Frankenstein amarrado
Primeiro filme internacional de uma das poucas mulheres cineastas da Arábia Saudita. Exercício de filme de época, aniquila a possibilidade de algo de realmente pessoal, idiossincrático, crescer lá dentro. (...)

Frankenstein amarrado
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro filme internacional de uma das poucas mulheres cineastas da Arábia Saudita. Exercício de filme de época, aniquila a possibilidade de algo de realmente pessoal, idiossincrático, crescer lá dentro.
TEXTO: Haifaa Al-Mansour é uma das poucas mulheres cineastas da Arábia Saudita, e a primeira a encontrar uma proeminência internacional. Por cá chegámos a ver a sua longa de estreia, Wadjda, tido como o primeiro filme saudita feito por uma mulher, e um objecto curioso para além das suas características de “fenómeno”. Mas a “proeminência internacional” é uma faca de dois gumes. Mary Shelley, fragmento biográfico da autora de Frankenstein, primeiro filme “estrangeiro” de Haifaa, parece ser mais um caso desses. Realização: Haifaa al-Mansour Actor(es):Ben Hardy, Elle Fanning, Maisie Williams, Douglas BoothPercebe-se – apesar de ser a Inglaterra do princípio do século XIX – o que liga uma mulher saudita ao universo retratado no filme: também ali as mulheres podem pouca coisa, e são intelectualmente desconsideradas (é à personagem de Lorde Byron, que Tom Sturridge faz tão obnóxio quanto possível, que em particular corresponde este papel). Também se percebe o fascínio ambíguo pela personagem de Percy Shelley, veículo de um romantismo libertário a tender para auto-destruição (e por isso, a inspiração para o monstro inventado pela escrita de Mary). Mas depois, todos estes elementos são dissolvidos num convencionalíssimo exercício de filme de época, que aniquila a possibilidade de algo de realmente pessoal, idiossincrático, crescer lá dentro
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher mulheres
Fenty: do apelido à inspiração, Rihanna é a sua própria musa
A nova marca de luxo de Rihanna vai ser lançada pelo grupo LVMH no final do mês. A cantora revelou já algumas das primeiras peças. (...)

Fenty: do apelido à inspiração, Rihanna é a sua própria musa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.6
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: A nova marca de luxo de Rihanna vai ser lançada pelo grupo LVMH no final do mês. A cantora revelou já algumas das primeiras peças.
TEXTO: A novidade já corria desde Janeiro: Rihanna vai lançar uma nova marca de luxo, sob a tutela da francesa LVMH. A cantora confirmou a notícia no início do mês e revelou agora as primeiras imagens, bem como a data de lançamento online, 29 de Maio. Antes disso, a marca estreia-se em Paris já esta sexta-feira com uma loja pop-up. Nas imagens reveladas num teaser e num artigo da T Magazine, revista semanal do New York Times, estão à vista algumas das primeiras peças — óculos arrojados, ganga, camisas, e, em geral, peças que reinterpretam os códigos de vestuário masculino. “Uso-me a mim própria como a musa. [O estilo] são calças de fato de treino com pérolas ou um casaco masculino de ganga com um corpete”, explica a cantora à publicação. O formato de distribuição é inovador, sobretudo para um grupo tão assente nos valores da tradição. Em vez de estruturar a marca à volta de colecções semestrais, irá lançar uma série de peças novas a cada mês. No fundo, é um modelo cada vez mais popular, que se assemelha àquele seguido, por exemplo, pela marca de culto desportiva Supreme, que todas as semanas tem novos lançamentos — ou antes, drops — de um número limitado de peças. Como a própria cantora aponta, na entrevista à T Magazine, “eu sou millennial”. O nome da marca, Fenty, é um dos apelidos da cantora natural de Barbados, e aquele que esta tem usado nos vários negócios ao longo dos últimos anos. Passo a passo, Rihanna tem evoluído de cantora, para ícone de estilo e, finalmente, para uma força criativa. Aumentando ao longo dos tempos a sua influência, começou por fazer uma série de colaborações com a marca desportiva Puma — chegando a assinar várias colecções que passaram pela passerelle. Foi extremamente bem recebida pelo mundo da moda — não apenas pelo estatuto de celebridade, mas pela visão e criatividade das peças. Seguiram-se, com enorme sucesso, a entrada no mundo da cosmética, com a Fenty Beauty, e da lingerie, com a Fenty Savage. Se acordo com um registo de marca apresentado no Patent and Trademark Office dos Estados Unidos, a cantora poderá ainda estar a preparar-se para o lançamento de uma linha de cuidado de pele. A valor da diversidade, no centro destas duas marcas, ajudou ao seu enorme sucesso desde o momento de lançamento. Manifesta-se na variedade de tons de base para peles mais escuras, por exemplo, ou na inclusão de todos os tamanhos (até de grávidas) num desfile de lingerie. Com a Fenty, Rihanna quer continuar a mostrar “quão multifacetada a mulher de hoje é”, como afirma Jahleel Weaver, que começou como stylist de RIhanna e é agora o director de estilo da marca, à T Magazine. “O luxo sempre foi definido no passado por uma mulher, uma marca: sabemos quem é a mulher Saint Laurente, compreendíamos quem era a mulher Céline quando era Phoebe [Philo a directora criativa]. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Eu nunca quis pôr o meu nome em algo e vender a minha licença. Envolvo-me muito no processo, por isso quis ir com calma e lentamente ir ganhando respeito como criadora”, explica ainda a cantora. Já tinha trabalhado com LVMH, quando lançou a Fenty Beauty em parceria com a Kendo, uma divisão do grupo de luxo. “Eles fizeram-se a proposta [de lançar uma marca de luxo] e nem hesitei, porque a LVMH é uma máquina. O Bernard Arnault [CEO da LVMH] foi muito entusiástico; confiou em mim e na minha visão. ”Responsável por marcas como Givenchy, Christian Dior e Bulgari, a LVMH é um dos maiores grupos de luxo. Tendo em conta que tem crescido sobretudo com a aquisição de marcas já estabelecidas (e tipicamente marcadas pela história, tradição e mestria artesanal), é notável que tenha decidido criar uma marca de raiz. Não o fazia desde 1987, com o criador de moda francês Christian Lacroix.
REFERÊNCIAS:
Adele cancela final da digressão mundial por doença
Depois de 15 meses na estrada, cantora está com uma infecção na garganta. E lança dúvidas sobre o futuro. (...)

Adele cancela final da digressão mundial por doença
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento -0.12
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de 15 meses na estrada, cantora está com uma infecção na garganta. E lança dúvidas sobre o futuro.
TEXTO: A pergunta não é nova, mas voltou a surgir com força por estes dias. Vamos ter mais digressões de Adele? A hipótese foi colocada pela própria cantora numa carta manuscrita reproduzida em panfletos distribuídos nos seus concertos no estádio de Wembley, em Londres. Um bilhete fez emergir a onda de incertezas antes de o espectáculo começar e no final do concerto Adele reforçou a ideia: “Quis que os meus últimos concertos fossem em Londres porque não sei se voltarei a fazer digressões e, por isso, quis que a última vez fosse em casa”. Quinze meses, dezenas de países e milhares de fãs em cada concerto depois, certo é que a actual digressão fica por aqui, porque uma infecção na garganta forçou a cantora a anular os dois espectáculos de encerramento, ambos agendados para Londres. Para o futuro, Adele deixou escrita uma certeza: "Andar em digressão é estranho. Não tem muito a ver comigo", escreveu Adele, voltando a demonstrar o seu desconforto. "Sou muito caseira e retiro muita alegria das pequenas coisas". Nos últimos meses a cantora britânica percorreu os Estados Unidos, a Europa e a Austrália, a promover o seu terceiro e último trabalho discográfico - o álbum 25, editado em Novembro de 2015. Apesar do desconforto, a cantora ressalva que fazer esta digressão tem sido “uma emoção e um prazer”. Uma digressão que passou por Portugal em Maio de 2016 e conquistou o público. Comovida, a cantora admitiu ainda que a mais recente digressão mundial foi a maior concretização da sua carreira: "Só fiz esta digressão por vocês, esperando poder deixar em vós a mesma marca que alguns dos meus artistas deixaram na minha vida", garante, agradecendo "o amor e a bondade" dos seus fãs. "Irei lembrar-me disto para o resto da minha vida". Esta não é a primeira vez que a cantora admite deixar de fazer digressões. Em Março deste ano, no último concerto na Nova Zelândia, surpreendeu os fãs ao confessar: "Os aplausos fazem-me sentir um pouco vulnerável. Não sei se voltarei a fazer digressões outra vez. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Também no ano passado, no início da sua digressão actual, Adele tinha manifestado a vontade de se retirar dos palcos. Um desejo que, entre os fãs, tem sido ligado ao desejo de voltar a ser mãe, à vontade de acompanhar o crescimento do seu único filho, Angelo, de cinco anos, e até à aspiração de ter uma vida menos mediática. O último concerto da digressão mundial 25 volta a realizar-se no Estádio de Wembley, em Inglaterra, no domingo e já tem lotação esgotada. Este será o seu 123. º concerto. Depois disso, paira a incerteza. Texto editado por Hugo Daniel Sousa
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho cantora
A besta, da Ucrânia ao Brasil
Todos devemos uma vénia. Aos homens e às mulheres que fizeram o mundo um pouco melhor. Que nos fizeram acreditar na liberdade. Na democracia. Que nos devolveram a vida. (...)

A besta, da Ucrânia ao Brasil
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Todos devemos uma vénia. Aos homens e às mulheres que fizeram o mundo um pouco melhor. Que nos fizeram acreditar na liberdade. Na democracia. Que nos devolveram a vida.
TEXTO: As marcas estão lá e Maria não gosta de se ver ao espelho. Nua, olha o corpo que já foi perfeito. Perfeito até ao dia em que foi espancada, violada. Por dias e noites. Homens com riso de hiena e grunhir de rinoceronte, vestidos de fato e gravata, faziam de Maria uma diversão. Maria não falou. Maria não fala. Olha-se ao espelho e vem à memória a vida feliz que teve. Com as marcas na sua maior intimidade, Maria, ainda assim, acha que teve uma vida feliz. Maria não teve uma vida em vão. Maria teve objectivos. Maria viveu com o coração. Maria viveu para os outros. Os outros, os esfarrapados, os rejeitados, os outros, homens e mulheres à procura da dignidade. Maria não fala. Olha-se ao espelho. As marcas estão lá, gravadas a ponta de cigarro. Gravadas a lâmina. Maria passa as mãos pelas cicatrizes e ri baixinho. Valeu a pena enfrentar as bestas. As pobres bestas. Cheiravam a merda. O cheiro vinha da boca. E Maria ri baixinho. Valeu a pena. Vestiam de preto como se andassem sempre de funeral em funeral. Gostavam de ofender. Tinham orgasmos ao fazer sofrer. Humilhavam. Mentiam. Torturavam. Eram lacaios e bufos. Traiçoeiros. Rastejantes. Ignorantes. Estendiam o braço em adoração. Comungavam. Faziam faustosos banquetes. Orgias de criminosos. Conspiravam e assassinavam. Depois rezavam. Fomentavam o ódio e a miséria. Cheiravam a sangue. Saqueavam e enriqueciam. Exploravam e prendiam. Faziam guerras para encher os cofres. Obrigavam as crianças a trabalhar. Violavam as mulheres. Chibatavam os negros. E pançudos, fornicavam até salivarem, fazendo dos outros os seus escravos. Quis a força da razão que fossem derrotados. Desapareceram ou aparentemente desapareceram. Uns esconderam-se e outros mascararam o discurso. São nomes. Nomes do mundo. Simba, Krista, Rá, Oliver, Viviane, Paulo, Zaila, Alene, Luana, Kalina, Joan, Cateko, Liz, Dimitri, Jin, Aldo, Yara, Rudá, José, Pierre, Nádia, Osuela, Carlota, Osíris, Zola, Xuan, Leonardo, Andrei, Elaine, Bortoli. Pelo mundo, pelos continentes, lutou-se contra a besta. Maria sabia que não estava sozinha. As cicatrizes falam todas as línguas do mundo. Foram milhões aqueles que lutaram como podiam e sabiam. Até ao extremo. Até à loucura. Muitos morreram. Nunca se contabilizou o sangue. Mas os oceanos seriam vermelhos. E a terra também. Todos devemos uma vénia. Aos homens e às mulheres que fizeram o mundo um pouco melhor. Que nos fizeram acreditar na liberdade. Na democracia. Que nos devolveram a vida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sonhou-se que era possível. Mas quem nos fez acreditar depressa deixou de sonhar. Lentamente deixou a terra apodrecer. Não plantou a liberdade. Não plantou a igualdade. Não plantou a fraternidade. A terra apodreceu e a besta começou a germinar. Da gelada Ucrânia ao quente Brasil, a besta cresceu. Continua a crescer. É agora uma floresta negra. Com bruxas e abutres. Sedentos de vingança. Chegam com pés de lã. Mascarados de democratas. Aos poucos irão mostrar ao que vêm. São tolerados por uma direita em delírio, em segredo. São financiados pelo capital, às escondidas. São bajulados pelo clero, às claras. E o povo, faminto, ignorante, enganado, quer continuar a sonhar. Sonhar com uma vida melhor. Só não sabe que daquele lado está o pesadelo. A criatura do Brasil é medonha. Só um país à beira do suicídio pode escolher o atirador. Talvez a maioria não tenha aprendido a lição. A lição da história. Talvez fosse bom que cada menino e cada menina brasileira começasse a aprender a ler e a escrever na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Talvez fosse bom. Agora, a criatura vai sufocar o pensamento livre. Vai corromper a dignidade. Vai enriquecer quem nunca parou de empobrecer os outros. Vai distribuir armas em vez de arroz. Vai prender e torturar porque simplesmente se é diferente. Ele vai, de peito feito, com os jagunços urbanos a protegerem-lhe as costas e os pecados, ele vai, triunfante, ocupar o Palácio do Planalto. Ele vai, mas não julgue que vai para sempre. Ele quer. Mas não vai. O povão são milhões e nunca a besta venceu a liberdade. Maria sorri ao espelho. Quantas Marias serão necessárias hoje. Todas são poucas. Maria está velha. Lutou sempre. Ao primeiro chamamento da liberdade e da justiça. Acreditou e acredita. E agora, Maria? A besta anda por aí à solta. E agora, Maria? Agora, é estar lá, olhar a besta de frente e ser mais forte do que ela. A besta é cobarde. Parece forte, mas ainda não é. Basta um simples sopro. Um sopro de humanidade. Maria embacia o espelho e com a ponta do dedo escreve “fascismo nunca mais”.
REFERÊNCIAS:
A banheira cor-de-rosa e o segredo do sucesso de Mary Kay
Primeiro, foi vendedora de livros porta-a-porta. Mais tarde, de produtos de limpeza. Depois, a norte-americana Mary Kay decidiu criar o seu próprio negócio de vendas directas e ajudar outras mulheres a pensar pelas suas cabeças. Faria cem anos este sábado. (...)

A banheira cor-de-rosa e o segredo do sucesso de Mary Kay
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento -0.06
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro, foi vendedora de livros porta-a-porta. Mais tarde, de produtos de limpeza. Depois, a norte-americana Mary Kay decidiu criar o seu próprio negócio de vendas directas e ajudar outras mulheres a pensar pelas suas cabeças. Faria cem anos este sábado.
TEXTO: Quando, há 21 anos, Dolores Araújo saiu de Braga e chegou à Convenção Mary Kay no Texas viu no palco dezenas de mulheres que eram directoras nacionais da marca de beleza norte-americana. Mulheres que a inspiraram e que a levaram a pensar: “Eu quero ser como elas. ” Quatro anos depois, a antiga cabeleireira era directora nacional e conduzia um Mercedes cor-de-rosa, a cor preferida de Mary Kay Ash, a fundadora da empresa de venda directa de cosméticos. Se fosse viva, a empresária que foi reconhecida como a “maior empreendedora dos EUA” teria feito este sábado cem anos. Morreu em 2001. A sua empresa, que entretanto se espalhou por meia centena de países, celebra o seu 55. º aniversário. Em Portugal fará 23 anos em Junho. Mary Kay Ash nasceu Mary Kathlyn Wagner a 12 de Maio de 1918 em Hot Wells, Dallas, Texas. Casou cedo, aos 17 anos, e teve dois filhos. O marido foi combatente na Segunda Guerra e Mary foi confrontada com a necessidade de trabalhar para sustentar a família. Começou a vender livros porta-a-porta. Trabalhar ajudou-a a conquistar independência e provocou o divórcio, pouco depois de a guerra ter terminado e o marido regressado. Voltou a casar mais duas vezes e teve um terceiro filho. Em 1939 começou a vender para a Stanley Home Products, uma empresa de produtos de limpeza, e dava festas para os vender – um método que ainda hoje as chamadas consultoras de beleza da marca usam. O seu sucesso de vendas foi tal que foi convidada para trabalhar pela World Gifts. Foi quando viu um homem a quem dera formação ser promovido, em vez dela, que Mary Kay se despediu, como forma de protesto. Durante 25 anos, Mary Kay trabalhou em vendas directas e sentia-se insatisfeita, confessa no livro The Mary Kay Way, editado pela primeira vez em 1984, onde partilha os segredos do sucesso do seu negócio. “Eu tinha alcançado o sucesso, mas mesmo assim sentia que o trabalho que realizara e as minhas competências nunca tinham sido reconhecidas”, escreve. A vendedora sentiu na pele o machismo, diz. E continua, num discurso que continua actual: “Sabia que não tivera todas as oportunidades de satisfazer o meu potencial simplesmente por ser mulher, e tinha a certeza de que essa sensação não era fruto de mera autocomiseração, já que havia conhecido pessoalmente muitas mulheres que passaram por injustiças semelhantes. ”São estes sentimentos, assim como os erros empresariais que vai apontando ao longo do livro, que a fazem querer criar uma empresa que valorizasse as mulheres. “Queria ajudar outras mulheres para que não tivessem de sofrer o que eu sofri. ”No seu livro, que é um guia para as milhares de consultoras de beleza espalhadas pelo mundo (China e Rússia incluídas), Mary Kay conta que depois de escrever as suas notas tinha a certeza que queria criar uma empresa de venda directa, a sua área de experiência, mas que ainda não sabia de quê. “Queria um produto de alta qualidade, que trouxesse benefícios a outras mulheres e que elas se sentissem confortáveis vendendo-o. ” E lembrou-se de uma cosmetologista que vendia produtos de beleza cujas fórmulas tinham sido criadas pelo pai. Quando a mulher morreu, Mary Kay comprou as fórmulas à família. “Numa sexta-feira, no dia 13 de Setembro de 1963, abri as portas da Mary Kay Cosmetics, uma loja de 50 metros quadrados em Dallas. O meu filho Richard, que tinha 21 anos, juntou-se a mim e nove mulheres cheias de entusiasmo tornaram-se as primeiras consultoras de beleza independentes da Mary Kay”, conta no livro que marca os primeiros 20 anos da empresa. Assim nascia a companhia que Mary Kay, então com 45 anos, queria que fosse familiar. Na altura, a empreendedora investiu cinco mil dólares e no primeiro ano tinha vendido perto de um milhão de dólares de produtos. Actualmente, a empresa está em 49 países e “milhões de mulheres podem dizer que têm uma vida melhor”, defende Sandra Silva, a directora geral da Mary Kay Portugal. Em 2000, Mary Kay foi reconhecida como a mais fantástica mulheres de negócios do século XX pela Lifetime Television. O seu neto, Ryan Rogers, lembra que a avó recebeu o Hall of Fame Award, na categoria de vendas directas; recebeu o prémio de distinção para “os grandes cidadãos americanos" pela associação Horatio Alger. Já depois da sua morte, em 2004 foi reconhecida como "a maior empreendedora da história dos EUA", pela Universidade de Baylor. Mary Kay começa o primeiro capítulo do seu livro com uma citação bíblica, Mateus, 7:12 – “Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas. ” –, ou seja, “trate os outros como gostaria de ser tratado”. É esta a mensagem que a norte-americana adapta como a sua “regra de conduta para a liderança”. Na empresa, “cada decisão de liderança baseia-se na Regra de Ouro”, escreve. “Este é um ambiente corporativo, mas com princípios humanos”, descreve Sandra Silva, explicando porque começou, há oito anos e meio a trabalhar na empresa. Antes ainda da entrevista de trabalho, a gestora leu o livro de Mary Kay. “Percebi que o trabalho que ia desenvolver teria impacto na sociedade e com princípios positivos”, justifica. Em 1979, numa reportagem para o programa 60 Minutes, da CBS, questionada se usava Deus para vender cosméticos, Mary Kay respondeu: “Espero que seja Ele que me está a usar. ” No mesmo programa, a empresária defende que a companhia foi “abençoada”. “Deus está a usar a nossa empresa como um veículo para ajudar as mulheres a tornarem-se nas criaturas maravilhosas que Ele criou. ” Um ano antes, quando recebeu o prémio Horatio Alger dedicou-o às meninas e disse que quando Deus criou o homem disse: "Isto é muito bom, mas penso que posso fazer melhor e assim criou a mulher. "Em 1982, num outro programa televisivo, alguém na plateia pergunta à empresária se é feminista. “Estou no meio. Quero que as mulheres tenham o bolo e possam comê-lo. ” Noutra intervenção, pela mesma altura, reforça: “Quero que as mulheres tenham a oportunidade de usar o seu cérebro e tornarem-se naquilo que quiserem. ” Mary Kay não é feminista, mas quer que as mulheres se sintam femininas. Passados 36 anos, o discurso não mudou assim tanto: “O objectivo é que as mulheres se sintam empoderadas, que sonhem e possam alcançar mais. ”A mensagem passa pelo serviço – fazer o que gostaria que lhe fizessem – e pela atenção pessoal – fazer sentir que os outros são importantes. Mary Kay recorda o dia em que quis conhecer alguém que admirava e como essa pessoa a ignorou. Por essa razão, a norte-americana sempre deu os parabéns pessoalmente a cada consultora de beleza – a Mary Kay não tem vendedoras, mas consultoras independentes, freelancers, que compram os produtos e os vendem pessoalmente. No seu livro conta como gostava de receber as directoras de vendas – o nível a seguir a ser consultora – em sua casa, oferecer-lhe bolachas feitas por ela – uma receita que ainda hoje a empresa replica. Algumas gostavam de tirar fotografias junto à banheira cor-de-rosa da empresária. O rosa é a cor do sucesso para Mary Kay. Os edifícios da sede da empresa e a fábrica estão pintados dessa cor, assim como os carros que são oferecidos às directoras nacionais. Dolores Araújo, de 57 anos, explica como tudo funciona: quem estiver interessada em ser consultora de beleza deve comprar um kit inicial, conhecer os produtos e “iniciar o negócio”, ou seja, fazer sessões de cuidados de pele. “É o que mais gosto de fazer”, confessa, passados 21 anos de ter entrado no negócio. Estas podem ser feitas em casa da consultora, da potencial cliente ou em sessões com mais pessoas. Por exemplo, Rita Coelho, 24 anos, e que já não vende Mary Kay, fazia as suas sessões num cabeleireiro ou “noutros locais que tenham interesse em ter um evento”. As clientes não são obrigadas a comprar nada, salvaguarda Dolores. “Uma das coisas que mais me fascina, depois do produto, é o espírito de partilha, eu poder partilhar esta experiência com outras mulheres”, diz, ou seja, as potenciais clientes podem comprar os produtos, mas também podem adquirir o kit e começar o seu próprio negócio. No caso da bracarense, rapidamente se tornou líder de equipa, graças às consultoras que foi angariando para a Mary Kay e, pouco mais tarde, directora de vendas. O passo seguinte é ser directora nacional – Dolores começou com cinco membros na sua equipa e hoje tem 2500, de Norte a Sul do país. “Elas sabem quem eu sou”, assegura. As directoras “ganham comissões das vendas [da equipa que vão formando] e têm benefícios exclusivos como o carro Mary Kay”, explica Sandra Silva. O carro não se ganha facilmente, é preciso “qualificar-se”, ou seja, fazer um determinado valor em vendas regularmente. Depois disso, quando se chega a directora nacional, ganha-se o estatuto e a entrega do carro é automática. “Desde que sou directora sempre conduzi carros Mary Kay, já vou no quinto e este ano recebo o sexto”, orgulha-se Dolores Araújo. Há duas décadas, esta directora olhou com admiração para as suas congéneres norte-americanas – viu Mary Kay no palco, mas “já não falava”. Hoje, acredita que no encontro regular que a companhia faz em Portugal, as consultoras olham para si e desejam: “Quero ser como a Dolores. ” Mas há outras motivações para continuar a trabalhar, como as jóias e as viagens de luxo, acrescenta a antiga cabeleireira. Em Portugal existem cerca de 5500 consultoras – “a maioria em part time e podem ganhar 500 euros por mês, outras estão a tempo inteiro e podem fazer nove mil euros”, informa Sandra Silva, que se escusa a avançar com números de vendas ou mesmo quantos clientes têm essas revendedoras. Mas reconhece que, em Portugal, a marca já passou por dificuldades. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No entanto, “nos últimos oito anos duplicamos o tamanho da companhia e o objectivo é voltar a duplicar”, diz, não revelando quaisquer números ou prazos para cumprir essas metas. Aliás, os números internacionais também são desconhecidos com a justificação de que “é uma empresa privada e não está cotada em bolsa”. Nos escritórios portugueses trabalham 15 pessoas, do marketing às vendas, passando pelos armazéns e serviços de apoio às consultoras. A formação destas é da responsabilidade da empresa, mas também das directoras. Não é possível comprar os produtos online, a aposta é no acompanhamento personalizado. “É importante fazer as pessoas sentirem-se importantes”, refere Dolores Araújo. E quando as consultoras desistem? Rita Coelho conta que quando começou estava no primeiro ano da faculdade, mas passados dois anos desistiu porque não conseguia conciliar os estudos com as sessões de maquilhagem – “dá trabalho, uma sessão pode ser uma hora, mas trabalhamos muito até conseguir organizá-la, ter as pessoas suficientes para a fazer. Sentia muita pressão para fazer um determinado número de vendas; é um negócio instável, por exemplo, os meses de Verão podem ser mais complicados”, revela. Sandra Silva é peremptória: “Às vezes não está a resultar porque não se está a fazer bem. ” Dolores Araújo presume que muitas mulheres podem não estar empenhadas em servir o outro, mas apenas na venda. E "a Mary Kay é mais do que isso".
REFERÊNCIAS:
Josyara leva a Belém a Mansa Fúria do seu Brasil
A jovem cantora e compositora baiana Josyara Lélis apresenta este domingo no lisboeta Espaço Espelho d’Água, em Belém, o seu mais recente disco Mansa Fúria. Às 19h. (...)

Josyara leva a Belém a Mansa Fúria do seu Brasil
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-06-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: A jovem cantora e compositora baiana Josyara Lélis apresenta este domingo no lisboeta Espaço Espelho d’Água, em Belém, o seu mais recente disco Mansa Fúria. Às 19h.
TEXTO: Talvez se recordem que, em Outubro de 2018, antes da vitória de Jair Bolsonaro nas presidenciais brasileiras, 48 artistas gravaram em São Paulo um manifesto sonoro a que deram o nome de Engenho da Dor, 48 vozes pela democracia. O primeiro rosto a surgir no vídeo era precisamente o da autora da canção, uma jovem de cabelo crespo e louro. Josyara, precisamente. Nascida em Juazeiro, no estado da Bahia, em 1992, Josyara Lélis dava então voz a um manifesto que proclamava assim: “Cantar pela democracia é a forma de expor a verdade em cada alma e cantar em memória dos que morreram nessa luta. Pela voz das almas silenciadas, não vamos retroceder, não vamos voltar!”Nessa altura, já tinha atrás de si uma história longa de ligação à música. Começou, aos 10 anos, por tactear e dedilhar um violão que pertencia ao seu avô e a forma como se ligou a ele e às sonoridades que ia produzindo levou-a mais tarde a tocar em bares da noite na sua cidade natal, assim como em Salvador e em diversos festivais de música. Gravou em 2012 o seu primeiro disco, Uni Versos, viabilizado pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura e com patrocínio da Petrobrás; e em 2018, depois de quatro anos a viver em São Paulo, lançou Mansa Fúria, este com apoio do projecto Natura Musical. Resultado de um choque, ou um diálogo, entre a sonoridade do violão e a electrónica, Mansa Fúria foi visto por Pedro Antunes, no jornal O Estado de S. Paulo, como um embate que traz consigo “calmaria e explosão”. Segundo ele, o disco é “o encontro do violão de ritmo inebriante de Josyara com alguma experimentação eletrônica. Tradição e o novo. O acústico e o elétrico. É tanto diálogo entre extremos que o álbum parece ser feito para 2018 e seu tempo da falta de diálogo entre opiniões opostas. ”Ao jornal Diário do Nordeste, num texto assinado por Felipe Gurgel, Josyara explicou assim o disco: “Queria [com o título] relembrar essa música antiga, pela letra dela e tudo mais. E desse ‘vai e vem’ de perder o chão, essa coisa da ‘mansa fúria’ é relacionada às águas. Sou ribeirinha, e depois fui para o litoral [Salvador/BA]. Nesses tempos de hoje, que tudo quer que a gente se separe, vem a importância da fala, da comunicação. E graças à internet, nós ainda temos um lugar de fala, digamos assim. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De Juazeiro a Salvador, fixando-se depois em São Paulo, Josyara fez o seu próprio caminho musical. “As canções interpretadas por Josyara, sejam autorais ou releituras”, escreve-se na sua ainda curta biografia oficial, “trazem consigo a força e a sensibilidade inerentes à sua voz, através de arranjos muito próprios, que transitam entre ritmos brasileiros de diversas regiões (principalmente do sertão) e sonoridades universais. ”Pelo Espaço Espelho d’Água, em Belém, onde Josyara se apresenta ao vivo este domingo, têm passado, desde 2016, muitos músicos brasileiros: Bianca Gismonti (com a cantora portuguesa Maria João), Tiê, Pélico, Tulipa Ruiz, Filipe Catto, César Lacerda, Camará, Túlio Mourão, Felipe Antunes (com Jackeline Stefanski), Fernando Catatau, Bruna Caram, Maíra Baldaia, Paulo Padilha, Guilherme Ventura, Luciano Maia, Wanda Sá, Javier Subatin, a banda Silibrina, Helio Flanders, LaBaq e Luca Argel.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei cultura cantora
João destrona Santiago e Alice estreia-se entre os dez nomes mais populares
Maria continua a ser o nome mais popular entre as meninas. João volta ao primeiro lugar, que não ocupava desde 2015. Só um bebé recebeu o nome de Vanda. Tal como aconteceu com Evaristo. Kyaras foram 133. (...)

João destrona Santiago e Alice estreia-se entre os dez nomes mais populares
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.366
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Maria continua a ser o nome mais popular entre as meninas. João volta ao primeiro lugar, que não ocupava desde 2015. Só um bebé recebeu o nome de Vanda. Tal como aconteceu com Evaristo. Kyaras foram 133.
TEXTO: João, Rodrigo. Rodrigo, João. Eram estas as duas principais escolhas dos pais portugueses entre 2006 e 2015 e que iam oscilando no topo da lista dos nomes próprios de rapazes mais registados em Portugal. Entretanto, outras opções como Santiago ou Martim cresceram em popularidade e destronaram-nos nos últimos anos. Em 2018, contudo, os dados provisórios do Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) mostram que João voltou a dominar. Por pouco. Foi a escolha de 1679 pais. Muito perto do número dos que optaram por Francisco (1603) e por Santiago (1579). No caso das meninas, a liderança inequívoca é de Maria — aliás, já o é desde 2005, ano em que ultrapassou Ana. Em 2018, foi a escolha de 5608 pais. O segundo e terceiro lugar — Leonor e Matilde —, ficam muito abaixo deste valor. Foram 1609 e 1568, respectivamente. Carolina, Beatriz, Sofia, Alice, Mariana, Ana e Benedita fecham o “top 10”. Estas são as principais conclusões de um olhar sobre os dados fornecidos pelo INR, correspondentes ao período que vai de 2004 a 2018. Salvo algumas oscilações entre uma ou outra posição nestes rankings, os nomes mais populares pouco se alteram de ano para ano. Mas há surpresas. Por exemplo, Alice, que se estreou no “top 10” em 2018 (em 2004 estava em 65. º). Outro exemplo é o de Eva, que passou a integrar o “top 20”. Benedita, que já no ano passado ganhava terreno, voltou a crescer. Passou do 16. º para o 9. º lugar. Já Camila, que também se destacava em 2017, acaba por não figurar no “top 20” este ano. Quanto aos rapazes, só Tiago deixa de constar dos 20 nomes mais comuns. Entra Vicente. Quando se olha para os últimos 15 anos, também há evoluções a assinalar. Em 2004, Santiago foi a opção dos pais de 30 meninos. Mais populares nesse ano foram Enzo, Kevin, Marco e José, por exemplo. Em 2018, o nome foi escolhido 52 vezes mais do que em 2004. Com Lourenço e Martim a tendência foi semelhante. Entre Janeiro e Novembro deste ano, segundo os resultados do “teste do pezinho” adiantados esta semana pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, nasceram 80. 484 crianças no país. Tal como há nomes que crescem em popularidade ao longo dos anos, também há aqueles que a perdem. Catarina, Sara e Daniela são exemplos disso. Em 2004, nasceram mais de mil meninas com cada um destes nomes. Em 2018, registaram-se 196 Catarinas, 367 Saras e 112 Danielas. Também fora de moda estão Débora, Alexandra, Soraia, Liliana, Manuela ou Andreia — todas com menos de 50 registos. Outros nomes mais populares do que estes seis em 2018 foram, por exemplo, Kyara (133), Núria (142) ou Valentina (242). Quanto aos rapazes, opções que, em 2004, ocupavam o “top 20”, como André, David e Alexandre, já não fazem parte dessa lista em 2018. Continuam, porém, entre os 40 mais escolhidos, dando nome a centenas de crianças. Menos populares ainda são Edgar, Fernando, Vítor, Marcelo e Alberto. Depois há ainda aquele grupo de nomes especialmente raros — que só foram atribuídos em 2018 a uma criança. Há 1575 casos entre os meninos e 1696 entre as meninas. Por exemplo: Adlucy, Montserrat, Aarvee (para meninas), Sabiyog ou Jobanpreet (para meninos). Mas também Odete, Vanda, Adélio ou Evaristo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Portugal, a escolha de um nome próprio não é totalmente livre. Mas há muito mais opções do que há uns anos, graças a uma mudança feita por despacho em Junho de 2017, que tornou mais abrangente o conceito de onomástica nacional. Actualmente, o IRN disponibiliza uma lista exemplificativa com 7480 nomes. Caso os pais queiram utilizar um que não consta deste documento, devem requerer parecer a um especialista em onomástica, destacado pelo IRN (mas independente dos serviços). Se for aprovado, irá engrossar o leque das possibilidades. Mas quer seja menino ou menina, não é o facto da lista de nomes possíveis ter milhares de opções que faz com que haja grande diversidade na hora de tomar uma decisão. Metade dos bebés registados este ano recebeu um dos 20 nomes mais populares.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
O que mais lemos no P3 durante 2018
O que mais lemos no P3, em 2018? Deixamos-te a lista dos textos que mais atenção captaram. (...)

O que mais lemos no P3 durante 2018
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O que mais lemos no P3, em 2018? Deixamos-te a lista dos textos que mais atenção captaram.
TEXTO: Era o 1. º de Maio, Dia do Trabalhador, e Irene Martín saía às ruas de Lisboa com um cartaz que viria a abanar as redes sociais: “Farta até à cona de gerar a mais-valia dos homens. Trabalho reprodutivo sustenta o capital”, lia-se. Espanhola, estudante de Engenharia Biomédica em Lisboa, feminista e activista. O P3 quis conhecer a jovem que estalou a discussão sobre o trabalho reprodutivo na Internet — e é ela que leva o prémio do artigo mais lido em 2018. A discussão sobre o mercado do alojamento universitário esteve, em 2018, a ferro e fogo. No início do ano lectivo, o P3 convidou os estudantes a enviar os piores exemplos de anúncios — daí saiu o vídeo mais visto do ano: João Sanchez perguntou aos senhorios o motivo para preços tão altos. No que diz respeito a este tema, o cenário foi sempre o mesmo: preços a aumentar, condições a diminuir. Por isso, no Porto, os estudantes dormiram em frente à Reitoria da Universidade do Porto, para denunciarem as condições precárias em que vivem. E mereceram a atenção dos leitores do P3. Fossem outros os motivos. “A sério que dá para fazer isso?” é pergunta frequente na vida de André Baptista, que gosta de pregar partidas informáticas — mas acaba sempre por confessá-las. O hacker sagrou-se, em Março último, o “mais valioso” do mundo, numa competição organizada pela HackerOne, uma comunidade de hackers e líderes em segurança informática que quer tornar a Internet mais segura. Farto de receber propostas aliciantes, André quer ficar em Portugal — para já — e protegê-lo. É um dos candidatos a P3rsonalidade do Ano. Que se acusem os apaixonados por Frida Khalo: este texto está na lista dos mais lidos e a culpa é vossa. O Centro Português de Fotografia (CPF) acolheu, até Novembro, 241 fotografias do acervo pessoal da artista, numa exposição que, depois de ter passado em 2012 por Lisboa, chegou ao Porto. Episódios íntimos da vida da pintora, como a doença e o casamento com Diego Rivera, estiveram durante quatro meses nas salas do CPF. Não foste ver? Agora, só se fores até à Austrália. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Neste caso, os culpados foram os fãs de podcasts. O P3 sugeriu o podcast My Dad Wrote a Porno e os leitores parecem ter gostado — não fosse este o quinto artigo mais visto em 2018. A história é simples: Jamie Morton pegou nos contos eróticos do pai e transformou-os em episódios de entretenimento. Parece estranho? Aconselhamos-te a ouvir.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave trabalhador homens comunidade doença casamento feminista
Miguel Oliveira: “O meu ídolo agora sou eu”
Miguel Oliveira, vice-campeão mundial de Moto3 e Moto2, prepara-se para o derradeiro desafio na classe rainha de MotoGP. E garante ter tudo para vir a festejar um título com a bandeira nacional. (...)

Miguel Oliveira: “O meu ídolo agora sou eu”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Miguel Oliveira, vice-campeão mundial de Moto3 e Moto2, prepara-se para o derradeiro desafio na classe rainha de MotoGP. E garante ter tudo para vir a festejar um título com a bandeira nacional.
TEXTO: Seria inimaginável ainda há uns anos, mas Portugal terá mesmo um representante na classe rainha de MotoGP em 2019. O topo do motociclismo de velocidade, equivalente à Fórmula1 nas duas rodas. Aos 23 anos, Miguel Oliveira vai competir com o mítico Valentino Rossi, que conquistou o primeiro Mundial quando o jovem de Almada tinha pouco mais de dois anos de idade. Tinha apenas dois anos quando Valentino Rossi venceu o seu primeiro Mundial [num total de nove]…Comecei a olhar para Valentino, provavelmente, por volta de 2003. Na altura estava, na Honda Repsol e foi aí que o comecei a seguir de perto, quando ele ganhava todas aquelas corridas com um enorme avanço. Na altura não tinha concorrência. Nunca teve nesses anos. É estranho ir competir com esta lenda viva do motociclismo passado duas décadas?Imaginava muitas vezes que ia correr com ele. Mais recentemente, quando se especulava sobre o fim da sua carreira, ficava sempre um bocado triste. Até porque ainda é incerto saber o que acontecerá ao campeonato se ele sair. É estranho, mas eu queria apanhar ainda a era do Rossi. E vou ter essa sorte. Acha que ele teria o mesmo êxito se tivesse encontrado adversários com a qualidade dos actuais nos seus anos de ouro?Era uma outra era e actualmente muito dificilmente conseguiria ter todo aquele êxito. Na altura, nem se treinava fisicamente, era mais ou menos estar magrinho e andar de mota. Nesses tempos, quem começou a treinar mais a sério foi apenas o Max Biaggi [rival de Rossi na categoria rainha no início dos anos de 2000]. O Sete Gibernau [outro rival de Valentino em MotoGP] também já levava aquilo de outra forma. Continua a ver Valentino como um ídolo?Já não tenho ídolos. O meu ídolo agora sou eu. Ou melhor, o piloto que serei dentro de cinco anos, talvez. De resto, quando me estrear na categoria máxima de MotoGP [10 de Março, no Qatar], os meus adversários serão simplesmente outros pilotos que lá estão. Já lido com muitos deles há algum tempo. Por alguns tenho alguma admiração, por outros nem tanto. Mas soube-lhe bem ouvir os elogios de uma lenda das duas rodas…É um motivo de orgulho [os elogios de Rossi pelo desempenho de Oliveira em 2018]. Mas para mim não é um objectivo de vida que esse piloto ou outras pessoas falem de mim. Sei do meu valor e reconheço que tenho capacidades para lá chegar. Ver esse valor reconhecido por esses pilotos que já lá estão é, obviamente, gratificante, mas não chega para estar no nível deles. A retirada de Rossi, quando se vier a concretizar, terá um impacto negativo no MotoGP?Espero que o MotoGP sobreviva sem o Valentino, tal como a Fórmula 1 sobreviveu sem o Michael Schumacher. Apareceram outros pilotos e outros mais virão. Foi um dos únicos dois pilotos a terminar todas as corridas de Moto2 de 2018 sem sofrer qualquer queda. Esta consistência será a sua principal arma em MotoGP?2018 será uma época para recordar com alegria. O vice-campeonato deixou-me feliz, pois as posições que obtive na grelha de partida não eram sempre as melhores e houve situações em que as coisas poderiam ter corrido de outra forma. Mas não correram e terminei sempre todas as corridas. Em 18 pódios possíveis, falhei cinco. Qual é o segredo para não cair?Sou um piloto muito calculista e isso faz-me terminar as corridas nos pontos. O risco que corro é sempre medido. A maior parte das quedas que tive este ano foram nas qualificações, fruto de tentar andar um pouco mais rápido e arranjar uma melhor posição na grelha de partida. É o meu estilo de condução. Gosto apenas de forçar a moto ao limite quando estou confortável e quando ela o permite. Não sou daqueles que caem sem motivo, mas também reconheço que isso não é indicador de nada. O Marc Márquez, por exemplo, cai muitas vezes e é campeão do mundo de MotoGP. Soube a pouco ser vice-campeão de Moto2?Concluí a temporada com uns valiosos 13 pódios e três vitórias. É lógico que ter sido vice-campeão por uma diferença de nove pontos sabe a pouco de alguma forma, mas fiquei contente por ter feito uma grande última temporada de Moto2. No total, venceu nove corridas pela KTM enquanto esteve na Moto2. É um balanço satisfatório?Entrámos com muita ambição neste projecto da KTM para a Moto2. Uma moto nova que conseguimos em curtos dois anos fazer ganhar nove corridas. Tanto eu como o meu companheiro de equipa. Face à competitividade dos outros construtores e à sua experiência, valorizo ainda mais estas conquistas. E a equipa arrecadou um título mundial de equipas este ano. Como correram os primeiros testes aos comandos de uma MotoGP?Já tinha conduzido esta RC16 [KTM] em 2017, mas apenas a título de experiência e não num teste a sério. Agora foi uma sensação mais real. Estive também mais calmo, a viver as sensações novas de conduzir uma MotoGP. Sensações novas e também caras novas dentro da box, pois irei também estrear-me com esta equipa. Será um readaptar de tudo e um regresso à escola para aprender como se anda numa moto daquelas. As diferenças são enormes em relação à Moto2?É lógico que passei dois anos com uma moto, com uma certa medida, e vou passar agora para outra que não tem nada a ver. Em tudo: ao nível da potência, aceleração, potência de travagem, electrónica, etc. Existem muitos factores que tenho de controlar com a minha condução. As trajectórias são diferentes e será necessário um readaptar até a nível visual, porque as coisas passam-se a uma velocidade muito maior. É claro que tenho de aprender porque o estilo de condução é muito diferente. Voltará a ter contacto com a nova moto nos testes na pista de Sepang, na Malásia, a 6 de Fevereiro do próximo ano. Está ansioso?A equipa está a conseguir encaixar a afinação da moto ao meu estilo de condução. Serão uns testes mais a sério. A minha actual equipa [Tech 3] trabalhou durante quase 20 anos com um construtor japonês [Yamaha]. A estrutura do material mudou de um dia para o outro. Teve de ser tudo trocado. Ferramentas, software electrónico, etc. É tudo diferente. Estão a reconstruir as motos neste mês de Dezembro e a preparar tudo para Sepang. Teve de mudar de número [o tradicional 44 de Oliveira já pertence a outro piloto de MotoGP] e escolheu o 88. Por alguma razão?Infelizmente tive de deixar o meu número 44 e como em MotoGP é tudo a dobrar, potência, etc, pensei também no dobro. Nenhum outro número me fazia tanto sentido como o 88. É também um número par, que continua a repetir-se a ele mesmo, tal como o 44. É apenas o dobro. Com que expectativas parte para 2019?Actualmente, a realidade da moto passa por terminar corridas entre o 10. º e 15. º postos. Tem sido assim nestes últimos dois anos. Espero dar um passo em frente agora que o construtor tem quatro pilotos. Esta etapa vai ajudar-me muito, para o meu desenvolvimento, para quando tiver a moto a um nível alto lutar pelo título de MotoGP. Estas são também as perspectivas da equipa?A equipa entende a nossa situação. É uma equipa estreante com aquele construtor e com um piloto estreante. Estar na MotoGP por si só é difícil. Fazer bons resultados é ainda mais. Mas todos entendem que, neste momento, o mais importante é construir uma boa moto e não estar a pensar nos resultados. Os resultados virão por si só, pelo fruto do bom trabalho que faremos ao longo da época. E o que seria para si, pessoalmente, uma boa temporada?Seria bom ter o título de rookie [estreante] do ano. Não é algo que me deixe super-feliz ou que me satisfaça o ego, é um prémio pouco relevante para mim, mas é lógico que é indicador que de entre os que se estrearam fomos um pouco melhores. É preciso entender que estou a lutar com armas muito diferentes daquelas que os outros estreantes têm em mãos, integrando equipas mais experientes. Esta é a entrada na categoria de MotoGP que desejaria?Sim. Entro numa equipa que é excelente. Temos ainda de compreender melhor a moto, mas a equipa tem provas dadas, com grandes resultados e grande experiência. Podia ter entrado numa outra equipa, talvez com um outro construtor mais forte, com grandes motos, mas também poderia correr o risco de vir a sair se não andasse bem. Sente que tem mais espaço de manobra e menos pressão para crescer?Sinto que tenho uma almofada. Por vezes, aprendermos em motos complicadas dá-nos uma vantagem. A seguir, quando subirmos para uma moto melhor, conseguirmos readaptar o nosso estilo muito mais facilmente. O [Jorge] Lorenzo viu isso na Ducati. Saltou de uma Ducati para uma Honda e readaptou-se muito mais rapidamente. O Valentino fez o mesmo quando saltou da Ducati para a Yamaha. Passar por uns tempos difíceis não é mau. Não estou a tirar valor à KTM, mas simplesmente temos consciência da nossa realidade. Quando pensa que estará em condições para lutar pelo título?Espero que entre um ou dois anos esteja apto para poder lutar por outros resultados. Tenho todas as armas para poder lutar por um título mundial. Trabalho pelo meu sonho e pelo meu objectivo e vou acreditar sempre até ao fim. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Na categoria rainha vai reencontrar Maverick Viñales, potencial candidato ao título de 2019 e um velho rival nos seus primeiros anos no motociclismo… [Os dois protagonizaram uma luta intensa em 2009 e 2010 no Campeonato Espanhol de Velocidade (CEV), a antecâmera das categorias de MotoGP]Os pilotos mudam e já não corremos na mesma categoria pelo menos há cinco anos. A última vez que coincidimos em pista foi em 2013 [Moto3]. É um piloto como todos os outros. Tem muito talento e pode, como já demonstrou, lutar pelas vitórias quando tem moto para isso. Foi o meu primeiro grande rival nos primeiros anos de carreira a sério. O Maverick serviu para eu evoluir e vice-versa. Acabaram por ter percursos muito diferentes…Quando chegámos ao MotoGP, os caminhos foram um pouco diferentes. Agora está num nível um pouco superior ao meu. O que não quer dizer que eu não tenha as capacidades dele. E penso ter as potencialidades para o vir a ultrapassar. Não é um bicho-de-sete-cabeças, tal como em relação aos outros pilotos. Todos são humanos, todos trabalham. As motos aqui no MotoGP contam um pouco mais do que o piloto. É uma questão de encontrar a máquina certa. Está orgulhoso da sua carreira?Para mim tem um valor acrescido ter chegado ao MotoGP da forma como cheguei, sem nenhum interesse de nenhuma grande marca por trás. Isso é aquilo que me deixa mais orgulhoso. É claro que, se tivesse tido um grande apoio, teria lá chegado de outra forma e mais rapidamente. Só o futuro dirá se isso teria sido melhor. Agora, tenho de gerir as expectativas: não esperar muito, mas apenas aquilo que seja concretizável.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola humanos rainha japonês
Lucia Berlin: a grande aventura de existir
Depois de Manual Para Mulheres de Limpeza, Lucia Berlin está de volta com Anoitecer no Paraíso Final, mais um volume de contos que a confirmam como uma das grandes contistas da América. (...)

Lucia Berlin: a grande aventura de existir
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.8
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de Manual Para Mulheres de Limpeza, Lucia Berlin está de volta com Anoitecer no Paraíso Final, mais um volume de contos que a confirmam como uma das grandes contistas da América.
TEXTO: Um dos maiores receios ao saber que vem aí um novo livro com contos de Lucia Berlin é o de que seja apenas um aproveitar da onda iniciada em 2015, quando Berlin saiu da sombra 11 anos após a sua morte, e as histórias agora publicadas não estejam à altura de Manual Para Mulheres de Limpeza. Esse medo foi dissipado. Autoria: Lucia Berlin (Trad. Ester Cortegano) Alfaguara Ler excertoPara quem ainda não ouviu ou não leu sobre esta escritora, vale a pena sublinhar que Lucia Berlin (1936-2004) deixou de ser um dos segredos mais injustamente guardados durante décadas para ser um nome no centro da admiração e das atenções de milhares de leitores. A sua obra, produzida com maior fôlego nos anos 70 e 80 do século passado, revelou uma escritora às voltas com uma existência dilacerada, a viver à margem, criadora de uma linguagem que sublinha as arestas dessa vida marcada pela pobreza, o álcool, a itinerância, as paixões, a maternidade solitária, o desespero de quem sente não pertencer a um território, a uma classe, a um tipo de família ou a uma ideia de arte que encaixassem nos parâmetros dos bem — e até dos mais ou menos — sucedidos. Lucia Berlin olhava-os com o mesmo tipo de humor negro com que se via a si mesma. Foi uma mulher que sobreviveu apaixonadamente e essa é a marca essencial da sua escrita. Como ela, a maioria das suas personagens são apaixonadas, aventureiras, têm uma sinceridade trágica — sobretudo as adolescentes —, e um sentido de humor que vai bem com o desconcerto em quem existem. Ela dá-lhes voz através de uma linguagem lírica, mas seca. É capaz das descrições mais enlevadas como de diálogos corrosivos, e com isso constrói uma relação plena de intimidade com o leitor. Com ela, ele sente que entrou num território interdito com o qual partilha grande dose de cumplicidade. Durante a sua vida de 68 anos, Berlin publicou apenas 76 contos, de forma mais ou menos dispersa; nunca teve uma grande editora, nunca ganhou um prémio, nunca conseguiu qualquer notoriedade. Isso só veio postumamente. Em 2015, quando a Farrar, Straus and Giroux pubicou o volume de contos Manual Para Mulheres a Dias — um dos livros-sensação dos últimos anos —, pensava-se que aquilo era tudo. E se aquilo era tudo, era para guardar bem perto, ir lendo e relendo como quem está diante de uma raridade. Mas Berlin regressa agora às livrarias com Anoitecer no Paraíso Final. Este é o título da edição portuguesa de um volume que reúne 22 contos, prefaciado por Mark Berlin, o mais velho dos seus quatro filhos, que morreu apenas um ano depois da mãe. “A Lucia, Deus a valha, era uma rebelde e uma artesã notável, e como dançava. Quem me dera poder contar todas as histórias, como quando ela deu boleia a Smokey Robinson na Central Avenue, em Albuquerque, a fumar uma ganza, enquanto se dirigiam para o concerto dele no Tiki-Kai Lounge. ”Tudo era inusitado em Berlin, como quase tudo sempre é nos contos onde a biografia se mescla com alguma fantasia e permite chamar ficção às histórias de muita “má sorte” — expressão de Mark — que compuseram a vida e a obra desta mulher nascida no Alasca, que andou pelo Chile, Texas, México, Oakland, Novo México, Nova Iorque, Califórnia, que atravessou a América e, conta ainda o filho, teve “uma vida de uma média de nove meses em qualquer morada”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Como em Manual Para Mulheres a Dias, este Anoitecer no Paraíso é revelador da condição nómada de Lucia Berlin. Conhecendo a sua biografia, não é difícil imaginá-la sendo a mulher que, por exemplo, vive em Claire, protagonista de A Minha Vida é Um Livro Aberto, a 13ª história da colecção. Ela chega a uma pequena cidade, instala-se na única casa de adobe com os seus quatro filhos e torna-se amante de um rapaz de 19 anos, bem parecido mas “chanfrado”. Depois, há o olhar dos outros sobre ela e a versão dela sobre esses dias. “Passaram oito meses antes de eu pensar. Tinha ignorado os olhares carrancudos das velhas na loja do Earl e tínhamo-nos limitado a rir da Jennie Caldwell a observar-nos com os binóculos do seu alpendre das traseiras. O Casey e eu éramos o escândalo da cidade, disse-me a Betty Boyer. Depois, o Keith disse-me que os filhos dos Price não podiam vir brincar à nossa casa. Sentei-me no alpendre de trás. Tinha-me mudado para Corrales para começar uma vida nova, educar os meus filhos como deve ser. Numa cidadezinha pacífica, como parte de uma comunidade. Planeara fazer o doutoramento e dar aulas, ser simplesmente uma boa professora e uma boa mãe. Se tivesse pensado num homem no meu futuro, ele seria grisalho, bondoso, com emprego efectivo. E agora olha. ”Berlin está também no sangue que corre na narradora de Do Pó a Pó, o quarto conto, a adolescente que consegue autorização para ir ao funeral de um motociclista. “Há coisas de que as pessoas simplesmente não falam. Não me refiro às coisas difíceis, como o amor, mas as desconfortáveis, como o facto de os funerais serem divertidos ou de ser empolgante ver edifícios a arder. O funeral de Michael foi maravilhoso. ” Num diálogo de Andado, um Romance Gótico, que abre o volume, alguém diz diante da imensidão de uma fazenda: “- Num filme americano, seria, nesta altura que Don Andrés diria: ‘Tudo isto é meu. ’” Mas outra personagem deixa a observação: “Mas é um filme a preto e branco. A única coisa que posso dizer é que tudo isto desaparecerá em breve”. A vida e a escrita de Berlin encaixam na segunda fala. Um filme a preto e banco com o sentido do trágico, onde não faltam momentos de uma imensa luz. Quase sempre diáfana, pontuada por música, um elemento persistente nas histórias da escritora que fez de Laura, a protagonista deste conto inaugural, uma espécie de alter-ego quando escreve isto: “Teria sido difícil dizer que Laura era americana. Filha de um engenheiro de minas, tinha a capacidade de adaptação comum a filhos de militares e diplomatas. Aprendiam rapidamente, não apenas a língua ou o jargão, mas também o que se faz, quem é preciso conhecer. O problema de tais crianças não é estarem isoladas ou sempre num sítio novo, mas o facto de se adaptarem tão pressa e tão bem. ” Berlin viveu assim, cresceu dessa maneira, mas nada disso significou que o mundo se adaptasse à espécie de selvajaria que fazia parte da sua essência e nos deixou contos como estes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte filha filho mulher negro homem comunidade adolescente medo espécie mulheres pobreza