A visita mais difícil do Papa no meio da crise de pedofilia
Bento XVI encontra-se já hoje com vários líderes políticos católicos que são divorciados, recasados, homossexuais e contestatários. (...)

A visita mais difícil do Papa no meio da crise de pedofilia
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-09-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Bento XVI encontra-se já hoje com vários líderes políticos católicos que são divorciados, recasados, homossexuais e contestatários.
TEXTO: É a visita mais difícil de Bento XVI ao seu país, enquanto Papa. Bento XVI chega hoje a Berlim para quatro dias que incluem um momento simbólico: um discurso no lugar onde viveu Martinho Lutero, o monge iniciador da Reforma protestante. Mas na sombra de Bento XVI estarão os casos de pedofilia do clero, que levaram a que, só em 2010, 181 mil católicos tenham deixado de pagar o imposto religioso, formalizando o abandono da instituição. Esta terceira visita de Bento XVI ao seu país terá que vencer vários obstáculos: as contestações anunciadas, incluindo os 100 deputados que não ouvirão hoje o discurso do Papa no Bundestag, os casos de pedofilia, as questões ecuménicas, as críticas ao discurso moral rígido. É certo que, há um ano, no Reino Unido, o Papa transformou uma viagem contestada em quatro dias de relativo sucesso. Uma sondagem desta semana diz que o número de pessoas que se considera religiosa neste país passou de 38 por cento, antes de Bento XVI lá ter estado, para 47 por cento logo a seguir e 50 por cento, agora. Leia mais no PÚBLICO de hoje e na edição online exclusiva para assinantes.
REFERÊNCIAS:
Cidades Berlim
Federação pela Vida quer que Parlamento altere leis do aborto e do divórcio
A Federação Portuguesa Pela Vida lança esta sexta-feira uma petição que visa a alteração de leis que defende estarem a “corroer o tecido social do país”, como os diplomas que permitiram o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que despenalizou o aborto até às 10 semanas e o que facilitou os divórcios. (...)

Federação pela Vida quer que Parlamento altere leis do aborto e do divórcio
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento 0.2
DATA: 2012-03-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Federação Portuguesa Pela Vida lança esta sexta-feira uma petição que visa a alteração de leis que defende estarem a “corroer o tecido social do país”, como os diplomas que permitiram o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que despenalizou o aborto até às 10 semanas e o que facilitou os divórcios.
TEXTO: Intitulada “Defender o Futuro”, a petição vai ser lançada no 2º Congresso da Federação Portuguesa Pela Vida (FPV) e tem o apoio de figuras públicas como Bagão Félix, Gentil Martins, Braga da Cruz, Ribeiro e Castro e João César das Neves. “Portugal afunda-se hoje numa profunda crise económica e social, a que não é alheia a teia legislativa dos últimos seis anos de governação, destruidora dos pilares estruturantes da sociedade”, sustentam os autores da petição. Além das leis acima referidas, pretendem que o Parlamento altere ou revogue, no todo ou em parte, outros diplomas, como o da Procriação Medicamente Assistida e embriões excedentários, a lei sobre educação sexual e o decreto-lei sobre o financiamento do ensino particular e cooperativo. Recordando que estas leis “foram sempre objecto da voz crítica do Presidente da República”, os autores da petição consideram que as alterações que preconizam serão “instrumentos indispensáveis para saldar o défice e a dívida, assegurar a sustentabilidade do Estado Social e sair da crise em que o Governo anterior nos deixou”. Em entrevista à Agência Eclesia, a presidente da FPV, Isilda Pegado, considera mesmo que os diplomas aprovados pelo anterior Governo “foram, em larga escala, causa da crise que Portugal está a atravessar”, sobretudo ao nível da “estruturação da sociedade” e da “natalidade”. “Com a mudança ocorrida na política portuguesa, não há razão nenhuma para as normas se manterem como estão”, acrescenta.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei educação social sexual
Desvendado o mistério do que faz nadar os espermatozóides
A genética não estava na lista dos fantasmas da reprodução quando Woody Allen escreveu no seu filme O ABC do Amor, de 1972, a parte O que é que acontece durante a ejaculação?, na qual a caricatura do cérebro de um homem, que mais parece um quartel-general, se prepara para uma relação sexual. Além da culpa religiosa, na forma de um padre, ter tentado dar cabo da erecção ao homem, um espermatozóide interpretado por Woody Allen temia um desfecho indigno para a sua vida, caso ficasse preso num preservativo, descobrisse que o seu dono estava a ter uma relação homossexual ou a companheira tivesse tomado a pílula e não houvesse óvulo para fertilizar. (...)

Desvendado o mistério do que faz nadar os espermatozóides
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-08-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: A genética não estava na lista dos fantasmas da reprodução quando Woody Allen escreveu no seu filme O ABC do Amor, de 1972, a parte O que é que acontece durante a ejaculação?, na qual a caricatura do cérebro de um homem, que mais parece um quartel-general, se prepara para uma relação sexual. Além da culpa religiosa, na forma de um padre, ter tentado dar cabo da erecção ao homem, um espermatozóide interpretado por Woody Allen temia um desfecho indigno para a sua vida, caso ficasse preso num preservativo, descobrisse que o seu dono estava a ter uma relação homossexual ou a companheira tivesse tomado a pílula e não houvesse óvulo para fertilizar.
TEXTO: Mas um problema mecânico bastante mais simples poderia provocar um falhanço semelhante: o espermatozóide interpretado por Woody Allen poderia ter a cauda "partida" e, assim, não conseguiria nadar até ao alvo. Na vida real, esta pode ser uma causa de infertilidade com origem genética, de acordo com os resultados de uma equipa de cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, que descobriu o processo de formação das estruturas que dão mobilidade à cauda (o flagelo) dos espermatozóides da mosca-da-fruta. Os resultados foram publicados nesta segunda-feira na revista Developmental Cell. Existem algumas células no corpo humano que se distinguem das outras por formarem estruturas que se parecem com caudas e que abanam, explica Mónica Bettencourt Dias, líder da equipa do IGC e autora do artigo. Os pulmões, por exemplo, têm células à superfície com cílios, que servem para expulsar partículas nocivas. No caso dos espermatozóides, como não estão presos a nada, este movimento permite às células sexuais masculinas moverem-se até ao óvulo e fecundá-lo. A equipa da investigadora estudou moscas-da-fruta que tinham uma mutação no gene que comanda o fabrico da proteína BLD10. "Estas moscas eram completamente estéreis", revela a investigadora. E na origem desta esterilidade está a estrutura que dá a mobilidade à cauda do espermatozóide e permite que ele nade. O grupo de Mónica Bettencourt Dias dedica-se a estudar o esqueleto das células - um importante "órgão" que, entre várias coisas, é responsável por separar correctamente os cromossomas durante a divisão celular, para que cada célula fique com os 23 pares no final da divisão, nem mais, nem menos. Uma das estruturas deste citoesqueleto são os microtúbulos: tubos finíssimos que se formam pela acumulação de pequenas proteínas esféricas. Além de fazerem a separação normal dos cromossomas durante a divisão das células, os microtúbulos são responsáveis pela formação dos flagelos nos espermatozóides e dos cílios nas células dos pulmões. No caso dos espermatozóides da mosca-da-fruta, estes microtúbulos formam um flagelo com dois milímetros, o que é 40 vezes maior do que o humano. A equipa, que inclui também cientistas do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, em Oeiras, descobriu que o início da formação do flagelo acontece numa fase muito primária do desenvolvimento dos espermatozóides e está intimamente ligado à proteína cuja produção é comandada pelo gene BLD10. O flagelo "tem um centro que coordena o movimento, para que este seja correcto", explica a investigadora. Esse centro é formado por dois microtúbulos, que por sua vez estão rodeados por outros nove que fazem uma circunferência. Com experiências feitas por Zita Carvalho Santos e imagens de microscopia electrónica obtidas por Pedro Machado, a equipa percebeu que é a proteína do gene BLD10 que permite o crescimento e a estabilização do primeiro microtúbulo central e, depois, num segundo momento, permite o crescimento do segundo microtúbulo. "Quando a proteína não está lá, não se forma nem o primeiro, nem o segundo microtúbulo", diz Mónica Bettencourt Dias, explicando que estas duas peças são centrais parao movimento dos espermatozóides. "Um flagelo [sem as duas estruturas da zona central] é como uma roda sem eixo. " No IGC, a equipa vai agora tentar perceber como é que esta proteína funciona exactamente. Ainda não se estudaram os homens inférteis com uma mutação na variante humana deste gene. "É importante perceber isto. "
REFERÊNCIAS:
Mariana van Zeller corre mundo atrás de histórias
Mariana van Zeller teve uma certeza quando, a 11 de Setembro de 2001, lhe pediram para fazer directos televisivos a partir de Manhattan para Portugal: aquilo era o que sabia fazer e o que queria era ter mais histórias para contar. Desde então, viajou até ao Uganda para conhecer os movimentos evangélicos que perseguem homossexuais. Na Síria, onde ninguém sabia que era jornalista, acompanhou militantes mujahedin que cruzavam a fronteira em direcção ao Iraque para lutar contra os norte-americanos. No México retratou a vida luxuosa dos barões da droga, mostrou como vivem e como morrem. (...)

Mariana van Zeller corre mundo atrás de histórias
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mariana van Zeller teve uma certeza quando, a 11 de Setembro de 2001, lhe pediram para fazer directos televisivos a partir de Manhattan para Portugal: aquilo era o que sabia fazer e o que queria era ter mais histórias para contar. Desde então, viajou até ao Uganda para conhecer os movimentos evangélicos que perseguem homossexuais. Na Síria, onde ninguém sabia que era jornalista, acompanhou militantes mujahedin que cruzavam a fronteira em direcção ao Iraque para lutar contra os norte-americanos. No México retratou a vida luxuosa dos barões da droga, mostrou como vivem e como morrem.
TEXTO: Jornalista premiada, correspondente do National Geographic Channel nos EUA, Mariana van Zeller, 36 anos, é uma profissional insaciável. De Portugal até Los Angeles, onde vive, já percorreu um longo caminho. Desde os 12 anos, quando morava em Cascais, que sonhava ser jornalista. "Via os pivots na televisão, não sabia que eles usavam teleponto e queria saber sobre todas as coisas como eles. Queria saber sobre o mundo", diz ao PÚBLICO, por telefone, a partir dos EUA. Aliás, quando era miúda, até queria que os pais fossem embaixadores para poder andar de país em país. Não eram. O pai é empresário da área da cerâmica, a mãe deixou de trabalhar quando Mariana nasceu. A jornalista não se cansa de repetir que lhe saiu a sorte grande com a família que tem. Apoiaram-na de todas as formas, compreenderam e incentivaram os investimentos que fez na educação e na carreira, como o mestrado em Jornalismo na Columbia University School of Journalism, em Nova Iorque. Antes, estudara Relações Internacionais na Universidade Lusíada. Apesar de todo esse apoio, e também por causa dele, a jornalista sempre sentiu necessidade de se afirmar, de mostrar que era determinada e apaixonada pelo seu trabalho. Para entrar na Columbia University, tentou uma, duas vezes, e não conseguiu. À terceira, meteu-se num avião para Nova Iorque e bateu à porta do reitor, que a recebeu, espantado. "Tem de me aceitar nesta escola. É o meu sonho, eu sei que consigo e que vou fazer um bom trabalho", disse. Segundo conta, o reitor ficou estupefacto. Nunca tal lhe teria acontecido. Mas, três meses mais tarde, Mariana soube que a sua candidatura tinha sido aceite. Durante o curso, foi distinguida pelo seu trabalho e desempenho enquanto aluna. Dois destes prémios, que foram financeiros, ajudaram-na a cobrir, a par do apoio que o pai lhe deu, as suas despesas nos EUA. É durante o mestrado que descobre "o gosto pelos documentários de investigação" e é no fim que lhe é dada a possibilidade de fazer um estágio para uma produtora de documentários em Londres, a Insight News Television. Mais tarde, decide ir para a Universidade de Damasco, na Síria, para aprender árabe. Nessa altura, enquanto estudante e jornalista freelancer, monta um negócio paralelo de venda de tapetes para conseguir algum dinheiro. Envia-os pelo correio para Portugal, onde a mãe os vendia. Perseguida na SíriaHoje é correspondente "a tempo inteiro" do National Geographic Channel - antes, trabalhou para a Current TV e, como freelancer, fez vários documentários para outros órgãos de comunicação. Os seus trabalhos já receberam prémios: arrecadou em 2009 um Webby Award, da International Academy of Digital Arts and Sciences, para o documentário Obama’s Army, sobre o recenseamento jovem nas eleições norte-americanas. Trabalha com o marido, Darren Foster, de 37 anos. Os dois dizem que não se cansam de estar tanto tempo juntos e que se conhecem tão bem que nem precisam de falar no terreno. Basta trocarem um olhar para saberem qual é o próximo passo a dar. Ambos gostam de viajar, de estar em cima do acontecimento. "Neste momento somos responsáveis, eu e o meu marido, por produzir documentários de uma hora para a National Geographic. "Apesar de na Síria não ter aprendido muito árabe, foi lá que fez o primeiro trabalho em conjunto com o então namorado, hoje marido, que se tornou o cameraman dos seus documentários: a história dos militantes mujahedin. Também viveu meio ano no Brasil. Três meses no Rio de Janeiro, onde andou pelas favelas. Outros três na Amazónia, onde fez uma reportagem sobre os conflitos existentes numa terra de índios devido a uma das maiores minas de diamantes do mundo.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
PSD compreende decisão de Cavaco Silva e diz que lei “divide desnecessariamente”
O líder parlamentar do PSD, Miguel Macedo, afirmou compreender a decisão do Presidente da República de promulgar a lei que legaliza pessoas do mesmo sexo. (...)

PSD compreende decisão de Cavaco Silva e diz que lei “divide desnecessariamente”
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento -0.4
DATA: 2010-05-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: O líder parlamentar do PSD, Miguel Macedo, afirmou compreender a decisão do Presidente da República de promulgar a lei que legaliza pessoas do mesmo sexo.
TEXTO: “Nós compreendemos a decisão do Presidente da República e subscrevemos totalmente os fundamentos dessa decisão, sublinhando as sérias reservas que o Presidente colocou a esta lei”, afirmou Miguel Macedo, em declarações aos jornalistas no Parlamento. O líder da bancada do PSD lembrou que os sociais-democratas votaram contra a lei e que, apesar de ter havido liberdade de voto, “a esmagadora maioria” dos deputados do PSD votaram contra. Para Miguel Macedo, a lei “divide desnecessariamente os portugueses e produz uma clivagem na sociedade portuguesa”. Por outro lado, considerou, teria sido possível “alcançar a defesa dos direitos” em causa “sem recorrer à figura do casamento”. A posição transmitida pelo Presidente da República hoje na declaração que fez ao país “traduz a posição” que o PSD teve na Assembleia da República, frisou Miguel Macedo.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Mortes da Love Parade sobem para 19. Testemunhas culpam má organização
Os sobreviventes do acidente de ontem na Love Parade, em Duisburg, na Alemanha, a marcha pela paz e direitos gay que começou em 1989 e se tornou num mega-festival de música electrónica, culpam a má organização pelo número de mortes que já chega aos 19. (...)

Mortes da Love Parade sobem para 19. Testemunhas culpam má organização
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento -0.05
DATA: 2010-07-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os sobreviventes do acidente de ontem na Love Parade, em Duisburg, na Alemanha, a marcha pela paz e direitos gay que começou em 1989 e se tornou num mega-festival de música electrónica, culpam a má organização pelo número de mortes que já chega aos 19.
TEXTO: Segundo alguns dos presentes, a festa, a que ocorrem pessoas de todo o mundo, tinha apenas um acesso ao recinto do festival, por um túnel, e alguns participantes afirmam ter alertado as autoridades para um eventual problema de sobrelotação da entrada. Mas ninguém terá tomado medidas. O presidente da Duisburg afirma que o evento tinha um plano de segurança aprovado. Já foi lançado um inquérito para apurar responsabilidades. Segundo as equipas de socorro no local, a maior parte das vítimas foi esmagada durante o acesso ao recinto. Testemunhas asseguram que quando a polícia se apercebeu que o acesos estava demasiado lotados fechou o acesso ao túnel e começou a pedir às pessoas para aguardarem e darem a volta por fora do recinto. Mas o pânico instalou-se e foi então que ocorreu o acidente. “Não se pode conter um milhão de pessoas atrás de grades, deviam ter deixado as pessoas circular livremente”, afirmaram à BBC alguns participantes no local. Para além das 19 mortes, estão ainda registados 300 feridos, alguns deles com gravidade a quem foi difícil chegar de imediato por causa da multidão que se acumulou. As autoridades confirmam que acorreram ao festival 1, 4 milhões de pessoas. A chanceler Angela Merkel já enviou condolências aos familiares das vítimas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave pânico
Obama enfrenta um Congresso disposto a lutar contra ele
Barack Obama deixou Washington pouco antes do Natal, para umas férias no Havai, com uma mão-cheia de sucessos de última hora que poucos julgaram possível, como a aprovação no Senado do tratado de redução nuclear com a Rússia e o fim da directiva "don"t ask, don"t tell", que impedia os militares homossexuais de relevarem a sua orientação sexual sob pena de serem expulsos do Exército. O presidente dos Estados Unidos e o Partido Republicano também mostraram que conseguem trabalhar juntos - um novo pacote de medidas fiscais resultou de um acordo entre a Casa Branca e a oposição. (...)

Obama enfrenta um Congresso disposto a lutar contra ele
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento 0.25
DATA: 2011-01-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Barack Obama deixou Washington pouco antes do Natal, para umas férias no Havai, com uma mão-cheia de sucessos de última hora que poucos julgaram possível, como a aprovação no Senado do tratado de redução nuclear com a Rússia e o fim da directiva "don"t ask, don"t tell", que impedia os militares homossexuais de relevarem a sua orientação sexual sob pena de serem expulsos do Exército. O presidente dos Estados Unidos e o Partido Republicano também mostraram que conseguem trabalhar juntos - um novo pacote de medidas fiscais resultou de um acordo entre a Casa Branca e a oposição.
TEXTO: A quantidade e substância de legislação aprovada durante a lame-duck session, o curto período que decorre entre umas eleições intercalares e a entrada em funções de um novo Congresso, ultrapassou as expectativas de toda a gente em Washington. Mas pode ter sido a calma antes da tempestade. Quando Obama regressar hoje de férias, vai encontrar uma nova realidade política e os analistas antecipam uma grande dose de conflito entre a Casa Branca e a maioria republicana na Câmara dos Representantes e uma minoria republicana reforçada no Senado nos próximos dois anos. O novo Congresso entra em funções amanhã, e "os republicanos que vão controlar a Câmara dos Representantes não têm qualquer intenção de chegar a compromissos com o presidente Obama", nota Steven Greene, professor de Ciência Política na North Carolina State University. "Vai ser uma grande luta nos próximos dois anos", diz Terence Samuel, que cobriu o Congresso enquanto jornalista e recentemente publicou um livro sobre o Senado americano. "Acho que, quando chegarmos ao discurso [de Obama] sobre o estado da nação no final de Janeiro, o tom vai ser muito diferente do que ouvimos do Presidente durante a lame-duck, em que existia alguma dose de compromisso e cooperação. Acho que isso vai desaparecer muito rapidamente. "Obama enfrenta pela primeira vez um Congresso que está menos disposto a trabalhar com ele do que contra ele - as eleições de 2 de Novembro não se limitaram a aumentar o poder da oposição dentro do Congresso; os republicanos que compõem a nova Câmara dos Representantes são também mais conservadores do que a anterior bancada republicana, muitos deles eleitos graças ao activismo do Tea Party. John Boehner, o novo speaker republicano da Câmara dos Representantes, foi um feroz opositor de Obama e de todas as propostas legislativas provenientes da Casa Branca nos últimos dois anos. Próximas batalhasMesmo que o tom consensual da lame-duck session tenha sido surpreendente, as questões mais polémicas e potencialmente divisivas ficaram reservadas para o novo Congresso, como a aprovação do Orçamento federal e o sistema de saúde. Republicanos e democratas não conseguiram chegar a acordo durante a lame-duck sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano fiscal, que termina em Setembro, e em vez disso aprovaram uma resolução que apenas garante o financiamento dos programas do Governo americano até Março. A grande discussão nos próximos tempos deverá ser se o valor-limite da dívida americana pode ou não ser aumentado, permitindo ao Governo obter mais empréstimos. Mas os republicanos querem reduzir a despesa pública até aos níveis de 2008. John Boehner disse que o seu objectivo era cortar 100 milhões de dólares do Orçamento federal. Quanto ao sistema de saúde, os republicanos já avisaram que vão fazer tudo para inverter a reforma aprovada no Congresso em Março do ano passado. Este domingo, o republicano Fred Upton, que irá presidir à Comissão de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes, disse à Fox News que acredita existir uma maioria confortável para garantir a anulação da reforma do sistema de saúde. "Como se pode ver no nosso programa, dissemos que íamos propor rapidamente uma votação para inverter o sistema de saúde. Isso vai acontecer antes do discurso do presidente sobre o estado da nação. Temos 242 republicanos [na Câmara dos Representantes]. E haverá um número significativo de democratas, creio, que se irão juntar a nós. " Se isso não acontecer, diz Upton, os líderes republicanos tentarão combater a lei "artigo atrás de artigo".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei minoria
Mentor: um ombro amigo que pode ajudar no futuro
Um mentor é alguém que se dispõe a estar ao lado de um adolescente em risco para lhe proporcionar uma relação sólida e ser um modelo consistente. A figura de mentor é muito popular nos Estados Unidos, e só em Nova Iorque há centenas de programas de mentores quase para todos os gostos: só para raparigas, para cientistas negros, para gays, lésbicas e transgender, para pessoas com deficiências. (...)

Mentor: um ombro amigo que pode ajudar no futuro
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento 0.187
DATA: 2011-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um mentor é alguém que se dispõe a estar ao lado de um adolescente em risco para lhe proporcionar uma relação sólida e ser um modelo consistente. A figura de mentor é muito popular nos Estados Unidos, e só em Nova Iorque há centenas de programas de mentores quase para todos os gostos: só para raparigas, para cientistas negros, para gays, lésbicas e transgender, para pessoas com deficiências.
TEXTO: O PÚBLICO visitou vários programas e falou com mentores e protegidos e com responsáveis. Aqui fica o que eles dizem sobre esta forma de voluntariado e ajuda:Joy Schwartz, mentora de Ore Adelaja no programa Girls Quest "Sinto-me realizada ao saber que posso ter uma influência positiva"“Decidi ser mentora porque uma jovem profissional na cidade de Nova Iorque pode ficar muito isolada, demasiado concentrada na carreira. Logo que estabilizei a minha vida de adulta - conseguir arranjar um apartamento, pagar as contas e ter essa parte resolvida -, decidi oferecer-me para este programa. Fazer isto ajuda-me a sentir um pouco realizada, já que posso ter alguma influência positiva. Queria uma mentoranda que gostasse de desafios. Não tento orientá-la nas suas escolhas, mas sou obcecada com ter objectivos e traçar planos para os atingir. Muitas vezes eu e a Ore discutimos isso: se ela quer uma coisa, tem de ter um plano para o conseguir. ”Ore Adelaja, mentoranda de Joy no programa Girls Quest, Manhattan "A minha mentora ajudou a preparar-me para conviver com pessoas diferentes"“Andamos muito a pé, nunca estive tão em forma! Com a Joy tenho conhecido muitas coisas em Nova Iorque, já experimentámos muitas coisas, fomos ao bairro coreano, etc. A escola onde eu andava tinha uma maioria de negros, e no meu novo liceu não há negros. Há chineses, asiáticos, diferentes tipos de brancos. A Joy ajudou-me também nisso, a preparar-me para conviver com pessoas diferentes. Nasci na Nigéria, vim para Brooklyn com os meus pais quando tinha dois anos. Recentemente voltei lá e fiquei muito impressionada: não podia beber água, há malária. . . Isso inspirou-me: quero ser médica e o meu sonho é abrir um hospital na Nigéria. ”Susan Varghese, directora de programas do Girls Quest, um programa de mentores para raparigas em Manhattan "Contam-se pelos dedos das mãos os casos que não resultam"“O programa funciona com o compromisso de um mínimo de um ano e encontros entre mentores e protegidos pelo menos duas vezes por mês. Delineamos objectivos para a relação, perguntamos inicialmente a ambas o que querem conseguir, e vamos avaliando. Porque são duas pessoas que não se conhecem e é suposto passarem tempo juntas, isso pode ser um pouco estranho. Para encontrar os pares fazemos um intenso processo de entrevista depois ficamos com uma boa ideia de personalidade e o que procuram, em termos de idade, raça, religião, interesses, local de residência. Há uma preferência comum das adolescentes: muitas querem uma mentora jovem. querem uma irmã, não uma mãe ou avó. Mas já tive mentoras óptimas na casa dos 50. Faço isto há vários anos, e contam-se pelos dedos da mão os pares que não resultaram. ”Anthony Whittaker, responsável do programa Goodwill Goodguides, Queens "Os mentores podem mostrar aos miúdos que há carreiras fora dos gangues"“Quanto era jovem passei o mesmo que muitos miúdos que precisam de mentores: um lar sem pai, família envolvida em drogas. Mas consegui ficar longe das ruas graças ao desporto. Fiz várias coisas na vida: fui polícia, trabalhei num banco, mas estive sempre ligado ao deporto enquanto treinador de basquete. Foi assim que conheci muitos jovens de quem fui mentor, porque reconheci em muitos o perigo de caírem nas ruas. Alguns deles são hoje meus amigos. E outros ofereceram-se para serem eles próprios mentores no programa que eu dirijo. Os mentores só têm de ser eles próprios. Podem mostrar aos miúdos que há uma carreira fora dos gangues, seja a trabalhar nos Correios ou numa empresa de informática. Hoje trabalho neste programa que envolve cerca de 100 adolescentes; em alguns casos, mais difíceis, sou eu próprio mentor. Por exemplo, um miúdo que conheci quando me tentou roubar uma bola num jogo. Esse vai dar muito trabalho. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola ajuda raça
A vida aventurosa de Myriam Anissimov
A escritora, cantora, actriz, jornalista que vive na sombra dos homens que biografou: Primo Levi, Romain Gary, Vasily Grossman. (...)

A vida aventurosa de Myriam Anissimov
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: A escritora, cantora, actriz, jornalista que vive na sombra dos homens que biografou: Primo Levi, Romain Gary, Vasily Grossman.
TEXTO: És como eu, não consegues ganhar a vida a trabalhar. ” Quando Myriam era ainda muito nova e o jovem namorado Patrick Modiano lhe disse aquilo, ela quis acreditar. Era uma frase que ia contra tudo o que a mãe lhe ensinara. Vida certa. Dinheiro certo. Mas a mãe ensinara-lhe também que a verdade vinha antes de tudo e a verdade é que ela não sentia o mínimo talento para ser “funcionária de alguém”. Achava que “podia ser qualquer coisa especial”. Foi por intuir isso que um dia, tinha 22 anos, fez a mala, pôs lá dentro um livro de Schopenhauer e outro de Thomas Bernhard e apanhou o comboio para Paris, deixando a “hostil e obscura” Lyon, à procura “de um outro mundo de que não fazia a mínima ideia”. Myriam, a rapariga que “dormia com os homens sem sentir qualquer amor”, sonhava amar. “Queria amar como Mathilde de La Mole amava Julien Sorel. Como Catherine Earnshaw amava Heathcliff. Como Anna Karenina amava Vronsky. ” Naquele comboio ainda não podia saber, mas seria cantora, actriz, jornalista, fotógrafa, escritora e biógrafa de Primo Levi, Romain Gary e Vasily Grossman. Fala dessa viagem inicial com um misto de admiração pela rapariga e ternura pela ingenuidade. “A minha vida é a literatura, com amor e música”, diz agora, 72 anos em Junho, voz rouca irreconhecível para quem a puder ouvir cantar nas gravações que existem, com vinte e poucos anos, poemas de Albertine Sarrazin ou os que Modiano escreveu para ela quando andavam ambos pelas ruas de Paris e a mãe a ia vendo na televisão e se admirava, perguntando-lhe ao telefone quanto lhe pagavam por isso. “Ela tinha medo e tinha razão. Eu era uma rapariga muito nova sem um tostão numa cidade que não conhecia. ”Ri. As mãos sobre os joelhos, os ombros encolhidos, os olhos quase fechados. O rosto não revela o cansaço de um dia longo. São nove da noite em Lisboa. Já deu quatro entrevistas e teve uma conversa para uma audiência no Cinema S. Jorge, onde abriu a Judaica — Mostra de Cinema e Cultura. Em nenhum caso para falar dela. Esteve em Lisboa para falar de Romain Gary (1914-1980), o escritor francês que fica para a história como o único a vencer duas vezes o prémio Goncourt. Algo só possível porque um dos livros vencedores foi assinado com pseudónimo e a identidade descoberta quando era tarde de mais para lhe ser retirado. Gary era judeu como ela, escritor como ela e um dia pediu-a em casamento. Ela não sabia ainda quase nada da vida dele, a não ser que era mulherengo e bom escritor. Ela era uma miúda e ele “um senhor”. Queria amar como Mathilde de La Mole amava Julien Sorel. Como Catherine Earnshaw amava Heathcliff. Como Anna Karenina amava VronskyNão conheceu os outros dois homens que biografou. Também judeus, como ela. Primo Levi e Vasily Grossman. Perante estes três nomes — Primo Levi, Grossman e Gary —, a assinatura da biógrafa fica na sombra. Poucos saberão que Myriam Anissimov teve uma juventude tão venturosa. “Quando se anda a mexer na vida de escritores como estes, quem quer saber da nossa?”, continua, misto de desafio e humildade, sem se escusar a perguntas, mas dizendo que está tudo no seu livro Jours Nocturnes (2014, Éditions du Seuil), uma elaboração ficcionada sobre factos reais na qual a escritora narra, sem pudor nem vestígio dos seus complexos de miúda, uma “exigência tumultuosa” onde conheceu quase toda a gente por acaso. “Uma aventura”, sintetiza. O livro é uma espécie de ajuste de contas com a mãe, Bella Frocht, uma grande leitora de clássicos, dogmática, que lhe recitava a doxa estalinista e a privou do mínimo sentido de “defesa contra a hostilidade, a brutalidade do mundo”. Sentia que isso a colocava num “estado de inferioridade face a todos os que mentem elegantemente”, escreve nessa autobiografia ficcionada, onde, ao contrário do que acontece nesta conversa, os protagonistas nunca aparecem com os verdadeiros nomes. As contas com a mãe estão acertadas, concede. Amaram-se e odiaram-se em doses iguais, numa relação agora pacificada. Chama-lhe petite Maman. “Ela está velhinha. Tem 90 anos. Voo daqui para Toulouse e sigo para o campo para estar com ela. Só depois volto a Paris. ”Myriam vive na cidade onde sempre quis estar, onde nunca sentiu que não era bem-vinda por ser judia, como aconteceu em Lyon era ela adolescente. Alguém lhe disse que não queriam ali “israelitas”. Os pais conseguiram escapar à Shoah. Myriam, romancista, escritora, jornalista, ex-actriz, ex-cantora em discos e cabarets, a rapariga que um dia quis ser fotógrafa mas cedo percebeu que não tinha grande talento para isso nasceu em 1943 com o apelido Frydman num campo de refugiados judeus em Sierre, na Suíça. O pai, judeu de origem polaca, era alfaiate e escritor de língua yidish. “Acho que nasceu daí a minha vontade de escrever”, diz. E ainda a sua identidade: “Sou uma escritora yidish de língua francesa. ”Quando chegou a Paris, levava um manuscrito muito incipiente e vontade de se revelar talentosa em alguma coisa. “As coisas foram-me acontecendo sem eu saber muito bem porquê”, conta, talvez por andar muito pela rua e Paris naquela altura ser uma cidade aberta. “Paz e amor, está a ver. ” O livro fala desses encontros, sucessão de gente a passar, mais ou menos demorados. “Ficávamos em casa uns dos outros. ” Ela tinha um pequeno estúdio, só com uma cama, mais nenhum móvel. Foi num desses casos que conheceu o actual Nobel francês, Patrick Modiano (n. 1945). “Foi ele a primeira pessoa a dizer que eu tinha talento como escritora e a mandar-me continuar”, conta sem pressa, divertida com detalhes. “A mãe dele era uma ex-cantora de boulevards e viviam numa casa muito grande, com grandes janelas. Ele tinha publicado um romance [La Place de l’Étoile, 1968] e escrevia letras de canções para ganhar a vida. Quando ele viu o meu manuscrito, levou-me a casa de uma mulher que fazia trabalhos como secretária. Tinha sido secretária de um Presidente da República e vivia num velho apartamento em ruínas com a irmã. Quando abriu a porta, foi um susto. Ela tinha barba, um cigarro na boca, vestia um roupão e, à volta da cintura, uma espécie de saia feita com tecido grosseiro de roupa de homem. Era um monstro. Viu-nos e começou com uma fúria nervosa. Que ele tinha de casar comigo. O Patrick disse: ‘A minha amiga tem aqui um manuscrito que queria que passasse à máquina. ’ Eu não tinha nenhuma experiência. Escrevia à mão. Mais tarde, ela disse que aquilo era muito sexual e eu achei estranho porque em nenhuma daquelas passagens havia sexo. ”O manuscrito seria ainda muito elaborado. “Eu não fazia a mínima ideia de como se trabalhava um texto”, admite. Um “feroz” crítico literário achou-a capaz de ser escritora e ia-lhe dando dicas, prazos para cumprir. O romance, Comment va Rachel, saiu em 1973, seis anos depois de se instalar definitivamente em Paris. Já tinha dado provas como actriz em palcos de teatro experimental, e também como cantora. Modiano, que no livro aparece com o nome de Arturo, “testa alta”, “a graça de Amedeo Clemente Modigliani”, um coleccionador de papéis e todo o tipo de arquivos, dera-lhe poemas para cantar. Eram amigos, namorados, partilhavam os dias e as noites mais boémias da cidade. Mas o primeiro grande encontro literário foi com Albertine Sarrazin, a escritora de origem argelina, transgressora, várias vezes presa por roubo e desacatos, vítima de abusos sexuais, que morreu em 1967 aos 29 anos. Os livros de Sarrazin têm muito de autobiográfico. “Conheci-a pouco depois de ela sair da prisão. Ela tinha mais uns seis ou sete anos do que eu e sentia-me fascinada por aquela rapariga rebelde que escrevia coisas muito bonitas, que tinha estado presa e contava isso. Quando cheguei ao teatro pela primeira vez e me perguntaram que texto queria dizer, escolhi um dela [La Traversière, 1966]. Fui escolhida e fiquei incrédula”, conta, mais uma vez indo aos pormenores. Foi um dos muitos encontros felizes. Como o que aconteceu com a professora de canto, uma vienense que conseguiu fugir de Auschwitz. Deu-lhe aulas de graça e no fim disse-lhe que nunca mais a queria ver se não passasse na audição. “Cantei as canções de Albertine Sarrazin e de coisas que eu tinha escrito e disseram-me que eu iria fazer um disco. E foi assim. ” O poema Que nous faisait cette vie, de Albertine Sarrazin, ganhava a voz de Myriam, que deixara para sempre o apelido Frydman (um dos produtores achava-o demasiado judeu e ela trocou-o por um dos primeiros que encontrou numa consulta a uma lista telefónica: Anissimov). Houve mais poemas de Albertine ditos por Myriam, que continuava no teatro e a ter outros acasos felizes. Interpretava uma peça de Tchékhov, naquele que era o seu primeiro papel a sério, quando uma “senhora” foi ter com ela, gostavam que ela aceitasse entrar no elenco de um filme. Visconti estava a adaptar Em Busca do Tempo Perdido. ‘Ela disse-me: ‘Tu serás a Albertine’. ” Albertine é uma das personagens centrais da obra de Proust que ganha relevo em A Fugitiva, o sexto volume. “Parecia-me inacreditável!”O filme não chegou a acontecer. As exigências de Visconti eram pouco reais. Um exemplo: em Deauville, na Normandia, um dos cenários onde seriam filmadas as cenas do Hotel Cabourg, o realizador pediu para serem retiradas todas as antenas e cabos eléctricos visíveis, para replicar ao máximo o tempo do livro. Myriam não foi Albertine, mas viveu muitas personagens no teatro até a literatura ganhar protagonismo. Os escritores rodeavam-na ou ela rodeava-se deles. Conta o encontro com Albert Cossery (1913-2008), que escrevia uma frase por dia e publicou oito romances marcantes em 60 anos de carreira onde escarneceu brilhantemente dos judeus. Conta ainda o encontro com Arthur Adamov (1908-1970), dramaturgo, um dos grandes nomes do Teatro do Absurdo, e como conheceu Leonard Cohen. Foi por causa de um poema. É que na vida de Anissimov havia a música, sim, mas antes de tudo a literatura. “Eu tinha tido uma reunião com o director do Olympia, outro acaso que me aconteceu, para agendar umas gravações. E ele perguntou se eu queria ver o espectáculo à noite; que lhe ligasse mais tarde a pedir o bilhete. Ouvi umas coisas para me situar e dei com Leonard Cohen a cantar, a dizer o poema The Partisan [uma canção sobre a resistência francesa escrita em 1943]. Fiquei emocionada e nessa altura dizem-me que já não é possível arranjar lugar, que o Presidente Giscard d’Estaing ia assistir e levava uma grande comitiva. Fiquei desolada. Aceitaram que eu aparecesse e pelo menos nos bastidores ficaria. O Cohen passou por mim, cumprimentou-me. Cantou. Houve uma ovação, ele sai de cena, vê-me e diz, ‘olha esta menina bonita’ e abraça-me e fomos abraçados, atravessámos a barreira policial, entrámos num Rolls Royce e fiquei uma semana no hotel com ele. Toda a minha vida é feita de episódios absolutamente improváveis. ” Entre o romance e a biografiaEstávamos em meados da década de 1970, havia um segundo romance, Le Resquise (1975), já havia uma marca. Desde o início que Anissimov levava para a sua literatura as inquietações das mulheres judias do pós-Holocausto. Como conciliar emoções, sexualidade, continuar individualmente após o trauma colectivo. À medida que os livros vão saindo, as suas personagens femininas vão-se tornando mais independentes. Rue de nuit, 1977; L’Homme rouge des tuileries, 1979; Le Marida, 1982; Le Bal des puces, 1985; La Soie et les Cendres, 1989. Os cinco anos seguintes serão diferentes. Tinha acabado de publicar um romance e queria escrever outros quando a editora lhe propõe que escreva uma biografia. Oferecem-lhe um avanço irrecusável. “O cheque que a Gallimard me pôs à frente dava para eu viver dois anos. E era só um adiantamento. ” Escolheu escrever sobre Primo Levi (1919-1987), o escritor que sobrevivera a Auschwitz e quisera pôr a vida num livro Se É Isto Um Homem (ed. D. Quixote). Foram cinco anos de pesquisa e escrita e uma nova aprendizagem para quem estava já familiarizada com o jornalismo. Escrevia para a Géo, e mais tarde passou a colaborar com o Nouvelle Observateur, com revistas e jornais literários. É assim que, em 1996, sai Primo Levi ou la tragédie d’un optimiste. A crítica foi unânime em louvar a biografia. E em 2004 era publicado Romain Gary, le caméléon. Entre as duas biografias, saíram dois romances: Dans la plus stricte intimité, 1998 e Sa Majesté la Mort, 1999. Vie et mort de Samuel Rozowski, Denoël é publicado em 2007 e passam-se outra vez cinco anos até outra biografia: Vasily Grossman: Un écrivaint de combat, em 2012. Até que ponto há contágio entre romance e a escrita biográfica? “Como personagens reais, esses homens não tiveram qualquer influência nos meus romances. Mas a sua escrita sim. Especialmente Levi, tão lógico, tão claro, tão inteligente, cheio de um humor requintado. Eles podem no entanto aparecer como personagens numa ficção”, afirma. É o caso de Gary, que conheceu em 1977, já ele tinha dois Goncourts. O primeiro em 1956, com As Raízes do Céu (agora publicado em Portugal pela Sextante) e o segundo em 1975, com Uma Vida à Sua Frente (também Sextante, em 2011), assinado com o pseudónimo Émile Ajar. Gary será central no próximo romance de Anissimov, um livro sobre “dois homens mais velhos e famosos que eu conheci quando era, digamos, uma jovem atraente. Teriam exactamente a idade do meu pai se ele estivesse vivo. Eram ambos famosos e muito fascinantes. O segundo era um célebre maestro”, adianta, agora sem dizer o nome. Na sua ficção, como nas biografias, a linguagem de Anissimov está sempre próxima da poesia. Essa marca atenua-se quando há uma vida real para contar. “Pois é. Isso é porque a proposta de um romance passa pela música, a composição, uma estrutura que permita sentir o tempo voar. Nas biografias tento ser mais exacta, mas só a matemática, a ciência, é objectiva. A objectividade na pintura, na música e na literatura está na coerência da harmonia universal, do mundo expresso de um modo diferente da ciência. ” Daqui conclui que escrever uma biografia é escrever um romance com enorme contenção. “Temos de nos restringir apenas ao material recolhido, aos factos. ” Nunca se sabem todos, “é impossível conhecer completamente a vida de alguém. Por isso, biografar é uma constante ilusão, uma espécie de síntese entre ciência e literatura”. Volta aos detalhes. É neles que se encontra a essência. É corriqueiro dizer isto, “mas é isso mesmo”. É o biógrafo nas suas limitações. Porque a família pede que não se revele algo, porque há segredos. “Sobre sexo, dinheiro, traições. ” Dá um exemplo. “O filho de Gary pediu-me para não contar algumas coisas muito tristes sobre a sua mãe. Achei que devia respeitar; isso iria fazê-lo sofrer e ele queria manter a memória da mãe. ” Algo semelhante aconteceu com Vasily Grossman. “Fedor, o seu enteado, não me quis dar as cartas que Grossman enviou ao seu último amor, Ekaterina Zablotskaya. Ele deixou a sua mulher durante dois anos para ir viver com Zablotskaya. O Fedor aceitou falar sobre isso, contar a história, mas sem mostrar as cartas que eram muito emotivas e eróticas. Contou-me que as duas mulheres estavam ao pé dele no hospital quando morreu de cancro, em 1964, com 59 anos. Mas as cartas eram outro assunto. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nos romances de Myriam, pelo contrário, não há limitações, “mesmo que as pessoas se zanguem”. “Sinto-me absolutamente livre. ” A memória ficcionada que escreveu é um exemplo disso. Os nomes não estão lá, mas quem viveu aquele tempo no mesmo espaço que ela reconhece-se. Quem leu sobre esse tempo nesse espaço sabe também quem são os protagonistas. Como se Myriam fosse uma das mulheres que inventou para os seus livros e se libertasse daquela timidez inicial, a do complexo incutido pela mãe. “Ela fez-me complexada”, insiste. A proposta de um romance passa pela música, a composição, uma estrutura que permita sentir o tempo voar. Nas biografias tento ser mais exacta, mas só a matemática, a ciência, é objectivaEm Lyon, tinha tirado um curso de fotografia e foi fotografando quase sempre. Tirou fotos em reportagens que fez em Nova Iorque, mas pede: “Pode chamar-me cantora, actriz, jornalista, escritora, sei lá, mas não sou fotógrafa”, ri outra vez. E não faz uma pausa entre este raciocínio e o tema seguinte. É que ela podia continuar a falar, encadeando histórias, pessoas, lugares de forma tão entusiasmante como o faz nas biografias que escreveu, como se estivesse lá e é capaz de levar quem a lê e ouve a cada sítio, ao íntimo de cada pessoa. Fala do pai. Foi dele que veio a tal verdade, o impulso que ele lhe deu para a escrita, os amigos que iam lá a casa falar de literatura, o avô que lia Espinosa, a mãe que lê em alemão, mas sobretudo a descoberta que fez a partir dos 14 anos, o que era a verdadeira literatura. “A admiração por um autor ou por um livro não é a mesma quando se tem 17 anos, 30 anos, 50 e mais. ” Há no entanto as referências, os que foram e continuam a ser decisivos: Blaise Cendrars, Apollinaire, Flaubert, Stendhal, Kafka, Soma Morgenstern, David Shahar, Aharon Appelfeld, Joseph Brodsky, Angel Wagenstein, Proust — “um génio” — e claro Thomas Bernhard. “Acho que ele é um dos mais importantes escritores europeus do século XX. Inventou uma nova linguagem. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Actores distinguem a diversidade nos prémios SAG e exigem-na a Trump na vida real
Cerimónia de prémios foi novo palco de discursos inflamados sobre a inclusão e a não-discriminação. Elencos de Elementos Secretos e Stranger Things juntam a vitória ao protesto. (...)

Actores distinguem a diversidade nos prémios SAG e exigem-na a Trump na vida real
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2017-03-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170302090943/https://www.publico.pt/1760124
SUMÁRIO: Cerimónia de prémios foi novo palco de discursos inflamados sobre a inclusão e a não-discriminação. Elencos de Elementos Secretos e Stranger Things juntam a vitória ao protesto.
TEXTO: A temporada de prémios está a pleno vapor e os sinais que emite para a noite dos Óscares estão a diversificar-se: não só La La Land – A melodia do amor continua a somar distinções como outros concorrentes, casos do elenco de Elementos Secretos e de Denzel Washington, tiveram destaque nos prémios do Screen Actors Guild. A diversidade esteve na cerimónia também no campo da realpolitik – do lado de fora da festa protestava-se nos aeroportos contra a restrição de entrada de muçulmanos nos EUA e os actores juntaram-se ao coro de indignados. Os prémios do Screen Actors Guild, o sindicato que representa os actores que trabalham nos Estados Unidos, serviram para Hollywood mostrar mais uma vez que não apoia Donald Trump. Começou logo à porta, com Simon Helberg (A Teoria do Big Bang) e a mulher Jocelyn Towne a aproveitarem a passadeira vermelha para passar mensagens claras – “Refugees welcome”, escreveu o Howard Holowitz da série num pequeno cartaz, com a mulher a envergar directamente no peito as palavras “Let them in”. “Refugiados bem-vindos” e “deixem-nos entrar”. Ashton Kutcher falou no início da cerimónia e lembrou "todos os que estão nos aeroportos que pertencem à minha América. Vocês são parte da textura de quem somos. E amamo-vos e damo-vos as boas vindas". Estes prémios, estes filmes e estes rostos de várias cores em palco foram “um passo em direcção à normalização da inclusão”, postula o IndieWire, depois de já em 2016 os SAG terem sido um palco particularmente diversificado em termos raciais em plena controvérsia #OscarsSoWhite. Este ano, apesar disso, foi outra a hashtag a pairar sobre toda a noite - #MuslimBan, um tema que também está pelas redes sociais em comentários a uma das primeiras medidas da administração Trump. #MuslimBan foi usada durante todo o dia dos prémios SAG por muitos manifestantes nos principais aeroportos dos EUA a demonstrar a sua solidariedade para com os homens, mulheres e crianças retidos nos aeroportos devido à suspensão de vistos, ou por políticos como o britânico Jeremy Corbyn criticando a medida. Depois disso, vieram os anúncios dos distinguidos, entrecortados por muitos discursos inflamados e/ou inspirados contra a exclusão. No cinema alguns dos principais galardões foram para Elementos Secretos (estreia-se esta quinta-feira em Portugal) – os prémios do Screen Actors Guild são particularmente relevantes para a temporada de prémios anual de cinema por serem o maior grupo de votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que entrega os Óscares que monetizam carreiras e insuflam as receitas de bilheteira. O prémio de melhor elenco foi para o filme que revela a história das matemáticas afro-americanas que trabalharam para o programa espacial americano nos anos 1960. Mahershala Ali of @moonlightmov #sagawards pic. twitter. com/q9txL6fW8RDelas, só Octavia Spencer está nomeada para um Óscar, o de Melhor Actriz Secundária, ficando de fora Taraji P. Henson, Kirsten Dunst ou a cantora Janelle Monae. Henson agradeceu o prémio lembrando que “este filme é sobre união. Quando nos juntamos enquanto raça, humana, vencemos… o amor vence sempre”. Mas coube a outro dos seus co-protagonistas, Mahershala Ali, um dos discursos mais pessoais e emotivos do evento. Venceu o prémio para o qual se está a perfilar como favorito - Melhor Actor Secundário em Moonlight (estreia-se em Portugal a 9 de Fevereiro). “A minha mãe é pastora religiosa. Eu sou muçulmano. Há 17 anos, ela não deu pulos de felicidade quando lhe telefonei para lhe dizer que me tinha convertido. Mas agora digo-vos, pondo tudo o resto de lado, eu consigo vê-la e ela consegue ver-me. Amamo-nos. O amor cresceu”, partilhou Ali sobre a sua experiência pessoal, religiosa e familiar. Sobre o seu filme, sobre o crescimento de um jovem afro-americano mesclado com a sua sexualidade, lembrou como ele mostra em parte “o que acontece quando perseguimos pessoas”. Emma Stone foi escolhida como Melhor Actriz pelos seus pares pelo seu papel em La La Land – A melodia do amor (o filme, por se centrar sobretudo num casal, não concorria ao prémio para elenco). Nem o seu co-protagonista Ryan Gosling nem o favorito Casey Affleck (Manchester by the sea) foram os eleitos para o prémio de Melhor Actor - Denzel Washington foi o distinguido da noite com o seu primeiro prémio da guilda por Fences, filme de que também é realizador nesta temporada. Washington está nomeado também para Melhor Actor nos Óscares e o seu filme é um dos nove na corrida para melhor do ano. Uma das pouquíssimas vozes a não aludir ao tema da actualidade do fim-de-semana, Viola Davis somou outra vitória para Fences, com o prémio de Melhor Actriz Secundária. O mundo das artes também se debate com os efeitos da suspensão da entrada de cidadãos de países como o Irão, que tem O Vendedor nomeado para Melhor Filme Estrangeiro e que não contará com a sua actriz, por boicote da mesma, nem com o seu realizador, Asghar Farhadi, que também não quer estar no evento, para tristeza da Academia. Na televisão, a noite foi particularmente favorável para o Netflix, que venceu com a série dramática com melhor elenco, o fenómeno Stranger Things, e com os melhores actores numa série dramática Claire Foy e John Lithgow por The Crown. Outro momento forte foi aquele em que o grupo de actores de Stranger Things agradeceu o seu prémio. David Harbour, um eterno secundário que tomou o microfone ladeado por Matthew Modine e uma muito expressiva Winona Ryder (a Internet já se encarregou de cristalizar as suas reacções), resumiu de forma emotiva parte do sentimento da noite – os actores congratulam-se por viverem no seu ecossistema e por se expressarem contra aqueles que vão contra os “seus” valores. #StrangerThings star @DavidKHarbour delivers rousing #SAGAwards speech: 'repel bullies, shelter outcasts & those who have no hope' pic. twitter. com/xeRuFZNbAA“Abrigamos os esquisitos e os proscritos, aqueles que não têm lar. Iremos ultrapassar as mentiras. Vamos caçar monstros. E quando estamos em perda no meio da hipocrisia e da violência casual de certos indivíduos e certas instituições, vamos, como o xerife Jim Hopper [a sua personagem na série], esmurrar a cara de algumas pessoas quando tentarem destruir o que imaginámos para nós próprios e para os marginalizados”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Orange is the new black, também do serviço de streaming, arrematou o prémio de melhor elenco de comédia, Julia Louis-Dreyfuss e Sarah Paulson foram as vencedoras expectáveis na comédia e numa minisérie com Veep e O Caso de O. J. , respectivamente, e Bryan Cranston foi o distinguido por interpretar o ex-Presidente Lyndon B. Johnson no telefilme All the Way, com William H. Macy a receber o reconhecimento da guilda pela sua comédia em Shameless – No limite. Julia Louis-Dreyfus fora a primeira a subir ao palco para receber um prémio – ela é uma ex-Presidente incompetentemente ardilosa na ficção e puxou dos seus galões para decretar que “esta proibição [à entrada] dos imigrantes é uma mancha e é não-americana” –“o meu pai fugiu à perseguição religiosa na França ocupada pelos nazis. Sou uma patriota americana”. O outro Presidente ficcional da noite, Bryan Cranston, disse já nos bastidores, citado pelo Los Angeles Times, que é uma questão de “cidadania” falar sobre algo “que surge de uma forma que nos parece opressão”. Solene, elogiou que uma noite em que um “colectivo” falou sobre um tema premente é algo “vivo”. Sarah Paulson resumiu o espírito da cerimónia de forma directa. Pediu directamente por donativos para a ONG norte-americana American Civil Liberties Union (ACLU), que diz ter recebido 24 milhões de dólares no passado fim-de-semana na sequência da aplicação da proibição à imigração de muçulmanos. Justificou: “Nesta altura, o silêncio não é de ouro”.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA