Ritual de Leuven da Bélgica e teatro de sombras chinês já são Património Imaterial
O ritual de Leuven da Bélgica e o teatro de sombras da China foram já este sábado inscritos como Património Imaterial da Humanidade durante o VI Comité Intergovernamental da UNESCO, que em quase cinco horas só discutiu três propostas. (...)

Ritual de Leuven da Bélgica e teatro de sombras chinês já são Património Imaterial
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-11-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O ritual de Leuven da Bélgica e o teatro de sombras da China foram já este sábado inscritos como Património Imaterial da Humanidade durante o VI Comité Intergovernamental da UNESCO, que em quase cinco horas só discutiu três propostas.
TEXTO: “Foi um dia muito difícil porque as regras de procedimento não são claras e então a única solução é votar. Estamos agora a falar de uma proposta chinesa do abaco e não temos consenso na sala”, afirmou Ion de La Riva, relator do comité e embaixador espanhol. Segundo Ion de Lan Riva, o comité vai continuar a trabalhar em privado hoje durante a noite para ver se consegue chegar a um consenso. “Temos de pagar aos tradutores que custam muito dinheiro, estamos em tempo de austeridade e temos de encontrar uma solução”, salientou. O diplomata disse também que o fado deverá ser analisado no domingo. O comité é presidido pelo embaixador da Indonésia junto da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura), Aman Wirakartakusumah, e é constituído por 24 países, entre eles, Espanha, Quénia, Japão e Venezuela. No domingo, os 24 delegados vão analisar mais de 30 candidaturas para inscrição na lista do Património Imaterial da Humanidade, entre as quais o Fado. A candidatura portuguesa é uma das sete melhor recomendadas pelo Comité de Peritos da UNESCO, ao lado da do conhecimento dos jaguares, pelos xamãs da tribo ameríndia colombiana Yurupari, da música Mariachi, do México, das danças Nijemo Kolo da Dalmácia (Croácia), da música e dança tsiattista do Chipre, e a cavalgada de reis da Morávia (República Checa). Há uma candidatura transnacional partilhada pelo Mali, Burkina-Faso e Costa do Marfim que é a das práticas e expressões culturais ligadas ao “balafon” das comunidades Sénoufo do Mali, Burquina-Faso e Costa do Marfim.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
A alimentação substitui o petróleo nas compras chinesas
Depois de uma década e mais de 200 mil milhões de dólares gastos em minas e campos de petróleo da Austrália à Argentina, a atenção da China vira-se agora para a alimentação. O país mais populoso do mundo está a deparar-se com uma dura realidade: por cada tonelada adicional de trigo ou carne que o mundo produz, a China precisará de praticamente metade para conseguir alimentar os seus cidadãos. Reconhecendo que não consegue produzir internamente carne e trigo suficientes, empresas da China continental e de Hong Kong gastaram no ano passado 12, 3 mil milhões de dólares (9 mil milhões de euros) em aquisições e invest... (etc.)

A alimentação substitui o petróleo nas compras chinesas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-06-04 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140604170208/http://www.publico.pt/1638551
TEXTO: Depois de uma década e mais de 200 mil milhões de dólares gastos em minas e campos de petróleo da Austrália à Argentina, a atenção da China vira-se agora para a alimentação. O país mais populoso do mundo está a deparar-se com uma dura realidade: por cada tonelada adicional de trigo ou carne que o mundo produz, a China precisará de praticamente metade para conseguir alimentar os seus cidadãos. Reconhecendo que não consegue produzir internamente carne e trigo suficientes, empresas da China continental e de Hong Kong gastaram no ano passado 12, 3 mil milhões de dólares (9 mil milhões de euros) em aquisições e investimentos em alimentos, bebidas ou agricultura no estrangeiro, segundo indicam os dados compilados pela Bloomberg. Essas compras incluem a maior aquisição de uma empresa americana por parte da China, quando a Shuanghui International Holdings comprou a Smithfield Foods por 7 mil milhões de dólares, incluindo a sua dívida. É provável que venha a ser seguida de investimentos em carne de vaca, borrego ou cereais, de acordo com o National Australia Bank. “Estes negócios estavam destinados a acontecer e até estou surpreendido por não terem acontecido mais cedo”, diz Paul Conway, vice-presidente da Cargill, uma das quatro empresas que dominam o comércio mundial de alimentos. “A China estará mais integrada no sistema global de produtos agrícolas do que alguma vez esteve. ”Ao longo do crescimento económico explosivo da China nas últimas décadas, tem sido hábito do Governo utilizar as empresas do Estado para liderar as aquisições de indústrias estratégicas. Foi isto que aconteceu com a segurança energética quando a PetroChina se lançou para uma década de compras em todo o mundo, gastando 40 mil milhões de dólares na área petrolífera. O campeão chinês da segurança alimentar é o Cofco, que controla 90% das importações de trigo e que este ano fez duas aquisições. No espaço de dois meses comprou acções que lhe permitem controlar a holandesa Nidera Holdings e a empresa de agronegócio Noble, pagando 2, 8 mil milhões. Com o agronegócio da Noble, a Cofco conquistou silos de cereais na Argentina e fábricas de açúcar no Brasil, além de fábricas de processamento de sementes na China, Ucrânia e África do Sul. A compra da Nidera deu à Cofco uma plataforma forte para a produção de cereais no Brasil, Argentina e Europa Central, afirmou a empresa em Fevereiro. A Cofco será “um investidor poderoso na agricultura, capaz de produzir directamente em várias partes do mundo”, adianta um relatório da agência de notação Fitch de 3 de Abril. Os números mostram porquê. A China tem 21% da população mundial, mas só 9% do seu território é zona arável, e tem uma percentagem ainda menor de água doce, segundo o Jefferies Group. O aumento dos rendimentos levou a um aumento da procura de alimentos ricos em proteínas, mas a oferta interna está próxima do limite, diz Abhijit Attavar, analista do Jefferies Group em Singapura, num relatório de 15 de Abril. Não faltarão rivais à CofcoAs americanas Archer-Daniels-Midland, Bunge e Cargill, e a francesa Louis Dreyfus – conhecidas em conjunto como as A-B-C-Ds – controlam mais de 70% do comércio mundial de cereais, de acordo com a Continental Rice, sedeada em Tóquio. A Japonesa Mitsui também vê uma grande oportunidade no mercado alimentar. Em 2007, a empresa de comércio construiu uma quinta e uma rede comercial de raiz, e conquistou activos nos cinco continentes. As empresas de comércio japonesas aventuraram-se em activos tão diversos como as plantações de soja no Brasil, os viveiros de camarão na Tailândia ou os silos de milho nos Estados Unidos. O maior comerciante petrolífero do mundo, o Vitol, decidiu expandir-se no ano passado para o comércio de cereais, criando uma sucursal em Singapura. “O que temos vindo a assistir é que, impulsionadas por empresas estatais, as empresas privadas e as empresas de comércio de outros países estão todas à procura de uma forma de criar linhas de abastecimento que vão da Austrália à China, e também das Américas para a China”, comenta Patrick Vizzone, director regional da alimentação e agronegócio do National Australia Bank. Vizzone, que também tem assento na direcção da unidade China Agri-Industries da Cofco, diz que vê potencial para as aquisições chinesas nas indústrias de cereais, oleaginosas e nas carnes de carneiro e vaca.
REFERÊNCIAS:
Naia, o fóssil de uma ninfa da água, veio dizer como foi a colonização das Américas
Crânio de uma rapariga com mais de 12.000 anos sugere que a colonização original das Américas veio de uma única população asiática. Descoberto na Península do Iucatão, no México, a análise deste fóssil é divulgada agora. (...)

Naia, o fóssil de uma ninfa da água, veio dizer como foi a colonização das Américas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Crânio de uma rapariga com mais de 12.000 anos sugere que a colonização original das Américas veio de uma única população asiática. Descoberto na Península do Iucatão, no México, a análise deste fóssil é divulgada agora.
TEXTO: Os vestígios fósseis que permitem aos investigadores tirar conclusões sobre os momentos-chave da pré-história podem surgir nos locais mais inusitados. Naia, que em grego significa “ninfa da água, é o fóssil com mais de 12. 000 anos de uma rapariga que foi encontrado em 2007 no fundo de uma gruta submersa na Península do Iucatão, no Sudeste do México. Passados sete anos, a análise dos seus ossos sugere que a colonização original das Américas veio de uma única população, e não de populações diferentes como alguns cientistas defendiam. A partir desta população original, os humanos foram evoluindo nos nativos que habitam as Américas desde o Norte até ao Sul, refere um artigo publicado esta sexta-feira na revista Science. Permanecem muitos mistérios sobre como ocorreu a colonização das Américas, devido aos escassos vestígios arqueológicos. O conjunto de informação reunida até agora pela arqueologia, pela genética humana e pela paleontologia apontava para uma determinada hipótese sobre a entrada dos humanos naquele continente, mas com contradições: uma população vinda da Ásia estabeleceu-se há cerca de 26. 000 anos na região agora submersa do estreito de Bering, entre a ponta Nordeste da Ásia e o Alasca, na América do Norte. Naquela altura, a Terra vivia a última era glaciar. Devido ao frio, grandes glaciares estendiam-se pelos continentes e, por isso, o nível médio do mar era mais baixo. O estreito de Bering não existia, havia antes a Beríngia, uma massa de terra seca com uma área equivalente a cerca de duas vezes a Península Ibérica. Pensa-se que esta população ficou a viver aí até há cerca de 17. 000 anos. Entretanto, a Terra foi aquecendo, os gelos derreteram-se, o nível médio do mar foi subindo e aquela região acabou por ficar submersa. Na América, os vestígios arqueológicos de actividade humana mais antiga encontram-se no Alasca e têm 14. 400 anos. A partir daí, há registos a sul, mais recentes, tanto de vestígios de actividade humana como de ossadas humanas. Hoje, os estudos genéticos em várias populações humanas mostram um parentesco entre os nativos das Américas e os asiáticos, e que passa por esta população da Beríngia. Mas encontraram-se certos marcadores do ADN das mitocôndrias (fora do núcleo das células e transmitido só pela mãe) que só existem nos nativos americanos. Não existem nos asiáticos. Estas diferenças genéticas só puderam surgir se esta população da Beríngia tivesse chegado a esta região há pelo menos 25. 000 anos, mantendo-se isolada desde aí. Esta hipótese do compasso de espera de cerca de dez mil anos na Beríngia é apoiada por registos fósseis de animais e de plantas, que indicam que aquela região era habitável, mesmo durante um período tão frio da história recente do nosso planeta. O grande mistério vem dos poucos fósseis humanos com mais de 10. 000 anos na América do Norte. Normalmente incompletos, os crânios destes fósseis mostram pessoas cuja fisionomia de cara era alongada, estreita e projectada. Tinham uma fisionomia mais parecida com a de africanos, australianos nativos e polinésios actuais do que com os nativos americanos e os povos asiáticos, cuja cara é mais redonda. Esta contradição conduziu à hipótese de incursões na América provenientes de, pelo menos, duas populações diferentes: uma vinda da Beríngia há menos de 17. 000 anos, que originou os nativos actuais; e outra mais antiga, de proveniência desconhecida, originando os paleoamericanos, que não teriam deixado sobreviventes. Outra hipótese, que Naia parece agora confirmar, diz que os paleoamericanos são os antepassados dos nativos americanos actuais. Naia foi descoberta em 2007 pelo mergulhador Alberto Nava, da organização Exploradores Submarinos da Área da Baía de São Francisco, em Berkeley, na Califórnia, e por mais dois colegas que exploravam o sistema de grutas de Sac Actun. O fóssil estava no fundo de uma gruta submersa de 30 metros de altura, com o formato de um sino, e a que os mergulhadores chamaram Buraco Negro. Além do crânio, foram encontrados costelas, vertebras e ossos pélvicos. Mais abaixo na gruta, também estavam dispostos ossos de 26 grandes mamíferos, como a preguiça-gigante e espécies aparentadas do elefante. A gruta foi inundada há menos de 8000 anos. E os ossos agora analisados terão caído antes, numa altura em que o sistema de grutas não estava inundado e tinha apenas poças temporárias. As fracturas nos ossos pélvicos de Naia, que tinha 15 ou 16 anos quando morreu, levaram os cientistas a especular que ela estaria à procura de água e teria caído naquele enorme buraco. Para datar o fóssil, avaliar a sua fisionomia e fazer uma análise genética ao ADN mitocondrial, reuniu-se uma equipa de 16 cientistas de várias instituições, liderada por James Chatters, paleoantropólogo e fundador da empresa de análises forenses Applied Paleoscience.
REFERÊNCIAS:
Somos loucos por arroz
Um português come em média 17,5 quilos de arroz num ano, mais do dobro do que qualquer outro europeu. Somos os asiáticos da Europa, dizem. Porquê? Provavelmente porque o cozinhamos de todas as maneiras e feitios. (...)

Somos loucos por arroz
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 9 | Sentimento -0.6
DATA: 2010-06-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um português come em média 17,5 quilos de arroz num ano, mais do dobro do que qualquer outro europeu. Somos os asiáticos da Europa, dizem. Porquê? Provavelmente porque o cozinhamos de todas as maneiras e feitios.
TEXTO: Há um pequeno atraso, é mesmo assim. A avioneta deveria ter chegado há meia hora, mas deve estar a dar conta de outro serviço nas redondezas. Laurinda e Lurdes estão de olhos postos no céu, mãos atrás das costas, ouvidos atentos. Já passa das nove da manhã e nada. Nem um motor. A não ser, claro, os dos carros que passam na estrada ali ao lado, que em poucos minutos nos põem em Benavente. Não fosse isso, e só se ouviriam pássaros. Cheira a terra húmida, cheira à chuva que vem e vai. Está tudo cinzento, céu e terra em conspiração. Os arrozais são espelhos de água do tamanho de campos de futebol, com nuvens estampadas em cima. Outros já estão com as plantas a despontar, mantos verdes onde as garças pousam e se alimentam. Ou ainda castanhos, à espera que a planta rebente. Todos parecem em suspenso, quilómetros e quilómetros sem ninguém. As aparências iludem. "Todos os dias há trabalho", dizem as duas mulheres, a perscrutar as nuvens de chumbo. "Primeiro arranjar as terras, depois mondar [arrancar as ervas daninhas], curar [tirar os bichos] e a seguir a colheita. " Parece simples, dito assim de uma assentada, mas são meses de dedicação. Dá para ver a chuva a aproximar-se com toda a definição: está a cinco metros, está a quatro, a três, dois, um, "fujam que vem aí uma barroa". Já aqui está, mas ficará por pouco tempo, deixa o cheiro a água e vai-se embora. Todos os dias há trabalho, diziam. E Lurdes explica: "Em Abril arranjam-se as lagoeiras - as terras, na nossa linguagem do campo. Até ao fim de Maio fica tudo semeado. Em Junho é a monda. A partir de Julho não é conveniente andar lá dentro para não tombar a panícula [inflorescência]. Julho e Agosto, a panícula está formada e oito dias depois é a floração. Depois é a fase láctea, o bago enche-se de líquido, líquido mesmo como leite, e começa a enrijar. Vem a fase córnea, em fins de Agosto, quando o bago está mesmo rijo. Entra na maturação em Setembro, quando está pronto a ser colhido. " A seguir elas perdem-no de vista. O grão vai ainda com casca para a fábrica. E, no Inverno, Laurinda está no laboratório, "a fazer análises de rendimento". É ela quem diz: "O arroz gosta de calor na rama e água na raiz. Este ano não está muito bom. " Água há, houve muita, o Inverno todo, o pior é o resto. Depois da chuva, ouve-se coaxar. "São os sapinhos a pedir água. Assim que sentem as costas molhadas, começam a pedir mais. " Mas não são eles o perigo dos arrozais. Há os lagostins, que "fazem buracos e furam de um canteiro para o outro e a água foge". Ouve-se a avioneta. Vem atrasada uma hora. O ciclo da vida do arroz está agora prestes a começar, nestes campos alagados. Alguém dirá "arroz não é arroz" e por isso está na altura de esclarecer: aqui, no Paul de Magos, produzem-se as variedades Ariete e Albatroz. Liderança do agulhaAtravessa-se a vala real - um caminho de água vinda do Tejo com carpas, pimpões, tainhas - que separa os canteiros. Os bandeirolas já estão a postos, walkie-talkies na mão, de bandeira branca e verde para mostrar à avioneta os limites do terreno, o ponto a partir do qual deve sobrevoar. Um, dois, três, e é agora. Cai nova chuva, desta vez de semente. "É uma barroa amarela", riem Laurinda e Lurdes. A avioneta espalha os grãos, que caem pesados na água, numa tempestade dourada. Vai e vem, dando meias voltas no céu, semeando os grãos do carolino ("é o melhor", dizem as duas). Serão 1350 quilos de sementes largadas do ar para a água (também poderia ser em terra seca, que depois é inundada). Os bandeirolas baixam os braços para um intervalo de reabastecimento. Dali a nada estarão outra vez a indicar ao piloto o local onde deve fazer a descarga, em que parte do campo - ou da "folha", como se diz aqui - os grãos ainda não caíram. As nuvens entram na competição. "A chuva está a engrossar, comprimento já ela tem", repetem as agricultoras, chapéu de palha na cabeça, galochas nos pés. Não sabemos se esta manhã alguma delas olhou para o céu para ler a meteorologia na "vaca esfolada", as nuvens avermelhadas que se juntam ao sol: "Vaca esfolada ao nascer, vai chover, vaca esfolada ao pôr, vai estar calor. "Entre uma largada e outra vinda das alturas, ficamos a saber: Lurdes "já não pode ver arroz à frente", e o que tem ao lume, à espera do meio-dia, é uma sopa-guisado com batata. Mas Laurinda come com regalo: "Adoro arroz, doce então ainda melhor. " Contribui para as estatísticas que apontam os portugueses como os maiores consumidores de arroz per capita na União Europeia: à volta de 17, 5 quilos por ano (ou seja, 175 mil toneladas), mais do dobro que os espanhóis, que vêm em segundo lugar, com sete quilos, e quatro vezes a média europeia. "Somos os asiáticos da Europa", diz Pedro Monteiro, director-geral da Associação Nacional dos Industriais de Arroz (ANIA). Não andamos a comer nem mais nem menos que antes: o consumo está estabilizado, "é um mercado maduro", liderado pelo agulha. Hoje foi uma avioneta, mas noutros casos são os tractores que semeiam os grãos. Já não é de agora, os pés das mulheres descalças a arrastarem-se pela água, como fazia a Laurinda quando era nova - agora tem 44 anos, os suficientes para filhos e netos. "Até a água cortava as pernas. E estava fria nestes dias. " Sorri outra vez. E noutros tempos também o trabalho era feito por ranchos, grupos de mulheres que plantavam o arroz (quando é plantado dá mais produção, explica), a trabalhar por ali fora, do nascer ao pôr do Sol. "A gente aqui começa cedo. Já pouca gente quer o campo. Eu já trabalhei em fábricas e antes prefiro o campo. É outra liberdade", diz. Mas não é isso que se sonha para os filhos, nem é isso que eles querem fazer. Entre os de Lurdes, 61 anos, e os de Laurinda, nenhum é agricultor, e não é só pelo trabalho que dá. "As pessoas da cidade pensam que somos estúpidos. Não queremos que os nossos filhos se sintam assim. " Estúpidos? Lurdes, sempre ao lado e sempre mais calada, desta vez tem resposta: "Eles na cidade sabem o que comem mas não sabem como é criado. " Elas poderiam explicar. São ambas de Marinhais, a poucos quilómetros deste campo de Paul de Magos, em Salvaterra de Magos, que pertence à COTArroz (Centro Operativo e Tecnológico do Arroz). Ambas têm a sua própria terra, onde cultivam batatas, cenouras, couves. . . "Saímos daqui às cinco [entram às oito da manhã] e ainda vamos para a fazenda. E depois há a lida da casa. " Não é queixume, é só para falar da vida. Agora diz a Lurdes: "Fomos criadas assim e assim nos sentimos bem. "A semente caiu na folha e daqui a oito dias começará a criar raiz. Nessa altura tira-se a água. Toda a cara morena de Laurinda sorri, boca e olhos, quando aponta em frente a lembrar como é a terra quando as nuvens não tapam o céu. "Aquela encosta, quando está sol, fica a verdejar e é linda. Para mim, é. Vale tudo para mim. " Os campos estão agora sem vivalma. Para já, o que havia a fazer foi feito. Melhorar o carolinoEntre-se numa cozinha portuguesa e o mais provável é encontrar-se no tacho arroz agulha ou carolino. Mas a história está muito longe de se resumir a isto, e se quiséssemos traçar uma árvore genealógica, a raiz teria dez mil anos e seria, pensa-se, encontrada nos Himalaias. Sabe-se que três mil anos a. C. já era cultivado na China. Agora, é o cereal mais comido no mundo inteiro, apesar de em produção estar em terceiro lugar, depois do milho e do trigo. Há dois tipos de arroz com caminhos separados, o O. sativa (asiático, mas cultivado em todo o mundo) e o O. glaberrima (africano, cultivado em pequena escala na África Ocidental). Dentro do O. sativa, há duas subespécies: o japonica e o indica. E tudo o que se dirá daqui para a frente só se refere a estas duas. A começar por isto: o famoso agulha, que começou a monopolizar os pratos portugueses, tem sangue híbrido de japonica com indica, que é cultivado em zonas mais quentes, diz a investigadora Margarida Oliveira, do Instituto de Biologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa. Por isso, em Portugal cultiva-se pouco. Cresce mais na zona do Sado. "É mais comprido, mas não absorve tanto o sabor dos alimentos como o carolino, que tem mais goma", como bom japonica que é, continua. Também é mais produtivo: 10 toneladas por ano por hectare, contra 6/7 do carolino. Mas, diz quem sabe, o que os verdadeiros apreciadores gostam mesmo é do carolino da variedade Allorio, vencedor de provas cegas. Como não é muito produtivo, os agricultores semeiam sobretudo para consumo próprio, diz a bióloga. Nos supermercados, e entre os carolinos, talvez seja mais fácil encontrar o Ariete. Quanto ao agulha, a esmagadora maioria importado, a variedade Thaibonnet é a mais usada pelos agricultores e, por ser mais barato, a que mais provavelmente virá a acompanhar o seu bife nos restaurantes (as hipóteses são muitas: o grande banco mundial de arroz, nas Filipinas, armazena cerca de 200 mil variedades). Seja como for, quase sempre as sementes usadas pelos agricultores portugueses são estrangeiras: vêm de Itália, o principal produtor da União Europeia, responsável por metade do arroz ali cultivado, com um milhão e seiscentas mil toneladas por ano, predominantemente japonica (a China é o número um mundial, com 182 milhões de toneladas). Portugal é o campeão do consumo europeu, já se sabe, mas não dá resposta às suas necessidades. Os arrozais - concentrados nos vales do Sado, Mondego, Tejo e Sorraia - ocupam mais de 26. 800 hectares (apesar de a UE só autorizar 24. 667). São produzidas 165 mil toneladas com casca, resultando em 100 mil em película, aquele que será consumido. É o terceiro produtor da UE, mas não chega senão para 60 por cento do que é preciso para satisfazer as exigências dos portugueses. Os outros 40 por cento têm de ser importados. Suriname, Tailândia, Itália. . . Já houve tempos em que a produção interna chegava e bastava. Em 1937, a colheita ultrapassou o consumo, e a criação da Estação Agronómica Nacional, em 1941, viria a trazer ainda melhores resultados, depois do melhoramento de algumas variedades. Portugal pôde até exportar algum do seu arroz. A tradição servia o carolino à mesa. Mas o arroz agulha impôs-se sobretudo pelo impacto de uma campanha publicitária, há cerca de 15, 20 anos, continua Margarida Oliveira. Agora, há que defender as variedades portuguesas de carolino, cujo consumo é o único que está a decrescer. É essa a sua "missão": melhorar o arroz, "com ferramentas comummente aceites", para não espantar os agricultores com inovações da engenharia genética. E por melhorar quer dizer-se torná-lo mais produtivo e resistente a doenças. É que tanto o Allorio como o Strella - na base das investigações da sua equipa - são plantas demasiado altas (logo, mais facilmente danificadas), com pouca produtividade e sensíveis a doenças, sobretudo ao fungo periculária. O que se pretende é que aquelas variedades ganhem o tipo de características pretendido, sem perder as outras que as tornam singulares. Cozer, insuflar, moerIntrometemo-nos na estreita cozinha de Fausto Airoldi no Spot São Luiz, em Lisboa. Antes de mais, veste a jaleca preta, que ali não se entra de qualquer maneira. Azeite no fundo de uma frigideira e alho picado. O chefe abriu o seu Risottoria del Mundo, no Funchal, onde só serve arroz, e está em posição de explicar: "É um meio para trabalhar muito bom. Dá para insuflar, moer, tudo e mais alguma coisa. "Meia dúzia de cogumelos laminados grosseiramente atirados para o azeite quente, seguidos de vinho branco e pimenta preta. Há alguma coisa que não combine com o arroz? "Que eu saiba não. " A ideia do seu restaurante na Madeira é "pegar nos arrozes do mundo com sabores do mundo". E o mundo está mesmo ao lado de papas de sarrabulho com arroz (triturado), em vez de farinha de milho. Devemos olhar para ele "como olhamos para as massas, que ligam bem com tudo. Mas cada tipo de arroz tem as suas características e nesse aspecto é mais rico". Dirá alguém que "arroz não é arroz", repetimos, e por isso na ementa pode ler-se "Arroz Vialone" por baixo de "Risotto de azeitonas com bacalhau meia cura confitado, molho de foie gras". Ou "Arroz carolino" depois de "Maçã assada recheada com espuma de arroz". Agora estamos em Lisboa, e o "ouro branco" vem mesmo já preparado do frigorífico, numa caixa de plástico. "Para um arroz mais solto, uso basmati, se for molhado malandrinho, uso carolino. O carolino como tem um grão pequeno e gomoso absorve muito bem os líquidos. Vai ficar mais saboroso. " Airoldi (mãe portuguesa, pai italiano) solta o arroz com as mãos - basmati, "cozido com alho, louro e água, sem gordura" - e pica uma mão cheia de manjericão, que junta aos cogumelos depois de duas colheres de caldo de legumes. "O arroz é como os azeites. Temos de escolher o que vai bem com as coisas, o arroz para a sua função. Temos de respeitar as suas utilizações. "O carolino já não é o que mais se consome em Portugal, mas é "um arroz muito nosso. E o que está esquecido não é o tipo de arroz, é a cozinha portuguesa". Nem todos os arrozes são iguais, até porque há aqueles "que dão mais luta, como os glutinosos. Têm de se testar bem, por causa da goma. Ficam mais empapados, têm de ser [usados] para arrozes mais moles". E é só este o mistério: "Conhecer bem o arroz e saber de quanta água precisa. O segredo está no caldo, porque o arroz agarra esse sabor todo. " Há outros factores a ter em conta, como qualquer um saberá se já tiver tentado: "O ponto de cozedura. Um risotto passado de mais é papa. "Explicações para a dianteira nas estatísticas do consumo, ele não tem - e, de resto, serão muito difíceis de encontrar. Mas o chefe avança que "temos muito receituário. Somos os únicos no mundo que comem arroz com batata frita!"Mistura-se o arroz na frigideira, lume bem alto. E poucos minutos (dois, três?) passaram desde que tudo começou nesta cozinha, sem pressas mas depressa. Excepto a viagem da frigideira ao prato, serena. "Al-roz", "orz", "orysa"Foram os mouros que trouxeram o arroz para a Península Ibérica, nos séculos VII e VIII - e isso poderia até ajudar a explicar a criação do hábito, não fossem alguns obstáculos, como o facto de a expansão da cultura só se dar no início do século XX. Mas se não dá uma pista para o vício, pelo menos aponta para a origem do nome. Arroz vem do árabe al roz, que por sua vez virá do persa orz. No Almanaque do Arroz 2010, brasileiro, podemos ler que gregos e romanos chamavam-no orysa - daí a palavra orizicultura, que hoje usamos. E que orysa tanto poderia vir do tamil (Sri Lanka) arisi, como de Orissa, a cidade indiana onde o arroz se cultivava em grandes quantidades (já o termo "carolino" virá do facto de se tratar de uma variedade semelhante à cultivada nas regiões da Carolina, nos Estados Unidos). No mesmo almanaque ficamos a saber que "houve um tempo em que partiam caravanas levando sacos de arroz ao longo das planícies centrais indianas, dos planaltos afegãos e persas até à Mesopotâmia e, de lá, até o Mediterrâneo oriental". Foi preciso esperar pelo reinado de D. Dinis (1279-1325) para que aparecessem as primeiras referências escritas à orizicultura. E, nessa altura, o arroz só era servido à mesa dos ricos. O cultivo foi incentivado no século XVIII, em terrenos pantanosos, mas à volta das suas "águas paradas" multiplicavam-se os insectos e as queixas das populações. "Em meados do século XVIII, houve um decreto-lei a proibir o cultivo do arroz por causa dos mosquitos", que causariam malária, diz a bióloga Sónia Negrão, da equipa de Margarida Oliveira. "Mas o cultivo nunca parou e com mão-de-obra escrava continuou a produzir-se, à revelia da lei. . . A produção aumentou muito a seguir à I Guerra, com a introdução de maquinaria. "A criação de regras para a preparação de terrenos destinados à orizicultura, em 1909, terá sido o tiro de partida. E é a partir daqui também que o arroz ganha um papel particularmente importante nos hábitos alimentares dos portugueses, sobretudo no Norte do país. "Como os portugueses têm uma gastronomia muito variada, aprenderam a comer arroz com tudo, como prato principal e como acompanhamento", avança Pedro Monteiro. "Fazem de mil e uma maneiras, como o bacalhau. . . Foi tão bem trabalhado que ficámos fãs do arroz. "É como o vinhoCampos de um lado, campos do outro, no meio estradas, às vezes canais que levam as águas do rio ou das barragens para as folhas. São traçados geométricos de cores alternadas. Mais verdes, mais castanhos, mais da cor do céu, é assim a lezíria ribatejana. O carro avança, arrozais a perder de vista. Mais uma vez não há trabalhadores, há garças, elegantes e brancas, há gaivotas, apesar de o mar estar longe daqui. A água chega das barragens de Montargil e Maranhão para regar a maior mancha de cultivo de arroz do país, diz António Madaleno. "São 12. 500 hectares. " Agricultor de camisa aos quadrados, sim, mas óculos escuros YSL e um Audi nas mãos. A estrada divide arrozais e leva-nos à fábrica da Orivárzea, perto de Salvaterra de Magos. António Madaleno, o seu presidente, também é empresário e explica por que deve ser mesmo assim: "Os agricultores portugueses ainda não perceberam que não basta mandar a semente à terra. Tem de haver dinâmica em termos comerciais. " A Orivárzea juntou 41 produtores, e dos seus 4500 hectares saem anualmente 30 mil toneladas: 80 por cento carolino, "porque somos teimosos", e o resto agulha. Batas, toucas, que o processo não se quer contaminado. Um enorme monte de arroz ainda com casca está encostado a uma parede, quase como uma instalação. A luz entra pelo tecto da fábrica e o arroz parece transformado em ouro. Mas o que está ali é precisamente aquele que não serve. Tiraram-se as impurezas, fez-se a calibração (o arroz é separado em função das suas dimensões) e este não passou na triagem. Ao lado, tratam-se toneladas de grão. Retira-se uma vez a casca, retira-se duas e três. O grão que entrou castanho sai agora branco transparente - o engessado, branco branco, pertence a outras qualidades, como o Arborio para o risotto, e desse não se faz aqui. Numa hora, são cinco toneladas de arroz que por aqui passam, cumprindo todo o seu percurso: chegaram dos campos e vão para as embalagens, que depois estarão à venda nos supermercados. "Vamos da semente à prateleira", exclama, juntando ao orgulho o facto de a empresa ser a única no país a fazê-lo. "Arroz não é arroz. " É António Madaleno quem o afirma. E com isto quer dizer que o arroz não é todo igual e é preciso aprender a distingui-lo. "É um produto com características próprias. Não fazemos misturas de variedades. O arroz é como o vinho, uma casta do Alentejo não é igual à do Douro. "Precisamente porque há distinções a fazer, a Orivárzea procura vários nichos: produz a semente do Ariete, em vez de a mandar vir de Itália. "É a que melhor se adapta ao clima e que se adequa à nossa gastronomia", justifica. Esta dá, assim, o arroz carolino de Indicação Geográfica Protegida, o equivalente à região demarcada dos vinhos - um campo onde não entra outro grão que não uma variedade muito específica, e portuguesa. "Estas sementes não vêm de Itália", como a maioria das que se semeiam em Portugal. E o arroz é vendido em saquinhos de meio quilo e encaminhado para mercearias chiques. Outra "jóia" da marca Bom Sucesso é o arroz perfumado - "somos os únicos a produzir arroz perfumado em Portugal" - da variedade Giano. Neste "caminho da diferenciação" como lhe chama Madaleno, também se produz arroz integral carolino, e um arroz especial para bebés, sem químicos e à venda nas farmácias numa embalagem que mais parece a de um xarope. "É este o caminho para salvar a agricultura portuguesa: grupos de agricultores para maximizar a economia, reduzir os custos, concentrar as vendas. " De resto, o arroz também já foi mais valorizado, queixa-se. "Um quilo de arroz custa o mesmo que um café. É degradante. "De olhos na panelaNão sabemos quanto João McDonald estaria disposto a pagar pelo seu vício. Mas sabemos que é mesmo uma coisa de que não abre mão. Nem o apelido (herdado de ascendentes escoceses) o empurra para os hambúrgueres com batata frita, é o próprio que graceja. Arroz é que é, e com tudo. Seria difícil saber quantos quilos este técnico de electrónica já comeu em 62 anos de vida e quantos já cozinhou. Mas será certamente um dos que engrossam largamente as estatísticas. "Sempre gostei muito. Tinha de fazer parte do dia-a-dia. Se pudesse ser às duas refeições, tanto melhor. " Pequeno-almoço é que não. Azeite no tacho e duas cebolas pequenas para um estrugido, que no Porto, onde vive, não se diz refogado. Não precisa de alho. Aprendeu tudo com a mãe. "Antigamente era muito lavado, passado por coador para tirar o pó. " Agora já não é preciso, mas nada de pressas. "O meu arroz tem de ser acompanhado, visualmente falando. "Não se medem os grãos com chávena, antes de os deitar no tacho com a cebola frita. Vai a olho, mas por agora é só um bocadinho. Já em miúdo era ele quem fazia para os amigos quando iam acampar, ou para os irmãos mais novos. A mulher queixa-se, "outra vez arroz!", mas a vida é mesmo assim. O bocadinho que pôs no tacho está a fritar e é agora novamente regado com azeite, tudo a mexer "para evitar que isto queime muito". O branco já foi translúcido, passou a branco outra vez e está agora acastanhado, "visualmente falando", lá está. "Deita-se o resto do arroz cá para dentro. " Mexe-se. Não procura receitas, é tudo uma questão de inventar, com poucos limites, a não ser um: incluir arroz. "A minha mulher diz que quando venho para a cozinha deixo tudo de pantanas. " Deita a água, mexe novamente. "Tenho de estar constantemente a observar se há água ou não, e enquanto não estiver cozido não se pára de deitar. Abafo um bocadinho [coloca a tampa] e conforme a água vai baixando ao nível do arroz vou juntando mais. " A água está a sumir-se do tacho para o bago - "agora poderia juntar bacon" - e está na hora de pôr o sal. Mexer. Abafar. A partir daqui pouco se toca no tacho. "Quando quero um arroz bem feito, tem de ser assim. " Estamos a falar com um especialista. Porque o come todos os dias, sabe bem o que diz. Nunca viveu na China, ri, mas isto vem de família. Na casa de tios e primos, como na dele, nunca faltava. A água vai-se sumindo novamente. Junta-se mais, quase com carícias da colher de pau. "Já está com um aspecto mais grosso. Tenho de provar para ver se não está cru. . . Já não sabe mal. "Só agora vai baixar o lume, para esperar que esteja no ponto. E quando esse momento chegar, acaba-se com o fogo e pega-se num jornal para embrulhar o tacho, depois num pano da cozinha para aconchegar, e será uma "sesta" de 20 minutos. Já lá vão uns bons 40, é fazer as contas. "Quantas vezes já aumentou ele de tamanho? Rende muito. " Não gosta de arroz agulha, gosta é de carolino. Aqui não tem os números do seu lado. Em Portugal, come-se mais agulha (48 por cento contra 41 do carolino), e está a aumentar o consumo de vaporizado (7 por cento) e basmati (dois por cento). João McDonald gosta de o cozinhar em parceria, ou a acompanhar quase qualquer coisa. "Arroz com bacalhau cozido é uma maravilha. Tudo regado com azeite. . . Massa não liga nada, já experimentei. Mas sou capaz de comer pizza com arroz, com peixe cozido, sardinhas assadas - vamos nisso, não há problema nenhum!"
REFERÊNCIAS:
Planta usada pela medicina tradicional chinesa combate a malária
Há uma nova arma no combate à Malária. Um tratamento aplicado numa das ilhas do Arquipélago das Cômoro, em África, reduziu de 23 por cento para 1, 4 por cento o número de pessoas infectadas pela doença. A investigação, levada a cabo por uma equipa de cientistas chinesa, utilizou um "cocktail" de medicamentos em que a novidade reside num componente retirado de uma planta, a artemísia, usada na medicina tradicional chinesa. O estudo, que envolveu os 40 mil habitantes da ilha Mohéli, começou em Novembro do ano passado e “60 dias depois a percentagem de portadores do parasita rondava os 1, 4 por cento, ” disse à Reut... (etc.)

Planta usada pela medicina tradicional chinesa combate a malária
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 Asiáticos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2008-03-11 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20080311212823/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1322247
TEXTO: Há uma nova arma no combate à Malária. Um tratamento aplicado numa das ilhas do Arquipélago das Cômoro, em África, reduziu de 23 por cento para 1, 4 por cento o número de pessoas infectadas pela doença. A investigação, levada a cabo por uma equipa de cientistas chinesa, utilizou um "cocktail" de medicamentos em que a novidade reside num componente retirado de uma planta, a artemísia, usada na medicina tradicional chinesa. O estudo, que envolveu os 40 mil habitantes da ilha Mohéli, começou em Novembro do ano passado e “60 dias depois a percentagem de portadores do parasita rondava os 1, 4 por cento, ” disse à Reuters May Lee, cientista da Universidade de Medicina Tradicional de Guangzhou da China e líder da equipa do projecto. Este tipo de tratamento envolve vários medicamentos para “não criar resistências” explicou ao PÚBLICO a investigadora Maria Mota, do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa. “Ao introduzir várias drogas, o Plasmodium da Malária dificilmente irá resistir a todas”, acrescentou. A Malária transmite-se através da picada de um mosquito Anophelis infectado. Ao entrar no organismo o parasita dirige-se para o fígado onde infecta as células, divide-se e muda de forma. Só depois é que penetra nos glóbulos vermelhos para se multiplicar, iniciando os ciclos de infecção que originam as febres e o mal-estar nos doentes. O medicamento derivado da artemísia impede o Plasmodium de se defender de uma molécula que existe em abundância nos glóbulos vermelhos e que é tóxica para o parasita. O tratamento a partir desta planta “é novo e é velho, ” revela Maria Mota. “A artemísia é utilizada há séculos pela medicina tradicional chinesa. ” Apesar da Organização Mundial de Saúde exigir provas científicas internacionais sobre a eficiência do medicamento e de confirmar se a droga não tem efeitos secundários adversos, a cientista portuguesa acredita que este tratamento “é a grande esperança para o futuro do combate contra a Malária”. Um milhão de pessoas continua a morrer anualmente devido à Malária que vai desenvolvendo mais resistências às drogas existentes. A doença atinge principalmente os países tropicais e é uma das causas da baixa produtividade desses países.
REFERÊNCIAS:
Mais tarde ou mais cedo, os insectos vão chegar-lhe ao prato
Temperados ao estilo asiático, incorporados em barras energéticas e bolachas ou integrados em rações para animais de consumo. A chegada dos insectos ao prato é algo a que o Ocidente não vai escapar por muito tempo. Depois do alerta deixado pela FAO em 2013 — que viu nos insectos uma fonte alternativa de proteína, mais sustentável do que a carne ou o peixe —, a legislação europeia começa a abrir-se a esta possibilidade e o sector não pára de crescer. Em Portugal, há empresas prontas a entrar no mercado. Mas as dúvidas são mais do que as certezas. (...)

Mais tarde ou mais cedo, os insectos vão chegar-lhe ao prato
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Animais Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Temperados ao estilo asiático, incorporados em barras energéticas e bolachas ou integrados em rações para animais de consumo. A chegada dos insectos ao prato é algo a que o Ocidente não vai escapar por muito tempo. Depois do alerta deixado pela FAO em 2013 — que viu nos insectos uma fonte alternativa de proteína, mais sustentável do que a carne ou o peixe —, a legislação europeia começa a abrir-se a esta possibilidade e o sector não pára de crescer. Em Portugal, há empresas prontas a entrar no mercado. Mas as dúvidas são mais do que as certezas.
TEXTO: O cheiro é o primeiro impacto. Não necessariamente mau, apenas intenso. Há um odor a humidade. A sala, forrada a placas de madeira e lençóis de plástico, foi transformada numa estufa, com caixas de plástico vermelho empilhadas em blocos à altura do peito. O que à primeira vista poderia parecer uma zona de armazém inerte é, na verdade, uma colónia viva. Muito viva. Em cada caixa, entre aparas de farelos e cenouras, remexem-se dezenas de Tenebrio molitor nos diferentes estágios de crescimento, de larvas a pequenos besouros-pretos. Desde meados de 2016 que Guilherme Pereira e Sara Martins criam insectos desta espécie para depois os transformarem em farinha. A partir dela, estão a desenvolver produtos alimentares para consumo humano: barras energéticas, pães, massas, bases de pizza. Há cinco anos, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançava definitivamente o debate sobre o tema, ao publicar um extenso relatório onde defendia a produção e o consumo de insectos como uma fonte alternativa de proteína, mais sustentável do que a carne ou o peixe. Igualmente nutritivos, os insectos revelavam ser mais eficientes (em média, dois quilos de alimento chegam para produzir um quilo de insectos, enquanto no gado bovino são necessários oito quilos, por exemplo), produziam menos gases com efeito de estufa, era necessário menos água e menos área de produção e podiam ainda ser alimentados com subprodutos alimentares, fomentando a diminuição do desperdício e a economia circular. A 1 de Janeiro deste ano entrou em vigor a directiva que torna a produção e comercialização de produtos à base de insectos para alimentação humana uma possibilidade na Europa. A integração de insectos nas rações para peixes produzidos em aquacultura também já foi autorizada. E a expectativa é que o mesmo aconteça para a produção de aves no próximo ano. E à medida que a legislação vai sendo aprovada, a chegada de insectos aos pratos ocidentais dos humanos começa a tornar-se uma realidade. É um sector ainda pequeno, a tentar perceber como vencer o estigma e produzir em massa. Mas em crescente dinâmica. Este ano, a retalhista alemã Metro AG quis sentir o pulso ao sector com a venda de massas enriquecidas com farinha de insecto durante três meses numa loja em Düsseldorf. E os supermercados espanhóis da cadeia francesa Carrefour lançaram uma gama de dez produtos feitos pela Jimini’s, que vão desde barras energéticas a granolas. De acordo com um relatório publicado pela Arcluster em Abril, o mercado global de insectos edíveis (comestíveis) deverá atingir 1, 54 mil milhões de dólares (1, 3 mil milhões de euros) no prazo de cinco anos. Já o mercado da produção de insectos para rações animais, a dar os primeiros passos a nível mundial, deverá chegar aos mil milhões de dólares em 2022 (cerca de 900 milhões de euros), apontava a mesma consultora em 2017. Um estudo de mercado semelhante feito pela Meticulous Research é, no entanto, mais conservador nas estimativas: prevê que todo o sector não ultrapasse 1, 18 mil milhões de dólares (mil milhões de euros) até 2023, incluindo no relatório diferentes aplicações, do consumo humano às rações animais, passando pela cosmética e farmacêutica. Em Portugal, ainda são mais as intenções e as experiências do que as empresas a fazer efectivamente caminho no sector, pelo menos publicamente. Mas já está criada a Associação Portuguesa de Produtores e Transformadores de Insectos — Portugal Insect, fundada em Maio por três empresas (Portugal Bugs, EntoGreen e Nutrix). Objectivo: “Congregar este sector em crescimento e torná-lo uma realidade em Portugal”. Até aceitar o desafio de um professor no último ano do curso de Engenharia Alimentar, Guilherme Pereira nunca tinha provado insectos. Desde pequeno que ouvia o pai dizer que “iam ser o futuro”. Mas, para ele, era uma realidade confinada ao continente asiático. “Sabia que se comia insectos no Oriente, mas não tinha tão presente que já estavam a criá-los no mercado ocidental”, admite. Quando lhes foi proposto desenvolverem uma barra proteica à base de farinha de insecto como projecto final de curso, Guilherme foi o único na turma a aceitar. Os colegas acharam-no “um bocado tolo”, diz. Mas ele viu ali uma ideia “extraordinária” e uma oportunidade de se lançar no empreendedorismo com uma “coisa diferente”. Finalizada a licenciatura na Universidade do Porto, Guilherme fundou a Portugal Bugs com a namorada, Sara Martins. “Mandámos vir um quilo de tenébrios e arrancámos a produção na minha garagem”, recorda ao P2. “Coloquei-os numa caixinha, com uma lâmpada daquelas que as pessoas usam para aquecer as galinhas no Inverno. De repente, aquilo deu um salto muito grande: num dia tínhamos muitas larvas, no dia a seguir já tínhamos um monte de pulpas, depois besouros por todo o lado na caixa”, ri-se. O primeiro impacto para quem se lança na produção é quase sempre a “descoberta de um mundo novo”. Por muito que se leia ou se tente pesquisar na Internet, a informação disponível é muito pouca, garantem. Cada passo do processo é aprendido sobretudo com a experiência. Um ano e meio depois, a produção da Portugal Bugs saiu da garagem para uma ala adaptada de uma pequena moradia em Perafita, no concelho de Matosinhos. São agora 200 caixas, com capacidade para produzir entre 35 e 40kg por mês. Mas o objectivo é chegar aos 100kg/mês, pelo menos, até ao final do ano. E, em 2019, “avançar com uma coisa em larga escala”. Para o sucesso dos planos, no entanto, falta um pormenor decisivo: que se feche definitivamente o hiato legislativo. O regulamento aprovado pela União Europeia em 2015 introduziu os insectos na lista de “novos alimentos” autorizados para consumo humano, abrindo caminho à comercialização de produtos à base deste ingrediente no mercado comunitário. Com a entrada em vigor da nova directiva, a 1 de Janeiro deste ano, arrancou o processo de avaliação e autorização de cada espécie por parte da Autoridade de Segurança Alimentar Europeia (EFSA). Até então, apenas seis países (Reino Unido, Holanda, Dinamarca, Finlândia, Bélgica e Áustria) faziam uma leitura mais permissiva da legislação europeia anterior que, ao proibir especificamente a utilização de “partes de insectos”, abria espaço a produtos feitos com o animal inteiro (desidratado e condimentado ao estilo asiático ou reduzido a farinha e aplicado em produtos transformados). Noutros países, a lei era omissa, não permitindo nem proibindo (caso de Portugal). Este ano é, por isso, considerado um período transitório: quem já estava no mercado pode continuar fazê-lo até ao final do ano. A partir daí, é necessário provar para cada espécie de insecto que os métodos de produção e de transformação, assim como os produtos finais, são seguros para o consumo humano. As candidaturas entregues pelas empresas têm de pormenorizar técnicas e apresentar diversas análises, como exames toxicológicos ou alergénicos. Cada dossier custa “acima dos muitos mil euros”, um valor incomportável para a start-up portuguesa. “É mau porque não podemos colocar o nosso produto no mercado, mas assim certificarmo-nos de que aquilo que é comercializado na Europa não vai fazer mal a ninguém. ” Na Portugal Bugs, o objectivo é serem “os segundos primeiros”. Em teoria, a partir do momento em que uma candidatura for aprovada, todas as empresas que se rejam por um processo semelhante ficam igualmente autorizadas a comercializar. Mas é aqui que começam as incógnitas. Os procedimentos têm de ser exactamente os mesmos? Como será feito o posterior licenciamento das unidades de produção, entregue às autoridades de cada país? Quanto tempo vai demorar todo o processo?“Isto não é apenas novo para o consumidor, é novo para toda a gente”, admite Guilherme. Numa perspectiva optimista, o empresário espera colocar os primeiros produtos no mercado no início do próximo ano. O ângulo mais realista empurra-o para um horizonte que não arrisca nomear. “Só vamos ter uma ideia mais concreta quando algum dossier for aprovado. E há previsões que apontam para que isso só aconteça no final de 2019. ” É neste campo que a associação Portugal Insect tem concentrado esforços, procurando criar uma ligação estreita com as entidades governamentais que regulam estes sectores. No final de Setembro, vai ser publicado um Manual de Boas Práticas na Produção, Transformação e Utilização de Insectos na Alimentação Animal, desenvolvido pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), em parceria com a associação. Há planos para criar um documento semelhante para a alimentação humana em breve, assim como uma lista de “perguntas frequentes” para ajudar quem quer entrar no sector. Chamam-lhe “vale da morte”. Quase todas as pequenas empresas atravessam-no, desde o desenvolvimento da ideia ao equilíbrio da balança financeira. Mas adicionou-se um sector inovador, ainda com poucas provas de retorno financeiro capazes de atrair grandes investidores e que enfrenta a resistência do consumidor, e a travessia pode tornar-se penosa. Muitas não sobrevivem. O irmão de Daniel Murta, por exemplo, acabou por perder o interesse, mas o professor de Medicina Veterinária resiste. Desde que foi fundada, em 2014, a Entogreen já conheceu várias vidas. Começou por produzir tenébrios para alimentação humana, foi depois abrindo espaço à alimentação animal até se focar exclusivamente nesta, trocando os tenébrios pela mosca soldado-negro, já em parceria com Rui Nunes, que integrou, entretanto, a empresa. O novo ciclo permite criar três produtos distintos. “Recebemos os subprodutos vegetais, as larvas consomem-nos em cerca de 15 dias e vão produzir um substrato orgânico que pode ser utilizado como fertilizante para os solos”, conta Daniel Murta. “As larvas são depois processadas e é separada a parte proteica e o óleo. ” Enquanto o primeiro tem como destino as produções agrícolas, os derivados de insecto podem ser integrados nas rações para animais (actualmente apenas peixes em aquacultura ou animais de companhia, cuja alimentação com insectos ou derivados sempre foi permitida). No entanto, a Entogreen ainda não colocou um único produto à venda. Para conseguir entrar num mundo de gigantes como é a formulação de rações para a aquacultura — actualmente feitas essencialmente à base de farinhas de peixe e de soja —, é necessário exponenciar a capacidade produtiva. “O próximo passo é passar de uma tonelada de larva viva por mês para 500 toneladas”, aponta Daniel Murta. “Há um ano que estamos activamente à procura de financiamento para construir uma fábrica que valha a pena. ” Na produção para alimentação animal, diz, a escala tem de subir ao nível dos “milhares de toneladas por ano”. Ao passo que, neste momento, na produção para consumo humano, “duas toneladas já não seria mau”. Daniel está confiante que surjam investidores até ao final do ano e que a fábrica comece a ser construída em Janeiro de 2019. O plano: erguer um edifício com cerca de quatro mil metros quadrados em Santarém (onde já têm parcerias com outras entidades), capacidade para empregar entre 60 e 70 trabalhadores e produzir, por mês, 700 toneladas de fertilizante, 214 toneladas de concentrado proteico e 42 toneladas de óleo de insecto. “Esperamos entrar no mercado no primeiro trimestre de 2020. ”Até lá, e desde a sua fundação, a Entogreen vive da “boa vontade dos sócios”. É maioritariamente suportada pelas economias pessoais e familiares dos dois empresários, apoiada por projectos de investigação e prémios ganhos no sector da inovação. A colónia é mantida em valores mínimos e só aumentam a produção quando existem ensaios a decorrer no âmbito das várias parcerias estabelecidas na área de Investigação e Desenvolvimento (com o IPMA, a Universidade de Aveiro, o Instituto Politécnico de Leiria ou o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, onde estão sediados, no pólo de Santarém). “Eu mantenho o vencimento como professor universitário na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona, enquanto o Rui está nisto a 100%. ” A situação é semelhante na Portugal Bugs: Guilherme concilia o trabalho com as aulas de karaté que dá diariamente; Sara continua empregada numa empresa ligada à indústria alimentar. Desde a criação da Portugal Insect, a associação “conseguiu congregar cerca de nove potenciais associados, alguns ainda apenas projectos empresariais”, revela Daniel Murta. José Gonçalves, presidente da Nutrix, empresa de Leiria produtora de framboesas biológicas, é um dos fundadores e membros da direcção da associação. Terá em curso a produção de farinhas de larvas de grilo para alimentação humana em fase experimental. Mas declinou o pedido de entrevista do P2 por considerar “ainda prematuro” falar sobre o seu negócio. Segundo Guilherme Pereira, há alguns anos que existem em Portugal vários produtores de insectos para a alimentação de animais exóticos e de estimação (algumas aves e répteis, por exemplo). O mais conhecido é a Aki à Bixo que tem como clientes o Jardim Zoológico e o Oceanário de Lisboa, entre outros. Depois, diz, há quem tenha mostrado interesse em arrancar com outros projectos, quem tenha feito testes e experiências ou esteja a produzir nas garagens. Mas empresas que tenham “200 ou 300 tabuleiros” de insectos, que “trabalhem diariamente para aumentar as produções” e com vontade de “industrializar”, ainda “não temos muitas” em Portugal. “Tenho um bocado de receio de que possamos criar uma indústria como a europeia, que é muito pó, muito pó”, critica o empresário. Tanto Guilherme Pereira como Daniel Murta acusam algumas empresas internacionais de tentarem “ofuscar um bocadinho tudo o resto que acontece” ao anunciarem “terem isto, aquilo e o outro” e “muitas vezes não ser real ou completamente verdade”. “É muito triste porque é um sector novo e começa a tornar-se opaco”, critica Daniel. Foi na última conferência da International Platform of Insects for Food and Feed (IPIFF), uma organização não governamental que representa o sector a nível europeu, que Daniel Murta, Rui Nunes, Guilherme Pereira e José Gonçalves se conheceram e decidiram criar a associação portuguesa. E foi de lá que vieram com a seguinte sensação: “Se calhar, era capaz de haver aqui um mercado fantasma e, por causa dele, muita informação retida. ” “Tínhamos a ideia de que Portugal estava muito atrás daquilo que era a indústria internacional, mas na conferência fomos analisando o que se passava, falando com algumas pessoas e a conclusão a que chegámos é que estamos quase todos no mesmo barco: ainda a ver como é que isto se produz de forma automatizada e da melhor maneira”, conta Guilherme. No último ano e meio, foram anunciados alguns dos maiores investimentos no sector, não só na Europa, como nos Estados Unidos, no Canadá e na África do Sul. A maioria está ligada à produção de insectos para a alimentação animal. O objectivo é produzir em grande escala e entrar no mercado das rações para aquacultura, onde existe uma grande procura por fontes proteicas alternativas à farinha de peixe. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A sul-africana AgriProtein, por exemplo, angariou 17, 5 milhões de dólares (15 milhões de euros) numa ronda de investimento no final de 2016. Terá inaugurado uma unidade fabril de grande escala um ano depois. Já a holandesa Protix terá recebido um investimento de 45 mil euros da Buhler, gigante suíça especializada na construção de unidades fabris para moagem e processamento de farinhas e alimentos, para erguerem uma nova fábrica em conjunto. No mesmo ano, a Protix tinha adquirido a Fair Insects, um pequeno consórcio de produtores de insectos desidratados, piscando o olho ao mercado do consumo humano. Também a francesa Ynsect e a espanhola MealFood Europe garantem ter unidades de produção industrial a funcionar. A empresa de Salamanca está, no entanto, fechada a curiosos. “É uma questão de segredo industrial”, disse ao El Mundo no final do ano passado Adriana Casillas, directora da empresa e vice-presidente da IPIFF. Actualmente, esta organização europeia conta com 42 membros, provenientes de 14 países, entre empresas dedicadas aos diferentes sectores de produção e transformação de insectos e alguns centros de investigação. Apesar do acelerado crescimento verificado nos últimos anos, o sector é ainda pequeno no mercado ocidental e a comercialização de produtos incipiente. No entanto, Guilherme Pereira acredita que o consumo de insectos é algo a que “não vamos conseguir escapar por muito tempo”.
REFERÊNCIAS:
Cotações da EDP disparam após venda a chineses
A cotação da EDP e da EDP Renováveis disparava respectivamente 4,43% e 2,79%, depois de ontem o Governo ter decidido a venda de 21% do seu capital à empresa Três Gargantas da China. (...)

Cotações da EDP disparam após venda a chineses
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-12-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: A cotação da EDP e da EDP Renováveis disparava respectivamente 4,43% e 2,79%, depois de ontem o Governo ter decidido a venda de 21% do seu capital à empresa Três Gargantas da China.
TEXTO: A Bolsa de Lisboa começou a sessão de hoje com o PSI 20 a valorizar 1, 54 por cento, para 5414, 60 pontos, tendência que se mantinha às 8h50 (+1, 49%), em linha com a subida geral nas bolsas europeias. O principal índice nacional tinha 17 cotações a subir àquela hora, com os títulos da EDP o topo, seguidas do Millennium (+2, 68%) e do BES (+2, 36%). Entre as três acções em queda, a maior descida era do Banif (-2, 65%), seguida da Altri (-0, 17%). Ontem, a bolsa de Lisboa encerrou a subir um por cento, com o BES a liderar as subidas, ao crescer mais de quatro por cento. Hoje não houve sessão na Bolsa de Tóquio e na Europa as bolsas estavam em alta generalizada, o que se reflectia numa subida de 0, 81% do Euronext 100. A sessão está a ser calma, com poucas transacções, segundo a AFP. A Bolsa de Paris abriu com o sue principal índice a subir 0, 95%, enquanto em Frankfurt o Dax avançava 0, 90% e em Londres o Footise valorizava 0, 73%.
REFERÊNCIAS:
Cidades Lisboa Paris Londres Tóquio
Microsoft corta preço do Surface Pro nos mercados americanos e asiáticos
Mercado dos tablets abrandou entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, de acordo com dados da IDC. (...)

Microsoft corta preço do Surface Pro nos mercados americanos e asiáticos
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mercado dos tablets abrandou entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, de acordo com dados da IDC.
TEXTO: Depois de ter descido o preço dos tablets Surface RT, a Microsoft decidiu cortar em 100 dólares, durante o mês de Agosto, o preço dos Surface Pro nos EUA, Canadá, China, Hong Kong e Taiwan. Estes tablets são o primeiro computador que a Microsoft fabrica, mas as vendas não têm corrido bem e a empresa está a perder dinheiro com o negócio. O director executivo, Steve Ballmer, já admitiu que tinha produzido mais Surface do que os que conseguiria vender. O RT é um tablet equipado com uma versão mais limitada do novo Windows, enquanto o Pro tem instalado o mesmo sistema operativo que foi desenvolvido para computadores e pode ser usado como um dispositivo híbrido. A empresa não explicitou as razões para a descida do preço. Entretanto, um relatório da analista IDC, divulgado nesta segunda-feira, mostra que o número de tablets enviados pelos fabricantes para o retalho (que é usado como uma medida do interesse dos consumidores) cresceu 59, 6% no segundo trimestre, quando comparado com o mesmo trimestre de 2012, totalizando 45, 1 milhões de unidades. Porém, o envio de tablets caiu 9, 7% quando comparado com o primeiro trimestre do ano, o que a IDC atribuiu à ausência de novos produtos durante o segundo trimestre, bem como ao lançamento de um novo iPad (a Apple é a líder de mercado) que deverá acontecer na segunda metade do ano, contrariamente ao que aconteceu em 2011 e 2012, anos em que a empresa lançou um novo modelo em Março.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Wall Street abre em baixa, contagiada pela economia chinesa
As praças norte-americanas iniciaram a sessão de hoje a desvalorizar, depois de a China ter decido aumentar a exigência das reservas da banca para conter a inflação. (...)

Wall Street abre em baixa, contagiada pela economia chinesa
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: As praças norte-americanas iniciaram a sessão de hoje a desvalorizar, depois de a China ter decido aumentar a exigência das reservas da banca para conter a inflação.
TEXTO: O Dow Jones e o índice tecnológico Nasdaq perdem 0, 45 por cento, enquanto o S&P 500 desvaloriza 0, 49 por cento. Descidas que reflectem uma reacção negativa de Wall Street ao anúncio da China, que vai obrigar os bancos a aumentar as suas reservas.
REFERÊNCIAS:
Países China
A Europa como ideal fascista
De onde vem o medo? Para onde é que nos transporta? As perguntas atravessam uma conversa sobre o presente com Aamir Mufti, crítico pós-colonialista com trabalho sobre minorias, questões de raça, migração, linguagem. Ultimamente, focou-se nos radicais de direita dos Estados Unidos. (...)

A Europa como ideal fascista
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Africanos Pontuação: 7 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.9
DATA: 2017-09-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: De onde vem o medo? Para onde é que nos transporta? As perguntas atravessam uma conversa sobre o presente com Aamir Mufti, crítico pós-colonialista com trabalho sobre minorias, questões de raça, migração, linguagem. Ultimamente, focou-se nos radicais de direita dos Estados Unidos.
TEXTO: Nada será como antes nem será como está porque o mundo mudou e a permanência não existe. Negar isso é permitir que a escalada de violência aumente e os radicalismos vençam os ideais democráticos. A ideia de segurança total, a crise dos refugiados, o renascer de nacionalismos e o extremismo de direita são questões globais que devem ser discutidas quebrando amarras, defende Aamir Mufti, 57 anos, paquistanês, professor de Literatura Comparada na Universidade de Los Angeles, UCLA, antropólogo, crítico pós-colonialista. Estudioso do modo como a linguagem reflecte e é capaz de mudar comportamentos, esteve em Lisboa para falar de refugiados, terrorismo e migração em mais uma edição da Lisbon Summer School organizada pelo Lisbon Consortium/Universidade Católica, este ano sob o tema Global Translations. Num entrevista exclusiva ao PÚBLICO, Mufti sublinha a necessidade de a linguagem se adaptar aos novos desafios globais, acusa a União Europeia de estar a falhar nos seus objectivos e de a esquerda estar “perdida”, de aprender com o racismo de Michel Houellebecq. Tudo enquanto se fixa no estudo do extremismo de direita nos Estados Unidos, onde se está a criar uma ideia imaginária de Europa. A conversa acontece um dia depois de uma intervenção polémica, com Mufti a falar de como a linguagem pode ajudar a entender ou a resolver a actual crise. “Qualquer luta política é em parte uma luta pela linguagem”, sublinha, enquanto tenta recuperar do jet lag com um chá forte numa manhã de chuva. O que nos diz a palavra “refugiado”, hoje?Tendemos a pensar nos refugiados como figuras abstractas mas não são; são pessoas muito concretas que carregam todo o tipo de histórias — pessoais, políticas, sociais. Trazem línguas, religiões. A literatura é o lugar para imaginar estas coisas de modo muito diferente da forma demasiadas vezes simplista e abstracta dos discursos públicos. Uma boa definição de refugiado é de Hannah Arendt; a grande pensadora judia, alemã, diz que um refugiado apátrida é uma pessoa que não pode confiar em nenhum Estado no mundo para proteger os seus direitos. Não é uma definição legal. É uma definição política. Muito simples, mas efectiva. Quando não há um Estado capaz de proteger os seus plenos direitos, essa pessoa é apátrida e pode tornar-se um refugiado. Apátrida e refugiado não são necessariamente a mesma coisa, mas são realidades próximas: não ter um Estado que nos proteja e a possibilidade de se ser exilado, ficando numa condição física bastante vulnerável que é a do refugiado. O que distingue a actual crise que afecta os refugiados de antigas crises de refugiados, como as das décadas de 30 e 40 do século XX?Há semelhanças e diferenças. A diferença é que os anos 30 e 40 já aconteceram e há uma consciência muito forte de não permitir que tal volte a acontecer. Por outro lado, muitos lugares na Europa parecem felizes por isso estar outra vez a ocorrer. Há uma grande contradição na sociedade europeia sobre o que é refugiado, qual é a relação entre o refugiado e a Europa e como responder a isso. Seja de forma concreta ou através de ideias abstractas, ajuda humanitária, defesa de direitos humanos. São debates prementes. Como se responde e qual a responsabilidade? Claro que neste momento não existem campos de concentração na Europa. A Alemanha absorveu um milhão de pessoas nas suas vilas e cidades, não estão indefinidamente em campos. Há muitas coisas diferentes, mas também há uma continuidade: o modo como um número relativamente pequeno de pessoas é visto como ameaça às culturas nacionais ou à cultura europeia; a ideia de que há aliens entre nós e são um mal para o nosso futuro. Esse tipo de ansiedade e medo tem qualquer coisa em comum com os anos 30 e 40. Não existem campos de concentração na Europa. A Alemanha absorveu um milhão de pessoas nas suas cidades. Mas há uma continuidade: o modo como um número relativamente pequeno de pessoas é visto como ameaça às culturas nacionais ou à cultura europeiaFala dos nacionalismos?Sim, absolutamente, a extrema-direita, todos os tipos de nacionalismo radical que ressurgiram. Esperava-se que a União Europeia soubesse combater ou tivesse posto fim a isso. Disse “nacionalismos nunca mais”, sim à coexistência e tudo o que ela representa; paz perpétua como um conceito, um ideal da União Europeia. Estão a aprender da maneira mais dura que não é tão simples. A questão, neste momento, é que tipo de entendimento podem ter as políticas europeias sobre quem são os refugiados e, além dos refugiados, quem são os migrantes. Qual é o lugar deles na Europa e como a vida moderna mútua pode ser possível. Como é que o medo e a violência podem ser controlados. Nenhuma forma de vida pode ser inteiramente fundada no medo e na violência. A ideia de uma segurança absoluta?Sim. Paz perpétua e segurança absoluta são abstracções e idealismos; não são muito realistas. Mas, nessa busca, podemos ter situações que são mais ou menos sustentáveis. Esse é o desafio. A questão de fronteira tornou-se central no último ano. Desde a chegada de Donald Trump, comecei a olhar mais do que alguma vez para a extrema-direita americana e a notar uma presença em massa de fascismo na América. Passa-se quase tudo de forma subterrânea, mas não escondida. No último ano, passei muito tempo a estudar este fenómeno e percebi que há uma espécie de abordagem europeia a este tema. Os americanos brancos são europeus, e os australianos e neozelandeses e canadianos e os radicais americanos de direita falam disso desse modo. Chamam-se a si mesmos europeus. Nunca tinha ouvido isto antes na América. Nem sequer dizem euro-americanos, dizem quase sempre “povo europeu”; “somos da Europa, construímos uma civilização europeia no continente americano e agora vêm estes e querem tirar-nos isso”. É mais ou menos este o raciocínio. Com a chegada de Trump, comecei a olhar mais do que alguma vez para a extrema-direita americana e a notar uma presença em massa de fascismo na América. Passa-se quase tudo de forma subterrânea, mas não escondidaE que ideia têm de uma civilização europeia?É contraditória de muitas formas, porque ser-se de movimentos de extrema-direita não tem muito que ver com os direitos individuais que fazem parte da ideia de América. Parte dos valores europeus e do papel da lei em defesa dos direitos do indivíduo choca com o preconceito racial e com a ideia de serem de uma raça intelectualmente superior, “e agora esta gente de raça inferior está a chegar e isso irá certamente causar mistura racial, genética, miscigenação e certamente reduzir o nível de inteligência”. Estes são os seus pensamentos. Mas não podem dizer, por exemplo, que os asiáticos são menos inteligentes do que os americanos brancos como não podem dizer que os judeus são menos inteligentes que os brancos. Ah. . . para eles, os judeus não são brancos, de todo! Pela primeira vez vejo os judeus na América a serem removidos da identidade branca de um modo muito gradual, muito lentamente, mas está a acontecer. Portanto, a ideia do que é ser europeu, do que isso significa, é muito contraditória, muitas vezes é a liberdade de expressão, mas é também a de uma comunidade orgânica que herdou uma cultura. É quase uma noção germânica do III Reich, de que a vida moderna e o capitalismo destruíram comunidades tradicionais e modos tradicionais de vida. E a vida moderna é judaica, lato sensu. O que pergunta é muito importante, mas eles não têm certeza sobre o que é isso. Vai publicar esse estudo?Sim, estou a escrever. E não é separável da ideia de refugiados, do medo, da visão da ameaça civilizacional. Vai chamar-se Europa e não Europe, em inglês. Europa aqui significa o efeito estranho de qualquer coisa que não é bem a Europa. É a Europa da imaginação. E que Europa imaginária é essa?Essa Europa pode existir na Nova Zelândia, na América do Norte, mesmo na Argentina. É uma ideia de como são os europeus, de onde vêm, quem são. Quem acredita nessa ideia da Europa acredita muitas vezes na mitologia norueguesa, do Norte, os que se chamam os filhos de Odin. Outros são muito cristãos – ortodoxos ou católicos –, alguns converteram-se à ortodoxia ucraniana para reclamar a sua herança branca. E há os ateus, os pós-morte de Deus ligados ao nazismo. É um cenário muito ambíguo e disperso que me fascina e aterroriza, porque estou a criar um filho na América. Falo do futuro; eles estão a ficar cada vez mais poderosos e mais dominantes. Muitos jovens irão aderir, está a tornar-se popular. E gera oposição. É a razão pela qual há um forte movimento antifascista entre muitos jovens, que se chamam a si antifa e aparecem em comícios de extrema-direita. Muitos membros da chamada geração millennial na América dedicam-se a combater o fascismo e os neonazis. Significa que sabem que há uma fatia da sua geração que está do outro lado. Os mais velhos não entendem isso. Tenho colegas, gente brilhante, académicos, intelectuais, que se recusam a acreditar que isto é importante, alegam que sempre houve racistas brancos. Não é verdade, está a haver uma mudança, há uma coisa nova a emergir, também em muitos países na Europa. Esses grupos estão em contacto. Os europeus e os americanos estão muito próximos. Desde o velho Ku Klux Klan aos jovens hipsters da nova direita, os níveis de paranóia são extraordinários, mas trazem teorias históricas muito concretas"E como se dão essas trocas?Encontram-se. Há um grupo americano chamado The Traditionalist Worker Party que faz parte do velho tradicionalismo ligado ao pensamento fascista italiano, ao Hezbollah, e a uma espécie de heideggerianismo atenuado, simplificando o que é o heideggerianismo. É a rejeição do mundo moderno, o recuo a formas tradicionais de vida e que pode passar pelo cristianismo ortodoxo e atravessa toda a Europa. Da Grécia à Hungria, República Checa, têm vídeos no YouTube das marchas onde se encontram. Tudo se faz de forma aberta para quem quiser ver. E em todos esses vídeos vemo-los a expressarem-se como europeus. Isto quando os europeus estão a tornar-se minoria nos seus próprios países. É o seu grande medo. No seu primeiro livro, Enlightenment in the Colony (2007), falava sobre isso mesmo, o medo de ser minoria. Sim, eu estava à procura de material sobre o judaísmo na Europa e sobre os muçulmanos na Índia para estabelecer uma comparação. Muito tempo depois ressurge o medo de ser uma minoria. Toda a política de Israel é sobre isso, de como os judeus não devem deixar que se tornem uma minoria, e agora vêem os nazis americanos perguntar porque é que os judeus podem reclamar isso e eles não? Porque é que não têm um Estado étnico que garanta que não sejam uma minoria? Isto quando os judeus são as pessoas menos ligadas à extrema-direita na América; sempre se manifestaram contra a ideia de a América ser um país branco, sempre abriram as portas à imigração. Os extremistas ligam isso à queda de Constantinopla e da Andaluzia. Os níveis de paranóia são extraordinários, mas trazem teorias históricas muito concretas. Como se podem desconstruir essas teorias?Podemos rir. É de loucos, só podemos rir. Mas muita gente está a falar assim. Desde o velho Ku Klux Klan aos jovens hipsters da nova direita com o mesmo corte de cabelo, chamado fasc, curto nos lados e comprido no topo. Têm um estilo, uma moda, maneiras de vestir e uma subcultura jovem. Está a tornar-se uma subcultura com uma imagem a que muita gente adere sem saber bem porquê, mas tem raízes políticas. E produzem que tipo de cultura?Estão a começar. E essa é outra grande questão. O que se conhece é material vídeo e sobretudo paródia, sátira, fazer piadas acerca de algumas ideias. São eles que estão a ter piada. A esquerda é quase toda muito séria e zangada. Eles estão a divertir-se. Falei disto numa conferência sobre género, ninguém estava à espera, e falei do género fascista. Foi na Califórnia. Geograficamente, onde é que estas pessoas se concentram nos Estados Unidos?Em todo o lado. Estão na Califórnia! Pensamos na Califórnia como um paraíso anti-Trump, mas é o lugar onde nasceu o partido nazi americano, onde nasceram os Hells Angels, o sítio onde está baseada a maior instituição que nega o Holocausto nazi, chama-se Institute for Historical Review, nome muito inocente ao ouvido, mas determinado em afirmar que não existiram câmaras de gás, etc. Um destes grupos chama-se Identity Europa. Pode imaginar um americano de uma pequena cidade a dizer Europa? O nome do líder é Nathan Damigo, muito activo em universidades por todo o país. Colam posters cheios de imagens de estátuas da Grécia Clássica, tudo muito bem produzido, esteticamente muito actuais. Não se pense que são pessoas que vivem nos bosques de forma primitiva, com armas e aos tiros. São esclarecidos, sabem de linguagem mediática, conhecem a tecnologia; muitos têm formação universitária, passaram por aulas como a minha onde pensamos estar a converter e a educar mentes ao ensinar pensamento progressivo. E estão a pensar no apuro pan-europeu. Fala de tudo isso num tom de exaltação e surpresa. Até que ponto essa observação altera o seu discurso crítico, pós-colonial?Mudei o modo de pensar estas questões, o enquadramento. Tornou-se claro que existe um processo histórico longo e que a direita o entende melhor do que a esquerda. O capitalismo, na sua concepção, vem da supremacia branca, desde o seu nascimento, no período mercantil; a supremacia branca a criar a escravatura e a colonização e os genocídios e depois regras de colonização, formas de pensamento racista, exploração do trabalho consoante a raça. Tudo isso até à era pós-colonial. Houve um grande cataclismo no século XX, em que tudo começa a derrocar-se. Os pensadores mais importantes dessa mudança pós-colonial são judeus da Europa, como Hannah Arendt, Claude Lévi-Strauss. É espantoso! Erich Auerbach, o filólogo alemão que viveu na Turquia durante a guerra e teve uma vasta experiência do mundo europeu e um papel na europeização do mundo não europeu como professor de Humanidades na Universidade de Istambul. Fez daquela instituição islâmica uma universidade europeia. A minha pergunta é: que tipos de sociedade estamos agora a criar, local e globalmente, e qual será o lugar da supremacia branca, que historicamente formou as relações sociais, no presente e no futuro? Muita gente na Europa está a falar da coexistência entre minorias que vêm de outros locais. A direita entende isto muito bem actualmente; está a lutar pelo regresso da supremacia branca, a dizer que num contexto de migração em massa estas formas de relação social não podem sobreviver. É um ponto importante. E a esquerda não está a saber lidar com isto. Para ela, estes são novos europeus e a Europa vai permanecer como está. Não. É preciso redefinir a sociedade europeia, a assimilação tem de acontecer não apenas por parte dos imigrantes, mas do cruzamento das sociedades. Queremos uma sociedade quase instintivamente nostálgica das suas glórias imperiais do passado? Não estou a dizer oficialmente, mas na vida de todos os dias. Vai permanecer esse tipo de sociedade ou vamos repensar o passado colonial? Isso não está a acontecer. Encontro-me numa posição muito estranha: sou um crítico e um pensador pós-colonial e estou a defender a União Europeia no Reino Unido. Na América esse pensamento não é tão urgente?Sim, na América também. Sabendo tudo isto, presume-se que a vitória de Donald Trump não o surpreendeu. Não me surpreendeu, mas surpreendeu quase todos os meus amigos, surpreendeu a minha mulher. Desde Maio de 2016 tornei-me obcecado pelo estudo da extrema-direita. Assisti a alguns episódios protagonizados por apoiantes a Trump e não queria acreditar no que via. Estava tudo ali, visível, mas ninguém contava. Quem não contava, os media, os jornalistas?Sim, pareciam adormecidos. Trataram sempre Trump e a extrema-direita como uma piada e mesmo agora não entendem, e as perguntas, quando o entrevistam, fazem-me rir e também fazem rir esses extremistas. Que perguntas deveriam ser feitas?Não perguntas liberais como “como pode dizer que crianças nascidas nos Estados Unidos deveriam ir para a terra dos pais ilegais? Não são americanas?” Eles riem e dizem: “Não, elas não são americanas. São mexicanas, não têm a marca étnica do nosso povo. ” É assim que falam. Como outros noutros países. A América não é uma nação baseada num princípio, como se pensa, mas como quase todas as outras é baseada num predomínio étnico. Chamam-lhe uma nação proposicional por causa do famoso discurso de Abraham Lincoln em Gettysburg, o chamado Gettysburg Adress [o discurso mais famoso de Lincoln, em 1863, no fim da Guerra Civil], em que ele recordou os princípios fundadores da nação e a preposição de que todos os homens são criados iguais. Para os extremistas, Lincoln foi o idiota que destruiu a América ao introduzir o veneno da igualdade. Para eles, os pais fundadores não tinham dúvidas de que aquela era uma nação branca e os negros nunca poderiam ser cidadãos. A cidadania para negros livres só aconteceu depois da Guerra Civil. Eles querem retirar da Constituição Americana a emenda que salvaguarda essa igualdade, a de que qualquer pessoa pode ser americana por ter nascido lá. Como o meu filho. Eu e a minha mulher não éramos cidadãos americanos quando ele nasceu; éramos imigrantes legais, mas não cidadãos. Mas o meu filho é americano. É o direito à nacionalidade por nascimento. A razão é essa emenda pós-Guerra Civil que deu a cidadania a ex-escravos. Quando falam de sociedade branca, falam de supremacia branca. Estamos a viver um momento extraordinário em que grandes mudanças podem acontecer. Vamos sempre dar ao que se chama grande ferida americana, a escravatura?Pois, tudo na América parece ser sobre escravatura e entre ser negro ou branco. Tudo. Mesmo a imigração. E está a ressurgir depois de décadas. Repito, há quem siga a extrema-direita e a leve a sério. Muitos deles não são idiotas. Podem ter ideias loucas mas em muitos aspectos estão a entender melhor o que está a acontecer do que os chamados “liberais”. Faço sempre o arco com a Europa. W. E. B. Dubois, o grande intelectual afro-americano [1868-1963], publicou The Souls of Black Folk [1903], o seu grande legado sobre relações raciais. Ele afirma que a grande questão do século XX iria ser a racial. Eu hoje poria isso de um modo um pouco diferente; penso que é importante que o capitalismo entre na equação enquanto conceito e a ligação entre o capitalismo e a supremacia branca. Mas agora que a China está prestes a tornar-se a grande potência capitalista, como é que se vai pensar esse problema? Voltamos ao grande arco. A supremacia branca no máximo do seu poder, a transferência do poder geopolítico da Europa para a América, o grande conflito soviético que foi a Guerra Fria e, no momento pós-colonial, os movimentos anticoloniais por todo o lado nas décadas de 40, 50, 60 e 70 e mesmo nos anos 80, e chegamos a este ponto, o do multiculturalismo, globalização, um momento pós-colonial e uma nova ordem. Tudo o que é tomado por permanente não é permanente. Nada é permanente. Eles entendem isto. Há discursos disponíveis no YouTube onde se vê os líderes de extrema-direita a falarem com estes argumentos. Vêem o fim do apartheid na África do Sul como parte deste processo em que a sociedade branca está a ser destruída. Quando falam de sociedade branca, falam de supremacia branca. Estamos a viver um momento extraordinário em que grandes mudanças podem acontecer. Está pessimista?Sou por natureza um pessimista, mas sinto-me optimista em relação a isto. É muito estranho. Pode explicar porquê?Porque há agora uma inevitabilidade histórica. A sociedade europeia irá morrer em duas gerações. Demograficamente. Não há população suficiente para uma regeneração que sustente o Estado social. Capitalismo e demografia como sistema único no mundo geraram este desequilíbrio populacional entre Norte e Sul. As condições de vida sustentável são outro grande desequilíbrio. É um movimento inevitável. Não estou a falar em termos naturais, mas sociais. O sociólogo italiano Sandro Mezzadra diz que a migração em massa não é um processo demográfico anónimo, mas um movimento social, e o argumento que estou a construir para este projecto é que o migrante pós-colonial na Europa é uma figura que devolve à pátria europeia a questão do passado colonial. É a oportunidade de a Europa usar isso para se tornar verdadeiramente pós-colonial. É um regresso de modo a limpar tudo, arrumar tudo, e vir com disposição de constituir novas relações sociais não baseadas no passado colonial essencialmente racista. O migrante pós-colonial na Europa é uma figura que devolve à pátria europeia a questão do passado colonial. É a oportunidade de a Europa usar isso para se tornar verdadeiramente pós-colonialDeste seu pensamento pode concluir-se que a extrema-direita está organizada e a esquerda e o chamado “centro” estão perdidos?A esquerda está perdida neste momento. O que deve fazer quem quer defender os princípios da democracia?Não tenho uma resposta clara para isso. Estou a esforçar-me para ter. É a grande questão do nosso tempo. O politicamente correcto tem de terminar. A correcção política do tudo limpo. A extrema-direita não tem essa correcção e por isso pensa coisas novas. A esquerda não é capaz de um pensamento novo neste momento. Por estar preocupada com o politicamente correcto?Sim, penso que sim. Queremos uma linguagem de justiça social e que fundamente novas possibilidades humanas mais do que simplesmente uma linguagem de multiculturalismo. Na sua leitura, referiu Sandro Mezzadra, dizendo que a condição branca do europeu não foi posta em causa pelo multiculturalismo, mas apenas tornada menos evidente para tornar possível a coexistência com os não brancos. . . O multiculturalismo foi um penso rápido na grande ferida que é a história da Europa. Internamente, com o genocídio dos judeus; externamente, com a colonização, a escravatura, os genocídios. E o multiculturalismo não é uma maneira de lidar com essa grande lesão. A sociedade europeia irá morrer em duas gerações. Demograficamente. Capitalismo e demografia como sistema único no mundo geraram este desequilíbrio populacional entre Norte e SulFalou há pouco da União Europeia como a guardiã de um ideal. Onde é que está a falhar?A grande falha da União Europeia é evitar estas questões. Lidou com a questão judaica até certo ponto, mas mesmo aí de forma bastante incorrecta. França, por exemplo, o modo como distingue judeus e árabes é à velha maneira colonial aplicada na Argélia. Os judeus podem ser europeus, mesmo judeus árabes. Jacques Derrida, Hélène Cixous. . . , mas os árabes muçulmanos não podem ser europeus. Estas são formas de distinguir os árabes dos judeus que derivam de 1840. Nessa década, o Estado francês recrutou rabis asquenazes [provenientes da Europa Central] para os fazer chefes de sinagogas na Argélia. Foi o início do processo de europeização dos judeus árabes. A tecnologia colonial de diferenciação entre árabes e judeus, entre populações diferentes, está a acontecer, não é uma coisa só do passado. Depois os judeus foram a ameaça, agora assistimos mais uma vez à ameaça árabe. O desafio é desenvolver novas formas de pensar a sociedade. Ideias como cosmopolitismo e multiculturalismo estão a falhar diante dos nossos olhos. Como é que a literatura está escrever este presente?Muito do que se tem escrito surge no grande corpo a que se deu o nome literatura pós-colonial ou de imigração; e isso foi tornado exótico e chegou-se a uma fórmula; quando há uma fórmula, há uma expectativa: “Isto é o que nos vão dar. ” Tenho essa experiência; enquanto alguém considerado crítico pós-colonial, esperam certas coisas de mim e é uma luta não seguir o padrão. Podia viver muito bem só disso, de dar às pessoas o que elas querem. Arranjo muitos problemas por não o fazer e tento ensinar os meus alunos a não viverem debaixo desse tipo de expectativa ou de compromisso que impede de pensar de forma nova, original, que faça a diferença, que não seja apenas a repetição de uma fórmula. Mas há grandes escritores. Zadie Smith, agora; ouvi uma entrevista recente onde ela dizia que as pessoas pensam o multiculturalismo como um dado adquirido. Londres é multicultural e é apenas isso; o mundo é simplesmente isso, e ela diz que os acontecimentos do último ano fizeram-na perceber como esse momento é temporário. Espero qualquer coisa grande dela em resultado dessa conclusão. E Michel Houellebecq?É um caso interessante. Pertence à direita conservadora, muito anti-islâmica. A maior parte das pessoas com quem falo — caso de críticos literários — ficam chocadas e perguntam-me porque estou a trabalhar sobre Michel Houellebecq se ele é um racista. É precisamente por isso. Estudo-o porque ele é racista, quero entender o que isso é, e uma vez mais, porque é um escritor de extrema-direita e percebe que a esquerda, com todo o seu multiculturalismo, é incapaz de produzir um pensamento. Submissão [Alfaguara, 2015] não é um romance islamofóbico e esse é o grande truque do romance. É brilhante. Gosta de Houellebecq, escritor?É um louco, sabemos. A maneira como escreve sobre pornografia é demasiado para mim. É pornografia explícita, não é erotismo. É violento com as mulheres, é insuportável por vezes nessa violência de género, difícil de ler, mas revela-nos coisas acerca do nosso mundo. É sobretudo sexo, religião e raça, e muito revelador. Submissão, como disse, não é islamofóbico. No livro, o país vai aceitando o islão e as pessoas convertem-se maciçamente; a Sorbonne torna-se um seminário islâmico. Ele parece estar quase a dar as boas-vindas ao islão como um final para o conflito. Se é isso que é preciso, vamos fazê-lo. E o extraordinário, muito houllebecquiano, é que essa conclusão é assegurada por uma aliança entre patriarcas franceses e patriarcas islâmicos. É a grande atracção para os homens franceses se converterem. É tão louco! É orientalista, mas não islamofóbico. Orientalista tal como Edward Said definiu o orientalismo, com um olhar eurocentrado?Sim, nesse sentido. Ele escreve com base no imaginário francês colonial acerca do islão. O islão ocupa um lugar muito peculiar na história de França. Houve uma islamofilia em França, e muito patriótica, no sentido de uma ordem doméstica em que os homens têm as regras de uma certa ordem social e onde no centro está Deus. Isto foi muito atraente na cultura francesa no século XIX e início do século XX. Muitas personalidades francesas converteram-se ao islão nesta visão da ordem doméstica patriarcal com ênfase no sexo. Ter várias parceiras legais garante aos homens o acesso sem restrições ao sexo. Ele escreve a partir deste fascínio colonial do islão como doutrina doméstica. Adoro o romance. Repito, a direita radical ensina-me mais agora do que o multiculturalismo. Mas há outro escritor insano, francês, Jean Raspail. Acho que Michel Houellebecq fez uma reescrita do livro de Raspail chamado Le Camp des Saints [1973]. É um romance muito popular na extrema-direita americana. Steve Bannon, o estratega de Trump, afirmou que é o seu livro preferido na literatura. É sobre a chegada de mais de um milhão de imigrantes da Índia à costa francesa. Cem barcos chegam como uma grande armada, quase uma invasão, e as ruas ficam cheias dessa gente pobre, faminta e moribunda e o resto do romance é sobre o que acontece ao Sul, com a população a fugir para o Norte e o exército a descer. É o fim da civilização francesa, num ápice. Ele tem ideias apocalípticas sobre a demografia e de como isso é inevitável. Agora é lido como profético por essa direita radical. Dizem: aí está 2015, foi exactamente o que aconteceu. Ao criar os refugiados indianos, não quis distrair as mentes com o islão. Ele altera o que acha que são os factos para os tornar mais evidentes. Isto tem mais de 40 anos. É um romance horrível, muito mal escrito, mas de um modo estranho acho que Houellebecq está a reescrever esse texto. Edward Said denunciou o preconceito em relação ao islão e a sua representação, marcado pelo eurocentrismo. Perante tudo isto, como podemos agora ler aquele que é considerado o seu grande livro, Orientalismo (Cotovia, 2004)?Ele foi meu professor, grande amigo e mentor. Deve ser lido no sentido de um aviso sobre o que é agora a realidade diária: conflito de civilizações, violência de ambos os lados, o terror e a guerra contra o terror, a escalada desde os ataques ao World Trade Center. Todos os anos há uma nova escalada em direcção a um nível cada vez maior de loucura. Temos de mudar a nossa linguagem, o modo de pensar, alterar os nossos instintos ou o que tomamos como instintos, mas que são mais apreendidos que que outra coisa; não são coisas espontâneas que nasceram connosco. Aprendemos a pensar e a reagir emotivamente dessa maneira. É preciso empreender a laboriosa tarefa de mudar isso. Tornarmo-nos pessoas diferentes. Por isso o livro é mais relevante do que nunca. Não é sobre a representação de muçulmanos e árabes, é sobre esta história de violência entre o Ocidente e o mundo islâmico há séculos e de como ficar ciente disso e como começar a interromper esse processo de escalada constante. Dizia que é preciso mudar a linguagem: não parece coisa para uma geração. Mas há mudanças que vão acontecendo. Quando Donald Trump venceu as eleições americanas, muitos analistas disseram que se deveu a uma nova forma de linguagem. Pois. Talvez seja um motivo pelo qual o politicamente correcto deve ser questionado, o outro lado mostra o que parece não ser politicamente correcto. É abertamente racista, xenófobo. Quer dizer que se pode aprender acerca de linguagem com Trump?(Pausa) O politicamente correcto, especialmente na versão americana, cheia de interditos. . . como deverei pôr isto?O exemplo da n-word (eufemismo para nigger)?Sim, sim. Interdita. E, no entanto, ouvimos a palavra todos os dias na música contemporânea, no cinema americano, mas só é usada por afro-americanos, sejam cantores ou actores. Os filmes de Tarantino têm todos a n-word, mas dita por uma personagem negra. Na América nem se pode levantar a questão da imigração. Eu sou imigrante. Cheguei aos Estados Unidos para ir para a universidade, a minha formação anterior foi no Paquistão. Acho importante perguntar quais as implicações da imigração de massa, é estúpido fingir que nada irá mudar. Estamos a pedir que as coisas mudem, queremos que as coisas mudem, queremos fazer desta sociedade pós-colonial livre do imaginário racial do passado. São perguntas importantes; temos de as fazer abertamente e discuti-las. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Isto enquanto o inglês continua a ser a língua hegemónica, o tema do seu último livro, Forget English! (2016). Sim, a hegemonia global do inglês. É inevitável neste momento, não pode ser revertida, não podemos recuar a uma situação linguística anterior. Esqueçam o inglês? Não. Mas pensem mais nas outras línguas. Nos departamentos de inglês não se pensa por exemplo no que é a anglofonia. A anglofonia é só uma coisa bonita, as pessoas escreverem e pensarem em inglês em todo o lado! Mas tentem entender o que acontece quando falam inglês. Há uma diferenciação de classe no acesso? As línguas tradicionais estão a ser destruídas? É o que tento discutir nesse livro e a ideia de literatura mundial. É dominada pelo inglês. É preciso fazer as perguntas e não este non-sense de nem sequer poder mencionar a palavra “imigração” e dizer é tudo o mesmo, somos todos o mesmo. Não somos todos o mesmo. Trazemos diferentes histórias. Vir do lado do império ou do lado imperializado são duas coisas muito diferentes. Somos diferentes tipos de seres humanos em resultado dessa divisão. Por isso fala do paradoxo por detrás da ideia de igualdade?Sim. Igualdade não é o mesmo que semelhança. As tradições europeias geralmente equiparam igualdade e semelhança, e o multiculturalismo reproduz a semelhança; não é um modo de reconhecer a diferença. A diferença não é cultural. É histórica, são as diferenças históricas de diferentes populações. As heranças familiares vêm daí e formam seres humanos diferentes. Essa questão tem de ser central. O que temos é mau e queremos mudar, queremos criar outra coisa e estamos a mover-nos, mais e mais, no sentido de misturar populações diferentes, mas esta mistura não pode ser imaginada ou concebida em termos multiculturais. Não é só o imigrante que tem de fazer o esforço de mudar e ajustar-se. A questão é mudar as próprias sociedades nas quais o imigrante é assimilado. A questão é como é que as sociedades de acolhimento podem mudar e no que se poderão tornar no futuro. Não sabemos, mas tem de ser discutido de forma mais rigorosa e aberta. É o que vou tentar fazer no meu próximo livro. Esta Entrevista encontra-se publicada no P2, caderno de Domingo do PÚBLICO
REFERÊNCIAS: