De starlette a cineasta
Com Tom na Quinta exclamamos: “Finalmente!, Xavier Dolan”. A starlette mostra-se cineasta. Eis a violência do desejo no percurso de quem vinha flirtando com a insustentável leveza. Estreia quinta-feira. (...)

De starlette a cineasta
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151229180944/http://ipsilon.publico.pt/cinema/texto.aspx?id=335591
SUMÁRIO: Com Tom na Quinta exclamamos: “Finalmente!, Xavier Dolan”. A starlette mostra-se cineasta. Eis a violência do desejo no percurso de quem vinha flirtando com a insustentável leveza. Estreia quinta-feira.
TEXTO: A conversa estava a começar, foi interrompida: distribuidores japoneses em Paris entraram para observar um fenómeno em carne e osso, o realizador de um filme que há seis meses se mantinha em exibição em Tóquio: Laurence para Sempre (2012). O realizador é este rapaz de 25 anos que nos últimos seis tem estado determinado a não abrandar o ritmo que o conduza ao destino que aos 16 prometeu à professora de francês: “Não quero morrer sem glória. Tenho sonhos de grandeza, sonhos que sei que vou realizar se tiver tempo para isso. Quero escrever grandes filmes, viajar. Tomar um copo, ser amigo dos mais importantes deste mundo. Quero fazer coisas importantes. Quero ser importante. ” Tem tatuada numa perna uma citação de Cocteau, seu inspirador pela “liberdade”, “naïveté”, “poesia” e “romantismo”: “A l’impossible je suis tenu”. Xavier Dolan tornou possível já uma parte do programa — é retratado como jovem que não abandona um cocktail sem acrescentar dois ou três números de telefone importantes à agenda (é claro que em relação a este tipo de informação que consta dos perfis que se traçam dele, como aquele do Libération que revelava as ambições do adolescente de 16 anos — perfil decepcionante, segundo ele —, Xavier pode bem tweetar “kiss my narcisistic ass”, como fez sobre o crítico David Rooney da Hollywood Reporter que tropeçou na sua “self adulation”). Para aferir da sua glória na morte, contudo, terá de esperar. Mas, aos 25 anos, aquele que foi um “actor criança” em anúncios farmacêuticos e que deu a voz, nas versões dobradas em francês, ao Jacob de Twilight e ao Ron Weasley de Harry Potter, já realizou cinco longas, entre 2009 (J’ai Tué Ma Mère) e 2014 (Mommy). E os adjectivos que o adornam são tão excêntricos como a linha capilar que muda de filme para filme. Mas hoje talvez se possa dizer que o realizador começa a levar de vencida a starlette que foi construída com desvelo pelo mais importante festival de cinema do mundo, o de Cannes, que estreou o seu primeiro filme na Quinzena dos Realizadores e depois, na secção Un Certain Regard, deu impulso a Amores Imaginários (2010) e Laurence para Sempre (2012), até lhe reservar lugar na competição oficial, este ano, com Mommy. Justiça seja feita ao filho do subúrbio de Montréal, Quebeque: nunca escamoteou um “rendez-vous manqué” com o cinema, que o leva a flutuar a partir da infância, e isso é Mrs Doubtfire ou Titanic (o amor pelo guarda-roupa de Kate Winslet, mas fundamentalmente a intuição, aos oito anos, de que havia alguém por trás da câmara), a disparar para vários lados, quer seja O Piano, de Jane Campion, ou Gus Van Sant (animado por câmaras lentas à la Wong Kar-wai), e a revelar-se convertido dos últimos dias mencionando Morte em Veneza (Luchino Visconti, 1971) Paris, Texas (Wim Wenders, 1984), Os 400 Golpes (François Truffaut, 1959). Como um trabalho de reconstrução em tempo real, ao vivo, ali na Croisette. Mommy, o último filme, que estreia em Portugal no final deste ano, não fez dele o cineasta mais jovem a ganhar uma Palma de Ouro para longa-metragem, título que continua a pertencer a Steven Soderbergh, 26 anos no momento de Sexo, Mentiras e Vídeo (1989). Mas, Prémio do Júri no Palmarés 2014, vai ajudar a fixar Dolan. Se calhar, vai começar por fazer Dolan fixar-se. À beira do festival, dizia ao Ípsilon, já os distribuidores japoneses se tinham ido embora, saciada a sede de fenómenos: “Claro que sou jovem, mas adoro quando as pessoas me tratam como adulto. A minha relação com Cannes é a de um recém-chegado que quer ser tratado como um adulto e não como criança porque não faz filmes para crianças. Às vezes senti que em Cannes os meus filmes eram avaliados como se avaliam trabalhos de casa — mas também não queremos que as pessoas esqueçam completamente que somos jovens e que não estamos a fazer isto há uma vida. Não sei em que lugar estou, para ser sincero, no que respeita ao olhar das pessoas. Acho que quero que julguem os filmes por aquilo que são. ” Dolan encontrou-se, provavelmente. A sua felicidade e as suas lágrimas em Cannes diziam de uma certa serenidade. Podemos também nós fixar o nosso olhar, e começar a falar agora de um cineasta. Começar de novoNa realidade, o filme de um começar de novo, como uma primeira vez, não é Mommy. Este veio confirmar. Esse filme é Tom na Quinta, apresentado na competição de Veneza 2013 — é esse que quinta-feira se estreia em Portugal. É com esse que podemos exclamar “Finalmente!, Xavier Dolan”, pela gravidade que suspende o percurso de alguém que até aqui, nos filmes anteriores, não saíra da insustentável leveza que lhe valia o título de enfant-terrible do Quebeque. Talvez agora se possa sacudir o folclore, deixar cair automatismos — isto é alerta para os que olham —, perder o pudor e chamar-lhe cineasta. “Para já é um filme diferente dos outros, porque é um ‘filme de género’, é um thriller psicológico, quando antes eu andava mais no território do drama ou do romance — se Tom na Quinta é um romance, então é um romance tortuoso. Para mim, sim, é um thriller, por isso tem de haver mais tensão do que dança”, diz Dolan. Mas também há Xavier, que aparece no início, plano aéreo ao som de The Windmills of your mind, versão da canção que adocicou o affair entre Steve McQueen e Faye Dunaway no Caso Thomas Crown. É uma entrada que possui o arrebatamento calculadamente despenteado que se espera da sua persona. Mas o filme parece descobrir outras coisas, e Xavier parece descobrir-se em outras coisas. “Estou mais velho, acho. E aprendi ao ver outros actores a actuarem. De filme para filme aprende-se, tenta-se não repetir os erros. ”No início, uma peça de teatro de Michel Marc Bouchard, um huis-clos rural, que Dolan viu em 2011. Era a oportunidade, com a adaptação, de passar a algo de urgente, rápido, depois do peso que haviam sido a preparação e a rodagem de Laurence para Sempre. Três personagens cúmplices, voluntárias e involuntárias, na violência e na mentira: Tom (Xavier Dolan), Francis (Pierre-Yves Cardinal), Agathe (Lise Roy). O primeiro chega à quinta para o funeral do companheiro, que era filho de Agathe (a mãe não sabia que esse filho era homossexual) e irmão de Francis, que obriga Tom a participar numa encenação, esconder da mãe a sexualidade do irmão — mas algo de letal se revela no jogo, o desejo entre Francis e Tom, um violentando, o outro submetendo-se, cada um fazendo assim o luto. Dolan trabalhou com Bouchard na adaptação, e se quiséssemos resumir superficialmente diríamos que se tratou de mostrar com o filme aquilo que as personagens diziam que tinham feito fora da cozinha, o espaço único da dezenas de cenas da peça: que tinham ido à igreja, que tinham ido aos campos de milho. . . Se fosse só assim, não estaríamos a passar pelo filme. Porque o que é decisivo não é a multiplicação de cenas, é a lógica de subjugação: na primeira em que aparece Francis, o irmão, é escuro, como se fosse um fantasma, como se fosse um pesadelo. Francis faz, logo aí, Tom refém do seu jogo. E é como se o espectador ficasse subjugado à história, àquele desejo, ao desejo — “música” hitchcockiana para os nossos ouvidos, e Dolan, aliás, diz que a ouve desde logo na composição de Gabriel Yared. “É claro que o filme é sobre um jovem em perda pela dor que consente em ser refém. Agora, estaria eu consciente de que a partir dessa cena isso teria um efeito no espectador. . . ? Para mim essa é uma cena em que as regras do jogo são estabelecidas: ‘se quiseres ficar aqui, tens de jogar o jogo’. A determinada altura, Tom tem a oportunidade de partir. Mas não aproveita essa oportunidade, e torna-se refém voluntário. . . acho que é aí, e isso acontece mais tarde no filme, que nos tornamos todos reféns, como Tom. ”No início, Tom escreve ao namorado morto. Não consegue chorar, perdeu uma parte de si próprio e com ela o sinónimo da palavra tristeza. Tom não sabe dizer. Tom não consegue dizer-se. Toda a tensão em Tom na Quinta é alimentada pela pura manifestação do desejo — Tom e Francis, movimento e fuga, algo que nunca se estabiliza, sem nomeação. De outra forma, Tom teria de admitir que nele vibraria o síndrome de Estocolmo, a submissão voluntária à opressão do outro. Mas o que é violento é a virgindade perante a violência, e é por isso que o cineasta arrisca, por suspender o filme nesse fluxo. Quando a consciência chega, à personagem e ao espectador, o filme acaba. O espectador faz a descoberta de si próprio nesse instante. Até aí, não há GPS a ajudar, as cenas já começaram antes de termos ali chegado, não há direito a acompanhar a narrativa do princípio ao fim, não há direito à sensação de que se controla o que se vê. Tom e Francis nos campos de milho: quando ali chegamos já o primeiro fora violentado na elipse anterior. “A violência está em todo o lado, começa no principio do filme, logo quando a personagem da mãe lhe diz: ‘não sei quem tu [Tom] és, ele [o namorado morto] nunca me falou de ti’. A violência está logo no facto de alguém ser ignorado, de uma existência ser apagada. Depois chega o irmão, há abuso físico, ‘tu não existes, não tens direito a existir aqui, para isso tens de jogar o meu jogo, vais passar por outra pessoa, vais comportar-te bem na igreja’. A violência começa logo aos sete minutos de filme. E obviamente começou antes, porque a violência de uma morte é imensa. Mas quanto à violência trazida ao filme pelas personagens e perpetrada sobre outras personagens, ela começa com Francis. Mas pensei que para Tom na Quinta ser eficaz em termos de tensão e suspense, não deveria ser demasiado gráfico em relação à violência. Não deveríamos ver ou ouvir tudo: a primeira vez [que as personagens se encontram] está escuro, não vemos o que acontece. Mais tarde, numa outra cena, antecipamos o que vai acontecer mas não vemos a acontecer. E no entanto o filme está impregnado de violência, mesmo que não existam as proezas físicas da violência: a violência que adivinhamos faz-nos pior. ” Quando a consciência chega, e o desejo se rompe, o filme abranda. Rufus Wainwright canta Going to a town: “I’m going to a town that has already been burnt down/ I’m going to a place that has already been disgraced/ I’m gonna see some folks who have already been let down/ I’m so tired of America”. Tom regressa a Montréal, uma cidade, a cidade. “Windmills of your mind era uma canção sobre amor e perda. Termino com Rufus por ser uma canção sobre o vivermos num mundo em que as pessoas dificultam a entrega, dificultam o amor. Como estamos cansados disso, tentamos encontrar novas formas de amor e de amar. A América, naquela canção, é a fonte da dor, do ódio — o Canadá, claro, é na América. Tom foi refém naqueles campos de milho, naquela cozinha, naquela casa, pensei que regressar à cidade seria uma libertação — da América profunda ou do Canadá profundo, de todos os países profundos. ”Sabia que o suspiro final do violador, I need you, i need you, traz ecos do desejo da vítima em O Desconhecido do Lago, de Alain Guiraudie? “Não, não conheço esse filme. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte violência filho carne adolescente criança sexo género sexualidade homossexual morto luto abuso
Eles são o (primeiro) amor
Luca Guadagnino mostra um filme-surpresa em Berlim: Call Me by Your Name é uma pastoral romântica de verão transportada por Timothée Chalamet, actor à flor da pele (...)

Eles são o (primeiro) amor
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.375
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Luca Guadagnino mostra um filme-surpresa em Berlim: Call Me by Your Name é uma pastoral romântica de verão transportada por Timothée Chalamet, actor à flor da pele
TEXTO: Estávamos todos à espera que o próximo filme de Luca Guadagnino fosse a sua remake de Suspiria de Dario Argento (sacrilégio!) - mas eis que o realizador de Eu Sou o Amor nos corta as vasas com um idílio de verão sobre um primeiro amor terno e luminoso e, sim, proibido. Rodado na cidade natal do italiano, Crema, Call Me by Your Name (Panorama Special) ficou pronto em menos de um ano, apesar de esta adaptação de um romance de André Aciman ser um projecto que Guadagnino já orbitava há uma década. Primeiro, apenas como produtor, numa versão que acabaria por nunca ser filmada; agora, como realizador e co-argumentista com James Ivory (sim, esse James Ivory, o de Quarto com Vista sobre a Cidade ou Os Despojos do Dia, que é também produtor do filme). Call Me by Your Name tornou-se assumidamente no filme final de uma “trilogia do desejo” que fora operática à sombra de Sirk e Visconti na obra-prima Eu Sou o Amor (09) e obsessiva à sombra de Antonioni no confuso Mergulho Profundo (15). Aqui, ora voltamos atrás a Renoir ora avançamos para a inocência do Amor de Juventude de Mia Hansen-Love, ora pensamos nos Juncos Silvestres de André Téchiné – este é um filme “francês” na sua desenvoltura e ruralidade, fotografado à flor da pele em luminosos exteriores italianos por Sayombhu Mukdeeprom (que trabalhou com Apichatpong Weerasethakul e filmou as Mil e Uma Noites de Miguel Gomes). É uma história de entrada na idade adulta dobrada de descoberta da sexualidade por parte de Elio (Timothée Chalamet, da série Segurança Nacional), filho de um professor americano e de uma herdeira italiana, que se aborrece na casa de férias da família à espera que o verão acabe, e vai flirtando com as miúdas giras que por ali também andam. Até chegar Oliver (Armie Hammer), um estudante americano que vem assistir o pai temporariamente durante mês e meio, bem-parecido, confiante, um encanto imediato, e o desejo se ergue dentro de Elio, que começa a perguntar-se se é da encantadora Marzia (Esther Garrel) ou do mais velho Oliver que realmente gosta. Não é exactamente estragar a trama do filme dizer que tudo se passa em 1983, numa altura em que a aceitação da homossexualidade era diferente, mas Call Me by Your Name é muito mais uma pastoral que celebra um verão especial que mudou algumas vidas e que não tem nenhuma agenda em mente. O primeiro amor, independentemente da sexualidade, é sempre algo de mágico e memorável, e como diz o pai de Elio (um discretíssimo Michael Stuhlbarg cuja presença parece ser desaproveitada até uma cena extraordinária perto de final) o que Elio sentiu é algo que muitos nem sequer sonham. Guadagnino filma tudo com o sensorialismo que se tornou na sua marca registada, e depois de endeusar Tilda Swinton em Eu Sou o Amor e de arrancar a Ralph Fiennes uma performance electrizante em Mergulho Profundo, entrega um papel em ouro a Timothée Chalamet e vê o jovem descolar até literalmente deixar para trás a barreira do som com brio e entrega. A energia e precisão do actor, que vive o deslumbre, a descoberta e a desilusão de Elio mais do que as representa, carrega aos ombros um filme que cai pontualmente num certo preciosismo cinéfilo, que se estica (por 2h15) para lá do que a história aguenta, que se compraz aqui e ali numa nostalgia eighties muito dandy (mesmo que seja sempre bom reencontrarmos os Psychedelic Furs). Mas, se Call Me by Your Name redime Luca Guadagnino do tropeção de Mergulho Profundo, não é outro Eu Sou o Amor. Mesmo que, aqui mais no que nos outros filmes, as suas personagens sejam efectivamente o amor.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho sexualidade
Primeira vez
É o melhor filme de Dolan, afirmação que estaremos determinados a desmentir quando estrear em Portugal Mommy. (...)

Primeira vez
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.25
DATA: 2015-10-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: É o melhor filme de Dolan, afirmação que estaremos determinados a desmentir quando estrear em Portugal Mommy.
TEXTO: Tom na Quinta é o melhor filme de Xavier Dolan, afirmação que se desmentirá no final de 2014 quando estrear Mommy. Não é a facilidade da boutade: Tom na Quinta, quarto filme assinado pelo “fenómeno” Dolan, de 25 anos, é o primeiro assinado pelo realizador Dolan – desta forma também somos desafiados a prescindir do folclore. Depois do paquidérmico Laurence para Sempre (2012), momento de mais olhos que barriga em que dava sinais de ruir o frágil castelo de cartas que vinha sendo montando como reinvenção autobiográfica e com ambição narcísica – o que nos obrigava sempre a olhar só para ele, mesmo que ele não estivesse no ecrã –, sentiu necessidade, contou, de abandonar uma “zona de conforto”. Encontrou na peça de Michel Marc Bouchard, huis clos no Quebeque rural, o projecto adequado à urgência que sentia – filmar depressa, e a produção durou dois meses. Dolan interpreta uma personagem que chega a uma quinta para assistir ao funeral do namorado. Aí é engolido por uma espiral de violência, obrigado a sujeitar-se ao “jogo” do irmão do morto (um impressionante Pierre-Yves Cardinal), que quer esconder da mãe (Lise Roy) a homossexualidade do irmão/filho. Dolan adaptou a peça com o autor, e poder-se-ia julgar que acrescentar cenas ao cenário original – sair da cozinha da peça, no fundo – foi a démarche do costume. A verdade é que não se tratou tanto de acrescentar, de fazer sair o filme do huis clos para ser menos teatral, mas de sair para o regresso ao interior ser mais tenso e claustrofóbico. É isso o que faz com que soprem sobre as convenções teatrais (e sobre as convenções do filme do género: o thriller) rajadas de medo, desejo e autodestruição, sentimentos e pulsões que nunca se avistaram assim nos filmes anteriores de Xavier. Thriller? Filme de género? E qual deles, aquele ou o melodrama?Uma das coisas mais bonitas é Tom na Quinta pendurar o espectador numa espécie de virgindade perante a invasão do desejo, deixando-o sem capacidade de nomear o que vê – logo, sem fechar a experiência num género reconhecível (mas, sim, pode ser um thriller). Uma das coisas mais definidoras da personagem interpretada por Dolan é a sua incapacidade de nomear o que sente (carta ao namorado, início do filme. . . ), de nomear depois o que (não) se fixa entre ele e a personagem de Pierre-Yves Cardinal. É um filme sobre o desejo que acontece entre os dois ou é um filme-denúncia de uma relação violenta num Canadá “profundo” que condensa os reaccionarismos que deixamos que se abatam sobre nós? O espectador é levado pelo movimento em fuga (e nada em falso), e só pára, e só percebe o que viu, quando a personagem de Dolan toma consciência do que lhe aconteceu. A melhor sequência de todos os filmes de Xavier está aqui: a violência nos campos de trigo. O tour de force é puramente cinematográfico, o exibicionismo (e o narcisismo) ausenta-se porque ela nos faz experimentar, precisamente, a impossibilidade de controlar uma narrativa – já começou e vai continuar sem nós. Xavier Dolan encontrou no simulacro de filme de género uma possibilidade de disciplina para recomeçar de novo. No filme que fez a seguir, Mommy, há um back to basics, regresso a uma relação fundadora – a Mãe – mas agora transcendendo a birra autobiográfica que estava na sua estreia, J’ai Tué Ma Mère. Mommy, o quinto, é o melhor filme de Xavier Dolan.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência filho medo género espécie morto
Surpresa em Veneza: Desde Allá, de Lorenzo Vigas, recebe o Leão de Ouro
Uma história de amor e dependência impregnada pela luta de classes, é a primeira longa-metragem do realizador. (...)

Surpresa em Veneza: Desde Allá, de Lorenzo Vigas, recebe o Leão de Ouro
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.3
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma história de amor e dependência impregnada pela luta de classes, é a primeira longa-metragem do realizador.
TEXTO: O júri da 72ª edição do Festival de Veneza, que terminou sábado no Lido, atribuiu o Leão de Ouro a Desde Allà, do venezuelano Lorenzo Vigas. Belíssimo Leão de Ouro, e tanto mais bonito quanto o gesto do júri, presidido por Alfonso Cuaròn, nem sequer era esperado. Desde Allà filma, de forma precisa mas emocionada o embate entre duas personagens, um cinquentão homossexual e um adolescente das ruas de Caracas, relação essa que vai atravessando fronteiras, é sexo, é dependência económica, é protecção paternal, é… frieza e sofreguidão impregnadas pela luta de classes. São dois mundos opostos, são dois actores de vidas diferentes, um é uma estrela do teatro chileno, Alfredo Castro (o de Tony Manero), outro um rapaz das ruas de Caracas, Luis Silva. O encontro, feroz, amoroso, solitário, mete medo - eles são impressionantes. Se Castro é a "vedeta" cuja participação mudou imediatamente a escala do filme (em termos de produção), Luis Silva tem aqui uma estreia fortíssima. Prometem-lhe já mundos e fundos em termos de carreira profissional. E Vigas promete continuar uma trilogia sobre "a paternidade", de que esta longa, que se segue a uma curta, é o filme do meio. A presença esplendorosa dos actores parece ter sido decisiva nos outros prémios do palmarés. É como se o júri - integrado por Emmanuel Carrère, Nuri Bilge Ceylan, Pawel Pawlikowski, Francesco Munzi, Hou Hsiao-hsien, Diane Kruger, Lynne Ramsay e Elizabeth Banks - tivesse sabido encontrar, através da energia dos intérpretes, a narrativa possível para consagrar um concurso que se manteve muito tempo em perda, só se reencontrando nos últimos dias. O francês Fabrice Luchini, actor de teatro, histriónico furioso (proporcionou uma conferência de imprensa imparável…), interpreta um juiz que transforma a sala de audiência num teatro, em L’Hermine, de Christian Vincent – o filme recebeu o prémio de interpretação e prémio de argumento. Uma curiosidade: Luchini era já o actor de Vincent no seu primeiro filme, La Discrète, apresentado há 25 anos em Veneza. Valeria Golino, interpretando uma napolitana que luta consigo própria e contra o meio familiar, em busca da sua transcendência, é o objecto do amor do realizador Giuseppe M. Gaudino em Per Amor Vostro. Esse amor, excessivo, desequilibrado, naive e surrealista (o filme é isso) pode levar à adesão sem reservas. É a continuação, aliás, da história de amor de Gaudino pelos furores vulcânicos de Nápoles. Mesmo num filme de animação – técnica stop motion – como Anomalisa, de Charlie Kaufman e Duke Johnson (Grande Prémio do Júri) este reencontro com o existencialismo (Kaufman è a cabeça de Queres ser John Malkovich e de Inadaptado) dá-se sem manobras de diversão. E se é assim rarefeito também se deve à intimidade criada pelas vozes de Jennifer Jason Leigh, Tom Noonan, David Thewliss, que interpretam as personagems do filme. Inicialmente uma peça sonora que foi representada pelos actores em Los Angeles em 2005, Anomalisa amplifica o efeito de intimidade do palco. O palmarés da 72ª edição de Veneza fica, desde já, como uma das melhores coisas dessa edição. Ei-lo, completo:Leão de Ouro - Desde Allà, de Lorenzo VigasLeão de Prata, Melhor Realização - Pablo Trapero, El ClanGrande Prémio do Júri- Anomalisa, de Charlie Kaufman e Duke JohnsonTaça Volpi para a Melhor Interpretação Masculina - Fabrice Luchini, por L'Hermine, de Christian VincentTaça Volpi para a Melhor Interpretação Feminina- Valeria Golino, Per Amor Vostro, de Giuseppe M. GaudinoPrémio Marcello Mastroianni para um actor ou actriz emergente - Abraham Attah, por Beasts of No Nation, de Cary Joji FukunagaMelhor Argumento - Christian Vincent, L'HerminePrémio Especial do Júri - Frenzy, de Emin AlperFoi ainda atribuído o Leão do Futuro, Prémio Dino de Laurentiis para uma primeira-obra, por um júri presidido pelo cineasta Saverio Constanzo, a The Childhood of a Leader, de Brady Corbet (o actor de Martha Marcy May Marlene, de Sean Durkin). Ainda fora do palmarés principal, o prémio Venice Classics para o melhor documentário de cinema, foi atribuído a The 1000 Eyes of Dr. Maddin, de Yves Montmayeur, que olha para o canadiano Guy Maddin como um dos últimos magos do cinema. O restauro de Os 120 Dias de Sodoma, de Pasolini, valeu o prémio Venice Classics para o melhor filme de ficçâo restaurado - um filme que nunca recebera um prémio nos seus 40 anos de vida, cuja estreia foi quase contemporânea da morte de Pasolini, e que em Novembro volta então às salas italianas.
REFERÊNCIAS:
Morreu Hector Babenco, o realizador de e de O Beijo da Mulher Aranha
O realizador argentino esteve nomeado para Óscar de Melhor Realizador em 1985 com a longa-metragem interpretada por Sônia Braga e William Hurt. (...)

Morreu Hector Babenco, o realizador de e de O Beijo da Mulher Aranha
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O realizador argentino esteve nomeado para Óscar de Melhor Realizador em 1985 com a longa-metragem interpretada por Sônia Braga e William Hurt.
TEXTO: Hector Babenco morreu esta quarta-feira, vítima de paragem cardíaca, em São Paulo, no Brasil. A informação foi confirmada pela ex-mulher, Raquel Arnaud, ao jornal brasileiro Folha de S. Paulo. Tinha 70 anos e era casado com a actriz Bárbara Paz. Morre aos 70 anos o diretor Hector Babenco; ele dirigiu 'Carandiru' https://t. co/5o2yFAHpvP pic. twitter. com/fdpQXvv6fGUm dos filmes mais conhecidos do realizador argentino radicado no Brasil é Pixote: A lei do mais fraco, de 1981, que lhe deu a confirmação internacional e que aborda as deambulações de um menino de rua, interpretado por Fernando Ramos da Silva, e contando também com a interpretação da actriz Marília Pera. Depois de ter sido considerado uma revelação, Fernando Ramos da Silva ainda tentou seguir uma carreira de actor mas regressou à favela e, aos 19 anos, morreu num tiroteio com a polícia militar. A sua vida foi contada no livro Pixote Nunca Mais e inspirou o filme Quem Matou Pixote?, de José Joffily. O sucesso de Pixote: A lei do mais fraco valeu a Babenco a possibilidade de ter um filme de produção norte -americana, a adaptação da peça do argentino Manuel Puig, O Beijo da Mulher Aranha, com William Hurt (Molina), Raul Julia (Valentín) e Sônia Braga (Mulher Aranha). Numa prisão de um país da América Latina, um prisioneiro político de esquerda e um homossexual dividem a mesma cela. O êxito deste filme valeu ao actor norte-americano William Hurt o prémio de interpretação no Festival de Cinema de Cannes e o Óscar de Melhor Actor em 1985. O Beijo da Mulher Aranha foi nomeado para Melhor Filme e o próprio Babenco foi nomeado para Melhor Realizador no mesmo ano. O estatuto alcançado deu uma ainda maior credibilidade ao cineasta, o que lhe permitiu contar no filme seguinte, Ironweed/Estranhos na Mesma Cidade, de 1987, adaptação do romance de William Kennedy, com duas das maiores vedetas do cinema internacional: Jack Nicholson e Meryl Streep. Ambos foram nomeados para o Óscar. É também o realizador de Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia, de 1977, que enfrentou a censura, de Carandiru, de 2003, baseado no livro de Drauzio Varella, Estação Carandiru (também editado em Portugal), sobre a sua experiência como médico na prisão onde aconteceu um massacre em 1992, e de Brincando nos Campos do Senhor (1991), rodado na Amazónia, e com interpretações de John Lihgow, Tom Berenger, Daryl Hannah e Tom Waits. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Meu Amigo Hindu é a sua mais recente e última longa-metragem, que tem William Dafoe como protagonista e para o qual o actor sofreu uma grande transformação física, pois interpreta um doente. O filme é semi-autobiográfico e conta a história de um cineasta que luta contra um tumor, recordando o cancro que Babenco combateu na década de 90. Nascido em Mar del Plata, na Argentina, a 7 de Fevereiro de 1946, Babenco radicou-se no Brasil aos 19 anos e naturalizou-se brasileiro aos 31 anos.
REFERÊNCIAS:
Franco Citti (1935-2016): A morte de um “rapaz da vida”
Presença indissociável do universo cinematográfico de Pier Paolo Pasolini, Franco Citti era um símbolo do profundo compromisso do cinema italiano com a realidade e autenticidade. (...)

Franco Citti (1935-2016): A morte de um “rapaz da vida”
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Presença indissociável do universo cinematográfico de Pier Paolo Pasolini, Franco Citti era um símbolo do profundo compromisso do cinema italiano com a realidade e autenticidade.
TEXTO: O actor Franco Citti, uma lenda do cinema italiano, morreu na quinta-feira aos 80 anos em Roma. Citti, que estava há muito tempo doente, tornou-se famoso aos 26 anos com o papel principal no filme de Pier Paolo Pasolini Accattone, a estreia do realizador italiano no cinema, em 1961. Citti interpretava o papel de um proxeneta dum bairro miserável da periferia romana, e o seu rosto, a sua presença, para além de exibirem uma fotogenia rude mas estranhamente magnética, também faziam “corpo” com o cenário, físico ou social, do filme de Pasolini, numa impressão de autenticidade “pós-neo-realista” que também era uma das forças da estreia do cineasta italiano. Franco Citti, irmão de Sergio (também colaborador de Pasolini e depois realizador em nome próprio), não era absolutamente nada estranho a esse universo, muito semelhante ao da sua conturbada juventude, parcialmente passada em reformatórios, como teve ocasião de contar na autobiografia que publicou nos anos 90, A Vida de um Rapaz da Vida. Ambos, Franco e o irmão, conheceram Pasolini fortuitamente, numa pizzaria nos subúrbios de Roma, quando Pasolini preparava Accattone. Não custa perceber que Pasolini tenha imediatamente visto que estava ali o seu protagonista. Tão bem sucedida foi essa estreia que Franco se tornou, como mais tarde sucederia a Ninetto Davoli, uma das presenças recorrentes da obra de Pasolini, com quem voltaria a trabalhar, em papéis mais importantes ou mais secundários, num número considerável de filmes onde se incluem títulos como Mamma Roma (contracenando com Anna Magnani), Édipo Rei (na pele do protagonista), A Pocilga, Decameron, Os Contos de Cantuária ou As Mil e uma Noites. Tão importante foi a sua ligação ao universo pasoliniano que, quando episodicamente passou para trás da câmara, o filme que realizou (Vergogna), era uma evocação de Pasolini, através duma visita ao local – em Ostia, nos arredores de Roma – onde o cineasta foi assassinado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Apesar de ter sempre recusado qualquer formação profissional (por achar, provavelmente com razão, que a aquisição da “técnica” destruiria ou adulteraria o lado instintivo e selvagem da sua presença no ecrã), o impacto de Citti nos filmes de Pasolini lançou-o efectivamente para uma bem recheada carreira de actor, em filmes de realizadores italianos tão importantes como Valerio Zurlini, Elio Petri, o seu irmão Sergio ou Bernardo Bertolucci (embora o seu papel em La Luna tenha sido, rezam as crónicas, aquele que mais se arrependeu de ter aceite). Não se arrependeu, embora fosse um pequeníssimo papel (Caló, o guarda-costas siciliano de Michael Corleone), do seu trabalho com Francis Ford Coppola em O Padrinho, tanto assim que voltou, 18 anos depois, para o Padrinho III que Coppola dirigiu em 1990. Teve também uma breve experiência teatral, quando Carmelo Bene o repescou para um papel na sua heterodoxa encenação da Salomé, em finais dos anos 60. Franco Citti não era só um “actor italiano”, era uma memória viva, um “símbolo”, desse compromisso fundamental com a realidade, e com a autenticidade da sua representação, que foi o de grande parte do cinema italiano da segunda metade do século XX.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social corpo
Morreu George Michael, o cantor de Last Christmas
O cantor britânico vendeu mais de cem milhões de álbuns, primeiro com a banda Wham! e depois a solo. Morreu aos 53 anos, em casa. (...)

Morreu George Michael, o cantor de Last Christmas
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O cantor britânico vendeu mais de cem milhões de álbuns, primeiro com a banda Wham! e depois a solo. Morreu aos 53 anos, em casa.
TEXTO: O cantor britânico George Michael morreu, aos 53 anos, noticia a BBC. Nascido com o nome Georgios Kyriacos Panayiotou no Norte de Londres, numa família grega, George Michael vendeu mais de 100 milhões de álbuns, primeiro com a banda Wham!, a partir de 1981, que fundou com Andrew Ridgeley, e mais tarde a solo, numa carreira de quase quatro décadas. O óbito foi anunciado pelo responsável das relações públicas do cantor. "É com grande tristeza que confirmamos que o nosso amado filho, irmão e amigo George faleceu em casa no período do Natal", disse, numa declaração, citada pela BBC, em que pede para ser respeitada a privacidade da família. Não há circunstâncias suspeitas em torno da morte do cantor, adianta ainda a BBC. Anteriormente, Michael teve problemas de dependência de álcool e drogas, sobre as quais chegou a responder em tribunal, em 2010. No final de 2011, George Michael quase morreu de pneumonia em Viena, na Áustria, onde recebeu tratamento de emergência – teve de ser submetido a uma traqueotomia para continuar a respirar. O cantor estava a preparar um documentário para ser publicado no próximo ano, que acompanharia a reedição do álbum de 1990 Listen Without Prejudice Vol. 1, diz o Guardian. Nele participariam Stevie Wonder, Elton John e as supermodelos que entraram no vídeo do síngle Freedom!. O título ainda não definitivo era Freedom: George Michael, e devia ser narrado pelo próprio, e ter convidados como Mark Ronson, Mary J Blige, Tony Bennett, Liam Gallagher, James Corden e Ricky Gervais. O álbum Listen Without Prejudice Vol. 1 teve quatro discos de platina no Reino Unido, mas resultou num caso judicial nos Estados Unidos, com Michael a processar a editora discográfica Sony, que acusava de não ter promovido devidamente o seu disco, porque ele tinha decidido mudar de imagem – deixar de ser um sex-symbol, como no início da carreira, com o duo Wham!, e tentar ser uma estrela mais adulta, o que não agradou aos executivos da Sony. Michael processou a Sony porque considerou que a editora o tentou punir, ao não promover adequadamente o disco, e que o contrato que tinha assinado em 1988 era injusto, ao abrigo da lei britânica e da União Europeia, porque o ligava à editora durante 15 anos e retirava-lhe o controlo sobre a sua própria música e a forma como era vendida e promovida – um problema sentido por outros artistas, como Prince. No entanto, acabou por ser o cantor a perder o caso em tribunal. Chegou a acordo para romper com a editora, mas em 2003 voltou a assinar com a Sony. No início deste mês, tinha também sido anunciado que o produtor e letrista Naughty Boy estava a trabalhar com George Michael num novo álbum, acrescenta a BBC. A vida artística de George Michael com os Wham! começou em 1981, e o seu álbum de estreia, Fantastic, chegou ao número 1 dois anos depois. O segundo álbum, Make It Big, fez o mesmo nos Estados Unidos. Incluía o êxito Wake Me Up Before You Go-GO. George Michael cantou no primeiro disco do Band Aid, para combater a fome na Etiópia - Do They Know It's Christmas. Em 1998, o cantor teve um "coming out" forçado como homossexual, ao ser detido por "comportamento indecente" numa casa de banho de um parque em Beverly Hills, Los Angeles, EUA. Foi condenado a pagar uma multa de 810 dólares e a fazer 80 horas de serviço comunitário, por um acto não especificado, e acabou a falar da sua sexualidade na CNN. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Sinto-me estúpido, imprudente e fraco por permitir que a minha sexualidade seja exposta desta forma", disse então à televisão norte-americana. "Mas não tenho vergonha [da minha sexualidade], nem acho que deva sentir", afirmou. Os Wham! separaram-se em 1986 e a carreira a solo de Michael iniciou-se com um dueto com a estrela da música soul norte-americana Aretha Franklin. A partir daí lançou sete álbuns a solo. Em Portugal, George Michael esteve num concerto em Coimbra, em 2007.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Morreu Pete Burns, a voz dos Dead Or Alive
O cantor inglês Pete Burns, que obteve sucesso nos anos 1980 com a pop dançante dos Dead Or Alive, sofreu um ataque cardíaco fulminante. Tinha 57 anos. (...)

Morreu Pete Burns, a voz dos Dead Or Alive
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.05
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O cantor inglês Pete Burns, que obteve sucesso nos anos 1980 com a pop dançante dos Dead Or Alive, sofreu um ataque cardíaco fulminante. Tinha 57 anos.
TEXTO: O inglês Pete Burns, a voz e o rosto dos Dead or Alive, que alcançaram sucesso nos anos 1980, morreu aos 57 anos. Num comunicado publicado no Twitter, a família e o agente de Burns revelaram que o músico sofreu um ataque cardíaco fulminante. Carismático e provocador, tornou-se conhecido em Inglaterra nos últimos anos pela presença em programas de TV de celebridades, como o Big Brother britânico em 2006, ou pelas diversas cirurgias plásticas, mas antes de ser uma figura da televisão e das redes sociais já tinha todo um percurso atrás de si relevante. Hi guys, it's Kyle here. Was asked to send out this tweet on behalf of Steve, Lynn & Michael. #rippeteburns #sadtimes #icon SO SAD!!! pic. twitter. com/rOkAVHsZQgNos anos 1980 era tão conhecido pelo seu estilo extravagante, com roupa pré-Boy George andrógeno, penteados exóticos e sapatos de salto alto, como pelo seu papel à frente dos Dead or Alive, que tiveram o seu ponto alto em 1985, cinco anos depois da fundação, com o sucesso global da canção You Spin Me Round (like a record). Antes dos Dead or Alive, no período pós-punk no final dos anos 1970, passou pelos Mystery Girls - ao lado de Pete Wylie, que mais tarde formaria os Wha! e os The Mighty Wha! - vindo ainda a fazer parte dos Nightmares On Wax. Estes aliavam as guitarras do pós-punk com batidas 'disco' e a sua voz e postura teatralizada, antecipando de alguma forma o que um outro projecto oriundo de Liverpool viria a fazer anos depois com sucesso - os Frankie Goes To Hollywood. Em 1980 nascem, então, os Dead or Alive, pelos quais passou também nesses anos iniciais, o guitarrista Wayne Hussey (Sisters Of Mercy, The Mission). O single The stranger (1982) haveria de os colocar numa via pop mais electrónica, algures entre a vaga "neo-romântica" (Duran Duran, Spandau Ballet) e uma pop electrónica estilizada mais ambígua (The Associates, Bronski Beat, ABC). O seu primeiro êxito surgiria em 1984 com uma versão do clássico That's the way (i like it) de KC & The Sunshine Band. Com o álbum de estreia, Sophisticated Boom Boom (1983), viriam a conquistar mais admiradores, mas seria com o sucesso de You spin me round (like a record), que ficaram conhecidos um pouco por todo o lado. A canção tinha o toque comercial de produção do trio Stock, Aitken & Waterman, que viria a marcar a época ajudando muitos nomes da década de 1980 (Bananarama, Mel & Kim, Rick Astley, Kylie Minogue) a alcançar as tabelas de vendas. O álbum seguinte, Youthquake (1985), viria a alcançar também sucesso graças a canções como Lover come back to me, In too deep ou My heart goes bang, e o registo seguinte, Mad Bad and Dangerous To Know (1987), manteve-os nessa mesma rota. Depois vieram mais quatro álbuns, compilações e uma tentativa de Burns se lançar a solo, mas sem grande sucesso. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nos últimos anos a sua presença em reality shows deu-lhe outra vez notariedade, discutindo-se em Inglaterra o seu comportamento e bissexualidade, ao mesmo tempo que se tornava porta-voz de organizações de beneficência que lidam com a violência no contexto de relações homossexuais. O seu último single, Never marry an icon, foi lançado em 2010.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência ataque andrógeno
Iniciação carnal
Uma curiosa primeira obra islandesa, atenta ao mal-estar da adolescência mas demasiado espartilhada pela suas próprias ambições. (...)

Iniciação carnal
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma curiosa primeira obra islandesa, atenta ao mal-estar da adolescência mas demasiado espartilhada pela suas próprias ambições.
TEXTO: Filme de liceu sobre a descoberta da sexualidade, história atenta sobre o bullying adolescente, retrato de um verão de acesso à idade adulta, drama de famílias disfuncionais e incompletas: a primeira longa do islandês Gudmundur Arnar Gudmundsson é tudo isso ao mesmo tempo. Olha para uma pequena aldeia costeira daquele país nórdico e acompanha o percurso de Thor e Kristján, que apesar da sua tenra idade já se sentem presos na claustrofobia da comunidade, amplificada pela sensação de que gostam um do outro de maneiras diferentes do que é normal para rapazes da sua idade. Realização:Guðmundur Arnar Guðmundsson Actor(es):Baldur Einarsson, Blær Hinriksson, Diljá ValsdóttirGudmundsson dispõe com elegância as peças do seu drama e fá-las chocar de modos nem sempre previsíveis. O filme é tanto sobre uma amizade que os miúdos se perguntam se será algo mais, tal é o desejo que sentem um pelo outro, como sobre o silêncio e o isolamento que estão a dar cabo das famílias que os rodeiam — Thor vive com duas irmãs rebeldes e uma mãe divorciada, os pais de Kristján mal se falam, o ambiente familiar é no geral de cortar à faca. Nesse processo, Corações de Pedra distende-se para algo mais atmosférico, menos linear, mas perde também foco e energia, com o poder das explosões emocionais que pontuam a narrativa a diluir-se pelo meio do pudor com que tudo é sugerido mais do que explicado, e a sua abordagem sensorial e cuidadosa a dissipar-se por entre uma narrativa que não a sustenta. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Seria pena que Corações de Pedra, vencedor do Leão Queer no festival de Veneza 2016 (onde estreou na paralela Venice Days), fosse remetido para a gaveta do cinema queer ou de temática LGBT, porque o filme quer ver para lá dos estereótipos; na adolescência tudo se sente à flor da pele e nem sempre o sexo é o maior dos problemas. Gudmundsson é genuinamente bom a apanhar o mal-estar universal de ser adolescente, com o elenco a estar uniformemente “no ponto”, menos convincente a formar um filme à sua volta. Mas é uma primeira obra interessante.
REFERÊNCIAS:
Dezoito espectáculos, nenhum mecenas nos próximos meses do TNSJ
Doses duplas de Ricardo Pais e Olga Roriz abrem um novo ciclo marcado por co-produções e pequenas estreias. (...)

Dezoito espectáculos, nenhum mecenas nos próximos meses do TNSJ
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Doses duplas de Ricardo Pais e Olga Roriz abrem um novo ciclo marcado por co-produções e pequenas estreias.
TEXTO: Primeiro as boas notícias: o Teatro Nacional São João (TNSJ) entrou em 2015 com nova imagem gráfica (impecáveis, os desdobráveis mensais do Studio Dobra de André Cruz e João Guedes), os horários experimentais (quartas às 19h excepto nas estreias, de quinta a sábado às 21h) têm tido “uma óptima aceitação” (com um “impacto especial nas sessões de quarta-feira junto do público escolar, que têm permitido atingir taxas de ocupação de 80%”), os bares do TNSJ e do Teatro Carlos Alberto (TeCA) geraram “nova dinâmica antes e depois dos espectáculos”, e as visitas guiadas já trouxeram 351 visitantes ao edifício principal, tendo produzido também um efeito de captação de público não-português que já é visível (embora não esteja ainda contabilizado) nas bilheteiras. Agora as más: tal como nas últimas temporadas, o TNSJ de Nuno Carinhas prepara-se para enfrentar mais quatro meses sem mecenas. “O modelo jurídico da entidade pública empresarial não é muito propício, uma vez que impede os mecenas de interferirem nas actividades das instituições apoiadas, ao contrário do que acontece por exemplo numa fundação”, lamentou a presidente do Conselho de Administração, Francisca Carneiro Fernandes, na conferência de imprensa de quinta-feira, em que o São João lançou mais um trimestre. Na fila da frente, Tiago Guedes, o director artístico do vizinho Teatro Municipal do Porto, concordou quando Francisca Carneiro Fernandes avaliou a entrada em cena do Rivoli, que agora inicia o seu terceiro mês de funcionamento regular, como “concorrência saudável”, com repercussões directas – e positivas – sobre as correntes de público das salas da Batalha, de Carlos Alberto e de São Bento da Vitória. De resto, e numa sessão que começou por homenagear o poeta Herberto Helder (1930-2015) – Fernando Mora Ramos, o Adversário de O Fim das Possibilidades, um dos três espectáculos com que o TNSJ sexta-feira comemora o Dia Mundial do Teatro, leu o poema O Actor: “O actor acende a boca. Depois os cabelos. / Finge as suas caras nas poças interiores. / O actor põe e tira a cabeça/ de búfalo. / De veado. / De rinoceronte. / Põe flores nos cornos. / Ninguém ama tão desalmadamente/ como o actor” –, folheou-se de uma ponta à outra a agenda dos próximos quatro meses, com destaque para as duas doses duplas da temporada. A abrir, os programas Ricardo Pais x 2 (Sombras – a nossa tristeza é uma imensa alegria e al mada nada estão de regresso a casa, respectivamente de 3 a 5 e de 11 a 19 de Abril) e Olga Roriz x 2 (a festa do Dia Mundial da Dança far-se-á com A Sagração da Primavera, a 24 e 25 de Abril, e Terra, a 29 e 30). A seguir, uma série de co-produções com escala no Porto: Pântano, a nova criação de Miguel Moreira para a Útero (TeCA, 9 a 11 de Abril) que sexta-feira se estreia na Culturgest; As Três (Velhas) Irmãs – Uma Memória de Tchékhov, de Martim Pedroso (TeCA, 8 a 17 de Maio); Amor e Informação, pelo Teatro Aberto (14 a 24 de Maio); Bilingue, colaboração do São João com o Projeto Nós – Território (Es)Cénico Portugal Galicia (TNSJ, 10 a 14 de Junho), numa parceria de José Maria Vieira Mendes e Pedro Zegre Penim; Heterotopia, que encerra a Trilogia do Lugar de Emanuel de Sousa (TeCa, 26 de Junho a 5 de Julho); Pocilga, incursão de John Romão no continente Pier Paolo Pasolini (TNSJ, 3 a 12 de Julho), bonificada, a 4 de Julho, com uma leitura de poemas seleccionados do intelectual italiano, A Religião do Meu Tempo – Poesia de Pasolini; e Só Se Eu Quiser, abordagem à doença terminal do colectivo TEatro Ensaio, com texto e encenação de Pedro Estorninho (TeCA, 17 a 26 de Julho). O incansável João Sousa Cardoso é outra das paragens obrigatórias da agenda, com um regresso a Álvaro Lapa, Barulheira (Mosteiro de São Bento da Vitória, 24 de Abril a 3 de Maio), abordagem ao texto polifónico do pintor e às figuras da sua mitologia pessoal, e outro a Almada Negreiros, MIMA-FATÁXA (TeCA, 22 a 24 de Maio), incorporando as vozes de Ana Deus, Ricardo Bueno e 25 participantes locais. Um documentário meta-teatral – Pára-me de repente o pensamento, mergulho de Jorge Pelicano no quotidiano dos doentes mentais do Centro Hospitalar Conde de Ferreira, acompanhando os trabalhos do actor Miguel Borges com o grupo de teatro terapêutico daquela instituição (TNSJ, 7 de Maio) – e dois festivais cuja programação será “oportunamente anunciada”, o FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (9 a 20 de Junho) e o desNORTE – Mostra de Dança do Porto (Mosteiro de São Bento da Vitória, 30 de Junho a 4 de Julho), completam um trimestre em que o TNSJ ainda faz a festa em Serralves e dá continuidade às suas actividades pedagógicas. Enquanto, claro, procura um mecenas.
REFERÊNCIAS: