I have a dream: as canções do sonho
Foi há 50 anos que Martin Luther King Jr. proferiu um dos discursos mais célebres de sempre, inspirando gerações de cantores. (...)

I have a dream: as canções do sonho
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi há 50 anos que Martin Luther King Jr. proferiu um dos discursos mais célebres de sempre, inspirando gerações de cantores.
TEXTO: Poucos discursos foram tão glosados no cinema ou na música popular como o que foi proferido por Martin Luther King Jr. há 50 anos em Washington, no contexto da campanha pelos direitos civis dos negros norte-americanos. O seu discurso, composto por frases já repetidas durante a campanha pelos direitos civis em várias cidades, manteve um certo ritmo, até que a cantora Mahalia Jackson, entre a multidão, próxima do palco, gritou a King: “tell them about the dream, Martin”. E é a partir desse momento que o orador é possuído pelo espírito profético, levando emoção à multidão. Habituado às longas celebrações, com discursos enfáticos e intervenções efusivas que tinham espaço de expressão nas igrejas, Martin Luther King Jr. conseguia criar um espaço de transcendência nas suas intervenções. Qualquer coisa que a música também alcança. O movimento pela cidadania, a força da cultura negra, a luta por espaço e respeito, foram capazes de levar milhares de pessoas às ruas naqueles dias, num movimento que inspirou inúmeras canções ao longo dos anos. Algumas incorporaram o sonho do discurso de Martin Luther King Jr. de forma directa. Outras reflectiram o contexto daqueles tempos revolucionários. Algumas fazem parte da história. Aqui estão algumas:Mathalia Jackson – We shall overcome(Uma das canções mais conhecidas da época do movimento dos direitos civis. Foi interpretada por Mathalia Jackson e muitos outros cantores da época)Aretha Franklin – Someday we’ll all be free(A liberdade era o grande tema da luta pela cidadania dos negros americanos. Esta é a versão de uma dessas canções que aborda o tema, interpretada por Aretha Franklin, e incluída no final do filme Malcolm X de 1992, realizado por Spike Lee)Sam Cooke – A change is gonna come(Esperar e desejar a mudança marcou a experiência da América negra durante muitas campanhas pelos direitos humanos. Esta é uma dessas canções, de 1963, mas de carácter intemporal)Marvin Gaye – Inner City Blues(Uma das canções que reflecte as precárias condições de vida na américa urbana, principalmente depois dos conflitos raciais que se seguiram à morte de Martin Luther King Jr. )Nina Simone – Mississipi goddam(Muitas das canções dos anos 1960 de Nina Simone captavam o espírito do movimento pelos direitos civis. Esta é uma dessas canções que parece incorporar os dramas humanos num tempo de convulsão)Billie Holiday – Strange Fruit(A versão mais conhecida desta canção é a de Billie Holiday, com o seu expressionismo vocal a condenar o racismo do Sul da América)Michael Jackson – History(Ao longo dos anos quase todas as celebridades negras da pop aludiram na sua obra à figura de Martin Luther King Jr. Michael Jackson também o fez na década de 1990)Common – I have a dream(Canção de 2006 do rapper Common que incorpora excertos do discurso de Martin Luther King Jr. no Lincoln Memorial, propondo um rejuvenescimento espiritual)U2 – Pride (In the name of love)(Nas décadas que se seguiram ao assassinato de Martin Luther King Jr. muitos artistas criaram canções de tributo à sua vida. Esta é uma das mais conhecidas)Fingers Inc. - Can You Feel It?(Editado em 1988, esta produção de Larry Heard, é um dos temas fundamentais da música house nos seus primórdios, vindo a influenciar inúmeros DJs e produtores da música electrónicas nas décadas que se seguiram)Wray Gunn – Soul city(Em Portugal, os Wray Gunn, na faixa de abertura do álbum Eclesiastes 1. 11 de 2010, também utilizam um excerto do célebre discurso de Martin Luther King Jr. )
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
O sexo pode ficar indefinido no BI?
O sexo a atribuir a alguém nem sempre é claro. Algumas pessoas têm características biológicas de homem e mulher, encontrando-se numa situação de intersexo. Esta discussão ganha visibilidade com a Alemanha a permitir, a partir de Novembro, que uma criança seja registada civilmente sem um sexo definido à nascença: há uma terceira opção, que deixa o sexo em branco (...)

O sexo pode ficar indefinido no BI?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-11-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O sexo a atribuir a alguém nem sempre é claro. Algumas pessoas têm características biológicas de homem e mulher, encontrando-se numa situação de intersexo. Esta discussão ganha visibilidade com a Alemanha a permitir, a partir de Novembro, que uma criança seja registada civilmente sem um sexo definido à nascença: há uma terceira opção, que deixa o sexo em branco
TEXTO: A determinação do sexo com que se nasce pode parecer uma questão simples, que seria facilmente resolvida com um exame visual aos genitais externos (pénis, vulva e vagina) e, se isso não fosse esclarecedor, certamente que os testes genéticos permitiriam sempre encontrar uma resposta clara. Só que a fronteira biológica entre um homem e uma mulher pode ser ambígua, a começar nos genitais externos e a acabar nos cromossomas e genes. Tendo especificamente em conta a visível ambiguidade genital com que nascem algumas pessoas, a Alemanha permitirá, a partir de Novembro, que o registo civil de uma criança inclua uma terceira opção, a de sexo indefinido, com o sexo civil a ficar assim em branco, o que exigirá, segundo a ministra da Justiça alemã, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, uma reforma na emissão dos documentos de identificação alemães. Alguns juristas sugerem mesmo que, nesse caso, em substituição das letras M e F, se utilize o X. Mais tarde, depois de uma série de estudos cromossómicos, genéticos, hormonais e anatómicos, entre outros, essa pessoa em situação de intersexo poderá ver-lhe atribuído um sexo civil definido. A Alemanha tornar-se-á o primeiro país da Europa - onde se estima que uma em cada 5000 crianças nasça com sexo indefinido - a dar esta opção aos seus cidadãos, que já existe na Austrália e na Nova Zelândia, onde o terceiro tipo sexual pode ser indicado em documentos como o passaporte. Estes países reconhecem que nem tudo se esgota num sistema de dois sexos. Que, além do sexo masculino e feminino, há pessoas intersexuais, com características masculinas e femininas, como os hermafroditas e os pseudo-hermafroditas (num hermafrodita há simultaneamente tecido ovárico e testicular, enquanto um pseudo-hermafrodita só tem ou testículos ou ovários e os genitais externos são do outro sexo). Devido à complexidade que o sexo de uma pessoa pode ter, Jorge Sequeiros, director do Centro de Genética Preditiva e Preventiva do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade da Porto, aplaude a iniciativa alemã. "É uma excelente ideia a adoptar em Portugal. Falo nisso aos meus alunos há muito tempo. As situações de ambiguidade genital externa são raras, mas têm uma frequência que não é tão baixa como se julga. Muitas vezes são escondidas", refere o geneticista. "Há a necessidade de fazer estudos muito demorados, que habitualmente não são compatíveis com os prazos legais do registo civil. Nessas situações, é preferível os pais não registarem a criança e pagarem a multa do que fazer um registo com um nome que implica um sexo civil, que dita um sexo educacional. "Até porque a ambiguidade dos genitais externos é geralmente uma manifestação de discrepâncias entre os diversos "conceitos de sexo", como lhes chama Jorge Sequeiros, existentes numa pessoa. Pode haver contradições entre o sexo genital de alguém e o seu sexo gonádico (testículos e ovários), o seu sexo cromossómico, genético e hormonal. Para que, entre possíveis discrepâncias nos vários conceitos de sexo, uma pessoa siga o caminho que mais se adeqúe a ela, através de tratamentos cirúrgicos e hormonais, é necessário fazer os estudos aprofundados mencionados por Jorge Sequeiros. "Os estudos servem para fazer uma atribuição do sexo civil tendo em atenção o que será o sexo mais provável sentido pela própria pessoa - o sexo psicológico -, que virá a seguir mais tarde. "Jorge Sequeiros não se está a referir à orientação sexual nem à transexualidade. Neste último caso, uma pessoa até pode ter todos os níveis de sexo bem definidos entre si e sentir que quer ser do sexo oposto. Mulheres XY e homens XX As discrepâncias entre os diferentes níveis de sexo têm sido particularmente publicitadas no mundo do atletismo. É que foi aí que começaram as verificações de sexo, obrigatórias no início dos anos 1960, pela Federação Internacional de Atletismo e pelo Comité Olímpico Internacional, para evitar que homens se disfarçassem de mulheres nas provas femininas de atletismo, uma vez que, em princípio, teriam mais vantagens competitivas. Inicialmente, as mulheres desfilavam nuas à frente de médicos. No fim daquela década, as averiguações passaram a servir-se da genética. Geralmente, os cromossomas sexuais humanos - o 23. º par - são compostos por XY nos homens e por XX nas mulheres. Supostamente, a simples identificação dos cromossomas XX ou XY deveria dar uma resposta clara. Seguindo à risca estas regras, só as atletas com dois cromossomas X seriam consideradas mulheres. Porém, a realidade revelou-se tudo menos a preto e branco, e os organismos internacionais de desporto acabaram por pôr fim, na década de 1990, às averiguações do sexo obrigatórias, abandonando a ideia de que há uma fronteira bem definida entre um homem e uma mulher. O que separa os homens das mulheres não se resume a um Y. Há mulheres que são XY - como é o caso famoso da barreirista espanhola María José Martínez Patiño (ver "Não se é um homem só por ter o cromossoma Y", PÚBLICO de 30/08/2009). Em 1985, com 24 anos, Patiño foi impedida de competir nos Jogos Universitários Mundiais no Japão. "O Gabinete Central de Controlo da Feminilidade descobriu nela um cromossoma Y. A atleta foi desconsiderada na imprensa, perdeu a bolsa desportiva e foi desqualificada", relata o geneticista britânico Steve Jones no seu livro Y - A Descendência do Homem (Gradiva). "Perdi amigos, o meu namorado, a esperança e a energia", contou a atleta, em 2005, na revista The Lancet. Tal como Patiño, certas mulheres XY podem herdar uma deficiência nos receptores da testosterona, a porta de entrada desta hormona sexual masculina nas células. "Algumas não mostram qualquer sinal claro de anormalidade e vivem como mulheres, não cientes do seu estado ambíguo", conta Steve Jones no livro. Conforme o tipo de deficiências na fechadura da testosterona e de outras hormonas sexuais masculinas (androgénios), assim a via para a masculinização de uma pessoa pode ficar bloqueada completa ou parcialmente. "Tais enganos podem não causar mais do que uma ligeira perda de masculinização, mas podem também levar ao nascimento de um bebé, à primeira vista, do sexo feminino", refere ainda Steve Jones. Esta situação é conhecida pela síndrome da insensibilidade androgénica, ou síndrome do testículo feminizante. É como se os tecidos que deveriam sofrer uma virilização, pela recepção de hormonas masculinas, fossem cegos à sua presença. Na forma completa desta síndrome, a pessoa tem um Y e genes masculinizantes como o SRY, que geralmente se encontra naquele cromossoma e que é importante para que se desenvolvam os testículos (onde se produz a testosterona, que origina maior massa muscular). Os testículos começaram a desenvolver-se no interior do abdómen, como costuma acontecer, só que não desceram até à posição normal nas bolsas escrotais: ficaram dentro do abdómen, dos grandes lábios vaginais ou das virilhas. E não há escroto. Mas os genitais externos são de mulher, tal como as características sexuais secundárias, como o desenvolvimento mamário, a distribuição da gordura, a ausência de pêlos. Há uma feminização completa. Olhando para as camadas biológicas desta pessoa, ela é um homem do ponto de vista genético, cromossómico, hormonal e das gónadas (testículos, no caso). Mas é mulher do ponto de vista genital, das características sexuais secundárias e, por isto, civil. Se a síndrome do testículo feminizante for incompleta, então pode haver uma ambiguidade nos genitais externos: por exemplo, um clítoris muito desenvolvido ou um pénis pouco desenvolvido, a que é difícil chamar uma coisa ou outra; ou uma estrutura a que não pode chamar-se escroto ou grandes lábios vaginais. Completa ou incompleta, com esta síndrome é-se pseudo-hermafrodita. Aliás, veio a revelar-se que a atleta sul-africana Caster Semenya - que em 2009 pôs o mundo a discutir a questão das pessoas intersexuais, ao alcançar resultados fulgurantes - é pseudo-hermafrodita. Não tem ovários nem útero, mas atrás da vagina tinha testículos ocultos. Mencionando outra situação, também há homens XX - ou seja, sem Y. A introdução do gene SRY noutro cromossoma, devido a um erro, origina um homem que é XX. Do ponto de vista dos cromossomas são mulheres, mas a nível genético, hormonal e dos genitais são homens. A propósito do caso de Caster Semenya, em 2009, Jorge Sequeiros resumia assim os vários conceitos de sexos: "Há um sexo genético, o que quer dizer que há genes masculinizantes e feminizantes. Estes genes determinam o sexo gonádico - as gónadas, que vão evoluir no sentido de testículos ou ovários, e produzem hormonas masculinas e femininas, o que determina o sexo hormonal. E o sexo hormonal determina o desenvolvimento dos genitais internos e externos, que por sua vez vão determinar o sexo civil. Pode haver interferências, que fazem com que haja contradições entre os vários níveis de sexo. "O resultado é uma pessoa intersexual. Tanto quanto Jorge Sequeiros se lembra, esta questão não foi discutida no Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, órgão consultivo do qual é membro. "Irá fazer-se" Em Portugal, uma possibilidade legal idêntica à da Alemanha não começou sequer a ser discutida, mas "é um caminho que tem de se fazer e irá fazer-se", afirmou ao PÚBLICO José Soeiro, dirigente do BE que esteve ligado à elaboração e aprovação da lei da mudança de identidade de género. Sublinhando que a legislação alemã se dirige a intersexuais e no momento do nascimento, José Soeiro frisou que "é um reconhecimento legal de uma realidade que existe, mas que não tem ainda moldura legal, pelo que é sempre um acto positivo". O dirigente do BE salientou ainda que esta legislação é importante, até porque abre a porta ao "repensar das práticas médicas actuais" e pode levar a "mudar a prática actual em que existe sobre este assunto um problemático poder discricionário dos médicos que intervêm e operam as crianças à nascença". Igualmente Miguel Vale de Almeida, que como deputado independente eleito pelo PS esteve na origem da lei da identidade de género, se congratula com a possibilidade de esta medida vir a ser adoptada num país europeu. Falando como antropólogo, Miguel Vale de Almeida, que é professor do ISCTE, destaca que "há duas coisas nesta lei que são óbvias". A primeira é que "irá acabar com as operações feitas compulsivamente à nascença de definição de sexo masculino ou feminino que dão bronca mais tarde". A segunda consequência é que "deixa em aberto a identidade de sexo, deixa aberto o neutro de sexo, que pode ser definido depois. Mas pode deixar também a identidade de género para quem a queira definir mais tarde". Desenvolvendo esta segunda questão, Vale de Almeida diz que a primeira variante "é simples porque tem lado médico", a segunda, a de "deixar em aberto para a pessoa optar mais tarde sobre a sua identidade, é mais complexa porque coloca questões ideológicas sobre as concepções de género". E conclui: "Andamos há demasiado tempo com o binarismo entre feminino e masculino, que é autolimitativo, é altura de começar a resolver isso. "
REFERÊNCIAS:
Partidos PS BE
Sporting acusa Federação de Rugby de “comportamentos misóginos”
O organismo não atribuiu medalhas às campeãs nacionais femininas, atitude que os responsáveis “leoninos” dizem ser um “claro desrespeito pela condição da mulher no desporto”. (...)

Sporting acusa Federação de Rugby de “comportamentos misóginos”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 11 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: O organismo não atribuiu medalhas às campeãs nacionais femininas, atitude que os responsáveis “leoninos” dizem ser um “claro desrespeito pela condição da mulher no desporto”.
TEXTO: O Sporting apresentou uma queixa ao Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) e à Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) contra a Federação Portuguesa de Rugby (FPR) depois de, no passado sábado, o organismo ter atribuído medalhas apenas aos campeões nacionais na variante masculina, atitude que os responsáveis “leoninos” dizem ser um “claro desrespeito pela condição da mulher no desporto”. A queixa foi enviada por email ao início da tarde de ontem e a posição do Sporting é clara: o clube “leonino”, que no passado sábado se sagrou tricampeão nacional de râguebi feminino, quer que o IPDJ e a CIG sejam “exigentes” e não se fiquem “apenas por recomendações”, depois de a FPR ter tido um “comportamento misógino” que deve ser “erradicado do desporto português”. No email a que o PÚBLICO teve acesso, os “leões” recordam que a “Constituição é clara” ao referir que “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual” e que, “embora, o regime jurídico das federações desportivas não preveja a suspensão por incumprimento ao nível da igualdade de género”, o “estatuto de utilidade pública desportiva pode ser suspenso por despacho fundamentado do membro do Governo responsável pela área do desporto” no caso do “não cumprimento da legislação contra a dopagem no desporto, bem como da relativa ao combate à violência, à corrupção, ao racismo e à xenofobia. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em declarações ao PÚBLICO, Rafael Lucas Pereira, responsável pela secção de râguebi do Sporting, acrescentou que a “denúncia é em nome de todas as mulheres e raparigas portuguesas que praticam desporto. Este comportamento é inaceitável nos tempos que correm. Aguardo com expectativa a opinião sobre este assunto dos patrocinadores da federação”. Do lado da FPR, João Pereira de Faria lembrou que direcção actual foi eleita “há muito pouco tempo” e que “uma das situações” com que se deparou “foi com a não atribuição de medalhas no único escalão competitivo feminino”. “A situação até é caricata, porque estávamos a preparar a atribuição das medalhas às equipas, convidando-as para estar nos [torneios de] sevens do Algarve ou de Lisboa. Entrámos agora e estamos a assumir uma série de coisas que já se estavam a desenrolar. A comissão de gestão tinha dado indicações para não serem feitas as atribuições das medalhas invocando razões que não interessam agora. Não nos revemos nisso”, afirmou o vice-presidente federativo, que tomou posse a 11 de Abril. Contactada pelo PÚBLICO, a CIG confirmou que a queixa deu entrada nos serviços e que a mesma será objecto de análise pela divisão jurídica. “Só após o apuramento de toda a informação, a CIG estará em condições de se pronunciar”, acrescentou uma fonte.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência mulher racismo social sexo igualdade género sexual mulheres raça xenofobia
Harry e Meghan: a nova dupla de Kensington
O casamento real, que decorre hoje ao meio-dia, é uma oportunidade para a família real modernizar a sua imagem. Para trás começam a ficar figuras como a princesa Ana e os príncipes André e Eduardo. (...)

Harry e Meghan: a nova dupla de Kensington
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O casamento real, que decorre hoje ao meio-dia, é uma oportunidade para a família real modernizar a sua imagem. Para trás começam a ficar figuras como a princesa Ana e os príncipes André e Eduardo.
TEXTO: A partir de hoje, o trio do Palácio de Kensington – William, Kate e Harry – passará oficialmente a ser um quarteto, com a entrada da norte-americana Meghan Markle na família real britânica. Estes quatro são as estrelas de uma casa real que tem deixado para segundo plano os outros filhos e netos da rainha Isabel II. Harry, sexto na linha de sucessão, e Meghan Markle casam-se neste sábado, ao meio-dia, no Castelo de Windsor. Desde que deixou as Forças Armadas, depois de dez anos de serviço, Harry tem assumido um papel cada vez mais activo ao serviço da coroa – afastando, de vez, a fama de jovem rebelde. Abraçou causas como o cuidado dos veteranos de guerra – fundando os Invictus Games – e juntou-se ao irmão e à cunhada no alerta e na promoção de iniciativas relacionadas com a saúde mental, através da organização Heads Together. No ano do 20. º aniversário da morte da mãe, a princesa Diana, os dois príncipes deram o exemplo, falando abertamente sobre a dificuldade que tiveram em lidar com o luto. Quando em Abril Harry foi nomeado embaixador da juventude da Commonwealth – provavelmente o cargo público de maior importância até à data –, tornou-se evidente que Harry e Meghan serão, mais do que um casal, uma nova equipa na família real. “Estou incrivelmente grato pelo facto de a mulher com quem estou prestes a casar-me, Meghan, se vá juntar a mim neste trabalho, no qual ela também está muito entusiasmada em participar”, anunciou então. O protagonismo de William, Kate e Harry acaba por se sobrepor ao trabalho de outros membros da família real. E não é porque trabalhem pouco. Por exemplo, a princesa Ana, filha de Isabel II e tia de William e Harry, é das mais dedicadas, marcando presença em mais de 500 eventos oficiais por ano – mais do que o trio de Kensington faz –, mas nem por isso a imprensa a acompanha ou tem a popularidade que os sobrinhos conquistaram. “Tem mais compromissos do que qualquer outra pessoa, mas não são tão publicitados”, constata Richard Fitzwilliams, especialista na monarquia britânica, ao PÚBLICO. “Não há dúvida de que, no futuro, o círculo interno da família real será [constituído por] William e Kate, Harry e Meghan e, claro, os filhos destes. Outros membros da família real vão continuar a ter compromissos, mas não há dúvida de que os membros séniores vão concentrar-se num número menor [de eventos]. ”Segundo Katie Nicholl, correspondente especializada na família real e autora de Harry: Life, Loss, and Love, citada pelo El País, “tem havido um esforço consciente para adelgaçar a monarquia, a pedido de Carlos”. Significa isso que os outros filhos da rainha, bem como os seus descendentes, irão tendencialmente perder relevância na família real, à medida que forem descendo na linha de sucessão. Veja-se o caso do segundo filho homem da rainha, André, que já está em sétimo – à frente estão o irmão, os sobrinhos e os sobrinhos-netos. É uma tendência que parece estar de acordo com aquilo que o povo pensa. Segundo os resultados de uma sondagem conduzida em 2015 pela YouGov, o entusiasmo da população britânica em relação à família real limita-se apenas ao círculo mais fechado, pelo menos no que toca à sua função oficial. No inquérito perguntava-se se os membros da família deveriam ou não receber dinheiro dos contribuintes pelos seus serviços. A partir das respostas é possível traçar uma linha clara entre a rainha (69% de respostas favoráveis), Carlos (56%) e os seus descendentes (William 59% e Harry 48%) e todos os restantes membros da família Windsor. Ana é, ainda assim, quem mais se aproxima de uma resposta positiva, com 39%; já os seus irmãos, André e Eduardo, ficaram-se pelos 28%. No extremo oposto, os primos direitos da rainha têm o apoio de apenas 9% da população. Há umas décadas, André recebeu bastante atenção dos media devido a sucessivos escândalos, como as várias mulheres com quem foi visto depois do divórcio de Sarah Ferguson; e as despesas e vida extravagante que levava. As suas filhas, Beatrice e Eugenie – esta vai casar em Outubro com o socialite Jack Brooksbank –, têm as suas carreiras e não trabalham a tempo inteiro para a coroa. Em 2016, surgiram rumores de que André teria escrito uma carta à mãe a exigir que as duas princesas passassem a receber um rendimento e a ter melhores acomodações, mas o próprio negou ter redigido tais palavras. Finalmente, o filho mais novo de Isabel II, Eduardo, conde de Wessex, é talvez o que menos atenção atrai. Casado desde 1999 com Sofia, com quem tem duas filhas, chegou a tentar construir uma carreira em produção televisiva, mas trabalhou a maior parte da vida a serviço da família real. Tal como os irmãos, participa em centenas de eventos por ano, mas tem-se focado em dar continuidade ao trabalho começado pelo pai, Filipe – que há um ano abandonou a vida pública –, como presidente da The Duke of Edinburgh’s International Award Foundation. Apesar de estarem longe do poder, algumas fontes apontam que é com este casal que a rainha tem maior proximidade. Quando em 2016 o reinado de Isabel II se tornou o mais longo da história da Grã-Bretanha, superando o da rainha Vitória, uma outra sondagem da YouPoll concluiu que 68% dos britânicos consideram que a monarquia é positiva para o país e 62% acreditam que daqui a um século vai continuar a existir. Stephen Bates, autor de Royalty Inc: Britain’s Best-Known Brand, defende que aquilo que levou a que a monarquia se tornasse numa marca poderosa foi a contínua dignidade, diligência e sentido de dever da rainha face ao país, em combinação com transformações subtis ao longo de décadas. Logo no início do seu reinado, Isabel II quebrou a tradição, autorizando que a cerimónia de coroação fosse emitida na televisão, e em 1969 permitiu que as câmaras gravassem o dia-a-dia da família real para um documentário que mostrava um lado mais relaxado e normal dos Windors. O filme passou na televisão, antes de a rainha exigir que fosse arquivado. “Em última análise, talvez o maior rebranding [mudança de imagem] de todos tenha acontecido através de casamentos reais”, escreve Bates no Telegraph. Em 2011, “o segundo na linha de sucessão [ao trono] teve permissão para se casar com a sua colega de faculdade, de classe média, cujos avós pertenceram à classe operária – e podemos ver o quão bem isso está a resultar”, diz, referindo-se a William e Kate. Da mesma forma, Richard Fitzwilliams acredita que a união de Harry e Meghan terá um impacto positivo no futuro da monarquia. “Acho que vai tornar a família real muito mais inclusiva”, comenta ao PÚBLICO. “Meghan é um novo tipo de figura real”, aponta. É “alguém que se sabe expressar bem e é a alma gémea de Harry: fez um incrível trabalho de caridade, mas também teve tempos loucos no passado”, acrescenta. Meghan Markle é divorciada e já era activista antes de conhecer o príncipe, aproveitando a sua carreira para chamar a atenção, por exemplo, para a igualdade de género e para a campanha de acesso a água potável no Ruanda (para onde viajou em 2016). No discurso como representante das Nações Unidas, em 2015, partilhou a história de quando, aos 11 anos, conseguiu que uma marca de detergentes mudasse um anúncio sexista que passava na televisão. Filha de pai branco e mãe negra, a norte-americana de 36 anos tem utilizado a sua visibilidade para discutir temas relacionados com o racismo e, mais concretamente, a sua luta pessoal com a identidade. “Não era suficientemente negra para os papéis de [actriz] negra nem suficientemente branca para os [papéis] de branca”, desabafava num ensaio escrito na primeira pessoa para a Elle, em 2015. “Tudo isto confere-lhe uma percepção das experiências das pessoas de outras etnias, que frequentemente é uma dificuldade [para outros membros da realeza]”, fundamenta Fitzwilliams. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O casamento de Harry e Meghan foge às regras convencionais em vários detalhes – desde o bolo de casamento não ser de frutas, como foram os dos ascendentes de Harry, à marcação da data da celebração para um fim-de-semana. Mais notável é, por exemplo, a decisão da noiva de não ser entregue ao marido, mas antes acompanhada até ao altar e depois dar os últimos passos sozinha, segundo avança a CNN. Além disso, durante a cerimónia quem vai proferir a homilia é o bispo Michael Bruce Curry, um norte-americano negro, conhecido pelo seu apoio ao casamento de casais homossexuais. É fácil esquecer que a rainha Isabel II, uma das últimas figuras austeras da monarquia, tem sido alguém que se tem esforçado para modernizar a monarquia, por vezes surpreendendo os mais tradicionalistas. Apesar de, no rescaldo da morte da princesa Diana, ter sido fortemente criticada por não mostrar emoções, acabou por se tornar, com os anos, mais popular do que nunca. A monarca, escreve Stephen Bates no Guardian, foi “mudando a sua imagem pública de forma subtil, tornando-se mais empática e humana, mais a imagem de uma avó”. Em anos recentes, aponta ainda no Telegraph, ”a rainha tem consentido de forma passiva, em vez de promover, a modernização da instituição”, a começar pela actual estratégia de comunicação e redes sociais. “Ao contrário de alguns dos seus antecessores e monarcas estrangeiros, [a rainha] tem sido perspicaz ao deixar-se ir na onda da mudança”, conclui.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte guerra filha filho mulher rainha negro homem racismo igualdade género mulheres princesa casamento luto negra divórcio
Amnistia Internacional descreve Twitter como "lugar tóxico para mulheres" jornalistas e políticas
Insultos e ameaças contra mulheres na política ou no jornalismo político ameaça a sua liberdade de expressão na Internet, afirma a Amnistia Internacional. (...)

Amnistia Internacional descreve Twitter como "lugar tóxico para mulheres" jornalistas e políticas
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Insultos e ameaças contra mulheres na política ou no jornalismo político ameaça a sua liberdade de expressão na Internet, afirma a Amnistia Internacional.
TEXTO: A cada 30 segundos, uma mulher na área da política ou do jornalismo a usar o Twitter recebe uma ameaça de morte, ou é alvo de insultos com base no género, orientação sexual, raça ou etnia. Os dados foram publicados esta terça-feira pela Amnistia Internacional, que este ano recrutou mais de 6500 voluntários para analisar milhares de comentários enviados durante 2017, naquela rede social, a mulheres activas na política ou a escrever sobre esta. E concluiu que o problema afecta todo o espectro político, da esquerda à direita. “Preferia bater-te na cara com um martelo gigante, sua racista que odeia brancos” ou “és burra, burra e burríssima, volta para Cuba!” são alguns dos exemplos de mensagens abusivas referidos no relatório. E entre as mulheres, as negras têm uma probabilidade 84% superior à média de ser alvo de comentários considerados “abusivos” (ofensas e ameaças de morte) ou “problemáticos” (por exemplo, com insultos assentes em estereótipos raciais ou de género). Para realizar esta análise, um conjunto de 1, 1 milhões de mensagens abusivas foi recolhido com a ajuda da Element AI, uma startup de inteligência artificial, que depois foram analisadas por uma larga equipa de voluntários. A conclusão é que 7% dos tweets enviados a um grupo de 778 mulheres que incluem deputadas britânicas, congressistas norte-americanas e jornalistas de várias publicações anglófonas (desde os jornais britânicos The Guardian e Daily Mail, ao site conservador norte-americano Breitbart) têm teor abusivo ou problemático. “Esta escala de abuso online não devia e não tem de existir em plataformas sociais”, lê-se nas conclusões do relatório da Amnistia Internacional, que defende que é importante que as pessoas não tenham medo de se “exprimir livremente na Internet” sem serem alvo de ameaças e ofensas. Para a organização, “estes dados são fundamentais para levar qualquer pessoa a procurar compreender e combater estes ataques e estes obstáculos aos direitos das mulheres na Internet”. Apesar de a Amnistia Original descrever o Twitter neste relatório como um "lugar tóxico para mulheres", a organização explica que o objectivo não é levar as pessoas a abandonar a plataforma, mas antes pressionar os responsáveis daquela rede social a investir mais em métodos de moderação de conteúdo. A existência deste problema no Twitter não é propriamente uma novidade. Tal como outras redes sociais, esta plataforma tem admitido nos últimos anos que tem tido um seu papel na difusão de teorias da conspiração, notícias falsas e mensagens ofensivas. Recentemente, a plataforma também actualizou as suas regras relativas a discursos de ódio, reconhecendo que há grupos que são alvo preferencial de ataques, incluindo “mulheres não brancas, lésbicas, bissexuais, pessoas trangénero, queer, intersexo, indivíduos assexuais, e comunidades historicamente marginalizadas”. Em reacção a este relatório, e numa resposta enviada ao PÚBLICO, o Twitter considera que a metodologia empregue pela Amnistia Internacional é pouco clara. “Sobre o relatório, quero sublinhar que o conceito de conteúdo ‘problemático’ requer mais discussão. É pouco claro. Não se percebe como definiram ou classificaram esse tipo de conteúdo”, declarou Vijayta Gadde, responsável do Twitter apra assuntos legais e políticos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Gadde, aumentar o nível de moderação do site é um assunto complexo, sendo fundamental assegurar a “liberdade de expressão. ” O Twitter nota ainda que as contas denunciadas ao site por enviarem mensagens abusivas correspondem a apenas 1% do total de contas do site e que a empresa está focada em utilizar tecnologia para as combater e remover. A inteligência artificial é vista como uma das soluções para a plataforma combater o abuso online. Em Março de 2018, por exemplo, o Twitter contratou vários investigadores para criar algoritmos que detectassem detectar casos de xenofobia, racismo ou, simplesmente, de linguagem imprópria. Para a Amnistia Internacional, a solução não pode ser meramente tecnológica e requer acção humana. “Testámos métodos de inteligência artificial para verificar o papel que pode ter na moderação de conteúdo – o nosso modelo tinha 50% de precisão, o que mostra como moderadores [humanos] treinados são essenciais para proteger o equilíbrio entre a luta contra o abuso online e a necessidade de evitar a censura”, explicou Milena Marin, uma das investigadoras da Amnistia Internacional, numa publicação no Twitter.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte humanos mulher ajuda racismo social medo género sexual mulheres racista abuso raça xenofobia
“O movimento #MeToo revelou como as mulheres foram educadas a acomodar o poder masculino em vez de o recusar”
Esta entrevista à Professora Emérita do Instituto de Estudos Avançados na Universidade de Princeton (EUA) contou com a colaboração de três investigadoras portuguesas, Ana Cristina Santos, Anne Cova e Filipa Lowndes Vicente, que têm trabalhado sobre questões de género (...)

“O movimento #MeToo revelou como as mulheres foram educadas a acomodar o poder masculino em vez de o recusar”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Esta entrevista à Professora Emérita do Instituto de Estudos Avançados na Universidade de Princeton (EUA) contou com a colaboração de três investigadoras portuguesas, Ana Cristina Santos, Anne Cova e Filipa Lowndes Vicente, que têm trabalhado sobre questões de género
TEXTO: Joan Wallach Scott (Brooklyn, 1941) é professora emérita do Instituto de Estudos Avançados na Universidade de Princeton, nos EUA. Historiadora de prestígio, nome incontornável na literatura sobre a história de França, tem uma carreira cheia de trabalhos fundamentais, desde Gender and the Politics of History (1988), que assinala agora 30 anos, até The Politics of the Veil (2007). Mais recentemente publicou Sex and Secularism (2017). Ana Cristina Santos — Recentemente, o feminismo beneficiou de uma atenção renovada em razão de iniciativas contra a violência sexual e denúncias no meio artístico e cultural. Como é que acha que os estudos de género e a política anti-sexista podem fortalecer o papel do feminismo, para lá das oscilações de atenção dos meios de comunicação social?Esta é uma questão importante, sobre o modo como a análise feminista pode contribuir para a compreensão da política do #MeToo. Já existe um conjunto de obras feministas que interrogam as culturas de dominação masculina — o que representam, como operam, que efeitos têm tido. Essa literatura tem sido usada em demasia de forma redutora pelos media. Por exemplo, apresentando as mulheres apenas como vítimas de sistemas patriarcais sem prestar atenção às maneiras complexas através das quais o poder opera na produção de sujeitos e na sua opressão. Uma das coisas que o movimento #MeToo revelou é como as mulheres foram educadas a colaborar nesses sistemas, acomodando o poder masculino em vez de o recusar. Também revelou as formas através das quais o poder funciona: o sexo e a oportunidade económica estão fortemente ligados. Na minha própria investigação, pensar a partir da psicanálise tem sido útil para compreender as confusas e desafiantes dinâmicas do sexo em todas as esferas da sociedade e ainda para explicar a resistência das sociedades democráticas a mudanças nas expectativas e regulações normativas associadas ao género. Enquanto especialistas nos estudos de género e enquanto militantes que promovem uma política anti-sexista, a questão que hoje nos desafia é como confrontar a crença, profundamente enraizada, de que as diferenças sexuais, tal como são tradicionalmente entendidas, são “naturais”. Que não podem ser interpretadas de modo distinto da forma como sempre o foram. Como é que a mudança psíquica é alcançada? Porque é que o movimento #MeToo apareceu agora? O que é que levou algumas mulheres finalmente a recusar compromissos com o poder masculino que no passado aceitaram (mesmo que relutantemente)? Qual é a relação entre mudança psíquica e transformação social e política? São estas as questões que nós temos de colocar enquanto pensadoras e activistas feministas. A. C. S — Um pouco por todo o mundo, a chamada “ideologia de género” tornou-se um foco privilegiado de animosidade para sectores conservadores. A academia e os movimentos sociais ainda não foram capazes de formular um contradiscurso para revelar o carácter alarmista, demagógico e cientificamente insustentável destes argumentos. O que pode ser feito?A campanha da “ideologia antigénero” liderada pelo Vaticano e pelos grupos evangélicos cristãos tem-se focado no “género” por uma boa razão: este implica uma crítica do sistema naturalizado que eles apoiam, que diz que as definições do que significa ser um homem ou uma mulher estão fixos ou na natureza ou por Deus. Também envolve uma crítica da assimetria ou desigualdade desse sistema e sugere que diferentes definições do sexo são possíveis, como os dados provenientes da História e da Antropologia demonstram claramente. Acho que nós já temos o contradiscurso: a insistência de que o género é uma grelha de inteligibilidade para diferenças de sexo e sexualidade dinâmica. O sociólogo francês Eric Fassin organizou uma “internacional do género” que visa defender a nossa posição e reforçá-la face a qualquer ataque. [Nota: trata-se de uma rede internacional de investigadores que visam enfrentar o problema da crescente perseguição aos estudos de género e da sexualidade um pouco por todo o mundo. Pense-se, por exemplo, no modo como um workshop sobre questões LGBT e asilo político foi “suspenso” na Universidade de Verona. ]Eu acho que os grupos antigénero estão a exprimir uma ansiedade profundamente sentida sobre o que significaria pensar de outro modo sobre as diferenças do sexo. Como argumento no meu novo livro, Sex and Secularism, esta ansiedade está associada a crenças de que a estabilidade política e as explicações da desigualdade no interior das sociedades são legitimadas por referências à imutabilidade do género. Estes grupos acreditam que se os sistemas de género existentes forem questionados a ordem social inteira colapsará. Como lidar com esse medo é um verdadeiro desafio que um argumento racional por si só não poderá resolver. Filipa Lowndes Vicente — Nos últimos 50 anos, sensivelmente, houve uma ampla produção de pensamento académico e filosófico crítico em torno dos temas do “género”. No entanto, a esfera pública parece alheada dos debates dentro da academia. Como ultrapassar o que parecem ser “linguagens diferentes”?Não creio que seja possível resolver o hiato entre a produção académica e a opinião pública e não apenas porque o nosso trabalho é demasiado complexo e subtil. Deve-se também ao facto de os actores políticos e os media operarem com binários simplistas enquanto nós os tentamos desconstruir. A forma de o nosso trabalho ser “traduzido” além da academia é através dos estudantes (sendo que nem todos se tornam académicos), que têm a capacidade de olhar para o mundo de formas diferentes, que nós lhes ensinamos, e explicar o que vêem em termos acessíveis a um público mais generalista. O nosso próprio trabalho não é sempre escrito em linguagem técnica e obscura. Podemos intervir em diálogos públicos, explicar o nosso trabalho em fóruns públicos e nas redes sociais. Penso que a ideia de “linguagens diferentes” é um bocado exagerada e assume um contraste nítido entre a academia e o público que não dá o devido valor à política. Dentro da academia, há visões políticas diferentes, tal como há no “espaço público”. Nós escrevemos para enriquecer e aprofundar visões políticas que promovam a igualdade e a justiça social e para auxiliar movimentos políticos que se dediquem a essas causas. F. L. V. — Por vezes, ignoramos que estamos a produzir discursos a partir de contextos muito diferentes. Nos EUA, o seu texto Gender: a useful category of historical analysis? é um dos mais descarregados artigos de sempre, e um dos que com mais frequência aparecem nas bibliografias recomendadas. Mas em Portugal o seu texto foi traduzido em 2008 por Ana Monteiro-Ferreira na antologia organizada por Ana I. Crespo, Ana. M. Ferreira, Anabela G. Couto, Isabel Cruz, Teresa Joaquim, Variações sobre sexo e género (Lisboa, Livros Horizonte) e aqueles professores, investigadores ou alunos que o usam são os mais diretamente associados aos estudos de género. Podemos ultrapassar estes desfasamentos?Eu abordei o problema da tradução (os diferentes contextos em que o nosso trabalho é produzido e aqueles a que este é dirigido) em Gender Studies and Translation Studies: ‘Entre Baguette — connecting the transdisciplines (com Luise von Flotow). Aí, argumento que não existe tal coisa como “tradução fiel”, que os conceitos como “género” são apropriados e adaptados para produzir diferentes usos em lugares diferentes. Não há nada a fazer quanto a isso — de facto. É uma coisa positiva e o conceito pode criar um sentido de participação internacional mesmo que lhe sejam dados diferentes usos. Anne Cova — Há dez anos, a American Historical Review publicou uma discussão dedicada ao seu famoso artigo jmencionado. Nesse fórum escreveu que “a ideia de género, em si própria, é uma questão cujas respostas são sempre dadas de forma parcelar através da investigação de académicos”. Qual a sua opinião sobre a importância de escrever uma história transnacional do género?Não tenho a certeza de compreender o que uma “história transnacional do género” seria. Significaria dizer que as situações são iguais por todo o mundo? Que mostram ser diferentes, quando comparadas? Qual a razão para este tipo de abordagem global? O meu ponto, no fórum e noutras peças que tenho escrito desde então, é que o género é uma questão sobre o enigma de como as diferenças de sexo estão a ser percepcionadas. É o modo através do qual sociedades e culturas providenciaram uma grelha de inteligibilidade para uma diferença que não tem um significado último, permanente. Por isso, a questão não deveria ser qual a experiência das mulheres nesta ou naquela cultura, neste ou naquele momento da história. Ao invés, a questão devia ser como estão a ser definidos os homens, as mulheres e as relações entre eles e elas e com que finalidades. Em que tipo de crises políticas as normas sobre género são questionadas, redefinidas, protegidas? Que perigos são antevistos na transgressão das identidades sexuais costumárias. Tudo isto pressupõe que o género não é sempre a mesma coisa, definitivamente não é sobre as identidades fixas que nós conhecemos (homem, mulher, masculinidade, feminilidade), antes é sobre algo que está permanentemente a ser construído, defendido, resistido, transgredido. As questões são como, porquê e de que formas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. AC: Uma década após a publicação do seu The Politics of the Veil nos EUA, este foi finalmente traduzido para francês em 2017. Porque acha que demorou tanto tempo a tradução, especialmente se tivermos em conta que a lei da proibição do véu é de 2004?Ainda que as editoras francesas me tenham dito, então, que já tinham demasiados livros sobre o véu, penso que a razão teve que ver com o facto de o livro ser muito crítico da lei. Eu escrevi sobre o racismo francês (um termo a que continuam a resistir os defensores da laicidade republicana contra o Islão) e ofereci uma leitura psicanalítica das razões para a proibição. Penso que isto foi simplesmente demasiado, mesmo para pessoas que concordavam com algumas coisas que escrevi. Concordo com um amigo francês que disse que, à época (2007-2008), o livro era demasiado radical para republicanos e conservadores mas não suficientemente radical para a extrema-esquerda. As coisas pioraram tanto em França (a islamofobia tão disseminada) que, em 2017, o livro não era nem tão radical nem tão “liberal” como então pareceu ser. Miguel Bandeira Jerónimo e José Pedro Monteiro — Juntamente com outros autores, demonstrou que a “questão do véu” tinha profundas imbricações coloniais, especialmente relacionadas com a Guerra da Argélia. De que modo o estudo das histórias imperiais e coloniais e respectivos legados nos pode ajudar a promover debates mais matizados, menos chauvinistas, acerca do lugar dos “outros” nas sociedades ocidentais?Como disse atrás, tenho sérias dúvidas acerca da nossa capacidade para influenciar debates públicos que transpiram um ódio visceral e racial em relação aos “outros”. Especialmente quando esses “outros” são antigos sujeitos coloniais, descritos durante séculos como menos civilizados que os seus congéneres brancos e europeus. Isto não quer dizer que se deva abandonar o estudo das histórias coloniais e imperiais, antes que a linha entre o nosso trabalho e a opinião pública não é directa. Tendo por base esse trabalho, podemos intervir em debates públicos, podemos apresentar as nossas conclusões à audiência mais vasta que conseguirmos, mas não podemos almejar produzir o tipo de mudança que me parece terem em mente. Aquilo em que o nosso trabalho nos pode ajudar é a identificar os pressupostos e fissuras dos argumentos políticos que queremos desafiar; pode aguçar o nosso pensamento político e daqueles que consideramos “aliados”. O trabalho académico pode facilitar o trabalho daqueles movimentos e actores que querem produzir uma mudança, mas não pode ele próprio produzir essa mudança. M. B. J. e J. P. M. — Por que achou que era importante escrever o seu mais recente livro Sex and Secularism, voltando a um tópico que tinha abordado antes? Deveu-se a uma indagação meramente intelectual ou também resultou das pressões do contexto histórico presente?Por que acham que é sobre um tópico que tinha abordado antes? Eu tinha um capítulo sobre a laicidade no Politics of the Veil mas era tudo, e era apenas sobre França e não sobre os Estados-nações ocidentais em geral. Este livro pretendeu abordar alguns temas hoje particularmente relevantes, especialmente a associação estabelecida entre secularismo e igualdade de género na polémica do “choque das civilizações”. Mas também tinha por objectivo explorar a história do emprego discursivo do secularismo na formação dos modernos Estados-nações ocidentais. Pretendeu ser uma síntese incisiva sobre os modos como a desigualdade de género marcaram presença na construção desses Estados-nações. É nesse sentido que pode ser visto como um exemplo do que Anne Cova chamou “história transnacional” — ainda que eu nunca usasse a expressão, na medida em que é um processo histórico geral que pretendo expor, não um estudo comparativo. Pretendia também criar uma teoria acerca das formas como (para me autocitar, do artigo de 1986) “o género constrói a política e a política constrói o género”.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Protestos no Porto, Braga e Lisboa contra a "cultura da violação"
Movimentos sociais saem à rua sob o lema "Mexeu com uma, mexeu com todas", na sequência de um presumível caso de abuso sexual num autocarro no Porto. (...)

Protestos no Porto, Braga e Lisboa contra a "cultura da violação"
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 10 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Movimentos sociais saem à rua sob o lema "Mexeu com uma, mexeu com todas", na sequência de um presumível caso de abuso sexual num autocarro no Porto.
TEXTO: Uma vasta coligação de movimentos sociais marcou para quinta-feira, dia 25, às 18h, protestos simultâneos em Lisboa, Porto e Braga. As três concentrações, sob o lema “Mexeu com uma, Mexeu com todas. Não à cultura da Violação!”, decorrem uma semana depois da divulgação de um vídeo do possível abuso sexual de uma jovem num autocarro no Porto, durante a Queima das Fitas. A Rede 8 de Março, que reúne cidadãos mas também vários movimentos sociais, é a entidade coordenadora da concentração em Lisboa. Joana Grilo, membro da organização, explica que “o movimento começou no Porto e rapidamente se alastrou para as outras cidades do país”. Apesar da convocatória surgir na sequência do caso da Queima das Fitas, a responsável afirma que a organização recusa qualquer “instrumentalização da vítima e do vídeo” do incidente. No entanto, a organizadora aproveita para condenar que seja ”visto como normal um vídeo com uma agressão deste género e que as pessoas não entendem o quão violento é para todas as mulheres a difusão de um vídeo destes”. “Infelizmente são coisas normalizadas, mas não devemos esquecer que qualquer uma de nós podia estar naquele vídeo e por isso não podemos deixar que isto passe em limpo”, disse. A responsável explica ainda que o protesto de quinta-feira será uma concentração, e não uma marcha. “Vamos ficar na Praça Luís de Camões para dar a todos a hipótese de participarem quando saírem do seu trabalho”, explica Joana. Na convocatória feita através do Facebook, a organização sublinha que “a cultura da violação é aquela que encara as mulheres como objectos sexuais e de consumo masculino”. “É o entendimento de que as mulheres não são seres autodeterminados e donas da sua sexualidade”, lê-se no texto. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No Porto, a concentração de quinta-feira decorre na Praça Gomes Teixeira. Em Braga, o protesto está marcado para a Avenida Central. Tal como em Lisboa, as manifestações acontecem às 18h. O evento é organizado por associações feministas, anti-racistas, de defesa de direitos das pessoas LGBT e movimentos sociais como a Associação Plano i, Marcha Mundial das Mulheres, Parar o Machismo, Construir a Igualdade – Rede de Activistas Feministas, Panteras Cor de Rosa, Precários Inflexíveis, SOS Racismo ou UMAR. Texto editado por Pedro Guerreiro
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos cultura concentração racismo consumo violação igualdade género sexual mulheres sexualidade abuso lgbt
Está na hora de os partidos anti-imigração tomarem o poder na UE, diz Orbán
Hungria, Itália e Polónia movimentam-se para formar aliança a pensar nas eleições europeias de Maio e também no controlo das instituições de Bruxelas. PPE pode sair fragmentado. (...)

Está na hora de os partidos anti-imigração tomarem o poder na UE, diz Orbán
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 18 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Hungria, Itália e Polónia movimentam-se para formar aliança a pensar nas eleições europeias de Maio e também no controlo das instituições de Bruxelas. PPE pode sair fragmentado.
TEXTO: Enquanto a Europa se assusta com os pesadelos do “Brexit”, Viktor Orbán, em Budapeste, prepara-se o seu assalto ao poder. Não da Hungria, o país que governa desde 2010 e que transformou num feudo seu, mas da própria União Europeia. Numa rara conferência de imprensa, apelou a uma aliança dos “políticos anti-imigração” para conquistar as instituições da EU, a começar pelas eleições para o Parlamento Europeu de Maio. “O nosso objectivo é que os opositores da imigração se tornem a maioria nas instituições da UE” – para que não restem dúvidas, foi desta forma que o porta-voz do primeiro-ministro húngaro, Zoltan Kovacs, traduziu a declaração de Orbán. O Presidente francês, Emmanuel Macron, é identificado como o líder dos defensores da imigração – o inimigo, portanto, do que poderia ser uma nova aliança anti-imigração europeia, o tema mais caro a Orbán. “Não há como negar que Emmanuel Macron é o líder das forças pró-imigração. Se o que ele quer se materializar na Europa, isso será mau para a Europa, por isso tenho de lutar contra ele”, declarou o primeiro-ministro húngaro, que se assume como defensor da civilização cristã – supondo que os imigrantes são o invasor. A escolha de Emmanuel Macron como inimigo acontece porque o Presidente francês se apresentou como o novo campeão da Europa – e também como inimigo declarado dos populismos. Para o Presidente francês, ter Orbán a escolhê-lo como opositor nem seria negativo para o arranque da sua estratégia para as europeias – correspondia até aos seus objectivos de campanha. A crise com os “coletes amarelos”, no entanto, gerou um pandemónio nos planos de Macron. Na Hungria, Macron foi mesmo transformado num inimigo caricatural, objecto de uma campanha que o retrata como o grande adversário do primeiro-ministro Orbán, relata uma reportagem do Le Monde na redacção do site nacionalista húngaro Pesti Sracok. “Há uma verdadeira campanha contra o Presidente francês feita pelos jornalistas próximos do regime. Recebem as ordens directamente do gabinete do chefe do Governo. Rádio e televisão pública, sites, jornais: dizem todos a mesma coisa. Todos os dias temos notícias que caricaturam Macron, sugerem que pode ser gay ou toxicómano, que é impopular, que gosta dos imigrantes, que se rodeia de pessoas erradas. A narrativa é cada vez mais difamatória e racista”, analisa Peter Kreko, director do think tank liberal Political Capital. Já os principais aliados para conseguir esta aliança são a Polónia e o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, sobre o qual o húngaro deixa cair uma chuva de elogios – “a meu ver, é um herói” –, e com o qual se encontrou este Verão. Quarta-feira, Salvini, o líder da Liga, partido xenófobo e tenazmente anti-imigração, esteve em Varsóvia, para se reunir com Jaroslaw Kaczynski, o ideólogo e líder de facto do muito conservador Direito e Justiça, o partido no Governo. Salvini saiu do encontro a dizer que os seus pontos de vista “convergiam em 90% dos temas” e, embora não tenha revelado pormenores sobre projectos em comum, diz o jornal francês Le Monde, avançou que os dois países poderiam “propor um pacto em dez pontos para a Europa, que apresentaríamos a outros movimentos populares”. Não lhe falta arrojo: “O eixo franco-alemão pode ser substituído por um eixo ítalo-polaco”, afirmou Salvini, que ao mesmo tempo ataca Macron e atira umas setas contra a chanceler alemã Angela Merkel, no momento em que sua saída do poder se aproxima. Orbán só tinha coisas boas a dizer sobre esta ideia. “A aliança polaco-italiana ou entre Roma e Varsóvia é um dos maiores desenvolvimentos que podiam ter acontecido neste início de ano”, afirmou o primeiro-ministro húngaro. Orbán parece apostado em desferir um golpe mortal no Partido Popular Europeu (PPE), ao qual pertence o seu Fidesz, talvez como vingança porque o PPE permitiu que a 12 de Setembro o Parlamento Europeu aprovasse, com a necessária maioria de dois terços, a activação do artigo 7º. do Tratado de Lisboa contra a Hungria “por risco claro de violação grave do Estado de Direito”. Se o Conselho Europeu aprovasse esta recomendação do Parlamento, o direito de voto da Hungria poderia ser suspenso, por exemplo – mas é pouco provável que haja uma maioria no Conselho para que isso aconteça. E isso não quer dizer que o PPE esteja disposto a expulsar o partido de Orbán. “Se excluísse o Fidesz, corria o risco que partidos da Croácia, da Eslovénia, da Eslováquia, da Bulgária, saíssem para engrossar as fileiras da extrema-direita”, escreveu numa análise no Le Monde Sylvain Kahn, professor no instituto Sciences-Po em Paris. “O argumento dos dirigentes [do PPE] tem sido que mais vale manter Orbán na família do que excluí-lo, pois é a melhor forma de conter as suas derivas”, explicou Kahn. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas Orbán sentiu-se traído pelos dirigentes do PPE, ao permitirem a activação do artigo 7º. . “Orbán começou a dizer ‘eu sou o novo PPE’. Até agora, achávamos que podíamos contê-lo, mas de facto, ele divide-nos cada vez mais”, comentou ao diário francês Ingeborg Grässle, eurodeputada alemã do PPE. Grässle liderou em 2017 uma missão à Hungria para investigar usos duvidosos de fundos europeus. Vários milhões de euros foram desviados pelo genro do primeiro-ministro húngaro nos últimos anos, sem que a justiça de Budapeste investigue verdadeiramente o caso.
REFERÊNCIAS:
Partidos Partido Popular Europeu
Jean-Marie Le Pen afasta-se e dá lugar à neta nas eleições regionais
Novo capítulo na guerra geracional da extrema-direita francesa: Marion Maréchal-Le Pen, mais à direita do que a tia Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, foi escolhida pelo avô para o substituir como cabeça de lista. (...)

Jean-Marie Le Pen afasta-se e dá lugar à neta nas eleições regionais
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501172033/http://www.publico.pt/1692237
SUMÁRIO: Novo capítulo na guerra geracional da extrema-direita francesa: Marion Maréchal-Le Pen, mais à direita do que a tia Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, foi escolhida pelo avô para o substituir como cabeça de lista.
TEXTO: O fundador e presidente de honra da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, anunciou que não será cabeça de lista nas eleições regionais francesas de Dezembro pela região Provence-Alpes-Côte d'Azur (PACA), como era esperado e temido, desde que na semana passada estalou a guerra aberta com a sua filha Marine, a líder do partido. Mas não se inibiu de sugerir quem o devia substituir. “Não sendo eu candidato, só vejo Marion”, afirmou, referindo-se à sua neta Marion Maréchal-Le Pen. Ela disse que sim. O afastamento de Jean-Marie, de 86 anos, vem ao encontro do que era reclamado pela direcção da Frente Nacional (FN) depois da entrevista que deu à revista de extrema-direita Rivariol, em que defendia o regime colaboracionista de Vichy, durante a II Guerra, e criticava o caminho de abertura e normalização do partido seguido pela filha. “Fizemos um trabalho imenso para ganhar credibilidade, para nos implantarmos no terreno, que é minado pelas derrapagens repetidas do sr. Le Pen… Ele faz parte de outra geração e devia aceitá-lo”, disse ao Le Monde Damien Guttierez, conselheiro eleito pelo departamento do Var, nas eleições do mês passado. Mas o velho Le Pen, já ameaçado com um processo disciplinar que pode levar à sua expulsão do partido, afirmou em entrevistas sucessivas, que “uma FN gentil não interessa a ninguém” e apontou o dedo a quem considera estar por trás deste desvio ideológico da FN: Florian Philippot, um jovem politólogo no topo da hierarquia do partido, muito próximo de Marine Le Pen, co-responsável pela estratégia de renovar o discurso do partido, tornando-o mais soberanista, em vez de racista, e mais social, chegando a sectores do eleitorado em que antes não entrava. A sua neta, que já confirmou que quer ser cabeça de lista nesta região do Sul de França, é tida como mais próxima politicamente do avô do que da tia. Marion Maréchal-Le Pen, de 25 anos, é a mais jovem deputada da Assembleia Nacional. Teve uma posição mais dura face ao casamento para todos – o casamento homossexual – do que a linha oficial da FN, é mais liberal em matéria económica e, disse o investigador Jean-Yves Camus ao Le Figaro, “oferece uma linha bastante compatível com uma direita dos valores descomplexada”. Por outro lado, tem já raízes eleitorais na região e não tem um passado de afirmações polémicas, como o avô, sublinha este especialista na extrema-direita. "Há duas sensibilidades na FN. Marion Maréchal encarna a linha nacional-conservadora que assume claramente ser de direita”, diz Camus. Esta corresponde mais claramente aos eleitores da região PACA, o eleitorado tradicional da FN. “Outra fracção sociológica do eleitorado frontista quer ultrapassar as clivagens direita-esquerda. Esta é a linha de Florian Philippot, que continua a privilegiar o ‘nem direita nem esquerda’”, prossegue. Estes são os eleitores do Norte e do Nordeste, os novos votantes em Marine Le Pen, os eleitores desiludidos com os socialistas, por exemplo. O peso da FN na região PACA não é menosprezável: há um ano, nas eleições europeias, Jean-Marie Le Pen obteve 28% dos votos. Num momento de divisões do partido pode ainda haver novas surpresas: o eurodeputado Bruno Gollnisch anunciou a intenção de se tornar cabeça de lista por esta região nas eleições de Dezembro de 2015. É um pouco estranho, pois este veterano é um próximo de Jean-Marie Le Pen. Mas talvez o velho guerreiro da extrema-direita francesa não esteja a mostrar as cartas todas nem aos seus colaboradores mais chegados, nesta guerra contra a filha pela alma do partido que fundou em 1972.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra filha social casamento homossexual racista
Isto não é normal, Paulo Rangel
Ao mesmo tempo que faz discursos contra o populismo, aprova Oettinger e pede a demissão de Centeno. E eu lamento dizer que considero esta duplicidade de critérios inexplicável e esta atitude chocante. (...)

Isto não é normal, Paulo Rangel
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -0.07
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao mesmo tempo que faz discursos contra o populismo, aprova Oettinger e pede a demissão de Centeno. E eu lamento dizer que considero esta duplicidade de critérios inexplicável e esta atitude chocante.
TEXTO: Há um ano, a Comissão Europeia dizia que o défice português em 2016 iria ser bastante acima dos três por cento. No relatório de Inverno divulgado ontem, a Comissão vem agora confirmar que, afinal, o défice deverá ficar abaixo dos 2, 3% e possibilitar a Portugal a saída do procedimento por défice excessivo que nos escapa há tanto tempo. Qual é a resposta da direita em Portugal? Demita-se o ministro das Finanças. Claro, concedamos que as razões para uma putativa demissão de Mário Centeno não são as de ter conseguido fazer aquilo que nenhum ministro das Finanças do anterior governo da direita conseguiu: cumprir com as metas orçamentais. A motivação para os ataques a Mário Centeno está relacionada com o processo de nomeação da antiga administração da Caixa Geral de Depósitos e com a possibilidade dos antigos nomeados terem alegadamente ficados convencidos de que estariam dispensados de entregar as suas declarações de património e rendimentos ao Tribunal Constitucional. A lei — antes e depois de alterações ao Estatuto do Gestor Público — é clara: não há dispensa. A questão passa então a ser se a lei não bastava para clarificar a posição dos administradores da Caixa, ou se poderia ter havido nas comunicações com o ministro das Finanças razões para eles acreditarem que havia dispensa: aquilo a que o ministro chamou anteontem, concedendo essa possibilidade, “um erro de percepção mútuo”. O ministro das Finanças é melhor com os números do que com as palavras, e a direita vai atacar pelas palavras para não ter de falar nos números. Até aqui, normal. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O que não é normal é, no meio disto tudo, eu ver que o mais encarniçado dos polemistas é Paulo Rangel, que foi dos primeiros a pedir a demissão do ministro e que, na sua crónica de segunda-feira no PÚBLICO, se lançou com verve numa catilinária para demonstrar que, mesmo sem provas para a culpa do ministro, Mário Centeno se deve demitir porque “a demissão não é uma pena nem uma sanção jurídica: é uma consequência política!”. E porque não é isto normal? Porque há exatamente três meses eu escrevi nestas páginas uma Carta Aberta a Paulo Rangel pedindo-lhe responsabilidades políticas. Recorde-se que Paulo Rangel é deputado europeu, vice-presidente do PPE [Partido Popular Europeu] e chefe da delegação do PSD no Parlamento Europeu. À época, a Comissão Europeia tinha proposto para Comissário do Orçamento da União o alemão Guenther Oettinger, que não era um comissário qualquer, mas o homem que sugeriu aos jornais pôr a bandeira do nosso país a meia-haste nos edifícios europeus por causa dos seus défices excessivos, que fez em privado comentários homofóbicos e racistas dos quais só se desculpou pela metade e que, acima de tudo, foi apanhado a viajar no jato de um oligarca amigo de Putin para ir à Hungria encontrar-se com Orbán no momento da negociação de uma central nuclear russa naquele país em plena vigência de sanções ao Kremlin. Tendo Paulo Rangel responsabilidades políticas na aprovação deste comissário, eu perguntava-lhe qual era a sua opinião política sobre esta nomeação política que ele teria de votar. Perguntei, aliás, duas vezes — nessa e noutra crónica. Rangel nunca respondeu. E eu guardei o seu silêncio, confesso que com um certo pasmo, até o ler a exigir a demissão de um ministro não pelo que fez mas pela eventualidade semântico-metafísica de não se ter feito entender como deveria. Para o Comissário Oettinger — ofensivo, amigo de corruptos e autoritários e autor de propostas que violariam os tratados da UE — um silêncio cúmplice e, mais até, um discreto voto favorável para lhe dar a pasta do Orçamento da UE. Para Mário Centeno, rasgar de vestes e pedidos de demissão. Nos assuntos em que Paulo Rangel tem responsabilidade como representante eleito dos cidadãos portugueses e europeus — zero explicações. Na questão nacional do momento, que garante cobertura e atenção mediática — Paulo Rangel está em todo o lado. Ao mesmo tempo que faz discursos contra o populismo, aprova Oettinger e pede a demissão de Centeno. E eu lamento dizer que considero esta duplicidade de critérios inexplicável e esta atitude chocante.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD Partido Popular Europeu