Uber: o mundo está preparado para esta alternativa ao táxi?
Empresa norte-americana tornou-se multimilionária com a (app) que desenvolveu, mas os entraves legais à sua actividade estão a crescer um pouco por todo o lado. (...)

Uber: o mundo está preparado para esta alternativa ao táxi?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Empresa norte-americana tornou-se multimilionária com a (app) que desenvolveu, mas os entraves legais à sua actividade estão a crescer um pouco por todo o lado.
TEXTO: O número de cidades em que a Uber funciona cresce a um ritmo semanal. Nos últimos meses, esse ritmo tem sido semelhante para os entraves legais que a aplicação (apps) móvel, que funciona como uma central de táxis privada, tem enfrentado. Considerada uma das startups mais valiosas do mundo, com um valor de mercado estimado em 40 mil milhões de dólares, a Uber tem tido tanto sucesso como polémica. A empresa de São Francisco, Califórnia, é acusada de concorrência desleal e as suas garantias de segurança para os clientes estão a ser postas em causa. Esta segunda-feira, a Uber voltou a ser notícia mas não pelos resultados empresariais. Em Sydney, enquanto surgiam as primeiras informações de que um homem armado fazia reféns num café situado no centro administrativo da cidade australiana, viaturas ao serviço da Uber chamadas à zona cobravam tarifas acima do habitual. A empresa justificou a inflação dos preços com a necessidade de “encorajar mais motoristas a estarem disponíveis e a irem buscar clientes àquela área”. Após denúncias ao serviço, a Uber voltou atrás e anunciou que as viagens a partir do centro administrativo seriam gratuitas e que os utilizadores que já tinham pago iriam ser ressarcidos. No mesmo dia, em Paris, e à semelhança do que já se tinha passado no Verão, a Uber foi alvo de protestos com marchas lentas de taxistas entre os aeroportos de Orly, Roissy e Paris, depois de um tribunal francês ter recusado interditar a Uber, embora tenha admitido que esta opera com ilegalidades. Os taxistas franceses, que estiveram no último fim-de-semana reunidos com responsáveis do Governo para debater a Uber, souberam já nas ruas que a aplicação, que liga o cliente ao motorista através da Internet, com um smartphone ou tablet, ficará interdita a partir de 1 de Janeiro, com a entrada em vigor de uma lei que enquadra legalmente a actividade dos veículos de turismo com motorista e dos táxis. A lei impede os motoristas não profissionais de exercerem a actividade e isso afecta a Uber. A proibição em França surge após os tribunais de Espanha e a Holanda terem respondido favoravelmente a providências cautelares apresentadas por associações de táxis a pedir a suspensão da Uber. Taxistas portugueses contraEm Portugal, onde a Uber começou a operar em Lisboa, em Agosto, com um serviço de luxo, e a partir desta terça-feira numa versão low-cost, que também é lançada no Porto, não houve iniciativas semelhantes. Mas com o anúncio, esta segunda-feira, de uma parceria entre a TAP e a Uber para “facilitar os trajectos entre o aeroporto de Lisboa e a cidade” para os clientes da transportadora aérea, a situação pode vir a alterar-se. A ANTRAL considera que a parceria vai ter “uma reacção muito negativa por parte dos taxistas”, que sofrem, assim, mais um “ataque”. Ainda na Europa, na Dinamarca e Noruega foram apresentadas queixas contra a app. Em Bruxelas, a Uber arrisca-se a perder o direito de actividade. O ministro dos Transportes Regionais confirmou ao Le Soir que pode vir a ser ordenada uma investigação bancária à empresa e aos seus motoristas para averiguar o cumprimento de leis fiscais e de segurança social belgas, dado que os condutores não estão a pagar impostos sobre os seus rendimentos. Pascal Smet disse ainda que vai solicitar à Apple e ao Google que retirem a app das suas lojas online. Outro dos países onde a Uber tem enfrentado entraves é a Alemanha. As batalhas na justiça levaram a Uber a reduzir o valor das tarifas em 0, 35 cêntimos o quilómetro em Berlim e Hamburgo, após as suas cidades terem banido o serviço por falta de licença de viaturas. Ao reduzir a tarifa, a Uber conseguiu que os motoristas sem licença pudessem trabalhar, mas perdeu condutores. As dificuldades levaram mesmo a Uber a apelar ao apoio público, através de uma petição onde acusa as leis locais de serem uma “ameaça aos funcionários da Uber”. Segurança em causa na ÍndiaNo continente asiático, a empresa viu as suas garantias de segurança aos clientes serem abaladas com a violação de uma mulher por um motorista em Nova Deli, caso que levou as autoridades a proibirem o uso da aplicação na Índia. A Uber suspendeu a actividade e pediu desculpas à vítima. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, anunciou, por sua vez, que quer evitar casos semelhantes e promoveu o She Taxis, onde mulheres conduzem táxis para garantir a segurança do sexo feminino. O caso na Índia levantou questões sobre se o passado dos motoristas é de facto verificado. A Uber Portugal sublinhou ao PÚBLICO que a “segurança é a principal prioridade” para a empresa, a nível local e mundial. “Todos os motoristas que operam na plataforma Uber em Lisboa são rigorosamente escrutinados, o que inclui uma investigação de antecedentes criminais” e os “carros que operam na plataforma devem corresponder aos elevados requisitos de qualidade e segurança”, afirma a representação.
REFERÊNCIAS:
Étnia Asiático
O Gigante, um monte submarino nos Açores, ofereceu-nos um novo campo hidrotermal
É o primeiro campo hidrotermal descoberto numa expedição totalmente portuguesa, liderada pela Fundação Oceano Azul. Localizado entre as Flores e o Faial, está a 570 metros de profundidade. (...)

O Gigante, um monte submarino nos Açores, ofereceu-nos um novo campo hidrotermal
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: É o primeiro campo hidrotermal descoberto numa expedição totalmente portuguesa, liderada pela Fundação Oceano Azul. Localizado entre as Flores e o Faial, está a 570 metros de profundidade.
TEXTO: Por cima do complexo do Gigante, um monte submarino literalmente a meio caminho entre as ilhas das Flores e do Faial, deu-se um encontro programado de navios – entre o Santa Maria Manuela e o Almirante Gago Coutinho. Estão a participar numa expedição da Fundação Oceano Azul aos Açores desde o início de Junho, dedicada às ilhas do Corvo e das Flores e a alguns montes submarinos nas redondezas. As novidades chegadas ao Santa Maria Manuela (que partiu na segunda-feira à tarde das Flores) vindas do Almirante Gago Coutinho é que o veículo submarino Luso aí a bordo tinha descoberto um novo campo hidrotermal em águas portuguesas. Para se inteirar melhor das novidades, o biólogo marinho Emanuel Gonçalves, um dos líderes desta expedição chamada Oceano Azul, deixou na terça-feira à tarde, por umas horas, o Santa Maria Manuela (da Fundação Oceano Azul) para ir num bote, acompanhado por uma pequena equipa, ao encontro do Almirante Gago Coutinho (da Marinha Portuguesa). O mar não era o mais amigável para estas travessias. Trouxe de lá um vídeo e fotografias da paisagem encontrada pelo robô submarino Luso (da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental) no fundo do mar no último sábado, no Gigante, a 570 metros de profundidade, e mais informações que lhe foram transmitidas pelo biólogo marinho Telmo Morato, da Universidade dos Açores e que nesta expedição está no Almirante Gago Coutinho a coordenar uma equipa dedicada aos ecossistemas de profundidade. O que vimos no vídeo são quatro orifícios hidrotermais, por onde sai um fluido transparente. A coloração à volta é alaranjada. Mas não vemos nem os mexilhões nem os camarões comuns em muitas outras fontes hidrotermais, que são emanações de água quente vindas do interior da crosta terrestre carregadas de gases, metais e minerais e rodeadas de formas de vida peculiares. Não só são capazes de viver num ambiente tão tóxico como este, como essas comunidades biológicas não dependem da luz solar, uma vez que aí a base da cadeia alimentar são bactérias e outros microrganismos que sintetizam os minerais libertados nas fontes hidrotermais e que, por sua vez, são ingeridos por outros seres vivos. Estas bactérias formam autênticos tapetes, que conseguimos ver, esbranquiçados ou amarelados. Nestes locais profundos do oceano, onde a luz do Sol não chega, na base da cadeia alimentar não está assim a fotossíntese, mas a quimiossíntese. As primeiras fontes hidrotermais foram descobertas no final dos anos 70, no Pacífico, e foi por nos terem trazido, entre outros aspectos, a visão de que a luz do Sol não é uma condição imprescindível para haver vida que são consideradas uma das grandes descobertas científicas do século XX no campo da biologia. Talvez em Europa, uma lua de Júpiter, ou em Encelado, uma lua de Saturno, haja forma de vida por baixo das crostas de gelo que as cobrem por completo. Por vezes esses fluidos, nalguns casos extremamente quentes, ultrapassando os 300 graus Celsius, são tão escuros que parecem fumo negro. Mas aqui não: a água quente libertada das entranhas do Gigante é apenas ligeiramente mais quente do que o exterior, é incolor e provoca um efeito tremeluzente. Mal acabámos de ver o vídeo à noite e já nos estavam a chamar à ponte do Santa Maria Manuela, para uma conversa rápida, via rádio, que estava marcada com Telmo Morato. No vídeo vimos quatro orifícios hidrotermais e essa é a dimensão do campo que descobriram, perguntámos-lhe. “Confirma-se que identificámos quatro orifícios hidrotermais. Escuto”, respondeu-nos do Almirante Gago Coutinho. E aquela coloração em redor dos orifícios hidrotermais deve-se a quê? “Escuto”, dizemos-lhe também. “Os tons alaranjados devem-se à oxidação dos metais em contacto com a água do mar. E possível também que sejam precipitações de sulfuretos. Escuto. ”Ao contrário de outras fontes que lançam fluidos negros com mais intensidade, estas fontes hidrotermais são difusas? “Afirmativo. A água é ligeiramente aquecida e rica em minerais e dióxido de carbono. ”Quanto às formas de vida à volta das fontes do Gigante, Telmo Morato adianta ainda: “Existem as típicas comunidades bacterianas. ” Mas não viram mexilhões, pois não? “Afirmativo. No mergulho conseguimos ver que poderão existir outras formas de vida, mas não temos a certeza do tipo de organismos. Não existe a fauna típica. O campo hidrotermal Saldanha é mais fundo e tem características semelhantes, com água à volta dos dez graus [Celsius]. ”Telmo Morato está referir-se a um campo hidrotermal descoberto ao largo dos Açores faz agora precisamente 20 anos, numa expedição luso-francesa, dessa vez a bordo de um navio francês, com um veículo submarino tripulado francês, o famoso submersível Nautile. A bordo iam cientistas portugueses e franceses, e nesse ano de 1998 não se tinha passado assim tanto tempo – apenas seis anos – desde a descoberta, numa expedição estrangeira, das primeiras fontes hidrotermais de profundidade nos Açores: o campo Lucky Strike. Desde então, além do Lucky Strike e do Saldanha, outros seis campos hidrotermais profundos situam-se em mar português ou em mar reivindicado por Portugal no processo de alargamento da sua plataforma continental junto das Nações Unidas: o Menez Gwen, Rainbow, Ewan, Bubbylon, Seapress e o Moytirra. Todos ficam perto da Dorsal Médio-Atlântica, uma cordilheira submarina que corta o Atlântico de alto a baixo, onde as placas tectónicas se afastam e se forma nova crosta terrestre. É por isso uma zona de fenómenos vulcânicos e tectónicos, e as fontes hidrotermais, cuja geologia e biologia muito fascina os cientistas, e não só, são uma dessas manifestações. O monte submarino Gigante não é excepção, ficando justamente na Dorsal Médio-Atlântica, colado à zona de separação entre as placas americana e euroasiática. Fica ainda na placa euroasiática, a 60 milhas náuticas da ilha do Faial. “É o campo hidrotermal de menor profundidade descoberto no oceano profundo, o que significa que pode ter características diferentes das já estudadas a nível das comunidades biológicas e dos próprios fenómenos geológicos e vulcânicos”, diz-nos mais tarde Emanuel Gonçalves. “As fontes hidrotermais são raras no mundo e podem dar pistas muito importantes do ponto de vista científico sobre questões fundamentais que procuramos responder, como sejam as características na origem dos primeiros organismos e como procurarmos indícios de vida noutros planetas”, assinala ainda Emanuel Gonçalves. “Sendo os tapetes bacterianos organismos extremófilos, suportam grandes alterações das condições ambientais. Podem ser usados em várias aplicações, desde a farmacêutica até à biotecnologia. Há grande interesse biológico, não só geológico, mesmo que não tenham comunidades macroscópicas evidentes. ”Na realidade, o Gigante faz parte de um complexo de montes submarinos – a norte está o Gigante e a sul um monte conhecido como 127. Antes do encontro de navios, o Santa Maria Manuela estava por cima do Gigante e o Almirante Gago Coutinho andava por cima do 127. O primeiro navio aproximou-se do segundo, até ficarem uma milha náutica de distância. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É na zona onde foi agora localizado o campo hidrotermal do Gigante que o Luso, um veículo que é operado à distância (ROV) por um cabo, vai agora continuar a explorar durante esta expedição. “Voltaremos a essa zona, onde teremos mais três imersões com o ROV”, conta Telmo Morato. “É o primeiro campo hidrotermal descoberto numa expedição portuguesa, liderada por cientistas portugueses, usando navios portugueses e pilotos de ROV portugueses. É um marco histórico na investigação marinha portuguesa. ” Emanuel Gonçalves completará esta ideia, dizendo: “Até agora estivemos sempre dependentes de terceiros para descobertas científicas desta natureza no mar profundo. As parcerias nesta expedição são de enaltecer. ”E se o Almirante Gago Coutinho e o Luso vão manter-se na zona, para recolha de amostras de água, biológicas e de sedimentos e medição da temperatura nas “novas” fontes hidrotermais, o Santa Maria Manuela já se despediu do Gigante. Seguiu caminho para o próximo destino desta expedição que a Fundação Oceano Azul co-organizou com Fundação Waitt e o programa Mares Pristinos da National Geographic, para explorar zonas ainda pouco conhecidas do mar dos Açores, até 24 de Junho, e promover a conservação marinha. Partimos – e já chegámos – ao banco Princesa Alice, a sul do Faial. Que surpresas nos aguardarão aqui?
REFERÊNCIAS:
Patrícia Santos trouxe o quimono para Portugal e chamou-lhe Komorebi
Depois de descobrir o universo do traje japonês, Patrícia Santos decidiu criar uma marca de quimonos vintage em Portugal. (...)

Patrícia Santos trouxe o quimono para Portugal e chamou-lhe Komorebi
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de descobrir o universo do traje japonês, Patrícia Santos decidiu criar uma marca de quimonos vintage em Portugal.
TEXTO: Quase todos os Invernos, Patrícia Santos põe a mochila às costas e viaja para diferentes pontos do continente asiático. No ano passado conheceu, na Tailândia, uma coleccionadora de quimonos que lhe “passou o bichinho” das vestes japonesas. Patrícia decidiu trazê-las para Portugal. Assim nasceu, em Maio, a Komorebi, com uma colecção inicial de 137 quimonos, seleccionados à mão pela empresária portuguesa. “São peças únicas. Contam uma história que é só deles”, explica ao PÚBLICO. No site é descrita a origem de cada um. Ficamos a saber, por exemplo, que o awase é um quimono forrado, usado exclusivamente entre os meses de Outubro e Maio e que, pelo contrário, o hitoe (que significa tecido individual) é um quimono veranil, usado entre Junho e Setembro. Descobrimos ainda que o komon – um quimono cujo padrão repete-se ao longo da peça e frequentemente inclui riscas verticais – era tradicionalmente usado como roupa informal e é hoje bastante raro. “Com a ocidentalização do traje japonês e o desuso de quimonos como roupa do dia-a-dia, os costureiros deixaram de o produzir”, lê-se no site. “Cada quimono tem um significado muito específico”, explica Patrícia Santos. “Cada padrão, cada comprimento de manga, cada posicionamento do desenho, cada tecido, cada formato da gola consegue dizer-nos quem usou aquele quimono, em que situações, de que época é, qual o simbolismo, por exemplo, uns protegem uma coisa, outros dão sorte para outra. ”O próprio nome da marca foi escolhido pelo seu significado simbólico. "Komorebi não tem tradução. Refere-se à luz do sol que passa através das folhas das árvores e faz manchas no chão", explica Patrícia. "Chegámos a esse conceito porque o quimono é uma coisa que é absolutamente japonesa. São dois conceitos que são absolutamente japoneses e que transparecem muito daquilo que é a cultura japonesa". À parte de Quioto – onde é bastante comum ver-se mulheres de quimono – pode ser díficil, à partida, imaginar uma ocasião onde usar o traje completo. Patrícia Santos garante que o quimono "é perfeitamente usável". Foi aliás a sua popularidade na cultura ocidental que a motivou a criar o negócio em Portugal. "Achei que havia mercado para isso. É uma coisa que vemos em todo o lado, estilistas a ir buscar o quimono: alguns vão mais pelo tradicional do que é japonês, outros fazem adaptações simplificadas. "A palavra-chave é mesmo a versatilidade. Os quimonos "são adaptáveis e dá para tudo", esclarece ainda a criadora da marca. "Há alguns simples que dão para a praia, há outros mais arranjados que dão para uma gala, outros para casamentos, festas. . . É adaptável àquilo que quisermos. ""Tenho uma amiga por exemplo, que tinha um acolchoado e que quando se casar é esse que vai usar", exemplifica. Além disso, acrescenta ainda, são objectos que podem igualmente ser expostos como peças de arte. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O único elemento que talvez seja demasiado extravagante para usar fora do contexto de origem, comenta ainda a criadora da marca, é o obi (uma espécie de faixa). "Às vezes os obis são até mais caros que os quimonos e absolutamente trabalhados e bordados", conta a empresária. Por isso, decidiu criar uma versão mais simplificada de faixas de algodão inspiradas no obi, que está à venda no site por 35 euros. Já os preços dos quimonos – todos eles criados à mão – variam entre os 140 e 280 euros. Patrícia Santos quis ainda acrescentar algum detalhe português. Assim, cada peça é numerada com um bordado nacional. A algumas acrescentou ainda um capuz e todas elas vêm acompanhadas por uma bolsa de algodão orgânico. "Foi um bocadinho por gosto próprio" que a Komorebi nasceu, confessa Patrícia Santos. A primeira colecção é uma forma de testar a resposta do mercado. Se tudo correr bem, estará daqui a uns meses num avião de volta à Ásia, para escolher pessoalmente novas peças. Essa é uma garantia da marca: "Será sempre este processo de viajar, ver todos os quimonos, escolher um a um e estudar a sua história!"
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Étnia Asiático
A moda dos Marques'Almeida está na moda
São portugueses com uma marca de moda britânica. Receberam o prémio Louis Vuitton, Rihanna adora-os e Sarah Jessica Parker acaba de os convidar para uma aventura em Nova Iorque. Se o sucesso se mede assim, Marta Marques ?e Paulo Almeida estão nos ombros ?de gigantes. (...)

A moda dos Marques'Almeida está na moda
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: São portugueses com uma marca de moda britânica. Receberam o prémio Louis Vuitton, Rihanna adora-os e Sarah Jessica Parker acaba de os convidar para uma aventura em Nova Iorque. Se o sucesso se mede assim, Marta Marques ?e Paulo Almeida estão nos ombros ?de gigantes.
TEXTO: Sim, esta é uma história de “portugueses de sucesso”. No estrangeiro. E na moda. Imaginem-se modelos como arranha-céus e celebridades de óculos escuros encandeadas pora borboletear à volta dos designers Marta Marques e Paulo Almeida. Não é bem assim a moda dos Marques’Almeida, cuja jovem marca é mais Kate Moss e menos Gisele Bündchen. É mais atitude e menos medidas rígidas, é mais uma T-shirt e ganga e menos mulheres-fantasia. Esta é a sua filosofia. A sua prática? Código juvenile urbano. E depois há o saco pousado no seu atelier em Londres, singelamente endereçado a “Rihanna”. Este é um símbolo do seu sucesso. Outro é o prémio dourado sobre uma pilha de livros no estúdio onde se corta e cose, se planeiam vendas e se recebe a imprensa. LVMH, diz ele, ou Louis Vuitton-Moët Hennessy, o gigante do luxo que é dono de casas históricas como a Chanel, Dior, Givenchy, a marca de Marc Jacobs ou a tão relevante Céline. Enquanto a pequena e jovem equipa trabalha no estúdio quadrado de paredes brancas, uns nas longas mesas pretas debruçados sobre os detalhes de uma peça, outros à máquina de costura, o galardão está silencioso. Mas grita-nos “crescimento”. Para uma marca com apenas quatro anos e uma mão-cheia de colecções que gerou tendências que, quase sem sabermos, estão nas nossas vidas. “Somos cinco mais nós os dois”, dizem os designers. A portuguesa Rita trata da imprensa, a catalã Marta faz design gráfico, a também portuguesa Sónia gere o estúdio e o desenvolvimento das colecções, por exemplo. Tudo numa sala sem paredes dividida em quatro espaços — o canto de quem está com as mãos na roupa a fazer protótipos ou ajustes; o dos cabides e peças, sacos e caixotes cheios de mais roupa; secretárias para marketing, venda e design gráfico; e a mesa-escritório daqueles que têm o nome na porta do luminoso estúdio no edifício de tijolo dos Mare Street Studios. Marta tem 28 anos, Paulo tem 29. Fazem moda para uma rapariga abstracta mas que muitas vezes se confunde com a irmã mais nova de Marta Marques, Sofia, de 22 anos, que é a cara e o corpo das imagens de ambiente (lookbooks) das colecções da dupla. As mais recentes estão na parede da zona reservada para escritório dos designers, Sofia a dançar, Sofia espraiada, Sofia tropical num Brasil filtrado pela Marques’Almeida num vestido de folhos que foi desmanchado pelos designers até se tornar quase um suporte de folhos em falência. Faz parte de uma colecção acabada de lançar e que completa o resto do escritório minimal, cuja estante branca acumula fotocópias de caras e mais caras, jovens e mais jovens, que coleccionaram no mestrado que os pôs em Londres. De onde não mais saíram. Em cima da mesa, um portátil, um açucareiro e um pequeno pisa-papéis. Só. Para descrever a sua roupa, usam termos como “despreocupação” ou “effortless” e são indissociáveis da ganga — embora só tenham feito calças, jeans, há muito pouco tempo. “Nunca quisemos ser uma marca de jeanswear, uma Diesel, uma Salsa”, sublinha Paulo. O seu “emblema”, como diz Paulo, “é o T-shirt dress”. O LVMH não é o seu primeiro prémio, nem a primeira confirmação de que o seu conceito, alicerçado na filosofia cuidadosamente despreocupada e na potência da cultura juvenil da década de 1990, resulta. Mas no fim de Maio, quando falaram com alguns dos membros do júri estrelar constituído pelos directores criativos das nove grandes casas do grupo LVMH (de Karl Lagerfeld, da Chanel, a Riccardo Tisci, da Givenchy), estavam “completamente aterrorizados”. E sim, também “estávamos starstruck”, ri-se a portuense Marta com a Revista 2 num fim de tarde de sexta-feira quente, mas cinzento, em Londres. Starstruck, no inglês que se intromete na conversa de quem estudou e vive em Londres há meia dúzia de anos, quer dizer que estavam entre o incrédulo e o assarapantado pelo encontro com tanta gente que admiram. Atingiram um novo patamar. “O Raf [Simons, o belga director criativo da Dior] veio dizer-nos que tinha comprado um par de jeans nossos há algum tempo na Opening Ceremony”, um dos primeiros e importantíssimos pontos de venda da Marques’Almeida, uma loja multimarcas que começou em Nova Iorque e se espalhou pelo mundo com a sua reputação cool e seleccionada, conta Marta. “Estar a falar destas nossas referências dos anos 1990 com o Marc Jacobs e a pensar na colecção dele para a Perry Ellis”, aquela em que o criador americano interpretou a cena grunge na passerelle de uma marca mais betinha e que lhe custou o emprego em 1992, “tínhamos de nos beliscar para perceber o que raio se estava a passar”, suspira uma Marta cansada mas recompensada. E o que é que se vai passar agora, com a vitória na segunda edição de um prémio que lhes entrega 300 mil euros e um ano de acompanhamento pelos peritos do grupo? “Foi provavelmente das melhores experiências que podíamos ter tido”, classifica Paulo Marques, natural de Viseu. E Marta completa: falar com Jacobs sobre como “se notava que era algo muito natural e autêntico para nós”, fazer camisolas de ganga azul desfiadas nas mangas e cós, vestidos rectangulares no mesmo denim ou os sapatos de solas grossas brancas e dentadas que puseram no mercado e geraram mil cópias e “interpretações” nos últimos anos, “dá-nos uma tranquilização de que estamos a fazer as coisas bem. ”Com essa segurança, gostariam de empregar este prémio que agora se empoleira em livros sobre Alexander McQueen, Rick Owens, Comme des Garçons ou Frida Kahlo na criação de mais emprego. Querem “continuar a fazer crescer a empresa de uma forma sustentável”, explica Paulo sobre uma pequena grande marca que mora num estúdio numa rua como outra qualquer na zona leste de Londres. Há crianças fardadas a sair da escola, autocarros de dois pisos vermelhos a passar à porta, um supermercado asiático aberto a todas as horas. No edifício mora também um ramo de uma pequena universidade, empresas de design, escritórios sortidos. Mas quando passamos a porta preta lisa da Marques’Almeida, apenas identificada pelo seu nome impresso num dos tijolos brancos da parede do átrio do segundo andar, há um verdadeiro estendal de moldes de cartão bege a pender do tecto e uma jovem equipa que veste de preto ou de ganga. Muita roupa de toque macio e formas descontraídas que está na ponta da lança da moda londrina. Quando tudo começou, “éramos só nós a trabalhar de casa, porque não tínhamos dinheiro para ter um estúdio, e a fazer produções de 50 ou 60 peças”, recorda Marta. E “a vender para dois pontos do mundo — para duas lojas extremamente importantes mas eram apenas duas lojas”, entrecorta Paulo sobre a presença desde a sua primeira colecção na Opening Ceremony e na Joyce em Hong Kong. “A costurarmos tudo à mão”, continua Marta, “e de um momento para o outro [temos] 85 pontos de venda” atalha Paulo e “sete ou oito mil unidades por colecção e o tamanho e a escala do negócio… começamos a sentir-nos sobrecarregados”, diz um derradeiro fôlego de Marta. Cansados? Eles também. Como muitas pessoas que trabalham a quatro mãos, e ainda mais se são, como eles, um casal desde o primeiro ano a estudar no CITEX no Porto, Paulo e Marta terminam as frases um do outro. É um final de uma semana que não sabemos se será uma “cake Friday” — normalmente há bolos cremosos para rematar a semana, às vezes uns bombons ou uma garrafa de Prosecco para a diminuta equipa de rapazes e raparigas que faz com que os chariots cheios de peças das novas colecções apareçam nos sítios certos à hora certa. Às quartas-feiras, avisa um papel rabiscado numa coluna, reúne-se o clube de corrida do estúdio, after work, às 19h ou 19h30. “Sentimos que, a seguir ao Inverno 2015”, a colecção apresentada em Fevereiro deste ano e um dos pontos altos da Semana de Moda de Londres, “as vendas duplicaram outra vez, o interesse de lojas explodiu, o interesse para projectos especiais voltou”, situa Marta. Projectos como a colecção cápsula para a marca de moda rápida britânica TopShop no último Outono e cujo néon se encosta a uma das paredes do estúdio. A facturação anual da Marques’Almeida, aquilo que vendem, está agora no milhão de libras — cerca de 1, 4 milhões de euros —, o dobro do ano passado. Com o prémio e a injecção de vitalidade que ele pode trazer, querem poder dar resposta a desafios novos e inesperados. Como a mais recente novidade. “Vamos fazer figurinos para o New York City Ballet a convite da Sarah Jessica Parker. Foi uma experiência muito engraçada e um bocado surreal”, esbugalha-se Marta. O ícone que encheu de sex e de moda essa New York City emparelhou-os com o bailarino e coreógrafo Troy Schumacher para a gala de angariação de fundos de Outono da companhia americana, algo que nunca fizeram nem tinham ponderado fazer. Mais um item numa agenda feliz, que não pára de engordar e de acumular milhas de viajante. Paulo Almeida e Marta Marques têm já o reconhecimento da indústria, assomam ao mainstream e, na moda, fazem decididamente parte da conversa. De um diálogo global. No mestrado, aprenderam quem são como designers e o que querem dizer. E o que é que querem mesmo dizer? “É isto, basicamente”, diz Marta a estender o braço para a parede que nos envolveu a conversa toda, alfinetada com imagens do Brasil, das actrizes das novelas da sua adolescência, de palmeiras e terra, ecos do livro Rio de Janeiro do fotógrafo Bruce Webber. É o mood board da sua primeira colecção intermédia, neste caso de resort (há também as de pre-Fall, vendidas em Maio), para chegar às lojas em Novembro e alimentar essa ideia “um pouco antiquada”, para Marta, das férias tropicais em Dezembro de um certo público da moda. Estas colecções intermédias são um sintoma recente da impaciência do consumidor e da imparável engrenagem da indústria da moda. Paulo Marques e Marta Almeida funcionam de forma “muito sensorial”, diz Marta, e confessam não fazer grande análise do ar dos tempos. “A Louise [Wilson, sua professora na incontornável escola Central Saint Martins, onde estudaram em Londres] convenceu o reitor para que o nosso mestrado não tivesse uma tese escrita e possivelmente fosse dos únicos assim — era visual”, explica Marta. Paulo corrobora. “Não interessa que palavras vamos arranjar para definir o nosso trabalho. Tem de ser percebido visualmente. ”O que é que as imagens do seu trabalho, o formato das suas peças, o toque dos seus materiais, diz? Que explorar os arquétipos, exaustivamente pesquisados e genuinamente filtrados, pode fazer algo novo de uma peça tão transversal como uma T-shirt ou de um material tão democratizado como a ganga. Que um vestido de brocado de seda, uma peça de tafetá ou uma cor fora do cânone do momento podem ser tão belos como aquela capa da revista i-D que vão buscar à pilha da estante (mas que está sempre a fermentar-lhes o músculo criativo). Aquela de 1993 com uma Kate Moss adolescente, camisolão de malha vestido e zero artifício, a epifania comum de uma dupla que só decidiu trabalhar em conjunto no final do mestrado. “Com o tempo, as coisas começaram a ficar um bocadinho mais claras e fáceis de explicar”, situa-nos Paulo. “Temos a obsessão com os anos 1990”, confirma, “em oposição aos anos 1980, em que era tudo acerca da fantasia, da mulher em saltos altos, supermaquilhada”. Nem são filhos musicais do grunge das flanelas, mas são herdeiros da estética de puzzle que ele ajudou a construir, da “despreocupação quando se usa roupa”, botas “estranhas”, “tamanhos errados” e “calças rasgadas” juntos numa imagem desconexa. Mas cool. Quando o street style que agora plastifica os blogues e um certo lado da moda era mesmo estilo da rua — pessoas vestidas que saíam para o asfalto sem um exército a fotografar. Sem expectativas. No estúdio, continua-se a trabalhar. Têm estagiários como eles o foram, ele na Preen e ela na linha Anglomania de Vivienne Westwood, em Londres. A banda sonora ambiente tem Grimes, da década presente, ou a versão 2001 de Jennifer Lopez. Não se pense que porque têm como referência a década de 1990 são uma máquina transformadora de clichés da época — a tal colecção que fez tudo duplicar e que vestirá o próximo Inverno é inspirada no que o costureiro Christian Lacroix fez na década de 1980. “Andámos à volta mas chegámos à conclusão de que gostamos da expressão quietly defiant. É desafiador mas não é estridente, não é a norma — nada do que fizemos na nossa trajectória foi o que é a norma. É suposto ser uma despreocupação genuína e autêntica e por isso é que é fantástico fazer estas coisas com a minha irmã”, ri-se Marta sobre o papel de Sofia, a musa não oficial da Marques’Almeida, “porque ela genuinamente não tem nada a ver com moda e não está preocupada com nada”. O dedo de Marta aponta para as fotografias do lookbook que também estão na parede, uma espécie de resultado final da receita mostrada pelo mood board, que juntou em imagens frescas de Sofia com as suas novas roupas Marques’Almeida os ingredientes Carolina Dieckman, Adriana Esteves, vegetação ou um panamá Stussy preto — “a nova obsessão” de Marta. O trabalho dela passa muito pela pesquisa de imagens, de caras, de raparigas. Um fluxo encantatório de centenas de imagens que depois mostra a Paulo. “A Marta diz a rapariga é esta, eu digo o casaco é este”, resume o designer. Só se lançaram a uma colecção resort, sem avisar potenciais compradores ou imprensa, quando surgiu o instinto. Mas também quando tinham algo para dizer. Entretanto, Sofia foi viver para o Rio. Estava desenhado o plano. Ao longo da conversa voltam à ideia de “não enganar o consumidor”, de criar o “novo” e de ter algo de relevante para lançar para um mercado voraz. Um mercado que pede mais e mais dos designers com estas colecções intermédias, com as solicitações inerentes de tempos em que se espera exposição, estrelato, redes — e que pode ser ainda mais esmagador para pequenas estruturas. Mas o seu trabalho “vai desde fazer uma colecção que vai estar à venda do outro lado do mundo até aspirar o atelier ao fim do dia. É a realidade”, assevera Paulo. Está a falar muito a sério quanto ao aspirador. “E fazer a contabilidade. E as portas do armário de uma cozinha no atelier que estou a montar há um mês porque não tenho tempo — e estamos a falar de três armários do IKEA!”Não demoram tanto tempo a fazer uma peça. Mas podem ficar horas a discutir uma bainha ou um centímetro na altura de uma manga. As proporções e a forma como assentam as roupas são mesmo muito importantes para a dupla. Tem de estar tudo no sítio certo numa T-shirt. Os acabamentos, fruto da procura e da escala a que já trabalham, estão já mais industrializados, mas “continuam a ter uma componente muito manual e artesanal, mesmo que sejam cinco mil unidades”, garante Marta. Há uma ética Marques’ Almeida. Para eles, “os anos 1990 funcionam não como inspiração do ponto de vista literal” de um revivalismo de uma estética, “mas do ponto de vista de conceito”, resume Paulo. Sabem desde o mestrado que o seu ADN é “um youth code de vestir” que os rodeava, que os cercava. Mas trabalham peças e materiais básicos “num contexto high end, de designer”, intervém Marta. Queriam sim “fazer peças especiais em denim. Porque denim era especial para nós”. Vão buscá-lo ao Japão, a seda a França, a pele a Itália. Para a confecção, depois dos protótipos que saem do estúdio, voltam a casa. Fabricam em Portugal para manter raízes, pela relação qualidade/preço imbatível e porque é mais fácil fazer o acompanhamento personalizado. “Tivemos de convencer pessoas de que não queríamos mesmo fazer acabamentos e era mesmo suposto ir para a lavagem e sair esfiapado”, ri-se Marta sobre tentativas e erros nas fábricas do Norte do país: “O facto de o esfiapado ter de ser deixado irregular e não aparado direito, ter de ser cortado um bocadinho mais acima mas não tão abaixo quanto isso, ou ter de se puxar mais fios… Não há uma regra, não podemos enviar um manual. ” Têm de voar para Portugal e explicar pessoalmente, como vão fazer este Verão. Ainda assim, não têm um ponto de venda em Portugal. Há a sua loja online e pontualmente fazem vendas pelo Instagram. As pesquisas para as colecções principais, de Inverno e Verão, são mais cerebrais, com Marta à procura de uma atitude e Paulo a fixar-se no que veste essa rapariga com atitude, onde vai. E de repente há roupa. Cuja “perícia técnica e abordagem única ao trabalho com a cor e textura” convenceu o júri do prémio Vuitton, exigente como só Lagerfeld e companhia e a magnata e presidente do galardão Delphine Arnault podem ser. Roupa que depois veste modelos, que nos castings são avisadas de que podem ficar de sapatos rasos — e que têm de ter mais atitude do que altura ou simetria. Gostam de trabalhar “no limiar do que é mau gosto e arriscado”, ri-se Paulo, com ideias que “vão ser destiladas e alicerçadas no que achamos que é a rapariga Marques’Almeida”, remata Marta. O tal saco de papel branco com o logo minimal da marca com “Rihanna” como destinatária aguarda a estrela pop no estúdio, mas poderia ser para FKA Twigs, Beyoncé e sua irmã Solange, para Rita Ora ou para as irmãs modelos e socializes Kendall e Kylie Jenner. Ou ainda para a blogger Leandra Medine do site Man Repeller. It-girls para uma it-brand. “Se extraterrestres tivessem aterrado na semana de moda de Londres nalguma altura em 2012, teriam achado que as mulheres tinham obrigatoriamente de usar um certo top, uma T-shirt de ganga distressed de manga curta. Estava em todo o lado”, escreveu o site de moda Style. com sobre uma das peças-fétiche do mercado da Marques’Almeida. Poucas estações depois, e até agora, as lojas de moda rápida e as pequenas marcas de boutique que se queiram trendy terão nas suas colecções uma versão desses tops de ganga ou de outra peça que vira a ganga ao contrário. Que a tira das pernas e a carrega nos braços. Os dois designers estão discretos e descontraídos nas suas T-shirts e jeans — a dele é branca e Marques’ Almeida, a dela preta e da sueca COS; ambas têm a espessura do colarete, ou gola para os leigos, que ambos exigem — grossa. É-lhes difícil receber a ideia de cópia como elogio. Vieram para Londres fazer o mestrado na Central Saint Martins, que formou McQueen, Phoebe Philo ou Stella McCartney, e estudaram com a dura Louise Wilson, figura tutelar naquilo que é a moda britânica das últimas três décadas. “Sempre nos incutiu que temos uma obrigação fundamental: estamos no topo da pirâmide, temos de criar as tendências em vez de as seguir”, diz solenemente Paulo Almeida. Em Abril de 2011, saídos da universidade, a jovem marca chama a atenção da Fashion East de Lulu Kennedy, uma organização sem fins lucrativos que caça novos talentos na moda e lhes dá meios para se apresentarem na passerelle durante a semana de moda de Londres, como foi o seu caso. Em 2014, recebem o prémio de Emerging Womenswear Designer nos British Fashion Awards. Mas não esquecem a “luta” que foi fazer “os chunky platform shoes na primeira estação” — “porque a sola era pesada, era feio e era difícil de fazer, e tivemos de bater o pé para ser mesmo assim, e branca, e com uma sola grossa”, recorda Paulo. “Vendemos uns dez pares porque ninguém sabia quem era a Marques’Almeida”, bate Marta com a mão na mesa, e “daí a um ano estão em todo o lado e foram completamente apropriados. Custa porque és literalmente uma struggling brand, não tínhamos dinheiro para um estúdio ou pessoal”. Na estação seguinte foram para o pontiagudo, metálico, para os picos nos sapatos. “Obriga-nos a andar numa direcção diferente e é bastante bom. ”O lado solar dessa roda que se alimenta do que vem das ruas e dos novos talentos e distribui para as massas é ver a rapariga Marques’Almeida tomar forma longe das suas mãos. “Nunca abordámos nenhuma das celebridades. A Rihanna costuma fazer compras na Opening Ceremony de Los Angeles”, orgulha-se Paulo, e agora é cliente directa do estúdio. “É incrível conhecê-la nos British Fashion Awards e a primeira coisa que ela nos diz é ‘Mal posso esperar pela next shit to come in’”, dizem em uníssono. Quando alguém com um visual tão forte abraça e põe o seu trabalho no corpo “é o culminar da nossa imagem. Vê-las nelas é tão excitante como” — e Paulo pega na deixa — “ver numa pessoa completamente aleatória no autocarro”. Sabem que “nas primeiras quatro estações não se faz lucro, é só investimento”, como diz Paulo sem rodeios, aprenderam a identificar os pontos de venda certos — estão em grandes armazéns, em lojas multimarcas de luxo, em lojas de moda conceptual — e queimam os olhos com folhas Excel. Um dia depois da revelação da surpresa que foi a sua primeira colecção de resort — que a Vogue britânica classificara já como “deliciosa” —, estavam preocupados com a urgente compra de computadores novos para o estúdio. “Têm tanto talento”, diz sobre eles Lulu Kennedy, que além de promotora da plataforma Fashion East onde se apresentaram durante duas estações, é editora da revista Love. “Procuraram conselhos de pessoas muito boas e seguiram-nos. Têm uma atitude e um olho óptimo e trabalham muito, muito no duro”, acrescenta numa entrevista ao site Net-a-porter. Receberam o patrocínio da plataforma NewGen do British Fashion Council e estão desde 2012 no calendário da Semana de Moda de Londres. A importância do acompanhamento e da mentoria que Londres lhes deu é fulcral. Não só há a cidade-colmeia multicultural, o hub de criativos, mas também a capital britânica como “potenciador de criatividade”. Uma ignição cosmopolita que lhes acendeu o talento, uma cidade que lhes aconteceu e onde sentem “que está mesmo alguém atrás de ti entusiasmado pelo que vais produzir, que te vai apoiar, alimentar a criatividade”, entusiasma-se Marta. Os jovens designers e os veteranos que trabalham em Portugal debatem-se há décadas com problemas como a falta de um mercado com cultura de moda de autor e as dificuldades de produção em pequena escala, por exemplo. Já se apresentaram na ModaLisboa, em 2013, mas em Portugal falta mentoria no desenvolvimento de marca ou de posicionamento no mercado, defendem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Sou o que sou por ter nascido em Portugal”, diz Paulo quando a Revista 2 lhes pergunta se são uma marca portuguesa ou uma marca britânica. “Somos portugueses mas a marca é possivelmente mais britânica”, reconhece Marta Almeida, contextualizando com um sorriso que, do “painel das chamadas british brands, a quantidade de british designers é de… 30, 40%”. Estão certos de que a Marques’Almeida, aquela que faz uma jornalista francesa sair do atelier a desfazer-se em elogios — “tão simples, tão chic” —, não seria a mesma se não tivesse sido feita em Londres. Na sua escala e na criatividade. Com tantas vozes à sua volta e crescimento em curso, aproximar-se-ão mais pressões que podem afectar a informalidade da sua imagem, dos castings, a filosofia da própria marca. Agradecem os contributos e opiniões e sabem que correm riscos. Agradecem e fecham a porta. Precisam regularmente de estar sozinhos. Fazem-no nas semanas antes de cada desfile e querem seguir o seu instinto nas decisões de crescimento que venham a tomar. Quando a porta se fechou atrás de nós naquela sexta-feira, esperava-os mais trabalho. Em cima da mesa ficou a tal i-D com Kate Moss vestida com uma camisola de malha. “Só” a camisola, vinca Paulo, e nada mais. Domingo a porta abrir-se-ia para, em vez de ficarem a ver filmes vespertinos “como o Notting Hill”, aproveitarem um estúdio vazio e trabalharem. Só os dois.
REFERÊNCIAS:
O k-pop não é coisa de miúdos
Não são apenas os pré-adolescentes que gostam de k-pop. Em Portugal, os fãs mais velhos deste estilo de música têm mais de 20 anos e já há dez que ouvem música pop feita na Coreia do Sul. (...)

O k-pop não é coisa de miúdos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não são apenas os pré-adolescentes que gostam de k-pop. Em Portugal, os fãs mais velhos deste estilo de música têm mais de 20 anos e já há dez que ouvem música pop feita na Coreia do Sul.
TEXTO: Arthur Oliveira cumprimenta o P3 com uma sweatshirt colorida, com ironia cosida no peito: “Ugly but lovable” (feio, mas adorável). Hoje vamos falar de k-pop, uma das suas paixões, já há quase dez anos. “Naquela altura, em 2009, não havia muita gente a ouvir. Eu era o único na escola que ouvia”, conta Arthur. Actualmente com 24 anos, já licenciado e a trabalhar como assistente de apoio ao cliente, continua a declarar-se fã confesso — e um dos mais antigos em Portugal. “Sou o ancião do k-pop”, brinca. Encontrámo-lo num dos cafés da capital que serve de ponto de encontro da comunidade de amantes da cultura coreana no Parque das Nações, em Lisboa — um café onde se serve bubble tea, bebida taiwanesa à base de chá com bolinhas de gelatina, adoptada pelos amantes da Ásia no Ocidente como bebida semioficial. Também Sara Freitas, 23 anos, e Luís Sigorro, 24 anos, escolheram um café onde se bebe bubble tea, este na Baixa da cidade, para a conversa com o P3. Tal como Arthur, são admiradores da cultura coreana desde que acabaram o ensino básico e hoje, com os estudos terminados e a entrar no mercado de trabalho, o amor pela Coreia do Sul não desvanece. Sara estudou Dança na Faculdade de Motricidade Humana e Luís foi para as Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Marta Nunes é a fã mais nova com quem falámos – tem 18 anos e está neste momento a acabar o ensino secundário, num curso profissional de desenho técnico digital 3D. O encontro foi marcado na redacção e Marta apareceu com maquilhagem em tons laranja e amarelo. O seu grupo preferido, os BTS, são o grupo de k-pop mais conhecido da actualidade. Quatro fãs que fazem parte da geração mais velha de amantes de música pop sul-coreana. Seguem este estilo de música desde o seu desabrochar — entre 2008 e 2009, seguindo o hallyu, ou onda cultural coreana, que começou a tomar forma no início de 2000. São apenas quatro dos milhões de fãs espalhados por todo o mundo. Ao longo dos últimos dez anos, a indústria do k-pop cresceu de forma exponencial. Em 2017, foi avaliada em cerca de cinco mil milhões de dólares (quase 4, 4 mil milhões de euros), de acordo com os dados da Bloomberg, e está no top das mais rentáveis do mundo — apenas atrás dos EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. Atrás destes números estão as empresas produtoras de música, supermáquinas de fazer "ídolos" (como são chamados e conhecidos os membros dos grupos de k-pop). Os “ídolos” são escolhidos quando ainda são crianças, treinados para a perfeição muito antes de sequer chegarem ao mercado — longe da inocência da primeira banda da história do k-pop, os Seo Taiji & Boys, formados em 1992. Nos anos 1990, a Coreia do Sul acordava de décadas de guerra seguida de regimes autocráticos, com uma mão férrea sobre a cultura. Foi terreno fértil para estes grupos que usavam sonoridades adaptadas do hip-hop e R&B norte-americanos falarem sobre os problemas dos sul-coreanos. Algo que não existia antes: a produção nacional de música focava-se sobretudo nas baladas e nas canções nacionalistas. De 1992 a 2018 vão 26 anos. Durante esse tempo, a música coreana galgou fronteiras — primeiro para os vizinhos China e Japão, dois grandes mercados asiáticos. A “diáspora” rumou depois à Europa, Américas e África, conta o embaixador da Coreia do Sul em Portugal, Chul-min Park. Para Arthur, é óbvio o que o atrai neste estilo de música. A resposta é imediata: “Para mim o k-pop não é uma experiência só auditiva. Acho que não tem graça chegar ao pé de uma pessoa e dizer 'escuta essa música'. Se for k-pop tem de ser 'vê esse vídeo'. O k-pop não é uma coisa só de ouvir. Não é só pela música: é uma experiência geral. Tem que ver o vídeo, a dança, a música. ”Os vídeos são recheados de cor e efeitos especiais, com danças pensadas ao pormenor. Em termos musicais, os grupos arriscam e passam por mudanças tão drásticas ao longo da carreira que cada álbum é uma oportunidade para apresentar um estilo e um conceito novo. Também Luís Sigorro refere “a música e a imagem” como razões que o levam a gostar de k-pop. “Mesmo que não perceba a língua, vou pesquisar para saber o que dizem as letras. Agora que estou num grupo de dança, também é pela batida e pela coreografia. ”Para Sara, foi a língua que a fez apaixonar-se pelo k-pop. “Gostei da sonoridade — tanto que tirei cinco anos de coreano, num curso que ainda não acabei. Eles são muito bons a vender a música e a criar uma imagem perfeita, criativa de diferença. E tu pensas: ‘Quero ser assim’”. Sara sistematiza este sentimento em poucas palavras: “No k-pop a mensagem é: sim, estou aqui e sou bonita, mas tu também consegues ser. É diferente do Ocidente, onde o objectivo é criar distanciamento”. Mensagem a reter: “Tu também podes chegar a este nível se quiseres. ”Para Marta Nunes, o que a faz gostar de k-pop é precisamente o facto de “a maior parte dos ídolos ser muito trabalhadora”. “Se alguém tem uma paixão por algo vai tentar trabalhar o máximo que consegue naquilo para ser o melhor. Eu respeito muito isso. ”A máquina de produção de superestrelas sul-coreana é bem oleada. Há três grandes empresas a dominar o mercado – a SM, YG e JYP – que escolhem os seus ídolos e os preparam para o estrelato desde muito cedo. As estrelas em ascensão devem ser capazes de falar coreano fluentemente, dançar, cantar e mais. Não lhes é autorizada uma única mancha no currículo – mesmo que seja algo tão banal como uma relação amorosa. “Têm de ser supermagros e ter a pele perfeita. Quando querem, fazem plásticas. O objectivo é vender uma imagem que a Coreia gosta”, explica Sara. Quando começou no k-pop, as coisas eram menos abertas e os limites impostos pelas empresas eram visíveis até no guarda-roupa: “As raparigas agora podem mostrar barriga e as pernas. Em 2010 nem podiam mostrar os ombros. Não podiam abanar a anca e se o fizessem os vídeos eram banidos. ”“Eles não podem namorar”, continua Luís. “O objectivo é que as fãs olhem para os ídolos como possíveis namorados ou namoradas. Então quando efectivamente namoram, fazem-no às escondidas. Quando são descobertos são expulsos [dos grupos]. ”“O k-pop é um produto e nós sabemos que há ali coisas bastante falsas, criadas para dar uma certa imagem e agradar ao público”, diz Luís. “E eu gosto sempre de saber os podres da indústria”, comenta, entre risos. Os quatro fãs têm uma coisa em comum: todos descobriram o k-pop quase por acidente, enquanto navegavam no YouTube. Alguns deles, como Luís Sigorro, já se interessavam pela cultura japonesa antes: “Como muitas pessoas, conheci o k-pop através do anime [cinema de animação japonês] e da cultura japonesa. Comecei a interessar-me pelo Japão até descobrir o k-pop. ”É também através do YouTube que muitos destes fãs expressam a sua admiração pelos grupos, apresentando interpretações e versões de canto e dança. Luís dança num desses grupos, assim como Marta — por causa da tia. “Foi por causa dela que criámos um grupo de covers [versões] de k-pop de dança e de canto. E fomos ao K-pop Festival, uma espécie de competição que houve em Lisboa. Não ganhámos, mas foi divertido”. Os eventos de k-pop são outro dos elementos que ajudam a unir esta comunidade em Portugal. Muitos deles são encontros informais, organizados pelos próprios fãs, mas outros são organizados pela embaixada. É o caso do K-Music Festival (antigo K-pop World Festival), organizado em Portugal sob indicação do Ministério do Turismo sul-coreano e do canal de televisão público sul-coreano, o KBS. Começou em 2011, ano em que as diplomacias locais tiveram ordens para encontrar os melhores nas categorias de canto e performance. “Desde logo houve interessados no evento em Portugal, mas está a crescer”, ilustra o embaixador da Coreia do Sul. “Em 2013, no primeiro ano que organizámos [K-pop World Festival], no Museu do Oriente, com 300 lugares, esgotou. Em 2014 também e os fãs pediram-nos um espaço maior. ” Em 2016, o evento passou para o Teatro Maria Matos. “Em dez minutos os bilhetes estavam esgotados. Veio uma cantora da Coreia que não é muito conhecida, mas mesmo assim esgotaram. ” Em 2017, voltaram ao Museu do Oriente. Novamente esgotado: “As pessoas estavam desde manhã às portas do museu. ”Essa edição foi especial para Arthur, que foi o escolhido pela embaixada para a apresentar: “Nunca tinha apresentado nada, mas foi engraçado porque é uma responsabilidade nova. Havia muita gente a torcer por mim. ”À falta de concertos, há quem tenha de se contentar com CD e merchandising. Em 2018 já é possível encontrar álbuns e produtos destes grupos nas prateleiras das lojas da especialidade. “Em Setembro de 2017 reparámos que algumas lojas, nomeadamente a FNAC Colombo e a FNAC Chiado, estavam com vendas significativas deste género musical, que se deviam sobretudo a pedidos específicos por parte dos clientes que tinham especial interesse em discos da banda BTS”, explica Inês Condeço, directora de comunicação da FNAC Portugal. Antes, os interessados tinham de recorrer ao catálogo de importações para fazerem as suas encomendas. Agora, desde o início do ano, os produtos de k-pop estão expostos na loja, acompanhando o interesse dos fãs. Mas nem sempre foi assim. “Para ter os materiais em formato físico tens de ter dinheiro para encomendar. Já há vários sites e grupos no Facebook que vendem e revendem o que têm. Quase todos os CD que tenho foram dados, alguns comprei em segunda mão”, diz Sara. O preço destes produtos, explica, deve-se ao facto de não se comprar apenas o CD: “São caros porque vêm do exterior, mas não só. Por exemplo, num CD dos One Direction, tens o CD e a capa de plástico com o folheto. No k-pop eles investem em sessões fotográficas, no CD em si. O último que comprei foi do G-Dragon, chama-se One of a Kind. É do tamanho de uma bíblia. Há duas versões, a bronze e a gold, com fotografias diferentes. Têm photocards, posters. A capa em si é almofadada. ” Custa mais de 40 euros. Para contornar esses custos, muitos fãs optam por comprar fan art — arte feita por outros fãs, como desenhos ou crachás — para alimentar esta paixão, em vez do merchandising oficial destes grupos. Encontram-se à venda em encontros de fãs, na maioria das vezes. “Nos meetings compro uma ou outra coisa, tipo fan art, porta-chaves, coisas pequeninas. Há muitos que são feitos pelos próprios fãs. É muito raro comprar merchandising — as camisolas são ainda mais caras”, conta Sara. Ao lado, Luís concorda. Apesar disso, não se sentem menos fãs e vão acompanhando as novidades dos seus ídolos sempre que podem. Os concertos são raros — contam-se pelos dedos de duas mãos os grupos sul-coreanos que já passaram por Portugal. “Os palcos de música pop coreana são muito grandes”, conta o embaixador Chul-min Park, a sorrir, no seu escritório numa das movimentadas artérias centrais de Lisboa. “Aqui há 5000 fãs, mas não é suficiente [para trazer os grandes artistas cá]. A audiência tem de ser grande. Eles nem pensam em vir aqui. ” A voz torna-se grave por momentos, mas a seguir volta a iluminar-se: “Só se conseguirmos encher o Estádio da Luz”, brinca. Sara Freitas discorda. “Quando eu comecei, sim, éramos pequenos para que os grupos quisessem vir cá. Mas agora não. Até porque já tivemos bastantes grupos grandes com bastantes fãs a cá virem. Ainda vai demorar, mas já estão a começar a perceber que há cá público. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Trazer os maiores músicos da actualidade, os BTS, é que é uma tarefa quase impossível para o embaixador Park: “Quando cheguei a Portugal, tive uma conversa com estudantes portugueses, na sua maioria amantes da cultura coreana e de k-pop. Uma dessas estudantes foi muito corajosa e inteligente e disse: ‘Podia fazer-me um favor?’. E eu respondi: ‘Sim, farei o meu melhor’. E ela pediu-me: ‘Traga os BTS a Portugal’”, recorda Park, entre risos. “Eu já sabia que eles eram ídolos, então disse que os traria. Só quando cheguei ao escritório é que me apercebi que cometi um grande erro. Os BTS não são um grupo com quem eu pudesse contactar sequer. ”Notícia editada às 17h49
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Morreu Dolores O'Riordan, vocalista dos Cranberries
Cantora tinha 46 anos e morreu subitamente em Londres. (...)

Morreu Dolores O'Riordan, vocalista dos Cranberries
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cantora tinha 46 anos e morreu subitamente em Londres.
TEXTO: A vocalista dos Cranberries, a irlandesa Dolores O'Riordan, morreu em Londres aos 46 anos. A causa de morte não foi para já avançada pelos seus representantes e a imprensa irlandesa e britânica fala em "morte súbita". A banda é tão conhecida pelos seus temas rock de grande popularidade nos anos 1990 quanto pela voz meio-soprano de O'Riordan e, como postulava a revista Rolling Stone em 1995, "os Cranberries são a maior exportação musical da Irlanda desde os U2". Em comunicado, os seus representantes indicam que a cantora "estava em Londres para uma curta sessão de gravação" e que "os familiares estão devastados" e pediram privacidade após a morte súbita. O diário Irish Times cita a polícia inglesa, que diz ter sido chamada a um hotel em Park Lane para assistir uma mulher cuja morte foi declarada no local e cujas causas "nesta fase preliminar estão a ser tratadas como não explicadas". A chamada ocorreu pelas 9h05 (hora de Londres, a mesma que Lisboa). De acordo com o diário britânico Telegraph, Dolores O'Riordan estava a trabalhar no projecto musical D. A. R. K, com os músicos e ex-The Smiths Ole Koretsky e Andy Rourke. Os Cranberries partilham o local de nascimento com O'Riordan — ela nasceu em Limerick, na Irlanda, em 1971, e a banda em 1989 na mesma cidade irlandesa. A sua voz — "nunca ouvira uma pessoa usar o seu instrumento daquela maneira" no "contexto do rock", escreveu o músico Hozier no Twitter — encabeçava então um grupo composto pelo guitarrista Noel Hogan e pelo baixista Mike Hogan, além do baterista Fergal Lawler. Em 1990, O'Riordan foi às audições para integrar os Cranberries, e foi aceite. Quando era jovem "toda a gente na escola sabia que queria ser cantora", disse ao Independent. Nascidos Cranberry Saw Us, tornaram-se então um fenómeno na década de 1990 na sequência do sucesso do álbum Everybody Else Is Doing It, So Why Can't We?, de 1993, de onde saiu a balada de grande rotação radiofónica Linger. Foi nesse ano que tiveram a sua primeira e longa digressão nos EUA. O single, de letra facilmente memorizável e a condizer com a atmosfera da época, era sobre a experiência pessoal de O'Riordan do fim de uma relação, "publicamente, na discoteca. É tudo tão dramático quando temos 17 anos, por isso despejei isso na canção", contou ao Guardian em 2017. Um ano depois, em 1994, editavam No Need to Argue, do qual fazia parte o single Zombie, mais politizado e assombrado por um atentado do IRA e a morte de uma criança por ele causado, e outros temas populares como Ridiculous Thoughts, Ode to My Family ou Dreaming My Dreams. Um ano depois gravavam o espectáculo ao vivo sinónimo de reconhecimento na música popular nos anos 1990 — um concerto MTV Unplugged. Nas redes sociais, a sua morte repentina está a ser lamentada por músicos e fãs, com o ênfase na sua idade e importância para a música irlandesa. O Presidente irlandês, Michael D. Higgins, lembrou a "imensa influência" dos Cranberries na música local e internacional. "Para todos que acompanham e apoiam a música irlandesa, os músicos irlandeses e as artes performativas a sua morte é uma grande perda. "Os Cranberries venderam mais de 40 milhões de álbuns e o seu sucesso estendeu-se a outros mercados, como os asiáticos. Em 2003, encetavam um hiato após o seu quinto álbum, terminado em 2009 e com um novo trabalho de estúdio a marcar o seu regresso definitivo em 2012 (Roses). Continuavam em digressão e eram mesmo cabeças de cartaz de alguns festivais de segunda linha na Europa no Verão de 2017. Destinavam-se a promover o seu mais recente trabalho, Something Else. Na digressão do último Verão esteve agendado um concerto na Expofacic, em Cantanhede, e por motivos de saúde de Dolores O'Riordan relacionados com "problemas nas costas" o mesmo foi cancelado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Dezembro, e através da conta dos Cranberries no Twitter, a cantora partilhara com os fãs como se sentia "bem!". Subira ao palco pela primeira vez em meses durante o fim-de-semana anterior e tinha-se apresentado numa festa da revista Billboard em Nova Iorque, manifestando a sua felicidade por regressar às actuações. À mesma revista, mas num podcast há um ano, a cantora falava da sua luta particular na saúde mental mas também numa indústria em que "nem todos queriam uma mulher que fosse o rosto central de uma banda grande. Tinha de ser três vezes melhor do que um homem tinha de ser". Além da sua carreira como vocalista dos Cranberries, dotada de uma voz tão notada pelo timbre e alcance (era meio-soprano) quanto pelo sotaque irlandês, O'Riordan editou dois álbuns a solo, Are You Listening? (2007) e No Baggage (2009). A cantora tem três filhos com o tour manager dos Duran Duran, Don Burton, de quem estava divorciada, e sofria de doença bipolar. Revelara também ter sido abusada sexualmente enquanto criança. Sobre a fama repentina dos anos 1990, dissera ao Irish Independent, "pensava que era indestrutível". Mais tarde, confessava os aspectos menos positivos — "Tentamos só ser normais, mas depois damos por nós na escuridão". A banda teve o seu primeiro concerto em Portugal em Julho de 1995, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Actuariam cinco anos mais tarde no Pavilhão Atlântico (actual Altice Arena), também em Lisboa, bem como em Coimbra em 2002, no Campo Pequeno em Março de 2010 e na sua derradeira passagem por Portugal, desta feita em Vila Nova de Gaia, no Festival Marés Vivas em Julho de 2011.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Reabilitação à Santa Casa: 5 aplausos, 1 “nim” e 2 reclamações
O mundo mudou e a SCML também tinha que mudar. Não é pecado. Assim como não é pecado, de modo nenhum, saber recuar. (...)

Reabilitação à Santa Casa: 5 aplausos, 1 “nim” e 2 reclamações
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O mundo mudou e a SCML também tinha que mudar. Não é pecado. Assim como não é pecado, de modo nenhum, saber recuar.
TEXTO: Já vão longe (e são já 520 anos) os tempos da fundação da Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da Misericórdia pela Rainha D. Leonor, “por boas causas”, pelo que, compreensivelmente, a estas se terão juntado ao longo dos séculos muitas outras causas, umas melhores, outras piores. Chegados aqui é um facto que as actuais receitas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) provêm essencialmente do jogo, ou seja, de um vício (fortuna e azar), para muitos o pior de todos. Seria por concessão de outra rainha, D. Maria I, que a SCML passou a deter a exploração da lotaria, primeiro, para já no século XX se lhe juntar uma panóplia de jogos digna dos velhinhos “juegos reunidos“ dos anos 60, mas, ao contrário destes, com efeitos sérios na bolsa dos viciados: totobola, raspadinha, euromilhões (estará eventualmente por contabilizar o número de imóveis pertencentes hoje à SCML, que, ao invés do que aconteceu no passado em que os mesmos lhe eram doados, serão fruto do “confisco” por dívidas de jogo). É natural, portanto, que a “área de negócio” da SCML seja hoje muito mais do que o Bem Comum, a acção social se quisermos. Consequência disso mesmo é a aposta evidente na reabilitação urbana, não só dos imóveis (imensos) que já eram seus em Lisboa, e que ruíam (e muitos ainda ruem) a olhos vistos, mas dos que passaram e vão passando a ser seus por operações de permuta e até de compra. Uma reabilitação urbana que não se cinge apenas à Economia Social, portanto, mas também alastra ao mercado do imobiliário. É por isso também natural que a SCML surja agora associada a fundos imobiliários fechados e compita, ombro a ombro, em muitas ocasiões, com a Câmara Municipal de Lisboa (CML), por exemplo, em estratégia de reabilitação, em staff, em número de projectos e em volume de negócios. O mundo mudou e a SCML também tinha que mudar. Não é pecado. Assim como não é pecado, de modo nenhum, saber recuar. Vem isto a propósito de um punhado de projectos recentes em que a SCML esteve muitíssimo bem, ao saber reconhecer o erro e ao corrigir a trajectória antes que fosse tarde demais: um prédio na Rua Andrade, o Palácio Portugal da Gama (conhecido agora por “Palácio de São Roque”), o Palácio dos Marqueses de Tomar (ex-Hemeroteca de Lisboa) e o Convento de São Pedro de Alcântara. Abra-se aqui um parêntesis para elogiar um outro feito recente, aliás ainda em curso: a reabilitação da Quinta Alegre com intuito social e cultural inter-geracional, e que envolve o restauro cuidado do Palácio do Marquês de Alegrete e do jardim apenso, classificados de Interesse Público e situados na Charneca do Lumiar, propriedade da Santa Casa desde 1983 e que, regra geral, eram totalmente desconhecidos do grande público. Só pelo facto de ter passado a haver visitas periódicas, o aplauso à SCML é ainda mais merecido. Voltando à narrativa, e à coragem da Santa Casa em recuar antes que o mal fosse feito, vale a pena discriminar caso a caso, começando pelo fim da lista referida, agora por ordem da importância de cada um:Em 2014, vários foram os artigos de imprensa que deram conta da futura transformação do antigo Convento de São Pedro de Alcântara e das meninas órfãs em “ponto focal” da oferta de lazer à noite boémia lisboeta. Temeu-se uma sequela do vizinho Colégio dos Inglesinhos, desta vez não para condomínio, como aconteceu na Rua Nova do Loureiro, mas para um complexo de lojas e restaurantes. Abrir-se-iam vãos, portas e montras para a rua, haveria muito vidro e muita caixilharia em alumínio. O convento entregue pelos frades de São Francisco à SCML em 1833, passaria a ser assim uma espécie de centro comercial “in”, com esplanadas, comes e bebes, lojas e alguns escritórios da instituição (só para quebrar o impacto negativo). Azulejos, muitos azulejos, muitos deles pombalinos, seriam removidos, nomeadamente de salões e corredores, e da cozinha. Curiosamente, este “projecto” mereceria honras de propaganda em magazine televisivo da especialidade (leia-se do imobiliário). Pois passados que estão 4 anos sobre as más previsões, e estando as obras a chegar ao fim, o mau presságio ter-se-á dissipado e do “programa de festas” faustosamente anunciado já pouco restará, senão nada, quer por fora quer por dentro. O complexo do antigo convento parece imaculado no seu branco acabadinho de pintar, e não se vislumbra qualquer montra ou novo vão. Do resto só se sabe que o conjunto vai “integrar dois níveis de ocupação: um de utilização mais restrita, com zonas de caráter institucional, designadamente para serviços e realização de eventos; e outro de utilização pública, para possibilitar que todos possam visitar este belíssimo edifício do património histórico lisboeta". Bravo. Bolinha para a Santa CasaAlgumas centenas de metros mais abaixo, eis os palácios vizinhos colados um ao outro: o dos Marqueses de Tomar, vulgo Hemeroteca de Lisboa, e o Portugal da Gama, comercialmente rebaptizado “Palácio de São Roque” – é já um outro vício muito nosso o darmos novos nomes a quem já os tem. Independentemente da necessidade evidente de obras no edifício da Hemeroteca de Lisboa, há muito reclamadas (lembremo-nos da “charmosa” cobertura em zinco que o palácio manteve por cima do seu telhado durante anos a fio, pelo menos vinte!), e descontadas as questões laterais sobre o destino a dar àquela hemeroteca, é com bastante regozijo que se regista a informação que dá conta do recuo da SCML na previsível destruição da “sala de fumo” do palácio, que é forrada a couro e brasonada, bem como da escada que liga esta à cozinha e da própria cozinha. Com efeito, sempre foi evidente que para a instalação do depósito da Biblioteca Brotéria na parte do palácio voltada à Rua do Grémio Lusitano, e ao contrário do que era defendido no projecto apresentado à CML logo após a cedência do palácio, não era necessário destruir nem uma nem outra. Nova bolinha para a Santa Casa, que terá bem aceitado o protesto feito em 2015. Passemos ao palácio que lhe está colado, que tem frente para o Largo Trindade Coelho e que era mais conhecido, diga-se de passagem, não tanto pela riqueza patrimonial do seu interior, mas por albergar na então loja do piso térreo o atelier do insigne decorador Lucien Donnat. Também aqui a Santa Casa recuou e fez bem em recuar. O que foi apresentado, e colocado em telão exterior, até há 2 anos como um projecto de reabilitação do “Palácio de São Roque” para abertura de alojamento local (“short rental”), é agora transformado em espaço museológico, de exposição de parte da colecção de Francisco Capelo, desta vez a sua vertente asiática (será a futura “Casa Ásia”). Mais uma bolinha para a Santa Casa, por optar pela abertura de um museu em detrimento de mais um albergue sofisticado, a juntar às resmas deles que já existem e se atropelam Chiado adentro. Mudando de coordenadas e indo até à Almirante Reis pela “street view” da Google, aterra-se no Bairro Andrade e na sua rua mais importante, a Rua Andrade (para quem não se recorde, este bairro situa-se imediatamente abaixo do Bairro das Colónias e deve o seu nome a Manuel Gonçalves Pereira d’Andrade, que o mandou construir em finais do século XIX, tendo depois passado a ser propriedade da CML). Falo do n. º 2 da Rua Andrade, que faz esquina com a Rua Maria da Fonte e é propriedade da SCML. É um dos mais belos e ainda originais, pormenorizados e mais bem construídos exemplares lisboetas da arquitectura dita de transição, já teve como inquilinos (e proprietário) Anastácio Gonçalves e uma das mais belas lojas históricas de Lisboa (“Cafeteira d’Ouro”), e ostenta desde há pelo menos 15 anos (!) uma placa com aviso prévio de projecto de alterações. Para este edifício, de grande valia decorativa e construtiva, volto a frisar, a SCML apresentou em 2009 um projecto de alterações bastante intrusivo e que iria descaracterizá-lo por completo, numa palavra: mau. Que foi aceite pela CML. No entanto, de lá para cá tomou a Santa Casa consciência do mal que daí adviria para o património histórico da cidade, e eis que em 2017 apresentou novo projecto à CML, deitando o outro ao lixo. Desta feita mantém-se o edifício praticamente na íntegra, recupera-se tudo, apenas se alterando as casas de banho e alguns detalhes não significativos. Lisboa reganhará para o seu inventário um edifício que não merece estar como está nem merecia o que se preparavam para lhe fazer. "O prédio manterá o seu uso habitacional e após conclusão das obras, as frações reabilitadas serão para arrendamento". Nova bolinha para a Santa Casa. Linha. Coluna. Abra-se aqui novo parêntesis para o estranho caso da construção alienígena (talvez projectada por idólatra de arquitectura brutalista pós-soviética), aprovada pela CML para quatro edifícios centenários sitos no gaveto da Av. Casal Ribeiro com a Rua Actor Taborda, primeiramente apresentada sob a forma de loteamento (de 2007) e depois já sob projecto de alterações, ampliação com demolição. Imune aos variadíssimos protestos contra a destruição dos quatro prédios, a SCML acabaria por vender os imóveis em Janeiro de 2017 a uma empresa privada, que, eureka, decidiu “manter a identidade histórica dos edifícios, não apenas as fachadas, mas também muito do interior”. Ou seja, o projecto foi para o lixo. Viva o novo projecto, apesar de estarmos perante mais um daqueles casos em que, provavelmente, o restará no fim serão as fachadas, vide “Desejamos assegurar a manutenção da fachada e reabilitar aquilo que se pode manter no interior, embora haja partes que estão muito degradadas, algumas em colapso estrutural”. Face ao estado geral da cidade, já chegámos a um ponto em que “antes assim do que assado”, ou seja, do mal o menos. Fechado o parêntesis, e para finalizar, duas reclamações, que a serem aceites pelos destinatários, permitirão à Santa Casa gritar BINGO:A primeira diz respeito à vontade do arquitecto autor da reabilitação em curso no Palácio Portugal da Gama, em fazer cobrir (!) o magnífico chão de pedra do vestíbulo do edifício, em lajes de pedra, azuis e brancas e com 200 anos de idade. Na verdade, e para espanto geral, é tido como facto adquirido o cobrimento daquele chão lindo com placas de lioz uniformes, daquelas que se vêem nas estações do metropolitano; por baixo levarão as calhas técnicas habituais e adeus ao chão de antanho. Assim, no melhor pano (uma colecção de alguém com inquestionável bom gosto e uma reabilitação cuidada do que se podia recuperar) cairá a nódoa (um hall com chão de w. c). Não dá para acreditar. Ainda há tempo para reconsiderarem. Recuar não é passar nenhuma vergonha. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A segunda tem que ver com o inenarrável “televisor” de grandes dimensões, perdão, com o futuro auditório da Santa Casa, projectado por arquitecto de renome (e também bom gosto) para junto da antiga lavandaria do complexo da SCML. Trata-se da sublimação de um princípio bem português e que tem o melhor exemplo na tradicional marquise: não importa o efeito de fora para dentro, desde que não se veja de dentro para fora. O televisor, perdão, a “máquina fotográfica” revisitada, poderá dar “uma vista única sobre a capital” às cerca de 200 pessoas que por lá estiverem sentadas dentro quando se abrir o diafragma - “um palco que privilegia a paisagem” -, mas a quem apenas a mire do lado de fora, desde as colinas que lhe estão opostas (ou desde os Restauradores), dará uma vista surreal, quiçá cómica, mas completamente adequada ao imenso parque temático em que paulatinamente a cidade se vai transformando. Não há forma de arquitecto e Santa Casa pararem para pensar?Assim, o ursão de peluche fica em casa.
REFERÊNCIAS:
Designers portugueses apostam na internacionalização das suas marcas
No segundo dia do Portugal Fashion há criadores que brilham fora de Portugal. Todos garantem que a internacionalização é a aposta. (...)

Designers portugueses apostam na internacionalização das suas marcas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: No segundo dia do Portugal Fashion há criadores que brilham fora de Portugal. Todos garantem que a internacionalização é a aposta.
TEXTO: Se há designers que partem de Portugal para conquistar o mercado internacional, como Miguel Vieira e Diogo Miranda, também há quem crie as marcas lá fora, como é o caso da portuguesa Ana Teixeira Sousa que criou a marca Sophia Kah a partir de Londres e já veste a cantora Beyoncé e as actrizes Sarah Jessica Parker e Keira Knightley. Sexta-feira foi o segundo dia de Portugal Fashion, no Porto. Até há poucos meses, Sophia Kah podia ser um nome quase desconhecido nas passerelles portuguesas, mas não era de cantoras e artistas estrangeiras como Beyoncé, Nelly Furtado e Florence Welch. “Descobri através das redes sociais que a cantora Beyoncé comprou um vestido meu numa loja em Los Angeles, EUA”, conta entusiasmada Ana Teixeira Sousa, nos bastidores do Portugal Fashion. Estreou-se nesta sexta-feira, no Porto, depois de ter estado pelo Portugal Fashion em Londres, cidade onde tem showroom e criou a sua marca, ainda que a produção seja bem nacional, feita numa empresa familiar, em Felgueiras. Ana Teixeira Sousa foi aplaudida de pé pela sua colecção inspirada em Portugal, desde o “amarelo das fachadas de Lisboa e o verde do Douro”, até às praias e aos prédios, define. Apresentou 20 coordenados femininos, muitos deles vestidos com plissados longos, muitas rendas, folhos, bordados, guipures e sedas italianas. Há uma Cristina da televisão e outra que é a empresária? Ao PÚBLICO, Cristina Ferreira diz que é a mesma Cristina, mas a actividade principal é “ser apresentadora de televisão. Depois tudo o que puder acrescentar e que der gozo e prazer profissional, continuo a fazer”, afirma depois da apresentação das colecções de calçado, incluindo sapatos para noivas, e de fatos de banho que levou ao Portugal Fashion. “Os sapatos são feitos à minha medida e à minha imagem, que é uma colecção mais excêntrica, mais chamativa”, descreve enquanto aponta para as botas que calça que também fazem parte da mesma colecção. “Gosto de coisas que dêem nas vistas, que tenham brilhos”, justifica. Estar no Portugal Fashion é sinal que a levam a sério? “Quem não me levar a sério é porque ainda não me percebeu desde o início e se não me levar a sério é porque anda muito distraído. O facto de eu ter apresentado uma coleção que dá emprego a centenas de pessoas não chega para que as pessoas me levem a sério?”, devolve. A criadora lançou a primeira colecção em 2011. Desde então, não parou. Tem os EUA como principal mercado, mas quer conquistar novos países. E quer crescer no online. Por enquanto, só vende para multimarcas. “Cada estação é sempre uma luta. Tem de se estar sempre a conquistar”, diz, rodeada dos vestidos de luxo que apresentou na passerelle. A conquistar, mas a partir de Portugal, estão designers como Miguel Vieira e Diogo Miranda. “A internacionalização é uma aposta desde há 20 anos. Toda a vida vendi muito em termos internacionais”, revela Miguel Vieira, que comemora este ano três décadas no mundo da moda. “O mercado português é muito pequeno. Cada designer não pode estar só focado no seu país”, justifica, momentos antes de levar a sua colecção Primavera/Verão 2019 inspirado na Pop Art à passerelle. Miguel Vieira fugiu ao seu registo de preto e branco a que acostumou o público. “Quis fazer um bocadinho de revolução nesta colecção com muita cor – vermelho, azul e verde – e muitos estampados, que é algo que não costumo usar”, continua, enquanto explica que só lhe falta mesmo começar o negócio na área da cosmética. Também Diogo Miranda, com atelier em Felgueiras, vê no mercado internacional uma grande aposta desde 2014, altura em que também lançou a loja online. É no Médio Oriente que a marca mais vende, em países como o Dubai, por exemplo. “As nossas peças, a nível de volumes e de formas, acaba por ir ao encontro desse mercado do Médio Oriente. Houve um aumento de vendas”, conta. “O mercado internacional compra sempre as colecções. O mercado nacional é muito o cliente de atelier”, continua, enquanto acerta os últimos pormenores antes do desfile da colecção que levou à 43. ª edição do Portugal Fashion. Desta vez inspirou-se no trabalho do fotógrafo Irving Penn para apresentar os 30 coordenados femininos. “Trabalhei volumes sem esquecer a elegância da mulher. Todas as saias têm algum corte para se ver a perna e as cinturas são marcadas”, descreve. Igualmente os criadores Hugo Costa e Carlos Gil apostam na internacionalização, mas no mercado asiático. “Os nossos mercados primordiais são os asiáticos. Temos clientes no Japão e em Hong-Kong”, conta Hugo Costa. “Não há mercado em Portugal para o conceito da marca Hugo Costa, onde o poder de compra é reduzido. Se ficarmos focados no mercado nacional, podemos ter vida curta”, justifica o designer que apresentou a colecção que já levara a Paris, mas com algumas novidades, numa proposta cujos coordenados são unissexo. “Não pensamos em género quando criamos”, justifica. Também Carlos Gil, que celebrou nesta sexta-feira 20 anos no mundo da moda, aposta em Tóquio e em Xangai. Com loja no Fundão, admite que “é preciso trabalhar muito e ter muita coragem para ser designer”. Nesta sexta-feira levou à passerelle 45 coordenados para mulheres alegres, elegantes e sofisticadas. “É a união entre a pintura e a explosão da cor, da alegria”, descreve. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. David Catalán e Inês Torcato, que já passaram pela plataforma Bloom, de incentivo aos jovens criadores, também querem apostar no mercado asiático. David Catalán, por exemplo, já tem peças à venda no Japão, assim como em Los Angeles e em Paris. Levou ontem ao Portugal Fashion a sua imagem de marca: “um homem desportivo, colorido, atrevido e com peças com detalhes, mas nada espalhafatoso”, descreve depois do desfile. “Inspirei-me num filme de Elvis Presley que estava a ver com o meu namorado”, recorda. Por seu lado, Inês Torcato também quer apostar no mercado asiático, mas por enquanto vai dando cartas em Paris. “Estou a investir em feiras e showroom em Paris, com o apoio do Portugal Fashion, onde vão clientes do mundo inteiro”, conta no final do desfile. “A internacionalização é uma necessidade para quem faz coisas menos comerciais como eu”, justifica. “Existe pouco público em Portugal que veste roupa mais alternativa”, continua. Inês Torcato, filha do designer Júlio Torcato, com quem divide espaço no Porto, fez desfilar 29 coordenados feitos em alfaiate, da colecção "Alma" com muitas das peças como se fossem uma segunda pele do corpo humano. Quis transmitir a imperfeição e perfeição da pele, e que o corpo é assimétrico, explica. Neste sábado é a vez do pai de Inês apresentar as suas peças juntamente com outros criadores como Luís Buchinho e Luís Onofre.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Portugal à luta com as classes sociais
As classes médias alargaram-se: mas houve mobilidade social ou melhorámos apenas as condições de vida? Leitores do PÚBLICO online voluntariaram-se para contar a sua experiência. Há quem ganhe hoje cinco vezes mais do que os pais, quem tenha visto as expectativas de subir um degrau serem defraudadas e quem, ao descer, tenha perdido a voz na família. (...)

Portugal à luta com as classes sociais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.033
DATA: 2012-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: As classes médias alargaram-se: mas houve mobilidade social ou melhorámos apenas as condições de vida? Leitores do PÚBLICO online voluntariaram-se para contar a sua experiência. Há quem ganhe hoje cinco vezes mais do que os pais, quem tenha visto as expectativas de subir um degrau serem defraudadas e quem, ao descer, tenha perdido a voz na família.
TEXTO: Em casa não havia estantes com livros. Não havia férias em família. Não havia actividades extracurriculares. Não havia praticamente hipótese de fazer desporto. E durante muito tempo a única ligação com o mundo era um televisor "a preto e branco", onde Sandra via documentários sobre vida selvagem, história, viagens. Ela pensava: "Quero conhecer aquilo que ali está. " Em casa, o incentivo para estudar era "mais pela negativa": "Ou tiras boas notas, ou vais trabalhar", diziam-lhe. Nunca soube o que era outra coisa: ter más notas, "perante o sacrifício que os pais faziam", "era quase vergonhoso". "Desde que me conheço como gente que ir trabalhar em vez de estudar não era sequer uma opção. "A primeira vez que Sandra saiu de Portugal "a sério" tinha 21 anos. Hoje, aos 32, está em Inglaterra a trabalhar numa multinacional na área da engenharia eólica, uma das maiores do ramo. Escreve-nos a contar a sua história pedindo o anonimato, falamos depois ao telefone, e a imagem da mulher que, contra todas as expectativas, seguiu a sua determinação em aprender com os melhores e conhecer o mundo vai ficando mais nítida. A sua história, sabe-o, tem os ingredientes das histórias de sucesso. É o típico caso de quem venceu na vida. Ganha cinco vezes mais que os dois pais juntos. Os pais são filhos de "pessoas pobres de ambiente rural" do interior Norte. Depois da morte do avô de Sandra, o pai foi criado por uma família em troca de trabalho. Tornou-se carpinteiro e não sabe ler (ela tem um livro de ficção publicado). A mãe saiu da escola quando terminou a 4. ª classe, para ajudar em casa. Foi costureira, casou-se "cedo de mais", teve duas filhas. Sandra, a mais nova, fez a universidade no Norte com o "dobro ou o triplo" do esforço que colegas "de background melhor": nunca teve explicações, computador com Internet, alguém "próximo com quem discutir as opções de futuro". "O meu percurso foi muito mais longo porque o ponto de partida é uma situação em que vivia em habitação social, com pais com muito pouca escolaridade, muito poucos recursos. "Hoje diz que desde cedo os pais perceberam que ela "era diferente" e depositaram as esperanças de filha normal na irmã - professora, casada e com filhos, vive perto deles. "Em mim vêem a outra. Não me importo, é o que sou. "Inês, de 36 anos, abre as portas de casa com um sorriso e uma sopa na mão, aquecida pelo marido antes de ele ir para o trabalho numa empresa gráfica. Arquitecta e designer de comunicação, mora no centro de Lisboa, num apartamento com luz, paredes da sala pintadas de azul-claro, desenhos da filha pendurados num armário, estantes de madeira com livros e dossiers, uma escada encostada para dar acesso às prateleiras mais altas. A casa foi "emprestadada" pelos pais, que, diz a brincar, são de alguma forma os seus "cartões de crédito". É a angústia com o que vai e não vai poder dar à sua filha de cinco anos que a motiva a participar na reportagem. Conversamos numa mesa branca redonda, cadeiras a condizer. Há aparelhagem, computador, televisor de ecrã plano. Muitos dos gadgets foram coisas "recicladas" do pai, sublinha. No quarto da filha há imensas caixas coloridas como as paredes - e lá dentro, adivinha-se, brinquedos. Inês parece mais nova do que é quando se levanta para ir buscar um Nespresso à cozinha, divisão que dá para um quintal-jardim que será arranjado quando houver dinheiro. Ao pôr o leite no frigorífico, diz-nos que agora bebe o de "marca branca", metade do preço do que costumava comprar. É um dos cortes que fez para ajustar o orçamento. Na família há dois carros, mas ela anda a pensar que talvez faça sentido ter apenas um e começar a usar transportes públicos. Aos 21 anos, quando teve a carta, andava com uma "bomba", um carro "com estofos de cabedal e todos os extras". Estudou em colégios. Viveu dois anos em África durante a adolescência. Tinha empregada todos os dias. Ficou em casa até aos 27 anos, fez o programa Erasmus em Roma durante um ano, com "condições excelentes". Os avós paternos eram do ramo farmacêutico. Da parte da mãe, o avô era um empreendedor e a avó, apesar de ter saído da escola aos 14 anos por razões de saúde, era uma leitora e uma curiosa pelo mundo. O nível de vida dos pais foi melhorando, passando da classe média para a classe média-alta, descreve. "Os meus pais fizeram um esforço tremendo, apostas de separação de casal [a mãe ficou em Portugal, o pai saiu para trabalhar no estrangeiro] para poderem progredir e darem saltos mais rápidos. Estamos a falar daquilo que todos querem: casa, educação dos filhos e fundo de maneio. "Agora, diz, voltou a descer um degrau. Não janta fora como dantes, não compra coisas de marca, não compra música, não vai ao cinema, não vai a centros comerciais, há coisas de que nem se aproxima. Aprendeu a valorizar a educação acima de tudo e não tem espaço para ter um segundo filho, por enquanto, pois não poderia pagar duas mensalidades no colégio onde faz questão de ter a filha a estudar. "É uma escola onde se aprende a pensar por nós próprios, a participar e a não sermos mais um carneirinho. " O desinvestimento na educação da filha representaria o "descalabro completo". Preferiu largar o atelier que partilhava com colegas e passar a trabalhar em casa. "Não é bom: falta companhia, falta discutir ideias, as pessoas isolam-se". Hoje serve de plataforma entre os amigos para trocarem roupa, por exemplo. Nota, em relação aos seus "pares", "uma dificuldade em estar à tona de água". "O que me faz impressão é a falta de esperança. "Não há estudos exaustivos recentes sobre mobilidade social que possam dizer com rigor se os percursos de subida e descida de Sandra e Inês são representativos de uma tendência X ou Y na sociedade portuguesa. Os sociólogos são unânimes: é um tema pouco estudado em Portugal. António Barreto diz mesmo que nunca foi analisado profunda e seriamente - a Fundação Francisco Manuel dos Santos, que dirige, está a preparar um longo estudo sobre o tema. Há, no entanto, relatórios internacionais que, apesar de terem uma amostra pequena e não serem exaustivos sobre cada país, dão pistas. Um dos mais recentes é de 2010, foi feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e coloca Portugal como tendo um dos piores índices de mobilidade entre gerações. Tomando a educação como factor determinante na mobilidade social, revela que o filho de alguém licenciado tem muito mais probabilidade de estar no topo da hierarquia em termos salariais. Em Portugal, a "penalização" para quem nasceu numa família com fracas habilitações é ainda mais alta no caso das mulheres. Manuel Villaverde Cabral, autor de dois estudos sobre classes sociais - um de há 13 anos, outro, sobre as elites, de 2006 - caracteriza a mobilidade social portuguesa ascendente como normal até final do século passado porque está associada à modernização e à economia. Foi, porém, uma mobilidade de curto alcance: globalmente, houve mobilidade da classe trabalhadora para a média, mas não da média para as elites. Porém, "a estrutura socioeconómica e cultural é atrasada - temos muita gente no sector primário e secundário e um sector terciário sem qualidade. Portugal conheceu um processo de industrialização lento e um processo de terciarização menos lento, mas sem qualidade, pouco tecnológico". Mobilidade ascendente existiu, concorda Elísio Estanque, mas foi resultado de um processo estrutural de mudança na economia e na sociedade portuguesas, muito determinada pelo impacto das políticas públicas, do Estado social, da rápida concentração urbana e da forte terciarização da economia a partir dos anos 1960, e com mais força depois do 25 de Abril. Para existir mobilidade social, a passagem de uma classe social a outra teria que abranger mais do que uma geração, ressalva. Apesar de as suas opiniões se basearem em "intuições" porque dados não os tem, António Barreto acredita que até aos anos 1960-1970 a mobilidade social era "reduzidíssima", depois houve um "enorme safanão" na sociedade portuguesa e "toda a gente quis ser melhor". A questão é: "Será que sair do campo e ir para a cidade já é mobilidade social? Será que um pequeno camponês que deixa o campo para ir para a cidade ser assalariado está a subir na vida ou está a melhorar sem subir socialmente? Talvez viva melhor, tenha melhor casa, mais conforto, e, se ganha mais, tem mais bem-estar. Tem também mais acesso à cultura, à formação educativa, à formação tecnológica, à informação, e isto representa alguma mobilidade, mas não é mobilidade no sentido forte da palavra de se poder mudar de ambiente, de meio social e até de classe. "Apesar disso, o paradoxo, acrescenta, é que quando se pergunta se Portugal é uma sociedade imóvel, Barreto responde que não. "Agora a posição relativa entre os ricos, os médios e os pobres, a sua vivência dentro de um meio social determinado, mantém-se relativamente mais estável. " Ou seja, as distâncias entre as diferentes classes mantêm-se. Num artigo recente sobre classes e desigualdades, a investigadora do Observatório das Desigualdades (OD) Margarida Carvalho analisa a evolução de 1985 a 2009 em Portugal para concluir que as cinco classes sociais, definidas pela posição profissional, tiveram um aumento mensal de rendimento, mas que "a classe média está a ficar para trás" e com uma distância cada vez maior das mais ricas. De resto, o fosso entre os ricos e os pobres é agora maior, conclui. As classes dividiam-se assim em 2009, de acordo com dados de um inquérito do Gabinete de Estratégia e Planeamento às empresas em que se baseou: 4, 1% de dirigentes e profissionais liberais (média mensal de salário quase 2300 euros), 17, 8% de profissionais técnicos e de enquadramento (média mensal de cerca de 1600 euros), 42, 3% de empregados executantes (média mensal de 777 euros), e 35, 9% de operários e assalariados agrícolas (média mensal de 764 e 623 euros, respectivamente). Esta distribuição de classes, que não é substancialmente diferente da que Villaverde Cabral analisou em 2006, mostra uma tendência "inversa" a sociedades com menos desigualdades como a sueca: tem quase o dobro na base do que no topo, quando na Suécia havia mais pessoas nas classes mais altas do que nas classes mais baixas. Idealmente, as classes seriam um cilindro, defende. Lendo estes dados, Renato Miguel Carmo, sociólogo do OD, fala de uma mobilidade "parcial e inacabada": a classe dos profissionais técnicos e de enquadramento engrossou (passou de 3, 8% em 1985 para 17, 8% em 2009) e qualificou-se, "mas essa mudança não inverteu os factores de persistência na sociedade portuguesa", porque os empregados executantes e operários ainda representam uma larga fatia (76% no conjunto). É desqualificada, tem rendimentos baixos e 10% da população trabalhadora está em situação de pobreza, acima da média da União Europeia. "Ainda continuamos a ser uma sociedade dualista e isso reflecte-se ao nível das estruturas de poder porque a distância entre os mais e menos desfavorecidos ainda é muito grande. O que depois tem reflexos na prática da cidadania. "Mas lembra que houve uma geração que conquistou mais habilitações literárias do que os pais e que isso se reflectiu nos rendimentos. Ainda que este processo esteja a desvanecer-se com a crise, atirando licenciados para o desemprego, estudar ainda compensa. De 1985 a 2009 a população trabalhadora com ensino superior passou de 3 para 15% e diminuiu o número dos que têm menos do que o ensino básico (de 9 para 1%). Quem é licenciado continua em grande vantagem: em 2009, ganhava três vezes mais do que quem não tinha a quarta classe, valor quase igual ao de 1985 (dados do OD). Porém, Barreto relativiza a questão da educação como ascensor social: "Nos anos 1960 o grande mito das oportunidades era a educação. Ao fim de 10 ou 20 anos, começou a ver-se que todos estavam mais educados, todos subiam, mas não havia passagem de umas camadas para outras: no final de contas, a educação melhora toda a gente, mas tem muito pouca influência na mudança da posição relativa. "É verdade que a educação universal engrossou as classes médias, considera, só que o problema é que "as classes médias não têm definição", são uma "enorme categoria, com enorme fluidez na análise": "A classe média em Portugal são quantas pessoas: 70% da população? 50%? Ninguém sabe. "Elísio Estanque, autor de A Classe Média: Ascensão e Declínio, reconhece a dificuldade em medir a classe média, mas defende que neste momento está em queda, consequência da degradação da situação económica das famílias, mas também das expectativas quanto ao futuro. Fez a universidade - Cinema - com bolsa e viveu numa residência de estudantes. Cresceu numa vila no Alentejo, no Redondo, onde chegou a viver com a mãe em quartos alugados antes de terem casa própria. Não tinham carro e às vezes andavam à boleia, coisa que ela hoje diz que não faria com o seu filho. "Mas não éramos propriamente pobres", lembra Aurora Ribeiro, de 27 anos, que vive nos Açores e hoje diz levar "uma vida burguesa, com uma boa casa, filho no colégio", "respeitada". Sente que pertence à classe média e que subiu um degrau na escada social. A mãe, funcionária pública, fugiu de casa aos 18 anos, que é como quem diz fugiu de um projecto de vida "mais estandardizado", em que era suposto estudar, casar, ter um emprego, estabilizar. A família materna, classifica, pertence à classe média "com pretensões a classe média-alta". Provavelmente pelo que lhe foi passado pela mãe e pelo estilo de vida de alguém que foi da cidade para o campo, uma mulher divorciada que não se inibia de sair à noite num ambiente em que isso só era permitido aos homens, Aurora Ribeiro sentiu-se socialmente diferente dos colegas na escola no Redondo. Em algumas coisas achava que pertencia a uma classe social mais baixa, noutras não. É o que os sociólogos chamam "inconsistência de estatuto social": alguém com poder económico baixo pode ter poder cultural ou social elevado - ou vice-versa. Ela descreve a experiência assim: "A maior parte dos meus colegas não tinha interesse pelo que se passava noutros sítios, nos livros, nos jornais. Normalmente, associamos pobreza a ignorância e riqueza a conhecimento, mas isso está a mudar: há cada vez mais acesso à informação e isso depende menos das possibilidades económicas de cada um, depende mais do interesse e da educação. " No Redondo, não se identificava propriamente com os colegas das classes mais altas porque os interesses não eram os mesmos, porque os "colegas que tinham mais dinheiro interessavam-se mais por roupas, pelo aspecto, por demonstração de posses, e essas coisas. "Quando chegou à Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa, as distinções sociais esbateram-se, "as pessoas identificavam-se mais pelos interesses". A viver na Horta, de onde é originalmente o companheiro, arquitecto, sente-se hoje mais confortável financeira e socialmente. "Em geral, as pessoas levam-me mais a sério, têm mais respeito. É um pouco difícil explicar isto. Na vila onde vivíamos, uma mulher divorciada não era respeitada como uma mulher casada, havia uma visão castradora. Em relação ao respeito, sinto que o tratamento hoje é diferente por causa da classe social, mas também porque estou mais velha e me sinto mais segura. Claro que a minha incursão na ilha também foi facilitada pelo facto de a família do meu companheiro ser respeitada. "Vou com um trolley bordeux", avisa-nos Eduardo Rodrigues, para o reconhecermos no café marcado em Lisboa. Com um pólo claro, sapatos de vela, vestido de maneira descontraída, apanhou um autocarro do aeroporto até ao centro da cidade. Há-de ir depois de camioneta até Setúbal, onde os pais têm um apartamento. Advogado, de 37 anos, também vive numa ilha como Aurora, mas na Madeira, o que, de certa forma, não é muito diferente do sítio onde nasceu e cresceu, o Cercal. "O Alentejo também é uma ilha. Mas a mobilidade geográfica e social está mais limitada no Funchal: quem não tem poder económico, tem menos mobilidade e, por isso, menos oportunidades. O meio é pequeno e não é fácil ir a uma entrevista a Lisboa, por exemplo. Acaba por se viver num microcosmo e isso limita as expectativas e as aspirações". Fez o curso de Direito em Coimbra com o dinheiro que ganhava, depois de no 11. º ano ter desistido de estudar, ter aberto uma loja de produtos naturais no Cercal que geriu durante 16 anos, ter sido bancário e finalmente voltado à sala de aula à noite. Em 2007, foi fazer a segunda parte do estágio ao Funchal. Acabou por ficar e hoje tem um escritório com mais três colegas. Vem regularmente ao continente. É o mais velho de três irmãos, ambos engenheiros. O pai tem a 4. ª classe, trabalhou na agricultura e em extracção de areias num terreno da família, foi treinador de futebol, presidente da direcção de bombeiros; a mãe foi professora no ensino básico, ambos estão reformados. Classifica a família como pertencendo à classe média, "por uma questão de rendimentos". "Nos anos 1980 o Alentejo não era o que é hoje em termos de desenvolvimento, não havia as oportunidades que há, os jovens não tinham acesso à informação", lembra. Mas ele, devia andar pelos 12 anos, recebeu um computador, algo que os colegas não tinham - e isto vê como exemplo de que pertencia à classe média. O incentivo para estudar não existia como hoje e nesse aspecto notava a diferença em relação aos colegas porque sempre foi motivado pela mãe, que "tinha a visão de que a escola era importante pelo interesse intelectual, para progredir e evoluir". Sabe que tem acesso a "outro tipo de coisas e de oportunidades" que os pais não tiveram, até porque "há os contactos com os clientes e amigos da área". Que coisas? Mais conhecimento, mais informação, mais mobilidade geográfica. Apesar de reconhecer avanços na escada social em relação à família, tem uma relação ambivalente com a ideia de "mobilidade social" ascendente. "Ter sido estudante de Coimbra fez com que tenha conhecido pessoas de toda a parte do país, da pessoa mais simples ao arquitecto e engenheiro. Quando se estuda em Coimbra há uma uniformização das classes sociais - a batina servia para isso mesmo, para apagar a diferenciação". A definição de classe social é aquilo a que António Barreto chama a resposta de "um milhão de libras". Não há consenso, desde que a Sociologia foi fundada que é um dos temas clássicos. Em Portugal, diz Villaverde Cabral, a classe está associada à profissão, que, por sua vez, está ligada ao rendimento e a um padrão de comportamento, hoje atenuado. Porque muitos consideram que nas sociedades mais desenvolvidas as variáveis clássicas - profissão, rendimento, escolaridade - não chegam, um grande inquérito sobre as classes sociais na Grã-Bretanha (The Great British Class Survey, da BBC) usa três grandes categorias de análise: o capital económico, o capital social e o capital cultural. Depois há especificidades, como a portuguesa: segundo as conclusões de Villaverde Cabral, o patronato tem níveis de instrução muito baixo, por isso o filho de um patrão pode ter tirado um curso sem ter subido de classe, diz. As classes mais altas têm um nível de exercício de cidadania política mais baixo até do que o operariado da Suécia, sinal de que o nosso desenvolvimento cívico é fraco, acrescenta. Por outro lado, será que podemos colocar o advogado do pequeno escritório na mesma classe social do advogado que gere 300 outros colegas? A pergunta é de António Barreto, que precisaria de saber também dados sobre a família: se os pais são proprietários, se têm bens, qual a sua formação cultural e profissional, por exemplo. E para saber se houve mobilidade, Barreto comparava estes dados com os dados da situação actual da pessoa: mudou? Onde mora? Foi progredindo profissionalmente ao longo da vida? Entrou numa experiência profissional mais complexa e trabalhou no estrangeiro?Elísio Estanque associa a classe à redistribuição de recursos económicos e sociais, algo que pressupõe interdependências e que tem a ver com mecanismos de poder e de privilégio em que uns grupos têm acesso a eles e outros não - cada grupo tende a reforçar a sua posição ou então a lutar pela ascensão e as tensões geram-se pelos interesses contraditórios que defendem. A classe social está ligada à actividade profissional, sim, e, embora esteja relacionada, não é a mesma coisa que estatuto, algo que depende do prestígio e do reconhecimento que a sociedade atribui a determinadas categorias. Mas há ainda outro factor que é o da autoclassificação, "importantíssimo", "porque a vida em sociedade é composta também de representações e subjectividades", diz Estanque: "O mundo em que vivo é o que está na minha cabeça, e é o facto de viver numa determinada cultura e país que me permite incorporar os códigos, os valores, os costumes e o significado dos comportamentos. A vida social tem muito de ficção e imaginação. E a posição subjectiva nunca deixa de ter em conta o grupo de referência. "Em geral, as atitudes de quem desce e de quem sobe tendem a desenhar-se assim: quem sobe identifica-se e adopta padrões de vida da classe de destino, quem desce mantém a identificação com a posição social de origem. "Se se desce, pensa-se que se pode recuperar, que é uma situação transitória. Muitas vezes não se recupera, mas o investimento que se faz na educação e na qualificação dos filhos acaba por ajudar a que os seus próprios descendentes reponham o que eles perderam. Isso revela o potencial destas representações subjectivas. Quando o percurso é de ascensão, as pessoas tendem a ser mais optimistas, a valorizar o que está para a frente. "Em Portugal, o facto de os processos de mudança terem sido muito rápidos fez com que as famílias fossem interclassistas, isto é, com que numa mesma família houvesse posições de status e situações socioprofissionais muito variadas - o que também contribuiu para atenuar os conflitos sociais, diz. Estanque nota, porém, que as classes sociais se estão a recompor. Não por acaso, há já quem defenda que existe uma nova classe, o "precariado" - alusão ao trabalho precário -, sector indefinido, mas que é altamente qualificado, predominantemente jovem e tem uma familiaridade com o ciberactivismo. "Se a crise permanecer por muito tempo, é provável que o precariado se transforme num sujeito de acção colectiva que poderá introduzir rupturas e transformações sociais de novo tipo. " Quais, Elísio Estanque ainda não sabe. A precariedade pode, de resto, vir a ser factor de mobilidade descendente, diz Renato Carmo, até porque gera impacto na compressão dos salários, mas isso não significa automaticamente regressão na escada social, pois para isso teria que haver também desqualificação do trabalho. Às vezes Graça Castro Ribeiro (não é familiar de Aurora), tradutora de inglês e francês, de 44 anos, duvida de que tenha feito a opção certa ao comprar, com empréstimo ao banco, o apartamento num prédio relativamente moderno em Arcozelo, perto de Vila Nova de Gaia. Saiu de casa dos pais já tarde, faz três anos, antes de a sua empresa de tradução ter fechado em 2010. Por isso, quando entra na sala ampla, janelas ao fundo, passa-lhe pela cabeça que aquele espaço seja grande de mais para ela. A casa tem três divisões, duas casas de banho, uma cozinha de dimensão média, tudo impecavelmente arrumado. Na sala, os móveis, baixos, são de madeira clara e há, além do sofá, duas cadeiras de couro castanho. Não tem televisor. Num armário encarnado, com portas de vidro, ela guarda memórias: um serviço de copos que era dos pais, um mealheiro que tem desde pequena e que representa o início da sua ascensão social - lembra-lhe a escola e a luta por um emprego melhor -, uma chávena em tons azuis e brancos que será asiática e que foi a peça mais cara que alguma vez comprou, 125 euros, um luxo que não poderá repetir, prevê. Há talheres, caixinhas, copos pequenos - e muitos livros em baixo, alguns de arte. Graça Ribeiro passa os dias no escritório, e raramente cozinha (é a mãe que o faz para a ajudar). O gosto pela leitura veio do pai, que não fez mais que a escola primária, mas era um curioso pela leitura, sobretudo por autores portugueses - mais tarde foi influenciada pelo irmão mais velho, hoje quadro numa grande empresa portuguesa. Estudou durante seis meses em Inglaterra, ao abrigo do programa Erasmus, com ajuda dos pais e do irmão do meio, tornou-se tradutora e melhorou o seu inglês a um nível que não seria possível se tivesse ficado em Portugal. O pai era filho de lavradores, a mãe de um carpinteiro. Ambos têm a 4. ª classe, apesar de o pai ser considerado patronato e classe média porque tinha uma carpintaria e empregados por sua conta - mas foi obrigado a fechar o "micronegócio" com a crise na construção civil. A sorte é que têm um quintal, terreno e saúde para o cultivar, diz. Num tempo em que "tirar um curso era garantia de melhor emprego", a família apostou na educação dos filhos, por vezes com alguns sacrifícios. Teoricamente, houve um salto na escada social. Na prática, "não é bem assim". "Até determinado período da vida, a evolução socioeconómica dos meus pais foi mais constante do que está a ser a minha. A deles foi gradual, pequena, mas eu na melhor das hipóteses estagnei. Classe média? Só se for por estar entre ricos e pobres. "Além da tradução, Graça foi gestora durante cerca de 14 anos. Em 2011, primeiro ano como trabalhadora independente, o seu rendimento foi de 8700 euros, perdendo 50% de salário em relação aos anos anteriores "com tudo o que isso acarreta": a cultura e a ocupação de tempos livres foram cortadas ao "limite mínimo" e isso era "um contributo muito importante" na sua vida. "Prezava muito, e agora faz-me sentir mais desclassificada do que realmente sou", diz com uma voz tranquila e pausada. Olhamos à volta e percebemos: há postais e cartazes de espectáculos e exposições a decorar um pouco toda a casa, há catálogos em várias estantes. "O trabalho não me realiza muito e tudo o que fazia fora era importante. Abdicar disso contribuiu para uma sensação de falhanço, de descida social. "Viagens, que nunca foram hábito na família e pelas quais ela própria começou a adquirir o gosto tarde, nem sonhando. Também não vai ter férias, à excepção de "uns quatro dias, incluindo fim-de-semana". "A reviravolta" na sua vida, acha, transformou-a na "preocupação dos pais" e num "pequeno grande encargo", criando-lhes "ansiedade". "Sinto uma grande tristeza em relação aos meus pais, tenho a sensação de que falhei e os deixei ficar mal. Esperavam que tivesse emprego para a vida, não tanto que houvesse uma subida social, mas que mantivesse o nível de vida que eles proporcionaram. " Não está agora a ser o caso. No Montijo, João é, para gente mais antiga da cidade, o filho de X ou o neto de Y. Com um curso de Direito, passagem por um escritório de advogados, pós-graduações e formações profissionais no currículo e uma carreira de mais de dez anos nos seguros, é filho único. O pai era serralheiro mecânico até se reformar. A mãe sempre trabalhou na Câmara Municipal de Alcochete, fazendo progressão na carreira. É uma mulher na casa dos 60 anos, mas parece bem mais nova quando deixa João, de 37 anos, de carro, à porta de casa. Blazer de linho bege, camisa aos quadrados, sapatos de vela, jornais e revistas debaixo do braço, conduz-nos ao prédio moderno, parecido com os que fazem fileira atrás e à frente. A mulher, professora de Matemática e de Ciências no ensino básico, e a filha, de pouco mais de um ano, estão lá dentro a fazer a sesta. São 17h40, hora a que normalmente João chega. Entramos pé ante pé no apartamento, chão e portas de madeira clara, móveis mais escuros, mas modernos: a sala está por conta da filha, com brinquedos arrumados em vários cantos, até na estante com livros. Sentamo-nos à mesa de jantar. À nossa frente um sofá e o móvel rectangular baixo que suporta o televisor de ecrã plano. Fez o curso em universidades privadas, com propinas pagas pelos pais, ia de férias para o Algarve em casa alugada, primeiro em Portimão, depois em Armação de Pêra. De vez em quando ainda vai de fim-de-semana com eles: o último foi em Óbidos e ficaram no Bom Sucesso, um resort desenhado por arquitectos como "o [Gonçalo] Byrne". Lê desde muito novo, de Ernest Hemingway ou Somerset Maugham. Os pais sempre lhe "passaram a informação boa", incentivando-o a estudar; discutia política com o avô, comunista. Quando entrou para o mercado de trabalho, "já não era líquido que uma licenciatura arranjasse emprego". "Na altura, diziam: "Se não estudares, vais lavar escadas. " Hoje faz-se um curso e vai lavar-se escadas na mesma. "O curso foi importante do "ponto de vista intelectual" - "sempre que posso, faço formações e o primeiro requisito é se me vai dar satisfação mental". Diz-se "viciado" em História e Política e ao longo da conversa vai citando autores e opinion makers e tem o hábito de recortar e digitalizar "as colunas de pensadores" dos jornais. "Faço a minha vida dignamente. Se me dissessem: "Gostavas de ganhar o dobro?" Claro, em vez de ir de férias para o Algarve ia para a Florida. "Não nota, confessa, grandes diferenças no nível de vida que hoje tem com o que que tinha quando vivia com os pais. Almoça fora todos os dias, quando lhe apetece compra presentes à filha, quando lhe apetece vai de fim-de-semana. Vem de uma família da classe média, classifica - e na classe média ficou. Mas, tendo "um percurso de empenho, seria expectável que chegasse a um patamar mais além". Como materializaria isso? "Em termos de progressão, não tenho para onde ir acima. Passar a um quadro de chefia era expectável, mas há quadros técnicos e superiores a mais. A bitola para mim é a intelectual, é uma satisfação que não tenho em termos profissionais. Se tivesse uma crónica num jornal, aí teria chegado a um patamar que os meus pais não chegaram. Em termos de prestígio social, não tenho nem mais nem menos do que eles. Uns são socialmente designados por sra. e por sr. , enquanto eu posso ser por dr. , mas isso não se traduz em nada mais do que no mero aspecto de cortesia social. "Por razões óbvias, valoriza-se a ascensão social, desvaloriza-se a descida. O que é que a mudança de classe social traz exactamente em termos de perdas e ganhos? "Tempo", responde Inês, que o perdeu. Tempo de descompressão, qualidade de vida. "Quando podemos comprar, compramos tempo: eu compro o tempo de uma empregada, de uma baby-sitter, de uma carrinha que me leva a filha à escola e me faz ganhar tempo para outras coisas. Sem tempo, perde-se capacidade de pensar. "Graça Ribeiro, que vê a descida social como "a aprovação e a maneira com os outros olham para nós", sente-se "diminuída". Na família, "perdeu a voz" e a sensação do "direito a falar". As relações mudaram. "A ideia de que me tenho que reduzir à minha insignificância, colocar-me no meu devido lugar faz com que deixe de ser um elemento tão participativo na família. "Aurora nota que "quanto mais se sobe, mais regras existem": "Mas isto é uma coisa que sinto mais emocionalmente do que em termos materiais. " E há também "pressões" nas classes mais altas porque, explica, "os pais pressionam um filho para ter um percurso que não o faça perder aquilo que já foi conquistado por eles". O percurso de alguém que está numa classe média-alta "tem regras, não é livre", sendo que, ao mesmo tempo, o poder financeiro "também abre muitas oportunidades". Por outro lado, vê o meio profissional onde se move - artístico - como "menos rígido" em termos de regras sociais: "As classes, embora existam, não estão tão bem definidas, e não dependem propriamente do poder, mas de um certo prestígio e certificação". Eduardo Rodrigues não fez um corte com o meio de onde veio e continua a ter os mesmos amigos. Porém, sente, às vezes, que "há um olhar diferente, não diria que de inveja", "talvez seja das pessoas notarem diferença em mim". Há temas de conversa que já não lhe interessam, e há outros, como "os problemas do mercado financeiro e a influência das agências de cotação nos ratings nas dívidas soberanas do Estado", que não aborda com metade desses amigos de infância. Do que se sente mais distante? "Ir no fim-de-semana para Albufeira para o Aquasplash não me seduz. Em contraponto, se convidar um desses amigos para ir a um concerto de música clássica na Gulbenkian, ele talvez franza o nariz". Sandra tem uma resposta mais emocional, provavelmente por o seu salto ter sido o maior dos entrevistados. Está, de resto, literalmente entre dois mundos. Sente-se distante dos colegas, que acha que "nunca a iam entender" - "tinham amas para tomar conta deles". Sente-se distante da família, com quem tem que fazer um esforço enorme para estabelecer pontes de conversa. Quando a pergunta é feita de forma directa - mas o que é que se perde? - Sandra faz um longo silêncio. "A família. Ela continua lá. Mas não somos tão próximos. "Entre Sandra e os pais, houve uma "tremenda evolução", mas desde que foi viver para Inglaterra que reavaliou a posição social a que julgava ter conseguido chegar. Em Portugal, achava que pertencia à classe média, e que teria hipóteses de subir ainda mais um degrau. Depois, reconsiderou, achando que afinal era da classe trabalhadora, como os pais. "Não sou nem serei classe média à escala de outros países da Europa ocidental. Vir para aqui mudou a minha mentalidade e fez-me perceber que não vejo as coisas como uma pessoa da classe média, que é também uma maneira de olhar o mundo. Eu própria tenho que combater isso. Durante estes anos fui imprimindo no meu subconsciente que o objectivo era ter um emprego certinho e estável, e, mesmo que não gostasse, punha a comida na mesa, isso é que interessava. Esse é o objectivo de alguém de classe trabalhadora. Não nos aventuramos porque simplesmente não podemos falhar. Não podemos falhar porque não temos uma rede que nos apoie. "Somos uma sociedade em que a classe social determina as oportunidades? Uma das conclusões a que Villaverde Cabral chegou num dos seus estudos foi que a sociedade portuguesa é "altamente estratificada porque é atrasada e é atrasada porque é estratificada": "As elites controlam o país ao milímetro. Neste momento as posições de topo são para quem já lá está. Para que exista mobilidade é preciso que abram mais posições do que aquelas que seriam ocupadas pelos filhos de quem estava nas posições de topo. Se há 1000 médicos em Portugal, a probabilidade de que os próximos médicos sejam filhos de médicos é altíssima. Para que isso mude, é preciso que se criem mais posições de médicos: em vez das mil, umas cinco mil. ""Se fosse filho de A ou B, se calhar estaria noutra posição", afirma João. Aurora Ribeiro diz que "as oportunidades são criadas através de contactos e os contactos são feitos através das relações pessoais". Portugal é um país de oligarquias, responde Sandra. Inês não tem dúvidas: "Somos o povo. Mas não podemos mudar as coisas? Podemos, podemos. Podemos sempre refilar e dizer que não aceitamos. Podemos votar, nem que seja em branco. A capacidade de mudar, de interpelar, parte de nós. "Nota: as pessoas que não têm apelido pediram reserva de identidadeEsta reportagem foi publicada na Revista 2 a 5 de Agosto de 2012
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Versão final do genoma dos Neandertais posta na Internet
Os Neandertais e os Denisovanos, um grupo de humanos revelado ao mundo apenas no final de 2010, reproduziram-se com a nossa espécie, os humanos modernos. Espera-se que a comparação dos três genomas traga novidades em breve. (...)

Versão final do genoma dos Neandertais posta na Internet
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-03-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os Neandertais e os Denisovanos, um grupo de humanos revelado ao mundo apenas no final de 2010, reproduziram-se com a nossa espécie, os humanos modernos. Espera-se que a comparação dos três genomas traga novidades em breve.
TEXTO: E a versão final e completa do genoma dos Neandertais foi finalmente obtida, mais de 150 anos depois da descoberta destes humanos no vale de Neander, na Alemanha. Toda a informação da descodificação do genoma encontra-se acessível à comunidade científica desde hoje, terça-feira. A equipa de Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva de Leipzig, Alemanha, já tinha apresentado em 2010 uma primeira versão da leitura das letras que compõem o genoma dos Neandertais. Essa leitura baseou-se em ADN de três pedaços de osso de três mulheres neandertais, que tinham sido encontrados numa gruta na Croácia entre o fim dos anos de 1970 e início de 1980. Com esse ADN, a equipa reconstituiu cerca de 60% dos três mil milhões de pares de bases (ou “letras”) do genoma dos Neandertais. Agora, a equipa de Pääbo apresentou uma versão de alta qualidade do genoma dos Neandertais através de ADN extraído de 0, 038 gramas retirados de um osso do pé, descoberto em 2010 na gruta Denisova, na Sibéria. Na versão de 2010, a posição de cada uma das quatro “letras” (pequenas moléculas) com que se escreve o genoma foi determinada uma vez, em média. Na última versão – em http://www. eva. mpg. de/neandertal/index. html e que terá uma análise publicada no final do ano numa revista científica –, cada letra foi determinada mais de 50 vezes, o que permite que mesmo pequenas diferenças entre as cópias de genes que este neandertal herdou da mãe e do pai possam ser distinguidas, explica um comunicado do Instituto Max Planck. Além de compararem o genoma deste neandertal com os dos outros, os cientistas estão a fazer comparações com o genoma dos Denisovanos, um grupo de humanos revelado em Dezembro de 2010 e que viveu entre há 30 mil a 50 mil anos na Sibéria e Sudeste asiático. Tanto os Neandertais como os Denisovanos já não existem, mas ambos se reproduziram com a nossa espécie, os humanos modernos. Os Neandertais terão deixado um contributo de até 4% no nosso genoma e os Denisovanos até 6% nalgumas populações actuais. “Teremos assim mais pistas de muitos aspectos da história dos Neandertais e Denisovanos e aperfeiçoaremos o conhecimento sobre as mudanças genéticas ocorridas no genoma dos humanos modernos desde que se separaram dos antepassados dos Neandertais e Denisovanos”, diz Svante Pääbo.
REFERÊNCIAS:
Étnia Asiático