O estado não perdoará Billy The Kid
Ladrão de gado e assassino de xerifes, Billy The Kid está imortalizado em tons heróicos no cinema, na música ou em BD. 118 anos depois da sua morte, o governador do Novo México reabriu o processo e a 31 de Dezembro último soube-se que o estado não perdoou um dos mais duradouros mitos do Velho Oeste. (...)

O estado não perdoará Billy The Kid
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-01-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ladrão de gado e assassino de xerifes, Billy The Kid está imortalizado em tons heróicos no cinema, na música ou em BD. 118 anos depois da sua morte, o governador do Novo México reabriu o processo e a 31 de Dezembro último soube-se que o estado não perdoou um dos mais duradouros mitos do Velho Oeste.
TEXTO: Na noite de 14 de Julho de 1881, no Novo México, um homem de 21 anos caiu no escuro de um quarto. Pat Garrett, o xerife que disparara dois tiros quando um vulto surgiu na penumbra, saiu do quarto e esperou, ansioso. E se o homem que matara não fosse aquele que perseguia? E se o homem que matara não fosse Billy The Kid, fugitivo com várias mortes no currículo, incluindo a de um xerife, William Brady? Pat Garrett ganhou coragem. Confirmou. Era ele. Começava a lenda em volta daquela personagem ambígua: para uns, criminoso cruel, para outros, herói trágico injustiçado. Em Agosto de 2010, aquele que foi durante oito anos governador do Novo México, Bill Richardson - abandonou o cargo a 1 de Janeiro, depois de cumprir os dois mandatos permitidos pela Constituição americana -, anunciou o último acto da sua governação. Decidiria sobre o indulto de Billy The Kid, uma das maiores atracções turísticas do Novo México, 118 anos depois da sua morte. Richardson recuperou o caso enquanto acto de justiça. Em 1878, Henry McCarty (nome de nascença), ou melhor, William H. Bonney (nome adoptado aos 18 anos), ou, simplificando, Billy The Kid, escreveu a Lew Wallace, recém-empossado governador do Novo México (e autor, em 1880, do épico Ben Hur), prometendo entregar-se e testemunhar no julgamento de outros crimes no território em troca de amnistia. O governador aceitou o acordo, o pistoleiro entregou-se. Mas, depois do testemunho, manteve-se preso. Wallace cometeu a desonra de faltar à palavra. Até dia 31, esgrimiram-se argumentos (maioriariamente contra o indulto). Os descendentes de Pat Garrett, William Brady e Lew Wallace acusaram o governador de revisionismo histórico. Um historiador amador, Bob Ross, falando ao New York Times, concordou com eles: "Neste momento, é um gesto vazio. O propósito do perdão seria salvar-lhe a vida. É demasiado tarde. Ao perdoá-lo, o que se está a dizer? Que não matou o xerife Brady? Os factos mostram que o fez e que era um ladrão profissional de cavalos e gado. "Dia 31, foi feito o anúncio. Não houve perdão para Billy The Kid, um homem cuja vida foi passada "a saquear, a devastar e a matar os merecedores e os inocentes de igual forma", declarou o governador. "Se alguém vai reescrever um capítulo tão importante quanto este", justificou, citado pelo New York Times, "será conveniente ter a certeza dos factos, das circunstâncias e motivações dos envolvidos". Oficialmente, assunto encerrado. Tudo não passara de devaneio de um homem do poder fascinado com um mito. Mas, quanto a Billy The Kid, é impossível ser absolutamente objectivo. O assassino implacável era também, concordam os relatos da época, um homem sociável e bon vivant, de discurso e escrita fluente, justo para com os seus, sedutor e bom dançarino. Era especialmente popular junto da população mexicana: incitava-a a rebelar-se contra as humilhações e injustiças exercidas pelos grandes proprietários. A Guerra de Lincoln CountyHenry McCarty nasceu em Nova Iorque a 23 de Novembro de 1859, filho de Catherine McCarty, uma imigrante irlandesa, e de pai incerto. Aos 14 anos, acabado de chegar a Silver City, vê a mãe morrer de tuberculose. Com 1m75, magro, de olhos azuis e com incisivos salientes, era um órfão de vida desgraçada, mas de inocência não corrompida. Os anos seguintes transformariam essa imagem. É preso pela primeira vez aos 15 anos, por roubar queijo. É preso pela segunda vez meses depois - desta vez, roupa e armas de uma lavandaria chinesa. Escapa da cela por uma chaminé, torna-se um fugitivo, um fora-da-lei, e faz precisamente aquilo a que, dizem-nos os westerns, se dedicam os fora-da-lei. Jogo e roubo de gado, com mortes pelo meio. A primeira do seu currículo surge em 1877: um ferreiro irlandês com quem mantinha uma relação turbulenta - "Autodefesa", argumenta; "criminoso", escreve-se no relatório policial. Foge novamente.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra lei filho homem imigrante
Em Sesimbra "a abstenção cresceu porque cresceu a raiva"
Sesimbra foi o concelho com mais elevada abstenção nas últimas eleições autárquicas. As pessoas estão descontentes com a CDU, mas preferiram abster-se a votar na oposiçãoA julgar pelo tom de voz, ninguém se atreverá a dizer que a abstenção de Fedor resulte da apatia. "Não fui votar!", grita ele, à porta da loja de companha, na doca de Sesimbra. "Não fui porque não acredito nos políticos. Com uma reforma de 60 contos, ainda sou obrigado a trabalhar! Em 69 anos que aqui ando, nunca vi nada mudar". Júlio Pinto, alcunha, o Fedor (pronuncia-se "Fador", por metaplasmo enfático), explica, com a cara de quem está prestes... (etc.)

Em Sesimbra "a abstenção cresceu porque cresceu a raiva"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.7
DATA: 2013-10-07 | Jornal Público
TEXTO: Sesimbra foi o concelho com mais elevada abstenção nas últimas eleições autárquicas. As pessoas estão descontentes com a CDU, mas preferiram abster-se a votar na oposiçãoA julgar pelo tom de voz, ninguém se atreverá a dizer que a abstenção de Fedor resulte da apatia. "Não fui votar!", grita ele, à porta da loja de companha, na doca de Sesimbra. "Não fui porque não acredito nos políticos. Com uma reforma de 60 contos, ainda sou obrigado a trabalhar! Em 69 anos que aqui ando, nunca vi nada mudar". Júlio Pinto, alcunha, o Fedor (pronuncia-se "Fador", por metaplasmo enfático), explica, com a cara de quem está prestes a bater em alguém, que não vota mais na CDU, porque os actuais autarcas não fizeram nada por Sesimbra. Mas que também não vai votar no candidato da oposição, porque não o conhece. "Quem é? Um gajo careca, não é? Não tenho contacto. Nunca aqui veio falar connosco". Fedor trabalha na pesca e ganhou a alcunha por estar sempre metido no lodo, sempre a mexer em redes e peixe, sem tempo para se lavar. E ainda não conseguiu libertar-se disso. Luís Roseiro, 56 anos, comerciante de peixe, também não. "Aquele que está no cartaz?" Refere-se a Américo Gegaloto, cabeça de lista à Câmara de Sesimbra pelo PS. "É filho de quem? Ah, acho que é um gajo da Quinta do Conde. Não veio cá. Aqui não veio ninguém". A Quinta do Conde é uma das freguesias de Sesimbra. Nasceu do nada nos anos 70, quando o empresário António Xavier de Lima comprou a propriedade rural para a vender ilegalmente em lotes de construção. Ninguém é de lá, e ninguém conhece ninguém na freguesia do país que mais cresceu, nas últimas duas décadas. "Só cá veio um candidato", lembra outro pescador. "Mas não falou com ninguém. Distribuiu uns panfletos, não abriu a boca". "Esse era o fotógrafo. Como é que se chamava?""Concorreu como independente. A mim não disse ele nada". "Não fala com as pessoas, nem cumprimenta", diz o Fedor. "Então mas esse gajo está a pedir o meu voto e nem fala comigo?"Por que será? Que estratégia é a deles? O grupo de homens discute por momentos o assunto. "O candidato do PS é da Quinta do Conde, aqui ninguém o conhece", diz João Rosa, 51 anos. "Não sei os projectos que ele tinha. Por isso não votámos nele. Os candidatos deviam vir aqui falar com as pessoas. Os da CDU vêm, mas depois só ajudam os que são da cor deles. Os outros não põem cá os pés. Eu também não votei. Fui à Festa do Campo". Os candidatos não falam com as pessoas, "porque têm medo que elas lhes peçam coisas". O fenómeno é esse: é preciso contactar, mas eles têm medo de contactar. No grupo de conversa chegou-se a uma conclusão, rapidamente, porque há muito que fazer, não se pode ficar aqui parado: os políticos têm medo do povo. O grande empregadorCarlos Macedo é administrador da Artesal Pesca, uma cooperativa de armadores que, com o seu sistema de conservação em frio, tenta controlar o preço do peixe, evitando a venda diária nos leilões da Docapesca. Candidatou-se pelo Bloco de Esquerda. "Aqui na vila de Sesimbra, vivem pouco mais de 3 mil pessoas. É como uma aldeia", explica ele. "As pessoas conhecem-se. É importante se os candidatos são de uma família conhecida". Se não forem, ninguém confia neles, por motivos de segurança. Com a actual câmara, pelo menos sabe-se com o que se conta. "Nesta freguesia vivem 3 mil pessoas, e só na Câmara trabalham mil", diz Carlos Macedo. Fora da instituição municipal, praticamente não há emprego. A pesca deixou de ser o ganha-pão da comunidade, como sempre fora, desde que entrou em crise, com as regras da UE. Embora recentemente tenha recuperado parte desse estatuto de pilar de sobrevivência. "Ainda são as pescas que estão a segurar a actividade económica", diz Carlos Macedo. "Muitos jovens abandonaram a actividade, para trabalharem nas obras. Mas agora, com a crise da construção civil, há muitos homens de 40 ou 50 anos que estão a regressar à pesca". Apesar de tudo, alguns sectores das pescas registam uma relativa prosperidade. É o caso da arte do cerco para a apanha da cavala, espécie que durante durante muito tempo não teve valor, mas encontrou um novo mercado: os espanhóis utilizam a cavala para alimentar os atuns de viveiro. Ainda que despromovida na cadeia alimentar, a pesca acabou por ratificar o seu estatuto de âncora da comunidade. A vida do mar é por natureza incerta, mas é precisamente isso que imprime nas mentalidade os elos de dependência. Os pescadores sempre foram gente de grande religiosidade. Submissos, como, sob anonimato, há em Sesimbra quem lhes chame. Se existe, esse apego à autoridade não os impediu de serem aguerridos e até radicais na luta contra a opressão. Mas talvez a própria audácia os tenha lançado num novo jugo. Logo após o 25 de Abril, o PCP ajudou os pescadores explorados até à miséria a lutarem contra a opressão dos armadores. E os sesimbrenses nunca esquecerão que foi Ezequiel Lino, comunista, o primeiro presidente da câmara eleito democraticamente, a demolir os bairros de lata dos pescadores, para construir habitação social decente. No processo, os comunistas infiltraram-se nas malhas da sociedade. Dominam até hoje o sindicato dos pescadores, a autarquia, as mais de 80 associações e colectividades de Sesimbra. Nas eleições legislativas nacionais, o PS tem aqui sempre maioria. Mas nas autárquicas quem domina é a CDU, desde 1974, salvo uma interrupção de dois mandatos para o PS. O actual presidente da câmara, Augusto Pólvora, reeleito com maioria absoluta, apesar de ter perdido quase três mil votos, é um "filho da terra". O seu pai era pescador e morreu no mar. A sua relação com as populações é de grande proximidade e confiança, até mesmo afecto, ainda que o último mandato tenha levado a uma decepção generalizada. As pessoas queixam-se da crise e da pouca ajuda prestada pelo município. E do carácter discriminatório e nepotista das acções da câmara, como por exemplo na selecção dos candidatos ao novo bairro de habitação social. Ou na atribuição de emprego, onde é favorecido quem é próximo do PCP, e ostracizado quem ousou não apoiar publicamente o partido na campanha. "O presidente é uma óptima pessoa, mas é vingativo", disse um sesimbrense ao PÚBLICO. Muitos pescadores sentem também que os comunistas os traíram na luta contra as regras impostas pela instauração, em 2005, do Parque Natural da Arrábida. A contestação ao excesso de restrições à pesca na área protegida serviu à CDU na altura para derrotar o PS nas eleições. Mas depois, cumprido o objectivo político, foi esquecida. "Os pescadores têm razão em sentirem-se abandonados, porque, de facto, não houve resultados práticos", disse Augusto Pólvora ao PÚBLICO. "Mas não quer dizer que nós não tenhamos lutado por isso". Segundo o autarca, não está ao seu alcance fazer muito mais. "Que podemos nós fazer pelas pescas?" O sector está a ser muito fustigado, bem como toda a comunidade, e "as pessoas tendem a culpar quem está próximo. Mas o fenómeno é geral, o da descrença nos políticos". Para Pólvora, as razões imediatas que explicam a abstenção elevada são a emigração, a confiança de que a CDU tinha a eleição garantida, o facto de ter chovido torrencialmente no dia da votação, e as obras que foram feitas. "Nas freguesias onde realizámos obras de melhoramento, designadamente de saneamento básico, foi onde se registou maior abstenção. As pessoas ficaram insatisfeitas, porque as obras implicaram degradação nas vias durante algum tempo. Podia ter evitado essas obras nesta altura pré-eleitoral, mas consegui financiamento europeu. Fomos penalizados pelo que fizemos, não pelo que não fizemos". Os danos nas vias públicas duraram muito mais do que o normal, porque a câmara, sobreendividada, perdeu a capacidade de investimento e de acção. Da mesma forma, muitos empreendimentos hoteleiros e habitacionais ficaram a meio, abandonados pelos empreiteiros, apanhados pela crise. Oposição esquecidaO descontentamento da população é evidente, mas isso não levou à transferência de votos para os partidos da oposição. Apenas ao aumento da abstenção. A insegurança pode levar, não a apostar em alternativas, mas a agarrarmo-nos ao que já conhecemos. Muitos jovens estão a aproximar-se da CDU, por acharem que é a única forma de conseguirem trabalho, diz Carlos Macedo. E Carlos Sargedas, que concorreu como independente, disse ao PÚBLICO que a sua actividade como fotógrafo e empresário está a ser altamente prejudicada desde que ousou desafiar o poder instituído. Sargedas conseguiu mais votos (cerca de 1700) do que assinaturas para legalizar a candidatura. "Eu voto em ti, mas não me peças para assinar nada", diziam-lhe alguns apoiantes, com medo das represálias. Sargedas, cuja empresa se dedica, além da fotografia, a filmagens aéreas da Arrábida e cabo Espichel com fins turísticos e de promoção imobiliária, não se intimidou. O "parque jurássico"Ele, que já tinha organizado um festival internacional de cinema ligado ao turismo, o Finisterra - Arrabida Film and Art Festival, lançou uma série de propostas ambiciosas. Talvez demasiado, na opinião de muitos munícipes. Incluíam transformar as pedreiras da zona em locais de lazer, com lagos, paredes de escalada, etc, transformar hotéis abandonados em unidades de saúde, atrair turistas à Arrábida com base no seu potencial cinematográfico. Mas a proposta que muitos consideraram verdadeiramente megalómana foi o projecto-gigante de um parque temático na Quinta do Conde. "Seria um parque temático tipo Isla Mágica, mas cujo tema seria o Parque Jurássico. Temos as pegadas de dinossauro, as grutas, e abriríamos restaurantes, centros de diversão, tudo ligado aos dinossauros. Uma coisa do género das que os chineses fazem. Eu adoro a China. Venderíamos pacotes de cinco dias aos turistas. Várias empresas estavam dispostas a investir nisto". Há quem diga que Sargedas não foi eleito por excesso de visão. As pessoas desconfiaram de projectos tão ambiciosos. Não sem a ajuda, é claro, da feroz campanha de descredibilização da parte dos comunistas, cujo mais suave insulto usado foi o de "Sargeta". "A câmara não faz nada pelo concelho, nem deixa ninguém fazer", diz Sargedas. O único projecto cultural que desenvolveram com êxito, acrescenta, é um grupo de teatro ligado ao PCP e que faz peças humorísticas de vez em quando. O grupo designa-se, aliás, De Vez em Quando. "Eu já não acredito nos políticos", diz, sentado à porta da Sociedade Musical Sesimbrense, Domigos Lopes, 68 anos, ex-pescador. Alcunha, o Chochinha. "A Polícia Marítima anda atrás dos pescadores como se fosse a caça à lebre", diz ele. "Há sempre pretexto para multas, por não trazerem colete, ou bóia, ou extintor. . . Estão a acabar com a pesca e os políticos não fazem nada". A Sociedade Musical tem mais de 100 anos, é dominada pelo PCP. O grupo de pescadores reformados está sentado à porta, em frente ao mar, como todos os dias. Seria uma tragédia se a associação fechasse, como aconteceu por exemplo com a Sociedade de Recreio Sesimbrense, também centenária, mas que não teve mais dinheiro para pagar a renda, nem subsídio da câmara para ajudar. "Os pescadores têm levado muita porrada", diz outro reformado, António Luís, alcunha o Fartura, 71 anos, 56 como sócio da Musical. Nelinho Pereira Vidal, 85 anos, o Escuminha, acrescenta, melancólico: "Nunca ouvi falar desse gajo do PS". Joaquim Paulo, 68 anos, o Índio, diz, preocupado: "Tenho medo de pessoas novas, que não conheço". O Chochinha: "Ao menos o Pólvora se for preciso falo com ele na rua, Augusto para aqui, Augusto para ali". Diz o Chochinha: "Não foi por desinteresse que muitas pessoas não foram votar. A abstenção cresceu porque cresceu a raiva". Intervém a seguir o Fartura, uma expressão fatalista na boca desdentada: "Não estou satisfeito com a câmara, mas se não votarmos na CDU, vamos votar em quem?"
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Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda, recebe a Palma de Ouro da 71.ª edição de Cannes
Prémios ainda para Spike Lee, Nadine Labaki e Godard, e para os actores Samal Yeslyamova e Marcello Fonte. (...)

Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda, recebe a Palma de Ouro da 71.ª edição de Cannes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Prémios ainda para Spike Lee, Nadine Labaki e Godard, e para os actores Samal Yeslyamova e Marcello Fonte.
TEXTO: É uma história de família, daquelas a que talvez todos queiramos pertencer pelas cores e pelos sentimentos que são não só a sua promessa mas a sua realidade – toda ela inventada, claro. Porque é uma família que se formou pelo crime, pelo delito – e o roubo é apenas um deles –, é uma família recomposta com quem já falhou antes no casamento ou com quem foi vítima de abuso. Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda, recebeu este sábado a Palma de Ouro de Cannes 2018, atribuída pelo júri presidido por Cate Blanchett, e que integrou ainda o actor chinês Chang Chen (Happy Together, de Wong Kar-wai), a argumentista, realizadora e produtora norte-americana Ava DuVernay (Selma), o realizador francês Robert Guédiguian, a cantora do Burundi Khadja Nin, a actriz francesa Léa Seydoux (A Vida de Adèle), a actriz americana Kristen Stewart, e os cineastas Denis Villeneuve e Andrey Zvyagintsev. Belíssimo palmarés da presidente e dos seus jurados, que fecham sem mácula uma prestação que há duas semanas começara com uma conferência de imprensa em que resistiram à produção de simplificações, à fixação de agendas sobre a sua equipa; em que assumiam o voto na longa duração. Este palmarés é o exercício dessas intenções: o trumpismo e o racismo, através do filme de Spike Lee (a história inacreditável mas verídica de um polícia negro que se infiltrou no Ku Klux Klan), os imigrantes, o cinema como plataforma, como porta-voz, através do filme de Nadine Labaki (a ficção, rodada com histórias reais, de um miúdo de 12 anos que leva os pais a tribunal por lhe terem dado vida), estão no palmarés, com queles que eram os dois títulos favoritos, BlacKkKlansman e Capharnaüm, sintonizados com a desordem bíblica do mundo. Mas nem Spike Lee chegou ainda à Palma, ele que é dos históricos do festival (e um dos seus "derrotados" históricos), nem a estreante no concurso, a libanesa Labaki, autora do filme empático desta edição. A Palma de Ouro fechou-se assim no espaço da intimidade como lugar de reinvenções também veementes, naquele que é o melhor dos últimos filmes do realizador de Nobody Knows/Ninguém Sabe (2004), resgatando o seu cinema à música ambiente com que vem decorando os festivais (O Terceiro Assassinato, que se estreou há semanas em Portugal, competiu por exemplo no último Festival de Veneza). Tudo, na cerimónia, começara com o dedo apontado ao mundo, com o j'accuse de Asia Argento, a contar que em 1997, quando tinha 21 anos, ali mesmo, em Cannes, fora "violada" por Harvey Weinstein, e que o festival, com muitos dos que estavam ali sentados, tinham sido não apenas cúmplices como mesmo o ambiente propício a esse tipo de comportamento – desejou a actriz que Weinstein nunca mais seja aceite no festival. O palmarés propriamente dito foi primeiro ao prémio de interpretação feminina, atribuído a Samal Yeslyamova, por Ayka, de Sergey Dvortsevoy, maravilhosa e dolorosa epopeia por Moscovo, colocando-nos no corpo, nas dores, de uma mulher que acabou de dar à luz mas não tem tempo para ser mãe, porque tem dívidas. Seguir Samal e seguir o actor premiado, Marcello Fonte (Dogman), em quem o italiano Matteo Garrone disse ter encontrado a poesia lunar de Buster Keaton, seu ídolo, foram duas revelações do festival; com eles, por eles, acedemos aos filmes, eles são-nos revelados. Curioso ter sido Roberto Benigni a entregar o prémio a Marcello, actor de 39 anos que pode ser encontrado em Corpo Celeste (2012) de Alice Rohrwacher (vencedora, ex-aequo com 3 Faces de Jafar Panahi, do prémio de argumento por Lazzaro Fellice) e que tem em Dogman o seu primeiro papel principal como tratador de cães abusado por um bully cocainómano: uma das versões iniciais do argumento, quando Dogman ainda se chamava O Amigo do Homem, chegou a ser proposta a Benigni. E last, but not the least, o júri de Cate Blanchett fez uma coisa bonita, pediu autorização aos directores do festival para atribuir uma Palma de Ouro Especial a Jean-Luc Godard, por Le Livre d'Image mas sobretudo por tudo o que o cineasta continua infatigavelmente a perseguir. Godard, 87 anos, tanta determinação e tanta tristeza, que segundo ele nunca é de mais para o mundo poder vir a ser melhor, foi uma espécie de Jesus Cristo anunciado na 71. ª edição. Ele que não esteve em Cannes mas está em todo o lado, materializado e desdobrado, encontrou-se com os fãs através de telemóvel – naquilo que, em descrição terrena, deve ter sido uma conferência de imprensa. Palma de Ouro Shoplifters, de Hirokazu Kore-edaGrande Prémio BlacKkKlansman, de Spike LeePrémio do Júri Capharnaüm, de Nadine LabakiPalma de Ouro Especial Jean-Luc Godard, Le Livre d'ImagePrémio de Realização Pawel Pawlikowski, por Cold WarSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Prémio de Argumento (ex-aequo), Lazzaro Felice, de Alice Rohrwacher, e 3 Faces, de Jafar PanahiPrémio de Interpretação Feminina Samal Yeslyamova, por Ayka, de Sergey DvortsevoyPrémio de Interpretação Masculina Marcello Fonte, por Dogman, de Matteo Garrone
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Partidos LIVRE
O que é isso de ser um expatriado em Portugal
Chegam em grande número, à procura do sol, da gastronomia, da hospitalidade e de uma oportunidade para recomeçar uma vida. Portugal é o melhor país da Europa, e o quinto melhor país do mundo, para receber expatriados, segundo um inquérito da InterNations, uma rede social utilizada por três milhões de utilizadores. A empresa acaba de escolher o Porto para abrir o seu centro de desenvolvimento. (...)

O que é isso de ser um expatriado em Portugal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chegam em grande número, à procura do sol, da gastronomia, da hospitalidade e de uma oportunidade para recomeçar uma vida. Portugal é o melhor país da Europa, e o quinto melhor país do mundo, para receber expatriados, segundo um inquérito da InterNations, uma rede social utilizada por três milhões de utilizadores. A empresa acaba de escolher o Porto para abrir o seu centro de desenvolvimento.
TEXTO: Um mês em Vila Nova de Gaia, um mês em Lisboa, um mês em Lagos. A principal decisão estava tomada: Karen Nipps iria pela primeira vez, nos seus 61 anos de vida, morar fora dos Estados Unidos da América. Recém reformada, do emprego de uma vida como bibliotecária em Boston, queria tentar começar algo novo em Portugal. “As pessoas perguntam-me, porquê? Eu respondo invariavelmente: ‘Porque não’?”, diz ao P2. Portugal, garante, foi uma escolha óbvia: “Cheguei a considerar a hipótese do México. Mas para mim, que não conduzo, ter uma boa infra-estrutura de transporte também era fundamental. Estive em Portugal, como turista, há dois anos, e adorei. Pensei que não valia a pena procurar mais”, explicou. Nipps aterrou em Portugal em Setembro decidida a mudar de vida e apostada em escolher um bom sítio para morar. Foi em Novembro de 2017 que chegou de bagagens na mão, apenas com roupa e livros como companhia. Passou um mês em cada uma das três cidades portuguesas e, apesar de ter gostado muito de todas, a escolha acabou por recair no Porto. “Tem a dimensão certa”, diz. Mora num apartamento na zona de Campanhã, a zona mais oriental e menos desenvolvida da cidade, frequenta pequenas mercearias de bairro onde ninguém fala inglês. “Eu é que vim para cá, eu é que tenho de tentar falar português com eles”, sublinha, concedendo que seria mais fácil já saber mais sobre a língua, mas outras das decisões que tomou passa por aprender a falar português. Em Fevereiro deste ano teve autorização de residência – “Não sou nenhum visto gold, não tenho essa capacidade financeira”, alerta. Esta norte-americana colocou mil euros como limite mensal de renda antes de iniciar a busca de casa. Gostou de uma casa em Campanhã, mais longe do frenesi do turismo, e ficou. “Não queria por nada viver num sítio onde só encontrasse turistas. Não sei como é que hei-de dizer isto, mas não acho bem que haja McDonald’s no centro do Porto. ”Karen não foi a primeira, nem será a última pessoa, que escolheu Portugal para passar os anos dourados da reforma. Terry e Elizabeth Hayden mudaram-se de Chicago para Portugal há sete meses. Ele, antigo corrector de bolsa, está reformado há quase vinte anos. Ela, reformou-se há menos tempo, também de um emprego no mercado de capitais. Viajaram um pouco por toda a Europa, viajaram muito por Portugal, onde vieram pela primeira vez há quatro anos. Em Setembro do ano passado instalaram-se no Porto, e com intenção de ficar uma longa temporada. Fizeram várias buscas de casa até acabarem por assinar um contrato de arrendamento num apartamento da Foz para um ano. Terry tem dupla nacionalidade — para além de norte-americano, é também irlandês, o que faz dele um cidadão europeu a quem as exigências burocráticas são bem menos difíceis. “Depende do ponto de vista, eu até as achei difíceis. Tivemos de arranjar uma certidão de casamento. Isso nos Estados Unidos já nem se usa”, comenta, sentado à mesa de uma esplanada montada num terraço colado à muralha Fernandina, em pleno coração do Porto. Terry acha toda a gente muito simpática, o clima a e a gastronomia “para lá de espectacular”, apenas se queixa do pouco civismo de alguns condutores — “acham que basta ter um carro, que estão autorizados a estacionar em qualquer sitio” — e dos donos de muitos cães – “que fazem as necessidades onde lhes apetece e ninguém se preocupa em apanhar”. Na mesma mesa está Tracy Lawlor, assistente social com residência fixa em São Diego, na Califórnia, mas que passou os últimos três meses em Portugal. Um mês em Lisboa, dois meses no Porto. Acabou de conhecer o casal Hayden. Estão a trocar impressões sobre a vida em Portugal e a experiência de viver no Porto. Tracy está quase a ver expirado o seu visto de turista, com 90 dias. “O Porto é, neste momento, a cidade que eu mais gosto em todo o mundo. Era capaz de me mudar para cá, agora!”, assegura. Não o vai fazer para já, porque ainda não está reformada. E os dez dólares à hora que lhe pagariam para ensinar inglês online também não são suficientes. Por enquanto. Mas vai pensar no assunto, assegura. Cradoc Bagshaw, fotógrafo e a mulher, Theresa, escritora, ambos reformados, também querem morar no Porto. Dizem que foi a cidade que os escolheu quando a visitaram pela primeira vez, em Maio do ano passado. “Viemos para o primeiro Festival de Fotografia do Porto e ficamos apaixonados. Com tudo”, conta Cradoc. Se em anos anteriores experimentaram cidades como Paris, em França, ou Marbella, em Espanha, onde também passaram longas temporadas, nunca tiveram vontade de ficar. “No Porto, sim. Foi automático”, admite Theresa. Os Bagshaw dizem que não viver num sítio de reformados, mas antes querem “continuar excitados com a vida”. E no Porto sentem isso. Estão em Portugal desde Setembro, tiveram uma reunião com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) em Fevereiro, já sabem que vão ter autorização de residência. Mas ela ainda não chegou à caixa do correio. Já têm um apartamento arrendado na Pasteleira, junto à Foz, num edifício dos anos 60 que os apaixonou não só pela vista que tem sobre o estuário do Douro, como pela proximidade ao que lhes importa. “Estamos a uma viagem de autocarro do centro da cidade, e a umas passadas do oceano e do rio”, diz Theresa. “O Porto é perfeito”, remata Cradoc. Sarah da Silva, 27 anos, quer muito morar no Porto, mas admite que está quase a desistir. Nasceu alemã, filha de pais açorianos, viveu um ano no Algarve, quatro anos em Londres, está há um mês no Porto, num pequeno intervalo antes de concluir o mestrado em educação ambiental e enquanto começa a procurar emprego no Porto. “Não percebo como é que os portugueses conseguem pagar estas rendas”, lamenta, queixando-se do oportunismo de alguns proprietários que cobram, por exemplo, 350 euros por um quarto, “que nem está no centro da cidade, mas no Marquês”. “Eu ainda o consigo pagar, porque tenho propinas alemãs, mas como fazem os portugueses em início de carreira?”, questiona. Resultado: “O mais provável é não conseguir ficar no Porto, apesar de gostar dessa possibilidade”, admite. Para já divide apartamento com Alessia Usai, uma italiana de 28 anos, que vivia em Malta e chegou ao Porto para usufruir “do ambiente criativo da cidade” e procurar uma ocupação na área das artes e ofícios, em que quer trabalhar. Chegou há dois meses. Está “a adorar”. Entre os que chegam para estudar, os que vêm fazer intercâmbios culturais, os que estão destacados por empresas, ou os que vêm ter com a família, procurar emprego ou aproveitar a reforma, quantos são os imigrantes que vivem em Portugal, afinal? No próximo mês de Junho, o SEF deve divulgar os números oficiais que dão conta da dimensão do universo de estrangeiros que no ano passado pediram visto para residir em Portugal. Por enquanto, há apenas dados provisórios, que apontam para um número superior a 29 mil autorizações especiais de residência concedidas em 2017 a naturais de países terceiros à União Europeia. Não sendo possível contabilizar o número de cidadãos de outros países da Europa que escolheram viver em Portugal, e que aqui chegaram trazidos por multinacionais que escolheram cidades portuguesas para abrir novas sedes, para estudar ou fazer investigação, o número de 29. 055 autorizações de residência concedido a cidadãos estrangeiros, dá uma boa noção do universo de “expatriados” que vive em Portugal. O SEF não distingue se estes imigrantes vieram para Portugal para trabalhar, para acompanhar família, para estudar, para procurar emprego, para gozar a reforma. Sabe-se, apenas, que nos últimos seis anos o serviço regularizou a entrada em Portugal de mais de 150 mil imigrantes. Uma plataforma onde é possível encontrar muita informação sobre a comunidade de expatriados em Portugal é a InterNations. A história desta empresa, fundada na Alemanha em 2007, é em tudo parecida com a do Facebook: dois amigos, ainda na Universidade, decidem criar uma rede que possa colocar pessoas com os mesmos interesses em contacto. Neste caso, o ponto de contacto principal é o facto de viverem num país diferente daquele em que nasceram, circunstância que potencia o cenário de virem a precisar de algum tipo de apoio durante a fase de integração. A InterNations tem hoje mais de três milhões de utilizadores, organizados por 390 comunidades em todo o mundo, mas é bastante mais do que uma simples rede social. É também o local onde muitos encontram informação prática para se estabeleceram numa nova cidade. Portugal tem cerca de 26 mil membros InterNations, divididos por três comunidades: Lisboa (18 mil membros), Porto (4800) e Cascais (3200 membros). A adesão à Internations pode ser feita de forma gratuita, mas é sempre alvo de uma validação da empresa. É valorizada a experiência que cada um teve em termos de experiência no estrangeiro, e os membros Albatroz (aqueles que pagam uma taxa mensal, de cerca de oito euros) são os que tem acesso a um maior numero de serviços e de fontes de informação. E de bebidas gratuitas e bilhetes de entrada nos muitos eventos que os “embaixadores” ou os “consuls” que trabalham voluntariamente para a Internations organizam com regularidade em cada comunidade. Pode ser uma visita guiada ao Terminal de Cruzeiros de Leixões um passeio fotográfico pelo Porto, ou um evento fechado num bar do centro histórico da cidade com direito a sunset e a concerto de jazz. Como aquele em que o P2 foi encontrar Elizabeth e Terry, Alessia e Sarah, Cradoc, Theresa e Jannine, entre quase uma centena de pessoas. Em Portugal são imigrantes. Para a Internations são “expatriados”, vivem longe da Pátria em que nasceram. O Índice Expat Insider 2017 analisa a experiência dos expatriados em 65 países e recai sobre tópicos essenciais, como a qualidade de vida, a facilidade de um emigrante se estabelecer, a compatibilização com a vida familiar, a organização das finanças pessoais e o custo de vida que tem em cada país. O índice é organizado através das respostas enviadas por 12. 500 participantes, a viver em 188 países ou territórios e que representam, segundo a organização, 166 nacionalidades. “Deram-nos respostas únicas sobre o que significa ser um expatriado em 2017”, sublinhou Caroline Harsch, responsável pelo departamento de comunicação e relações públicas da InterNations. E de acordo com essas respostas, e no índice global, que mede todos os indicadores, Portugal protagonizou uma ascensão meteórica de 23 lugares, face ao ano anterior. No final de 2017, Portugal era o quinto melhor país do mundo, para acolher um imigrante. A primeira posição é do Bahrain, seguindo-se a Costa Rica, o México e depois Taiwan. No top dez só entram três países europeus: para além de Portugal, em quinto, surge Malta, em sétimo, e Espanha, em décimo lugar. Os cinco últimos lugares desta tabela com 65 posições estão a Arábia Saudita, o Brasil, a Nigéria, o Kuwait e, em último lugar, a Grécia. O Index tem várias subcategorias, e é naquele que mede a Qualidade de Vida de um destino que Portugal se assume campeão, arrebatando uma liderança que, em 2016, pertencia ao território chinês de Taiwan. Para este índice, os inquiridos respondem a questões sobre opções de lazer, qualidade dos transportes e oportunidades de viagem, saúde e bem-estar, segurança e protecção, e ainda felicidade pessoal. É no índice que mede a qualidade de vida percepcionada pelos expatriados que Portugal assumiu este ano o lugar cimeiro. A popularidade de Portugal entre os expatriados está em grande parte relacionada com o seu clima temperado e com o facto de as actividades de lazer estarem amplamente disponíveis. De acordo com o inquérito, nenhum entrevistado teve algo negativo a dizer sobre o clima, que quase dois terços (65%) consideram excelente. E nove em cada entre dez expatriados perceberam isso como um benefício potencial antes de se mudar. O bom resultado de Portugal na subcategoria Saúde e Bem-Estar — nono em todo o mundo — é, em certa medida, graças aos benefícios da natureza. Embora o país tenha resultados acima da média em relação à acessibilidade e qualidade dos cuidados de saúde, a verdadeira força de Portugal parece residir na qualidade do seu ambiente. Mais de nove em dez entrevistados (94%) classificam isso positivamente (a média mundial fica nos 64%). E se Portugal não entra no top 10 da subcategoria Protecção e Segurança, ocupando a 11. ª posição entre os 65 analisados, também é evidente que este não é um factor de preocupação. Aliás, nesta categoria, a tranquilidade é o factor mais bem classificado, com um impressionante resultado de 77% dos inquiridos a considerarem Portugal um país muito pacífico — apenas a Finlândia apresenta resultados ligeiramente melhores (78%). Por fim, 94% dos expatriados em Portugal estão satisfeitos com as suas oportunidades de viagem (e em todas as conversas lá vem à baila a proximidade do aeroporto, e das ligações aéreas para vários pontos da Europa). Já os transportes e as suas infra-estruturas não são plenamente convincentes: um em cada onze (9%) classifica este factor de forma muito negativa. Cômputo geral, apenas 4% expressam qualquer insatisfação com a sua nova vida em Portugal. E isto quer dizer que, na InterNations, Portugal é mesmo um campeão de notoriedade. Dos 26 mil utilizadores que em Portugal usam a plataforma da InterNations, 73% são de facto expatriados e só 27% é que são locais, isto é, portugueses que também participam na rede e ajudam a melhorar o serviço prestado na integração de imigrantes. “Ter essa ajuda de nativos é fundamental. Porque eles conhecem bem a cidade, e são as melhores pessoas para ajudar quem acabou de chegar. Quando vim para Portugal não conhecia rigorosamente ninguém. Hoje, sinto-me praticamente adoptada por alguns amigos portugueses. Já vivi em Madrid e em Hong Kong, e nunca foi assim, em lado nenhum”, diz Natalia Martinez, uma colombiana que vive em Matosinhos há um ano e sete meses, e uma das “embaixadoras” da InterNations no Porto. Com 34 anos, Natália conheceu a InterNations em Bogotá, quando regressou a casa depois de experiências a viver em Londres, em Madrid e em Hong Kong. “Sentia necessidade de continuar a conviver com pessoas de outros países. Disponibilizei-me para lhes dar a conhecer o que podia do meu país, e a verdade é que sempre recebi muito mais do que dei em troca”, afirma. Natália veio para Portugal depois de ter respondido a um anúncio de emprego da E-Goi, uma empresa de marketing, especializada em conceber e divulgar campanhas de marketing através de automatismos via e-mail, SMS, etc. “Portugal converteu-se nos últimos anos num país de moda, está nos olhos de todo o planeta. E quando falo em planeta, sei o que digo, porque encontro viajantes de todos os pontos do globo a visitar Portugal”, afirma, convicta. Porquê? “Porque ainda é um país autêntico. ”Natalia Martinez diz que se deixou encantar pela qualidade de vida em Portugal, pela simpatia dos seus habitantes. Não tanto pelos salários, que são muito baixos. “Mas foi uma solução de compromisso que encontrei. Se quisesse ganhar dinheiro ia para Berlim, ou para Londres. Aqui não ganho tanto dinheiro, mas tenho maior qualidade de vida, não gasto tempo no caminho para o trabalho, tenho mar à porta e montanha aqui ao lado, boa gastronomia e excelente vinho. E as pessoas são muito simpáticas”, argumenta. Como “embaixadora”, Natália anda desde Novembro a “fazer as honras da casa” e a dar as boas vindas a todos os novos membros da InterNations. Envia os links com sites para procurar casa, dá informações sobre transportes, partilha a experiência que já teve com as burocracias portuguesas — por exemplo, a dificuldade que está a ter em validar a sua carta de condução. “O normal dos expatriados é chegarem aos novos países sozinhos. É muito caro para as empresas trazer as famílias. O resultado é, por exemplo, passarem domingos tristes, sentados no sofá, porque não conhecem ninguém, e os que conhecem, no emprego, tem famílias e compromissos”, recorda, dizendo que a componente social da InterNations é uma das mais relevantes desta rede. A InterNations quer, porém, crescer e expandir-se, e escolheu precisamente o Porto para abrir um novo centro de desenvolvimento, para o qual esperam recrutar meia centena de trabalhadores nos próximos três anos. O que convenceu a InterNations foi a percepção de que há no Porto um clima de aceleradores e start-ups “efervescente”, com muitos empreendedores a tentarem aqui a sua sorte, mas também grandes empreendedores internacionais a expandirem o seu negócio. “O Porto é uma booming-city. A crescente cena de start-ups e empreendedores internacionais do Porto tornam-no um local perfeito para expandir nossos negócios”, disse ao P2 Malte Zeeck, um dos co-fundadores da empresa que já tem mais de 130 funcionários. O novo centro de desenvolvimento da empresa situa-se no Parque de Ciência e Tecnologia do UPTEC da Universidade do Porto e complementa a sede em Munique, bem como os escritórios em Vilnius e Madrid. “Estamos muito focados em ligar pessoas. Queremos começar a oferecer serviços. Tratar de vistos, fazer mudanças, ajudar a procurar casa e creches, dar referencias onde se pode aprender a língua. Queremos oferecer toda a informação e ajuda que cada expatriado possa necessitar”, explica Zeeck. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Susy Vasconcelos, 35 anos, licenciada em Ciências da Computação pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, é a portuguesa responsável por esse centro de desenvolvimento. Em conjunto com Helder Fernandes, de Famalicão, contratado em Março, e com Andreas Goetz, de Roterdão, contratado em Abril, está a começar a desenvolver a plataforma tecnológica e o pacote de serviços que estarão disponíveis para venda online, seja a empresas seja a particulares. As contratações deverão disparar até ao final do ano, querem contratar até 50 pessoas nos próximos três. “É um recrutamento à escala global. Começo a achar que já é difícil contratar os perfis de marketing que procuramos aqui em Portugal. Precisamos de alguém muito sénior na área do Search Engine Optimization, por exemplo, e aqui já há muitas empresas a contratar. Estamos a ter dificuldades. Mas o recrutamento é global, podemos ir buscar alguém de qualquer país que tenha vontade de vir para o Porto”, afirma a responsável. Susy conheceu a InterNations em Berlim, quando foi para lá com marido e filha nos braços, e usou a informação disponibilizada pela rede para se estabelecer. Foi para a Alemanha trabalhar na Techstars, um acelerador de empresas, e é essa experiência com start-ups que levou a InterNations a confiar-lhe uma. O regresso ao Porto depois de experiência a viver em Madrid (Espanha), no Brasil, nos Estados Unidos, na Escócia e em Berlim (Alemanha), acabou por ser uma boa noticia. “Sei o que sente um imigrante quando chega a uma cidade desconhecida, e o tipo de pequenos grandes problemas que precisa que o ajudem a resolver. É esse produto que nós vamos montar”, diz Susy. Enquanto esse produto não existe a InterNations vai servindo para muita coisa. A Jeannine Johnson-Maia — uma norte-americana que viveu 25 anos na Bélgica, um ano em Cabo Verde e veio parar ao Porto, cidade que conhecia bem por ser a terra do ex-marido, há menos de um ano — serviu-lhe para encontrar um editor. “Uma amiga de Singapura falou-me nestes encontros, aqui comecei a conhecer muitas pessoas que conheciam outra e o networking permitiu encontrar um editor”. No próximo dia 21 de Junho vai lançar um romance histórico, Praça do Rossio, nº 59, com a chancela da Leya.
REFERÊNCIAS:
Entidades SEF
Uma rapariga, uma carrinha e muitas estradas até à China
Susi Cruz desistiu da faculdade, deixou o trabalho e fez-se à estrada, sozinha. Há um ano que a alemã de 25 anos viaja na carrinha que converteu em casa sobre rodas. O objectivo é chegar à China. Mas acaba sempre por voltar a Portugal (e, agora, a um português). (...)

Uma rapariga, uma carrinha e muitas estradas até à China
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Susi Cruz desistiu da faculdade, deixou o trabalho e fez-se à estrada, sozinha. Há um ano que a alemã de 25 anos viaja na carrinha que converteu em casa sobre rodas. O objectivo é chegar à China. Mas acaba sempre por voltar a Portugal (e, agora, a um português).
TEXTO: Há um mês que a carrinha de Susi Cruz está parada numa oficina nos Carvalhos, Vila Nova de Gaia — e para quem anda na estrada há um ano, um mês com o mesmo cenário é “mesmo muito tempo”. Como é que uma jovem alemã que quer chegar à China por terra vai parar à garagem no meio do nada do Sr. Manuel, já reformado? Susi, 25 anos, tira a máscara, sacode o pó da roupa e estende a mão. “Uma lição: as coisas nunca acontecem como tu imaginas”, ri-se. Com Peño, um cão de porte pequeno e grande energia, partiu de Düsseldorf, na Alemanha, em Setembro de 2017. Já passou pela Bélgica, França, Espanha, Portugal e Marrocos. Desistiu da universidade quase no final do curso — “design de moda não era 100% o que eu gostava” — deixou o trabalho — “a vida é mesmo muito curta para não fazermos o que queremos, não é?” — e pegou no dinheiro que tinha juntado durante dois anos a servir às mesas e a gerir Airbnbs (continua a ser uma forma de rendimento durante a viagem). Os pais, a razão pela qual fala chinês e quer chegar à China, “eram completamente contra”. Mas Susi Cruz procurava, na vida real, a mesma “liberdade” das publicações marcadas pela hashtag #vanlife, que lhe apareciam no Instagram. Famílias inteiras que partilhavam as viagens por parques naturais ou estradas desertas, a bordo de uma carrinha que “tem o conforto de uma casa”. Casais que tentavam perceber se conseguiam viver de forma minimalista, num espaço confinado, onde têm de estar sempre na cara um do outro. Jovens que se recusavam a pagar uma renda e a voltar sempre ao mesmo sítio, no final do dia. “Eu vi aquelas histórias e só disse: tenho de fazer isto. Vou construir a minha carrinha. E vou viajar pelo mundo. ”Foi descobrindo o "como" pelo caminho. Spoiler: “Não foi assim tão difícil. ” “É incrível o quanto eu aprendi só porque estava realmente interessada em aprender”, partilha. Comprou a camper van Vw T3 com a caixa vazia e remodelou-a, sozinha, ao longo de quatro meses. Leu muito sobre mecânica, viu tutoriais no YouTube (agora faz os dela), aderiu a grupos no Facebook de pessoas que estavam a tentar fazer o mesmo. “A entreajuda é um valor muito importante neste estilo de vida”, aprendeu. No início da viagem, “ligava pouco às redes sociais". Um ano depois, passa duas horas por dia só a responder às mensagens que lhe chegam, de desconhecidos. “Apercebi-me que quando viajas sem parar torna-se um bocadinho aborrecido. ” Interrompe-se rapidamente: “É estranho dizer isto, porque toda a gente quer viajar. Mas eu estava habituada a um horário de trabalho muito pesado, a ter aulas ao mesmo tempo e comecei a sentir-me muito vazia. Houve alturas em que em vez de achar que estava a aproveitar a vida, achei que a estava a desperdiçar”, justifica. “É bonito veres esta cidade. É muito bom estares nesta praia, mas depois de 200 cidades, 400 praias, só dizes: ‘Boa, mais uma’. ”Como parar não estava nos planos, arranjou maneira de transformar “paixões numa ocupação”. Gostava de vídeo, fotografia e divertia-se com o “poder de inspirar” das redes sociais. “Fico muito contente por termos esta oportunidade, hoje em dia. ” Agora, concentra-se em fazer crescer a comunidade que, a partir de um ecrã, entra directamente na sua carrinha: 60 mil seguidores no Instagram e 120 mil subscritores no YouTube. A porta de entrada, defende, é “a honestidade”. “Não tens a noção profunda do que é a van life se só vês fotografias bonitas, em paisagens espectaculares e onde tudo parece um sonho. O feed faz com que te sigam, porque ninguém quer ver pessoas tristes o tempo todo. Mas quando vês os meus vídeos, percebes que uma carrinha antiga avaria muitas vezes, que a minha experiência em Marrocos não correu nada bem, que às vezes me sinto sozinha, que choro. Ou que não tenho uma casa de banho e que parte do meu tempo é passado a arranjar uma solução para isso”, brinca. “Quero encorajar as pessoas a serem honestas e a fazerem o que gostam e não o que acham que é suposto fazerem. Mas não lhes vou mentir. ”No canal de YouTube apresenta receitas fáceis para cozinhar na carrinha (foi uma das participantes na versão alemã do Masterchef); mostra o processo de conversão da camper van; explica como se consegue sustentar a viver a tempo inteiro na carrinha; fala da rotina diária; de como é ser mulher e viajar sozinha (“Meninas, de que estão à espera?”); das pessoas que conhece ao longo da viagem; de como, sem querer, começou uma relação à distância. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E isso traz-nos de volta à oficina em Portugal. E à resposta à pergunta no início do texto: na primeira vez que veio ao Porto, Susi conheceu João, o rapaz português que começou a aparecer ao seu lado, em algumas fotografias. “Não era suposto isto acontecer”, ri-se. “E tenho adorado o tempo que passo aqui, com ele. Mas, para mim, acho que está na hora de continuar. ”A carrinha está a passar por uma segunda remodelação. O interior, cuidadosamente decorado, está um caos. Vai ser pintada, desta vez com tinta própria para carros, já que Susi Cruz a pintou de cor-de-rosa só com um pincel e tinta para paredes. É ela que vai para a garagem trabalhar todos os dias, e que fica lá, mesmo depois de a oficina fechar. Espera que para a semana já esteja pronta. “Ter um namorado não muda o meu sonho. Dá-me alguém com quem o partilhar”, sorri, a espreitar para ver se João está ou não a fazer um bom trabalho na carrinha onde ela vai seguir viagem, outra vez sozinha. Dali ao Reino Unido ainda são quase três mil quilómetros. Muita coisa pode acontecer pelo caminho.
REFERÊNCIAS:
Pessoas (e não só) que vai valer a pena seguir em 2019
Agora que estamos quase a deixar 2018, olhamos para sete nomes (e uma medida) que vai valer a pena seguir em 2019. De António Costa, que terá um dos anos mais desafiantes da sua carreira política com três eleições no horizonte e muitos problemas por resolver, a João Félix, o novo craque do futebol do Benfica que o FC Porto enjeitou. (...)

Pessoas (e não só) que vai valer a pena seguir em 2019
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.099
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Agora que estamos quase a deixar 2018, olhamos para sete nomes (e uma medida) que vai valer a pena seguir em 2019. De António Costa, que terá um dos anos mais desafiantes da sua carreira política com três eleições no horizonte e muitos problemas por resolver, a João Félix, o novo craque do futebol do Benfica que o FC Porto enjeitou.
TEXTO: Com um nome demasiado grande até para padrões alemães, a nova líder da CDU (União Democrata-Cristã, partido da chanceler Angela Merkel), Annegret Kramp-Karrenbauer, é mais conhecida como “AKK”. Não tem nada contra as iniciais; a ex-chefe de governo do estado federado do Sarre que a chanceler decidiu fazer sua sucessora — para já, na CDU; Merkel espera que o mesmo aconteça no governo quando ela sair de cena, em 2021 — só não quer que lhe continuem a chamar “mini-Merkel”. “Tenho 56 anos, criei, com o meu marido, três filhos, há 18 anos que tenho responsabilidades governativas. Não tenho nada de ‘mini’”, diz a dirigente, que nunca esconde o sotaque regional. Descrita como mais decidida e dinâmica do que Merkel, não hesitou quando esta a escolheu para o cargo de secretária-geral do partido, em Fevereiro, arriscando deixar o seu pequeno estado (o mais pequeno dos 16 estados federados alemães) a caminho de Berlim. Católica, nascida numa grande família e formada em Ciência Política, é mais emotiva do que Merkel, gosta de AC/DC, mascara-se no Carnaval e não foge a uma polémica, apesar de ser elogiada por colegas e rivais pelo seu espírito conciliatório. “Não tem um ego desmesurado, mas faz avançar os seus peões com tranquilidade. Como Merkel, que toda a gente subestimou”, lembra a politóloga francesa Isabelle Maras, sublinhando “as suas capacidades de análise, o seu sentido político e habilidade”. Militante na CDU desde os 18 anos, aos 38 foi a primeira mulher ministra do Interior na história dos estados federados. Entretanto, teve a pasta da Educação e a do Trabalho, antes de ser eleita ministra presidente, em 2011. Em 2012, governou em coligação com os Verdes e com o FDP (Partido Liberal-Democrata), mas decidiu convocar eleições antecipadas logo depois e ganhou. Nas eleições de 2017, as sondagens não lhe eram favoráveis, mas acabou por ganhar novamente. Entretanto, todos sabem quem é. Mas a política que não tem “nada de ‘mini’” sabe que herda um legado gigante e que tem mesmo de convencer muita gente do seu próprio valor e capacidades. Também sabe que agora é que vai começar a mostrar-se — aos alemães e aos europeus. Sofia LorenaAs mais recentes sondagens dão-lhe uma margem de conforto político, mas falta um ano e… tudo pode mudar. Não mudar nada — ou manter as peças do xadrez actuais mais ou menos com o mesmo alinhamento — será um dos grandes desafios de António Costa, a quem não compensa a existência de grandes agitações em 2019. Mas o mundo anda a correr rápido, e em Portugal os indicadores mostram um aumento da insatisfação em muitas classes profissionais, que pode deitar por terra o sonho não verbalizado de conseguir a segunda maioria absoluta para o PS na história. O ano de 2019 é uma espécie de prova dos nove para o primeiro-ministro e por isso é a personagem política a ter em atenção no ano que está prestes a começar. Os desafios eleitorais são três: eleições europeias em Maio, regionais da Madeira em Setembro e duas semanas depois, já em Outubro, as legislativas. Desde o congresso do partido em Maio que a estratégia de António Costa para o resto do mandato foi a de posicionar o partido como charneira. Puxou para si o discurso das contas certas, do crescimento económico, da redução do desemprego, do crescimento económico, mas sobretudo da credibilidade e da estabilidade. Tudo argumentos que usa para se distanciar da direita e dos seus parceiros de esquerda, com quem diz que quer continuar o caminho, não se percebendo ainda o que quer fazer ou com quem o quer fazer. Tem negado o bloco central, mas tem ao mesmo tempo quebrado as intenções do BE de vir a fazer parte de um Governo. Enquanto PCP e BE acenam com as suas vitórias nos orçamentos do Estado e apontam o que falta fazer, o PS responde a esse discurso com a bandeira do equilíbrio e fomentando o medo dos efeitos de uma nova crise. Valerão estes argumentos em 2019? António Costa tem visto sinais na sociedade de uma crescente insatisfação. As classes profissionais do Estado exigem melhores condições de trabalho e as greves, ameaças de greve e protestos marcados não param de aumentar. A gestão do tempo que falta para as eleições terá de ser feita com pinças nesse limbo entre encostar mais à esquerda ou mais à direita. Com os orçamentos aprovados, o trabalho será sobretudo político, onde Costa se move melhor. Ele e Marcelo Rebelo de Sousa, que tem dado sinais de não lhe agradar a aproximação dos socialistas a uma maioria absoluta. O ano de 2019 será intenso na política portuguesa e terá particularidades que ainda não foram testadas, com novos partidos a poderem ter um papel perturbador no estável espectro partidário logo nas europeias, que podem apontar caminho para as legislativas. Liliana ValenteNinguém poderia ter vez imaginado que He Jiankui seria um dos nomes a destacar na ciência em 2018. O cientista chinês anunciou em Novembro que tinha ajudado a fazer nascer os primeiros bebés geneticamente editados e, da noite para o dia, um perfeito desconhecido tornou-se mundialmente famoso. A ciência tem esse encanto irresistível da imprevisibilidade. De milhões de experiências que são levadas a cabo nos laboratórios de todo o mundo, nunca se sabe quais vão correr bem e quais serão notícia. A única coisa que podemos dar como certa é que em 2019 todos os caminhos da ciência vão (de uma maneira ou outra) dar a um único personagem: o ser humano. Dizem os cientistas que a edição genética com a ferramenta CRISPR/Cas9 — que permite um jogo de corta e cola no ADN — é algo relativamente fácil de fazer e não muito dispendioso, o que a torna especialmente atractiva. No entanto, as consequências (ainda) são imprevisíveis. Já foi experimentada em vários modelos animais e, em 2015, foi noticiada a primeira experiência com embriões humanos inviáveis que depois foram destruídos. Este ano terá acontecido o que todos sabiam ser inevitável. O cientista chinês He Jiankui preparou cuidadosamente o anúncio do nascimento dos dois primeiros bebés geneticamente editados. Mais tarde, acrescentou que existe um terceiro bebé editado que ainda não nasceu. O que temos é pouco mais do que a palavra do cientista e muitas críticas e controvérsia à volta de uma experiência que a comunidade internacional condenou e considerou “irresponsável”. Os bebés, a existirem, terão sido sujeitos a modificações que lhes darão a vantagem de serem resistentes à infecção por VIH. Mas, entre outros riscos, existe o perigo de carregarem o chamado “efeito mosaico” (com algumas células editadas e outras não) e de terem sofrido mutações em genes que não eram o alvo (off-target). É fácil concluir que He Jiankui será um cientista a seguir atentamente em 2019, se voltar a trabalhar depois do escândalo e da vergonha internacional a que expôs a China. Mas mais do que os pormenores (que ainda desconhecemos) deste caso em particular, sobra a certeza de que estamos cada vez mais perto de uma realidade com o homem geneticamente editado. Há ensaios clínicos na Europa, EUA e China e a aposta das empresas é na tentativa de correcção de erros genéticos associados a doenças que não têm qualquer outro tipo de resposta. Além do potencial para a saúde humana, a tecnologia tem ainda outras aplicações muito vantajosas para a alimentação e agricultura, para manipular (melhorar) culturas. Andrea Cunha FreitasMais do que procurar diferenças, estar atento aos vínculos. Eis de forma sucinta o segredo da música de Pedro Simões, mais conhecido por Pedro Mafama. Em vez de apontar o dedo às dissociações musicais ou socioculturais entre músicas urbanas globalizadas ou idiomas localizados com história, trata-se de reflectir com naturalidade as convergências, criando-se a partir daí uma nova linguagem que vai sendo construída com generosidade. No final de 2017, despertou curiosidade com o lançamento do EP Má fama. Já este ano seguiu-se outro EP de quatro temas, intitulado Tanto sal, e há duas semanas ficou a conhecer-se a canção Arder contigo. Tudo sintomas fortes que o apontam como uma das promessas do próximo ano no campo da música que vai sendo feita em Portugal. É verdade que terá beneficiado do interesse global em torno da espanhola Rosalía ou localmente do acontecimento Conan Osíris, mas aquilo que tem vindo a propor possui solidez e não nasceu do acaso. Antes já havia uma conexão ao hip-hop com o nome Pedro Simmons e uma ligação à editora e estrutura Enchufada que viu nascer os Buraka Som Sistema. E acima de tudo, falando com ele, ou vendo-o em palco, percebe-se com facilidade que faz parte de uma geração que se foi pacificando com o passado da música portuguesa, personificado pelo fado, ao mesmo tempo que incorporou a narrativa de que Portugal, e em particular, Lisboa, é um lugar onde se sente uma presença musical vibrante das novas gerações afrodescendentes. E é assim que, na sua música, e na forma como canta, se pressentem traços de fado, de melodias orientalizadas, mas também de linguagens como o hip-hop, e derivações como o trap, ou de kuduro, kizomba, afro-house, tarraxo e demais nomenclaturas que remetem para músicas físicas e erotizantes, que por vezes apenas ouvidos experimentados conseguem destrinçar. Em simultâneo, na sua postura, tanto entrevemos o intérprete introspectivo, virado para dentro, como o performer arrebatado, que é capaz de fazer acontecer festa em colectivo. No fim de contas, é como se Pedro Mafama tivesse activado, através da sua música, uma bricolagem sociocultural que há pouco mais de dez anos era mais desejo do que realidade, fazendo-a sua, de uma maneira dinâmica, plural, festiva e rica. Vítor BelancianoTalvez por ironia, o sobrenome do juiz que tem o futuro do ex-primeiro-ministro José Sócrates nas mãos coincide com a cor que o Partido Socialista escolheu para o identificar. Ivo Rosa, juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), é o responsável pela instrução da Operação Marquês, que certamente marcará o próximo ano. Esta fase facultativa pretende avaliar se há indícios suficientes para levar os 28 acusados deste mediático processo a julgamento. E se o magistrado concluir que é mais provável os suspeitos serem absolvidos, encerra o caso. Apesar disso, Ivo Rosa nunca terá a palavra final sobre este processo. Se o enviar como está para julgamento, colocará nas mãos de outros colegas a tarefa de considerar ou não provadas as acusações do Ministério Público. Se arquivar o caso ou diminuir as acusações, a decisão será recorrível e a última palavra caberá ao Tribunal da Relação de Lisboa. Mesmo assim, os holofotes estão apontados a Ivo Rosa. O juiz, seleccionado por sorteio electrónico, agradou às defesas, nomeadamente à de Sócrates, que nem escondeu o entusiasmo. E não é de admirar. O madeirense de 52 anos é persona non grata de muitos procuradores, conhecido por não autorizar muitos dos pedidos dos titulares da acção penal, como aconteceu inúmeras vezes na investigação às rendas pagas pelo Estado à EDP. Também não é a primeira vez que o juiz diminuiu de forma significativa os crimes que o Ministério Público imputa aos arguidos ou arquiva simplesmente uma investigação complexa. Exemplo disso é o recente caso de um marroquino acusado de oito crimes ligados ao terrorismo por pertencer e recrutar para o Estado Islâmico em Portugal. As graves acusações foram resumidas por Ivo Rosa a falsificação de documento e contrafacção, o que lhe valeu uma reprimenda do Tribunal de Relação, que anulou a sua decisão. Apesar de ser conhecido pela rapidez, Ivo Rosa, que está em exclusividade com este megaprocesso, só marcou um máximo de quatro sessões por mês. O arranque da instrução está previsto para o final de Janeiro e já há diligências marcadas até Maio. Mas até lá a Operação Marquês ainda promete fazer correr muita tinta. Mariana OliveiraÉ uma medida que promete revolucionar a mobilidade nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto em 2019: um passe vai permitir circular entre concelhos destas áreas (18 em Lisboa, 17 no Porto), sem ser preciso pagar mais. Os créditos desta “medida revolucionária” têm sido atribuídos ao autarca de Lisboa, Fernando Medina, que é também presidente da Área Metropolitana de Lisboa (AML) mas a criação de um passe de transportes único intermodal para a Grande Lisboa é um pedido de longa data da Comissão de Utentes dos Transportes de Lisboa. E a AML começou a estudá-la um ano antes de Medina a ter anunciado. A criação deste passe único acabou por ser acordada em Março num encontro que juntou as duas áreas metropolitanas. Quando a medida foi anunciada por Medina, houve protestos de alguns autarcas que acusaram o Governo de, mais uma vez, investir nas grandes cidades esquecendo o resto do país. O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, esclareceu então que a medida seria para aplicar em todo o território. Mas não se sabe ainda como se concretizará. A previsão é que os passes estejam disponíveis em Abril, o que não deve acontecer em todo o país, ao mesmo tempo. Em Lisboa, o passe para circular dentro do concelho custará 30 euros. Para viajar por toda a área metropolitana, custará 40 euros. As famílias pagarão no máximo o valor de dois passes, ou seja, 80 euros. As crianças até aos 12 anos não pagam. O Governo vai reservar 83 milhões de euros para a redução do preço dos passes em todo o país. No entanto, está ainda por saber como será feita a distribuição pelas áreas metropolitanas e pelas comunidades intermunicipais. Para Lisboa, esse valor deverá rondar os 50 milhões de euros. Mas já se sabe que este valor será insuficiente para compensar a redução nas tarifas, pelo que os municípios terão de alocar parte dos seus orçamentos para financiar a criação do passe único. Além do cepticismo dos autarcas, também os operadores privados de transporte olham para a medida com cautela. Na Grande Lisboa, o sistema de bilhética está a ser redefinido. Haverá um novo mapa da rede, tendo em conta os movimentos pendulares entre os concelhos, e integrando também as ligações a meios de transporte, como o comboio, metro ou barco. É expectável um aumento da procura, obrigando a um reforço da oferta. Os utilizadores vão reivindicar um melhor serviço, pontual e com mais frequência. Será o suficiente para tornar mais atractivos os transportes públicos? Cristiana Faria MoreiraÉ inevitável que a pessoa a seguir em 2019, na Economia, seja o responsável político que serve de barómetro às ambições eleitoralistas em Portugal, mas também às crises europeias que espreitam a cada mudança de governo nos Estados-membros da zona euro. O próximo ano promete ser inesquecível na vida de Mário Centeno. O mandato do actual ministro das Finanças chega ao fim no próximo ano. E a pré-campanha eleitoral que marcou a negociação do Orçamento do Estado para 2019 deverá estender-se desde o primeiro dia de Janeiro até ao dia das eleições, marcadas para 6 de Outubro. Todos os sinais que Centeno for emitindo da Praça do Comércio marcarão o ritmo no equilíbrio entre o cumprimento de metas definidas com Bruxelas e a satisfação de necessidades do Estado português ou dos direitos dos contribuintes. Esses sinais também marcarão o ritmo de protestos, greves, reclamações de funcionários públicos, pensionistas, empresas e particulares, que atingiram um pico no final de 2018, mas que se prevê que voltem a acelerar com a aproximação das eleições. Mário Centeno deverá ainda enfrentar tensões internas no Governo do PS, a que pertence como independente e que procura não só renovar o seu ciclo de poder, mas fazê-lo de forma solitária, com uma maioria absoluta. Para isso, serão intensas as movimentações no sentido de anunciar mais medidas eleitoralistas ou simplesmente de justiça social que chocam com os objectivos de equilíbrio de contas públicas traçado desde o primeiro dia por Centeno. Um processo que poderá culminar com a sua recondução na pasta das Finanças, um desejo já assumido internamente pelo primeiro-ministro mas que terá de ser validado não só pelos portugueses, mas sobretudo pelo próprio. Na Europa, onde o ministro português preside ao Eurogrupo, a tarefa não será mais simples. O final de 2019 poderá ser muito diferente do seu arranque, entre um “Brexit” de consequências imprevisíveis em termos económicos para toda a região e as fragmentações que se prevêem na sequência dos processos de política interna na Alemanha, França e Itália, sobretudo. Em paralelo, a reforma do euro continua sem ultrapassar os obstáculos de sempre (sem consensos sobre orçamento único e sistema europeu de garantia de depósitos) e, quando o ano chegar ao fim, Centeno estará já muito perto do fim do seu mandato (meados de 2020, se ficar como ministro das Finanças), enquanto espera pela reforma deste organismo, que criará uma presidência permanente, cargo que poderá ser seu, independentemente das funções que desempenhe em Portugal. Pedro Ferreira EstevesO talento nem sempre é óbvio para todos. E em 2015 ninguém no departamento de formação do FC Porto se esforçou muito para manter um rapaz de 16 anos chamado João Félix Sequeira, habilidoso, mas baixinho e fininho. Jogava pouco e o seu sonho de futebol não era esse. Por isso saiu e rumou a sul, em direcção ao Seixal. “É pegar num pau e dar na cabeça a quem o deixou sair”, disse há uns meses na SIC Notícias Rodolfo Reis, antigo capitão dos “dragões”. O que o FC Porto deixou passar, o Benfica aproveitou e, três anos depois, João Félix é tido como uma das grandes esperanças do futebol português, um talento que fomos vendo a espaços nos últimos meses de 2018 e que iremos ver com maior frequência em 2019. Se há mérito em Rui Vitória nestes anos ao comando do Benfica é o de olhar com muita atenção para o que sai do Seixal. Sejam soluções de emergência que se tornam definitivas, ou promoções planeadas, a verdade é que o Benfica tem colhido os frutos desportivos e financeiros da sua formação e João Félix pode ser mais um desses casos, a juntar-se a nomes como Renato Sanches ou Bernardo Silva. E em boa hora Luís Filipe Vieira lhe renovou contrato até 2022 e lhe meteu uma cláusula de rescisão de 120 milhões de euros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por enquanto, João Félix tem tido uma utilização intermitente, sobretudo no lado esquerdo do ataque, com 453 minutos em 13 jogos, cinco deles como titular. Depois de ser um fenómeno de culto para quem acompanhava a formação do Benfica, João Félix apresentou-se verdadeiramente marcando o golo que daria o empate ao Benfica no seu primeiro derby frente ao Sporting, na Luz. Para além de ter marcado no primeiro confronto lisboeta da época, João Félix também marcou no primeiro jogo em que foi titular no campeonato (ao Aves) e tornou-se no mais jovem marcador do Benfica na Taça da Liga (ao Paços de Ferreira). João Félix já não é o miúdo fininho que saiu da formação do FC Porto. Cresceu e ganhou um corpo mais preparado para servir uma técnica superlativa, que se percebe a cada finta, a cada passe e a cada remate. E é alguém que gosta de arriscar, de ser imprevisível, fazer no campo coisas que ninguém espera. Essa também é uma marca dos sobredotados. Marco Vaza
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Partidos PS PCP BE
Estados Unidos já são o maior produtor mundial de petróleo
É a primeira vez desde 1975 que os EUA retomam o título de maior produtor, com a produção diária a aumentar em 1,6 milhões de barris em 2014. (...)

Estados Unidos já são o maior produtor mundial de petróleo
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DATA: 2015-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151229184025/https://www.publico.pt/1698598
SUMÁRIO: É a primeira vez desde 1975 que os EUA retomam o título de maior produtor, com a produção diária a aumentar em 1,6 milhões de barris em 2014.
TEXTO: Os Estados Unidos já são os maiores produtores mundiais de petróleo. A conclusão é da BP no seu relatório anual Statistical Review of World Energy, publicado na quarta-feira. A produção norte-americana atingiu os 11, 644 milhões de barris, com um aumento de 1, 6 milhões de barris de petróleo por dia e superou a da Arábia Saudita e da Rússia, devolvendo ao país, pela primeira vez desde 1975, o título de maior produtor mundial. É a primeira que algum país consegue aumentar a produção em mais de um milhão de barris diários por três anos consecutivos, refere a análise da BP. “Se, para a China, 2014 foi o ano do cavalo, para os Estados Unidos foi o ano da águia americana [símbolo nacional do país], já que a produção de petróleo foi de crescimento em crescimento”, afirma o economista chefe da petrolífera, Spencer Dale, numa apresentação disponibilizada no site da BP. Foi graças essencialmente ao aumento da produção norte-americana que a oferta mundial de petróleo cresceu para níveis recorde em 2014: 2, 1 milhões de barris por dia. Uma vez que a produção de gás natural também subiu, os norte-americanos conseguiram igualmente bater os russos na produção combinada de hidrocarbonetos, algo que, segundo apontam os dados revistos do relatório de 2014, poderá ter acontecido já em 2013. “As implicações da revolução do xisto nos Estados Unidos são profundas”, refere Dale, ex-economista chefe do Banco de Inglaterra. Não só se está a assistir a um “render da guarda” dos maiores fornecedores globais de energia, como os Estados Unidos deixaram de ser os maiores importadores mundiais de petróleo, cedendo essa posição à China (apesar da desaceleração da procura registada no mercado chinês). Assim, além das importações norte-americanas de petróleo caírem para menos de metade dos níveis recorde de 2005, houve um ressurgimento da indústria transformadora no país graças aos menores custos energéticos: os Estados Unidos produziram cerca de 90% da energia que consumiram no ano passado. Segundo a BP, o volume de investimentos no sector chegou a 120 mil milhões de dólares em 2014 (aproximadamente 106 mil milhões de euros, mais do dobro em cinco anos). Isto apesar de os preços internacionais do crude terem descido cerca de 40% no ano passado, uma evolução provocada em larga medida pela decisão da organização dos países produtores e exportadores de petróleo, OPEP, de manter os níveis de produção, mesmo num cenário de excesso de oferta. Mas, apesar de considerar que a descida da cotação poderá levar a que alguns produtores encerrem a actividade em campos menos rentáveis, o presidente executivo da BP, Bob Dudley, entende que a maioria dos projectos é viável aos preços actuais e que “a revolução do xisto ainda não perdeu o gás” nos Estados Unidos. O número de plataformas activas nos campos de xisto norte-americanos caiu para metade dos valores máximos de Outubro e deverá estabilizar no final do Verão, disse Bob Dudley, citado pela Bloomberg, numa apresentação em Londres. Ainda assim, apesar de se prever que a produção de petróleo continue a aumentar (além dos Estados Unidos, a BP destaca os crescimentos registados em países como o Canadá e o Brasil), ficam as dúvidas sobre como irá evoluir o consumo de energia em 2015. O relatório da BP refere que 2014 ficou marcado por “um crescimento surpreendentemente fraco da procura”, apesar de a economia mundial ter crescido 3, 3%. O crescimento do consumo cifrou-se em 0, 9%, naquele que (retirando a crise financeira) foi o menor crescimento registado desde o final dos anos de 1990, um factor a que não é alheio a desaceleração chinesa (um aumento de 2, 6%), nem tão pouco o mau desempenho europeu (a procura caiu 3, 9%). Em 2013, a procura global tinha aumentado 2%, com o crescimento médio dos últimos dez anos a situar-se nos 2, 1%.
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É oficial: cientistas modificaram o ADN de embriões humanos
Corriam rumores de que várias equipas estariam a utilizar uma nova técnica para alterar os genes de embriões humanos. Os primeiros resultados acabam de ser oficialmente publicados, confirmando as suspeitas. (...)

É oficial: cientistas modificaram o ADN de embriões humanos
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DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Corriam rumores de que várias equipas estariam a utilizar uma nova técnica para alterar os genes de embriões humanos. Os primeiros resultados acabam de ser oficialmente publicados, confirmando as suspeitas.
TEXTO: Até há poucos anos, a ideia de alterar a cor dos olhos – ou qualquer outro atributo genético – de um futuro bebé não era praticável. Mas com a invenção, em 2012, de uma técnica simples e rápida (chamada CRISPR/Cas9) que permite “editar” o ADN – alterando e corrigindo genes-alvo previamente escolhidos –, este objectivo ficou de repente muito mais próximo. Há uns meses, começaram a surgir rumores de que várias equipas no mundo estariam a testar esta hipótese com embriões humanos – pondo novamente na ordem do dia o debate em torno da obtenção de bebés “feitos à medida". E no mês passado, duas cartas foram publicadas por dois grupos de cientistas, respectivamente nas revistas Nature e Science, contra as tentativas de utilização da nova técnica para esse tipo de manipulação genética, dita da linha germinal, que afectaria não apenas o próprio embrião, mas a sua descendência. Na Nature, os cientistas iam mais longe, apelando a uma moratória voluntária sobre quaisquer investigações deste tipo até se debaterem as questões éticas. Porém, até há dias, ninguém sabia ao certo se essas investigações estavam efectivamente a ser realizadas. Mas agora, já não há margem para dúvidas: uma equipa de cientistas chineses acaba de publicar, na revista Protein & Cell, um artigo onde é descrita, pela primeira vez, a manipulação genética experimental, graças à referida técnica, de dezenas de embriões humanos. “Penso que esta é a primeira publicação de resultados sobre a aplicação da técnica CRISPR/Cas9 a embriões humanos numa fase de pré-implantação e, como tal, este estudo constitui um marco e ao mesmo tempo um alerta”, diz George Daley, especialista em células estaminais da Universidade de Harvard (EUA), co-signatário da carta na Science, citado numa notícia da Nature. “Este estudo deve servir como um aviso muito sério para qualquer profissional que ache que a tecnologia está pronta a ser testada para erradicar genes causadores de doenças. ”Diga-se já agora que, segundo o seu autor principal – Junjiu Huang, da Universidade Sun Yat-sen em Guangzhou (China) –, o artigo fora rejeitado tanto pela Nature como pela Science, em parte devido a considerações éticas. Quanto à Protein & Cell (que a Science qualifica de "obscura revista online chinesa"), tê-lo-á publicado, segundo a revista New Scientist, apenas um dia após o ter recebido. Ou seja, sem que tenha havido tempo para detectar possíveis falhas de metodologia. Seja como for, estes autores tomaram diversas precauções para não ser acusados de transgredir as regras éticas internacionais em vigor. Nomeadamente, utilizaram embriões que não eram viáveis porque tinham sido fecundados por dois espermatozóides, possuindo portanto um número anormal de cromossomas. Os embriões provinham de uma clínica de fertilidade e iriam ser descartados. Todavia, esses embriões conseguem desenvolver-se até um estádio muito preliminar, mas suficiente para os fins do estudo. Recorrendo à nova técnica – que, quando utilizada para fins terapêuticos em células humanas adultas ou em modelos animais, tem demonstrado grande potencial para a medicina personalizada –, a equipa de Huang decidiu tentar “editar” um gene, chamado HBB, cujas mutações provocam uma doença do sangue, a beta-talassemia, potencialmente mortal. Como relata ainda a Nature, injectaram para isso, utilizando a técnica CRISPR/Cas9, os fragmentos genéticos necessários para localizar e “corrigir” o gene em questão. E a seguir, esperaram 48 horas – o tempo suficiente para a técnica agir e os embriões chegarem a ter oito células. Dos 71 embriões que sobreviveram à operação, a equipa testou os genes de 54 e constatou que apenas 28 tinham sido “editados” no sítio certo. E que desses, apenas quatro embriões tinham integrado o gene HBB no seu ADN. Para estes autores, isso significa que a técnica ainda está muito longe de ser aplicável a embriões humanos. Não só a taxa de sucesso é muito baixa, como os cientistas detectaram um grande número de mutações noutros locais do ADN embrionário, literalmente “fora do alvo” – o que coloca claramente em dúvida a segurança da técnica em embriões para fins de procriação. Huang disse ainda à Nature que ele e a sua equipa quiseram “mostrar os seus resultados ao mundo para que as pessoas soubessem o que se passaria realmente, em vez de continuarem a falar da questão sem informação concreta”. Agora, estes cientistas tencionam melhorar a eficácia da técnica recorrendo, a partir daqui, a células adultas e experiências com animais, algo que em si não levanta considerações éticas imediatas. O que não impede que, na opinião de todos, a publicação dos resultados só venha reforçar a urgência de abordar as implicações éticas futuras.
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Entidades EUA
Montijo: estudo alerta para risco de dependência das low cost
Estudo da Roland Berger demonstra necessidade de tornar infraestrutura secundária competitiva para garantir a permanência de companhias como a Ryanair. (...)

Montijo: estudo alerta para risco de dependência das low cost
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DATA: 2017-02-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estudo da Roland Berger demonstra necessidade de tornar infraestrutura secundária competitiva para garantir a permanência de companhias como a Ryanair.
TEXTO: O estudo encomendado pela Autoridade Nacional de Aviação Civil à consultora Roland Berger aponta para os perigos que pode trazer a solução escolhida pelo Governo para fazer face aos actuais constrangimentos de capacidade aeroportuária da região de Lisboa: a opção por um aeroporto complementar ao aeroporto Humberto Delgado só funciona se ele for competitivo para atrair as companhias de aviação low cost. Mas, ao mesmo tempo, e tal como já aconteceu noutros casos, há o risco de se ficar demasiado dependente de uma só companhia, a irlandesa Ryanair, que já tem uma quota de 27% do número de passageiros transportados em Lisboa. De acordo com o estudo da Roland Berger, um dos vários entregues na última sexta-feira pelo Governo ao Parlamento, esta dependência não é, sequer, uma originalidade. Foi o que sucedeu em Frankfurt –Hahn e a experiência acabou por correr mal. A quebra da Ryanair naquele aeroporto acabou por provocar um desempenho negativo na infraestrutura portuária. Em 2015 os prejuízos registados superaram os 17 milhões de euros, e aeroporto está em vésperas de ser vendido aos chineses da Hainan Airlines (HNA). Trata-se do mesmo grupo que já está a caminho do capital da TAP, através da associação a David Neelman no consórcio Atlantic Gateway. A Roland Berger analisou no seu estudo vários exemplos de cidades europeias em que coexistem duas ou mais infraestruturas aeroportuárias, onde demonstra como estes segundos aeroportos são normalmente verdadeiros aceleradores de tráfego. Entre os exemplos estudados estão as cidades de Roma (Ciampino), Milão (Bergamo), Paris (Beauvais) ou Bruxelas (Charleroi), apontadas como exemplos de aumento da capacidade de infraestruturas até então congestionadas, mas também porque são construídos de forma a optimizar a eficiência operacional das low cost (que querem estar o menos tempo possível em pista, o chamado tempo de rotação). Nos seis países em que a Roland Berger analisou os casos de aeroportos duais encontrou sempre a EasyJet a posicionar-se como as companhias de bandeira, sempre nos aeroportos principais e, ocasionalmente, tendo até terminais exclusivos, como é o caso do aeroporto de Milão. Já a Ryanair revelou ser a companhia de referência que assume o motor de desenvolvimento dos aeroportos secundários, e é neste ponto do relatório que surge o alerta que sublinha “ser essencial evitar uma dependência excessiva”. Foi a Ryanair quem garantiu aumentos de tráfego em Bergamo, Beauvais e Charleroi - e segundo o mesmo estudo da Roland Berger é expectável que faça o mesmo no aeroporto do Montijo. A Ryanair começou a voar para Lisboa em 2013 e dois anos depois já era a segunda maior companhia, responsável por 41% dos passageiros movimentados no Humberto Delgado. Foi também uma das principais impulsionadoras do tráfego registado em Frankfurt-Hahn, uma base aérea militar que abriu à operação civil em 1993 e chegou a registar movimentos de quatro milhões de passageiros em 2007. Mas, aponta a Roland Berger, “a quebra da Ryanair [neste aeroporto] deu origem a um desempenho negativo do aeroporto”. Em 2016 o número de passageiros foi de 2, 6 milhões de passageiros. Os últimos prejuízos reportados apontam para 17 milhões de euros em 2015. Depois de uma tentativa de venda falhada em 2015, as últimas notícias dão conta do interesse da HNA na aquisição da infraestrutura. Cabe agora à ANA conseguir mobilizar as companhias low cost a mudarem e a manterem a sua operação no Montijo. Contactado pelo PÚBLICO, o director da Easyjet em Portugal, José Lopes, lembrou que solução que está em cima da mesa “é uma solução integrada de aumento de capacidade de Lisboa como um todo - Portela e Montijo - e irá beneficiar todos os operadores, pois permitirá que o tráfego continue a crescer”, mas só a partir de 2021/2022. José Lopes diz que só depois de conhecidas as condições que a ANA vai dar aos operadores é que estes poderão tomar uma decisão, “consoante as opções de crescimento de cada um”. “Nenhum operador será obrigado a mover-se, uma vez que todos têm direito a usufruir do espaço em que operam actualmente”, termina. No seu “Projecto de instalação de uma infra-estrutura aeroportuária complementar ao aeroporto de Lisboa”, também entregue esta sexta-feira ao Parlamento e onde a ANA faz a apologia do Montijo, a empresa defende a edificação de um hotel dentro das novas instalações. “No caso concreto do Montijo”, lê-se no documento, “sobretudo pelas acessibilidades, conjugada com um pico de tráfego que será de antever entre as 6h e as 8h da manhã, julga-se ser de considerar a existência de uma unidade hoteleira dentro do perímetro do aeroporto”. Embora nada seja referido no que respeita ao modelo de negócio, este deverá ser concessionado a uma empresa especializada, ficando a ANA com uma espécie de renda. “Habitualmente, um hotel que se enquadra no segmento de hotelaria económica situa-se em zonas secundárias do aeroporto mas com facilidade de acesso às principais vias de comunicação”. No caso do hotel previsto para o Montijo, esclarece-se que “o estudo opta por o localizar o mais próximo possível do terminal de passageiros”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De resto, e apesar de faltar ainda etapas como o estudo sobre migração das aves e o de impacto ambiental, tudo está já pensado. Os parques de estacionamento, por exemplo, terão espaço para cerca de 2500 veículos - sem contar com táxis e autocarros (funcionando este últimos também como acesso ao cais fluvial) - na fase de arranque e até 2025. Um veículo particular, por exemplo, estará quatro minutos na zona de chegada, tempo que encurta em um minuto no caso dos táxis. Uma optimização do tempo, e do espaço, que está patente em toda a estratégia da empresa: pretende-se “minimizar as distâncias dos percursos dos passageiros”, que, numa óptica de “rápida rotativade”, farão “embarques e desembarques a pé”; e vai-se “optimizar a área de retalho, a sua penetração e visibilidade”. Neste último caso, enquanto modelo de suporte ao negócio da ANA, por via das concessões, fica desde logo esclarecido que “os trajectos de circulação dos passageiros serão concebidos de maneira a maximizar a exposição dos passageiros aos espaços comerciais”. Segundo a ANA, antevê-se que haja a capacidade para movimentar cerca de 2300 passageiros “na hora de ponta de abertura” e 3800 passageiros na fase de expansão. Entre 2025 e 2050, segundo a empresa, haverá “ampliações faseadas de acordo com a procura”. Para já, uma coisa é certa: com os aviões civis a aterrar no Montijo haverá como atesta o documento da ANA, “acréscimo de ruído na (área) envolvente devido à grandeza dos níveis sonoros resultantes da operação das aeronaves. Os aglomerados mais afectados serão Barreiro, Montijo, Samouco e Alcochete”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo espécie aves
A de Antonia, D de dodó, T de tigre-da-tasmânia, U de urso...
Coreógrafa alemã regressa a Portugal para mostrar o seu Abecedarium Bestiarium no Auditório de Serralves. (...)

A de Antonia, D de dodó, T de tigre-da-tasmânia, U de urso...
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Coreógrafa alemã regressa a Portugal para mostrar o seu Abecedarium Bestiarium no Auditório de Serralves.
TEXTO: Pode não ser evidente para os espectadores portugueses que Antonia Baehr tenha uma vida dupla como mulher (coreógrafa, performer, curadora, produtora…) e como animal selvagem. Mas o nome de família da coreógrafa que esta tarde, pelas 18h, traz o seu Abecedarium Bestiarium (2013) a Serralves significa “urso” em alemão – e, para ajudar à festa, o símbolo da cidade onde nasceu, Berlim (que foneticamente vai lá dar), também é o urso. “O cartão que os meus pais mandaram imprimir a participar o meu nascimento tinha ursinhos desenhados. Não brinquei com bonecas, brinquei com ursos de peluche. E como se não bastasse, as pessoas dizem que eu me pareço bastante com um urso, forte e grande – e a minha família idem”, conta ao PÚBLICO sentada num das poltronas do bar do auditório, lugar onde dificilmente avistaríamos o animal que parece feliz por carregar às costas desde que nasceu. Não necessariamente por causa de todas essas coincidências, em 2012 criou uma peça, My Dog Is My Piano, em que analisava a longa coabitação (e a longa contaminação) entre a sua mãe e o cão dela, Tocki; a peça com que hoje regressa a Portugal (passou pelo Festival Materiais Diversos em 2010 com um espectáculo, Rir, em que passava 50 minutos a rir-se) é uma reflexão paralela sobre a forma como o ser humano se relaciona com os animais, e em particular com os animais que têm uma história de extinção para contar. “My Dog Is My Piano era sobre as afinidades entre dois seres vivos; um dueto que tem lugar 24 horas sobre 24 horas há mais de 14 anos. Abecedarium Bestiarium é sobre as afinidades intemporais entre nós e um conjunto de animais desaparecidos que funcionam sobretudo como metáforas, superfícies de projecção do nosso imaginário individual e colectivo, até porque pouco sabemos sobre eles. Nalguns dos casos não há sequer fotografias; as únicas representações que existem são desenhos”, explica. Nisso, a origem desta peça mistura-se de facto com a infância de Antonia Baehr – uma infância muito particular, passada no campo, em França, rodeada de animais por todos os lados e a curta distância de algumas das mais extraordinárias grutas rupestres da Europa, onde pelo menos uma das histórias de extinção que aqui se contam, a do cavalo selvagem (Equus sylvestris) foi resgatada. “Parte tudo daquele jogo muito comum que fazemos quando somos crianças: ‘Se fosses um animal, que animal serias?’”, continua. Para uma das amigas que convidou a co-criar este álbum colectivo que é Abecedarium Bestiarium, a resposta foi óbvia: Dodo escolheu o dodó (Raphus cucullatus) porque Antonia queria saber como é viver debaixo do nome (e da asa) do animal extinto mais famoso do mundo. Ao contrário do nome da coreógrafa, e do rato que também é um nome de família comum, o nome de Dodo conta uma história de inadaptação: “O rato adapta-se a tudo, funciona sempre; a sua adaptabilidade está até relacionada com o desaparecimento de alguns animais, que os ratos transportados nos barcos dos colonizadores contaminaram com as doenças europeias. Há uma eficácia na sobrevivência do rato que os animais extintos não têm – a marginalidade matou-os, sobrevivem apenas enquanto fantasmas. ”Exaustivo, o abecedário que a coreógrafa construiu a partir das partituras curtas encomendadas aos amigos de acordo com uma instrução simples – deviam inspirar-se no animal extinto que melhor representasse a sua ligação pessoal com Antonia – documenta, usando meios muito diversos, o desaparecimento do golfinho-chinês do rio Yang-Tsé (Lipotes vexilifer), do tigre-da-tasmânia (Thylacinus cynocephalus), da pomba-fruta de bigode vermelho da ilha de Hivaoa, da vaca-marinha de Steller (Hydromalis gigas) descoberta em 1741 no Estreito de Bering… Em Serralves, apresenta-se na sua versão incompleta de recital – oito letras para outros tantos animais que são outras tantas metáforas das amizades que a coreógrafa alemã construiu na vida e no trabalho, algumas remontando à infância no Sul de França, outros aos seus tempos de squatter em Berlim – e na sua versão completa de livro paralelo. Quis rodear-se destas pessoas porque não lhe apetecia estar sozinha neste solo: “Ainda assim, há sempre uma sensação de vazio… Os amigos não estão, os animais também não. Mas o teatro é talvez o melhor lugar para fazermos aparecer os ausentes, os invisíveis. ”Entretanto, Antonia não teve de descobrir que animal seria se fosse um animal. O urso está lá desde sempre: não o urso verdadeiro, directo e perigoso, mas o urso do imaginário colectivo, lento e caloroso. Depois de Abecedarium Bestiarium, ela já só tem uma dúvida: “Será que te transformas em urso porque te chamas urso ou chamas-te urso porque o teu antepassado se parecia com um urso?”.
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