A relação entre as barriguinhas-de-freira e as nossas
Se a doçaria conventual portuguesa fosse um doce, a receita seria: junte muito açúcar a muito dinheiro. Acrescente muito tempo e muita vontade de se entreter. Transforme a cozinha e a mesa nos únicos lugares onde o prazer e o luxo são permitidos e encorajados. (...)

A relação entre as barriguinhas-de-freira e as nossas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se a doçaria conventual portuguesa fosse um doce, a receita seria: junte muito açúcar a muito dinheiro. Acrescente muito tempo e muita vontade de se entreter. Transforme a cozinha e a mesa nos únicos lugares onde o prazer e o luxo são permitidos e encorajados.
TEXTO: A maioria das freiras não ia para os conventos por escolha espiritual. Como diz Alfredo Saramago: "As segundas filhas ricas, algumas herdeiras solteiras, viúvas, adolescentes órfãs mas com fortunas constituíam a população feminina dos conventos. Gente habituada a uma vida rica com os hábitos e costumes de uma classe privilegiada. " Seja: eram meninas queques e tias. Sujeitavam-se, com maior ou menor resignação ou vontade, a vestirem-se e a portarem-se todas da mesma casta maneira. Tirando-lhes a liberdade, o ócio, os namoros, a roupa, os sapatos e os penteados e enchendo-lhes a vida de missas e obrigações, que podiam elas fazer?Explodir na cozinha. É o único sítio onde podem exprimir-se; onde podem inventar; onde podem deliciar-se. Nem pensar em fazer sopas ou assados. Tinham empregadas para lhes fazerem as refeições. De resto, os salgados eram coisa de frades barrigudos. Não, as freiras portuguesas só podiam interessar-se pelo que é supérfluo, complexo e descaradamente sensual: os doces. Foi tal a concentração de inteligências, sexualidades, imaginações e perícias destas nossas irmãs nos doces que inventaram que se tornou uma banalidade dizer que a doçaria conventual portuguesa é a melhor do mundo. São doces difíceis, retorcidos, com receitas mentirosas e segredos impartilhados, aperfeiçoados com vaidade e teimosia, competindo com elegante violência entre si. Doutra forma, era impossível serem tão deliciosos. É nos nomes destes doces que as freiras, por assim dizer, levantam um bocado o véu. As receitas podem ser impenetráveis, mas os nomes puxam e chamam por nós. As raivasAs frustrações das mulheres que foram para freiras à força - e não há força como a ordem social - foram grandes geradoras de raivas de todas as espécies. Desde as raivas violentas às raivinhas. A relação entre as frustrações e o açúcar é tão estreita como o maior amor. O lugar-comum da mulher que trata um desgosto de amor com chocolate, bolos ou (nos filmes americanos) gelado, é o mais comum e verdadeiro de todos os lugares. Isto com mulheres livres que podem vingar-se, dedicando-se ao trabalho, aos filhos, aprendendo a dançar o tango, escrevendo romances, saindo à noite, comprando sapatos, fazendo as pazes, arranjando outro. Imagine-se agora com uma mulher enclausurada. Para sempre. Tem fartura de açúcar, ovos e amêndoas. O que é que faz? Doces. Doces que levam muito tempo a fazer. Doces que pode comer. Doces que pode oferecer ou vender. Doces que dão prazer, que trazem elogios e são trocados por outros doces. Doces que se podem comer à mesa, numa atmosfera católica e portuguesa onde a gula gastronómica é mais uma prova de humanidade do que um pecado mortal. Que é, no máximo, uma marotice. Pode-se fazer doces, comer doces e, sobretudo, pode-se engordar. Os doces podem ser sumptuosos, podem custar uma fortuna e podem ser tão exuberantes e finos como se quiser. Que bem que as freiras portuguesas aproveitaram esta única liberdade. Os sonhosOs nomes da doçaria conventual são espantosos não porque evocam o amor, o namoro, o corpo e o sexo, mas porque, fazendo-o claramente, foram permitidos e adoptados por quem mandava nos conventos. Há os sonhos, os suspiros e os ais. Há os beijos-de-freira. Há os namorados. Há as barrigas-de-freira, as barriguinhas-de-freira e os pescoços-de-freira. Há as ternuras, os mimos-do-confessor, as sestas. Há os papos-de-anjo e os toucinhos-do-céu. Há as raivas, os melindres e os mexericos-de-freiras. Estes nomes são os que passaram. Imaginem-se agora os que não foram autorizados. Os luxosSe nos esquecermos, por um momento, que somos portugueses, as palavras "doçaria conventual" não nos deveriam excitar. Imagine-se "doçaria franciscana" ou "pastelaria carmelita".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência concentração mulher social sexo mulheres corpo feminina
Uma média de 12 adolescentes dão à luz todos os dias em Portugal
Apesar de continuar elevado, o número de jovens que é mãe está a diminuir e 2009 foi o ano em que houve menos nascimentos desde 1970. (...)

Uma média de 12 adolescentes dão à luz todos os dias em Portugal
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2011-01-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Apesar de continuar elevado, o número de jovens que é mãe está a diminuir e 2009 foi o ano em que houve menos nascimentos desde 1970.
TEXTO: O número de adolescentes que dá à luz em Portugal está a diminuir, embora continue alto, quando comparado com outros países da União Europeia (UE). De acordo com dados da ONU de 2009, relativos a 2007, Portugal tem das mais altas taxas de fertilidade em adolescentes da Europa. Na tabela dos 27, Portugal surge em oitavo lugar, com uma taxa de fertilidade em adolescentes de 16, 5. Em 2009, o número de nados vivos de mães com idades entre os 11 e os 19 foi o mais baixo desde finais da década de 70, mas mesmo assim ultrapassou os quatro mil, o que significa que, por dia, 12 adolescentes tiveram bebés. Na tabela da ONU, o primeiro lugar na taxa de fertilidade em adolescentes, que corresponde aos nascimentos por cada mil mães com idades entre os 15 e os 19 anos, é ocupado pela Bulgária (42, 2). Seguem-se a Roménia, o Reino Unido (24, 1), a Lituânia, a Estónia, a Eslováquia e, antes de Portugal, a Hungria (20, 2). Em último, surge a Holanda, com 3, 8. A média na zona euro é de 8, 4. Apesar de continuar elevado, o número de nados vivos fruto de gravidezes de adolescentes tem diminuído, desde finais da década de 1970. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 1977, o número de nados vivos de mães entre os 11 e os 19 anos foi cerca de 20 mil, em 2009 foi de 4347. Projecto de vidaPara a responsável da Saúde Reprodutiva da DGS, Lisa Vicente, a diminuição da maternidade na adolescência, para a qual contribuem "diversos factores", resulta mais de uma aposta na prevenção - mais informação sobre a sexualidade e maior acesso à informação no que toca às formas de contracepção - do que por haver mais interrupções voluntárias da gravidez. "A taxa é baixinha", diz. Segundo dados da DGS, em 2009, houve 127 interrupções de gravidez em adolescentes com menos de 15 anos (0, 65 por cento do total) e 2264 em adolescentes com idades entre os 15 e os 19 anos (11, 57 por cento do total). O director executivo da Associação para o Planeamento da Família, Duarte Vilar, frisa a importância de, a partir de 2008, haver dados oficiais sobre as interrupções de gravidez, mas lamenta que continue a haver falta de estudos sobre o tema. "É preciso conhecer melhor o problema. Em rigor, não sabemos quem são as jovens. Sabemos que são adolescentes de meios desfavorecidos, que abandonam a escola, com poucos projectos na vida, mas são precisos mais estudos. Precisamos também de saber quem são as jovens que abortam", diz. Até para se conceberem "projectos mais cirúrgicos". "Não é só haver prevenção e educação nas escolas, porque muitas não estão na escola. Não existe nenhum projecto do Governo dirigido a esta questão da gravidez na adolescência", alerta. Eva Diniz, que, entre 2008 e 2010, realizou uma pesquisa sobre gravidez na adolescência no Brasil e em Portugal, no âmbito de um mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, entende que, para a diminuição do número de gravidezes em adolescentes, contribui o aumento da escolaridade, a perspectiva que as mulheres têm de construir uma carreira e uma vida que não esteja unicamente alicerçada na maternidade e um maior acesso à contracepção. Segundo a pesquisa que fez, "a maioria das gravidezes durante a adolescência surgiram em relações de namoro estáveis, mas também em adolescentes que já não frequentavam a escola". Eva Diniz alerta para o facto de muitas terem "um trajecto que as afasta da concepção habitual de "adolescência"": "Constatou-se que em muitos casos essas adolescentes já não frequentavam a escola, trabalhavam e moravam com o seu namorado. " A investigadora garante que, tanto no Brasil como em Portugal, a maioria das adolescentes que engravidaram "provinham de um nível socioeconómico baixo, marcado pela falta de oportunidades" para quem "a gravidez surge como um projecto de vida possível na ausência de outros". Quantas jovens se sentem motivadas a adiar a maternidade?
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU UE
South Park satiriza casamento real
O humor dos criadores da série South Park recaiu sobre o casamento da década: a união entre o duque e a duquesa de Cambridge, o príncipe William e Kate Middleton. (...)

South Park satiriza casamento real
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: O humor dos criadores da série South Park recaiu sobre o casamento da década: a união entre o duque e a duquesa de Cambridge, o príncipe William e Kate Middleton.
TEXTO: Num episódio intitulado “Royal Pudding” - transmitido ontem nos EUA (amanhã no Reino Unido) -, o casal real serve de inspiração a uma sátira que se revela, porém, mais branda que o costume. O episódio substitui os noivos britânicos pelos “príncipes do Canadá” e, basicamente, limita-se a fazer troça da típica pronúncia canadiana. O episódio terá sido demasiado brando desta vez para com a família real britânica, tendo em atenção que o episódio “The Snuke”, em 2007, culminou com a rainha Isabel II a suicidar-se com o disparo de uma arma inserida na boca. E a falecida Diana de Gales foi satirizada, já depois de morta, num episódio de 1999, cantando uma canção intitulada “Christmas Time in Hell”. Mas, como recorda o “The Guardian”, a ira dos criadores de South Park abate-se implacavelmente e indiscriminadamente sobre toda a gente, de Tom Cruise (que pôs a “sair do armário”, literalmente e simbolicamente) a Jesus Cristo.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Cavaco condecora Manuela Ferreira Leite no Dia de Portugal
Cavaco Silva vai condecorar no Dia de Portugal a antiga ministra das finanças e antiga líder do PSD Manuela Ferreira Leite com Grã-Cruz da Ordem de Cristo. (...)

Cavaco condecora Manuela Ferreira Leite no Dia de Portugal
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-06-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cavaco Silva vai condecorar no Dia de Portugal a antiga ministra das finanças e antiga líder do PSD Manuela Ferreira Leite com Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
TEXTO: A Presidência da República divulgou esta terça-feira a lista das condecorações a serem atribuídas na cerimónia oficial das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, que este ano tem lugar em Castelo Branco, no dia 10 de Junho. O ex-chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), almirante Melo Gomes, será também condecorado com Grã-Cruz da Ordem de Cristo. As 35 personalidades e instituições que o Presidente vai condecorar são as seguintesOrdem de CristoMaria Manuela Dias Ferreira Leite (Grã-Cruz)Almirante Fernando José Ribeiro de Melo Gomes (Grã-Cruz)Ordem de AvisTenente-General PILAV António Carlos Mimoso e Carvalho (Grã-Cruz)Vice-Almirante Fernando Manuel de Oliveira Vargas de Matos (Grã-Cruz)Tenente-General Luís Miguel de Negreiros Morais de Medeiros (Grã-Cruz)Ordem de Sant’Iago da EspadaManuel Fernando Ayres Guedes da Silva (Grande Oficial)Coronel Américo José Guimarães Fernandes Henriques (Comendador)Ordem do Infante D. HenriqueJoão Vale de Almeida (Grã-Cruz)António José Cabral (Grande Oficial)João Augusto Medina da Silva (Grande Oficial)Maria Helena da Cruz Coelho (Grande Oficial)Miguel de Sá e Sousa de Castelo-Branco (Grande Oficial)Fernando Manuel Antunes Durão (Comendador)José Pedro Gomes (Comendador)Maria Fernanda Rollo (Comendador)Isabel Maria Andrade Silva (Nini) (Oficial)Fundação Casa de Mateus (Membro Honorário)Ordem do MéritoAdriano Mário da Cunha Lucas [a título póstumo] (Grande Oficial)Henrique Manuel Bicha Castelo (Grande Oficial)Vítor Manuel Veloso da Silva (Grande Oficial)Francisco Xavier Zea Mantero (Comendador)José António Coelho Antunes (Comendador)José Santos Marques (Comendador)Henrique Amaro (Oficial)FID - Associação Nacional de Famílias para a Integração da Pessoa Deficiente (Membro Honorário)CEERDL - Centro de Educação Especial Rainha Dona Leonor (Membro Honorário)Jornal Reconquista (Membro Honorário)Ordem da Instrução PúblicaFernando Manuel Ramôa Ribeiro (Grã-Cruz)Fernando Seabra Santos (Grã-Cruz)Manuel José dos Santos Silva (Grã-Cruz)João Luís Maló de Abreu (Grande Oficial)Ordem do Mérito EmpresarialClasse do Mérito AgrícolaFrancisco João Bernardino da Silva (Grande Oficial)Jorge Moniz da Maia Ortigão Costa (Comendador)Classe do Mérito ComercialTeresa Regojo Otero (Comendador)Classe do Mérito IndustrialAssociação Têxtil e Vestuário de Portugal (Membro Honorário)
REFERÊNCIAS:
O que correu mal a Vanessa Fernandes?
Ninguém, como Vanessa Fernandes, ganhou tantas medalhas em tão pouco tempo, numa idade tão jovem. Durante nove anos, desde os 15 de idade, viveu longe da família, internada num centro para atletas de alto rendimento. Em 2006, a própria Federação de Triatlo detectou-lhe um problema psíquico de tipo compulsivo, que se não era provocado pela prática desportiva, era pelo menos potenciado por esta. Mas não a retirou nem lhe abrandou o ritmo das competições. Um dia, a atleta que dava boa imagem ao país não aguentou mais. Hoje, internada numa clínica, treina intensamente para os Jogos Olímpicos. (...)

O que correu mal a Vanessa Fernandes?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento -0.5
DATA: 2011-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ninguém, como Vanessa Fernandes, ganhou tantas medalhas em tão pouco tempo, numa idade tão jovem. Durante nove anos, desde os 15 de idade, viveu longe da família, internada num centro para atletas de alto rendimento. Em 2006, a própria Federação de Triatlo detectou-lhe um problema psíquico de tipo compulsivo, que se não era provocado pela prática desportiva, era pelo menos potenciado por esta. Mas não a retirou nem lhe abrandou o ritmo das competições. Um dia, a atleta que dava boa imagem ao país não aguentou mais. Hoje, internada numa clínica, treina intensamente para os Jogos Olímpicos.
TEXTO: Esta reportagem/investigação de Paulo Moura pode ser lida na íntegra na edição de 26 de Junho da revista Pública, vendida aos domingos com o jornal PÚBLICO, ou na edição “online” para assinantes. Outros destaques:- “The Beauty Myth” fez de Naomi Wolf uma porta-voz da chamada “terceira vaga do movimento feminista”. Duas décadas após a publicação do seu livro, a escritora e consultora política americana desmonta aqui outro mito: o da beleza. Depois dos 40 anos, as mulheres “são mais magnéticas, enérgicas, confiantes, dinâmicas — e a sua sexualidade está no auge”, diz ela. - José de Souza Cavadas: este nome não lhe diz nada? Ao mundo também não. Mas era português, e um génio do barroco. Eis um dos segredos guardados em Tiradentes, cidadezinha do interior do Brasil que uma mineira e um inglês ajudaram a renascer, e sobre a qual Alexandra Lucas Coelho escreveu uma comovente reportagem. - A partir do dia em que se meteu num barco com os Rolling Stones no rio Hudson, Nova Iorque, Linda McCartney nunca mais parou de fotografar. É dela boa parte da memória visual do mundo rock’n’roll dos anos 1960. Casou com Paul, continuou a fotografar celebridades e tudo o que os rodeava. Sérgio B. Gomes explica-nos o que é “Life in Photographs”, o livro lançado pela Taschen, um resumo de uma vida dedicada à família, ao activismo e à fotografia. - Bill Cunningham é um tipo comum que um dia começou a registar o que via nas ruas. O que guardou são 50 anos de história da moda urbana na cidade de Nova Iorque. E agora a sua própria história deu um filme. Tiago Bartolomeu Costa evoca o homem e a obra. - A China transformou-se numa “fábrica” de venda de créditos virtuais para evolução em videojogos. O fenómeno chama-se “gold farming” e é um negócio que movimenta milhões de euros por ano. Susana Almeida Ribeiro decifra este novo eldorado. Pode ler também as crónicas de Zé Dioqo Quintela, Rui Cardoso Martins, Daniel Sampaio, Paulo Moura e Ricardo Garcia; as rubricas “design nosso de cada dia” e “saúde e bem-estar”; e ainda receitas com polme.
REFERÊNCIAS:
Não acredito que os deputados vivam “à custa da mulher que se prostitui”
Gonçalo da Câmara Pereira, vice-presidente do Partido Popular Monárquico (PPM), lavrador e candidato a deputado pelo círculo de Lisboa do partido da coroa portuguesa, tem tido pouco tempo para a campanha. Segundo o próprio revelou, a sua campanha tem sido a vindima na sua herdade alentejana. Ainda assim, nesta segunda-feira, lá deixou as suas uvitas aos desmandos da natureza e foi fazer campanha para as ruas de Arronches, ali para os lados de Portalegre. Ó senhor candidato, não leve a mal que lhe diga desde já uma coisa: o pessoal de Arronches não o elege para coisa nenhuma. Vossa excelência é candidato pelo círc... (etc.)

Não acredito que os deputados vivam “à custa da mulher que se prostitui”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2015-10-05 | Jornal Público
TEXTO: Gonçalo da Câmara Pereira, vice-presidente do Partido Popular Monárquico (PPM), lavrador e candidato a deputado pelo círculo de Lisboa do partido da coroa portuguesa, tem tido pouco tempo para a campanha. Segundo o próprio revelou, a sua campanha tem sido a vindima na sua herdade alentejana. Ainda assim, nesta segunda-feira, lá deixou as suas uvitas aos desmandos da natureza e foi fazer campanha para as ruas de Arronches, ali para os lados de Portalegre. Ó senhor candidato, não leve a mal que lhe diga desde já uma coisa: o pessoal de Arronches não o elege para coisa nenhuma. Vossa excelência é candidato pelo círculo de Lisboa. Tem de vir para a baixa alfacinha distribuir bacalhauzadas e beijocas às senhoras. Dar umas voltitas ao Marquês. Mas pronto, isso agora não interessa nada. Deve ser para não deixar por muito tempo as vides e os borregos. O que interessa é que, em boa hora, a agência Lusa mandou um enviado especial a Arronches acompanhar o candidato do PPM. E o que tinha Gonçalo da Câmara Pereira para dizer ao país? Que propostas tem para apresentar aos portugueses? Nada disso. O que o candidato tinha era uma “bomba” para largar em Arronches, que a partir de agora entrou para a história da política portuguesa. Passo a citar: “Eu trabalho, não sou chulo do Estado, não sou senhor deputado, não ganho cinco mil euros para chular os portugueses. Eu quero ir para lá [Assembleia da República] e dizer exactamente isto: ‘vão mas é trabalhar!’”Fiquei tão abananado que até fui ver ao dicionário o que queria dizer “chulo” para não cometer nenhum erro: 1, “Próprio da ralé; grosseiro; rústico; soez; lascivo; 2, aquele que vive à custa da mulher que se prostitui. ”Não acredito que o candidato se estivesse a referir à primeira parte do que explica o dicionário. Até porque se afirmasse “eu não sou rústico” estava a mentir. “Eu não sou lascivo”, ou “soez” também não soa bem. Portanto, o que o senhor candidato a deputado queria mesmo dizer é que não “vive à custa da mulher que se prostitui”, tal como o fazem os 230 deputados da nação. O senhor candidato tem a certeza que aquela gente eleita pelos portugueses para nos representarem na muito nobre casa da democracia, tantas vezes acusada injustamente de tudo e mais umas botas, está toda metida no soez “negócio” de “viver à custa da mulher que se prostitui”?O senhor candidato descendente de reis e rainhas está a dizer aos portugueses que esta malta vai andar durante 15 dias em campanha de manhã até de madrugada, correndo o país de ponta a ponta, apenas para poder continuar a viver “à custa da mulher que se prostitui”?Então e o senhor é candidato para se juntar a esta gente?Vossa excelência desculpe, não é que tenha algo que me faça desconfiar de si, até porque, provavelmente, tem provas para apresentar no Ministério Público, mas não acredito. Não acredito. O senhor quer que eu acredite que Jerónimo de Sousa, por exemplo, entre a intensa defesa dos trabalhadores, os jogos do Benfica e umas horas para dedicar aos netos ainda tem tempo para gerir uma casa de alterne lá para Pirescoxe. Não acredito. Mais uma vez não leve a mal que lhe dê um conselho: discretamente, volte lá para as suas uvas e para a bicharada da sua herdade e não se meta mais nisto da campanha. Desinteresse-se da coisa. Vire-se mais para os fados. Vossa excelência parece não ter nada de jeito para dizer.
REFERÊNCIAS:
Partidos PPM
A cândida Miley Cyrus agora é provocadora e o mundo choca-se
Era a filha bem-comportada adorada pela América, mas nos prémios MTV optou por uma actuação libidinosa, vincando a passagem à idade adulta - como aconteceu com outras estrelas juvenisNão se falou de outra coisa esta semana. Os tablóides agradeceram ter assunto todos os dias. As televisões passaram repetidas vezes as imagens. Nos jornais de referência, o tema rivalizou com a situação na Síria. E na Internet gerou um falatório infindável, com reacções diversas entre a reprovação, o choque e a paródia. A cantora Miley Cyrus, 20 anos, até há pouco uma celebridade da cultura infantil e juvenil de imagem angelical, sur... (etc.)

A cândida Miley Cyrus agora é provocadora e o mundo choca-se
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento -0.04
DATA: 2013-09-01 | Jornal Público
TEXTO: Era a filha bem-comportada adorada pela América, mas nos prémios MTV optou por uma actuação libidinosa, vincando a passagem à idade adulta - como aconteceu com outras estrelas juvenisNão se falou de outra coisa esta semana. Os tablóides agradeceram ter assunto todos os dias. As televisões passaram repetidas vezes as imagens. Nos jornais de referência, o tema rivalizou com a situação na Síria. E na Internet gerou um falatório infindável, com reacções diversas entre a reprovação, o choque e a paródia. A cantora Miley Cyrus, 20 anos, até há pouco uma celebridade da cultura infantil e juvenil de imagem angelical, surpreendeu o mundo durante a cerimónia do último domingo nos prémios VMA da MTV, transformando-se por minutos numa figura hiper-sexualizada. Dançou de forma erotizada, recorrendo a movimentos de anca em posição inclinada, na companhia do cantor Robin Thicke - um tipo de dança conhecido como twerk. Um tipo de acção praticada há muito em sítios de má fama nos EUA, sejam bares de camionistas ou selectos clubes de striptease para executivos, que consiste em movimentos executados por mulheres, numa posição inclinada, geralmente ao nível dos quadris do homem, com o objectivo de excitar a sua libido. Um movimento que também cabe em géneros musicais onde a performance física adquire uma componente lasciva, como o dancehall jamaicano, o reggaeton latino, o kuduro luso-angolano, o baile funk brasileiro ou derivações do hip-hop como o crunk. O efeito não se fez esperar. Num ápice converteu-se na vergonha de inúmeras famílias e motivo de críticas cruéis na Internet. Cantoras de perfil semelhante, como Kelly Clarkson, ou a mãe de Robin Thicke censuraram-na. A associação de pais The Parents Television Council (da qual faz parte o pai de Miley, Billy Ray Cyrus) emitiu um comunicado questionando como é que a imagem da antiga estrela infantil seria vista por crianças de 14 anos. Feministas declararam que o seu comportamento reduzia a mulher ao papel de objecto. E outros interrogaram a possível apropriação cultural de uma performance até aí confinada a géneros musicais conotados com a pop negra. E, claro, também existiu quem a defendesse, acusando os detractores de cinismo. Três dias depois da polémica foi divulgada uma canção (Twerk) que junta a voz de Miley Cyrus a outra celebridade juvenil, Justin Bieber, ao som do rapper Lil Twist, o que contribui para pensar que a sua actuação nos VMA foi premeditada. E no mesmo dia, a palavra twerk foi incluída no dicionário digital de Oxford, levando a mais uma série de comentários - até o actor Morgan Freeman usou o seu vozeirão durante um programa da TV americana para ler a definição da palavra. O que se passou tem alguns condimentos singulares, mas é simultaneamente uma das histórias mais antigas da cultura popular, com características análogas à de outras celebridades que, em determinado momento do seu percurso, quiseram dominar o cenário da pop de massas com sexo e provocação, nesse gesto emancipando-se também da imagem de ídolo infantil, tentando conquistar outros mercados e outros públicos. Por outro lado, é produto integrante do próprio sistema de espectáculo americano, que costuma escandalizar-se com alarido quando acontecem episódios com algumas semelhanças com este (do mamilo de Janet Jackson à mostra no Super Bowl ao beijo na boca entre Madonna e Britney Spears também nos VMA). O que parece estar a acontecer com Miley Cyrus já aconteceu com Christina Aguilera, Britney Spears, Justin Timberlake e, se recuarmos mais atrás, com Kylie Minogue e até com Michael Jackson. Todos eles famosos desde a infância e, em determinada altura, obrigados a emancipar-se. Ou seja, a fazer escolhas. No caso de Cyrus, a opção parece ser converter-se numa rapariga hiper-sexualizada que pretende assumidamente chocar o grande público. Nada de surpreendente. A maior parte das celebridades desta área, na passagem para a maioridade, explorou a sexualidade, como se isso marcasse a entrada na etapa adulta da sua carreira. O que tem custos. No seu caso, vai quase de certeza deixar de ser a filha bem comportada preferida da América. Miley Cyrus não inventou nada, portanto. Mas é possível que as suas origens tenham contribuído para o alarido. A verdade é que nem Britney, Aguilera ou Timberlake (todos eles descobertos nos anos 1990 no programa de TV O Clube do Rato Mickey) gozaram do mesmo culto, partilhado por pais e filhos, como Miley quando era a protagonista de Hannah Montana. Uma série de TV da Disney com muito mais audiência do que o programa dos anos 1990. Por outro lado, Miley é filha de Billy Ray Cyrus, estrela da música country dos anos 1980, o género que invoca mais a América rural conservadora. Desde 2006, com a sua expressão cândida, Miley foi a filha querida da América. Para a sociedade americana mais puritana parecia encarnar os valores mais conservadores. O alarme soou quando obteve o primeiro êxito retumbante com Party in the USA (2009), surgindo com uma imagem mais exuberante, como se viu um ano depois no Rock In Rio-Lisboa. Esse parece ter sido um período crucial para operar a mudança. Acabou o contrato com a sóbria Hollywood Records e mudou-se para a RCA, onde se começou a delinear a nova Miley - do ponto de vista sonoro e físico. Uma espécie de rapariga-choque, com algo de malicioso e de vulgaridade erotizada, na linha de Rihanna. Daí para a frente, sempre que foi fotografada ou surgiu em acontecimentos sociais, apareceu invariavelmente com a mesma cara, de língua para fora, torcendo a boca, com roupas caras, numa atitude de vilã, que se lhe desconhecida até aí. Por norma as celebridades que jogam no mesmo tabuleiro, como Britney ou Aguilera, guardam períodos de silêncio. E depois surgem com novo visual, novas operações estéticas, novos discos. No seu caso parece não ter havido descanso. Existiu, isso sim, um crescendo. Primeiro foi a mudança de visual, optando por um corte de cabelo curto. Depois a mudança de manager - agora é Larry Rudolph, o homem que conseguiu tornar Britney num símbolo sexual - e o anúncio de que haveria novo álbum em Outubro. O álbum chama-se Bangerz e está a ser ultimado por alguns fabricantes de êxitos como Pharrell Williams, devendo constituir um compromisso entre a pop de massas e o R&B. Neste momento ela é a única jovem da pop de massas que parece ter condições para rentabilizar o criar polémica. Tem alguns trunfos: a idade, o físico, o seu passado e o twerking. No vídeo de We can"t stop já ensaiava esses movimentos e aquilo que até aí era um exclusivo de linguagens minoritárias tornou-se das massas. E mais massificado ficou na gala da MTV, com Miley a passar o dedo de esponja que lhe serviu de acessório durante a actuação pelos genitais, enquanto se torcia, para pasmo de muitos que não compreendiam o que se estava a passar. Hoje todos falam dela. Resta saber se é a melhor estratégia. Mesmo entre cantoras para consumo massificado, é preciso talento e ideias próprias, para mais numa fase de transição. Existe o risco de que a partir de determinada altura só se fale da sua deriva pessoal, podendo cair numa espiral que a conduza ao descrédito. Não basta ser maliciosa para adquirir espessura. Mas para já parece ter descoberto os prazeres de se comportar contra as expectativas, convertendo-se numa figura sexualizada, sendo vista ao lado de quem opera no quadro das fantasias com carros, mulheres e luxo, como Snoop Dogg ou Big Sean. Mas será que isso vai contribuir para que Bangerz se converta num sucesso?Na passagem dos anos 1980 para os 1990, Madonna percebeu que a condição de celebridade estava a mudar. Não era só necessário obter visibilidade. Era preciso revelar segredos, prazeres, o corpo. Foi assim que se impôs às virginais Debbie Gibson e Tiffany, hoje totalmente esquecidas. No início do seu percurso, Britney Spears não era Madonna e também não era Gibson. Tentou ser as duas numa só. De dia, afirmava na TV: "Não acredito no sexo antes do casamento". À noite surgia na MTV de uniforme escolar insinuante alimentando as fantasias dos mais velhos, dizendo: "Não gosto de muita roupa. Faz-me suar". Miley Cyrus parece ter aprendido com essas histórias, mas quer ir mais longe, deixando-se de subtilezas. O seu objectivo é assumidamente chocar o público médio. Parece estar a conseguir.
REFERÊNCIAS:
Doenças reumáticas: estudo confirma danos na vida sexual de doentes
O estudo "Sexualidade, depressão e ansiedade em doentes reumatológicos” revela que 54, 5% das mulheres com vida sexual activa considera que a sua doença limita bastante a sexualidade. Estes são alguns dos resultados preliminares do Instituto Português de Reumatologia (IPR) apresentados hoje nas XV Jornadas Internacionais do instituto. O estudo teve início em Setembro de 2007, já envolveu 50 doentes (a idade média das participantes é de 58, 7 anos e a maioria é casada (60%) e 44% tem vida sexual activa) e a versão final deverá somar 300 pessoas. Os níveis de ansiedade revelaram diferenças significativas dependendo... (etc.)

Doenças reumáticas: estudo confirma danos na vida sexual de doentes
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2007-12-13 | Jornal Público
TEXTO: O estudo "Sexualidade, depressão e ansiedade em doentes reumatológicos” revela que 54, 5% das mulheres com vida sexual activa considera que a sua doença limita bastante a sexualidade. Estes são alguns dos resultados preliminares do Instituto Português de Reumatologia (IPR) apresentados hoje nas XV Jornadas Internacionais do instituto. O estudo teve início em Setembro de 2007, já envolveu 50 doentes (a idade média das participantes é de 58, 7 anos e a maioria é casada (60%) e 44% tem vida sexual activa) e a versão final deverá somar 300 pessoas. Os níveis de ansiedade revelaram diferenças significativas dependendo do estado civil das mulheres. As pessoas casadas revelaram níveis de ansiedade mais elevados que as pessoas que não são casadas. "Se por um lado o cônjuge pode dar apoio à doente, pode também exigir mais, por não entender completamente o impacto que as doenças reumáticas podem ter na vida de um doente, e por isso dar origem a maiores níveis de ansiedade", explica, em comunicado enviado, um dos autores do estudo e director clínico adjunto do IPR, Luís Cunha Miranda. Não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de ansiedade e depressão entre as pessoas com e sem vida sexual activa. “Verificou-se que, quanto mais alto o nível de satisfação sexual e de auto-estima, mais baixos eram os níveis de depressão e de ansiedade. Relativamente à satisfação com o relacionamento geral, não existe correlação estatisticamente significativa com os níveis de depressão e de ansiedade”, acrescenta o documento. No âmbito deste projecto que quer avaliar a sexualidade na doença crónica conclui-se ainda que “há dois grandes grupos que dividem os resultados, enquanto 30, 4% refere que a sexualidade é 'Pouco Importante', outra maioria de 30, 4% refere que a sexualidade é 'Muito Importante'”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave doença estudo sexual mulheres sexualidade ansiedade
Conan Osiris: o 2018 dele foi tão silly e deep que o mundo podia acabar amanhã
Foi uma das apostas do Ípsilon para 2018, e foi certeira. Deu dezenas de concertos pelo país, as suas canções chegaram a várias pessoas, dos oito aos 70 anos. Viveu muita vida, valeu muito a pena – na alegria e na tristeza. (...)

Conan Osiris: o 2018 dele foi tão silly e deep que o mundo podia acabar amanhã
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi uma das apostas do Ípsilon para 2018, e foi certeira. Deu dezenas de concertos pelo país, as suas canções chegaram a várias pessoas, dos oito aos 70 anos. Viveu muita vida, valeu muito a pena – na alegria e na tristeza.
TEXTO: Retoca o cabelo, ajeita os brincos dourados, baixa as mangas do casaco e faz poses para a câmara. Tiago Miranda, 29 anos, mais conhecido por Conan Osiris, parece que nasceu para isto, para ser fotografado. “Acredito bué que uma fotografia te imortaliza”, diz. Num banco do Kit Garden de Joana Vasconcelos, no Largo do Intendente, em Lisboa, vira-se de cabeça para baixo, pernas para cima, faz olhar matador. Muitos dos que passam param, observam. Há quem reconheça bem esta cara. Afinal, goste-se ou não, 2018 pertenceu-lhe. Desde o primeiro concerto, esgotadíssimo, na ZDB, com fãs a cantarem as letras do início ao fim do álbum Adoro Bolos, até à actuação no Tivoli, durante o Super Bock em Stock, com casais de 70 anos, crianças de oito, pessoas dos 20 aos 50 nas primeiras filas. Pelo meio deu dezenas de concertos, sobretudo em Portugal mas também no Brasil, no festival SIM São Paulo. Entrou num anúncio da NOS, recebeu vídeos de velhotes no Alentejo a ouvir a sua música. “Isto é quase tudo o que sempre quis: conseguir comunicar com as pessoas na boa. Ver que a minha música está a conseguir fazer isso por mim. Daí que se o mundo acabasse amanhã, tá-se bem: já consegui conectar-me com pessoas tão diferentes de mim. É que bué tempo da minha vida foi não conseguir falar com as pessoas por causa de entraves e, para mim, não poder comunicar é mortal. ” Conan Osiris já conseguiu fazer boa parte do que sempre quis, mas não vai abrandar em 2019. É um dos compositores escolhidos para o Festival da Canção, vai ser o programador de música na Semana de Programadores partilhada pelo Festival DDD – Dias da Dança e o Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), no Porto, e vai continuar a trabalhar no quarto disco. Entre muitas outras coisas que não pode revelar. Uma coisa é certa: ele vai andar por aí. No início de 2018 disse que se o mundo acabasse amanhã se ia "estar a cagar”. Depois de um ano em que tocou e foi falado em todo o lado, diria a mesma coisa?Diria, se calhar até diria com mais força. Porque fiz ainda mais cenas, vivi ainda mais vida, então valeu ainda mais a pena. Porque já interagi com mais gente. Refere-se às pessoas que conheceu ao longo deste ano e ao alcance da sua música?Exacto. Pessoas que me vieram dizer cenas, pessoas que sentiram cenas por me conhecer…Qual foi a reacção que mais o marcou?Não consigo apontar uma… Há uma rapariga que costuma vir a bué shows meus e tinha mandado mensagem a dizer que tinha acontecido uma cena um bocado má na vida dela, mas que ia na mesma ao concerto. Vi-a na primeira fila, a chorar. E eu sabia a razão. Tive de deixar de olhar para ela porque…Porque se não começava a chorar?Provavelmente. A sua música dá para chorar?Sim. Não só porque eu acho, como bué gente me vem dizer que ficou tocada. Depende da sensibilidade. Há quem vá achar que é uma cena bué silly, há quem vá achar que é uma cena bué deep. Que parte de Conan Osiris é personagem e que parte não é?Nada é e tudo é. Qualquer pessoa, com qualquer trabalho, é e não é. Mas o Tiago Miranda e o Conan Osiris são a mesma pessoa?É a mesma coisa. Não ia fazer música e dizer: “Lancei um álbum, sou o Tiago Miranda. ” Era ridículo. Por causa do nome?Sim. Primeiro, porque é o nome que me deram, não aquele que escolhi. Logo aí, não é cem por cento eu. Não me representa como um todo. Já Conan Osiris representa-me mais. É o que escolhi para me representar. Se um dia houver viagens no tempo, no passado vai representar-me, no futuro também. Já que fala no passado: foi vítima de bullying na adolescência e quando andava na escola já se vestia de forma considerada diferente. A roupa não era assim tão diferente, era roupa que existia, normal. O que para mim não é normal são coisas como a violência, a destruição. Vestia-me normal, agia normal, falava para as pessoas normal, se calhar ria-me de coisas que mais ninguém achava piada ou ouvia música que muita gente ao pé de mim não ouvia, mas aquela música existia e não era só eu que a ouvia. Portanto, vou continuar a bater nessa tecla da normalização das coisas que não são destrutivas. O bullying não vinha daí, então. Vinha, é óbvio. Vinha de eu ter o cabelo pela cintura, de usar três terços ao mesmo tempo… Na realidade, a escola é um sítio violento, desde sempre. Não quero dizer que vai continuar a ser, porque os miúdos agora estão mais evoluídos. Cada vez mais sinto que a ignorância é opcional. Tem-se acesso a tudo, temos um telemóvel, temos mais pólos de educação para nos ajudar a perceber a via que podemos querer seguir ou não. Independentemente do contexto familiar?Ya. Com a net consegue-se chegar lá. Podemos construir a nossa educação, e notamos isso nos putos de hoje. Isso é bom. É esperançoso. Se pelo menos tentar não perpetuar coisas que têm de acabar, já estou confortável. Tem a ver com promover a tolerância, a convivência. Está errado vermos algo de uma cultura que não está próxima da nossa e encararmos isso como uma piada. Uma coisa não pode ser um objecto de humor só por ser externa à nossa cultura. Essa questão leva-nos para a música: no Adoro Bolos, além de fado, há kuduro, música cigana, do Médio Oriente, dos Balcãs. Não está a apropriar-se disso, a fazer objectos de humor?Acredito que quando começamos a levar uma coisa demasiado a sério, com trâmites demasiados rígidos, aí é que nascem certas implicâncias. Eu tenho bué planetas em Sagitário, bué planetas na Casa 5 [do mapa astral], e isso tem muito a ver com o humor. Eu tive tanta tristeza na minha vida como humor. Não consigo tirar o humor só para as pessoas pensarem que é uma coisa mais séria. Estou-me a cagar para essa merda. Imagina, quis meter um bocado de humor naquela música, mas não quer dizer que seja jocoso. Porque é que gosta de cruzar tantos tipos de música?Isso espelha o que ouço. Para mim é o normal. O que não suporto é ver as pessoas a dançarem bué uma cena e isso ser uma piada. Dançar ironicamente. Exacto. As cenas que mais detesto são as expressões “gostar ironicamente”, guilty pleasures. Odeio essa merda. Tudo é cultura. Tipo, és guilty de quê? Eu adoro a Rebeca, da [canção] O meu nome é Rebeca. É uma mulher que tem não sei quantos anos de carreira, que trabalha imenso, que faz as músicas dela… que direito é que tenho de chamar àquilo um guilty pleasure? É mesmo um pleasure. E é assim desde que ouve música?Exacto. A minha educação musical foi assim. Quando andava na escola, no Cacém?Quando fui para o Cacém foi quando começaram a surgir as trocas mais multiculturais. Eu vivia em Lisboa e já tinha começado a surgir o kuduro, mas lá as coisas estavam muito mais à frente. Foi todo um novo mundo. Comecei a ouvir música que nunca tinha ouvido. Se não tivesse estado lá não tinha nem metade da minha cultura musical. Por muitas situações más que tenham acontecido, apesar do bullying, não olho para trás e vejo isso como coisa má. Foi uma coisa má na altura, mas sinceramente eu tinha uma vida em casa tão má que era tudo mau. Pelo menos na escola estava com os meus amigos e ria-me. Era bué bittersweet, e sempre foi, porque afinal de contas a vida é bué bittersweet. E também é um bocado essa a cena da minha música. A música funcionou como um mecanismo para ajudar a lidar com isso tudo?Totalmente. A música tem mudado de disco para disco. O primeiro, Silk (2014), tinha sobretudo músicas que fez para desfiles de moda, apesar de terminar com a Amália, que é mais próxima do que faz agora. No segundo, Música, Normal (2016), a preocupação com as letras parece-me menor e não canta apenas em português. E por fim Adoro Bolos, lançado no final de 2017. É como se estivéssemos a acompanhá-lo numa procura de identidade, de um som. Não acho que seja tanto uma procura, mas a minha gaveta do ser português sempre esteve com uma fechadura um bocado estragada. O que é mesmo ser português? Demorou-me vinte e tal anos para perceber. Com o Adoro Bolos se calhar consegui perceber o que é eu ser português. E o que é?Acho que agora estamos a saber o que isso é. A aceitar e curtir ser português. Mas demorou. Há dez anos sei perfeitamente que não ia cantar em português porque tinha vergonha. Tenho super-respeito por quem cantava em português nos anos 80, tipo Lena d’Água. Nos anos 90 achávamos que cantar em inglês é que era fixe e depois lembramo-nos que “oh pá, baza lá sermos nós próprios”. Nesse sentido, os artistas que nos últimos anos fizeram questão de cantar em português, da FlorCaveira ao B Fachada, passando pela Cafetra, foram uma influência?Sim, mas isto também tem a ver comigo, porque eu tinha vergonha da minha voz e comecei a perder isso na Amália. Quando fiz a Amália fiquei duas semanas a pensar: “Eu não vou pôr isto [no disco], eu a cantar em português, é bué pessoal, faz-me chorar demasiado. ” Mas se isto resulta para mim, porque não hei-de mostrar às pessoas e elas que sintam o que sentirem? Foi a partir daí que pensei: “Acalma-te. A tua voz não é assim tão feia. Talvez melhore. ”E o quarto disco? Já há canções?Isso agora… Não gosto de fazer projecções, gosto de respeitar o presente. Mas claro que já estou a trabalhar. E editoras, já andam atrás?Isso também não posso dizer. Mas há conexões. Na marcação desta entrevista percebemos que dá muita importância às fotografias. Porquê?Acredito que uma fotografia te imortaliza. E às vezes tenho dificuldade em lembrar-me de coisas quando não há fotos. Não é só uma fotografia, aquilo está a marcar um ponto. Daqui a 50 anos, quando não te lembrares de como era a tua cara, o teu cabelo, a cor da tua roupa, vais olhar para aquelas fotos e dizer: “Uau, eu era assim. ” Vivemos num mundo visual. Não respeitar isso ou fingir que não se dá importância a isso é hipócrita, na minha opinião. Por outro lado, não tem nenhum vídeo oficial. Pois [risos]. Talvez o vá fazer, mas este álbum [Adoro Bolos] não foi ainda o lugar para isso. Vejo este álbum como um livro. Um livro do género “quem é que eu sou”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É um dos compositores convidados do Festival da Canção de 2019. Interessa compor e escrever para outras pessoas?Sim. Infelizmente, tenho muitas coisas pendentes de pessoal que me pediu e não tenho tido tempo. Mas dá-me gozo e é lisonjeador um artista – principalmente pessoal que já está aí há bué tempo – vir ter comigo porque confia em mim o suficiente para haver uma brecha em que me torno ele e eu estou a falar por ele. E já consegue viver da música ou ainda trabalha na sex shop?Já não trabalho, mas tenho boa relação com eles e estou sempre a dizer: “Olhem, se precisarem de horas extra, por favor chamem-me. Tenho saudades. ” Deu-me educação, mesmo sobre a humanidade. E sobre coisas que nunca iria saber se não tivesse ido para lá. A sexualidade é importante para as canções?É. Ao trabalhar lá consegui perceber que não existe a sexualidade. É uma coisa que está em ti e que devia ser muito mais naturalizada. A sexualidade somos nós próprios, é a dança, a maneira como movemos a boca; tudo é sexualidade. Se tens problemas com a tua sexualidade a tua vida está fodida. Essa aprendizagem foi fulcral para mim. Eu fui trabalhar para a loja e era virgem. Isso já diz muito.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola violência cultura educação mulher género sexualidade rapariga vergonha
Irene, a miúda do cartaz feminista que abanou as redes sociais
É espanhola, mas foi tema de destaque em Portugal quando saiu à rua no 1.º de Maio, em Lisboa. Com um modesto cartaz, a jovem activista pôs as redes sociais a debater aquilo que toda a gente conhece, mas de que pouco se fala — o trabalho reprodutivo (...)

Irene, a miúda do cartaz feminista que abanou as redes sociais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 11 Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.033
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: É espanhola, mas foi tema de destaque em Portugal quando saiu à rua no 1.º de Maio, em Lisboa. Com um modesto cartaz, a jovem activista pôs as redes sociais a debater aquilo que toda a gente conhece, mas de que pouco se fala — o trabalho reprodutivo
TEXTO: “Farta até à cona de gerar a mais-valia dos homens. Trabalho reprodutivo sustenta o capital. ” Foram estas as frases que Irene Martín escreveu num cartão neste 1. º de Maio, em Lisboa. “Fiz o cartaz na rua, no Largo do Intendente, muito pouco tempo antes da manifestação, foi uma coisa muito espontânea”, contou a jovem ao P3. Mas, horas depois, a discussão instalou-se nas redes sociais com a publicação de fotos de Irene com o cartaz ao alto. Uns quantos focavam-se no uso da palavra “cona” e a maioria confundia “trabalho reprodutivo” com “prostituição” e “gravidez”. Um desconhecimento que apanhou a espanhola de 22 anos de surpresa — “No meu país, é um termo muito conhecido. ”O Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE) explica que a expressão (que ganhou força na luta feminista nos 1970) engloba “todas as tarefas associadas ao suporte da actual e futura força de trabalho”. Um cargo que “não é remunerado” e que geralmente “é levado a cabo pelas mulheres”. E isto envolve a reprodução biológica, mas também outras actividades, explica Irene, como “cuidar das crianças, de quem está doente, limpar, lavar, cozinhar”: “Tudo isso é trabalho necessário para que sejamos indivíduos produtivos social e economicamente. ” É por isso, conclui a activista, que este tipo de encargos “sustenta o capital”. É mais ou menos por estas palavras que a jovem espanhola tem respondido às dezenas de tweets que lhe são dirigidos acerca do cartaz. Dá trabalho, mas não se importa — está a aproveitar a “viralização massiva” para “trazer o debate feminista para a esfera pública”. Irene está em Portugal em Erasmus há cerca de dois meses, a tirar o mestrado em Engenharia Biomédica, no Instituto Superior Técnico, mas já se decidiu a ficar em Lisboa “pelo menos mais um ano”. Em conversa com o P3, conta que mergulhou no mundo do feminismo e do activismo há quatro ou cinco anos e que a primeira coisa que fez quando chegou à capital portuguesa foi procurar um espaço de discussão — a Assembleia Feminista de Lisboa foi o escolhido. Foi também com a ajuda das “companheiras da assembleia” que Irene conseguiu traduzir para português as frases que tinha em mente para o cartaz. A tradução literal da expressão espanhola hasta el coño [“farta até à cona”] foi propositada: “Um dos objectivos era criar desconforto — eu sabia que era uma palavra forte. Actualmente, até é usada pelos homens para nos incomodar. Mas acho que as mulheres têm de se reapropriar da expressão e trazer a nossa sexualidade — que é brutalmente silenciada — ao espaço público. Falar da cona na rua é um acto político. ”“Isso a que chamam amor é trabalho não pago”A activista espanhola acha, ainda, que é preciso incluir-se o feminismo na luta pelos direitos laborais. Principalmente porque o trabalho reprodutivo é algo de que “os sindicatos não falam”, argumenta: “As mulheres são trabalhadoras na fábrica e em casa, têm uma jornada de trabalho que é dupla ou tripla e que ninguém reconhece. ”No ano passado, o PÚBLICO noticiava que Portugal é o quarto país onde as mulheres passam mais tempo a fazer trabalho não pago, com mais de quatro horas por dia entre as tarefas domésticas e de cuidado dos filhos, dos idosos ou dos familiares doentes. Irene conhece estes dados e, perante eles, cita a feminista italiana Silvia Federici: “Isso a que chamam amor é trabalho não pago. ”Para a estudante, a solução terá de passar “por uma organização social e colectiva do trabalho reprodutivo”, que pode começar pela “criação de redes públicas de creche, cantinas e lavandarias” e pelo “reconhecimento” das actividades domésticas como um trabalho e a “atribuição de um salário”. É uma posição pouco consensual que lhe valeu algumas críticas nas redes sociais. Mas, apesar disso, a maioria dos comentários davam mais destaque ao seu aspecto físico do que às suas ideias, revelou ao P3: “Dizem que eu sou gorda, dizem que não me depilei, dizem que sou lésbica, que sou puta. Críticas que um homem nunca vai receber. Porque as mulheres são concebidas como objectos decorativos. ”Fora “insultos gratuitos”, o dever de trazer um tema pouco falado para a praça pública foi cumprido. E o cartaz, esse, em breve terá nova casa: Irene vai cedê-lo à Associação Ephemera, de José Pacheco Pereira, a pedido da mesma. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ver Espanha sair à rua, a partir de LisboaIrene tem estado muito atenta ao que se passa no seu país natal, que saiu à rua em massa contra uma sentença judicial que condenou cinco homens a nove anos de prisão por abuso sexual, mas ilibou-os da acusação mais grave — a violação de uma jovem. “Esta sentença é desoladora”, desbafa: “Eles basicamente estão a dizer a todas as mulheres que denunciar casos de violação na justiça do seu país não vale a pena. É brutal. ”Mas se a decisão do tribunal a revolta, a mobilização pública comove-a. No passado sábado, 32 mil pessoas juntaram-se em Pamplona, numa manifestação convocada por vários colectivos feministas. A estudante que está por cá em Erasmus admite que fica “um pouquinho triste” por não estar lá, ao ver “a capacidade de mobilização das feministas espanholas”. E deixa um recado a Portugal, um país que a jovem considera ser mais tímido na dimensão das manifestações feministas: “É preciso sair à rua. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens tribunal prisão ajuda homem social prostituição violação igualdade género sexual mulheres sexualidade abuso feminista salário feminismo lésbica