Condenação de governador por blasfémia mostra maior intolerância na Indonésia
Pena dura, e surpreendente, para o Governador de Jacarta, que foi imediatamente preso. (...)

Condenação de governador por blasfémia mostra maior intolerância na Indonésia
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pena dura, e surpreendente, para o Governador de Jacarta, que foi imediatamente preso.
TEXTO: A condenação do ainda governador de Jacarta por um tribunal indonésio por blasfémia está a ser vista como um passo preocupante em direcção a menos tolerância religiosa no país com maior população muçulmana do mundo. O ainda governador, derrotado nas últimas eleições mas que deveria manter-se no cargo até Outubro, foi condenado a uma pena mais dura do que a pedida pela acusação e levado imediatamente para a prisão de Cipinang, onde estão criminosos de delito comum, traficantes de droga e violadores. Basuki Tjahaja Purnama, conhecido por “Ahok”, pertence a uma dupla minoria: é cristão e de origem chinesa. Foi acusado do crime de blasfémia por ter feito comentários durante a campanha para desacreditar os seus opositores que argumentavam que muçulmanos não deveriam votar em não muçulmanos, invocando o Corão. Um vídeo editado circulou e provocou protestos e manifestações contra o governador, que foram usados pelos rivais. "Ahok", que assumiu o cargo em 2014 quando o então governador Joko Widodo foi eleito Presidente, enfrentou protestos por não ser muçulmano, mas estes subsistiram e o responsável era tido como um político competente e não corrupto. Mas a polémica sobre o Corão foi o suficiente para que, de favorito nas eleições de Abril, "Ahok" passasse a derrotado – acabou por perder com 16 pontos percentuais de diferença para o vencedor, Anies Baswedan, que tomará posse em Outubro. Isto apesar de ter garantido não querer ofender o Corão ou os muçulmanos e ter feito um contrito pedido de desculpas. A pena pedida pelo Ministério Público era de dois anos, suspensa, o que pouparia o governador a prisão efectiva. A pena aplicada foi surpreendente por ser mais dura – dois anos de prisão efectiva. O caso era visto como um teste para a tolerância religiosa na Indonésia. “Se se apela aos indonésios para promoverem a sua identidade como membros da Ummah [comunidade de crentes] antes da de eleitores, isso quer dizer que a identidade religiosa ameaça sobrepor-se à cidadania como principal princípio organizador”, comentava na emissora pan-árabe Al-Jazira Dina Afrianty, investigadora de Religião e Política da Universidade Católica da Austrália. Organizações de direitos humanos como a Amnistia Internacional ou a Human Rights Watch (HRW) manifestaram preocupação. “É assustador”, comentou Andreas Harsono, investigador da HRW na Indonésia, citado pelo diário norte-americano The New York Times. “Se alguém como 'Ahok', um aliado do Presidente, o governador da maior e mais complexa cidade indonésia, pode ser derrubado e humilhado deste modo, o que poderá acontecer ao cidadão indonésio normal?”, pergunta. O medo de falar vai aumentar especialmente entre minorias e muçulmanos moderados, antevê. A analista Charlotte Setijadi, do ISEAS-Yusof Ishak Institute de Singapura, fala ainda de “uma mensagem intimidante para aspirantes a políticos de outras minorias étnicas ou religiosas”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na Indonésia, para além dos cerca de 190 milhões de muçulmanos numa população de 250 milhões há várias minorias religiosas como cristãos, hindus e budistas. Gozam de protecção constitucional, mas nos últimos anos, um movimento muçulmano radical tem vindo a somar pequenas vitórias, especialmente a nível de leis locais. Ao Parlamento, propuseram leis para banir o álcool em todo o país, proibir sexo entre pessoas do mesmo sexo ou criminalizar sexo entre pessoas não casadas. A lei da blasfémia foi criada em 1965 mas nas décadas seguintes foi aplicada pouquíssimas vezes: houve dez condenações entre 1965 e 1998, durante a presidência de Suharto (quando a liberdade de expressão era muito restrita). Já entre 2005 e 2014 a Amnistia registou pelo menos 106 condenações por blasfémia. “O veredicto vai afectar a reputação da Indonésia como um país tolerante”, declarou Champa Patel, director da AI para o Sudeste Asiático e Pacífico.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN
Emmys 2018: este ainda é o mundo de A Guerra dos Tronos, mas é o Netflix que ocupa mais espaço
Plataforma de streaming foi a mais nomeada pela primeira vez, batendo a HBO. Academia nomeou Anthony Bourdain, Stranger Things, Westworld, Atlanta, Stephen Colbert ou O Assassinato de Versace. (...)

Emmys 2018: este ainda é o mundo de A Guerra dos Tronos, mas é o Netflix que ocupa mais espaço
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.049
DATA: 2018-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Plataforma de streaming foi a mais nomeada pela primeira vez, batendo a HBO. Academia nomeou Anthony Bourdain, Stranger Things, Westworld, Atlanta, Stephen Colbert ou O Assassinato de Versace.
TEXTO: Pela primeira vez, o Netflix tem mais nomeações para os Emmys do que a gigante da televisão convencional, a HBO. Mas A Guerra dos Tronos continua a vencer a batalha da série, com mais nomeações num ano em que os mais importantes prémios da televisão dos EUA que o mundo vê só reconheceram novos valores na comédia e deram pouca atenção a Twin Peaks. E em que o seu enamoramento caseiro por This Is Us deu lugar a uma atracção por American Crime Story: O Assassinato de Versace. Da longa lista de nomeações apresentadas esta quinta-feira em Los Angeles pelos actores Samira Wiley e Ryan Eggold sobressaem os números: o Netflix teve 112 nomeações e a HBO 108. É a primeira vez em 18 anos que a HBO, símbolo de um modo de produção dos anos 1990 e 2000, mais selectivo, e sinónimo de qualidade, não lidera as nomeações. A diferença é parca mas mostra a rápida aproximação do mundo do streaming ao mundo da TV por subscrição. Surge nos mesmos dias em que a HBO anunciava querer ser mais como o Netflix, produzir mais, e ocupar mais espaço, numa altura em que a febril produção do Netflix dá frutos, com séries de prestígio como The Crown e Stranger Things a bisarem presenças na lista das candidatas ao título de melhor série. Isto depois de em 2017 The Handmaid’s Tale ter sido a primeira produção streaming (mas do Hulu, que não opera em Portugal) a receber o mais importante prémio da Academia de Artes e Ciências Televisivas. Como resume Daniel D'Addario na Variety, este saldo dos Emmys "ratificou uma coisa que era quase oficial há algum tempo: o Netflix é, presentemente, uma força dominante na televisão". A Guerra dos Tronos (SyFy e TVSéries), uma das mais populares séries do planeta, está novamente elegível (eram candidatos todos os programas estreados entre 1 de Junho de 2017 e 31 de Maio de 2018 e no ano passado, por se ter estreado nesse período, a temporada de 2017 da série não foi mencionada nos 69. ºs Emmy). A sua presença muda a corrida, como a sua ausência também a moldou. Primeiro porque há quem defenda, como escreve a crítica de TV do New York Times Margaret Lyons, que A Guerra dos Tronos "não é a 'melhor' em nenhuma das suas categorias, é só a 'mais'", a maior. A sua dimensão é parte do seu fenómeno e os Emmys são, como todos os prémios, uma mistura de gostos e outros factores, mas sobretudo uma instituição pouco conotada com o risco. The Handmaid’s Tale, que parte do livro de Margaret Atwood e cuja temática tirou o fôlego aos espectadores na era Trump, fez história tanto justa quanto circunstancialmente em 2017 na ausência de A Guerra dos Tronos. Elogiada pela crítica e com uma gravidade que os Tronos não têm, continuam a competir de perto. Se o épico de fantasia baseado nos livros de George R. R. Martin foi novamente o mais nomeado, teve apenas três menções na actuação (Lena Headey, Peter Dinklage e Nikolaj Coster-Waldau como secundários) e muitas nas chamadas categorias técnicas. O peso da televisão solene de Westworld (TVSéries) e sua interrogação de humanidade, andróides e consciência, ou do totalitarismo sexual de The Handmaid’s Tale (Nos Play), vem com mais reconhecimento na interpretação – têm cinco e seis nomeações para os seus actores, respectivamente, entre Evan Rachel Wood e Ed Harris até às vencedoras de 2017, Elisabeth Moss e Ann Dowd. Na lista das séries mais nomeadas surgem depois Saturday Night Live (com vários nomeados pelos seus sketches semanais, entre os quais Alec Baldwin pela sua caricatura de Donald Trump) e Westworld (HBO), com 21 nomeações, e a segunda temporada de The Handmaid’s Tale, com 20. Vistos assim, estes parecem ser os Emmys dos consagrados dos últimos anos, sem novas séries candidatas no drama, e também os prémios de fim de festa, com a despedida dos subvalorizados The Americans (Fox Crime). Os seus protagonistas, Matthew Rhys e Keri Russell, foram nomeados, e é também a última vez que Claire Foy e Matt Smith, protagonistas de The Crown, puderam ser e foram nomeados. Uma recém-chegada no drama (ainda sem estreia em Portugal), Killing Eve (HBO), não conseguiu a nomeação na mais desejada categoria, mas deu à sua protagonista Sandra Oh a primeira nomeação de actriz principal para uma asiática. É na comédia que este ano estão nomeadas novas séries – três. Barry (HBO/TVSéries), The Marvelous Mrs. Maisel (Amazon) e Glow (Netflix) são os novos talentos que competem com a segunda temporada de Atlanta, de e com Donald Glover, a aposta segura que obteve 16 nomeações, o maior número da comédia e que em Portugal passa na Fox Comedy. Nela competem ainda a HBO com Curb Your Enthusiasm – Calma Larry e Silicon Valley, Unbreakable Kimmy Schmidt do Netflix e Black-ish. Glover, Bill Hader (Barry), Larry David (Curb Your Enthusiasm), Ted Danson (The Good Place), Rachel Brosnahan (Mrs. Maisel), Issa Rae (Insecure) e Pamela Adlon (Better Things) são alguns dos nomeados entre os protagonistas da comédia. Tal como A Guerra dos Tronos, também a ausência de Veep, a vencedora dos últimos anos na comédia, abriu espaço para novos nomes depois de a sua produção ter sido suspensa pelo cancro de Julia Louis-Dreyfus, que tem já oito Emmys. Os 70. ºs Emmys reforçaram a tendência que nos últimos anos revalorizou categorias antes consideradas de segunda como o telefilme, a mini-série e até o documentário. Uma das relativas surpresas foi a atenção dada à série de antologia/mini-série sobre o homicídio do designer de moda Gianni Versace, uma criação feérica sobre homofobia e psicose que a Fox transmitiu em Portugal e que a Academia brindou com 18 nomeações (entre as quais seis para os seus actores, como Penélope Cruz ou o protagonista Darren Criss). Nas séries de duração limitada foram também reconhecidas Godless (Netflix) ou Genius (National Geographic), cujo protagonista Antonio Banderas está nomeado como melhor actor nesta secção. David Lynch foi nomeado pela escrita e realização no seu regresso a Twin Peaks (TVSéries), uma série que encimou as listas de muitas publicações como uma das melhores de 2017 e que está a ser apontada como uma das faltas a marcar nestes 70. ºs Emmys (Mindhunter, Killing Eve e Orange is the New Black são outras ausências notadas). Kyle MacLachlan e Laura Dern não foram nomeados por Twin Peaks, mas a actriz é candidata pelo seu protagonismo no telefilme The Tale, outra produção HBO, que também viu nomeados Paterno e Fahrenheit 451. A força dos talk shows de comentário noticioso é confirmada pela forte presença dos nomeados na televisão portuguesa, via SIC Radical e RTP, com Stephen Colbert, John Oliver ou Trevor Noah candidatos ao Emmy pelos seus programas. A única mulher candidata ao Emmy nesta categoria é Samantha Bee com o seu Full Frontal, e é uma de dois nomeados cujas polémicas recentes não afectaram a sua candidatura – ela por ter insultado Ivanka Trump, e Jason Bateman, nomeado por Ozark apesar de uma breve controvérsia MeToo por ter minorado as queixas da sua colega Jessica Walter quanto a Jeffrey Tambor nas filmagens de Arrested Development. Estes são também os Emmys que nomearam postumamente Anthony Bourdain, cuja morte em Junho abalou o meio e que estava a filmar o programa Parts Unknown para a CNN quando do seu suicídio. Os nomeados nas principais categorias:Melhor série dramáticaA Guerra dos Tronos (HBO/SyFy)The Handmaid's Tale (Hulu/Nos Play)The Americans (FX/FoxCrime)This Is Us (NBC/FoxLife)The Crown (Netflix)Stranger Things (Netflix)Westworld (HBO/TVSéries)Melhor actor numa série dramáticaSterling K. Brown - This Is UsMilo Ventimiglia -This Is UsMatthew Rhys - The AmericansJeffrey Wright - WestworldEd Harris - WestworldJason Bateman - OzarkMelhor actriz numa série dramáticaElisabeth Moss - The Handmaid's TaleClaire Foy - The CrownKeri Russell - The AmericansEvan Rachel Wood - WestworldSandra Oh - Killing EveTatiana Maslany - Orphan BlackMelhor actor secundário numa série dramáticaDavid Harbour - Stranger ThingsPeter Dinklage - A Guerra dos TronosNikolaj Coster-Waldau - A Guerra dos TronosMandy Patinkin - Segurança NacionalJoseph Fiennes - The Handmaid's TaleMatt Smith – The CrownMelhor actriz secundária numa série dramáticaMillie Bobby Brown - Stranger ThingsLena Headey - A Guerra dos TronosAlexis Bledel - The Handmaid's TaleAnn Dowd - The Handmaid's TaleYvonne Strahovski - The Handmaid's TaleThandie Newton - WestworldVanessa Kirby - The CrownMelhor série de comédiaAtlanta (FX/TVSéries)The Marvelous Mrs. Maisel (Amazon)Barry (HBO/TVSéries)GLOW (Netflix)Black-ish (ABC/Fox Comedy)Silicon Valley (HBO/TvSéries)Curb Your Enthusiasm (HBO)Unbreakable Kimmy Schmidt (Netflix)Melhor actor numa série de comédiaDonald Glover - AtlantaWilliam H. Macy - ShamelessBill Hader - BarryTed Danson - The Good PlaceLarry David - Curb Your EnthusiasmAnthony Anderson - Black-ishMelhor actriz numa série de comédiaRachel Brosnahan - The Marvelous Mrs. MaiselAllison Janney - MomTracee Ellis Ross - Black-ishIssa Rae - InsecurePamela Adlon - Better ThingsLily Tomlin - Grace and FrankieMelhor actor secundário numa série de comédiaBrian Tyree Henry - AtlantaLouie Anderson - BasketsHenry Winkler - BarryAlec Baldwin - Saturday Night LiveKenan Thompson – Saturday Night LiveTony Shalhoub - The Marvelous Mrs. MaiselTituss Burgess - Unbreakable Kimmy SchmidtMelhor actriz secundária numa série de comédiaZazie Beetz - AtlantaLaurie Metcalf – RoseanneLeslie Jones - Saturday Night LiveAlex Borstein - The Marvelous Mrs. MaiselBetty Gilpin - GLOWAidy Bryant - Saturday Night LiveKate McKinnon - Saturday Night LiveMegan Mullally - Will and GraceAmerican Crime Story: O Assassinato de Versace (FX/FoxLife)Godless (Netflix)Patrick Melrose (Showtime)Genius: Picasso (National Geographic)The Alienist (TNT)Black Mirror: USS Callister (Netflix)Paterno (HBO/TVCine)The Tale (HBO/TVCine)Fahrenheit 451 (HBO)Flint (Lifetime)Melhor actor num telefilme ou série limitadaBenedict Cumberbatch - Patrick MelroseJeff Daniels -The Looming TowerDarren Criss - American Crime Story: O Assassinato de VersaceAntonio Banderas - Genius: PicassoJohn Legend - Jesus Christ SuperstarJesse Plemons - Black Mirror: USS CallisterMelhor actriz num telefilme ou série limitadaLaura Dern - The TaleJessica Biel - The SinnerMichelle Dockery - GodlessSarah Paulson - American Horror Story: CultEdie Falco - Law & Order True Crime: The Menendez MurdersRegina King - Seven SecondsMelhor actor secundário num telefilme ou série limitadaJeff Daniels - GodlessRicky Martin - American Crime Story: O Assassinato de VersaceFinn Wittrock - American Crime Story: O Assassinato de VersaceEdgar Ramírez -American Crime Story: O Assassinato de VersaceMichael Stuhlbarg - The Looming TowerBrandon Victor Dixon - Jesus Christ SuperstarJohn Leguizamo - WacoMelhor actriz secundária num telefilme ou série limitadaMerritt Wever - GodlessPenelope Cruz - American Crime Story: O Assassinato de VersaceJudith Light - American Crime Story: O Assassinato de VersaceLetitia Wright – Black Museum: Black MirrorSara Bareilles - Jesus Christ SuperstarLast Week Tonight with John Oliver (HBO/RTP)The Late Show with Stephen Colbert (CBS/SIC Radical)The Late Late Show with James Corden (CBS/SIC Radical)Full Frontal with Samantha Bee (TBS)The Daily Show with Trevor Noah (Comedy Central/RTP)Anthony Bourdain: Parts Unknown (CNN)My Next Guest Needs No Introduction with David Letterman (Netflix)Leah Remini: Scientology and the Aftermath (A&E)StarTalk With Neil deGrasse Tyson (National Geographic)Vice (HBO)Melhor documentário ou série de não-ficçãoWild Wild Country (Netflix)The Defiant Ones (HBO)The Fourth Estate (Showtime)American Masters (PBS)Planeta Azul II (BBC America/RTP1)Melhor especial documentárioIcarus (Netflix)Jim & Andy: The Great Beyond (Netflix)Mister Rogers: It's You I Like (PBS)Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. The Zen Diaries Of Garry Shandling (HBO)Spielberg (HBO)Notícia corrigida às 10h46 de 13 de Julho: informação sobre exibição em Portugal da série Atlanta
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
As Festas de Lisboa vão fazer-se de memória: de Vasco Santana à Expo 98
Vasco Santana vai ser lembrado “na folia e no pecado”. Os Olharapos voltam à Expo. Os arraiais mantêm-se por toda a cidade mas este ano querem-se mais sustentáveis. Eis o cardápio das festas populares da capital. (...)

As Festas de Lisboa vão fazer-se de memória: de Vasco Santana à Expo 98
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Vasco Santana vai ser lembrado “na folia e no pecado”. Os Olharapos voltam à Expo. Os arraiais mantêm-se por toda a cidade mas este ano querem-se mais sustentáveis. Eis o cardápio das festas populares da capital.
TEXTO: É o tempo da sardinha a pingar no pão, do copo de vinho na mão, do bailarico e do manjerico. As Festas de Lisboa, que arrancam daqui a uma semana, rimam com música e diversão, mas levam este ano uma pitada de memória. Volta a cumprir-se a tradição lisboeta com as marchas populares a descerem a Avenida da Liberdade na noite de 12 para 13 de Junho. Será Vasco Santana quem as guiará este ano, em jeito de celebração dos 120 anos do seu nascimento. Pela avenida, todas as marchas vão interpretar o tema “Vasco é Saudade", vencedor do concurso Grande Marcha de Lisboa 2018. Velha Lisboa Canção da vida inteira Cidade ilustre, Tão culta e altaneiraAtrai estudantes, Boémios e artistas Com versos e paixões Faz promessas imprevistasLembra o Vasquinho, Folia e pecado Num copo a mais Criando um novo fadoTrocando os livros P’lo trinar duma guitarra Faz como ele Deixa o estudo, vai p’rá farra!Refrão Em Lisboa Ninguém te leva a mal Amar é natural Quando amas de verdadeEm Lisboa Há sonhos de conquista Da marcha mais bairrista E o Vasco na saudadeEm Lisboa Alice, a costureira Desfila aventureira Com o arquinho na mãoFoi comprar um manjerico P’ra mostrar no bailarico Um gaiato em forma de balão Vai levando o namorado Por ali dependurado Canta a marcha, dá-lhe uma lição!Foi no passado Que o filme se fez história Hoje é lembrado Na marcha em sua glóriaNossa Lisboa Não esquece a emoção Rolando pela tela Deu seu nome a uma cançãoLembra o Vasquinho Fadista e doutor E os seus trejeitos Armado em sedutorNoites em claro, Lá estudou… muito aprendeu E no exame Até falou do mastoideu!Autor da Letra: Dina Teresa de Oliveira Barco Autor da Música: José Manuel Venda CondinhoEste ano, e “excepcionalmente”, vão a concurso 23 marchas, depois dos grupos do Alto do Pina, Santa Engrácia e Benfica terem reclamado a participação, levantando dúvidas sobre a entrada em vigor do novo regulamento das marchas de Lisboa. São a actividade "mais complexa e mais arriscada que a EGEAC [Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural] organiza ao longo do ano", reconheceu a presidente desta empresa municipal, Joana Gomes Cardoso, na apresentação do programa das festas, que decorreu esta sexta-feira, no Mercado de Arroios. "Se pensarmos que há uns anos temíamos que as marchas populares acabassem, hoje em dia, o contexto é o oposto. Quanto muito temos algumas dores de crescimento", continuou a responsável, aludindo aos problemas que foram levantados este ano. Mas a festa segue, com “um programa vastíssimo, que reúne e assenta muito na manifestação que é mais tradicional, popular, bairrista na cidade”, assinalou o presidente da câmara, Fernando Medina. Pelo terceiro ano, os lisboetas são desafiados a recriarem os Tronos de Santo António, em articulação com o Museu de Lisboa. “Os tronos já estão por toda a cidade e já não apenas nas zonas históricas”, notou Joana Gomes Cardoso. Mas a tradição há-de seguir pelos casamentos de Santo António, em que 16 casais vão dar o nó na manhã do dia 12 de Junho, na Sé de Lisboa. As festas chegam ainda ao Parque das Nações no ano em que passam duas décadas sobre um dos grandes momentos de “viragem na vida cultural da cidade”, a Expo 98. Há espectáculos multimédia e a actuação dos Olharapos, logo no arranque das festas, na Pala do Pavilhão de Portugal. As fotografias de Bruno Portela, que retratam a zona antes da intervenção urbana ali feita há mais de 20 anos, vão estar espalhadas pelas ruas. Você não está aqui inaugura a 9 de Junho para dar a conhecer às novas gerações, e em 70 fotografias, uma zona que não passava de um depósito de fábricas abandonadas, onde chegou a funcionar uma petrolífera, um aterro sanitário e um matadouro. Mas as Festas de Lisboa são também "um espaço para as várias expressões", vincou Joana Gomes Cardoso. Da arte para as crianças, com a reabertura do Teatro Luís de Camões, às artes plásticas, para quem aceitar o desafio de criar a própria sardinha, à música e ao fado. No Castelo de São Jorge, vai-se fazer silêncio para ouvir o fado pelas vozes de Carlos do Carmo, Carminho, Camané, nos dias 14, 15 e 16 de Junho, respectivamente. Já no próximo sábado, dia 2, a música toca no Terreiro do Paço, com o concerto da Orquestra Geração, o projecto de inclusão social que forma jovens músicos de comunidades desfavorecidas, com a Orquestra Gulbenkian, especialmente dedicada a amantes da saga Guerra das Estrelas. Se as festas são “uma expressão do barrismo” lisboeta, como assinalou Fernando Medina, são também uma oportunidade para mostrar “as muitas realidades” que a cidade tem. “Tudo encontra espaço nas festas de Lisboa”, sublinhou o autarca. É para promover esse "encontro de culturas" que o festival Lisboa Mistura e a Festa da Diversidade voltam com espectáculos na Ribeira das Naus, a partir do dia 7 de Junho. O programa das festas termina a 30 de Junho, no jardim da Torre de Belém, com um concerto de Gilberto Gil, que comemora os 40 anos do álbum "Refavela" e terá convidados como Mayra Andrade. Há muita programação paralela durante este mês de festa em Lisboa, que pode ser consultada em culturanarua. pt. Durante todo o mês, os arraiais vão multiplicar-se pelos bairros da cidade, da Vila Berta, na Graça, ao Lumiar. No dia 23, o Terreiro do Paço volta a receber o Arraial Pride, um dos maiores eventos para s população lésbica, gay, bissexual, transgénero e intersexo (LGBTI), com festa das 16h às 4h da manhã. Este ano, a câmara de Lisboa, em parceria com a Central das Cervejas, quer reduzir a quantidade de plástico, e de lixo, que ficam nas ruas da cidade no final de uma noite de folia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A mensagem vem gravada nos copos. “É para repetir”, lê-se nos copos reutilizáveis que estarão à venda e que se pretende que sejam um incentivo à reciclagem dos copos tradicionais. "Não será possível ainda em toda a cidade, porque os arraiais são imensos e espalham-se por toda a cidade, mas em todas as organizações de concertos em espaços organizados, será esse o método utilizado", explicou Fernando Medina, aos jornalistas, já no final da apresentação da programação das festas. O autarca lembrou ainda que, durante o mês de Junho, a capital poderá receber “entre um milhão a dois milhões de pessoas no centro da cidade” por causa das festas de Santo António.
REFERÊNCIAS:
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A escrava preferida de Thomas Jefferson já tem um quarto na mansão de Monticello
O principal autor da Declaração de Independência dos EUA, onde se defende que "todos os homens são criados de forma igual", foi proprietário de 600 escravos e teve filhos com uma escrava. A Fundação Thomas Jefferson vem agora propor um debate sobre essas contradições. (...)

A escrava preferida de Thomas Jefferson já tem um quarto na mansão de Monticello
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O principal autor da Declaração de Independência dos EUA, onde se defende que "todos os homens são criados de forma igual", foi proprietário de 600 escravos e teve filhos com uma escrava. A Fundação Thomas Jefferson vem agora propor um debate sobre essas contradições.
TEXTO: Quase 200 anos depois da morte de Thomas Jefferson, muitos americanos continuam a coçar a cabeça à procura de uma explicação para as contradições na vida do seu terceiro Presidente. A sua filosofia de liberdade deu forma à Declaração de Independência dos Estados Unidos da América e à afirmação de que todos os homens são iguais à nascença, mas a sua defesa pseudocientífica do racismo fez dele um dos mais célebres e convictos esclavagistas do estado da Virginia, que não hesitava em separar famílias como forma de punição. Para sublinhar estas contradições, a fundação que gere a memória da gigantesca plantação de Monticello, na Virgínia, onde Jefferson viveu grande parte da sua vida, inaugurou no passado fim-de-semana uma exposição polémica: num dos quartos, os visitantes podem agora conhecer a vida de Sally Hemings, a escrava que terá sido mãe de seis filhos de Thomas Jefferson. A existência dessa relação de várias décadas, iniciada depois da morte da primeira e única mulher de Jefferson, Martha, é aceite pela generalidade dos historiadores. Mas nem sempre foi assim. Durante dois séculos, os que se atreveram a unir os pontos deixados pela História e a dar credibilidade aos testemunhos orais das gerações que diziam descender do casal foram sempre rotulados pelos admiradores de Jefferson como uma espécie de historiadores de mexericos – escritores em busca de fama que transformavam aquilo que pareciam ser vinganças pessoais com 200 anos em supostas revelações polémicas na actualidade. A história conta-se em poucos parágrafos. Tudo começou em 1802, nas páginas do jornal Recorder, quando um jornalista chamado James Callender, conhecido por lançar ataques venenosos contra inimigos políticos de Thomas Jefferson, se virou contra o seu antigo aliado, depois de lhe ter sido negado o posto de responsável dos correios na Virginia. Num artigo intitulado "O Presidente, mais uma vez", Callender acusou Jefferson de hipocrisia ao esconder uma relação com uma das suas escravas: "Ela chama-se Sally. O filho mais velho dela chama-se Tom. Dizem que as feições dele têm parecenças impressionantes com as do Presidente, embora mais escuras", escreveu Callender. O tema foi muito falado na época, mas o Presidente Jefferson, no cargo há dois anos, não fez qualquer comentário público e tudo acabou por ser varrido para os rodapés de conversas em surdina, até se diluir na passagem das décadas e dos séculos. Tudo mudou em 1998, com a publicação de um estudo na revista Nature. Depois de analisar o ADN de descendentes masculinos dos Jefferson e dos Hamings, uma equipa de investigadores concluiu que "a explicação mais simples e mais provável" é que Thomas Jefferson foi o pai de Eston Hemings, o filho mais novo de Sally Hamings, nascido em Maio de 1808. Em termos científicos, os investigadores apenas podem afirmar que o pai de Eston Hemings era um Jefferson — e não o Jefferson —, mas os historiadores e os especialistas na vida e obra do Presidente americano passaram a aceitar essa forte probabilidade como um facto, já que as investigações complementares apontam para o mesmo resultado. Por exemplo, através dos registos de viagens, só é possível colocar um dos Jefferson na plantação de Monticello por alturas da concepção dos seis filhos que Sally Hemings teve entre 1795 e 1808: Thomas Jefferson. Isto, mais a investigação publicada na Nature, mais os testemunhos à época e as histórias de família passadas de pais para filhos nos últimos dois séculos, levou a Fundação Thomas Jefferson (referida, por vezes, pelo nome da plantação, Monticello) a pôr um ponto final na discussão há duas semanas: “Monticello afirma que Thomas Jefferson concebeu filhos com Sally Hamings. ”No texto publicado no seu site, a fundação salienta também o facto de que os filhos da escrava Sally Hemings “foram autorizados a abandonar a plantação ou a tornaram-se emancipados com o testamento de Jefferson, uma ocorrência única entre as famílias escravizadas em Monticello”. Mas a decisão de pegar na história de Hemings e de a colocar no centro da nova exposição em Monticello levantou outros problemas, para além de comunicar aos visitantes — e, por extensão, a todo o povo americano — que a vida de um dos mais importantes presidentes do país deve ser vista com outros olhos sempre que a sua frase mais conhecida é repetida: “Consideramos estas verdades evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados de forma igual, que são dotados pelo seu Criador com certos Direitos inalienáveis, entre estes a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade. ”Como qualquer escravo, Sally Hemings não tinha nenhum direito — e muito menos o direito a recusar-se a ter relações sexuais com os seus proprietários. E, para além de ser escrava, Sally era adolescente quando a relação entre os dois começou — Thomas Jefferson, o seu proprietário, já tinha mais de 40 anos. “Não é mesmo possível saber qual foi a dinâmica” dessa relação, disse a presidente da Fundação Thomas Jefferson, Leslie Greene Bowman, ao New York Times. “Foi violação? Houve afecto? Sentimos que tínhamos de apresentar um leque de pontos de vista, incluindo o mais doloroso de todos. ” No quarto das memórias de Sally Hemings, os visitantes são agora confrontados com essas dúvidas através da palavra “violação”, seguida de um ponto de interrogação. Na era do movimento #MeToo, e num momento da História dos Estados Unidos em que as relações entre brancos e negros voltam a ser discutidas sob uma nova perspectiva, muitos americanos olham para a exposição em Monticello como mais uma tentativa de se reescrever o passado. Grupos como a Thomas Jefferson Heritage Society foram criados para resistirem a qualquer tentativa de se olhar para o terceiro Presidente norte-americano como um homem complexo, com várias camadas e cheio de contradições. Um homem que tanto é reconhecido pela sua defesa intransigente da liberdade, registada em vários documentos importantes, como é questionado por ter mantido mais de 600 escravos a trabalhar na sua plantação; e que tanto denunciava os excessos e extravagâncias da Europa, como gastava fortunas em livros, tapetes e vinho importados de França. Apesar de a História não ser parca em personalidades que praticavam o contrário daquilo que defendiam, para a Thomas Jefferson Heritage Society, a ideia de que o Presidente americano teve filhos com uma escrava é obra da extrema-esquerda. “À medida que os activistas de esquerda apontam a mira para estátuas de soldados da Confederação, para juízes do Supremo Tribunal e até para Cristóvão Colombo, alguns na extrema-esquerda puseram os olhos em Thomas Jefferson, autor da Declaração de Independência e terceiro Presidente dos Estados Unidos”, acusa a associação no seu site. Mas os historiadores olham para as contradições na vida de Thomas Jefferson sob outras perspectivas: por um lado, no plano pessoal, Jefferson era um ser humano complexo, e isso não deve ser escondido do grande público; por outro lado, o debate sobre essa complexidade pode ser fundamental para compreender a sociedade americana, no passado e no presente. “Não sei como se explicam essas contradições”, disse ao Washington Post o historiador Paul Finkelman, especialista em escravatura e autor do livro Slavery and the Founders: Race and Liberty in the Age of Jefferson (A Escravatura e os Fundadores: Raça e Liberdade na Era de Jefferson). “Mas é algo em que o povo americano deve pensar. Porque essas contradições são também a contradição da cultura americana, da sociedade americana. Nós acreditamos na liberdade e na igualdade, mas temos muito mais dificuldades para pô-las em prática”, diz o historiador. No caso de Thomas Jefferson, Finkelman defende que não é suficiente argumentar que na época dele era assim. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Entre 1780 e 1810, a população de escravos negros da Virgínia que foi libertada subiu de 2 mil para 30 mil. Isso aconteceu por iniciativa dos proprietários de escravos, vizinhos de Thomas Jefferson, que decidiram emancipar os seus escravos e libertá-los. Tomaram decisões conscientes que sacrificaram os seus próprios elevados padrões de vida porque era imoral ser proprietário de seres humanos. Thomas Jefferson não foi um deles. George Washington teve escravos durante toda a vida, mas também lhes deu terra para trabalharem, preparou-os para a liberdade e, quando morreu, libertou todos os seus escravos e deu terra a todos eles. Thomas Jefferson não fez isso”, sublinha o historiador. A exposição sobre Sally Hemings vem pôr em evidência essas contradições, mas os organizadores dizem que o principal objectivo é dar voz aos escravos e aos seus descendentes — uma voz que se perdia completamente entre os louvores a uma das figuras mais importantes e complexas da democracia americana. “A partir de agora, os visitantes têm uma exposição inclusiva, que conta a história não só de Thomas Jefferson e da sua família, como também a das famílias escravizadas”, disse à NPR Gayle Jessup White, uma descendente de Sally Hemings que ajudou a montar a exposição em Monticello. “Isto não é apenas sobre Thomas Jefferson, é sobre as pessoas que tornaram possível a vida de Thomas Jefferson. ”
REFERÊNCIAS:
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Portuguesa considerada culpada de pertencer a grupo neonazi britânico
Tribunal deu como provadas acusações de que Claudia Patatas pertencia ao grupo de extrema-direita National Action. (...)

Portuguesa considerada culpada de pertencer a grupo neonazi britânico
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento -0.25
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tribunal deu como provadas acusações de que Claudia Patatas pertencia ao grupo de extrema-direita National Action.
TEXTO: Uma portuguesa de 38 anos foi considerada culpada, esta segunda-feira, no tribunal de Birmingham, em Inglaterra, de pertencer a uma organização neonazi proscrita pelo Governo britânico. Um júri considerou provadas as acusações de que Claudia Patatas, bem como o companheiro, Adam Thomas, de 22 anos, e um amigo, Daniel Bogunovic, de 27 anos, pertenciam ao grupo de extrema-direita National Action. No âmbito da lei sobre o terrorismo de 2000 [Terrorism Act], membros ou apoiantes de uma organização terrorista proibida por lei podem incorrer numa pena de até dez anos de prisão, mas a sentença só será determinada pelo juiz a 14 de Dezembro. Thomas foi também considerado culpado por ter na sua posse um documento com conteúdo terrorista que pudesse ser útil a alguém que quisesse cometer um acto terrorista, confirmou fonte do tribunal à agência Lusa. Os três foram acusados no início de Janeiro, depois de terem sido detidos no âmbito de uma operação policial que também incluiu Nathan Pryke, de 27 anos, Darren Fletcher, 28, e Joel Wilmore, 24, os quais declararam-se culpados antes do julgamento. A acusação, a cargo do ministério público britânico Crown Prosecution Service e representado por Barnaby Jameson, descreveu os envolvidos como uma "pequena célula de fanáticos" que advogava uma "jihad branca" e cujas opiniões e acções iam "para além do insulto racial ocasional". Entre as provas, o procurador referiu o facto de Patatas e Thomas terem dado ao filho com agora um ano de idade o segundo nome de 'Adolf' por admirarem Hitler, e mostrou fotografias de Patatas com o filho recém-nascido nos braços ao lado de Thomas enquanto este segurava uma bandeira com a suástica, símbolo do partido alemão nazi. A acusação apresentou também fotografias de Thomas vestido com vestes iguais ao do grupo supremacista norte-americano Ku Klux Klan enquanto segurava o filho. Na casa do casal, incluindo debaixo da cama, foram encontradas diversas armas, e outros objectos, como almofadas com suásticas e uma forma corta massa de bolo em formato de suástica. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Patatas, Thomas e Bogunovic foram considerados culpados de continuarem a reunir-se e a partilhar os mesmos princípios do National Action mesmo depois de este grupo ter sido tornado ilegal, mudando apenas o nome. Como provas, apresentou registos de conversas feitas através de aplicações de mensagens encriptadas nesse sentido e de acções, como a distribuição de autocolantes. National Action foi proscrita por ser considerada "uma organização racista, anti-semita e homofóbica que suscita o ódio, glorifica a violência e promove uma ideologia vil" devido ao material que disseminava na Internet, nomeadamente nas redes sociais, com imagens e linguagem violentas e apelos a actos de terrorismo.
REFERÊNCIAS:
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Portuguesa acusada de pertencer a grupo neonazi chamou Adolf ao filho
Claudia Patatas e o companheiro Adam Thomas são acusados de pertencer a um grupo neonazi proscrito no Reino Unido. (...)

Portuguesa acusada de pertencer a grupo neonazi chamou Adolf ao filho
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Claudia Patatas e o companheiro Adam Thomas são acusados de pertencer a um grupo neonazi proscrito no Reino Unido.
TEXTO: A portuguesa Claudia Patatas e o companheiro Adam Thomas, em julgamento acusados de pertencer a um grupo neonazi proscrito no Reino Unido, chamaram ao filho Adolf, foi revelado esta terça-feira em tribunal. A criança, nascida em Novembro do ano passado, tem Adolf como segundo nome, elemento que o procurador público, responsável pela acusação, considera relevante. "Dado que a criança nasceu quase um ano após a Acção Nacional ter sido proscrita, pode pensar-se que o uso do nome 'Adolf', mesmo como um nome do meio, tem um significado", disse. A portuguesa Claudia Patatas começou esta terça-feira a ser julgada num tribunal britânico, acusada de pertencer clandestinamente a uma organização terrorista que defende a supremacia branca, mesmo depois de esta ter sido proscrita em 2016. Patatas, de 38 anos, está no banco dos réus do tribunal criminal de Birmingham juntamente com outros dois britânicos, o companheiro, Adam Thomas, de 22 anos, e Daniel Bogunovic, de 27 anos, por alegadamente pertencer ao grupo neonazi Acção Nacional [National Action]. Patatas, Thomas e Bogunovic declararam-se inocentes das acusações, enquanto Nathan Pryke, 27 anos, Darren Fletcher, 28, e Joel Wilmore, 24, igualmente detidos na operação policial em 3 de Janeiro, declararam-se culpados, aguardando a sentença, tendo o último ainda admitido possuir informação terrorista, nomeadamente instruções para fazer explosivos cocktail molotov. O procurador revelou que a portuguesa era conhecida no grupo criado na rede de mensagens protegida Telegram como "Sigrun" ou "K Sigrun", uma referência a uma deusa nórdica ou Valquíria que podia escolher quem poderia viver ou morrer em batalha, e que usava esse nome numa conta de email encriptada. No seu telemóvel, foram encontradas fotografias de armas tiradas por Mikko Vehvilainen, um militar membro do grupo, condenado em Abril por posse ilegal de gás pimenta e descrito pelo juiz na altura como racista. Outra das provas é uma fotografia em que Fletcher faz a saudação nazi e segura uma bandeira com a suástica junto ao filho de Patatas e Thomas. Por seu lado, Adam Thomas, de 22 anos, que vivia na mesma morada de Claudia Patatas, tinha ainda no seu computador o célebre e polémico The Anarchy Cookbook [O livro de receitas do anarquista], que tem instruções sobre como fazer dispositivos explosivos. O britânico também é acusado de possuir um documento com conteúdo terrorista que pudesse ser útil a alguém que quisesse cometer um acto terrorista. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Patatas, Thomas e Bogunovic são acusados de pertencerem à Acção Nacional depois de esta ter sido proscrita por ser considerada "uma organização racista, anti-semita e homofóbica que suscita o ódio, glorifica a violência e promove uma ideologia vil" devido ao material que disseminava na Internet, nomeadamente nas redes sociais, com imagens e linguagem violentas e apelos a actos de terrorismo. No âmbito da lei sobre o terrorismo de 2000 [Terrorism Act], os seus membros ou apoiantes podem ser condenados até dez anos de prisão. O julgamento, presidido pelo juiz Melbourne Inman, está previsto durar entre três a quatro semanas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei violência filho tribunal prisão criança racista ilegal
Dear White People ataca a ilusão de uma América pós-racial
A série da Netflix parte do filme de Justin Simien para questionar as dificuldades de ser negro num mundo onde a presença branca se impõe e conta com Barry Jenkins na realização. (...)

Dear White People ataca a ilusão de uma América pós-racial
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 7 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: A série da Netflix parte do filme de Justin Simien para questionar as dificuldades de ser negro num mundo onde a presença branca se impõe e conta com Barry Jenkins na realização.
TEXTO: Em Fevereiro, o primeiro trailer de Dear White People inflamou as redes sociais. Alguns utilizadores acusaram a Netflix de ser “racista” e “antibrancos” e outros chegaram a cancelar a sua subscrição do serviço de streaming. No vídeo de menos de um minuto, a protagonista Samantha White (Logan Browning) dirigia-se aos estudantes brancos da sua universidade para falar de disfarces de Halloween aceitáveis e inaceitáveis, sendo que o blackface – prática em que brancos pintavam os rostos de preto ou castanho para se “mascararem” de negros – pertencia imperdoavelmente à segunda categoria. Após a inesperada controvérsia que lhe valeu mais de quatro milhões de visualizações, os dez episódios de Dear White People ficaram esta sexta-feira disponíveis na Netflix e pretendem dar continuidade ao filme homónimo de Justin Simien lançado em 2014. “O filme foi uma sátira mais tradicional”, começou por dizer o também realizador da série ao NY Daily News, “Com a série, senti que [mostrar arquétipos em vez de personagens construídas de modo tridimensional] seria irritante a partir de uma certa altura. Foi importante para nós mergulhar na vida destas personagens e no seu dia-a-dia. ”O filme original conta a história de Samantha White, estudante da prestigiada Winchester University, uma universidade frequentada maioritariamente por caucasianos, e centra-se numa festa com o tema blackface organizada por um grupo de estudantes brancos em resposta ao seu polémico programa de rádio, Dear White People. A série da Netflix inicia-se precisamente após a festa racista em questão e foca as consequências sofridas pelos estudantes negros que decidiram pôr-lhe fim. “Não te podes encaixar na sociedade sem uma identidade”, disse o realizador, citado pelo jornal britânico The Telegraph, em 2014. Aquando do seu lançamento, Dear White People agitou as águas do Sundance Film Festival, onde arrecadou o prémio especial do júri para Novos Talentos. Recebeu, ainda, o prémio de Melhor Longa-Metragem de Estreia nos Independent Spirit Awards. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A série da Netflix é uma comédia que recorre à sátira para explicar as dificuldades de um grupo de estudantes negros que se confrontam diariamente com questões como a diversidade, a injustiça social, o preconceito cultural e o politicamente correcto. Nesse sentido, estes jovens são forçados a explorar o que significa ser negro num mundo predominantemente branco e racista ao mesmo tempo que lidam com os desafios pessoais e profissionais próprios da idade. “A série sai numa altura em que estamos todos conscientes de que o racismo ainda existe e que a supremacia branca tem uma voz de autoridade no país, por isso estamos a viver tempos estranhos”, disse Justin Simien ao NY Daily News. O contexto político e social em que a série surge é completamente diferente daquele que serviu de pano de fundo ao processo de escrita do argumento para o filme, em 2007, à subsequente campanha de crowdfunding lançada e à efectiva concretização do projecto. “Por mais que adorasse acreditar que estamos numa era pós-racial – uma ideia que ganhou força depois da eleição de Barack Obama em 2008 –, não posso ignorar o facto de que ainda sou visto pelo mundo como “um homem negro” e em algumas partes do mundo “um homem negro gay”, disse o realizador, citado pelo The Telegraph. Justin Simien, que terá sido inspirado pela sua experiência pessoal enquanto estudante negro na branca Chapman University para criar a trama, reconhece a evolução da presença negra no panorama televisivo norte-americano com o sucesso de séries como Scandal, Empire e Black-ish. Descrita pela Variety como “uma série perspicaz e necessária” e pelo IndieWire como “uma história pessoal em primeiro lugar e uma sátira inteligente em segundo” e com realização de Barry Jenkins (o premiado realizador de Moonlight) num dos episódios, Dear White People promete alimentar a discussão sobre a igualdade racial e ultrapassá-la, dando voz a todas as comunidades marginalizadas pela sociedade.
REFERÊNCIAS:
Angolagate: Falcone saiu em liberdade
O tribunal da Relação de Paris contrariou a decisão de primeira instância no caso Angolagate, alegado tráfico de armas russas para o país africano, e aplicou ontem ao homem de negócios franco-brasileiro Pierre Falcone uma pena que lhe permite sair da prisão. (...)

Angolagate: Falcone saiu em liberdade
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.2
DATA: 2011-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O tribunal da Relação de Paris contrariou a decisão de primeira instância no caso Angolagate, alegado tráfico de armas russas para o país africano, e aplicou ontem ao homem de negócios franco-brasileiro Pierre Falcone uma pena que lhe permite sair da prisão.
TEXTO: O dossier diz respeito à venda de armas a Angola nos anos 1990, durante a guerra civil, por um montante de 790 milhões de dólares, garantidos por receitas futuras do petróleo, um negócio que a investigação considerou ilícito. Pierre Falcone e o seu sócio franco-russo Arcadi Gaydamak foram em Outubro de 2009 condenados a seis anos de prisão. O segundo escapou à prisão por se encontrar a monte, mas Falcone foi imediatamente preso. Agora, a Relação aceitou que Falcone agiu sob mandato do Estado angolano e reduziu-lhe a pena de dois anos e meio, já cumpridos. Gaydamak, condenado por fraude fiscal e branqueamento de capitais, viu a pena reduzida para três anos de prisão. Foram aplicadas a ambos multas de 375 mil euros. O antigo ministro francês do Interior Charles Pasqua, então também condenado, num processo conexo, a três anos de prisão, um deles de pena efectiva, foi agora ilibado. Era acusado de tráfico de influências e utilização abusiva de “bens sociais”. Sobre ele recaía ainda a acusação de ter recebido 230 mil euros a troca da atribuição a Gaydamak da Ordem de Mérito.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra prisão
Liberdade de expressão para banalizar ou não falar do racismo?
Inacreditavelmente, a propósito de saber se a facho-esfera merece espaço na disputa democrática, paira no ar um requintado iluminismo absolutista sobre o conceito de liberdade de expressão que atravessa todo o espectro político. (...)

Liberdade de expressão para banalizar ou não falar do racismo?
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190710170757/https://www.publico.pt/n1857714
SUMÁRIO: Inacreditavelmente, a propósito de saber se a facho-esfera merece espaço na disputa democrática, paira no ar um requintado iluminismo absolutista sobre o conceito de liberdade de expressão que atravessa todo o espectro político.
TEXTO: A propósito das reações ao convite do facínora Mário Machado (MM) pela TVI, Pacheco Pereira (PP) acusa o SOS Racismo de tentativa de instrumentalização da ERC e de patrocinar o regresso da censura. Os ataques de Pacheco Pereira ao SOS Racismo são frequentes e muito velhos. Fossem estes ataques apenas inscritos na ordem da afirmação da divergência política, apenas mereceriam a atenção que, em democracia, merecem as divergências: um debate frontal, sério. Mas são muito mais do que isso, pois são ataques desonestos e soezes que se escondem por detrás do biombo da defesa da liberdade de expressão para relativizar a ignomínia que é o racismo na sociedade portuguesa, que próprio PP diz padecer de uma “escondida, mas presente, má consciência colonial e pós-colonial” (Expresso, 17-06-95). Para além de ser refutada, merece ser desmascarada e combatida a intenção subjacente a estes repetidos ataques. E, curiosamente, quase todos eles ocorrem em momentos em que o racismo resulta na morte de cidadãos e causa maior indignação social e política no país. Foi assim quando foi assassinado o Alcindo Monteiro, foi assim quando foi assassinado o Toni no Bairro da Bela Vista em Setúbal e assim foi também quando foi assassinado o MC Snake. Anos antes, sempre na senda da desvalorização da violência racista da extrema-direita, o mesmo Pacheco Pereira já havia considerado o assassinato do dirigente do PSR, José Carvalho, pelo Movimento de Acão Nacional, uma milícia de extrema-direita, como sendo um “caso isolado”. Portanto, o padrão dos ataques de PP é sempre o mesmo e inscreve-se subtilmente na minimização do racismo e na catalogação das reações à violência racista como sendo “exageradas”, atentatórias à liberdade de expressão e “manipulatórias. ”Em 17 de Junho de 1995 (Expresso, 17-06-95), indignado com os exageros e a “histeria” das reações ao assassinato de Alcindo Monteiro por um bando de nazis a que pertencia MM, escreveu PP: “o que de todo não se justifica e, bem pelo contrário, merece também indignação mesmo que politicamente incorreto é o absoluto exagero, destempero, excesso não só das reações ao que aconteceu como do modo como o que aconteceu está a ser politicamente usado com a complacência de todos. ”Ainda sobre o terror da noite do 10 de junho de 1995, em que milícias nazis varreram o Bairro Alto, perseguindo, atacando, espancando negros e matando o Alcindo Monteiro, PP escreveu: “o ridículo de falar na 'noite de cristal' ou no 'terror fascista à solta pelas ruas de Lisboa' só não salta aos olhos de toda a gente porque o nosso discurso está tão degradado que as palavras já não têm o significado que pretendem ter. ” Concluiria dizendo que “o que aconteceu foi um grave incidente racista que, não sendo isolado (. . . ), não justifica, apesar de tudo, a dimensão apocalíptica que lhe querem dar”. Para além de ter classificado o assassinato de Alcindo Monteiro de “incidente racista” teve a proeza de nunca se referir ao nome dele em todo o artigo, tal o desvalor que atribuía ao que acontecera. Portanto, sobre os ataques de alguém que mais tarde, em 2007, escrevia no seu blogue que “tudo na longa manutenção de prisão preventiva de Mário Machado é estranho e aponta para razões puramente políticas, o que é inadmissível numa democracia”, percebemos hoje que nada mais podia dizer sobre o branqueamento de um criminoso nazi que esteve preso no julgamento do caso de violência que vitimou Alcindo Monteiro. E a propósito deste branqueamento, após o comunicado do SOS Racismo e da Carta Aberta que acolheu a subscrição de dezenas de coletivos e centenas de individualidades de pertenças socioecónomicas e filiações diversas, apareceu muito boa gente alarmada com a liberdade de expressão e, claro está, como não podia deixar de ser, o corolário do perigo censório, bem como a um pretenso ataque indiscriminado à comunicação social. Gente essa que seria secundada pela inenarrável deliberação da ERC, uma deliberação que, pela forma e pelo conteúdo, nos envergonha enquanto comunidade intransigentemente comprometida com o combate contra o racismo e preocupada com a defesa da democracia. A ERC escolheu encolher os ombros e assobiar para o lado como quase sempre fez nesta matéria, mostrando-se escandalosamente confortável com a normalização e a banalização do racismo na imprensa. Tendo optado pela inércia e pela desresponsabilização perante a ameaça aos valores democráticos essenciais, a ERC revelou-se institucional e politicamente imprevidente e inócua, contribuindo ainda para um maior descrédito das instituições. Não fosse a honrosa declaração de voto de Mário Mesquita e a vergonha teria sido ainda maior, tal é a vacuidade ética da posição da entidade reguladora. E há que dizer que é falso e desonesto falar em ataque à liberdade de expressão e a toda a comunicação social. Aliás, só por má fé é que se pode invocar o pedido de sanções à TVI e outros órgãos de comunicação social por violação da lei para apoucar o ato de cidadania que foi a Carta Aberta. Não deixa de ser curioso notar que aqueles que tentaram amesquinhar as reações ao que aconteceu optaram ou por desvalorizar o lugar e o papel da palavra nas opressões ou por relativizar e desconversar sobre a extrema-direita e o racismo, convocando a ladainha do Pedro e do lobo. Para os adeptos da fábula do Pedro e do lobo, recordo que, em 2017, o Professor Jorge Vala dizia a respeito do programa de investigação “Atitudes Sociais dos Portugueses”, baseando-se em dados do European Social Survey, que: “somos dos países da Europa que mais manifestam racismo biológico e cultural. Ou seja, acreditamos que se podem hierarquizar grupos humanos em função de fatores biológicos ou de fatores culturais. ” Mas, ainda assim, contra todas as evidências, advertem-nos solenemente – e mesmo com o aumento exponencial de queixas por discriminação racial à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial e a duplicação de inquéritos abertos por crimes de ódio pelo Ministério Público em 2018 –, que a extrema-direita só existe por falarmos dela. Numa caricatura perfeita das posições destes indefetíveis defensores da liberdade de expressão e avisados sentinelas contra o perigo fascista, pode-se, no limite, dizer que combater o racismo faz mal à democracia e que gente que se dedica a este ofício é, simplesmente, gente tola e idiota útil da facho-esfera. Esta posição de avestruz em nome da democracia não é defesa mas ataque à democracia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Inacreditavelmente, a propósito de saber se a facho-esfera merece espaço na disputa democrática, paira no ar um requintado iluminismo absolutista sobre o conceito de liberdade de expressão que atravessa todo o espectro político. Do alto do seu privilégio e da sua suprema condição de zeladores pela democracia, vêm dizer-nos que, em nome da liberdade de expressão, há o direito de ser racista, misógino e homófobo. Pois “opiniões racistas” são apenas “opiniões”. Intimam-nos a olhar para as palavras como se fossem vácuos separados da realidade física e das disputas que nela se operam. A tese é que as “opiniões”, sejam quais forem e seja qual for o seu grau de vilania e violência, têm a legitimidade de existir. Tão obnubilados com a defesa da liberdade de expressão estão que já pouco lhes importa se a “opinião” pode ou não servir para legitimar a violência, sobretudo aquela que põe em causa a dignidade da pessoa. Inocentar a “opinião”, como se nada tivesse a ver com a ação e a prática social e política, é por si só um ato de violência. Para quem é sistematicamente esmagado e violentado pelo poder das ideias e das “opiniões”, das convenções sociais e políticas que o remetem para um lugar de subalternidade e de estigma, toda a tese de que o racismo, o machismo e a homofobia são meras opiniões é uma afronta. Dar palco à ideologia fascista e racista, seja em que circunstância for, nada tem que ver com a preservação do exercício da liberdade de expressão. É, antes pelo contrário, uma capitulação perante a tese de que na disputa política todas as ideias têm o mesmo direito ao capítulo e, por conseguinte, a mesma legitimidade. Não, em democracia, o que põe em causa a dignidade humana não merece respeito nem lugar. A armadilha não é não saber distinguir uma estratégia comercial vil e torpe de caça às audiências com a adesão política de banalização do fascismo e do racismo na imprensa. A armadilha é antes, por taticismo ou alheamento, relativizar a dimensão do racismo na sociedade portuguesa, dando cobertura a uma narrativa estafada e completamente desfasada da realidade de negação do racismo. Aí sim, quando acordarmos, como tem acontecido um pouco por toda a parte, pode o pesadelo ser tão grande que talvez nos arrependamos das teses dos exageros das reações à real dimensão da extrema-direita. Portanto, é de repetir até a exaustão que a ida do facínora ao programa da TVI não foi nenhum exercício de liberdade de expressão. Não se tratou de escolher entre liberdade de expressão e censura, mas sim entre a democracia e o ódio racial. Não basta arguir que a subjetividade de crenças ofensivas e violentas pode enquadrar-se na esfera da opinião. Daí que o racismo jamais pode ser considerado uma mera opinião, pois belisca um bem maior, a humanidade de alguns, sejam muitos ou poucos. Numa sociedade decente, o direito à dignidade está acima do direito à liberdade de ofender e de violentar e consiste na responsabilidade de não usar o direito à liberdade de ofender para exercer violência. Esta é a baliza ética do limite à liberdade de expressão, numa sociedade decente. A liberdade de expressão não pode servir para não falar do racismo e muito menos para banalizá-lo.
REFERÊNCIAS:
Vamos comer Gabo
Quem passar pela FILBo entre esta sexta-feira e domingo, pelo meio-dia, terá a oportunidade de levar Gabo à boca no pavilhão dedicado a Macondo (...)

Vamos comer Gabo
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501171231/http://www.publico.pt/1694195
SUMÁRIO: Quem passar pela FILBo entre esta sexta-feira e domingo, pelo meio-dia, terá a oportunidade de levar Gabo à boca no pavilhão dedicado a Macondo
TEXTO: Não era exactamente nisto que o escritor espanhol Javier Cercas estava a pensar quando sugeriu cortar García Márquez ao meio, assá-lo na grelha, deitar-lhe molho picante e devorá-lo (essa recomendação, publicada há um ano na revista colombiana Arcadia, dirigia-se aos escritores de língua espanhola, para que deixassem de resistir ao mestre e o assimilassem). Figuras de estilo à parte, quem passar pela FILBo entre esta sexta-feira e domingo, pelo meio-dia, terá a oportunidade de levar Gabo à boca no pavilhão dedicado a Macondo, o território imaginário de Cem Anos de Solidão. Os chefs de cinco restaurantes de Bogotá foram convidados a confeccionar um prato inspirado em ingredientes presentes naquela obra-prima de García Márquez enquanto se escuta, em voz alta, a leitura de um capítulo do livro. Alejandro Gutiérrez, 32 anos é o chef do Salvo Patria, um restaurante cosmopolita que privilegia os produtos locais, aberto há um ano e meio no bairro inclinado e gay-friendly de Chapinero Alto. Tatuado e com a pala do boné virada para trás, Alejandro não leu Cem Anos de Solidão no liceu, onde era leitura obrigatória (“é um livro que se desfruta mais quando se sai do colégio”, diz), mas há uns seis ou sete anos, durante umas férias na praia, “com todo o tempo do mundo”. Quando surgiu o convite para preparar um prato relacionado com o romance, Alejandro lembrou-se do fio de sangue que sai do ouvido direito de José Arcadio Buendía e percorre as ruas de Macondo, dobrando as esquinas, no capítulo sete de Cem Anos de Solidão. O guisado de coelho e morcela em escabeche que vai preparar esta sexta-feira na FILBo foi concebido a partir de referências que aparecem nesse capítulo. A morcela, por exemplo, é uma representação do fio de sangue. Nessas páginas também há coelhos pendurados na cozinha e menções a folhas de louro e pimenta e vinagre – tudo isso faz parte da receita. As porções de guisado serão enroladas em folhas de bananeira porque as plantações de banana e as disputas pela sua exploração são um pano de fundo do romance. Alejandro Gutiérrez começou a preparar o prato três dias antes, porque os coelhos têm de ficar em salmoura. Além disso, demoram duas horas e meia a cozinhar. “Só temos uma hora para fazer o prato”, nota. Agora que inventou um prato novo e singular – e com caução literária –, Alejandro vai certamente voltar a cozinhar o seu guisado de coelho e morcela em escabeche noutras ocasiões, não?“Não creio. É demasiado conceptual. ”Vamos comer Gabo – mas só desta vez. O PÚBLICO viajou a convite da agência Invest In Bogotá e da Embaixada de Portugal em Bogotá
REFERÊNCIAS: