ficava do lado de fora, com 14 ou 15 anos, fascinado a olhar para aquela gente. Atraem-me os escritores. Parece que têm contacto com outra instância qualquer. Também lhe acontece, ver alguém olhar para si com esse fascínio?Talvez, mas não é a mesma coisa. Se vou a um restaurante as pessoas reconhecem-me, algumas começam com o telemóvel a tirar fotografias e a pôr no facebook. Eu não sei, não tenho computador nem telemóvel, mas acontece. Ontem fui ao dentista e estava a comer numa tasquinha ali na Avenida de Roma e umas pessoas vieram falar-me: “Não ganhámos este ano”. Referiam-se ao Nobel?Sim. Não percebo porquê, mas as pessoas vêm. Parecem que as pessoas lêem. E não me lêem só a mim, como é evidente. Mas eu olho para os escritores como alguém com acesso a instâncias que nós não temos…O António é escritor. Há esse acesso?Não sei… Estou a olhar ali para baixo (estante em frente) e a ver o Stendhal de que gosto muito. A pensar que ele faz O Vermelho e o Negro em 54 dias, a maior parte ditado, e sai aquela obra-prima e passa dois anos com o Lucien Leuwen, que é o pior livro dele. Então, existe génio?Não sei como lhe chamar, mas existe qualquer coisa porque há pessoas que produzem estas coisas. A gente fica com uma inveja saudável, como é que isto se faz? Acho que isto é feito numa espécie de inocência, se calhar. Todo o escritor se acha o melhor senão não vale a pena escrever. Para não ser o melhor não vale a pena, mas acho que depois quando estão a escrever têm uma dimensão angélica… e a sensação de que escrevem só para mim. Quando era miúdo, no liceu, se alguém falava de um escritor de que eu gostava ficava furioso porque o homem só escrevia para mim e aqueles livros eram feitos de propósito para mim. Tenho uma relação pessoal com os escritores de que gosto e tenho ciúmes dos outros leitores. Isto às vezes é carnal, tem uma dimensão física evidente. Não sei se gostava de viver com uma escritora [pausa]. O facto é que sabemos mais do que sabemos. Ontem estava a ler as entrevistas da Paris Review e há uma com o Nabokov. A certa altura há um adulto que pergunta à criança o que está a desenhar. Ela responde que está a desenhar Deus, “mas ninguém sabe como é Deus”, diz-lhe o mais velho. “Quando acabar o desenho já sabem”, responde a criança. Isto tocou-me imenso, e o Nabokov que me irrita, aquela vaidade, em pose constante, a agressividade inútil. Não lhe serviu para nada, para quê? Dizer mal de toda a gente, o azedume… Mas lá veio o Steiner outra vez pôr-me no lugar: “ele é que inventou as Lolitas e agora há-as por todos os lados”. E tem razão. Antes não havia Lolitas. Tecnicamente tem coisas boas, sem dúvida. Mas as nossas ideias misturam-se tanto com as nossas paixões. Eu gosto, logo é bom; eu não gosto, logo é mau. A crítica é sempre muito emocional. E depois as pessoas começam a dar estrelinhas que é a coisa mais cretina que há no mundo. Eu não daria estrelinhas a ninguém. Se fosse crítico fazia como o Truffaut nos Cahiers du Cinèma, só dizia bem porque só escrevia sobre os filmes de que gostava. Eu só falava dos livros de que gosto. O problema é como é que vou partilhar o meu gosto com as outras pessoas, com os leitores, que muitas vezes lêem apressados, que saltam parágrafos. Enquanto escritor fala muitas vezes do bom leitor. Acha que tem bons leitores?Não sei. Tenho bons editores e tenho uma coisa que me ajudaria muito se eu fosse inseguro: pessoas que respeito muito a porem-me nos cornos da lua. Há uma citação que me tem ajudado imenso que é do general Montecuccoli [século XVII]: “é preciso agarrar a oportunidade pelos cabelos mas não esquecer que ela é careca. ” É tão verdade. Mas eu não sou os livros… Ou sou? E daí. . Sei lá. Há uma pergunta explícita no livro, a da sobrinha da velha actriz no terceiro andar: “o que é ser eu?” O que é ser António Lobo Antunes?Nunca me fiz essa pergunta. Nos dias mais negros acho que só sirvo para fazer livros e que não sei fazer mais nada de jeito. Não me tenho em grande conta. Sou tão comum. Quer dizer… agora estou a ser parvo. Há um lado de insatisfação. Com os livros nem tanto. Acho que fiz o que devia fazer, mas gostava era de ser poeta. Até aos 18 anos não escrevi outra coisa. Depois um tio, irmão da minha mãe, meu padrinho, fez-me uma assinatura da Nouvelles Littéraires quanto eu tinha 13 anos e logo no primeiro número vinha o poema do [Blaise] Cendrars, Les Pâques à New York. Fiquei varado, o que se pode fazer com as palavras! E achei-me uma merda. Tive tanto desprezo por mim. Agora tenho andado amargo porque não estou a gostar do que estou a fazer. Tenho um medo permanente de isto ter acabado. Se isto seca é uma gaita. O que é que eu faço? Não gosto de ir a bares, não gosto de estar com muita gente. Posso ler. Às vezes nos intervalos dos livros, são três, quatro meses; a gente lê oito horas por dia, mas ao fim de uma semana já está um bocado farta desse ritmo. Mesmo que só se leia o que se goste. Porque é que a literatura portuguesa é tão má?É?Não é? Acho que a Ana Margarida Carvalho fez um livro bom. Antes do gravador estar ligado falava de amigos felizes com o que fazem. Sente isso?Não. Nunca?Lembro O Diário de Tolstoi, quando ele escreve: lutei para ser melhor que o Shakespeare. E sou e depois? E para ser que o Molière e sou e depois? O que é ganho com isto? O Mozart com cinco anos tocou para a Maria Antonieta e acabou o concerto com toda a gente a aplaudir. Ele correu, sentou-se ao colo dela e disse: âimez-moi. Usa-se o talento que se tem para se ser amado?Para se ser amado? Que amor é que se recebe com os livros? Estou a ser injusto. Ganhei amigos, ganhei pessoas, ganhei a vida, ganhei muita coisa e acho que tive sorte e quando estou alegre sou divertido. Tem saudades de ser médico?Gostei muito de ser médico. O que eu gostava mais era quando as pessoas melhoravam. Eu não era um grande médico, mas acho que era um médico honesto. Era bom na cirurgia, tinha boas mãos, mas na cirurgia o principal é a capacidade de decisão não são as mãos. Nunca cheguei a estar numa posição de dirigir uma equipa. Não tinha de tomar decisões, tinha de receber ordens e sente-se a impaciência e a aflição deles muitas vezes. As pessoas sofrem tanto e sofremos por nadas tantas vezes. Agora vem o inverno que eu detesto. Tenho saudades do sol. Este bairro é feio como a gaita. Contava que o seu pai disse que gostava de passar aos filhos o gosto pelas coisas belas. E passou. Obrigava-nos a ouvir sinfonias, a ler, mesmo em férias, a fazer resumos de capítulos. Começava por escritores que ele achava mais fáceis. Ler um capítulo da Bovary e fazer um resumo. Vivíamos no meio disso. Mas foi enquanto médico que ouvi as frases mais extraordinárias. Uma vez numa aula de neurologia, onde se apresentavam com casos clínicos, estava uma mulher com uma doença neurológica que mal se conseguia mexer com dores horríveis, uma mulher analfabeta. O professor perguntou-lhe como é que conseguia fazer as coisas da casa e ela teve a definição da dor mais extraordinária que alguma vez ouvi: “é tudo a poder de lágrimas e ais…” Às vezes ouvia frases destas. Já era médico, uma senhora pediu-me para passar só uma embalagem em cada receita porque não tinha dinheiro para tudo e depois chegou-se a mim e disse: “sabe, é que quem não tem dinheiro não tem alma”. Este livro está cheio dessas frases que não são bem as de um rapaz de Lisboa, que cresceu e viveu na cidade, num ambiente protegido. Pois, mas é que a parte mais importante da minha infância foi na Beira Alta e não aqui. Foi o sítio onde fui mais feliz, em Nelas. Podia andar por todo o lado. Gostava da burra, da carroça, daquilo tudo. Era a família do lado da minha mãe. Venho de gente muito humilde. Não na geração do meu pai nem da do meu avô, mas nas anteriores. O meu brasão só tem enxadas. É a ideia de belo que o persegue quando faz um livro?Não. É a de fazer bons livros. O que é um bom livro?É aquele sobre o qual penso: bolas, gostava imenso de ter escrito isto. Não sei fazer mais nada, não faço mais nada. Outro dos seus temas é a memória. A minha memória e terrível. Tenho uma memória péssima, lembro-me de tudo. Parece aqueles tecidos a que se pega tudo. Então a poesia, como gosto muito de poesia. Olhe, o Appolinaire. Gosto tanto, o Auden, o Yates. Tantos, tão variados. Consegue eleger o seu livro, entre os que escreveu?Gosto deles todos. Acho que tenho orgulho no meu trabalho, não me apetece morrer mas acho que já morria me paz. Como, se ainda diz que tem livros para escrever?Mas há-de sempre ficar incompleto.
REFERÊNCIAS:
O movimento da vida, a ligar o desenho e a geometria
Na Galeria Filomena Soares, Desenho, de Helena Almeida, e Escada, de Artur Rosas são duas exposições que se separam. A primeira com o corpo que os traços criam, a segunda com a geometria das formas. E que se aproximam, com as histórias partilhadas pelos artistas. (...)

O movimento da vida, a ligar o desenho e a geometria
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na Galeria Filomena Soares, Desenho, de Helena Almeida, e Escada, de Artur Rosas são duas exposições que se separam. A primeira com o corpo que os traços criam, a segunda com a geometria das formas. E que se aproximam, com as histórias partilhadas pelos artistas.
TEXTO: Entre as duas exposições patentes até 7 de Março na Galeria Filomena Soares existe um laço que transcende a natureza das obras: os (dois) artistas formam um casal: Helena Almeida (Lisboa, 1934) e Artur Rosa (Lisboa, 1926). Todavia esse facto, por si só, não oferece qualquer orientação ao espectador. As obras estão separadas no espaço, em duas galerias, uma escurecida, a outra banhada pela luz. Ainda assim, aborde-se, com a reserva certa, os contornos deste reencontro. “Já não expúnhamos juntos há vinte anos”, recorda a artista. “Pensámos em voltar a fazê-lo antes, mas o Artur abandonou as artes plásticas para se concentrar na arquitectura e só recentemente, depois da insistência de uma amiga comum, decidimos fazer esta exposição. Foi quase à força [risos]”. A presença de dois tempos revela-se na história das obras. As séries de fotografias de Helena Almeida foram realizadas entre 2012 e 2014, a escultura de Artur Rosa, <i>Escada</i>, data de 1984. E não é apenas a disjunção temporal que as distingue. “Não há qualquer diálogo entre elas. Somos completamente opostos. Ele é muito geométrico, eu não. Eu trabalho com o meu corpo e o meu corpo é o desenho”. Helena Almeida aponta para a série que tem diante de si: “Estas são as de 2014. Há uma raiva aqui. Uma raiva de não conseguir o que quero e, depois, de me estar nas tintas para tudo. Dou um berro. Às vezes sai-me um trabalho assim. Há até um risco de queda, mas não caí. Equilibrei-me bem. ”É assim que a artista descreve a série mais recente. Mas junte-se-lhe uma descrição alternativa. Um corpo “pintado” de negro luta com um pedaço de papel vegetal. Segura-o entre as pernas, deixa-o deslizar até ao chão. Apanha-o com um pé e suspende-se no ar num movimento drástico e inusitado. Um passo de dança. Assoma a estranheza. O que se vê? Um animal, uma mulher, um corpo animado por impulsos. Desenho, desenhos. Tudo começa com desenho, com o traço, com a mão, antes da fotografia. Numa vitrina, estão esquissos, formas desenhadas sobre papel. Identificam-se alguns dos movimentos, dos gestos, das coreografias que Helena Almeida projecta ou reencena nas imagens fotográficas. “Faço estes desenhos em qualquer bocado de papel. Imagino, visualizo, desenho, desenho até cair, até dizer ‘acabou-se’. Por vezes, considero-os um disparate, mas quando os volto a ver, descubro que foi a melhor coisa que já fiz. É claro que o trabalho passa por muitas fases, tenho que unir os materiais, mas o desenho é directo. E tão fantástico, é um mistério”. O primeiro a verArtur Rosa foi sempre uma testemunha privilegiada deste processo. Assistiu ao momento em que Helena Almeida começou a pintar sobre as fotografias, afastando-se das telas e do óleo. “Sou sempre o primeiro. Vejo os desenhos e depois vejo a Helena. Quando ela se afastou da pintura, comprei uma máquina e comecei a fazer as fotografias. De alguma forma, ela puxou-me lá para dentro”. Esta observação não é gratuita. Nalgumas das obras da exposição Andar, Abraçar, comissariada por Delfim Sardo no ano passado, no BES Arte Finança, viam-se mãos, braços, dorsos que não eram os de Helena Almeida. Pertenciam aos do seu companheiro de vida. “Estive dentro das suas fotografias. Mas habitualmente limito-me dar uma opinião. É a Helena que decide e quando vejo os trabalhos finalizados, quando clico, emociono-me”. Se Artur Rosa entrou nas fotografias de Helena Almeida, esta foi uma escultura de Artur Rosa. A projecção de slides, que documenta a produção do artista, abre com a imagem de uma escultura de 1961, um peça delicada, mas forte, hirta, de ferro. “Foi o meu primeiro trabalho”, recorda. “Estava a terminar uma obra, o edifício da STET [no Prior Velho] e, num conjunto de vigas metálicas abandonadas, vi formas geométricas que podia transformar numa composição. Pedi que mas guardassem e numa oficina, depois de um trabalho de soldagem, construí ‘Helena’ com chapas de ferro”. Mas a história não se concluí neste baptismo. A escultura seria apresentada numa exposição na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, e mereceu uma recensão elogiosa da autoria do ensaísta e escritor Alfredo Margarido nas páginas de um diário lisboeta. “Não sei precisar o título do jornal, mas lembro-me muito bem do texto. A descrição que ele fazia da escultura era a descrição da própria Helena! E ele nunca tinha falado com ela! Mais tarde, encontrámo-nos todos em Paris e [o Alfredo Margarido] pôde finalmente conhecer a mulher que tinha inspirado a escultura”. Nos anos seguintes, Artur Rosa continuou a fazer esculturas, ora inspirado pela op art, ora jogando com as possibilidades trazidas pela descoberta da malha logarítmica. Interessava-lhe explorar o movimento no espaço dos triângulos, dos losangos, dos quadrados, das esferas, e a ideia de sequência e de repetição. Realiza peças como Evolução de um losango numa malha logarítmica ou, em 1969, a escultura para a entrada da Fundação Calouste Gulbenkian, onde as faces de um cubo desvelam o movimento de uma esfera. O gosto pelo jogo das formas, das linhas, dos volumes, entre o interior e o exterior, estender-se-ia ao espaço público em 1999, com Escultura para Espaço Urbano (que pode ser vista na Avenida Conde de Valbom, em Lisboa), ao género do auto-retrato e ao design, numa fotografia a que Helena Almeida empresta o seu olhar. Na Galeria Filomena Soares, contudo, só uma obra ganha existência material: Escada. “É uma peça que vem do trabalho com a malha logarítmica. É instável e estável e imprime uma ideia de movimento. Pode servir para subir ao céu ou provocar uma queda”, comenta Artur Rosa. Na outra galeria, Helena Almeida continua a fitar as fotografias. “Quando exponho, faço um corte. As coisas vêm cá para fora, as pessoas comentam. Acaba um período. Tem de ser. Agora vou iniciar outra coisa”, diz. A ideia de corte não significa propriamente um corte com o passado. “Há coisas que vou buscar aos anos 70, estão sempre cá. Os desenhos com os fios, o papel vegetal, mas sinto sempre que há um recomeço. Por vezes, as pessoas não compreendem, não gostam. Acham que há uma história muito grande por detrás. Não é fácil explicar-lhes que o desenho está no meu corpo, está aqui. ” E Helena Almeida aponta para o estômago antes de sair, de braço dado com Artur Rosa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher negro género corpo animal
Prometeu que ia ser engolido por uma anaconda mas só conseguiu ser enrolado por ela
Discovery Channel anunciou documentário onde um homem seria comido vivo por anaconda. Programa foi para o ar, mas isso não aconteceu. (...)

Prometeu que ia ser engolido por uma anaconda mas só conseguiu ser enrolado por ela
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Discovery Channel anunciou documentário onde um homem seria comido vivo por anaconda. Programa foi para o ar, mas isso não aconteceu.
TEXTO: Foi há cerca de um mês que a história começou a dar que falar. O naturalista Paul Rosolie anunciou que o íamos ver na televisão a ser comido vivo por uma anaconda numa produção do Discovery Channel. O documentário foi no domingo para o ar e afinal, para surpresa de todos, Rosolie não foi engolido. Os espectadores sentiram-se defraudados e chovem críticas. “Da próxima vez que assistir a um programa que se chame Comido Vivo, é bom que alguém seja mesmo comido vivo”, ironizou no Twitter uma pessoa, ao mesmo tempo que outra punha uma foto de um cão a morder o dedo e a perguntar ao Discovery Channel se podia também ter direito a um programa. Desilusão, escreve o The Independent. Um grande nada, lê-se na Variety. “É uma pena que a promessa final do programa não tenha sido cumprida”, aponta o The Guardian. As reacções ao programa multiplicam-se nos jornais e nas redes sociais com duras críticas ao Discovery Channel. O problema? O alarido que se criou no último mês em torno deste documentário de duas horas. Intitulado Eaten Alive (Comido Vivo), a produção liderada por Paul Rosolie foi notícia no momento em que foi anunciada. Gerando uma expectativa crescente, o naturalista disse ter sido engolido vivo e ter saído para contar a história. Pequenos vídeos foram sendo revelados, antecipando momentos de grande tensão. Mas nunca, em momento algum, se disse que o homem afinal não foi nada engolido. Pelo contrário, todas as antecipações do documentário falavam de como este tinha sido engolido e saído de dentro da anaconda. E de como ficou tudo bem também com a própria cobra, em resposta a ambientalistas e defensores dos direitos dos animais que rapidamente protestaram contra a exibição de Eaten Alive, lançando uma petição em que classificaram o acto de “nojento”. “Vomitar uma refeição é muito stressante para o sistema interno da cobra. Não só ela não está a receber os nutrientes da sua comida, mas o processo de regurgitação rouba ácidos digestivos essenciais à cobra”, alegava a petição. Mas vamos à história, a anunciada há um mês: Rosolie viajou com uma equipa do Discovery Channel e outros colaboradores até à floresta da Amazónia a fim de encontrar uma anaconda para a sua experiência. Usando um fato especial, oxigénio e uma corda de emergência presa ao tornozelo para poder ser puxado, Rosolie banhou-se com sangue de porco para se tornar o mais apetecível possível à cobra. No trailer vemo-lo já equipado da cabeça aos pés a deitar-se em frente à cobra e esta a reagir. E eis o que aconteceu afinal: a anaconda de facto reage mas assim que se começa a enrolar a Rosolie num abraço mortal e a querer de facto engoli-lo, este queixa-se e pede ajuda. “O meu braço está a torcer, esta coisa vai partir”, diz o naturalista, pedindo ajuda aos seus colaboradores, que rapidamente o socorrem. E isto acontece apenas nos últimos 30 minutos do documentário. A primeira hora e meia é dedicada à caça da anaconda e serve de suspense para o que vemos depois. O documentário foi visto por 30 milhões de espectadores e foi um dos tópicos mais falados no Twitter.
REFERÊNCIAS:
A ZdB faz 20 anos e Amen Dunes sopra as velas
O músico americano estreia-se nos palcos portugueses a 4 de Outubro. Bonnie "Prince" Billy, Rodrigo Amarante e o ex-Sonic Youth Lee Ranaldo regressam a Lisboa para concertos. (...)

A ZdB faz 20 anos e Amen Dunes sopra as velas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O músico americano estreia-se nos palcos portugueses a 4 de Outubro. Bonnie "Prince" Billy, Rodrigo Amarante e o ex-Sonic Youth Lee Ranaldo regressam a Lisboa para concertos.
TEXTO: A celebrar 20 anos de vida, a Galeria Zé dos Bois, no Bairro Alto, tem muitos motivos para alegrar as nossas almas. Amen Dunes e Ty Segall fizeram dois dos melhores discos do ano e estarão em Lisboa nos próximos tempos. Amen Dunes apresenta as suas canções na ZdB a 4 de Outubro (no dia anterior fá-lo em Guimarães, no Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura). Damon McMahon passou a infância entre ácidos e leituras de Emily Dickinson; esteve na China; estudou taoísmo; fez folk para uma multinacional; teve uma banda com hype de que a história não rezará. Como Amen Dunes, projecto solitário criado em 2006, ora faz folk desarranjada, ora psicadelia caseira. Love é isso, mas é outra coisa: um monumental álbum, um clássico à nascença. Manipulator, lançado há poucos dias, é o disco definitivo de Ty Segall, que actua a 25 de Outubro no Lux. Levou um mês a fazê-lo, o que diz bem do estatuto que Segall foi conquistando num circuito de bares amigos das guitarras e numa rotina de discos feitos em três tempos. As canções estão à altura da confiança depositada no californiano: unem as pontas que Segall já explorara (melodias à Beatles, ataque de guitarras à T. Rex e Kinks, vertigem eléctrica à Sabbath), mas surgem como ideias totalmente realizadas, já não meras (embora excitantes) sugestões. Bonnie ‘Prince’ Billy regressa a Lisboa, apresentando-se com Matt Sweeney, velho cúmplice, e dois outros músicos, no São Luiz Teatro Municipal, a 16 de Novembro. As suas canções mudaram ao longo dos anos, mas mantêm a pureza austera com que surgiram nos anos 1990, criando, quase do zero, um género que une uma música maldita (a country) ao indie rock. O disco homónimo que lançou em 2013 mostra como aquela voz é ainda uma força sem rival. Antes, a 5 de Outubro, Marissa Nadler mostra a sua visão da folk: July, editado este ano, tem a candura das cantoras folk dos anos 1960, mas também o negrume que encanta os artistas black metal que com ela já trabalharam. Um dia antes, Nadler passa pelo festival Amplifest, no Porto. No dia 10 de Outubro, o brasileiro Rodrigo Amarante leva as canções do elogiadíssimo Cavalo (2013) ao Palácio Sinel de Cordes, depois de ter esgotado a sala da ZdB por duas noites em Junho. Será uma noite radicalmente diferente da que bEEdEEgEE (Brian DeGraw, dos Gang Gang Dance) protagonizará a 15 de Outubro na ZdB:música pop com o twist próprio de quem procura sempre o estranho. No dia 18, a Igreja anglicana de St. George, junto ao Jardim da Estrela, recebe a música pós-Sonic Youth de Lee Ranaldo (menos ruído, mais amor aos Grateful Dead). Ranaldo e os seus The Dust tocam no dia seguinte na Reitoria da Universidade do Minho. Outro ícone, mais subterrâneo, sobreviveu às drogas para nos continuar a entusiasmar: nas mãos de Jennifer Herrema (Royal Trux, RTX) o rock é sempre um bicho estranho. Os seus Black Bananas estão aí para o provar – agendar, s. f. f. : 1 de Novembro, ZdB. Por fim, o “avant-garage” dos Pere Ubu – o rótulo é uma piada de David Thomas, a única constante da formação norte-americana – está a caminho de Lisboa: apresentam Carnival of Souls na Galeria Zé dos Bois a 4 de Dezembro.
REFERÊNCIAS: