Rio Ave defronta vice-campeão polaco na Liga Europa
Sorteio de Nyon determinou encontro com o Jagiellonia Bialystok a 26 de Julho e a 2 de Agosto, na segunda pré-eliminatória. (...)

Rio Ave defronta vice-campeão polaco na Liga Europa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sorteio de Nyon determinou encontro com o Jagiellonia Bialystok a 26 de Julho e a 2 de Agosto, na segunda pré-eliminatória.
TEXTO: O Rio Ave vai defrontar o Jagiellonia Bialystok, vice-campeão polaco, na segunda pré-eliminatória da Liga Europa, ditou esta quarta-feira o sorteio realizado na sede da UEFA, em Nyon, na Suíça. O Rio Ave, quinto classificado do campeonato português, vai ter pela frente uma das equipas polacas mais fortes da actualidade, tendo na última temporada disputado até ao fim o campeonato com o Legia Varsóvia, que acabou por conquistar o título com três pontos de vantagem. A primeira mão está agendada para 26 de Julho, na Polónia, e segunda será a 2 de Agosto, em Vila do Conde. Na última época, o Rio Ave acabou “repescado” para a edição 2018/19 da Liga Europa, em vez do Desp. Aves, que apesar de ter vencido a Taça de Portugal, não requereu atempadamente a licença para poder competir nas provas europeias. O Sp. Braga entra em acção na terceira pré-eliminatória, enquanto o Sporting já tem lugar garantido na fase de grupos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aves
A inteligência artificial está na moda e as marcas aproveitam
Em 2018, já há escovas de dentes, sistemas para encontrar peixes e produtos de cabelo "inteligentes". Cada vez mais empresas usam o jargão para vender produtos. (...)

A inteligência artificial está na moda e as marcas aproveitam
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em 2018, já há escovas de dentes, sistemas para encontrar peixes e produtos de cabelo "inteligentes". Cada vez mais empresas usam o jargão para vender produtos.
TEXTO: Ainda há poucos anos, expressões como big data e computação em cloud dominavam o vocabulário de executivos e empresas. Hoje, é a inteligência artificial que está na moda. Cada vez mais empresas dizem usar a tecnologia, seja para lançar novos serviços ou dar nova vida a produtos mundanos. Os exemplos abundam. Este ano, a Colgate e a Apple juntaram-se para criar uma escova (descrita como “inteligente”), que avalia e ajuda as pessoas a escovar os dentes para melhorarem a sua saúde oral através de sensores e jogos (custa cerca de 85 euros). A DeepFish é uma empresa lituana que usa redes neuronais, que são inspiradas no cérebro humano, para identificar espécies de peixe em fotografias. A Hoofstep analisa o comportamento de cavalos na Suécia. E, em Nova Iorque, há uma startup que diz utilizar inteligência artificial para criar produtos de beleza vegan, sem soja e sem glúten. “A inteligência artificial é uma buzzword [palavra da moda], como já foi o Java, a Web (nos anos 2000), o big data e outros. Mas qualquer buzzword descreve aquilo que é actual”, diz ao PÚBLICO Andrzej Wichert, professor e investigador no Instituto Superior Técnico. Para Wichert, porém, é fundamental fazer a distinção entre inteligência artificial e machine learning (ou aprendizagem automática). A primeira é muito mais rara. “O machine learning é quando as máquinas aprendem a realizar uma função a partir de bases de dados, por exemplo classificar imagens ou resolver tarefas específica”, explica Wichert. Por exemplo, a capacidade da escova da Colgate para dar sugestões para melhor lavar os dentes. “Inteligência artificial, como um todo, vai muito além disso, incluindo resolução de problemas do zero e exposição de conhecimento. Por exemplo, aquilo que o Watson, da IBM, e a Siri, da Apple, começam a fazer. "É normal que cada vez mais empresas queiram esta tecnologia nos seus produtos, diz Ana Margarida Barreto, professora e investigadora de Marketing e Comunicação Estratégica na Universidade Nova de Lisboa. “Uma das grandes preocupações das marcas na actualidade é garantir que a experiência que o consumidor tem com a marca é diferenciadora, única”, explica Barreto. Desde os anos 1990, refere, isso não depende apenas da qualidade do produto, mas das experiências que a marca proporciona. Porém, as novas promessas – por exemplo, uma aplicação de 2018 da L’Oreal para escolher a melhor cor de cabelo e penteado para o formato da cara, com base em algoritmos capazes de aprender – têm de funcionar. “O que está em causa é a imagem da marca. Se esta for beliscada, a concorrência sai beneficiada”, lembra Barreto. “O benefício não reside na utilização dessas expressões, mas na sua capacidade de implementação para melhorar a experiência de consumo. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. São as primeiras empresas a desenvolver produtos na área, que são recordadas, diz a investigadora. “Não é qualquer empresa que pode desenvolver estratégias ao nível da inteligência artificial. Há uma corrida, sim, mas é para conseguir criar as experiências. ”De acordo com um relatório de 2018 da analista CB Insights, o número de referências à inteligência artificial aumentou cerca de cinco vezes nos últimos cinco anos, e em todos os sectores, desde a saúde ao desporto. Por outro lado, a popularidade do machine learning já está a diminuir. Segundo o relatório, a tendência de associar esta parte da inteligência artificial a tudo, “e em produtos aparentemente absurdos, mostra que o machine learning não é uma tecnologia exótica”, mas, sim, “a base de todos os programas informáticos e aplicações modernas”. “Se todas as marcas começarem a apostar no recurso à inteligência artificial como factor de diferenciação, esta deixará de cumprir o seu propósito”, diz a investigadora Ana Margarida Barreto. "Deixa de ser uma novidade e o consumidor passa a encarar essa oferta como algo previsível. ”
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Palavras-chave ajuda consumo
Um tesouro da canção norte-americana
John Prine, músico a que aqui na Europa ainda não prestámos grande atenção, lança o seu primeiro álbum em 13 anos. Vale a pena começar a descobri-lo já por aqui. (...)

Um tesouro da canção norte-americana
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: John Prine, músico a que aqui na Europa ainda não prestámos grande atenção, lança o seu primeiro álbum em 13 anos. Vale a pena começar a descobri-lo já por aqui.
TEXTO: Se o Bob Dylan e o Johnny Cash dizem que és realmente bom a fazer canções, pode dizer-se que as probabilidades de o seres são bastante altas. É o caso deste senhor de 71 anos, um cavalheiro com quase meio século de carreira, que acaba de lançar Tree of Forgiveness, o seu primeiro álbum em mais de uma década. Autoria:John Prine Oh Boy RecordsJohn Prine foi carteiro de profissão, e descoberto no circuito folk de Chicago por Kris Kristofferson, que pegou nele e o editou através da Atlantic em 1971. Fundou a sua própria editora nos anos 80, a Oh Boy, que continua a utilizar para publicar todo o seu trabalho até à data. Tem dois Grammys. Bebia copos com Townes Van Zandt, que era barra pesada. Os Everly Brothers e Emmylou Harris cantam canções dele. Vai no terceiro casamento, gosta da família dele, parece que tem um cão. Sobreviveu a um cancro no pescoço e a outro, mais recente, nos pulmões. Adora fumar. As doenças e os consumos mudaram-lhe dramaticamente a voz, mas ela nunca esteve tão bonita. Está cheia de gravilha, controlada com toda a mestria no meio de várias contingências. Acima de tudo está cheia de felicidade, daquela que basta ouvir uns segundos para perceber que é mesmo de verdade. Quase que dá para o ouvir a sorrir. A vida tem sido divertida, dinâmica, difícil, boa. Tree of Forgiveness é um disco maravilhoso. Teve muita gente amiga a ajudar, nomeadamente Dan Auerbach, dos Black Keys, que de facto parece ser um tipo porreiro e que sabe disto; já há uns anos tinha contribuído para Locked Down, do irrepetível Dr. John. É curtinho, 30 e poucos minutos, dez músicas. Sem palha, sem nada para esconder. Os arranjos são simples, variados quanto baste; para além da omnipresente guitarra acústica tem uma bateriazita aqui, um teclado ali, uma pianada, um harpa mais para o fim, umas cordas no baladão. A métrica das frases e da entrega não podia ser mais enxuta, bem arrumada, com economia e toda a arte — ele é sensei. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As temáticas vão a muitos sítios. O Sr. Prine aliás disse em entrevista que quando começaram a chateá-lo para ir gravar o disco ele não estava nem a ver como é que todas estas canções podiam ficar juntas no mesmo trabalho. Há um pouco de tudo. Ele sempre teve uma enorme, afiada e incorruptível consciência social, e com tudo o que tem que ver com ética não papa qualquer tipo de grupo. Não veio a este mundo para mentir e chama as coisas pelos nomes, como tem de ser. Está aqui o titular perdão. Muito amor, felicidade, gratidão. Lamentos sobre a dor dos jedis que andam acompanhados por gente má e a quem a vida não corre de feição. Montes de piadas sobre tudo e mais alguma coisa — Prine tem tanto mundo e já deve ter tido tantas conversas hilariantes —, vinhetas mais ou menos tragicómicas no meio de assuntos muito sérios. Encontra adjectivos encantadores (um hotel que é “swell”, um sushi bar que é “funky”), a tal coisa dos grandes e da capacidade de criar imagens vívidas. No fundo, cada canção é também um pretexto para arrumar os assuntos grandes da vida mais uma vez, em mais uma actualização, no caso mais depurada do que nunca. O tipo tem uma canção com o nome dele feita pelos Low, e basta ouvi-lo de esguelha para perceber onde Will Oldham e Bill Callahan foram buscar tanto para as suas personagens. Dá realmente ideia de que aqui na Europa não lhe prestámos ainda grande atenção. Não que isso o rale muito, mas devíamos mesmo aproveitar enquanto anda por cá. E se nunca o ouviu acredite que pode começar já por aqui, que vale a pena. Um tesouro. Na última canção, When I get to heaven, ele explica o que vai fazer quando chegar ao céu. Não querendo estragar a surpresa por inteiro, envolve pedir uma vodka com ginger ale, fumar um cigarro com nove milhas de comprimento, montar uma banda de rock’n’roll e dar um beijo numa mulher bonita. Realmente soa a programão.
REFERÊNCIAS:
“Também na BD Beja já não fica longe”
Festival Internacional de Banda Desenhada leva à capital do Baixo Alentejo 21 exposições de portugueses e estrangeiros até 10 de Junho. Um “menu” que inclui históricos como Jayme Cortez e autores contemporâneos que importa ler, como Max Andersson e Manuele Fior. (...)

“Também na BD Beja já não fica longe”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.05
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Festival Internacional de Banda Desenhada leva à capital do Baixo Alentejo 21 exposições de portugueses e estrangeiros até 10 de Junho. Um “menu” que inclui históricos como Jayme Cortez e autores contemporâneos que importa ler, como Max Andersson e Manuele Fior.
TEXTO: Percorrem-se as ruas e os vestígios de que o Festival Internacional de Banda Desenhada está a acontecer são poucos, discretos. É preciso chegar à Casa da Cultura, o seu epicentro, para sentir que Beja está (quase) toda ali e que durante 17 dias vai ser uma espécie de grande montra da BD. Cruzam-se autores e editores, há críticos e programadores, leitores aficionados que todos os anos o põem na agenda e até um casal de turistas brasileiros que nem acredita na sorte que teve de encontrar nesta cidade capital do Baixo Alentejo tantas exposições de qualidade e muitos dos criadores que costuma seguir a partir de São Paulo. Concertos em que a música e o desenho se cruzam até de madrugada, lançamentos de novos títulos nacionais e estrangeiros, conferências, sessões de autógrafos e muitas conversas informais à volta da mesa, com cozido de grão e vinho da Vidigueira, que o Alentejo ainda é o que era e ainda bem. Na sexta-feira, na Casa da Cultura, onde até 10 de Junho se concentram 14 das 21 exposições desta 14. ª edição, havia miúdos a correr por todo o lado e o cheiro a carne grelhada vindo do pequeno bar já preparado para a noite longa que se adivinhava invadia todas as salas. O ambiente familiar deste festival que é produto do trabalho de uma pequena equipa em que todos fazem tudo – não é, por isso, de estranhar ver o seu director a varrer a esplanada ou a limpar mesas – não significa, no entanto, amadorismo na hora de escolher o que dar a ver às cerca de dez mil pessoas que todos os anos por lá passam, nem no momento de executar a programação, cumprida a horas e quase sem interrupções. “Quando temos muita coisa a acontecer encadeada, com autores nacionais e estrangeiros, não podemos falhar. Se deixássemos as pessoas alongarem-se [nas conferências ou nos lançamentos], caíamos no risco de o seguinte não ter tempo de mostrar o seu trabalho”, diz Paulo Monteiro, director desde a primeira hora do festival e da Bedeteca de Beja, projectos que nasceram ao mesmo tempo e que têm na mira um objectivo maior – o Museu da Banda Desenhada, que conta já com um acervo muito significativo de originais de portugueses e estrangeiros e que nesta edição recebeu mais duas importantes doações de autores nacionais: Eduardo Teixeira Coelho (1919-2005) e Fernando Relvas (1954-2017). A primeira doação chega via Fábio Moraes, o comissário de uma das exposições mais interessantes desta edição do festival, a dedicada a Jayme Cortez (1926-1987), um português que se lançou na célebre revista O Mosquito (saiu com periodicidade variada e com interrupções várias entre 1936 e 1986), que Teixeira Coelho transformou numa verdadeira incubadora de autores, mas que acabou por fazer carreira e escola no Brasil; a segunda através da mulher do autor, Nina Govedarica. “Poder contar com estes originais é muito importante. Fernando Relvas é uma referência da imprensa, sobretudo na década de 80 no Se7e”, diz o director do festival, evocando o criador do Espião Acácio, crónica humorística da I Guerra Mundial que agora volta a estar disponível num volume com a chancela Turbina/Mundo Fantasma, acabado de lançar em Beja. “O Teixeira Coelho é simplesmente o mais representativo autor de BD português de todos os tempos. É impossível fazer uma história da banda desenhada europeia das décadas de 1940, 50 e 60 sem falar dele. Está ao nível de um [Franco] Caprioli [1912-1974] ou de um [Milo] Manara, que é muito mais novo [n. 1945]. Basta dizer que ele chegou a ser convidado para desenhar o Príncipe Valente depois do por Hal Foster [BD criada em 1937 e considerada uma das mais importantes de sempre], o que nunca quis, porque isso implicava ir viver para os Estados Unidos. ”Sentado no banco de jardim plantado numa das salas de exposições, rodeado pelo trabalho delicado do italiano Manuele Fior para Cinco mil Quilómetros por Segundo, que a Devir acaba de lançar no mercado português (o autor deverá estar na feira do livro de Lisboa a dar autógrafos nesta segunda-feira à tarde), Paulo Monteiro fala da preocupação de garantir, a cada edição, autores de grande qualidade e, em simultâneo, de gerações e linguagens diversas. Com trinta mil euros de orçamento anual, sem contar com boa parte dos custos de produção, já que tem por trás a estrutura da Câmara Municipal de Beja, este festival só se faz, garante, com uma relação muito próxima dos autores e dos editores, presentes nas conferências e na feira do livro que lhe está associada. “O mercado português é pequeno, todos se conhecem e compreendem que este festival é um momento de encontro, mas é também uma ferramenta de divulgação importante. É por isso que fazemos questão de mostrar nas nossas exposições os autores históricos e os que só agora lançaram o primeiro livro, os mais comerciais e os mais alternativos, e isto sem criar qualquer hierarquia de apresentação, mesmo que tenhamos aqui alguns dos melhores do mundo. ”Quem percorre as exposições – este ano são 21 distribuídas por oito locais do centro histórico da cidade, 15 delas individuais – constata que não há qualquer diferença de escala no tratamento dos autores. É verdade que nomes fortes como os do italiano Manuele Fior, do sueco Max Andersson, do francês Pierre-Henry Gomont e do português Jayme Cortez estão concentrados na Casa da Cultura, centro do festival onde estão “muito arrumadinhas” 14 exposições distribuídas por três andares, mas também é verdade que a sua obra não é tratada de forma distinta da de outros que estão praticamente a começar e com quem partilham o espaço, como Mosi e Luís Guerreiro. “Fazemos com os autores – digo sempre fazemos, porque isto é uma equipa de quatro pessoas que conta com mais seis ou sete voluntários – o que gostamos que façam connosco. Mostramos o trabalho da melhor maneira que sabemos e podemos, independentemente do peso que tem”, diz Monteiro, que é também autor e que viu o seu O Amor Infinito Que Te Tenho e Outras Histórias (Polvo, 2010) ganhar o prémio para o Melhor Álbum Português do Amadora BD em 2011. E expor da “melhor maneira” pode passar por evocar ambientes do Oeste americano para o cowboy de Rossano Rossi (chão de madeira de estábulos e saloons, vitrinas com caveiras de bovinos, espingardas e caixas de tabaco); mostrar o último desenho que Jayme Cortez fez antes de adoecer e as diferenças que havia entre os seus desenhos e a arte final em pranchas originais de Zodiako (1974); ou reservar um espaço mais sereno para os esboços que o português José Ruy, autor que prefere o título de “aprendiz” ao de “mestre” e que aos 88 anos se prepara para lançar um novo título (A Ilha do Corvo Que Venceu os Piratas, Âncora Editora), fez no Jardim Zoológico de Lisboa por sugestão de Teixeira Coelho nos anos 40. “É verdade que a concorrência é grande, mas a BD é relativamente barata de produzir, tudo depende da ambição com que quisermos fazer as coisas. Se alguém quiser mesmo publicar publica, nem que seja numa edição de autor”, diz Monteiro. “Com este mundo globalizado, com o digital acessível a todos, a dificuldade dos autores nacionais em publicar lá fora é mais mental do que outra coisa, como aquela que nos separa de Lisboa, que hoje fica a menos de duas horas de estrada. Também na BD as distâncias são mais curtas. Beja já não fica longe. ”É também por isso que é possível ver na cidade a obra de Pierre-Henry Gomont, autor Afirma Pereira (G. Floy Studio, 2018), álbum que adapta a obra homónima de Antonio Tabucchi; o trabalho de Manuele Fior ou o de Max Andersson. Estes dois últimos não podiam ter linguagens e universos mais diferentes. Cinco mil Quilómetros por Segundo, que em 2010 e 2011 ganhou os principais prémios de dois dos mais importantes festivais de BD do mundo, Angoulême e Lucca, centra-se num triângulo amoroso – o de Piero, Nicola e Lucia – e nos efeitos que tem a distância física e temporal entre os personagens. A sua história começa quando, na adolescência, os dois amigos se cruzam com Lucia, que passa a morar na mesma rua, e termina 20 anos mais tarde, com desamores e desencontros pelo meio e com o cenário a transferir-se de Itália para a Noruega e para o Egipto, antes de regressar ao ponto de partida. “Foi um livro que escrevi numa época que, felizmente, deixei para trás”, disse Fior, que é também arquitecto, na sessão de lançamento. “Não tinha um lugar a que pudesse chamar casa e isso metia medo. ” Foi com essa sensação – “O medo e o erotismo são dois dos principais motores da narrativa”, aprendeu com outro autor italiano a que chama “mestre”, Lorenzo Mattotti – que construiu uma história sobre um personagem que fica, outro que escapa e outro ainda que consegue sair do seu lugar, mas acaba por voltar, explicou. Uma história em que a cor se transformou numa ferramenta estrutural. “A cor chega ao mesmo tempo que o guião, não é uma coisa que se acrescente depois. Este livro é uma história das personagens e uma história da cor. ”Fior toca a maioria, talvez, porque fala do quotidiano, do amor, da viagem, da perda, defende Paulo Monteiro, criando um “imaginário quase mágico”. Sem magia, sem cor e sem a mesma queda para a empatia, Andersson e o seu The Excavation (Fatagraphics Books), romance gráfico ainda não editado em Portugal, lidam com “temas ácidos” que nos podem pôr a pensar em nós e na nossa própria história, mas de forma bem mais “incómoda”, acrescenta o director do festival. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O projecto deste autor sueco, que também trabalha em cinema de animação, demorou 18 anos a concluir e tem o seu registo gráfico habitual – um lado negro e surreal –, que aqui ganha ainda mais peso, porque usa os sonhos como matéria-prima. “São os meus sonhos que aqui estão. Este livro partiu de uma colecção que fui cortando e montando, como faço no cinema, para contar uma história, que é ao mesmo tempo minha e imaginada enquanto dormia”, diz ao PÚBLICO. Um aperitivo para a leitura deste álbum que se ocupa de forma singular da construção da identidade e do papel que nela tem a memória: um protagonista de que nunca saberemos o nome encontra parte da família (e um cadáver por baixo da mesa da cozinha) de que há muito se distanciara no meio das ruínas da casa onde viviam, acidentalmente posta a descoberto durante umas escavações arqueológicas. Quando Monteiro diz que a cidade alentejana e o seu festival já não ficam assim tão longe, fá-lo também mostrando como o mundo pode chegar ali através de autores como Max Andersson: “No cartaz em que anuncia a ‘digressão’ de Excavation ele junta Beja a Paris. ” Na realidade (fomos ver), junta Beja a Cracóvia, Moscovo, Aix-en-Provence, Montpellier e. . . Paris.
REFERÊNCIAS:
O Folclore Impressionista dança-se com fantasmas de corpos presentes
Campos Espectrais, Vol.1 é um álbum que não é um álbum, criado por um conjunto de pessoas que não é uma banda. "Uma banda-sonora imaginária para a paisagem arrepiante do Vale do Côa", apresentam-se. (...)

O Folclore Impressionista dança-se com fantasmas de corpos presentes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Campos Espectrais, Vol.1 é um álbum que não é um álbum, criado por um conjunto de pessoas que não é uma banda. "Uma banda-sonora imaginária para a paisagem arrepiante do Vale do Côa", apresentam-se.
TEXTO: Há momentos em que tudo é nebuloso como num filme de John Carpenter – e respectiva banda-sonora. Há momentos em que o sol irrompe e as sombras se desvanecem no horizonte para revelar uma escarpa graciosa e imponente, luz reluzindo a superfície do rio. Há momentos em que mergulhamos em nós mesmos, contemplando cenários imaginários, ouvindo a dolência de uma guitarra acústica dedilhada, um órgão com sopro de flauta e o chilrear de pássaros nas árvores. Não sabemos se estão lá. Nem os pássaros, nem aqueles rostos que nos invadem o pensamento, aqueles rostos de feições esbatidas, quais espectros de boina na cabeça, ou de xaile cobrindo o tronco. Ouvimos pássaros e insectos e ouvimos sinos na torre da Igreja. Ouvimos terra removida, passos dados sobre a terra enquanto um sintetizador toca notas esparsas. Este é um álbum que não é exactamente um álbum, criado por um conjunto de pessoas que não é uma banda (mas tem núcleo duro, formado por João Paulo Daniel, Sérgio Silva, músicos com passado nos Hipnotica ou na primeira encarnação dos Beautify Junkyards, e o artista visual António Caramelo). Foi editado em cassete e alojado numa caixa de cartão. Gravado na caixa surge um nome: Folclore Impressionista. No interior da caixa, postais dos montes caindo sobre o rio. Uma ilustração reproduz o impacto sensorial do cenário natural, outra surge como mapa sem localização específica. Num pequeno encarte, estão as fotos gastas desfocadas, estão aqueles rostos e uma curta apresentação: “Uma banda-sonora imaginária para a paisagem arrepiante do Vale do Côa”. Foi dessa região fronteira entre a Beira e Trás-Os-Montes, entre Portugal e Espanha, entre o passado imemorial das gravuras rupestres, o passado próximo e o presente agora calcorreado que os Folclore Impressionista resgataram a sua primeira edição oficial, Campos Espectrais Vol. 1. Este sábado, será apresentada na ADAO – Associação Desenvolvimento Artes e Ofícios, no Barreiro. Ali acontecerá a Noite da Raposa, organizada pela associação cultural Out. Ra, e, além de Folclore Impressionista, actuarão, a partir das 22h, Raw Forest, Pedro Sousa, Kerox, Bleid e Contreira. Estamos longe de Foz Côa, no final de tarde de uma esplanada lisboeta, mas é para lá que viajamos enquanto João Paulo Daniel nos fala de Stone Tape, filme que a BBC2 escolheu estrear no Natal de 1972. Nele, uma equipa desloca-se a uma casa assombrada para desvendar o mistério que a rodeia. Concluem “que as paredes preservam memórias de acontecimentos”, conta João Paulo. “E não sei se isso é totalmente descabido”, confessa. “Campos espectrais refere-se mesmo a campos que têm espectros. É qualquer coisa que anda por ali. " Estamos de volta a Foz Côa: "É tão intenso, tão forte, pela História e pela configuração topográfica, que não sentes estar simplesmente num sítio com um rio. ”João Paulo Daniel cresceu em Foz Côa, antes de a vida o trazer para Lisboa, e conhece intimamente o local. Com ele na esplanada está António Caramelo, que só chegou a Foz Côa guiado por João Paulo. Em duas residências, fotografou, filmou em VHS, fez recolhas sonoras no campo e registos hidrofónicos, ou seja, dos sons dos cursos de água. “Fomos fotografar, ver e ouvir. Fazendo gravações de campo, temos uma percepção muito intensa e completamente diferente, porque estamos de auscultadores nos ouvidos, a ouvir com uma atenção que não teríamos de outro modo”. Ouvimos esses sons integrados nas sequências criadas com sintetizadores cósmicos, órgãos estelares, caixas de ritmo reverberantes, pianos, guitarras acústicas. Ouvimos música que é um contínuo em lenta mutação, e que fruímos sugestionados pelas imagens incluídas na edição, responsabilidade da editora/promotora Nariz Entupido. “Uma ideia de atmosfera, é isso que criamos. Trabalhamos sobre atmosferas e não sobre detalhes”, explica João Paulo Daniel. “Saltamos entre o visível e o invisível”, acrescenta António Caramelo, responsável pelos vídeos projectados durante as apresentações. Os espectros, novamente. João Paulo Daniel foi à procura deles na sua Foz Côa por necessidade. “Precisava de o fazer ali, precisava de organizar a memória. Tenho uma memória terrível, não guardo detalhes, só sensações. Tinha essa necessidade de organização. ”Está tudo em Canado do Inferno, Subir ‘os trinta’, Vale dos moinhos ou Ancient ritual, alguns dos títulos das peças que ouvimos na cassete e que remetem para locais e memórias específicos. Está nos postais de António Caramelo ou nas ilustrações de Xavier Almeida, Pedro Petiz e João Fonte Santa que a acompanham. Uma viagem aberta à contemplação e ao mistério, fenda criada entre a paisagem visível e os fantasmas que a atravessam – a música e as imagens surgindo nessa intersecção. Folclore Impressionista é, define, João Paulo Daniel, “uma plataforma para trabalhar este tipo de temas": "Assenta em som e imagem, mas não lhe conhecemos bem as fronteiras, é algo mais gasoso, aberto à participação de quem entendermos. ”O projecto nasceu sob o signo do conceito de hauntology, cunhado pelo filósofo francês Jacques Derrida na sua obra de 1993, Os Espectros de Marx, e vertido para categorização musical já no nosso século. Encontramo-lo em editoras como a Ghost Box, onde editam agora os Beautify Junkyards, ou a Folklore Tapes – é música reflexiva, onírica, ambiental, verdadeiramente assombrada por fantasmas do passado, que surgem pelo recurso a library music, de emissões radiofónicas ou sons televisivos antigos recontextualizados, reconfigurados ou enxertados em matéria do presente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. João Paulo Daniel considera que, “vivendo num meio virtual em que o tempo parece já não fazer sentido, é completamente assíncrono”, é-lhe impossível “fugir” deste conceito de hauntology. Folclore Impressionista começou por explorá-lo no diálogo daquela música ambiental intensa com imagens de “actores e realizadores muito específicos que, de uma forma ou de outra, trabalham a questão da geografia, mas a geografia psicológica”, explica António Caramelo, citando os nomes de Andrey Tarkovsky ou Alejandro Jodorowsky – já trabalharam também sobre Art of Mirrors (1973), de Derek Jarman, e, mais recentemente, sobre A Journey to Avebury (1971), do mesmo realizador. Neste Campos Espectrais Vol. 1 – há outros a serem pensados para exploração futura -, entregaram-se à deambulação para definir “uma percepção de lugar, da energia do lugar”. Depois, enquanto a música e a imagem eram trabalhadas, tudo se expandiu. Foz Côa passou a ser apenas uma camada mais, um eco forte entre aquilo que é este disco que não é um disco, deste conjunto de músicos e artistas que não são uma banda. Ouvimos a música, contemplamos a imagem. Viajamos. Os espectros revelam-se.
REFERÊNCIAS:
Bem-vindo a Eryri, o coração verde de Gales
Nas vésperas de a Europa celebrar o dia dos parques nacionais, a 24 deste mês, gozámos de horas calmas numa errância serena por Snowdonia, olhando os seus picos, os seus lagos, as suas aldeias pitorescas, as suas gentes com uma identidade tão forte. (...)

Bem-vindo a Eryri, o coração verde de Gales
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.300
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nas vésperas de a Europa celebrar o dia dos parques nacionais, a 24 deste mês, gozámos de horas calmas numa errância serena por Snowdonia, olhando os seus picos, os seus lagos, as suas aldeias pitorescas, as suas gentes com uma identidade tão forte.
TEXTO: Eryri. Croeso. São as duas primeiras palavras que aprendo em galês enquanto desfruto dos raios puros e cálidos do sol da manhã. Ao longe, avisto o castelo projectando-se contra o azul do céu sem uma nuvem, esse tesouro cultural que domina Conwy e que a UNESCO há já alguns anos integrou na sua lista de Património Mundial da Humanidade. Não tinha intenção de me deter por muito tempo nesta vila situada na confluência dos rios Giffn e Conwy, daqui desejava partir de imediato para o Parque Nacional Snowdonia, mas, talvez afectado por um dia radioso, deixei que Conwy, onde vivem pouco mais do que quatro mil almas, me prendesse por mais umas horas, para admirar aquela que é provavelmente a mais imponente fortaleza galesa de Eduardo I, erguida entre 1277 e 1307. Ainda assim, desde Conwy e do seu castelo, já sondava os contornos de Snowdonia. Mesmo à minha frente, era a serenidade das águas do estuário que me seduzia, as pontes cruzando o rio Conwy, o charme que proporcionavam à vila com as suas muralhas correndo ao longo de 1200 metros e construídas na mesma época do castelo para garantir a segurança dos habitantes (talvez para submetê-los) nesses tempos de antanho. Percorro uma parte desses muros tão gastos e tão cheios de histórias e na Upper Gate volto a namorar, de forma ainda mais despreocupada, o cenário que me envolve. Snowdonia parece chamar-me. Há três casas que sinto que não devo perder antes de rumar a essas montanhas tão amadas pelos galeses e tão envoltas numa teia de lendas. A Plas Mawr, com uma existência que remonta a 1585, próxima desta a Aberconwy House, a mais antiga casa de mercadores da Idade Média (levantada em finais do século XIII e inícios do século XIV) e, a curta distância de uma das margens do rio Conwy, com uma fachada vermelha e um telhado negro como um corvo, aquela que é conhecida como a casa mais pequena de todo o Reino Unido, tão minúscula que era mais recomendada para uma pessoa do que para um casal enquanto foi habitada. Ao início da tarde, já com a abóbada do mundo perturbada por pequenos flocos de algodão que se semelhavam a ovelhas, os meus passos cruzaram-se com o mundo verde de Snowdonia, um parque que foi criado em 1951 (o que lhe confere o estatuto de primeiro parque nacional de Gales) e que se estende ao longo de quase 60 quilómetros (sentido oeste-leste) e mais de 80 de norte a sul, abrangendo zona costeira, rios e lagos. Dominando Snowdonia com a sua imponência, visível daqui e dali, Snowdon eleva-se a 1085 metros acima do nível das águas do mar, atraindo todos os anos ao cume perto de 800 mil visitantes. Conhecido entre os galeses por Yr Wyddfa (significa Grande Túmulo, já que, segundo a lenda, um gigante chamado Rita Gawr foi morto pelo rei Artur, cujos feitos estão fortemente associados a Snowdonia, neste lugar e enterrado no topo), Snowdon é acessível através de seis diferentes trilhos, uns mais longos (não mais de 16 quilómetros) do que outros, com maior ou menor grau de dificuldade (o percurso de ida e volta exige entre cinco e sete horas) — quem não se sentir com capacidade para subir a pé pode sempre recorrer ao Snowdon Mountain Railway, um pequeno comboio cujo serviço foi inaugurado em 1896 e que leva os mais preguiçosos desde Llanberies ao pico em cerca de uma hora. Geograficamente, Llanberies está fora dos limites do Parque Nacional Snowdonia mas tem uma vocação turística que contrasta com a ausência de beleza estética. Pelo menos à primeira vista. A vila foi construída para acolher os trabalhadores da pedreira de ardósia de Dinorwig — não deixe de dar uma espreitadela ao interessante Museu Nacional de Ardósia para melhor entender a importância desta indústria tão intimamente ligada à história de Snowdonia e da sua paisagem. Para uma melhor compreensão ainda, o ideal é percorrer mais alguns quilómetros, até desaguar em Blaenau, de onde partia a maior parte da ardósia que cobria, no século XIX, as casas do Reino Unido — e não só. Num instante, o olhar fixa-se em montanhas de lixo e logo depois se percebe que apenas 10% da ardósia extraída era utilizável. Em Blaenau, oferece-se ao turista a possibilidade de descer a uma verdadeira mina de ardósia, de conhecer com detalhe as péssimas condições de vida dos mineiros no século XIX. A exemplo do que acontece noutros parques de Gales, Snowdonia enche-se de vida nas pequenas povoações que se encontram dentro do perímetro deste paraíso natural. Beddgelert, com 500 habitantes, é o meu primeiro destino, talvez atraído por mais uma das muitas lendas tão presentes no dia-a-dia das suas gentes. Cheia de charme, com as suas casas de pedra cinzenta olhando o rio Glaslyn, mais a sua ponte elegante de dois arcos, Beddgelert significa, de acordo com a crença popular, a campa de Gelert, uma referência a Llywelyn, um príncipe galês do século XIII. Este, acreditando que o cão de que era proprietário, Gelert, matara o seu filho bebé, deitado no chão junto a uma poça de sangue, abateu o animal e só mais tarde veio a descobrir que Gelert lutou com um lobo para tentar proteger (com sucesso) a criança. Há quem defenda outras teses. Uma aponta para que a toponímia derive de Celert, um pregador irlandês do século V que terá fundado uma igreja no lugar. Verdade ou não, a sepultura do cão, à qual se chega seguindo um bonito trilho ao longo do rio, continua a ser uma atracção em Beddgelert e poucos parecem dar crédito à outra tese que fala de um hoteleiro que fabricou a história para atrair mais clientes. Vale a pena o passeio, como também se justifica percorrer pouco mais de um quilómetro, até chegar à mina de cobre Sygun, já uma realidade na época dos romanos — a extracção terminou no século XIX, a mina foi definitivamente abandonada em 1903 mas mais tarde convertida em museu para mostrar aos curiosos como era a vida dos mineiros nesse tempo. Gales tem nomes impronunciáveis. Em Snowdonia, até agora, nenhum se parece sequer com o da aldeia que desejo visitar daqui a uns dias, na ilha de Anglesey: Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwll-llantysiliogogogoch. Betws-y-Coed é mais simples de pronunciar e é, ao mesmo tempo, uma boa base para explorar o parque nacional de Snowdonia, uma bonita aldeia com o seu casario de pedra, humilde e ao mesmo tempo com ares de postal, erguendo-se com vista para um rio e tendo como vizinhos a floresta de Gwydyr e a junção de três rios, o Llugwy, o Conwy e o Lledr. Com menos de mil habitantes, Betws-y-Coed era já um dos mais populares lugares de férias do interior de Gales nos tempos vitorianos, graças a um grupo de pintores locais que criaram uma comunidade artística para relevar e recordar a diversidade da paisagem de Snowdonia, uma atracção que foi exacerbada pela chegada do transporte ferroviário em 1868. Snowdonia, com uma área de 2130 km2, está repleto de lugares que nos levam de volta à Idade Média. Opto por uma paragem em Dolgellau, com uma identidade tão própria, com as suas duas centenas de casas listadas para serem preservadas — a maior concentração em todo o país e uma realidade que tem muito a ver com o facto de se ter tornado, no século XVIII e no início do século XIX, num importante centro regional da então próspera indústria de lã. As casas foram construídas nessa época e pouco ou nada mudaram até chegarem aos nossos dias, agora que o turismo é a sua principal fonte de receita, em grande parte por força da proximidade de Cader Idris, a cadeira de Idris, crescendo até chegar aos 893 metros, naquele que é um dos picos mais apreciados para escaladas e onde todo aquele que passar a noite acorda louco ou transformado em poeta. Consta. A tarde não termina sem uma visita ao bonito estuário de Mawddach e, mais para norte, ao parque florestal Coed y Brenin, com os seus 3600 hectares tão agradáveis para passeios em bicicleta de montanha (mais de uma centena de quilómetros de trilhos). Um outro dia nasce e não tarda a conduzir-me, numa errância pausada, a Bala, mais uma pequena vila dentro de Snowdonia que tanto parece agradar a famílias e às crianças. A principal razão é o Bala Lake Railway, um pequeno comboio com as suas locomotivas vintage que, partindo da também pequena estação de Penybont, a menos de um quilómetro do centro de Bala, carrega os turistas para um passeio de 90 minutos que contorna o bonito Llyn Tegid, o maior lago de água doce de Gales, com um comprimento superior a seis quilómetros e com uma profundidade que ultrapassa, em alguns lugares, os 40 metros. Nos últimos anos, o lago tem vindo a ganhar reputação entre os adeptos dos desportos aquáticos e respira vida durante os meses de Verão, com o número de turistas a exceder o da população residente, não mais de 2000 — e desses, 80% fala o galês como língua principal. Eryri. Croeso. Desta forma se referem a Snowdonia. Desta forma dão as boas-vindas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não há qualquer ligação aérea directa entre Lisboa ou o Porto e Gales. A única, duas vezes por semana (segundas e sextas), é a partir de Faro, até Cardiff, com a Ryanair. Mas são inúmeras as opções para chegar à capital galesa ou, mais a norte, a um destino próximo de Snowdonia. Neste último caso, os aeroportos de Manchester, Birmingham e Liverpool são os mais indicados (menos de duas horas até ao parque). A Ryanair voa do Porto para as três cidades inglesas (também para Manchester desde Lisboa), enquanto a easyJet serve esta última e Liverpool a partir do Porto — para a cidade dos Beatles, situada a escassos 25 quilómetros da fronteira galesa, há igualmente voos com origem em Lisboa e Faro. Londres, servida por diferentes companhias áreas, é outra possibilidade. Se abdicar do avião para o resto do percurso, o comboio pode revelar-se uma opção perfeita — há transporte ferroviário desde a estação de Euston (e de Birmingham) com paragens (e panorâmicas soberbas da zona costeira do Norte de Gales) em Colwyn Bay e Bangor, por exemplo, ambas a curta distância do parque (consulte o site da Virgin trainsDependendo dos planos, também pode viajar com a easyJet entre Lisboa, Porto ou Faro e Bristol e, desde esta cidade inglesa, de autocarro até Cardiff, um percurso de aproximadamente uma hora se recorrer aos serviços da Megabus e por apenas quatro libras (menos de cinco euros) por trajecto. Para Cardiff, com uma escala em Barcelona, deve fazer uma pesquisa no site da Vueling. Pont-y-Pair Inn Holyhead Road Betws-y-Coed Tel. : 00 44 1690 710 377 E-mail SitePreço: entre 30 e 35 libras por pessoa e por noite, com pequeno-almoço incluído. Caerlyr Hall Hotel Conwy Old Road Dwygyfylchi Penmaenmawr Tel. : 00 44 1492 623 518 E-mail SitePreço: entre as 34 e as 43 libras, também por pessoa, por noite, com pequeno-almoço e com todas as taxas incluídas, com a vantagem de ser possível o aluguer por uma semana (tarifas entre as 224 e as 259 libras ou entre as 350 e as 385 se optar pelo conceito de meia-pensão). Castle Cottage Harlech Tel. : 00 44 1766 780 479 E-mail Site Aberto apenas entre quartas e sábados e em dias feriados. Mas o melhor mesmo é consultar o site do restaurante (mais dias encerrado entre o início do Inverno e a Páscoa)Preço: entre as 34 e as 45 libras, dependendo do número de pratos que pretende degustar (entre dois e cinco de uma lista de cinco). Não se trata apenas de reputação — completa 30 anos em 2019 e está entre os melhores guias de restaurantes do Reino Unido há 27 —, o que Glyn e Jacqueline cozinham é sempre fresco, muito baseado em produtos locais e com uma escolha difícil de tão variada (lagosta apanhada na ilha Shell, caranguejo de Aberdaron, borrego ou, entre tantos outros exemplos, o leitão de Pugh’s Piglets). The Peak 86, High Street Llanberies Tel. : 00 44 1286 872 777 E-mail SiteAberto à noite (durante o dia somente para grupos de dez ou mais pessoas) de quarta a sábado. Preço: entre as 11, 50 e as 19 libras por prato principal (entradas a partir de três libras). A chef, Angela Dwyer, é famosa por ter cozinhado para figuras mediáticas em renomados restaurantes de Londres, como o Groucho Club ou o Zuma (pelo meio teve uma experiência na Califórnia). Balance entre um prato tipicamente galês (fusão) e algo entre a Índia e a Tailândia — não terá motivos para se desiludir mas tenha em conta que apenas uma factura é emitida e não será aceite mais do que um cartão de crédito (um aviso para quem viaja a pensar em contas separadas).
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Casa, onde quer que seja
A leitora Marta Carrilho partilha a sua experiência em Cuba. (...)

Casa, onde quer que seja
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: A leitora Marta Carrilho partilha a sua experiência em Cuba.
TEXTO: Há muito que estou habituada a senti-lo, mas estava errada quanto à sua origem. Não é a diferença de culturas que incentiva o desejo de rever o que nos é familiar. A saudade surge quando nos apercebemos de que os sentimentos perduram independentemente da distância, como em resposta ao sentimento de pertença a um lugar longínquo. Foi em Cuba que o compreendi. Havana surpreendeu-me. Há muito que ouvira falar nas cores alegres, nas cubanas sentadas à beira dos passeios com vestidos e lenços na cabeça a fumar charutos, enquanto os carros antigos, com peças de diferentes modelos anteriores, passavam na rua por carrinhas a vender fruta, perto das quais crianças jogavam à bola. Mas presenciarmos o que pensávamos já conhecer tem o dom de nos proporcionar a sensação de estarmos rodeados de uma realidade nova. A cidade deixa de ser um conjunto de histórias e imagens, ganha vida. Não pude deixar de notar o sotaque de Emílio, o simpático motorista do táxi, diferente do castelhano a que estamos habituados. Deixou-nos numa rua agitada, no meio de um trânsito confuso que lembrava as ruas da Índia, pela exuberante desorganização. Saímos perto do café El Floridita, onde posámos para uma fotografia junto a Hemingway. Depois, encontrámos uma estátua do nosso Camões. Voltámos a entrar no táxi. Era hora de almoço e os nossos amigos cubanos insistiram para que fôssemos onde nos levavam. Chegámos a um bairro longe do centro. Estacionámos ao lado de um espaço verde, mais mata do que jardim, e encaminhámo-nos para uma das moradias baixas e antigas da ruela. Passámos o portão e entrámos num átrio. Em vez de avançarmos para a porta da frente, seguimos Emílio na direcção das traseiras. Foi aí que senti a curiosidade transformar-se em fascínio. Era um restaurante repleto de famílias, de barulho saudável. Mas não era apenas um restaurante. Na fase mais ortodoxa do regime não era permitida a iniciativa privada. Tal política levou os que desejavam ter negócios próprios a fazê-lo discretamente, dentro das próprias casas. Era comum abrir a porta a desconhecidos, os convites surgindo como forma de negócio mas também por simpatia. Enquanto esperava sentada na cadeira de verga com os braços apoiados no tampo de madeira, ouvia a banda que tocava à minha frente, abanando a cabeça ao ritmo das músicas latinas. Reparei nas fotos de Che Guevara distribuídas pelas paredes brancas e gastas. Os bancos ao lado do balcão eram ocupados por homens cubanos que bebiam e conversavam. À volta das mesas andavam galinhas, que intrigavam as crianças que as perseguiam. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O ponto forte de todas as viagens é a altura em que nos sentimos parte da cultura em que nos encontramos. Poderia ter sido só mais uma refeição. Para mim, foi o estabelecimento de uma ligação com o local. Gostava verdadeiramente daquele país, do conforto que qualquer lugar adquiria, mesmo entre paredes brancas e antigas cuja tinta deixava descoberto o cimento. No dia seguinte esperava-me um avião. Mas não me sentia longe de casa. Deixava um lugar distante que nunca estivera tão próximo. Regressava com uma nova casa. Sabia agora como designar o que sentia. Era saudade. Marta Carrilho
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Palavras-chave homens cultura
Vamos jantar e saber por que foi tão mal-amado o Marquês
Chama-se A Ceia do Marquês e é uma peça de teatro com um jantar, ou vice-versa. Todas as quintas-feiras, até 8 de Junho, em Linda-a-Velha. (...)

Vamos jantar e saber por que foi tão mal-amado o Marquês
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chama-se A Ceia do Marquês e é uma peça de teatro com um jantar, ou vice-versa. Todas as quintas-feiras, até 8 de Junho, em Linda-a-Velha.
TEXTO: Entram quatro vultos vestidos de negro e com máscaras venezianas, simples, a tapar-lhes os rostos. Viram-se de costas e exclamam: “O rei morreu! Viva o rei!” O local é o Palácio dos Aciprestes, que pertence à Fundação Marquês de Pombal, em Linda-a-Velha, e o convite é para jantar e assistir a oito quadros cénicos. Os actores Carlos Paiva, Carolina Dominguez, José Coelho e Paula Manso, sempre de rostos cobertos, servem o jantar, pensado e confeccionado por Fátima Morais, a mentora do projecto A Ceia do Marquês. Este é um jantar com pratos simples e conhecidos de todos, mas com nomes que dizem respeito à história do Marquês de Pombal. Por exemplo, o cesto do pão, com pães simples e de sementes, chama-se “o pão do exílio”; as bolas que remetem para Trás-os-Montes são receitas de Fátima Morais – uma de alheira e outra vegetariana –, o prato principal é um bacalhau no forno a que foi dado o nome de “bacalhau à Marquês”, e o prato vegetariano, um caril, chama-se “tofu à moda de Daun”, o apelido da segunda mulher de Sebastião José de Carvalho e Melo, a austríaca Leonor de Daun. Além das entradas e do prato principal, há duas sobremesas – uma mousse de lima, “a mousse da condessinha”, e um pudim, o “pombalino” –; as bebidas são água, vinho, sumo natural de ananás, “com ingrediente especial”, que o faz mudar de cor para verde, e, no final da refeição, o “café da cafeteira do paço”. Fátima Morais pensou em tudo ao pormenor, numa homenagem à sua infância e à sua mãe. “Venho de uma família grande e a minha mãe cozinhava para muitos. ” Por exemplo, os panos que tapam o jarro da água ou decoram o gargalo da garrafa do vinho são de linho, do enxoval da mãe, e têm um ponto de crochet dourado feito por Fátima. “Eu odeio fazer crochet, mas foi a minha mãe que me ensinou. ”O espaço onde nos encontramos poderia ser um qualquer salão num palácio setecentista, após o terramoto que abalou o país, depois da morte do rei D. José. A escadaria de pedra, a enorme lareira e o piano de cauda marcam o cenário onde se desenrola toda a acção. O que aconteceu ao marquês depois da morte do rei? Vamos sabendo pela voz das criadas; pela do reitor e bispo de Coimbra D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho; pela da mulher e uma das filhas, Maria Francisca, queixosas da forma como a corte trata o marquês, que “acumulou inimigos na mesma proporção que acumulou riqueza”, diz uma delas; e pela voz do próprio marquês, que se exila em Pombal e se sente injustiçado, sem nunca perder a pose e o orgulho de tudo quanto fez. Cena a cena, intercaladas por tempos mortos, ideais para ir comendo e convivendo com quem se sentou na mesma mesa – estas comportam até dez pessoas –, vamos conhecendo os últimos anos de Sebastião José de Carvalho e Melo, assim como todas as reformas que fez. “Uma reflexão sobre a transitoriedade caprichosa da glória”, diz o programa, que é também a ementa. A ideia é “casar a gastronomia com o teatro”, revela Carlos Paiva, responsável pelo texto, direcção de actores e também aderecista, no final do jantar, depois das palmas e ovações de pé a todo elenco e elementos da produção, além de Fátima Morais, Tâmara Paiva faz assessoria e é responsável pela logística, e Paula Carvalho é a produtora. O trabalho é de grupo, da cozinha ao servir à mesa. “Pode ser um ciclo, quem sabe”, acrescenta Carlos Paiva. “Passem palavra, que é a melhor forma de publicidade”, conclui, antes de as palmas voltarem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As reservas devem ser feitas até 24 horas antes do dia do espectáculo, que é às quintas-feiras. A Ceia do Marquês: uma experiência cénica, gastronómica e históricaProdução: Cenas & Quê. . . com a colaboração de Don'Adelaide ProduçõesPalácio dos Aciprestes, Linda-a-VelhaDatas: 24 e 31 de Maio, e 8 de JunhoReservas: cenaseque@gmail. comPreço: 35 euros, 30 euros (para grupos de dez ou mais pessoas)A Fugas fez a experiência a convite da Cenas e Quê. . .
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Os Dão com o aroma fresco da montanha
Nas encostas ocidentais da Serra da Estrela há um clima diferente, há vinhedos ancestrais e um conjunto de produtores de vanguarda. Paulo Nunes, da Casa da Passarela é um bom anfitrião para nos mostrar esse Dão fresco e elegante. Álvaro de Castro há muito que faz ali grandes vinhos. Dirk Niepoort ou Jorge Moreira chegaram entretanto para dar músculo a uma região do presente que vai dar muito que falar no futuro (...)

Os Dão com o aroma fresco da montanha
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.3
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nas encostas ocidentais da Serra da Estrela há um clima diferente, há vinhedos ancestrais e um conjunto de produtores de vanguarda. Paulo Nunes, da Casa da Passarela é um bom anfitrião para nos mostrar esse Dão fresco e elegante. Álvaro de Castro há muito que faz ali grandes vinhos. Dirk Niepoort ou Jorge Moreira chegaram entretanto para dar músculo a uma região do presente que vai dar muito que falar no futuro
TEXTO: Estamos no final de uma manhã de meados de Maio e um frio cortante varre as vinhas da Casa da Passarela. O vento gélido da serra da Estrela que se ergue a pouca distância é apenas um fenómeno da natureza que concede àquelas vinhas instaladas acima dos 700 metros de altitude condições únicas para a produção de vinhos, até para os padrões normais de elegância e riqueza aromática da região do Dão. Há outros atributos que tornaram estas vinhas próximas da serra da Estrela um pequeno tesouro capaz de atrair enólogos de outras regiões. Como a existência de muitas vinhas muito velhas, sobreviventes a sucessivas vagas de modernização talvez por causa da distância e do isolamento. No planalto de Tázem, em torno de localidades como Pinhanços, na fronteira entre os municípios de Seia e de Gouveia, existe hoje um Dão diferente, onde se produzem alguns dos mais categorizados tintos e brancos do país, onde a atitude dos seus enólogos e viticultores mobiliza uma luta pela conservação do património genético das vinhas velhas, das tradições antigas e por um perfil de vinho que procura em primeiro lugar exprimir o seu lugar sua origem. Paulo Nunes é um desses lutadores que em pouco mais de uma década construiu o prestígio que a Casa da Passarela dispõe hoje entre os enófilos. Antes dele, Álvaro de Castro, um engenheiro civil que depois de 1980 começou a cuidar das propriedades da família, tinha já mostrado que nas proximidades da Serra da Estrela havia potencial para a criação de vinhos de classe mundial – é hoje um dos nomes mais respeitados do vinho português contemporâneo. A Quinta da Bica perdeu um pouco do seu fôlego, mas ainda é uma referência pelos seus vinhos secos e directos. A Madre de Água, um projecto com dez anos, faz tintos e brancos modernos mas contidos. A Quinta do Escudial, uma pequena produtora com 6. 5 hectares de vinha, faz brancos e tintos surpreendentes. E mais recentemente chegou uma vaga vinda do Douro, com Dirk Niepoort a produzir vinhos tintos e brancos na zona de Pinhanços e o trio composto por Jorge Moreira, Francisco (Xito) Olazabal, do Vale Meão, e Jorge Serôdio Borges a lançarem o seu projecto M. O. B a partir de duas vinhas situadas nos concelhos de Seia e de Gouveia. Quem opta pela produção de vinhos menos extraídos, onde a cor conta menos do que a elegância e a precisão aromática mais do que a exuberância da fruta, sabe que em Portugal há uma área privilegiada: o Dão da Serra da Estrela. “A montanha condiciona muito o nosso perfil de vinhos. Aqui, não temos a mesma concentração, mas temos uma acidez mais alta e uma carga tânica diferente”, diz Paulo Nunes. “O que nós queríamos fazer era um vinho mais fresco e elegante, com grande precisão aromática”, nota Jorge Moreira ao explicar as razões que levaram um trio de enólogos durienses a ensaiar uma aventura numa região assim tão diferente dos vales quentes onde costumam trabalhar. “Estamos muito contentes com o resultado. Este projecto vale muito a pena”, diz Jorge Moreira. O frio da altitude é a primeira condição para esse potencial. As condições de maturação provocadas pelas primaveras ou pelas noites de baixas temperaturas forçam as plantas a ciclos diferentes do de outras regiões mais quentes – “aqui faz-se um vinho quase em ruptura com o do Douro”, diz a propósito Jorge Moreira. Ora essas condições implicam uma selecção de castas ajustado a esse clima mais rigoroso e fresco. Paulo Nunes constata por exemplo que nas vinhas velhas da Passarela não há praticamente Tinta Roriz, uma das castas com mais cepas plantadas no Dão. Na quinta do Corujão arrendada pelos mentores do projecto M. O. B a colheita desta casta é vendida a granel. É por isso que, quer Moreira quer Paulo Nunes dedicam uma especial atenção às vinhas que ali existem há décadas. As escolhas de castas hoje pouco privilegiadas, como a Alvarelhão, a Tinta Pinheira ou o Bastardo, existem nessas vinhas porque resultam de um saber empírico antigo e testado geração após geração. Depois, no jogo das opções das castas há que contar com os caprichos do clima da serra. Entre Pinhanços e a Casa da Passarela, talvez uma centena de metros mais alta, ou entre a Casa da Passarela e a Madre de Água, à mesma altitude mas já encostada à serra e com mais disponibilidade de água, as condições são muito diferentes. “A nossa vinha fica muito perto da de Álvaro de Castro e por vezes ele já acabou a vindima quando nós começamos a fazer a nossa”, diz Jorge Moreira. E se essa comparação for feita com, por exemplo, a zona de Silgueiros, de um Dão mais baixo e mais quente, a diferença nas datas da vindima ainda é maior. Aqui, é impensável pensar em vindimas em Agosto, mesmo de uvas brancas, como acontece com cada vez mais frequência nas outras zonas vinhateiras do país – também por causa das alterações climáticas. Mesmo que a altitude sirva para já de protecção aos efeitos do aquecimento global, na zona da Estrela a mudança do clima já obriga alguns enólogos ou viticultores a antecipar os seus impactes. Paulo Nunes, por exemplo, não dispensa da casta Uva Cão nas novas plantações de castas brancas. “A Uva Cão tem uma acidez fabulosa e em anos muito quentes pode reparar o desequilíbrio que outras castas possam ter”, diz Paulo Nunes. De resto, o cultivo desta casta numa zona alta e fresca, onde por regra o clima potencia a acidez, “fazia pouco sentido”. Mas, nos segredos insondáveis do mundo rural português, há sempre explicações para as escolhas dos agricultores. “A Uva Cão, ou a Tinto Cão [esta tinta], são castas que produzem uvas que não são boas de comer e, por isso, os agricultores plantavam-nas nas entradas das suas propriedades ou nas bordas dos caminhos para evitar que quem passasse as comesse”, diz Paulo Nunes. “As castas com os nomes de ‘cão’ tem essa função de ‘guardar’ as propriedades”, diz. Perceber esses segredos e conservar essas tradições tornou-se imperioso para a nova geração de enólogos e viticultores com formação científica porque “a universidade generaliza, quando nós temos de interpretar o modelo que existe em cada sítio”, como nota Paulo Nunes. Álvaro de Castro foi um pioneiro nessa tentativa de interpretação e o sucesso internacional dos seus vinhos provenientes da Quinta da Pellada ou da Quinta de Saes foram o primeiro atestado da sua razão. E se durante anos Álvaro de Castro se queixava de falta de outros actores capazes de dar mais músculo e relevância aos vinhos da serra da Estrela, hoje já não tem tantas razões de queixa. Dirk Niepoort é talvez o nome mais respeitado e reconhecido do vinho português no mundo e é um fervoroso adepto dos vinhos directos, feitos a partir de um modelo de “enologia mínima”, com respeito pela natureza das uvas e uma clara devoção à acidez e à elegância; Jorge Moreira é o autor do consagrado Poeira, Jorge Serôdio Borges faz o magnífico Pintas e Xito Olazabal assina os premiados Vale Meão ou os vinhos da Quinta do Vallado; na presente vaga, porém, vale mesmo a pena ver o trabalho que Paulo Nunes está a fazer na Passarela. Durante quase um século, os vinhos desta Casa criada pela família Santos Lima (os mesmos do Tejo) à custa do negócio do café do Brasil eram vendidos a granel. Mas no auge do prestígio do Dão, entre os anos de 1950 e 1970, a sua produção era já disputada por casas como a José Maria da Fonseca, que aqui fazia o seu Garrafeira P, ou pelas Caves São João. Nos anos de 1980 a Passarela lança a marca Somontes. Em 2006 contrata Paulo Nunes, um jovem oriundo do Douro que estudou na Escola Agrária de Viseu e depois da venda da propriedade a um empresário de Seia, Ricardo Cabral, a Passarela passou a assumir um papel de primeira linha na consolidação dos vinhos da serra. Hoje a Passarela comercializa meio milhão de garrafas por ano. Não é muito para uma empresa que dispõe de 60 hectares. Mas, é neste capítulo, o da vinha, que está o segredo da Passarela. Como os restantes pontas-de-lança da sub-região da Estrela, a forma de estar no negócio implica uma recusa das grandes produções. “Se fosse para fazer grandes volumes eu preferia estar na zona de Silgueiros ou de Santar”, diz Paulo Nunes. A baixa produtividade é uma condição das vinhas velhas – as quatro pequenas vinhas onde Paulo Nunes colhe as uvas para o seu Vinhas Centenárias não dão para mais do que 2400 garrafas por ano. Percebe-se. Uma visita por essas vinhas é como caminhar pelas galerias de um museu de história natural. Videiras com décadas, com caules grossos e retorcidos, onde ainda se encontram formas antigas de plantação como a mergulhia – uma vara de uma videira é enterrada para reaparecer como uma nova planta dois metros ao lado – ou formas de condução como a morcela – as varas da videira enrolam-se num pau arcado de pinheiro manso. O uso de porta-enxertos (onde se enxertam depois as castas pretendidas), obrigatório em todo o lado por causa da filoxera (um insecto que se alimenta das raízes das videiras, excepto das dos porta-enxertos que têm origem americana) é dispensado nestas vinhas. Ao lado da vinha da Pedra Alta, plantada nos finais do século XIX, onde se produzem os mostos dos magníficos Villa Oliveira, há uma nova plantação feita com as varas retiradas das plantas antigas que essa vinha fornece. Os apoios do Estado e da União Europeia para a replantação exigem o recurso a plantas certificadas pelos viveiristas, mas a Passarela prefere prescindir desses apoios e usar o material genético que existe há décadas nos seus vinhedos. De resto, há na Passarela a preocupação em não afunilar a variedade genérica das vinhas. Nas novas plantações com castas brancas há Encruzado, a variedade consagrada do Dão moderno, mas também há Bical ou Uva Cão. Nos tintos, já não se fala na Touriga Nacional (“temos 15 hectares, é o suficiente”), mas aposta-se na Jaen, uma casta que Paulo Nunes aprecia particularmente “desde que seja plantada no lugar certo”, Rufete, Alvarelhão ou Baga. Numa pequeníssima vinha da Passarela há uma plantação de Pinot Noir com quase 70 anos, mas a sua vocação não é para a produção de vinho, mas apenas como uma ferramenta de microbiologia – como o ciclo é mais curto, a Pinot amadurece mais cedo e serve para fazer “base de cuba”, produzindo leveduras que promovem o arranque das fermentações das outras uvas. A serra parece proteger o seu património antigo e criar barreiras a variedades exóticas – na Madre de Água há uma vinha de Syrah que produz um vinho anódino e outra de Merlot que, se conserva algumas características bordalesas, não se compara ao refinamento dos outros tintos da casa. O cultivo destas vinhas rodeadas de floresta (pinheiros e carvalhos, principalmente), temperadas pelo frio e depositárias de saberes muitos antigos é caro. O uso de máquinas como tractores é limitado. A preocupação ambiental de Paulo Nunes implica que a sua fertilização se faça apenas com estrumes, de preferência adquiridos nas regiões. E como a produtividade é baixa, como se consegue sustentar um negócio assim? Apenas pelos preços mais elevados. Não é que os tintos geniais de Álvaro Castro, os Conciso de Dirk Niepoort, os soberbos Villa Oliveira, ou o fantástico Vinha da Neve de Carlos Lucas, produzido com uvas da Estrela, sejam muito caros – mas estão claramente muito acima dos preços médios da região e do país. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A procura, em Portugal ou no estrangeiro, de vinhos distintos, gastronómicos, mais secos e definidos como os que se criam na base da serra da Estrela consegue para já remunerar a protecção das vinhas velhas e a afirmação do perfil da sua produção. Projectos de média dimensão como a Quinta do Escudial surpreendem pelo refinamento das suas produções, a Quinta da Bica continua a fazer vinhos tensos e com garra, e projectos novos como a Madre de Água, onde Paulo Nunes é consultor, são capazes de colocar no mercado tintos e brancos com a graça e identidade dos vinhos da Estrela – principalmente os Touriga Nacional e os Encruzado. Quer isto dizer o quê? Que a Serra está no bom caminho e será cada vez mais um lugar de referência para a criação de grandes vinhos do país. Fugitivo Vinhas Centenárias 2014 Casa da Passarela Graduação: 13. 5% Preço: 18. 50€ Pontuação: 93Proveniente de quatro pequenas vinhas velhas que em conjunto produzem menos de 2500 garrafas, este tinto é um prodígio de originalidade, de definição e de distinção. É um vinho pouco comercial (é muito seco, com tanino rugoso, vagamente vegetal, e uma acidez marcada no final de boca), mas não é no impacte ou no fulgor que se deve procurar a sua alma. É precisamente na sua definição aromática, com notas de urze, erva seca e nota de caruma, na sua elegância na boca ou no seu potencial gastronómico. Um vinho para durar em grande forma uma geração. Pelo menos. Villa Oliveira 125 anos 2014 Casa da Passarela Graduação: 13% Preço: 60€ Pontuação: 95Proveniente de vinhas velhas, de um lote onde predominam as castas Baga, Jaen, Alvarelhão, Tinta Carvalha e Tinta Amarela este é um exemplo máximo da enologia mínima. O lote estagiou em barricas usadas de carvalho e a preocupação de Paulo Nunes está aqui expressa de forma evidente: é um vinho de uma depuração e de uma singeleza desarmantes – no limiar da rusticidade. Aroma fechado, com sugestões de mato, desenvolve no palato sensações muito finas. É um vinho circunspecto que de deve mastigar de modo a expor as suas subtilezas. Deixa no palato um rasto notável de frescura. Muito original, é um vinho conceptual. Não é para principiantes que procuram compota ou suavidade. Mais uns anos de garrafa aparecerá mais polido e seguramente ainda mais grandioso. Produziram-se 3000 garrafas, que serão colocadas no mercado à razão de 300 por ano. Madre de Água Encruzado 2016 Madre de Água Graduação: 13% Preço: 18€ Pontuação: 89Uma forma diferente de se perceber o potencial dos vinhos da serra num monocasta com estágio em madeira. Boa expressão aromática da casta, com as matizes apetroladas que lhe são características bem conjugadas com toques balsâmicos da barrica. Sedoso, com boa textura e frescura final é o exemplo de um vinho de altitude mais convencional sem, no entanto, revelar o perfil contido que é a marca de água dos vinhos da região. Vale a pena também experimentar o Terras Madre de Água, sem madeira (6 euros/89 pontos), no qual uma menor complexidade é colmatada por uma revelação mais intensa do enorme potencial da Encruzado.
REFERÊNCIAS:
Lourinhanosaurus, ou o dinossauro mais bonito do mundo
O Dino Parque da Lourinhã é perfeito para um passeio em família. São três quilómetros de trilhos, espalhados por quatro percursos distintos, onde é possível encontrar 120 modelos de dinossauros construídos à escala real. (...)

Lourinhanosaurus, ou o dinossauro mais bonito do mundo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.675
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Dino Parque da Lourinhã é perfeito para um passeio em família. São três quilómetros de trilhos, espalhados por quatro percursos distintos, onde é possível encontrar 120 modelos de dinossauros construídos à escala real.
TEXTO: Não é preciso ter uma devoção particular por dinossauros para considerar uma visita ao Dino Parque da Lourinhã, que abriu há pouco mais de três meses na Abelheira, a 45 quilómetros de Lisboa. E se começamos o texto com esta ressalva é para sublinhar, mesmo, que é muito difícil sair deste verdadeiro museu ao ar livre — ocupa uma área superior a dez campos de futebol — sem ficar rendido com a impressionante viagem no tempo que ali é proporcionada a miúdos e graúdos. Portugal está entre os 10 países do mundo com mais géneros de dinossauros aqui descobertos (30 espécies diferentes) e se calhar há muito pouca gente a saber disto. A primeira descoberta de um dinossauro em Portugal foi feita em 1863, e a formação da Lourinhã, uma formação geológica com cerca de 150 milhões de anos, tornou-se rapidamente numa região de grande importância para fazer descobertas destes bichos extintos há milhões de anos e que nos ajudam a perceber a evolução do nosso planeta. A primeira recomendação que podemos deixar é que vá com tempo — uma hora e meia para a visita é o tempo mínimo aceitável. Nos meses de Verão, em que o parque fecha mais tarde (só às 19h), a última entrada permitida é as 17h30 e, sublinhe-se, não há nenhum exagero nisso. O Verão é, porventura, a melhor altura do ano para visitar este parque, já que o ponto alto da visita é indubitavelmente o passeio ao longo dos quatro percursos temáticos (Paleozóico, Triásico, Jurássico e Cretácico), que serpenteiam entre o pinhal noutros tantos trilhos que, somados, nos deixam com cerca de três quilómetros calcorreados. O melhor é ir com tempo, dizíamos, e, se calhar, preparados para um piquenique, que não faltam pelo parque lugares onde apetece parar para sentar e usufruir das actividades e brincadeiras — os mais novos serão “tentados” em vários instantes a ir experimentar um baloiço ou outro tipo de brinquedos comuns nos parques infantis. Os mais velhos poderão sempre entreter-se a ler as placas informativas, onde houve preocupação em contar histórias sem descurar o rigor científico. Convenhamos que os nomes destes bichos não são fáceis de pronunciar, mas, mais importante que isso (perdoem-nos os cientistas), é perceber ao vivo e a cores como é que os seres vivos se foram adaptando ao seu meio ambiente para sobreviver. Dizer ao vivo e a cores é talvez um exagero, porque os mais de 120 animais que estão espalhados pelo parque são meros modelos, construídos numa fábrica da Alemanha. Mas são modelos construídos à escala real, com o maior rigor científico. Que ninguém se espante, logo à entrada, com o tamanho das meganeura, um parente das libelinhas, que foram dos maiores insectos que já habitaram o planeta. Imagine uma libelinha pesar meio quilo. Ler as placas informativas ajuda a perceber que só existiam na altura do período Carbonífero (há 300 milhões de anos), quando a concentração de oxigénio era muito elevada. Uma das grandes curiosidades do Dino Parque é a possibilidade de, pela primeira vez, ser possível visualizar os modelos dos dinossauros descobertos em Portugal, nomeadamente na Lourinhã. Por exemplo, o Torvosaurus gurneyi, o maior predador terrestre do Jurássico, com 11 metros de comprimento, e que habitou o planeta muito antes de existir o agora famoso Tyrannosaurus Rex (e Steven Spielberg e o seu Parque Jurássico têm muita responsabilidade nisso). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O T-Rex, como a maioria das crianças a ele se refere, até pode ser o dinossauro mais famoso, e do qual todos sabem o nome. Mas o elemento mais novo da família cá de casa — que olhou com atenção para todos eles — confessou que o dinossauro que tinha gostado mais de conhecer foi “o maior de todos”, aquele em que os trilhos nos deixam passar por debaixo dele e ter uma noção exacta do seu tamanho. É um Lourinhanosaurus alenquerensis, um herbívoro tão grande (chegava a ter 17 metros de comprimentos e pesava 17 toneladas) que não poderia ser caçado por predadores solitários. “Este é o mais bonito do mundo. ” Porque não deixar o título deste texto à simplicidade da avaliação de uma criança?Para além dos percursos ao ar livre, há no edifício central do Dino Parque alguns argumentos de peso que justificam uma visita. Para começar, o Museu da Lourinhã, onde se exibe o espólio de descobertas paleontológicas na região. E há, também, o laboratório, onde, através de janelas de vidro, se pode observar, ao vivo, a preparação dos fósseis. Depois de visitar ambos, e perceber que o que parecia uma pedra afinal é um fóssil, e que há técnicas para os trabalhar e “produzir ciência”, é natural que os miúdos queiram experimentar ser paleontólogo por uns minutos. E poderão fazê-lo no Pavilhão das Actividades, onde há vários desafios relacionadas com a paleontologia. Rua Vale dos Dinossauros, 25 Abelheira 2530-059 Lourinhã Tel. : 915 888 207; 261 243 160 E-mail SiteHorário: todos os dias, a partir das 10h. O horário de encerramento varia ao longo do ano. Nos meses de Janeiro, Fevereiro, Outubro, Novembro e Dezembro, fecha às 17h; de Março a Maio, às 18h; de Junho a Setembro, às 19h. Preços: as crianças até aos três anos não pagam, pagam 9, 50€ dos quatro aos 12 anos, e dos 13 em diante pagam 12, 50€. Há vários bilhetes de família, sem que os descontos sejam propriamente expressivos: dois adultos e duas crianças pagam 39, 50€
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE