A diversidade na tecnologia "não é só sobre mulheres"
Karen Chupka, a estratega por detrás da CES, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, diz que a prioridade é pôr especialistas a falar. E frisa que são precisas “pessoas com diferentes percursos e de diferentes locais, pessoas de outras etnias, pessoas com deficiências”. (...)

A diversidade na tecnologia "não é só sobre mulheres"
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Karen Chupka, a estratega por detrás da CES, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, diz que a prioridade é pôr especialistas a falar. E frisa que são precisas “pessoas com diferentes percursos e de diferentes locais, pessoas de outras etnias, pessoas com deficiências”.
TEXTO: Pensar só nas mulheres não resolve o problema da diversidade no sector da tecnologia – o argumento é da vice-presidente executiva da Consumer Electronic Show, ou CES, uma das maiores e mais antigas feiras de tecnologia do mundo que acontece anualmente em Los Angeles, EUA. O evento que Karen Chupka ajuda a organizar há mais de 25 anos foi alvo de fortes críticas durante a sua última edição, em Janeiro, pela ausência total de mulheres a falar nas grandes apresentações sobre o futuro da indústria. Os oradores – da Intel, Huawei, Ford, Baidu, Hulu e da Turner, um conglomerado de media – eram todos homens. Em conversa com o PÚBLICO durante o CEO Summit, um evento de pré-preparação para a CES, Karen Chupka diz que os esforços para promover diversidade não se podem limitar às mulheres. “Não é só sobre mulheres”, argumenta a vice-presidente. “Temos de garantir que damos espaço a um leque diversificado de vozes. Somos uma feira internacional. Também é preciso ter pessoas a falar de diferentes partes do mundo, porque há formas diferentes de ver a tecnologia e de fazer as coisas. A dificuldade, para nós, é perceber como é que atacamos todos estes pontos. ”Sobre a falta de diversidade de género, lembra que, apesar da falta de mulheres como cabeças de cartaz na CES, mais de 64% das sessões e debates no evento de 2018 contaram com elementos do sexo feminino, e 300 das oradoras eram mulheres, o que representou cerca de 30% do total. É algo que a CES aponta como um problema global no sector tecnológico. Dados do portal de estatísticas Statista mostram que há menos de 25% de mulheres a trabalhar as áreas tecnológicas de grandes empresas como a Microsoft, Google, Apple, Amazon e Facebook. Embora Chupka admita que motivar mais mulheres a entrar no sector seja fundamental, diz também que é importante não esquecer outras áreas. Em 2019, a feira tem regras novas para promover a diversidade. “Uma das estratégias que estamos a experimentar é exigir que todos os membros dos painéis de discussão com mais de três pessoas tenham o que chamamos um membro ‘diverso’. Ou seja, alguém de uma comunidade ou área pouco representada. "Além das mulheres, é preciso trazer “pessoas com diferentes percursos e de diferentes locais, pessoas de outras etnias, pessoas com deficiências”. Na área da tecnologia associada à saúde, que Chupka considera uma das grandes tendências para os próximos anos, diz que também é importante dar voz às pessoas que vão utilizar os produtos, às associações de consumidores, e aos profissionais da área. Incluir mais profissionais da Ásia é outra das grandes metas. A possibilidade de o presidente norte-americano Donald Trump dificultar o investimento de empresas chinesas em tecnologia nos EUA é algo que preocupa a organização. Em Maio, a Administração de Trump anunciou que ia implementar restrições específicas nos investimentos e exportação de tecnologia “industrialmente significativa” de alguns países, como a China. “Enquanto organização focada em tecnologias de consumo, estamos convencidos de que ninguém vai beneficiar de um mercado assim”, disse Gary Shapiro, o presidente da CTA, a associação responsável pela CES, durante o CEO Summit. A lista de restrições será conhecida no final do mês. "As políticas em vigor na China apoiam fortemente novas tecnologias a emergir e a inovação em drones e em veículos autónomos", explicou Karen Chupka. "A legislação na China torna mais fácil que amadores explorem a utilização de drones voadores. " Em Abril, o Ministério do Transporte da China anunciou que os governos de todas as cidades e províncias teriam o poder para autorizar testes com carros autónomos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Manter boas relações com as regiões da Ásia é fundamental. Mesmo com críticas, a CES insiste que o lema da feira continua a ser "diversidade como a chave da inovação". Questionada, no entanto, sobre o maior foco, Chupka diz que o primeiro passo é garantir diversidade ao nível da tecnologia. "Não queremos ter especialistas de um só tema. Precisamos de especialistas de inteligência artificial, de robótica, de redes 5G”, enumera. “Queremos garantir que as pessoas que pomos a falar são especialistas em tecnologia. ”O PÚBLICO viajou a convite da CTA
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Menina encontrada morta em Espanha tinha dose letal de um ansiolítico
Asunta, de 12 anos, tinha doses 17 vezes superiores ao normal de um medicamento que só é vendido com receita. Mãe está presa preventivamente, mas continua a dizer que é inocente. Pai também é suspeito de homicídio. (...)

Menina encontrada morta em Espanha tinha dose letal de um ansiolítico
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento -0.2
DATA: 2013-10-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Asunta, de 12 anos, tinha doses 17 vezes superiores ao normal de um medicamento que só é vendido com receita. Mãe está presa preventivamente, mas continua a dizer que é inocente. Pai também é suspeito de homicídio.
TEXTO: As análises toxicológicas realizadas ao corpo de Asunta Basterra, a menina de 12 anos encontrada morta no passado dia 22, numa floresta de Cacheiras, na Galiza, Espanha, revelaram a presença de doses muito elevadas de um ansiolítico. Os resultados dos testes são conhecidos numa altura em que a mãe da adolescente se encontra detida por, juntamente com o pai, ser a principal suspeita do suposto homicídio. Fontes do caso citadas pelo El Mundo dizem que a substância em causa se chama lorazepam, um medicamento tranquilizante que pertence ao grupo das benzodiazepinas e que apenas é vendido com receita médica. O El País refere uma dose de 0, 68 miligramas por litro de sangue, quando o normal seriam 0, 04 (uma quantidade 17 vezes inferior). Ao mesmo jornal, o psiquiatra forense José Cabrera Forneiro disse que estes níveis “implicam uma toxicidade próxima da possibilidade de morrer, mais ainda em crianças menores de 12 anos”, e que este tipo de quantidades só costuma ser encontrado em adultos que se tentaram suicidar com quantidades equivalentes a cinco caixas do medicamento. Na quinta-feira, o juiz que está a conduzir a investigação do caso já entregou à defesa a argumentação que motivou a detenção preventiva de Rosario Porto Ortega, que está presa há sete dias, apesar de insistir ser inocente. Os motivos não foram tornados públicos, mas, na lei espanhola, existem três razões para o ter feito: risco de fuga; atentado contra os direitos ou bens da vítima; e ocultação ou destruição de provas. A razão mais provável será esta última. Rosario é a principal suspeita, em conjunto com o ex-marido, da morte da filha, que entretanto já teria feito os 13 anos. O caso tem abalado Espanha. A mãe de Asunta é advogada, apesar de não exercer, e antiga cônsul honorária de França em Santiago de Compostela e o ex-marido, Alfonso Basterra Camporro, é jornalista. A menina, de origem chinesa, foi adoptada pelo casal e, inicialmente, referia-se que a causa da morte poderia ser uma herança que os avós, pais de Rosario, lhe teriam deixado. O que se revelou que não era verdade – desde 1975 que o testamento não era modificado e Rosario é a herdeira universal dos pais. Tanto o advogado de Rosario Porto Ortega como de Alfonso Basterra Camporro já garantiram que vão recorrer, adiantando que os autos de prisão emitidos pelo juiz carecem de informação que permita preparar a defesa ou perceber os motivos, diz o El País. Versões contraditórias sobre o dia do desaparecimentoNa terça-feira, o juiz ouviu 12 testemunhas, entre elas o médico, professores e colegas de escola de Asunta, assim como amigos da família. Também as pessoas que encontraram o corpo da adolescente, no domingo, dia 22 de Setembro, foram ouvidas. Estes homens disseram que as mãos do cadáver tinham sido mexidas desde o momento em que o encontraram e que regressaram ao local, depois de terem dado o alerta. Por essa razão, suspeitam que quem depositou o corpo da adolescente naquele local poderia ainda lá estar aquando da sua descoberta. “Estou destroçada, porque mataram a milha filha e agora sou acusada [de parricídio], o que é horrível”, confessou Rosario Porto Ortega a um dos seus advogados. Os indícios que apontam para os pais são muitos, mas Rosario Porto Ortega contesta-os. A mãe deu conta às autoridades do desaparecimento de Asunta no sábado, 21 de Setembro. Na altura, disse que tinha saído para ir às compras sozinha, mas, numa das imagens recolhidas às 20h00 daquele dia, aparece no seu carro com a adolescente. A hora não bate certo com o que afirmou quando alertou para o desaparecimento. Segundo Rosario, a filha terá saído de casa entre as 19h00 e as 21h30, sem que fosse explicado para onde poderia ter ido. Vizinhos da família garantem ter-se cruzado com Rosario pelas 20h45 e que esta lhes terá dito que ia buscar a filha. Além das diferenças de horas, as hipóteses de Rosario ter estado envolvida na morte da filha adensaram-se quando, durante buscas realizadas à casa de Montouto, foram encontradas cordas semelhantes às que estavam perto do corpo da adolescente, deixado na floresta de Cacheiras. O corpo tinha marcas que podiam indicar um possível estrangulamento, mas, perante as análises toxicológicas, as equipas forenses não descartam que algumas marcas possam ter sido feitas depois de a menina ter tomado os medicamentos para ser levada para a floresta, sendo difícil distinguir se foi antes ou pouco depois da morte.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte homens filha lei escola homicídio prisão adolescente corpo morta desaparecimento
A cor e o cheiro dos yuans de Xi Jinping: medo, muito medo
Não tarda, Portugal estará ao lado da Grécia a bloquear iniciativas diplomáticas de condenação da China. (...)

A cor e o cheiro dos yuans de Xi Jinping: medo, muito medo
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não tarda, Portugal estará ao lado da Grécia a bloquear iniciativas diplomáticas de condenação da China.
TEXTO: O The Guardian noticiou no dia 3 de dezembro uma sinistra “reforma do casamento” promovida pelo ministro dos Assuntos Civis da República Popular da China, com o objetivo de pôr termo às práticas “vulgares” que refletem a “galopante adoração do dinheiro” em festas de casamento, que devem antes espelhar o “pensamento de Xi Jinping”. Impõe às autoridades locais, muitas das quais tinham já em prática restrições ao número de convidados e à despesa máxima em presentes, uma “adequada etiqueta de cerimónias e festas de casamento”. A ideia de um governo se intrometer desta forma na intimidade das pessoas é em si mesma assustadora. Mais assustadora é a origem da loucura despesista dos casamentos. Amartya Sen, Prémio Nobel da Economia de 1998, escreveu extensivamente sobre as “missing women” — literalmente, mulheres em falta — na China. Na Europa e na América do Norte, para cada 100 homens, há 105 mulheres. Na China, há apenas 94. Ou seja: 11 mulheres em falta por cada 100 homens. A partir desta conta simples, Sen estimou em 1990 que havia 50 milhões de mulheres em falta na China. A pior desigualdade de género, que nega às mulheres o direito a nascer, tem origem na política do filho único em vigor no país entre 1979 e 2015. Com a restrição a um filho, as famílias preferem descendentes rapazes, optando por abortos seletivos de fetos femininos. Na China nasciam neste período 117 bebés menino por cada menina, quando no resto do mundo nascem cerca de 105. Existem hoje na China mais 30 milhões de homens do que mulheres. Com tão poucas disponíveis, as famílias começaram a vender as suas jovens nubentes por preços que atingem, por exemplo, na província de Hubei, 200 mil yuans, dez vezes o rendimento médio das famílias da região, que vivem essencialmente da agricultura. O preço a pagar por uma noiva pode ainda incluir jóias, carros e casas. A Reforma do Casamento é só mais uma forma de autoritarismo de Xi Jinping, que desde que tomou o poder em 2012 não tem olhado a meios para instaurar o culto de personalidade e o controlo apertado da sociedade, já de si estrangulada por décadas de privação de direitos civis básicos. O menu é vasto: campanha de purgas de algo como 1, 3 milhões de oficiais chineses e oponentes, que terá levado alguns ao suicídio; cerca de 250 advogados e ativistas de direitos civis presos; controlo apertado da Internet e redes sociais; promoção ativa de Xi como o descendente de Mao Tsetung, com o seu próprio livro-fetiche, A Governança da China, e uma máquina de propaganda impressa nas paredes das cidades, em pratos, colares e outros artigos à venda por todo o país. Tudo culminou em 2017 com a inscrição do nome de Xi Jinping na Constituição da RPC e a abolição do limite de mandatos. Leitoras e leitores, temos líder! Provavelmente vitalício. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em abril, a Bloomberg publicou um relatório sugestivamente intitulado Como a China está a Comprar o Acesso à Europa, no qual compila informação sobre o investimento chinês no Velho Continente, que totalizou 255 mil milhões de dólares na última década, cerca de 63% dos quais de empresas controladas pelo Estado. Este número é conservador, porque ignora 355 fusões cujos termos não são públicos. Embora a maior parte do investimento vá para as maiores economias europeias, é na Grécia, Portugal e Chipre que a China mais investiu em infra-estruturas básicas. A China possui quatro aeroportos, seis portos, parques eólicos em nove países e 13 clubes de futebol na Europa. E a REN em Portugal. Um estudo da Universidade de Sydney afirmou recentemente que “o papel proeminente de empresas controladas pelo Estado no investimento chinês em países estrangeiros levanta preocupações de que estes investimentos tenham motivações estratégicas e não comerciais”. Em 2017, a Grécia, cujo maior porto, o de Pireu, é propriedade chinesa, vetou uma condenação da União Europeia às violações dos direitos humanos na China. A Austrália, em nome do “interesse nacional” e os Estados Unidos, pela “segurança nacional”, já legislaram para controlar a presença de capital estrangeiro (leia-se: chinês) em setores críticos. A chanceler Merkel e o presidente Macron começaram a movimentar-se para a UE responder coletivamente a este apetite chinês pelas nossas infra-estruturas básicas. Enquanto isso, no nosso triste jardim à beira-mar plantado, um líder sinistro, potencialmente vitalício, de um regime autoritário, foi bajulado pelo poder político e económico em peso, durante uma visita oficial em que até os moradores vizinhos do hotel onde se hospedou viram as suas liberdades fundamentais suspensas. Um presságio. Não tarda, Portugal estará ao lado da Grécia a bloquear iniciativas diplomáticas de condenação da China. A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Zaha Hadid acusada de destruir antiga zona de Pequim com centro comercial futurista
Organização Não Governamental acusa a arquitecta de ter ignorado a paisagem da zona. (...)

Zaha Hadid acusada de destruir antiga zona de Pequim com centro comercial futurista
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.06
DATA: 2013-08-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Organização Não Governamental acusa a arquitecta de ter ignorado a paisagem da zona.
TEXTO: A arquitecta britânica, de ascendência iraquiana, está a ser acusada pelo grupo chinês de protecção do património Beijing Cultural Heritage Protection Centre de ter violado a paisagem tradicional de Pequim ao projectar um centro comercial, o Galaxy Soho, de 330 mil metros quadrados. A contestação, que já existia, ganhou esta semana outra dimensão depois de esta obra ter sido seleccionada para os finalistas do Prémio de Arquitectura RIBA Lubetkin. O júri do prémio, entregue pela Royal Institute of British Architects (RIBA) e que distingue os melhores edifícios internacionais, elogiou a obra de Zaha Hadid, destacando a “bem-vinda democratização” do trabalho da arquitecta. “O desenvolvimento [do edifício] é altamente urbano e suburbano, é tanto cívico como comercial”, diz o júri no comunicado em que anuncia os finalistas, acrescentando ainda que “a criação de espaços públicos num piso inferior com uma bem detalhada zona de estar e fontes demonstra uma rara generosidade num país determinado a superar o ocidente em termos de comercialização”. No entanto, os defensores do património tradicional chinês desta Organização Não Governamental (ONG) não concordam com estas considerações, achando que esta obra, composta por quatro torres, ligadas entre si através de pontes, é demasiado futurista para a zona onde está instalada. Numa carta publicada na quinta-feira no site Building Design, e envidada para a RIBA, o grupo escreve que o Galaxy Soho “causou grandes danos na preservação da paisagem da antiga Pequim”. Dizem que o plano urbano original da cidade não foi respeitado, assim como “o estilo e o esquema de cores da arquitectura vernacular de Pequim”. Por tudo isto, o grupo contesta a escolha do edifício para os finalistas do prémio britânico, alegando estar “em choque com a notícia”. Para estes defensores da antiga paisagem de Pequim, esta nomeação só vai encorajar a que mais “destruições” destas aconteçam. “Muitos de nós em Pequim estamos muito desiludidos e ofendidos. Acreditamos fortemente que este prémio da vossa instituição [a RIBA] vai fazer com que se cometam os mesmos erros, aumentando a dificuldade em proteger o património cultural da China”, continua a carta. Zaha Hadid, que se tornou em 2004 na primeira mulher a vencer o Pritzker, afastou-se da polémica garantindo que trabalhou em parceria com o Local Design Institute “para assegurar que o projecto cumpria todas as normas e requisitos do Governo”. “Quando fomos escolhidos para este projecto, não existiam edifícios nenhuns neste sítio”, esclareceu a porta-voz da arquitecta ao jornal The Guardian, afirmando que nada foi destruído para que este centro de comercial, que abriu portas no ano passado, fosse construído. “Criámos uma variedade de espaços públicos que envolvem directamente com a cidade, reinterpretando o tecido urbano tradicional e os padrões de vida contemporâneos numa paisagem urbana contínua”, acrescentou a porta-voz, citada pelo mesmo jornal. A organização do prémio, que anuncia o vencedor a 26 de Setembro, ainda não se pronunciou sobre a polémica.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher chinês
Lady Gaga: A tia louca da família
Devem recordar-se de uma antiga lenga-lenga a que as crianças ainda acham graça e que reza assim: “Há fogo, há fogo, nas cuecas do Diogo”. A psicanálise muito possivelmente avançaria que o fogo nas cuecas do Diogo que tanto encanta as crianças que o cantam será uma forma de aproximação a uma sexualidade ainda infantil. Mas quem visse o concerto de ontem de Lady Gaga no Pavilhão Atlântico, poderia facilmente tomar a lenga-lenga no seu sentido mais literal – não houve fogo nas cuecas do Diogo, mas houve fagulhas a sair dos bicos do soutien da cantora americana. O que, não por acaso, provocou delírio entre incontáveis raparigas de não mais que oito ou nove ou dez anos de idade. (...)

Lady Gaga: A tia louca da família
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 5 | Sentimento -0.6
DATA: 2010-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Devem recordar-se de uma antiga lenga-lenga a que as crianças ainda acham graça e que reza assim: “Há fogo, há fogo, nas cuecas do Diogo”. A psicanálise muito possivelmente avançaria que o fogo nas cuecas do Diogo que tanto encanta as crianças que o cantam será uma forma de aproximação a uma sexualidade ainda infantil. Mas quem visse o concerto de ontem de Lady Gaga no Pavilhão Atlântico, poderia facilmente tomar a lenga-lenga no seu sentido mais literal – não houve fogo nas cuecas do Diogo, mas houve fagulhas a sair dos bicos do soutien da cantora americana. O que, não por acaso, provocou delírio entre incontáveis raparigas de não mais que oito ou nove ou dez anos de idade.
TEXTO: Que coisa é esta que faz o Pavilhão Atlântico encher-se de meninas pré-adolescentes e respectivas mães mas que está muito longe se ser o Noddy? Que açambarca todas as faixas de mercado excepto a que vai dos vinte aos trinta e cinco, a menos representada (pelo menos no balcão, que foi a zona a que tivemos acesso) no primeiro concerto de Gaga em Portugal? Que põe essas mães a cantarem “I’m a freak bitch, baby” (“Bad romance”) acompanhadas em cada sílaba pelas filhas, aparentemente sem repararem no teor das letras (ou reparando e não se importando)?Foi escrito, inclusive neste jornal (por duas vezes nos últimos dias), que um concerto de Lady Gaga não é um concerto ou não é “apenas” um concerto – a música é “apenas” uma parte do que na realidade se verifica ser um “espectáculo”. Essa dimensão de espectáculo, sabemo-lo, perdoa tudo – os palavrões, a constante exposição da sexualidade, o “grotesco” que se revela na procura incessante do “freak” que marca a imagem de Lady Gaga. Tudo elementos que em princípio deixariam a classe média de cabelos em pé. É difícil de imaginar que um pai gostasse de ver a filha pequenina a imitar a coreografia de um drag-queen vestida de cinto de ligas e couro com um chicote na mão. Mas houve centenas de pais que não só aprovaram, como igualmente imitaram. Que coisa é esta, portanto?Convém explicitar que ao contrário do que a intelligentsia espalhou o “espectáculo” não é propriamente uma coisa nunca vista, nos seus elementos cénicos, de luz ou coreografia. É uma espécie de variação da "obra" cénica de Madonna, com menos polémica religiosa. O concerto abre com uma tela que cobre o palco e funciona como sombra chinesa (lá atrás está Gaga, com um foco nas costas). O primeiro cenário é relativamente simples: há uma escadaria no topo da qual se encontra a artista, há sinais luminosos que imitam os diners americanos e que dão ao palco o ar de beco mal iluminado, há um carro sob cuja capota se esconde um sintetizador. Mais tarde haverá um árvore gótica estilizada, uma espécie de redoma gigante no meio do público de onde se levantará uma plataforma, com a cantora no meio; e uma tenda de campanha de onde Gaga sai com um vestido transparente, os mamilos tapados por pensos em forma de cruz com ar forçadamente surpreendido por ter sido apanhada naqueles trejeitos. A nudez é uma constante nas imagens projectadas na tela que vai aparecendo ou desaparecendo ao longo do concerto. Vê-se Gaga a tapar as maminhas, Gaga nua de lado, Gaga nua com as sombras a tapar as maminhas e/ou mais que isso, etc. Talvez o lado assumidamente teatral que Gaga assume (por exemplo) no momento acima mencionado, quando a tenda se abre e ela é “apanhada” de seios desnudos, talvez a expressão tão forçada, tão teatral invista essa sexualidade de um tom cómico ou burlesco, sublimando a carga erótica (?) ou provocatória (?) da cantora. Tornando-a, por assim dizer, mais digerível para a classe média – afinal, ela própria diz no concerto que a coisa que mais detesta é a verdade. Esse sim é o elemento fundamental do concerto: o constante diálogo de Gaga com o público. Ela é, à vez, pregadora ao jeito da IURD, girl-next-door, patinho feio que deveio cisne, freak que nunca será igual aos outros, ou, como chegou a dizer, “uma prenda” no “castelo de Gaga” onde “cada um de vós [público] é rei”. Tudo no discurso de Gaga é acerca desse público – por exemplo, quando diz “As pessoas pensam que eu sou corajosa, mas eu não sou corajosa sem vocês”. E tudo no seu discurso é acerca de si própria – é ver a citação do castelo e dos reis. Ela tem um twist engraçado na habitual rábula “ninguém acreditou em mim mas eu cheguei até aqui e tornei-me rainha” que os americanos adoram fazer e que consiste em afirmar que, tal como cada um de “vós”, ela era um patinho feio e ninguém acreditava nela mas depois, bem depois, continua um patinho feio.
REFERÊNCIAS:
Personalidade do ano da Time são pessoas que denunciaram casos de assédio sexual
Publicação norte-americana distinguiu as mulheres e os homens que deram “voz a segredos abertos”: “Por moverem redes de murmúrios para as redes sociais, por nos motivarem a todos a parar de aceitar o inaceitável”. (...)

Personalidade do ano da Time são pessoas que denunciaram casos de assédio sexual
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-11 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181211184503/https://www.publico.pt/n1795089
SUMÁRIO: Publicação norte-americana distinguiu as mulheres e os homens que deram “voz a segredos abertos”: “Por moverem redes de murmúrios para as redes sociais, por nos motivarem a todos a parar de aceitar o inaceitável”.
TEXTO: “As vozes que lançaram um movimento” é a descrição usada na capa da Time para descrever a escolha da Personalidade do Ano. A publicação norte-americana destaca este ano não uma personalidade mas aquilo que chamou como “silence breakers”, as pessoas que denunciaram casos de assédio e abuso sexual. A actriz Ashley Judd, a ex-engenheira da Uber Susan Fowler, a lobista Adama Iwu, a cantora Taylor Swift e a agricultora Isabel Pascual são as personalidades que figuram na capa, mas o grupo não é exclusivamente constituído por mulheres. O actor e ex-jogador de futebol americano Terry Crews, por exemplo, é um dos nomes masculinos na lista, por ter sido um dos primeiros homens a juntar-se às denúncias femininas. A revista considera que as denúncias e acções protagonizadas pelas vítimas criaram um dos movimentos mais rápidos, apoiado pelo impacto da divulgação conseguida através das redes sociais, nomeadamente através da hashtag #MeToo. A distinção é por isso um reconhecimento do papel destas mulheres e destes homens “por darem voz a segredos abertos, por moverem redes de murmúrios para as redes sociais”. “Por nos motivarem a todos a parar de aceitar o inaceitável”, justifica o director da revista Time, Edward Felsenthal. Ao todo, a lista reunida pela Time conta pelo menos 74 personalidades acusadas de assédio e abuso sexual depois da onda de denúncias contra Harvey Weinstein. Ashley Judd, actriz e cantora, foi a primeira a chegar-se à frente. Em Outubro, contou a sua experiência ao New York Times. A ela juntou-se a actriz e activista Rose McGowan. Na lista de acusados de conduta sexual imprópria estão também Kevin Spacey, Dustin Hoffman, Ben Affleck, Ryan Seacrest, Al Franken, o ex-presidente da Amazon Studios Roy Price, os realizadores Brett Ratner e James Toback, os jornalistas Charlie Rose, Glenn Thrush e Matt Lauer, o fotógrafo Terry Richardson e o comediante norte-americano Louis C. K. Tarana Burke, a mulher a quem é atribuída a criação da #MeToo em 2006, já agradeceu a distinção através do Twitter. Burke contou com a ajuda de Alyssa Milano para divulgar e incentivar o uso da hashtag através de um tweet em Outubro. Do Twitter a hashtag saltou para o Instagram e para o Facebook. “As mulheres e os homens que quebraram o seu silêncio chegam-nos de todas as classes sociais, todas as profissões e todos os cantos do globo. Podem trabalhar num campo na Califórnia, ou atrás de uma secretária no Plaza Hotel em Nova Iorque ou até mesmo no Parlamento Europeu. Fazem parte de um movimento que não tem um nome formal. Mas agora têm uma voz”, justifica a revista. Os casos de assédio e abuso sexual citados pela Time, como o denunciado pela cantora Taylor Swift (distinguida na capa), antecedem a onda de denúncias contra o influente e consagrado produtor de Hollywood Harvey Weinstein. Em entrevista à Time, Swift descreve o julgamento em que enfrentou David Mueller, o radialista que a apalpou em 2013 e que, em 2015, processou a artista norte-americana por “difamação” — tinha sido despedido e pedia-lhe uma indemnização de três milhões de dólares. A cantora respondeu com um processo por assédio sexual e Mueller foi considerado culpado pela Justiça e obrigado a pagar a quantia simbólica de um dólar. “Antes das alegações contra Harvey Weinstein e antes de o #MeToo invadir a Internet, Taylor Swift testemunhou em tribunal a 10 de Agosto sobre a experiência de ter sido assediada numa sala cheia de gente”, contextualiza a revista. A cantora considera que esta é uma altura importante para “a consciencialização, para a forma como os pais estão a falar com as suas crianças e para a forma como as vítimas estão a processar os seus traumas, quer sejam recentes ou antigos”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A lista de finalistas anunciada na segunda-feira incluía o vencedor do título de Personalidade do Ano de 2016, o Presidente norte-americano, Donald Trump, o líder norte-coreano, Kim Jong Un, o Presidente chinês, Xi Jinping, o ex-director do FBI Robert Mueller, o jogador da NFL Colin Kaepernick (que se ajoelhou durante o hino norte-americano, num protesto silencioso), e Patty Jenkins, a realizadora do filme Wonder Woman. Em Novembro, Trump anunciou no Twitter que tinha sido (novamente) a escolha vencedora para a Personalidade do Ano. “A revista Time ligou-me a dizer que eu seria PROVAVELMENTE escolhido como Homem (Personalidade) do Ano, como no ano passado, mas eu teria de aceitar dar uma entrevista e fazer uma grande sessão fotográfica. Eu disse que provavelmente não era grande ideia e recusei. Obrigado de qualquer forma!”, escreveu na publicação. No entanto, a revista desmentiu prontamente o líder da Casa Branca. “O Presidente está incorrecto sobre a forma como escolhemos a Personalidade do Ano. A Time não faz comentários sobre a sua escolha até ao dia da publicação, a 6 de Dezembro”, lia-se no tweet da revista. Alan Murray, um dos directores executivos da publicação, foi mais incisivo na sua reacção: “Nem um bocadinho de verdade aqui. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo tribunal mulher ajuda homem sexual mulheres chinês abuso cantora assédio
E de repente Stanley Ho está fora de jogo
Duas das quatro famílias do magnata dos casinos, entre mulheres e descendentes, assumiram o controlo das suas empresas. O caso está em tribunal. (...)

E de repente Stanley Ho está fora de jogo
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-01-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Duas das quatro famílias do magnata dos casinos, entre mulheres e descendentes, assumiram o controlo das suas empresas. O caso está em tribunal.
TEXTO: No átrio do Grand Lisboa está um busto de Stanley Ho que é diariamente enquadrado nas fotografias de milhares de turistas. O casino faz parte do império do magnata que nos últimos dias tem enchido jornais e televisões devido às disputas familiares pela sua fortuna. Naquele que é dos ícones da Macau dos neóns, novos e velhos que chegam da China Continental ou de Taiwan apontam, sorriem, muitos fazem com os dedos o famoso "V" das fotografias chinesas. Todos sabem qualquer coisa sobre a recente novela que tem um elenco invejável: quatro famílias, três mulheres, 16 filhos e muitos cifrões por repartir. Soube-se na semana passada que Stanley Ho perdera (ou entregara) o controlo da Lanceford (ver infografia), a empresa familiar através da qual tem gerido a sua fortuna - assente na Sociedade de Jogos de Macau (SJM), operadora de jogo avaliada em dez mil milhões de dólares e que detém mais de um terço do mercado local. A Lanceford controla 31, 6 por cento da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) que, por sua vez, detém 55, 7 por cento da SJM. Ho, que tinha 100 por cento das acções, ficou com apenas 0, 02 por cento. O alegado golpe terá sido dado pela sua terceira mulher, Ina Chan, e por Pansy, Daisy, Maisy, Lawrance e Josie, os cinco filhos da relação com a segunda companheira, Lucina Ho. Juntos controlam agora 99, 98 por cento da Lanceford. A revelação desencadeou uma série de acontecimentos que não passaram ao lado dos jogadores que diariamente contribuem para que esta região administrativa especial da China bata sucessivos recordes nos casinos: fechou 2010 com receitas brutas de 189, 6 mil milhões de patacas (18, 9 mil milhões de euros). O primeiro a pronunciar-se foi o advogado de Ho, Gordon Oldham. "Isto é um roubo, é apropriação fraudulenta", disse sobre a manobra familiar. "Stanley Ho acredita que a sua parti- cipação na Lanceford, que controla o grosso dos seus bens, foi alvo de transferências de títulos operadas pelas suas segunda e terceira famílias", explicou Oldham. "Tal teve como efeito a redução dos seus bens para praticamente nada, na realidade nada, e mais uma vez sem o seu conhecimento, sem o seu consentimento e certamente contra os seus desejos", reiterou à imprensa. Ainda o povo tentava perceber quem estava afinal a tramar Stanley Ho e já o 13. º homem mais rico de Hong Kong, de acordo com a Forbes, aparecia na TVB, uma estação de televisão local, ao lado da terceira mulher e de uma das filhas, Florinda Ho. O milionário, debilitado fisicamente desde que em Julho de 2009 caiu e teve ser operado ao cérebro, leu de um placard uma declaração em que afiançou estar tudo bem. Na televisão"A controvérsia deixou-me muito infeliz, bem como à minha família. A declaração que emiti há dois dias resolveu todas as disputas. Agradeço o apoio de Gordon, mas não preciso dele, porque o grande problema já foi resolvido, e isso faz com que a minha família esteja feliz. Não desejo outras mudanças", afirmou Stanley Ho. Seguiu ainda para as redacções uma carta, assinada pelo empresário e por Ina Chan, em que se reforçava que tudo acontecera com o consentimento do patriarca. Os seguidores da novela desconfiaram então que o vilão pudesse ser Gordon Oldham, o causídico. "Não damos grande importância a uma nota de imprensa emitida à meia-noite por uma terceira amante que tem um interesse de mil milhões de dólares nisto", replicou Oldham. "Os negócios são assim. Temos instruções de Stanley Ho e estamos a cumpri-las", disse o advogado ainda na quarta-feira. As instruções seriam o avanço para tribunal.
REFERÊNCIAS:
Entidades INA
Pussy Riot: A única banda que interessa este Verão
As Pussy Riot são - e tomando momentaneamente de empréstimo um dos lemas dos Clash - a única banda que realmente interessa. Quase não importa o que diz o tribunal. As três mulheres das Pussy Riot - um explosivo e irritante cruzamento entre um grupo musical e um anónimo movimento de dissidentes russos - já conseguiram, de uma maneira muito significativa, vencer a farsa de julgamento a que estão a ser sujeitas em Moscovo (e cuja sentença será conhecida dia 17). Cada dia do seu julgamento por "vandalismo motivado por ódio religioso" chamou a atenção da comunidade internacional para a repressão paranóica na Rússia de Vladimir Putin. (...)

Pussy Riot: A única banda que interessa este Verão
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-08-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: As Pussy Riot são - e tomando momentaneamente de empréstimo um dos lemas dos Clash - a única banda que realmente interessa. Quase não importa o que diz o tribunal. As três mulheres das Pussy Riot - um explosivo e irritante cruzamento entre um grupo musical e um anónimo movimento de dissidentes russos - já conseguiram, de uma maneira muito significativa, vencer a farsa de julgamento a que estão a ser sujeitas em Moscovo (e cuja sentença será conhecida dia 17). Cada dia do seu julgamento por "vandalismo motivado por ódio religioso" chamou a atenção da comunidade internacional para a repressão paranóica na Rússia de Vladimir Putin.
TEXTO: As Pussy Riot entalaram Putin nos cornos de um dilema: ou o seu Governo condena a banda e aumenta ainda mais o seu estatuto de mártires, ou recua e reconhece que acusar o trio mascarado devido a um cacofónico protesto musical na Catedral de Cristo Salvador que chamou a atenção da aliança da Igreja russa com o regime de Putin terá sido sempre um erro. Três dos cinco membros da banda enfrentam agora a possibilidade de passar sete anos na prisão, o que está a causar um inesperado repúdio internacional. Na semana passada, antes de um encontro com o primeiro-ministro britânico David Cameron, Putin terá admitido que preferia recuar. Isto é algo que não era suposto acontecer. Para começar, os dissidentes não se dão bem na Rússia "putinista"; depois, o punk rock - o filho ilegítimo, mais sujo, mais esperto e mais irritante do rock"n"roll - normalmente não vence. O movimento punk tem um longo historial de aspirações a rebentar com governos corruptos e autoritários, multinacionais e outras estruturas de poder internacional. Mas não tem um longo historial de sucessos. Assim, o punk rock decidiu-se por objectivos políticos mais atingíveis, menos globais: normalmente, protestos localizados e atrair atenções e despertar consciências. As Pussy Riot, que ainda há poucos meses eram um grupo obscuro, são agora um fenómeno internacional: as três detidas foram consideradas prisioneiras de consciência pela Amnistia Internacional e a banda tornou-se o ai-jesus dos intelectuais russos, que há tanto tempo sofrem e que agora se juntaram em defesa das três artistas. E se bem que ninguém fale do grupo pela sua música, uma olhadela para a história dos anteriores sucessos geopolíticos do punk rock mostra que as Pussy Riot já os ultrapassaram - e talvez tenham dado ao punk rock um futuro como uma força global para a justiça e a liberdade. Não demorou muito até o que o punk se afastasse do niilismo sem futuro dos Sex Pistols, o lendário grupo inglês da segunda metade dos anos 70 que basicamente iniciou o punk rock. Os Clash rapidamente viraram a atenção do punk para lutas globais. Joe Strummer, uma das forças criativas dos Clash, colocou o punk rock a cantar acerca da Guerra Civil de Espanha, as classes exploradas da Jamaica, o martírio do poeta de esquerda chileno Victor Jara, e mesmo, num disco intitulado Sandinista!, sobre as vítimas do comunismo soviético e chinês. Na Irlanda do Norte, os seus contemporâneos Stiff Little Fingers cantaram o aparecimento de um tipo diferente de revolta - a banda chamou-lhe uma "força anti-segurança", dado que o grupo se opunha às milícias locais que apoiavam os britânicos - em Alternative Ulster. O punk fracturou-se em incontáveis subgéneros obscuros e espalhou-se a nível mundial, mas um tema comum manteve-se: resistência face ao poder global arbitrário e brutal, algo que pode ser percebido em todo o lado, desde o punk "crust" dos britânicos Discharge ao hardcore melódico dos canadianos Propagandhi e ao folk abrasivo dos Against Me!, da Florida. O punk canalizou a angústia juvenil para um catecismo antiguerra, antigoverno e anticapitalismo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra filho prisão chinês
Suécia: Como a igualdade de género fez da Suécia um país mais rico
O país tem um Governo que se autodesigna “feminista”. Que quer impor quotas nas maiores empresas obrigando-as a ter 40% de mulheres a mandar. E pressionar os casais a partilhar mais as licenças parentais. (...)

Suécia: Como a igualdade de género fez da Suécia um país mais rico
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 21 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O país tem um Governo que se autodesigna “feminista”. Que quer impor quotas nas maiores empresas obrigando-as a ter 40% de mulheres a mandar. E pressionar os casais a partilhar mais as licenças parentais.
TEXTO: Um folheto que promove Estocolmo como destino turístico e de negócios fala da reconhecida qualidade do ar que aqui se respira e das águas límpidas dos lagos. Explica que esta é uma capital com muito talento, uma cidade “aberta” e cosmopolita. Fala da moda, da gastronomia, das lojas de design e de como é seguro viver aqui. E mais isto: “50% da população é solteira, por isso há uma forte possibilidade de encontrar a sua alma gémea em Estocolmo!”A frase que segue o ponto de exclamação acrescenta que esta é “a cidade ideal para constituir família”. Afinal, “os pais têm direito a 480 dias de licença parental por cada filho e as crianças pequenas têm acesso a jardins de infância subsidiados”. E posto isto: “Bem-vindo a Estocolmo!”Sim, falar de licenças parentais é suficientemente “sexy” para se colocar em duas páginas destinadas aos visitantes estrangeiros num texto da responsabilidade da agência pública que faz a promoção da cidade. Pelo menos na Suécia é. O país que ocupa o 4. º lugar (em 142) no ranking do Fórum Económico Mundial que mede a igualdade de género (depois da Islândia, da Finlândia e da Noruega) era, nos anos 60 do século passado, um dos que tinham piores taxas de natalidade na Europa. Hoje é dos que têm das mais elevadas — Portugal é a que tem a mais baixa da União Europeia dos 28. O que é que igualdade de género tem que ver com os bebés que nascem? E com a performance económica de um país?“A nossa ideia sobre a igualdade de género é que é uma questão de direitos, sem dúvida, mas é também algo que permite uma série de ganhos sociais, que permite atingir vários objectivos”, diz a muito pragmática ministra sueca para a Igualdade, Åsa Regnér, numa tarde chuvosa de Abril num encontro com um grupo de jornalistas estrangeiros na sede do seu ministério. “Desde logo, o objectivo do crescimento económico. A possibilidade de usar toda a competência e capacidade da mão-de-obra existente — e havendo mais mulheres a sair das universidades com graus académicos, mais do que homens, temos de fazer uso desse investimento que se está a fazer nelas. Isto é bom para os indivíduos, mas também para toda a sociedade. ”Depois, quando podem escolher, em situação de igualdade, “homens e mulheres estudam, trabalham. . . e também têm mais filhos do que nos países do Sul da Europa, que se dizem orientados para a família”, prossegue a ministra que tem a seu cargo ainda as pastas das Crianças e dos Idosos. É consensual que, sem uma situação demográfica positiva, dificilmente há crescimento económico. Nos anos 70, quando a Suécia começou a construir “o seu famoso Estado social”, muitas das decisões partiam desta ideia: era preciso que as mulheres entrassem em força no mercado de trabalho, “a indústria precisava muito de mão-de-obra, o sector público também”. Estava em jogo o crescimento económico. E hoje, com o país a revelar a sua “resiliência” face aos últimos anos de crise na Europa — a palavra “resiliência” é da OCDE —, a necessidade permanece: “Precisamos de muita gente a trabalhar, para que possam tomar decisões nas suas vidas e desenvolverem-se como indivíduos, mas também para poderem pagar impostos, porque todo o nosso modelo se baseia nos impostos”, diz a ministra. Há um site governamental que explica, com graça, que “a Suécia é tão conhecida pelos elevados impostos como pelos móveis Ikea e os Abba”, sendo que a Skatteverket, a agência responsável por taxar os contribuintes, é a segunda instituição pública mais apreciada pela população depois da que trata das questões relacionadas com os consumidores. Os suecos pagam muito (os impostos representam 44, 2% do PIB, 32, 4% em Portugal). Mas acham que recebem bastante. No Centro Täppan, um jardim-de-infância de Estocolmo conhecido pelo seu “trabalho na área da igualdade de género” com as crianças, quase não há carrinhos e não se avistam Barbies. Aqui, aposta-se em brinquedos “mais neutros” do ponto de vista do género, explica Yvonne Häll, a coordenadora da instituição que todos os dias recebe 80 crianças entre os 12 meses e os cinco anos. Yvonne Häll mostra como se trabalham “outros materiais” — panos, papel, madeiras, adereços vários, de chapéus a sapatos antigos, de vestidos de bailarina a fatos de pirata. Faz parte de um plano: “Encorajamos as crianças a ter tolerância e respeito umas pelas outras. Não construímos espaços para rapazes ou para raparigas. Utilizamos diferentes tipos de materiais e tentamos que as crianças os explorem. Se um rapaz veste um vestido, a menina não diz: ‘Ah, não podes usar isso porque és rapaz’ — aqui eles não têm essa atitude, são crianças muito pequenas, não trazem isso com elas, e nós não alimentamos estereótipos. ”A ideia é libertar as crianças das expectativas e das exigências que a sociedade tem, tradicionalmente, em relação a rapazes, por um lado, e raparigas, por outro. E se o menino chega a casa e diz aos pais que andou a experimentar vestidos, não lhe vêm pedir explicações?A educadora de infância sorri: “Imaginem um círculo onde estão várias qualidades que uma pessoa pode ter: a bondade, a inteligência, etc… aqui, queremos oferecer a cada criança todas as boas qualidades. Não dizemos assim: ‘Esta qualidade é de menina e esta de menino. ’ Damos tudo a todos e eles farão depois as suas escolhas sobre o que querem ser. Quando se explica isto aos pais, ninguém contesta. Porque é simples. ”No máximo, uma família com mais rendimentos, e apenas um filho, paga 131 euros de mensalidade no Centro Täppan. A tabela é a mesma para qualquer “pré-escola” — förskola — do país. Quantos mais filhos uma família tem, menos paga. O quarto filho tem direito a frequentar gratuitamente. Famílias com baixos rendimentos não pagam nada. Mais de metade das crianças de um ano e 90% das de cinco anos frequentam um jardim-de-infância. Nas últimas quatro décadas tem-se canalizado muito do muito dinheiro que os suecos pagam em impostos precisamente para apoiar as famílias — o que permitiu às mulheres ir trabalhar, sem pensar em deixar de ter filhos. Alguns resultados: o país tem a maior taxa (80%) de emprego da União Europeia e a maior taxa de emprego feminino (77, 6%). É também dos que têm maior representação de mulheres na política e no Governo — apesar de nunca ter imposto quotas aos partidos. Assiste ao nascimento de mais 30 mil bebés por ano do que Portugal (tendo menos de dez milhões de habitantes). E é um dos países onde homens e mulheres mais partilham os cuidados com as crianças (por exemplo, na hora de contar o número de pais e mães que em 2013 tiraram dias, pagos, para ficar com os filhos doentes, 57% foram mulheres e 43% homens). Conseguiu-se outra coisa: “A possibilidade de as crianças terem os dois pais presentes e não apenas um deles, o que é importante”, diz Åsa Regnér. Que avisa, contudo: “Parece que estamos no paraíso da igualdade, mas não. ”Ouviremos isto várias vezes nesta viagem a Estocolmo. “A sociedade sueca ainda é uma sociedade desigual. . . ”, diz Annika Creutzer, 60 anos, colunista, especialista em Finanças pessoais e também “mãe solteira, adoptiva, de uma menina chinesa”. “Há discriminação. Há diferenças salariais. Há a violência doméstica. Não! Isto não é o paraíso da igualdade”, declara enfaticamente Gudrun Schyman, 66 anos, secretária-geral do partido FI (sigla para Iniciativa Feminina) que, por pouco, não elegeu, nas últimas eleições, no ano passado, o seu primeiro deputado para o Parlamento nacional. A imprensa estrangeira deu destaque a este pequeno partido com dez anos de vida durante uma campanha eleitoral onde o debate sobre a igualdade de género foi intenso. O Eurobarómetro, que periodicamente analisa a opinião dos europeus sobre os mais diversos assuntos, também mostra esta aparente contradição: no país que aparece sistematicamente entre os primeiros no ranking mundial da igualdade, 72% da população acha que a desigualdade de género está disseminada na sociedade. É mais do que os 63% de insatisfeitos registados em Portugal, que está mais de 30 lugares abaixo no dito ranking. Foi neste cenário que Stefan Löfven, 57 anos, o novo primeiro-ministro, que tomou posse no final do ano, declarou solenemente no Parlamento que a Suécia teria um “Governo feminista”. Constituído por 12 mulheres e 12 homens, resultado de uma coligação entre o Partido Social Democrata e os Verdes, o novo “Governo feminista” já anunciou várias medidas. Em primeiro lugar, se, ao longo deste ano, as maiores companhias suecas listadas na bolsa não garantirem que os seus conselhos de administração têm, pelo menos, 40% de mulheres, em 2016 sairá uma lei que as obriga a ter. Actualmente, a Suécia já é dos países com maior peso de mulheres nas administrações das grandes companhias do mercado bolsista (mais de 28% segundo dados da Comissão Europeia, contra 9% em Portugal, por exemplo). Mas o Governo acha que isso é escandalosamente pouco. “Vá, aproveitem agora! Vão buscar todo esse talento feminino!”, diz a sorrir Åsa Regnér. Não disfarça a ironia. Sim, é o Governo a intrometer-se no sector privado. E isso não é pacífico, como nota Kristina Fjelkestam, directora do departamento de estudos de género na Universidade de Estocolmo. Mas outras medidas pró-igualdade não o foram no passado. “Às vezes, não se pode esperar pela mudança da consciência social”, diz a investigadora. Às vezes, os políticos têm de caminhar “à frente” da população, diz também Niklas Lofgren, especialista em políticas de família, na Agência para a Segurança Social Sueca. E têm mesmo caminhado em alguns aspectos, na opinião de Annika Creutzer. Niklas Lofgren mostra um cartaz de um homem supermusculado, cabeleira e bigodes enormes, ruivo — um Viking, portanto —, a segurar nos braços um bebé. Em letras grandes, vermelhas, lê-se: “Papá em licença parental!”Muitos suecos lembram-se bem deste cartaz (que faz a capa desta edição da Revista 2). Foi lançado na década de 70 do século passado, quando a Suécia se tornou o primeiro país do mundo a acabar com a “licença de maternidade”, a criar a mais neutra “licença parental” de seis meses, paga a 90%, e a dizer que esta devia ser repartida entre homens e mulheres. O sorriso do bebé no cartaz mostrava como isso era bom também para a criança. O cartaz, hoje, suscita risos, mas não mais do que isso — a campanha não teve grande sucesso, concede Lofgren, 45 anos, pai de dois filhos. Em 1993, quase metade dos pais não gozaram “um único dia de licença”. Em 1995, o Governo decidiu criar “a quota do pai”. Ou seja, se o recém-papá não gozasse, pelo menos, um mês da licença parental que, até ali, era quase um exclusivo feminino, esse mês subsidiado perdia-se. Houve quem achasse que era uma intromissão do Estado, que deviam ser pais e mães a escolher como faziam com os bebés. Havia mesmo quem dissesse que se estava a prejudicar as mulheres. Em 1996, o número de homens a não gozar nenhum dia de licença desceu para menos de 15%. Em 2002, o Governo sueco deu mais um passo: a “quota intransmissível” cresceu para dois meses. E é assim até hoje: a licença parental é de 480 dias (uma licença longa comparada com a prática europeia), a maioria pagos a 80% do salário; dois meses são destinados a ser gozados pelo pai e outros dois pela mãe, os restantes 12 podem ser repartidos pelos dois membros do casal (a mesma regra aplica-se a casais de pessoas do mesmo sexo com filhos), por inteiro ou em part-time, até a criança fazer 8 anos. O impacto da nova “quota” voltou a ser evidente. Em 2014, mais de 90% dos pais homens usaram a licença parental. Em média, 88 dias, se se fizer as contas aos dias usufruídos até 2013 pelos que foram pais em 2008. (Em Portugal, 42% dos beneficiários de algum tipo de licença parental, incluindo os 10 dias “exclusivos do pai” já são homens, fez saber a Segurança Social portuguesa, mas os que dividem a licença de 150 dias/180 com as mulheres rondam os 24%, sem contar com funcionários públicos, faz saber o Observatório das Políticas de Família). Para ministra para a Igualdade sueca, os níveis de partilha no seu país sabem a pouco. É que, feitas as contas, ainda só um quarto dos dias de licença parental que o Estado paga anualmente é pago a homens. Por isso, o “Governo feminista” prepara-se para agir de novo. Ainda este ano apresentará uma proposta de lei que aumenta de dois para três meses as quotas intransmissíveis. “Temos dados para dizer que, se tivermos uma partilha maior da licença parental, também teremos uma partilha maior do trabalho doméstico e dos cuidados com as crianças”, diz a ministra para a Igualdade. Não é consensual, uma vez mais. “Para os partidos conservadores, não deveria haver sequer uma parte da licença só para a mãe e outra só para o pai”, refere Niklas Lofgren. E a nova medida não deverá trazer ao Executivo muitos votos, sublinha. E mais crianças, trará? Lofgren reconhece que não são só as políticas natalistas e igualitárias que levam as pessoas a ter filhos. O ambiente económico ajuda. Gudrun Scyman, do FI, enfurece-se quando se lhe fala desta proposta do Governo. “Mais um mês não vai mudar nada!” Defende que a licença devia ser dividida ao meio, ponto final, metade para o homem, metade para a mulher. “Não, eu não sou contra a liberdade de escolha. Mas simplesmente não há liberdade de escolha porque ainda vivemos numa sociedade patriarcal. Se há, como há, uma norma social que diz que cuidar das crianças é uma responsabilidade da mulher, não se pode falar de escolha, ficam as mulheres em casa!”“O trabalho não pago não é devidamente dividido entre homens e mulheres”, concede a ministra Åsa Regnér. “Mas sabemos que estas mudanças, destinar mais um mês a um dos membros do casal, colocam uma grande pressão sobre as famílias e que elas, de facto, acabam por mudar o seu comportamento. Coloca também pressão sobre os empregadores, que passam a esperar que os homens fiquem em casa e que as mulheres não fiquem tanto tempo em casa. ”E dividir a licença ao meio, como reclama Gudrun Scyman? “Somos um governo minoritário. E se quiséssemos avançar já para os 50-50, a lei não passaria. Acredito que as posições estão a mudar e parece-me que as novas gerações já serão a favor do 50-50. ”“Mas os jovens estão a usar muito”, conta. “Tenho dois filhos, de 18 e 23 anos, que estão sempre a usar, surge a toda a hora. No outro dia, perguntei ao meu filho, que tinha acabado de falar com alguém ao telefone: ‘Estavas a falar com um ele ou com uma ela?’ E ele respondeu: ‘Por que é que não perguntas se tem o cabelo ruivo?’ Ok, eu percebo. É uma nova forma de pensar. É uma discussão interessante. ”Vários jornais já adoptaram o “hen”, bem como muitos livros para crianças. A introdução no dicionário da Academia Sueca estava anunciada para Abril. Por muito que haja quem considere “ridículo” o “caso” em torno do pronome neutro, sobre o qual já tanto foi escrito e dito no país, este ilustra bem como o debate em torno do género está presente na sociedade sueca — uma sociedade onde há muito deixou de ser aceitável dizer que as mulheres são melhores a cuidar de crianças do que os homens (mesmo que haja quem ainda acredite nisso, como reconhece a ministra) ou achar que as famílias onde há duas mães ou dois pais são diferentes das restantes. “Algumas pessoas até podem não achar bem este modelo de família, mas não se atrevem a dizê-lo”, diz Karin Nylund, 41 anos. Ela e Sara Nylund, 42, casaram-se “numa cerimónia tradicional”, com a família e amigos, “cerca de 100 convidados”. Compraram uma moradia construída em 1946, em Älvsjö, um bairro tranquilo a meia hora de comboio do centro de Estocolmo. E puseram em prática o seu plano de ter filhos, com quem haveriam de passar as férias na casa de campo dos pais de Karin. “Somos uma família sueca normal. ”Para a filha mais velha, Juno, hoje com cinco anos, Karin recorreu a uma clínica na Dinamarca onde se faz inseminação artificial. Os mais novos, Tore (um rapaz que está agora com três anos e meio) e Mika (uma menina de três meses), nasceram depois de uma inseminação feita num hospital sueco. Legalmente, Karin e Sara são ambas mães das três crianças, exactamente com os mesmos direitos e deveres. “As crianças chamam-nos às duas ‘mãe’. Ou ‘mãe Sara’ ou ‘mãe Karin’. Um dia, quando fizerem 18 anos, poderão, se quiserem, ter acesso à identidade dos dadores. Nós não sabemos quem são. ”Karin trabalha no Ministério dos Negócios Estrangeiros, 40 horas por semana, que é “o horário normal”, e Sara numa empresa de marketing britânica que tem uma filial em Estocolmo. Os seus salários juntos somam 9062 euros por mês. Depois dos impostos, ficam com pouco menos de 6200 euros. Acrescentam a isto o abono de família das três crianças, cerca de 400 euros mensais livres de impostos — para explicar que o abono de família é universal, para todas as crianças, independentemente de quanto ganham os pais, Niklas Lofgren da Segurança Social gosta de utilizar uma expressão: “Até os filhos do rei recebem. ”Quando os miúdos forem mais velhos, terão acesso a escola gratuita, a refeições gratuitas e a actividades extracurriculares a baixo custo. Se quiserem, Sara e Karin poderão ainda contratar uma empregada doméstica, para ajudar nas tarefas caseiras, e terão benefícios fiscais por isso. Recentemente, Karin e Sara decidiram acrescentar um piso à casa — para dar mais conforto à família cada vez mais numerosa. E para já é aqui, nesta casa luminosa com vista para um pequeno quintal com relva, que passam bastante tempo. Têm dividido entre as duas as licenças parentais de cada criança e, quando a de Mika se esgotar (neste momento é Karin quem está a gozar a sua parte, tendo Sara, a que deu à luz, voltado ao trabalho), planeiam passar a trabalhar em part-time durante uns tempos. “Pode ser trabalhar a 80% ou a 90%, só o suficiente para podermos ir alternando os dias: num dia, uma de nós sai um pouco mais cedo para ir buscar as crianças à escola; noutro dia, outra”, diz Karin. “Na Suécia, as empresas esperam que as mulheres tirem licenças longas, ninguém estranha”, explica ainda. “E tens o direito de trabalhar em part-time, para estar mais com os filhos, sem que seja feita qualquer pergunta. É um bom sítio para se ter filhos: as crianças têm acesso a cuidados médicos gratuitos (até aos 20 anos), incluindo dentários. E pela Juno e pelo Tore pagamos 200 euros por mês” no pré-escolar. A maioria das “pré-escolas” pertencem aos municípios, mas também há várias geridas por cooperativas de pais. Karin pertence à direcção daquela onde tem os filhos, a poucos minutos de casa. Por lei, explica, todas as “pré-escolas” têm de estar preparadas para abrir às 6h30 da manhã e para acolher as crianças até às 18h30. Os meninos comem, brincam e fazem a sesta no jardim-de-infância — sendo que na Suécia é hábito que mesmo no pico do Inverno, com neve e temperaturas abaixo de zero, as crianças durmam ao ar livre, “muito embrulhadas em sacos-cama”. Na prática, as direcções falam com cada um dos pais para saber quais são as suas reais necessidades em termos de horários. E não é suposto que uma criança fique 12 horas na escola — também isso não é “bem visto”. “Há esta ideia de que ser uma boa mãe é não deixar as crianças no infantário muito tempo. Algumas até contratam amas para as irem buscar às três da tarde. Há uma pressão enorme, a pressão de ser supermãe”, lamenta a especialista em finanças pessoais, Annika Creutzer. Então e os superpais — esses homens suecos que aparecem retratados nas revistas internacionais com os bebés a tiracolo enquanto aspiram a casa? Não sentem a pressão?“As medidas adoptadas [nas últimas décadas] tornaram mais fácil às mulheres conciliar a vida profissional e familiar, mas não desafiaram verdadeiramente a distribuição do trabalho não pago entre homens e mulheres”, diz a perita em igualdade de género Anita Nyberg, investigadora na Universidade de Estocolmo. A estatística mostra que desde 1990 elas reduziram o seu trabalho não remunerado em média uma hora por semana e eles dedicam-lhe mais. . . oito minutos. O que significa ser homem, hoje, na Suécia, é uma pergunta que provoca um ataque de tosse a Fredrik Sörebo, 55 anos. O que mudou na ideia de masculinidade no país que sempre aparece no topo dos rankings da igualdade? “Ahhh, esse assunto é tão difícil!”Sörebo é responsável pelo Mansjouren, em Estocolmo — uma espécie de gabinete de apoio para homens em dificuldades, seja porque estão envolvidos em episódios de violência doméstica, como agressores ou vítimas, e procuram ajuda, seja porque precisam de um psicólogo mas não o conseguem pagar no mercado privado, ou porque se divorciam e não chegam a acordo em relação à partilha dos filhos, e precisam de aconselhamento legal. Depois da tosse, Sörebo arrisca: “É claro que fui educado numa época completamente diferente desta, tenho 55 anos. Posso dizer ‘ah, sou tão neutro’, mas é claro que. . . não esperem que seja perfeito. . . Estudei Psicologia na universidade. Acabei há apenas uns anos. Estudei com pessoas com metade da minha idade. E sim, somos diferentes, mas não tão diferentes assim. Às vezes, assisto aos debates oficiais e uau. . . ‘Estamos assim tão mal?’”A Suécia foi no passado um país de agricultores — os homens tratavam de planear as colheitas para garantir comida à mesa nos rigorosos meses de Inverno, elas cuidavam da casa e dos filhos. Mas, em relativamente pouco tempo, o tema igualdade de género tornou-se omnipresente — já se disse, a ministra para a Igualdade acha que, “absolutamente sim”, o desenvolvimento económico do país deve muito ao que foi feito nessa área. E talvez por isso o “discurso oficial” a que se refere Sörebo esteja tão centrado no que está mal. Mesmo comparando com outros países nórdicos, o debate na Suécia em torno das questões de género “é muito mais radical e foca-se mais nas desigualdades que restam no que nos progressos feitos”, explicou, numa entrevista ao Wall Street Journal, Lena Wängnerud, professora de Ciência Política na Universidade de Gotemburgo. Fredrik Sörebo tem dificuldade em perceber: “Sinceramente, não acho que haja enormes diferenças entre os homens e as mulheres na Suécia. A minha ex-mulher é uma mulher de negócios muito bem sucedida. E a minha actual mulher tem uma empresa. . . Tenho dois filhos que me parecem muito normais — e eles seriam os primeiros a criticar-me se achassem que eu era um homem da idade da pedra. . . posso não ser um homem perfeito, mas acredito no julgamento deles. ”Sendo “um hiato salarial mais pequeno do que outros países têm, a verdade é que existe e está ao mesmo nível há dez anos”, lamenta Åsa Regnér. E não há “paraíso da igualdade” que aguente o facto de haver diferenças salariais exclusivamente baseadas no género e sectores do mercado de trabalho onde a segregação é evidente — 77% dos professores do ensino superior são homens, 93% das educadoras de infância são mulheres. Em profissões predominantemente masculinas ganha-se melhor, naquelas onde dominam as mulheres, pior, sublinha. “Isto tem consequências para o resto da vida”, prossegue Åsa Regnér. “No que diz respeito às pensões de reforma, por exemplo, as mulheres recebem cerca de 60% das pensões dos homens. ” Simplesmente porque salários mais baixos, e mais tempo em casa, significam contribuições mais baixas. “Quando vemos as diferenças salariais entre homens e mulheres antes do nascimento do primeiro filho, as diferenças nem são enormes. O nascimento do primeiro filho é o momento-chave. ”Para lidar com o problema, o “Governo feminista” vai obrigar os empregadores a analisarem anualmente os salários que pagam a homens e a mulheres e a tornarem transparentes as suas políticas salariais. Se detectarem diferenças, devem explicá-las nas inspecções periódicas de que são alvo — a discriminação com base no género é proibida. Outro nó difícil de desatar é o da violência. O país não se saiu bem numa mega-sondagem divulgada no ano passado pela Agência Europeia para os Direitos Fundamentais: 46% das suecas inquiridas disseram já ter sido vítimas de violência. É das maiores percentagens da União Europeia. Outros países igualmente conhecidos pelos bons indicadores relacionados com a igualdade de género saíram-se ainda pior: Dinamarca, 52%, Finlândia, 47%. . . Alguns investigadores alertaram na altura para a possibilidade de os dados poderem reflectir uma maior consciência do abuso nestes países. Seja como for, outros números não deixam margem para dúvidas: em média, 17 suecas por ano são mortas por pessoas com quem tinham uma relação íntima — em Portugal, no ano passado, foram 35. “Nos últimos 15 anos investimos em legislação, em casas de abrigo, em educação, na formação das autoridades, no sistema judicial, nos hospitais, para que prestem um bom serviço às vítimas de violência doméstica”, diz Åsa Regnér. “É preciso fazer muito mais. ” A começar nas escolas. Åsa Regnér quer reforçar os currículos nestas áreas. O “Governo feminista” tem mais planos, inclusive além-fronteiras. Anunciou uma “agenda feminista” para a política externa. Os direitos humanos em geral e os das mulheres em particular devem estar presentes quando o Estado sueco debater com outros países política e negócios, quando cooperar em cenários de conflito e ajudar na reconstrução. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O feminismo está na ordem do dia. “É óptimo que os meus colegas de Governo acordem de manhã e se sintam feministas. Mas é óptimo também que ao longo do resto do dia trabalhem de forma feminista, e deverão fazê-lo”, diz Åsa Regnér. No final da legislatura, os suecos avaliarão. “E vai ter de se perceber qual a diferença entre um governo feminista e outro governo qualquer. ”
REFERÊNCIAS:
Foi você que pediu uma personal trainer do sexo?
Há uma nova profissão em crescimento. As personal trainers sexuais ensinam, ajudam e acompanham uma pessoa na sua vida erótica e amorosa. (...)

Foi você que pediu uma personal trainer do sexo?
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 11 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há uma nova profissão em crescimento. As personal trainers sexuais ensinam, ajudam e acompanham uma pessoa na sua vida erótica e amorosa.
TEXTO: Ana senta-se, abraçada às costas da cadeira, e começa a respirar. Tem 36 anos, cabelo louro, botas altas e um vestido vermelho, curto. Inspira com um ruído de sucção, expira com um som de prazer. Após três ciclos respiratórios, entra numa espécie de transe e, quando ouve o som da minha própria respiração, desata a chorar. Isto é o consultório de Cristina Mira Santos (casadevaluna. blogspot. pt), 42 anos, psicóloga, terapeuta, personal trainer do sexo. Ana vem regularmente, há quase um ano, a esta sala da Alma Cheia, um centro terapêutico alternativo na Rua dos Douradores, na Baixa de Lisboa. Começou com sessões de conversas, num formato em tudo semelhante a uma consulta de Psicologia, e foi avançando para outros, menos convencionais, modos de tratamento, segundo as indicações de Cristina, embora sempre com a sua própria anuência. As primeiras fases foram úteis para identificar os problemas e criar uma predisposição à cura, mas é no momento de agir, quando é preciso alterar atitudes, provocar uma transformação pessoal, que as ferramentas da psicoterapia clássica revelam os seus limites. É por pensar isto que Cristina decidiu há muito completar a sua formação no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) com cursos de massagens, ioga, nutricionismo e exercício físico, filosofias orientais e terapias alternativas. Principalmente a formação em Sexualidade Sagrada ministrada por Amala Shakti Devi, uma portuguesa habitante de Marvão chamada Amélia Oliveira, autodesignada “sacerdotisa consagrada ao amor erótico”, “terapêuta holística” e “maga do coração”. Cristina saiu deste curso de “maga curandeira” com o título de Sacerdotisa do Amor Erótico, ou Erotisa, e o nome de Eva Luna, sob o qual exerce hoje a sua actividade de terapeuta. Como psicóloga clínica, continua a ser Cristina Mira Santos, num esforço de não comprometer o nome profissional com práticas menos compreendidas pela comunidade científica. Na realidade, porém, as duas terapeutas são a mesma, e é nisso que reside a sua originalidade e competência específica. Combinando os conhecimentos da psicologia científica com as tradições da meditação oriental e da sexualidade sagrada, saberes dos índios americanos e de gurus como Osho (o indiano Rajneesh Chandra Jain, autor do conceito de “despertar da consciência”), Cristina construiu o que talvez seja um sistema próprio e único de cura, ou talvez de cura de males que a psicologia convencional e a medicina têm dificuldade em diagnosticar. Ana chegou aqui a conselho de uma amiga. Durante anos, não admitiu que tinha problemas. Os relacionamentos eram difíceis, isolava-se, não conseguia construir uma relação amorosa estável, e nos casos de curta duração o sexo era pouco compensador, não se entregava, não conseguia ter orgasmos. Compensou isto com a vida profissional. Dedicou-se intensamente e obteve êxito muito cedo, fundando uma empresa bem-sucedida. Constituiu um grupo de amigos, mas nunca muito próximos, não tinha nada que se parecesse com uma família. Normalmente não sentia falta disso, mas há certos momentos rituais em que a sociedade nos interpela e julga, como o Natal, a passagem de ano ou a Páscoa. Era doloroso estar sozinha nesses dias, sentia-se encurralada e confusa, chorava, mas não contava a ninguém, talvez nem soubesse o que contar. Houve problemas na infância e adolescência, Ana não os esquecera, mas acreditou que estavam ultrapassados. Avançara com a sua vida, tinha independência económica, carro e apartamento, boas roupas. De que se poderia queixar? Não se queixou, até aos 30 anos. Nessa altura começaram as crises. “Dei por mim sozinha na passagem de ano a perguntar a mim própria: ‘Qual é o teu problema? Porque não podes ser feliz como os outros à tua volta? Porque não consegues apaixonar-te? Porque é a tua vida um caos?’ Nessa altura, não aguentei mais. Entreguei os pontos. ”Quando procurou a psicóloga que a amiga recomendara, as queixas que apresentou confinavam-se porém ao universo profissional. Ana queria mudar de vida, deixar a empresa, dedicar-se a outra actividade, mas faltava-lhe coragem e motivação. Foi isto que disse. A sociedade oferece às mulheres a oportunidade de emancipação, mas não um papel em conformidade, na estrutura familiar. “Somos encorajadas a ter uma carreira profissional, mas à custa da família. Se queremos realização, temos de estar sozinhas. A verdade é que isso não chega e que os amigos não substituem uma família. ”Aparentemente opõem-se, o plano social e o íntimo, mas são as duas faces da mesma moeda. Pertencer a um grupo social discriminado será sempre um factor de risco de patologia e isolamento. Nas primeiras consultas, as conversas com Cristina trouxeram à superfície toda uma história de traumas e feridas. “Fui uma filha não desejada”, conta Ana. “A minha mãe não gostava de mim. Proibiu-me de ter namorados. Aos 16 anos, disse-me: “Nenhum homem te vai amar. Eles só te vão querer para despejar os tomates. ’ Desde os meus sete ou oito anos, fui violada pelo meu avô. Só na adolescência percebi que as outras meninas não faziam aquilo. ”Cristina recolhe conhecimentos e técnicas da tradição mística e religiosa para lidar com este tipo de problemas das suas clientes. A sexualidade sagrada, a religião da deusa-mãe fornecem material teórico e terminológico para colocar as mulheres numa posição de poder. Há um manancial de contributos, desde a filosofia do Mindfulness, inspirada no budismo, e que advoga a concentração nas sensações e consciência do momento presente, até às correntes do sex positive, que promove uma sexualidade sem limites, para a visão globalizadora da sexualidade. Cristina construiu um método ecléctico, a que chama “psicoterapia da consciência”, que consiste em “trabalhar a consciência corporal, ligar o corpo à mente, depois ao espírito”. Baseia-se na ideia de que “o corpo grava momentos, de stress, de felicidade, e há certas zonas do corpo em que se fixam esses registos, essas memórias”. Há também contributos da acupunctura, da digiopunctura, da massagem tântrica, da reflexologia, para criar um todo coerente, ou pelo menos convincente, para quem esteja a isso receptivo. Atribuir ao sexo natureza divina pode ser a única forma de afastar os sentimentos de culpa que lhe estão associados nas mentes de muitas pessoas. E o contacto físico com o cliente pode ser a única maneira de o libertar da racionalização a que submete as práticas sexuais, remetendo-o para uma lógica, uma sabedoria, do próprio corpo. As massagens, os abraços, as carícias fazem por isso parte dos tratamentos, bem como certas práticas difíceis de aceitar pela comunidade dos psicólogos e dos médicos, tais como a yoni healing, ou a lingam healing massagem vaginal ou peniana (yoni e lingam são os termos para vagina e pénis em sânscrito). Segundo a reflexologia genital, determinadas zonas na vagina e no pénis correspondem a determinados órgãos do corpo, pelo que o toque nuns pode afectar o funcionamento dos outros. Além disso, os genitais, principalmente a vagina, têm a propriedade de guardar a memória de acontecimentos, de tal forma que a massagem em certas zonas da vulva pode fazer reviver momentos traumáticos, compreendê-los e ajudar a pessoa a ultrapassá-los, pela aceitação e eliminação gradual da dor nesses pontos de registo. Este é um dos tratamentos a que Cristina submete as suas clientes, sempre com o seu consentimento e a sua colaboração. Foi o caso de Ana. “Eu compreendi que isto é uma coisa séria”, explica ela. “É uma actividade bonita, que me levou a conhecer-me a mim própria, a ligar-me ao meu próprio corpo. O sexo é uma coisa sagrada. ”Os tratamentos de Cristina levam frequentemente a uma libertação de emoções, a choro e riso, gritos de dor ou gemidos de prazer. Muitas vezes, as clientes descobrem novos pontos sensitivos no seu corpo e chegam a atingir o orgasmo. Cristina leva-as a isso, ensina-as. “É possível sentir um orgasmo de três horas”, diz ela. E tem consciência de que isto levanta várias questões. Uma delas é a da ética de um psicólogo, cujo protocolo não permite, por exemplo, tocar no corpo dos clientes, muito menos para lhes proporcionar prazer sexual. Outra questão é a eventual coincidência destas práticas com as da prostituição. Se alguém paga para ser estimulado sexualmente até ao orgasmo, o que distingue isto dos serviços de uma prostituta?Cristina não se ofende com a sugestão. “Em muitas sociedades, havia as prostitutas sagradas. Eu não tenho problemas em assumir essa designação. ” De qualquer forma, explica, há uma diferença: aqui, o objectivo não é procurar a satisfação sexual, em si mesma, mas antes aprender a conhecer o seu corpo, e até certas técnicas que poderão ser usadas para obter prazer sexual. O propósito é sempre educar, ajudar, guiar, curar. De certa forma, trata-se de uma nova profissão. Um terapeuta que ajuda a pessoa na sua vida sexual e amorosa. E na vida em geral, se considerarmos que ela é condicionada pelo sexo e o amor. Cristina aceita a designação de personal trainer sexual ou de personal coach sexual. Alguém, que pode ter formação em Psicologia, como é o seu caso, ou noutra área, que ajuda uma pessoa a tratar os seus problemas do foro sexual ou apenas a melhorar a sua vida sexual e relacional, através de ensinamentos, demonstrações, aconselhamento em termos de posições, técnicas, brinquedos ou concepções alternativas do erotismo. Mas sempre em função do caso particular, das características, da história, dos objectivos, expectativas e possibilidades de cada um. Tal como um treinador pessoal, ou coach, no desporto. É uma profissão que se tornou comum nos EUA e vários países europeus desde há pelo menos uma década, com os seus teóricos, os seus debates, as suas correntes. Carmo G. Pereira (carmogepereira. com) está mais próxima da linha do feminismo e dos estudos de género. Tem 32 anos, formação em Comunicação, um mestrado incompleto em Women Studies, frequenta também a pós-graduação em Sexologia e define-se como uma educadora sexual para adultos, consultora sexual e erótica, mas também não rejeita a classificação de personal trainer do sexo. “Não trabalho com patologias”, explica, uma vez que não tem formação clínica. Mas trabalha frequentemente em colaboração com psicólogos, psiquiatras e ginecologistas. Estes profissionais reencaminham para ela alguns dos seus doentes, quando entendem que isso lhes pode ser benéfico. O mesmo se passa com Cristina Mira Santos. “Os médicos e psicólogos têm cada vez mais consciência da necessidade de incorporar as terapias alternativas”, diz Carmo. “No meu caso, trabalho com o constructo social e uso os conceitos do feminismo. ” É a sua forma de devolver às mulheres o controlo sobre a sua própria sexualidade. Leva-as a compreender porque sentem vergonha em relação a certas práticas, a história dos comportamentos, as relações de poder subjacentes aos procedimentos sexuais. Além de consultas pessoais (quase sempre a mulheres, por vezes a casais, tal como sucede com Cristina, uma vez que há menor procura por parte dos homens), Carmo promove workshops de masturbação e de automassagem guiada, aulas de pompoarismo (treino dos músculos vaginais) e sessões de demonstração de vibradores e outros brinquedos sexuais, matéria em que é reconhecida especialista. Nos tratamentos pessoais, inclui as consultas, a massagem tântrica, o yoni healing. Ensina as mulheres a conhecerem o seu próprio corpo, a masturbarem-se, a procurarem outras formas de prazer para além do orgasmo. Considera que a educação sexual dos jovens é deficiente, ou inexistente, eivada de preconceitos e noções erradas. Isso traduz-se numa vida sexual pobre na vida adulta. “A educação sexual é feita com base na pornografia, o que, além de falsear a realidade, leva a frustrações, porque as pessoas comparam-se com o que vêem lá. As mulheres comparam as suas vaginas, os homens a sua performance. ”A masturbação, por exemplo, ainda é reprimida no caso das mulheres. “Surgem-me mulheres de 30, 40, 50 anos que não sabem masturbar-se, têm vergonha de o fazer. Uma não sabia localizar o seu próprio clitoris. ”Carmo ensina as mulheres a masturbarem-se, ou ensina os parceiros a tocarem-nas, e para isso faz demonstrações práticas: toca nas clientes, embora usando luvas de látex para o contacto genital. Para ela, a diferença entre isto e prostituição é que, no seu caso, “se trata de um toque terapêutico, não sexual”. Ainda que os clientes não apresentem qualquer patologia. Trata-se de melhorar o sexo. Não a performance, como pensam muitos dos que a procuram, mas o próprio âmbito e carácter do acto sexual, porque, ao contrário do que se pode objectar, “no sexo, não se nasce ensinado”. É preciso aprender, ainda que seja uma função natural humana, a menos que se assuma apenas a função reprodutiva do sexo. Carmo faz uma comparação: “Se tivermos um piano em casa desde a infância, decerto vamos experimentar tocá-lo, e aprender qualquer coisa. Mas o resultado será bem diferente se aprendermos sozinhos ou se tivermos um bom professor. ”Juliana está de pé, apenas enrolada numa toalha, de frente para Carmo, no gabinete de tratamentos da Ilha dos Amores, uma loja de “produtos românticos” na Rua de S. Bento, em Lisboa. É o início de uma massagem tântrica com yoni healing. O problema de Juliana, 34 anos, fotógrafa, heterossexual, mãe de ter filhos, é “ser demasiado proactiva” no que respeita ao sexo, dissera Carmo. Só dá, não tem capacidade de receber. “Como sou muito difícil de excitar e levar ao orgasmo, prefiro nem sequer tentar, e concentrar-me no prazer do parceiro”, explicara Juliana. O tratamento de hoje é o primeiro de uma série que pretende reverter isto. Juliana tem de aprender a receber. E os motivos profundos da sua incapacidade podem não ser apenas os que expressou. Carmo explicou previamente o que vai passar-se. Antes de se deitar na marquesa, completamente despida, terá de fazer exercícios respiratórios fixando a terapeuta nos olhos. Se não conseguir, pode fechá-los. Juliana não os aguenta abertos mais do que uns segundos. Respira ritmadamente, de mão dada com Carmo, que seleccionou uma música muito suave e acendeu algumas velas. A situação totalmente imposta cobriu Juliana de vulnerabilidade, deixando-lhe no rosto uma expressão incrivelmente triste. Abre e fecha os olhos, lutando com a sua própria angústia. Carmo beija-lhe a mão, deita-a na marquesa, nua, de barriga para cima, segura-lhe os pés. Acaricia-lhe as pernas, as coxas, num toque muito leve. A massagem prossegue, num toque tangencial por todo o corpo, que vai mudando de posição, trémulo e branco, exposto. Carmo cola a palma da sua mão à planta do pé de Juliana e fica assim muito tempo. Depois aproxima o rosto para lhe soprar nas nádegas e costas, enquanto com um dedo lhe toca a vulva. Carmo fecha os olhos, está quase em êxtase, ao contrário de Juliana, cujo corpo não evidencia a mínima reacção, mesmo durante a longa massagem da vulva, os lábios vaginais, o clitoris, com óleo de grainha de uva e pequenos vibradores nos dedos da massagista. “A palma da mão aberta é símbolo de ligação, de cuidado”, explica Carmo quando Juliana já se sentou na marquesa. “A nossa sociedade ensina a mulher a ser cuidadora. Ela tem de aprender a receber cuidado. Mas é muito difícil. ” Com Juliana, serão precisas, pelo menos, mais seis sessões de uma hora e meia, como esta. Não se libertou o suficiente para sentir prazer. Não era esse o objectivo, nem podia ser: existência de expectativas é inibidora. “Aqui não há expectativas”, diz Juliana. “É sensual, mas não sexual”, acrescenta, com um ênfase positivo no primeiro termo, negativo no segundo. Como se à palavra “sexualidade” viesse agarrado todo o guião da sociedade machista e a sensualidade estivesse liberta, disponível para todos, principalmente as mulheres. Para elas, a ausência de expectativas é o que permitirá avançar, mesmo que não saibam para onde. Os guiões da sexualidade estão definidos por, e para, homens. A sexualidade deles pertence-lhes e a das mulheres também. Pelo menos a que está caucionada e regulada. A outra, o verdadeiro poder sexual das mulheres, talvez se encontre no processo de descoberta para o qual as novas personal trainers do sexo são chamadas a intervir. Maria tem 62 anos e não foi para melhorar a sua vida sexual que procurou Carmo G. Pereira. Veio para uma consulta de pompoarismo com o objectivo de, explica, evitar vir a ter os problemas de incontinência urinária de que a sua mãe sofre hoje. A nossa sociedade ensina a mulher a ser cuidadora. Ela tem de aprender a receber cuidado. Mas é muito difícil. ”“Vamos fazer a primeira contracção, a segunda, a terceira”, vai indicando Carmo, que colocou uma mão na barriga de Maria. “A contracção do terceiro anel é que mexe com a barriga. ”Maria explica que teve um segundo parto complicado, que lhe deixou sequelas na musculatura vaginal. Carmo fornece-lhe vários instrumentos para usar em casa: umas bolas para introduzir e treinar os movimentos de contracção e sucção, um vibrador com pesos diferentes para segurar na vagina, em exercícios dez vezes por dia. No final da consulta, a terapeuta refere à cliente a possibilidade de alguns efeitos secundários. “Como vai haver uma maior atenção quotidiana a esta parte do corpo, e alguma estimulação, é provável que haja um aumento da libido. Sente-se preparada para isso?”“Não há problema”, responde Maria. “Tem de integrar isso na sua vida. ”Maria teve vários dissabores com médicos, desde a infância. Por isso tende a preferir terapias alternativas. “Sinto-me mal com antibióticos”, diz ela. “Consulto um especialista de medicina tradicional chinesa, tenho um osteopata, que também é o meu professor de ioga. ” E agora tem também uma personal trainer sexual. “Todas estas pessoas contribuem para o meu bem-estar. Quando vamos ao hospital, somos vistos por um médico, que nos manda para outro, e depois para um fisioterapeuta. Nenhum deles quer saber de nós, nem tem tempo para nos ouvir. Na medicina natural, não somos tratados como um número, mas como uma pessoa. Os tratamentos são personalizados, adaptados ao nosso caso. Como no ioga, em que os exercícios são adaptados às características de cada um. ”A terapeuta pediu-lhe para visualizar o interior do seu útero e descrevê-lo. “Uma tristeza, tudo escuro e fechado, muita mágoa”, disse Ana. “Estava tudo tão negro. Eu queria sair do meu corpo, de tanta dor que tinha. Depois foi como se tivesse parido o meu útero e o tivesse atirado para uma fogueira. Não queria ter aquela coisa negra cá dentro. ”Ana procurou Cristina porque estava desesperada. “Eu tinha chegado ao fim da linha. Só por isso vim aqui. Agora só lamento não ter vindo há mais tempo. Durante toda a minha vida, depois do que me aconteceu na infância, sinto que não segui em frente, apenas somei anos. ”Na aldeia onde vivia, ouvira a crença segundo a qual uma rapariga que não tivesse relações sexuais durante sete anos recuperaria a virgindade. Por isso, desde que o avô cessou o abuso, esperou sete anos até ter o primeiro namorado, na esperança de que o hímen estivesse miraculosamente reposto, e o rapaz não a rejeitasse. Mas foi ela que não conseguiu aceitá-lo a ele. Agora, mal começa a respiração extática, o exercício que a transporta para um estado alterado de consciência, desata a chorar escondendo o rosto com as mãos. “Não consigo olhar para ele, ele é um homem. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Recompõe-se aos poucos, mas quando Cristina me pede para respirar também de forma sonora, o choro volta. “Ele quer fazer-me mal”, grita. “Não consigo. Está tudo bem, se ele estiver em silêncio. Mas não consigo ouvi-lo. ”Fiquei sem saber o que pensar da situação, da credibilidade das personal trainers do sexo e das pessoas que as procuram, mas a verdade é que o som da minha respiração me pareceu, até a mim, um pouco assustador. Após muito choro e convulsões, Ana adormeceu profundamente, esgotada. Minutos depois acordou, levantou-se e deu-me um abraço.
REFERÊNCIAS:
Religiões Budismo