Para Rodrigo Amado, é tempo de ir mais fundo nas raízes
Depois de um impressionante disco de estreia com This Is Our Language, Rodrigo Amado regressa ao seu quarteto Americano com A History of Nothing, assertiva inscrição numa tradição colhida do outro lado do Atlântico. (...)

Para Rodrigo Amado, é tempo de ir mais fundo nas raízes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de um impressionante disco de estreia com This Is Our Language, Rodrigo Amado regressa ao seu quarteto Americano com A History of Nothing, assertiva inscrição numa tradição colhida do outro lado do Atlântico.
TEXTO: No concerto dos Implicate Order no Seixal, em Março de 2000, os três músicos norte-americanos abriram o palco e convidaram dois locais para se lhes juntarem numa sessão de música improvisada: os saxofonistas Paulo Curado e Rodrigo Amado. Rodrigo tinha passado a década anterior a tocar em concertos sem rede ou a emprestar o seu saxofone a discos e actuações de grupos com uma queda para a experimentação a partir de uma noção alargada do espectro pop/rock. Ainda hoje, esse concerto no Seixal (que se tornaria a edição inaugural da Clean Feed) lhe está fixado na memória como um momento fundamental do seu percurso. Ao escutar a gravação dessa noite em que pisara o mesmo palco que três improvisadores de peso da cena norte-americana – Steve Swell, Ken Filiano e Lou Grassi, gente que integrava as bandas de Roswell Rudd ou William Parker –, espantou-se que tivesse subido a palco e “tocado alguma coisa que fizesse sentido”. “Aquilo soava-me bem, até parecia um daqueles músicos que admirava e ouvia. Lembro-me da surpresa e da felicidade que foi esse momento. ”Autoria:Amado, McPhee, Kessler, Corsano TrostA partir daí, as conquistas foram-se sucedendo sem interrupções. Mas implicaram um esforço desmedido por parte do saxofonista, tentando encurtar as distâncias que eram, logo à partida, sintoma da desigualdade de circunstâncias sempre que se via lado a lado com músicos provenientes de países com fortes tradições jazzísticas – Estados Unidos, claro, mas também Noruega, por exemplo. “É um trabalho contínuo e faz parte da dificuldade que é para qualquer músico português afirmar-se num meio em que os músicos com um trabalho mais relevante vêm de tradições culturais muito mais ricas do que a nossa”, sublinha. Se o disco com os Implicate Order deu um importante empurrão para o início do percurso de afirmação de Rodrigo Amado, no imediato foi decisiva a ligação a Filiano mas sobretudo, pouco depois, a criação do trio que partilhou com o contrabaixista norte-americano Kent Kessler e com o baterista norueguês Paal Nilssen-Love. Os dois álbuns – Teatro (2006) e The Abstract Truth (2009) – e os muitos concertos que aconteceram pelo meio ajudaram à ascensão do seu nome na cena internacional. “Mas lembro-me que estava com eles e sentia-me o miúdo – um pouco a nível pessoal mas totalmente a nível musical”, confessa. As coisas começaram a mudar depois de uma maturidade que foi potenciada, em grande parte, pela aposta séria e intensa na actividade do Motion Trio – que partilha com Miguel Mira e Gabriel Ferrandini. Mesmo que a modéstia o impeça de dizer que está finalmente entre iguais – as votações do site espanhol El Intruso como melhor saxofonista tenor de 2017 e 2015, colocaram-no à frente de nomes como Evan Parker ou Ken Vandermark, a partir de escolhas de 58 críticos internacionais –, Rodrigo Amado sabe que o jogo mudou de forma considerável por alturas da primeira gravação com aquele a que chama o seu “quarteto americano”. Ao lado de um histórico como Joe McPhee e de uma propulsão rítmica do calibre elástico desta que une Kessler e Chris Corsano, o saxofonista havia de ter de se valer dos seus melhores argumentos para liderar uma formação de possibilidades estratosféricas. E basta ouvir This Is Our Language (2015) – título afirmativo, a marcar território e a reivindicar uma identidade comum – para não restarem dúvidas: Amado não se encolhe nem se empoleira; não se coloca na sombra nem procura com sofreguidão a ribalta. Os quatro simplesmente tocam juntos e a música desvela-se por si. Há muito, de resto, que estes embates (por vezes violentos) com figuras cimeiras do jazz contemporâneo forçam crises de crescimento sobre as quais se alicerça uma linguagem que se pretende em contínua expansão. Se Kent e Nilssen-Love produziram esse efeito em Rodrigo Amado, e agora o quarteto americano volta a exigir-lhe uma musicalidade arguta e de enorme jogo de cintura para responder aos choques disparados pelos outros três, a bordo do Motion Trio os encontros com dois dos mais extraordinários músicos deste tempo produziram também estragos luminosos, ambos no palco do Maria Matos. Primeiro, com a trompete incandescente de Peter Evans, tiveram de resolver em cena uma tensão que solta faúlhas até quando se escuta o registo em Live in Lisbon. Logo a seguir, em 2015, com o piano quebradiço e aracnídeo de Matthew Shipp. No final da actuação, Matthew Shipp havia de perguntar aos três Motion onde é que tinham aprendido a tocar aquela música e garantia que “Vocês ficaram aqui com uma gravação incrível”. Mas o trio não estava convencido. “Foi um concerto muito complicado porque o nível de energia estava completamente descontrolado”, recorda Rodrigo. “Saí com a sensação de que algo não tinha funcionado, estava mesmo insatisfeito. Depois ouvimos a gravação e havia um excesso de linguagem. ” A gravação foi posta de lado e só recentemente, enquanto arrumava alguns desses registos, voltou a enfrentar a música criada naquela noite. E, de repente, sem o apego emocional do momento, encontrou-lhe um sentido novo. Esse disco deverá vir a existir no futuro. Por agora, interessa extrair daqui que a distância permite reequacionar e tomar decisões mais claras. A History of Nothing, o sucessor de This Is Our Language com o quarteto americano, beneficia dessa aprendizagem e desse estofo que o músico foi solidificando com os anos. A experiência aconselhou, desde logo, que a gravação do álbum fosse marcada “propositadamente a meio da digressão” que realizaram no início de 2017. “Assim já tínhamos para trás alguns concertos que funcionaram como aquecimento da banda e mais tarde estaríamos já demasiado cansados, porque no fim de uma digressão destas estão todos arrasados”, explica. Foi uma lição que aprendeu com numa passagem pelo estúdio com o Humanization Quartet – a gravação aconteceu no pico da exaustão. Desta vez, o registo foi feito no dia seguinte ao magnífico concerto no Centro Cultural de Belém, tirando partido de uma transformação que Rodrigo Amado detectou logo nos primeiros momentos do reencontro: “Quando tocámos a primeira vez juntos, vimos que havia uma linguagem comum que tornava as coisas muito fáceis. Quando nos reencontramos, normalmente essa linguagem está um pouco mais à frente. Agora, senti que eles estavam muito mais confiantes com a situação. Vieram para a digressão muito mais descontraídos e isso, em termos musicais, tem resultados muito evidentes – a música rolava de uma forma mais orgânica. ”Essa qualidade orgânica revela-se, por exemplo, num maior conforto na ocupação do espaço. As ligações e as formas de diálogo multiplicaram-se de uma forma tão manifesta que o saxofonista nem esperava atingir um tal grau de familiaridade palpável na gravação de estúdio. Daí que nos seus planos iniciais estivesse a edição de dois discos que documentariam este período: um deles, A History of Nothing, este gravado no Namouche, deveria ter sido o segundo da fornada, após a edição do concerto na Jazzhouse, em Copenhaga. Acontece que mesmo comparando com esse que foi “o melhor concerto da tour”, Amado descobriu na gravação “um equilíbrio de formas, de espaço e de tensões que não é habitual conseguir-se com a contenção do estúdio e sem o estímulo do público”. O que se torna igualmente evidente é o quanto o diálogo entre os dois saxofonistas, Amado e McPhee, atinge níveis de transcendência ainda mais elevados. Desde a dança entrançada de Legacies à troca de tiradas rápidas e vivas em que se embrulham em A History of Nothing, torna-se claro o quanto esta relação musical se tornou basilar no percurso do português. E volta a acontecer de uma forma extrema quando em Theory of mind II (for Joe), à semelhança do que acontecia no primeiro disco, McPhee prefere o silêncio, não deixando de habitar intensamente o tema através dessa ausência. Essa relação com McPhee (no contexto deste quarteto) é, aliás, algo que Rodrigo pretende continuar a desenvolver e a documentar ao máximo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O quarteto americano de Rodrigo permite-lhe, naturalmente, explorar possibilidades bastante distintas daquelas que pratica com o Motion Trio, o Wire Quartet ou o trio responsável por The Attic (com Gonçalo Almeida e Marco Franco, trio com que abrirá o Jazz im Goethe Garten, em Lisboa, a 3 de Julho). O saxofonista encontrou nesta formação um dos seus “lugares verdadeiros”. “Cresci a ouvir Ornette Coleman, Tim Berne, cuja música é já uma reconfiguração das raízes americanas. Sempre preferi músicos com fortes raízes nas sonoridades mais puras da origem do jazz, como o gospel e os blues. Neste quarteto tenho a possibilidade de ser completamente esse eu. ” É, nesse sentido, também uma declaração de peso. Não que Rodrigo se coloque contra o perfil do jazz europeu, mas afirma antes uma música que quer filiar-se numa linguagem e dispensa a assinatura de uma abordagem abstracta sem ligação à terra, a essas raízes. É por lhe interessar a ligação às raízes, na música mas também fora dela, que chama para o disco uma citação da última entrevista que José Mário Branco concedeu ao Ípsilon: “É preciso começar tudo de novo, mais uma vez, e é preciso começar pelo que está perto, pelo que está em baixo, no chão. É um trabalho muito mais a partir das questões biológicas, animais, da sobrevivência, do medo, do prazer, das questões básicas”. Foi essa “vontade enorme de recomeçar tudo de novo e retornar aos elementos essenciais” que conduziu Rodrigo Amado até esta música e até ao projecto de fotografia – também intitulado A History of Nothing – consumado numa road trip de três semanas pelos Estados Unidos, com o propósito de documentar “a terra, o céu, as árvores, o deserto, as montanhas, as plantas, a luz”. A History of Nothing será, por isso, também uma exposição fotográfica daqui por alguns meses (data e local ainda por definir). Por agora, é uma monumental imersão nessa busca por raízes, pela pertença e pela libertação quase espiritual dos excessos do quotidiano.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave medo
As beatas envenenam
Há autarquias (como Leiria) que já proibem e multam bem. Em Londres é um crime. (...)

As beatas envenenam
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há autarquias (como Leiria) que já proibem e multam bem. Em Londres é um crime.
TEXTO: Às vezes o título diz tudo. Aquele que Sebastião Almeida arranjou para a reportagem dele no P3 do PÚBLICO foi: "A luta de Jade Freire é tirar as beatas do chão e expô-las como resíduo tóxico". As beatas, sobretudo os filtros onde foram capturadas as porcarias mais cancerígenas, estão cheias de venenos que as chuvas levam para toda a parte, incluindo o mar que já está farto das beatas que as bestas deixam nas praias. Jade Freire diz, com triste razão, que faz parte da nossa cultura atirar a beata para o chão. Os condóminos queixam-se que as pessoas deitam fora os cigarros antes de entrar no prédio ou saem para fumar ao pé da porta, criando assim uma fumarada horrível que ataca quem entra e quem sai. Não lhes ocorre reparar que a selvajaria está em deitar a beata para o chão, seja onde for. Hoje em dia por cinco euros compram-se excelentes cinzeiros portáteis que apagam os cigarros e mantêm-nos bem vedados, sem deixar escapar qualquer cheiro ou calor. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Assim como se tem de levar saquinhos para recolher os cocós do cão também os fumadores têm de habituar-se a andar com cinzeiros portáteis para não poluirem os espaços públicos. Não poderiam as empresas de tabaco oferecer estes estojos aos fumadores? Tenho a certeza que a maioria deles, caso dispusessem de um cinzeiro, ficaria contente por poder desfazer-se da beata de uma maneira responsável. Há autarquias (como Leiria) que já proibem e multam bem. Em Londres é um crime: "no ifs, no butts". De que é que as outras câmaras estão à espera?
REFERÊNCIAS:
Rússia e Portugal: uma cooperação em prol do desenvolvimento construtivo
Com a nossa experiência e resistindo à conjuntura política do momento, vamos continuar a promover uma agenda bilateral voltada para o futuro. (...)

Rússia e Portugal: uma cooperação em prol do desenvolvimento construtivo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com a nossa experiência e resistindo à conjuntura política do momento, vamos continuar a promover uma agenda bilateral voltada para o futuro.
TEXTO: Na véspera da visita a Portugal, queria partilhar com os leitores do PÚBLICO — um dos jornais mais populares do vosso país — as minhas reflexões sobre as relações entre os nossos Estados e a situação na Europa em geral. Lisboa é um nosso bom parceiro internacional. O alicerce dos laços russo-portugueses é formado pelo Tratado de Amizade e Cooperação de 22 de Julho de 1994. Graças aos esforços conjuntos foi possível alcançar resultados palpáveis. Tem--se promovido o diálogo político, inclusive ao nível mais alto. A 20 de Junho realizaram--se em Moscovo as conversações entre os presidentes Vladimir Putin e Marcelo Rebelo de Sousa. Contactos ao nível dos ministérios dos Negócios Estrangeiros têm tido um carácter regular. A concretização na prática do memorando interministerial sobre a realização de consultas, assinado no quadro da minha reunião com o colega português, Augusto Santos Silva, contribuirá para o ainda maior estreitamento deste diálogo. O comércio bilateral mostra uma dinâmica positiva que no final deste ano pode ultrapassar 1, 5 mil milhões de dólares. A Comissão Intergovernamental Mista sobre a Cooperação Económica e Técnica faz uma contribuição proveitosa neste sentido. No decorrer da 7. ª sessão da comissão, que terá lugar em Lisboa daqui a duas semanas, será prestada uma atenção especial à área de altas tecnologias, bem como à realização do Acordo Intergovernamental sobre a Cooperação Económica e Técnica, assinado no ano passado. Na Web Summit que há pouco terminou em Lisboa, a Rússia foi representada por mais de 200 empresas e start-ups. À margem desta conferência foi organizado o primeiro fórum empresarial russo-português Novas Oportunidades e Desafios na Esfera de Inovações. Estou convencido de que encontros deste género devem ser realizados regularmente. Tem-se aprofundado o intercâmbio cultural e humanitário, contactos entre pessoas. Desde Dezembro de 2017 até Fevereiro de 2018 esteve instalada nos Museus do Kremlin de Moscovo a exposição inédita Senhores do Oceano. Tesouros do Império Português dos Séculos XVI-XVIII, considerada a mais representativa a ser organizada fora do território do vosso país. Em Outubro de 2018 realizou-se, com sucesso, a Semana da Cultura Russa em Portugal. Saudamos o interesse dos portugueses no ensino da língua russa. Pode ser estudada nas universidades de Lisboa, Porto e Aveiro. Continua a ser demandada a actividade dos centros dos estudos russos nas universidades de Coimbra e Minho. A língua de Camões, por sua vez, está a ser ensinada nas universidades e escolas de Linguística da Rússia, inclusive a minha alma mater — Universidade Estatal das Relações Internacionais de Moscovo. Hoje há cada vez mais turistas russos a descobrir Portugal, a conhecer o seu património histórico-cultural rico e peculiar. E é o amor pelo futebol que contribui para o aumento da simpatia entre os dois povos. Neste Verão, numerosos adeptos portugueses visitaram o nosso país no quadro do campeonato mundial FIFA 2018. Eles tiveram a oportunidade de ver com os seus próprios olhos a vida quotidiana da Rússia e dos seus cidadãos. Creio que perceberam quão a situação real se diferencia do que se pode ler, às vezes, em certos meios de comunicação preconcebidos. Infelizmente, a situação mórbida no nosso continente comum representa ainda um obstáculo significativo para o fortalecimento ulterior da cooperação russo-portuguesa. A crise na Ucrânia — tendo sido o resultado de jogos geopolíticos dos EUA e dos seus adeptos ideológicos em alguns países, tal como da cegueira da burocracia da União Europeia — derrubou a atmosfera de confiança, na construção da qual estiveram empenhados, durante muitos anos, líderes responsáveis da Rússia e dos Estados-chave da Europa. Foi com extrema preocupação que Moscovo tomou nota do facto de Bruxelas não só ter renunciado aos seus princípios e valores, fechando os olhos perante o golpe armado em Kiev que resultou no derrube do Presidente democraticamente eleito, mas também ter seguido as instruções de Washington, aderindo às sanções anti-russas. O que temos hoje? A arquitectura do diálogo Rússia-UE está prejudicada significativamente, os produtores europeus estão a ter perdas de muitos mil milhões, o regime de Kiev está em guerra contra o próprio povo, um novo conflito surgiu na Europa. Ao mesmo tempo, os EUA não estão a ter nenhumas perdas. Ainda mais, têm aproveitado esta situação para incentivar a actividade militar perigosa perto das fronteiras russas, intensificando a corrida armamentista na nossa vizinhança, onde, como todos nós esperávamos, não há espaço para uma nova Guerra Fria. A segurança das nações europeias torna-se refém da política subversiva conduzida do outro lado do Atlântico. A tensão entre a Rússia e o Ocidente nos últimos anos, que custa caro à estabilidade internacional, não é a nossa escolha. Como sempre, manifestamo-nos a favor da construção na região euro-atlântica e na eurásia do espaço comum da paz, da segurança igual e indivisível e da ampla cooperação económica, em que seriam considerados os interesses de todos os Estados, quer participantes de vários processos de integração, quer não, sem qualquer excepção. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Devido a isto, não pode deixar de agradar o facto de ter aumentado na Europa o número de pessoas que se dão conta de que o rumo de confrontação contra o nosso país não tem perspectivas. Há quem aspire a realizar uma política pragmática e não queira sacrificar o bem-estar dos seus cidadãos e o futuro pacífico do lar europeu em prol dos interesses e ambições cobiçosas dos actores extra-regionais. Esperamos que a sabedoria e, simplesmente, o bom senso prevaleçam e as nossas relações com a União Europeia e os seus Estados-membros sejam restabelecidas na base da boa vizinhança genuína, da honestidade, previsibilidade e franqueza. A Rússia e Portugal estão a aproximar--se de um limiar importante: no próximo ano celebraremos o 240. º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas. Temos de preparar e realizar um conjunto de iniciativas para comemorar esta data notável. No idioma russo há um provérbio que literalmente pode ser traduzido como “A água não flui sob a pedra deitada”. Pelo que eu sei, em português corresponde “À raposa dormente não lhe cai galinha no ventre”. Baseando-nos na nossa experiência e resistindo à conjuntura política do momento, espero eu, vamos continuar a promover uma agenda bilateral voltada para o futuro, a empenhar-nos na amplificação e diversificação de laços, na criação de premissas favoráveis para a realização de iniciativas promissoras e mutuamente benéficas em várias áreas para o bem dos nossos povos.
REFERÊNCIAS:
“Um bonito ponto final” para As Novas Viagens Philosophicas
Série de 13 episódios narra as expedições pelo mundo de 13 biólogos de um centro de investigação português. Já está planeada a continuação da série, inspirada nas grandes expedições portuguesas do século XVIII ao mundo natural. Para já, põe-se um fim na primeira parte do projecto. (...)

“Um bonito ponto final” para As Novas Viagens Philosophicas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.328
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Série de 13 episódios narra as expedições pelo mundo de 13 biólogos de um centro de investigação português. Já está planeada a continuação da série, inspirada nas grandes expedições portuguesas do século XVIII ao mundo natural. Para já, põe-se um fim na primeira parte do projecto.
TEXTO: Ao longo de cinco anos, as equipas de 13 biólogos a trabalhar em Portugal aventuraram-se em expedições dedicadas à biodiversidade por vários cantos do planeta, de Cabo Verde ao Brasil, da Guiné-Bissau à Mauritânia. Inspirando-se nas “viagens filosóficas” do século XVIII, acompanhadas por ilustradores que registaram populações humanas, fauna e flora nunca antes vistas na Europa, as novas aventuras científicas dos biólogos do Cibio (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) foram seguidas por uma equipa de audiovisual resultando numa série de 13 documentários, As Novas Viagens Philosophicas, exibida pela primeira vez em 2016 na RTP1. Nada melhor, portanto, do que o Dia Nacional da Cultura Científica – celebrado a 24 de Novembro em homenagem ao dia de nascimento de Rómulo de Carvalho/António Gedeão (1906-1997), professor de física e química, divulgador de ciência e poeta –, para difundir ainda mais As Novas Viagens Philosophicas. Agora, poder-se-á ficar com os 13 episódios, em dois DVD, distribuídos gratuitamente em banca com o PÚBLICO no dia dedicado à cultura científica no país, instituído por José Mariano Gago em 1996, quando era ministro da Ciência. Com os DVD, segue um pequeno livro com o resumo dos 13 episódios e prefácio do biólogo Nuno Ferrand de Almeida, director do Cibio, centro agora acolhido pelas universidades do Porto, de Lisboa e dos Açores. “Achámos que seria um bonito ponto final para esta primeira série, depois da segunda exibição este Verão [na RTP1 e RTP3], distribuir aos leitores do PÚBLICO gratuitamente este projecto num dia simbólico que é o Dia Nacional da Cultura Científica”, frisa Nuno Ferrand de Almeida, coordenador científico dos documentários, um projecto apoiado pela Universidade do Porto e pela agência Ciência Viva e produzido pela produtora Um Segundo Filmes. As Novas Viagens Philosophicas, o nome dado ao projecto pelo Cibio, estão muito longe das Viagens Philosophicas do século XVIII, grandes expedições organizadas pela coroa portuguesa a Angola, Cabo Verde, Moçambique, Goa e Brasil. Aliando a investigação científica à divulgação científica, as viagens dos biólogos do século XXI, entre 2011 e 2015, pela Europa, América do Sul, África e Austrália permitiram ainda mais conhecimento. “É um novo olhar sobre o nosso planeta e como o devemos tratar, de forma a assegurar a conservação da diversidade biológica, mostrando sítios excepcionais”, nota Nuno Ferrand de Almeida. “Cada episódio é sobre uma espécie, mas está ancorado na curiosidade e interesse de um biólogo, que também é retratado, para haver maior proximidade com as pessoas. ”Oscilemos entre passado e presente – começando pelo Brasil. Durante nove anos, entre 1783 e 1792, o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, partindo de Belém do Pará, percorreu a bacia do Amazonas até Mato Grosso, recolhendo milhares de espécimes e artefactos e fazendo-se acompanhar dos “riscadores” José Joaquim Freire e Joaquim José Codina. Pintaram mais de mil aguarelas, passando ao papel a fauna, a flora, a gentes, as vilas e a feitura de cartas topográficas. Só Freire voltou vivo a Portugal. De todas as “viagens filosóficas” portuguesas, a do Brasil foi a que produziu mais material para estudo da “filosofia natural” da então colónia portuguesa. Mais de 200 anos depois, as preguiças, as rãs-arborícolas e o sapo-cururu levaram investigadores portugueses ao Brasil, em colaboração com cientistas de outros países. Uma destas expedições é relatada num episódio que se dedica às rãs que contam a história da floresta (usando-as para reconstituir a evolução da Mata Atlântica); outra expedição está no episódio sobre o mundo vagaroso das preguiças, na Amazónia e também na Mata Atlântica (usando a genética para avaliar os efeitos da fragmentação florestal na conservação deste animal da América Central e do Sul). Há ainda a interminável viagem dos sapos, que mostra como uma equipa de cientistas portugueses e brasileiros reconstitui a história evolutiva e adaptativa do sapo-cururu, começando pela Amazónia, de onde é originário, e indo até à Austrália, onde chegou recentemente e já é uma praga. Vamos agora dar um salto a África. Nas “viagens filosóficas” do século XVIII, assinale-se apenas que Joaquim José da Silva partiu de Lisboa para Angola em 1783 e que Manuel Galvão da Silva, depois de dois meses em Goa, chegou a Moçambique em 1784, ano em que também João da Silva Feijó foi para Cabo Verde. As “novas viagens filosóficas” em África foram desde o Sul até ao Norte do continente. E foi assim que se foi até à África do Sul, ao Sul do deserto do Calaári, ao encontro de uma ave, o tecelão-social, que vive em grandes comunidades e constrói ninhos enormes nas árvores. Que se foi até São Tomé e Príncipe, usando as aves deste arquipélago como modelo para compreender melhor como uma população de uma espécie segue caminhos evolutivos diferentes depois de se dividir em duas e perder o contacto. Até à Guiné-Bissau, para avaliar o impacto das plantações de caju, em expansão, na biodiversidade, economia e sociedade guineenses. Até a Cabo Verde, em dois projectos distintos. Um procurou corrigir, através da genética, erros antigos de classificação das espécies de répteis do arquipélago e elaborar novos mapas de distribuição. O outro projecto é sobre as populações humanas, muito miscigenadas: através da genética, estudaram-se os mecanismos envolvidos na pigmentação da pele e dos olhos (há quem os tenha verdes e azuis), bem como a história da colonização de Cabo Verde. E chegámos à Mauritânia, onde crocodilos que vivem isolados em oásis montanhosos no deserto do Sara têm toda uma biologia fascinante. Passam dez meses do ano escondidos nas rochas, num estado de dormência e inactividade, à espera das próximas chuvas, para então comerem e se reproduzirem freneticamente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Portugal e outros países europeus não ficaram de fora. É aqui que temos o estudo dos morcegos em território português, do caimão (ou galinha-sultana) ou da domesticação dos coelhos (a única espécie domesticada na Europa ocidental, nos mosteiros do Sul da França a partir de meados do século XV). Por fim, surge a história de peixes que costumam migrar para o mar e vir desovar em água doce: com tantas barragens nos rios europeus, começam a adaptar-se a viver só nos rios. Esta era a investigação de Paulo Alexandrino, vice-director do Cibio, que morreu em 2015, aos 53 anos. Esta série é-lhe dedicada. A continuação da série está em andamento, falta reunir o financiamento, diz Nuno Ferrand de Almeida. “Temos outros 13 episódios desenhados e alguns começados e estamos a reunir as condições que permitam acabar a segunda série. Não será antes de três anos. ”
REFERÊNCIAS:
Uma mão cheia de caixinhas de surpresas que podem chegar por correio
O código postal do emissor é português, o do receptor pode variar. Reunimos cinco serviços de subscrição, de vinho a workshops, que cabem dentro de caixas. A ideia é ser surpreendido todos os meses, quando a caixa chega pelo correio. (...)

Uma mão cheia de caixinhas de surpresas que podem chegar por correio
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.18
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O código postal do emissor é português, o do receptor pode variar. Reunimos cinco serviços de subscrição, de vinho a workshops, que cabem dentro de caixas. A ideia é ser surpreendido todos os meses, quando a caixa chega pelo correio.
TEXTO: Trata-se de matar saudades do país que deixaram. Mais ainda quando, no novo destino, a comida não deixa assim tanta água na boca — pelo menos, até a Tuga Box chegar pelo correio. O que a caixa (30 euros) carrega, só se descobre ao abrir. Antes, sabe-se que traz cinco a sete produtos que sabem a casa, a tradição e a nostalgia. Falamos de Flocos de Neve e Dr. Bayard, café Nicola, enchidos de porco preto de Montaraz, pintarolas, postais portugueses, biscoitos conventuais, latas de conserva. O público-alvo desta caixa-mistério são os portugueses emigrados, como o casal de amigos que inspirou Rita Gomes a criar a Tuga Box. "É uma história de amizade, saudades e sorrisos" que começou depois de uma visita à China. Os amigos tinham-lhe pedido para levar na mala produtos tipicamente portugueses. "Eram coisas simples, mas que para quem está há três anos do outro lado do mundo valem muito", como nos contava em 2015. Para já, a caixa ainda só viaja pela Europa. Os subscritores podem escolher ser surpreendidos apenas uma vez, ou todos os meses, de forma regular. Depende das saudades. E da gulodice. Deixa-se a garrafa na mão de quem é especialista e tudo o que os subscritores da Nosy têm de fazer é pegar no copo. É isto que propõe o clube de vinhos digital português que em Outubro, pouco antes do primeiro aniversário, partiu para o resto da Europa. Em vez de ires até à garrafeira, uma caixa com três garrafas escolhidas por um ou uma especialista da área bate-te à porta de casa todos os meses. É arriscado, mas não “é suposto o vinho ser divertido”?Por isso é que a caixa deles é colorida, as escolhas “sempre inesperadas”, o clube “contraria o estereótipo e não é snob”, garantia em Março ao P3 Marta Maia, que com 23 anos e a saber muito pouco de vinhos fundou a startup sediada no Porto. As três garrafas (50 euros) são enviadas ao dia 20 de cada mês e os portes e o cancelamento da subscrição são gratuitos — convém avisar que até 26 de Novembro há 30% de desconto, à boleia da Black Friday. A melhor parte: apesar do nome, a Nosy não mete o nariz onde não é chamada. Não vão contar a ninguém que essa garrafa, na verdade, foi um especialista que escolheu. Em Junho, quando o P3 se encontrou com a dupla de fundadores da Barkyn, a startup portuense nascida em 2016 estava a caminho de um programa de aceleração da Google, no campus em Madrid. Através do serviço de subscrição personalizável que disponibilizam, vendem 20 toneladas de comida para cão todos os meses. Além da ração, de várias marcas, as caixas entre os 19 e os 45 euros podem incluir brinquedos, desparasitantes, snacks naturais, consultas de médicos veterinários ou acessórios — e, durante sexta-feira, 23 de Novembro, além de artigos com 50% de desconto, vão doar um quilograma de ração a uma associação por cada compra efectuada. Tudo depende do perfil do cão e do valor que o tutor está disposto a pagar. Pode-se cancelar o plano a qualquer momento, mas enquanto subscreveres não podes ultrapassar um “espaçamento entre encomendas superior a oito semanas”. A Barkyn, por agora, só ladra. Quem sabe se, num futuro próximo, a caixa não passa também a miar. Sair da zona de conforto, sem sair de casa — e sem deixar de arregaçar as mangas. Eis a proposta da Workshoped. A startup criada por dois jovens portuenses quer pôr-te a fazer chocolates, sabonetes, velas aromáticas, cadernos, postais. Escolhe um dos temas e a caixa (16, 90 euros) com os materiais e as instruções chega em menos de três dias. Ou opta pela surpresa e recebe, todos os meses, um workshop DIY diferente. Depois, é pôr mãos à obra (na Black Friday com 20% de desconto). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Três amigos decidiram deixar, ao mesmo tempo, duas pessoas felizes por receberem meias. Isto porque, por cada par comprado, a Meyash doa outro à Associação dos Albergues Nocturnos do Porto. O lema da empresa: #NoMoreBoringSocks — mas que também não sejam demasiado arrojadas para não serem usadas em contextos mais formais. Os pares, que podem ser enviados mensalmente (8, 99 euros), são desenhados por portugueses e produzidos em Portugal. Durante a Black Friday há descontos de 50%.
REFERÊNCIAS:
Espanha anuncia acordo sobre Gibraltar, cimeira do "Brexit" com luz verde
União Europeia e Governo britânico declaram que todos os assuntos relativos ao território serão resolvidos de forma bilateral. (...)

Espanha anuncia acordo sobre Gibraltar, cimeira do "Brexit" com luz verde
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: União Europeia e Governo britânico declaram que todos os assuntos relativos ao território serão resolvidos de forma bilateral.
TEXTO: O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou um acordo político sobre Gibraltar que permitirá a Madrid aprovar o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia e a declaração política sobre a relação futura na cimeira europeia extraordinária de domingo. "Conseguimos que seja feita uma declaração conjunta do Conselho Europeu e da Comissão Europeia que descarta que o artigo 184 [do acordo político do 'Brexit'] seja aplicável no âmbito territorial. Em segundo lugar, o Governo britânico reconhece por escrito esta questão. E em terceiro, o Conselho Europeu e a Comissão Europeia reforçam a posição de Espanha para as negociações futuras", explicou Sánchez, numa conferência de imprensa no Palácio da Moncloa. Isto quer dizer que UE, Espanha e Reino Unido concordaram em anexar ao acordo do "Brexit" e à declaração política sobre a relação futura de Londres com o bloco europeu um outro documento que prevê que qualquer negociação futura que envolva o estatuto de Gibraltar – um território britânico ultramarino cuja soberania é contestada por Espanha – decorrerá ao nível bilateral, entre Londres e Madrid, e não através de Bruxelas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este documento satisfaz a exigência de Madrid de que qualquer referência a Gibraltar ficasse assente num texto jurídico e não apenas ao nível de um manifesto político, para que não possa ser alvo de renegociações. Desta forma, ficam afastados todos os obstáculos para a realização da cimeira europeia extraordinária de domingo, uma vez que na sexta-feira ficou resolvida outra questão sensível, sobre o acesso às águas de pesca britânicas.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Praga de ratos afecta zonas ardidas no ano passado
Autarquias como Arganil e Oliveira do Hospital foram obrigadas a reforçar medidas de combate aos roedores. Problema causado por morte ou fuga dos seus predadores naturais nos incêndios do ano passado. (...)

Praga de ratos afecta zonas ardidas no ano passado
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DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Autarquias como Arganil e Oliveira do Hospital foram obrigadas a reforçar medidas de combate aos roedores. Problema causado por morte ou fuga dos seus predadores naturais nos incêndios do ano passado.
TEXTO: As colónias de ratos têm vindo a aumentar nos municípios devastados pelos incêndios do ano passado, como Arganil e Oliveira do Hospital, o que obrigou as autarquias a reforçar nas últimas semanas as medidas para combater esses roedores. A multiplicação anómala dos ratos e ratazanas nos territórios atingidos pelos fogos é uma consequência da "morte ou fuga dos seus predadores naturais", disse esta sexta-feira o biólogo Jorge Paiva à agência Lusa. "Muitas das cobras morreram", adiantou, confirmando que estes répteis, mas também as aves de rapina e alguns pequenos mamíferos, como raposas e ginetas, "é que controlam as populações" de ratos do campo e outros. O professor jubilado da Universidade de Coimbra explicou que "os ratos conseguiram sobreviver porque foram para as luras", escavando buracos para níveis mais profundos, enquanto os seus habituais predadores morreram ou fugiram à medida que as frentes de fogo avançavam. O concelho de Arganil está a ser afectado por uma praga de ratos, que, no entanto, "não representa uma ameaça à saúde pública", de acordo com a câmara municipal. Ao PÚBLICO, a Vice-Presidente da autarquia, Paula Dinis, confirmou que "não há qualquer registo preocupante que ameace a saúde dos cidadãos" e que "a União de Freguesias de Cerdeira e Moura da Serra e a União de Freguesias Vila Cova de Alva e Anseriz [zonas afectadas pelos incêndios] foram as áreas com mais notificações". "Estão a ser tomadas medidas no sentido de responder de forma pronta e conveniente às situações reportadas, nomeadamente através do reforço do sistema de recolha de lixo e da desratização na rede de saneamento de águas residuais", tinha informado a câmara, em comunicado. Citando a Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, a autarquia presidida por Luís Paulo Costa afirmou que "a proliferação de ratos registada nas zonas afectadas pelos incêndios de Outubro de 2017 não representa, contudo, uma situação alarmante" em termos de saúde pública. Segundo a ARS, "não foram reportados casos de doença transmitida por roedores, nem houve até ao momento recurso aos serviços de saúde motivado por situações relacionadas com o aumento destes animais". A Câmara de Arganil, no distrito de Coimbra, "vai manter-se particularmente alerta para esta situação, de forma a garantir as condições de higiene e saúde pública no concelho, disponibilizando-se para apoiar os munícipes no esclarecimento de quaisquer dúvidas", através do e-mail [email protected] e do telefone 235200150. Paula Dinis espera que a "situação se normalize ao longo das próximas semanas", revelando que "não há qualquer expectativa que a propagação de ratos volte a aumentar". No mesmo distrito, os fogos de 15 e 16 de Outubro de 2017 "devastaram 97 por cento da área florestal do concelho" de Oliveira do Hospital, "destruindo também a sua fauna e flora". A proliferação de ratos "tem origem no desequilíbrio dos ecossistemas", disse à Lusa esta sexta-feira uma fonte do gabinete do presidente da câmara, José Carlos Alexandrino. Trata-se de "um problema transversal aos concelhos afectados pelos incêndios", relacionado com o "desaparecimento dos predadores naturais, como cobras, raposas e aves de rapina", entre outros. Para combater a praga, aumentou "a vigilância e a monitorização" dos edifícios públicos, tendo sido igualmente redobrados os trabalhos de desratização, através das empresas especializadas que há vários anos asseguram esses serviços ao município. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Numa nota enviada à agência Lusa, o gabinete de José Carlos Alexandrino informa que foram reforçadas "as operações de manutenção e inspecção da rede de saneamento e águas pluviais", com apoio de equipas no terreno. Os incêndios que eclodiram em Pedrógão Grande e na Lousã, distritos de Leiria e Coimbra, nos dias 17 de Junho e 15 de Outubro de 2017, respectivamente, devastaram extensas áreas de floresta e mataram milhares de animais domésticos e selvagens. Entre a população, o fogo de Junho originou 66 mortos e mais de 250 feridos, enquanto no de Outubro perderam a vida 50 pessoas e cerca de 70 ficaram feridas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte campo doença desaparecimento aves
Produtores prejudicados pela tempestade Leslie têm linha de crédito de cinco milhões
Segundo o diploma publicado, três milhões destinam-se a organizações de produtores vitícolas e frutícola. Os restantes dois milhões vão para agricultores da região Centro, independentemente da cultura (...)

Produtores prejudicados pela tempestade Leslie têm linha de crédito de cinco milhões
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Segundo o diploma publicado, três milhões destinam-se a organizações de produtores vitícolas e frutícola. Os restantes dois milhões vão para agricultores da região Centro, independentemente da cultura
TEXTO: O Governo instituiu duas linhas de crédito garantidas, que entram hoje em vigor, no montante global de cinco milhões de euros, para apoiar os produtores afectados pela tempestade Leslie e pelas ondas de calor. “Estas duas linhas de crédito, num montante global de cinco milhões de euros, visam colmatar as necessidades de tesouraria e perdas de rendimento resultantes das quebras de produção" dos associados de organizações do sector, refere, em comunicado, o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural. A portaria foi publicada ontem, em Diário da República. De acordo com o Governo, uma das linhas, no valor de três milhões de euros, destina-se a apoiar cooperativas agrícolas e organizações de produtores dos sectores vitícola e frutícola a nível nacional. “Com um valor de dois milhões de euros, a segunda linha de crédito tem como beneficiários cooperativas agrícolas e organizações de produtores com sede social nos municípios da região Centro do país, particularmente atingidos pela tempestade Leslie, independentemente do sector”, lê-se no documento. De acordo com o ministério liderado por Capoulas Santos, em causa está um “montante garantido que será concedido sob a forma de empréstimo reembolsável pelas instituições de crédito com protocolo celebrado com o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) e com entidades do Sistema Português de garantia Mútuo”. Em 15 de Outubro, o Governo já tinha anunciado um apoio a 15 milhões de euros, a fundo perdido, para o restabelecimento do potencial produtivo. Os níveis de apoio, dentro desta medida, atingem 100% para prejuízos até 5. 000 euros, 85% entre 5. 000 euros e 50. 000 euros e 50% entre 50. 000 e 800. 000 euros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A medida abrange infra-estruturas, instalações e equipamentos agrícolas e também perdas em animais e culturas permanentes, como olivais vinhas e pomares. A passagem do furacão Leslie por Portugal, onde chegou como tempestade tropical, provocou 28 feridos ligeiros e 61 desalojados. A Protecção Civil mobilizou 8. 217 operacionais, que tiverem de responder a 2. 495 ocorrências, sobretudo queda de árvores e de estruturas e deslizamento de terras.
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Palavras-chave social
Quinta do Côtto: um ícone do Douro que tenta reerguer-se
Os tintos da Quinta do Côtto perderam algum fulgor na última década e meia, depois de já terem sido dos mais badalados do Douro. Mas há uma nova geração à frente da empresa a querer trazer aquela histórica propriedade da família Montez Champalimaud e o seu icónico Grande Escolha de novo para a ribalta. (...)

Quinta do Côtto: um ícone do Douro que tenta reerguer-se
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.1
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os tintos da Quinta do Côtto perderam algum fulgor na última década e meia, depois de já terem sido dos mais badalados do Douro. Mas há uma nova geração à frente da empresa a querer trazer aquela histórica propriedade da família Montez Champalimaud e o seu icónico Grande Escolha de novo para a ribalta.
TEXTO: Lembram-se dos tintos Quinta do Côtto Grande Escolha das décadas de 80 e 90 do século passado? Se ainda têm garrafas em casa, benzam-se: os vinhos continuam extraordinários. Esses, sim, eram tintos do Douro a sério. Tinham tanino e excelente acidez natural. O frescor da vizinha serra do Marão temperava tudo muito bem e a maturação era mais prolongada. O volume alcoólico não chegava aos 13% e os vinhos não eram verdes, nem amargos. Ao gosto actual, podiam ser um nadinha rústicos em novos, mas tinham carácter e uma marca sempre inconfundível colheita após colheita. Um aroma fresco de bosque e de terra, de fruta madura mas com acidez, um vigor tânico notável e uma frescura de orvalho. Eram vinhos de muitas castas mas bastantes tributários dos taninos e da fruta suculenta da Tinta Roriz, casta tão mal amada no Douro dos vinhos tranquilos. Provam-se agora esses tintos e percebe-se que a sua complexidade e longevidade devem mesmo muito a esses taninos da Roriz. E também à acidez da Sousão, ao perfume da Touriga Nacional, à solidez da Touriga Franca e da Tinto Cão e à riqueza própria de todas as outras variedades que entravam no encepamento tradicional das vinhas velhas. O que aconteceu a estes vinhos? No auge da fama, vendiam-se às paletes. Não eram produções de garagem, como é comum fazer-se hoje para os topos de gama. Do Grande Escolha 1994, por exemplo, foram produzidas 59 mil garrafas. A Vinalda era (e continua a ser) a distribuidora exclusiva e comprava grande parte da produção por atacado, pagando antecipadamente. O apagamento da marca deu-se em paralelo com o afundamento da própria distribuidora. Hoje, tentam ambas reerguer-se, mas agora com novos protagonistas. Até 2017, a Quinta do Côtto (situada em Cidadelhe, a cerca de 10 quilómetros de Mesão Frio) e o Paço de Teixeiró (situado em Teixeira, já no vizinho concelho de Baião, região dos Vinhos Verdes), ambas propriedade da Montez Champalimaud, eram geridas por Miguel Champalimaud, um homem de convicções fortes. Há quem lhe chame antes teimoso. Em 2004, cansado de abrir garrafas com rolhas contaminadas por TCA, Miguel passou a usar screwcap em todos os vinhos da empresa. A mudança tinha uma razão válida por trás: a indústria da cortiça não dava garantias de fiabilidade. Mas Miguel Champalimaud foi mais longe e, em vez de justificar a mudança com os problemas das rolhas de cortiça, iniciou uma guerra em favor dos méritos da screwcap. Os vinhos da Quinta do Côtto, em especial o Grande Escolha, acabaram vítimas da “teimosia” do seu próprio criador e foram perdendo notoriedade. Mesmo assim, Miguel Champalimaud nunca recuou. Fez o mesmo em relação ao desinvestimento no vinho do Porto, negócio que nunca foi do seu agrado. Mas há sempre uma altura na vida em que a ordem natural das coisas se inverte e em que são os filhos e meter juízo nos pais. Foi o que aconteceu neste caso. Em 2017, Miguel Champalimaud passou a gestão da empresa para o filho, Miguel Mendia Champalimaud, e este – certamente com a anuência do pai - começou a fazer as mudanças que o mercado reclamava. E uma das primeiras foi passar a usar novamente rolhas de cortiça. “Hoje, a indústria da cortiça já nos garante rolhas isentas de TCA. No tempo do meu pai não dava essa garantia”, justifica Miguel Mendia. A mudança começou com o Quinta do Côtto Grande Escolha 2015 e com o Paço de Teixeiró Branco 2016 e assinala o relançamento de ambas as marcas. Recuperar uma marca é sempre uma tarefa difícil. Mas, no caso da Quinta do Côtto, propriedade com 76 hectares de vinha, há um histórico que avaliza o seu enorme potencial. A quinta tem uma longa tradição ligada ao vinho do Porto, já engarrafa vinhos tranquilos desde o início dos anos 60 do século passado e foi das primeiras da região, se não mesmo a primeira, a fazer vinhos monovarietais (de Bastardo, Sousão e Alvarelhão). O lançamento do Quinta do Côtto Grande Escolha em 1980 teve também algo de revolucionário. Tirando o Barca Velha e o Reserva Especial da Casa Ferreirinha, não havia nada que se lhe comparasse. Marcas como Duas Quintas, Crasto, Vallado, Gaivosa, Redoma, Vale Meão, etc, hoje famosas, só surgiram alguns anos depois. A Quinta do Côtto pode ter perdido o fulgor desse tempo, mas os vinhos que Miguel Champalimaud deixou para memória futura continuam a ser exemplares, como pudemos comprovar numa prova recente de oito colheitas históricas (duas por cada década) do Grande Escolha. Foi feita na solenidade de uma das salas do enorme solar do início do século XVIII existente na quinta e que a Montez Champalimaud quer também recuperar para enoturismo. É um edifício notável, situado mesmo no alto da aristocrática aldeia de Cidadelhe. As vinhas estendem-se ao seu redor e culminam num bosque que era o encantamento do pai de Miguel Champalimaud, Carlos de Sommer Champalimaud, irmão do empresário António Champalimaud. Carlos Champalimaud esteve à frente dos destinos da quinta entre 1960 e a revolução de Abril de 1974. Quando morreu, exigiu ser enterrado na propriedade, junto a uma das vinhas e rodeado de árvores. Quatro décadas de um grande vinhoOito vinhos, dois por décadas e uma conclusão: os melhores tintos Quinta do Côtto Grande Escolha foram feitos nos anos 1980 e 90, quando ainda eram arrolhados com rolhas de cortiça, o álcool não passava dos 13 % e os vinhos eram feitos em grandes cubas de cimento. Mais de 30 anos depois, os Grande Escolha 1985 e 1987 continuam soberbos (mais exuberante o 87, mais delicado o 85). O notável esqueleto tânico e a grande frescura natural de ambos (ressumam a bosque húmido) mantêm-nos ainda vivos e cheios de vigor. Os Grande Escolha 1990 e 1994 não ficam atrás. O primeiro é um vinho sem arestas, quase a roçar a perfeição. Com a mesma marca aromática dos anteriores, é um tinto fino, sedoso e tenso. Por sua vez, o 1994 é mais selvagem e intrigante. Tem sabores ainda mais terrosos e mentolados, os taninos parecem de um vinho com metade da idade e a acidez é vivíssima. É um daqueles tintos fogosos que nos desafiam, que mexem com a nossa boca e a nossa cabeça. O melhor de todos, se tivéssemos que escolher. Os vinhos deste século são igualmente muito bons, mas já um pouco diferentes. O álcool foi subindo de colheita para colheita e os vinhos tornam-se mais concentrados, embora sempre com grande garra tânica e frescura. A transição começou a dar-se com o Grande Escolha 2001 (mais próximo dos anteriores do que dos sucedâneos) e o ponto de viragem consumou-se com o 2007, o primeiro Grande Escolha a ser engarrafado com screwcap. Este vedante é bom para preservar a fruta dos vinhos, porque bloqueia mais o oxigénio. Mas as rolhas de cortiça permitem uma maior transferência de oxigénio e os tintos mais tânicos necessitam dessa oxigenação para irem arredondando. Não admira, por isso, que neste Grande Escolha, tal como no 2012, o tanino seja mais duro. Os vinhos parecem ter menos idade. E são também mais angulosos, apesar de possuírem maior madureza. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O último da prova foi o 2015, lançado recentemente e já com rolha de cortiça. É um tinto com 14, 4% de álcool (o 1985, por exemplo, tinha só 12, 3% de álcool) que junta uvas de vinhas velhas (51%), Touriga Nacional (38%) e Touriga Franca (11%). Um Douro típico, portanto. Típico pelas castas e pela concentração, riqueza aromática e intensidade de sabor, mas com o plus de possuir também uma frescura balsâmica já menos comum na região e que é uma das marcas distintivas dos Quinta do Côtto Grande Escolha. Ainda é novo, mas promete muito. O vinho conta já com a assinatura de Lourenço Charters, 30 anos, um dos mais promissores enólogos durienses da nova geração e que está também por trás do lançamento de dois novos tintos: o Quinta do Côtto Bastardo 2106 (20 euros) e o Quinta do Côtto Vinha do Dote (20 euros), este proveniente de uma propriedade situada mesmo junto à Quinta do Vallado e que chegou à família em 1865, incluída no dote que Rosa Carolina Pinto Barreiros teve que dar para casar com o então morgado de Cidadelhe, António Montez Champalimaud. Dois vinhos bem distintos mas igualmente belíssimos. Mais digestivo e raçudo o primeiro; mais denso, carnudo e especiado o segundo. Quinta do Côtto Grande Escolha Tinto 2015Montez ChampalimaudMesão FrioCastas: váriasGraduação: 14, 4% volRegião: DouroPreço: 50€Nota: 94
REFERÊNCIAS:
Há um novo António Zambujo que soa a Tom Waits e Beach Boys
Após um interregno dedicado às canções de Chico Buarque, o cantor regressa com um extraordinário disco em que ouvimos ecos de Caetano Veloso, sim, mas também a pop mais clássica e um perfil orquestral. (...)

Há um novo António Zambujo que soa a Tom Waits e Beach Boys
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Após um interregno dedicado às canções de Chico Buarque, o cantor regressa com um extraordinário disco em que ouvimos ecos de Caetano Veloso, sim, mas também a pop mais clássica e um perfil orquestral.
TEXTO: Em Setembro de 1975, enquanto António Zambujo dava voz aos seus primeiros choros em Beja, do outro lado do Atlântico Tom Waits ia frequentando os mesmos lugares pouco recomendáveis de sempre enquanto tentava convencer o seu público de que o piano bebia mais do que ele próprio. Dois meses antes, no final de Julho, Waits tinha gravado ao vivo nos Los Angeles Record Plant Studios o imbatível álbum-concerto Nighthawks at the Diner, em que histórias se transformavam em canções quase sem darmos por isso, para logo depois voltar àquelas digressões que se estendiam por todo o país e pareciam não ter fim. Mais tarde, recordaria tais meses à Rolling Stone: “Estive doente ao longo de todo esse período… Viajava bastante, vivia em hotéis, comia comida má, bebia muito – demasiado. Há um estilo de vida que já está ali antes de chegarmos e depois somos apresentados. É inevitável. ”Autoria: António Zambujo Universal MusicNos intervalos da estrada, Tom Waits jogava brevemente ao sedentarismo no Tropicana Motel, em Los Angeles, com a namorada de então Rickie Lee Jones – os dois tinham-se conhecido através de Chuck E. Weiss. E Weiss, companheiro de noitadas de ambos, havia de ser nomeado em canções como Jitterbug boy ou I wish I was in New Orleans, essa magnífica ode aos paradeiros nocturnos de uma cidade, gravada por Waits em Small Change, em que a sua voz envelhecia milagrosamente pelo menos três décadas. A canção há muito que mantém Zambujo debaixo de um estado de encantamento. E foi esse espírito de uma memória longínqua e próxima, do desejo dorido de estar num outro lugar, que Zambujo seguiu ao compor Retrato de bolso. A inspiração na canção de Waits é assumidíssima – tanto assim que o arranjo de piano e cordas segue as mesmas pistas – e esse dado foi também passado a Aldina Duarte quando lhe pediu a letra. E a fadista, conhecendo-lhe a vida além das canções, não quis saber de boémias e escreveu-lhe uns versos para se despedir do pai. Ouve-se de facto Tom Waits a pairar nas cordas de Retrato de bolso, um dos temas mais desprotegidos no alinhamento de Do Avesso, 2 minutos e 48 segundos sem grande máscara e entre aqueles que mais respeitam a ideia inicial que Zambujo passou aos seus companheiros de composição de querer esculpir um álbum em torno da(s) memória(s). Só que as letras e as canções foram chegando e as memórias, sem desaparecerem – Catavento da Sé, composição de Miguel Araújo, recupera a lembrança da rua da sua avó, Moda antiga, de João Monge lança a âncora nos seus dias alentejanos –, mostraram-lhe que ficar agarrado a elas implicaria perder o disco. Se é por Tom Waits que começamos é porque existe um forte simbolismo no espaço que ocupa em Do Avesso. Há muitos anos, desde que António Zambujo começou a sua lenta mas continuada deflexão do fado, as suas entrevistas deixavam sempre saber que Waits e Chet Baker eram referências fundamentais para a sua música. Baker, na sua voz frágil e soprada furava com mais facilidade até temas como A tua frieza gela ou Queria conhecer-te um dia, mas, ainda assim, era de João Gilberto e de Caetano Veloso que mais se falava e de quem Zambujo mais se aproximava. Em Do Avesso, Caetano mantém-se, como acontecia já nos últimos anos, enquanto farol mais destacado, mas esse é um lastro que agora se sente sobretudo nas linhas vocais. Neste álbum que baralha de novo as coordenadas e faz uma marcha-atrás estilística no caminho de Zambujo, é agora “o lado mais anglo-saxónico, mais folk, mais irish que acaba depois por influenciar a música americana” a fazer-se sentir. “É essa a essência deste disco – a haver uma”, acredita o músico. Zambujo fala de folk, mas há também uma sugestão jazzística constante em fundo. Do Avesso funciona como uma inversão de marcha em relação aos últimos anos, recuando no caminho que o cantor decidiu adoptar em Quinto e Rua da Emenda, discos fortemente marcados por uma convergência musical de sonoridades portuguesas, brasileiras e cabo-verdianas. A relação que antes estabelecia sobretudo com várias músicas populares locais dá agora lugar a uma música popular com um travo mais universal. “É o resultado de tudo, dos discos que ouvimos, das músicas que fazemos, de todas as influências que temos, das pessoas que estão ao nosso lado”, justifica. “Mas nunca penso muito nessas coisas. Estou focado a cantar e a tocar. ”Essa sonoridade de geografia mais difusa, estimulada pela presença pronunciada de uma linhagem clássica pop/rock, a par de uma investida por serpenteares jazzísticos, rapidamente se explica no convite dirigido a um tridente de produtores composto por Nuno Rafael (director musical de Sérgio Godinho, um dos artífices do álbum dos Humanos), Filipe Melo (pianista de jazz, mas com créditos de orquestração em discos de gente como Legendary Tigerman, Deolinda ou Diabo na Cruz) e João Moreira (trompetista de jazz, há muito companheiro de estrada de Zambujo). Se Moreira não é estranho a este universo, Rafael e Melo encaixaram na ideia que o cantor tinha para o novo disco quando os viu em palco, na pele de maestros do espectáculo Deixem o Pimba em Paz. A partir daí, as discussões sobre o álbum passaram a fazer-se sempre a quatro, numa partilha de referências que passavam por Beach Boys e Beatles (oiça-se Catavento da Sé, Sem palavras ou Não interessa nada para se perceber o quanto Brian Wilson e Paul McCartney por aqui se demoram – se bem que a última poderia ser obra de um rapaz chamado Caetano McCartney), Tom Waits (Retrato no bolso, Se já não me queres ou Arrufo) e Rodrigo Amarante. Amarante, outro endividado para com a figura de Chet Baker, aparece escarrapachado no tema de abertura, Do avesso, nascido da pena de um outro Rodrigo made in Brasil – no caso, de apelido Maranhão. O piano de fantasmagórica melancolia, Zambujo foi buscá-lo ao brilhante Cavalo, em concreto a Fall asleep. “O Cavalo, do Amarante, tinha muitas experiências de som que me inspiraram”, reconhece. “E em relação a esse piano, eu disse que não queria parecido, queria mesmo aquele som. ”Cavalo é um álbum que faz sentido enquanto referência no momento em que Zambujo se encontrava na linha de partida para a criação do novo registo. Já no lançamento do anterior Rua da Emenda, havia uma canção de rabo de fora a encerrar o disco. Viver de ouvido, música de Zambujo para letra de José Fialho Gouveia, era uma canção distendida, gravada no telefone, voz e guitarra sem polimento algum, com uma hesitação na letra, tema e música ainda a encaixarem-se num tema acabado de nascer. Era o primeiro indício de que queria “começar do princípio”, recuar até esse registo de onde tudo parte (voz e guitarra) e construir a partir daí com recurso a peças diferentes. Também um disco de Nana Naymmi e César Camargo Mariano, voz e piano, que lhe haviam oferecido no Brasil, seria usado como pista adicional para esse caminho – foi daí que saiu Fruta boa, tema de Milton Nascimento, uma das versões que encontraram espaço em Do Avesso. Nessa construção com novos elementos, de início Zambujo nem sequer equacionou a introdução de uma orquestra, mas a vocação natural de Filipe Melo para esse tipo de solução foi-se infiltrando aos poucos e, quando o cantor deu por isso, já não era capaz de imaginar as canções sem os apontamentos – por vezes a remeter para um mundo em que Sinatra é rei, outra vezes com o trono alargado para lá caberem os quatro Beatles – interpretados pela Sinfonietta de Lisboa. Os arranjos orquestrais remetem também para um universo cinematográfico caro a Zambujo. Aliás, é por causa desse encontro que chegamos a Amapola, tema que deliciava há muitos anos o músico, desde que o descobrira orquestrado por Ennio Morricone numa cena de Era Uma Vez a América, em que Noodles regressa à infância e espia Deborah enquanto ela ensaia uns passos de ballet. “Para mim, os dois momentos musicais mais bonitos da história do cinema”, justifica, “são a Paloma cantada pelo Caetano no Fala com Ela, e este do Era Uma Vez a América. Sempre achei esta música maravilhosa, mas não tinha vontade de cantá-la porque julgava que era instrumental. ” Foi graças a um concerto dos Três Tenores que foi surpreendido por uma letra para o tema, em castelhano. Para não ficar linguisticamente desirmanado, Zambujo emparelhou-o com Madera de deriva, tema colhido junto do uruguaio Jorge Drexler. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. São exemplos de um disco que se vai transformando em termos sonoros, abandonando, aos poucos, o tom mais pop/rock para se entregar a temas de perfil mais clássico, mas em que Zambujo sai sempre coroado. As composições (escolhidas a partir de um lote de 30) são, regra geral, magníficas e as suas interpretações acompanham essa atmosfera enlevada, sem forçar a voz a voos desnecessários. Em duas ocasiões, temas da lavra de Luísa Sobral e Márcia, Zambujo volta a cantar na pele de uma mulher, algo que acontecera já em Até Pensei que Fosse Minha, o seu álbum dedicado ao cancioneiro de Chico Buarque. Atraído por se ver de visita a um mundo que não é o seu, esse foi um pedido expresso da sua parte – o de querer imaginar-se noutro corpo e noutra vida. No primeiro desses temas, Se já não me queres, ouvimos às tantas a guitarra portuguesa furar o instrumental para nos lembrar que está por lá, embora meio escondida. Em todo o álbum, Bernardo Couto leva o instrumento para um papel quase sempre rítmico, recusando-se ares de protagonista. No segundo, o espantoso Não interessa nada – muito bem ligado a Arrufo, de Pedro da Silva Martins, descobrimos em Márcia uma escrita com o atrevimento e o humor que Maria do Rosário Pedreira ajudou a estabelecer como imagem de marca do autor – a poetisa sente-se, por isso, como uma ausência presente em Do Avesso. “Às vezes isso até pode tramar”, confessa Zambujo, “porque as pessoas acabam por imaginar-nos sempre a fazer a mesma coisa, o que não me interessa muito. Há muitas músicas que ficaram de fora porque percebo mesmo que tentaram armar-se em engraçadinhas e desde o tempo do La Féria sei que graça com graça dá desgraça”, ri-se. A vantagem é que os autores que povoam o disco quase todos conhecem bem Zambujo. E só assim é possível encerrar com um certeiro tema escrito por João Monge e musicado pelo cantor, Moda antiga, versejador das angústias e dos conflitos de quem cresceu no Alentejo e se pergunta o tempo todo quanto de si pertence à província e à metrópole, quanto de si é campo e quanto é cidade, quanto da sua nova vida equivale a traição. E a dúvida, a incerteza e o conflito, como bem se sabe, é um dos melhores lugares para se habitar.
REFERÊNCIAS: