Moreira diz que número de dormidas em AL estabilizou no Porto
Autarquia ainda está a estudar formas de regular o sector, mas não anunciará medidas antecipadamente, como aconteceu em Lisboa. (...)

Moreira diz que número de dormidas em AL estabilizou no Porto
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Autarquia ainda está a estudar formas de regular o sector, mas não anunciará medidas antecipadamente, como aconteceu em Lisboa.
TEXTO: O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, considera que o mercado já está a ajudar, de alguma forma, a conter a expansão do alojamento local na cidade. Segundo o autarca, os dados da taxa turística indicam que o número de dormidas em AL estabilizou, o que não impede o município de procurar, ainda assim, definir medidas de regulação “que não matem a galinha dos ovos de ouro”. E que não passarão, garantiu, por qualquer travão ao licenciamento de novos hotéis. “Quanto ao AL, acreditamos que é preciso regular”, anuiu Moreira na assembleia municipal desta segunda-feira à noite, adiantando que, seja qual for a opção, o que o Porto não fará é anunciar qualquer moratória com um mês de antecedência, como fez Lisboa, opção que teve como efeito imediato uma explosão do pedido de registos de casas para AL na capital. O autarca não deu na altura mais informações sobre a estabilização de dormidas em AL na cidade mas, a pedido do PÚBLICO, o gabinete de imprensa do município acrescentou, já esta terça-feira, que o independente se referia ao facto de os dados da receita do Airbnb, no último trimestre, de Julho a Setembro, terem estabilizado “em cerca de 930 mil euros, valor muito idêntico à receita do 2. º trimestre”. A mesma fonte explicou ainda que, no final de Setembro, o munícipio estava a receber taxas de 81% dos AL registados, valor ligeiramente superior aos 75% que, em Agosto, estavam a cobrar a taxa turística aos seus hóspedes. O independente, que respondia a uma questão da deputada municipal Susana Constante Pereira, do Bloco de Esquerda, anunciou que “em breve” levará aos órgãos municipais uma proposta, que está neste momento a ser trabalhada no gabinete do vereador com o pelouro do turismo, Ricardo Valente. Para essa proposta, explicou, estão a ser analisadas as opções seguidas noutras cidades europeias, e que vão das restrições ao AL em determinadas áreas à limitação do número de dias em que uma casa pode ser arrendada ou à imposição de quotas para AL e para arrendamento de longa duração, em prédios de habitação colectiva. No Porto, segundo dados recolhidos pelo PÚBLICO em Setembro, havia 6738 registos, estando a larga maioria (71, 3%) concentrados na União de Freguesias do Centro Histórico, que junta Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória. A segunda freguesia com mais registos é o Bonfim (887), seguindo-se Lordelo do Ouro e Massarelos (341), Paranhos (282), Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde (171), Campanhã (130) e Ramalde (121). O PÚBLICO consultou o Registo Nacional de Alojamento Local, e verificou que na semana passada houve também um pico de pedidos de registo no Porto, em dois dias, mas nada comparado com o que se passou em Lisboa. Moreira acrescentou que pretende dosear o AL e equilibrá-lo com os contratos de arrendamento de longa duração. O município, insistiu, tem tentado fazer algum trabalho nesse sentido, recorrendo ao direito de preferência na compra de imóveis no centro da cidade, para manter os inquilinos que lá morem. E, aliás, foi no debate provocado pela proposta de aquisição de mais um prédio, na Rua Mouzinho da Silveira, que o tema voltou a ser abordado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Bloco de Esquerda, que apoia, como a CDU, o PS e o PAN, esta política de aquisição de prédios de habitação pelo município, insistiu que o preço das casas na cidade do Porto aumentou 20% e que “o número de habitações convertidas em alojamento local supera já o número das habitações com arrendamento de longa duração”. Por isso, argumentou Susana Constante Pereira, a estratégia do município na área da habitação não se pode ficar pelo exercício do direito de preferência, considerando urgente a suspensão de novas licenças de alojamento local na cidade. Já o PSD insiste que o município não deveria estar a comprar casas, a preços especulativos, “aquecendo ainda mais o mercado imobiliário”, criticou o deputado Francisco Carrapatoso. Os sociais-democratas questionaram a ausência de informações, na proposta, sobre o número e o tipo de contratos de arrendamento que a medida permite manter, queixa partilhada pela CDU. Sobre isto Rui Moreira disse que os oito dias seguidos que a câmara tem para decidir o exercício do direito de preferência não são suficientes para fazer essa análise antecipadamente. O autarca comprometeu-se, ainda assim, a coligir dados sobre o impacto, em termos de arrendamentos preservados e características das pessoas abrangidas, das aquisições que já foram concluídas. E deixou um número, para tentar desmontar a crítica do PSD sobre o carácter especulativo destas compras. Dos 4524 casos de transacções analisados pelos serviços desde 2016, insistiu, apenas em 67 casos, ou seja 1, 5% do total, o município exerceu, efectivamente, este direito.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD
Haddad já tinha vida difícil contra Bolsonaro e Ciro Gomes não facilita
Candidato do PT afastou-se da imagem de Lula da Silva, mas os apoios não aparecem. O PDT de Ciro Gomes deu-lhe um apoio frio e o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso mantém uma posição morna. (...)

Haddad já tinha vida difícil contra Bolsonaro e Ciro Gomes não facilita
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.03
DATA: 2018-11-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Candidato do PT afastou-se da imagem de Lula da Silva, mas os apoios não aparecem. O PDT de Ciro Gomes deu-lhe um apoio frio e o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso mantém uma posição morna.
TEXTO: O sprint final de Fernando Haddad para alcançar Jair Bolsonaro na corrida pela Presidência do Brasil está a encontrar ainda mais obstáculos do que se previa antes da realização da primeira volta, que o candidato da extrema-direita quase venceu sem precisar de repetir a ida às urnas. No final da primeira semana após a realização da primeira volta, que era importante para se perceber se o candidato do PT poderia contar com a maioria dos votos que não foram para Bolsonaro, Haddad viu ser publicada uma sondagem que mantém o fosso em relação ao seu adversário – e teve outras más notícias. Um dos caminhos possíveis para encurtar essa distância de entre 15 e 16 pontos era receber um apoio claro e empenhado de Ciro Gomes, o candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT), de centro-esquerda, que ficou em terceiro lugar na primeira volta, com 12%. Se Haddad pudesse contar com a esmagadora maioria dos mais de 13 milhões de votos que foram para Ciro Gomes, teria um caminho mais desafogado para se aproximar de Bolsonaro. Mas o resultado das conversações entre os dois, esta semana, não garante que seja esse o cenário final. Ciro Gomes e o seu PDT limitaram-se a dar um "apoio crítico" ao candidato do PT, que na prática se traduz em duas ideias principais, segundo o jornal Folha de S. Paulo: criticar Bolsonaro sem falar de Haddad, e dessa forma posicionar-se como alternativa a ambos numa eventual futura candidatura à Presidência. Esse apoio frio e distante ficou ainda mais vincado quando Ciro Gomes decidiu partir para uma visita ao estrangeiro, onde deverá ficar até ao fim da próxima semana – tornado inviável um apoio mais visível, com comparências em comícios ao lado de Haddad, por exemplo. As contas que muitos analistas faziam antes da primeira volta – somando a maioria dos votos da oposição a Bolsonaro aos votos de Haddad, permitindo-lhe vencer a corrida na segunda volta – levantam agora uma questão que "não é aritmética, é político-eleitoral", escreve Eliane Cantanhêde no jornal Estadão. "E, aí, a conta não fecha", diz a jornalista. "Logo, o desafio do PT para dar a volta por cima não é tirar voto do adversário, mas pescar votos dos candidatos derrotados. O principal deles é Ciro, porque teve mais votos e porque 70% dos seus eleitores, segundo o [instituto] Datafolha, tendem a votar em Haddad", escreve Eliane Cantanhêde. Uma estratégia que dificilmente terá o sucesso de que Haddad precisa depois de Ciro Gomes ter declarado o seu "apoio crítico". Acresce que Haddad tem outro adversário de peso nestas eleições: o próprio PT. "Os 16 pontos de vantagem de Bolsonaro no Datafolha indicam que o medo não é de Haddad, mas do PT", escreve o jornalista José Roberto de Toledo na revista Piauí. "A grande maioria dos eleitores não conhece Haddad o suficiente para odiá-lo nem para temê-lo. Não nessa intensidade e quantidade. Se não é da pessoa física, só pode ser da jurídica. É manifestação do antipetismo, e isso diferencia a eleição de 2018 das outras em que o medo venceu", diz Roberto de Toledo. Para além do "apoio crítico" do PDT, Haddad conta com o apoio sem reservas do Partido Socialista Brasileiro (que não apresentou candidato às eleições) e do Partido Socialismo e Liberdade, cujo candidato, Guilherme Boulos, teve apenas 0, 58% dos votos na primeira volta. Nas duas semanas que faltam até à segunda volta, marcada para 28 de Outubro, Haddad e o PT terão de continuar a tentar convencer outras personalidades da política brasileira a declararem um apoio inequívoco à sua candidatura – mesmo que seja um voto útil contra Bolsonaro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas a ideia de unir uma "frente democrática" também tem esbarrado na indefinição de personalidades como o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso e Joaquim Barbosa, antigo presidente do Supremo Tribunal Federal. Nos últimos dias foram tornados públicos vários apelos para que Henrique Cardoso apoie de forma clara Haddad e critique Bolsonaro – de um grupo de advogados de São Paulo, ao filho do jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado pela ditadura militar em 1975, passando pelos portugueses Manuel Alegre e João Soares. Mas, apesar de o ex-Presidente brasileiro ter criticado o candidato de extrema-direita em várias ocasiões, começando numa entrevista à revista Veja há 26 anos, o apoio convicto a Haddad e ao PT tem sido difícil de articular. E o seu partido, o PSDB, declarou-se neutro na quarta-feira – dividido entre a linha mais centrista de Cardoso e do seu candidato às presidenciais, Geraldo Alckmin, e a corrente pró-Bolsonaro de João Doria, o candidato a governador de São Paulo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho tribunal medo
E quem nos devolve mais de mil horas de vida?
O problema é que não é o populismo futebolístico que justifica a cobertura mediática. É ao contrário: a incessante cobertura mediática é que gera também o populismo futebolístico. (...)

E quem nos devolve mais de mil horas de vida?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O problema é que não é o populismo futebolístico que justifica a cobertura mediática. É ao contrário: a incessante cobertura mediática é que gera também o populismo futebolístico.
TEXTO: No dia em que foi invadido o centro de treinos do Sporting dezenas de pessoas tinham sido mortas na Faixa de Gaza. Espera, vamos voltar atrás. Esta frase está ao contrário. Naqueles dias em que dezenas de pessoas foram mortas na Faixa de Gaza, o centro de treinos do Sporting foi invadido por um bando de agressores organizados que atacaram os jogadores do clube. Notícia rara e importante, sem dúvida. Notícia que transcendia em larga medida os âmbitos do noticiário desportivo, se é que esse conceito ainda faz sentido e que não vivemos já numa fantasia mediática em que tudo é noticiário desportivo e é o resto da realidade a precisar de um secção pequenina lá para o fim dos telejornais. Seja como for, o ponto é este: desde esse dia até agora mais de mil horas de noticiário nas televisões e rádios foram dedicadas aos acontecimentos ligados à direção do Sporting (os dados são de uma empresa que recolhe dados para media e empresas, a Cision, e davam 911 horas de Sporting/Bruno de Carvalho até 18 de junho; com a aproximação da Assembleia Geral do clube que destituiu o agora ex-presidente a contagem deve ter ultrapassado largamente as mil horas). Não só Portugal estava a falar de futebol quando o resto do mundo estava a falar de Israel e da Palestina, como Portugal estava a falar de Bruno de Carvalho muito mais do que de futebol propriamente dito. O Aves ganhou a Taça de Portugal e ninguém lhe ligou. O FC Porto ganhou o campeonato e teve direito a cerca de um terço do noticiário que teve o Sporting. Só a participação de Portugal no Campeonato do Mundo de Futebol deu finalmente alguma luta. Alguns poderão dizer que esta recente explosão de populismo futebolístico merecia não só destaque noticioso como até esta espécie de monocultura mediática em que vivemos. O problema é que não é o populismo futebolístico que justifica a cobertura mediática. É ao contrário: a incessante cobertura mediática é que gera também o populismo futebolístico. Bruno de Carvalho dava “boa televisão” no sentido em que dava audiências. E audiências dão dinheiro, num panorama televisivo apinhado de canais e grupos de comunicação que já viram melhores dias em termos de viabilidade financeira. Na ausência de auto-regulação, entra-se numa espiral de desespero: se o canal vizinho mostrou ontem meia hora da conferência de imprensa de Bruno de Carvalho, nós vamos mostrar uma hora; se um opositor a Bruno de Carvalho estava num canal, a Bruno de Carvalho era fácil estar em todos os canais na mesma noite. E por aí afora, até ao dia em que até um candidato de extrema-direita à presidência da Juve Leo já conseguia cobertura a todas as horas em certos canais de televisão por cabo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A seguir chegam os argumentos da relevância social do futebol e dos clubes em particular, que ninguém nega, para se justificar este género de saturação de todo o espaço televisivo (e radiofónico) disponível. Ora, uma coisa é relevância do futebol e dos clubes, outra coisa é a relevância das guerras internas dos clubes. Anteontem foram votar às eleições do Sporting cerca de 15 mil pessoas; um pouco menos de dez mil terão destituído Bruno de Carvalho. Mesmo neste tempo de decadência da indústria livreira, ainda há muitos autores que vendem tantos livros (sem que as televisões falem deles) quanto Bruno de Carvalho teve de pessoas a votar nele. Mas poder-me-ão dizer, finalmente, que isto é assim em todo o lado e que mais vale acomodarmo-nos. Não é verdade. Há noutros países clubes importantes que foram à falência, se extinguiram ou baixaram de divisão sem que isso merecesse da parte das televisões esta espécie de waterboarding noticioso a que fomos sujeitos. Na Itália, que está longe de ser bom o exemplo, o caso da Juventus ou o da Fiorentina não tiveram direito a uma cobertura sequer perto do que agora aconteceu em Portugal com o Sporting. E quanto à pergunta com que começámos esta crónica? A resposta é que ninguém nos vai devolver as mais de mil horas de vida e de espaço público que perdemos para este caso. Resta-nos, como prémio de consolação, aprender com elas. Tal como alguns comentadores compreenderam finalmente, com o populismo e tribalismo clubístico, os perigos do populismo e tribalismo político que menorizaram antes, pode ser que aprendamos todos que a saturação do espaço público tem consequências. E que não podemos continuar como até aqui: ou há auto-regulação ou deve haver uma ação da Entidade Reguladora da Comunicação Social que ajude a garantir um mínimo de relevância e diversidade nos conteúdos da nossa esfera pública televisiva.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social género espécie aves
Nick Cave atira-se de braços abertos ao mundo
É a digressão de que toda a gente fala e que não vai passar por Portugal. Nick Cave, os Bad Seeds e o público que invade o palco, noite após noite, têm contribuído para um regresso emocional à vida depois da tragédia e da edição recente da antologia Lovely Creatures. (...)

Nick Cave atira-se de braços abertos ao mundo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: É a digressão de que toda a gente fala e que não vai passar por Portugal. Nick Cave, os Bad Seeds e o público que invade o palco, noite após noite, têm contribuído para um regresso emocional à vida depois da tragédia e da edição recente da antologia Lovely Creatures.
TEXTO: É um dos mais carismáticos performers da música popular em actividade. Não é de se defender em palco. Pelo contrário. Esse é o espaço por excelência onde se tem exposto ao longo de mais de 35 anos de carreira. Ainda assim, a presente digressão de Nick Cave e dos Bad Seeds, tem surpreendido. Nunca se o viu tão próximo do público para se deixar envolver por ele e este tão disponível para o receber nos seus braços, forma talvez de ele se reconciliar com o seu mundo depois da tragédia. “Não quero que as pessoas venham aos concertos e se envolvam no drama de outra pessoa”, dizia Nick Cave ao The Guardian em Maio, numa das raras ocasiões em que depois da morte do filho de 15 anos, Arthur, e posterior edição do álbum Skeleton Tree (2016), falou à comunicação social. “Quero que os concertos sejam inspiradores e que as pessoas saiam a sentir-se melhor do que quando entraram”, dizia no início de uma digressão que já passou pela Austrália, que está neste momento nos EUA, e chegará à Europa em Setembro, sem qualquer data portuguesa, naquela que é a talvez a maior omissão do calendário luso de concertos de 2017. Nick Cave and The Bad Seeds Autoria:Nick CaveBMGÉ normal que Nick Cave tenha proferido tais palavras. Mas também é inevitável que a ressonância desse acontecimento traumático, ocorrido no Verão de 2015 em Brighton, esteja patente nos espectáculos, nem que seja de forma subliminar, tendo em atenção que tem apresentado sete das oito canções que constituem o comovente Skeleton Tree, onde a morte do filho às vezes é aludida de forma directa, mas a maior parte das vezes é-o alegoricamente, estando lá como subtexto. O álbum, mais do que um momento de catarse, parecia mostrar alguém a agarrar-se à vida através da maneira que sabe: criando canções. Agora os concertos parecem ser ele a regressar paulatinamente à existência, depois de algumas alturas em que, como confessou, lhe foi difícil lidar com a perda. Dir-se-ia que existem muitas formas de reagir a acontecimentos funestos – há quem se feche sobre si próprio, mas também quem se abra ao mundo – e ele parece estar mais próximo desta segunda categoria. Abandonar-se à assistênciaNo início tentou controlar, até onde isso é possível, a comunicação com o exterior (através da feitura do documentário One More Time With Feeling, realizado por Andrew Dominik, e pela ausência de declarações). Mas agora em palco as emoções foram mesmo libertadas. O impulso inicial foi esconder-se do público, como referia na entrevista ao The Guardian, até que ele e a mulher perceberam que sofrer abertamente podia ter efeitos benéficos, em vez de se enclausurarem num universo de memórias. Depois da exibição do documentário, ele e a mulher foram inundados por mensagens de pessoas que passaram por lutos e que quiseram partilhar as suas experiências, o que, segundo ele, os ajudou a lidar com a situação. Os concertos parecem agora funcionar da mesma forma. Os relatos, as fotos e os vídeos dos espectáculos parecem dar conta disso, em momentos de raiva ou de emocionante beleza, sem nunca deixar de lado o sentido de humor na interacção que estabelece com a assistência deste o início. Não apenas para a provocar, como tantas vezes fez, mas para se abandonar a ela, incentivando até à invasão de palco nas canções finais, com ele, os músicos e a assistência parecendo fazer parte do mesmo ritual de comunhão, num misto de bênção e celebração. Não é propriamente novo. É o tipo de performer que ultrapassa com facilidade a linha que separa palco e plateia, mas desta vez dir-se-ia que essa conexão emocional tem sido levada a um novo patamar, sem deixar de estar presente pudor. Mas nem só das admiráveis canções do último álbum têm vivido esses concertos. O resto do alinhamento tem sido constituído por uma dúzia de temas que estão incluídos na recente e mais completa antologia (Lovely Creatures: The Best of Nick Cave and The Bad Seeds – 1984-2014) alguma vez editada por ele, que existe em diversas versões – de apenas 2CD, até uma que contém três CDs, um livreto e um DVD com actuações ao vivo ou entrevistas. No total são 45 canções seleccionadas pelo próprio Nick Cave e por um dos outros fundadores dos The Bad Seeds, Mick Harvey. “Este disco pretende ser uma porta de entrada num catálogo de mais de três décadas de música”, disse, tentando justificar as escolhas. “É muita canção. Algumas são obrigatórias dos concertos. Outras são menos conhecidas e estão entre as nossas favoritas. Outras são demasiado grandes e têm demasiada história para podermos deixá-las de fora. E ainda há as que não conseguiram entrar, coitadas. Essas terão de as descobrir sozinhos. ”É uma antologia que começa em From her to eternity, quando a fúria arrebatada herdada do pós-punk dos Birthay Party ainda se fazia sentir, até ao delicado Push the sky away, passando pela vertigem de The mercy seat, a elevação de Straight to you, a cólera de Loverman, a abnegação de Into my arms, o lirismo de Love letter, ou a exuberância de Jubilee street, numa viagem entre tensão, drama e romanticismo, quase sempre com muito blues e rock pelo itinerário. Ao longo dos anos, como este conjunto admirável de canções expõe, permitiu-se ser anjo, demónio, apocalíptico, mergulhando de cabeça na sarjeta da vida mas também sendo revigorado por ela, abordando os temas que sempre fizeram parte da sua lírica: vida, morte, religião, sexo, amor. É uma compilação que parece funcionar como organizadora do seu momento actual. E isso tem sido perceptível nos concertos, com ele a afirmar que a sua relação com as canções vai mudando com os anos. Enquanto os temas do álbum mais recente são desnudadas e elegíacas, a maior parte das vezes não necessitando mais do que voz, piano, sintetizador ou ocasionais sugestões rítmicas, o resto das canções, repescadas do seu catálogo, são baladas sombrias ou sonhos delirantes, com elementos sonoros a entrelaçarem-se, vogando por entre as sílabas. No centro dessa versatilidade parece estar Warren Ellis. Ao longo dos anos Nick Cave and The Bad Seeds foi sempre um grupo. Ou seja, Nick Cave é um Bad Seed. É claro que é fácil focarmo-nos nele. Ele é o arquitecto e o instigador. Mas é vital reconhecer que à sua volta tem tido um naipe de notáveis músicos. Como disse uma vez Mick Harvey, ao lado de Blixa Bargeld, talvez o mais conhecido dos seus colaboradores do passado, “seria muito difícil para ele trabalhar com músicos de sessão. Ele precisa de pessoas a sério que se relacionem com as suas ideias idiossincráticas – quando começamos uma canção ele traz directivas sobre a atmosfera a desenvolver, mas depois seguimos nós e as coisas começam a acontecer. ”Hoje é Warren Ellis, colaborador de longa data de Nick Cave, tanto nos The Bad Seeds, como nos Grinderman, ou ainda na composição de bandas-sonoras, a compreendê-lo melhor do que ninguém. Foi ele que percebeu que a interpretação vulnerável no último álbum necessitava de repousar em poucos elementos, com a sonoridade ampla e as subtis alusões ambientais a criarem o necessário espaço para a voz sobressair. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Hoje, para além de Warren Ellis (violino, guitarra, piano, teclas), faz-se acompanhar por Thomas Wyler (bateria, percussões, vozes), George Vjestica (guitarra), Martyn P. Casey (baixo, vozes), Jim Sclavunos (percussão, bateria, órgão, vibrafone, vozes), Conway Savage (piano, órgão, vozes) e Toby Dammit (teclados), ou seja um notável grupo de músicos experimentados que o amparam. Mas mais do que meros executantes, como referia Mick Harvey, são também pessoas criativas. “Sem o seu alento e a sua presença nada disto teria sido possível”, afirmou na Austrália natal, depois do primeiro concerto da presente digressão. É provável que se estivesse a referir apenas ao seu regresso aos concertos. Mas mais do que um retorno aos palcos, o que se tem visto nas salas de espectáculo por onde tem actuado é uma reconciliação consigo próprio depois de tempos difíceis, traduzida numa nova forma de se relacionar com as canções, com a sua memória e, principalmente, com o público.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Em Portugal também dá para ir daqui ali e pouco (ou nada) poluir
A viagem ambientalmente sustentável segue por cá. Alternativas há, ideias também – duas delas podem morar no ecrã do telemóvel e lançam desafios que descartam carros. Outras apontam para a extinção das lombas, tudo por um bom motivo. (...)

Em Portugal também dá para ir daqui ali e pouco (ou nada) poluir
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.18
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: A viagem ambientalmente sustentável segue por cá. Alternativas há, ideias também – duas delas podem morar no ecrã do telemóvel e lançam desafios que descartam carros. Outras apontam para a extinção das lombas, tudo por um bom motivo.
TEXTO: Acabámos a lista de projectos de mobilidade no estrangeiro com uma proposta do Governo holandês: pedalar para o trabalho por recompensas monetárias. A viagem ambientalmente sustentável segue, agora, por Portugal, a partir de Lisboa. A aventura da Biklio começou mesmo na capital, mas já “houve testes em Braga e em Torres Vedras”, estando a ser preparado “o lançamento em Aveiro”, avança João Bernardino, da startup. É mesmo isso: pedalar por benefícios em lojas que cooperam com a aplicação (disponível para Android e iOS), que rastreia a actividade de quem a usa através “da vibração detectada”. Depois, na loja, é só confirmar o exercício feito e receber a recompensa. Para além disso, pode-se comer sem culpas — andar de bicicleta conta sempre como exercício físico. A saga das bicicletas continua, agora com a oportunidade de se escolher mais do que um destino; desta vez, a partir de duas universidades. O Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) quer ver os seus alunos, professores e funcionários a deslizar pelos campi nas Bira a partir deste mês. São 200 bicicletas (160 eléctricas e 40 convencionais) espalhadas pelas seis escolas do IPVC, que se encontram em Viana do Castelo, Ponte de Lima, Valença e Melgaço. Em comunicado, Carlos Rodrigues, vice-presidente do IPVC, apontou que o objectivo é “a sensibilização da academia e, através da academia, a sociedade em geral, para a necessidade de se substituir a mobilidade assente nos combustíveis fósseis para uma mobilidade ‘suave’. ” Para além das Bira, também serão oferecidos capacetes, cadeados, minibombas e kits de ferramentas. O IPVC é uma das 15 instituições académicas que receberam as bicicletas da U-Bike Portugal, um projecto do POSEUR - Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos. As bicicletas podem também ser encontradas nas academias de Bragança, Vila Real, Porto, Covilhã, Évora ou Beja. Gémeos rijos? A descansar também é possível ajudar, igualmente, a atingir objectivos de mobilidade sustentável; desta vez, ao telemóvel. A proposta da Mobility Urban Values (MUV) é um jogo — com níveis para desbloquear de acordo com os pontos conquistados — que também serve de “observatório” para um projecto de investigação e inovação financiado pela Comissão Europeia, o Horizon 2020. Em Portugal, brinca-se no Fundão. A cidade é uma das seis escolhidas pela MUV, que analisa os hábitos de mobilidade dos seus utilizadores. Amesterdão, Barcelona, Gent, Helsínquia e Palermo também entram na brincadeira. A aplicação quer “promover uma mudança para escolhas de mobilidade sustentáveis e saudáveis”, encorajando os jogadores a realizar uma série de desafios. Terminada a tarefa, há recompensas no comércio local das cidades. Tudo isto para permitir que se “aprimorem os processos de planejamento” e para “criar novos serviços capazes de melhorar a qualidade de vida das cidades de maneira mais eficaz”, explica a página da app do Fundão. Da Beira Baixa seguimos directos para Olhão, a espreitar a Ria Formosa. É possível que por lá se encontre o Sunsailer 7. 0, um barco movido a energia solar, criado mesmo ali, no Algarve, pela Sun Concept. João Bastos, director-geral da empresa nascida em 2015, explica que o Susailer é “ideal para zonas costeiras protegidas ou rios” — e é por isso que também o podemos ver pelo Minho, Aveiro ou Cascais. Na verdade, os 18 barcos (para já) construídos pela empresa algarvia encontram-se “um pouco por todo o país”. A embarcação movida pelo sol aguenta-se até nove horas sem ele e tem espaço para 12 pessoas, estando preparado para “turismo marítimo, pesca ou mergulho”. Ainda por pousar no mar está o primeiro catamarã da Sun Concept, o Cat 12. 0, que está em fase de acabamento. “É um barco pronto para mar aberto, leva 25 pessoas e pode enfrentar vagas de seis metros e vento forte”, aponta João Bastos, que explica ainda as possibilidades do catamarã: “Pode servir para turismo de alta qualidade, mergulho e também fazer pequenas carreiras, transportando os ocupantes. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A inovação tecnológica, a modificação de comportamentos e todas as dúvidas sobre as crescentes soluções que vão surgindo são apenas alguns dos temas em discussão no dia 30 de Outubro, num open day organizado pelo PÚBLICO, com o objectivo de partilhar conhecimentos, ideias e boas práticas sobre o impacto da mobilidade na vida das pessoas e nas cidades e o futuro que nos espera no nosso dia-a-dia. No Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a partir das 9h de dia 30. Enquanto esperamos pelo catamarã, podemo-nos fazer à estrada e seguir para outras paragens. Pelo caminho, o carro faz com que os postes de luz, os semáforos ou as passadeiras se iluminem. É mesmo na estrada, com o carro a saltitar entre lombas, que encontramos o último destes exemplos: o pavimento da Pavnext, uma startup portuguesa, que não tem só uma função. Além de substituir as desconfortáveis lombas das estradas, o pavimento também desacelera o veículo (mesmo sem o pé no travão) e, sem repararmos, capta-lhe “a energia cinética e converte-a em energia eléctrica”. A tudo isto acrescenta-se a recolha de “dados de velocidade e tráfego” e de “energia gerada e consumida” — informações relevantes sobre “a circulação rodoviária e o consumo energético para as cidades inteligentes”, explicou ao P3 Francisco Duarte, da Pavnext, em Outubro de 2017, quando a venceu ganhou um dos prémios do Climate Launchpad, “o maior concurso de ideias de combate às alterações climáticas do mundo. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave consumo
A CP e a ferrovia num Portugal com futuro
Enquanto todos os países investem na sua rede ferroviária, Portugal negligencia e deixa até que os carris sejam arrancados e vendidos como ferro velho. É impensável que se conceba uma ideia de país sem uma ferrovia forte. (...)

A CP e a ferrovia num Portugal com futuro
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Enquanto todos os países investem na sua rede ferroviária, Portugal negligencia e deixa até que os carris sejam arrancados e vendidos como ferro velho. É impensável que se conceba uma ideia de país sem uma ferrovia forte.
TEXTO: Longe vão os tempos em que a deslocação humana era realizada por via de esforços heróicos de locomoção lenta, pesada e penosa. Não nos é possível imaginar o que seria se para nos deslocarmos a determinado ponto do nosso pequeno país tivéssemos de caminhar durante dias ou galopar a cavalo até finalmente chegarmos ao nosso destino. As evoluções foram várias e fundamentais, mas houve, num certo tempo, uma evolução significativa na movimentação de pessoas pelo mundo: o comboio. Em Portugal, o comboio foi e é um meio importantíssimo de coesão do território, de aproximação de regiões e de vidas, um meio de ligação estreita entre todos os portugueses. Mesmo com o aparecimento e proliferação dos automóveis e com os aviões a rasgarem os céus, muitos milhões continuam a usar o comboio, seja por maior facilidade no embarque, seja porque fica mais em conta em relação aos carros. Infelizmente, há muitos anos que assistimos ao desmantelamento da nossa rede ferroviária e à degradação da CP, o que torna cada região do país um pouco mais longe. Enquanto as indústrias petrolíferas vão enchendo os bolsos e os privados arreganham os dentes, nós ainda não nos apercebemos que a CP é nossa e que é nossa responsabilidade mantê-la, preservá-la e melhorá-la. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Basta conhecer um pouco do nosso país para nos depararmos com estações e terminais ferroviários imponentes a caírem aos bocados, assim como com a degradação de terras que antes tinham acesso ao comboio e vivem agora na ditadura do petróleo. A CP tem vindo a ser reiteradamente negligenciada, abandonada aos poucos. O material circulante é cada vez menor e o que existe está em muitos dos casos degradado. Os comboios são cada vez menos e menos regulares, bem como é a qualidade posta ao serviço dos utentes. Não são dadas as merecidas condições de trabalho a quem dedica uma vida ao serviço da CP e são muitos os que são obrigados a sair. Os preços praticados começam a ser insustentáveis para quem se serve deste transporte para se movimentar todos os dias. Tudo isto tem vindo a acontecer para que, quando já estivermos todos fartos dos atrasos, das supressões e do calor por falta de climatização, possam entregar a empresa a privados sob a égide de má gestão pública ou incapacidade da mesma para manter uma empresa do tamanho e importância dos Comboios de Portugal. No dia em que tal acontecer, o objectivo primordial da empresa não vai ser mais o bem-estar, o aproximar, o ligar, mas sim o lucro. Simples lucro. Enquanto todos os países investem na sua rede ferroviária, Portugal negligencia e deixa até que os carris sejam arrancados e vendidos como ferro velho. É impensável que se conceba uma ideia de país sem uma rede ferroviária forte, extensa e sem uma empresa robusta e pública que ligue todos os portugueses. Vamos lá largar os cordões à bolsa e investir de uma vez por todas na modernização das linhas, reforço do material circulante e, sobretudo, na confiança que todos devemos ter na nossa CP. Pública, robusta, de todos e para todos.
REFERÊNCIAS:
Rádio Faneca volta a dar música (e outras coisas mais) a Ílhavo
Festival toma conta do centro histórico de sexta-feira a domingo e a população local volta a assumir um papel activo em muitas das performances e actividades previstas. (...)

Rádio Faneca volta a dar música (e outras coisas mais) a Ílhavo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Festival toma conta do centro histórico de sexta-feira a domingo e a população local volta a assumir um papel activo em muitas das performances e actividades previstas.
TEXTO: Ruelas estreitas e uma boa dose de becos e vielas. O centro histórico de Ílhavo quase parece um labirinto e, para quem chega de fora, o mais provável é que se sinta a “Andar à Nora”, expressão popular que acaba por dar nome a uma das novidades da edição deste ano do Festival Rádio Faneca. Um percurso artístico que convida à desorientação pelos becos de Ílhavo, que desafia a ouvir e a apreciar a vida das vielas, e que é apenas uma das muitas propostas da edição deste ano do festival que foi buscar o nome (e a inspiração) à emissão sonora que, antigamente, animava o espaço público. O Rádio Faneca arranca esta sexta-feira e prolonga-se até domingo, voltando a colocar a população local como co-organizador e interveniente nas actividades previstas. Os concertos voltam a ser uma das apostas fortes do cartaz desta que é já a sexta edição do festival ilhavense. Diabo na Cruz, Conan Osíris, Flak, Moonshiners, Bruno Pernadas (no palco do Jardim Henriqueta Maia), João Berhan, Lince, Pedro de Tróia, Les Saint Armand (nos becos) e Joana Espadinha (no Aquário dos Bacalhaus) terão a seu cargo a componente musical do festival. Mas não serão os únicos protagonistas da festa, uma vez que o festival também se faz de performances, visitas guiadas, jogos, entre outras actividades. Este é um festival de “projectos especiais”, destaca a organização, sem esquecer essa componente essencial: há uma rádio a sério, que se instala no Jardim Henriqueta Maia e que se faz ouvir durante os três dias do festival - emite em FM, em 103, 9 (sendo possível ouvi-la em Ílhavo e arredores) e também online (em áudio mas também em vídeo). “Este ano, ela volta a ser também um palco e a receber não só rubricas com convidados especiais, como concertos e outros momentos inéditos”, destacou Luís Ferreira, programador do 23 Milhas – projecto cultural de Ílhavo. Outro dos dados já adiantados em relação à programação radiofónica, é que ela celebrará a palavra, em especial o linguajar ilhavense – haverá uma entrevista a Domingos Cardoso, autor de Palabras co bento no leba, a poesia local também se fará ouvir, entre outras apresentações. A Orquestra da Bida Airada, que era já uma das marcas fortes do Festival Rádio Faneca, “deixa arrumados os seus cinco anos em disco e assume uma nova cara, o projecto Bida Airada, que se reproduzirá em diversas manifestações, orientadas pela Ondamarela, ao longo do ano, para além do festival, e sempre, ainda, em comunidade”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E por falar em comunidade, o projecto Casa Aberta volta a ser uma das referências do programa, orientado este ano pela artista Marina Palácio, que convida os anfitriões a pensar as suas histórias e a relacioná-las com a fauna e a flora da região. Quem também está de regresso são as Histórias nos Becos, trabalhadas por Cláudia Gaiolas, bem como os jogos tradicionais do Hélder, que rumam do Jardim Henriqueta Maia aos becos. Entre as novidades da edição do festival que tem entradas livres está, então, o “Andar à Nora”, produzido pela Burilar. Na prática, é um mapa-jogo que oferece a oportunidade de os participantes “se perderem e de escolherem os desafios a enfrentar enquanto vivem a vida de vizinhos”. O ponto de partida é dado através de “um jogo de cartas que é distribuído aos participantes”, desvenda Lara Soares, da Burilar. Neste jogo, que se inicia a partir do desenho de um mapa que cruza o território aparente e a memória, a proposta passa por, através de objectos instalados no espaço público, escutar, conversar, imaginar e apreciar a vida dos becos. Um percurso que vai repetir-se nos três dias de festival e em vários horários. Nos três dias, a programação estende-se entre as 10h00 e as 02h00, reservando, também, espaço e actividades para os mais novos. Na Calçada Carlos Paião, nos três dias do festival, entre as 10h00 e as 18h00, acontece uma Oficina do Brincar.
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Palavras-chave comunidade
Em França, está a nascer uma cidade para dar liberdade a quem sofre de Alzheimer
É a segunda do estilo na Europa e foi inspirada na pioneira, construída nos arredores de Amesterdão. O objectivo é garantir a normalidade e a segurança de quem vive com demência. (...)

Em França, está a nascer uma cidade para dar liberdade a quem sofre de Alzheimer
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: É a segunda do estilo na Europa e foi inspirada na pioneira, construída nos arredores de Amesterdão. O objectivo é garantir a normalidade e a segurança de quem vive com demência.
TEXTO: Há um projecto inovador a crescer numa pequena cidade do sudoeste de França: uma localidade construída de raiz para albergar quem sofre de demência. É a primeira do estilo em França e a segunda na Europa – o modelo francês foi inspirado num mais antigo, aplicado na Holanda. Em 2019, data prevista da sua conclusão, vai receber cerca de 120 residentes permanentes, que viverão numa cidade em miniatura, construída de forma a preservar a sua liberdade e a garantir a sua segurança. A cidade perto de Dax, em Landes, tem sete hectares, divididos em quatro zonas, com um supermercado, cabeleireiro, restaurantes, uma livraria e uma pequena quinta – serviços que estarão já preparados para os residentes, que sofrem de Alzheimer. O objectivo é “manter a participação dos residentes na vida social”, explica o neurologista e epidemologista do hospital universitário de Bordéus, Jean-François Dartigues, ao diário francês Le Monde. Os residentes vão habitar casas partilhadas, desenhadas para reflectir os seus gostos pessoais e acompanhados de cuidadores, que viverão com eles. A ideia é sair da atmosfera de hospital: não há tratamentos medicamentosos, e os cuidadores vão usar roupas e não batas, escreve a BBC. Os pacientes vão estar confinados à cidade para sua própria segurança, mas podem mover-se livremente dentro das instalações, circular pelos jardins e fazer compras em lojas e mercearias. “Esperamos que os pacientes se sintam menos constrangidos e ansiosos, mais felizes. O mesmo para os trabalhadores médicos”, disse Françoise Diris, presidente da Associação francesa de Alzheimer dos Landes. “As famílias também vão estar mais relaxadas e vão sentir-se menos culpadas”, acrescentou, em declarações ao Le Monde. Esta ideia foi inspirada numa outra, de origem holandesa, que o ex-ministro francês Henri Emmanuelli quis adaptar à realidade de Landes, onde oito mil pessoas sofrem de doenças neuro-degenerativas. Uma grande parte do orçamento será público. Estima-se que a factura se cifre nos 29 milhões de euros e que, anualmente, se gastem sete milhões em gestão. Às famílias, custará cerca de 66 euros por dia – o mesmo que numa casa de repouso “comum” em França. Ao contrário do que acontece na Holanda, o modelo francês vai ter uma unidade de investigação, para perceber se este método é mesmo o melhor, comparativamente ao internamento em hospital. Os investigadores vão viver com os residentes, assim como 100 cuidadores. Pontualmente, 120 voluntários vão garantir as actividades de animação e vários cães vão auxiliar o apoio psicológico aos residentes. Em Weesp, cidade na Holanda, perto de Amesterdão, esta ideia já não é uma novidade. Há uma instituição, nos mesmos moldes, que funciona desde 1993 e onde vivem pacientes em estágios avançados de demência. “Ajudamos pessoas com demência média ou avançada a sofrer um bocadinho menos nos anos que lhes restam”, disse o gestor Eloy Van Hal ao Business Insider, numa entrevista em 2017. Neste complexo foram instaladas 23 casas, cada uma delas com seis ou sete residentes e um cuidador que cozinha, ajuda a fazer as compras e vigia os residentes para garantir a sua própria segurança. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O objectivo é que os pacientes se sintam em casa e que continuem a realizar as actividades do dia-a-dia, preservando o sentido de autonomia. Há um bingo, um supermercado e até um bar, para estimular o convívio. Existe ainda uma moeda própria que os pacientes podem usar para as transacções. Cada casa tem um orçamento próprio, que os residentes gerem da forma que quiserem, com a ajuda dos cuidadores. Inicialmente, esta instituição foi criada como uma casa de repouso tipo hospital, que foi sendo progressivamente alterada até chegar ao modelo actual. As alterações chegaram porque a direcção foi percebendo que havia uma forma mais humana de oferecer cuidados a pessoas que vivem com Alzheimer e outras doenças causadoras de demência. “Todos os residentes que vivem aqui precisam de tratamentos médicos. Todos eles estão medicados. Todos eles estão num estágio avançado de demência”, disse van Hal ao Business Insider. “Mas acima de tudo são pessoas. "
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Palavras-chave ajuda social cães
Bruno de Carvalho encaminha Marta Soares para a Justiça: “Nós é que estamos a cumprir a democracia”
Presidente do Sporting anuncia reunião magna para dia 17 para aprovação de contas e discutir o clube. (...)

Bruno de Carvalho encaminha Marta Soares para a Justiça: “Nós é que estamos a cumprir a democracia”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Presidente do Sporting anuncia reunião magna para dia 17 para aprovação de contas e discutir o clube.
TEXTO: O presidente do Sporting anunciou nesta quarta-feira que não reconhece a assembleia geral para discutir a demissão da direcção do clube, marcada para dia 23. “Não vai haver assembleia geral. Aquela não vai haver”, afirmou. Bruno de Carvalho revelou que estão, no entanto, marcadas outras duas pela líder da Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral, Elsa Judas: uma com vista a aprovar o orçamento e discutir o Sporting no dia 17 deste mês, e uma outra, a 21 de Julho, para eleger os órgãos sociais que estão demissionários — a Assembleia Geral e o Conselho Fiscal. O presidente dos "leões" falou ainda sobre a saída de Guilherme Pinheiro, que deixou esta quarta-feira o cargo de administrador da SAD, e de Jorge Jesus, que deixou o Sporting e assinou pelo Al-Hilal. “Está marcada para dia 17 uma Assembleia Geral obrigatória por causa do orçamento, em que um dos pontos será ouvir os sportinguistas. E depois uma AG eleitoral, a 21 de Julho, para eleger quem se foi embora [membros demissionários da AG e do Conselho Fiscal] e para os quais há comissões transitórias”, disse o presidente do Sporting. Bruno de Carvalho afirmou, no entanto, que está disposto a avançar com uma assembleia geral para discutir a demissão da direcção se a Mesa da Assembleia Geral apresentar as assinaturas para a sua realização. “Está a subverter-se tudo. Nós é que estamos a cumprir a democracia, fomos legitimamente eleitos”, afirmou, aconselhando a Mesa da Assembleia Geral a “recorrer à justiça” para alcançar os seus objectivos. O anúncio da marcação das Assembleias Gerais pela Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral para dias 17 e 21 foi publicado em alguns órgãos de comunicação social. Bruno de Carvalho teceu mesmo duras críticas a Jaime Marta Soares: "Quando ele ainda era presidente da MAG, quis marcar uma Assembleia que não previa assinatura nenhuma. Não podia. Quem pode marcar são os sócios. Apanhou-nos em Faro e vinha a reconhecer o quê? Depois de convocar uma queria outra? É um embuste. Os sportinguistas estão a sofrer um embuste. ”Bruno de Carvalho assegurou ainda que não apresentará a sua demissão: “Que eu saiba, ainda não apresentei a demissão. Nunca apresentarei. " E assegura não ter medo de eleições: "Há três meses, deram-nos 90%. Porque não vai perguntar ao Pinto da Costa, ao Luís Filipe Vieira, ao António Costa e ao Marcelo Rebelo de Sousa se têm medo de eleições? Está a ver aqui um cão, não vejo um cão. Então não devo ter medo, de certeza absoluta. "A saída de Guilherme Pinheiro da SAD do Sporting, anunciada nesta quarta-feira, foi outro dos tópicos desta conferência de imprensa. Bruno de Carvalho desvaloriza a saída e afasta, de forma peremptória, a possibilidade de queda do Conselho Directivo devido a esta demissão: "O Guilherme Pinheiro era da SAD, não tinha nada a ver com quórum do Conselho Directivo. Tinha três pelouros - controller, Academia e negociações com o mercado", explica o presidente dos “leões”. Por essa razão, defende Bruno de Carvalho, não há perigo de queda da direcção: “Não cai absolutamente nada. O Conselho directivo continua intacto”. “Isto não põe em causa nada nem no Sporting nem na SAD. Nem ao nível do quórum, nem ao nível de trabalho. Zero. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A saída de Jorge Jesus para o Al-Hilal, confirmada nesta terça-feira, também foi referida na conferência de imprensa. Quando questionado sobre o substituto do técnico, Bruno de Carvalho definiu sumariamente o perfil que procura: “é homem”. "Com Jorge Jesus, que faz anos no mesmo dia do meu pai, já combinei que, quando voltar a Portugal, vamos almoçar ao Ritz. Desejo a maior sorte ao Jorge Jesus para este seu novo desafio", afirmou, recusando, porém, dizer se desejava que Jesus continuasse em Alvalade. A única coisa que confirmou foi que “houve mútuo acordo” para a saída do treinador sem lugar ao pagamento de indemnizações. Bruno de Carvalho admitiu também haver "um problema" com a emissão obrigacionista prevista pela SAD do clube, responsabilizando o presidente demissionário da Mesa da Assembleia Geral pela situação. "É lógico que temos um problema, as pessoas vão ser responsabilizadas por este problema, mas cá estaremos para o resolver", afirmou o presidente do clube, acrescentando que "a responsabilidade de esta operação estar parada deve-se a Jaime Marta Soares". Fonte oficial da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) revelou nesta terça-feira ter pedido esclarecimentos à SAD do Sporting sobre a emissão obrigacionista de 15 milhões de euros prevista para este mês.
REFERÊNCIAS:
Desobedecer à GNR é uma opção
Obedecer é mais prático e mais conveniente, mas operação de cobrança de dívidas à beira da estrada prova que às vezes a melhor opção é desobedecer. Às vezes, as autoridades não têm razão. (...)

Desobedecer à GNR é uma opção
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Obedecer é mais prático e mais conveniente, mas operação de cobrança de dívidas à beira da estrada prova que às vezes a melhor opção é desobedecer. Às vezes, as autoridades não têm razão.
TEXTO: Ao ler as notícias sobre a Acção sobre Rodas, a operação stop organizada pela Autoridade Tributária e a Guarda Nacional Republicana, fiquei a pensar se teria presença de espírito para recusar-me a entregar o carro. Em cinco horas de operação foram parados três mil carros e as suas matrículas cruzadas com o sistema fiscal. Quem tinha dívidas e não podia pagar, ficou sem carro. Balanço: dois ligeiros e um camião penhorados. Em plena A42, a RTP filmou o Sr. Júlio a tirar dois cavalos de um camião com a ajuda de uma criança de oito ou nove anos, cada um a puxar um cavalo por uma corda-a-fazer-de-trela — por sorte eram mansos. O Sr. Júlio devia portagens. Não sei como ele, os cavalos e os outros condutores apeados saíram dali. Uma opção seria montar os cavalos. A outra seria desobedecer. Há dias, um amigo perguntou-me:— Mas porque é que não desobedeceste? Recusavas a ordem e a polícia tinha de chamar a polícia. O caso é diferente, mas a questão ética é igual. Se a polícia nos manda fazer uma coisa que não faz sentido, cumprimos e depois contestamos ou desobedecemos?Esta era a circunstância: um tuk-tuk está estacionado num lugar identificado com o sinal de estacionamento “normal” (azuis com “p” branco); a 100 metros, há um sinal que indica que ali podem estacionar quatro tuk-tuk. Estão lá 20 e, à volta, outros tantos. No meio disto, há um tuk-tuk que ocupa o lugar dos carros “normais”. Peço que saia. O motorista não está. Peço aos colegas, não sabem. Espero e digo: “Isto não pode ser. É um descontrolo, nem se consegue andar. Vou chamar a polícia. ” Não é preciso. Aparece um e manda-me sair dali. Digo que estou à espera que o motorista do tuk-tuk volte, porque aquele é um lugar de carros. O que diz o polícia? “O primeiro a chegar é o primeiro a servir-se. ”Talvez por ser 25 de Abril e eu estar a chegar da praça com um ramo de 45 cravos vermelhos — um por cada ano de democracia — a resposta do polícia caiu-me como uma pedra na cabeça. Contesto e vem a ameaça: sai ou fica sem carro. Podia ter ido estacionar nos lugares reservados para os tuk-tuk e devolver o argumento ao polícia. Ou podia ter desobedecido. Há momentos em que a única solução é desobedecer. Em 1974, foi isso que o capitão Salgueiro Maia respondeu quando lhe perguntaram porque é que tinha ajudado a fazer o 25 de Abril. E, em 1849, foi isso que o filósofo norte-americano Henry David Thoreau propôs no seu famoso ensaio A Desobediência Civil (recém-editado pela Relógio D’Água). Thoreau tinha razões para estar zangado com o seu governo: era contra a escravatura (8% das famílias americanas eram donas de quatro milhões de escravos — e ainda foram precisos 16 anos e uma guerra civil para ser abolida) e era contra a guerra com o México. É neste texto que Thoreau pergunta: “Deverá o cidadão, por um momento que seja, ou num grau mínimo, abdicar da sua consciência em favor do legislador? Porque é que cada homem possui, então, uma consciência? Deveríamos ser homens primeiro e súbditos depois. O ideal não é cultivar o respeito pela lei, mas sim pela justiça. ” Mais à frente, defende que “a lei nunca tornou os homens mais justos”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não estou a propor uma revolução, nem a desobediência civil contra o governo. Salgueiro Maia lutou contra uma ditadura, Thoreau contra “uma organização política que [era] também o governo dos escravos”. Os dois tinham razões fortes para desobedecer — e o próprio governo de António Costa disse que a operação Acção sobre Rodas foi “um erro” que “não se repetirá”. Mas viver em democracia não é obedecer de forma cega. Agora que a tempestade da Acção sobre Rodas passou, ganhámos argumentos para contestar ordens absurdas. “Desproporção” (uma dívida de 100 euros justifica a penhora de um carro?), “inutilidade” (“há mecanismos de penhora electrónica”), “uso de força excessiva” (cobrar uma dívida sob a ameaça de despojar o cidadão de um bem), “abuso fiscal” (os cidadãos tinham sido notificados ou estavam em processo de contestação?), “violação da liberdade” (“intercetados na estrada e temporariamente privados da sua liberdade apenas para confirmar se têm dívidas”), do “direito ao bom nome, reputação, imagem e reserva da vida privada” (para os acompanhantes), da “dignidade humana” (tem o contribuinte boas razões para não ter pago, porque há um erro ou a dívida está prescrita?). E, genericamente, “abuso de poder”, base para uma queixa-crime. Não sou eu a dizer, eu não sei nada de leis. Foram os especialistas. A estes, junto uma pergunta: e se os cavalos tivessem fugido a correr pela A42? Calculou-se o risco de desordem pública?Obedecer é mais prático, mais conveniente e dá menos trabalho. Mas a operação Acção sobre Rodas prova que às vezes a melhor opção é desobedecer. À GNR, à PSP, à polícia de trânsito, à polícia municipal. Às vezes, as autoridades não têm razão.
REFERÊNCIAS: