O admirável mundo novo e a sua companheira a censura
É preciso separar as coisas: tratar os crimes como crimes e deixar o resto para a liberdade de expressão, insisto, mesmo que a consideremos repugnante. (...)

O admirável mundo novo e a sua companheira a censura
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.468
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: É preciso separar as coisas: tratar os crimes como crimes e deixar o resto para a liberdade de expressão, insisto, mesmo que a consideremos repugnante.
TEXTO: O incremento da censura na Internet, em particular nas redes sociais, é uma tendência perigosa, que vai a par com legislação destinada a “proteger-nos” do racismo, do ódio nacionalista, da violência verbal, que desde a Constituição, aos surtos de indignação com apelos censórios, é tudo destinado a criar um mundo fofinho e higiénico que não existe na realidade. Há muita coisa que se pode fazer para combater o problema combinado das fake news – teorias conspirativas – boatos perigosos - boatos atentatórios da personalidade – linguagem de ódio – uso da Internet para fins de manipulação profissionalizada por serviços de informação e agências de comunicação, etc. , e tudo é melhor do que a censura que começa a generalizar-se e depois a normalizar-se. Censura essa que merece o aplauso da multidão do “politicamente correcto”, que preza pouco a liberdade. A liberdade que existe para os outros poderem dizer as coisas que mais me repugnam. Em primeiro lugar, é preciso separar as coisas: separar os crimes das opiniões, por afrontosas que sejam; as acções bélicas de “propaganda negra” ou outras usadas pelos servições de informação, que são também crimes, do uso de linguagem violenta e odiosa; a incitação ao crime, que é também um crime, das obscenidades racistas e outras. Ou seja, simplificando, - tratar os crimes como crimes e deixar o resto para a liberdade de expressão, insisto, mesmo que a consideremos repugnante. No plano do crime, a legislação precisa de evoluir e adaptar-se a esta nova realidade, mas a regra é sempre a mesma: o que é crime cá fora é crime lá dentro. Deve-se facilitar a identificação dos autores mesmo anónimos em casos de investigação de crimes, e perceber que os crimes de abuso de liberdade de expressão, calúnia, ataques insultuosos, devem ter legislação expedita e exemplar. As fornecedoras de serviços de redes sociais devem assumir a responsabilidade por não permitir a manipulação de identidades, e devem ser capazes de identificar com clareza junto das autoridades quem esteja a cometer crimes em linha. O uso de anonimato deve manter-se na base do princípio de que alguém está a denunciar (whistleblowing) algo que pode ser um crime, ou uma malfeitoria ou uma prática inaceitável e deve ser protegido de retaliações, mas não é justificado para a cobardia da opinião. Já o uso de pseudónimos é legítimo e deve ser protegido, desde que, quando haja crimes, seja possível aceder ao nome verdadeiro. Eu sei que tudo isto é complicado e há meios eficazes de dar a volta ao anonimato, mas quem o sabe fazer é um número pequeno dos habitantes que pululam as redes sociais e que, na maioria dos casos, são muito rudimentares na protecção da sua identidade. E deviam perceber que há consequências para as brincadeiras que colocam em linha. Do mesmo modo, é perigoso instituir, como cada vez mais acontece, formas de policiamento da linguagem. Usar, como se diz nos EUA, a n-word, nigger, chamar “macacos” aos jogadores negros, acompanhado os insultos, por gestos simiescos, chamar “monhé” ao primeiro-ministro, chamar “paneleiros” aos homossexuais e “fufas” às lésbicas, e por aí adiante, por muitas fúrias verbais que suscite, cabe no meu entendimento da liberdade de expressão. Nada tenho contra as tempestades de resposta - quem não se sente não é filho de boa gente - mas sou completamente contra a censura do Estado, do Facebook, do Google e do Twitter, que pretende criar um muro sanitário para as ofensas e, ao fazê-lo, entram num processo censório que sabemos como começa, mas não sabemos como acaba. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Já outra coisa é escrever que o “senhor A roubou o dinheiro da cooperativa B” quando se trata de uma falsidade. Ou quando, de forma organizada, as empresas de comunicação que fazem campanhas negras a favor de empresas ou pessoas denegrindo os seus adversários ou competidores. Infelizmente, isto é cada vez mais comum e “invisível” usando comentários dirigidos, manipulando os sites que avaliam restaurantes ou hotéis, ou disseminando falsa informação. Isto tem que ser tratado como fraude. A essas pessoas, eu levava-as a tribunal, e às empresas a mesma coisa e, em ambos os casos, pedia indemnizações vultuosas, que é o que mais os afecta. O problema do que hoje se está a passar nas “redes sociais” e nas páginas de comentários não moderadas é o completo falhanço de várias instituições do Estado e da sociedade, a começar pela absoluta desadequação da educação e das escolas, ao mundo real em que desde crianças, aqueles que se pretende “educar” vivem. Depois, a sociedade, a comunicação social, deviam obrigar-se, primeiro a si próprias, e ao público em geral a dar prioridade à verificação dos factos. Se o Info-wars, ou Trump, ou a Fox News, ou um site racista português, ou um comentador do Facebook do PÚBLICO, disserem que Obama não é americano e é muçulmano, dupliquem o site com uma nota dizendo que é uma falsidade. A verificação sistemática, continuada e séria é a melhor maneira de combater as fake news. Dá trabalho, é difícil e o sucesso não está garantido, mas é melhor do que a censura. Pode-se dizer que os mecanismos que garantem o sucesso da circulação de falsidades têm vantagem sobre a verdade porque o lubrificante que as faz circular tem a ver com outras coisas, com a polarização e radicalização política, com o ressentimento social, com o incremento nas redes sociais do tribalismo, com as iliteracias, a ignorância agressiva das redes e a propensão para as conspirações. É verdade, mas a censura não é resposta. A última coisa que quero é que o Estado ou as grandes empresas tecnológicas, que fazem o mal e a caramunha, me “protejam” do ruído do mundo e me tratem como uma criancinha. O que eu quero é que os adultos vão à luta, denunciem as falsidades, que os jornalistas façam investigações sobre as fileiras racistas, homofóbicas, violentas, que denunciem os seus mentores, que a escola não se ponha com deslumbramentos tecnológicos e ensine a “ler” a Internet e a televisão, que a “conversação” na sociedade e nos media não tenha um átomo de complacência com este admirável mundo novo. Mas tudo menos a censura.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
A discussão à volta de fake news ou a discussão à volta dos problemas
Há barreiras etárias, vivenciais e de experiência que impedem a comunicação de um olhar adulto destas “coisas” para uma criança. (...)

A discussão à volta de fake news ou a discussão à volta dos problemas
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.5
DATA: 2018-11-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há barreiras etárias, vivenciais e de experiência que impedem a comunicação de um olhar adulto destas “coisas” para uma criança.
TEXTO: A discussão que realmente importa é a que está por fazer, porque no estado actual da campanha contra Serralves prefere-se os estereótipos – Mapplethorpe, logo censura e puritanismo, saliva-se pavlovianamente – a discutir algo vai para além da obra de Mapplethorpe mas que tem a ver com a sociedade dos nossos dias. A saber, se uma criança pode ver tudo, sem restrições e sem acompanhamento. Apenas o Diário de Notícias suscitou a questão indo ouvir quem pode dar respostas mais esclarecedoras e qualificadas, psicólogos e pedopsiquiatras, mas a tese dominante, pelo menos no PÚBLICO, é que quem deve responder a essa pergunta são os artistas, os críticos de arte, os curadores, o “meio” cultural. Quem contesta que seja assim ou não percebe nada de arte moderna, ou é um censor. Eles são os donos da liberdade, acenando como fez o ex-director do Museu, na Assembleia da República, com a Constituição, como se fosse o Livro Vermelho e falando de “liberty”. Eu não contesto que a liberdade total esteja do lado da criação, e que há quem tenha morrido a defender essa liberdade, como ainda recentemente aconteceu aos caricaturistas do Charlie Hebdo, mas a exposição pública ilimitada de imagens e textos acrescenta uma componente social que não pode ser ignorada. Ela não se limita à questão do olhar infantil, visto que os problemas, chamemos-lhe assim, envolvem a blasfémia, o lugar e as circunstâncias onde se mostra uma obra, uma fotografia, uma performance, ou se lê um texto, mas, devendo em princípio mostrar-se tudo, a forma como se mostra é socialmente determinada. E se o que se pretende é uma provocação, os provocados respondem. Aliás, há muita hipocrisia nesta discussão porque a volta de nós todos estão dezenas de interditos legais, sociais, religiosos e cívicos, uns sensatos, outros censórios, outros de facto puritanos. Desde restrições a horários televisivos, até aos espectáculos, incluindo o banimento legal de discursos do ódio, violência e racismo, que também tem expressão estética, ou não lêem Céline, mas pelos vistos isso não incomoda ninguém. Mas de que é que estamos falar quando discutimos a exposição pública de parte da obra (pequena, aliás, no conjunto) de Mapplethorpe? O ex-director do Museu de Serralves fez uma comparação enganadora entre os nus masculinos de Mapplethorpe e as esculturas de Miguel Ângelo. Eu quis discutir isto na entrevista dada ao PÚBLICO mas essa parte foi cortada. Há, aliás, um aspecto conexo que é sugerir, ao modo jesuítico da suggestio falsi, de que os corpos homoeróticos incomodavam e, por isso, podia haver homofobia na “censura” das fotografias. Há um público para estas insinuações e há quem saiba usá-lo. Também nas partes que não saíram da entrevista eu contestei que fosse o facto de serem descritas como ”sexualmente explícitas” a razão da restrição do seu acesso a crianças. Insisti, e é por isso que a comparação com Miguel Ângelo é redutora e enganadora, que é mais exacto compará-las com as representações medievais do inferno ou com a mosca nas naturezas mortas flamengas. Não são “sexo explícito”, mas sim a trilogia sexo, violência e morte, que aliás lhes dá densidade estética e filosófica. E nessa trilogia, deve-se andar de trás para a frente, da morte para a violência e por fim ao sexo, como o Dr. Freud explicou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Vamos pois ver do que se está a falar? Proponho como imagem deste “ruído do mundo” uma das obras reservada para crianças, sabendo que ela pode não ser publicada pelo jornal, que aliás sempre ilustrou esta discussão com imagens, chamemos-lhe assim, mais prudentes. Se o fizerem ajudam-me na discussão que muitas vezes se deve a quem não sabe do que está a falar, nem viu a exposição. Por outro lado, se resolverem não a publicar eu serei o último a dizer que houve censura. Coloquem o espaço em branco, não precisam de me explicar nada. O que eu não quero é imagens distantes de pénis erectos para dar a entender que se mostra o que não se mostra. Eu sei que isto vai abrir uma discussão no jornal, só não queria que ela fosse: “ponham lá a imagem para o homem não marcar um pontito, ou não ponham porque não devemos ceder à chantagem”. . . Muito bem, passada a porta ou não, temos imagens de um homem a urinar na boca de outro homem, de uma mão enfiada no ânus de outro homem, de um homem vestido de bebé com chupeta na boca. Faço estas descrições puras e duras porque é isto que uma criança vê, não vê arte, nem filosofia, vê as imagens. O ex-director do museu fez uma afirmação na audição parlamentar que está ao nível da conversa de café: que sentido teria reservar certas obras, se tudo se podia ver na Internet. Poder pode, mas não deve, e não é a mesma coisa. Aliás, ficaria surpreendido se uma criança de seis anos procurasse no Google por sadomasoquismo. Como é que se explicam estas imagens? Dizendo que é um jogo? Mas não é um jogo, isso a criança percebe melhor do que o adulto, até porque sadismo não lhe falta. Que há homens que gostam daquelas “coisas” e que são “normais”? Eu se visse um professor ou um pai a dizer isto a uma criança de seis anos olharia muito de lado a personagem, porque a pedofilia não existe apenas nos ginásios e nas escolas. Talvez se possa explicar tudo, mas há barreiras etárias, vivenciais e de experiência que impedem a comunicação de um olhar adulto destas “coisas” para uma criança. Ou então não estamos a falar da obra de Mapplethorpe.
REFERÊNCIAS:
Assunção Cristas perdeu-se entre a democracia e o autoritarismo
Passados todos estes anos, a líder do CDS parece ter esquecido um slogan feliz da Comissão Nacional de Eleições: “Não votar é votar naquilo que não quer”. Mas, o que quererá Assunção Cristas? (...)

Assunção Cristas perdeu-se entre a democracia e o autoritarismo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Passados todos estes anos, a líder do CDS parece ter esquecido um slogan feliz da Comissão Nacional de Eleições: “Não votar é votar naquilo que não quer”. Mas, o que quererá Assunção Cristas?
TEXTO: Se tivesse nascido brasileira, Assunção Cristas não iria votar neste fim-de-semana. Em causa está a mais dramática eleição depois da redemocratização de 1986, mas ainda assim a líder do CDS abstinha-se. No horizonte está uma clara opção entre o respeito pelas regras constitucionais e um programa de poder que contesta os elementares direitos, liberdades e garantias, mas nem por isso Assunção Cristas se sentia impelida a ir votar. Este domingo está em conflito a escolha entre o candidato mau de um partido péssimo e um candidato horrível de um partido fantoche, mas nem isso força Assunção a tomar posição. Passados todos estes anos, a líder do CDS parece ter esquecido um slogan feliz da Comissão Nacional de Eleições: “Não votar é votar naquilo que não quer”. Mas, o que quererá Assunção Cristas?É fácil de perceber que um partido com a matriz ideológica do CDS tenha muita dificuldade em tocar, mesmo ao de leve, num partido que tem como símbolo uma estrela vermelha e foi cúmplice na terrível vaga de corrupção que assola o Brasil. Mas mesmo nas situações limite há sempre a possibilidade de escolher o menor dos males. Entre um candidato que faz a apologia da violência, da homofobia, do racismo e da ditadura e outro candidato que tem como principal pecado um programa ressabiado e a herança horrível do lulismo, há diferenças. Por muito que Assunção Cristas diabolize a esquerda e abomine a corrupção (o que lhe fica bem), na qualidade de líder de um partido democrático não pode abster-se numa eleição em que o que está em causa é precisamente a democracia. Assunção Cristas acaba por cair no relativismo que em outros tempos deu origem às fracturas políticas que abriram portas ao autoritarismo e às ditaduras. Mais do que discutir ideias, ideologias ou projectos de poder, o que está em causa nesta eleição é o regime que garante o pluralismo para existirem e a liberdade para serem discutidas. O PT de Fernando Haddad, com todo o seu legado de misérias e as suas promessas vagamente bolivarianas não coloca esses valores em causa. Jair Bolsonaro, faz o oposto e ameaça os alicerces do regime. Entre um e outro, Assunção Cristas abstém-se. E ao fazê-lo dá razão aos que olham para a política de hoje como um banal produto de marketing.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos violência racismo homofobia
Os miúdos que se fartaram de Dilma e nos protestos de 2013 semearam a nova direita brasileira
A vaga conservadora liderada por Bolsonaro tem na sua base uma miríade de grupos surgidos nas acções a favor do impeachment de Dilma. Hoje são militantes empenhados na eleição do ex-capitão, mas prometem vigilância activa assim que este chegar ao poder. (...)

Os miúdos que se fartaram de Dilma e nos protestos de 2013 semearam a nova direita brasileira
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.211
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: A vaga conservadora liderada por Bolsonaro tem na sua base uma miríade de grupos surgidos nas acções a favor do impeachment de Dilma. Hoje são militantes empenhados na eleição do ex-capitão, mas prometem vigilância activa assim que este chegar ao poder.
TEXTO: Quando lhe perguntam pela primeira vez em que participou numa manifestação, Fernando Holiday atira logo a data precisa: 15 de Março de 2015, a primeira acção a favor do impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Então com 19 anos, Holiday era já conhecido nos meios conservadores de São Paulo e estava previsto que discursasse. Confessa que estava nervoso, tinha escrito um discurso, reescreveu-o, tentou decorá-lo. “Na hora não disse nada do que tinha escrito, falei o que me veio à cabeça”, conta ao PÚBLICO. Assim que acabou de falar, Holiday sentiu que era aquilo que queria para a sua vida. Quatro anos depois, Holiday é vereador municipal de São Paulo, o mais jovem de sempre a ser eleito, aos 20 anos, em 2016. Foi também o primeiro negro e homossexual assumido a ocupar o cargo. E também um dos principais rostos do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos grupos que ajudou a sepultar o “petismo” e que é um dos pilares por trás mobilização maciça em torno de Jair Bolsonaro. A poucos dias da segunda volta que pode colocar no Palácio do Planalto o candidato mais à direita na História recente do Brasil, Holiday recebeu o PÚBLICO no seu escritório na Câmara Municipal de São Paulo. O despertar político de Holiday deu-se na escola, quando frequentava o liceu, e começou a debater nas aulas a questão das quotas raciais de acesso a cargos na Administração Pública. “Eu já não gostava muito da ideia de ter uma quota por conta da cor da pele, mas não tinha base teórica ou intelectual para ter essa posição, era mais por intuição”, diz. Inspirado por um professor que garante ter sido o único a dar-lhe oportunidade para ter uma opinião própria, Holiday começou a ler “autores liberais e conservadores”, que acabaram por influenciar o seu posicionamento político. O gosto pelo enfrentamento político já lá estava. Começou a gravar pequenos vídeos que motivavam discussão nas aulas e chamou a atenção de um grupo conservador que começava a dar os primeiros passos, o MBL. Mas o objectivo nesta altura não era um envolvimento tão profundo no meio político. “A ideia era, em conjunto com o MBL, montar um canal de YouTube, parecido com o Porta dos Fundos, voltado para a política, mas bem-humorado e com um viés ideológico de direita”, explica. Ao mesmo tempo, algo se mexia na política brasileira. Em 2014, após uma dura campanha, Dilma Rousseff era reeleita, vencendo por uma curta margem o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Aécio Neves. Este foi um ponto de viragem para Holiday, que, em conjunto com uma direita cada vez mais ressentida e revoltada com a manutenção do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder, decidiu tomar o destino nas próprias mãos. “Já havia um sentimento na sociedade, especialmente no Sul e Sudeste, que o ‘petismo’ se tinha esgotado por causa dos escândalos de corrupção e da crise económica”, recorda. As ruas não se calaram mais, e o MBL assumiu o protagonismo. As manifestações sucediam-se, umas atrás das outras, atraindo cada vez mais gente com uma única exigência: a destituição da Presidente. As sementes tinham sido lançadas nos protestos do Verão de 2013, movidos sobretudo pelo descontentamento pelos preços dos transportes públicos e pelos gastos excessivos com a organização do Campeonato do Mundo. Se à superfície estas pareciam reivindicações tradicionais da esquerda, a verdade é que a direita também lá estava representada – e acabou por manter-se na rua. “Os protestos de 2013 levaram gente de todo tipo às ruas, da esquerda à direita, o que gerou dificuldades para interpretar o significado político do fenómeno”, diz o historiador Rodrigo Patto Sá Motta. “Mas o facto é que a direita saiu às ruas naquela ocasião e tomou gosto, as suas lideranças sentiram o potencial para explorar o sentimento de descontentamento em relação aos governos ‘petistas’. ”Esta época representou uma espécie de “Primavera da direita”, depois de anos em que se viu de mãos atadas pelo apoio popular aos governos do PT. “A direita não avançou praticamente nada, justamente porque estava na órbita do PT”, diz a socióloga Esther Solano, coordenadora do livro O Ódio como Política: A Reinvenção das Direitas no Brasil (Boitempo). “Isso é que provocou essa reacção forte da direita. ”Os escândalos de corrupção e a fragilidade política de Dilma deram-lhe ânimo para se reerguer sob um novo manto. Solano nota um “efeito conjuntural” na emergência desta extrema-direita. “Não é algo que tenha uma tradição ou uma trajectória histórica no Brasil”, acrescenta. Holiday define-se como um “conservador liberal”. Defende o mercado livre, a privatização de todas as empresas públicas, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, é contra a legalização de todas as drogas, contra o aborto e contra o financiamento público de exposições artísticas “controversas do ponto de vista moral e religioso”. Há um ano, o MBL organizou protestos em frente ao Museu de Arte Moderna de São Paulo por causa de uma performance que envolvia um artista totalmente nu. Um dos feitos do MBL foi perceber muito cedo o poder das redes sociais, que usou abundantemente para organizar as manifestações a favor do impeachment. Os seus líderes são especialistas no uso da linguagem da Internet, criam memes que podem acabar com carreiras políticas e souberam tornar temas conservadores nos mais apelativos para jovens eleitores. A página do Facebook do grupo tem três milhões de seguidores; a do PT tem metade. No início do mês, o grupo conseguiu eleger o seu fundador, Kim Kataguiri, deputado federal, pelo partido Democratas (DEM), e três deputados estaduais. Bolsonaro emerge neste ambiente e tira partido de uma militância altamente empenhada. No domingo, era do MBL um dos trios eléctricos que animava a manifestação de apoio ao capitão reformado na Avenida Paulista. Mas Bolsonaro e o MBL não são uma e a mesma coisa. O próprio Holiday diz que o candidato que mais se aproximava da sua agenda era João Amoêdo, do Partido Novo. Acabou por votar em Bolsonaro apenas porque acreditou que o PT poderia ser derrotado logo à primeira volta. “Tenho algumas discordâncias com Bolsonaro: ele encara o regime militar como um período glorioso do nosso país, eu já não vejo dessa forma, foi um período histórico triste. Ele considera algumas empresas públicas estratégicas, eu não concordo”, diz o jovem vereador eleito pelo DEM, um dos partidos mais à direita do espectro político brasileiro, mas curiosamente integrado no bloco do chamado "centrão" - as formações que tanto podem aliar-se à esquerda como à direita, consoante quem estiver mais perto do poder. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Rodrigo Sá Motta sublinha, que para grupos como o MBL, “Bolsonaro não é inteiramente confiável”. “Até há pouco tempo defendia posições estatistas, aliás típicas da tradição militar”, explica o professor da Universidade Federal de Minas Gerais. “A conversão do ex-capitão ao neoliberalismo é recente e oportunista, movida mais por cálculo eleitoral do que convicção. ” O seu guru para a Economia, Paulo Guedes, é o responsável por essa conversão ao mercado. Holiday prevê que a relação entre Bolsonaro e o MBL seja maioritariamente de apoio, embora com algumas discordâncias, como é o caso de algumas privatizações. O vereador assume-se como um “político eleito pelas redes sociais”, onde também inclui o capitão reformado, e deixa um aviso, de jovem político para deputado veterano: “Ele tem o apoio do público no início, mas ao mínimo desvio daquilo a que se comprometeu na campanha, essa onda irá virar contra ele. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
“As Serviçais” triunfaram nos prémios do Sindicato de Actores
Contrariando a onda dos prémios de cinema que tem premiado constantemente “O Artista”, o filme histórico “As Serviçais” foi o grande vencedor dos prémios do Sindicato de Actores (Screen Actors Guild). O filme de Tate Taylor conquistou três troféus, entre eles o de Melhor Elenco, o equivalente a Melhor Filme. (...)

“As Serviçais” triunfaram nos prémios do Sindicato de Actores
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-01-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Contrariando a onda dos prémios de cinema que tem premiado constantemente “O Artista”, o filme histórico “As Serviçais” foi o grande vencedor dos prémios do Sindicato de Actores (Screen Actors Guild). O filme de Tate Taylor conquistou três troféus, entre eles o de Melhor Elenco, o equivalente a Melhor Filme.
TEXTO: A norte-americana Viola Davis, que está nomeada para os Óscares, venceu o galardão de Melhor Actriz, deixando para trás Meryl Streep. E Octavia Spencer, também na corrida aos Óscares, foi distinguida com a estatueta de Melhor Actriz Secundária, prémio que já conquistou nos Globos de Ouro. Os três prémios conquistados pelo filme, sobre o racismo na região sul dos Estados Unidos no início dos anos 1960, foram uma surpresa, uma vez que o filme mudo francês de Michel Hazanavicius era apontado como o grande favorito. Desta vez, porém, arrecadou apenas um galardão, o de melhor actor para Jean Dujardin. Christopher Plummer, de 81 anos, que representa em “Assim é o Amor” um homem que assume a homossexualidade depois de a mulher morrer, foi premiado na categoria de melhor actor secundário. À semelhança do que acontece nos Globos de Ouro, os prémios do Sindicato de Actores distinguem também as melhores representações e interpretações na televisão. Os prémios foram para as séries do costume: “Boardwalk Empire” (Melhor Elenco num Drama) e “Uma Família Muito Moderna” (Melhor Clenco numa Comédia). Steve Buscemi, protagonista da série de Martin Scorsese (“Boardwalk Empire”), arrecadou o prémio de Melhor Actor Drama, e Jessica Lange venceu na categoria feminina, Melhor Actriz, pelo papel em “American Horror Story”. Alec Baldwin, estrela de “Rockefeller 30”, venceu o galardão de Melhor Actor em Comédia, e Betty White, da série “Hot in Cleveland” conquistou o troféu de Melhor Actriz na mesma categoria. O prémio de Melhor Actor num Telefilme ou Minissérie foi para o norte-americano Paul Giamatti, pelo seu papel em “Too Big to Fail”, sobre a crise financeira de 2008. Kate Winslet venceu na categoria de Melhor Actriz num Telefilme ou Minissérie por “Mildred Pierce”, prémio que já tinha conquistado nos Globos de Ouro. Os prémios do Sindicato de Actores, votados pelos actores, são um indicador dos possíveis vencedores dos Óscares, uma vez que a grande parte destes, por serem membros da Academia, também votam nos Óscares.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher homem racismo feminina
Analistas: Eduardo dos Santos pronunciou-se porque visados da PGR são do seu círculo próximo
Pronunciamento do Presidente angolano revela possíveis pressões dentro do MPLA. As autoridades angolanas estão "ressentidas" e o papel "apaziguador" do Presidente "ressentiu-se". (...)

Analistas: Eduardo dos Santos pronunciou-se porque visados da PGR são do seu círculo próximo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pronunciamento do Presidente angolano revela possíveis pressões dentro do MPLA. As autoridades angolanas estão "ressentidas" e o papel "apaziguador" do Presidente "ressentiu-se".
TEXTO: A expressão de que algo pode estar mal entre Portugal e Angola passou pela primeira vez, esta semana, das páginas do Jornal de Angola para o discurso sobre o Estado da Nação do Presidente angolano, que escolheu deixar de lado o seu habitual papel “apaziguador”. Isso aconteceu, segundo académicos e analistas ouvidos pelo PÚBLICO, porque as pessoas visadas nas investigações que decorrem na Procuradoria-Geral da República (PGR) portuguesa são do círculo mais próximo do chefe de Estado e têm eles próprios o domínio de áreas-chave: segurança e petróleo. No seu discurso na Assembleia, José Eduardo dos Santos lamentou “as incompreensões ao nível da cúpula” portuguesa e disse não existirem, neste momento, condições para avançar para uma cooperação estratégica – anunciada durante a sua visita a Portugal em 2009, numa conferência conjunta com o Presidente português Cavaco Silva. O MPLA congratulou-se. No dia seguinte, o Jornal de Angola, em mais um editorial, descodificava as palavras do Presidente na forma de um aviso: a cooperação estratégica estaria dependente da actuação da Justiça em Portugal. Está instalado um mal-estar “acumulado”, disse Manuel Alves da Rocha, economista angolano e director do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, que falava ao PÚBLICO e à Lusa, à margem de uma conferência na Gulbenkian em Lisboa na quinta-feira. “O papel apaziguador de José Eduardo dos Santos acabou por se ressentir”, frisa, pondo a hipótese de “determinadas pressões dentro do MPLA”. “Pode ter chegado a um ponto em que rebentou. ”O discurso presidencial foi “claramente uma pressão”, analisa, por seu lado, o jornalista angolano e colunista do semanário AgoraMário Paiva. O esfriamento das relações já existia, mas foi precipitado pelas revelações dos processos judiciais contra figuras angolanas em Novembro passado, diz, a partir de Luanda. “É um crescendo”, qualifica Mário Paiva. “As pressões não estão a produzir resultados e Luanda sobe a fasquia das ameaças. A matéria de fundo que leva a um pronunciamento público desta envergadura são os processos. ”Uma das figuras visadas é o vice-presidente e provável sucessor de Eduardo dos Santos, Manuel Vicente, que foi durante anos presidente da petrolífera estatal angolana, Sonangol, e continua a ser “quem conta” nos negócios do petróleo, diz Fernando Jorge Cardoso, investigador do Instituto Marquês de Valle Flôr e ex-director do antigo Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais (IEEI). Em Maio de 2012, Manuel Vicente dizia que o investimento directo angolano em Portugal tinha deixado “de ser prioritário”. Queixas no Ministério Público portuguêsEm Novembro, quando foi publicada a primeira notícia do Expresso sobre a abertura dos inquéritos na PGR, o vice-presidente dizia ao semanário português que todos os seus investimentos em Portugal estavam “perfeitamente documentados junto das autoridades competentes” e adiantou, sobre o processo-crime, não ter sido notificado nem saber “o que se passa”. Até ao momento, pelo menos, nenhum dos visados era arguido. Também sob investigação está o general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, ministro de Estado e chefe da Casa Militar da Presidência da República, que assume desde há muito o papel decisivo do controlo da segurança, como “braço direito do Presidente na área da política e da segurança” e tem, também ele, investimentos em importantes empresas em Portugal, lembra Fernando Jorge Cardoso. Isabel dos Santos, empresária e filha do Presidente, é um dos nomes que constam das queixas apresentadas por cidadãos angolanos junto do Ministério Público português, mas nunca referidas nas notícias como estando a ser investigada. É a face mais visível do que Fernando Jorge Cardoso diz ser um momento favorável das relações Estado a Estado. “Nunca estiveram tão bem” por via de “investimentos fortes de Angola em empresas cotadas”, garante. Além de ter reforçado recentemente a sua presença nos sectores da banca a das telecomunicações, onde domina a Zon Optimus juntamente com a Sonae (dona do PÚBLICO), Isabel dos Santos é accionista da Galp Energia e detém 19% do BPI, além de 25% do banco BIC (que adquiriu o BPN). “Este tipo de negócios vai continuar”, considera Fernando Jorge Cardoso. Para ele, os verdadeiros prejudicados do actual clima de crispação são os pequenos empresários e famílias portuguesas estabelecidos ou com vontade de o fazerem em Angola, onde vivem cerca de 200 mil portugueses. “Os interesses de um lado e do outro são suficientemente sólidos e fortes” e o investigador Fernando Jorge Cardoso não acredita num “rompimento das relações económicas e comerciais”. A acontecer, quem perderia seria principalmente Portugal, considera, por sua vez, o economista Manuel Alves da Rocha, que refere o leque de “outras oportunidades” que tem Luanda para “desenvolver relações” com outros parceiros. “Na actual circunstância de crise em Portugal, este problema afecta muito mais do que afecta Portugal”, diz, lembrando que Angola é o primeiro destino das exportações portuguesas fora da União Europeia. Portugal tem vindo a perder espaço nas relações com Angola, diz o jornalista Mário Paiva. China e Brasil estão bem posicionados. José Eduardo dos Santos foi recentemente convidado pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, para uma visita a Inglaterra. Além dos britânicos, escreveu esta semana o Jornal de Angola, também os russos e os franceses se mostram interessados em estreitar relações com Luanda. A França teve, durante anos, as suas relações diplomáticas sob forte pressão das investigações judiciais que decorriam em Paris relativas ao Angolagate, sobre a venda de armas da Rússia a Luanda, nos anos 1990, através dos empresários Pierre Falcone (franco-brasileiro) e Arcadi Gaydamak (russo ), e que tinham também José Eduardo dos Santos entre os acusados de receber comissões elevadas. Luanda tentou várias vezes que Paris abandonasse os processos. Em Portugal, Mário Paiva não vê como provável que as investigações dêem resultados, em parte, diz, porque “o Governo português entrou numa relação de grande dependência do Governo angolano”.
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Palavras-chave crime filha
Caetano, síntese perfeita dos seus Brasis
Com a sala esgotada, Caetano Veloso fez brilhar Abraçaço de forma excelente no Coliseu de Lisboa, na noite de segunda-feira 28 de Abril. Cinco estrelas. (...)

Caetano, síntese perfeita dos seus Brasis
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 1.0
DATA: 2014-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com a sala esgotada, Caetano Veloso fez brilhar Abraçaço de forma excelente no Coliseu de Lisboa, na noite de segunda-feira 28 de Abril. Cinco estrelas.
TEXTO: Por coincidência, a estreia de Abraçaço em palcos portugueses deu-se no mesmo dia do lançamento público do DVD de Tropicália, filme que retrata o movimento que teve em Caetano Veloso e Gilberto Gil, nos anos 1967-68, os principais protagonistas. Ora esse lapso de quase meio século permite comparar as batalhas estéticas da época com o que Caetano desde então fez e ainda hoje faz. E se conclusão existe é a de que o seu antigo desejo de síntese (era isso que ele procurava no âmago de Tropicália) se concretizou: Caetano é, de forma depurada, a síntese dos seus Brasis. Perfeita no som e no gesto. E o seu trabalho com a Banda Cê, tal como o disco e o registo do espectáculo já mostravam, atingiu de forma evidente o seu auge. Caetano está, de novo, em estado de graça. O espectáculo aproveita da melhor forma os temas superlativos de Abraçaço (só dois ficaram de fora, Vinco e Gayana) e aposta de forma inteligente na sua ligação com temas de outros períodos da sua carreira. A acompanhá-lo (ele apresentou-se de blusão branco e guitarra eléctrica branca), a Banda Cê é soberba: a guitarra de Pedro Sá, exuberante na sua controlada acidez, branda ou violenta (o solo rasgado em Funk melódico, nas suas fortes linhas repetitivas, aproximou-se do que fariam instrumentos africanos em transe), teve no baixo encorpado e seguro de Ricardo Dias Gomes (também no piano Rhodes) e na bateria multifuncional de Marcello Calado o complemento exacto. Tudo isto num cenário marcado pela presença no palco de reproduções de quatro quadros de Malevich, em cavaletes: Cruz Negra, Quadrado Negro, Círculo Negro e Quadrado Vermelho. O alinhamento quase não se afastou do gravado no DVD e, quando o fez, foi com benefício: depois de A bossa nova é foda, a abrir, surgiu Coração vagabundo (o mais bossa-novista dos temas de Caetano, gravado no seu primeiro disco – com Gal) em lugar de Lindeza. Mas o resto manteve a sequência traçada: Quando o galo cantou (bossa em releitura actual), a vibrante Um abraçaço, Parabéns (com Caetano a sublinhar a proximidade festiva a Chica-chica-boom-chic, de Carmen Miranda), Homem (mais perto da auto-caricatura no soar do refrão, “wow-wow-wow-homem”) e, noutro registo, outro homem: Um comunista, seguido em quase silêncio, ouvindo-se no final alguém gritar “Viva Marighela!” Isso embora o elogio não fosse propriamente a ideia do músico, atraído mais pelo lado da fragilidade do guerrilheiro. Triste Bahia (de Transa) colou-se a Estou triste (e aqui, mais uma vez espantosamente, a sala exultou com a tristeza de Caetano, que chegou a tocar frente virado para o Quadro Negro e de costas para a audiência). A sequência seguinte foi perfeita: Odeio, Escapulário, Funk melódico, Alguém cantando, Quero ser justo, Eclipse oculto e De noite na cama, este recebido com palmas tímidas de reconhecimento (Caetano ensaiou um falso strip, abrindo os botões do blusão, deixando ver o corpo por debaixo, e abotoando-os em seguida). Fecharam oficialmente a noite O império da lei, Reconvexo (tão actual que soa, tantos anos depois) e Você não entende nada, que fez toda a gente entender e cantar tudo, palavra após palavra. Os encores foram forçados por fortes aplausos e um poderoso bater de pés que fez estremecer a sala. Nine out of ten (tema de Transa revisitado em Velô), Leãozinho e A luz de Tieta fizeram acender as luzes, no final da euforia. Mas, quando parte da assistência já descia as escadas, ainda houve uma prenda extra: Força estranha, que ele já cantara no final da apresentação de Zii e Zie em Lisboa, em 2010. Certeiro epílogo para um excelente espectáculo.
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Palavras-chave lei negro homem corpo negra
Tribunal do Uganda revoga lei anti-gay
Juiz considera que houve irregularidades no momento da aprovação. Activistas congratulam-se, mas ainda é possível recorrer desta decisão. (...)

Tribunal do Uganda revoga lei anti-gay
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Juiz considera que houve irregularidades no momento da aprovação. Activistas congratulam-se, mas ainda é possível recorrer desta decisão.
TEXTO: O Tribunal Constitucional do Uganda revogou uma lei que tornou a homossexualidade um crime punível com longas penas de prisão, e cuja promulgação foi condenada por vários doadores internacionais. Esta nova decisão – que pode ser ainda alvo de recurso – esvazia a lei promulgada em Fevereiro pelo Presidente, Yoweri Museveni, que recebeu o apoio da maioria da população. Ao abrigo da Lei Anti-Homossexualidade, quem fosse condenado por "homossexualidade agravada" – o acto de alguém infectado com o vírus HIV manter relações sexuais com pessoas consideradas "vulneráveis", como deficientes – seria punido com prisão perpétua. O mesmo não está previsto para quem mantiver relações heterossexuais infectado com o vírus HIV. A homossexualidade é um tema tabu na maioria dos países africanos, e é ilegal em 37 Estados, mas os castigos impostos pela lei agora revogada pelo Tribunal Constitucional eram dos mais duros. O juiz Steven Kavuma justificou o chumbo da Lei Anti-Homossexualidade com "irregularidades" cometidas durante a aprovação do documento, nomeadamente o facto de o presidente do Parlamento não ter aceitado algumas objecções contra a votação por falta de quórum. O receio de serem vítimas de violência e de perderem o emprego faz com que poucos homossexuais em África tornem pública a sua sexualidade. Os Estados Unidos – o maior doador do Uganda – descreveu a lei como "atroz", comparando-a às leis anti-semitas aprovadas pela Alemanha nazi e ao apartheid na África do Sul. Ned Price, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, disse que a revogação da lei é "um passo importante na direcção dos direitos humanos, não apenas dos LGBT, mas de todos os ugandeses". Os activistas que se opuseram à promulgação da lei estão felizes com a revogação, mas preferiam que o Tribunal Constitucional não tivesse baseado a sua decisão em "irregularidades". "Congratulo-me com a decisão, apesar preferir que o juiz analisasse a substância da nossa petiação", disse Frank Mugisha, director executivo da associação Sexual Minorities Uganda. "Se assim fosse, ele teria percebido que a lei viola a Constituição do Uganda, e estou certo de que iria acabar por declarar a homossexualidade legal no Uganda", disse o mesmo responsável.
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Entidades EUA
Rapaz que matou pai neonazi estava "cansado" de maus tratos
O rapaz de dez anos que, na semana passada, esteve num tribunal da Califórnia, acusado de ter morto a tiro o pai, membro de um grupo neonazi, afirmou às autoridades que o pai lhe batia frequentemente, bem como a outros membros da sua família. (...)

Rapaz que matou pai neonazi estava "cansado" de maus tratos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.30
DATA: 2011-05-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O rapaz de dez anos que, na semana passada, esteve num tribunal da Califórnia, acusado de ter morto a tiro o pai, membro de um grupo neonazi, afirmou às autoridades que o pai lhe batia frequentemente, bem como a outros membros da sua família.
TEXTO: O filho de Jeffrey Hall, o director regional do Movimento Nacional Socialista - um partido neonazi americano -, contou às autoridades de Riverside que a sua casa estava repleta de armas de fogo e de facas e descreveu a facilidade com que encontrou o revólver que utilizou para matar o pai. A arma do crime foi retirada de um armário e a criança “desceu as escadas com o revólver, apontou-o à orelha do pai enquanto este dormia e matou-o”, escreveu o polícia Greg Rowe de Riverside num relatório citado pelo “Los Angeles Times”. Depois o rapaz “subiu as escadas e escondeu a arma debaixo da cama”. De acordo com o relatório da polícia, o rapaz era alvo de abusos “diariamente” e o pai batia também à mulher e aos seus outros quatro filhos. Segundo Rowe, a criança estava “cansada de o pai lhe bater a si e à mãe” e, além disso, “pensava que o pai estava a trair a mãe e que teria de escolher viver apenas com um deles”. Rowe adiantou ainda que o jovem “sabia que os pais tinham uma arma e sabiam onde a guardavam. ”Os investigadores descreveram a casa de Hall como suja e cheia de latas de cerveja vazias e com grandes bandeiras nazis espalhadas pelas paredes. A polícia adiantou também que as armas estavam guardadas “sem nenhum sistema de segurança”. O advogado da criança deverá alegar que o seu cliente, sob custódia judicial e submetido a diferentes avaliações psiquiátricas nos próximos dias, é inocente por “razões de insanidade”. O rapaz será ouvido novamente em tribunal no dia 22 de Julho. Jeffrey Hall tinha 32 anos e defendia uma “sociedade branca” e acreditava na “secessão”. Era uma força crescente no movimento, assumidamente racista, homofóbico e anti-semita.
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Palavras-chave crime filho tribunal mulher criança racista
Ficamos mais seguros sem o Charlie
Quando isto acalmar, as instalações do Charlie Hebdo (CH) fecharem e o luto estiver feito, não estaremos muito melhores sem as chatices que eles armavam?É que, bem vistas as coisas – e eu li insinuações destas –, não é que eles “merecessem” morrer, mas estavam a puxar “más vibrações” ao gozar com as crenças dos outros. Bom, arrisco mais: alguém vai sentir falta “daquilo”? Havia quem se lembrasse se existiam sem ser quando criavam problemas. Não estaríamos todos mais seguros sem o CH?Não é humorista quem quer. Muito menos da escola do CH. Eu não sou humorista. Sou jornalista. Isso tem essencialmente a ver com uma ... (etc.)

Ficamos mais seguros sem o Charlie
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-04-28 | Jornal Público
TEXTO: Quando isto acalmar, as instalações do Charlie Hebdo (CH) fecharem e o luto estiver feito, não estaremos muito melhores sem as chatices que eles armavam?É que, bem vistas as coisas – e eu li insinuações destas –, não é que eles “merecessem” morrer, mas estavam a puxar “más vibrações” ao gozar com as crenças dos outros. Bom, arrisco mais: alguém vai sentir falta “daquilo”? Havia quem se lembrasse se existiam sem ser quando criavam problemas. Não estaríamos todos mais seguros sem o CH?Não é humorista quem quer. Muito menos da escola do CH. Eu não sou humorista. Sou jornalista. Isso tem essencialmente a ver com uma estratégia mental ao nível quase instintivo. Quando se gere uma equipa de humoristas, fica-se chocado com o potencial suicida do material que produzem. O humorista centra-se apenas no primado da “piada” e de ter “acertado” e há uma quase total despersonalização das consequências. Alguém disse que o director do CH era uma criança grande. E acredito. Mas é este tipo de “alienação” levada a um espírito de “missão” contra os poderes instituídos que fazem de alguns humoristas tipos raros. Muito raros. Não é humorista quem quer. Mesmo que saiba desenhar ou representar. Não se é humorista de um momento para o outro. E estou a pensar no CH. Muito poucos têm a capacidade de desconstruir a realidade instituída que temos como certa e nos a devolver simplificada e ridicularizada – como nunca pensámos que ela podia ser. E talvez até seja. E não será? É mesmo!Mas voltemos à questão. Ali estávamos, em Paris, comprávamos as nossas revistas de moda, carros e política, e olhávamos de soslaio para a capa do CH, que trazia uma profanidade religiosa desenhada alarvemente e franzíamo-nos e obviamente não comprávamos. Curiosamente, o seu objectivo estava de alguma forma cumprido. O CH é, era, sempre foi um teste à tolerância pessoal e das instituições democráticas. Até que ponto aguentamos ser provocados nos nossos “proibidos”, nos nossos “sagrados”? O CH tinha uma missão que ainda não fomos capazes de lhe reconhecer: a de monitorizar as nossas próprias barreiras mentais. E aqui podemos parar um pouco para ver se esta frase pomposa faz algum sentido. Por mais livres que pretendamos ser, por mais imunes às pressões, há a inevitabilidade de, dentro de nós, serem construídos muros e de começarmos a tratar por igual o que é diferente ou diferente o que é igual. Os últimos anos têm sido tremendos nesse aspecto. E por vezes não nos apercebermos. São as alterações na linguagem devido ao politicamente correcto e que alteram o ângulo como olhamos a realidade (para o bem e para o mal). São as hesitações que temos quando tratamos temas referentes ao profeta e ao Islão – sim, não é o mesmo que “gozar” com Jesus. O CH testava-nos. Ia ao núcleo íntimo do proibido. Dos novos e dos velhos tabus. E por isso era acusado de ser tudo e o seu oposto: racista e homofóbico, anti-religioso e antidireita, antiextremista e antianti. O prazer jocoso profano, iconoclasta e desafiador permitia que sentíssemos o pulso dos nossos novos temores. E dos mais calcados. Era natural que se detestasse o CH. Hoje não nos lembramos das vezes que nos arrepiámos ao abrir o CH e só depois assimilámos. Era “eh, pá. . . ai, ai, ah, ah, ah”. Saltar do choque para o riso define a nossa capacidade de não ir atrás de ninguém cortar cabeças. Aquela gente – aqueles loucos de Paris – desenhavam os medos burgueses há 45 anos. Atacavam as regras, o poder e as opressões das instituições. Ajudavam a que nos percebêssemos. Essencialmente quando ficávamos chocados. Tínhamos mudado. Ao desafiar os radicais islâmicos estavam a fazer o que faziam desde sempre. A lembrar-nos que estamos com medo. Precisamos deles? É preciso responder?Director de O Inimigo Público
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Palavras-chave escola criança medo racista luto