Hollande no Mali
Enquanto centenas de milhares de pessoas se manifestavam em Paris contra o direito dos casais homossexuais ao casamento e à adopção de crianças, tropas francesas chegavam ao Mali para impedir uma coligação de islamitas e de forças rebeldes de tomar o controlo da sua capital, Bamako, e de criar um santuário para terroristas no Sahel. Estes são tempos de provação para o Presidente francês, François Hollande. Economicamente cercado no seu país, onde a sua popularidade está no ponto mais baixo desde que foi eleito no ano passado, poderá ele recuperar credibilidade, ou mesmo apoio, enquanto comandante supremo das forç... (etc.)

Hollande no Mali
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-01-19 | Jornal Público
TEXTO: Enquanto centenas de milhares de pessoas se manifestavam em Paris contra o direito dos casais homossexuais ao casamento e à adopção de crianças, tropas francesas chegavam ao Mali para impedir uma coligação de islamitas e de forças rebeldes de tomar o controlo da sua capital, Bamako, e de criar um santuário para terroristas no Sahel. Estes são tempos de provação para o Presidente francês, François Hollande. Economicamente cercado no seu país, onde a sua popularidade está no ponto mais baixo desde que foi eleito no ano passado, poderá ele recuperar credibilidade, ou mesmo apoio, enquanto comandante supremo das forças francesas?Numa outra época, “eu intervenho, logo existo” podia muito bem ter sido um lema francês, particularmente em África. Mas, embora a identidade nacional francesa esteja intimamente ligada à posição internacional da França – e a como o resto do mundo a apercebe – o entusiasmo relativo à intervenção diminuiu. Os benefícios tornaram-se dúbios, enquanto os custos e os riscos se tornaram cada vez mais evidentes. Se a França se transformou outra vez num polícia regional, é muito devido a três factores. O entusiasmo norte-americano para intervenções em África diminuiu significativamente a partir da operação de 1992-1993 na Somália – e de um modo mais global após as longas guerras no Iraque e no Afeganistão. O interesse europeu numa intervenção militar em África está no seu nível mais baixo de sempre. E, quanto aos governos da região, seria um eufemismo dizer que não estão ainda militarmente prontos para tomar o seu destino nas suas próprias mãos. Embora a França não esteja isolada – recebeu sinais de apoio dos seus parceiros ocidentais e africanos, bem como do Médio Oriente – será ela quem arcará com a responsabilidade primária e com os riscos. Para os fundamentalistas islâmicos, a França é agora o “Grande Satã”. Na verdade, o conflito no Mali ocorre geograficamente em África, mas de muitos modos as suas causas e ramificações residem no Médio Oriente. Quando noutras alturas a França interveio em países africanos, não existia risco de ataques terroristas no seu território ou sobre os seus cidadãos noutros locais do mundo. Isso já não acontece. Ainda é muito cedo para dizer o que acontecerá no Mali ou no Sahel – ou, em boa verdade, em França. Actualmente, os franceses apoiam Hollande de modo inequívoco. Criticá-lo-iam se tivesse permanecido passivo enquanto Bamako caía nas mãos dos terroristas. Contudo, este pode ser um apoio frágil e poderá desmoronar-se se algo correr mal no terreno – ou, pior, em França. Antes da intervenção, o Mali não era uma prioridade francesa. O desemprego interno crescente parecia ser uma tarefa mais urgente que a resolução da instabilidade em África. Embora o público francês concorde que não se possa permitir que o Mali se transforme numa base para terroristas, do mesmo modo que o Afeganistão no fim da década de 1990, as atitudes relativamente à intervenção evoluíram nas últimas décadas. No início da década de 1980, depois de um ataque terrorista particularmente sangrento sobre forças francesas e norte-americanas, a tolerância francesa para baixas militares parecia muito mais elevada do que a dos Estados Unidos. Mas isto mudou. Os franceses encontram-se agora na linha da frente, numa altura em que estão muito menos dispostos a tal. Além disso, limitações orçamentais restringiram de modo severo a capacidade militar francesa. A intervenção militar francesa e britânica foi bem-sucedida na Líbia em 2011, pelo menos em parte, como consequência das aquisições militares dos EUA. Naturalmente, de um ponto de vista francês, o papel dos EUA é algo irónico. Nos anos seguintes aos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, os norte-americanos tiveram sempre que estar na linha dianteira – combatendo o inimigo no exterior para evitar ter de combatê-lo internamente, para utilizar uma expressão da altura – enquanto os aliados europeus eram vistos como a equipa de limpeza. Mas a fadiga imperial, após o Iraque e o Afeganistão, deixou a sua marca. Os norte-americanos estão a começar a gostar – provavelmente demasiado, na opinião dos seus aliados – do que o Presidente Barack Obama, descrevendo o papel dos EUA na Líbia, apelidou de “liderar a partir da retaguarda”. Para Hollande, a guerra no Mali é ao mesmo tempo uma oportunidade e um risco. Se Nicolas Sarkozy, que derrotou, era geralmente considerado como “demasiado” presidencial, Hollande deu a impressão de não ser presidencial “o suficiente”. A sua queda das boas graças do público – demasiado estatizante e fiscalmente intrusivo para a direita, mas demasiado moderado e social-democrata para a verdadeira esquerda – foi a mais rápida de qualquer outro presidente da Quinta República. Naturalmente, com o desemprego a crescer de mês para mês, é difícil permanecer popular por muito tempo. Como o comandante supremo de um exército em guerra, Hollande pode agora tentar reinventar-se. Mas sucessivos presidentes desde Jacques Chirac falharam na reconciliação dos franceses com a política. Os cidadãos franceses habituaram-se a esperar demasiado do seu estado, e agora poderão ter expectativas muito baixas relativamente à política e aos políticos, numa altura em que ocorrem profundas divisões em questões económicas e sociais fundamentais, não apenas entre a direita e a esquerda tradicionais, mas também no seio de cada campo. Poderá a intervenção no exterior reunir os franceses? Será a guerra em África o momento definidor da presidência de Hollande? Recordá-lo-ão como o Harry Truman francês – um homem discreto e pouco carismático que, quando confrontado com circunstâncias urgentes e dramáticas, acabou por fazer o que estava certo por falta de melhor alternativa?Este é um momento portentoso, tanto para o Mali como para a segurança no Sahel e na Europa. Não é menos significativo para Hollande e para a França. Traduzido do inglês por António Chagas/Project SyndicateDominique Moisi é conselheiro sénior no Instituto Francês de Assuntos Internacionais e professor no King’s College em Londres
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
“As mulheres estão mais preparadas para o amor”
Frank Tallis é pragmático: "Ser feliz não se resume ao amor", embora o procuremos e o queiramos viver a vida toda. O psicólogo clínico britânico escreveu um livro no qual identifica as doenças do amor. (...)

“As mulheres estão mais preparadas para o amor”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 Homossexuais Pontuação: 5 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Frank Tallis é pragmático: "Ser feliz não se resume ao amor", embora o procuremos e o queiramos viver a vida toda. O psicólogo clínico britânico escreveu um livro no qual identifica as doenças do amor.
TEXTO: A capa e o título e até a citação do escritor Ian McEwan – "Mergulha fundo na própria essência do amor" – podem ser enganadores. Este não é um romance, embora o professor e psicólogo clínico Frank Tallis já os tenha escrito. O Romântico Incurável e outros casos de desejo e loucura é um livro de psicologia sobre as doenças do amor. Contando pequenas histórias de doentes que acompanhou em consulta, o especialista britânico vai identificando algumas doenças com a intenção de ajudar o leitor a prevenir comportamentos porque a linha que separa o amor normal do anormal é muito ténue. Nesta entrevista faz algumas revelações – não há donzelas perfeitas, nem príncipes encantados – e deixa o alerta: "Há uma ilusão que, se encontrarmos a pessoa certa, seremos felizes, mas é preciso mais do que isso. Ajuda muito, mas não é o suficiente. "No que diz respeito ao amor, há séculos que a natureza humana é a mesma, não muda?Não, não muda, nem no que diz respeito às doenças relacionadas com o amor. Há referências desde o tempo dos egípcios, na poesia, onde é dito que os amantes procuram os médicos porque se sentem febris e instáveis. Os gregos e os romanos também as reconheceram, os poetas de todas as culturas. . . Nos séculos IX e X foram escritos livros por médicos islâmicos, mas as doenças do amor só foram levadas a sério a partir do século XVIII, no Ocidente. Depois houve uma altura, que perderam a importância e a medicina deixou de reconhecer algumas delas. E continuamos a desvalorizá-las?Sem dúvida e mal, infelizmente. Mesmo quando o amor é normal, há sintomas ligados à obsessão, à euforia ou à depressão. Só que quando o amor é uma doença, esses sintomas podem ser catastróficos. Por exemplo, no mundo, 10% dos homicídios estão relacionados com o ciúme; a rejeição pode levar ao suicídio, sobretudo entre os mais jovens que não têm maturidade para lidar com isso. Portanto, se olharmos para as evidências, o amor deve ser levado a sério e a sociedade não o faz. Continuamos a ridicularizar quem está apaixonado e devíamos lidar com mais sensibilidade, desde muito cedo. Isso aprende-se, por exemplo, na escola? Porque aí é ensinada a educação sexual, mas não o que é o amor. Os dois [o amor e a educação sexual] deveriam andar juntos! Na escola fala-se sobre o ter sexo no contexto de uma relação amorosa, mas depois não exploram o que isso é, nem as consequências de estar numa relação amorosa. Quando estudei psicologia, em oito anos de formação, tive apenas uma palestra sobre o Amor Romântico e o tom foi quase como se fosse uma piada. E no entanto é, com frequência, a coisa mais importante na vida das pessoas, que nascem, vivem, procuram um companheiro, apaixonam-se, querem ter uma família e que os seus filhos encontrem o amor. E se não for a escola, podem ser os pais? É que por vezes, o que os filhos vêem são discussões. . . Muitas vezes, quando os pais são um mau exemplo, os filhos quando crescem não sabem como amar e limitam-se a copiar o modelo dos pais. Por exemplo o ciúme sexual: tendem a ser os homens a senti-lo em relação às mulheres, querem controlá-las através da violência, agredindo-as e até matando-as. Por isso, mais uma vez, o amor é um assunto sério. O que é um amor normal?O psicólogo norte-americano Robert Sternberg desenvolveu a Teoria do Amor, ele diz que para um amor ser consistente são necessários três parâmetros: paixão, tem de haver atracção sexual, que não dura para sempre; intimidade, temos de gostar da pessoa, é mais do que ser amigos, é preciso haver um sentido de proximidade; e tem de haver compromisso mútuo. É uma fórmula simples mas consistente porque quando algo de errado acontece, percebemos que algum destes três indicadores falhou. Por exemplo, se só tivermos a intimidade mas não houver atracção sexual, então é uma relação fria. À medida que envelhecemos, o sexo é menos importante?Sim. Escreve sobre o caso de uma viúva que sentia falta do sexo com o marido, com quem pouco partilhava. A intimidade não deveria ser mais importante?É preciso haver intimidade, amizade, comunicação, mas o que esse caso mostra é que o sexo pode ser poderoso. É uma forma de amor e esse caso contraria o que pensamos sobre relacionamentos. É uma excepção. A maior parte das pessoas quando se apaixona é claro que quer ter relações sexuais mas, quatro ou cinco anos depois, o sexo torna-se menos importante e as pessoas continuam a ter relações que as preenchem completamente. O sexo é importante porque mostra um grau de compatibilidade, o nojo é muito importante. O nojo?(Riso) Sim, por exemplo, há muitas culturas no mundo em que as pessoas não se beijam porque é nojento. E quando temos sexo percebemos que é tão íntimo, que partilhamos fluídos, que há partes do nosso corpo que estão associadas a coisas menos higiénicas, mas para podermos usufruir do acto sexual é preciso suprimir todos esses pensamentos. A compatibilidade sexual tem a ver com a nossa capacidade de suprimir o que é considerado nojento. Portanto, tem muito significado, não é uma coisa simples, o sexo é muito importante. E é mais importante para os homens do que para as mulheres?Sim. Quando fazia terapia de casal, normalmente, as mulheres queixavam-se de que eles não falavam, não partilhavam as suas emoções, que se tornaram nuns estranhos; já eles queixavam-se de elas não quererem ter relações sexuais. Isso significa que, num determinado momento da relação, homens e mulheres querem coisas diferentes?Parece que sim, se olharmos apenas para a prática clínica. Mas agora há muitos dados disponíveis na Internet, por exemplo, há análises sobre as perguntas que as pessoas põem ao Google, falamos de milhões e milhões de pessoas que na intimidade do seu lar fazem perguntas e há uma queixa comum entre as mulheres – “o meu namorado não quer ter sexo comigo”. E isto é muito revelador. São mulheres que perguntam? E os homens?Eles perguntam sobre o tamanho do pénis e coisas estúpidas com que se preocupam…Então o que significa essa queixa feminina?O que a Internet nos permite ver é que as mulheres preocupam-se com o sexo. Isto significa que quando, algumas, chegam à terapia não sentem confiança para dizer, tal como os homens, “eu quero ter mais sexo”. É uma questão cultural?Sim, são os estereótipos que prevalecem. Por isso, uma mulher não fala de sexo, mas de emoções?Na prática clínica acontece muitas vezes ouvirmos uma pessoa a dizer uma coisa, quando quer dizer outra. E aqui pode ser o mesmo: as mulheres também estão insatisfeitas sexualmente, mas falam de sentimentos. É muito complexo e é uma das razões por que escrevi o livro, para mostrar que estes temas são complicados. Se lermos colunas de aconselhamento em revistas, livros de auto-ajuda, as respostas são sempre tão simples, mas a realidade não é assim. É importante resistir, sobretudo na prática clínica é preciso olhar para cada pessoa como única, como aquela mulher para quem o sexo era tudo, ou seja, é importante resistir à simplificação. Quem são os seus leitores, estudantes de psicologia e psiquiatria?Não. Qualquer pessoa que já esteve apaixonada! Qualquer pessoa que já tenha procurado um ex-namorado no Google, isso mostra que há alguma obsessão. O livro não é só de estudos de caso, é uma exploração de todas as áreas do amor e do sexo. A editora diz que este é um livro que será mais lido pelas mulheres, mas os homens também precisam de o ler. Porquê?Porque os homens não pensam sobre o amor, pensam sobre sexo, mas não percebem que quando buscam o sexo, este pode vir com o amor. E essa é uma experiência que os deixa confusos, que pode ser esmagadora. Curiosamente, as mulheres estão mais preparadas para o amor. E, no entanto, elas “googlam” sobre a falta de sexo. Isso significa que há uma mudança na forma como olham para o amor?Não. As mulheres têm uma visão mais alargada do sexo no contexto de uma relação, enquanto os homens têm um problema com as emoções. Muitos dos casos de pessoas que não conseguem lidar com a intensidade das emoções são de homens que são mais imaturos, que não estavam preparados e, por isso, quando se apaixonaram e não resultou foi devastador para eles. É porque são imaturos que quando chegam à meia-idade procuram mulheres mais jovens?Sim! (risos) É verdade, porque em primeiro lugar dão prioridade ao sexo. Uma das consequências dessa opção é que esses homens mais velhos acabam por tornar-se muitíssimo ciumentos das suas jovens mulheres. Esperam que a beleza e a juventude delas lhes traga o paraíso na Terra e torna-se num inferno. Isso significa que o amor e a felicidade deveriam ser sinónimos?Deveriam ser, mas não o são frequentemente. Na verdade, na nossa cultura, se olharmos para o amor romântico, é quase como se acreditássemos que este tem de ser atormentado, que o nosso coração tem de se rasgar. É muito interessante olharmos para a história do amor romântico, a sua origem é islâmica, tem a ver com a o anseio da alma por Deus. Os trovadores não compreenderam que este amor era uma alegoria e confundiram os objectivos espirituais com os terrenos, importando uma série de expectativas irrealistas para o amor, a ideia de encontrar uma mulher perfeita. São expectativas e ninguém está à altura. Em particular para as mulheres, isto é muito exigente, o ser linda e perfeita. Mas as mulheres também procuram o “príncipe encantado”. Não é o mesmo princípio?Sim. Contudo, essa é uma ideia que vem reforçar a falta de poder das mulheres e uma série de outros estereótipos que não devem ter lugar no mundo moderno. Mas o amor romântico continua à procura das mulheres bonitas e perfeitas e que estas assim o serão para sempre. É isso que nos faz querer ser “felizes para sempre”?Nós queremos isso, mas temos de ser realistas. Primeiro é impossível porque alguém [no casal] vai morrer primeiro. É preciso perceber que os primeiros sentimentos não vão durar para sempre e que temos de reconhecer que ser feliz não se resume ao amor, que há imensas coisas na nossa vida que nos completam. O amor pode resistir a coisas menos boas como o desemprego ou a morte de um filho?Se olharmos para o divórcio, esta é a experiência mais traumatizante por que as pessoas têm de passar – a morte do amor –, a par da morte de um filho ou do companheiro. Quando o amor morre é apreendido como a pior coisa que pode acontecer. Por isso é importante ter uma vida preenchida, realizada. Há uma ilusão que, se encontrarmos a pessoa certa, seremos felizes, mas é preciso mais do que isso. Ajuda muito, mas não é o suficiente. Precisamos de ter vida própria?Sim. Para medir o quão autêntico é o amor é preciso ver quanto tempo consegue um casal estar longe e continuar apaixonado, porque cada um é uma pessoa, um indivíduo. Porque nunca se é um só. Mas não é essa a ideia: ser um só?Lá vem outra vez a ideia islâmica do amor romântico que chegou ao cristianismo. Mas é uma ideia bonita!Linda! E, de certa maneira é verdade quando o casal tem filhos, ou seja, a ideia que o amor se estende para a eternidade, mas as pessoas são indivíduos. Se investirmos toda a nossa vida noutra pessoa, não é uma boa ideia porque um dia pode ir-se embora. Por isso, funciona melhor se os indivíduos se complementarem verdadeiramente, mas nunca serão um só. Essa individualidade de que fala pode levar-nos a trair mais? No livro diz que 20 a 40% dos homens casados e entre 20 a 25% das mulheres casadas traem e que 70% dos namorados são infiéis. Eventualmente, mas há aspectos na sociedade moderna que vão noutra direcção. Por exemplo, os jovens que evitam ter relações sexuais. É uma nova tendência?Sim e preocupante. Não é uma coisa dos EUA por razões religiosas?Não. Também está a acontecer no Reino Unido. Mas no Reino Unido a taxa de gravidez adolescente é muito alta. Por isso, essa tendência pode ser boa!(Riso) O que estamos a assistir é que os jovens têm medo de ter relações sexuais porque vêem pornografia na Internet e pensam que é aquilo que lhes é exigido, uma performance ininterrupta com múltiplos orgasmos, com muitas companheiras. As raparigas temem que lhes seja exigido fazer coisas com as quais não se sentem confortáveis. Este é um verdadeiro problema no Japão, com o governo preocupado com o futuro do país, porque estes jovens isolam-se e evitam o sexo. Então, voltamos a falar da necessidade de educar?Sim, na escola. É importante fazer as pessoas compreenderem que quando nos apaixonamos há emoções que são normais, alertar os mais novos para a complexidade do amor e que podem sentir-se instáveis, obsessivos, que podem ter um rival que desejam matar, que todas essas coisas fazem parte da vida e que se souberem como geri-las, melhor. Há amor à primeira vista?Se olharmos para os dados, 70% das pessoas acredita que sim, 50% diz que já o experimentou, mas se pensarmos racionalmente é impossível. Como é que olhamos para alguém, pela primeira vez, e acreditamos que "estava escrito nas estrelas"? Não pode ser verdade. Pesquisas recentes sugerem que as pessoas sentem uma forte atracção sexual, juntam-se, o cérebro prega-lhes uma partida e pensam que é amor, mas na maior parte das vezes é luxúria. (Risos) Depois, as pessoas reescrevem a sua história. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Porque precisam de o fazer, porque o amor não é racional. Não é racional e não temos controlo sobre ele, mas em última instância podemos dizer que é um mecanismo de evolução, como diria Darwin. Podemos escolher não ter sexo, mas pomos em risco a sobrevivência da espécie. Em 20 mil anos, o amor não mudou, interpretamos, com instrumentos culturais, sociais, mas é profundo, está gravado no nosso cérebro e no nosso corpo. Vemos que há mudanças subtis, mas a linguagem base do amor permanece inalterada. Os homens tendem a exibir-se, as mulheres tendem a escolher. O sexo é importante até a questão da procriação estar resolvida. Há padrões que se mantêm os mesmos. Mesmo quando se criam sociedades utópicas ou disruptivas, acabam por não ter sucesso, e voltam à família tradicional. No final o amor vence?Sim. E o amor é tudo o que precisamos (Love is all we need)?Não. Eu não concordo com Paul McCartney. É importante, mas precisamos de outras coisas!
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
As questões de género também se dançam
O festival Gender Trouble, dedicado a representações de género e sexualidade, terá lugar entre 5 de Maio e 24 de Junho. (...)

As questões de género também se dançam
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 7 Homossexuais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O festival Gender Trouble, dedicado a representações de género e sexualidade, terá lugar entre 5 de Maio e 24 de Junho.
TEXTO: Passear pelas ruas de Lisboa, de mão dada com um desconhecido – seis desconhecidos, um de cada vez – durante meia hora, como se fossem um casal. E se esse desconhecido for uma lésbica de cabelo rapado? Um drag com collants de rede?O que é que os outros vão pensar? Desafiar os preconceitos dos espectadores e colocá-los no lugar do outro é a ideia – tão simples, tão temerária – que está na génese de Walking: Holding, performance da artista britânica Rosana Cade (é ela a lésbica de cabelo rapado) que o Teatro Maria Matos vai trazer a Lisboa, nos dias 30 e 31 de Maio. Walking: Holding é um dos oito espectáculos que integram o festival Gender Trouble, dedicado a representações de género e sexualidade, que terá lugar entre 5 de Maio e 24 de Junho. O mote – e a sustentação teórica – é o 25º aniversário de um dos livros canónicos sobre questões de identidade de género e teoria queer, Gender Trouble: Feminism And The Subversion of Identity, da americana Judith Butler, professora em Berkeley. Num ensaio que critica as teorias de Simone de Beauvoir, Foucault, Freud e Lacan, entre outros, Butler questiona a noção de género como uma categoria pré-existente, ontológica, e reposiciona-a como uma expressão identitária que se constrói, através de um conjunto de actos e gestos reiterados. Butler diz, em suma, que o género é performance. Além de workshops e conferências (uma delas com Judith Butler, a 2 de Junho), o festival irá apresentar, entre outros espectáculos, 69 Positions, da coreógrafa dinamarquesa Mette Ingvartsen (6 e 7 de Junho), altered natives say yes to another excess – TWERK, de François Chaignaud e Cecilia Bengolea, que recria o ambiente de um clube de dança (14 de Maio), ou Striptease e Bomberos Con Grandes Mangueras , do catalão Pere Fauras, que confrontam os espectadores com a nudez em palco e o imaginário pornográfico (23 de Maio). Bilhetes à venda a partir de sexta-feira, 10 de Abril.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave género sexualidade lésbica
(Mulheres + Startups) x Sexo = Vida Muito Difícil
Mystery Vibe, Dame e Unbound são empresas criadas por mulheres que trocaram empregos bem pagos por uma carreira numa indústria mal vista, mas em mudança. (...)

(Mulheres + Startups) x Sexo = Vida Muito Difícil
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 5 Mulheres Pontuação: 17 | Sentimento -0.65
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mystery Vibe, Dame e Unbound são empresas criadas por mulheres que trocaram empregos bem pagos por uma carreira numa indústria mal vista, mas em mudança.
TEXTO: Se abrir uma empresa de tecnologia é uma tarefa espinhosa, experimentem fazê-lo na indústria do sexo. É um facto que a Internet parece ter sido inventada para a pornografia, mas isso não facilita a vida dos empreendedores sex tech. Quem arrisca pode contar com um rosário de minas e armadilhas. Primeiro problema: os investidores fogem a sete pés. "No sex, no drugs, no vices" (Não a sexo, drogas ou vícios) é uma espécie de mandamento para muitos fundos de investimento e empresários de venture capital (capital de risco), que recusam projectos com base nesta "cláusula do pecado", descreve a fundadora da Mystery Vibe, Stephanie Alys, que desenha, produz e vende acessórios sexuais com tecnologia. Segundo problema: é mais difícil publicitar produtos ou serviços. Muitas plataformas online, como o Facebook e outras que chegam a centenas de milhões de pessoas e ganham a vida com publicidade, recusam anúncios da indústria do sexo. Alex Fine, criadora da empresa Dame, sentiu isto na pele. "Tínhamos consciência dos desafios que tínhamos pela frente, quando começámos. Os nossos produtos eram muitas vezes encarados como imorais ou de maus vícios", recorda. Terceiro problema: a incompreensão das pessoas que nos são mais chegadas. Quando Polly Rodriguez disse à mãe que iria trocar uma carreira na Deloitte pela vida de empresária e fundar a Unbound, a resposta foi uma pergunta: "O que é que queres fazer com a tua vida?!""Para ela foi um choque, mas fui percebendo que, entre as minhas relações profissionais e pessoais, toda a gente quer ter uma conversa sobre sexo. Acabei por ouvir muitas palavras de incentivo entre colegas da Deloitte, que achavam o meu projecto fantástico", recorda. Mas Polly não esperava um mar de rosas. "No início, foi muito difícil sermos levados a sério. Foi preciso mostrarmos primeiro que tínhamos a capacidade de gerar receitas para sequer conseguir uma reunião com alguém importante. Apresentei o meu pitch a mais de 500 investidores, demorei dois anos a conseguir resultados", conta. Ultrapassadas as dificuldades iniciais, Stephanie Alys (formada em Relações Internacionais), Alex Fine (psicóloga clínica) e Polly Rodriguez (licenciada em Gestão e Economia) são reconhecidas como mulheres que vingaram numa milionária indústria dominada por homens. E não são reconhecidas por serem mulheres, mas porque estão a inovar numa indústria que "se habituou a operar na sombra" e que, por essa razão, "passou décadas e décadas sem qualquer inovação", sublinha Polly. Esse cenário está a mudar: "Muitas das empresas novas que estão a chegar foram fundadas e são geridas por mulheres, o que faz com que os produtos que estão a ser criados sejam necessariamente diferentes", salienta por seu lado Stephanie. Polly exemplifica: "Quando eram só homens a desenhar produtos eles perguntavam o que é que as mulheres querem e a resposta era invariavelmente um pénis. Mas hoje sabemos que 70% das mulheres, ou mais, preferem a estimulação clitoriana ou têm mais prazer sexual com estimulação externa. Daí que o design e as funções estejam a mudar. "Pelas histórias que estas três empresárias apresentaram no início de Novembro em Lisboa, onde foram oradoras convidadas pela Web Summit, percebe-se que querem afastar a indústria sex tech da imagem de empresas de vão de escada. Querem trabalhar às claras, e fazem questão de dar a cara. Querem fazer negócio, mas também "promover conversas saudáveis sobre sexo" e "combater estereótipos, estigmas e tabus". De ignoradas pelos investidores passaram a convidadas para falarem em todo o mundo. Sentem que a missão delas é também representar as mulheres que arriscam estar numa indústria que reservava ao elemento feminino um papel completamente diferente. Para elas, "falar de saúde sexual é falar de saúde, são dois conceitos inseparáveis". "O sexo é muito importante para a nossa saúde mental e física. Ajuda a aliviar o stress e a ansiedade, é bom para o coração, para a saúde em geral e, por isso, deveríamos estar a pensar nisto, no nosso bem-estar e no dos nossos filhos", advoga uma delas. "Há dez ou 20 anos, entrava-se numa sex shop à procura de produtos para mulheres e o Rabbit era um dos grandes sucessos. Tinha a forma de um pénis. Pelo contrário, se entrarmos hoje numa loja e olharmos para os produtos premium, nenhum tenta replicar a genitália masculina. São produtos muito bem desenhados, ergonómicos, suaves, cheios de curvas. Não são imitações de pénis", anota Stephanie, que criou o negócio dela sem apoio de investidores. Optou pelo caminho mais difícil, mas ganhou respeito da indústria e também fora dela. A circunspecta The Economist já lhe deu atenção; publicações do mundo da tecnologia como a Wired aprenderam a não ignorá-la. Nos últimos anos (a ideia da empresa nasceu há dez, mas a startup começou em 2014), angariou diversas distinções: ganhou prémios no The Europas, no Young Guns e integra o PathFounders Top 100 European Founders; foi eleita pela revista Management Today como uma das melhores 35 gestoras com menos 35 anos em 2017 e uma das mais relevantes 50 mulheres com menos de 30 anos para a The Drum em 2017. Stephanie, inglesa, apresenta-se como fundadora e chief pleasure officer da Mystery Vibe. Chegou a Lisboa acompanhada pelo produto mais vendido, o Crescendo, e de um protótipo do novo produto que está em pré-venda, o Tenuto. É o primeiro artigo para homens concebido pela Mystery Vibe, composto por um anel que, tal como o Crescendo, foi concebido por uma equipa multidisciplinar. O Crescendo é "um vibrador altamente personalizável, que pode ser dobrado de todas as maneiras até se obter a forma que se pretende. Que pode vibrar com diferente intensidade e padrão e que se pode controlar remotamente através de uma aplicação no telemóvel", explica, enquanto mostra um exemplar para as câmaras. Fez as delícias de alguma imprensa britânica, em Maio deste ano, quando anunciou que iria mandar um exemplar para Buckingham Palace, residência da monarquia, como prenda de casamento para o Príncipe Harry e Meghan Markle. Respeitam-na por ter criado do nada um negócio cuja facturação anual deve ultrapassar os cinco milhões de euros em 2018, com vendas para 58 países. "Apesar de neutro em termos de género, o Crescendo é percepcionado como sendo para um público feminino. Mas 50% dos nossos clientes são homens, que nos questionavam quando é que teríamos alguma coisa para eles. " A equipa de Stephanie olhou então para o que havia no mercado e entendeu "que havia muito espaço para inovar e pôr à venda alguma coisa diferente". Daí nasceu o Tenuto, seguindo a lógica habitual da empresa: "A nossa preocupação é conceber algo que pode ser levado para dentro de uma relação e não para substituir alguém que esteja numa relação. Nem é para dar algo a alguém que não consegue ter uma relação. Não queremos substituir pessoas, queremos melhorar a experiência. "Alex Fine, norte-americana, também aterrou em Lisboa com novidades. Depois dos sucessos de venda Eva e Fin, apresentou Pom, um acessório sem estrutura interna, feito de silicone não poroso, e equipado com diversos motores, tal como os produtos da concorrente Mystery Vibe, e ao contrário do que é prática habitual neste segmento, que geralmente aposta em um ou dois motores, no máximo. Alex também passou ao lado dos investidores, mas fez história com as campanhas de crowdfunding em que apostou para contornar o bloqueio do venture capital. Angariou 575 mil dólares em 45 dias para o primeiro produto, lançado há quatro anos na Indiegogo. E dois anos depois, conseguiu mais 400 mil dólares para o segundo produto, em 30 dias, pela plataforma Kickstarter. "Foi aliás o primeiro produto sexual admitido na Kickstarter", salienta Alex, que fundou a Dame com Janet Lieberman, uma engenheira mecânica formada no MIT. "Sentimo-nos abençoados pela comunidade e por isso não estivemos activamente à procura de financiamento. Tivemos conversas com investidores, mas foi sempre um desafio. Eu olho para o que faço como algo de bom, penso que levo alegria e prazer, que estou a ajudar a humanidade e, por isso, esbarrar na “cláusula do pecado”, que me tenta dizer que o que faço é imoral e mau para a sociedade, era algo que me magoava", acrescenta. A Forbes elegeu-a este ano como um dos 30 empreendedores mais relevantes do mundo com menos de 30 anos. Ela vê-se como "empreendedora, inventora e activista". "Costumava ouvir uma frase que me parece cada vez mais verdade: tentares ser tu mesmo é uma forma de activismo. Não compreendia toda a resistência e radicalização contra aquilo que faço, mas penso que tentar ser eu mesma, uma mulher, uma empreendedora, já me faz sentir uma activista. E se a isto somar a conversa sobre sexo, isso faz-me sentir também uma activista que defende as mulheres, o prazer sexual, a verdade pela compreensão do nosso corpo. "A empresa "vende bem em sítios urbanos". No último Verão, uma reportagem do New York Times fez disparar o negócio. "A maioria das vendas foi para pessoas com 65 anos ou mais", descreve. O que aprendeu com isto? "Que o sexo é para todos. Muitas pessoas acham que isto é um divertimento para jovens, mas não é verdade. Por outro lado, mostra como o mercado é enorme e que há muitos segmentos por explorar, muita gente a quem vender" Embora diga que a Dame se foca "em pessoas com vulva", 35% das compras são feitas para homens. A gestão na Dame é muito semelhante à da Mystery Vibe e da Unbound. A equipa é pequena, inclui engenheiros, especialistas em saúde e de marketing. "Começamos por falar com os nossos clientes, perguntamos qual o produto favorito, porquê, do que gostam. Depois idealizamos um grupo de produtos, fazemos alguns modelos, recorremos a impressoras 3D, moldamos silicone, fazemos todos os elementos, cerca de 50 exemplares e mandamos aos clientes para testar. Só depois passamos para a produção", revela. Polly Rodriguez, dos EUA, acabou por ser a única destas três empresárias que conseguiu contornar a tal "cláusula do pecado". Mas diz que "foi a coisa mais difícil" que fez na vida. Isto, para uma mulher a quem foi diagnosticado um cancro aos 20 anos, com 30% de hipóteses de sobrevivência. Dez anos depois, continua viva e a lidar com o facto de ser uma sobrevivente, que se define como uma pessoa "bastante resiliente". Para a empresa dela, angariou quase três milhões de dólares em venture capital, mas teve de começar sem apoio. "Quando mostras ter um crescimento orgânico, torna-se impossível continuarem a ignorar-te", justifica. "Precisei de dois anos para levantar uma Série C [terceira ronda de investimento]. A empresa estava a portar-se muito bem. Quando as finanças são fortes, os investidores têm de te levar a sério", destaca. Mas confessa que é preciso ser capaz de resistir para singrar neste meio, não ligar ao que os outros dizem. "Por vezes, torna-se cansativo. "Primeiro vendia online produtos de outras empresas. O catálogo era enorme: 2500 produtos. Ao fim de três anos, tinha reunido muita informação sobre o mercado. "Sabíamos o que vende, qual o intervalo de preço mais atractivo, o que é que as pessoas querem, qual a cor favorita". Pegaram nesses dados e idealizaram o primeiro produto próprio. "Fizemos pesquisas de mercado e cruzámos as respostas com as tendências de outras indústrias, como a moda e a tecnologia". O resultado foram wearables de sexo, acessórios que se podem usar como se fossem artigos de moda. Um deles é um anel vibratório que se pode usar como se fosse uma jóia. E que muda o padrão vibratório ou a intensidade com base em tecnologia semelhante à dos smartphones que estão equipados com um acelerómetro, que permite por exemplo mudar de faixa musical sem carregar num botão ou ajustar a imagem em função da posição do ecrã. "Há muita ciência por detrás disto, a minha equipa é toda feminina. Não foi uma escolha consciente, é assim porque essas pessoas tinham o talento de que precisamos. Uma delas é uma engenheira biomecânica, formada em Medicina e especializada em dispositivos médicos – que é como estes acessórios eram categorizados numa perspectiva de produto", explica Polly. "Quando olhamos para história desta indústria, vemos que era dominada por homens de meia-idade, por empresas familiares, em que a gestão passava de pais para filhos e que não se guiava propriamente pelo talento", sustenta. Isso está a mudar e a transformar também como a tecnologia vai connosco para a cama. Os produtos da Unbound são todos para mulheres, mas Polly diz que é apenas uma "decisão de gestão". "Não ponho o foco no homem ou na mulher, mas sim na aprendizagem da anatomia. Não se ensina a uma mulher em crescimento que não há problema em masturbar-se, não lhe ensinam o que é o clitóris, o que pode ser o prazer, ao contrário do que acontece com um rapaz ou homem… por isso, nesta altura, estamos focados no segmento de mercado em que a procura é maior. "Ainda que tenha conseguido atrair investidores, Polly é muito crítica em relação ao funcionamento do mercado que, por exemplo, rejeita anúncios de vibradores para mulheres mas aceita publicidade aos preservativos ou medicamentos contra a impotência sexual nos homens. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "É uma política sexista porque as coisas focadas na experiência do homem são vistas como questões de saúde e podem ser publicitadas, mas se forem vibradores para mulheres já não aceitam. O sexo não é uma coisa má, viciante ou prejudicial, e se continuarmos a proibir empresas que estão a promover um debate saudável em torno do sexo, prolongamos a ideia de que é uma coisa má, de que esse debate se deve fazer atrás das cortinas, de que não é apropriado. Isso fortalece o estigma quando temos apenas pessoas a querer aprender mais sobre o corpo delas. Isto cria um mal social e há-de acabar por mudar. Sites como o eHarmony ou o Match. com também eram proibidos de anunciar porque eram considerados pornográficos, quando afinal eram sites de encontros. É uma questão de evolução e de mudança cultural. "A Internet é então uma boa ou má influência sobre a nossa saúde sexual? "Isso é uma óptima questão! Por causa de todas estas políticas restritivas, o que começámos por ver foi o lado feio e negro da indústria do sexo. Hoje em dia, a idade média de uma criança que vê porno pela primeira vez é de oito anos. Uma loucura, certo?! Portanto o porno tornou-se ubíquo, não tenho nada contra, acho bom, deveria florescer mas penso que por não estarmos a ter mais conversas saudáveis sobre sexo, a Internet abriu as portas a uma espécie de vida dupla, que todos levamos. Ninguém fala sobre o assunto, mas depois toda a gente consome pornografia em casa. A Internet tem o poder de resolver este problema, mas temos de mudar, como sociedade, permitir conversas francas, consciencializar para o consentimento, permitir que empresas que estão a tentar normalizar a descoberta sexual cheguem aos consumidores e, dessa forma, impedir que só se aprenda sobre sexo através da pornografia. "
REFERÊNCIAS:
Conchita, a política e a Europa
A vitória da drag queen Conchita Wurst foi vivida como a derrota da Rússia. O triunfo da possibilidade de se ser o que se quiser, contra a intolerância. (...)

Conchita, a política e a Europa
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: A vitória da drag queen Conchita Wurst foi vivida como a derrota da Rússia. O triunfo da possibilidade de se ser o que se quiser, contra a intolerância.
TEXTO: É nas coisas a que, numa primeira leitura, tendemos a não atribuir grande importância, pelo menos perante os outros, que acabamos por nos revelar. É como nos sonhos. Rimo-nos deles, quando os contamos. Mas depois de decifrados, entendemos o seu alcance. Quando discutimos apaixonadamente assuntos mundanos acabamos por expor indirectamente de forma mais verdadeira o que pensamos sobre política ou a vida em comunidade. E com os estados acontece o mesmo. Nas cimeiras prevalece o calculismo. Em ocorrências como o Festival Eurovisão da Canção é como se o sentir espontâneo das pessoas de diferentes países se revelasse na forma como vivem esses acontecimentos, marcando uma posição. E um festival de música, sem qualquer tipo de credibilidade artística, pode tornar-se lugar de confronto de ideias, de formas de olhar o mundo. Mais uma vez isso aconteceu este fim-de-semana no Festival Eurovisão da Canção, com a vitória da drag queen austríaca Conchita Wurst, cujo verdadeiro nome é Tom Neuwirth, a despoletar as mais diversas reacções, com muitos a interrogarem o que é que a sua vitória teria a ver com música. Como é evidente, música não é apenas música. É também o sistema de representações que a envolve. E neste caso concreto, mais até do que questões de “género”, o que esteve em evidência foi política. Foi a cultura popular a fabricar política pura e dura. É verdade que o festival sempre foi político. A pontuação que Portugal atribuía a Espanha – e vice-versa – sempre teve duplas leituras. E também existiu sempre espaço para a estética “queer”, no sentido da encenação de quadros assumidamente exagerados, dentro de certos limites considerados toleráveis. Mas dir-se-ia que, nesta edição, tudo isso foi mais visível. E não foi acaso. Desde que o festival se alargou aos países do Leste que é aí que ele é vivido com mais paixão. É também do Leste, personificado nos últimos tempos pelo poder russo, que os ventos de moralismo, de conservadorismo religioso e de leis anti-gay prevalece, misturado com antagonismo aos países europeus do Ocidente, encarados como demasiado permissivos nos costumes. Foi neste caldo, a que se juntou o conflito ucraniano, que se desenrolou o Festival Eurovisão. A vitória de Conchita foi vivida como a derrota da Rússia. O triunfo da possibilidade de se ser o que se quiser, contra a intolerância. As reacções do público na cerimónia (com assobios constantes para as concorrentes russas) e a geografia de afectos a que corresponderam as votações foram contaminadas por esse contexto. E o remate final foram algumas reacções russas, como a do vice-primeiro-ministro Dmitry Rogozin que escreveu no Twitter que o resultado da Eurovisão “deu uma ideia geral aos defensores da integração europeia do que devem esperar de uma adesão à Europa: uma mulher de barba”. O festival acabou por se construir como um ensejo político, através da afirmação sexual, emergindo também como reflexo da Europa actual, fracturada e crispada, incapaz de perceber que é pelas diferenças (económicas, políticas, culturais ou de estilos de vida), e pela riqueza que cada país transporta, que se deve unir. Uma Europa inapta para compreender que a sua maior herança é precisamente a diversidade, essa arte de vivermos com Outros, apesar das diferenças, ou precisamente por causa delas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura mulher comunidade género sexual gay
Lady Gaga: A tia louca da família
Devem recordar-se de uma antiga lenga-lenga a que as crianças ainda acham graça e que reza assim: “Há fogo, há fogo, nas cuecas do Diogo”. A psicanálise muito possivelmente avançaria que o fogo nas cuecas do Diogo que tanto encanta as crianças que o cantam será uma forma de aproximação a uma sexualidade ainda infantil. Mas quem visse o concerto de ontem de Lady Gaga no Pavilhão Atlântico, poderia facilmente tomar a lenga-lenga no seu sentido mais literal – não houve fogo nas cuecas do Diogo, mas houve fagulhas a sair dos bicos do soutien da cantora americana. O que, não por acaso, provocou delírio entre incontáveis raparigas de não mais que oito ou nove ou dez anos de idade. (...)

Lady Gaga: A tia louca da família
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 5 | Sentimento -0.6
DATA: 2010-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Devem recordar-se de uma antiga lenga-lenga a que as crianças ainda acham graça e que reza assim: “Há fogo, há fogo, nas cuecas do Diogo”. A psicanálise muito possivelmente avançaria que o fogo nas cuecas do Diogo que tanto encanta as crianças que o cantam será uma forma de aproximação a uma sexualidade ainda infantil. Mas quem visse o concerto de ontem de Lady Gaga no Pavilhão Atlântico, poderia facilmente tomar a lenga-lenga no seu sentido mais literal – não houve fogo nas cuecas do Diogo, mas houve fagulhas a sair dos bicos do soutien da cantora americana. O que, não por acaso, provocou delírio entre incontáveis raparigas de não mais que oito ou nove ou dez anos de idade.
TEXTO: Que coisa é esta que faz o Pavilhão Atlântico encher-se de meninas pré-adolescentes e respectivas mães mas que está muito longe se ser o Noddy? Que açambarca todas as faixas de mercado excepto a que vai dos vinte aos trinta e cinco, a menos representada (pelo menos no balcão, que foi a zona a que tivemos acesso) no primeiro concerto de Gaga em Portugal? Que põe essas mães a cantarem “I’m a freak bitch, baby” (“Bad romance”) acompanhadas em cada sílaba pelas filhas, aparentemente sem repararem no teor das letras (ou reparando e não se importando)?Foi escrito, inclusive neste jornal (por duas vezes nos últimos dias), que um concerto de Lady Gaga não é um concerto ou não é “apenas” um concerto – a música é “apenas” uma parte do que na realidade se verifica ser um “espectáculo”. Essa dimensão de espectáculo, sabemo-lo, perdoa tudo – os palavrões, a constante exposição da sexualidade, o “grotesco” que se revela na procura incessante do “freak” que marca a imagem de Lady Gaga. Tudo elementos que em princípio deixariam a classe média de cabelos em pé. É difícil de imaginar que um pai gostasse de ver a filha pequenina a imitar a coreografia de um drag-queen vestida de cinto de ligas e couro com um chicote na mão. Mas houve centenas de pais que não só aprovaram, como igualmente imitaram. Que coisa é esta, portanto?Convém explicitar que ao contrário do que a intelligentsia espalhou o “espectáculo” não é propriamente uma coisa nunca vista, nos seus elementos cénicos, de luz ou coreografia. É uma espécie de variação da "obra" cénica de Madonna, com menos polémica religiosa. O concerto abre com uma tela que cobre o palco e funciona como sombra chinesa (lá atrás está Gaga, com um foco nas costas). O primeiro cenário é relativamente simples: há uma escadaria no topo da qual se encontra a artista, há sinais luminosos que imitam os diners americanos e que dão ao palco o ar de beco mal iluminado, há um carro sob cuja capota se esconde um sintetizador. Mais tarde haverá um árvore gótica estilizada, uma espécie de redoma gigante no meio do público de onde se levantará uma plataforma, com a cantora no meio; e uma tenda de campanha de onde Gaga sai com um vestido transparente, os mamilos tapados por pensos em forma de cruz com ar forçadamente surpreendido por ter sido apanhada naqueles trejeitos. A nudez é uma constante nas imagens projectadas na tela que vai aparecendo ou desaparecendo ao longo do concerto. Vê-se Gaga a tapar as maminhas, Gaga nua de lado, Gaga nua com as sombras a tapar as maminhas e/ou mais que isso, etc. Talvez o lado assumidamente teatral que Gaga assume (por exemplo) no momento acima mencionado, quando a tenda se abre e ela é “apanhada” de seios desnudos, talvez a expressão tão forçada, tão teatral invista essa sexualidade de um tom cómico ou burlesco, sublimando a carga erótica (?) ou provocatória (?) da cantora. Tornando-a, por assim dizer, mais digerível para a classe média – afinal, ela própria diz no concerto que a coisa que mais detesta é a verdade. Esse sim é o elemento fundamental do concerto: o constante diálogo de Gaga com o público. Ela é, à vez, pregadora ao jeito da IURD, girl-next-door, patinho feio que deveio cisne, freak que nunca será igual aos outros, ou, como chegou a dizer, “uma prenda” no “castelo de Gaga” onde “cada um de vós [público] é rei”. Tudo no discurso de Gaga é acerca desse público – por exemplo, quando diz “As pessoas pensam que eu sou corajosa, mas eu não sou corajosa sem vocês”. E tudo no seu discurso é acerca de si própria – é ver a citação do castelo e dos reis. Ela tem um twist engraçado na habitual rábula “ninguém acreditou em mim mas eu cheguei até aqui e tornei-me rainha” que os americanos adoram fazer e que consiste em afirmar que, tal como cada um de “vós”, ela era um patinho feio e ninguém acreditava nela mas depois, bem depois, continua um patinho feio.
REFERÊNCIAS:
A última exposição em vida de Ren Hang
Em plena eclosão criativa e mediática, o fotógrafo chinês Ren Hang morreu prematuramente. Censurado pelas autoridades do seu país, foi no exterior que criou culto com imagens que celebravam uma sexualidade livre. Em Amesterdão, no museu FOAM, está patente a sua última exposição. (...)

A última exposição em vida de Ren Hang
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-03-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em plena eclosão criativa e mediática, o fotógrafo chinês Ren Hang morreu prematuramente. Censurado pelas autoridades do seu país, foi no exterior que criou culto com imagens que celebravam uma sexualidade livre. Em Amesterdão, no museu FOAM, está patente a sua última exposição.
TEXTO: Encontrava-se naquele momento do seu percurso em que era nítido que ia explodir artisticamente. Não que o fotógrafo chinês Ren Hang (1987- 2017) fosse um desconhecido. Mas dir-se-ia que 2017 tinha tudo para ser o ano da consagração. Os meios de comunicação falavam dele assiduamente pelas fotos onde celebrava uma sexualidade livre, desprovida de convenções, com jovens nus interagindo com animais ou objectos do quotidiano. No mundo da arte era celebrado mas também na moda e na cultura pop lhe prestavam atenção. A editora Taschen havia publicado há semanas um volume dedicado à sua obra, algo que não é muito comum para um jovem artista de 29 anos. E em Janeiro o influente museu FOAM de Amesterdão havia inaugurado a exposição Naked, que estará ali patente até 12 de Março. E de repente, a 24 de Fevereiro, soube-se que havia morrido. A um mês de completar 30 anos, em Berlim, onde se encontrava em trabalho, suicidou-se atirando-se do vigésimo oitavo andar de um prédio. A notícia deixou o mundo da arte perplexa, como aconteceu com o compatriota Ai Weiwei, um dos artistas vivos mais influentes, que o apadrinhou. Sabia-se que sofria de depressão. Falava disso com candura, em curtas anotações, onde expunha obsessões e crises existenciais nas plataformas da Internet ou nas redes sociais. “Todos os anos tenho o mesmo desejo: morrer cedo. Espero que isso seja verdade este ano”, escreveu em Janeiro na rede social Weibo. A editora Taschen enviou, antes da sua morte, uma nota de imprensa que o descrevia assim: “É um rebelde atípico, magro, tímido por natureza e propenso a episódios de depressão. ”Tinha imensos seguidores. E a sua morte prematura poderá muito bem gerar um efeito de maior interesse pelo trabalho que deixou. Há dias uma massa de pessoas fazia uma fila para entrar no museu FOAM, em Amesterdão, apesar da chuva. Lá dentro, um espaço labiríntico, magnificamente concebido, acolhe várias exposições de fotografia, como a do japonês Hiroshi Sugimoto, mas a que desperta o maior interesse é a de Ren Hang, disposta num espaço que parece uma pequena biblioteca, com fotos de jovens nus, com gansos, serpentes, peixes ou flores, rodeadas por livros. Existe qualquer coisa de surrealista no que os nossos olhos vislumbram, mas também de experiência poética. Existe quem se demore a fixar algumas das fotos mais icónicas e até quem deixe tulipas debaixo delas, forma de homenagear o artista naquela que acaba por ser a última exposição que concebeu em vida, a par de outra exposição que está em Estocolmo no museu Fotografiska. Nas suas fotos, as raparigas têm invariavelmente a pele branca, o cabelo preto e os lábios pintados de vermelho. Poder-se-ia pensar em encenação, mas ele foi dizendo sempre que as suas sofisticadas composições correspondiam ao sabor do momento. Não havia um ideário estético definido. Mas a verdade é que a intersecção entre corpos nus, animais e os diversos espaços – o telhado de um edifício, um lago, uma floresta ou uma impessoal banheira – acabam por criar o mesmo tipo de ambiente, projectando ideias de juventude, liberdade, idílio ou romance. Nas suas composições de corpos na floresta ou na montanha e nos seus estudos das formas masculinas e femininas, não existem leituras de cariz político ou sexual, mas há nas suas imagens desejo de rebelião. Parece não haver um antes e um depois. Apenas aquele momento. Os protagonistas, as paisagens melancólicas, a natureza e o corpo humano adoptando formas esculturais. “Não creio que a nudez seja desafiante – é algo comum a todas as pessoas”, dizia há dois anos. “Gosto de pessoas nuas e gosto de sexo”, acrescentava. “Utilizo apenas a nudez pelo realismo e sentido de presença. ”Também escrevia poemas. E tal como nas fotos os temas andavam em torno da sexualidade, da identidade, do corpo, bem como do amor e da morte. Preferia fotografar amigos do que modelos profissionais, argumentando que isso lhe dava maior liberdade nas composições, que nem sempre eram as mais ortodoxas, com corpos por vezes em posições desconfortáveis. Na China, os seus livros não eram publicados. Foi preso várias vezes. Viu exposições suas serem censuradas e blogues da sua autoria serem encerrados pelas autoridades chinesas. Não viam com bons olhos o “conteúdo sexual” das suas fotos. “As ideias políticas das minhas imagens não têm absolutamente nada que ver com a China”, defendia-se ele, recusando a ideia de que faria arte politizada, ao mesmo tempo que afirmava: “[É] a política chinesa que se empenha em criar obstáculos ao meu trabalho. ”Nasceu a 30 de Março de 1987, em Jilin, na província chinesa de Changchum e aprendeu a fotografar sozinho enquanto estudava Publicidade na faculdade. Desde os 17 anos que residia em Pequim, sabendo que ali o seu trabalho nunca seria validado. Era no exterior que as suas imagens eram enaltecidas. Ao longo de cinco anos concretizou 20 exposições individuais e participou em 70 colectivas em países como os EUA, França, Israel ou Portugal (na galeria Barbados de Lisboa), ao mesmo tempo que viu serem publicadas várias edições monográficas do seu trabalho. Mas esse reconhecimento que foi crescente nunca o tranquilizou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não era apenas o mundo interior que o conflituava. Os acontecimentos políticos globais também. “O êxito? Não sei o que significa”, dizia recentemente, acrescentando que “gostava que a vida corresse sem sobressaltos, suavemente”. Os seus desejos não se cumpriram. Depois de uma trajectória meteórica que o levou a obter o reconhecimento do mundo da arte, da indústria editorial, do universo da moda e da cultura pop – chegou a colaborar com o cantor Frank Ocean na fanzine Boys Don’t Cry –, deu-se a sua morte prematura, em plena eclosão criativa e mediática. Em Amesterdão está patente a sua última exposição em vida, mas tudo indica que ainda iremos ouvir falar muito dele nos próximos anos. A sua obra visual impactante e a sua morte prematura podem muito bem servir para o nascimento de uma lenda contemporânea.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
“A cozinha vai tornar-se o grande tema filosófico”
Tal como aconteceu com a sexualidade nos anos 1960, problematizada e transformada em tema filosófico e político, o mesmo começa a acontecer hoje com a cozinha e a alimentação, diz Daniel Innerarity. Afinal, “aí joga-se todo o humano”. (...)

“A cozinha vai tornar-se o grande tema filosófico”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 5 | Sentimento 0.4
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tal como aconteceu com a sexualidade nos anos 1960, problematizada e transformada em tema filosófico e político, o mesmo começa a acontecer hoje com a cozinha e a alimentação, diz Daniel Innerarity. Afinal, “aí joga-se todo o humano”.
TEXTO: Filósofo espanhol, investigador do centro Ikerbasque da Universidade do País Basco, director do Instituto de Governação Democrática, Daniel Innerarity é um pensador interessado sobretudo nos temas da política e da democracia. O que o levou então a escrever, com o chef basco Andoni Aduriz, um livro — Cocinar, Comer, Convivir — no qual ambos reflectem sobre o papel da comida nas nossas vidas?Innerarity esteve em Lisboa para participar, ao lado de Aduriz, no Congresso dos Cozinheiros, organizado pelas Edições do Gosto e que aconteceu no início de Outubro na Lx Factory. A comida foi o ponto de partida para uma conversa com o P2 que se transformou numa reflexão sobre o mundo hoje e o olhar que um filósofo pode ter sobre ele. Porque é que decidiu juntar-se a um chef como Andoni Aduriz para fazer um livro?Andoni e eu somos amigos há anos e escrevemos este livro de uma forma não intencional. Juntávamo-nos para comer e íamos falando de temas, ele gostava de filosofia, eu gostava do que ele fazia e fomos trocando opiniões, às vezes por escrito, eu comentando conferências que ele preparava e que me mandava. Até quase ao final, o que estávamos a fazer era a manter uma conversa. Mas no final do processo decidimos que o que estávamos a fazer era um livro. Há um lado filosófico no trabalho de Andoni?Sim, conheço alguns cozinheiros e Andoni tem a peculiaridade de ser especialmente reflexivo, interessa-lhe muito fazer perguntas acerca do significado do que faz. O recurso a um filósofo foi-lhe útil e eu gosto de estar com pessoas que têm problemas, não os que têm soluções. Esse carácter reflexivo de Andoni encontrou um aliado em mim, que sou um curioso insaciável. O que é que torna uma conversa filosófica? Todos podemos estar no café a falar da vida mas o que é que coloca algo ao nível da filosofia?O que diferencia a conversa filosófica de qualquer outra é o afã de problematização das coisas. Qualquer pessoa fala de futebol, do tempo, de política, com os seus vizinhos e os seus amigos mas em geral creio que nas conversas vulgares há mais respostas do que perguntas. Nas conversas de tipo filosófico há mais perguntas do que respostas. O que nos interessa é perguntar pelo sentido que existe nas coisas, um sentido que não é imediato ou fácil. Por exemplo, no mundo da cozinha, a mim o que me atrai — e eu sou um filósofo que me dedico fundamentalmente à filosofia política — é que há uma microssociedade. A cozinha é, como diria Marcel Mauss [sociólogo francês, que morreu em 1950], um facto social total. Aí joga-se todo o humano, as questões que têm que ver com a família, a política, a sustentabilidade, o meio ambiente, as relações sociais, a materialidade, as relações homem-mulher. Creio que isso é o que faz com que o tema seja tão potencialmente filosófico. Há uns anos, quem nos diria que a sexualidade se poderia converter num dos grandes temas filosóficos quando era um assunto que tinha que ver com o privado, sem especial relevância, algo destinado à mera reprodução. Os filósofos dos anos [19]60 convertem-no num tema-estrela. Creio que em muito pouco tempo, a cozinha começará a ter, e continuará a ter, um significado parecido. Vai ser o grande tema. Precisamente por isso, porque aí joga-se todo o humano, para o bem e para o mal. Porque é algo de básico, essencial e vital? Há outros temas filosóficos que não fazem a diferença entre viver e morrer, mas a alimentação é tão vital como a sexualidade. Exacto. Pensar que a sexualidade é um procedimento para a reprodução é reduzi-la a uma parte muito pequena. É como pensar que o drama de Tristão e Isolda poderia ser resolvido por um ginecologista. No drama de Tristão e Isolda está todo o humano, toda a paixão, a tristeza, o engano. Se entendermos a comida como a mera ingestão de material para a sobrevivência individual, estaremos a fazer algo similar. Na história da filosofia, alguma vez a comida foi pensada com este nível de atenção?Há alguns precedentes, alguns filósofos falaram um pouco da comida como um elemento interessante mas não foi um problema teórico até que Brillat-Savarin [gastrónomo francês, 1755-1826] começasse a reflectir sobre ele. Ainda não tem o estatuto teórico que adquiriu a sexualidade nos anos 60 do século passado, mas já há muitas aproximações filosóficas e antropológicas à cozinha e estou convencido de que ainda agora começou. Continua, no entanto, a haver algum preconceito. Uma discussão sobre cozinha, gastronomia, comida, não é vista da mesma forma como uma discussão sobre política ou economia. Sim, nos sentidos humanos, há uma espécie de hierarquia muito elitista, que vem de Aristóteles e que considera que o sentido da vista e do ouvido são os mais nobres e os outros de menor valor. As artes ligadas à vista e ao ouvido têm um estatuto arrogante, elitista e falta-nos uma reivindicação do paladar e do olfacto como ligados a temas que se podem considerar como arte. É o caso da comida. É preciso fazer uma certa revolução dos sentidos menores, com menos prestígio, para que este tema tenha o tratamento que merece. Porque é que esses sentidos foram considerados menores?Provavelmente porque aparecem como os menos teóricos, os menos próximos da razão. A razão e a vista são bastante próximas, mais abstractas, e os sentidos relativos ao comer são mais materiais. Por trás disto, há toda uma revolução antropológica a fazer acerca do que é importante. Mas prossigamos com a analogia e pensemos nos séculos em que a sexualidade foi considerada como algo de pouca importância, banal, sem identidade filosófica. Não podemos sequer dizer que privilegiamos os sentidos mais próximos dos animais, porque estes também têm visão e audição. Creio que tem que ver com esse carácter abstracto, mais próximo do racional e mais distante do objecto. O ouvido, mas sobretudo a vista, são os que mais nos distanciam da objectividade. O que rodeia a comida é pura materialidade. Há que voltar a pensar a materialidade humana sem essa hierarquização das faculdades sensíveis herdada de Aristóteles. Podemos dizer que houve uma intelectualização excessiva do pensamento e hoje estamos a assistir a uma…… materialização. O mexer na terra, o interesse sobre a forma como os alimentos crescem, o toque. Essa reaproximação tem que ver com uma necessidade actual?Uma nova concepção da materialidade humana é um assunto muito revolucionário. Certos discursos conservadores falam de um materialismo imperante. Creio, pelo contrário, que às vezes estamos numa sociedade muito espiritualista no pior sentido da palavra, uma civilização que considera o seu humano separado do seu meio, achando que ele pode pensar-se sem esse contexto material. Esta revitalização do local é o que nos diz que não podemos viver fora de certos contextos. As alterações climáticas são muito eloquentes e estão a dizer-nos que precisamos de meios ambientes com uma certa temperatura, com certas condições de reprodução material. A consciência ecológica e os riscos ligados às alterações climáticas voltaram a despertar uma civilização que olhava para o sujeito humano como emancipado do seu meio material. Deste novo materialismo faz parte também o enobrecimento das coisas do comer. Nos anos 60, esse interesse pelas questões da sexualidade não foi acompanhado por outros temas como a comida, por exemplo. Não foi uma época em que se pensasse muito a comida e, no entanto, é a importância dos sentidos que está em causa em ambos os casos. Provavelmente porque o tema da sexualidade teve, a partir do Maio de 68, uma dimensão muito política e transgressora de valores e normas anteriores. É quando as coisas assumem um carácter político que ganham uma nova importância. Claro, por isso, a minha tese é que possivelmente estamos agora a descobrir a força política que têm os nossos hábitos de comer. Comendo, comemos o mundo. E podemos fazer política com o carrinho de compras. A nossa maneira de consumir, os nossos hábitos alimentares, se comemos sozinhos ou em companhia, com ordem ou desordenadamente. Deveríamos redignificar a força transformadora dos actos de conduta, das nossas microdecisões. Às vezes, pensamos como é difícil mudar o mundo, mas do mesmo modo que o #MeToo pode estar a mudar o mundo, as microdecisões de cada um de nós, de consumir de uma determinada maneira e não de outra, têm um potencial transformador da sociedade. É preciso uma politização das realidades ligadas ao comércio. Porque a ideia do que é político muda nos diferentes momentos da História. Totalmente. Ao longo da História, o que se considera político e o que não se considera foi mudando. Ao mesmo tempo, há uma ampliação progressiva do espaço do político. Cada vez há mais coisas que se re-politizam. No fundo, politizar significa que uma coisa que era considerada como dada pelo destino ou aceite por todos ou indiscutível passa a ser objecto de tematização geral. Passou-se com o corpo, com o estatuto da mulher, com o privado, pode acontecer também com a comida. Nos seus artigos, fala com preocupação do estado da democracia. É o meu tema central. Neste momento, as coisas parecem estar a agravar-se. É como se já aceitássemos como uma inevitabilidade que a democracia está condenada a entrar num ciclo decrescente. A comida também tem que ver com a democracia, por exemplo em temas como quem controla as sementes e, portanto, o alimento. Sim, há muitos pontos de contacto. Um deles é a ideia de que temos de ganhar autodeterminação culinária. Isto significa, entre outras coisas, que temos de aprender a cozinhar para nós, que estamos a delegar demasiadas coisas noutros que cozinham para nós. A ideia de produção própria tem que ver com a democracia. Tal como tudo o que tem que ver com a justiça alimentar, com a igualdade no acesso aos bens da alimentação, com uma melhor articulação entre o global e o local. A globalização foi entendida há 30 ou 40 anos como um nível supralocal, hoje pensamos que é preciso articular as coisas. Podemos falar da comida como um lugar de trabalho da democracia. Estamos também a pensar muito na inteligência artificial, no que faz de nós humanos, no que estamos a transferir para as máquinas, e há aí uma fronteira que tem precisamente que ver com os sentidos. As máquinas não podem saborear. Os sentidos ainda são uma coisa muito humana. Muito material, muito pouco substituível. Defendo que a tecnologia, que me interessa muito, não resolve nem destrói problemas humanos básicos da existência. O relevante é como a inserimos num contexto social. Pensar que ela vai substituir o humano é puro determinismo. Escrevi para o El País um artigo chamado A Decisão de Siri. Vamos confiar todas as nossas decisões às máquinas? Não, mas faríamos bem em confiar muitas delas. Passámos de uma certa euforia de pensar que toda a tecnologia vai ser a grande solução a ter hoje uma visão particularmente negativa da tecnologia. É preciso equilibrar. A tecnologia pode fazer-nos prescindir de muitos trabalhos mecânicos, aumentar a produção de bens de consumo, incluindo a comida, mas isso tem de ser decidido com equilíbrio e por nós próprios. É verdade que há muitas decisões que estamos a transferir, porque os algoritmos têm uma maior capacidade de resposta, mas isso é precisamente o contrário de recuperar os métodos de produção ou de cozinharmos nós mesmos. É abdicarmos disso para uma entidade que não é um Governo, uma instituição, nem sequer uma empresa, mas algo de mais difuso. O que acontece é que as tecnologias mais sofisticadas incluem sempre, quando estão bem desenhadas, uma certa desobediência ao autor. Se todas as nossas tecnologias nos obedecessem demasiado, não funcionariam bem. O exemplo mais claro são os travões do carro, que nos obedecem salvo em alguns casos, por exemplo, de pânico, quando travamos a fundo, porque senão acabaríamos por nos matar. No desenho das tecnologias, temos de incluir não só controlo, mas também autolimitação. Quando houve o acidente da German Wings, em que o piloto do avião se suicidou [provocando a queda do aparelho e a morte de 150 pessoas, em 2015], toda a tecnologia de segurança estava pensada para que o inimigo fosse exterior, como se pudesse ser unicamente alguém que entrasse na cabine. Não pensamos que às vezes nós somos os nossos piores inimigos. Temos de ter o controlo sobre os processos em que estamos implicados, mas esse controlo é mais eficaz quando inclui algumas limitações. Voltando à questão da comida, há uma elite que vai aos restaurantes como o Mugaritz, de Andoni Aduriz, e gosta de reflectir sobre estas coisas. Mas nota-se algum cansaço relativamente a um discurso mais intelectual sobre a comida. Sente isso também?A alta-cozinha não está feita para irmos lá comer todos e de forma habitual. Em primeiro lugar, porque não temos dinheiro para isso. Digo, e creio que Andoni está de acordo, que esses restaurantes são instituições didácticas. Não é preciso irmos todos à universidade para termos uma sociedade cada vez mais inteligente. De alguma maneira, as instituições de alta-cultura difundem o conhecimento no seu meio ambiente. Com a alta-cozinha, que é muito experimental e inovadora, cometeríamos um erro se pensássemos que se trata de comida para consumir quotidianamente. É como os desfiles de moda muito sofisticados — trata-se de marcar tendências. São instituições educativas, cuja justificação última é contribuir para a formação do gosto. Se calhar, no tempo dos nossos avós, as pessoas não decidiam o que comer, isso era decidido pela estação ou as posses. Hoje há cada vez mais gente confrontada todos os dias com a decisão de o quê, como e com quem comer. E existirem instituições focadas na cozinha tem uma grande utilidade. Não para irmos lá, mas para que se difunda, se experimente, se criem novas formas de comer. Entendo a pergunta, às vezes, há uma certa intelectualização, mas creio que isso se passa com todas as realidades humanas. Quando há uns anos, em Espanha, houve um treinador de futebol que começou a falar em termos filosóficos e chamaram-lhe “filósofo do futebol”, eu contemplei isso com absoluto cepticismo porque não me interessa nada a futebol, mas achei interessante ver como um tema se convertia em algo um pouco mais sofisticado do que dar pontapés a uma bola. Havia um certo nível de reflexão e eu gosto disso. Vi o mundo da cozinha intelectualizar-se e isso pareceu-me bem, mas agora há seguramente muita conversa sem interesse e, com a passagem do tempo, restarão apenas alguns discursos. Há pessoas para quem a reflexão é séria e outras que estão a seguir uma moda. No caso de Andoni, corresponde a uma verdadeira inquietação?Sim, Andoni não está a seguir a moda, está a criá-la. Quando uma coisa lhe sai bem, deixa de a fazer. O que admiro nele e de certo modo me torna semelhante a ele é que, quando crê que já sabe uma coisa, dirige-se a outro sítio. Se num grupo humano és o mais inteligente, tens de ir a outro grupo onde és o mais estúpido, porque é aí que aprendes. Quando fizeres bem uma coisa, tens de ir para outro problema. É essa inquietação que nos mantém curiosos, despertos. O momento da História em que nos encontramos é mais estimulante para um filósofo do que era há 20 anos, por exemplo? É um momento apaixonante para a filosofia. Nunca vi na história da humanidade tantas transformações ao mesmo tempo. A nós, filósofos, interessa-nos fundamentalmente dois tipos de problemas: as coisas que já não são o que eram e as coisas que não são o que parecem. E numa cultura como a nossa, há muitos assuntos que têm que ver com isso. Mas é muito inquietante para os nossos cidadãos que se vêem confrontados com temas que os angustiam e os deixam perplexos — o meu último livro chama-se precisamente Política para Perplexos. As pessoas que não têm a mesma tolerância à incerteza que nós, filósofos, temos podem não reagir tão bem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Isso torna-o menos angustiado que outros?Nós, filósofos, temos poucas vantagens competitivas. Mas fomos habituados pela nossa maneira de trabalhar a viver com um excedente de problemas que para outros seriam intoleráveis. Por isso há poucos filósofos — e não tem de haver muitos. [Søren] Kierkegaard dizia que se tornou filósofo quando se apercebeu de que toda a gente se dedicava a tornar a vida mais fácil para os outros e ele achou que tinha de haver alguém que fizesse exactamente o contrário. E as pessoas não esperam dos filósofos sistemas fechados de explicação do mundo?Podem esperar sentadas. A contribuição que podemos dar aos problemas do nosso tempo é formulá-los melhor. Enquanto colectivo, estamos mais ou menos inteligentes?Estamos numa sociedade que quando se organiza bem, quando está bem dirigida, pode ser mais inteligente que cada um dos seus membros individualmente considerados, podemos construir verdadeiros sistemas inteligentes constituídos por gente relativamente medíocre. E podemos fazer exactamente o contrário: fazer com que gente muito inteligente quando se junta em vazios normativos, com culturas políticas torpes e sem regras razoáveis, actue de maneira muito estúpida. Esse é um dos grandes desafios do nosso tempo: sejamos mais inteligentes actuando em grupo, enquanto inteligência colectiva, e evitemos todas as situações colectivas de geração de estupidez pela simples agregação, desde as euforias que criam as bolhas financeiras, às estupidezes que cometemos quando entramos em pânico económico ou simplesmente quando se forma um engarrafamento automobilístico. Estamos nesse tipo de bifurcação. Podemos ir por um caminho ou outro, e isso não depende de você e eu sermos inteligentes ou não, depende de a cultura, as normas e as regras serem inteligentes. Gosto de dizer que poderíamos prescindir das pessoas inteligentes e não aconteceria nada, mas não podemos prescindir dos sistemas inteligentes porque é aí que jogamos tudo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte humanos cultura mulher homem social consumo igualdade espécie corpo sexualidade alimentos pânico
BE satisfeito com “passo importante para igualdade”
A deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto congratulou-se hoje com a promulgação pelo Presidente da República do diploma que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, considerando-o “um passo muito importante para a igualdade de direitos”. (...)

BE satisfeito com “passo importante para igualdade”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento 0.45
DATA: 2010-05-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto congratulou-se hoje com a promulgação pelo Presidente da República do diploma que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, considerando-o “um passo muito importante para a igualdade de direitos”.
TEXTO: “O Bloco de Esquerda quer, em primeiro lugar, expressar a sua satisfação por esta lei ser promulgada e por finalmente darmos o acesso ao casamento civil a todas as pessoas do nosso país”, afirmou Helena Pinto aos jornalistas, na Assembleia da República. Para a deputada bloquista, foi dado “um passo muito importante para a igualdade de direitos”, colocando Portugal “no conjunto dos países avançados do Mundo que dá todos os direitos a toda a gente”. Helena Pinto referiu que, o Presidente da República, “na sua declaração, evidenciou que sabia que esta lei seria reconfirmada pelo Parlamento”. Questionada sobre uma eventual alteração da lei, num outro quadro político, a deputada afastou essa hipótese, considerando que “há certos passos que se dão no sentido dos avanços civilizacionais e, sobretudo aqueles passos que têm a ver com os direitos das pessoas, que por muito que se fale contra num determinado momento, já não se volta atrás”. “Não acredito que se volte atrás, acredito, aliás, que se aprofundem os direitos das pessoas”, sublinhou.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos lei igualdade casamento
As revoluções dos homens de meia-idade
Atingiram o auge das capacidades. Estão mais concentrados na vida familiar e profissional. Saem menos à noite e fazem poucas noitadas. Têm cuidado com o que comem, preocupam-se com a saúde, não querem engordar. A sexualidade é para ir praticando, não para consumir e deitar fora. Pensam muito no futuro dos filhos e no estado do país. Instalaram-se na vida mesmo que sejam inconformados. Vivem bem com a emancipação das mulheres, mas isso, para eles, ainda é um tema. Já sabem que a vida é finita, foram rasteirados algumas vezes, ganharam serenidade e têm medo da velhice. O mundo está em crise, mas eles não cedem. (...)

As revoluções dos homens de meia-idade
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-08-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Atingiram o auge das capacidades. Estão mais concentrados na vida familiar e profissional. Saem menos à noite e fazem poucas noitadas. Têm cuidado com o que comem, preocupam-se com a saúde, não querem engordar. A sexualidade é para ir praticando, não para consumir e deitar fora. Pensam muito no futuro dos filhos e no estado do país. Instalaram-se na vida mesmo que sejam inconformados. Vivem bem com a emancipação das mulheres, mas isso, para eles, ainda é um tema. Já sabem que a vida é finita, foram rasteirados algumas vezes, ganharam serenidade e têm medo da velhice. O mundo está em crise, mas eles não cedem.
TEXTO: Nascidos no fim dos anos 50, inícios dos 60, os portugueses que têm hoje entre 47 e 53 anos são a geração da transição - para a democracia, para a revolução dos costumes, para a Europa, para a globalização. Numa época em que, segundo dizem, a juventude e a beleza são valores sociais e mediáticos absolutos, não se sentem a mais. Ou sequer ultrapassados. O siso é uma arma. A infância deles foi uma revolução, porque em revolução esteve o mundo nessa época. Os Beatles começaram a tocar em 1960 e publicaram o primeiro disco, Please Please Me, em 1963. Os Rolling Stones apareceram em 1962 e Amália Rodrigues editou a sua obra-prima, Busto. Fidel Castro tinha tomado o poder em Janeiro de 1959. Kennedy foi eleito em 1961 e assassinado dois anos depois. Eusébio assinou pelo Benfica em 1960. Marilyn Monroe morreu em 1962. Portugal tinha presos políticos e censura. O direito de voto das mulheres era condicionado. Álvaro Cunhal fugiu do Forte de Peniche em 1960 e António Calvário gravou o primeiro êxito, Regresso. A União Indiana ocupou Goa, Damão e Diu em 1961 e a guerra em África começou. A década de 60 marca, segundo a História de Portugal (1994) de José Hermano Saraiva, o "progressivo desenvolvimento da oposição ao regime". "A convergência de apoios que se verificava na década de 40 - o Exército, a finança, a Igreja, a maioria da opinião - está definitivamente desfeita na década de 60". O 25 de Abril, data central para os homens que agora chegam à meia-idade, estava a década e meia de distância. Jorge de Sena publicou o primeiro romance em 1960, Andanças do Demónio. Nobilíssima Visão, de Mário Cesariny, saiu em 1959. Ben-Hur, de William Wyler, estreou-se em 1959. La Dolce Vita, de Federico Felllini, em 1960. Alain Delon era um símbolo sexual. Brigitte Bardot também. Os Verdes Anos, de Paulo Rocha, saiu em 1963 e Edith Piaf morreu. O Muro de Berlim começou a ser construído em 1961. A meio da década apareceram os movimentos estudantis de contestação nos EUA. Anunciava-se o Maio de 68. Francisco Anacleto Louçã nascera em 1956. José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, em 1957. Pedro Manuel Mamede Passos Coelho nascerá em 1964. Paulo Sacadura Cabral Portas, em 1962. Jerónimo de Sousa é de outra geração: 1947. Em 1960, Portugal tinha 8, 8 milhões habitantes. Em 2001, havia cerca de 10 milhões de pessoas. Em 1960, mais de 17 por cento das famílias eram compostas por cinco ou mais pessoas. Em 2001, isso acontecia em 9, 5 por cento das famílias - dados de A População Portuguesa no Século XX (2003), de Maria João Valente Rosa e Cláudia Vieira. Chegados ao século XXI, "alguns dos traços essenciais do Portugal de 1960, incluindo factores históricos de longa duração, desapareceram: não só elementos tradicionais, mas também aspectos estruturais da população e da sociedade, assim como características dos comportamentos e mentalidades", resume o sociólogo António Barreto no artigo científico Mudança Social em Portugal: 1960-2000, publicado em Outubro de 2002 no site do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Em 1960, morreram em Portugal 8. 796 pessoas com tumores. Em 2008, foram 23. 944. Em 1960, 108 pessoas em cada mil frequentavam bibliotecas. Em 2006, mais de 827. Em 1960, foram condenadas a pena de prisão 22. 398 pessoas; em 2006, 69. 817 - regista a Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Quase 40 por cento das pessoas em 1960 eram analfabetas; agora, são cerca de 8 por cento.
REFERÊNCIAS: