O polícia bom Johnny Marr reencontrou-se com os Smiths
Morrissey iniciou uma nova digressão que pode ser a última. Johnny Marr regressa com o primeiro álbum a solo e reconciliou-se com o legado dos Smiths. Morrissey e Marr teriam muito a dizer um ao outro. Pena que já não falem há anos (...)

O polícia bom Johnny Marr reencontrou-se com os Smiths
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.7
DATA: 2018-11-23 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181123184834/https://www.publico.pt/n1580371
SUMÁRIO: Morrissey iniciou uma nova digressão que pode ser a última. Johnny Marr regressa com o primeiro álbum a solo e reconciliou-se com o legado dos Smiths. Morrissey e Marr teriam muito a dizer um ao outro. Pena que já não falem há anos
TEXTO: Marr ainda não é cinquentão (tem 49 anos) e a idade não deixou marcas. Parece o mesmo que, na década de 1980, deu sentido a uma geração que se descobria nas canções de Meat is murder ou The Queen is dead. Faz sentido. Morrissey e Marr já nem estão em conflito. Morrissey e Marr não se falam. Eram o polícia bom e o polícia mau dos Smiths. O provocador das tiradas controversas, eternamente enigmático (Morrissey), e “um dos tipos mais simpáticos do rock’n’roll”, como o apresentava recentemente a Stereogum (Marr, obviamente). A última vez que comunicaram verdadeiramente, fizeram-no por interposta pessoa. Em 2010, Marr irritou-se com a saída do armário (pop) de David Cameron, o primeiro-ministro inglês, Conservador, que se confessou fã dos Smiths. Através do Twitter, o guitarrista proibiu o político de gostar da sua banda – “Pergunto-me, que parte da ética dos Smiths é que ele não percebeu?”, questiona-se em entrevista publicada hoje no Guardian. Polémica instalada, com Marr a ser apoiado ou confrontado com as declarações – “como se atreve a dizer o que Cameron pode ou não pode gostar? Vai devolver-lhe o dinheiro que gastou nos discos?”, atiraram-lhe -, Morrissey veio em sua defesa. Para o vocalista, Cameron, pela sua ideologia, pela forma como dirigia a nação inglesa, não tinha o direito a gostar dos Smiths, a banda que tão bem representara a oposição a Margaret Thatcher. Desde aí, nada mais houve em que Morrissey e Marr concordassem – ou discordassem. Rumores de reuniões dos Smiths, como sempre acontece com bandas do seu estatuto, surgem regularmente na imprensa. Dificilmente passarão disso mesmo, rumores. Marr e Morrissey deixaram de se falar há alguns anos. “Na verdade, não temos qualquer razão para o fazer”, confessou o guitarrista. Há dois anos, quando remasterizou o catálogo dos The Smiths, contactou Morrisey, o baixista Andy Rourke e o baterista Mike Joyce: “consigo ouvir o amor posto neste música”, escreveu em email. Nunca obteve resposta. “Podes tentar ser simpático com alguém durante muito tempo sem receber nada em troca, até que acabas por pensar: ‘ah, que se lixe’”. Johnny Marr decidiu seguir com a sua vida, cortando laços com o passado. Foi, de resto, o que fez desde que deixou o os Smiths. Morrissey pode continuar a ser Morrissey, simplesmente – carregava consigo o imaginário dos Smiths, era a extensão daquilo que os Smiths representavam. Johnny Marr, o guitarrista que criou o som que viria a definir uma certa estética indie – como que uma actualização da guitarra “chocalhada” dos Byrds, transporta da solar Los Angeles para a depressão industrial de Manchester -, não o podia fazer. Portanto, fugiu. Recusou o foco dos holofotes e manteve-se aquilo que era desde os 11 anos. Guitarrista. Nos Pretenders ou nos The The, imediatamente após o fim dos Smiths, nos Modest Mouse ou nos Cribs, já este século – pelo meio, fugiu mais ainda e trocou guitarra por sintetizador nos Electronic fundados com Bernard Sumner, dos Joy Division e New Order. “Se te colocam uma etiqueta ‘indie pop jingle jangle’ é tua responsabilidade retirá-la, caso contrário, estás criativamente morto”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em 2003, juntou os Healers e editou Boomslang, o mais próximo que esteve, até hoje, de um álbum a solo. Dez anos depois, a fuga terminou. The Messenger será o seu primeiro disco em nome próprio. Foi gravado em Manchester com uma banda que, tal como nos seus tempos nos Smiths, ensaiou algumas vezes por semana sem outro objectivo que não o de criar canções. Um álbum em que, também musicalmente, deixa de fugir. Percebeu há algum tempo que, tendo sido parte tão importante da banda de “Hang the DJ”, era no mínimo estranho ser ele o único a dizer que “aquilo [tocar canções dos Smiths] não devia ser feito”. E, depois de incluir música da antiga banda no alinhamento dos concertos, depois de ver como as pessoas reagiam a ela e quanto ele próprio gostava de a tocar, deixou que esse reencontro com o seu passado contaminasse as canções de The Messenger. “Senti que estava a faltar qualquer coisa à pop”, diz ao Guardian. “Quando acertas com as guitarras na pop, pode tornar-se vivaz, exuberante e luminosa. ” Se alguém disser a Marr que o seu novo álbum soa a Smiths, tudo estará muito bem: “[Quererá dizer] que tem a mesma exuberância”. Que exuberância? A da banda que “inventou o indie como ainda hoje o entendemos”. A da banda que, depois do punk e pós-punk, deu um passo em frente. “Estávamos gratos pela revolução, mas ainda havia ali alguma homofobia e sexismo. No indie isso não existia”. Mais: “Se fosses um músico alternativo, os tempos exigiam que fosses político. Era garantido que as bandas com quem partilhavas o palco tinham as mesmas ideias políticas. Não sei se o poderemos dizer hoje”. Aos 53 anos, Morrissey, que sempre foi os Smiths mesmo quando os Smiths acabaram, iniciou uma digressão que pode ser a último. Aos 49 anos, Johnny Marr, o guitarrista que passou parte da vida a fugir dos Smiths, reconciliou-se. Voltou a casa. Se falassem, muito teriam a dizer um ao outro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morto homofobia
O que move os jovens? As causas ou os partidos?
Mesmo desligados da “política formal”, os jovens podem ter “a política nas veias” e dedicar-se de corpo e alma a movimentos e ao activismo. Esta é uma das teses que vai estar em cima da mesa numa conferência em Cascais que juntará todos: activistas, líderes partidários e académicos. (...)

O que move os jovens? As causas ou os partidos?
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mesmo desligados da “política formal”, os jovens podem ter “a política nas veias” e dedicar-se de corpo e alma a movimentos e ao activismo. Esta é uma das teses que vai estar em cima da mesa numa conferência em Cascais que juntará todos: activistas, líderes partidários e académicos.
TEXTO: Com as eleições europeias a aproximarem-se, o professor da Universidade Católica, Nuno Sampaio, lança um apelo: o “crescimento de forças partidárias extremistas”, no contexto europeu, dá aos “jovens que partilham os valores da Europa e da democracia” a “responsabilidade grande” de participarem no acto eleitoral. Nuno Sampaio – que ressalva falar apenas como docente e não como assessor para os Assuntos Políticos da Casa Civil do Presidente da República – é um dos oradores da conferência Que causas movem os jovens?, marcada para dia 27, no Centro Cultural de Cascais, e promovida no âmbito do evento Cascais 2018 – Capital Europeia da Juventude, em parceria com o ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. O investigador sabe que o tema do afastamento dos jovens da política não é novo, o que não lhe tira pertinência: “A questão não é nova, mas à luz do contexto actual é urgente e oportuna”, diz, referindo-se aos populismos e extremismos que ameaçam o mundo, a Europa e as democracias, e apelando, sobretudo, à “consciência em relação àquilo que são os valores da democracia”. “Não se pode ter a democracia como garantida”, lembra o professor. A mensagem é para a “geração Erasmus” que cresceu “num ambiente democrático” – o público-alvo da conferência são estudantes do ensino secundário e universitário. O colóquio não é apenas sobre o afastamento dos jovens da política, nem sequer foi desenhado a pensar só nas eleições europeias. Pretende motivar os jovens a participarem em todos os actos eleitorais, explica a comissária da Cascais 2018 – Capital Europeia da Juventude, Catarina Marques Vieira. E pretende, em primeiro lugar, reflectir sobre as razões que levam os mais novos a, por um lado, afastarem-se da política e do projecto europeu e, por outro, empenharem-se em causas sociais. Catarina Marques Vieira não tem dúvidas: os jovens “podem estar mais afastados dos partidos, mas aderem a causas da comunidade, preocupam-se com a sociedade”. Na intervenção que fará, Nuno Almeida Alves do ISCTE, sustentará isso mesmo: se, por um lado, os jovens estão desligados daquilo que se pode considerar a “política formal”; por outro, têm “a política nas veias” e dedicam-se a movimentos e ao activismo. Esta é uma das conclusões que Catarina Marques Vieira espera ver sair da conferência na qual os dois lados vão ouvir-se: os jovens que se entregam a causas, como a LGBTI ou o ambiente, participarão num painel e, depois, vão sentar-se à mesa a almoçar com os que optam pela via partidária para transformarem a sociedade (Margarida Balseiro Lopes, da JSD; Ivan Gonçalves, da JS; Francisco Rodrigues dos Santos, da JP; Carlos Moreira, da Comissão de Juventude UGT; e Diogo Alexandre, a representar os bloquistas). A seguir, será dada a palavra aos académicos. Mas não é só aos jovens que Nuno Sampaio deixa um alerta. Também aos que compõem os partidos lembra: “A sociedade sempre andou à frente da política”. Quer com isto dizer que “os partidos são fundamentais à democracia”, mas precisam, mais do que se renovarem, de verem como “a sociedade está diferente”. Os partidos devem reflectir sobre a forma como se organizam, até porque uma das razões que leva os jovens a aderirem a movimentos também é a circunstância de as causas serem "mais flexíveis para a sua participação” e os partidos continuarem a ser “estruturas relativamente fechadas”. É mais complexo do que isto, claro: “as causas também têm a ver com partilha de valores”, permitem uma “participação mais diversificada e menos continuada” e o mundo todo está diferente: diferente na forma como um jovem de 20 acede à informação e diferente na forma como esse jovem se relaciona com os outros, lembra o docente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas nada como ouvir os próprios jovens. Na conferência, que decorre no Centro Cultural de Cascais, a partir das 10h30, serão eles que lá estarão para revelar que motivações políticas têm e também para relatarem experiências na primeira pessoa. Além dos representantes de estruturas partidárias que marcarão presença durante o almoço, o encontro contará, na parte da manhã, com as intervenções de jovens activistas de diferentes movimentos com trabalho na zona de Cascais. Em concreto, fazem parte do programa representantes de associações como Movimento Claro, na área do ambiente; da Associação da Base ao Topo, no sector da cultura; da Associação Pegadas, no âmbito da acção social; e ainda a rede ex-aequo, com preocupações na defesa dos direitos LGBTI. Um dia depois de Cascais debater o interesse dos jovens pela Política, a secretária de Estado dos Assuntos Europeus e Presidente do Parlamento Europeu debatem o futuro da Europa com estudantes em Lisboa, no âmbito de uma iniciativa intitulada: Encontros com os Cidadãos. Ana Paula Zacarias e Antonio Tajani estarão no Instituto Superior de Gestão e Economia para uma sessão de uma hora que será replicada em várias regiões do país (incluindo as Regiões Autónomas), sempre tendo como foco os temas mais importantes da agenda europeia. “O objectivo destas acções é estimular a participação dos cidadãos e permitir conhecer melhor as suas preocupações sobre o futuro da Europa”, lê-se numa nota do gabinete da secretária de Estado dos Assuntos Europeus. Desde o seu arranque, estes encontros já passaram por Cascais, Beja, Lisboa, Figueira da Foz, Porto, Viana do Castelo, Marvão e Alverca entre outros concelhos. A sua organização envolve o Governo, os municípios, as universidades, a Representação da Comissão Europeia em Portugal e outras entidades e organizações da sociedade civil.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos cultura comunidade social
O Populismo de Jan-Werner Müller
Todos os políticos, especialmente os políticos democráticos, são populistas. (...)

O Populismo de Jan-Werner Müller
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-09-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Todos os políticos, especialmente os políticos democráticos, são populistas.
TEXTO: Jan-Werner Müller escreveu há já algum tempo um interessante livro no qual procura responder à seguinte pergunta: o que é o populismo?A resposta de Müller é interessante mas não é convincente. A tese do cientista político alemão é a seguinte: os populistas distinguem-se dos demais actores políticos quando afirmam que eles, e só eles, é que representam o “verdadeiro povo”. Estabelecem assim uma relação exclusivista, e necessariamente vulnerável ao autoritarismo, entre eles, as suas ideologias, o “verdadeiro povo” que representam e o supostamente falso povo que marginalizam. Os que não são contemplados na definição do povo do populista, no nós comunitário que ela/e projecta na sua acção política, serão marginalizados, remetidos para a inautenticidade. O argumento parece plausível e convincente, sobretudo à luz das mais recentes vitórias eleitorais dos populistas. Todavia, julgo que bastarão alguns minutos de reflexão para pôr em causa a plausibilidade aparente da principal tese do livro. Dei por mim a pensar no seguinte: não será verdade que todos os actores políticos invocam e praticam esta exclusividade que Müller diz ser a essência do populismo? O PCP e o Bloco incluem os patrões e os pequenos empresários na sua definição do povo? O CDS preocupa-se com os direitos dos trabalhadores? Os comunistas fazem parte do povo que a ala neo-liberal do PSD diz representar? Os conservadores do CDS-PP e PSD que se opuseram ferozmente à legislação IVG e LGBT são contemplados nos programas políticos do PS? Não me parece. Podemos concluir, portanto, que o exclusivismo de que fala o professor alemão não é um exclusivo dos populistas. Assunto resolvido? Não. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A questão é mais complexa e a verdade mais sinuosa do que Müller supõe. Não obstante o dito exclusivismo, todos os partidos políticos que conheço praticam a arte da ambiguidade universalizante, perdoem-me a petulância linguística. Isto é: falam do “verdadeiro povo” mas também falam, de forma obliqua, do povo real que todos conhecemos, plural e irredutível a qualquer simplificação conceptual. A razão de ser desta desconcertante e hipócrita dualidade é bastante comezinha. Trata-se de uma estratégia comunicativa que visa reforçar a lealdade dos convertidos, reforçando a identificação tribal, e, ao mesmo tempo, seduzir potenciais eleitores com um universalismo simplista e fictício. Logo, o exclusivismo que preocupa Müller está sempre a ser parcialmente e cuidadosamente reformulado por forma a permitir a expansão eleitoral do partido. Neste sentido, todos os políticos, especialmente os políticos democráticos, são populistas. Não porque se focam obsessivamente no “verdadeiro povo” mas porque tentam, a todo o custo, universalizar a sua concepção de povo, tornando-a mais ambígua e abrangente. Tudo isto implica, claro, uma aversão profunda ao pluralismo, dado que o que de facto se pretende é a assimilação do falso povo no “verdadeiro povo” do populista, isto é, na sua base eleitoral. Esta tentativa da integração e supressão da pluralidade nunca é pacífica ou fácil de concretizar porque implica uma diluição calculada da suposta essência do “verdadeiro povo”, introduzindo uma contradição potencialmente corrosiva no esquema ideológico-identitário vigente. Somos social-democratas ou liberais? Somos “verdadeiros socialistas” ou seguidores da Terceira Via? Somos conservadores ou neo-liberais? Todas estas tensões incómodas resultaram fundamentalmente de cálculos eleitoralistas. É também importante não nos esquecermos do conceito da “tirania da maioria” de Tocqueville e de Mill. Para estes dois filósofos a possibilidade do populismo está inerentemente inscrita na lógica fundacional da democracia. É importante compreendermos o seguinte: o populismo não é apenas um fenómeno que é produzido por políticos demagogos. É, também, uma perversão muito natural da democracia. Afinal de contas, nenhum populista é capaz de criar uma cultura política.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD PCP
Aguardando o colapso do sistema político
Jair Bolsonaro encarna o autoritarismo político. Mas pode vir a ser um Presidente débil, sob a tutela do Poder Judicial e das Forças Armadas. (...)

Aguardando o colapso do sistema político
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Jair Bolsonaro encarna o autoritarismo político. Mas pode vir a ser um Presidente débil, sob a tutela do Poder Judicial e das Forças Armadas.
TEXTO: Haverá uma segunda volta nas presidenciais brasileiras. O ex-capitão Jair Bolsonaro dispõe de uma larga vantagem mas três semanas de campanha é muito tempo. Os termos do debate vão mudar. Limitamo-nos a três notas de enquadramento, sobre Bolsonaro, o “cisne negro” da campanha eleitoral, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o impacto destas eleições sobre o sistema político brasileiro. O ex-capitão tornou-se num fenómeno eleitoral, com uma irresistível dinâmica nos últimos dias. “De todos os candidatos competitivos, ele foi o único a registar uma alta consistente em todos os segmentos do eleitorado, em especial nos tradicionais redutos do lulismo. Conseguiu com isso estancar o movimento de ascensão do petista Fernando Haddad”, resumiu o jornalista Helio Gurovitz. Mas não foi suficiente para vencer na primeira volta. Se é um fenómeno, “ele tem raízes na sociedade brasileira. Há elementos que não apenas aderiram mas produziram o seu ‘mito’”, sublinha o politólogo Carlos Melo. “O ‘mito’ sustenta-se numa visão crítica, radical e sectária, que reage a um sistema político que, convenhamos, colapsou. ”A socióloga Esther Solano estudou durante meses as motivações dos seus eleitores. “Alguns que [antes] escolheram Lula, por ser um nome anti-sistema, votam hoje em Bolsonaro pelo mesmo motivo. ” Ele surge com a imagem “do político honesto” em contraponto com “a classe política corrupta”. “Compraram a ideia de que o PT é o partido mais corrupto do Brasil. ”A sua retórica do “bandido bom é bandido morto” encontra eco em vastas camadas que se consideram reféns da violência, “enquanto o criminoso está superprotegido pelo Estado”. A Bolsa Família e as quotas universitárias são interpretadas como incentivo à preguiça e a parasitar o Estado. Os movimentos identitários — negro, feminista ou LGBT — produzem o “caos social” e desestruturam a família tradicional. Os jovens identificam Bolsonaro como rebelde. “Se nos anos 70 ser rebelde era ser de esquerda, agora, para muitos desses jovens, é votar nesta nova direita, que se apresenta de uma forma cool, disfarçando o seu discurso de ódio sob a forma de memes e vídeos divertidos. ”Assinala Solana que “vivemos um momento de ascensão da extrema-direita no mundo e de frustração generalizada com a política”. Mas o caso brasileiro tem uma particularidade: “A extrema-direita não se construiu na retórica do inimigo externo”, como na Europa e nos Estados Unidos. “A ideia é que a ameaça vem de dentro: o jovem negro, o político de esquerda, o académico, a feminista. ”O Brasil progressista ignorou o que fermentava no fundo da sociedade. Haddad conseguiu os “mínimos” ao forçar a segunda volta. Paradoxalmente, uma eventual derrota será um tremendo choque mas não será uma catástrofe para o PT. O partido de Lula continua a ser o único partido brasileiro dotado de uma forte identidade. Um inquérito do instituto Datafolha, feito em Agosto, indica que o PT é o que reúne a maior simpatia dos brasileiros — 24%. Todos os outros grandes partidos, do Movimento Democrático Brasileiro (MBD) ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), não suscitam a identificação de mais de 4 ou 7% dos cidadãos — são apenas destinatários dos votos. Note-se que o PT deu um grande contributo para a polarização política que ameaça transformar-se em boomerang. Usou com eficácia, nas suas vitórias eleitorais, a estratégia do “nós contra eles”. Agora, escreve André Singer, um cientista político que foi porta-voz de Lula, parece que se estabeleceu um consenso: “O lulismo não pode ganhar eleições e, se as ganhar, não pode governar o Brasil. ” O lulismo parece ser um fenómeno enraizado e de longa duração como foi outrora o getulismo, reconhece Singer. Concluía Helio Gurovitz antes de Lula ter sido impedido de concorrer: “O candidato petista que vier substitui-lo poderá ganhar ou perder a eleição. Pouco importa. Enquanto a polarização em torno do partido prevalecer no sentimento do eleitor, o vitorioso só poderá ser o próprio PT. ” Se perder, será o líder da oposição. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Desta vez não se denuncia a “miséria” do sistema partidário brasileiro. Anuncia-se o seu colapso. Bolsonaro é o mais patente sintoma. O centro político — centro-esquerda e centro-direita — deixou de existir, o que anulou qualquer alternativa à competição entre os extremos do leque partidário. Se somarmos as taxas de rejeição dos dois candidatos, a força que domina a política é o “bloco dos anti”. Entretanto, duas instituições dão sinais de querem assumir a tutela da política e dos políticos. O Supremo Tribunal Federal já começara a exercer esse papel. Agora, o seu presidente parece aliar-se aos generais. Os golpes estão fora de moda. Há formas mais “institucionais” de autoritarismo e controlo social.
REFERÊNCIAS:
"Odiaria ser um totalitário do gosto"
Joaquim Manuel Magalhães publica neste mês de Novembro a mais recente reunião da sua poesia tal como a pretende preservar: Para Comigo. O poeta, o mais instigante ensaísta da poesia portuguesa, eminente tradutor de, entre outros, Kavafis, afirma querer concentrar-se apenas na escrita dos seus versos. (...)

"Odiaria ser um totalitário do gosto"
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.8
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Joaquim Manuel Magalhães publica neste mês de Novembro a mais recente reunião da sua poesia tal como a pretende preservar: Para Comigo. O poeta, o mais instigante ensaísta da poesia portuguesa, eminente tradutor de, entre outros, Kavafis, afirma querer concentrar-se apenas na escrita dos seus versos.
TEXTO: Seria difícil imaginar um poeta português de quem se aguardasse com tanta expectativa um novo livro de poemas como Joaquim Manuel Magalhães. Representa, na poesia portuguesa, algo diferente de um ponto de ruptura. A sua poesia constitui uma realidade muito menos unívoca. E, por isso, incomparavelmente mais aliciante. Nunca à sua escrita interessou o grito excessivo, fosse ele a declaração inflamada, ou a recusa “moderna” de uma prosódia próxima do falar, do discurso, da vida. Se usou e usa metros tradicionais, também subverte a unidade do verso, com processos que variamente boicotam o que é apenas a aparência plácida da tradição. Contrariando um entranhado viés cultural, o do “francesismo” (de que já Eça se sentia culpado), aproximou-se da tradição anglo-saxónica. Poetas norte-americanos tão diferentes como e. e. cummings, Wallace Stevens ou Frank O’Hara, mas também ingleses, como Philip Larkin, Thom Gunn, Ian Hamilton, ou Michael Hofmann, poderão ter criado afinidades, mas nunca continuidades ou seguidismos, na poesia de Joaquim Manuel Magalhães. Intersectava-os uma recusa muito heterogénea da grandiloquência, a expressão sóbria e desafectada, um apego indesmentível ao fugitivo “real”. Esse mesmo que viria a ser, entre nós, motivo de tantos desentendimentos, logros e mal-entendidos, num certo mundinho por vezes crismado de “meio”. É ainda possível ler, em Para Comigo: “Apenas o real. ” Talvez não por acaso, dois livros de Joaquim Manuel Magalhães se chamaram Consequência do Lugar, um título autónomo e uma reunião de parte da sua poesia. Estreado com Poemas (edição policopiada num envelope de António Palolo, 1974), desde cedo na sua bibliografia levou a cabo aquela que é a mais radical operação de reescrita da poesia portuguesa. Muito antes de chegarmos ao mais recente momento desse dinâmico reescrever, Para Comigo (Relógio D’Água, 2018), encetou diversas alterações, dentro dos poemas que integravam cada título autónomo. Em cada novo livro de poesia que publicava, ia rasurando e reagrupando, excluindo conjuntos, ou reduzindo-os em número de composições — numa imparável ordem de reescrita. Quando pela primeira vez coligiu os poemas que “pretend[ia] preservar”, como então escreveu, em Alguns Livros Reunidos (Contexto, 1987), fazia-a já “com inúmeras alterações”. E, uma vez mais, havia deslocações modificadoras de poemas, os quais, em certas instâncias, transitavam de um para outro grupo de textos. Nessa primeira reunião, autonomizaram-se dois livros que longamente permaneceriam isolados: Os Dias, Pequenos Charcos (Presença, 1981), Segredos, Sebes, Aluviões (Presença, 1985). Mais tarde, quando voltou a reunir, em Consequência do Lugar (Relógio D’Água, 2001), “o conjunto de livros que”, dizia, “sinto serem a primeira parte de uma obra que se pôde ir continuando”, manter-se-iam igualmente autónomos: Uma Luz com Um Toldo Vermelho (Presença, 1990), A Poeira Levada pelo Vento (Presença, 1993) e Alta Noite em Alta Fraga (Relógio D’Água, 2001). Foi, no entanto, Um Toldo Vermelho que mais intensificou a acção reorganizativa e modificadora da poesia reunida de Joaquim Manuel Magalhães. Uma “Nota” que encerrava o livro decidia, liminarmente: “Este volume constitui a minha obra poética até 2001, a que acrescento um poema publicado em 2005. Exclui e substitui toda a anterior. ” São palavras para serem tomadas à letra. Assim foi, e será, ao que tudo indica. Um Toldo Vermelho aglutinava num só volume livros anteriores submetidos a profundas e decisivas alterações. Um gesto que eliminava diversos nexos frásicos, carregando o tom elíptico, optando por uma textura muito menos narrativa do que declarativa. Mais do que relatar uma situação, a sua poesia passou a constatar o núcleo, o sumo de tudo. Ao longo de todo este processo, não se deve reter apenas o processo da escrita, mas o que parece ser uma vontade de declarar obliquamente. Talvez seja desaconselhável fixar demasiada importância num cotejo literal e obsessivo de variantes. Não apenas porque se trataria de um exercício de futilidade, mas por estarmos diante de realidades textuais que mutuamente se excluem. Se daqui resulta um paradoxo, poderá ser razoavelmente indiferente. No entanto, Um Toldo Vermelho e, sobretudo, o novo Para Comigo parecem compelir uma leitura autónoma do que se concentrou num só livro. Para Comigo constitui, hoje, o que Joaquim Manuel Magalhães pretende preservar e fixar da sua poesia. Tocado pelo serialismo de Anton Webern, transportou para a sua poesia actual a preocupação com a individualidade sonora de cada palavra que comparece nos seus poemas, de forma a evitar a repetição vocabular e a promover a exclusão sistemática de sonoridades que lhe desagradam na nossa língua. Todas estas preocupações, contudo, não devem fazer pensar numa poesia formalista, como a de Joaquim Manuel Magalhães de forma nenhuma é. O processo de reescrita da sua poesia prévia parece-lhe comparável ao que fez Carlos de Oliveira com as notificações que foi fazendo aos livros dele?Carlos de Oliveira é um dos poetas portugueses do séc. XX que eu mais admiro. Tive a sorte de o Eugénio de Andrade ter feito com que nos encontrássemos. Só estive essa vez com ele, mas ficou-me uma memória inapagável de amabilidade e generosidade. Era também um homem com uma presença encantadora. Admirei muito as mudanças que ele introduziu ao quase completo conjunto da sua obra, reunido a seguir em Trabalho Poético. Lembro-me de ter sentido um grande prazer em escrever sobre esse facto. É óbvio que tal atitude me marcou. O Herberto Helder deve ter sido o poeta português desse século que mais alterou a sua obra, mas desse trabalho nele nunca retirei admiração. (Aliás, se estivermos atentos, também encontramos uma grande pluralidade de alterações no Eugénio e no Cesariny, por exemplo. Contudo, também admiro poetas que nunca nada mudaram, nem uma vírgula, como Jorge de Sena, por exemplo. Odiaria ser um totalitário do gosto. Prefiro a consciência de cada um poder fazer o que mais lhe agrada, a ser guarda-fiscal de nenhuma atitude. )Contudo, eu tive que ir mais longe para conseguir recuperar um pouco da minha obra que passara a detestar, por razões não meramente declarativas, mas morfológicas e fonéticas. Pensei muito e quem me ajudou a perceber melhor o caminho por onde me re-encontrar foi uma profunda atenção à obra de Anton Webern, tanto musical como teórica. É a Anton Webern que devo, de facto, tudo o que me fez re-escrever e ficar feliz com isso. A sonoridade que busca tem alguma relação com a sua adopção do Acordo? Parece-lhe que ele o auxilia nessa procura fonética?O Acordo Ortográfico não me poderia auxiliar em nada. É uma mera convenção (ainda gostava de passar por outro antes de morrer). Ajuda a mente a ter de aprender regras ortográficas novas e esse processo contribui para o cérebro não se anquilosar em passados. Todas as rotinas de mim mesmo me inquietam, assim tive de fazer um tanto de ginástica neuronal, uma vez que detesto fazer ginástica física. Nunca percebi bem estas inquietações de alguns, a começar cá por casa. A primeira lição da caducidade das ortografias tive-a em muito pequeno. A minha avó recebeu um recado de uma funcionária, onde lhe dava conta da necessidade de chegar mais tarde por ter de ir à “miça”. A minha avó tentou corrigi-la e eu ouvi esta resposta educada: “A senhora percebeu, não foi? Então não se preocupe. ” (Gostei sempre do encantamento do erro, nos outros e em mim. )As ortografias terão de ter mais razoabilidade, mas no fundo são convenções com que se pode brincar. A fonética e tudo o daí para mais dentro já não se compadece com acordos. Dependem do evoluir da própria língua, tanto por via erudita como popular. Mas estas coisas aprendem-se ao aprender português. Razões metafísicas para se indispor com isto não passam da liberdade para alucinar. Julgo que haverá palavras que eu ortografo com acentos, por exemplo, sempre que tenho dúvidas de que uma homofonia qualquer me vá poder fazer perder o sentido do que escrevo. Aí não sigo o acordo. Mas também no tempo do anterior já o não seguia em várias ocasiões. Portanto, nada da ortografia me poderia ajudar nas minhas tentativas fonéticas ou morfológicas. Só existe uma alteração ortográfica, que pretendo que seja uma homenagem a Pessoa: o modo como ele grafou “desasocego”. (Embora esta situação, que na edição crítica das suas obras me entusiasmou e por quem estimei o perspicaz investigador, se tivesse tornado uma história um pouco suja quando ele aceitou escrever do modo que toda a gente o fazia, na sua edição vulgar. ) Por mim, fiquei muito feliz por poder manifestar o meu apreço pelo Pessoa e pelo seu Soares de um modo que não fosse uma citação de outro qualquer facto verbal de todos eles. Quando muda palavras de lugar no verso, as desloca, suprime outras, ou acrescenta, responde sempre a um “apelo” semelhante, a uma vontade igual, uma qualquer razão, ou razões? Que tipo de razões ou intuições aí haverá?Como explico no título que dei aos dois conjuntos de poemas, a partir da nova edição desenhada pela Vera Velez, não há intenção para fora de mim absolutamente nenhuma. Fiquei contente com a acalmia que em mim se instalou. Agora nunca mais olharei para este volume na Relógio D’Água. O Francisco Vale e o Carlos, seu filho, serão as pessoas práticas para tomarem conta do seu destino. Eu nada mais tenho a introduzir ou a retirar. Os livros passados desapareceram para mim. Sei que eles existiram, mas não quero saber deles. Agora volto a ter mente para trabalhar no muito que tenho pronto para isso. Pela legislação atual, se ainda se lembrarem de mim, podem publicar o que quiserem de aqui a setenta anos depois da minha morte (que vontade de rir). Podia dizer o que foi o Galopam [retomado em Para Comigo] desenhado por Vera Velez? Não teve edição comercial?Em 2014, pedi à Vera Velez — ela tem feito livros magníficos — se quereria fazer uma 2. ª edição de Um Toldo Vermelho e uma edição de um livro novo chamado Galopam. Ela fez-me dois livros lindíssimos e de um despojamento de gosto extremo. Assim o senti, quando os fui buscar. A tiragem de ambos os livros foi apenas de 100 exemplares cada um. Com esses livros escondi-me da maioria do público leitor. Nunca foram postos à venda e só os dei a amigos. Nunca ninguém revelou nada, pelo que estou muito agradecido. Agora que o tempo foi passando, comecei a sentir-me mais seguro no desprendimento das mundanidades poéticas, para que não tenho jeito, mais desprendido do mundo das vozes que peroram e até das imensas gargalhadas que dava quando encontrava na rede comentários. Diziam mal e eu ficava muito satisfeito. Ao menos, tudo isso me afastou de tornar-me um poeta vendável em demasia ou um mestre-escola a conduzir discípulos, sempre detestei e afastei alguém que eu sentisse que era isso. Só consigo gostar dos poetas que nunca se tornam isso verdadeiramente em vida. Decidi então juntar os dois livros, neste PARA COMIGO. Foi este o caminho. Certo ou imperdoável, é-me indiferente. E em relação à acalmia? Pode falar dela? Consegue explicar o que é?Uso acalmia para designar um enfado de que nunca me livrava com os meus livros de versos. Sempre que me chegavam às mãos não conseguia gostar deles. Quando comecei a poder juntar livros publicados, tentava resolver a situação com emendas parcelares. De novo não me sentia bem. Nunca gostei da minha poesia, mas no fundo tinha-lhe um inquietante amor, precisava daquilo para o meu dia-a-dia e para o meu equilíbrio íntimo. Não me pergunte porque precisava. Mas eu sentia que só por aí me libertaria do tédio que foi, para mim, ser professor durante tantos anos. Subitamente percebi. Publiquei a 1. ª edição de Um Toldo Vermelho. Mas senti que o livro estava mal organizado. Precipitara-me sobretudo nas sugestões que dera para a separação das estrofes. Revi tudo com os livros da Vera [Velez], os quais me mostraram imenso graficamente. Aprendi com ela acerca do espaço dos versos num livro. Sobretudo fui capaz de perceber que podia aplicar a ambos os livros os meus intuitos. Agora juntei-os e, repito a palavra, “acalmei” de todo aquele fervilhar. Nunca mais, sinto-o com segurança, mexerei em Para Comigo. Melhor dizê-lo mais enfaticamente que nunca mais o lerei. Só se alguém me apontar alguma gralha ou outra, o que eu reencaminharei para o Francisco e o Carlos se quiserem voltar a publicá-lo em qualquer altura. Estou tão grato a tanta gente que me ensinou. À Judith Beatriz de Sousa que me deslumbrou com a literatura no liceu de Vila Real, onde tive a felicidade de ela estar antes de vir a fixar-se no Camões de Lisboa. Nunca esquecerei Maria Helena da Rocha Pereira ou Vítor de Aguiar e Silva, na horrível Coimbra, gigantes e ambos atentos ao miúdo que lhes devia largar tanto disparate. Depois aprendi a própria forma como eu gostaria de ensinar com Vitorino Nemésio. Tudo tão bom e de imensa sorte. E posso perguntar alguma coisa sobre esse “muito que tem pronto”?Pode. Escrevi nestes anos imensa coisa. Não consigo escrever, mesmo pequenas notas, sem as minhas canetas de tinta permanente, os objetos que mais adoro e de que preciso em uníssono com os bicos muito grossos e os papéis por onde a tinta corre com prazer acrescentado. Dependo completamente delas para escrever seja o que for, nem as listas do que trazer do supermercado consigo fazer sem elas. Tudo aquilo que escrevi foi passado a fotocópias e desordenei por completo a própria ordem arbitrária. Depois guardei. Era uma montanha de fotocópias, mais de cinco mil, bastante mais. Saí do país com aquilo. Fui para a Grécia, Atenas. Durante três anos, mais de um mês cada ano, arranjaram um hotel com duas mesas no quarto de que eu não saía, a ver o que fazer com aquilo. Claro que saía, mas sempre no continente. Quem andava pelas ilhas era o Pratsinis e a mulher e o João. Sempre me dei mal com o mar e não era por se chamar Egeu ou Jónico que me punha a querer andar por ele. Esse trabalho resultou em imensos grupos de um poema só, talvez demasiado longos, ainda não sei. Grupo atrás de grupo vou eu começar a escrever agora, sem me lembrar de outra coisa senão a pequena vibração que lhes senti. Vamos a ver o que acontecerá. Se um livro, se dois. Isso ainda não sei. Até pode ser que resultem três. Por isso usei a palavra muito, é a que eu ouço de mim para mim. O seu poema Homossexualidade, concebe-o como libelo, síntese, nota, “documento histórico”, no sentido em que possa fazer especialmente referência (oblíqua ou não) a uma época específica? Ou foram (são?) todas as épocas assim? Ou há outro sentido, tensão organizadora, motivação?Quando escreviHomossexualidade foi um pouco por sentir que Portugal estava a afastar-se de vários países que eu respeitava. A maior mágoa, devo confessá-lo, foi o atraso relativamente a Espanha. Não acredito na função social da poesia, mas escrevê-lo foi tornar tudo mais óbvio para quem me tivesse lido. Desde a minha primeira publicação que nunca abdiquei de que a base do que escrevia tinha a ver com a minha identidade sexual. Fala um pouco da crítica portuguesa que nunca ninguém tivesse referido esse elemento essencial. Foi um espanhol (Miguel Casado) e um francês (Fernando Curopos) quem, naturalmente, falou pela vez primeira nessa obviedade e, para mim, banalidade. Em Junho de 2010, Portugal mudou, nesse aspeto. Pude logo nesse mesmo mês casar-me com a pessoa com quem vivia desde os meus 18 anos, em 1964. Este assunto, todavia, merece-me umas certas considerações. Em primeiro lugar, não foram os homossexuais por si só que conseguiram essa modificação. Foi o facto de a realidade da luta que começara, no mundo Ocidental, com os Stonewall Riots e se expandira pouco a pouco por todo esse mundo que começou a mostrar um caminho de afirmação a muitos homossexuais, se não a todos os homossexuais. Essa afirmação foi tendo múltiplos ecos expansivos. Mas só começou verdadeiramente a atuar no mundo social quando as/os heterossexuais compreenderam essa mesma luta. Foi o convencimento das/dos heterossexuais que conseguiu imenso ajudar a alterar as leis. Eles estavam maioritariamente nos locais que podiam proceder a essas alterações e fizeram-nas acompanhados por vários homossexuais a quem pediram ajuda para proceder a essa alteração. Se as/os homossexuais se voltarem para uma não relação prática e efetiva com o mundo maioritário das/dos heterossexuais que os escutam, terão muito a perder. Bom, isto é um pouco como o que se passou com o 25 de Abril. Dificilmente a oposição civil ao Estado Novo teria alguma vez sido capaz de um derrube desse regime, é um facto que nunca o conseguiu. Foram os militares, talvez só pudessem ser eles, que tudo derrubaram. Curiosamente nunca quiseram assumir um poder só para si. Pediram auxílio aos núcleos políticos que se agitavam no tecido português da altura. Esses políticos ajudaram os militares e o facto é que o novo regime nunca caiu em nenhuma tirania. Os homens contra a situação puderam avançar por os militares lhes terem aberto o caminho e pedido a sua ajuda. O mesmo com as alterações legislativas de 2010. Os homossexuais sempre combateram por esse espaço de equidade, mas nada puderam introduzir eles próprios nas leis constitucionais. Foi a crescente atenção dos heterossexuais politicamente representativos que, sem dúvida aconselhando-se com homossexuais, que permitiu essa mudança. Num certo sentido foram os heterossexuais quem permitiu a abertura aos homossexuais e ajudou na alteração legal. Foi um trabalho duro por parte das/dos homossexuais, mas foram heterossexuais quem pôde legislativamente avançar. Hoje, quando ouço ou leio referências a uma pseudo-heteronormatividade fico muito crispado. Primeiro, porque foram as/os heterossexuais a prescindir dos direitos que tinham para aceitar e incluir a pluralidade das orientações sexuais. Segundo, por terem tornado inteiramente iguais às deles todas as prerrogativas legais. Terceiro, porque entre as/os heterossexuais sempre houve distinções comportamentais muito claras, tal e qual quanto as havia entre as/os homossexuais (por isso invocar libidos pessoais tornando-as dogmáticas é não saber pensar: a libido é inelegislável e do foro sempre enigmático e belo de cada indivíduo). Todos os que falaram antes nessa heteronormatividade foram pensadores e ativistas que estavam a tentar pôr a claro as suas reivindicações. Depois de todas essas alterações em tantos países é um tanto absurdo repisar nelas nesses países. Se pensarmos em termos da globalidade das nações sem dúvida que teremos de ter sempre essa ideia presente, mas não entre os que já não têm normatividade contra que reagir. Não me esqueço, porém, que o movimento LGBTI será sempre de continuar ativo e nós a não nos afastarmos dele. O problema das normatividades encontra-se sempre preso não às maiorias sexuais, mas a quase todas as religiões que sufocam o mundo. São as religiões que introduzem essas normatividades e as fazem atuar. Não vale a pena perder mais tempo com esta óbvia questão. Por uma questão de verdade meramente biográfica, tenho alguns grandes amigos que são profundamente católicos e, por acaso, inteiramente heterossexuais. Foi onde encontrei sempre um espírito completamente livre em questões sexuais. Talvez por neles o facto religioso não necessitar nunca de se tornar um facto de moral oblíqua. Deve haver outros assim noutras religiões. Mas eles são indivíduos, as religiões são massificações alienantes. Só para concluir. Hoje em dia persiste a doença mais difícil de curar: a fobia. Penso que muita gente padece dessa fobia, entre as/os heterossexuais e entre as/os homossexuais. Mas isso é uma outra questão. Há por exemplo uma fobia, para lá da junção dos sexos, que diz: só a esquerda aceita o ser homossexual (uma parvoíce absoluta). Alguns dessa mesma esquerda portaram-se ridiculamente, fobicamente, quando um membro de um partido de direita se afirmou como homossexual. Fiquei envergonhado com o que li e ouvi. Este é um caso de homofobia por parte de homossexuais, o que me desgosta porque parecem esquecer-se dos séculos que se viveram e se esquecem do respeito que devemos pelas opções de cada um. Num poema seu, anterior, leio: “Detesto a poesia. Essa tarefa/ debruada de troca social. ” Detesta? O que acha mesmo sobre a poesia? O que lhe apetece dizer sobre ela?Repare. Embora a fonética da palavra “detesto” me mostre que está a referir poemas que me desagradam já, afirmo-lhe que continuo a pensar que detesto a poesia. Aquela que surge para ser poesia, a que se afirma antes de tudo o mais como cartão-de-visita, a que apressadamente procura de imediato um pedestal. Escrevem-se várias coisas que o tempo se encarregará de esquecer ou a que o tempo (dizendo melhor, o contínuo refazer dos gostos pelas várias épocas) lhes atribuirá um sentido. Querer ver para além disto, no imediato, sempre me pareceu má teoria (não sei se existe alguma boa sobre este assunto) e mau impulso. Sempre combati as imensas teorias com que me fui defrontando (tenho o testemunho de imensas pessoas de que nunca me ouviram defender nenhuma, pelo contrário sempre procurei desligar delas a sua atenção aos versos — é o acaso de se ser professor. Sempre me ri dos que se punham em bicos de pés para serem avistados com papéis agitados ao vento dos leitores. Isso mesmo em que me pareço tornar agora, não é?Há aquele poema seu, em que lhe dizem, depois de 74, que podia “deixar em paz os poetas ingleses”. Agora de que nacionalidade seriam esses poetas? Já não seriam espanhóis?Desculpe, mas eu não disse nada disso. Quando a seguir ao 25 de Abril me dirigi ao Diário de Lisboa onde sempre escrevi sobre a poesia inglesa que ia saindo, umas coisas pouco boas, mas que podiam talvez desviar para fora do francesismo dominante as atenções de quem podia ler. Cheguei lá e levava um texto sobre George Steiner (que não era um poeta). Publicaram-no, mas chegou um engajado qualquer ao pé de mim a dizer-me, com a alegria que ambos partilhávamos, que podia deixar de escrever sobre poetas ingleses. A insinuação era de que eu era livre agora para poder escrever sobre poetas portugueses o que, no seu pensamento, eu não faria por causa da censura prévia, sei lá. Nunca mais escrevi nada para esse jornal, sobretudo pelo choque de não perceberem que eu não estava a escrever nada contra o meu desejo. Eu quis escrever aquilo. Já antes eu havia falado sobre muitos poetas portugueses e continuaria a fazê-lo depois. Em poesia portuguesa, o que é que o Joaquim Manuel Magalhães não “deixa em paz”? Ou seja, o que é que lê com prazer, interesse, vontade?Sobre poesia portuguesa eu creio ler tudo, mesmo a situação atual de a melhor poesia estar em livros que não aparecem nas livrarias, por serem publicados em editores sem distribuição. (Também isso é irrelevante, porque também já não há livrarias. ) Leio porque leio, é um hábito que me ficou desde que me lembro, desde a altura dos meus 14/15 anos a amar a poesia da Florbela e do Gomes Ferreira. Tive um pai extraordinário, que só queria para mim o que eu quisesse, abriu-me uma conta numa livraria que ele depois pagava. Nunca pensou que eu lhe fosse gastar tanto dinheiro em livros, ainda por cima sendo ele um homem que nunca gostara de ler, poderia ter gostado, mas não gostou. O meu pai é uma figura cimeira na minha vida, um pouco mais acima de outro cimo que é a poesia portuguesa (sem esquecer que sempre a li em contraponto com a poesia de várias outras línguas). Nessa altura já era capaz de ler em francês e em inglês e em espanhol. Nunca fiz uma leitura provinciana da nossa poesia, por isso me espanto com as cotoveladas que os poetas dão uns aos outros por causa do seu lugarzinho efémero. Mas hoje sei bem que sempre foi assim e encolho os ombros. O que lhe sugere uma cidade, como Lisboa, sem livrarias? A situação no Porto não é excessivamente diferente, ressalvadas algumas excepções. Mostra-me um demasiado vazio, sobretudo por nesses armazéns apenas se encontrarem estes livros inúteis que dizem ter um público. Um gosto público que se abastece de nada, nem sequer sabe se gostará de ler. Gosta de ler o que para ali está. Mas em Londres, Paris, Madrid também já não há livrarias ou boas casas para poder comprar discos. Encontrei uma em Berlim, mas também já deve ter desaparecido. Falam em globalização. Mas onde encontrar tanto o antigo como o novo a não ser nas Amazon europeias ou equiparáveis? (Digo europeias por as de fora da Europa obrigarem a desalfandegações incomportáveis e abomináveis. ) Parece que os das alfândegas se estão a vingar das que perderam. Passa-se isso com tantas lojas tão úteis, como por exemplo as boas que existiam ligadas às belas-artes. Toda a gente se lembra de outras ainda, por certo. Parece-lhe que o “momento” da poesia portuguesa é especialmente interessante?Não sei nada de momentos, apenas sei de sentimentos. Tenho muito bons sentimentos para com a nossa escrita poética em volta do início dos anos 70. Já sabe que não irei falar do poeta pelo qual tenho mais afeto, por uma questão de decoro. Desde essa altura e avançando por ordem decrescente de idades, começava por referir obras de Alberto Pimenta, Fernando Assis Pacheco, António Franco Alexandre, Paulo da Costa Domingos, Rui Baião e Gil de Carvalho. Quase pela mesma altura, apareceu a obra do agora silencioso Fernando Luís Sampaio. Também José António Almeida. Mais adiante Rui Pires Cabral e José Miguel Silva, logo a seguir a eles Manuel de Freitas. Também Jorge Roque, mas ele é transgénero, escreve prosas e eu leio-as como poemas, não se deve zangar por eu dizer isto, espero bem. Não lhe parece que é para sentir uma emoção feliz?Espero não me esquecer de alguém. Que me insinuaria?Entre os mais novos, estou muito atento a três. Frederico Pedreira, Sebastião B. Cerqueira e Fábio Neves Marcelino. Lembro-me, ou creio que me lembro, de dizer que traduzir era bom para não escrever, ou (o tom pareceu-me esse) porque não escrevia, porque traduzia. Se me lembro bem, e disse isto, ainda se aplica, para si? Continua a traduzir? Posso saber alguma coisa sobre isso, e sobre o que acha da tradução, tal como a faz?Pergunta excelente para poder continuar a responder à anterior. Ler poesia estrangeira sabendo a língua original é um ato de tradução muito profundo. Quando me deu para traduzir, só traduzi porque gostava de o fazer com alguns autores. Porque num certo momento da minha vida gostava dessa atividade. Hoje não gosto, por isso não me vejo a traduzir mais seja o que for. Tal como não me vejo a escrever mais artigos sobre qualquer coisa. Perdi o gosto e foi uma boa conquista, pois pude caminhar mais para dentro de mim. Continuo, porém, esse ato de tradução que é ler em línguas estrangeiras, sobretudo os que vão sendo o mais recente, sem o que sufocaria. Nesse campo, contudo, parece-me que só houve uma tradução que me tivesse dado e continue a dar um grande gosto. Foram os poemas todos que Kavafis nos quis deixar. É a única tradução completa e talvez a que tenha menos erros. Mas não sou eu quem se deve pronunciar. Só um crítico que saiba mesmo grego moderno. Os que não sabem ou devem ficar calados ou não trepidar não sei por que mecanismos pessoais. Foi para mim uma tradução fulcral, não só pelo desde sempre tão amado poeta, como pela companhia da figura imensamente culta que partilhou comigo a tradução, o Nikos. Estou sempre a aprender coisas sem fim com ele, mesmo fora do campo estrito de Kavafis. Às vezes passamos um dia a falar e ao fim do dia traduzimos uma estrofe. Havia um intuito de traduzir os poemas inacabados que ficaram depois da sua obra, mas já nem isso me apetece, não iria acrescentar grande coisa, apenas satisfazer curiosidades. Não quero, repito, perder mais tempo com outras coisas que não sejam os meus versos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Devo depreender que não quer dizer mais sobre o ter deixado de querer traduzir e escrever artigos?Ter deixado de traduzir ou de escrever artigos foi um ato de limpeza que resultou de um modo retumbante comigo. Traduzir é perder tempo, dá muito trabalho, a maior parte das vezes as coisas ficam tortas em português e percebemos logo que não resultam bem e não pode ser de outra forma. Os artigos têm um peso que nos entristece, percebemos no sangue quanto tudo é passageiro e ficamos sem fôlego para o que gostamos mesmo de viver ou escrever. Agora percebo isso. Ajudou-me a respirar melhor, como a poesia sempre faz. E a ter todo o tempo que me resta (e que será sempre pouco) apenas para me entregar a ela. Nunca gosto de falar de poesia de um modo tão abstrato, sinto-me ridículo. Por isso digo que o que aconteceu com as traduções de poemas e com os artigos tem a ver com uma alteração radical dentro de mim. A casa da praia e o que havia em Lisboa foi tudo vendido depois de termos passado a viver aqui. Senti-me tão bem neste largo espaço que já nem compreendia como viver fora dele. É cerca de uma aldeia da freguesia do Carvalhal, que pertence ao Bombarral, fica a três quartos de horas de camioneta direta até Lisboa. Mas é mais do que suficientemente longe, está longe de ser o que chamamos um arrabalde. O Carvalhal é muito bonito, mas eu vou sobretudo ao Bombarral. É uma vila meia morta, com ruínas, uma grande mata e onde as pessoas são muito simpáticas. Gosto daquela tranquilidade meio ativa, do café a que vou, entre outras coisas mais. Fazer esta escolha foi muito benéfico. Deixar as outras casas, como deixei as traduções e os artigos, fortaleceu-me as “emotions recollected in tranquility” (do Wordsworth de quem gosto muito e que foi o primeiro poeta que tratei nas minhas primeiras aulas) com muito mais vigor e com uma passagem do tempo muito boa. No fundo está tudo como bom estrume donde os versos brotem. Senti sempre Lisboa como uma pequena cidade absurda, vou lá para um ou outro pequeno afazer e logo volto. Que ninguém pense em bucolismo, sou o invés desse tema. Pense-se antes num “hortus conclusus” (no seu sentido latino original, sem qualquer ligação ao modo como o cristianismo o folclorizou) até onde me chega (graças à internet) o recente de tudo quase dois dias depois de ter sido posto à venda. Talvez se trate, também, de extravagância, uma coisa de que gosto imenso. Nota: Esta entrevista foi feita por escrito. As perguntas e demais textos seguem o Acordo Ortográfico de 1945. JMM segue o Novo Acordo Ortográfico. “Aderi ao acordo ortográfico imediatamente, um acordo é algo irrelevante para a língua, só os místicos fumarentos supõem que é importante, mas não passa de uma renovação de feitiços. ” (JMM)
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
Há cogumelos capazes de decompor plástico em semanas
Os Reais Jardins Botânicos de Kew compilaram, num só relatório, toda a informação disponível sobre cogumelos. No documento consta uma espécie capaz de decompor plástico e outra que produz biocombustível. (...)

Há cogumelos capazes de decompor plástico em semanas
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.15
DATA: 2018-09-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os Reais Jardins Botânicos de Kew compilaram, num só relatório, toda a informação disponível sobre cogumelos. No documento consta uma espécie capaz de decompor plástico e outra que produz biocombustível.
TEXTO: Aspergillus tubingensis é o nome da espécie de cogumelos com uma particularidade única: é capaz de comer plástico. A solução para combater os resíduos plásticos poluentes pode, afinal, estar na própria natureza, avançam cientistas dos Reais Jardins Botânicos de Kew, no Reino Unido — e isto apesar de a investigação estar ainda numa fase inicial. Aquela instituição elaborou um relatório — State of World’s fungi —, o primeiro do género, no qual reuniu toda a informação conhecida sobre cogumelos e onde dá conta das várias funções, mais-valias e ameaças que as várias espécies representam para o ecossistema. Entre eles estão os Aspergillus tubingensis, com uma "dimensão similar à de pequenos tomates", que em semanas foram capazes de decompor um tipo de plástico muito utilizado para o isolamento de arcas congeladoras e couro sintético. O polyester polyurethane demora anos a decompor-se. Esta característica especial destes fungos pode ser desenvolvida pelos cientistas e, assim, ajudar a contornar o crescente problema relativo ao excesso de plástico que o planeta encara. A este cogumelo com um invulgar apetite por plásticos, soma-se ainda uma lagarta, uma enzima e um fungo que vive na costa portuguesa. Mas as curiosidades sobre estes fungos — elencadas no relatório dos Reais Jardins Botânicos de Kew — não ficam por aqui. Os diferentes usos dos cogumelos oscilam entre a utilização medicinal e nutricional e à produção de novos tipos de biocombustíveis, além de poderem ajudar no fabrico do papel. São capazes de auxiliar, inclusive, algumas plantas a desenvolverem-se mais rápido, bem como controlar as variações térmicas das mesmas. O Daldinia eschscholtzii, por exemplo, é um fungo capaz de produzir bioetanol, um biocombustível "de segunda geração", explicou Ester Gaya, investigadora dos Jardins Kew que esteve envolvida na elaboração do relatório. Esta e outras espécies, acrescentou, vivem no interior de uma planta e “decompõem os resíduos de celulose (resíduos da agricultura) em açúcares, que são fermentados pela levedura em etanol". "O recente desenvolvimento de carros eléctricos alimentados por células a combustível de etanol manterá vivo o interesse na produção de bioetanol”, assegurou. O potencial dos cogumelos para a produção de biocombustíveis, de uma forma mais económica e sustentável, eleva-se. Os famosos cogumelos alucinogénios, por outro lado, são de várias espécies e remontam até à Idade da Pedra, explicou a especialista. “Como qualquer outra droga, e sendo proibido, envolve sempre algum misticismo”, apontou. “Os efeitos dependem do número de cogumelos consumidos, já que produzem efeitos do tipo alucinogénio, similares aos do LSD. ”Em Portugal e Espanha, enumerou Ester Gaya, há ainda a tradição de colher cogumelos para depois os cozinhar. Todos os anos são notícia pessoas que morrem após a ingestão de cogumelos venenosos. “Existem muitas espécies que podem ser confundidas com as comestíveis e é preciso levá-las a sério. Uma intoxicação pode ir de uma simples dor de barriga a uma destruição do fígado", apontou a especialista. "É melhor ter cuidado. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas os cogumelos também podem danificar o ecossistema, ao espalhar rapidamente as doenças que transportam. O Uredo rangelii é capaz de afectar mais de mil espécies nativas de plantas ao mesmo tempo. O fungo é nativo da América do Sul e as suas cores variam entre o amarelo e o laranja, sendo por vezes rodeadas por um anel roxo. Apesar de a ciência ter dado nome a pouco mais de 140 mil, a instituição britânica dá conta da possibilidade de existirem mais de três milhões de espécies de fungos. Segundo Ester Gaya, na base dessa disparidade de números está o facto de a maior parte dos fungos não serem visíveis a olho nu. “Nós não os vemos, não sabemos onde estão. Podem estar escondidos no solo, nas suas entranhas. ” “O outro problema é que temos fungos de muitas espécies crípticas [morfologicamente idênticas], parecem ser semelhantes mas, na verdade, são espécies diferentes”, acrescentou. Só na China, já foram reportadas mais de mil espécies comestíveis e quase 800 com usos medicinais. Texto editado por Ana Maria Henriques
REFERÊNCIAS:
Exibição de bandeiras da FLAMA coincide com novas ameaças de Jardim a Lisboa
Bandeiras da Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira (FLAMA) surgiram esta manhã em vários locais do Funchal. Esta acção, que ocorre no dia em que a Madeira celebra o Dia da Região, assinalado com feriado regional, é acompanhada pela divulgação de um comunicado atribuído àquele movimento, que volta a defender a independência do arquipélago. (...)

Exibição de bandeiras da FLAMA coincide com novas ameaças de Jardim a Lisboa
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2011-07-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Bandeiras da Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira (FLAMA) surgiram esta manhã em vários locais do Funchal. Esta acção, que ocorre no dia em que a Madeira celebra o Dia da Região, assinalado com feriado regional, é acompanhada pela divulgação de um comunicado atribuído àquele movimento, que volta a defender a independência do arquipélago.
TEXTO: "Hoje, 1 de Julho de 2011, dia daquela autonomia que não merece festejos, os madeirenses despertaram com o seu arquipélago engalanado com a sua Bandeira e, passados 35 anos é uma boa altura para reflectir sobre o que a FLAMA sempre propôs e muitos aceitaram de braços abertos e outros, tiveram dúvidas", diz o comunicado enviado por e-mail à comunicação social. "Se os comunistas num país livre podem actuar à vontade, porque é que a Flama não pode actuar à vontade?", comentou o presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, questionado sobre esta iniciativa, que coincide com as suas novas ameaças ao Governo de Passos Coelho. "A partir do momento em que há casamentos gay, por que razão não pode haver pessoas que pensem a favor da independência?", alegou o também membro do Conselho de Estado, acrescentando que, pelo código penal, isso "não é proibido". "Só não podem actuar por meios violentos e ilegais em defesa da independência", frisou. Segundo defendeu hoje Jardim, antes da cerimónia oficial de atribuição de insígnias a personalidades regionais, "o referendo [sobre a independência] é um caminho possível se o Estado português persistir na concepção de Estado Unitário e não der à Madeira, no quadro de unidade nacional, os poderes autonómicos que nós, neste momento, necessitamos". E advertiu: "Agora é preciso Lisboa tomar cuidado. Pois se continuar numa posição colonialista, obviamente que Lisboa arrisca-se ao crescimento do movimento independentista". No entanto, "nas presentes dificuldades económicas europeias e na necessidade que temos de estar na UE monetária", Jardim admite que a independência "não seria a evolução aconselhável para o povo Madeirense". Na última edição “Madeira Livre”, mensário do PSD regional, o líder madeirense, deixou algumas ameaças ao novo primeiro-ministro. Anunciando que vai “rapidamente fazer o PSD-nacional cumprir os seus compromissos eleitorais com a Zona Franca, Jardim ameaçou o governo de Pedro Passos Coelho, que “se a República nos negar direitos que são indiscutíveis”, então “temos de assumir a coragem para pensar em caminhos futuros diferentes”. O comunicado atribuído à FLAMA, numa alusão à “dependência de Portugal”, diz que “alguns venderam-se por uma autonomia que funciona assim: quando tudo corre bem, os portugueses não cumprem os mínimos a que se comprometeram; quando tudo corre mal, acham que nós devemos solidariedade e o Governo Regional concorda!”. E, tal como Jardim defende, ressalva que neste momento não está em causa a Madeira ser independente, porque “ninguém o é. O que exigimos é sermos nós a negociar a nossa dependência, visto que Portugal endividado, envergonhado e pobre, luta por manter a cabeça fora de água e, se a mantiver, é para viver em agonia durante anos! Vejam o que aconteceu com a zona franca, por má fé de Portugal”. Acções atribuídas à FLAMA têm surgido sempre que a Madeira atravessa maiores dificuldades, quer políticas, sobretudo quando está em causa o reforço de poderes regionais em momentos de revisão constitucional, quer financeiras, em períodos de falta de liquidez regional ou de negociações de transferências financeiras do Estado, que esta semana estão na agenda das reuniões em Lisboa entre membros do governo regional e do novo executivo da República.
REFERÊNCIAS:
Francisco Assis defende adopção de crianças por casais do mesmo sexo
O candidato à liderança do PS Francisco Assis defendeu hoje a adopção de crianças por casais do mesmo sexo e propôs que os jovens com mais de 16 anos possam já votar em eleições internas dos socialistas. (...)

Francisco Assis defende adopção de crianças por casais do mesmo sexo
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O candidato à liderança do PS Francisco Assis defendeu hoje a adopção de crianças por casais do mesmo sexo e propôs que os jovens com mais de 16 anos possam já votar em eleições internas dos socialistas.
TEXTO: As posições de Francisco Assis foram manifestadas na apresentação da sua moção à Juventude Socialista, encontro durante o qual também advertiu que se baterá por ampla renovação das listas de candidatos do seu partido nas eleições autárquicas de 2013 – uma renovação a todos os níveis e não apenas dos candidatos a presidentes de câmaras. Falando de uma das principais bandeiras políticas da JS, Francisco Assis começou a sua intervenção garantindo que é a favor da adopção de crianças por casais do mesmo sexo. “Durante muito tempo tive dúvidas [sobre a adopção de crianças por casais do mesmo sexo], mas neste momento sou favorável, porque percebi que essas dúvidas se alicerçavam no puro preconceito”, declarou Francisco Assis, depois de o líder da JS, Pedro Alves, numa intervenção anterior, ter defendido que já não merece qualquer oposição na sociedade portuguesa a questão do casamento homossexual. Na sua intervenção, o ex-líder parlamentar do PS sustentou que, no processo de abertura do PS ao exterior, se deverá ter em atenção a questão da participação política jovem. “A exemplo do que já sucede em outros países, gostaria muito que os militantes da JS, que aqueles que já assumiram um compromisso cívico com a vida política, que estão na faixa etária entre os 16 e os 18 anos, também pudessem participar nos processos de escolha dos candidatos do PS. Com isso, nós estaremos não só a abrir mais o partido ao exterior, mas também aos mais jovens”, disse. Segundo Assis, esses jovens “já têm consciência política, porque se não a tivessem não teriam aderido a uma organização de juventude como a JS”. “São jovens que já têm vontade de participar no debate público, mas que se sentem um pouco frustrados, porque já têm todas as condições para participar e, depois, na hora da verdade, não podem. Recordo-me que, quando tinha 15 ou 16 anos, já tinha opiniões, já participava nas discussões, já tinha vontade de dar algum contributo, mas na hora decisiva não podia fazer. Dentro do PS, não há nenhuma razão para que esses jovens, esses novos militantes do socialismo democrático não possam dar o seu contributo”, argumentou. Em relação às próximas eleições autárquicas, Francisco Assis disse esperar que “não haja apenas uma grande renovação de candidatos a presidentes de câmaras, porque essa renovação é um dado adquirido pela aplicação da lei de limitação de mandatos”. “Espero que haja uma profunda renovação dos nossos eleitos para os órgãos autárquicos do país. A última renovação de fundo que fizemos já foi em 1989, já lá vão mais de 20 anos. Espero que estas eleições sejam um momento de grande renovação”, disse.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Rick Perry contra Barack Obama em 2012, ou a batalha de duas Américas
A América pode não conhecer muito bem Rick Perry, o governador do Texas, que acaba de anunciar a sua candidatura à presidência, mas a reputação precede-o. Em 2010, foi capa da revista Newsweek, com as suas botas de cowboy em primeiro plano e calças suficientemente arregaçadas para revelar uma incitação digna de um Dirty Harry: "Come and take it." Quando faz jogging, Perry nunca se esquece de levar a sua pistola carregada. E, no início deste mês, organizou um megaevento religioso num estádio em Houston para rezar por um "país em crise". (...)

Rick Perry contra Barack Obama em 2012, ou a batalha de duas Américas
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A América pode não conhecer muito bem Rick Perry, o governador do Texas, que acaba de anunciar a sua candidatura à presidência, mas a reputação precede-o. Em 2010, foi capa da revista Newsweek, com as suas botas de cowboy em primeiro plano e calças suficientemente arregaçadas para revelar uma incitação digna de um Dirty Harry: "Come and take it." Quando faz jogging, Perry nunca se esquece de levar a sua pistola carregada. E, no início deste mês, organizou um megaevento religioso num estádio em Houston para rezar por um "país em crise".
TEXTO: Tudo isto pode parecer colorido para um leitor do New York Times ou do Washington Post, mas também extremamente irresistível - e normal - no coração da América. Ao anunciar a sua candidatura no sábado na Carolina do Sul, Rick Perry enfatizou orgulhosamente as suas credenciais como um produto da "small town America". O seu sotaque texano serviria como uma luva a um episódio de Bonanza. A primeira palavra do seu discurso no sábado? "Howdy. "Os comentadores políticos do Texas vão avisando que convém não subestimar Rick Perry, que se encontra no seu terceiro mandato como governador do Texas e nunca perdeu uma campanha eleitoral, mesmo quando a sua vitória parecia improvável. E, de facto, a imprensa americana parece estar a levá-lo a sério: assim que o governador republicano oficializou a sua candidatura, os jornalistas começaram a imaginar o que seria uma corrida Obama-Perry em 2012: "Uma guerra entre as duas Américas", concluiu Michael Tomasky no Daily Beast. Descubra as diferençasA entrada de Perry na disputa das primárias republicanas gerou um entusiasmo imediato de que nenhum dos outros candidatos se pode vangloriar. As sondagens dão-lhe já o segundo lugar entre os favoritos, a pouca distância do candidato que até agora tem liderado as preferências dos eleitores republicanos, Mitt Romney. O governador do Texas, que ainda em Maio dizia que não seria candidato à presidência, foi cortejado por activistas conservadores desiludidos com as opções no campo republicano. Que o Partido Republicano esteja tão disposto a abraçar outro governador do Texas como Presidente depois das más memórias que George W. Bush deixou entre os conservadores é revelador do antagonismo que Obama cria na direita americana. De facto, Perry parece ter mais do que uma semelhança com Bush: o mesmo tom coloquial e simples, um estilo agressivo, muitos sorrisos de auto-satisfação e polegares em riste. Mas, de novo, os observadores da política texana avisam: Bush tinha, apesar de tudo, ambições de ser uma figura de unidade, conciliatória; Perry, escreveu o analista do Texas Monthly Paul Burka, "é o tipo de político que prefere ser temido, em vez de amado - ou respeitado". O governador do Texas tem outra característica que o distingue de Bush: é um "conservador fiscal", alguém que se opõe à tributação fiscal e que considera que o governo federal é a raiz de todos os males na América, algo que se tornou na bandeira do Partido Republicano nos últimos dois anos e que lhe permitiu reinventar-se - com a generosa contribuição do Tea Party - depois de George W. Bush. Contra a "miséria nacional"Também há quem note que Bush só se tornou conservador para ganhar a Casa Branca, ao passo que Rick Perry é "the real deal", a coisa autêntica. Antiaborto, anticasamento gay e pró-armas, é apontado como o único candidato republicano com capacidade para unir o establishment republicano e o Tea Party. Mitt Romney tem o apoio do mundo empresarial e dos republicanos ricos, mas é visto com desconfiança pelo Tea Party; Michele Bachmann é popular junto dos ultraconservadores do Tea Party, mas o partido não acredita que a sua campanha possa ter um apelo nacional. Perry tem um pé nos dois mundos. O seu discurso de 20 minutos no sábado foi, sobretudo, uma crítica severa de Obama: Perry denunciou as políticas perdulárias do Presidente, a quem acusou de "prolongar a miséria nacional" e diminuir o estatuto da América no mundo, sob o forte aplauso dos 600 conservadores que o ouviam. A imprensa americana notou que o seu discurso foi o equivalente político de atirar carne crua a uma jaula de leões. O governador do Texas também sublinhou o seu currículo como "criador de emprego": o Texas é responsável por 40 por cento dos novos empregos criados nos EUA desde Junho de 2009 - precisamente, uma área em que o país está desapontado com Obama.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Detido mexicano suspeito de planear ataque na Jornada Mundial da Juventude
A polícia espanhola deteve um cidadão mexicano, estudante de Química em Madrid, por alegadamente estar a planear um ataque contra todos aqueles que planeiam manifestar-se contra o Papa Bento XVI durante a Jornada Mundial da Juventude, a decorrer na capital espanhola. (...)

Detido mexicano suspeito de planear ataque na Jornada Mundial da Juventude
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: A polícia espanhola deteve um cidadão mexicano, estudante de Química em Madrid, por alegadamente estar a planear um ataque contra todos aqueles que planeiam manifestar-se contra o Papa Bento XVI durante a Jornada Mundial da Juventude, a decorrer na capital espanhola.
TEXTO: O suspeito, identificado como José Pérez Bautista, planearia atacar todos aqueles que se manifestassem contra o Papa com “gases asfixiantes e outras substâncias químicas”, indicou a polícia. Pelo menos um milhão de jovens católicos de todo o Mundo está em Madrid para um encontro de seis dias. O Papa Bento XVI chega amanhã à capital espanhola e os custos da organização do evento já estão a motivar protestos e manifestações por parte de membros do colectivo “Indignados” e por parte de membros de organizações de defesa dos direitos dos gays e transexuais. As autoridades indicaram que o suspeito foi detido durante o dia de ontem e que se está a especializar em Química orgânica. Os agentes que revistaram o seu apartamento encontraram um disco externo e dois compêndios com equações químicas não relacionadas com as suas pesquisas e um computador “alegadamente usado para recrutar na Internet” outros seguidores para a sua causa. Fontes da polícia espanhola sublinharam que nos últimos dias este homem tinha participado em fóruns ultraconservadores, frequentados por cristãos devotos. Nas suas intervenções, o suspeito não evitava palavras desrespeitosas contra todos aqueles que se opõem à visita do Papa, afirmando ser preciso acabar com essas pessoas “o quanto antes” e que, para tal, bastaria fabricar gás sarin - um gás letal que foi usado nos atentados do metro de Tóquio - com o qual se poderia “matar 200 ou 400 pessoas de uma só vez”, indica o “El País”. O suspeito também chegou a dizer como fabricar ácido sulfúrico e outras substâncias corrosivas ou explosivas. Depois dos atentados na Noruega, a polícia espanhola resolveu não correr riscos e deteve imediatamente o cidadão mexicano.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homem