Brett Kavanaugh, um juiz criado pelos conservadores para chegar ao Supremo
A escolha do Presidente Trump para substituir o juiz Anthony Kennedy empurra o tribunal para uma maioria de direita. E tem um bónus: Kavanaugh é contra as investigações a Presidentes em exercício. (...)

Brett Kavanaugh, um juiz criado pelos conservadores para chegar ao Supremo
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: A escolha do Presidente Trump para substituir o juiz Anthony Kennedy empurra o tribunal para uma maioria de direita. E tem um bónus: Kavanaugh é contra as investigações a Presidentes em exercício.
TEXTO: Quando o juiz Anthony Kennedy anunciou que ia reformar-se do Supremo Tribunal norte-americano, há menos de um mês, o Presidente Donald Trump viu cair-lhe no colo uma oportunidade para oferecer aos conservadores o sonho de uma vida: aproveitar essa substituição forçada para virar o Supremo à direita de uma forma tão marcada como já não se via desde os anos 30. O primeiro passo foi dado na noite de segunda-feira com a nomeação de Brett Kavanaugh, um juiz de 53 anos criado numa incubadora de juízes conservadores lançada nos finais da década de 1980, atirado para a ribalta durante o processo de impeachment do Presidente Bill Clinton e apoiado pelos defensores da posse de armas e da luta contra o aborto. O segundo passo é mais complicado, porque não depende apenas da Casa Branca. Como a nomeação tem de ser confirmada pelo Senado, e como o Partido Republicano tem apenas 50 senadores para votar (devido à ausência de John McCain, por doença), contra 49 do Partido Democrata, o anúncio de Trump marcou também o início de uma corrida contra o tempo. Se os republicanos não se conseguirem organizar até Novembro, e se os democratas recuperarem a maioria no Senado nas eleições desse mês, o sonho dos conservadores pode vir a ser adiado. Na segunda-feira à noite, durante a apresentação do juiz Kavanaugh em directo para todo o país, a partir da maior sala da Casa Branca, Donald Trump recordou um dos poucos antecessores que costuma apontar como exemplo, dizendo que a sua escolha respeita "o legado do Presidente Reagan". "Eu não faço perguntas sobre as opiniões pessoais de um nomeado. O que interessa não é a opinião política de um juiz, mas sim se ele consegue pôr de lado essa opinião para fazer o que a lei e a Constituição exigem. Tenho o prazer de dizer, sem qualquer dúvida, que encontrei uma pessoa dessas. "Quanto tomou a palavra, o juiz Brett Kavanugh elogiou o seu antecessor, Anthony Kennedy, e esforçou-se por se apresentar como um homem respeitador da diversidade. Lembrou que a mãe, Martha Kavanaugh, foi professora em duas escolas públicas "de maioria afro-americana" nas décadas de 1960 e 1970; disse que, como juiz, a maioria dos seus assistentes "têm sido mulheres"; e agradeceu à reitora que o contratou para dar aulas na Harvard Law School: Elena Kagan, uma juíza do Supremo nomeada pelo Presidente Barack Obama em 2010. Mas o currículo de Kavanaugh dispensa apresentações, tanto para os seus defensores como para os seus críticos. Nas últimas duas décadas, este juiz nascido na capital dos EUA tem deixado atrás de si uma montanha de decisões que o definem como alguém muito mais conservador do que o homem que vai substituir. Anthony Kennedy foi nomeado por Reagan em 1987 como conservador, mas foi fugindo para o centro e acabou por assumir o papel de árbitro entre os quatro colegas mais conservadores e os outros quatro mais liberais. Com a saída de Kennedy e a entrada de Kavanaugh (se o Senado confirmar a nomeação), o Supremo deixa de assentar no centrismo de Kennedy em questões como o aborto, o casamento gay, a pena de morte ou o que ainda resta das leis de discriminação positiva. Esse equilíbrio foi abalado pela nomeação do juiz Neil Gorsuch no ano passado, após a morte de Antonin Scalia, e pode mesmo desabar se Kavanaugh for confirmado – Gorsuch substitui um juiz igualmente conservador, o que manteve o equilíbrio, mas Kavanaugh vai substituir um juiz mais ao centro, o que desequilibra a balança para o lado dos conservadores. Ainda que tenha sido nomeado por um Presidente conservador, Anthony Kennedy veio a ser decisivo para a manutenção do direito ao aborto como lei nacional, em 1992, e para a decisão de que o direito ao casamento se estende aos casais do mesmo sexo, em 2015. No mesmo ano, juntou-se mais uma vez aos seus colegas liberais numa crítica da prisão em regime de solitária, e em outras ocasiões ajudou a aprovar restrições à pena de morte. As decisões do seu substituto, Brett Kavanaugh, sobre casos relacionados com o aborto, por exemplo, são vistas pelo Partido Democrata como sinais de que o juiz nomeado por Trump irá aliar-se aos seus quatro colegas conservadores para reverter – ou esvaziar – a legalização do aborto. No ano passado, Kavanaugh negou o pedido de uma imigrante adolescente para abortar, mas os argumentos que usou deixaram também os conservadores um pouco incomodados – ao contrário de outros colegas conservadores que participaram na mesma decisão, Kavanaugh não disse que a imigrante adolescente não tem o direito constitucional a interromper a gravidez. Contas feitas, a saída de Kennedy e a possível entrada de Kavanaugh "vai alterar de forma fundamental o equilíbrio do tribunal e deixar em risco dezenas de precedentes", escreve o New York Times. É difícil dizer se as grandes decisões sobre o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou outras questões que têm dividido conservadores e liberais vão regressar ao Supremo, mas é quase certo que os vários grupos de interesse vão lutar para que partes dessas leis sejam reavaliadas – deixando-as esvaziadas e, na prática, ineficazes. E há outro aspecto que leva o Partido Democrata a querer barrar a nomeação de Kavanaugh com todas as suas forças. Apesar de ter sido um dos principais relatores do famoso relatório Starr, que levou ao impeachment do Presidente Bill Clinton em finais de 1998, Brett Kavanaugh disse em 2009 que os Presidentes deviam estar "isentos de acusações e investigações criminais enquanto em exercício, incluindo interrogatórios por procuradores criminais". Uma opinião que será certamente debatida durante o processo de confirmação no Senado, numa altura em que o Presidente Trump é alvo de uma investigação conduzida pelo procurador especial Robert Mueller sobre suspeitas de obstrução da Justiça e conluio com o Governo russo. "Acredito que os Presidentes devem ser dispensados de alguns dos fardos da cidadania comum enquanto estão em exercício. Não devemos sobrecarregar um Presidente em exercício com processos civis, investigações criminais ou acusações criminais", escreveu Brett Kavanaugh num artigo publicado em 2009 na publicação Minnesota Law Review. Se o Senado confirmar a nomeação de Kavanaugh, o Supremo passa a ser dominado por juízes conservadores de uma forma tão marcada como já não se via desde a década de 1930, disse ao New York Times Curt Levey, presidente do grupo conservador Comittee for Justice. Levey e outras figuras da direita norte-americana salientam os esforços que os conservadores desenvolveram desde a década de 1980 para que os EUA tenham agora uma geração de juízes garantidamente conservadores – antes disso, à imagem do que aconteceu com o juiz Anthony Kennedy, vários juízes nomeados por Presidentes republicanos acabavam por tomar muitas decisões alinhadas com os liberais. "Eles têm lutado contra essa tendência nos últimos 30 anos, e o anúncio feito esta noite é um grade passo na direcção certa. É a primeira vez que podemos dizer que temos mesmo um tribunal conservador, pelo menos desde a década de 1930", disse Curt Levey. E é provável que o Presidente Trump venha a ter pelo menos mais uma oportunidade para reforçar o grupo de conservadores no Supremo, uma hipótese que ganhará ainda mais força se for reeleito em 2020. Com a saída do conservador Anthony Kennedy, de 81 anos, os dois juízes mais velhos são liberais – Ruth Ginsburg, de 85 anos, e Stephen Breyer, de 79. No grupo dos cinco conservadores, contando já com Brett Kavanaugh, o mais velho é Clarence Thomas, 70, e dois deles estão abaixo dos 53 anos. Num ambiente tão polarizado como o que se vive no Congresso americano, seria de esperar que todos os senadores do Partido Republicano aprovassem a nomeação de Kavanaugh, e que todos os do Partido Democrata votassem contra. Mas as contas dos senadores dos dois lados não se resumem a fidelidades partidárias, nem todos têm doses iguais de conservadorismo – uma equação que se complica ainda mais em ano de eleições. Desde o ano passado, por iniciativa do Partido Republicano, um juiz do Supremo pode ser confirmado com uma maioria simples de 51 – antes disso era preciso uma maioria de 60 em 100. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este ano, os republicanos têm apenas 50 dos seus 51 senadores no activo porque John McCain continua afastado por doença. Isto deixa dois caminhos para a aprovação de Kavanaugh: ou o partido mantém unidos os seus 50 senadores, ou vai buscar ao Partido Democrata os votos de que precisa para anular possíveis dissidências. Apesar das dificuldades esperadas, ambos os caminhos são viáveis. No lado republicano há pelo menos três senadores em dúvida – Lisa Murkowski (Alasca) e Susan Collins (Maine) porque são apoiantes do direito ao aborto, e Rand Paul (Kentucky) e Jeff Flake (Arizona) que, por razões distintas, já se opuseram a nomeações do Presidente Trump. Mas no lado democrata também é provável que não haja unanimidade – Joe Manchin (Virgínia Ocidental), Joe Donnelly (Indiana) e Heidi Heitkamp (Dakota do Norte) aprovaram no ano passado a nomeação do juiz Neil Gorsuch e estão envolvidos este ano em lutas pela reeleição em estados onde Trump esmagou Clinton nas eleições presidenciais de 2016.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Senadores dão luz verde para a votação da nomeação de Brett Kavanaugh
Cinquenta e um senadores votaram a favor de se passar à fase final do processo de nomeação - 49 votaram contra. Só com uma "grande" surpresa não se tornará juiz do Supremo Trubunal, cargo vitalicio. (...)

Senadores dão luz verde para a votação da nomeação de Brett Kavanaugh
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-10-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cinquenta e um senadores votaram a favor de se passar à fase final do processo de nomeação - 49 votaram contra. Só com uma "grande" surpresa não se tornará juiz do Supremo Trubunal, cargo vitalicio.
TEXTO: Actualização: A senadora republicana Susan Collins anunciou esta sexta-feira que votará a favor da nomeação de Kavanaugh para o Supremo Tribunal. O seu voto deixa praticamente garantida a nomeação do juiz. O Presidente norte-americano, Donald Trump, já publicou um tweet em que congratula o Senado pelo voto positivo. A não ser que surja uma “grande” surpresa, o juiz conservador Brett Kavanaugh vai ocupar um lugar no Supremo Tribunal dos Estados Unidos. E por muito tempo — nomeação é vitalícia e o magistrado tem 53 anos. Nesta sexta-feira, o Senado fez a votação preliminar sobre o candidato, que foi aprovado por 51 votos a favor e 49 contra. O que quer dizer que a votação final pode avançar, prevendo-se que aconteça já neste sábado, também no Senado. Apesar da polémica, das dúvidas de alguns senadores do Partido Republicano e dos protestos — perto de 300 pessoas foram detidas na quinta-feira à noite em Washington numa manifestação contra o juiz junto ao Capitólio de Washington —, espera-se uma votação semelhante. O senador republicano Jeff Flake, que no debate no Comité de Justiça — o órgão que dá aprovação aos nomeados — manifestara dúvidas e pediu uma investigação do FBI (a polícia federal) às acusações de tentativa de violação e abuso sexual feitas contra Kavanaugh, votou a favor da confirmação nesta sexta-feira e disse ao The Washington Post que fará o mesmo sábado. A não ser que apareça uma surpresa “grande”, disse, acrescentando logo que não espera mudanças. A confirmação de Kavanaugh significará uma vitória para Donald Trump, o Presidente que escolheu o juiz para ocupar o lugar deixado vago por Anthony Kennedy, que serviu no Supremo desde que foi nomeado (por Ronald Reagan) e confirmado (por unanimidade dos senadores) até que se retirou em Julho deste ano. Apesar de ser um conservador, Kennedy tornou-se, sobretudo a partir de 2005, uma voz moderada cujo voto oscilava (ora para as posições conservadoras, ora para as posições liberais) quando estavam em causa matérias sociais que dividiam ideologicamente os nove juízes. Foi dele o voto que legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo (uma votação por 5 a 4), que garantiu que se mantinha a legislação sobre a interrupção voluntária da gravidez e que não permitiu o fim das restrições ao financiamento das campanhas eleitorais. Ao ser o quinto voto, tornou-se um dos homens mais poderosos dos Estados Unidos. Para o seu lugar entra Brett Kavanaugh, o homem em quem Trump insistiu, um juiz assumidamente conservador, que pode fazer a balança pender sempre para o mesmo lado em temas como o aborto, ou outros que fazem claramente parte da agenda política de Donald Trump, como a imigração ou a presença de pessoas transgénero nas Forças Armadas. A confirmar-se a nomeação, será o segundo juiz do Supremo que o Presidente Trump, que tomou posse em Janeiro de 2017, escolhe — o primeiro foi Neil Gorsuch, confirmado em Abril, aos 49 anos, em substituição de Antonin Scalia, que morreu. A confirmação de Brett Kavanaugh começou a delinear-se na quinta-feira, quando os senadores tiveram acesso à investigação do FBI sobre a conduta do juiz quando era adolescente — uma das mulheres que o acusam, Christine Blasey Ford, foi ouvida na Comissão de Justiça do Senado onde disse ter “100% de certeza” que foi Kavanaugh quem a tentou violar numa festa nos anos de 1980. Jeff Flake indicou que não havia nada de novo na investigação, além do que já tinham ouvido de Ford e do próprio juiz. A senadora republicana Susan Collins, que também estava indecisa, votou a favor na votação desta sexta-feira, que poderia ter travado a nomeação caso o nome de Kavanaugh fosse rejeitado. Como explicaram os analistas, optaram por não provocar o Presidente e pôr em risco o partido a cerca de um mês das eleições para o Congresso — quando os democratas vão tentar recuperar alguma maioria, no Senado ou na Câmara de Representantes. Razões eleitorais levaram também o democrata Joe Manchin (da Virginia Ocidental, onde não quer correr o risco de perder votos), que estava indeciso, a votar a favor de Kavanaugh. A senadora republicana indecisa Lisa Murkowski votou contra. Porque “Kanavaugh não é a pessoa certa para o cargo neste momento”, explicou depois, citada pela CNN. "Acredito que estamos hoje a lidar com assuntos que vão além dos candidatos, e que dizem respeito à forma como lidamos com o que é justo e com a forma como garantimos que a nossa legislatura é respeitada", disse. "É com isto que me tenho debatido. Acredito que Brett Kavanaugh é um bom homem". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No Twitter, Trump escreveu: “Muito orgulhoso por o Senado ter votado SIM ao juiz Kavanaugh”. Antes da votação, tinha escrito: “As malcriadas que gritaram no elevador são profissionais pagas que só querem que o Senado faça má figura. Não caiam na armadilha. Tenham atenção aos cartazes com ar profissional e todos iguais. Pagos por Soros e outros. Não são cartazes que se fazem em casa. Arruaceiros!” Referia-se às manifestações contra Kavanaugh e à mulher que interpelou Jeff Flake num elevador do Senado após o depoimento de Christine Blasey Ford, pedindo-lhe para agir — o senador acabaria a pedir a investigação do FBI, que Trump aceitou. As contas desta sexta-feira podem reflectir-se na votação final no Senado, onde basta o juiz conseguir a aprovação de uma maioria simples. Até 2017 era necessário uma maioria de 60 votos, mas o Partido Republicano, que domina, pôs fim a essa regra para conseguir a nomeação de Neil Gorsuch. O Partido Republicano tem a maioria no Senado de cem membros — 51 contra 49 dos Democratas (em cujo grupo há dois independentes). Em caso de empate, cabe ao vice-presidente, Mike Pence, que é o presidente do Senado, desempatar. Por isso, a não ser que surja uma “grande” surpresa — que Jeff Flake acredita que não irá acontecer —, Brett Kavanaugh torna-se juiz do Supremo neste sábado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto homens imigração tribunal mulher homem adolescente violação sexo sexual mulheres casamento abuso
Próxima heroína da Marvel será uma jovem muçulmana
Kamala Khan tem 16 anos e vive nos subúrbios de New Jersey. É a nova aposta da editora na renovação e chega às bancas em Fevereiro. (...)

Próxima heroína da Marvel será uma jovem muçulmana
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.05
DATA: 2013-11-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Kamala Khan tem 16 anos e vive nos subúrbios de New Jersey. É a nova aposta da editora na renovação e chega às bancas em Fevereiro.
TEXTO: Vive em New Jersey, tem 16 anos e é filha de imigrantes paquistaneses. Kamala Khan é uma jovem muçulmana e em breve estará nas bancas como uma das próximas protagonista das revistas da Marvel. Esta é mais uma revolução no mundo do imaginário depois de a editora mainstream ter no ano passado casado um super-herói gay. Agora chegou a vez de dar de novo o palco às mulheres, com uma estreia significativa: será a primeira de origem muçulmana – o que reflecte a tentativa da revista de ir ao encontro da diversidade de leitores que tem e de abordar temas polémicos que estão no dia-a-dia da sociedade e dos jornais desde que, na década de 1960, criou o Homem Aranha e o X-Men. A criação da heroína muçulmana insere-se na inicativa “All-New Marvel Now” que vai renovar algumas das séries da editora a partir de Dezembro. Kamala vai descobrir que é capaz de mudar a sua forma física e aproveitará esse dote para enfrentar vilões com uma nova identidade: Ms. Marvel. Deverá estar nas bancas em Fevereiro, adianta o New York Times. Kamala vai inspirar-se em Carol Danvers, uma outra heroína que começou como Ms. Marvel e que agora é conhecida como Capitã Marvel. Segundo explicaram ao The Telegraph a escritora G. Willow Wilson e o ilustrador Adrian Alphonam, que estão a trabalhar com a editora Sana Amanat, a série vai reflectir o mundo vibrante de uma jovem que tem de lidar com a adolescência, as expectativas da família conservadora (com uma mãe a querer manter os rapazes longe da jovem e um pai a sonhar com uma filha médica) e, claro, os superpoderes. Dilemas de adolescentePara Amanat esta é uma oportunidade de “explorar a diáspora muçulmana-americana a partir de uma perspectiva autêntica”, juntando ao mesmo tempo os dilemas de uma adolescente. Aliás, a ideia surgiu pela própria experiência de Amanat que cresceu como muçulmana nos Estados Unidos. Por isso, espera que algumas reacções não sejam positivas e que algumas pessoas não gostem da forma como a muçulmana será interpretada. “Queria que a Ms. Marvel fosse real, alguém com quem as pessoas reais se pudessem identificar, particularmente as mulheres mais novas. O secundário foi uma altura muito intensa na minha vida, por isso tirei partido dessas experiências fortes – a entrada na idade adulta, lidar com a escola, as emoções com as amizades que são uma grande parte do que é ser adolescente”, resumiu, por seu lado, Willow Wilson ao mesmo jornal. E a acrescentou que a ideia é que todos os que já se sentiram “geeks” ou que “olharam para a vida através de uma franja” que se divirtam com as aventuras e com a capacidade de Kamala Khan mudar o seu corpo, precisamente um dos principais motivos de insegurança da idade. Wilson já tinha escrito sobre a sua conversão ao Islão no livro The Butterfly Mosque, pelo que achou que faria todo o sentido dar continuidade ao tema.
REFERÊNCIAS:
Quem tem direito a erguer uma estátua?
A criação de um Memorial às Pessoas Escravizadas, na Ribeira das Naus, é de uma importância primordial. (...)

Quem tem direito a erguer uma estátua?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.285
DATA: 2018-08-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: A criação de um Memorial às Pessoas Escravizadas, na Ribeira das Naus, é de uma importância primordial.
TEXTO: Quem tem direito a erguer uma estátua? Quem, tomando o pulso ao território, possui autoridade suficiente para fixar um ponto singular, estabelecer aí um centro e, projetando um raio abrangente, dizer: dentro deste círculo, que hoje aqui traçamos, incluímo-nos a todos nós? Em jogo, na forma como damos resposta a esta pergunta, está a construção de um futuro livre de apartheid, em que todos os seres humanos residentes em Portugal, independentemente da forma como sejam racializados, da sua classe social, identidade de género e orientação sexual, ou mesmo do seu grau de acesso formal à cidadania, tomem igual parte no projeto comum de gestão, fruição e salvaguarda do território nacional. As estátuas refundam a nação e religam-na com a terra de onde se destacam, recentrando os polos afetivos das comunidades que se recriam em seu redor. O atual debate em torno da designação do hipotético futuro museu lisboeta, que se ramificou entretanto em muitas e esclarecedoras discussões, é de grande interesse académico e cultural (ver, por exemplo, os artigos de Ângela Barreto Xavier, Afonso Ramos, Pedro Schacht e Rui Gomes Coelho). Porém, a discussão em curso tende a não responder à pergunta inicial. O direito a erguermos uma estátua ou um memorial não é o mesmo que o direito a ter um museu que nos seja dedicado, na sua temática ou funcionamento. Apenas o primeiro necessariamente envolve uma ação ativa por parte dos promotores do futuro monumento, e certifica o reconhecimento por todos do seu estatuto de igualdade cívica e social face aos demais grupos presentes no território. O erguer de um Memorial às Pessoas Escravizadas contesta o privilégio dos grupos que têm dirigido, até há bem pouco tempo em exclusivo, as políticas da memória nacionais. Que debate suscitou a fundação dos muitos ‘Monumentos aos Campinos’ espalhados pelo território português? Ou das ‘Estátuas dos Cavadores’, ‘Monumentos ao Emigrante’ e ‘Estátuas das Varinas’? Sabemos que mesmo estes monumentos, bem menos polémicos que as belicosas estátuas equestres, não nos representam a todos por igual. Contudo, nunca contestamos o direito a erguê-los dos grupos que se recriam em seu redor. Este acesso simbólico fácil, praticamente imediato, ao território nacional é ainda um privilégio branco, nitidamente abusado no caso da implantação da estátua do Padre António Vieira no Largo Trindade Coelho. Seria tarefa simples erguer no território português um monumento ao ‘Jornaleiro Galego’, às comunidades roma ou ciganas, ou mesmo às ‘Trabalhadoras das Limpezas’, na sua grande maioria mulheres negras? Ou, porque não, à ‘Rainha Njinga’, como bem sugere Cláudia Silva?Por este motivo, é vital que a discussão em torno dos projetos museográficos da Câmara Municipal de Lisboa não engula e secundarize a nossa apreciação científica e política do momento histórico de viragem que constituiu a vitória do projeto da Djass – Associação de Afrodescendentes, no âmbito do último orçamento participativo da capital. A criação de um Memorial às Pessoas Escravizadas, na Ribeira das Naus, é de uma importância primordial, e responde a uma necessidade mais básica, afetiva e carnal, do que aquela que dita a refundação epistemológica e metodológica da historiografia e da museologia nacionais, desbloqueando porém o caminho para estas reformas científicas. De forma a garantir que o futuro Memorial às Pessoas Escravizadas permita refundar um ‘nós’ mais vigoroso e inclusivo, é preciso ainda lutar para que a sua concretização não se condicione pelos detalhes logísticos de qualquer hipotético museu. Este memorial que, não sendo materialmente uma estátua, funciona socialmente como as ‘estátuas’ que tenho vindo a analisar conceptualmente, deve constituir um marco. Celebrando o acesso das comunidades afrodescendentes às políticas da memória que garantem vínculos simbólicos estáveis com o território nacional, ele quebra um longo monopólio que tem vindo a ser um dos privilégios da comunidade branca. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Atente-se, por um momento, à forma como as representações monumentais de africanos ou de portugueses negros são, na esmagadora maioria das vezes, o fruto de políticas da memória dominadas pelos interesses imediatos, e por vezes exclusivos, da comunidade branca. Contudo, a presença no território nacional de seres humanos racializados enquanto negros, durante um longo período sujeitos ao opróbrio da escravatura, é antiga, comprovada e contínua. Historicamente, é também permanente a negação do acesso a membros desta comunidade à igualdade plena de oportunidades e direitos, ou a medidas compensatórias e de descriminação positiva. Já no contexto das antigas colónias, depois das sucessivas etapas da abolição do tráfico negreiro (esparsas ao longo de grande parte do século XIX), os sistemas tributários diferenciados, o Código Penal de 1886 e os vários diplomas legais que instituíram o ‘Estatuto do Indígena’ garantiram a generalização do trabalho forçado até ao raiar das independências. Chegando aos nossos dias, o racismo institucional mantém vivo nas estruturas de poder o legado de todas estas iniquidades. As pessoas negras presentes em Portugal são herdeiras de vínculos seculares, estáveis e sofridos com o território, quer havendo estado os seus antepassados diretos cá fisicamente presentes, quer havendo estes contribuído à distância, com o seu trabalho, para o enriquecimento nacional. Têm portanto todo o direito a ver erguido um memorial que celebre esta história, e que refunde a nossa comunidade e os seus laços com o território num sentido mais justo. O Memorial às Pessoas Escravizadas não deve nunca ser uma mera parcela da narrativa museográfica de qualquer futuro Museu das Descobertas, da Viagem ou do Colonialismo. Um museu cumpre funções pedagógicas e científicas fundamentais, mas apenas um memorial é capaz de se constituir enquanto o centro a partir do qual possam irradiar para o território nacional todas as manifestações e lutas por uma cidadania mais justa, inclusiva e emancipatória. Restringir a presente discussão pública apenas à esfera das letras ou da museologia, e insistir em manter a conversa refém da discussão do passado, é uma forma de sofismar e adiar a transformação que este acesso direto ao território desencadeará, prolongando assim velhos privilégios. As acusações de anacronismo, de penitência histórica ou de ataque à memória coletiva meramente desviam a atenção deste simples facto: o que está hoje em jogo é o direito das comunidades afrodescendentes ou racializadas a um vínculo simbólico estável e definitivo com o território português, um que impossibilite e esvazie frases racistas como ‘volta para o teu país’, ou ‘boa viagem’, e que se materialize, de forma perene, numa ‘estátua’ ou memorial capaz de congregar e relançar no futuro a nossa comunidade nacional. O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Somos todos fascistas?
Choremos pelo Brasil sem perder a razão. E olhemos para o mundo da mesma maneira. (...)

Somos todos fascistas?
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Choremos pelo Brasil sem perder a razão. E olhemos para o mundo da mesma maneira.
TEXTO: 1. No meio da troca violenta de argumentos sobre o Brasil, começo a interrogar-me se não serei, também eu, uma perigosa fascista. A confusão dos conceitos, as rotulagens primárias e a intolerância para os que pensam mesmo que apenas ligeiramente diferente tomou conta do debate nacional. Não apelar ao voto em Haddad tornou-se quase um crime. Fernando Henrique Cardoso foi acusado de o praticar, apenas porque resolveu não apelar ao voto no candidato do PT. Ele que combateu a ditadura, viveu no exílio e, em primeiro lugar, foi o principal obreiro da consolidação democrática do Brasil. Ele que, apesar disso, foi eleito pelo PT como o seu principal inimigo. Ele que, sendo toda a vida de centro-esquerda (por alguma razão o partido que ajudou a fundar se chama social-democrata no sentido europeu do termo), passou a ser classificado em Portugal (por puro mimetismo) de direita. Ele que ainda hoje revela uma enorme lucidez quando analisa a situação internacional. Ele que percebeu muito melhor do que nós, do lado de cá, a revolta contra o PT que mobilizou tanta gente. E também há, como bem sabemos, uma parte do PT que ainda comunga de uma velha tradição da esquerda latino-americana (que não inclui Lula), para a qual a democracia praticada por um partido de esquerda tem “liberdades” que outros partidos não têm, pela simples razão de que governa em nome do povo. Muita gente lembrou a decisão de Álvaro Cunhal, na segunda volta das eleições presidenciais de 1986, quando mandou votar em Mário Soares mesmo que de olhos fechados. Ninguém acrescentou que o Partido Comunista elegeu o PS como o seu “inimigo principal” (não a direita) de 1974 a 2015. 2. Há hoje, no mundo, um fenómeno muito preocupante que se poderia designar, como vários autores têm referido, por “recessão democrática”. Ou, como outros preferem, uma “contra-vaga”, depois da “terceira vaga da democracia” que nasceu numa bela manhã de Abril em Portugal, varreu as ditaduras do Sul da Europa, atravessou o Atlântico, derrubando ditaduras mais ou menos sanguinárias, de Videla na Argentina ao Brasil dos generais, passando pelo Chile de Pinochet e por uma série triste de regimes ditatoriais que a Guerra Fria tinha ajudado a perpetuar. A vaga voltou a atravessar o Atlântico, inundando a metade Leste da Europa, no continente que foi a linha da frente do confronto da Guerra Fria, derrubando o Muro e fazendo implodir uma das duas superpotências mundiais. Houve ainda as revoluções “coloridas”, da “cor de laranja” na Ucrânia, que durou pouco, à revolução “verde” do Líbano que durou ainda menos e, finalmente, a última vaga que parecia ter chegado à região do globo onde a democracia esteve persistentemente ausente: o grande Médio Oriente. A Primavera Árabe fracassou. O 11 de Setembro pôs simbolicamente fim à euforia democrática permitida pela vitória das democracias sobre o comunismo. A queda das Torres Gémeas abalou a confiança internacional no modelo económico ocidental, abrindo espaço a soluções “concorrentes” igualmente capazes de abrir as portas ao desenvolvimento. O “consenso de Washington” deslocou-se para Oriente, criando qualquer coisa semelhante a um “consenso de Pequim”, que nunca teve pés para andar, graças à dificuldade da liderança chinesa em ver o mundo como algo mais do que o vasto terreno para o seu desenvolvimento económico e, agora, para a transformação desse poder em influência política em seu proveito, não em proveito de qualquer ideia geral para a humanidade. 3. A contra-vaga encontrou na eleição inesperada de Donald Trump um importante impulso, não fosse ele o Presidente do país mais poderoso do mundo e da sua democracia mais sólida. Está a transformar a Europa num pacífico campo de batalha pela alma da democracia liberal e da integração europeia, empurrou o Reino Unido para o alto-mar por razões difíceis de entender (mesmo que a sua democracia esteja tão sólida como sempre), tirando à Europa um dos seus pilares fundamentais. Atingiu em cheio, de novo, a América Latina, fazendo abanar o gigante do subcontinente, ao eleger uma espécie de “Trump dos trópicos” e criando o risco real de abanar os alicerces de uma democracia que chegou a parecer pujante, deste o seu restabelecimento em 1988. Bolsonaro ganhou legitimamente as eleições. A forma como decorreu o acto eleitoral foi tão ordeira e tão pacífica como sempre (não vale a pena andar com uma lupa à procura de incidentes, num acto eleitoral que mobilizou 140 milhões de pessoas, porque nada se passou de anormal). A sua retórica de campanha chega e basta para o tornar execrável aos olhos de quem se considere um ser humano normal. Defender a tortura, tratar as mulheres como seres inferiores, execrar os homossexuais, defender a violência pura e simples contra a violência, elogiar a ditadura imposta em 1964, são razões suficientes para uma enorme preocupação (e uma grande tristeza) sobre o que pode acontecer no Brasil. Mas há na vida dos países, incluindo nas democracias, momentos em que a humanidade é vencida pelo medo, pela raiva, pelo desespero ou por uma real ou aparente humilhação. Em que a simples palavra “mudança” ganha todo o espaço político e cega qualquer tentativa de racionalidade. Não há no Brasil 57 milhões de fascistas ou, muito menos, de gente desumana. Há no Brasil milhões de pessoas que, depois de um momento de verdadeira esperança, se viram regressadas a um país onde já não querem viver: violento, discriminatório, empobrecido, corrupto. Depois de 13 anos de PT no poder. É este “pequeno pormenor” que, passada a emoção do voto e a tristeza do resultado, não é legítimo ignorar. Como não era antes, para quem tem como obrigação tentar compreender a realidade. Condenar é a coisa mais fácil do mundo. Explicar é a mais exigente. Lutar é o que vem a seguir. Misturar tudo o que se manifesta nesta contra-vaga democrática é o pior dos enganos. Ver no Facebook gente de esquerda manifestar o seu ódio pelos imigrantes brasileiros que se atreveram a votar em Bolsonaro (e foram uma maioria), mandando-os de regresso ao Brasil, devo confessar que me causa arrepios. Mesmo que, mais uma vez, não possamos nem devamos generalizar. 4. Faço parte daqueles maus cidadãos que puseram a cruz no símbolo do PS nas eleições legislativas de 2009. Não lutei suficientemente pela democracia e pela liberdade como alguns dos meus colegas mais corajosos e mais clarividentes. Num país a sério, Sócrates deveria ter tido uma expressão eleitoral reduzida a um dígito. Como Bolsonaro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O problema é que, cá como no Brasil, as coisas nunca são a preto e branco. Sócrates terá feito coisas inadmissíveis e outras bem feitas. O cômputo final pode até cair para o lado das primeiras. Mas justiceiros impolutos são algo que as democracias dispensam. Donos da verdade também. E há uma outra versão sobre os clarividentes que denunciaram Sócrates quando nós, pecadores, púnhamos a cruzinha no PS, que é a seguinte: depois de Sócrates, o seu combate contra as “tentativas” do PS de minar a democracia continua. Não haverá aqui coincidência a mais?5. Choremos pelo Brasil sem perder a razão. Olhemos para o mundo da mesma maneira. Nestes tempos de profunda inquietação, deparamo-nos demasiadas vezes com a dificuldade em utilizar os conceitos políticos que conhecemos. Populismo, nacionalismo, fascismo, extremismo, extrema-direita, direita radical, direita liberal, direita conservadora, esquerda moderada, esquerda radical, comunismo. Todos os dias me debato com a escolha das palavras. Mesmo assim há coisas que sabemos. Como escreveu o colunista do Financial Times Janan Ganesh, “O problema é um excesso de certeza intelectual. A base da democracia – da civilização – é a dúvida”. O seu artigo de opinião chama-se “A política dos absolutos está a alimentar a violência ideológica”. Ou, como disse agora o maravilhoso Caetano, “ele [Bolsonaro] trouxe complexidade”.
REFERÊNCIAS:
Republicana Michele Bachmann anuncia candidatura à presidência dos EUA
A republicana Michele Bachmann, de 55 anos, anunciou ontem num debate televisivo a sua candidatura à presidência dos EUA. É a primeira mulher a entrar na corrida à Casa Branca nas eleições presidenciais do próximo ano. (...)

Republicana Michele Bachmann anuncia candidatura à presidência dos EUA
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-06-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: A republicana Michele Bachmann, de 55 anos, anunciou ontem num debate televisivo a sua candidatura à presidência dos EUA. É a primeira mulher a entrar na corrida à Casa Branca nas eleições presidenciais do próximo ano.
TEXTO: “Enviei hoje [segunda-feira] os documentos necessários para a minha candidatura à presidência dos EUA”, disse Bachmann no âmbito do debate em que participavam outros seis candidatos republicanos. Referindo-se a Barack Obama como um “Presidente de um só mandato”, Bachmann criticou fortemente as reformas do actual Presidente no plano da saúde. Num comunicado posterior ao anúncio na televisão, a candidata sublinhou que o país “precisa de um líder que compreenda as dificuldades que as pessoas por toda a América têm enfrentado nos últimos anos e que faça o que for preciso para renovar o sonho americano”. E acrescentou: “Temos de voltar a ser uma América orgulhosa e forte e vejo claramente um caminho melhor para um futuro mais brilhante”. Apoio do "Tea PartyBachmann, representante do Minnesota, conta com o apoio do movimento conservador “Tea Party”, no qual tem vindo a ganhar importância. Sobre este movimento, a candidata avançou que “ao contrário do que os media têm retratado erradamente, o 'Tea Party' é feito de democratas insatisfeitos, de independentes, de pessoas que nunca foram políticos, libertários, republicanos – uma enorme faixa da América a unir-se. ”Durante o debate, os sete pré-candidatos discutiram questões como o sistema de saúde – o Obamacare -, imigração, economia, direitos dos homossexuais e aborto. Michele Bachmann tem sido uma voz altamente crítica das reformas da saúde do actual Presidente norte-americano e frisou que os americanos não podiam "arriscar e dar mais quatro anos de mandato a Obama ". Apesar de ter sido a revelação do debate de ontem à noite, Bachmann continua porém menos conhecida para os eleitores americanos que Mitt Romney, o ex-governador do estado de Massachusetts que anunciou há duas semanas a sua candidatura à Casa Branca pelo Partido Republicano. Numa sondagem publicada na semana passada, Obama e Romney - que já tinha disputado as primárias republicanas em 2008 - apresentavam um empate técnico. Ao mesmo tempo, continua a especulação sobre se a senadora Sarah Palin; o antigo mayor de Nova Iorque Rudy Giuliani; ou Rick Perry, o governador do Texas, estarão na corrida à Casa Branca. Notícia actualizada às 08h55
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Novo primeiro-ministro australiano diz que país não pode ser "à prova de futuro"
Actual primeiro-ministro perdeu liderança do partido e do país. Malcolm Turnbull, seu velho rival, quer reaproximar Governo da opinião pública com uma liderança mais progressista. (...)

Novo primeiro-ministro australiano diz que país não pode ser "à prova de futuro"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.045
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Actual primeiro-ministro perdeu liderança do partido e do país. Malcolm Turnbull, seu velho rival, quer reaproximar Governo da opinião pública com uma liderança mais progressista.
TEXTO: Tony Abbott foi afastado da liderança do Partido Liberal australiano e, por consequência, do cargo de primeiro-ministro, ao sido derrotado pelo rival Malcolm Turnbull numa eleição interna realizada nesta segunda-feira. Esta é a quarta vez que a chefia de Governo muda de mãos na Austrália em dois anos. Foi durante a manhã que Turnbull atirou a toalha para o ringue, ao anunciar que iria demitir-se do cargo de ministro das Comunicações para desafiar a liderança de Abbott, a quem acusou de ser incapaz de dar ao executivo a energia necessária para mudar a actual política e colocar os liberais de novo à frente dos trabalhistas nas sondagens. “Se continuarmos com Abott a primeiro-ministro, é evidente o que acontecerá. Ele deixará de ser primeiro-ministro e será sucedido por Shorten”, disse Turnbull, referindo-se ao líder do partido trabalhista, Bill Shorten. Abbott ainda resistiu, apelando aos colegas que não cometessem os mesmos erros do Labor – que defenestrou dois chefes de governo em apenas três anos –, mas acabou vencido na votação realizada já noite dentro pelos deputados liberais. Turnbull venceu a votação, por 54 votos contra 44, e promete um novo estilo de liderança “respeitador e isento de slogans”. O golpe palaciano é uma repetição da novela que abalou o Labor desde 2010, ano em que o então primeiro-ministro Kevin Rudd foi afastado pela rival Julia Gillard. Rudd respondeu na mesma moeda, em Junho de 2013, a meses de novas legislativas, destronou Gillard, acabando por perder as eleições para Abbott. O remake de 2015 é ainda mais idêntico porque Turnbull já tinha liderado o Partido Liberal entre 2008 e 2009, altura em que perdeu as eleições internas para Abbott por apenas um votoEspera-se do novo primeiro-ministro uma abordagem menos conservadora do que a de Abott em temas como o acolhimento de imigrantes e refugiados, combate às alterações climáticas e legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Todas áreas nas quais o actual Governo se foi gradualmente distanciando da opinião pública australiana. Sobretudo na resposta à recente vaga de imigrantes e refugiados que partem em barcos do Sul e Sudeste Asiático – em Junho, o executivo de Abott esteve sob fogo por ter alegadamente dado dinheiro a um traficante da Indonésia para que este fizesse regressar a sua embarcação em vez de entrar na Austrália. Abott acabou por ceder à pressão internacional e nacional e anunciou há uma semana que aceitaria mais 12 mil refugiados sírios para além da quota anual de cerca de 13 mil pedidos de asilo na Austrália. Isto apesar de o seu Governo ter defendido prioridade para sírios cristãos e sem que Abott acedesse a dar entrada aos barcos de rohingya vindos do Bangladesh, Indonésia e Birmânia. Liberal à esquerda“Não podemos ser defensivos”, disse Turnbull aos jornalistas, já depois da vitória. “Não podemos ser à prova de futuro”, acrescentou, com Julie Bishop ao seu lado, que continuará como vice-líder do partido e ministra dos Negócios Estrangeiros. Antes advogado e empresário, o novo primeiro-ministro australiano estudou direito em Sidney e, mais tarde, em Oxford. Ficou célebre quando, no final da década de 80, anulou as tentativas do Reino Unido de proibir a publicação do livro de um antigo espião britânico, Peter Wright. Defende um “Governo Liberal de compromisso com a liberdade, o indivíduo e o mercado”, mas é mais conhecido pelas suas propostas progressistas, como a luta contra o aquecimento global e a legalização do casamento homossexual. Estas são as mesmas bandeiras que o fazem um elemento relativamente divisivo num partido que caminhou para a direita sob o governo de Tony Abott e que está agora fracturado por lutas internas.
REFERÊNCIAS:
Étnia Asiático
Marco Martins lançou achas na fogueira
Um realizador que lida com a abundância publicitária é capaz de empatia com a precaridade. Um tipo que não aprecia televisão fez algo que durante oito semanas foi o acontecimento lúdico, adulto e inteligente de toda a TV portuguesa. Provisional Figures: Great Yarmouth e Sara foram dele e agora são os nossos melhores de 2018. (...)

Marco Martins lançou achas na fogueira
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um realizador que lida com a abundância publicitária é capaz de empatia com a precaridade. Um tipo que não aprecia televisão fez algo que durante oito semanas foi o acontecimento lúdico, adulto e inteligente de toda a TV portuguesa. Provisional Figures: Great Yarmouth e Sara foram dele e agora são os nossos melhores de 2018.
TEXTO: O melhor teatro e a melhor televisão foram dele. Com Provisional Figures: Great Yarmouth, Marco Martins continuou a interceptar a violência da crise nos corpos, trazendo para o palco a síntese de dois anos de trabalho em Inglaterra junto de um “matadouro” da dignidade, um colosso da indústria alimentar do Reino Unido movido a mão-de-obra barata importada da periferia da União Europeia. Isto, que foi o espectáculo de 2018 para o Ípsilon, vai dar, em 2019, um filme — tendo em conta as derivas do encenador/realizador, será proposta de elevação do real pela ficção. Como é que um homem que faz publicidade, que lida com o conforto da abundância audiovisual, é capaz de empatia com a precaridade?E como é que um tipo que não aprecia televisão faz Sara, o retrato caleidoscópico de uma actriz em crise de lágrimas que durante oito semanas foi o acontecimento lúdico, adulto e inteligente da televisão portuguesa? Talvez seja por Marco Martins não gostar de TV que Sara — coisa nada cínica; foi evidente o espectáculo de sintonia de toda uma equipa — é uma fogueira onde, no território do audiovisual, se queimam fragmentos de Velvet Underground ou Pasolini, Beyoncé, Led Zeppelin ou Strindberg e Sarah Kane. Uma orgia do fim dos tempos. Cinema, teatro, publicidade — e agora televisão. Há uma narrativa?Isso é difícil para as pessoas à minha volta. A minha agenda é compartimentada: “Não pode ser hoje, tem de ser amanhã. ” “Amanhã já não posso. . . estou a fazer outra coisa. ” A publicidade são projectos contidos no tempo — entre a preparação, a rodagem e o filme ir para o ar passa um mês e tudo é feito com uma equipa que trabalha comigo há anos. É um trabalho partilhado, funciono como chefe de orquestra. Há muitos recursos disponíveis e essa abundância, que não existe nem no teatro nem no cinema, é a graça da publicidade. Gosto da ideia de resolver um problema de alguém: uma campanha corresponde à vontade de uma marca, trata-se de vender um desejo, uma ideia, um conceito. Existe uma relação de confiança que permite uma liberdade bastante grande. Quando passa da abundância da publicidade para o confronto com vidas precárias, como aconteceu com o projecto Provisional Figures: Great Yarmouth [peça com um grupo de imigrantes portugueses no coração da indústria de transformação alimentar britânica], há um curto-circuito?A palavra “material” pode parecer desajustada, mas de facto é trabalhar com um material com características diferentes — na resistência, no tempo que se demora a trabalhá-lo. Great Yarmouth, pela sua longevidade, é um projecto de grande violência emocional. Mas não posso dizer: a publicidade é um intervalo. Não, é um compartimento. Que necessidades ela satisfaz?Desde logo há um lado financeiro que me permite grande liberdade. Antes de ter financiamento para Great Yarmouth eu já estava a trabalhar em Inglaterra. Depois, gosto muito desse lado de começar e acabar algo que é curto e com um objectivo precioso e que desencadeia uma reacção imediata. No cinema estamos a trabalhar anos num filme e não temos reacção a esse trabalho. O que me permite fazer tudo isto é o facto de ter estruturas separadas. Tendo a fazer os filmes fora do Ministério, a minha produtora, que é feita a pensar em publicidade. A minha produtora de teatro, Arena, funciona por ela própria. E os filmes tendo a fazê-los externamente, e tenho variado. É importante que as coisas permaneçam estanques. Mas o que é que contamina o quê?Venho do cinema. Em última análise é aquilo a que respondo mais, é a minha linguagem. Penso em filme, não penso em teatro ou em publicidade. Não sou um publicitário em cinema. Trata-se mesmo de me livrar no cinema daquilo de que não gosto na publicidade. Mesmo na publicidade sou atípico. Se calhar a publicidade é que é contaminada pela minha formação cinematográfica, o contrário já não. O teatro para mim é a zona de maior experimentação. O que me interessa são os actores, é a linguagem. O meu cinema não se constrói em cima da palavra, a palavra é utilitária. O teatro é difícil fazê-lo sem palavra, é uma zona onde a posso explorar. E é um lugar hoje de cruzamentos de linguagens, e são essas fronteiras que me apetece explorar. Mas aí o cinema e o teatro entroncam-se: o cruzamento entre a ficção e a realidade, entre o documental e o não documental. É o que me apetece fazer neste momento. Até porque foi por causa de teatro que redireccionou o seu cinema. . . Sim, o projecto Estaleiros [em Viana do Castelo, 2012] permitiu-me começar a trabalhar com não actores, a construir um texto dramático baseado em testemunhos pessoais. Isso interessa-me muito no teatro. E a possibilidade de alteração de registos dentro do mesmo espectáculo, não só a ficção e não ficção, falo de registos estéticos, experimentação com o corpo do actor e com o espaço cénico. Por exemplo, a próxima peça, com a Beatriz [Batarda] e o Romeu [Runa], é um texto sobre a figura do pai que estamos os três a construir, e que cruza testemunhos pessoais deles com outros textos, Kafka por exemplo. O pai era uma matéria que se adensava nos episódios finais de Sara. Sempre trabalhei sobre a família. E há uma altura em que começamos a olhar para nós. Queria fazer um texto sobre a descendência. Nas primeiras residências a figura do pai começou a ser obsessiva. Também sou pai, três crianças, e há uma mudança. Começámos a falar sobre a família, pai, mãe e irmão, a peça começou a ficar mais sobre o pai. Quer para a Beatriz, quer para o Romeu, é uma figura marcante nas suas personalidades. O que fazemos com os afectos que nos dão? Às vezes deixam-nos um monte de pedras, às vezes um castelo. Como construímos a partir daí a nossa personalidade? A família é algo a que não se pode fugir, está presente na nossa construção enquanto indivíduos. Ser pai é algo de distinto da maternidade, o laço biológico é diferente, o papel social que se atribui ao pai e à mãe também — interessa-me isso. Sara, então. Mesmo não sendo espectador de séries. . . Também não. . . . . . e desconfiando do cliché segundo o qual “o bom cinema está na televisão”, há que reconhecer um feitiço televisivo neste momento. Uma das coisas que se sente é que o realizador de Sara não gosta de televisão. Quanto maior é esse desgosto, tanto melhor a série. Há um lado apocalíptico. Os genéricos iniciais e finais são fogueiras de citações, de Pasolini a Ibsen, passando por Strindberg ou Sarah Kane, e fragmentos de canções, de Murray Perahia a Velvet Underground, de Gloria Gaynor a Rodrigo Amarante. . . . . . a montagem prolongou-se no tempo, a rodagem não, e, aquela, sim, foi contaminada pelo que andava a ler e a fazer. Essas citações de teatro não estavam previstas, eram coisas que andava a ler ou a fazer — foram seis meses de montagem. . . Para além dos genéricos, dentro dos episódios há uma vampirização de canções e livros de outros autores, B Fachada e Valter Hugo Mãe. Como a música dos genéricos é matraqueante, parece que fomos bombardeados por fragmentos de um mundo que já não existe — uma ideia e uma prática de cultura, por exemplo. Alguém tem um cartaz de um filme de Buñuel no quarto. Isso já não serve de nada, é irrisório. Está absolutamente certo. Nunca quis fazer televisão, nem sou espectador de séries. Vi o início de Os Sopranos. . . mas nunca quis passar o meu tempo assim, acho que estou a perder a oportunidade de ver um filme. Porque há filmes de que não me lembro bem. . . . . . os filmes são sempre outros. . . . . . são sempre outros. Revê-los é sempre um novo filme — aconteceu-me com os Mizoguchis. . . eram outros filmes. A ideia de fazer uma série nunca esteve presente. Até porque o meio, pelo que vai saindo em termos de produção, é muito pobre — espreito quando há actores de que gosto ou um amigo, mas vejo pouco, cinco ou dez minutos e chega. A ideia passou a estar no horizonte no momento em que se tratou de uma série sobre televisão e se tratou de trabalhar com a Beatriz numa forma quase de longa-metragem: construir à volta dela, alguém com quem trabalho há muitos anos, mas com quem nunca tinha feito esse tipo de trabalho, porque os meus protagonistas tendem a ser masculinos — As Criadas (2017) do Genet era teatro. Trabalhar com a Beatriz numa reflexão sobre o meio, sobre a representação, sobre as escolhas de uma mulher de 45 anos agradava-me. No início, havia um lado meio pop a funcionar como alter ego, o formato mais leve. O trabalho era até mais partilhado, a escrita era feita com o Bruno [Nogueira] e com o Ricardo [Adolfo]. Mas as coisas ganharam densidade, é a gravidade de que falou. São as escolhas que se colocam àquela mulher. Nunca tinha trabalhado em comédia ou tragicomédia. Demorei a aperceber-me do peso que isso continha. A minha opinião sobre o meio está lá, não queria acrescentar muito. O que aconteceu à série é um reflexo desse meio: foi sendo adiada. Ficou pronta um ano antes de se estrear. A RTP ficou incomodada?Ninguém me disse directamente, houve várias desculpas para ser sempre adiada. Ou porque não havia dinheiro para pagar — as séries são pagas quando são emitidas —, ou outra coisa qualquer. Mas a verdade é que se estreava tudo e aquilo ficava na prateleira. Foi Teresa Paixão [directora de programas da RTP2] que gostou muito e que disse que não fazia sentido aquilo estar parado. E mesmo assim foi para o segundo canal, o que não era condizente com um investimento daqueles. Não custou muito mais do que as outras séries: 55 mil euros por episódio. Mas na altura havia um interesse, quando o Nuno Artur Silva [administrador com a área dos conteúdos] me chamou e ao Bruno. Havia um interesse que fosse um primeiro passo para mais coisas. Nuno Artur Silva sai [no início do ano] e a nova situação não reconhece, é isso?Rapidamente Sara ficou num limbo, nem a antiga direcção a conseguiu introduzir na programação. Em última análise, a paixão que tínhamos não era partilhada. Isso é um reflexo do meio, um meio pobre e que se rege por uma ideologia que não consigo qualificar. Por exemplo, segundo a RTP, numa série contemporânea não podia haver personagens que expressassem opiniões políticas ou pertencessem a partidos políticos. . . ou ainda os palavrões. . . Foram constrangimentos que não respeitámos. É difícil fazer ficção adulta assim. Que tipo de pessoas são as personagens? Deixaram-nos fazer tudo, mas o resultado é que nunca mais ia para o ar. Há um momento em que a banda sonora, tal como as citações, passam a ser acontecimentos, como quando se espera uma participação especial: fica-se à espera para se confirmar o que ouvimos, como se se confirmasse um actor. Se calhar as citações são a narrativa da série. E sobre a banda sonora: os adiamentos constantes da série fizeram com que tivesse um tempo de montagem enorme: em permanência três montadores durante oito meses. Isto só acontece nas longas, mas mesmo aí é diferente. Estar durante um ano a montar São Jorge [2016] é um processo que se envenena a si próprio, nunca se sai dali. Aqui fui fazendo coisas, peças, fui para Inglaterra, e quando voltava havia aquela coisa maravilhosa de vir de fora. A série tem isso, o olhar de um corpo que se distancia de si. A série teve muitas montagens não para corrigir algo, mas pelas visões que fomos tendo. Isso fez com que tivesse um ritmo e uma consistência particulares. Em relação à música, uma coisa que faço quando começo um processo, peça, filme, é construir uma playlist. Às vezes é só a letra que me interessa, outras vezes, raramente, é uma música que quero usar. Aqui tinha uma vantagem: a dada altura a nossa directora de produção disse-nos, sobre os direitos autorais, que devido a um acordo da RTP com a SPA podíamos usar o que quiséssemos, eles pagam anualmente, desde que não seja música do genérico e que não apareça duas vezes. Pela primeira vez na vida tive a oportunidade. . . . . . de ser DJ. . . [risos]. Por isso agora estamos com problemas com a edição em DVD, porque aqueles direitos só cobrem a emissão na televisão. Aquela dieta de Beatles e Velvet Underground talvez não seja exactamente assim, mas tentaremos manter o máximo possível. O nosso cinema não vem daí, dos filmes do Paul Thomas Anderson, por exemplo, ou dos Coen, para falar em filmes que estudámos. Mas parecia-me possível de reproduzir no universo português. Em relação à banda sonora composta pelo [Nuno] Malo, cheguei à conclusão de que o que funcionava era essa coisa da música usada numa função clássica, de coro grego, e em muitas situações dizendo coisas diferentes do que estávamos a ver, colocando o espectador num sítio instável. Essa instabilidade é testada também com a utilização de canções de B Fachada, que se conhecem, como sendo da “autoria” de uma personagem, interpretada por Tónan Quito. O mesmo em relação aos textos de Valter Hugo Mãe, que na série são escritos pela personagem do pai de Sara. Estas colagens são testes à adesão do espectador. A personagem do cantautor foi logo escrita assim, um cantautor desta nova tradição portuguesa que escrevia canções de amor e que não era o tipo que interessava à Sara. Paraceu-me evidente que não nos íamos pôr a escrever canções e que tinha de ir buscar canções de alguém. Falámos com o B Fachada, propusemos que ele fizesse um cameo, uma personagem baseada nele, ele não quis. . . . . . ainda bem. Nada contra B Fachada, mas este “duplo” torna a coisa mais interessante. Aliás, essas apropriações contribuem para o mundo em chamas de Sara. É toda uma história essa coisa dos acidentes de percurso. Esse foi mesmo um happy mistake. Ele não quis, o Tónan começou a ensaiar, tem uma voz completamente distinta — o B Fachada tem afinações dificílimas — e isso confere à personagem uma fragilidade e um lado cómico que não estava na escrita. E foi assim também com o Valter Hugo Mãe. O pai [de Sara] era escritor, era um contraponto importante ele falar sobre a morte, aspectos metafísicos de que não se fala directamente na série, mas que começam a desempenhar um papel maior — como contraponto à comédia e como história anterior da Sara. Não nos ocorreu escrever um texto literário, e com tanta literatura fomos à procura de um livro que nos interessasse. Sobre Beatriz Batarda: mesmo tendo em conta como foi impressionante em Noite Escura (2004), de João Canijo, há momentos em que o processo por que a personagem passa parece agressão da actriz ao seu corpo e à sua estabilidade, e isso lembra-me A Caixa (1994), de Oliveira. . . Foi um dos nossos primeiros filmes, dela [como actriz] e meu [como estagiário]. Curioso. . . Dito isto, a surpresa é Albano Jerónimo — que parece um sósia do Justin Theroux de Mulholland Drive de Lynch — pelo júbilo, pela loucura. É a sensação que gera a série: a alegria, a sintonia, todos a caminhar para a mesma direcção. Tinha trabalhado só uma vez com o Albano, no meu segundo filme [Como Desenhar Um Círculo Perfeito, 2009], num pequeno papel, era o namorado da Beatriz. Depois foi cortado. Mas vou começar pela Beatriz: não tenho dificuldades em ver que é o trabalho mais fascinante dela. É uma actriz diferente da do Quaresma [José Álvaro Morais, 2003], há uma transformação do corpo e da pessoa. É um papel de grande exposição, não tanto pela proximidade da Sara da Beatriz. . . . . . há piscadelas de olho, para forçar essa fusão. . . Sim, um nome, Moreno, por exemplo, é comum às duas. . . Fizemos muitas entrevistas com a Beatriz, sobre as questões que se colocam a uma actriz daquela idade. Somos amigos desde crianças, mas é diferente fazer um trabalho a partir daquela pessoa, do zero, como se não a conhecesse — porque há coisas que nunca lhe tinha perguntado. É um papel de grande exposição. Primeiro porque nunca tinha feito televisão e porque aparece num registo que nunca experimentara, ou seja, tanto eu como ela não era suposto estarmos ali. Há um risco assumido pelos dois, de grande cumplicidade. A Beatriz tem uma série de registos que nunca desenvolveu, porque as pessoas tendem a ser postas em compartimentos. A Beatriz é maior do que qualquer compartimento. Aquele corpo, aquela transformação, nunca se viu na TV portuguesa. Sendo a série uma reflexão sobre a representação, vamos pôr uma mulher de 40/50 anos, sem maquilhagem, a acordar na cama, como uma base zero a evoluir para outros registos. Hoje, reflectindo sobre a série, há uma coisa simples e feliz: passo a vida como encenador ou realizador a tentar descobrir outras realidades, o desconhecido, mas era a primeira vez que estávamos a falar sobre nós. Falamos sempre sobre nós noutras personagens e realidades, mas a liberdade de falar sobre o que somos é maior: sabemos quando estamos a transgredir, sabemos quando estamos a ser factuais. A Beatriz, por estar num projecto que era meu e do Bruno, sentiu-se segura para experimentar. Há um lado caleidoscópico em Sara, é essa a memória essencial da série. Por outro lado, aqueles risos que a Beatriz faz. . . sobretudo nas cenas com o agente — ela já conhecia o Albano Jerónimo, já o tinha encenado, aliás — são de grande exposição. Quando falamos de nós próprios através de uma interposta pessoa, mas em que a realidade de que falamos está próxima, há um lado de catarse. Isso está presente para ela e para mim. Não por acaso as cenas que mais gostava de fazer eram as de novela. . . . . . como se se confrontasse consigo próprio, se se risse de si próprio. . . . . . sim, sim. A personagem do agente foi escrita em várias fases. No início era um hipster, que queria transformar a Sara em actriz de novela e olhava para o dinheiro mais do que para qualquer outro lado. Mas não tinha interesse e começámos a pensar nele como um alter ego. O Albano é um actor de que gosto muito, mas quem se lembrou dele foi o Bruno. A personagem estava escrita, mas a composição é dele. Foi ele que levou a personagem para aquela intensidade, aquela precisão de representação. Tenho de dizer que aquilo era a interpretação dele da Beatriz. Estou a lembrar-me do episódio no lar, quando irrompe a coreografia, momento lunático. . . Estava escrito?Estava escrito que ele estava no lar. E depois a última cena é daquelas coisas que escrevo e que é para improvisação. Linhas em que uma pessoa lê e pensa logo: “Só isto aqui é um dia de rodagem. ” Estava assim: “Eles dançam. ” E depois: “Há uma aula de Sara com os idosos do lar. ” O assistente de realização já sabe que era um dia ali. A duração dos episódios. . . não são os 50 minutos da praxe, nem os 25 de uma sitcom, varia entre 30/40 minutos, marca dessa forma o ritmo biológico da série. Começamos a sentir esse batimento, a respirar com esse ritmo. Boa questão. Os guiões tinham durações diferentes, e na negociação com a RTP interessava-me que não tivessem uma duração certa. Muito do trabalho de montagem foi para encontrar esse ritmo biológico. Passei dois meses a montar o primeiro e o segundo episódios só para descobrir como. Não foi imediato. E sobre Great Yarmouth: a ideia de um filme fazia parte do projecto. Sim, pela primeira vez juntar uma coisa à outra. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas com tanto investimento, dois anos, para chegar ao palco, como é que ainda consegue imaginar algo num material que já tratava por tu?Vai ser diferente. O sítio é o mesmo, as pessoas as mesmas, mas o filme permite fazer uma cristalização daquela realidade, tornar visível o que é invisível para quem não conhece aquela realidade. A manipulação daquele material, que é muito rico, permitirá com o filme uma reflexão maior. É como se a peça erguesse os factos, os depoimentos, e o filme permitisse uma reflexão sobre aquele sítio, sobre o que está ali em jogo. Como no filme São Jorge, a ficção é forma de elevar o real. . . Sim, a mentira diz uma verdade maior. Temos de construir uma narrativa sobre aquele real para aquele real existir realmente. Isso ainda não está feito. Neste momento tenho uma mistura de actores e personagens, mas a maior parte do elenco serão actores, a Beatriz, o Nuno [Lopes], o Romeu, e vou ter muitos não actores, ingleses e portuguesas que vivem lá, a comunidade portuguesa que resta, em pequenos papéis. Tentei passar no espectáculo a dureza que é um trabalho naquela fábrica. Criámos uma forma de representação da dureza, mas há coisas que o filme permite — a não ser o cheio terrível a sangue e excrementos — que o teatro não dá. Mas a dureza dos animais abertos, do tirar tripas o dia todo, a relação disso com a transformação dos corpos e com a sociedade, isso é algo que o filme vai permitir de uma forma muito distinta. Tenho de fechar este capítulo.
REFERÊNCIAS:
Os jovens estão a desistir da política, e a política parece prescindir deles
Há um reverso na abstenção jovem: os partidos e candidatos consideram inútil apresentar medidas que os convençam a votar. Porque os jovens, garantidamente, votam menos que o resto dos portugueses (...)

Os jovens estão a desistir da política, e a política parece prescindir deles
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há um reverso na abstenção jovem: os partidos e candidatos consideram inútil apresentar medidas que os convençam a votar. Porque os jovens, garantidamente, votam menos que o resto dos portugueses
TEXTO: Já não é a primeira vez que acontece. Um responsável de uma candidatura chega à última e decisiva semana da campanha eleitoral e pergunta: A quem é que falta chegar? Que parte do eleitorado ainda pode ser mobilizada? Os jovens? "Não. Os jovens não votam. "De facto, todos os estudos demonstram que isso é verdade. António Salvador, responsável pela empresa de estudos de mercado Intercampus, fez uma pergunta à sua amostra de 1043 eleitores portugueses, na última semana de campanha eleitoral para as presidenciais. "No próximo dia 24 de Janeiro de 2016 vai realizar-se a eleição para o Presidente da República. Com base nesta lista, gostaria que me dissesse qual destas frases corresponde à sua situação. " As opções eram cinco. De "é minha intenção ir votar de certeza" até "não estou a pensar ir votar". Quando se olha para as respostas, os jovens (entre os 18 e os 34 anos, 269 pessoas, no total) são os que menos declaram ter a certeza de ir votar (61, 3%, contra percentagens sempre acima dos 70 nos outros intervalos etários). E são também aqueles que mais afirmam a intenção de se absterem: 13, 4%, nesta amostra, numa proporção de quase dois para um, face aos maiores de 35 anos. O que é novo, ou se mostra agora de uma maneira mais evidente, é que essa abstenção pode ter como consequência o risco de irrelevância política dos jovens. Pedro Sales, que integrou a direcção de campanha de Sampaio da Nóvoa, sublinha: "Com o progressivo alheamento dos jovens, corre-se o risco de os partidos passarem a olhar para eles como instrumento de retórica, sobretudo para atingir o voto dos pais e dos avós. "Disso são exemplos os únicos temas dirigidos à juventude que conseguiram ser centrais ao discurso políticos nas duas últimas eleições: a precariedade laboral, as políticas de natalidade e a emigração de jovens qualificados. Esses foram assuntos importantes, que afectam os eleitores sub-40, e que os maiores partidos, e os principais candidatos à Presidência, insistiram em manter no topo da agenda. Mas, como sublinha Sales, mais com o objectivo de "criar empatia" em quem realmente vota, os pais e avós. Quando se procuram as razões para esse alheamento, elas surgem quase óbvias: "Falta de confiança na política", "falta de interesse pela política", "o voto é inconsequente, não muda nada". Estas três respostas representam quase 70% das razões apresentadas pelos abstencionistas portugueses, num dos poucos estudos pós-eleitorais feitos recentemente. Este inquérito do Eurostast, que foi realizado após as eleições europeias de Maio de 2014 demonstra que são os jovens que, em Portugal, mais se abstêm. Apenas 19% dos que têm entre 18 e 24 anos admitiu ter votado. A média europeia - porque este problema não é exclusivamente nacional -, no mesmo estrato etário, foi de 28%. Nuno Garoupa, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, faz algumas contas simples e aponta um exemplo: "Votam normalmente cinco milhões de portugueses. Basta somar 2, 5 milhões de pensionistas e 800 mil funcionários públicos e fica claríssimo onde está o centrão, a convergência dos grandes partidos. Não havia nas últimas eleições um único partido que dissesse que ia cortar nas pensões dos mais velhos para salvar as pensões dos mais novos. Porquê? Porque essa gente não vota. Nem a PAF nem o PS explicavam o que queriam para a segurança social por isso. "Diogo Belford Henriques participou na última campanha da coligação PSD/CDS, e discorda desta premissa. Lembra, até, o investimento que foi feito nas redes sociais, um meio de chegar, sobretudo, aos mais jovens. O problema é outro, para Diogo Belford: os temas especificamente "jovens" estão resolvidos, na política portuguesa. O serviço militar obrigatório acabou. Os temas "pós-materiais" avançaram (aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo). Desse ponto de vista, as propinas foram, provavelmente, o último dos temas que os jovens portugueses conseguiram trazer para a agenda política. Mas existem outros temas, que o discurso político exclui, e são relevantes para as novas gerações de eleitores. Na Europa do Norte, surgiram movimentos pela liberdade de partilha na internet - representados pelos "partidos piratas". Em Portugal, pouco se ouve falar dessa reivindicação. Miguel Morgado, deputado do PSD, e professor de ciência política, considera que "não é nada evidente que o voto corresponda aos interesses de camadas sociais. " Com a excepção, óbvia, dos pensionistas, Morgado garante que "não temos muita evidência de haver uma faixa etária a votar de acordo com o que seriam os seus interesses". E mesmo aí, com nuances, porque os pensionistas são avós, e se preocupam com o impacto futuro das medidas. Por isso, muito mais do que "um eleitorado atomizado", que vota em quem promete defender a sua agenda, Morgado acredita que os jovens se conquistam por "adesão ideológica". O que, mais uma vez, os escassos dados provam, é que são os partidos mais afastados do "centro" os que mais captam voto jovem. Num estudo coordenado por Pedro Magalhães, no âmbito do projecto Comportamento Eleitoral dos Portugueses, realizado após as legislativas de 2009, o voto jovem beneficiava, sobretudo, o Bloco de Esquerda e o CDS. Ambos os partidos conseguiam, entre os jovens, percentagens superiores à media nacional (16 e 12%, respectivamente). Se só os jovens votassem, nessa eleição, o BE ficava a apenas 4% do PSD e 13% acima da CDU. O Presidente da República encomendou, recentemente, dois estudos sobre a participação política dos jovens. Do primeiro (2007) para o segundo (2015) houve mudanças significativas. O mais recente, coordenado por Marina Costa Lobo, mostra que são menos os jovens que consideram que a democracia funciona bem (17, 3%, cerca de metade do que acontecia no estudo anterior). Descida ainda mais acentuada é da valorização do voto. Quando 90% considerava muito importante o voto, em 2007, no último inquérito são apenas 70%. Lembrando que o problema da abstenção é europeu, e se tem tornado "gravíssimo", António Salvador aponta os responsáveis: "Se os jovens não votam, a culpa é dos políticos. E o problema vai-se agudizando. Os políticos não falam para os jovens porque acham que não votam. " Nuno Garoupa usa o mesmo adjectivo: "O que acontece neste momento é que há uma grande abstenção jovem, gravíssima, de longa duração, de pessoas de 30 anos que nunca votaram e dificilmente votarão. "É essa preocupação que está na origem de uma campanha "dirigida particularmente aos estudantes do ensino superior e aos jovens", que as associações de estudantes universitários e o Conselho Nacional de Juventude lançaram: "Pretendemos que ajas, reajas e que sejas tu também um agente de promoção do envolvimento de todos em mais um momento decisivo para o futuro de Portugal. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Num final de tarde, na Rua Galeria de Paris, o centro da noite portuense, a rua ainda está vazia, mas um dos bares mais conhecidos, o 56, com as suas paredes com vitrines cheias de brinquedos antigos, está cheio. Os Vampiros, de Zeca Afonso, passam no sistema de som. A primeira fila de cadeiras, umas 30 pessoas, ocupada por cinquentões e sexagenários. A acção de campanha que Sampaio da Nóvoa tinha consagrado aos jovens foi tomada pelos pais, e alguns avós. Foi assim, em quase todos os momentos desta campanha das presidenciais: Maria de Belém em lares e Misericórdias, Marcelo Rebelo de Sousa a distribuir afectos pela população idosa. O ciclo vicioso pode bem ser esse: uns desinteressam-se os outros desistem. Mas não é inevitável que os jovens se tornem numa faixa demográfica eleitoral irrelevante. NÚMEROS13, 4%Eleitores entre os 18 e os 34 anos que afirmou abster-se nas eleições presidenciais. É a percentagem mais alta de todas as faixas etárias. Fonte: Intercampus19%Portugueses entre os 18 e os 24 anos que admitiram ter votado nas últimas eleições europeias. Fonte: Eurostat17, 3%Dos jovens consideram que a democracia portuguesa funciona bem. Fonte: Inquérito à participação política dos jovens, Presidência da República, coord. Marina Costa Lobo
REFERÊNCIAS:
André Ventura escolhe militar da GNR condenado para encabeçar lista do Chega pelo Porto
O líder do Chega diz que só vai desistir quando a terceira República acabar. (...)

André Ventura escolhe militar da GNR condenado para encabeçar lista do Chega pelo Porto
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.1
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O líder do Chega diz que só vai desistir quando a terceira República acabar.
TEXTO: Sem vozes a destoar, a primeira convenção do Chega resultou numa votação praticamente unânime em torno de André Ventura. Com apenas uma lista apresentada a sufrágio neste domingo, pouco mais de uma centena de delegados deram 94% dos votos favoráveis às escolhas do professor e comentador televisivo. Num auditório em Algés repleto de recém-convertidos à mensagem política do Chega, Ventura garantiu que “não haverá alianças nem coligações ao centro” porque, diz, o partido “vale por si próprio”. Os militantes do Chega, que vêm essencialmente de partidos da direita tradicional, enquadram-se agora num partido “conservador nos costumes, liberal na economia, nacional na identidade e personalista”. Virada está a página das eleições europeias, nas quais, em coligação com o PPM e o PPV, André Ventura chegou perto dos 50 mil votos (1, 49%), mas não elegeu qualquer eurodeputado. Das listas para as legislativas ainda pouco se sabe. Ventura será o primeiro por Lisboa e, a repetir-se o resultado das europeias, poderá ser eleito. Para o distrito do Porto a escolha é mais polémica: a lista será encabeçada pelo militar da GNR Hugo Ernano que matou a tiro um jovem de 13 anos durante uma perseguição policial, em 2008. Após o pedido de recurso, Hugo Ernano foi condenado, em Junho de 2014, a quatro anos de pena suspensa e a pagar uma indemnização de 55 mil euros. Na internet surgiu então uma petição com mais de 100 mil assinaturas para pedir à absolvição do militar. No primeiro discurso como líder eleito do Chega, André Ventura disse “acreditar no homem e nos valores” de Hugo Ernano, e assumiu que “não cede ao politicamente correcto”. O momento mais aplaudido na sala foi quando Ventura, após anunciar que o Chega iria ter um candidato próprio às próximas eleições presidenciais, enumerou críticas ao actual Presidente da República. “Não é que não goste de pessoas que nadam no rio, nem temos nada contra quem liga para o Programa da Cristina”, começou por dizer, referindo-se a Marcelo. Mas logo a seguir garantiu nunca apoiar “aqueles que, em vez de estarem ao lado da esquadra da polícia, estão a tirar selfies com criminosos”, numa referência à visita do Presidente da República ao bairro da Jamaica, no Seixal. O discurso de André Ventura foi de crítica em todas as direcções: ao excesso de carga fiscal, porque “hoje os escravos somos nós”; ao sistema, porque “é corrupto e decrépito”; à burocracia, que nos acompanha “até na morte”; ou à política de integração dos imigrantes, apesar de garantir que não existia “ponta de xenofobia” na sala onde discursava. O líder do Chega apostou nos slogans que já enchem cartazes na rua, garantindo que o “objectivo é resistir" e eleger deputados à Assembleia da República. O primeiro combate é “contra a abstenção” e a primeira promessa é proibir os condenados por corrupção de terem cargos públicos. Em tom de ironia, que ia pautando o discurso, afirmou que, na sala, “haviam de estar todos reformados antes de Sócrates ir preso” - nas primeiras filas, a idade média da plateia era já relativamente elevada. Reafirmou ainda que defende a existência de menos deputados, abaixo do mínimo constitucional de 180 parlamentares. “Prefiro perder o meu lugar a mudar a minha convicção”. Para os delegados à primeira convenção do Chega ficou a promessa de um encontro com o espanhol VOX neste mês de Julho - um partido “com coerência de valores”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ventura sonha também que em meia dezena de anos “o Chega se torne uma referência” lá fora, esperando por isso deixar de ser chamado de “Trump de Loures” ou “Bolsoluso”, que rejeita por “não fazer vídeos em casa de calções” e por não preferir “um filho morto a um filho homossexual”. Num momento para a fotografia, o discurso acabou com Ventura de mão no peito a cantar o hino nacional. Seguiu-se "música épica”, que havia tocado toda a manhã em loop, digna de um qualquer episódio de Guerra dos Tronos. Ventura disse-se “pronto para a luta” pelo seu lugar no Parlamento e assumiu que só vai desistir quando a terceira República (que se iniciou com a Revolução de Abril de 1974) acabar. Para esse objectivo, garante, tem um “enorme apoio das pessoas face a um sistema que as ignorou”.
REFERÊNCIAS:
Partidos PPM