O rosto indecifrável do magnífico Akya, a empatia do porta-voz humano Cafarnaum: adivinhem quem vai ganhar
Na recta final da 71.ª edição de Cannes, dois protagonistas em duelo: um recusando, outro oferecendo-se à empatia. Entre Sergey Dvortsevoy e Nadine Labaki, talvez esta última leve daqui a Palma de Ouro. (...)

O rosto indecifrável do magnífico Akya, a empatia do porta-voz humano Cafarnaum: adivinhem quem vai ganhar
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.312
DATA: 2018-07-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na recta final da 71.ª edição de Cannes, dois protagonistas em duelo: um recusando, outro oferecendo-se à empatia. Entre Sergey Dvortsevoy e Nadine Labaki, talvez esta última leve daqui a Palma de Ouro.
TEXTO: Akya, como Rosetta, não quer ser pobre. Tal como em 1999, no final da competição do Festival de Cannes apareceu, sem alaridos a anunciarem, o melhor filme do concurso. Naquela edição foi o filme dos irmãos belgas Dardenne que tinha o nome da sua personagem, na edição 71 fomos invadidos por Ayka, a personagem do filme homónimo de Sergey Dvortsevoy. Rosetta recebeu a Palma de Ouro, por unanimidade, trucidando o favoritismo de Tudo sobre a Minha Mãe, de Almodóvar. Sergey Dvortsevoy, cineasta do Cazaquistão, chega com a sua segunda longa de ficção à competição de Cannes, dez anos depois do prémio Un Certain Regard a Tulpan. Os tempos são outros, a audácia do júri presidido em 1999 por David Cronenberg, naquele que fica como um dos mais belos palmarés do festival, não deve ser possível para o júri de Cate Blanchett, sobre o qual devem pesar agendas várias; mas que bom seria que se repetissem a estupefacção, o choque e os protestos – e os aplausos – de 1999. Akya, avisa-se já, não faz da empatia o seu jogo. Aliás, estando sempre com Akya, experimentando com ela o mundo, raramente olhamos de frente para o seu rosto, e por isso não conseguimos decifrá-lo. Sabemos que acabou de dar à luz e que fugiu do hospital, abandonando o bebé, porque não tem trabalho e tem dívidas. Mas sentimos a neve que enterra Moscovo. Experimentamos a hemorragia de Akya, as dores no ventre, o cansaço, e as dores no peito, pela abundância de leite. Todo o mundo é percepcionado pela experiência física de Akya, o mundo é reduzido às dores, à fome, à sobrevivência. Como espectadores, a Akya, o filme, não acedemos só com as convicções morais, ou elas não dão conta das enormidades. Plano tremendo, o momento em que a personagem decide regressar ao hospital para resgatar o bebé: a imagem de cachorrinhos esfomeados que mamam na mãe. O corpo de Akya começa também a falar; regressa ao hospital, vai vender o seu bebé para pagar a dívida. Nos corredores do festival, o filme já entrou em duelo com Cafarnaum, da libanesa Nadine Labaki, que, seguindo também uma personagem, um miúdo de 12 anos, fá-lo com uma estratégia de empatia. O rosto de Zain é o porto seguro para o espectador. O filme começa com Zain a interrogar os pais em tribunal: por que é que o trouxeram ao mundo se não estavam em condições de cuidar dele? Depois segue-se o flashback. Tudo se passa numa zona não nomeada do Médio Oriente, embora a rodagem tenha decorrido no Libano. Labaki, vamos ser justos, evita as coisas horríveis que um empreendimento destes apresenta como ratoeira. A menor delas seria a manipulação melodramática. E é hábil, sem com a habilidade mandar ao ar a delicadeza, com intérpretes e personagens que nascem da fusão entre o documental e o ficcionado. Por exemplo, depois daquele statement da criança em tribunal contra os pais por estes lhe terem dado vida, o filme poderia não resistir. Mas resiste. Não se safa é de explicar e de justificar e de ser porta-voz – porta-voz dos que não têm acesso aos direitos fundamentais. O que Akya não faz, porque para Dvortsevoy um filme deve ser outra coisa. Mas cremos que com Cafarnaum a 71. ª edição de Cannes terá a sua Palma de Ouro. Quase no fim, ficamos com Vanessa Paradis como produtora de porno gay, abandonada pela amada, que é a montadora dos seus filmes, ameaçados pelo godemiché fatal de um assassino homofóbico. Ficamos com uma homenagem ao underground dos anos 70, uma espécie de Brian de Palma low-fi, num filme, Un Couteau dans le Coeur, de Yann Gonzalez, todo ele vidrado pela performance e por isso algo paralisado – como se não passasse de uma série de reencenações. O gesto dos programadores, ao permitirem esta plataforma de visibilidade ao universo artesanal de Gonzalez, já é quase tudo. O fim mesmo, no concurso, só acontecerá esta noite com Poirier Sauvage, de Nuri Bilge Ceylan (currículo de Cannes: Grande Prémio em 2003 e em 2011 por Uzak e Era Uma Vez na Anatólia, respectivamente; Prémio de Realização em 2008 por Os Três Macacos; Palma de Ouro em 2014 por Sono de Inverno). Mas entretanto, foi já mostrado à imprensa o filme que encerrará, este sábado, a 71. ª edição: O Homem que Matou Dom Quixote, de Terry Gilliam. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Começa com a indicação, que os tribunais franceses impuseram, de que a projecção no festival não prejudicaria os direitos reivindicados judicialmente pela Alfama Films de Paulo Branco. E prossegue, temperando a lei com humor, exclamando, também em legenda, que, 25 anos depois de todas as catástrofes naturais e financeiras, eis finalmente… como se o mundo aguardasse por Star Wars. Parecia bom augúrio, isto de a auto-ironia colocar a coisa numa fasquia menos do que épica. Mas a fasquia estatela-se no chão. Desde logo porque o humor é sempre o trambolhão de serviço para as personagens, um realizador de publicidade (Adam Driver) invadido pelas figuras – entre elas Don Quixote (Jonathan Pryce) – do mundo que desencadeou num “filme de estudante” do passado, e que se vê arrastado para a sua experiência do mundo como Sancho Pança. Não se nega que há melancolia aqui. Não porque seja um sentimento procurado, trabalhado ou aprofundado, mas porque é isso que fica, e não é preciso ter estado à espera 25 anos, do bricabraque simplório (a sequência do baile de máscaras rodada no Convento de Cristo, em Tomar) e de um cast inexpressivo, monótono. O filme terá também estreia este sábado em 300 salas de França, depois de os tribunais de Paris terem indeferido o pedido do produtor Paulo Branco que reclamava a suspensão da distribuição do filme.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei tribunal fome homem criança espécie corpo gay
Jordan Peterson veio a Portugal (ai que medo)
A melhor prova de que Peterson é realmente interessante está aqui: não há uma só alma que o ataque sem primeiro adulterar aquilo que ele diz. (...)

Jordan Peterson veio a Portugal (ai que medo)
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181124191937/https://www.publico.pt/1851355
SUMÁRIO: A melhor prova de que Peterson é realmente interessante está aqui: não há uma só alma que o ataque sem primeiro adulterar aquilo que ele diz.
TEXTO: Em muito pouco tempo, o professor canadiano Jordan Peterson transformou-se num dos intelectuais mais influentes do planeta. Boa parte da popularidade deve-a à esquerda: a sua oposição veemente às chamadas “políticas de identidade” (Peterson deixou de ser um anónimo professor da Universidade de Toronto quando há dois anos recusou cumprir a lei que exigia o uso de pronomes neutros, como “ze” ou “zir”, para se referir a alunos transexuais), levou a que a esquerda o pintasse como um perigoso radical, um dos líderes espirituais da alt-right americana e, já agora, de toda a extrema-direita nos vários continentes. Só que há um problema: Peterson não é nada disso, como percebe qualquer pessoa que o escute durante cinco minutos, e sabe defender-se extremamente bem das parvoíces que dizem acerca dele. A solidez da sua formação (é professor de Psicologia mas também um especialista em regimes totalitários), a qualidade dos argumentos e o seu carisma fizeram com que milhões de jovens por esse mundo fora, munidos da necessária honestidade intelectual e fartíssimos de lhes estarem a ensinar o que podem ou não dizer, aderissem aos vídeos e aos livros de Jordan Peterson com um entusiasmo inédito. Isso viu-se mais uma vez esta quinta-feira, em Portugal, quando cerca de nove centenas de pessoas lotaram o maior espaço do novo campus de Carcavelos da Universidade Nova para o escutar, durante o lançamento do seu novo livro, 12 Regras para a Vida – Um antídoto para o caos, editado pela Lua de Papel. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Dispenso-me de estar aqui a fazer um resumo dos seus argumentos – leiam-no e ouçam-no, que vale muito a pena. Mas já não dispenso analisar aquilo que sobre ele continua a ser escrito e os imensos preconceitos que são revelados por quem insiste em caricaturá-lo. A revista Sábado foi até ao campus de Carcavelos e o título do artigo saiu assim: “A Igreja de Jordan Peterson passou por Lisboa e os crentes aplaudiram de pé. ” Todo o texto era uma sucessão de frases empenhadas em transformar um professor universitário com um discurso articulado e cientificamente fundamentado num guru da auto-ajuda radical. Outros excertos do artigo: “Toda a espera parecia demais para as pessoas que, sentadas, ansiavam a vinda deste profeta”; “centenas de pessoas, maioritariamente homens brancos entre os 20 e os 40 [NA: gosto especialmente do “maioritariamente brancos”, porque as conferências em Portugal costumam estar apinhadas de negros, indianos e esquimós], aplaudiram de pé o pensador”; “os crentes levantam-se à pressa e tentam, de qualquer modo, ter lugar na fila da comunhão”. O paradoxal nisto é que se há alguma Igreja que Jordan Peterson está a querer fundar é a do regresso à valorização do indivíduo, e contra o espírito tribal induzido pelas políticas de identidade e pelos social justice warriors, que nem sequer se apercebem que quando defendem que nada é biológico, e que tudo é uma construção social, estão a utilizar os mesmos argumentos daqueles que ainda hoje acreditam que a homossexualidade pode ser “curada”. Peterson não quer fundar nenhum movimento – o que ele quer é o contrário disso; é que a existência individual não seja esmagada pelas identidades de grupo, essas, sim, cheias de vontade de disseminar capelinhas tão radicais que acabam por deslaçar a sociedade em que vivemos. A melhor prova de que Peterson é realmente interessante está aqui: não há uma só alma que o ataque sem primeiro adulterar aquilo que ele diz.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens lei ataque ajuda social
A revolta dos "coletes amarelos" ameaça bloquear Paris no sábado
A origem do protesto é o aumento do preço dos combustíveis, em nome da transição para energias mais ecológicas. Mas é um levantamento da França que não votou em Macron que está em curso. (...)

A revolta dos "coletes amarelos" ameaça bloquear Paris no sábado
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: A origem do protesto é o aumento do preço dos combustíveis, em nome da transição para energias mais ecológicas. Mas é um levantamento da França que não votou em Macron que está em curso.
TEXTO: O movimento de protesto “Coletes Amarelos”, contra a nova taxa de combustível para financiar a transição energética em França, que ainda esta segunda-feira bloqueava grandes depósitos de combustível em vários locais do país, está já a convocar novos bloqueios para dia 24 – desta vez com o objectivo de obrigar Paris a parar. O Governo garante que não vai voltar atrás e o Presidente Emmanuel Macron diz que só “responderá quando for adequado” e não quer recuar. Este movimento de protesto, espalhado pelo território francês, não tem líderes nacionais. Mas tem nas suas fileiras figuras ligadas a partidos nacionalistas e de extrema-direita. Exemplo disso é o autor de um dos apelos para o bloqueio de Paris: Frank Buhler é delegado do partido Debout la France, de Nicolas Dupont-Aignan, no Departamento de Tarn-et-Garonne (na região de Toulouse), e já foi membro do partido de Marine Le Pen. Lançou o apelo para o bloqueio a Paris no sábado num vídeo publicado na sua página no Facebook, Patriosphère Infos, que esta tarde tinha mais de 14, 5 mil partilhas e 185 mil visualizações. O outro apelo vem de Éric Drouet, um motorista de Melun que esteve na origem da convocação da manifestação do último sábado, em que foram feitas 400 detenções e uma pessoa morreu – uma manifestante que bloqueava uma estrada foi atropelada por uma condutora que tentava levar a filha ao médico e que se assustou quando os “coletes amarelos” começaram a bater no seu carro. Há notícia ainda de 400 feridos, uma agressão com motivação islamofóbica e outra de cariz homofóbica, relatam os media franceses. Os sindicatos mantêm-se longe destas mobilizações. Calcula-se que, no sábado, 290 mil pessoas tenham saído à rua em França, bloqueando estradas contra o aumento das taxas sobre os combustíveis fósseis que levarão à subida do preço da gasolina e do diesel. O Governo espera arrecadar 37. 700 milhões de euros com esta subida em 2019, mas curiosamente, “só 7200 milhões serão canalizados para transição ecológica”, para financiar formas de energia menos poluentes, escreveram no Le Monde de sexta-feira Emmanuel Combet e Jean-Charles Hourcad, autores do livro Fiscalité carbone et finance climat, un contrat social pour notre temps (Les Petits Matins, 2017). “Para os cofres do Estado irão 17 mil milhões de euros, 12. 300 milhões para a administração local e 1, 2 mil milhões para as infra-estruturas de transportes”, dizem os investigadores, que analisam as duas suspeitas sobre as quais assentam o protesto dos “coletes amarelos". A primeira é, precisamente, qual será o uso dado ao dinheiro. O outro, “tem a ver com a injustiça de uma taxa que vai afectar mais as camadas mais desfavorecidas do que mais ricas, mais os que vivem no campo que os que vivem nas cidades”, argumentam. Uma sondagem do instituto IFOP para o Journal du Dimanche, divulgada no sábado, diz que 62% dos franceses preferem que, nos próximos anos, o Governo dê prioridade “a políticas que aumentem o seu poder compra e não avance tão rapidamente na transição energética”. A sondagem foi feita telefonicamente, nos dias 16 e 17 Novembro, apanhando o dia do protesto dos “coletes amarelos”. Mas é ideia comum dos sondados que este movimento vai muito mais além do que o seu propósito original – 89% partilham esta ideia. O que não é admirar, pois no sábado um grupo de manifestantes “coletes amarelos” dirigiu-se para o Palácio do Eliseu exigindo a demissão do Presidente Macron. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A França que se levantou para protestar contra a taxa dos combustíveis e pedir a demissão de Macron não é a França urbana, que gosta de se mostrar ligada ao mundo. É a outra França, das pequenas cidades na orla das grandes metrópoles, que não é servida por boas redes de transportes – e onde as pessoas dependem do automóvel para ir para o emprego ou para se movimentarem. Se tivermos como referente a segunda volta das presidenciais de 2017, esta é mais a França que se sente desprezada e perdedora (a França da líder de extrema-direita Marine Le Pen) – com a globalização, os caminhos da economia e da sociedade. Até agora, Macron não teve grandes respostas para esta parte do país – e insiste em não fazer como os seus antecessores, que face a pressões fortes, recuaram nas suas medidas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha campo social
Israel debate criação de comunidades só de judeus
Na próxima semana, o Parlamento do Estado hebraico pode votar lei que inclui possibilidade de haver comunidades de uma só nacionalidade ou etnia. “Não há nenhuma cláusula equivalente em nenhuma Constituição do mundo”, disse conselheiro legal do Knesset. (...)

Israel debate criação de comunidades só de judeus
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na próxima semana, o Parlamento do Estado hebraico pode votar lei que inclui possibilidade de haver comunidades de uma só nacionalidade ou etnia. “Não há nenhuma cláusula equivalente em nenhuma Constituição do mundo”, disse conselheiro legal do Knesset.
TEXTO: Uma lei que estabelece a possibilidade de ter comunidades homogéneas, de uma só nacionalidade ou etnia, em Israel está prestes a ser votada pelo Knesset (Parlamento). Mas várias figuras, desde o Presidente da República até ao conselheiro legal do Parlamento, já avisaram contra a aprovação desta medida. O Presidente, Reuven Rivlin, deu o raro passo de mandar uma carta aos deputados avisando para o que considera serem problemas graves na proposta de lei, que terá, se aprovada, o estatuto de lei fundamental (Israel não tem uma Constituição mas sim uma série de leis fundamentais). Rivlin contraria assim o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que é um acérrimo defensor da lei (ambos são do mesmo campo político, do Likud, de direita). Netanyahu quer aprovar esta lei já na próxima semana, antes das férias do Parlamento. A proposta mais problemática, e que motivou a carta do Presidente, é a cláusula 7b, segundo a qual “o Estado pode permitir que comunidades compostas por pessoas da mesma fé ou nacionalidade mantenham uma comunidade exclusiva”. Para Rivlin, esta esta cláusula “pode prejudicar o povo judaico, os judeus pelo mundo, e o Estado de Israel”. “Queremos mesmo, em nome da visão sionista, contribuir para a discriminação de um homem ou uma mulher baseados na sua origem?”, questionou o Presidente, citado pelo jornal Times of Israel, acrescentando que a lei permitirá “a qualquer comunidade, sem qualquer limite ou equilíbrio, estabelecer uma comunidade sem mizrahim [judeus do Médio Oriente], sem ultra-ortodoxos, sem drusos, sem pessoas LGBT”. Tal como está formulada, a lei poderá, continuou Rivlin, “servir de arma aos inimigos” de Israel. Assim, o Presidente pediu aos deputados “que não aprovem esta lei com esta cláusula incluída”. O judaísmo já tem presença nas leis de Israel, e há vários aspectos da vida que são controlados pelas autoridades religiosas, como o casamento. São elas também que certificam a conformidade por exemplo de restaurantes com as regras do judaísmo (se são kosher). Mas as actuais 11 leis fundamentais, lembra o diário Times of Israel, definem sobretudo o papel de instituições como o Parlamento ou os tribunais. O conselheiro legal do Parlamento Eyal Yinon publicou, pouco depois, uma opinião legal sugerindo que é pouco provável que a lei passe pelo Supremo Tribunal com aquela cláusula. “Não há nenhuma cláusula equivalente em nenhuma Constituição do mundo”, sublinhou. A cláusula, declarou pelo seu lado Eyal Zandberg, da Procuradoria-geral, citado pelo diário Ha'aretz, “quer dizer que as comissões de selecção de residentes possam pôr um sinal à entrada a dizer: 'quem não é judeu não pode entrar'”. O partido Likud, de Benjamin Netanyahu, tenta há anos aprovar uma lei para fortalecer o carácter judaico do Estado de Israel. Já em 2014 Netanyahu justificava esta lei com a necessidade de “criar um equilíbrio” entre o carácter “judaico e democrático” de Israel. Para o primeiro-ministro, “há um desequilíbrio entre os direitos individuais e os direitos nacionais em Israel. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O principal apoiante da lei no Likud, Avi Dichter, diz que os direitos dos judeus – apesar de serem a maioria no Estado –, não estão suficientemente protegidos. Em resposta ao Presidente, Dichter recusou que a lei discriminasse minorias. Impede sim a discriminação da maioria, defende. “A proposta diz o óbvio, mas até o óbvio precisa de ser dito: a maioria também tem de ter direitos em Israel, até os judeus”, disse Dichter. Para os seus apoiantes, a lei apenas fortalece o carácter judaico do Estado de Israel. Estipula ainda que o hebraico é a única língua oficial (o árabe, falado por cerca de um quinto da população, seria relegado para língua com estatuto especial mas não oficial), e que os juízes podem procurar precedentes nas leis judaicas caso não tenham indicações na lei israelita. Mas as críticas não vieram só de Israel. Nos EUA, o jornal Washington Post fez um artigo intitulado: “Judaico ou democrático? Israel debate os seus princípios fundadores”. Entre várias reacções negativas citadas pelo Post estava a do rabino Rick Jacobs, presidente da União do Judaísmo Reformista. "A lei – disse – dá poder aos nossos inimigos, enfraquecendo os argumentos que usamos, todos os dias, a favor de Israel na América”.
REFERÊNCIAS:
Religiões Judaísmo
Há uma guitarra que nunca se apaga
Uma súmula rápida da pop de guitarras podia ser assim: The Smiths. (Fim.) Johnny Marr, o homem que compôs aquelas canções, além das dos Electronic, bem como algumas dos Modest Mouse e dos The The, tem agora uma carreira a solo. Continua a ser um puto e sobe esta sexta-feira ao palco do Coliseu para cantar canções suas (que podiam ser dos Smiths). (...)

Há uma guitarra que nunca se apaga
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma súmula rápida da pop de guitarras podia ser assim: The Smiths. (Fim.) Johnny Marr, o homem que compôs aquelas canções, além das dos Electronic, bem como algumas dos Modest Mouse e dos The The, tem agora uma carreira a solo. Continua a ser um puto e sobe esta sexta-feira ao palco do Coliseu para cantar canções suas (que podiam ser dos Smiths).
TEXTO: É importante que saibam: Johnny Marr ainda se importa. (Sim, esse Johnny Marr. )Johnny Marr ainda se importa com cada canção, ainda se importa com os fãs, ainda gosta de ser estrela pop, ainda fica doido quando encontra um grande riff, ainda adormece à noite a pensar na canção pop perfeita e nas vidas que vai salvar. “Sempre me importei, John”, diz, rápido a ultrapassar a dificuldade em dizer um banal nome português. “Desde miúdo que sou assim, o que é normal porque os meus pais eram coleccionadores obsessivos de discos”, conta. O pequeno Johnny via os pais “a ouvir canções, as reacções deles”, ponderava o que as canções provocavam nos outros e em si mesmo e tirava notas mentais: “Ainda não sabia mas já estava à procura da canção perfeita”. À frente dos Smiths encontrou-a múltiplas vezes — e não é de todo descabido conceber um mundo em que How soon is now, There is a light that never goes out ou Still ill são consideradas as mais extraordinárias canções alguma vez escritas. Esse mundo, aliás, tem uma localização precisa: é o quarto de qualquer adolescente demasiado letrado para a idade, nascido em finais de 60s, inícios de 70s. Em 1987, os Smiths acabaram, no exacto instante em que eu tinha acabado de os descobrir — e até hoje sinto-me culpado por isso: na minha cabeça é como se Marr tivesse pensado “Bom, se este também quer ser dos nossos, então não brinco mais a isto”. 1987: o melhor e o pior dos anos na história da humanidade. E foi um trauma tão grande para todos que nos 31 anos que passaram não deve ter havido um dia na vida de Johnny Marr em que não lhe tenham perguntado pelos Smiths — ao ponto de (por exemplo) eu ainda não me ter lembrado de vos dizer que o telefonema para Johnny Marr aconteceu para antecipar o concerto que Marr dará esta sexta-feira, em Lisboa, às 23h, no Coliseu dos Recreios, no âmbito do Super Bock Em Stock. “Não me aborrece”, responde Marr, quando lhe perguntamos se fica chateado por estar sempre a ser questionado acerca de coisas que aconteceram há 30 ou 35 anos. “Se as pessoas ainda estão paradas nessa época, isso é problema delas. Muita gente prefere ficar no passado. Eu estou-me a cagar. Eu tenho a minha vida para viver e não tenho paciência para viver a pensar no que fiz. Está feito. ”Durante muitos anos foi um compositor que precisava de alguém para dar voz às melodias que tinha dentro da sua cabeça: nos Smiths era Steven Patrick Morrissey, nos Electronic era Bernard Sumner (que também foi dos Joy Division e dos New Order), isto sem contar com a sua tarefa de lead-guitar-barra-compositor nos The The e nos Modest Mouse. Mas nos últimos cinco anos começou a editar disco a solo atrás de disco a solo. Pica-se Call the Comet, o mais recente, e de repente damos com uma canção chamada Hi hello, que facilmente poderia ser uma grande canção dos Smiths. Dilema: diz-se ou não isto a Johnny Marr? Por um lado, uma dose saudável de provocação só faz bem; por outro, para quê arriscar chatear um dos nossos heróis?“Johnny, há uma pergunta que tenho de fazer”. “Força, John”. “Mas pode ser chata, Johnny”. “Eu não sou a fucking queen, John”. “Aquela canção, a Hi hello. . . ”“Sim. . . ”“Sabes o que me lembra?”“Hum. . . Acho que sim, John. ”“Lembra-me uma grande canção dos Smiths”. Talvez este seja um bom momento para fazer uma pausa e oferecer-vos uma avaliação de Johnny Marr enquanto pessoa, pelo menos tanto quanto é possível ao fim de mais de meia hora ao telefone — e muito resumidamente o senhor Marr é um bacano. Gajo de conversa fácil mas sem muitos ademanes, que sabe gozar consigo mesmo mas que se tem em boa conta, que claramente tem a cabeça cheia de música mas nunca soa demasiado académico a falar dela. A entrevista era suposto durar dez minutos e acabou ao fim de 40 — na boa passaríamos uma tarde com Johnny Marr, ao balcão de um bar, a malhar finos e conversar sobre discos. Isto tudo para dizer que: ele riu-se. E deu troco. “Sabes que mais? Estou preparado para admitir que sim, seria uma grande canção dos Smiths”. “A sério?”“Yeap, não tenho problema com isso. Mas — há um mas. Sabes o que é que a Hi hello é?”“Nope”. “É uma grande canção do Johnny Marr. ”[Ri-me. ]“É mesmo. Portanto, podia ser uma grande canção dos Smiths, mas se o fosse não seria uma canção melhor do que é. De modo que estou contente com ela assim”. Há que admitir que takes guts para fazer uma declaração destas — e para um tipo se tornar vocalista a meio dos 50s depois de ter ouvido a sua guitarra servir de base para melodias cantadas por vozes tão carismáticas como a de Morrissey, Matt Johnson (The The) ou Bernard Sumner (Electronic), que pode não ser exactamente um virtuoso mas tem pinta. O que se passa com os vocalistas é mais ou menos o que se passa com os futebolistas: aos oito anos vamos todos ser o melhor 9 da equipa, aos 12 vamos todos ser o 10 — e uns anos depois acabamos como defesa direito. Suplente. Sendo que ninguém quer ser Gary Neville. Com os músicos é igual: qualquer pessoa que pegou num instrumento ou trauteou uma melodia sonhou ser o Elvis — mas depois acabou como baterista. Ora, o que nunca acontece é, já em final da carreira, o Gary Neville tornar-se o 9 ou o 10 da equipa; o que nunca acontece é o baterista tornar-se o vocalista — excepto no caso de Phil Collins. “Uma das razões que me tem levado a editar discos em nome próprio”, explica o homem que melhor tratou uma guitarra eléctrica desde Jimmy Page, “é que, como canto, não tenho de ficar à espera de outra pessoa para acabar uma canção, como acontecia com os Modest Mouse”. Lembram-se da vertigem de discos em catadupa que foi a carreira dos Smiths? Marr não mudou desde então: “Eu gosto de fazer muitos discos, de acabar as coisas depressa, e isso é mais fácil de conseguir sozinho”. Esta era a parte um; a parte dois é assim: “Também não quero mais ninguém a cantar porque estas canções são a representação da minha visão e sou eu que sei o que quero — gosto de como soam e soam ao que eu tinha pensado”. No tempo dos Smiths, Marr — que gostava de se deitar tarde — deixava um instrumental pronto e Morrissey — que gostava de acordar cedo — entrava às oito da manhã no estúdio e gravava a voz. Quando Marr acordava sabia que o que quer que o comparsa tivesse feito o ia deixar de boca aberta: “Eu nunca sabia o que esperar — podia fazer-me chorar e podia fazer-me rir. Podia ser sério e podia ser patético”. Essa é a única coisa que permanece igual, desde que Marr passou a ser um frontman: “Ainda acabo um instrumental e depois é preciso pôr uma voz por cima”. Mas agora compõe “de maneira diferente — uma canção pode nascer de uma melodia de voz e só depois vou pôr a guitarra ou uma linha de baixo. Às vezes só tenho um refrão e tenho de inventar uma canção para o refrão. Tenho menos fórmulas, hoje”. Como bom herdeiro da tradição britânica, gosta de se auto-elogiar: diz que é melhor músico hoje, diz que conhece mais música hoje do que há 40 anos, que sabe muito mais sobre compor hoje do que em miúdo, etc. Melhor exemplo: “Eu sei que é juvenil dizer isto, mas a minha banda, neste momento, é a melhor banda do mundo. Eu sei, eu sei: é juvenil dizer isto — mas eu adoro. E ainda quero ser o melhor vocalista do mundo ou, pelo menos, o melhor frontman com uma lead guitar, que é coisa que existe pouco”. Call the Comet tem sido recebido como o melhor dos três discos a solo de Marr, o primeiro que soa a um disco sem pontas soltas — mas há nisto uma dose de simpatia: não há más canções mas só ocasionalmente o disco sobe a fasquia; e só por uma vez, na já mencionada Hi hello, nos é oferecida uma grande canção (embora uma canção como Day in day out também seja orelhuda). Ele ainda é uma estrela pop. “E merecidamente. Ainda encho salas, todas as noites”. E gosta de o ser e faz por estar à altura: “Importo-me com esse estatuto, mas não quero ser uma estrela pop só para ser conhecido por coisa nenhuma — é só bom que o nosso trabalho seja apreciado. Quando uma sala inteira canta a nossa canção, toda a gente gosta disso. Quero ser famoso pelas razões certas, não por qualquer outra razão. Quero ser famoso pelas canções”. Tem, pelo menos, conseguido manter uma audiência — ou até aumentá-la: “Os meus fãs, agora, são os os filhos dos meus antigos fãs”. Sobreviveu porque manteve “os pés na terra”, manteve “uma curiosidade e vontade de experimentar naturais” e também teve “a sorte de estar sempre rodeado das pessoas certas" — "e eu acho que sou bom a avaliar pessoas”. O que pode ou não ser lido como uma tirada contra Steven Patrick. Digo-lhe que ele é um dos últimos que restam daquela época em que uma guitarra podia mudar a vida de um garoto idiota para todo o sempre, só porque um dia aquele eco de How soon is now saído hertzianamente do rádio encheu o seu quarto de garoto de uma febrilidade até então desconhecida, ruído e melodia fundindo-se numa beleza tão apurada que fazia crer que lá fora, no mundo, havia mais do que na pequenez que até então havíamos conhecido: podíamos ser miúdos pobres e burros de uma terra pequena, mas conhecíamos os Smiths. “Estás errado, John. Tens filhos, John? O teu miúdo gosta de guitarras, John? Então ouve bem bem o que vou dizer: acho que os teus netos ainda vão ouvir guitarra. As guitarras iam desaparecer em 1993 e olha o que aconteceu”. O que mudou, diz Marr, que também teve os seus dias (ou noites) de loucura, foi “o modo de vida do rock’n’roll — isso desapareceu, aquela coisa do Jim Morrison a destruir hotéis. O clima político e cultural mudou. O que aconteceu nos últimos anos, com a ascensão da comunidade LGBTI, etc — nada disso veio da minha geração, veio dos mais novos, que vêem o mundo de outra maneira e têm mais responsabilidades. E estou contente que tenha acontecido, o rock’n’roll era um mundo com muitos abusos e isso não é permitido para esta nova geração. Estes são tempos inclusivos”. As guitarras não vão desaparecer, certo (dúbio, mas aceitemos a versão dele). E Johnny Marr, que está com 55 anos, vai continuar a fazer canções pop, tornar-se um artista folk, pousar a guitarra? (Hey, o Paul Simon acabou a carreira; Phil Collins — o Gary Neville da pop — também. Não é uma pergunta assim tão parva. )“John, deixa-me fazer uma pergunta”. “Força. ”“Vais deixar de ouvir canções?”“Nope. ”“Então, aí tens a tua resposta”. “Como assim?”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Comecei a pensar no que era uma canção quando era muito novo. ‘Oh, esta canção começa pelo refrão, não sabia que se podia fazer isto’, ‘Esta descida para um acorde menor provoca tristeza, vou tomar nota mental disto’. Mesmo antes de eu saber quem eu era já fazia isto. Eu cresci com as Ronettes, sabes aquela entrada do Be my baby, como te sentes quando ouves aquilo pela primeira vez? Eu sou um fã de música, John. E continuo a ser puto. Enquanto houver canções para escrever eu não vou a lado nenhum”. Sabem aquela canção de uma banda inglesa dos anos 80, em que se cantava: ”But don’t forget the songs that made you laugh/ and the songs that made you cry”?Uma boa parte dessas canções são dos Smiths. Não se esqueçam de quem pegou numa guitarra e as compôs.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
Azeredo e militares: desconfiança levada ao rubro
Os olhos estão postos na manutenção de Rovisco Duarte à frente do Exército e a mira da incredulidade visa o Ministério da Defesa. (...)

Azeredo e militares: desconfiança levada ao rubro
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.1
DATA: 2018-10-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os olhos estão postos na manutenção de Rovisco Duarte à frente do Exército e a mira da incredulidade visa o Ministério da Defesa.
TEXTO: A 10 de Outubro, dois dias antes de pedir a demissão ao primeiro-ministro, Azeredo Lopes assinou um despacho no qual dava 48 horas ao general Rui Matias, para que, perante o abuso num aluguer, clarificasse a situação do património imobiliário do Instituto de Acção Social das Forças Armadas (IASFA) que dirige. Este terá sido um dos últimos embates de um relacionamento de desconfiança entre o ministro da Defesa Nacional e os militares. Por ironia, coincidência ou sarcasmo, o despacho 49 de 2018 para apurar quem é quem nos alugueres do IASFA, expirou no mesmo dia em que o ministro abandonou funções sem se saber se a ordem ministerial foi cumprida. E com a sombra de corrupção no comportamento de alguns militares. Seria um match nulo, um empate entre a demissão do civil que esteve à frente do Ministério da Defesa e a nuvem de dúvidas que Tancos e os alugueres deixam sobre as Forças Armadas. “Não há braço-de-ferro entre os militares e o Governo, há necessidade de uma reversão da política seguida em relação às Forças Armadas no sentido de as dignificar e de dar os recursos necessários ao cumprimento da sua missão”, comenta ao PÚBLICO o almirante Melo Gomes, antigo Chefe do Estado-Maior da Armada. Apesar do desmentido de um embate perpétuo, este militar não deixa de evidenciar que esperava outro desempenho governamental. “A política seguida precisa de ser mudada, a reforma 2020 [do executivo de Passos Coelho] precisa de ser revertida, como se esperava que acontecesse quando este Governo e este ministro tomaram posse”, destaca o presidente da direcção do think tank Grupo de Reflexão Estratégica Independente. Corrigir esta trajectória não se afigura possível no último Orçamento, que esta tarde é discutido pelo Governo em Conselho de Ministros, embora o primeiro-ministro tenha prometido que as contas da Defesa de 2019, fechadas no Ministério de Azeredo Lopes e Marcos Perestrello, sejam as maiores de toda a legislatura. “Corria-se o risco de uma desautorização, não é chantagem, do Estado por militares. Tivemos de tomar providências para que tal não acontecesse, para que a subordinação do poder político legítimo e democrático não fosse posta em causa”, conclui Melo Gomes. O abismo descrito entre o ministro e a tropa não vem, pois e só, da escassez de meios. “Não vai mudar nada”, antevê um oficial na reserva que solicita o anonimato. “Houve um grande desinvestimento nos últimos anos e, em vez de mimar o bebé, o ministro deu-lhe um encontrão”, prossegue. “Teve o azar de lhe rebentar nas mãos, podia ter sido outro”, destaca. O “encontrão” tem episódios e datas. Em Abril de 2016, o Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Carlos Jerónimo, saiu por não concordar com a demissão da direcção do Colégio Militar na sequência da revelação de discriminação de alunos homossexuais. “Para nós está em causa a interferência do ministro da Defesa na acção do CEME”, assinala o mesmo oficial. O embate, numa sociedade atenta e contrária à homofobia, colocou os militares sob os focos mediáticos. A substituição do general Jerónimo pelo general Rovisco Duarte não resolveu a questão. Como se veria. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Setembro de 2016, a morte de dois formandos no curso de Comandos abriu outra brecha. A investigação do Ministério Público é coadjuvada pela Polícia Judiciária Militar, o CEME Rovisco Duarte exonerou o comandante e 19 oficiais do Regimento de Comandos estão agora a ser julgados. “Devia haver apoio jurídico [institucional] a estes militares, houve um abandono dos homens”, analisa o militar. No país, a discussão foi a de saber se era legítimo morrer num treino que a praxis militar defende como duro para ser fiel à realidade. Foi entre estas duas águas que navegou o ministro. No entanto, com o roubo do material de guerra em Tancos, a sua peculiar devolução e a sucessão de relatos contraditórios, militares, ministro e chefias passaram a alvo da opinião pública que, até então, só olhava as casernas como símbolo do passado. A mira da incredulidade assentou no Ministério da Defesa e o titular da pasta não aguentou o desgaste do lume brando. “O ministro não teve em atenção a especificidade das Forças Armadas”, conclui o oficial que requereu anonimato. Depois da demissão de Azeredo Lopes, os seus camaradas de armas acham que a saída de Rovisco Duarte do Exército é inevitável. Por uma vez, há acordo com a sociedade. A opinião pública pela ligeireza com que descreveu e respondeu ao achamento da Chamusca. Já os militares não esquecem que substituiu Carlos Jerónimo e acusam-no de deixar cair os Comandos.
REFERÊNCIAS:
Marcelo Crivella vai acabar com o Carnaval do Rio?
O bispo evangélico que lidera o município do Rio de Janeiro cortou para metade os subsídios das escolas de samba, alegando que precisa de dinheiro as merendas das crianças nas creches. Mas a explicação não cola, e a maior festa da cidade pode estar em perigo. (...)

Marcelo Crivella vai acabar com o Carnaval do Rio?
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O bispo evangélico que lidera o município do Rio de Janeiro cortou para metade os subsídios das escolas de samba, alegando que precisa de dinheiro as merendas das crianças nas creches. Mas a explicação não cola, e a maior festa da cidade pode estar em perigo.
TEXTO: Duas perguntas ficaram por responder, após o anúncio de um corte, para metade, do valor dos subsídios pagos pelo município do Rio de Janeiro às escolas de samba da cidade – uma decisão surpreendente, mas não totalmente inesperada, do autarca Marcelo Crivella, e que já fez rebentar uma guerra com a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), a organização que organiza o desfile de Carnaval no Sambódromo carioca e representa as agremiações que todos os anos ocupam a famosa passarela da Avenida Marquês de Sapucaí. A primeira pergunta é óbvia, e tem a ver com o que vai acontecer ao Carnaval de 2018: está irremediavelmente comprometido, como sugerem as escolas de samba? A segunda, talvez mais insondável, diz respeito à motivação de Crivella, o líder municipal que é sobrinho do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e ele próprio ex-missionário e bispo licenciado daquele culto evangélico. Até que ponto as suas convicções religiosas estão a interferir na gestão da cidade e a prejudicar o interesse público?A decisão de Marcelo Crivella de reduzir o dinheiro público para o Carnaval foi anunciada no âmbito de um processo que o próprio descreveu como um “remanejamento” (sic) de verbas do orçamento municipal para 2018. Os 24 milhões de reais (cerca de 6, 5 milhões de euros) da subvenção paga pela autarquia às escolas de samba que actuam no Carnaval será reduzida para metade, para que o governo municipal possa aumentar os gastos com a alimentação e o material escolar das 15 mil crianças que frequentam as 158 creches públicas do Rio de Janeiro. “O valor que é pago hoje é muito pouco, até para comprar iogurte”, explicou Crivella, que prometeu aumentar o “subsídio” diário por criança de dez para vinte reais (5€). “Vivemos restrições orçamentais”, sublinhou o presidente da câmara, acrescentando que o mesmo procedimento de realocação de verbas abrangerá outros contratos da administração municipal. Lembrando que a cidade se debate com uma difícil crise financeira, colocou a questão como uma escolha entre o uso dos recursos “para uma festa de três dias ou durante os 365 dias do ano”. Ao telefone com o PÚBLICO, o jornalista brasileiro Aydano André Motta, especialista em Carnaval e administração pública, desmonta a argumentação de Crivella: “Populista, demagógica e até um pouco ingénua”, considera. Não só porque o montante atribuído ao Carnaval é relativamente pequeno no orçamento municipal — “é uma quantia ridícula na gestão da prefeitura da segunda maior cidade do Brasil”, diz — mas sobretudo por fazer depender dele o apoio alimentar às crianças, “que tem de ser prioridade absoluta”. “Mas a argumentação que ele usou, um dilema entre a festa do pecado e a comida das crianças, é bem o tipo de política que ele quer fazer, e do político que ele quer continuar a ser, que é ligado ao mundo neopentecostal”, nota Aydano André Motta. Depois de se fazer eleger com promessas de uma postura tolerante com a festa, demonizada pela IURD (por causa das forças religiosas afro-ameríndias, o candomblé e o umbanda, que estão na origem do Carnaval), Marcelo Crivella começou a tratá-la com distanciamento e até hostilidade. O jornalista não tem dúvidas de que “ele tem um projecto de esvaziar tanto quanto possível, e até mesmo de destruir, o Carnaval carioca, por causa da agenda religiosa a que ele está ligado”. Na sequência do anúncio do corte de verbas, as escolas de samba do chamado grupo especial (uma espécie de primeira divisão do Carnaval carioca) anunciaram a suspensão de todos os preparativos para a festa do próximo ano, que já estão em marcha. “A prevalecer a decisão [de redução em 50% do apoio financeiro para a produção dos Desfiles de Carnaval], ficarão inviabilizadas as apresentações das escolas de samba no Carnaval de 2018”, resumiu em comunicado a Liesa, que aguarda uma audiência urgente com o presidente do município para “encontrar uma solução para o problema, tendo em vista a gravidade dos factos”. “A Liesa chamou o prefeito para a briga”, interpreta o historiador Luiz Antonio Simas, colunista e autor de várias obras sobre as escolas de samba do Brasil. “Ao dizer que não haverá desfile, a liga manda um recado para a rede hoteleira, para as empresas de turismo, para as cervejarias, para a maior rede golpista de comunicação do país [TV Globo] e para outras empresas que lucram com os quatro dias de sambódromo. A estratégia é ter o capital ao seu lado pois o poder económico irá sentir um impacto negativo nos seus cofres. É uma jogada inteligente, sim, pois tensiona seus parceiros”, escreveu na sua página de Facebook. O impacto económico do Carnaval do Rio de Janeiro não é despiciendo. Este ano, o evento atraiu mais de um milhão de turistas, e de acordo com os números avançados pela Secretaria de Turismo, Riotur, as receitas municipais com a festa ascenderam a três mil milhões de reais (805 milhões de euros). Crivella, que ainda não atendeu o pedido da Liesa para reunir, já garantiu que a decisão não tem volta, por causa da recessão que o Rio atravessa. “Eu não posso voltar atrás, eu sou premido pelas circunstâncias. Ainda estou em regime de corte de despesas”, justificou, lembrando que a subvenção municipal às escolas de samba “teve um aumento num momento de euforia, mas que deu no que deu – olha agora a crise com que a cidade se debate”. Como explica Aydano André Motta, é indisputável que as escolas de samba “precisam do dinheiro” para apoiar a produção do desfile carnavalesco nos actuais moldes de espectacularidade, isto é com carros alegóricos repletos de efeitos especiais. Os dois milhões de reais (537 mil euros) que cada uma das escolas do grupo especial recebe a título de subvenção pública representam cerca de um terço do orçamento das agremiações, que em média é de 6, 5 milhões de reais: ao dinheiro municipal adiciona-se outra parcela de dois milhões do contrato com a TV Globo para a transmissão televisiva, e outros 2, 5 milhões resultantes dos bilhetes do Sambódromo, das vendas das músicas do samba-enredo e restantes produtos de cada escola. Algumas têm ainda outros patrocínios, cujos montantes não costumam ser divulgados – a falta de transparência da contabilidade das escolas, e o reconhecimento tácito dos negócios obscuros dos seus “chefões”, quase sempre impunes, prejudica a sua pretensão ao dinheiro público. “Danado é que o Bispo [Marcelo Crivella] tem a faca e o queijo na mão para cobrar da Liesa esclarecimentos acerca de problemas concretos na organização dos desfiles do grupo especial”, observa o professor de História, Luiz Anselmo, que está a investigar o financiamento do Carnaval das grandes escolas de samba cariocas, num artigo publicado no blogue Amenidades. À lista dos problemas verificados no Carnaval deste ano (quatro acidentes com carros alegóricos que fizeram dezenas de feridos e motivaram muitos protestos contra a Liesa), acresce a questão da falta de transparência na aplicação dos recursos financeiros do Carnaval e a sua ancestral ligação ao universo do ilegal “jogo do bicho”. Mas, prossegue Anselmo, “desde a criação da Liesa, nunca foi política de cervejarias, empresas de fast-food, emissoras de TV, bancos e outras grandes empresas vetarem a realização de negócios com uma entidade cuja direcção possui forte influência dos chefes da contravenção do Rio”. “A fraqueza política para a Liesa é exactamente a falta de transparência. Esse cenário de incompetência e de má gestão das escolas dá argumentos para a diminuição da subvenção. Na minha opinião devia ser o oposto, o que a prefeitura devia fazer era aumentar o orçamento das escolas de samba cobrando contrapartidas, por exemplo que garantissem uma actividade turística contínua e não apenas na temporada alta do Verão”, diz Aydano André Motta. “O comando do Carnaval tem mil pecados, mas a discussão neste momento já está para lá disso. Agora o problema é a sobrevivência dessa festa que não é só lazer e turismo, mas que é cultura e faz parte da identidade do povo carioca. Crivella está querendo virar as costas para isso de um jeito dissimulado”, reforça. Segundo Luiz Antonio Simas, “a prefeitura precisa reconhecer a relevância cultural do Carnaval” e também a importância das escolas de samba. “Elas são a mais impressionante invenção carioca inscrita no tempo e espaço da cidade; expressões vivas dos dramas, dilemas e maneiras de inventar a vida como possibilidade de alegria e beleza da nossa gente”, escreveu no Globo. Ou seja, para todos estes especialistas e analistas, não colhe a tese de que o chefe da autarquia pretende promover uma “moralização” financeira com a “limpeza” das contas do Carnaval. E sendo assim, só sobra outra explicação para o embate de Marcelo Crivella contra as escolas de samba: o projecto de poder da IURD, e o seu combate a toda e qualquer manifestação que considera profana e “diabólica”. A posição do líder municipal sobre o tema do Carnaval foi sempre ambígua – afinal, Crivella é a favor ou contra? Ao longo da campanha eleitoral, Crivella esforçou-se por rebater o que designou como “preconceito” contra a sua fé, cantando sambas em público e dando todo o tipo de garantias aos presidentes das escolas, de manutenção do apoio financeiro e do estabelecimento de “parcerias”, para garantir o apoio da Liesa (o seu rival, Marcelo Freixo, prometia uma investigação às contas do Carnaval). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Não vou de maneira nenhuma ser um prefeito arrogante, senhor das próprias ideias. O Carnaval vai ser respeitado”, garantia à TV Globo no Verão do ano passado, marcando uma fronteira inviolável entre a religião e a política. Mas em Fevereiro, Crivella não participou num único momento do Carnaval: não ofereceu as chaves da cidade ao Rei Momo, como é de praxe, nem marcou presença no Sambódromo, alegando que seria demagogia. No contexto da promoção do projecto político da IURD, “o esvaziamento do Carnaval não é facto isolado”, entende Luiz Antonio Simas. “Sobrou pràs escolas de samba. Tá sobrando prò funk, vai sobrar prò Carnaval de rua. 'Tá sobrando pra quem aposta na diversidade e defende a expressão soberana das minorias”, diz o seu Facebook, numa referência à revisão da lei que enquadra os eventos de rua ou a depreciação dos órgãos responsáveis pela defesa das minorias. “Tudo tem a ver com a componente religiosa. Por exemplo, ele recusa dar dinheiro para a agenda LGBT”, concorda Aydano André Motta, lembrando o anunciado corte do patrocínio municipal para a marcha do orgulho gay do Rio de Janeiro, em Dezembro. Apesar de acreditar que “está tudo em risco”, o jornalista estima que o Rio não vai deixar de encher no Carnaval de 2018, até porque os chamados blocos de rua – mais de 400, entre oficiais e não oficiais – já arrastam multidões muito maiores do que o desfile do Sambódromo. “O Bloco da Preta [Gil], a filha de Gilberto Gil, teve 500 mil pessoas; no Cordão da Bola Preta, que é o mais antigo e o maior do Rio, foram mais de um milhão de pessoas”, diz.
REFERÊNCIAS:
Religiões Candomblé
OE 2019: que formosa aparência tem a falsidade!
Nenhum dos principais problemas da Educação encontra resposta neste orçamento, que se limita à gestão corrente do que existe. (...)

OE 2019: que formosa aparência tem a falsidade!
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 1.0
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nenhum dos principais problemas da Educação encontra resposta neste orçamento, que se limita à gestão corrente do que existe.
TEXTO: O título deste escrito cita Shakespeare. A formosa aparência dos 0, 2% de défice é vista como uma falsidade pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), que descobriu discrepâncias entre vários documentos referentes ao OE 2019. A mais citada resulta de haver uma diferença de 590 milhões de euros entre a proposta de lei e o relatório, o que originaria um défice de 0, 5% em vez de 0, 2%. A explicação radica na circunstância de os orçamentos serem sempre exercícios previsionais. Centeno pede ao Parlamento, na proposta de lei, autorização para gastar mais 590 milhões. Mas considera-os, no relatório, cativos sobre consumos intermédios. Para ele, o que importa é o 0, 2% de défice. Se as receitas crescerem para além do previsto, talvez os gaste. Se não, não gasta. Mas, aprovada a proposta, já tem a despesa autorizada, porque não gosta de orçamentos rectificativos e não quer falhar os 0, 2%. É por isso, e para entreter os parceiros da “geringonça”, que dá uma formosa aparência à falsidade orçamental. É assim que funciona a ditadura financeira de Centeno, visceralmente incompatível com qualquer necessidade social que ameace o défice. O OE 2019 apresenta-se, assim, apenas positivo para as finanças, inibidor para a economia e politicamente negativo. As chamadas despesas excepcionais representam mais de 10 mil milhões de euros, de que não resultam quaisquer benefícios para o cidadão comum. Outrossim, vão directos para os grandes grupos financeiros e económicos. Aí estão inscritos 1750 milhões para os bancos, 4000 milhões para as participações de capital, 1200 milhões para a Parpública e 1518 milhões relativos a rendas de parcerias público-privadas rodoviárias, quando a UE (Eurostat) estimou que o seu valor actualizado não devia ser superior a 337 milhões. Com a realidade a definir mais tarde, as aparências do OE 2019 são suficientes para perceber o papel da Educação nas prioridades de Costa e Centeno, que o Governo conta pouco e o ministro da Educação vale zero. Como referi antes, um orçamento é sempre um exercício previsional, cujo rigor só é sindicável quando, mais tarde, for cruzado com a respectiva execução. Assim, se a verba prevista para o ensino não superior cresce 248 milhões de euros quando comparada com a inicialmente prevista no orçamento anterior, já quando a comparamos com o que efectivamente se prevê gastar em 2018, o crescimento reduz-se a 82 milhões, isto é, três vezes menos. Se passarmos de valores absolutos para indicadores relativos, salta à vista que o OE 2019 coloca o peso da Educação a evoluir abaixo do que o crescimento económico permitiria. Com efeito, em percentagem do PIB, esse peso vai valer 3, 10% em 2019, quando valia 3, 14% em 2015, 3, 72% em 2011 ou 5, 1% em 2002. Nenhum dos principais problemas da Educação encontra resposta neste orçamento, que se limita à gestão corrente do que existe, que não à consideração do que era preciso mudar. Particularmente grave e incompreensível, face ao já assumido, é a intenção de diminuir 4% dos gastos com recursos humanos. No ensino superior, se o normativo que regula a atribuição das bolsas de estudo aos estudantes não for alterado, a descida de 212 euros no valor máximo da propina não passa de uma ideia demagógica e perversa. Com efeito, as bolsas estão condicionadas actualmente a um rendimento anual per capita igual ou inferior a 7930, 40 euros. Esse valor resulta da soma do valor máximo da propina (1068 euros) ao produto por 16 do valor do Indexante de Apoio Social (428, 90 euros). Se baixar a propina como previsto, o rendimento per capita subsidiável passa para 7718, 40 euros e muitos estudantes, com bolsa hoje, não a terão amanhã. Entretanto, todos os ricos pagarão menos 212 euros, num país que apresenta uma taxa de 23, 3% de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social. Um argumento sólido de oposição ao que acabo de afirmar é dizer que os serviços públicos, se não puderem ser gratuitos, devem ter o mesmo preço para todos, já que a redistribuição da riqueza e a justiça social são feitas pela natureza progressiva dos impostos. Mas só me parece inteiramente válido este argumento se a receita fiscal recolhida pelos impostos for suficiente para fazer face ao custo de todos os serviços públicos para todos os portugueses. A medida representará 50 milhões de euros e aplicar-se-á a 200 mil estudantes. Não seria socialmente mais adequado melhorar as bolsas de estudo aos 50 mil que delas carecem, particularmente aos mais pobres e aos deslocados? Ou investir o dinheiro na construção de residências? Ou, eventualmente, isentar de propinas os que estudam nos politécnicos do verdadeiro interior?Portugal continua a não ver definidas estratégias e prioridades para o seu desenvolvimento económico, permanecendo no espectro sombrio das políticas financeiras restritivas e empobrecedoras da sua população, agindo sob o peso de fenómenos e de ocorrências que não controla. As medidas que vão sendo tomadas surgem sem a garantia de que são as mais adequadas, porque não se estudam e discutem racionalmente alternativas possíveis. António Costa age sob a força das circunstâncias, pressionado, desarticulado e revelando um elevado grau de incerteza quanto à amplitude e profundidade das medidas que o Governo decide. A economia portuguesa tem características negativas evidentes: défice crónico, dívida pública elevada, baixos salários, alto desemprego jovem e reduzida produtividade, quando comparada com a dos países com os quais competimos. Com efeito, o celebrado crescimento do emprego em percentagem superior ao crescimento do PIB, sendo intrinsecamente positivo, mostra, por outro lado, uma redução da produtividade (trabalho extensivo versus acréscimo de valor ao que fazemos e vendemos). E, do mesmo passo que o discurso oficial incensa os nossos indicadores de crescimento, omite que 20 dos 28 países da UE crescem mais que nós e que a maioria dos portugueses deixou de poder comprar casas nas suas próprias cidades mais importantes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No que toca à Educação, as teorias sobre o funcionamento do mercado têm capturado as teorias sobre o funcionamento da Educação, substituindo os interesses da Pedagogia pelos interesses do dinheiro e da economia que o serve. A ideia de uma Educação competitiva, tendo a competitividade dos mercados por modelo, está cada vez mais presente, assim como a ideia segundo a qual a escola deve ser um instrumento de formação de “capital humano”, útil à economia global. A incontornável economia de mercado vai-nos, assim, paulatinamente transformando numa sociedade de mercado, isto é, numa sociedade rendida ao valor implacável do dinheiro, em que tudo se compra e tudo se vende, cada vez mais insensível a valores sociais e à solidariedade entre gerações. PS: Que formosa aparência de Estado tem a falsidade de felicitar o presidente eleito do Brasil, um fascista declarado que chega ao Planalto cavalgando o ódio e a ignorância, prometendo discriminar os brasileiros pela orientação sexual, pela cor e pela classe social de origem.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
O Grande Desastre Americano
A presença de Brett Kavanaugh no STF vai ter um forte impacto nas mais diversas áreas da vida dos norte-americanos. (...)

O Grande Desastre Americano
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.4
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A presença de Brett Kavanaugh no STF vai ter um forte impacto nas mais diversas áreas da vida dos norte-americanos.
TEXTO: "Eu não faço perguntas sobre as opiniões pessoais de um nomeado. O que interessa não é a opinião política de um juiz, mas sim se ele consegue pôr de lado essa opinião para fazer o que a lei e a Constituição exigem. Tenho o prazer de dizer, sem qualquer dúvida, que encontrei uma pessoa dessas. "Estas palavras de Donald Trump ao anunciar a nomeação de Brett Kavanaugh para o lugar de juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), deixado vazio pela saída do juiz Anthony Kennedy, são um excelente exemplo da forma como o Presidente norte-americano pode dizer uma coisa e fazer outra, sem consequências e com um total despudor. Brett Kavanaugh é, não só, um conservador bastante radical que trabalhou com o Presidente republicano George Bush e cujo nome foi sugerido pela conservadora Federalist Society (https://fedsoc. org/about-us ) – e já aí Trump olhou às suas opiniões políticas – como, para além disso, é um partidário da teoria jurídico-política da ausência de limites dos poderes do Presidente dos EUA, o que o torna numa peça essencial no afastamento dos eventuais obstáculos à afirmação de um poder pessoal ilimitado de Trump. A presença desta personalidade no STF vai, certamente, ter um forte impacto nas mais diversas áreas da vida dos norte-americanos. Desde logo, a entrada de Kavanaugh para o STF vai, com grande probabilidade, permitir que o direito à interrupção voluntária de gravidez deixe de estar protegido pela Constituição, devolvendo aos estados federados o estabelecimento da legislação sobre tal matéria o que, fatalmente, trará, de novo, a criminalização do aborto em diversos estados. Vai também, muito provavelmente, acabar com o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo – foi o juiz Kennedy no processo em que o STF reconheceu esse direito, numa decisão com 5 votos a favor e 4 contra, que afirmou que o que era pedido ao STF era a “igual dignidade aos olhos da lei” e que a 14. ª Emenda da Constituição garantia esse direito. No campo dos direitos sociais, laborais e dos cuidados de saúde, avizinham-se, também, retrocessos como haverá fatais retrocessos nas leis de regulação das actividades económicas, nomeadamente, e em particular, na legislação ambientalista. Verdade seja dita que a administração do Trump tem feito retroceder a protecção do ambiente de uma forma grave e sistemática sem precisar do STF mas Kavanaugh vai criar uma maioria estável contra qualquer intervenção regulatória do Estado na economia. Kavanaugh nunca terá ouvido os banqueiros de Wall Street que, na sequência da crise financeira após a falência do Lehman Brothers, reconheciam que não bastava o poder político deixar o mercado funcionar para tudo correr maravilhosamente porque eles eram demasiado gananciosos (“greedy”). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas para além dos direitos dos cidadãos norte-americanos que irão ser afectados, há um aspecto da nomeação de Kavanaugh que se pode revelar particularmente sinistro. É bem conhecido o percurso errático mas determinado de Trump na afirmação do seu poder pessoal sem quaisquer limites morais ou legais e é uma evidência disso mesmo a forma como tem afastado os colaboradores que não lhe votam uma fidelidade sem limites. Neste momento, existe uma investigação criminal em curso sobre as suspeitas de obstrução da Justiça e de conluio com o Governo russo que envolve Trump e que poderá levar a que o mesmo tenha de ser ouvido e, eventualmente, acusado. Ora Kavanaugh que, curiosamente, fez parte da investigação ao Presidente Clinton no caso Lewinsky, veio, mais tarde, defender que o Presidente dos EUA não deve, enquanto estiver a exercer o cargo, ser incomodado com processos civis ou criminais – processos contra o Presidente devem, na perspectiva de Kavanaugh, aguardar pelo fim do mandato. Na verdade, segundo Kavanaugh, a única forma de responsabilização criminal do Presidente que deveria ser possível é o processo de impeachment que exige uma maioria de 2/3 do Senado – neste momento os republicanos têm 51 senadores e os democratas 49 (com 2 independentes) – pelo que se a investigação criminal respeitante às interferências russas na eleição de Trump um dia chegar ao STF, Trump poderá estar descansado. Consolidam-se, assim, os enormes poderes de um Presidente dos EUA que tem como imagem de marca um profundo desprezo pelos direitos humanos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
“É proibido proibir!” na era de Trump e Bolsonaro
Com um clima de guerra cultural e de insegurança instalado, o resvalar para o iliberalismo e para o autoritarismo está em marcha. Resta saber o que vai ficar da democracia tal como a conhecíamos. (...)

“É proibido proibir!” na era de Trump e Bolsonaro
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com um clima de guerra cultural e de insegurança instalado, o resvalar para o iliberalismo e para o autoritarismo está em marcha. Resta saber o que vai ficar da democracia tal como a conhecíamos.
TEXTO: 1. Talvez os ocidentais — sobretudo os que se vêem, a si próprios, como liberais ou progressistas — pudessem perceber melhor o que está a ocorrer no Ocidente se observassem atentamente os fenómenos sociais e políticos em curso nas sociedades muçulmanas. Os valores seculares (e também, de alguma forma, liberais), que estavam aí em ascensão até aos anos 1960/1970, foram amplamente revertidos pela vaga islamista, ou seja, do “Islão político”. Nos últimos anos, a transformação da Turquia com Recep Tayyip Erdogan exemplifica esse rumo dos acontecimentos. Contraria a ideia ocidental de progresso e de crescente secularização da humanidade. Um aspecto maior dessa transformação é a adesão dos jovens ao islamismo. Mostra a direcção da dinâmica social. Em média, o eleitorado do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), o partido Recep Tayyip Erdogan, é um eleitorado mais jovem do que o eleitorado do secular Partido Republicano do Povo (CHP), herdeiro de Mustafa Kemal Atatürk. Ser islamista — que, grosso modo, é o equivalente a ser um radical de direita ou extrema-direita nas sociedades ocidentais — é algo que atrai muitos jovens de ambos os sexos em contexto muçulmano. As razões são complexas, mas, por exemplo, o comportamento de uma jovem que passa a cobrir a cabeça com um véu pode ser motivado por um acto de rebeldia juvenil face a uma mãe / família / sociedade onde isso tinha sido banido. 2. No Ocidente, a partir dos anos 1960, valores e causas que vinham das margens, de uma esquerda alternativa à hegemonia ideológica dos partidos comunistas ao estilo soviético, ganharam terreno político e visibilidade social (grosso modo, na mesma altura em que os islamistas começavam a reverter o secularismo liberal no Islão). Feministas, ambientalistas, sexualidades alternativas (gays, lésbicas e transsexuais), minorias étnicas e/ou religiosas entraram em força na agenda social e política de todos os países ocidentais. As suas causas afastaram-se, gradualmente, do proletariado e da lógica marxista clássica da luta de classes. Hoje são, em grande parte, o mainstream, social e político. Em muitos aspectos, alteraram radicalmente o sentido usual da moral e dos bons costumes. Este enorme sucesso trouxe novos padrões morais e de bom comportamento social. Fundamentalmente estão hoje já enraizados na população com escolarização mais elevada, sobretudo quando a sua formação teve predominância nas ciências sociais e humanidades. (Aí essas ideias operaram uma enorme transformação na forma de fazer teoria e nas temáticas estudadas, que passaram a incluir muitas das novas “causas”). Os media usualmente considerados “de referência”, ou seja, vistos como exemplos de bom jornalismo, são um outro agente crucial do processo de enraizamento dos valores pós-1960. Não é por acaso que são um alvo preferido dos que se lhes opõem no actual ambiente de guerra cultural. 3. “É proibido proibir” (“Il est interdit d’interdire!”) foi um dos slogans mais icónicos do Maio de 68. Captou particularmente bem o espírito de contestação à ordem social e política estabelecida e à moral e bons costumes (conservadores), tal como normalmente eram entendidos na época. Mas, como já notado, as causas dessa época e aquilo que era visto como uma transgressão nos anos 1960 em geral — e no Maio de 68 em particular — hoje são, em grande parte, comportamentos normais na sociedade e na política. Uma das consequências menos percebidas dessa transformação, nas suas mais profundas implicações, é que isso retira a essas ideias/causas o apelo da contestação, na sociedade e na política. Transformou-as, paradoxalmente, na moralidade e bons costumes de muitos dos mais velhos, na população mais urbana e com mais escolarização, retirando apelo aos mais jovens. Assim, o(a) jovem que hoje se afirme a favor da sexualidade fora do casamento, da emancipação feminina, da defesa do ambiente, dos direitos das minorias, etc. não transgride nada. Na realidade, apenas adere aos valores estabelecidos como bons — pelo menos nos já referidos meios urbanos e na classe média com mais educação. Vejamos melhor a dinâmica sociológico-política instalada. 4. Meio século depois, nas sociedades ocidentais, os jovens rebeldes dos anos 1960 são hoje sexagenários ou septuagenários. Mantêm uma (auto)imagem de rebeldia de progressismo e de defesa das boas causas dos mais fracos e excluídos. Todavia, como já notado, para os mais novos, como os actuais jovens millennials (ou geração Y), esses são já os valores da sociedade estabelecida em que nasceram. Não permitem actos de rebeldia e contestação para se demarcaram dos adultos das gerações anteriores. Assim, os sexagenários ou septuagenários que estiveram na origem do actual padrão moral e político usualmente aceite, por paradoxal que possa parecer, estão hoje mais próximos da imagem de guardiães do passado, ou seja, de conservadores, do que imaginam. Ironicamente, estão hoje numa situação similar à dos que suplantaram na função de guardiães da moralidade da era pré-1960. Como resultado dessa transformação, quem parece estar a captar / manipular o sentimento de rebeldia é outro movimento que veio também das margens da sociedade e do sistema político: a alt-right. Tal como os islamistas conseguiram reverter a questão geracional a seu favor no Islão, e transformar o tradicional em radical, incorporando o sentimento contestatário, um processo algo similar parece estar em curso no Ocidente com a direita radical. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 5. Nas sociedades ocidentais e em outras que lhes são culturalmente próximas, a maior transgressão das normas morais, sociais e políticas estabelecidas é hoje é feita por indivíduos que se apresentam como anti-sistema e contestatários radicais. Numa lógica de (extrema)direita prosseguem a sua própria versão do “É proibido proibir” e da “normalidade” de transgredir — o sexismo, a homofobia, a xenofobia ou a islamofobia, são as suas transgressões favoritas. Donald Trump elogia a masculinidade viril de um político republicano do Montana com uma piada jocosa sobre agressão a um jornalista. Jair Bolsonaro usa similares técnicas de choque e transgressão nos seus frequentes ataques verbais a feministas e gays. Quanto a Rodrigo Duterte, o actual Presidente das Filipinas, cultiva um radicalismo ainda maior na linguagem e na transgressão de códigos de conduta moral. Dizer e/ou fazer coisas que transgridem a sensibilidade moral e política herdada dos anos 1960, vistas como politicamente incorrectas, parece ser a nova fórmula de sucesso que mobiliza a contestação e as massas. 6. As ideias filosófico-políticas (e técnicas) que serviram para atacar o status quo social e político nos anos 1960 estão agora a ser apropriadas e replicadas pela alt-right e outros movimentos similares. A plasticidade, o radicalismo e as contradições do pensamento do filósofo Friedrich Nietzsche — que já entusiasmou fascistas (Benito Mussolini) e nazis (Adolf Hitler), bem com a esquerda intelectual e política do Maio de 68 Michel Foucault, Jaques Derrida, etc. ) — são um bom guia para perceber o radicalismo instalado nas sociedades democráticas e as suas contradições. Ao contrário do que acontecia no passado do século XX, a imagem de “revolucionário(a)”, de contestatário(a), ou de alguém irreverente está a afastar-se, cada vez mais, das feministas, ambientalistas, sexualidades alternativas (gays, lésbicas e transsexuais), ou da defesa das minorias étnicas e/ou religiosas. Esse é, ironicamente, o preço do sucesso das suas ideias. À medida que se transformaram nas ideias políticas e moralidade do establishment, tornaram-se, também, o rosto de um sistema que aos mais descontentes apetece atacar e transgredir, seja qual for o motivo. Ironicamente, às vezes até contra os seus próprios interesses económicos ou políticos. 7. Em sociedades onde se cultivou, durante décadas, a transformação e a desconstrução de valores e regras sociais — originalmente com proveniência da esquerda radical e das margens do sistema —, vive-se uma nova vaga que mimetiza essa lógica — oriunda igualmente das margens, mas agora da direita radical. (Não tem a sofisticação intelectual e política da esquerda radical, sendo, nesse aspecto, bastante grosseira e rudimentar. ) Ao mesmo tempo, nas democracias liberais, um dos pilares do sistema moral e de valores erigido no pós-anos 1960, os media tradicionais, perdeu a hegemonia que detinha sobre a formação da opinião pública. Hoje a esfera pública é, cada vez mais, dominada pela Internet e redes socais, com as virtudes e problemas que daí decorrem. São o novo espaço público de contestação e radicalismo por excelência, com o predomínio do emocional sobre o racional, do instantâneo sobre o comprovadamente factual e profundo. O novo terreno do "É proibido proibir!", agora numa lógica quase antitética da original. Com um clima de guerra cultural e de insegurança instalado, o resvalar para o iliberalismo e para o autoritarismo está em marcha. Resta saber o que vai ficar da democracia tal como a conhecíamos.
REFERÊNCIAS:
Religiões Islamismo