Já conhecemos Clinton e Trump, e agora estamos de olho em Sanders e Carson
É muito cedo para ter dúvidas, quanto mais certezas, mas as sondagens da corrida à presidência dos EUA estão mais agitadas do que nunca. (...)

Já conhecemos Clinton e Trump, e agora estamos de olho em Sanders e Carson
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: É muito cedo para ter dúvidas, quanto mais certezas, mas as sondagens da corrida à presidência dos EUA estão mais agitadas do que nunca.
TEXTO: Quem anda atento à campanha eleitoral nos Estados Unidos raramente encontra títulos sem as palavras "sondagens", "Trump", "e-mails" e "Clinton". Por vezes, a atenção dos eleitores é desviada para outros candidatos do Partido Democrata e do Partido Republicano, como Bernie Sanders e Ben Carson – um socialista que empurra a campanha do seu partido para a esquerda e um antigo neurocirurgião que conquista os conservadores fartos de serem vistos como um grupo de fanáticos ignorantes. Um e outro têm subido nas sondagens, e ainda que seja muito cedo para perceber quem tem mais hipóteses de substituir Barack Obama na Casa Branca, não deixa de ser curioso recordar os tempos em que a corrida estava terminada ainda antes de ter começado – antes do Verão, era certo que a Sala Oval iria ser ocupada ou por Hillary Clinton, ou por Jeb Bush. Ainda que esse cenário continue bem dentro do prazo de validade, já que a corrida pela nomeação nos dois partidos é longa e cheia de armadilhas, o furacão Donald Trump não é o único com hipóteses de estragar a refeição que os Bush e os Clinton já tinham encomendado. No Partido Republicano, o antigo neurocirurgião Ben Carson é a nova estrela em ascensão – na média das sondagens analisadas pelo site Real Clear Politics, Carson está a apenas seis pontos de Donald Trump no primeiro estado a escolher os seus favoritos para a Casa Branca, o Iowa. O caso muda de figura no New Hampshire, que vota uma semana mais tarde, a 9 de Fevereiro de 2016, e também a nível nacional. Em ambos os casos, o magnata e estrela da televisão mantém vantagens muito mais confortáveis, mas este ímpeto da campanha de Carson já atirou com o antigo favorito Jeb Bush para 3. º lugar, com um terço das juras de amor feitas a Donald Trump. Longe do Iowa, do New Hampshire ou da Carolina do Sul (os estados mais visitados pelos candidatos dos dois partidos por esta altura, por estarem entre os primeiros a ir a votos), Carson foi até à Califórnia na semana passada, para discursar no Centro de Convenções de Anheim. Muitos dos que foram ouvi-lo estão desiludidos com os políticos de Washington (um trunfo muito usado também por Trump), mas em alguns casos a ligação parece ser mais profunda. Ao contrário do discurso negativo do magnata, que pode deixar para trás eleitores hispânicos e eleitores negros, tão importantes nas eleições gerais, Carson é uma dádiva para os conservadores que querem mudar não só os políticos, mas também a imagem que os Democratas e muitos independentes têm deles. O apelo de Ben Carson ficou explícito na resposta de dois apoiantes, Kelly e Marsha Whitehill, a uma pergunta do jornalista Andrew Romano, repórter da secção de Política do site Yahoo News: "Vocês dão importância ao facto de Carson ser negro?""Não", responde Marsha, antes de o marido acrescentar um "mas": "Temos a esperança de que o Dr. Carson consiga relacionar-se com os americanos negros e que mude as ideias deles. ""Não vemos os Republicanos como racistas, ao contrário do que os Democratas dizem. Não percebo essa ideia. Somos racistas porque não concordamos com Obama? Este apoio [a Ben Carson] prova que isso é mentira", afirma Kelly Whitehill. Como resumiu Andrew Romano, se o Partido Republicano quisesse combater a ideia de que está a ser dominado por um grupo de radicais intolerantes, que não acreditam nas teorias da evolução e são privilegiados e racistas, dificilmente encontrariam um candidato melhor do que Carson: "Um negro bem-educado, que estudou nas melhores universidades, homem da ciência e de fé, que saiu da miséria em que nasceu e tornou-se um Republicano ao longo dessa viagem. "O "socialista democrático"No outro lado da luta pela Casa Branca, no Partido Democrata, o cansaço com os políticos de Washington é menos notório, mas a dificuldade que Hillary Clinton tem demonstrado para se ver livre do seu emailgate está a prejudicá-la de duas formas – se assegurar a nomeação pelo seu partido, a luta deverá ser mais renhida do que se pensava há poucos meses, e antes disso poderá mesmo ter uma enorme surpresa nos dois primeiros estados contra Bernie Sanders. A média das mais recentes sondagens dá uma surpreendente vantagem ao candidato que se assume como "socialista democrático", e que tem ocupado a sua campanha com propostas políticas concretas, que marcam uma viragem à esquerda até para quem ainda tem no imaginário os discursos de Barack Obama em 2007 e 2008. No estado do Iowa, Sanders surge agora empatado com Hillary Clinton, e no New Hampshire a média das últimas sondagens dá-lhe uma vantagem de 11, 3 pontos percentuais.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Morreu Bobby Womack, um dos últimos mestres da soul
O lendário cantor de soul norte-americano Bobby Womack morreu esta sexta-feira, aos 70 anos, avança a revista Rolling Stone que cita um representante da editora XL Recordings que não avança as causas da morte. (...)

Morreu Bobby Womack, um dos últimos mestres da soul
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O lendário cantor de soul norte-americano Bobby Womack morreu esta sexta-feira, aos 70 anos, avança a revista Rolling Stone que cita um representante da editora XL Recordings que não avança as causas da morte.
TEXTO: Bobby Womack parecia sobreviver a tudo. Sobreviveu ao ostracismo a que foi votado pela comunidade musical quando, três meses depois da morte do seu mentor, Sam Cooke, casou com a viúva daquele. Sobreviveu à irritação de ver uma canção dos seus The Valentinos, It’s all over now, “roubada” pelos Rolling Stones (a irritação passou quando chegou o primeiro cheque de royalties). Sobreviveu a 20 anos de dependência de cocaína. Sobreviveu à morte trágica de um irmão, assassinado, e de dois filhos (um num acidente em casa, outro por suicídio). Sobreviveu aos seus pares, os seus heróis, lendas como Sam Cooke, Otis Redding, Marvin Gaye, Wilson Pickett. Ultrapassou dois cancros, um na próstata, outro no cólon. “Sobrevivi a muita coisa: melhor música que a minha, artistas que eram melhores que eu”, dizia ao Ípsilon em 2012. “Não percebo porque é que ainda estou aqui. A única coisa que me traz de volta é a música”. Bobby Womack sobreviveu para um último regresso, ao gravar com Damon Albarn, dos Blur, o álbum The Bravest Man In The Universe. Estávamos em 2012 e Womack, músico no activo desde os oito anos, guitarrista exemplar, compositor talentoso, senhor de uma imponente voz soul, tinha 68. Dois anos depois, com uma digressão europeia marcada para breve, a sua editora, a XL Recordings, deu a notícia. Bobby Womack não sobreviveu mais. Morreu esta sexta-feira, aos 70 anos. As causas não foram divulgadas, mas a sua saúde era frágil: fora-lhe diagnosticado Alzheimer e sofria de diabetes. “Verei o meu irmão na Igreja”, tweetou Damon Albarn em reacção à morte. Albarn fora responsável pelo renascimento do cantor no final da vida. Admirador da obra de Womack, convidou-o a participar em Plastic Beach, álbum de 2010 dos Gorillaz. A primeira abordagem não foi bem-sucedida. Womack desconfiava do apreço de Albarn e temia desiludi-lo – “achava que ele dava demasiado crédito a coisas que tinha feito há 35 anos”. Além disso, não fazia a mínima ideia do que eram e que música tocavam os Gorillaz. “Gorillaz? Só conheço os Monkees”, disparou. Albarn insistiu, Womack acedeu. Gravou duas canções para Plastic Beach e uma delas, Stylo, onde colabora também o rapper Mos Def, tornou-se mesmo o primeiro single do álbum. Dois anos depois, chegava The Bravest Man In the Universe. Era o seu primeiro álbum de originais em 18 anos e era um álbum único: o velho e o novo, a tradição soul e a electrónica recente e a sua voz impondo-se sobre as produções de Richard Russel e Damon Albarn. Em 1997 tínhamos voltado a recordá-lo quando Quentin Tarantino utilizou Across 110th street no genérico inicial de Jackie Brown (a canção, curiosamente, fora originalmente composta como banda-sonora do policial blaxploitation homónimo, estreado em 1972 e com Anthony Quinn como protagonista). Nessa altura, voltámos às suas canções e redescobrimos a sua obra, num momento em que Womack regressava discretamente à actividade, depois de um longo período de desistência em que pôs a guitarra de lado para passar os dias em frente à televisão, aborrecendo-se. Em 2012, quando conhecemos The Bravest Man In The Universe, vimo-lo verdadeiramente perante nós. Vivo, activo. O “pregador” estava de volta (era conhecido como “The Preacher” devido às longas dissertações com que apresentava as canções nos concertos). Para este ano está marcada a edição de um novo álbum em colaboração com Damon Albarn e Richard Russell, onde ouviremos convidados como Stevie Wonder, Rod Stewart, Snoop Dogg ou Ronald Isley, dos Isley Brothers. Womack chamou-lhe The Best Is Yet To Come, título que ganha uma trágica ressonância agora que Albarn corre para o twitter para prestar homenagem ao ídolo. “Verei o meu irmão na igreja”. Palavras apropriadas. Foi precisamente na igreja que, para Womack, dono de um percurso de vida muito pouco católico, tudo começou. Bobby Womack nasceu a 4 de Março de 1944 em Cleveland. Filho de um operário na indústria do aço, músico em part time (a mãe tocava órgão na igreja baptista da comunidade), não tinha ainda dez anos quando integrou os Womack Brothers, o grupo que o pai criou reunindo os cinco filhos. O fervor religioso dos pais impôs que o grupo se dedicasse ao gospel, pondo de parte a profanidade da soul e do rhythm’n’blues, cuja interpretação seria garantia de condenação eterna. Tal não demoraria a mudar. Porque entretanto, dá-se o momento decisivo no percurso de Bobby Womack. Sam Cooke, o grande cantor soul, o autor de A change is gonna come, vê o grupo actuar em 1956 e propõe-se ajudá-los na carreira. Em 1960, Cooke funda a sua própria editora, a SAR Records, assina o quinteto e produz e compõe os arranjos do primeiro single dos irmãos, Looking for a love. A banda já não se chamava Womack Brothers, mas sim The Valentinos, e Bobby Womack e os irmãos já tinham abandonado o lar familiar - à conta de terem trocado o gospel em favor da soul, o pai expulsara-os de casa. “Ele queria que eu fosse para o céu, mas eu nunca vi ninguém voltar do céu e dizer: ‘Eh pá, o céu é muito bom’”, recordava ao Ípsilon. Womack acabaria por perdoar o pai. “Ele não sabia para mais. Pensava que podíamos entrar no céu a cantar. Mas, como digo neste disco [The Bravest Man In The Universe], às vezes é melhor ser mau. Penso na minha vida e concluo isso: apesar de ter sido tantas vezes mau, sobrevivi. E os bons caíram. Onde está a justiça?”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte suicídio filho comunidade
Dos The Cure a Jorja Smith. Dos Vampire Weekend aos Idles: Nos Alive começa esta quinta-feira
Esta quinta-feira começa a 13.ª edição do Festival Nos Alive. Os grandes cabeças de cartaz vão ser The Cure, Vampire Weekend e Smashing Pumpkins, mas os outros palcos do recinto escondem algumas surpresas. (...)

Dos The Cure a Jorja Smith. Dos Vampire Weekend aos Idles: Nos Alive começa esta quinta-feira
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Esta quinta-feira começa a 13.ª edição do Festival Nos Alive. Os grandes cabeças de cartaz vão ser The Cure, Vampire Weekend e Smashing Pumpkins, mas os outros palcos do recinto escondem algumas surpresas.
TEXTO: O Passeio Marítimo de Algés, em Lisboa, está preparado para receber esta quinta-feira a 13. ª edição do Festival Nos Alive (fundado em 2007, como Oeiras Alive) com concertos ao longo dos seus seis palcos: Palco Nos, Palco Sagres, Palco Nos Clubbing (dedicado à música electrónica), EDP Fado Café (dedicado a artistas do fado e onde, todos os dias, irá receber o tributo ao icónico músico português, António Variações, com o actor Sérgio Praia, que também faz de Variações no seu filme homónimo a estrear-se a 22 de Agosto, a dar a voz à banda de tributo), Palco Coreto by Arruada (palco dedicado a talentos emergentes da música portuguesa) e Palco Comédia (que vai ter actuações de stand-up e de música ligada ao humor, por exemplo, Ena Pá 2000 e Eduardo Madeira & Manuel Marques). O maior nome do primeiro dia são os britânicos The Cure (00h10), banda fundamental no movimento gótico e no género pós-punk e autores de músicas como Friday I’m In Love ou Just Like Heaven. A banda liderada pelo inconfundível Robert Smith, que regressa a Portugal depois de uma actuação no Altice Arena em 2016, está a celebrar o 30. º aniversário de um dos seus álbuns de maior sucesso, Disintegration, e está a preparar o lançamento do seu primeiro álbum desde 2008, aguardado antes do final do ano. Ainda no primeiro dia, o palco principal vai receber os escoceses Mogwai (22h30), uma das bandas mais influentes do género pós-rock, que regressam a Portugal depois de terem estado no Nos Primavera Sound em 2018, o exclusivo regresso aos palcos dos Ornatos Violeta (20h45), que apenas vão dar três concertos em 2019 (para além deste, Marés Vivas a 20 de Julho e Festival F a 6 de Setembro de forma a celebrar o 20. º aniversário do seu segundo e último álbum O Monstro Precisa de Amigos), a banda de culto de rock alternativo Weezer (19h20), liderada por Rivers Cuomo, que este ano editou dois álbuns homónimos, um de covers (também conhecido por Teal Album) e outro de originais (Black Album) e ainda os portugueses Linda Martini (18h), que no ano passado lançaram o seu quinto álbum, Linda Martini. No palco Sagres, destaque para Hot Chip (3h), banda britânica de synth-pop que está a apresentar o seu mais recente álbum, A Bath Full of Ecstasy, a estreia nacional de Jorja Smith (21h50), um dos nomes mais aclamados do R&B moderno e que no ano passado cancelou a sua actuação no Super Bock Super Rock, e para a norte-americana Sharon Van Etten (18h50), que regressou este ano à música com o excelente Remind Me Tomorrow após um hiato que durava desde 2014. Nesse mesmo dia ainda é possível ver no Palco Nos Clubbing Stereossauro (1h15), autor do aclamado Bairro da Ponte, e no Palco Coreto os jovens valores portugueses Jasmim (17h20), Sunflowers (18h30), Ricardo Toscano (19h50), Solar Corona (21h15) e Vaarwell (22h50)Os Vampire Weekend (23h), um dos maiores nomes do indie rock do séc. XXI, são os cabeças de cartaz do segundo dia do festival e apresentam o seu bastante elogiado novo álbum, Father of the Bride, que tem estado em alta rotação nas rádios nacionais. Nesse dia, ainda sobem ao palco Nos os lendários Primal Scream (19h50), autores de álbuns como Screamadelica ou XTRMNTR, e que regressam a Portugal depois de no ano passado terem oferecido um dos melhores concertos do Vilar de Mouros, os Greta Van Fleet (21h20), alvos de discórdia por parte dos fãs devido ao seu estilo “semelhante” aos Led Zeppelin, e o veterano Perry Farrell (18h15), vocalista em bandas como Jane's Addiction ou Porno For Pyros. O trio australiano de indietronica Cut Copy (2h40), a diva jamaicana Grace Jones (meia-noite), a nova sensação da guitarra eléctrica Tash Sultana (21h45) e o ex-guitarrista dos Smiths, Johnny Marr (20h15) são alguns dos nomes que vão actuar no Palco Sagres. Dillaz (22h30) e Plutónio (21h10), nomes fortes do hip-hop português, vão estar presentes no palco Clubbing. No último dia do festival, o regresso dos Smashing Pumpkins (23h30), com 3/4 da sua formação original (apenas fica a faltar a baixista D'arcy Wretzky) e com o disco lançado no ano passado, Shiny and Oh So Bright, Vol. 1 / LP: No Past. No Future, será sem dúvida um dos nomes que vai arrastar mais público para o Passeio Marítimo de Algés. Depois da banda liderada pelo controverso Billy Corgan, cabe a um dos maiores nomes da música electrónica, The Chemical Brothers (1h30), encerrar as actuações do Palco Nos com boa disposição e uma grande descarga de energia ao som das músicas do seu álbum mais recente, No Geography. Ainda no palco principal estará o americano mestre do indie folk Justin Vernon, mais conhecido como Bon Iver (21h20), e os portugueses The Gift (17h). No entanto, o Palco Sagres guarda alguns concertos bem interessantes, nomeadamente a estreia a solo em Portugal de Thom Yorke, vocalista dos Radiohead, que lançou no final de Junho o seu terceiro álbum de originais, ANIMA, e os ingleses Idles que no seu segundo álbum, lançado no ano passado, Joy As An Act of Resistance, conseguem passar nas suas letras mensagens positivas de amor, aceitação pessoal e posições contra o “Brexit”, a homofobia, o racismo e a masculinidade tóxica, através da violência punk da sua música. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta edição do Nos Alive vai continuar a apostar na criação de infra-estruturas que procuram melhorar a acessibilidade a pessoas de mobilidade condicionada, explicou o director e criador do festival, Álvaro Covões. O Nos Alive, recorda Álvaro Covões, foi também o primeiro festival a ter uma zona exclusiva para futuras mães, tendo sido criada uma área, em parceria com a Associação Nacional de Farmácias, com uma bancada que permite às grávidas assistirem aos concertos sentadas em segurança — “sem levar cotoveladas”, rematou Covões. O Nos Alive vai acontecer entre os dias 11 e 13 de Julho e ainda tem bilhetes disponíveis para venda nos locais do costume. Texto editado por Maria Paula Barreiros
REFERÊNCIAS:
Étnia Escoceses
Os compromissos da Direcção Editorial
Hoje como sempre, os jornais independentes precisam de uma cidadania activa e informada. Estamos conscientes do papel que nos cabe nessa relação. E garantimos aqui o nosso empenho em cumpri-lo. (...)

Os compromissos da Direcção Editorial
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Hoje como sempre, os jornais independentes precisam de uma cidadania activa e informada. Estamos conscientes do papel que nos cabe nessa relação. E garantimos aqui o nosso empenho em cumpri-lo.
TEXTO: Uma das certezas da equipa que todos os dias produz e leva até si o PÚBLICO em formato de papel ou na edição online é a nossa identificação com a herança que fez deste jornal uma referência da imprensa de qualidade em Portugal. Hoje, o dia em que uma nova Direcção Editorial inicia as suas funções, é obrigatório sublinhar a valia dessa herança para garantir que, no essencial, o PÚBLICO continuará a ser o PÚBLICO. Um jornal independente de todos os poderes. Um jornal a par das mudanças e dos desafios do país. Um jornal livre, inconformista, irreverente e crítico. Um jornal empenhado em promover os valores do seu estatuto editorial, no qual se consagra o apego à democracia, o respeito pelo Estado de direito, a liberdade de expressão, a protecção das minorias, o culto da tolerância, a subscrição dos ideais da construção europeia e a certeza de que, como portugueses, fazemos parte de um mundo que nos influencia e no qual temos o dever de participar. Sabemos que ser jornalista hoje, fazer jornalismo hoje é um desafio ainda mais difícil. O espaço de tolerância em relação às ideias e opiniões dos outros reduziu-se, entre nós como no mundo. O empenho em perceber e aceitar diferentes pontos de vista, o cimento básico de uma sociedade nacional tolerante e a cola indispensável da coexistência democrática, está em recuo. O dever de escrutinar o poder político, seja o Governo ou a oposição, dá cada vez mais lugar à produção de anátemas ou de certezas sectárias que menosprezam a exigência, a defesa do interesse público ou a factualidade verificada. A crescente propensão, muito inflacionada pelas redes sociais, de se analisar o que se publica a partir de trincheiras ideológicas, partidárias ou clubísticas estimula o vazio onde germina o populismo, a xenofobia e os radicalismos. A pós-verdade e/ou a verdade pessoal, relativa e insusceptível de questionamento, ganharam terreno. A crise da imprensa é em grande medida um espelho da crise do espaço público – mas, reconheçamo-lo, é também, e com excessiva frequência, uma das suas causas. Pensar um jornal pressupõe uma visão e uma ideia do país. O PÚBLICO, sabemo-lo nós e reconhecem-no os leitores, defende os valores da livre iniciativa, da democracia liberal, das liberdades individuais, da fiscalização e controlo dos poderes. Assumir estas posições não implica a renúncia em acolher, divulgar e estimular visões que legitimamente as questionam. O PÚBLICO continuará a ser o lugar onde todas as opiniões cabem, excepto as que promovam valores atentatórios ao nosso estatuto editorial, sejam o racismo, a xenofobia, a homofobia ou a apologia da violência. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Dirigir um jornal nos tempos duros em que vive a imprensa (e as democracias) não é tarefa fácil. A redacção do PÚBLICO assume-se como um espaço de resistência nesse desafio. Não abdicamos da nossa edição em papel. Nem de ser o único jornal verdadeiramente nacional, com duas redacções e edições nas principais cidades do país e leitores do Minho ao Algarve, da Estremadura aos Açores. Queremos ser ainda mais um elo de união do espaço lusófono — São Paulo é com frequência a cidade onde mais se lê o PÚBLICO, depois de Lisboa e Porto. E prometemos uma edição online renovada e reforçada. Sabemos que é na Internet que o jornalismo de qualidade há-de cimentar o seu futuro. Havemos de o garantir. Para essas apostas, contamos com a mais brilhante e empenhada equipa de jornalistas do país. Contamos também com a dedicação ao projecto do nosso accionista e com o seu compromisso em conservar a liberdade e independência editorial da redacção, que persistem desde a fundação do PÚBLICO. Contamos com o apoio crucial dos restantes departamentos da empresa. Contamos ainda com a confiança dos nossos anunciantes. E contamos, fundamentalmente, com a cumplicidade e dedicação dos leitores mais exigentes e dedicados da imprensa portuguesa: os nossos leitores. Dos que compram o jornal ou o assinam nos suportes papel ou digital. Mas também dos que nos lêem na edição online e aos quais continuaremos a apelar para que se juntem a esse grupo. Nestes dias em que os meios dos poderes constituídos para ocultar, gerir ou branquear os factos e a verdade crescem desmesuradamente, enquanto os recursos humanos e materiais das redacções encolhem, comprar ou assinar um jornal como o PÚBLICO é um compromisso cívico em favor de uma sociedade plural e democrática. Hoje como sempre, os jornais independentes precisam de uma cidadania activa e informada. Estamos conscientes do papel que nos cabe nessa relação. E garantimos aqui o nosso empenho em cumpri-lo.
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Partidos LIVRE
Quem pode, manda
Cada instituição projeta-se na escala e ambição a que aspira e nada há de menos digno na escala local ou paroquial. (...)

Quem pode, manda
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cada instituição projeta-se na escala e ambição a que aspira e nada há de menos digno na escala local ou paroquial.
TEXTO: A Fundação de Serralves é uma fundação privada. Mesmo sem ter conhecimentos jurídicos especializados, pressuponho que os seus responsáveis possam fazer aquilo que quiserem, nos limites da legislação que se lhes aplique e na medida em que os seus parceiros institucionais e financiadores aceitem o que for feito. Tentemos compreender (com base na pouca e confusa informação disponível) o que foi feito com a exposição Robert Mapplethorpe: Pictures. Mas antes de chegar a Serralves, comecemos por uma abordagem genérica da questão. Não há ninguém minimamente familiarizado com o meio artístico contemporâneo que não saiba que a obra de Mapplethorpe e o historial da censura e da luta contra a censura à apresentação e divulgação da sua obra é um exemplo destacado no que diz respeito à história recente da luta pela liberdade de expressão artística contra o obscurantismo. Em função deste historial, é conclusão consensual no meio artístico contemporâneo, à escala internacional, que qualquer tipo de proibição ou bloqueamento do acesso à visão e divulgação da obra de Mapplethorpe configura uma atitude anti-liberal que promove os valores da censura e, dadas as caraterísticas específicas da obra do autor, reforça as dinâmicas da discriminação de tipo sexual (nomeadamente a homofobia) e, por vezes, veicula formas indiretas de racismo. (Ou seja, e sem querer remeter para nenhum caso concreto, será que a pulsão censória teria a mesma intensidade se as relações aparentemente representadas fossem heterossexuais ou, noutros casos, se a cor da pele dos corpos representados fosse branca?)Dito isto, importa reconhecer que a obra de Mapplethorpe é frequentemente objeto de proibição ou de severas limitações de acesso à sua visão (e isso é muitas vezes aceite como um mal menor), nomeadamente quando se trata de países não democráticos, anti-liberais ou dominados por fundamentalismos religiosos, ou quando se trata de instituições dependentes, para a sua sobrevivência e financiamento, de entidades guiadas por esse tipo de valores. Imaginemos, por exemplo, o que se poderia passar numa instituição dependente do financiamento de fundamentalistas evangélicos. Se há uma outra evidência consensual no meio artístico contemporâneo é que uma instituição artística, mesmo que privada, que aspire à respeitabilidade internacional e queira assumir uma vocação cultural contemporânea e cosmopolita, deve trabalhar com diretores artísticos e curadores nos quais delega a concepção e execução da sua programação e, nomeadamente, a organização concreta, seleção e apresentação das obras das suas exposições. O recurso a profissionais com conhecimentos especializados permite o adequado acesso do público a uma visão de conjunto da obra de um autor nas suas várias dimensões: uma visão informada e articulada, liberta de amputações ou desmembramentos ditados por motivos espúrios. É para isso que existem “diretores artísticos” e “curadores” e é por isso que as instituições respeitáveis costumam respeitar as suas competências específicas, e bem assim os poderes e a autonomia neles delegados. Mas, na realidade, nada obriga a que assim aconteça. Ou seja (com a eventual ressalva de algumas obrigações contratuais que desconheço), imagino que os responsáveis de uma fundação privada como é Serralves podem prescindir ou desautorizar o trabalho de diretores artísticos ou curadores e decidirem de acordo com os seus próprios desígnios políticos ou económicos, ou os seus valores morais (ou mesmo de acordo com os seus caprichos estéticos ou fetiches sexuais). Ou mesmo tão só em função dos ditames da boa gestão dos seus pequenos ou grandes interesses paroquiais. Cada instituição projeta-se na escala e ambição a que aspira e nada há de menos digno na escala local ou paroquial. Ainda assim, em termos práticos, no que diz respeito às modalidades de censura ou bloqueio do acesso à visão da obra de Mapplethorpe, partilharei algumas dúvidas e perplexidades, designadamente em relação à questão da exigência de maioridade das pessoas que poderão ter acesso a um determinado conjunto de obras. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por não ter conhecimentos suficientes na área clínica não consigo imaginar a dimensão dos danos que a visão de algumas fotografias de Mapplethorpe possa provocar numa pessoa com menos de 18 anos. Julgo saber, no entanto, que é muito fácil encontrar na internet imagens suscetíveis de provocar o mesmo tipo de danos. Nesta medida, talvez fosse aconselhável proibir, em domínios sujeitos à autoridade da administração de Serralves, o acesso de menores à internet. A menos que devidamente acompanhados por familiares. Aqui surge, aliás, uma outra perplexidade, associada à falta de clareza em relação à questão do acesso à sala proibida. Através das notícias que me chegaram pela comunicação social ainda não ficou claro, para mim, qual o princípio censório aplicado. Os menores não podem mesmo entrar ou basta estarem acompanhados por um adulto, qualquer adulto? Ou deverão estar acompanhados por familiares e, neste caso, qual o grau de parentesco requerido? Será que uma pessoa com 17 anos se poderá fazer acompanhar, por exemplo, por um irmão ou uma prima já com 18 anos feitos? Será que uma tia ou um avô poderão ser considerados válidos para o efeito? Ou será indispensável a presença dos progenitores devidamente identificados e, neste caso, será que basta a presença de um deles ou é necessária a presença dos dois, já que podem não partilhar os mesmos princípios em matéria de educação dos filhos? Para maior conforto dos potenciais visitantes creio que seria útil clarificar estas questões em futuros avisos. Uma questão que não tem sentido colocar é a da competência da administração para tomar as decisões que tomou. Uma vez que (pelo que julgo poder deduzir) não está obrigada legalmente a respeitar o poder ou a autonomia de diretores artísticos ou curadores, a administração não carece de qualquer competência artística ou cultural para tomar as suas decisões. Quem pode, manda.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação racismo social sexual discriminação homofobia
Um canalha à porta do Planalto
Equiparar Haddad a Bolsonaro constitui um acto moral e politicamente inqualificável. Quem o faz torna-se cúmplice de Bolsonaro. (...)

Um canalha à porta do Planalto
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Equiparar Haddad a Bolsonaro constitui um acto moral e politicamente inqualificável. Quem o faz torna-se cúmplice de Bolsonaro.
TEXTO: 1. Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um dos maiores, senão mesmo o maior torcionário, no tempo da ditadura militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Em 2008 foi o primeiro oficial condenado por sequestro e tortura. Comprovadamente, maltratou física e psicologicamente centenas de pessoas e chegou ao limite de obrigar crianças a presenciarem o dilacerante espectáculo do espancamento dos respectivos progenitores. Nunca reconheceu os seus crimes nem manifestou o mais leve arrependimento pelos seus actos desumanos. Era um canalha. Morreu em 2015, em Brasília, na cama de um hospital. Foi precisamente este torcionário miserável que o então deputado federal Jair Bolsonaro homenageou no momento em que votou a favor do impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Nessa ocasião, Bolsonaro pronunciou uma declaração que o define integralmente: dedicou o seu voto à “memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”. É impossível imaginar, naquele contexto, uma afirmação mais vil, um comportamento mais indigno, uma atitude mais asquerosa. Bolsonaro revelou-se ali o que ele verdadeiramente é: um canalha em estado puro. O que é um canalha em estado puro? É alguém que contraria qualquer tipo de critério moral e se coloca num plano comportamental pré ou anticivilizacional. Quem elogia o torturador de uma jovem mulher absolutamente indefesa atribui-se a si próprio um estatuto praticamente sub-humano. Bolsonaro é dessa estirpe, desse rol de gente que leva à interrogação sobre o que subsiste de humano no homem que literalmente se desumaniza. Theodore Adorno levou essa questão até ao limite do pensável, quando formulou a sua célebre afirmação: “escrever um poema depois de Auschwitz é um acto bárbaro e isso corrói até mesmo o conhecimento de porque se tornou impossível escrever poemas”. E, contudo, a poesia sobreviveu. O Homem resiste ao que de desumanizador ele inscreve na história. Isso não é razão para renunciar à denúncia da barbárie. A barbárie tem muitos rostos: é estúpida, boçal, intolerante, sectária, fanática, simplista, racista, xenófoba, homofóbica, sexista, classista, irremediavelmente preconceituosa, inevitavelmente primária. Jair Bolsonaro é um dos rostos perfeitos dessa barbárie em versão actual. Tudo nele aponta para a pequenez: é um ser intelectualmente medíocre, eticamente execrável, politicamente vulgar. Nele observa-se uma prodigiosa ausência de qualquer tipo de grandeza e uma assustadora presença de tudo quanto invalida um cidadão para o desempenho da mais humilde função pública. Por isso mesmo ele é extraordinariamente perigoso: é a expressão quase exemplar do homem sem qualidades subitamente erigido a um papel de liderança. Bolsonaro não é Hitler, não é Mussolini, não é sequer Franco. Em bom rigor, se quisermos ater-nos a um debate intelectual de natureza escolástica, ele não é bem a representação do fascismo. Há nele, contudo, na dimensão medíocre que a sua pobre personalidade proporciona, tudo aquilo de que a tradição fascista historicamente se alimentou. O anti-iluminismo, a exaltação sumária da unicidade nacional, a apologia da violência, o culto irracional do chefe. Bolsonaro é pouco mais do que um analfabeto ideológico com todos os perigos que isso mesmo encerra. Ele e a sua prole de jovens tontos significam hoje o maior perigo com que se depara o mundo ocidental. 2. Alguns analistas políticos, uns por ignorância, outros por má-fé, tentam convencer-nos que os brasileiros terão de escolher nas eleições presidenciais entre a cólera e a peste. Isso não corresponde minimamente à verdade. Equiparar Haddad a Bolsonaro constitui um acto moral e politicamente inqualificável. Quem o faz torna-se cúmplice de Bolsonaro, da sua vertigem proto-fascista, da sua propensão para o culto da violência. É por isso que não pode haver hesitações neste momento da história do Brasil e, de uma certa maneira, da própria história da Humanidade. Haddad é um intelectual sofisticado, um democrata respeitador dos princípios fundamentais das sociedades abertas e pluralistas, um homem de reconhecida integridade cívica e moral. O PT cometeu erros nos anos em que governou o Brasil? Cometeu decerto, como todos os demais partidos que desempenharam funções governativas durante muito tempo em qualquer parte do mundo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há, porém, uma coisa que é preciso afirmar enfaticamente nesta hora especialmente dramática: nem Lula, nem Dilma Rousseff alguma vez puseram em causa o Estado de Direito brasileiro. Ambos pugnaram por um Brasil mais justo e contribuíram fortemente para o alargamento das condições de afirmação da liberdade individual de milhões de brasileiros a quem o destino aparentava não conceder outra vida que não fosse a miséria, o sofrimento e absoluta exclusão social. Fizeram-no sempre no respeito pelas regras da democracia liberal, enfrentando a hostilidade de uma comunicação social globalmente desfavorável e os ferozes ataques dos grandes oligopólios económicos. Muitas vezes é difícil percebermos o que isso significa a partir de uma perspectiva europeia. Mas quem viajou dezenas de vezes para a América Latina, como eu fiz nos últimos anos, sabe bem o que isso traduz naquele sacrificado continente. Ali, ser pobre corresponde a ser muito mais pobre do que no nosso velho continente europeu; ali, ser mulher, ser homossexual, ser indígena, ser desempregado, ser mãe solteira, comporta uma carga sem correspondência com o que se passa no mundo que nós próprios habitamos. Uma vitória de Bolsonaro significaria um retrocesso civilizacional para o Brasil e para o mundo. Não estamos, por isso, a falar de um confronto político e ideológico normal. Estamos perante um verdadeiro confronto entre a civilização, por mais ténue que esta seja, e a barbárie. Haddad é hoje mais do que Haddad, é mais do que o PT, é mesmo mais do que o Brasil. Haddad é o símbolo da luta da razão crítica contra o obscurantismo, da liberdade face ao despotismo, da aspiração igualitária diante do culto das hierarquias de base biológica ou social. É por isso que este combate nos interpela a todos. Estamos perante um momento de divisão clara entre o que no Homem há de apelo à razão, ao culto da liberdade, ao sentido da fraternidade, e o que no mesmo Homem há de impulso básico para o autoritarismo, a servidão e a anulação da inteligência crítica. Há horas na história em que tudo se reconduz a uma dicotomia simples que é ela própria o oposto de uma redução ao simplismo. Sejamos claros, no Brasil, hoje, a opção é evidente: Haddad significa a civilização, Bolsonaro representa a barbárie. 3. Fernando Henrique Cardoso tem a absoluta obrigação de se pronunciar num momento decisivo da vida do seu país. Este é o momento em que verdadeiramente se ajuizará do seu papel histórico. Até aqui prevaleceu a figura do intelectual brilhante, do ministro das finanças eficaz, do Presidente da República naturalmente polémico, mas reconhecidamente superior. O seu passado responsabiliza-o especialmente nas presentes circunstâncias históricas. Fernando Henrique Cardoso tem a obrigação moral de apoiar Haddad. Se o não fizer apoucar-se-á perante os seus contemporâneos e sobretudo diante dos futuros historiadores do Brasil.
REFERÊNCIAS:
Um dia negro para a democracia
Bolsonaro é o derradeiro capítulo de um processo de autodestruição das elites políticas brasileiras. Como todos os outros capítulos, é uma vergonha e uma desgraça. (...)

Um dia negro para a democracia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.15
DATA: 2018-10-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Bolsonaro é o derradeiro capítulo de um processo de autodestruição das elites políticas brasileiras. Como todos os outros capítulos, é uma vergonha e uma desgraça.
TEXTO: A eleição de Jair Bolsonaro aconteceu sem surpresa e não apenas por causa da sua vitória categórica na primeira volta ou devido às sondagens que o colocavam a grande distância de Fernando Haddad. Depois de tantos escândalos, da espiral de violência, de crises que foram da economia à ética, de uma destituição (a de Dilma Rousseff) aprovada por um congresso minado pela corrupção, não surpreende que os brasileiros elejam um Presidente que não resiste sequer ao teste da decência mínima que se exige a qualquer cidadão. Bolsonaro é o derradeiro capítulo de um processo de autodestruição das elites políticas brasileiras. Como todos os outros capítulos, é uma vergonha e uma desgraça. Se o novo Presidente do Brasil tem um mérito é o de não esconder a sua homofobia, o seu racismo, ou a sua propensão para a arruaça e para a violência. Não sabemos o que ele pensa sobre a educação ou as finanças públicas (recusou todos os debates), mas sabemos sim o que ele gostava de fazer aos negros, aos gays ou aos militantes do PT. E é por conhecermos essas misérias que vai ser fundamental saber se as instituições incumbidas de defender os valores que ele ataca serão capazes de o travar. Sem uma maioria no Congresso, Bolsonaro vai ter de negociar todas as leis espúrias que lhe passam pela cabeça. Mesmo que as consiga aprovar, terão se passar pelo crivo do Supremo Tribunal Federal que zela pela Constituição. Mesmo que se esvazie a Constituição, há no Brasil organizações sociais, sindicatos e a imprensa para escrutinar os seus delírios. Talvez Bolsonaro tenha de renunciar a parte do seu programa, indo ao encontro das expectativas de uma certa direita inorgânica de Portugal que, de tanto se deleitar com a apologia da liberdade, esqueceu que a liberdade só existe onde existe decência e respeito pelos outros. Ou talvez o seu temperamento agressivo se exalte com esta extraordinária vitória e o leve a desafiar os mais básicos alicerces do sistema. Aconteça o que acontecer, hoje é um dia mau para a liberdade, para a tolerância ou para a devoção ao pluralismo e à diversidade humana. A democracia no Brasil não morreu. Mas com o PT condenado pela sua própria venalidade, arrogância e cegueira, o PSDB destruído pela sua inconsistência, o MDB minado ainda mais do que todos pelo flagelo da corrupção, a justiça politizada e a sociedade descrente, Bolsonaro pode estar a um passo de a querer matar. Pobre querido Brasil.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência tribunal educação racismo vergonha homofobia
(Mais) um fim-de-semana para celebrar Serralves (e os dois aniversários redondos que comemora este ano)
Emmanuelle Huyhn e MC Carol, Joan Jonas e Adrian Sherwood, Miguel Pereira e Dur Dur Band: a 16.ª edição do Serralves em Festa promete mais um programa de apelo transversal, e o regresso de alguns artistas que marcaram as edições anteriores. (...)

(Mais) um fim-de-semana para celebrar Serralves (e os dois aniversários redondos que comemora este ano)
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.15
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Emmanuelle Huyhn e MC Carol, Joan Jonas e Adrian Sherwood, Miguel Pereira e Dur Dur Band: a 16.ª edição do Serralves em Festa promete mais um programa de apelo transversal, e o regresso de alguns artistas que marcaram as edições anteriores.
TEXTO: Celebrar Serralves. Este é o mote e o objectivo da programação do Serralves em Festa de 2019, apresentada esta terça-feira por Ana Pinho, presidente do conselho de administração da Fundação de Serralves, Philipe Vergne, o recém-chegado director do museu, e os responsáveis pelo programa do evento. O pontapé de saída desta edição “especial”, que coincide com as celebrações do 30. º aniversário da fundação e do 20. º do museu, será dado no dia 31 de Maio, às 18h, com uma conversa, Post: The Works of Art in the Age of Social Reproducibility, em que o curador italiano Francesco Bonami debaterá com Philippe Vergne o lugar da produção artística num mundo dominado pelas lógicas populares (e populistas?) das redes sociais. Do longo fim-de-semana de portas abertas que entre 31 de Maio e 2 de Junho levará nova enchente a Serralves consta também a estreia absoluta de The Big Show SEF, de Miguel Pereira, uma peça que o coreógrafo está a criar especificamente para a ocasião e que, através de memórias e testemunhos de espectadores e artistas convidados, passa em revista alguns dos melhores momentos das 16 edições anteriores do Serralves em Festa. “Trata-se de uma peça original que promete celebrar estes aniversários e que pretende trazer as pessoas para o espírito do festival”, explicou Cristina Grande, responsável pelo serviço de Artes Performativas da fundação. Nas artes performativas, destacam-se também Cribles Live Porto, de Emmanuelle Huynh — outra criação especial para o Serralves em Festa, a partir de uma anterior peça da coreógrafa já ali apresentada —, e Mirror Piece II, de Joan Jonas. Esta última prevê, através do uso de espelhos, a “multiplicação das perspectivas do público presente e daquilo que este irá observar”, induzindo uma série de questões sobre as fronteiras entre realidade e representação — um momento que Cristina Grande antecipa como “particular e histórico”. A artista norte americana inaugura, já esta sexta-feira, uma exposição que poderá ser vista ininterruptamente durante as 50 horas do festival. Em linha com o que aconteceu nos últimos dois anos, as artes circenses também vão marcar presença, desta vez com La Spire, de Chloé Moglia e Cia Rizhome, uma peça que conjuga acrobacias com poesia e que tem o céu como cenografia. A performance terá como base de apoio uma “escultura-objecto” idealizada pela artista, ocupada por “um grupo de seis acrobatas que convidam o público a seguir a evolução ascendente desta espectacular acrobacia aérea”. Nas escolhas musicais, sobressaem os HHY & The Macumbas, presença marcante da actual cena musical portuense, que para o Serralves em Festa se vão fazer acompanhar do histórico produtor britânico Adrian Sherwood. Nídia, produtora e DJ lisboeta que tem desenvolvido um trabalho muito pessoal entre o kuduro e o tecno com reconhecido impacto internacional, e a brasileira MC Carol, nome fundamental do funk brasileiro e do activismo contra a discriminação sexual e de género, são outros dos destaques do programa deste ano. A referência a temas da actualidade foi aliás uma das preocupações dos programadores do evento, que também se reflecte nas escolhas musicais. A presença da Dur Dur Band, por exemplo, um grupo proveniente da Somália que se tornou famoso na década 80 mas teve de abandonar o território aquando da irrupção de um conflito civil em 1991, traz ao Serralves em Festa a questão migratória: a obra da banda, repleta de funk e soul, é uma memória viva da perseguição aos artistas do país, que se estendeu a várias etnias. Para além da Somália, estima-se que mais 19 países estejam representados na edição deste ano do Serralves em Festa. A diversidade é uma necessidade primordial de um evento que pretende ter um carácter nacional e internacional e que quer, ano após ano, cimentar o seu estatuto de “maior evento de cultura contemporânea em Portugal e um dos maiores a nível internacional”. Em 2018, um novo recorde de público foi batido, com 250 mil pessoas a passarem por Serralves durante as 50 horas da iniciativa. As actividades educativas, uma das imagens de marca do Serralves em Festa, também não vão faltar nesta edição, com o destaque a ser dado à partilha, nomeadamente nas oficinas Memória Rendilhada, Talheres Dançantes e Paisascópio. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Serralves em Festa pode já estar a caminho da maioridade, mas esta será a primeira edição para Philippe Vergne, que assumiu a direcção do Museu de Serralves apenas em Abril. O novo director partilhou com os jornalistas a sua surpresa perante a dimensão do evento e a abrangência do programa, repleto de artistas com grande notoriedade. Vergne confessou-se especialmente agradado com a gratuidade da iniciativa, que encara como “um presente para a cidade e uma forma lhe devolver” tudo o que tem dado à instituição. À semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, as actividades do Serralves em Festa têm início na noite de sexta-feira (31 de Maio) e prolongam-se até ao fim da tarde de domingo (2 de Junho). Texto editado por Inês Nadais
REFERÊNCIAS:
Entidades SEF
Bolsonaro: um fascista é um fascista
Entre um fascista impoluto e um democrata corrupto, eu escolho o democrata corrupto. (...)

Bolsonaro: um fascista é um fascista
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre um fascista impoluto e um democrata corrupto, eu escolho o democrata corrupto.
TEXTO: Jair Bolsonaro tem uma grande vantagem para as pessoas que, como eu, já não aguentam ouvir tanta má utilização da palavra fascista. A esquerda diz: “Marine Le Pen é fascista. ” E a gente esforça-se por explicar que Le Pen é deplorável e infrequentável, mas não é fascista. A esquerda diz: “Donald Trump é fascista. ” E a gente lá tem de explicar que Trump é uma vergonha ambulante com claros tiques autocráticos, mas que não, não é fascista. A esquerda diz: “Jair Bolsonaro é fascista. ” E aí, finalmente, temos o privilégio de poder concordar: Bolsonaro é efectivamente fascista. Era bom que a direita admitisse isso, também para ter a autoridade moral para clarificar aqueles que não o são. Jair Bolsonaro é tão fascista quanto um fascista consegue ser fascista num país democrático. E como é possível que venha a ganhar a presidência do Brasil, convém ter isso bem claro na cabeça. A dificuldade que alguma direita tem em admitir esta evidência preocupa-me. A razão da cegueira voluntária é simples, e partilhada por muitos brasileiros: como a esquerda PT é a mais clara encarnação de um sistema profundamente corrupto e a eleição de Fernando Haddad pode significar o indulto para Lula, prefere dar-se a Bolsonaro o tratamento trumpiano, ou seja, aplicar um desconto generoso às barbaridades que o homem diz, à espera que sejam apenas figuras de estilo. Só que o Brasil não é os Estados Unidos da América – no Brasil, convém não arriscar. Bolsonaro pode perfeitamente ter a tentação de levar a sério o seu amor pela ditadura militar, esse tempo saudoso em que, nas suas palavras, havia “respeito, segurança, ordem pública” e as autoridades “não enriqueciam” à custa do povo. Outra razão para afirmar que Bolsonaro não é fascista: o seu programa económico. Paulo Guedes, que é apontado como o futuro líder das Finanças de um governo seu, tem um discurso de privatização radical da economia brasileira, de forma a conseguir uma diminuição significativa do peso da dívida, associado a uma simplificação tributária drástica, de preferência com um único imposto federal. Isto, de facto, não é fascismo, mas neoliberalismo – só que os Chicago Boys já mostraram a compatibilidade entre uma coisa e outra no Chile de Pinochet, nos anos 70 e 80. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É sempre possível adoptar a distinção que o colunista brasileiro Rogério Maestri estabelece entre “comportamento fascista” (que Bolsonaro terá) e “ideologia fascista” (que ele não tem). Mas, para o caso, parece-me pouco relevante. Tal como Maestri, prefiro apelidar Bolsonaro de burro esperto. Esperto, porque percebeu que o seu discurso sobre a moral e a segurança tinha tudo para entrar como faca em manteiga no actual eleitorado brasileiro. Burro, porque fora dessa conversa dos valores tradicionais da família, da necessidade de ordem e do combate à corrupção, Bolsonaro não tem a menor ideia sobre coisa nenhuma. Votar num burro esperto (e perigoso), que quer aumentar o número de juízes no Supremo de 11 para 21 para poder nomear a maioria, não é uma opção aceitável. Bolsonaro parece fascista, cheira a fascista e fala como um fascista. Defende a violência do Estado, a pena de morte e a tortura; maltrata grupos sociais vulneráveis (homossexuais, negros, índios); e tem um discurso de coesão nacional racista e paranóico. Olhar para isto e dizer, com os dedos cruzados, “é só pose”, parece-me uma jogada estupidamente arriscada. Entre um fascista impoluto e um democrata corrupto, eu escolho o democrata corrupto.
REFERÊNCIAS:
Lula e o PT ofereceram o Brasil a Bolsonaro
Bolsonaro é uma erva daninha que foi diariamente regada por um PT profundamente corrupto, que os brasileiros (à excepção dos nordestinos) querem hoje ver para trás das costas. (...)

Lula e o PT ofereceram o Brasil a Bolsonaro
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Bolsonaro é uma erva daninha que foi diariamente regada por um PT profundamente corrupto, que os brasileiros (à excepção dos nordestinos) querem hoje ver para trás das costas.
TEXTO: Neste momento, é mais provável encontrar o Cristo Redentor a caminhar sobre as águas da Guanabara do que Fernando Haddad vir a ser eleito presidente do Brasil. Está feito. O Palácio do Planalto é de Jair Bolsonaro. Haddad conseguiu apenas adiar o inevitável durante três semanas. Com 46% dos votos na primeira volta e um país totalmente polarizado, ninguém acredita que o candidato do PT consiga ir buscar mais 20 milhões de votos no segundo turno e Bolsonaro se mostre incapaz de arrebanhar os cinco que lhe faltam. Sei que a esquerda portuguesa tem o exemplo de Mário Soares para se animar (em 1986, Freitas obteve 46, 3% na primeira volta e Soares 25, 4%), mas nem Portugal é o Brasil, nem Bolsonaro (ao contrário de Freitas) esgotou todos os votos da direita brasileira. Aquilo que eu penso do senhor Bolsonaro já ficou escrito no sábado (“Bolsonaro: um fascista é um fascista”), e acho extraordinário que boa parte do eleitorado proceda a uma limpeza de carácter do candidato contra as suas próprias palavras. Nós já tínhamos visto isto nos Estados Unidos com Donald Trump, e é uma nova e desconcertante forma de olhar para a política, que ficou bem definida na famosa máxima: “The press takes him literally, but not seriously; his supporters take him seriously, but not literally. ” Com Bolsonaro acaba de acontecer o mesmo: boa parte da imprensa e toda a oposição agarraram-se a uma literalidade que os seus apoiantes recusam – Bolsonaro, dizem estes, não é tão preconceituoso, racista e homofóbico como parece; não é tão selvagem quanto as suas palavras indicam; a postura fascista e troglodita é apenas um caminho necessário para chegar ao poder, que ele depois tratará de exercer com equilíbrio e ponderação. Pois bem: eu não compro. Não resultou com Trump, não resultou com Duterte, não resultou com Orbán, muito menos há-de resultar com Bolsonaro ou com os mini-Bolsonaros (incluindo os seus dois filhos eleitos, que parecem, como nas piores famílias, tirados a papel químico do pai) que de repente pululam pelo Brasil. Significa isto que vem aí golpe militar? Claro que não. Como aqui dizia ontem Jorge Almeida Fernandes, “os golpes estão fora de moda”. A golpada século XXI consiste em encontrar “formas mais ‘institucionais’ de autoritarismo e controlo social”. Não se estrangula – vai-se diminuindo aos poucos o oxigénio no ar. Um leitor, discordando do texto em que chamei fascista a Bolsonaro, alertava para a ideologia do PT e para o seu comportamento desde a prisão de Lula, utilizando um bom argumento: “Penso que, apesar de todos os defeitos de Bolsonaro, o risco de deriva totalitária é maior com o PT. O Brasil enfrenta o risco de venezuelização, mais do que o de mussolinização. ” Eu percebo isto. Discordo de qualquer limpeza de imagem de um cavernícola como Bolsonaro, mas percebo o medo do PT e a crítica ao seu comportamento. Não há como negá-lo: a linguagem da esquerda na fase Lava-Jato foi um ataque constante à separação dos poderes e, nesse sentido, à própria Constituição. Bolsonaro é uma erva daninha que foi diariamente regada por um PT profundamente corrupto, que os brasileiros (à excepção dos nordestinos) querem hoje ver para trás das costas. A esquerda brasileira demorou muito tempo a perceber isso. A portuguesa ainda não percebeu. A corrupção mata os regimes democráticos. Está a acontecer no Brasil. Era bom que não viesse a acontecer em Portugal. Mais sobre isto na quinta-feira.
REFERÊNCIAS: