Jornadas do BE: Trump até o calor do Algarve conseguiu ensombrar
“O que Donald Trump decidiu fazer foi olhar para o dinheiro e não olhar para o futuro", disse Catarina Martins. (...)

Jornadas do BE: Trump até o calor do Algarve conseguiu ensombrar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: “O que Donald Trump decidiu fazer foi olhar para o dinheiro e não olhar para o futuro", disse Catarina Martins.
TEXTO: A decisão do Presidente norte-americano de se desvincular do Acordo de Paris não ficou de fora do discurso da coordenadora do Bloco de Esquerda nas jornadas parlamentares que arrancam nesta sexta-feira no Algarve. Catarina Martins não s�� criticou a decisão de Donald Trump, como ainda ironizou: “Se fosse um banco já estava salvo”. "O que Donald Trump decidiu fazer foi olhar para o dinheiro e não olhar para o futuro", disse a bloquista, defendendo, no entanto, que esta decisão dos EUA traz mais responsabilidades aos restantes países no cumprimento das metas ambientais. A questão do aquecimento global marcou assim uma parte do discurso de Catarina Martins, nas jornadas que decorrem no Algarve, até porque a região também tem sofrido com as alterações climáticas, disse a coordenadora depois de ter conversado nesta manhã com pescadores. “A temperatura média das águas do Algarve aumentou dois graus e isso é já um problema para a sustentabilidade de todo um sector económico”, relatou, depois de ter estado na DocaPesca, em Portimão. A bloquista criticou ainda votações quer no Parlamento Europeu, quer na Assembleia da República, que na opinião da deputada, não respeitam as causas ambientais. No caso da votação no Parlamento, Catarina Martins referia-se ao projecto do BE e do PAN que previa a cessação dos novos contratos de exploração de petróleo e que foi chumbado por todos os outros partidos.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN BE
A luta da Monsanto para defender o glifosato
Investigação do jornal Le Monde denuncia práticas de pressão sobre os investigadores da agência da Organização Mundial de Saúde que alertou para os possíveis efeitos cancerígenos do glifosato. (...)

A luta da Monsanto para defender o glifosato
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Investigação do jornal Le Monde denuncia práticas de pressão sobre os investigadores da agência da Organização Mundial de Saúde que alertou para os possíveis efeitos cancerígenos do glifosato.
TEXTO: A empresa Monsanto tem feito vários esforços para conseguir ver prolongado o uso da substância que está na base do seu famoso herbicida Roundup: o glifosato – que tem vindo a ser associado em vários estudos a possíveis efeitos cancerígenos. Uma investigação que o Le Monde começou a publicar nesta quinta-feira, com o nome Monsanto Papers, indica que a empresa tem tentado destruir a credibilidade da Agência Internacional para a Investigação do Cancro da Organização Mundial de Saúde. O director desta agência internacional, com sede em Paris, admitiu ao Le Monde que já tinham sido “atacados no passado com campanhas de difamação”, mas nunca tinham enfrentado uma “campanha orquestrada com esta magnitude”. Christopher Wild explicou que este problema arrasta-se já há dois anos, com impacto na credibilidade e integridade da instituição e dos especialistas que ali trabalham que, segundo este responsável, são “denegridos” e “assediados” por advogados. As consequências têm-se feito sentir no próprio orçamento que a agência recebe. O Le Monde avança que tudo começou numa data certa: 20 de Março de 2015. Nesse dia, a agência de Christopher Wild publicou as conclusões de um estudo que conduziu sobre os efeitos do glifosato, deixando o mundo atordoado: este pesticida, dos mais célebres do mundo, foi considerado genotóxico, com efeitos ao nível do ADN, efeitos cancerígenos nos animais e “provavelmente cancerígenos” nos humanos. A partir desse momento, advogados com ligações à Monsanto enviaram aos vários cientistas e investigadores envolvidos no trabalho cartas intimidatórias a pedir todos os documentos utilizados para chegar às conclusões publicadas. Caso decidissem não o fazer, eram ameaçados com uma acção judicial. Houve também o caso de um jornalista supostamente chamado Christopher Watts e com um mail ligado à The Economist que tentou obter informações junto dos investigadores e que fez perguntas mais intimidatórias. Na revista, ninguém sabe quem é. Ao mesmo tempo, o Conselho Americano de Química, que defende a indústria dos Estados Unidos, terá promovido alguma influência junto de jornalistas para que publicassem histórias que comprometessem a independência da agência da OMS. O mesmo foi feito nas redes sociais. A situação, diz o Le Monde, piorou com a chegada da Administração de Donald Trump. De acordo com dados publicados pela Agência Internacional para a Investigação do Cancro, em 2010 o glifosato estava registado em cerca de 130 países e é um dos herbicidas mais usados do mundo. O Le Monde estima que a sua utilização tenha aumentado de 3200 toneladas por ano, quando surgiu em 1974, para 825. 000 toneladas em 2014. Se o glifosato for proibido na Europa, os analistas estimam que a Monsanto possa perder à volta de 90 milhões de euros em vendas. Apesar destes resultados da agência da OMS, em Maio, a Comissão Europeia propôs o alargamento por mais dez anos da autorização de uso do glifosato. A contenda transatlântica sobre os possíveis riscos para a saúde humana do glifosato motivou investigações de comités do Congresso dos Estados Unidos, e a Europa tem sido forçada a atrasar a reautorização de um dos produtos que a Monsanto mais vende, o herbicida Roundup. A decisão da comissão tem como base um outro estudo, publicado em Março pela Agência Europeia de Produtos Químicos (Echa), que preparou o caminho para a decisão da Comissão Europeia recomeçar as negociações com os Estados-membros sobre a reautorização da licença do glifosato, apesar da oposição dos grupos ambientalistas. Aquele organismo da Comissão Europeia, que regula as substâncias químicas e biocidas, disse que o glifosato, o ingrediente principal do Roundup, não era uma substância cancerígena. Também a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, uma agência independente financiada pela União Europeia, considerou “pouco provável que [o glifosato] tenha perigo carcinogénico para os humanos”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Enquanto esperava pelos resultados do estudo da Echa, em Junho de 2016 a Comissão Europeia estendeu por 18 meses a autorização do uso do herbicida, depois de uma proposta de renovação total da licença ter tido a oposição de alguns Estados-membros (Portugal absteve-se) e de grupos activistas. De acordo com dados publicadas pela Agência Internacional para a Investigação do Cancro, em 2010 o glifosato estava registado em cerca de 130 países e é um dos herbicidas mais usados do mundo. A Monsanto, que teve em 2015 receitas de 15 mil milhões de dólares, actua em vários mercados e é conhecida sobretudo pelas sementes geneticamente modificadas, que têm suscitado críticas por parte de ambientalistas e de alguns grupos de defesa do consumidor. O recurso a estas sementes é muito mais frequente nos EUA do que na Europa, mas a Monsanto vende sementes de milho geneticamente modificado dentro da União Europeia.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA OMS
Festivais Gil Vicente no "ponto de partida" para o futuro
30.ª edição do evento abre esta quinta-feira em Guimarães com a estreia absoluta de Geocide, um espectáculo da Estrutura (Cátia Pinheiro e José Nunes). (...)

Festivais Gil Vicente no "ponto de partida" para o futuro
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DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: 30.ª edição do evento abre esta quinta-feira em Guimarães com a estreia absoluta de Geocide, um espectáculo da Estrutura (Cátia Pinheiro e José Nunes).
TEXTO: Os Festivais Gil Vicente dão esta quinta-feira início à 30. ª edição em Guimarães, num momento que a organização garante ser "um ponto de partida para continuar a construir o futuro". Em entrevista à agência Lusa a propósito da edição deste ano, o responsável pela programação, Rui Torrinha, explicou que os âmbitos dos festivais "estão longe de estar esgotados" e que, 30 anos depois do seu lançamento, "ainda há muito por questionar". A decorrer entre 1 e 10 de Junho em Guimarães, os Festivais Gil Vicente deste ano não incluem produções internacionais, mas, salientou Torrinha, isso "é sinal do potencial do teatro português", e prova que Guimarães "é muito mais" do que uma cidade de acolhimento. Aliás – salienta o director artístico –, "30 anos é uma idade de maturidade, sim, mas não de um fim, de um ponto de chegada; estes 30 anos são um ponto de partida para continuar a construir futuro". No entanto, porque a história do teatro se faz no passado, mas conta-se no presente, os Festivais Gil Vicente tiveram um papel importante nesta narrativa: "Não tenho dúvidas de que [os festivais] têm representado a oportunidade para tratar, representar e demonstrar a força do teatro contemporâneo em Portugal. Fizemos, apresentámos, peças fundamentais na história do teatro contemporâneo em Portugal", nota Rui Torrinha. Na senda de dar a conhecer o que em Guimarães se faz, o responsável destaca uma das iniciativas das actividades paralelas dos festivais, a criação de um designado "Gangue". "Convocámos um 'gangue', através de um mapeamento de artistas de Guimarães, que estejam ou não a viver em Guimarães, para criarmos um corpo de trabalho que vai ter um espaço nos Festivais Gil Vicente, em residência e em oficina de trabalho com José Maria Mendes", explica. Ou seja, "para lá da preocupação com o teatro em geral, há também um corpo de trabalho que se denuncia, apresenta, e que vai ter continuidade". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Do programa dos festivais fazem parte textos de autores como Jacinto Lucas Pires (Henrique IV parte 3), Isabel Costa e Tânia Diniz ou João Sousa Cardoso (Os Pescadores, nos 150 anos do nascimento de Raúl Brandão). O evento abre esta quinta-feira com a estreia absoluta de Geocide, um espectáculo da Estrutura (Cátia Pinheiro e José Nunes), com a colaboração dramatúrgica de Rogério Nuno Costa, e encerra com outra estreia absoluta, Álbum de Família, do Teatro Oficina. A organização disponibiliza uma assinatura que dá acesso a todos os espectáculos, que se dividem entre o Centro Cultural Vila Flor, a Plataforma das Artes e Criatividade e a Black Box da Fábrica ASA, por 25 euros.
REFERÊNCIAS:
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Rui Moreira: “Não podem acusar-me de nada [no caso Selminho]”
"Na rua, o que as pessoas dizem é: ‘Se o presidente se quisesse orientar, não se orientaria com um terreno que é da família’", assegura o autarca. O caso já entrou na campanha. (...)

Rui Moreira: “Não podem acusar-me de nada [no caso Selminho]”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Na rua, o que as pessoas dizem é: ‘Se o presidente se quisesse orientar, não se orientaria com um terreno que é da família’", assegura o autarca. O caso já entrou na campanha.
TEXTO: Eis o caso que agita a pré-campanha no Porto: uma empresa da família de Moreira reclama direitos de construção num terreno – mas a câmara não deixa. O caso arrasta-se há anos e estava em tribunal, mas estourou politicamente neste mandato. O autarca diz que a câmara seguiu os passos habituais. Já foi ouvido pelo Ministério Público no caso Selminho? Não. E os seus irmãos?Não. Em que estado está o processo?Que eu saiba o único processo que existe é uma queixa-crime apresentada por mim contra desconhecidos. Mas há uma queixa do PCP. O PCP pediu ao Ministério Público para cuidar de indagar. Mas é claro que não sou arguido em nada, não me consta que os meus irmãos sejam. O que posso dizer é que esse parece-me um tema típico de campanha e que aos poucos se vai esgotando. Quantas vezes durante o seu mandato falou com os seus irmãos sobre o caso?Os meus irmãos falam bastante comigo, porque se sentem incomodados pelas notícias difamatórias que lêem nos jornais. Tendo em conta que é presidente em exercício, não teria sido mais prudente que o processo pudesse correr judicialmente, com a câmara a acatar, ou a contestar até à última instância, para não poder ser acusado de interferência em proveito próprio?Não. Direi o seguinte: o juiz queria decidir. Não havia possibilidade de o juiz adiar a sentença. A pretensão que a CMP e a Selminho tinham era que a sentença fosse adiada até que houvesse um novo PDM. Isso era o que, objectivamente, podiam defender as partes. O tribunal entendeu, e bem, dizendo que não se podia suspender mais essa iniciativa. Se a CMP nada tivesse feito (e fê-lo de acordo com o conselho dos seus advogados), o que diriam se a CMP tivesse sido condenada a pagar uma indemnização?Diriam que a CMP tinha sido condenada judicialmente, ou seja, que a decisão era independente. A decisão foi uma decisão judicial. Quem aprovou a decisão foi um juiz. Mas é uma decisão com o acordo das partes e deixa de ser uma decisão independente das partes. Não, porque a Selminho não adquiriu nenhum direito. Tem algum parecer dos serviços jurídicos da câmara ou do urbanismo que apontasse para uma forte probabilidade de a câmara perder a acção interposta pela Selminho?Não sei se temos parecer. O que sei é que, quando nós cá chegámos, a CMP não tinha – pelo que eu sei – apresentado recurso em tempo. A probabilidade de a CMP perder era maior?Qualquer pessoa entende. Aliás, a experiência dos últimos anos da CMP em casos análogos, o mais visível de todos o Parque da Cidade, é que as câmaras estão muito vulnerabilizadas em sentenças dos tribunais que reconhecem os direitos adquiridos dos proprietários. Mas a decisão não seria sua, de todo modo. Mas a decisão não foi minha. Eu não tomei nenhuma decisão. Mas reconhece que, já consigo já na câmara, houve uma mudança de atitude na gestão do diferendo com a Selminho?Não houve nenhuma mudança de atitude. A câmara fez exactamente o que sempre fez. A câmara continua a defender os seus integrais direitos, continua a litigar. A única coisa que houve foi impedir-se uma sentença que com toda a probabilidade seria prejudicial à câmara. Mas aí não poderiam acusá-lo de nada. E não podem acusar-me de nada. Para já não me acusam de nada. Como se explica que o vereador do Urbanismo [Correia Fernandes] estivesse fora do processo? Esta não é uma questão urbanística. O vereador Correia Fernandes, e muito bem, está a tratar do novo PDM com entidades externas e não deve estar condicionado pelos direitos adquiridos dos processos supervenientes que existem na câmara. Mas uma das questões implícitas no entendimento entre a Selminho e a CMP é que a CMP envidará esforços no sentido de o PDM acolher as pretensões da Selminho?O que diz é assim: se o PDM acolher as pretensões da Selminho, o assunto extingue-se. Se o PDM não reconstituir os direitos que a Selminho, será constituído um tribunal arbitral. E esse tribunal arbitral determinará se há ou não direito a indemnização. E, só depois, se houver direito a indemnização, qual é o valor da indemnização. Há três nomeados para esse tribunal arbitral. De um lado está a câmara a que Rui Moreira preside, do outro lado está a empresa de que Rui Moreira é accionista e há um terceiro elemento estabelecido por comum acordo entre a câmara a que Rui Moreira preside e a empresa da qual Rui Moreira é accionista. Não é, politicamente falando, uma formulação que o expõe a qualquer acordo que saia desse tribunal?Não, como não intervenho no processo, não serei eu… Então faço a pergunta ao contrário: teria de ser capaz de pegar no relógio, andar para trás 16 anos que foi a altura em que os meus irmãos e a minha mãe compraram aquela propriedade (eu tenho 5% da holding) e dizer: 'Não podemos ter qualquer interesse na cidade do Porto que possa ser questionado. 'Podia ter deixado o processo judicial correr. Se achasse que a câmara tinha de contestar, podia contestar até à última instância e na última instância via-se o resultado. O processo judicial não podia esperar pela conclusão do PDM. Foi isso que o juiz determinou. Porque que é que não envolveu a câmara nesta decisão? E o que é que iriam dizer nesse caso? As deliberações da câmara destinam-se a questões políticas. Não há nenhum caso que me recorde de alguma câmara que tenha levado a reunião de vereação um tema sobre matérias desta natureza. Era o que mais faltava. Qualquer vereador se sentiria inibido de votar. Esse argumento foi utilizado pelo eng. º Rui Sá [ex-vereador do PCP] numa determinada altura e ele teve oportunidade de falar comigo sobre esse assunto. Aquilo que lhe perguntei foi assim: como é que posso pedir, numa matéria em que os serviços jurídicos da câmara estão a seguir aquilo que foi continuadamente a estratégia da câmara, que tem sido sempre a mesma desde 2006 ou 2007, como é que posso dizer ‘agora a câmara tem de se pronunciar'? Como é que um vereador eleito por mim, ou um vereador do PS ou do PCP se pode pronunciar sobre esta matéria? Aqui quem se pronuncia é um director municipal. Mas há aqui uma substância política, segundo a qual o presidente da câmara aparece do lado da contestação e do outro lado da queixa. É uma questão de sensibilidade política rara. Podia ter posto o caso num vereador da oposição, por exemplo?Acha que algum vereador da oposição pode aceitar um cargo desses? Essa questão pode-se colocar exactamente se e quando for constituído um tribunal arbitral. Não será certamente se algum vereador suscitar questões sobre o director municipal. O director municipal dos serviços jurídicos não é uma nomeação do presidente da câmara. Esse tempo acabou. As pessoas respondem perante a câmara e respondem pelos seus actos. Mau seria que os serviços jurídicos da câmara, em qualquer processo, envolvendo ou não o seu presidente, fossem deliberados em reunião de câmara. Nesse momento estaríamos a determinar procedimentos relativamente aos serviços. Creio que seria prevaricação. Que razões levaram a empresa a avançar com o adiamento do pedido de indemnização quando, em Fevereiro deste ano, se percebeu que a revisão do PDM não estava concluída?Tem de perguntar à empresa, mas é relativamente fácil: a explicação que foi dada é que a empresa o que provavelmente quer é construir. Admite disponibilizar os documentos revelados aos deputados municipais a todos os cidadãos do Porto? Com certeza. Tudo aquilo que existia no processo foi disponibilizado a todos os deputados municipais, coisa que é mais ou menos inédita. E também à comunicação social. A verdade é que na assembleia municipal este assunto não foi levantado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No processo que foi entregue aos deputados municipais faltava a sua procuração [enquanto presidente de câmara, autorizando a transacção judicial]. Já percebeu por que não estava lá a procuração?Entregaram-na no tribunal e esqueceram-se de a arquivar. É esta a explicação dada pelos serviços. Como vai gerir esta polémica na campanha? Não receia que o princípio da mulher de César lhe dificulte a campanha? Como não sou mulher, não me preocupa. Acho que os cidadãos do Porto conhecem-me bem. E os que não conhecem sabem outra coisa, por uma questão lógica: se alguma vez um presidente da câmara quisesse fazer alguma coisa para seu benefício, não o faria numa sociedade de que faz parte assumidamente, que é da família, em que está envolvido há mais de 16 anos. Com certeza não seria aí. Gosto muito mais da lógica da rua do que desta lógica de que enferma a mulher de César. Na rua, o que as pessoas dizem é: ‘Se o presidente se quisesse orientar (uma expressão portuense), não se orientaria certamente com um terreno que é da família. ’ E em que por acaso não alterou nada em relação ao que era a estratégia do anterior executivo. Não teme que este processo acabe com a sua destituição? Se isso acontecesse, depois das autárquicas quem o substituiria?Com a minha destituição? Não. Não temo nada.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PCP
Rui Moreira: "A fobia centralista alargou-se aos candidatos dos partidos"
Diz ter travado muitas guerras "sozinho" contra Lisboa. Porém, Rui Moreira é contra a eleição directa dos líderes das áreas metropolitanas. (...)

Rui Moreira: "A fobia centralista alargou-se aos candidatos dos partidos"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Diz ter travado muitas guerras "sozinho" contra Lisboa. Porém, Rui Moreira é contra a eleição directa dos líderes das áreas metropolitanas.
TEXTO: Presidente da Câmara do Porto admite ter perdido a guerra da TAP, mas diz que não havia outra forma de a travar. O sector privado "mitigou" o problema, explica em entrevista ao PÚBLICO. A TAP foi um dos seus principais cavalos-de-batalha na luta contra o centralismo. Olhando para os números, um ano depois, fez sentido tanta polémica? Entre Lisboa e Porto a TAP transporta 2000 pessoas por dia, cerca de 750 mil ao final do primeiro ano. A administração da TAP tinha razão?Eu com isso só posso rir. Por uma razão: em primeiro lugar, eu, apesar de nunca ter experimentado a ponte aérea, nunca disse que a ponte aérea não devia existir. Aliás, há muitos anos que os portuenses, entre os quais eu me incluo, defendem que a TAP devia ter um bom serviço de ponte aérea Porto-Lisboa e é através desse serviço que a TAP apresenta esses resultados. Mas aquilo que me preocupava e preocupava os portuenses foi o facto de a TAP ter terminado com algumas das suas ligações directas do Porto a capitais europeias, ao Brasil, e de ter reduzido também para Nova Iorque. Essas ligações eram extraordinariamente importantes para o tecido empresarial da nossa região. Essa foi a crítica, que mantenho. É evidente que hoje o assunto de alguma maneira está mitigado porque, tal como eu previa, companhias aéreas de bandeira, não foram as low cost, começaram a ocupar esse espaço – desde logo a KLM e a Air France, que há muito tempo não voava para o Porto. A British Airways aumentou a frequência. Agora, entendo que uma transportadora nacional, em que o Estado português tem 50%, não pode deixar de prestar um serviço público à segunda cidade do país e à região mais exportadora do país. Mas destes 750 mil passageiros há muitos que vão usar o hub de Lisboa para irem para destinos eventualmente suprimidos pela administração da TAP. Mas é péssimo para a região. É péssimo para o tecido económico da região. Se falar com qualquer dos sectores empresariais do Norte, verifica isso. Vamos ao caso de Milão, que é uma cidade que tem relações económicas particularmente fortes com o Porto por causa da indústria da moda, da confecção e tudo o mais: não é indiferente para essas pessoas e para estas empresas nós não termos um voo directo a partir do Porto. A TAP devia ser privada ou pública?Eu não gosto muito destas parcerias privadas em que o ónus fica no público e a vantagem fica no privado. Entendo que, se havia quem quisesse comprar a TAP com a sua dívida e operá-la como uma empresa comercial normal, era perfeitamente legítimo. E aí… eu não teço comentários sobre a Monarch [companhia low cost britânica], a não ser que fico muito contente que eles ofereçam três voos para Manchester, Birmingham e Luton. Agora se a Monarch disser que vai parar com Luton, não ouvirá o presidente da câmara a pronunciar-se. É uma actividade privada. O problema é quando entramos neste sistema que ninguém percebe: quem é que gere a TAP? Não me parece normal que o Estado reassuma 50% e depois diga que a política comercial da TAP não pode ter a intervenção de administradores públicos, porque a operação comercial de uma empresa de transportes aéreos é o que define o modelo de serviço público. O Governo devia ter garantido direito de veto em questões estratégicas, como sejam as ligações do Porto?Com certeza. Nesta batalha ficou a sensação de que o Norte não foi atrás de si. Sobrou a sensação de que ficou a falar sozinho. A Associação Comercial do Porto tomou uma posição muito clara. Mas a Associação Empresarial de Portugal [com sede no Porto] não. Mas a AEP é uma associação empresarial de Portugal, e com certeza não quer ofender os seus associados de Lisboa. Não é do Porto. Deixou de o ser há muito tempo. Não quis ser. Aqui é uma questão de centralismo. Não há outra questão. Não lhe faltou influência nos bastidores políticos, que é onde as coisas se decidem? Não podia ter feito as coisas com menos barulho e mais bastidores?Não, não podia ter feito de outra maneira. Em Lisboa, os “centralistas”, se quiser, criticaram-no por estar à procura de ganhar uma batalha mediática com efeitos e popularidade na região. Eu sabia perfeitamente que esta questão não era uma questão que fosse propriamente do agrado da intelligentsia lisboeta. Não é com batalhas como essa que se ganham eleições ou votos. No Porto não?Não, claro que não. Agora, acho que o Porto respeita a herança em que eu tenho de lutar contra o centralismo em questões como foi a fusão dos portos, que foi travada. Como presidente da Associação Comercial do Porto travei essa batalha quase sozinho. Também aí não ouvi as forças do Porto. Relativamente à privatização dos aeroportos, o modelo foi errado. Travei também aí a batalha sozinho, apesar de Rui Rio, presidente da Área Metropolitana do Porto se ter envolvido bastante, numa fase secundária…E teve o apoio de empresários. Mas o apoio dos empresários foi dizerem que estariam interessados em concorrer a uma privatização em separado do Aeroporto Francisco Sá Carneiro – essa foi uma guerra perdida, mas é perdida também por causa das forças do Porto, pela forma de representatividade a nível nacional que temos. Está a falar do mandato nacional dos deputados. Claro. Basta dar um exemplo: há uns meses, a Assembleia da República votou por unanimidade uma resolução relativamente à evolução e crescimento do Metro do Porto, em que objectivamente se previa que na cidade do Porto haveria zero quilómetros de metro – zero quilómetros. Algumas dessas forças políticas, nomeadamente o PCP, que votou favoravelmente isso, andam agora a dizer que se deveria ter feito mais do que se vai fazer. Os partidos que o apoiam na Câmara do Porto também votaram essa resolução?Claro. Votaram. E isso acontece porquê? Por desconhecimento político?Não. A fobia centralista do país alargou-se ao espectro dos candidatos dos partidos. Uma pessoa que é deputada diz assim: "Eu não me posso agora pôr aos gritos contra o partido porque o Porto está a ser prejudicado, porque senão da próxima vez eu não vou ser eleito. " É só isso. Não há outra razão. Se fosse um caso isolado, podia haver razões de convicção. O problema é que o futuro político dessas pessoas depende de obedecerem cegamente a uma lógica determinada por um modelo centralista. Na polémica com os fundos comunitários, que levou ao afastamento do anterior presidente da CCDRN… … o afastamento não foi por mim. Devo dizer que tenho todo o respeito pelo professor Emídio Gomes e, ao contrário do que possam dizer, a única coisa que recusei foi assinar aquilo que nos foi servido à mesa e não foi da autoria dele. Mas nessa polémica as suas teses tinham por base as diferentes capitações dos fundos entre vários concelhos. Faz sentido que a capitação seja o principal critério para a alocação dos fundos comunitários? As regiões do interior não precisam mais desses apoios do que as grandes cidades?Depende dos programas. Se me perguntar em termos sociais, os maiores problemas sociais que existem em Portugal estão nas periferias das grandes cidades e não no interior. Já se for em termos de infra-estruturas estarei de acordo. A questão fundamental é que precisamos de olhar para a segregação dos fundos e perceber onde deve ser aplicado preferencialmente este ou aquele fundo. Mas a minha maior crítica aos fundos comunitários não foi essa. Porque é que o Compete, um programa para a modernização e competitividade das empresas exportadoras, continua a ser gerido pelas mesmas pessoas e continua a ser gerido em Lisboa, quando mais de 50% das exportações são do Norte? Essa foi a primeira crítica. A segunda crítica é porque subitamente as prioridades que estavam no quadro comunitário foram abandonadas. Lembro-me que, ainda não tinha tomado posse, o então secretário de Estado, pessoa por quem tenho grande estima pessoal, o Manuel Castro Almeida, avisava: "Preparem-se, vai haver muito dinheiro para a reabilitação urbana. " Quando fomos ver o quadro comunitário definitivo, a reabilitação urbana praticamente desapareceu. Faz sentido que a AMP, que tem um PIB per capita muito acima dos 75% da média comunitária, continue a fazer parte das regiões de convergência e a ter direito aos fundos? Faz sentido enquanto o Porto fizer parte de uma área metropolitana e essa área metropolitana não chegar lá. Vou explicar porquê: o Porto, de facto, beneficiando obviamente de ter uma área metropolitana que lhe dá massa crítica, precisa de corresponder a um conjunto de desafios que lhes são colocados por essa área metropolitana…Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Lisboa diz a mesma coisa. Sim, mas olhando para os indicadores da AML eles são absolutamente diferentes da nossa área metropolitana. Porque a Área Metropolitana do Porto é mais desigual. Faz sentido ter Arouca numa área metropolitana?Terá de perguntar aos partidos, que andaram a jogar a técnica do dominó. Devem ter-se inspirado em Kissinger e então criaram aquele modelo: entrava um mais PS, tinha de entrar um PSD. Foi assim que a área metropolitana foi crescendo. Se me perguntar se entendo ou compreendo o mapa da área metropolitana, eu tenho muita dificuldade. Concorda com eleição directa do presidente da área metropolitana, prevista no pacote da descentralização do Governo? Não. Não concordo, porque seria necessário definir previamente. Isto tem até que ver com a relação que os eleitores têm com a Europa. Não vale a pena criar soberanias ficcionadas. A AMP tem um orçamento que não deve chegar aos dez milhões de euros. Eu não vejo nada que recomende que vá haver transferências de recursos e materiais para a AMP. Estar a criar um lugar eleito por sufrágio directo e universal é simular uma soberania que depois de facto não existe. Considero que esses modelos de mitigação da soberania não lhes dando recursos destroem a democracia.
REFERÊNCIAS:
O cacau é como o azeite, como a salsa, como o vinho
O italiano Claudio Corallo diz que faz em São Tomé e Príncipe o melhor chocolate do mundo. Como? Ele até conta, mas “as pessoas gostam de segredos menos cansativos”. (...)

O cacau é como o azeite, como a salsa, como o vinho
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O italiano Claudio Corallo diz que faz em São Tomé e Príncipe o melhor chocolate do mundo. Como? Ele até conta, mas “as pessoas gostam de segredos menos cansativos”.
TEXTO: Guarda cafés “que dão arrepios”, de tão aromáticos que são. Na sala de sua casa, em São Tomé, há um discreto quadro na parede com papelinhos correspondentes aos lotes de café que produziu desde 2000. Mas concentramo-nos no que está em cima da mesa em frente aos dois sofás: o chocolate Corallo. Claudio Corallo garante que faz o melhor chocolate do mundo e aqui estão estas discretas caixas de cartão a desafiar quem disser o contrário. Nasceu na zona de Florença, numa família totalmente dedicada ao azeite. Em 1974, mudou-se para o Zaire, actual República Democrática do Congo, para plantar café, tinha então 23 anos (tem agora uns enérgicos 66). Quando a situação política se complicou, na segunda metade da década de 1990, foi obrigado a abandonar o país. Já tinha passado pela Bolívia, acabou em São Tomé e Príncipe. Estivemos no Terreiro Velho, a roça do Príncipe onde produz cacau, café e pimenta. Mas a conversa foi em sua casa, na capital, onde está também o laboratório. Talvez seja inesperado ouvir que há semelhanças entre um cacaueiro e uma oliveira. Porque é que o seu cacau é bom? Qual é a principal característica?Eu! Sim, não há dúvida. Na Bolívia, fizemos o melhor café do país; no Zaire, era considerado o melhor robusta do mundo, e no mercado valia muito mais do que os outros. Fazia um café extraordinário, que não tinha nada a ver com o café comercial. No Príncipe, faço também café libérica, que é super-apreciado porque é superperfumado. Fazemos cacau, e é a mesma coisa. É como ter duas vinhas no mesmo terroir: uma dá um superbom vinho, a outra não. Qual é a diferença? É o homem que produz. É normal, não? Dá-se o mesmo ingrediente a dois cozinheiros e eu faço uma porcaria, o outro uma coisa super. Tem a ver com a forma como é tratado durante o crescimento da planta?Se você tiver uma cadeira, bem feita, leve, forte, linda, e perguntar ao marceneiro: “Qual é o segredo?”, ele olha para si e diz: “Faço marcenaria há 60 anos”. É o meu trabalho, faço com prazer e com cuidado. Toda a gente gosta de saber o segredo, a planta, a variedade, a terra, o clima. . . Aqui muda muito o terroir, porque [os terrenos] são pequenos, há muitas colinas, mas nós trabalhamos em diferentes terroirs e a qualidade é sempre elevada. A pimenta que fazemos é fantástica. A baunilha está [plantada] há 19 anos e só este ano é que estamos a trabalhar com ela. É espontânea: deixámos brotar e 17 anos depois, três plantas, num raio de 50 metros, deram vagem entre 8 e 12 metros de altura. Deixei a vagem rebentar na planta, plantei outra baunilha da mesma estaca, e no ano passado mais plantas produziram, na mesma zona, sempre entre 8 e 12 metros de altura. Tirei só seis vagens, deixei o resto, e este ano está novamente a florescer. [Levanta-se, desaparece da sala e regressa com um frasco de vidro grande, com meia dúzia de vagens de baunilha. Abre o frasco e passa-o a alguma distância do nosso nariz]. Isto é só uma passagem rápida para dar uma ideia. É incrível. Olha o tamanho desta vagem!Já a utilizou?Já utilizei para uma prova. Quero apanhá-la madura na planta, espontânea, porque diverte-me ver até onde se pode chegar com a qualidade de um produto, cuidando tudo do início até ao fim. É essa a sua marca, não é?É uma característica comum a todos os meus produtos. Sou conhecido no mundo por isso. No Zaire, exportava contentores com sacos de 60 quilos, cada contentor tinha 18 toneladas. Aqui para fazer 18 toneladas preciso de três anos. As plantas reproduzem-se pouco, com rendimentos muito baixos. É uma dor de cabeça. Mas estamos com um produto que é um indicador [de qualidade]. Esta [pega numa caixa de grãos de café cobertos de chocolate] são três variedades da mesma espécie, cultivadas no mesmo campo, trabalhadas da mesma maneira e tem três sabores totalmente diferentes. É como experimentar três copos de vinho tinto, derivados de três castas diferentes, cultivadas na mesma vinha, vinificadas da mesma forma, na mesma adega, pela mesma pessoa. A diferença de paladar deve-se à casta. Com a pimenta a mesma coisa: a mesma pimenta trabalhada de duas maneiras diferentes dá dois perfumes diferentes. Porque escolheu São Tomé?Porque é perto. Vinha do Zaire, actual RDC. Tinha lá as minhas plantações. De Kinshasa até aqui são 1350 quilómetros. Para deixar a família em lugar seguro preferi deixá-la aqui, perto do mar. Claro que sabia que havia café super-interessante, que havia cacau. Mas o cacau de São Tomé no mercado vale tanto como os outros cacaus. O que produzia no Zaire? Só café?Só café. Era no meio do mato, uma coisa fantástica, mas tivemos que fugir. Quando cheguei aqui não era para trabalhar. Mas comecei a ver as plantas de café e fazia as minhas provas, por curiosidade. Fiquei cá três anos para perceber se dava para organizar uma base. Já tinha experimentado fazer chocolate?Cheguei ao chocolate absolutamente por acaso. Nunca gostei de chocolate e não sei fazer nada na cozinha. Venho da escola do azeite. Toda a família, amigos, primos, eram ligados directa ou indirectamente à produção de azeite. Estava habituado a avaliar o azeite, e era uma guerra a cada ano para saber se o amargo era da oliveira ou se era amargo porque havia folha ou por causa da mosca da azeitona — pode ser amargo natural ou amargo por defeito. Por isso estava treinado nisso. Quando cheguei aqui, gostava da planta de cacau, que pode ser bastante semelhante à oliveira. Não tem nada a ver com o café: café é um arbusto e poda-se de uma maneira, o cacau é uma outra história. Que semelhanças são essas entre o cacaueiro e uma oliveira?Um camponês que sabe podar uma oliveira, se estiver à frente de uma planta de cacau, adivinha. É igual. Comecei a experimentar o cacau que encontrava. E em todo havia uma amargura que não dava dúvidas: era amargura derivada de defeito. Por exemplo, a rúcula: tem um amargo natural; se a esquecer durante uma semana no frigorífico, a folha começa a escurecer e traz uma outra amargura que não tem nada a ver com a amargura natural da rúcula, é derivada de um defeito de armazenamento. Encontrou isso no cacau?Fiquei verdadeiramente admirado. Queria ter uma ideia mais ampla, experimentar mais cacau, e fiz uma coisa muito simples: pedi a um amigo na Itália que contactasse os maiores grossistas para que enviassem amostras dos melhores lotes de cacau que tivessem. “Não me interessa o preço, pago as amostras, o transporte, mas quero o top da qualidade. ” Contactaram dois grossistas em Itália e França, um deles o grossista de cacau mais conhecido do mundo. Recebi as amostras dos melhores lotes que havia no mercado, do cacau comercial, que é cotado em bolsa. Em todas as favas que experimentámos havia esta amargura que eu não tinha dúvidas de que era um defeito. Era bastante incrível. O defeito sente-se. Mesmo não sendo um conhecedor?Eu nunca tinha comido cacau nem gostava de chocolate. Sente-se o defeito. É naturalíssimo! O que é incrível é que ninguém tenha dito isto antes. Logo, não deve ser tão evidente quanto isso. As pessoas têm um enorme cromossoma da ovelha! Impressionante! Eu dizer, há 20 anos, “desculpa, mas este amargo é um defeito”, não foi fácil. Mas disse. E provei-o. Criei este laboratório para descobrir a origem do defeito do cacau, para evitar o seu aparecimento: analisar todas as amostras que preparavam na plantação. No final, consegui o percurso certo, não para eliminar os defeitos mas para os evitar, o que é bem diferente. Porque eliminar o defeito, como fazem na indústria, não é um procedimento selectivo: elimina tudo, perfume, defeito, vida, fica uma pasta que tem um sabor que, se não se juntar baunilha ou qualquer coisa, não sabe rigorosamente a nada. Porque é que eu tenho tanto sucesso em todo o mundo? Faço conferências na Califórnia, Suiça, Alemanha, Bélgica, porquê?Está a passar esse conhecimento a outras pessoas aqui?A formação é a base do meu trabalho. Formamos toda a gente porque para chegar a esta qualidade é preciso um trabalho de equipa. Estão envolvidas 250 pessoas — duas plantações, um escritório, um laboratório. A formação é sempre a base. Cada pessoa tem que conhecer muito bem o seu trabalho e sentir que está participando no resultado, ter orgulho do trabalho que faz. Voltanto atrás: quando diz que não gostava de chocolate. . . E tinha razão. Tinha razão. Sempre gostei de confeitaria, mas a confeitaria está para o chocolate como a sangria está para o vinho. Não se pode julgar um vinho bebendo uma sangria. Não posso julgar um chocolate comendo um bombom. E como foi dedicar-se a uma coisa de que não gostava à partida?Um dos ensaios que fazíamos no laboratório era torrar, descascar e moer. Enquanto melhorávamos a técnica, este cacau descascado e moído saía sempre com mais perfume. E eu experimentava o cacau: chupava a mucilagem fresca, na cápsula. Outra coisa curiosa: sou o único no mundo a ter feito aguardente de polpa de cacau. Não existia?Não, e porquê? Porque é um subproduto. Quer experimentar? São 73 graus! É robusta![Sai para ir buscar uma garrafa de plástico de litro e meio com um líquido transparente e alguns copos]. Ponho pouco porque é uma bomba! Mostro como se faz: ponho uma gota na boca, e depois mastiga-se de maneira a diluir-se com a saliva. Porque se vai directo para a garganta fica sem respiração. Sente como é redondo? Como é profundo? Há grapa de 50 graus que arranha; este é veludo. A polpa, a goma do cacau, que as pessoas comiam fresca no momento da colheita: eu fiquei tão apaixonado por este perfume que quis capturá-lo. Comercializa?Não. O nosso distribuidor em Itália já deixou de insistir. Faço macerar passas de uva aqui dentro e depois de quatro meses ponho no chocolate. É muito bom e além disso é o único chocolate do mundo com o seu próprio álcool. Fazemos 30, 40 litros por ano. Quando a colheita é muito distribuída no tempo não dá para destilar porque é tão pouco que fermenta mal. A baunilha também só será usada no chocolate?Sim, porque apanho a baunilha madura e faço um concentrado com chocolate. Basta. Falaram-me tanto de chocolate cru. Pedi a alguém para me mandar todo o chocolate cru que encontrasse no mercado, para experimentar. [Levanta-se novamente e traz uma caixa de cartão com várias tabletes] Tenho aqui porcarias indignas. Coisas vergonhosas. A coisa mais comestível não sabe a nada. Experimente primeiro o meu: não gosto de moer o cacau fino, porque matam-se os perfumes. É como a salsa. Começa a moer, o perfume aumenta, continua a moer, o perfume começa a morrer. Tem uma curva. Este é cacau cru. [Depois de se provar um dos chocolates que mandou vir:] Fica um amargo pegado na garganta, que para limpar é preciso um desentupidor. Agora a boca está disfarçada com o açúcar, mel de não sei o quê. . . A ausência de açúcar não é sinónimo de amargura. Chamou alguém que entendesse de chocolate para trabalhar consigo?Escuta uma coisa, se alguém entendesse de chocolate diria: “Isto não bate certo, porque este amargo não é natural”. Eu faço chocolate como na Toscana se faz o azeite. Se até hoje não havia ninguém a dizer que o amargo é um defeito do chocolate. . . Aliás, todos diziam que um bom chocolate tem de ser amargo. Ia chamar quem? Quando quis destilar a polpa do cacau contactei um grande enotécnico e disse-lhe: “Gostaria de destilar a polpa do cacau, mas nunca destilei na vida. Tens tempo de me dar duas ideias? Eu descrevo-te o fruto. ” A resposta: “Não precisas de me descrever o fruto, porque fiz uma pesquisa bastante longa para utilizar a goma do cacau e não deu resultado”. Allora!Enquanto estiver convencido que sou imortal, vou à frente. Não fico sentado a ver a baunilha crescer, faz-se a pimenta, faz-se outra coisa. Qual era afinal a origem dos defeitos do cacau?Era uma cadeia de erros, de falta de cuidados, do início ao fim. Começa pela colheita, num momento que ou é tarde ou cedo. Armazenamento: temos um armazém elevado e desumidificado. Como podemos pensar em armazenar um produto com esta humidade que há aqui? Este é um treino constante. Esse rigor. . . Rigor! Rigor é a base de tudo. Quando me dizem: “Mesmo assim, presta”. É o início do fim. Incutir esse rigor nas outras pessoas deve ter exigido muito trabalho também, não?Muito exemplo. O exemplo é a base. Dizer as coisas e não dar exemplo, mais vale calar, poupar energia, porque o resultado vai ser o mesmo. Os outros continuam a trabalhar como sempre trabalharam ou já mudaram por sua causa?As pessoas não gostam do meu segredo: cuidado, rigor, trabalho e exemplo. As pessoas gostam de segredos menos cansativos. No Zaire era a mesma coisa. O nosso café valia quatro vezes mais que os outros e ninguém o fazia porque era preciso ficar no campo, com as pessoas: tem que se atribuir a tarefa certa, [equilibrar] a qualidade e a quantidade da tarefa. Se não sabemos trabalhar no campo não temos a capacidade de avaliar a tarefa e as coisas não funcionam. É grotesco. Devia produzir-se mais cacau em São Tomé e Príncipe, ou melhor cacau?Tentamos que o trabalho no campo progrida na qualidade, mas se o preço do café ou do cacau é uma lotaria, se no fim do ano não compensa, as pessoas abandonam o campo, e quando voltarem já não há uma produção. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O problema do cacau é que tem de ser fermentado e é preciso uma massa [em quantidade suficiente] que dê uma inércia térmica para manter a fermentação. Mas a colheita do cacau não se faz numa semana, é diluída em nove meses. Estamos perto do Equador, não há um pico de produção. Se a colheita der poucos quilos de cacau não dá para fermentar e vai para o lixo. Por isso, temos que nos juntar e eu compro cacau [a outros produtores]. Compro o fruto e faço o resto. Está tudo controlado do início ao fim. Quanto tempo levou até dizer ‘está perfeito’?Perfeito, nunca. Melhoramos sempre. O chocolate é feito com um produto vivo. Como o vinho, que cada colheita dá as suas características peculiares.
REFERÊNCIAS:
Os prémios do 25.º Curtas Vila do Conde falam português
Farpões, Baldios, de Marta Mateus, e Où en êtes-vous…, de João Pedro Rodrigues, são os vencedores da edição de aniversário do festival de cinema. (...)

Os prémios do 25.º Curtas Vila do Conde falam português
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Farpões, Baldios, de Marta Mateus, e Où en êtes-vous…, de João Pedro Rodrigues, são os vencedores da edição de aniversário do festival de cinema.
TEXTO: E, aos 25 anos do Curtas Vila do Conde, é o cinema português que sai vencedor do festival. Farpões, Baldios, primeira curta de Marta Mateus, olhar efabulatório e fabulista sobre o Alentejo estreado na Quinzena dos Realizadores de Cannes, foi escolhido como o melhor de todos os filmes a concurso por um júri formado pelos programadores Nicole Brenez, António Preto, Dennis Lim e Pela del Álamo e pelo produtor Georges Schoucair; João Pedro Rodrigues venceu o concurso nacional com Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues? e Gabriel Abrantes foi melhor realizador com Os Humores Artificiais. Num breve comentário assinado em conjunto, o júri considera que Farpões, Baldios “revivifica uma linhagem de obras onde a infância desbloqueia os sofrimentos, os erros e a virtualidades do passado, tradição que devemos, entre outros, a Manoel de Oliveira, a António Reis e Margarida Cordeiro, a Teresa Vilaverde”. É a quarta vez que um filme português recebe o prémio máximo do certame, sucedendo a João Nicolau (Rapace, em 2006), Jorge Quintela (Carosello, em 2013) e Filipa César (Mined Soil, em 2015). Mas, neste ano de comemoração, o prémio a Marta Mateus tem uma dimensão muito especial: trata-se de um primeiro filme de uma realizadora portuguesa que chega a Vila do Conde depois da aclamação no mais importante dos festivais de cinema de categoria A, num momento de relações tensas entre o meio do cinema e as entidades governamentais. Momento esse que foi, aliás, abordado num debate ao fim da tarde de sábado no Auditório Municipal, onde as questões centrais do financiamento, dos concursos e dos júris foram mais uma vez discutidas em presença de produtores, realizadores e deputados do BE e do PCP – mas sem o novo presidente do ICA, Luís Chaby Vaz, que cancelou a sua presença (mesmo enviando um representante do instituto). A par da estreante Marta Mateus, o júri premiou ainda dois outros cineastas portugueses com nome feito e presença regular no festival. João Pedro Rodrigues, que com João Rui Guerra da Mata ocupou a galeria Solar em 2016 com um conjunto de instalações, venceu a Competição Nacional com a curta realizada a partir de materiais de arquivo para a retrospectiva que lhe foi dedicada em 2016 pelo Centro Pompidou, Ou en êtes-vous, João Pedro Rodrigues?. Gabriel Abrantes, que tem este ano igualmente uma peça na Solar, sagrou-se melhor realizador pela sua comédia sci-fi rodada no Brasil Os Humores Artificiais. Se estão longe de constituir escolhas polémicas – e a selecção 2017 foi tão forte que qualquer escolha do júri iria sempre inevitavelmente desiludir –, não deixa de ser pena que O Homem Eterno, de Luís Costa, ou Coelho Mau, de Carlos Conceição, para apenas falar de dois títulos de jovens realizadores que mereceriam lugar no palmarés, tenham ficado de fora dos vencedores. O francês Yann Gonzalez, vencedor do prémio de melhor curta de ficção no concurso internacional pela ficção onírica Les Îles, tem tido a sua obra acompanhada pelo Curtas ao longo dos anos, tendo até assinado um dos filmes encomendados para o 20. º ano do festival, Land of My Dreams, mas já os vencedores nas categorias de animação e documentário, a sueca Niki Lindroth von Bahr (com My Burden, desesperado musical animado em stop-motion) e o brasileiro Jonathas de Andrade (O Peixe, falso documentário à volta de verdadeiros pescadores brasileiros), tiveram este ano a sua primeira presença em Vila do Conde. Na competição de filmes de escola Take One!, por onde passaram em anos anteriores Leonor Teles ou João Salaviza, o vencedor foi o documentário de Inês Pinto Vila Cova, De Gente se Fez História, construído a partir de imagens familiares de arquivo que permitem um outro olhar sobre a comunidade das Caxinas. Os prémios do público foram, na competição nacional, para Surpresa, animação de Paulo Patrício, e, no concurso internacional, para Retouch, ficção do iraniano Kaveh Mazaheri na tradição pós-Kiarostami de Asghar Farhadi. Grande Prémio – Farpões, Baldios, de Marta Mateus (Portugal)Competição InternacionalMelhor Animação – My Burden, de Niki Lindroth von Bahr (Suécia)Melhor Documentário – O Peixe, de Jonatás de Andrade (Brasil)Melhor Ficção – Les Îles, de Yann Gonzalez (França)Prémio do Público – Retouch, de Kaveh Mazaheri (Irão)Competição NacionalMelhor Filme – Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues?, de João Pedro RodriguesMelhor Realizador – Gabriel Abrantes, por Os Humores ArtificiaisPrémio do Público – Surpresa, de Paulo PatrícioCompetição Take One!De Gente se Fez História, de Inês Pinto Vila CovaCompetição ExperimentalFrom Source to Poem, de Rosa Barba (Alemanha)Nomeação Curtas aos Prémios Europeus de CinemaLos Desheredados, de Laura Ferrés (Espanha)Competição de Vídeos MusicaisSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Old Habits, dos Minta & the Brook Trout, realização de João NicolauPrémio CurtinhasRevolting Rhymes Part One, de Jakob Schuh e Jan Lachauer (Reino Unido)
REFERÊNCIAS:
O pior negócio da vida de Trump foi ter humilhado John McCain
Há dois anos, Donald Trump pôs em causa o estatuto de herói de guerra do senador do Partido Republicano. Esta semana, McCain enfrentou um diagnóstico de cancro e foi ao Senado votar contra o fim do Obamacare, contribuindo para uma derrota humilhante do Presidente. (...)

O pior negócio da vida de Trump foi ter humilhado John McCain
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -1.0
DATA: 2019-11-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há dois anos, Donald Trump pôs em causa o estatuto de herói de guerra do senador do Partido Republicano. Esta semana, McCain enfrentou um diagnóstico de cancro e foi ao Senado votar contra o fim do Obamacare, contribuindo para uma derrota humilhante do Presidente.
TEXTO: Há quase nove anos, no final de Agosto de 2008, o então candidato do Partido Republicano à Casa Branca, John McCain, espantava o mundo da política americana ao revelar a sua escolha para a vice-presidência do país – a candidatura acabou por se afundar, mas foi assim que o mundo ficou a conhecer uma governadora do estado do Alasca chamada Sarah Palin. Indeciso entre acenar aos centristas com o seu amigo Joe Lieberman ou aproveitar a onda da direita ultraconservadora que começava a levantar-se, McCain fez a escolha com o mesmo raciocínio que o tem acompanhado desde a juventude. Quando o homem que o ajudou a vetar os nomes para a candidatura à vice-presidência lhe disse que Palin implicava um alto risco mas também uma alta recompensa, o senador do Arizona nem pestanejou: "Não devias ter dito isso. Toda a minha vida gostei de correr riscos. "Por essa altura, durante a campanha e a eleição que acabaria por perder para Barack Obama, o nome Donald Trump não estava sequer no radar de John McCain, mas não é difícil perceber porque é que nem o actual Presidente norte-americano – com o seu feitio complicado, reforçado pelo inigualável poder da Casa Branca – é capaz de sair por cima numa luta pessoal com o senador. E não é porque John McCain tenha sido sempre sinónimo de integridade no país, e de independência no Partido Republicano: conhecido como um "maverick" (dissidente), McCain foi sempre muito hábil a fazer a ponte entre as várias lutas do momento e os seus interesses pessoais, tendo conseguido, ao fim de 35 anos na política, surgir como uma das cabeças mais livres do Partido Republicano ao mesmo tempo que foi votando quase sempre em linha com a maioria. Num artigo publicado na revista Vanity Fair em 2010, o repórter Todd S. Purdum analisou o desvio de McCain para a direita mais conservadora e anti-Obama por essa altura, e repetiu a pergunta que muitos faziam: o que acontecera ao outro John McCain, àquela "figura refrescantemente imprevisível que se destacava entre os seus colegas e parecia prometer algo mais e melhor do que a política do costume"?"Essa pode não ser a pergunta certa", disse Purdum, desenhando depois um quadro muito mais feio da personalidade de John McCain do que aquele que vive no imaginário da maioria: "É bem possível que nada tenha mudado em John McCain, um sobrevivente implacável e egocêntrico que passou cinco anos e meio em cativeiro no Vietname, e que disse um dia a Torie Clark [antiga porta-voz de McCain] que o seu animal preferido é a ratazana, porque é astuta e alimenta-se bem. "É verdade que também não faltam elogios a John McCain, antes e depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro do cérebro, já este mês, aos 80 anos – ao contrário de muitos outros casos, o senador do Arizona não precisou de ser afectado por um problema grave para ser respeitado por colegas, adversários e jornalistas. No passado fim-de-semana, antes de alguém imaginar o que poderia vir a acontecer no Senado nos dias seguintes, o jornal Washington Post prestou-lhe tributo em vida, num editorial em que aponta as razões pelas quais todos devem aprender com John McCain. E lembrou um episódio passado naquela campanha contra Barack Obama, em 2008, quando uma eleitora do Partido Republicano gritou, durante um comício, que Obama era "um árabe"(com a intenção de o retratar como terrorista). "Não, minha senhora. Não. Ele é um bom homem de família, um cidadão com o qual tenho discordâncias em assuntos fundamentais. Queremos lutar, e eu quero lutar, mas vamos ter respeito", disse McCain – uma reacção que, vista à luz da realidade actual em Washington D. C. , é de uma elevação ainda mais vincada. E foi este misto de capacidade de sofrimento, de luta pelas convicções e de vontade de bater o pé a quem tenta fazer-lhe frente – seja isso bom ou mau – que apareceu na passada terça-feira no Senado norte-americano, depois de uma viagem de mais de dois mil quilómetros, poucos dias depois de ter ficado a saber que tem uma forma particularmente agressiva de cancro e poucos dias antes de começar a ser tratado com quimioterapia. Assim que chegou, fez um emocionante discurso perante os seus colegas, com uma seta apontada ao Presidente Donald Trump – a terminar um apelo a que os senadores de ambos os partidos se unissem para discutirem e aprovarem uma lei que, no seu entender, melhorasse o Obamacare, McCain olhou para os seus colegas do Partido Republicano e disse-lhes: "Não somos subordinados do Presidente; somos iguais a ele. "Mas, mesmo depois desse discurso, muitos no Partido Republicano e na Casa Branca ainda acreditavam que era possível convencer McCain a fazer o que ele tem feito desde que Donald Trump foi eleito: deitar cá para fora o desprezo pelo Presidente e pela forma como o partido geriu as eleições primárias no ano passado, mas votar em linha com os seus colegas em 90, 7% das vezes. O problema é que McCain não precisava de sair de casa, nem de fazer a tal viagem de mais de dois mil quilómetros, para frustrar os planos do seu partido. Se não tivesse aparecido no Senado esta semana, o Partido Republicano ficava com apenas 51 dos seus 52 senadores, e bastava que dois deles furassem a disciplina para que não fosse possível derrubar o Obamacare. Com McCain no Senado, os líderes do partido e o Presidente ficaram um pouco mais descansados: mesmo que dois senadores do seu lado votassem contra, teriam sempre John McCain para cortejar durante a semana. E o dissidente McCain começou por dar uma alegria ao seu partido e à Casa Branca logo na terça-feira, ao viabilizar o início do debate sobre o fim de uma das principais bandeiras da Administração Obama. Um voto favorável que lhe valeu um elogio público de Donald Trump no Twitter: "Senador McCain, obrigado por vir a D. C. para uma votação tão importante. Podemos agora dar aos americanos óptimos cuidados de saúde!". @SenJohnMcCain-Thank you for coming to D. C. for such a vital vote. Congrats to all Rep. We can now deliver grt healthcare to all Americans!O que se seguiu foram horas e horas de debates, discussões e reuniões nos corredores e nos gabinetes, numa corrida do Partido Republicano contra o tempo para acabar a semana com uma promessa de campanha e uma luta de sete anos cumpridas: o fim do Obamacare. Mas as duas principais propostas do Partido Republicano foram reprovadas durante a maratona que começou terça-feira, muito graças à determinação de duas senadoras republicanas: Lisa Murkowski, do Alasca, e Susan Collins, do Maine, mantiveram-se unidas contra o seu partido e deixaram cada vez mais nas mãos de John McCain (o terceiro elemento necessário para travar o fim do Obamacare) o papel de herói ou vilão. As duas senadoras foram decisivas para impedir o Partido Republicano de aprovar o fim do Obamacare e a sua substituição por um novo sistema que iria deixar sem seguro mais de 20 milhões de pessoas nos próximos anos, segundo um estudo do gabinete independente do Congresso. O Partido Republicano tentou depois derrubar o Obamacare sem pôr no seu lugar um novo programa no imediato, mas as duas senadoras voltaram a impedir que os republicanos tivesses os votos suficientes. Na madrugada de sexta-feira, a liderança do Partido Republicano no Senado levou a votos a última tentativa: deitar abaixo o Obamacare e substituí-lo por um sistema que o mantinha em vigor no essencial, numa proposta conhecida como "skinny repeal" – os cidadãos e as empresas deixavam de ser obrigados a ter seguros, mas outros pontos essenciais do Obamacare continuariam em vigor (o que, ainda assim, deixaria milhões de americanos sem cobertura). Essa proposta tinha como objectivo duas coisas: dava ao Partido Republicano e ao Presidente Donald Trump a possibilidade de dizerem aos seus eleitores que tinham conseguido derrubar o Obamacare, e permitia manter a esperança numa demolição total da lei actual. Depois de aprovado esse "skinny repeal", uma comissão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado (ambos de maioria do Partido Republicano) iria pegar nas propostas que cada uma das câmaras tinha aprovado e depois poderia endurecer a lei final – um cenário ainda assim difícil, devido às óbvias divergências no interior do partido, mas que pelo menos daria mais tempo e um novo alento à liderança republicana na Câmara dos Representantes e no Senado, e também ao Presidente Trump. Mas na sexta-feira esse plano foi travado. No final de uma votação dramática e histórica, as senadoras Collins e Murkowski mantiveram-se firmes e votaram contra – nesse momento, o Partido Republicano não poderia perder nem mais um voto nas suas fileiras, já que desse modo só teria 49 dos seus 52 e o vice-presidente nem sequer poderia desempatar. E foi nesse momento que todos os olhos se viraram para o senador John MCain. O palco estava montado e a cena tinha vindo a escrever-se a ela própria nos últimos dois anos: no Verão de 2015, o então candidato Donald Trump disse que não considerava McCain um herói de guerra. "Eu gosto de pessoas que não foram apanhadas", disse Trump, referindo-se ao facto de McCain ter sido capturado e torturado durante cinco anos e meio na guerra do Vietname. Desde esse Verão, McCain e Trump foram trocando golpes, e o senador do Arizona nem sequer esteve presente na convenção do Partido Republicano no ano passado. Depois de ter sido humilhado por Trump durante tanto tempo, e de nunca ter respondido no mesmo tom, McCain tinha agora uma oportunidade para humilhar o Presidente – num momento semelhante a muitos outros ao longo da sua vida, quando as suas convicções se misturaram com os seus interesses pessoais. Ao juntar-se às senadoras Collins e Murkowski, McCain fez História ao roubar ao Partido Republicano e ao Presidente Donald Trump a promessa de acabar com o Obamacare. Mas, apesar de ter votado contra o fim do Obamacare, McCain é muito crítico do actual sistema – tal como as duas senadoras que votaram contra sexta-feira, o que o senador do Arizona pretendia era que os seus colegas aceitassem fazer alterações às propostas que foram apresentadas esta semana. Agora, resta ao Partido Republicano dialogar com o Partido Democrata para conseguir corrigir algumas das deficiências que os dois partidos reconhecem existir no Obamacare. Ou isso, ou ir aprovando medidas avulsas nos próximos meses que podem ir minando a lei em vigor, apesar de os resultados dessas possíveis alterações só terem consequências na vida das pessoas nos próximos anos – algumas delas só depois das eleições presidenciais de 2020 e outras depois das eleições para as duas câmaras do Congresso em Novembro do próximo ano. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas, antes disso, o Senado vai para umas curtas férias sem que o Partido Republicano tenha conseguido aproveitar a sua maioria nas duas câmaras do Congresso e um Presidente na Casa Branca para cumprir uma promessa com sete anos. Foi para derrubar o Obamacare que os republicanos pediram aos eleitores americanos que lhe dessem a maioria nos poderes legislativo e executivo – agora que falharam essa promessa, dificilmente vão afastar a imagem de fracasso a tempo de recuperarem para as eleições de Novembro de 2018. Apesar de as senadoras Susan Collins e Lisa Murkowski terem sido as principais figuras desta semana, por terem assumido a sua oposição contra a liderança do Partido Republicano e contra o Presidente Trump na questão do Obamacare desde o início até ao fim e sem vacilarem, as duas figuras do momento são Donald Trump e John McCain – pelo passado de confrontação entre os dois e pelo desfecho da votação desta sexta-feira, que pode também ser visto como uma vingança do senador do Arizona. Os dois responsáveis reagiram à votação através da rede social Twitter. Trump foi mais brando do que é costume, dizendo apenas que três senadores do Partido Republicano e 48 do Partido Democrata desiludiram o povo americano, e aproveitou para tentar não ficar mal na figura: de acordo com a sua análise, o falhanço da votação vai manter o Obamacare em vigor, pelo que agora resta esperar pelo fracasso da lei da Administração Obama, como o Presidente tem dito "desde o início". McCain explicou que votou contra o "skinny repeal" porque "não era suficiente para derrubar e substituir o Obamacare com reformas significativas".
REFERÊNCIAS:
Fábrica da La Seda em Sines está insolvente, Caixa arrisca perder 500 milhões
Dois anos e meio depois de ver o seu Processo Especial de Revitalização aprovado, a Artlant está em insolvência. Em Janeiro de 2015 tinha dívidas de 690 milhões de euros, 75% das quais à CGD. (...)

Fábrica da La Seda em Sines está insolvente, Caixa arrisca perder 500 milhões
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-12-04 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20171204211855/https://www.publico.pt/n1780587
SUMÁRIO: Dois anos e meio depois de ver o seu Processo Especial de Revitalização aprovado, a Artlant está em insolvência. Em Janeiro de 2015 tinha dívidas de 690 milhões de euros, 75% das quais à CGD.
TEXTO: Foi proferida esta quarta-feira, 26 de Julho, a “sentença de declaração de insolvência do devedor Artlant PTA”, pode-se ler no anúncio do Tribunal de Lisboa, disponibilizado esta quinta-feira no site do Citius. A requerente do pedido, identificada no anúncio como tal, é a empresa Sociedade de Montagens Metalomecânicas, SA (SMM), constando ainda a CGD, a Artelia Ambiente e a AICEP como credores. Correm agora 30 dias, não suspensos pelas férias judiciais, para reclamar os créditos sobre a Artlant junto da justiça. No edital, consultado pelo PÚBLICO é recordado aos credores da Artlant que “pode ser aprovado Plano de Insolvência, com vista ao pagamento dos créditos sobre a insolvência, a liquidação da massa e a sua repartição pelos titulares daqueles créditos e pelo devedor”. E que “podem apresentar proposta de Plano de Insolvência o administrador da insolvência, o devedor, qualquer pessoa responsável pelas dívidas da insolvência ou qualquer credor ou grupo de credores que representem um quinto do total dos créditos não subordinados reconhecidos na sentença de graduação de créditos ou, na falta desta, na estimativa do sr. juiz”. Esta é a segunda chamada da Artlant – antiga Artenius Sines – à justiça pelos créditos devidos pela unidade de produção de ácido tereftálico purificado (ou PTA da sigla proveniente do inglês Purified Terephthalic Acid, matéria-prima para, por exemplo o fabrico de garrafas de plástico), inicialmente pertencente aos activos da catalã La Seda de Barcelona e que até hoje pesa nas contas da Caixa Geral de Depósitos. Em Outubro de 2014, em pleno Processo Especial de Revitalização (PER) a lista de créditos então conhecida dava conta de uma dívida da Artlant de cerca de 690 milhões de euros a diversos credores. Deste total, então, 75% ou cerca de 520 milhões de euros eram devidos à Caixa Geral de Depósitos. Foi o banco público que tinha liderado, em Janeiro de 2010, o financiamento de 370 milhões de euros à unidade industrial de Sines, para que a mesma fosse concluída. O projecto da unidade de PTA em Sines foi classificado de Potencial Interesse Nacional (PIN) pelo Conselho de Ministros (CM) de 28 de Junho de 2007. Foi no mesmo CM que o executivo liderado por José Sócrates atribuiu o igual estatuto de PIN à unidade de pregado da antiga Pescanova em Mira, que também entrou em insolvência anos mais tarde. O PER da Acuinova (empresa da Pescanova com a unidade em Mira) foi recusado recentemente pelo Tribunal de Coimbra. A unidade de PTA, com mais de 400 milhões de euros de investimento previstos, começou a ser projectada em 2008 pela La Seda de Barcelona, da qual a CGD chegou mais tarde a ser a segunda maior accionista, com 14, 7% do capital da catalã. O maior accionista individual da La Seda passou a ser, desde Agosto de 2010, a BA PET BV, criada pelos mesmos accionistas da BA Vidro e liderados por Carlos Moreira da Silva, que foi em dois momentos distintos foi presidente da catalã (entre Abril de 2010 e Abril de 2013 e entre Junho de 2013 e Fevereiro de 2014). A BA PET chegou a ultrapassar os 20% do capital da La Seda. O projecto de Sines foi lançado e iniciado pela La Seda, quando a catalã ainda detinha 100% do capital da subsidiária portuguesa (então designada Artenius Sines). Mas, a 16 de Setembro de 2010, era comunicado publicamente que a La Seda alienara 59% do capital da Artlant a três accionistas portugueses: o Fundo de Recuperação da ECS (29, 26%), a CaixaCapital (18, 52%) e o InovCapital (hoje Portugal Ventures Capital, com 11, 11%). A unidade de Sines entrou, finalmente, em laboração em Março de 2012, tendo a La Seda como principal cliente. Contudo, em Fevereiro de 2014, a petroquímica catalã, que se manteve dona de 41, 11% da Artlant e de mais de duas dezenas de unidades industriais na Europa, viu a justiça espanhola decretar a sua liquidação e posterior dissolução por incapacidade em ressarcir os seus credores. Em Agosto de 2014, torna-se público que o (então) Tribunal de Comércio de Lisboa tinha aceite o pedido de PER da Artlant. Um Processo Especial de Revitalização, pela legislação em vigor, visa colocar a empresa ao abrigo de credores em caso de incumprimento de dívidas, impossibilitando, durante o tempo que está a ser negociado, um possível decreto de insolvência. É uma possibilidade de as empresas procurarem a sua reestruturação financeira, sob a gestão de um administrador judicial mandatado pelo tribunal, em que a mesmas se comprometem – juntamente com parte condicional dos credores – a um plano de recuperação que a maioria dos créditos em causa aprovem e que a justiça homologue. São, normalmente, acordados prazos e condições de pagamento (com ou sem perdão de dívida). E, nos PER, os trabalhadores são classificados como “privilegiados” na hierarquização dos créditos para efeitos de reclamação na justiça. Mas, aparentemente, o PER aprovado a 15 de Janeiro de 2015 pelos principais credores da Artlant não foi suficiente para “salvar” a empresa. Desconhece-se, por agora, qual é o montante de dívida que a Artlant acumulou nos últimos dois anos e meio. Mas, em Outubro de 2014, quando o PER da Artlant estava ainda a ser negociado, a lista de créditos aprovada pelo administrador judicial reconhecia 689, 7 milhões de euros de dívida da unidade de PTA em Sines. O PER da Artlant – que como PIN recebeu 38, 8 milhões de euros do quadro comunitário de apoio em 2012 - contemplava dois lay off dos 161 trabalhadores então na unidade, até um núcleo final de seis pessoas. A recuperação da Artlant foi então viabilizada pela CGD (detentora de mais 75% do total da dívida reconhecida em 2014, ultrapassando os 520, 66 milhões de euros), pela Artelia (fornecedora de equipamento industrial) e pela AICEP – as três juntas detinham 87% da dívida acumulada pela Artlant até essa data. E, as três, aprovaram o PER. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os restantes accionistas portugueses – Portugal Capital Ventures, Fundo de Recuperação FCR e o Fundo Caixa Capital –, donos de 58, 8% do capital da Artlant mas de créditos de 25 milhões de euros (sendo assim minoritários na contagem de votos para aprovação do Plano de Recuperação) – abstiveram-se na votação do PER da Artlant. No plano aprovado em Janeiro de 2015, consultado na altura pelo Jornal de Negócios, ficara acordado que "em relação ao crédito da CGD", garantido pelas instalações industriais em Sines e pelos imóveis onde se localizam, e pelo "penhor da totalidade das acções representativas do capital social da Artlant", "sai o mesmo afectado por a Artlant se propor a pagar 70% do seu valor, cujo pagamento é diferido para os anos de 2021 a 2034". Haveria, neste contexto, um “perdão” de dívida à CGD de 30% (cerca de 156 milhões de euros dos mais de 520 milhões em causa). Mas previa – e a CGD aprovou o PER – que o banco público contratasse com a Artlant "um novo financiamento até ao valor de 60 milhões de euros" em "fundos, garantias e cartas de conforto" para "apoiar a sociedade na fase de rearranque da sua actividade". O processo segue agora em tribunal. Outra vez.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal social
Braço-de-ferro entre camionistas e Temer agrava clima político no Brasil
A quatro meses das eleições, os efeitos da paralisação dependem de como Michel Temer gerir a crise. “A política brasileira está jogando um grãozinho de areia todos os dias numa torre extremamente frágil.” (...)

Braço-de-ferro entre camionistas e Temer agrava clima político no Brasil
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: A quatro meses das eleições, os efeitos da paralisação dependem de como Michel Temer gerir a crise. “A política brasileira está jogando um grãozinho de areia todos os dias numa torre extremamente frágil.”
TEXTO: Ao sétimo dia, a greve dos camionistas mantinha centenas de pontos de bloqueio no Brasil, afectando o abastecimento de supermercados e bombas de gasolina, fazendo cancelar voos em 14 aeroportos, levando a cortes nos transportes públicos e universidades a anunciar que não haverá aulas na segunda-feira. Alguns camiões garantiam abastecimento de gasolina para serviços essenciais sob escolta policial em vários locais, depois de o Presidente, Michel Temer, ter ordenado a intervenção de militares. As refinarias estavam também sob protecção policial e os carregamentos eram feitos sob vigilância das forças de segurança. O Governo continuava a tentar chegar a um acordo com os camionistas, que muito penalizados com a subida dos preços do diesel (56% desde Julho passado) pedem uma isenção de imposto na compra do diesel e outros direitos, como não terem de pagar portagem quando seguem sem atrelados ou carga. O Governo propôs medidas temporárias – a proposta mais recente é um desconto de 10% durante pelo menos dois meses – e chegou a haver um anúncio de acordo na quinta-feira, mas os camionistas têm insistido numa solução definitiva para desmobilizar. Ainda que o número de bloqueios nas estradas tenha diminuído após a ordem de Temer mobilizar o exército, e de centenas de camiões terem sido escoltados em pelo menos sete estados e Brasília assegurando fornecimentos urgentes para hospitais e outros serviços públicos, a situação demora a regularizar-se e há ainda muitos camionistas na rua, quer a bloquear vias, quer imobilizados em protesto. A pressão subiu também sobre os líderes dos camionistas, com várias investigações da Polícia Federal à paralisação e pesadas multas para quem bloquear passagens. Enquanto o Governo se diz optimista em relação à possiblidade de um acordo, surgiram números de prejuízos. Segundo o jornal Estado de São Paulo, os cofres públicos podem contar com menos dois mil milhões de reais (mais de 450 milhões de euros) por causa da paralisação e os supermercados estimam mais de 300 mil euros de prejuízos. A indústria pecuária foi fortemente afectada pela dificuldade em conseguir o fornecimento diário de alimentação para os animais e várias unidades suspenderam a produção, a indústria de produção de açúcar também se desacelerou enquanto as máquinas iam ficando sem combustível, e a produção de automóveis, que contribui com cerca de um quarto da produção industrial do Brasil, parou na sexta-feira. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Além dos camonistas, surge outra greve no horizonte de Temer, a greve da Petrobrás. A petrolífera estatal decretou uma paralisação “de advertência” para a próxima quarta-feira, contra uma potencial privatização da empresa e pela manutenção de preços. Tudo isto acontece a pouco mais de quatro meses das eleições presidenciais e o ambiente político e social está muito sensível. Para o economista Eduardo Giannetti, professor na Universidade de São Paulo, o Brasil está num momento que compara ao de uma experiência com uma torre de areia quando se lança um grão para a estrutura. Pode ficar tudo como está, mas um só grão pode “fazer a torre desabar”, disse, numa entrevista à Folha de São Paulo. “A política brasileira está jogando o grãozinho de areia todos os dias nessa torre e ela é extremamente frágil. ”O poder dos camionistas é grande, sublinha Giannetti, lembrando o seu papel, por exemplo, no fim do regime de Pinochet no Chile. Este protesto tem o potencial de ser o embirão de uma “revolta tributária” alargada, em que a população deixa de aceitar a legitimidade do Governo para cobrar impostos, ou mesmo precipitar a queda de Temer ainda antes das eleições. “Não prevejo que isso aconteça, mas também não descarto”, o que dependerá do evoluir da situação e sobretudo da capacidade de Temer lidar com ela, considerou Giannetti.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos social