De Maria Mateus a Pepa Sandoval
Mulheres que amaram mulheres em Portugal ao longo dos séculos. "Filhas de Safo" é um trabalho do historiador Paulo Drumond Braga que sistematiza a memoria do lesbianismo em Portugal até ao início do século XX.As mulheres que amaram mulheres em Portugal, ao longo dos séculos. Filhas de Safo é um trabalho do historiador Paulo Drumond Braga que sistematiza a memória do lesbianismo no país até ao início do século XX. Uma viagem pelos arquivos e pela literatura portuguesa. (...)

De Maria Mateus a Pepa Sandoval
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-02-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mulheres que amaram mulheres em Portugal ao longo dos séculos. "Filhas de Safo" é um trabalho do historiador Paulo Drumond Braga que sistematiza a memoria do lesbianismo em Portugal até ao início do século XX.As mulheres que amaram mulheres em Portugal, ao longo dos séculos. Filhas de Safo é um trabalho do historiador Paulo Drumond Braga que sistematiza a memória do lesbianismo no país até ao início do século XX. Uma viagem pelos arquivos e pela literatura portuguesa.
TEXTO: A abordagem é historiográfica e resulta de anos de investigações. Filhas de Safo Uma História da Homossexualidade Feminina em Portugal, de Paulo Drumond Braga, é isso mesmo: um ensaio sobre a história de relações sexuais e afectivas entre mulheres, em Portugal, desde a Idade Média até ao início do século XX. Editado pela Texto Editores, este livro sistematiza com rigor histórico as referências, que permaneceram até hoje, sobre mulheres que amaram e desejaram mulheres ao longo da História de Portugal. E cuja memória ficou na literatura ou nos arquivos, da Inquisição e das autoridades civis, quer sejam policiais ou médicas. O cuidado académico que Drumond Braga põe neste ensaio não o densifica nem o torna chato. Pelo contrário, o livro lê-se com facilidade e está apresentado de forma atraente, embora sem facilitismos. Simplificações apenas uma e logo de início explicada pelo autor. Decidiu fugir a polémicas "pura e simplesmente estéreis, como o de saber se se incorre ou não em anacronismo ao utilizar termos como homossexualidade ou lesbianismo, uma vez que este só surgiu no século XVI e aquele em Oitocentos". E não esconde que o faz para chegar mais directamente ao leitor comum, ou seja, "por comodidade de linguagem" (p. 12). Punir a homossexualidadeEscrito ao longo do último ano, o livro beneficia de um largo espólio de documentos com os quais Drumond Braga se foi deparando ao longo de outras investigações que fez até hoje. Os primeiros documentos encontrou-os a propósito da sua tese de doutoramento sobre a Inquisição nos Açores, explicou ao P2. É esse importante acervo que este investigador divulga. A começar pelos mais antigos registos sobre relatos de lesbianismo em Portugal, nas medievais cantigas de "escarnho e maldizer". Nesse contexto, lembra Afonso Eanes de Cotom, que escreveu sobre Maria Mateus: "Mari" Mateu, Mari" Mateu, // tan desejosa ch" és de cono com" eu!" (p. 23). Ou já no século XV no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em que um poema fala sobre uma dama de honor acusada de beijar D. Guiomar de Castro, filha do primeiro conde de Monsanto (p. 27). Mas o livro de Drumond Braga não é um inventário de mulheres que tiveram relações com mulheres, é sim uma obra historicamente contextualizada que lembra passos fulcrais na história da sexualidade europeia. Assim, o autor frisa que "nos finais do Império Romano, sob o impacto do cristianismo triunfante, tudo mudou em matéria sexual. A finalidade única da actividade sexual passou a ser a perpetuação da espécie. Para além disso, terminou a dicotomia activo-passivo, introduzindo-se uma outra, masculino-feminino" (p. 19). E prossegue: "Em 342 foram proibidos os casamentos entre pessoas do mesmo sexo e em 533 a pena de morte foi pela primeira vez prescrita no Ocidente, pelo imperador cristão Justiniano, para contactos homossexuais masculinos. No século VII, penas de grande severidade foram igualmente impostas na Península Ibérica visigótica. " (pp. 19/20)Sublinhando que "alguma tolerância existiu, contudo, até ao derradeiro quartel do século XII" (p. 31), o autor explica que "o III Concílio de Latrão (1179) determinou que todo aquele que pecasse contra a natureza seria excumungado" (p. 31). É no século XIII que surge a legislação real punitiva da homossexualidade, como a do rei de Castela, Afonso X, que também abrangia mulheres. Em Portugal, as penas para homens entram nos códices com Afonso IV, em 1355. E em 1499 com Manuel I, são aplicadas também às mulheres. No século XVI o poder real português divide estas condenações com a Inquisição.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
Igreja dos EUA atribui culpa de abusos por padres à revolução sexual
Um estudo oficial encomendado pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos, que acaba de ser publicado, atribui os casos de abuso sexual e de pedofilia dentro da Igreja às mudanças sociais que dizem ter confundido o clero. (...)

Igreja dos EUA atribui culpa de abusos por padres à revolução sexual
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2011-05-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um estudo oficial encomendado pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos, que acaba de ser publicado, atribui os casos de abuso sexual e de pedofilia dentro da Igreja às mudanças sociais que dizem ter confundido o clero.
TEXTO: De acordo com o estudo, citado pelo diário espanhol El Mundo, o problema não está nem na homossexualidade nem na pedofilia ou em outras coisas singulares. A culpa é mesmo da revolução sexual dos anos 60 e 70 e do efeito que esta teve nos padres que estavam pouco preparados para a situação – o que se traduziu em abusos e violações de crianças em paróquias e colégios católicos norte-americanos. O documento agora terminado foi encomendado em 2006 e custou mais de 1, 2 milhões de euros, suportados na sua maioria pela Conferência Episcopal, por organizações católicas e numa proporção menor pelo Governo. “O aumento dos casos de abuso entre os anos 60 e 70 foram influenciados por factores da sociedade em geral”, diz o estudo, elaborado pelo Colégio de Justiça Criminal John Jay da Universidade da Cidade de Nova Iorque. “Outros factores que se mantiveram invariáveis ao longo do período de tempo analisado, como o celibato, não são responsáveis pelo aumento ou redução dos casos de abuso nesse espaço de tempo”, acrescenta o documento, que salienta que “o estado de confusão facilitou os abusos”, assim como a reacção da hierarquia eclesiástica que não os soube resolver. O estudo contraria, assim, algumas das desculpas que foram sendo utilizadas pelo clero, que dizia que a Igreja tinha sido infiltrada por homossexuais e pedófilos. “A conclusão mais significativa desta informação é que não há uma mudança psicológica, de desenvolvimento ou comportamento, que diferencie os padres que abusaram de menores dos que não o fizeram. ”Vítimas indignadasConclusões que deixaram indignadas algumas associações que representam as vítimas de abusos que ocorreram no seio da Igreja. “Se há alguém a quem culpar é às dioceses e aos bispos que sabendo dos casos desses depravados os mandavam para outros colégios onde podiam continuar a cometer abusos. Nunca durante esses anos os entregaram à polícia ou aos tribunais. Esse estudo de Colégio de John Jay foi feito com informação autorizada pelos bispos. Não deram aos investigadores autoridade legal para entrevistar os abusadores e por isso chegaram a este tipo de conclusões ridículas. É um relatório pago pelos bispos, com informação dos bispos e que chega às conclusões que querem os bispos”, afirmou ao El Mundo Barbara Blaine, fundadora da Rede de Sobreviventes de Abusos por parte do Clero. De acordo com um estudo feito pela mesma instituição em 2004, entre 1950 e 2002 foram registadas nos Estados Unidos quase 11 mil denúncias de abusos sexuais contra o clero, sendo consideradas credíveis quase 7000. Só entre 2004 e 2008 a Igreja gastou quase 1500 milhões de euros em acordos extrajudiciais de indemnização às vítimas, serviços psiquiátricos para as vítimas e em litigação. Novas orientações do VaticanoA publicação do documento coincide com uma posição avançada esta semana pelo Vaticano, que ordenou aos bispos que levem à Justiça os membros do clero suspeitos de pedofilia e os impeçam de exercer funções que possam representar perigo para os menores. “O abuso sexual de menores não é apenas um delito no plano canónico. É também um crime que deve ser processado no plano civil”, referiu, numa carta circular, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal William Levada. O cardeal sublinhou a necessidade de “procedimentos claros e coordenados” contra “o abuso sexual de menores” e pediu aos bispos para os completarem. “A obrigação de dar uma resposta adequada aos casos de eventuais abusos sexuais cometidos sobre menores por clérigos na sua diocese está entre as importantes responsabilidades de um bispo diocesano”, sublinhou o cardeal, que deste modo confere aos bispos um papel central na luta contra a pedofilia.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime estudo sexual abuso
População portuguesa voltou a diminuir em 2012
Acentuando a tendência dos últimos anos, os nascimentos desceram em 2012 para menos de 90 mil. (...)

População portuguesa voltou a diminuir em 2012
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.4
DATA: 2013-10-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Acentuando a tendência dos últimos anos, os nascimentos desceram em 2012 para menos de 90 mil.
TEXTO: A população residente em Portugal voltou a diminuir, pelo terceiro ano consecutivo, como resultado do valor negativo do crescimento natural e do crescimento migratório, segundo mostram as Estatísticas Demográficas 2012 publicadas nesta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Confirmando as previsões e acentuando a tendência, os nascimentos voltaram a descer, ficando pela primeira vez abaixo dos 90 mil (89. 841). Foram menos 7, 2% do que em 2011, quando se registaram 96. 856 nascimentos, representando já nessa altura uma quebra em relação ao ano anterior. Por outro lado, em 2012, registaram-se 107. 612 óbitos de pessoas residentes em Portugal, um aumento de 4, 6% em relação a 2011. O crescimento natural foi, portanto, negativo: houve mais 17. 771 mortes do que nascimentos. O total de população residente em Portugal em 2012, segundo os dados do INE, era de 10. 487. 289 habitantes (10. 542. 398 em 2011). Manteve-se a tendência de envelhecimento demográfico, resultando da redução da população jovem (e em idade activa) e do aumento do número de pessoas idosas. Face à população residente, a proporção de jovens passou de 14, 9% em 2011 para 14, 8% em 2012. Já a proporção de pessoas idosas, com 65 anos ou mais, aumentou de 19% para 19, 4%. Ou seja, o índice de envelhecimento passou de 128 idosos por 100 jovens, em 2011, para 131 idosos por 100 jovens, em 2012. Menos nascimentosRelativamente à diminuição da natalidade, há dois pontos a salientar: o declínio da fecundidade e o adiamento da idade das mulheres no nascimento dos filhos. A idade média da mulher, no nascimento do primeiro filho, passou de 29, 2 para 29, 5 anos. Confirmou-se também a tendência de aumento dos nascimentos fora do casamento: 42, 8% em 2011 para 45, 6% em 2012. Em paralelo a esse número, está a diminuição dos casamentos que tem sido sistemática nos últimos anos. Realizaram-se 34. 423 casamentos em 2012 (324 dos quais entre pessoas do mesmo sexo), menos 1612 do que no em 2011. A idade média da mulher no primeiro casamento aumentou para 31, 4 anos (31 anos em 2011) e a idade do homem desceu de 29, 9 anos em 2011 para 29, 5 em 2012. Já os divórcios voltaram a descer: foram 25. 380 em 2012, menos 1371 que em 2011. A diminuição já se tinha verificado em 2011 – foi essa a primeira quebra desde 2005 – para a qual a crise foi apontada como uma das razões, entre outras. Contribuindo para a redução da população, está também o crescimento dos fluxos emigratórios. Em 2012, o número de emigrantes permanentes (51. 958) ultrapassou novamente o dos imigrantes permanentes (14. 606), resultando num saldo negativo. Quanto à emigração temporária, em 2012, estima-se que 69. 460 pessoas tenham saído do país com intenção de permanecer no estrangeiro por um período inferior a um ano.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho mulher homem sexo mulheres casamento
As crianças vão ouvir
Vem aí o fim da exclusão absurda na candidatura à adoção por casais casados ou unidos de facto. (...)

As crianças vão ouvir
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Vem aí o fim da exclusão absurda na candidatura à adoção por casais casados ou unidos de facto.
TEXTO: Não há muito a acrescentar ao debate sobre parentalidade e orientação sexual. Ao longo de mais de uma década, houve decisões importantes a nível europeu, houve conferências e livros e artigos de jornal e debates nas televisões e inúmeros estudos também em Portugal e mais-do-que-consensos científicos. Tudo partilhado não só no espaço público e mediático mas dentro do próprio Parlamento, em várias votações e sobretudo no longo processo que se seguiu à aprovação inicial da coadoção em 2013. E só na Europa houve Espanha e França e Reino Unido e Irlanda e Malta e Luxemburgo e Países Baixos e Bélgica e Suécia e Noruega e Finlândia e Dinamarca e Áustria e Islândia a avançarem nesta matéria. A questão já cansa, de tão óbvia. E nem era preciso justificar grande coisa, que quem discrimina e quem quer discriminar é que tem que explicar muito bem as razões fortes e atendíveis para o fazer. Não, claro que não consegue. Ao longo da última década, o máximo que conseguiram foi mesmo encomendar dois ou três estudos devidamente desacreditados, face a uma panóplia imensa de estudos transversais e longitudinais que justificam os consensos firmes em todas as áreas do saber que são relevantes para a questão. Sim, só sobra mesmo o preconceito. Isso é claro e tornou-se particularmente evidente na última legislatura, quando uma subitamente extrema-direita resolveu violar conscientemente obrigações internacionais de Direitos Humanos e impor a rejeição do óbvio. E pôr Portugal a par apenas da Rússia, Roménia e Ucrânia como modelos de violação de Direitos Humanos no campo da coadoção. A coadoção vinha proteger crianças. Não aconteceu por causa do superior interesse do preconceito. A vergonha foi histórica, o extremismo inédito. Agora vem aí a igualdade e vem para ficar. Esta semana, vem aí o fim da exclusão absurda na candidatura à adoção por casais casados ou unidos de facto. É difícil tentar perceber que haja quem ache um risco ter um casal do mesmo sexo a candidatar-se à adoção e a ser escrutinado pelos serviços especializados para que se perceba se está ou não apto a adotar uma criança sem família. E, na semana seguinte, vem aí o fim da exclusão absurda de mulheres solteiras e de casais de mulheres no acesso à inseminação artificial e demais técnicas de procriação medicamente assistida. É difícil perceber que em Espanha estas técnicas estejam disponíveis para qualquer mulher maior e capaz desde 1988 e que por aqui a maioridade e a capacidade das mulheres seja tão difícil de estabelecer. Se é tudo tão simples, o que falta acrescentar, então? Frisar o ponto mais importante: que as crianças estão aqui. É que haverá, sem dúvida, quem se disponha a fazer a figura da oposição à igualdade, porque ao longo da história houve sempre nomes que ficaram do lado errado. E é importante pelo menos lembrar-lhes que, mesmo que não queiram que existamos, as nossas famílias estão mesmo aqui, no nosso presente. Que há muitas crianças em Portugal que têm duas mães ou dois pais e que estão nas escolas e integradas na sociedade a todos os níveis. Que têm festas de aniversário, têm amigas e amigos, brincam nos parques, têm festas de pijama. Que veem televisão. Quem se opõe a estas famílias pode não querer ver estas crianças, mas as crianças vão sempre ver e ouvir essa oposição, que o telejornal não tem bolinha. Vale a pena falar disto porque são as nossas famílias que sabem que não há questão política mais pessoal que esta; e porque é a nós que nos cabe não deixar que ignorem, como já demonstraram querer fazer, as crianças que não têm que ver as suas famílias postas em causa. Esperemos por isso que do lado da direita haja desta vez pelo menos a liberdade para apoiar a igualdade, que foi tão limitada na última legislatura – e que deputadas e deputados possam evitar a vergonha histórica de terem os seus nomes associados à defesa do preconceito, tão difícil de explicar às gerações futuras, mas também às atuais. Mas esperemos também que quem se dispuser a fazer a função de se opor à igualdade tenha presente, na sua argumentação, que é mesmo preciso pôr as crianças primeiro e respeitar as suas famílias – as nossas famílias. É mais do que tempo de sabermos pensar em todas as crianças. É tempo de consciência, de reparação, de igualdade – e, finalmente, de responsabilidade. Vice-presidente da ILGA Portugal – Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos exclusão campo mulher violação criança sexo igualdade sexual mulheres gay vergonha bissexual lésbica
Número de emigrantes em 2012 foi superior ao total de nascimentos
Num só ano, mais de 120 mil portugueses deixaram o país. “São ordens de grandeza que nos atiram para os anos 60.” Os demógrafos avisam: é o futuro do país que está em causa. (...)

Número de emigrantes em 2012 foi superior ao total de nascimentos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 18 | Sentimento 0.125
DATA: 2013-10-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num só ano, mais de 120 mil portugueses deixaram o país. “São ordens de grandeza que nos atiram para os anos 60.” Os demógrafos avisam: é o futuro do país que está em causa.
TEXTO: A população portuguesa voltou a descer pelo terceiro ano seguido e o saldo migratório negativo foi um dos principais contributos para a quebra. Em resultado dos valores negativos do crescimento natural e do crescimento migratório, a população portuguesa voltou a diminuir, segundo as Estatísticas Demográficas de 2012 publicadas nesta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Se, por um lado, houve menos de 90 mil nascimentos, por outro houve cerca de 121 mil emigrantes temporários e permanentes. Confirmando as previsões e a tendência dos últimos anos, os nascimentos voltaram a descer, mas desta vez marcaram um recorde histórico ao ficar abaixo dos 90 mil (89. 841). Foram menos 7, 2% do que em 2011, quando se registaram 96. 856 nascimentos, representando nessa altura uma quebra em relação ao ano anterior, ao descer abaixo dos 100 mil. Quanto ao número de óbitos, registaram-se 107. 612 em 2012, um aumento de 4, 6%. Conclui-se que o crescimento natural foi, portanto, negativo: houve mais 17. 771 mortes do que nascimentos, uma diferença três vezes acima do que se tinha verificado em 2011. É precisamente nestes valores, ou “ordens de grandeza”, que está a novidade, porque as tendências já vêm dos últimos anos, explica Maria João Valente Rosa, demógrafa e directora da Pordata. A especialista sublinha que a diminuição dos nascimentos “não é de hoje” e que o número de óbitos se deve à população. “Há mais gente nas idades em que se morre mais”, conclui. Para além do valor negativo do crescimento natural (ou seja, da diferença entre nascimentos e óbitos), a grande novidade e o principal contributo para a diminuição da população está no saldo migratório. “Se muitos destes dados estavam inscritos a médio ou longo prazo, o saldo migratório não. Nos dois anos recentes, voltámos a uma situação anterior, com saldo migratório negativo, por efeito da imigração a diminuir e da emigração a aumentar”. Segundo os dados do INE, houve 121. 418 pessoas a sair de Portugal em 2012, número resultante da soma dos emigrantes permanentes e dos emigrantes temporários (pessoas com intenção de permanecer no estrangeiro por um período inferior a um ano). “São ordens de grandeza que nos atiram para os anos 60. Estão a sair mais pessoas do que as que nasceram”. Enquanto o número de emigrantes permanentes foi de 51. 958, os imigrantes permanentes ficaram-se pelos 14. 606. A saída massiva de pessoas e a fraca atractividade de Portugal actuam em conjunto. “É uma situação que nos obriga a pensar seriamente e tem a ver com o posicionamento do país face ao exterior. Está a perder pessoas porque muitas estão a sair e muitas já não estão a entrar”, acrescenta a directora da Pordata. Quem é que emigra?O aumento das saídas e a diminuição das entradas estão ligados à natalidade. “Quem é que emigra? A população jovem. Não só perdemos os nossos jovens, como não temos os imigrantes jovens. Isso acentua o envelhecimento e a descida da natalidade”, aponta Ana Fernandes, demógrafa e professora catedrática no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP). Também a directora da Pordata explica a ligação. “Quem tende a sair está em idade activa, que também é a idade mais fértil. E a outra questão é a percentagem de nascimentos de mães de outras nacionalidades: se esses imigrantes saírem, isso pode reflectir-se nos nascimentos. ”Quanto à diminuição da natalidade, há dois pontos a salientar: a acentuação do declínio da fecundidade e o adiamento da idade das mulheres no nascimento dos filhos. De acordo com a análise demográfica do INE, o decréscimo das taxas de fecundidade verificou-se em todos os grupos etários, com excepção do grupo entre os 45 e os 49 anos. O índice de fecundidade passou de 1. 35 para 1. 28 filhos por mulher. Essa é variável “mais preocupante”, segundo Ana Fernandes. “É um valor nunca antes registado, é baixíssimo. ” Por seu lado, segundo o INE, as alterações do comportamento face à fecundidade também se reflectem no aumento da idade média da mulher no nascimento do primeiro filho, que passou dos 29, 2 anos para os 29, 5 em 2012. “Actualmente, as mulheres são mães seis anos mais velhas do que eram no início dos anos 80”, refere Maria João Valente Rosa. Descida dos casamentos e divórciosEm linha com a tendência dos últimos anos está também o aumento do número de nascimentos fora do casamento. Foi o caso de 45, 6% dos bebés nascidos em 2012, um número directamente ligado à diminuição dos casamentos, sobretudo os casamentos católicos, nas últimas duas décadas. De acordo com o INE, houve menos 1612 do que em 2011 (realizaram-se 34. 423, dos quais 324 foram casamentos entre pessoas do mesmo sexo). Também os divórcios voltaram a descer: foram 25. 380 em 2012, menos 1371 que em 2011. A diminuição já se tinha verificado em 2011 — foi essa a primeira quebra desde 2005 — e a crise foi apontada como uma das razões. Como nota positiva, Maria João Valente Rosa aponta a esperança média de vida à nascença, que para o triénio 2010-2012, segundo o INE, foi de 76, 67 anos para os homens e de 82, 59 anos para as mulheres. Os números mostram a contínua tendência de envelhecimento demográfico, resultado do aumento do número de idosos e da diminuição da população jovem e em idade activa. Face à população residente, a proporção de jovens passou de 14, 9%, em 2011, para 14, 8%, em 2012, e a população em idade activa de 66% para 65, 8%. Já a proporção de idosos, com 65 ou mais anos, aumentou de 19% para 19, 4%. Ou seja, o índice de envelhecimento passou de 128 idosos por cada 100 jovens (em 2011) para 131 idosos por 100 jovens (em 2012).
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens imigração filho mulher sexo mulheres casamento
Prémio António Champalimaud de Visão 2013 para instituições nepalesas
Nas últimas três décadas, o Nepal viu os casos de cegueira diminuírem gradualmente graças ao trabalho de quatro instituições que, nesta quarta-feira, levam para casa o prémio português de um milhão de euros. (...)

Prémio António Champalimaud de Visão 2013 para instituições nepalesas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-09-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nas últimas três décadas, o Nepal viu os casos de cegueira diminuírem gradualmente graças ao trabalho de quatro instituições que, nesta quarta-feira, levam para casa o prémio português de um milhão de euros.
TEXTO: Em 1981, existiam apenas sete oftalmologistas para 15 milhões de nepaleses. A cegueira afectava cerca de 117 mil pessoas (0, 84% da população) devido à pobreza, má nutrição e falta de acesso a cuidados de saúde. Era este o cenário que se vivia no Nepal. Mas passadas três décadas, a cegueira afecta 93 mil pessoas (0, 35% da população), em 26 milhões de habitantes. Hoje, mais de 500 pessoas trabalham na saúde oftalmológica, em hospitais e centros de tratamento espalhados pelas 14 zonas administrativas do país. Grande parte desta melhoria deveu-se ao trabalho de quatro organizações não-governamentais: o Nepal Netra Jyoti Sangh, o Instituto Tilganga de Oftalmologia, o Programa de Cuidados Visuais da Região Leste e o Instituto Visual de Lumbini. Nesta quarta-feira, estas instituições receberam o Prémio António Champalimaud de Visão 2013, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, no valor de um milhão de euros pelo “trabalho humanitário e clínico” e pelo empenho “no combate a um flagelo preocupante num país em que as doenças da visão são uma catástrofe social”, lê-se num comunicado da fundação. O prémio vai ser dividido equitativamente pelas quatro organizações. O ano-charneira na luta contra a cegueira no Nepal, causada principalmente pelas cataratas, foi 1981. Nesse ano, com ajuda de dinheiro estrangeiro e helicópteros do Canadá, uma equipa andou a rastrear a população nepalesa, região após região, nos 147. 181 quilómetros quadrados que perfazem o Nepal – um país que tem uma vez e meia o tamanho de Portugal, mas está apertado entre os dois gigantes asiáticos, a Índia e a China. “Com os helicópteros, fizemos este rastreio para todo o país e ficámos a conhecer a magnitude da cegueira do Nepal”, explica ao PÚBLICO Ram Prasad Pokhrel, médico oftalmologista, que esteve na génese do Nepal Netra Jyoti Sangh (NNJS), em 1980, também conhecida por Sociedade Nacional para os Cuidados Visuais Completos. Hoje, com 76 anos, é o patrono da organização. Com o apoio da Organização Mundial da Saúde e de organizações não-governamentais – como a Seva Canadá e Seva Estados Unidos, que surgiram no rescaldo da erradicação da varíola, quando se compreendeu que a cegueira era um dos mais graves problemas de saúde que poderiam facilmente tratar-se ou evitar-se –, Ram Prasad Pokhrel ajudou a criar um programa para erradicar a cegueira no seu país. Na década de 1980, os grandes desafios no combate da cegueira eram a falta de infra-estruturas e de recursos humanos, o manpower, como lhe chama Ram Prasad Pokhrel, que antes de voltar para o Nepal em 1971, aos 34 anos, esteve dez anos em Inglaterra a aprender o seu ofício. Na altura, interrogava-se sobre o que fazer à sua vida, se deveria voltar para a terra natal para tentar resolver os problemas médicos do seu país, ou manter-se no mundo ocidental. Passados 42 anos do regresso ao Nepal, o panorama do país é bastante diferente. Após o rastreio nacional de 1981, o plano de combate passou pela formação de profissionais como médicos e paramédicos na área de oftalmologia e, ao mesmo tempo, pela construção de hospitais e de centros médicos em cada zona do Nepal. Para isso, houve uma política captar a ajuda internacional. "Cada zona do Nepal era apoiada por um país. O Japão ficou com uma zona, a Holanda com outra…”, conta o médico. Em cada zona, o país-padrinho construiu um hospital ou um centro de tratamentos e formou pessoas. “Assim que cada estrutura ficou pronta, os nepaleses tomaram conta da gestão destes centros”, explica Ram Prasad Pokhrel. Agora, o plano da NNJS, que funciona como chapéu para os hospitais e institutos que diariamente lutam pelo direito à visão naquele país, é baixar ainda mais a cegueira, para 0, 2% na população. “Estamos muito satisfeitos com este prémio. Com o dinheiro, podemos criar um novo centro de tratamentos em Katmandu [capital do Nepal] e ajudar a erradicar a cegueira em locais mais remotos. ”Operação a sete euros para os mais pobres Parte dos Himalaias estão no Nepal, por isso o país tem uma topografia acidentada. Apesar de existirem hoje 14 hospitais e 50 centros de oftalmologia, há muitas pessoas cegas ou com problemas de visão que continuam sem conseguir dirigir-se a um destes centros. Salma Rai, médica e directora do Instituto Visual de Lumbini, conhece bem esta situação. Este instituto nasceu em 1983 com apenas duas salas e um oftalmologista, na região ocidental do país, junto da fronteira com a Índia. Hoje trata anualmente cerca de 35. 000 pessoas com cataratas, muitas delas provenientes do país vizinho, além de formar oftalmologistas e assistentes. Mas continua a fazer missões em aldeias remotas sem acesso a um centro de cuidados oftalmológicos. “Escolhemos uma região no país, publicitamos a nossa visita com uma semana de antecedência. A equipa faz uma avaliação dos doentes e, naqueles em que identificamos cataratas, operamo-los lá”, explica-nos Salma Rai. A médica, de 40 anos, nasceu em Baglung, uma vila no meio do país a 1000 metros de altitude e a 275 quilómetros a oeste de Katmandu. Na altura, as mulheres não costumavam ir à escola, mas o pai de Salma Rai fez questão que ela fosse educada e estudasse medicina para ajudar a tratar os pobres de Baglung. “Algumas pessoas caminham durante dois ou três dias até aos nossos acampamentos”, conta Salma Rai. “Vi pessoas com cegueira bilateral, cegas há dois, três, talvez sete anos. A vida deles é horrível, isto é um fardo social para aquelas famílias, há sempre alguém que tem de tomar conta destas pessoas. ”O Instituto Visual de Lumbini tem apoio de várias organizações internacionais, e agora também conta com algum financiamento do Governo. Com o dinheiro do prémio, a médica quer fazer um centro de tratamento para crianças e apostar na investigação científica. “O prémio é fantástico, podemos usar o dinheiro nas pessoas com necessidades. ”Os outros dois casos de sucesso são o Instituto Tilganga de Oftalmologia e o Programa de Cuidados Visuais da Região Leste. O primeiro serve a região do Vale de Katmandu, bem como as populações de locais montanhosos mais remotos. O segundo envolve dois hospitais: o Hospital Visual Sagamartha Choudhary, que fica em Lahan, na região Leste do país, já perto da fronteira com a Índia; e o Hospital Visual de Biratnagar, a segunda maior cidade do Nepal, que fica a 140 quilómetros a leste de Lahan, também perto da fronteira. O hospital de Lahan, uma zona mais rural, foi o primeiro a nascer, em 1983, numa altura em que “não havia electricidade, nem gerador no hospital”, conta-nos por sua vez Sanjay Kumar Singh, médico e director Hospital Visual de Biratnagar, criado em 2006. Hoje, estes dois hospitais tratam 100. 000 cataratas por ano, cerca de 70 a 80% dos doentes vêm da Índia. Aqueles que têm pouco dinheiro pagam pela operação apenas sete euros. Na cerimónia da entrega do galardão, o Presidente da República Cavaco Silva, considerou que graças a este prémio, o bem que estas organizações estão a fazer pela saúde oftalmológica dos nepaleses “levará, de algum modo, a marca de Portugal”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola humanos ajuda social mulheres pobreza
Em Nova Iorque Gaga é ícone de moda, no Líbano não a querem ouvir
Na mesma altura que Lady Gaga foi distinguida em Nova Iorque como “Ícone de Moda”, o seu último álbum “Born This Way” foi banido no Líbano. (...)

Em Nova Iorque Gaga é ícone de moda, no Líbano não a querem ouvir
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2011-06-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na mesma altura que Lady Gaga foi distinguida em Nova Iorque como “Ícone de Moda”, o seu último álbum “Born This Way” foi banido no Líbano.
TEXTO: O álbum, que em apenas uma semana atingiu a marca de um milhão de discos vendidos e subiu directamente para os tops de Londres a Tóquio, foi banido no Líbano por ser considerado ofensivo. As autoridades libanesas já retiraram do mercado e recolheram todos os discos da cantora que chegaram ao país. Esta é a segunda vez que a excêntrica artista é banida neste país, já em Abril, o seu single “Judas”, que foi muito criticado por vários grupos católicos, foi proibido de passar nas rádios libanesas. As autoridades libanesas alegam que o novo disco de Lady Gaga é “demasiado ofensivo para o Cristianismo”. “Os distribuidores estão proibidos de circular meios que divergem da decência pública e moralidade, ou que mexam com crenças nacionalistas ou religiosas. ”Este não é um problema novo para Lady Gaga, o single “Born This Way” também já tinha sido banido na Malásia. Em Março, várias estações de rádio do país do sudeste asiático censuraram a letra da canção por “promover a homossexualidade”. Irreverente como sempre, Lady Gaga não dá ouvidos às críticas e continua a somar pontos em todas as frentes. Na música, a venda do seu álbum continua a disparar e até já na moda a artista é distinguida. A CFDA Fashion Awards premiou a artista com o galardão de Ícone de Moda, segundo o júri, por ser “uma revolucionária da moda”. Lady Gaga surgiu na cerimonia com uma peruca verde e um vestido curto à frente mas com uma enorme cauda na parte de trás. Nos pés, a cantora voltou a apresentar os seus sapatos que têm 25 cm de altura.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
BoJack, o cavalo deprimido que fala, na era #MeToo
Os 12 episódios da quinta temporada de BoJack Horseman, a série animada do Netflix sobre um actor que foi grande nos anos 1990, foram lançados esta sexta-feira. (...)

BoJack, o cavalo deprimido que fala, na era #MeToo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Animais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-09-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os 12 episódios da quinta temporada de BoJack Horseman, a série animada do Netflix sobre um actor que foi grande nos anos 1990, foram lançados esta sexta-feira.
TEXTO: Nos anos 1990, o cavalo BoJack Horseman era a estrela da sua própria sitcom, em que tinha de fazer de pai para crianças abandonadas. Horsin’ Around foi um êxito enorme, mas não o fez feliz. Passou os anos que se seguiram ao final da série sem a atenção que tinha tido na altura, a beber e a ficar cada vez mais deprimido. É essencialmente esta a premissa da série animada BoJack Horseman, que se passa numa Hollywoo (o “D” foi roubado por BoJack num episódio e a cidade mudou de nome: a preocupação com a continuidade é grande aqui) onde animais antropomórficos convivem com seres humanos. A quinta temporada desta comédia do Netflix foi lançada esta sexta-feira. Os novos episódios mantêm aquilo que sempre caracterizou a criação de Raphael Bob-Waksberg com os desenhos de Lisa Hanawalt: uma alternância entre momentos mais tristes e profundos de tragédia, com muito de novo para dizer sobre a condição humana e as relações, e comédia que vai dos trocadilhos mais básicos às piadas mais inteligentes, muitas delas sobre cultura pop, com gags visuais e muito de absurdo pelo meio. Isto além de episódios que fogem ao formato normal da série e, claro, numerosas vozes famosas, algumas a fazerem delas próprias. Desta feita, nomes como Laura Linney, Stephanie Beatriz, Rami Malek, Whoopi Goldberg, Issa Rae, Wanda Sykes, John Leguizamo, Eva Longoria, Angela Bassett, Daveed Diggs ou Brian Tyree Henry juntam-se ao elenco-base, que inclui Will Arnett como BoJack, Alison Brie como a sua amiga Diane, Aaron Paul como Todd, o amigo assexual de BoJack, a sempre hilariante Amy Sedaris como Princess Carolyn, um gato persa que é a agente e ex-namorada do protagonista, e o cómico de stand-up e rei dos podcasts Paul F. Tompkins como Mr. Peanutbutter, um labrador que é actor e rival de BoJack e está a finalizar o divórcio de Diane. Esta quinta época é a primeira depois de o movimento #MeToo ganhar fôlego. Não muda radicalmente a mecânica da série, que praticamente desde o início dedica episódios ao modo como os homens poderosos da indústria do entretenimento se safam dos seus abusos, mas esta leva de 12 episódios entra nessas questões ainda mais profundamente, com o protagonista no centro de tudo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No quarto episódio, por exemplo, há uma personagem com semelhanças com Mel Gibson a quem tudo é perdoado – há literalmente uma cerimónia de prémios para perdoar estrelas de Hollywoo. E BoJack, que tem o seu próprio passado sombrio, é aplaudido como um grande feminista pelas suas declarações a condenar esse actor. Tudo sem fazer o mínimo de esforço e sem dizer o que quer que seja de novo ou que numerosas mulheres não digam. Ao mesmo tempo, BoJack está a filmar uma nova série policial, que é vendida como uma desconstrução da masculinidade tóxica, mas que poderá apenas perpetuá-la e glorificá-la. BoJack Horseman debate-se com isso, com o papel da arte na normalização, para o bem e para o mal – e dá exemplos concretos, como Ellen Degeneres a normalizar a homossexualidade para o interior da América no campo do bem e Jimmy Fallon a normalizar fazer playback na televisão no campo do mal. E não se demarca disso, com plena consciência de que a própria série, que se centra num tipo viciado, narcisista e que provavelmente tem muitos casos #MeToo no currículo, poderá contribuir de alguma forma para humanizar pessoas assim e fazê-las sentirem-se melhores. Tudo isto enquanto continua a ter muita piada e argumenta que somos todos capazes do bem e do mal, o que não é nada fácil. É mais uma temporada de uma das melhores séries da actualidade. Lisa Hanawalt, a ilustradora e criadora de BD que desenhou as personagens e os cenários, está a preparar uma nova série animada para o Netflix, Tuca & Bertie, criada e escrita por ela, algo que não acontece em BoJack. Terá as vozes de Tiffany Haddish e Ali Wong, duas cómicas que são verdadeiras forças da natureza, encarnando uma tucana e uma ave canora. Raphael Bob-Waksberg produzirá. Ainda não há data para a estreia, mas deverá vir antes da próxima época de BoJack Horseman. Mal podemos esperar.
REFERÊNCIAS:
O Urso de Ouro de Berlim foi para a Hungria e a melhor curta é portuguesa
Embora Colo de Teresa Villaverde não tenha tido nenhum prémio, Portugal não saiu do certame de mãos a abanar. (...)

O Urso de Ouro de Berlim foi para a Hungria e a melhor curta é portuguesa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.433
DATA: 2017-02-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Embora Colo de Teresa Villaverde não tenha tido nenhum prémio, Portugal não saiu do certame de mãos a abanar.
TEXTO: On Body and Soul de Ildiko Enyedi é o vencedor da 67. ª edição do festival alemão, que premiou ainda Aki Kaurismäki, Alain Gomis e Agnieszka Holland. Diogo Costa Amarante é o terceiro realizador português a trazer para casa o Urso de Ouro das curtas, por Cidade Pequena. Embora Colo de Teresa Villaverde não tenha levado nenhum prémio — e a própria realizadora confessara ao PÚBLICO não o esperar —, Portugal não saiu de mãos a abanar do certame. Pelo contrário: pelo segundo ano consecutivo, o Urso de Ouro das Curtas é um filme português — depois de Balada de Um Batráquio de Leonor Teles em 2016, é a vez de Diogo Costa Amarante com Cidade Pequena, naquela que é a segunda passagem do realizador português em Berlim após As Rosas Brancas em 2014. Uma vitória tanto mais surpreendente quanto esta modesta produção sobre os ecos da infância era uma das poucas curtas do programa que já tinha circulado por outros festivais. Costa Amarante é o terceiro cineasta português a receber o prémio máximo das curtas de Berlim na última década, depois de Leonor Teles e João Salaviza (por Rafa em 2012). Outra das quatro curtas portuguesas a concurso, Os Humores Artificiais de Gabriel Abrantes, recebeu a nomeação do júri berlinense para os Prémios Europeus de Cinema. A 67. ª edição da Berlinale entregou o Urso de Ouro ao filme húngaro de Ildiko Enyedi On Body and Soul. O júri presidido pelo realizador holandês Paul Verhoeven atribuiu o Grande Prémio do Júri a Félicité, do franco-senegalês Alain Gomis; Aki Kaurismäki foi o melhor realizador por The Other Side of Hope, e os prémios de representação foram para a coreana Kim Min-hee e para o austríaco Georg Friedrich. Portugal, que estava a concurso com Colo de Teresa Villaverde, traz para casa o Urso de Ouro das curtas-metragens, pelo segundo ano consecutivo, com Cidade Pequena de Diogo Costa Amarante. O júri de Verhoeven, completado pelas actrizes Julia Jentsch e Maggie Gyllenhaal, pela produtora Dora Bouchoucha Fourati, pelo actor Diego Luna, pelo artista Olafur Eliasson e pelo cineasta Wang Quan’an, não hesitou em esquivar-se às previsões dos observadores. On Body and Soul, romance surreal entre dois funcionários de um matadouro de Budapeste que dão por si partilhando sonhos, foi o primeiro dos 18 filmes a concurso a ser exibido e um dos que mais dividiram a crítica e os observadores; é o primeiro filme em 15 anos da húngara Ildiko Enyedi, vencedora da Câmara de Ouro em Cannes em 1999 por O Meu Século XX, e recebeu igualmente os prémios do Júri Ecuménico e do Júri Fipresci da Associação Internacional de Críticos de Cinema. O favorito da crítica, The Other Side of Hope do finlandês Aki Kaurismäki, que vive parte do ano em Portugal, recebeu o Urso de Prata para melhor realização. Fiel à sua reputação de excentricidade, o realizador não subiu a palco e ficou no seu lugar na plateia do Berlinale Palast, fazendo vénias aos seus actores e ao público. Foram Dora Fourati e Dieter Kosslick que tiveram de lhe vir entregar o galardão ao lugar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os prémios de interpretação foram para a sul-coreana Kim Min-hee, actriz em recuperação de um affaire romântico na mais recente miniatura de Hong Sang-soo, On the Beach at Night Alone, e para o austríaco Georg Friedrich, engenheiro que reaprende a lidar com o filho durante uma viagem à Noruega para enterrar o pai em Bright Nights do alemão Thomas Arslan. As escolhas fizeram notar a ausência do palmarés da transexual Daniela Vega, cuja interpretação “faz” Una Mujer Fantástica. O Grande Prémio do Júri coube a Félicité, onde Alain Gomis acompanha as tribulações de uma cantora de Kinshasa e da sua família; o prémio para melhor contribuição artística foi entregue à montadora do filme romeno Ana, mon Amour, Dana Bunescu. Por uma vez, este foi um palmarés que não carregou excessivamente na política — falou-se mais dela durante a cerimónia do que nos filmes premiados. Ao entregar o prémio para melhor documentário ao filme do palestiniano Raed Andoni Ghost Hunting, uma reconstrução dos interrogatórios israelitas a prisioneiros palestinianos na prisão de Moskobiya, Laura Poitras, realizadora de Citizenfour e membro do júri de documentário, citou a acusação de Donald Trump de a “imprensa ser inimiga do público”: “Nós somos inimigos do nacionalismo e da exclusão. ” A polaca Agnieszka Holland, ao receber o Prémio Alfred H. Bauer para “um filme que abre novas perspectivas ao cinema” pelo seu bizarro (e muito mal recebido) thriller ecológico Spoor, disse: “Vivemos em tempos difíceis e precisamos de filmes corajosos. ” Sebastián Lelio e Gonzalo Maza, vencedores do Urso de Prata de melhor argumento por Una Mujer Fantastica, falaram da necessidade do amor para lutar contra o medo e contra a escuridão. E o director do festival, Dieter Kosslick, evocou o jornalista alemão Deniz Yucel, que foi ontem preso na Turquia.
REFERÊNCIAS:
“A cultura de limpeza social ainda é fortíssima no Brasil”
Ao longo de décadas, o Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, tratou doentes como animais. Este hospício era como “um campo de concentração nazi”, denunciaram médicos nos anos 1980. Mais de 30 anos depois, a jornalista Daniela Arbex foi à procura dos sobreviventes para lhes dar voz. (...)

“A cultura de limpeza social ainda é fortíssima no Brasil”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Animais Pontuação: 5 | Sentimento 0.298
DATA: 2014-05-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao longo de décadas, o Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, tratou doentes como animais. Este hospício era como “um campo de concentração nazi”, denunciaram médicos nos anos 1980. Mais de 30 anos depois, a jornalista Daniela Arbex foi à procura dos sobreviventes para lhes dar voz.
TEXTO: Quando entravam no Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, os pacientes eram despidos da sua capa de pessoas, tiravam-lhes os nomes, cortavam-lhes os cabelos, passavam a ser animais. Não ficavam apenas nus fisicamente, como vemos nas fotografias e “ouvimos” nos relatos dos sobreviventes no livro Holocausto Brasileiro, da jornalista Daniela Arbex, editado em Portugal pela Guerra & Paz: uma mãe que se barra com fezes para proteger o filho que traz na barriga, pessoas a beber água do esgoto e a comerem ratos, corpos de doentes deitados em palha e cobertos de moscas, uma multidão nua, no terraço, mulheres mantidas em celas como aves…Há várias cenas relatadas no livro que impressionam, e remetem para a ideia de genocídio. Passando em revista as imagens de época do fotógrafo Luiz Alfredo, que em 1961 foi dos primeiros a testemunhar o “campo de concentração nazi” em que se transformou o maior hospício no Brasil, como foi descrito, fica a pergunta imediata: como foi possível?Segundo as estimativas, houve 60 mil mortes às mãos deste hospício, e a maioria dos internados nem sequer tinha diagnóstico de doença mental, eram deserdados sociais: prostitutas, homossexuais, epilépticos… Durante onze anos, 1853 corpos de pacientes foram vendidos a 17 faculdades de medicina, e pelo menos 30 bebés foram roubados às suas mães, relata Daniela Arbex no livro. Fundado em 1903, transformado em Centro Hospital Psiquiátrico em 1980, o hospício de Colônia e o que lá se passava foi denunciado várias vezes ao longo dos anos: pelas reportagens de Luiz Alfredo em 1961, e de Hiram Firmino e Jane Faria em 1979, pelo documentário de Helvécio Ratton no mesmo ano, pelas tomadas de posição públicas do psiquiatra italiano Franco Basaglia em 1979, dos psiquiatras brasileiros Francisco Paes Barreto (em 1966 e 1972) e Ronaldo Simões Coelho (em 1972)…Mas Daniela Arbex, a autora e jornalista que fez a investigação para o jornal Tribuna de Minas, decidiu ouvir os sobreviventes e dar-lhes voz, e isso é o que distingue este trabalho das denúncias anteriores, considera a própria. A jornalista tem viajado por vários países para falar do seu trabalho, incluindo congressos de saúde mental. A série de 2012 que deu origem ao livro publicado em Junho de 2013 valeu-lhe várias distinções, como o prémio Esso 2012. O impacto no Brasil foi “imenso”, diz num hotel em Lisboa esta mulher que se emociona a falar do livro e das personagens que entrevistou e que no final nos pergunta se as respostas que deu “estavam bem”. Tudo começou em 2009 quando viu pela primeira vez as fotos de Luiz Alfredo num livro editado por essa altura. “Fiquei completamente chocada: ‘meu Deus, o que é que é isso, que história é essa?’”Durante dois anos tentou convencer o jornal a fazer “a matéria”, até que em 2011 sugeriu procurar os mesmos sobreviventes 50 anos depois e entrevistá-los. Tinha acabado de regressar de licença de maternidade e ainda estava a amamentar o filho, algo “emocionalmente muito difícil”, porque “saía de casa e me sentia a pior das mães”. Depois, quando a série de reportagens saiu “foi realmente avassalador”. Decidiu então escrever o livro, que já vendeu 60 mil exemplares, e foi, segundo diz, adoptado por faculdades, e escolas secundárias. Depois da sua publicação, o estado “injectou 10 milhões de reais no hospital”. Depois da leitura do seu livro há uma pergunta que não nos larga: nunca se apurou a responsabilidade pelas mortes dessas pessoas e pela forma como foram tratadas?É muito difícil pensar numa responsabilização individual, porque foi um crime cometido durante oito décadas. Em oito décadas passaram [por lá] centenas de funcionários, de médicos, [houve] 28 governantes na presidência do Brasil. Quem responsabilizar? Isso é também fruto de uma omissão colectiva da sociedade brasileira, não adianta falar só dos governos. O maior responsável é o governo brasileiro porque tinha a custódia dessas pessoas, a responsabilidade de tutorar e oferecer atendimento digno. O governo falhou gravemente, mas a sociedade também: as famílias que deixaram os filhos, os parentes e nunca mais voltaram, os médicos que trabalharam lá e viram isso e não conseguiram fazer alguma coisa, os próprios funcionários, os próprios moradores de Barbacena que conviviam com o hospício. As pessoas diziam, e acredito: ‘a gente não sabia o tamanho da tragédia’. Muitas pessoas que entrevistei, no começo, se colocavam na defensiva, e no final da entrevista, mais relaxadas, percebiam que podiam ter feito alguma coisa - isso aconteceu em quase todas as entrevistas, era quase uma confissão.
REFERÊNCIAS: