Porto recebe centro de apoio para vítimas de violência sexual
Será o segundo do país e tentará dar uma “resposta digna” a mulheres que sobreviveram a violações. No de Lisboa, só num ano, foram atendidas 51 pessoas que foram alvo de violência na capital e arredores. (...)

Porto recebe centro de apoio para vítimas de violência sexual
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Será o segundo do país e tentará dar uma “resposta digna” a mulheres que sobreviveram a violações. No de Lisboa, só num ano, foram atendidas 51 pessoas que foram alvo de violência na capital e arredores.
TEXTO: A partir da próxima semana, o Porto vai ter um centro de apoio especializado a mulheres vítimas de violência sexual, o segundo do país. O projecto EIR — Emancipação, Igualdade, Recuperação, coordenado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), será apresentado na quinta-feira, durante o seminário “Violência Sexual nas Relações de Intimidade”, no Instituto Universitário da Maia (ISMAI). Este novo serviço especializado, o segundo do país dirigido a mulheres — o primeiro nasceu no início de 2017 em Lisboa, a cargo da Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV) — tentará dar uma “resposta digna” a mulheres que sobreviveram a violações, com uma equipa técnica “especializada e multidisciplinar”, preparada para prestar atendimento psicológico, social e jurídico. O projecto EIR estará preparado para atender mulheres que “em algum momento das suas vidas foram vítimas de algum tipo de violência sexual”, explica a responsável pelo novo serviço, Ilda Afonso, com experiência de vários anos no atendimento a vítimas de violência doméstica (VD). “Já tínhamos aqui no centro de atendimento [a vítimas de VD, da UMAR] algumas situações de violência sexual, sabemos que uma grande parte das vítimas de violência sexual são vítimas por parte de familiares, conhecidos, amigos”, recorda. “Mas é importante que existam centros especializados em violência sexual, são fenómenos diferentes, a intervenção não é a mesma. ”A AMCV publicou em 2015, no âmbito do projecto “Novos desafios no combate à violência sexual”, guias de bolso sobre violência sexual, dirigidos a vítimas e a profissionais, que estão disponíveis também na Internet. Aí explica-se, por exemplo, que, em situação de emergência, as vítimas podem chamar a polícia ou a ambulância através do 112. Que nas urgências, serão prestados os cuidados de saúde necessários, incluindo tratamento para infecções sexualmente transmissíveis ou acesso à contracepção de emergência. E que ao revelar que foi vítima de violação, esta “tem direito a receber apenas o tratamento médico e rejeitar fazer o exame médico-legal, caso seja essa a sua vontade”. Contudo, se pretender apresentar queixa-crime, “é aconselhável apresentar prova”. Este exame é feito pelo Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), até 72 horas após a violação. Além das delegações do INML, há 30 gabinetes médico-legais instalados em hospitais por todo o país. No caso de maiores de idade, a violação é um crime semipúblico, o que significa que só será investigado se a vítima apresentar uma queixa — o que pode ser feito no prazo de seis meses junto de qualquer órgão de polícia criminal, no tribunal ou no INML. É importante notar que “a violência sexual pressupõe não ter existido consentimento”, e isso deve estar claro na queixa. “De uma forma geral, as sobreviventes descrevem o que o agressor lhes fez, mas raramente o que elas próprias fizeram, sentiram ou o que pensaram, ou seja, como resistiram, como sobreviveram à agressão. ”O processo de recuperação do trauma pode ser longo e algumas organizações dispõem de serviços de apoio: Associação de Mulheres Contra a Violência; Associação Portuguesa de Apoio à Vítima; Associação para o Planeamento da Família; União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR); Associação Quebrar o Silêncio (homens) e Centro Gis (LGBT). Centros de apoio especializado em violência sexual são referidos em compromissos internacionais assinados por Portugal no âmbito da protecção dos direitos das mulheres, como a Convenção CEDAW, da ONU, e a Convenção de Istambul, do Conselho da Europa. A recomendação deste último, aliás, é que haja um centro deste tipo para cada 200 mil mulheres. A proposta para a criação do centro de crise da AMCV para vítimas de violência sexual em Lisboa, que arrancou em Janeiro do ano passado, surgiu precisamente depois da última avaliação da Comissão CEDAW, “em que as Nações Unidas disseram a Portugal que era preciso implementar os centros de crise”, conta Margarida Medina Martins, fundadora da organização. Durante o primeiro ano de funcionamento, o projecto-piloto (apoiado pelo Ministério da Justiça e pela Secretaria de Estado da Igualdade) apoiou “51 vítimas sobreviventes directas de violência sexual da Área Metropolitana de Lisboa”. A maioria das mulheres está nas faixas entre 18-30 anos e 51-60 anos, e cerca de 60% das sobreviventes tinham ou tinham tido uma relação de intimidade com os agressores — 94% dos quais eram homens. Mas a AMCV, que apoia vítimas de violação há mais de duas décadas, suporta os custos de atender também mulheres do resto do país. “Souberam que estávamos a dar apoio nesta área, e portanto no total estaríamos a falar de cem mulheres”, diz-nos Margarida Medina Martins. "O facto de ter aumentado a visibilidade sobre o tema, de se saber que há agora uma resposta nova em Portugal nesta área, faz com que as pessoas avancem para perguntar como é que é". Não é à toa que a violência sexual surge enquadrada como uma forma de violência de género contra as mulheres. No ano passado, de acordo com o último Relatório Nacional de Segurança Interna, a esmagadora maioria (90, 7%) das participações por violação foram feitas por mulheres. E 99, 2% dos arguidos eram homens, mais de metade dos quais tinham uma relação familiar ou de conhecimento com a vítima. São números expressivos que mostram que a violência sexual afecta as mulheres de forma desproporcional, o que não significa que seja menos importante apoiar as vítimas do sexo masculino: em Portugal, para além destes dois serviços dirigidos a mulheres, existe também desde o início de 2017 uma resposta especializada para homens vítimas de violência sexual. Fica em Lisboa, a cargo da associação Quebrar o Silêncio, que também tem visto crescer o número de pedidos de apoio. E o que recebem as vítimas nos centros da AMCV e da UMAR? Para começar, apoio jurídico. “Se eu não fiz queixa quando fui violada, ainda vou a tempo de fazer? Se eu fizer queixa, qual é a protecção que tenho? É um crime público ou é um crime semipúblico?”, são algumas das perguntas enumeradas por Alberta Silva, coordenadora do centro de atendimento da AMCV. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas, tal como a resposta que agora abre no Porto, o centro da AMCV está preparado para atender também vítimas de violações que aconteceram há muitos anos, ajudando-as a lidar como trauma. “O centro de crise vem também para estas pessoas, porque se pode entrar em crise em qualquer altura da vida, nem que seja 60 anos depois”, conta Margarida Martins. E mesmo nos casos de apoio a vítimas de crimes recentes, diz-nos Alberta Silva, “depois há todo um acompanhamento”. O tempo é um ponto crítico para as vítimas de violência sexual. Actualmente, a lei dá um prazo de seis meses para que seja apresentada queixa. “Para mim, os crimes de violência sexual não deviam prescrever”, diz Margarida Medina Martins. "A questão é que, para as sobreviventes, uma coisa é aquilo que acontece agora, outra coisa é o timing em que ela é capaz de estar em condições de falar, ou estar suficientemente protegida ou segura para dizer 'é agora que eu quero fazer queixa'. "
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Girls just wanna have power: duas novas ministras é bom, mas não chega
Em Portugal as mulheres até podem entrar no governo, desde que devidamente enquadradas por testosterona ministerial. (...)

Girls just wanna have power: duas novas ministras é bom, mas não chega
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.278
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Portugal as mulheres até podem entrar no governo, desde que devidamente enquadradas por testosterona ministerial.
TEXTO: O XXI Governo Constitucional começou com apenas quatro ministras, de um total de 17. Há cerca um ano, esse número baixou para três, com a saída de Constança Urbano de Sousa e a entrada de Pedro Siza Vieira. A recente remodelação levou à saída de quatro ministros e à entrada de duas ministras e um ministro. A percentagem de mulheres aumentou, felizmente, mas ainda não foi desta que atingimos a média de 30% da União Europeia!Segundo o Instituto Europeu para a Igualdade de Género, Espanha e Suécia são os únicos países com mais ministras do que ministros. Há outros países, como França, Dinamarca, Alemanha, Eslovénia e Islândia, onde as mulheres representam mais de 40% do Conselho de Ministros. Na União Europeia, a campeã da desigualdade de género é a Hungria, com apenas 7% de mulheres em posições ministeriais. Quando incluímos posições executivas menos relevantes, o equivalente das secretarias de Estado, a representação feminina aumenta na maior parte dos países, chegando a cerca de 30% em Portugal. Portanto, as mulheres até podem entrar no governo, desde que devidamente enquadradas por testosterona ministerial. A mesma testosterona deve explicar esta afirmação da OCDE, de 2016: “As mulheres são raramente nomeadas para ministérios com maior poder de decisão (Finanças, Defesa, etc. ) que estão associados a noções de masculinidade. ”A falta de poder feminino não se limita aos cargos políticos. Em Março de 2016, a OCDE organizou em Paris a conferência Melhorar o Acesso das Mulheres à Liderança, cujo relatório se divide em duas partes, dedicadas às lideranças pública e corporate. As empresas do PSI 20 tinham apenas 11% de mulheres na administração, em 2015, enquanto as empresas cotadas da Noruega, França e Finlândia tinham 36%, 33% e 30% de mulheres nos respetivos boards. Destes três países, apenas a Finlândia não tem uma política de quotas, introduzidas na Noruega em 2003 e em França em 2011. Em Portugal, a lei que impõe uma quota de um quinto de mulheres na administração das empresas cotadas entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2018, mas até agora não surtiu efeitos: a 30 de Julho, o Expresso noticiava que apenas 57 do total de 399 administradores eram mulheres. Há uma razão de princípio para nos preocuparmos com a falta de mulheres em cargos de poder: se estas representam 53% da população portuguesa em 2017, é improvável que seja apenas por falta de interesse ou vontade que não cheguem a 20% nos cargos de poder. Mas há outras razões, igualmente importantes. Na Índia, a política de quotas imposta em 1993 para os governos locais não os afetou a todos igualmente. Uma comparação entre os executivos locais com quotas de género e os restantes permite concluir que os primeiros implementaram mais projetos de infra-estruturas básicas, como o fornecimento de água potável. Podemos argumentar que esta realidade é específica de um país em vias de desenvolvimento, mas não podemos descartar que mais mulheres no poder levassem, por exemplo, a políticas que melhorassem o equilíbrio entre a vida familiar e o trabalho. A mesma política de quotas levou, poucos anos mais tarde, a que mais mulheres tivessem participação cívica e política e a uma mudança nas atitudes dos eleitores em geral relativamente à eficácia das mulheres enquanto decisoras políticas — ou seja: as quotas combatem os estereótipos negativos de género. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pela mesma razão, termos pela primeira vez uma homossexual assumida, Graça Fonseca, como ministra é certamente uma ótima notícia para a democracia. Mas há mais. Investigação recente sobre as quotas de género nos governos locais em Itália e na Suécia mostra que estas aumentaram o nível de educação dos eleitos locais. Não só as mulheres que entram na política têm níveis de educação elevados, como dão origem à saída dos homens com menor qualificação. Isto sugere que os políticos do sexo masculino recrutam homens medíocres para manter fechado o circuito do poder, em detrimento de mulheres mais qualificadas e que a via legislativa atenua este mecanismo perverso. Melhorar a representação das mulheres não é o único desafio. Por falta de dados oficiais, não sabemos sequer que percentagem de jovens de etnias minoritárias chegam ao ensino superior em Portugal. Conhecer a sua representação em lugares de poder é uma miragem longínqua. E, no entanto, como no caso das mulheres, uma luta tão necessária à qualidade da democracia. A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico
REFERÊNCIAS:
Entidades OCDE
The Handmaid’s Tale escolhe a revolução — mas terá caído na espiral do aborrecimento?
À terceira temporada, a protagonista June troca a fuga pela luta em defesa das mulheres e em prol da queda do regime. A série distópica que transforma os Estados Unidos numa teocracia autoritária machista continua urgente e relevante, mesmo com a crítica a denunciar um enredo repetitivo e monótono. (...)

The Handmaid’s Tale escolhe a revolução — mas terá caído na espiral do aborrecimento?
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: À terceira temporada, a protagonista June troca a fuga pela luta em defesa das mulheres e em prol da queda do regime. A série distópica que transforma os Estados Unidos numa teocracia autoritária machista continua urgente e relevante, mesmo com a crítica a denunciar um enredo repetitivo e monótono.
TEXTO: Num sistema que oprime as mulheres, é delas que parte a luta — pelo menos é assim na nova temporada de The Handmaid’s Tale. Quase um ano depois do final agridoce do segundo capítulo, os três primeiros episódios da terceira temporada ficarão disponíveis no serviço de streaming NOS Play esta quinta-feira, 6 de Junho – um dia depois da estreia nos Estados Unidos na plataforma Hulu, que não opera em Portugal. Mesmo antevendo uma revolução, a história tem sido acusada de se enrolar sobre si mesma e de ter caído numa espiral de aborrecimento e de repetição. Nas duas temporadas anteriores, o enredo focou-se sobretudo no sistema em torno das servas, as handmaids, mas há agora um vislumbre do poder camuflado e organizado das Marthas (escravas que tratam das lides domésticas nas mansões dos grandes senhores) e dos movimentos de resistência. O ritmo monótono dos três primeiros episódios a que o PÚBLICO assistiu não deixa clara esta revolução profetizada no trailer, a não ser nas acções subentendidas das protagonistas June (Elisabeth Moss) e Serena (Yvonne Strahovski). Ao todo, são 13 episódios, tal como na segunda temporada (na primeira foram dez). É uma narrativa que se tornou “frustrantemente repetitiva”, descreve a Hollywood Reporter: “Nos primeiros seis episódios (. . . ) há um sentimento de que a série não tem nada de novo para dizer. ” Também o Washington Post defende que se tornou difícil para a série encontrar um ritmo que seja simultaneamente “consistente e interessante”, e que ela acaba por cair no poço do aborrecimento. “Os episódios muitas vezes entram no terreno do verdadeiramente enfadonho, dando voltas longas e redundantes em torno da sua premissa original. ” Essa premissa é ainda bem visível nas performances dos actores, nas cenas longas e recheadas de close-ups, na história que fica nas entrelinhas. Apesar das críticas que brotaram ainda durante a exibição da segunda temporada, o sucesso de The Handmaid's Tale é incontestável e a Hulu revelou que o número de espectadores duplicou de 2017 para 2018. De resto, há um mérito que não se pode tirar-lhe: foi a primeira série de um serviço de streaming a receber o importante Emmy de Melhor Série Dramática, em 2017. Nesta série inspirada no livro homónimo, originalmente publicado em 1985, da escritora canadiana Margaret Atwood, os Estados Unidos como os conhecemos hoje não existem mais: a democracia deu lugar a Gilead, uma teocracia totalitária machista que escraviza as mulheres férteis para que sirvam nas casas dos homens no poder, engravidando-as e arrancando-lhes os filhos recém-nascidos dos braços. Depois de uma queda a pique da taxa de nascimentos saudáveis, deixa de importar o que estas mulheres eram antes: enfermeiras, professoras, investigadoras, escritoras — e até ler é proibido. Neste mundo de “ficção especulativa”, os homossexuais são executados por traição, os cidadãos são espiados, os “criminosos” são enviados para colónias radioactivas de trabalho forçado, as mulheres não têm direitos nem liberdade de expressão e são vítimas de exploração, abuso e de violência. Até a autora do livro considerou que uma das cenas da série era “demasiado perturbadora”, sobretudo por ser um reflexo da própria História. O Canadá continua a salvo da opressão e é para lá que todas tentam fugir. Sem intervenção internacional, a revolução parte agora de dentro da República de Gilead. Os opositores confiam em aliados poderosos e no que resta de boa vontade alheia para escapar ao sistema de opressão. Mais do que escapar, importa deitá-lo abaixo. Estes resistentes, sobretudo mulheres, tornar-se-ão “pesadelos” — e tem-se dado ainda mais força à expressão “não deixes que os sacanas te deitem abaixo” (nolite te bastardes carborundorum, em latim macarrónico). “Um dia, quando estivermos prontas, vamos caçar-vos. Fiquem à espera”, antevê June, na frase que termina o terceiro episódio. A terceira temporada continua a ser narrada pela protagonista June — cujo nome de serva passou de Offred a Ofjoseph —, reflectindo-lhe os pensamentos que, à semelhança do que acontece no 1984 de George Orwell e noutras narrativas distópicas, são dos únicos lugares livres num regime de opressão. A meio da temporada, haverá uma visita ao coração do regime – a capital de Gilead, antiga Washington DC democrática –, onde o sistema é ainda mais fundamentalista e as regras ainda mais apertadas. Até o Monumento de Washington foi transformado numa cruz branca gigante. “É Gilead em esteróides”, brinca o produtor-executivo Warren Littlefield. Nesta terceira temporada (tal como na segunda), o enredo da série produzida por Bruce Miller vai já longe da obra original, que em Portugal teve dois títulos: Crónica de uma Serva e o mais recente A História de uma Serva. Para Setembro está marcado o lançamento da sequela literária que, segundo a autora, hoje com 79 anos, retrata os acontecimentos 15 anos depois da acção temporal do primeiro livro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Três décadas após a publicação deste romance distópico, a sua história tornou-se um símbolo de resistência feminista, coincidindo também com a chegada ao poder do Presidente norte-americano, Donald Trump, e com o movimento de denúncia #MeToo, integrado na nova vaga de luta pela igualdade de género. Tem sido considerada “mais relevante do que nunca” – para que não se caia, no futuro, nos erros do passado. Tanto que muitas manifestações se têm apropriado das vestes vermelhas das servas da série como símbolo de opressão: viram-se, por exemplo, nos protestos contra a proibição do aborto no estado norte-americano do Alabama, mesmo em casos de violação e incesto. “Isto não é uma cena de The Handmaid's Tale. Isto está a acontecer no Alabama, no nosso país, no ano 2019”, comparou a senadora Kamala Harris. Numa entrevista ao jornal britânico The Guardian, também a actriz (e produtora-executiva) Elisabeth Moss deixa as alegorias (do aborto ou da liberalização das armas) de lado: “Isto está a acontecer na vida real. Acordem”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto direitos homens violência violação igualdade género mulheres abuso feminista
Nos municípios a igualdade vai ter (mesmo) que sair do papel
Nova geração de protocolos para a igualdade de género exige maior compromisso na execução de medidas. “A promoção da igualdade não pode ficar acantonada no domínio da acção social”, sublinha a secretária de Estado para a Igualdade. (...)

Nos municípios a igualdade vai ter (mesmo) que sair do papel
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nova geração de protocolos para a igualdade de género exige maior compromisso na execução de medidas. “A promoção da igualdade não pode ficar acantonada no domínio da acção social”, sublinha a secretária de Estado para a Igualdade.
TEXTO: O Governo anunciou nesta quarta-feira uma nova geração de protocolos com as autarquias no âmbito da igualdade de género, que exigem um maior compromisso na execução de medidas. A revisão do modelo de protocolo entre a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) e os municípios foi anunciada pela secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, no Encontro Nacional do Dia Municipal para a Igualdade, em Lisboa. Até hoje, foram assinados 188 protocolos de cooperação entre a CIG e autarquias, onde se incluem 179 protocolos para a igualdade e não discriminação e nove acordos intermunicipais, vocacionados para a violência doméstica. “Estes planos têm que se traduzir em acção, têm que sair do papel”, frisou a governante. “Muitas vezes os protocolos demonstram uma vontade de intervenção, mas nem sempre isso se concretizava plenamente, até porque alguns municípios tinham dificuldade em perceber o que fazer e como fazer. ”Respeitando a autonomia dos municípios, sublinha Rosa Monteiro, este é um “trabalho que tem que ser feito em rede”. Dando como exemplo a intervenção que é feita a nível do apoio a vítimas de violência doméstica, que exige rigor do ponto de vista técnico, reforça que as respostas dos municípios “têm que estar integradas e articuladas”. Há ainda um “desconhecimento sobre o que os outros fazem”, nota a secretária de Estado, anunciando que a CIG vai lançar uma plataforma para monitorização dos planos municipais onde estes poderão partilhar boas práticas e procurar recursos — “ferramentas para um diálogo mais intenso, mais articulado” —, fornecendo também dados sobre a aplicação dos respectivos planos. Os novos protocolos têm um período de vigência de quatro anos e seguem uma abordagem abrangente, em linha com a Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação, desde áreas como a educação e o emprego às questões da violência doméstica e das discriminações múltiplas em razão do género, etnia, idade ou orientação sexual. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sem avançar valores concretos, a governante afirmou que até ao início de 2019, no âmbito do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego, serão lançados apoios específicos para o desenvolvimento dos planos municipais associados a estes protocolos, assim como para o reforço da formação de “públicos estratégicos”, em domínios como a educação ou o apoio social. No âmbito dos EEA Grants, haverá financiamento para projectos dos municípios para a capacitação de mulheres para a “participação política, cívica e económica”. O objectivo é tornar esta abordagem transversal, e por isso sectores “não clássicos na área de intervenção da igualdade”, como a habitação, segurança, transportes, saúde e desporto, também serão chamados para esta intervenção articulada. “A promoção da igualdade e da não discriminação não pode ficar acantonada no domínio da acção social”, sublinhou a secretária de Estado na sessão, que terminou com o anúncio dos prémios Viver em Igualdade, que este ano distinguiu os municípios de Cascais, Guimarães, Lagoa, Oliveira de Azeméis e Seixal por boas práticas na integração da dimensão da igualdade na intervenção autárquica.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência educação social igualdade género sexual mulheres doméstica discriminação
Já nasceu a deusa-menina
Agora sabemos que o transplante de útero a partir de doação de órgãos após um óbito pode constituir um caminho viável. (...)

Já nasceu a deusa-menina
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Agora sabemos que o transplante de útero a partir de doação de órgãos após um óbito pode constituir um caminho viável.
TEXTO: Estamos em dezembro, e as decorações natalícias aí estão para o fazer notar. Neste mês assinala-se um nascimento especial que nos convida a refletir. Após um transplante de útero bem-sucedido, uma mulher deu à luz uma criança. Aconteceu há um ano, numa unidade hospitalar em São Paulo, e mãe e criança permanecem bem e saudáveis. A novidade deste caso não decorre do transplante de útero em si mesmo, procedimento que aconteceu pela primeira vez na Suécia em 2013, tendo sido efetuado desde então em 39 mulheres. No caso agora relatado na reputada revista científica The Lancet, tornado possível graças a uma equipa chefiada pela médica e investigadora Dani Ejzenberg, a dadora do órgão transplantado para a mãe de 32 anos teria morrido de acidente vascular aos 45 anos. Tratou-se aqui de um caso de doação de órgão, idêntico a inúmeras outras situações em que a colheita de órgãos viáveis como o coração, pulmões ou córneas, entre muitos outros, é feita logo após a morte da pessoa dadora. Mas nunca, até ao momento, tinha sido possível assegurar as condições para uma gravidez segura e com sucesso a uma mulher cujo transplante de útero tivesse ocorrido por motivo de óbito da dadora. Naturalmente este facto é motivo de grande regozijo para a mãe e a criança. Mas também é fonte de celebração para a comunidade científica cuja dedicação e rigor conhecem agora estes extraordinários resultados. Este facto é ainda razão de esperança para todas as pessoas para as quais a parentalidade sem intervenção médica alargada não é possível, nomeadamente as pessoas sem útero. Assim, para além da possibilidade de adoção, coadoção ou procriação medicamente assistida – legalmente disponível em Portugal para todas as pessoas independentemente do seu estado civil, identidade de género ou orientação sexual –, abre-se agora uma janela de oportunidade eticamente responsável que autonomiza gestação e corpo da pessoa gestante, mãe ou pai. Já a gestação de substituição dera um passo significativo nesse sentido, ainda que de uma forma distinta e com as restrições jurídicas e de procedimento que são conhecidas e que colocam todas as pessoas envolvidas num limbo que, desejavelmente, será ultrapassado a curto prazo. Agora sabemos que o transplante de útero a partir de doação de órgãos após um óbito pode constituir um caminho viável, quer para a pessoa gestante, quer para a criança. Representando um avanço sem precedentes na área da medicina, alarga-se assim o campo de soluções reprodutivas para pessoas sem útero que manifestem o seu consentimento informado relativamente a este procedimento. Tal possibilidade, tornada finalmente real, deve merecer uma atenção séria, protegida do facilitismo mediático, e sobretudo dos julgamentos de valor que se ancoram em visões restritivas sobre reprodução e parentalidade, galvanizados, neste caso em particular, por algum pânico moral em torno da morte. Recorde-se, a este propósito, que Portugal ocupa o segundo lugar a nível mundial no número de órgãos de pessoas dadoras mortas. Só em 2017, de acordo com dados disponibilizados pela Coordenação Nacional da Transplantação (CNT), colheram-se 1011 órgãos e realizaram-se 895 transplantes, o que traduz um aumento de 3, 5% face a anos anteriores. Importa também recordar aquilo que torna a colheita e transplantação de órgãos, tecidos e células de origem humana num dos mais nobres exercícios da prática clínica. De acordo com a CNT, unidade responsável em Portugal pela regulamentação e normalização das atividades de dádiva, colheita e transplantação, o principal objetivo é “a promoção da doação altruísta, promovendo o aumento progressivo da disponibilidade de órgãos, tecidos e células para transplante, garantindo desta forma que todos os cidadãos que necessitem de um transplante tenham as maiores e melhores possibilidades de o conseguir”. Trata-se, portanto, de matéria estritamente ligada ao acesso a uma cidadania plena, no âmbito da qual se inclui o direito à saúde reprodutiva. As questões que se colocam no momento em que este caso se tornou conhecido devem então centrar-se no bem-estar e autodeterminação das pessoas envolvidas, como sucede, de resto, em qualquer outra esfera de cidadania íntima. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Relembrando as vezes que forem necessárias que a parentalidade é muito mais do que a mera reprodução biológica, acresce ainda sublinhar que este caso não configura, necessariamente, experimentalismo de pendor natalista, visando colocar a capacidade reprodutiva no centro da ordem social, na esteira de Gilead. E assim sendo, cumpre apelar também à dimensão de defesa do direito inalienável à autodeterminação sexual e reprodutiva que, em situações pontuais mas reiteradas em tempos recentes, parece gerar dissensos pouco razoáveis à luz de um feminismo emancipatório. Seria particularmente dececionante que o transplante de útero, mais do que uma oportunidade transversal a todas as pessoas, se transformasse numa plataforma de reforço de estereótipos sexistas, abolicionistas ou transfóbicos, como tem sucedido, por exemplo, com a gestação de substituição enquanto trabalho reprodutivo. E, já agora, aproveitemos o momento para dar parabéns à criança que celebra o seu primeiro aniversário a 15 de dezembro. E para lhe deixar um agradecimento que não cabe nas palavras, porque foi ela, deusa-menina nascida em São Paulo, que nos mostrou que era possível imaginar formas alternativas de existência e resistência. A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte campo mulher comunidade social criança género sexual mulheres corpo pânico feminismo
Cem mulheres católicas apelam à candidatura de Bagão Félix
O apelo foi anunciado ontem num almoço no Estoril e vai agora seguir por carta. Mais de cem mulheres católicas pedem a António Bagão Félix que se candidate à Presidência da República, certas de "não existem em Portugal muitas pessoas com a capacidade de representar um povo maioritariamente católico", num "tempo particularmente perigoso" em que "os valores parecem tornar-se absurdos, em muitos casos alvos a abater". (...)

Cem mulheres católicas apelam à candidatura de Bagão Félix
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: O apelo foi anunciado ontem num almoço no Estoril e vai agora seguir por carta. Mais de cem mulheres católicas pedem a António Bagão Félix que se candidate à Presidência da República, certas de "não existem em Portugal muitas pessoas com a capacidade de representar um povo maioritariamente católico", num "tempo particularmente perigoso" em que "os valores parecem tornar-se absurdos, em muitos casos alvos a abater".
TEXTO: Estão, dizem, "desiludidas" com Cavaco Silva, depois de o Presidente da República ter promulgado a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, sem ter utilizado o veto. Surpreendido com a notícia, o ex-ministro dos governos de Durão Barroso e de Santana Lopes estima o gesto, mas não vacila na decisão que diz já ter tomado. "Respeito o apelo, fico sensibilizado do ponto de vista pessoal, mas a minha posição tem de ser compreendida. Não sou candidato, nem candidato a candidato", declarou Bagão Félix ao PÚBLICO. O movimento Mulheres Século XXI, que tem rostos conhecidos como Isilda Pegado, reabre assim, sem subterfúrgios, a questão presidencial no centro-direita, um espaço eleitoral que seria naturalmente afecto a uma recandidatura de Cavaco Silva. Recebida com indignação, sobretudo pelos sectores católicos, a promulgação da lei do casamento gay mereceu uma reacção muito crítica do cardeal-patriarca, inconformado com justificação da crise para não ter havido veto. Então, Bagão Félix assumiu ter sido sondado para avançar com uma candidatura a Belém. Pedro Santana Lopes entrou também na liça, criticando duramente Cavaco Silva e defendendo haver espaço para uma alternativa à direita. Exclui-se da corrida, mas tem alimentado a ideia, quer em artigos de opinião, quer através do seu blogue. A ofensiva foi travada pelo líder social-democrata Pedro Passo Coelho, que reafirmou o apoio à recandidatura de Cavaco. Paulo Portas, por seu lado, garantia que, se Bagão avançasse, o apoiaria, quando o ex-ministro tinha já descartado a hipótese. Desdramatizando as consequências políticas de uma fractura entre duas candidaturas para o campo da direita, Santana Lopes tenta desmontar os argumentos de quem entende, como Marcelo Rebelo de Sousa, que uma segunda volta nas presidenciais poria em risco a vitória de Cavaco Silva. "Sabem quantos candidatos houve na primeira volta das eleições presidenciais, em França, em 2007? Doze candidatos, quatro dos quais de direita. Passaram à segunda volta, um de direita e outro de esquerda", escrevia Santana Lopes no seu blogue na passada segunda-feira. "Em França, cujo sistema de governo inspirou o nosso, do que não há memória é de uma só candidatura, na primeira volta, de um lado ou de outro do espectro partidário", insiste o ex-líder do PSD. O PÚBLICO tentou ontem ouvir Santana Lopes, mas sem sucesso. Após as primeiras reacções, a hierarquia da Igreja Católica remeteu-se ao silêncio, mas a "ferida" parece continuar aberta. "Estamos num grande drama, porque não sabemos em quem votar. Por isso propomos o dr. Bagão Félix, pois acredita nos valores da família", disse Thereza Carvalho, da organização do encontro em que participaram muitas das mulheres que integraram a Plataforma Cidadania e Casamento. Acusa directamente Cavaco Silva de "ter virado as costas à população católica" e vaticina mesmo que a opção que tomou no casamento gay "pelo politicamente correcto" terá custos eleitorais pesados. "Vai ter um efeito dominó na perda de votos", sustenta, confiando em que Bagão Félix repondere a sua decisão.
REFERÊNCIAS:
Crise leva mulheres a alugar o útero, apesar de ser ilegal
Há mulheres que são “barrigas de aluguer” em Portugal, apesar de ser um crime que dá prisão. Cobram até 100 mil euros para conseguir uma casa ou apenas para tirar “o pé da lama”. E tentam não pensar na criança. (...)

Crise leva mulheres a alugar o útero, apesar de ser ilegal
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento -0.5
DATA: 2011-05-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há mulheres que são “barrigas de aluguer” em Portugal, apesar de ser um crime que dá prisão. Cobram até 100 mil euros para conseguir uma casa ou apenas para tirar “o pé da lama”. E tentam não pensar na criança.
TEXTO: O aluguer do útero é desde 2006 “punido com pena de prisão até dois anos ou pena de multa até 240 dias”, segundo a lei da Procriação Medicamente Assistida. A proibição não impede que mulheres em Portugal aluguem o útero por montantes que vão até aos 100 mil euros, segundo testemunharam à agência Lusa “barrigas de aluguer”. Amélia (nome fictício) tem 24 anos e foi a “situação financeira” que a levou a fazê-lo. O emprego “mal dava para pagar as contas” e perseguia o sonho de ter casa própria. Viu no aluguer do útero uma “forma rápida de ganhar um bom dinheiro” e vai no segundo contrato que em breve deverá resultar em mais uma gravidez. Quem a procura, nomeadamente pela internet, são “casais impossibilitados de ter filhos, mulheres com medo de modificar o corpo, casais homossexuais, homens que não querem responsabilidades com a mãe dos filhos ou pessoas sozinhas que precisam de companhia”. Era português o casal a quem entregou a primeira criança. Sem especificar quanto recebeu, diz que normalmente os preços vão de 30 a 100 mil euros, “para casais com uma vida financeira resolvida”. O resto pouco interessa. “Não me interessa saber quem é, até porque não os vou ver mais na vida. Desde que respeitem as cláusulas do contrato e não maltratem a criança, não queremos saber nada da sua vida. Quanto mais soubermos, pior”. A inseminação que conduziu à gravidez foi feita numa clínica em Portugal, o que a lei proíbe: “O dinheiro compra essas coisas”, afirma. O casal acompanhou a gestação. “Sentem-se realizados”, diz Amélia, que reconhece que, para este “trabalho”, é preciso preparação mental. “É normal trabalharmos a nossa cabeça, sempre em negação de ter uma criança”. Nem todas o conseguem. Alice (nome fictício), 22 anos, decidiu ser “barriga de aluguer” porque, por um problema de saúde, precisou de dinheiro. Um amigo disse-lhe que um casal homossexual num país europeu procurava uma “barriga de aluguer”. Aceitou “sem pensar” e hoje garante que não foi por ganância, mas por “necessidade”. Do casal que a procurou sabe pouco. “Não quis saber muito sobre as pessoas, pois quanto menos me envolvesse, melhor”, contou. A oferta que aceitou foi 30. 000 euros, dos quais Alice recebeu 15. 000 para iniciar o processo. Mas, à medida que o tempo passava, começou “a pensar que estava a fazer um negócio, a tratar um ser humano como um objecto de troca”. Mesmo assim, avançou. Fez os procedimentos de preparação para uma inseminação artificial “sem tocar num cêntimo”. A técnica foi feita numa clínica em Lisboa, na qual Alice nem precisou de falar, pois era um estabelecimento “de confiança da pessoa que queria a criança”. Na hora de fazer a inseminação, desistiu. “Por muitas que fossem as necessidades, o meu coração de mãe falou mais alto. Devolvi o dinheiro e o assunto ficou por aí”, disse. “Conheço pessoas que foram até ao fim e arrependeram-se. Por mais que finjam que está tudo bem, e tenham tentado não se apegar à criança, chega a hora em que aparece o sentimento de culpa de ter dado um filho por dinheiro”, assegura. Segundo Alice, “a crise já duplicou a disposição de mulheres para este negócio e, quem o procura, aproveita pois sai mais barato e escusam de ir à Índia, onde é legal”. Alice ainda hoje recebe propostas. De casais desesperados por um filho que oferecem o que têm e não têm. Alguns não conseguem chegar ao valor pedido e oferecem carros. São propostas como estas que Joana (nome fictício), 26 anos, está a analisar há três meses. Espera apenas acabar os estudos antes de a barriga começar a ver-se e está a tentar organizar-se para não precisar de estar contactável após o parto e não ter de dar satisfações sobre o destino da criança. Para isso, conta passar algum tempo noutro país, se o casal concordar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens lei filho prisão criança medo mulheres corpo homossexual
Obama toma posse com discurso de esperança e união
O Presidente dos EUA iniciou o seu segundo mandato com um discurso centrado na sua agenda interna e no qual reforçou o seu empenho em temas como a imigração, as alterações climáticas, a justiça social e uma política externa assente na paz. (...)

Obama toma posse com discurso de esperança e união
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-01-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente dos EUA iniciou o seu segundo mandato com um discurso centrado na sua agenda interna e no qual reforçou o seu empenho em temas como a imigração, as alterações climáticas, a justiça social e uma política externa assente na paz.
TEXTO: Barack Obama tomou posse como Presidente dos Estados Unidos com um discurso forte e programático, no qual apelou à unidade e à mobilização dos americanos para “responder à chamada da história e transportar para um futuro incerto essa luz preciosa da liberdade”. Após ter prestado juramento pela segunda vez em dois dias, de novo perante o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, John Roberts, Obama falou à multidão de aproximadamente 800 mil pessoas que o esperava no Mall, a esplanada que se estende em frente ao Capitólio, em Washington. O primeiro aplauso da multidão aconteceu quando o Presidente disse que “uma década de guerra” está a acabar e que a economia recomeçou a crescer. “Uma década de guerra acabou, a recuperação económica começou e as possibilidades da América são ilimitadas”, disse. Antes, Obama tinha evocado os valores fundamentais da América: “O que nos faz excepcionais é a nossa fidelidade a uma ideia formulada há 200 anos, de que todos os homens nascem iguais e têm direitos inalienáveis como a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Hoje continuamos uma jornada sem fim para ligar o significado dessas palavras à realidade do nosso tempo. ” “Sempre entendemos que quando os tempos mudam, nós temos de mudar”, afirmou. O Presidente evocou “uma geração posta à prova pelas crises” num discurso em que procurou apelar à mobilização dos americanos para apoiar a sua agenda política. Obama fez um discurso centrado na acção e na necessidade de ultrapassar polémicas estéreis, numa referência às divergências permanentes entre a Casa Branca e o Congresso. “Temos que agir no nosso tempo em vez de discutir qual o papel do nosso governo no nosso tempo. Há decisões que não podem ser adiadas. ”Obama enunciou a seguir os pontos-chave da sua agenda, como as alterações climáticas – “temos que liderar esta transformação em vez de lhe resistir” – ou os direitos dos imigrantes. Defendeu também as políticas de apoio social que têm sido contestadas pelos republicanos: “Sabemos que temos de tomar decisões difíceis para reduzir os custos dos cuidados de saúde e do tamanho do défice. Mas rejeitamos a crença de que a América tem que escolher entre tomar conta da geração que construiu este país e investir na geração que construirá este país”. Num discurso em que fez também uma defesa clara dos direitos dos homossexuais – “a nossa jornada não estará completa até os nossos irmãos e irmãs gay serem tratados como qualquer outro perante a lei” –, Obama evocou ainda a figura de Martin Luther King, que era também homenageado hoje: “Ouvimos um King proclamar que a nossa liberdade individual está inextricavelmente ligada à liberdade de cada alma na Terra”. A política externa ocupou apenas uma pequena parte de um discurso centrado na agenda interna para os próximos quatro anos e no apelo aos cidadãos para apoiar o Presidente no confronto com um Congresso hostil. Obama defendeu que “a América permanecerá a âncora das alianças fortes em cada canto do globo” e defenderá a propagação da democracia, fazendo a defesa do pacifismo: “Acreditamos que a paz e a segurança duradouras não requerem a guerra perpétua”, afirmou.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens guerra lei tribunal social gay
Imigrantes: “Há certas pessoas” a quem a Europa deve negar a entrada
Nos países ocidentais “muitas igrejas estão vazias”, lamenta o braço direito do líder da Igreja Ortodoxa Russa. Atribui a tendência à educação das crianças e a uma maior influência do islão (...)

Imigrantes: “Há certas pessoas” a quem a Europa deve negar a entrada
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento 0.214
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nos países ocidentais “muitas igrejas estão vazias”, lamenta o braço direito do líder da Igreja Ortodoxa Russa. Atribui a tendência à educação das crianças e a uma maior influência do islão
TEXTO: O arcebispo russo Hilarion Alfeyev, metropolita de Volokolamsk e segunda figura da hierarquia da Igreja Ortodoxa Russa, considera que alguns imigrantes deviam "receber respostas negativas aos seus pedidos" de residência ou asilo nos países cristãos ocidentais. O teológo e compositor de 52 anos, que preside ao departamento para as Relações Exteriores do Patriarcado de Moscovo, esteve esta semana em Portugal. Numa conferência na Universidade Católica de Lisboa, voltou a um tema que lhe é caro: a cooperação de católicos e ortodoxos na defesa dos cristãos perseguidos no Médio Oriente. Apontado como provável sucessor do patriarca Kirill, na liderança da Igreja Ortodoxa russa, D. Hilarion Alfeyev foi recebido pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa em Lisboa e pelo cardeal D. António Marto no Santuário de Fátima onde esteve pela primeira vez. A sua visita acontece numa altura em que cresce a presença de ortodoxos em Portugal. Isso acontece por via da permanência de ucranianos neste país?A presença ortodoxa em Portugal está certamente a crescer. Há 20 anos, esta presença não era praticamente notada. Agora há 20 paróquias no país, sobretudo de ucranianos e russos, gregos e moldavos. Quando diz que no Ocidente há cada vez menos cristãos praticantes, di-lo como uma crítica?Não é uma crítica, mas um simples facto. É uma estimativa em dados publicados, e um facto também sustentado pelo que oiço [de figuras] da hierarquia da Igreja Católica em vários países ocidentais. Todos apresentam este mesmo retrato. Há cada vez menos vocação para padres, cada vez menos vocação monástica. Também vemos muitas igrejas vazias. O que explica esta tendência?A principal razão é a crescente secularização da sociedade ocidental, a educação dada às crianças, que praticamente exclui a Igreja e os valores cristãos. Enfrentamos este desafio em todos os principais países ocidentais. Além deste, que outros desafios se apresentam ao Cristianismo?Há muitos. Um é o crescente secularismo, o outro é a crescente influência do islão, o crescente número de seguidores do islão na Europa ocidental, resultante, do meu ponto de vista, de uma política de imigração peculiar. Porquê peculiar?Peculiar porque esta política, na maioria dos países, não distingue a filiação religiosa das pessoas que são admitidas no país, e por conseguinte a sua identidade cultural é de certa maneira ignorada. Existe um pressuposto de que as pessoas, uma vez admitidas e quando lhes seja dada a nacionalidade, integrar-se-ão na sociedade local, o que em muitos casos não está a acontecer. Muito frequentemente, estas pessoas vivem numa espécie de gueto, organizam-se de uma maneira especial, e querem viver de acordo com os seus padrões, em vez de viverem de acordo com os padrões do país que as acolheu. Qual a solução?Não posso fazer recomendações às autoridades estatais sobre como lidar com isto. Apenas posso falar das consequências da política de imigração, que não tem em consideração a identidade cultural e religiosa das pessoas que aceita. E devia ter mais em consideração?Suponho que sim. A política de imigração não pode permitir que qualquer pessoa que deseja viver num determinado país [o faça] de forma indiscriminada. Há certas pessoas que têm de receber respostas negativas aos seus pedidos [de residência ou de asilo]. Muito frequentemente ouvimos e vemos as pessoas que imigram para a Europa. São sobretudo homens, jovens. A questão é: porque vêm para aqui? O que vêm fazer? Querem integrar-se? Muitos não querem. E, na maioria dos países, como por exemplo na Alemanha, isto cria problemas significativos. Está a defender que certos pedidos de entrada num país deveriam ser negados a cidadãos de países muçulmanos?Já disse o suficiente sobre o assunto. Qual o maior desafio para a Igreja Ortodoxa russa em particular, tendo em conta o passado de perseguição que sofreu durante os 70 anos de comunismo?A nossa Igreja viveu, durante 70 anos, uma situação de perseguição, e esta foi mais horrenda nos anos 1920 e nos anos 1930, quando praticamente toda a sua infra-estrutura foi destruída. Muitas igrejas foram destruídas, muitas foram fechadas e os padres e os bispos, na sua maioria, foram executados. A Igreja ficou quase reduzida a zero. Esse passado também a reforçou?Durante a II Guerra Mundial, a situação começou a mudar, um certo grau de existência foi permitido à igreja e, nos anos 60, houve uma nova vaga de perseguições. Esta experiência contribuiu, em grande medida, para a nossa identidade espiritual. Somos uma igreja que emergiu das perseguições, mas não emergiu enfraquecida pelas perseguições, mas mais forte. Isso é visível?Nos últimos 30 anos, assistimos a um ressurgimento sem precedentes da vida espiritual e monástica. Tínhamos, há 30 anos, seis mil paróquias da Igreja Ortodoxa russa, e agora temos 36 mil. Significa que, todos os anos, abrimos mil novas igrejas. O mesmo é dizer que, por dia, são abertas três novas igrejas. Este ressurgimento também tem a ver com o envolvimento da Igreja na sociedade e no empenho em manter a tradição?A Igreja assume uma posição muito activa na vida social, através da caridade. As igrejas não estão só envolvidas no acompanhamento espiritual das pessoas, mas também, em muitos casos, assume responsabilidade pelo seu bem-estar, como por exemplo dos órfãos, ou mães que foram abandonadas pelos maridos. E a igreja criou toda uma infra-estrutura pelo país para ajudar estas pessoas marginalizadas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E assume posições fortes em defesa da tradição, e contra o aborto ou a homossexualidade. Sim, assumimos posições fortes. Somos contra o aborto, consideramo-lo um pecado. Somos contra qualquer propaganda a favor da homossexualidade, ou da legalização do que chamam o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Obviamente, não somos a favor de nenhum tipo de perseguição de pessoas homossexuais. Simplesmente, acreditamos que a Igreja deve assumir as posições baseadas nos ensinamentos de Jesus Cristo, dos apóstolos e da tradição da Igreja. Não acreditamos que a Igreja deve adaptar o seu ensinamento às modas dos tempos, a tendências e correntes várias. A doutrina moral permanece a mesma. Qual a percepção que tem sobre a forma como a Igreja Católica lida com estas correntes?Considero que a Igreja Católica, em muitas questões, assume a mesma posição. E, por isso, penso que nos devemos aproximar, explicar as nossas posições e formulá-las de forma conjunta. Foi o que foi feito pelo papa Francisco e o patriarca [de Moscovo e de toda a Rússia] Kirill no encontro em Havana em 2016. Assinaram uma declaração conjunta sobre várias questões morais e sociais. Uma coisa é a doutrina moral, outra é a prática pastoral. Podemos ser estritos na doutrina moral, e não na doutrina pastoral. Também temos [como a Igreja Católica] homossexuais entre os nossos párocos e não lhes dizemos que devem afastar-se da Igreja. A homossexualidade é um pecado, num contexto em que há vários pecados e cada pecador é aceite pela Igreja com amor e atenção. É perdoado?Sim.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
Um vídeo que conta a história de duas campanhas
Depois da derrota nas primárias de 2008, Hillary Clinton tenta afastar a imagem de uma candidata que tem a vitória no bolso. (...)

Um vídeo que conta a história de duas campanhas
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois da derrota nas primárias de 2008, Hillary Clinton tenta afastar a imagem de uma candidata que tem a vitória no bolso.
TEXTO: A notícia da candidatura de Hillary Clinton à Casa Branca era um segredo tão bem guardado como os primeiros episódios da 5. ª temporada da série "A Guerra dos Tronos", mas se o anúncio em si não foi uma surpresa, o conteúdo da mensagem apanhou muita gente desprevenida. Num vídeo com dois minutos e 18 segundos, Clinton recua para segundo plano e surge apenas na parte final, não como "a escolhida", com um direito divino a ocupar a Presidência dos EUA, mas como uma cidadã comum, que tem um plano para o bem-estar colectivo: ajudar os seus compatriotas a realizar os seus próprios planos. E os seus compatriotas estão lá quase todos representados, cada um com uma história de desafio pessoal, preparados para lutar e vencer: os dois irmãos hispânicos que estão a abrir um restaurante (e que não falam em inglês); a jovem mãe que cuidou do filho durante cinco anos e está agora preparada para voltar a trabalhar fora de casa; o casal de negros que aguarda o nascimento do seu primeiro bebé; a asiática recém-licenciada que tenta dar os primeiros passos no mercado de trabalho; o casal gay que vai casar-se este Verão; e Hillary Clinton, que também está preparada para uma mudança na sua vida: "Candidatei-me à Presidência. "Ouvir as palavras de Clinton no vídeo divulgado no domingo é como espreitar pelo buraco da fechadura da sua campanha, para se ter uma ideia da mensagem principal. De acordo com os seus conselheiros, citados pelo The New York Times, a aposta mais segura contra as investidas do Partido Republicano não é distanciar-se de Barack Obama, mas prometer "um novo capítulo" para potenciar as vitórias do actual Presidente – se Obama conseguiu consertar a economia, Clinton vai encurtar as diferenças que ainda existem entre ricos e pobres. Depois do falhanço da primeira candidatura nas primárias do Partido Democrata, em 2008, contra um senador do Illinois transformado em fiel depositário de todos os sonhos americanos, Hillary Clinton começou este segundo teste de uma forma radicalmente diferente – compreendeu que nada na política é inevitável e garantido, e aparece agora, em 2015, com a postura de quem olha para a Casa Branca como um meio e não como um fim. "É um reflexo do que os seus conselheiros têm dito nos últimos meses: ela não vai dar como adquirida a nomeação do Partido Democrata, apesar de ter uma vantagem de cerca de 50 pontos percentuais nas sondagens. Também era favorita há oito anos, e foi surpreendida pelo então senador Barack Obama", escreve no The Wall Street Journal a repórter Laura Meckler, especialista em política norte-americana. Compare-se esta análise com o primeiro parágrafo de um texto assinado em Maio de 2008 pelo antigo director-adjunto do The Washington Post, Eugene Robinson: "Desde o início, Hillary Clinton tem feito campanha como se a nomeação pelo Partido Democrata fosse dela por direito divino. É por isso que tem ficado aquém das expectativas – e é por isso que deveria ser persuadida a desistir agora, antes de dividir o partido por uma questão racial devido ao seu sentimento majestático de que tem esse direito [a ser nomeada pelo Partido Democrata]. "Nessa época, quando se sentou num sofá da sua mansão em Chappaqua para anunciar que iria lutar pela nomeação do Partido Democrata, o resultado foi um vídeo mau de mais – confrangedor quando comparado com a máquina avassaladora em que se transformaria a campanha mediática de Barack Obama, especialmente junto dos eleitores mais jovens. Enquanto o rapper e produtor musical conhecido como will. i. am punha estrelas como Scarlett Johansson ou John Legend a cantar "Yes We Can" em nome de Obama, Hillary Clinton confiava apenas no próprio rosto para convencer os eleitores de que era ela quem devia lutar contra o candidato do Partido Republicano nas eleições gerais. Na gravação feita em Janeiro de 2007 – e ao contrário do vídeo lançado no domingo passado –, Hillary não se limitou a aparecer apenas no fim. Nem apenas no início. Ao todo, um minuto e 43 segundos preenchidos apenas com o seu rosto e as suas palavras. Do princípio ao fim, num vídeo captado com uma câmara incapaz de se manter imóvel por um segundo e que parecia estar montada numa ventoinha – como apontou Todd VanDerWerff, editor de Cultura do site Vox. "O 'trailer da campanha presidencial' é um fenómeno relativamente recente. Basta olhar para o vídeo do anúncio de Clinton na campanha de 2008, que é impressionantemente mau", escreve VanDerWerff.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA