Nobel da Paz entregue às três mulheres “força motriz” na resolução de conflitos
O prémio Nobel da Paz foi hoje formalmente entregue, em cerimónia em Oslo, à Presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, à sua compatriota e activistas dos direitos humanos Leymah Gbowee e à iemenita Tawakkol Karman, figura de proa do movimento da Primavera Árabe. (...)

Nobel da Paz entregue às três mulheres “força motriz” na resolução de conflitos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-12-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O prémio Nobel da Paz foi hoje formalmente entregue, em cerimónia em Oslo, à Presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, à sua compatriota e activistas dos direitos humanos Leymah Gbowee e à iemenita Tawakkol Karman, figura de proa do movimento da Primavera Árabe.
TEXTO: “Representam uma das forças motrizes mais importantes da mudança no mundo hoje em dia: a luta pelos direitos humanos em geral e a luta das mulheres pela igualdade e a paz em particular”, afirmou o presidente do comité Nobel, Thorbjoern Jagland, ao entregar os galardões. Todas envergando trajes tradicionais, as três premiadas reiteraram o papel das mulheres na resolução de conflitos – um papel que Jagland descreveu como sendo “as mulheres que carregam uma metade do céu”, citando um provérbio chinês. Esta é a primeira vez que o Nobel da Paz é entregue a três mulheres em conjunto. “Só o facto de que duas mulheres liberianas estão aqui hoje para partilhar o pódio com uma irmã vinda do Iémen mostra a natureza universal da nossa luta”, frisou a chefe de Estado da Libéria, a primeira Presidente mulher a ser eleita democraticamente (em 2005) num país africano. E, dirigindo-se em particular a todas as mulheres do mundo, instou: “Façam ouvir a vossa voz! Façam soar bem alto a vossa voz! Que a vossa voz seja a da liberdade!”. Leymah Gbowee, a quem Ellen Johnson Sirleaf entregou a tarefa de conduzir as iniciativas de pacificação nacional após a sua reeleição no mês passado, lembrou, numa entrevista publicada hoje pela agência noticiosa francesa AFP, que “não há uma receita para a reconciliação”. “Há que ter em conta os diferentes contextos. Para algumas mulheres isso pode ser algo tão simples como ter comida para dar aos seus filhos”, afirmou. Por seu lado, a iemenita, jornalista de 32 anos, primeira mulher árabe a ser galardoada com o Nobel da Paz, aproveitou a ocasião solene em Oslo para criticar a “relativa indiferença do mundo” face à revolução do seu país: “É com tristeza e pena que [o movimento de contestação ao Presidente iemenita, Ali Abdallah Saleh] não teve a mesma compreensão e apoio e atenção da comunidade internacional que foram dadas a outras revoluções na região”.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
As mulheres por trás da queda da mais poderosa das máfias
Boas e más mães, avós que usam netas para chantagear filhas até à morte, homens que vêem as mulheres como submissas. A Itália da ’Ndrangheta no livro As Boas Mães. Lê-se como um romance, se esquecermos que cada palavra é real. (...)

As mulheres por trás da queda da mais poderosa das máfias
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.133
DATA: 2018-10-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Boas e más mães, avós que usam netas para chantagear filhas até à morte, homens que vêem as mulheres como submissas. A Itália da ’Ndrangheta no livro As Boas Mães. Lê-se como um romance, se esquecermos que cada palavra é real.
TEXTO: Esta é uma história de mulheres. De mães. De filhas. Chama-se As Boas Mães. “Para as boas filhas”, escreveu o jornalista Alex Perry na dedicatória. Porque há uma filha que acaba o que a mãe começou em vida e outras se seguirão. Porque a mãe, “figura sagrada”, era, afinal, o caminho para quebrar uma “tirania misógina”, como percebeu a procuradora antimáfia Alessandra Cerreti. “As mulheres não importam”, costumavam dizer os colegas de Alessandra. “Os homens italianos subestimam todas as mulheres. É um verdadeiro problema”, comentou a procuradora a Perry (os dois conversaram oito horas ao longo de um ano). Esta é a história da ’Ndrangheta, a máfia da Calábria, a ponta da bota apontada à Sicília, a máfia que se tornou (quase) impenetrável por fazer da “família a base do seu poder”. Que cresceu incógnita durante 150 anos até se tornar numa “organização criminosa quase tão perfeita quanto alguma vez eles [os procuradores] viriam a encontrar”, com presença em 120 países e lucros superiores aos da Microsoft. Isto enquanto a Cosa Nostra (Sicília) e a Camorra (Nápoles) inspiravam filmes de Hollywood e sacríficos de juízes de verdade nas guerras dos anos 1980 e 1990. As Boas Mães é tragédia e absolvição, sangue e coragem. É mito: ao nascer enquanto a Itália era unificada, na segunda metade do século XIX, e no Sul do país, onde ainda hoje há quem se sinta ocupado e sempre ressentido em relação no Norte, rico (onde muitos olham para o Sul como o parente pobre que é preciso ajudar), os mafiosos calabreses (como os sicilianos) apresentam-se como valentes e honrados, a alternativa ao Estado ausente. Rufias transformados em herdeiros de cavaleiros andantes medievais, uma Sociedade Honrada baseada na defesa mútua, uma irmandade ferida que acalentara um sentimento de revolta justa e uma lealdade à prova de bala. Rituais supostamente antigos ditavam que os bebés filhos de um chefe fossem postos à prova logo depois de nascerem: “Um rapaz seria deitado a espernear e a gritar numa cama, com uma chave junto à mão esquerda e uma faca junto à direita, a representar o Estado e a máfia. O primeiro dever de uma mãe da ’Ndrangheta era garantir que, com toques cuidadosos, o filho agarrava na faca e selava o seu destino”. “A ’Ndrangheta não tinha tradição. Tiveram de inventar uma”, escreveu um dos principais historiadores italianos da máfia, Enzo Ciconte, citado por Alex Perry. A verdade é que a máfia nasceu na prisão, onde criminosos comuns contactaram com revolucionários burgueses, muitos deles maçons. Cá fora, apropriações de terras, exigência de dinheiro por protecção a cada negócio do bairro, subornos às autoridades; aldeias, vilas, lugarejos de montanha longe de tudo. “Uma terra à parte”, com “vales só acessíveis a partir do mar”, “encostas íngremes”, “pinhais cerrados”, famílias que ali viveram séculos sem ninguém para as defender. Para ajudar, um idioma arcaico – o grecânico, herdado da Idade Média, quando a Calábria fazia parte do Império Bizantino. Um nome: ’Ndrangheta, do grego andraganthateai, “sociedade de homens de honra e valor”. Uma farsa, bem montada. O dinheiro por protecção, pizzo, já não só da pizzaria mas também da protecção de bens, propriedades, perseguição de bandidos, arbitragens de disputas. “Um objectivo central de todas as máfias era criar um consenso em torno do poder. Sempre que surgia a questão do poder – político, económico, social, divino – a resposta tinha de ser a máfia”, descreve Alex Perry. “Era uma ventura peculiar das máfias italianas que as circunstâncias conspirassem para enxertar o seu empreendimento na mais duradoura das estruturas de poder da Itália meridional: a família. ” E assim se fundou uma hierarquia e um secretismo assente em relações de parentesco. Com o tempo, uma hierarquia mais complexa, mas sempre baseada na “lealdade ao sangue e à terra pátria”. A omertà. Lea Garofolo nasceu na máfia, na família. Era uma princesa, uma Garofolo de Pagliarelle, da aristocracia da ’Ndrangheta da costa oriental. Cresceu para se tornar numa bela mulher, uma silhueta esguia, maçãs do rosto definidas, cabelo preto e forte, elegância natural. O pai foi morto por três membros de um clã rival quando ela tinha oito meses, na véspera da passagem de ano de 1974. Ficou-lhe a mãe, o irmão mais velho, Floriano, a irmã, Marisa. Cresceu ao ritmo de mortes de familiares, vinganças pela vendeta lançada pelos Garofolo. Aos nove anos, escondeu uma pistola a pedido de Floriano. A mãe era uma excepção na ’Ndrangheta, casara nela mas não deixara de trabalhar e ensinou-lhe que “educação era liberdade e sustentar a família era o que conferia dignidade à mulher”. De alguma forma, Lea sempre viu “para lá da mentira”, sabendo que tinha de abafar a raiva pela morte do pai e fingir, todos os dias. Para ela, “a ’Ndrangheta era um culto da morte e Lea era uma mulher que adorava a vida; a ’Ndrangheta determina o seu destino por ti, Lea queria planear o seu próprio destino”, descreve Vincenza Rando (Enza), a primeira advogada de Lea. “Não se vive. Apenas se sobrevive de alguma maneira. Sonha-se com alguma coisa – qualquer coisa – porque não há nada pior do que essa, vida”, diria Lea aos carabinieri, em 2002. Parecia ter tudo para fugir ao seu destino. E no entanto. . . “É a tragédia destas mulheres. Mesmo ela, que viveu sempre com consciência do certo e do errado, do que queria. Apaixonou-se a pensar que assim fugia. Carlo parece amá-la. Denise acredita nisso [como Lea acreditara, em adolescente, tanto, até descobrir que ele estava com ela para subir na hierarquia, com a bênção do irmão]. E ela cai na armadilha. Há coisa mais trágica? No nosso tempo. Isto ainda acontece. Se pensarmos, é incrível”, diz Perry em Lisboa, à conversa quase no fim de umas férias de Verão com base em Sintra. Britânico, jornalista de investigação, Perry foi correspondente ou enviado a quase meio mundo. E nunca tinha ouvido falar da ’Ndrangheta até dar consigo na Sicília, a trabalhar numa história sobre refugiados e imigrantes em 2015, quando percebeu que a máfia calabresa dividia com outras organizações a gestão dos centros onde ficavam alguns dos que ali desembarcavam. “Só isso foi uma revelação. Não tinha noção que a máfia italiana tivesse esse nível de penetração”, conta. Quis saber mais. “Perguntei à jornalista italiana que trabalhava comigo se me ajudaria a perceber melhor como funcionava a ’Ndrangheta. Ela aceitou, em troca de 150 dólares e do meu compromisso em assistir a uma peça de teatro em Roma. ”E foi assim que Perry deu consigo num espaço algo degradado. A peça era um monólogo, uma mulher a contar a sua vida, não percebeu muito mais. No fim, a jornalista pediu-lhe que subisse ao palco e dessa a sua opinião sobre a peça e a ’Ndrangheta. “Uma vergonha. Não tinha percebido nada e ainda não sabia quase nada”. Em palco tinha acabado de assistir à história de Maria Concetta Cacciola, Concetta ou ’Cetta, uma das “boas mães”, com um fim absolutamente trágico, como Lea e ao contrário de Giuseppina Pesce, a sobrevivente entre as três mulheres que decidiram denunciar a ’Ndrangheta, quebrar a omertà, e ocupam grande parte deste livro. E foi assim que Perry decidiu ficar em Itália. “Era tudo absolutamente fascinante e irreal. Na Europa, no século XXI, tão desconhecido. Os italianos tinham acabado de acordar para esta realidade. ”Concetta, Giuseppina e Lea. Três das “boas mães” cujas vidas ficamos a conhecer com o pormenor possível (e é muito o detalhe a que Perry chega) – antes também as houve, nenhuma com a importância de Lea, a primeira destas três, a primeira princesa da ’Ndrangheta a denunciá-la – depois haverá mais, sempre mais. Lea mostra que é possível, Giuseppina que se pode fazê-lo e sobreviver, salvando os filhos de caminho. Há uma quarta “boa mãe”, sem filhos, Alessandra, que acaba por desenvolver uma relação maternal com Giuseppina. “É verdade. Ela emprestou-me o diário dela. E quando li que sentia uma ligação quase umbilical a Giuseppina… Pensei, ‘olha, a Alessandra com sentimentos maternos, afinal, ela também é capaz”, diz Perry. Porque Alessandra fez as suas escolhas. Ser procuradora antimáfia significa viver sob segurança permanente, numa espécie de bunker hiperprotegido, em Milão, onde fez os seus estudos e começa a sua carreira, apesar de ter nascido no Sul (no porto siciliano de Messina), onde conseguirá ser colocada para as primeiras guerras que o Estado trava e ganha à ’Ndrangheta. Alessandra, hoje com 50 anos, sempre soube que não teria filhos. Alessandra tem as suas particularidades: quando a professora pediu à turma de oito anos que fizessem uma redacção sobre o que queriam ser quando crescessem, enquanto as colegas deram conta de sonhos de princesas ou astronautas, ela deixou claro que não iria para longe. “Quero ser procuradora de acusação à máfia”, escreveu. “Quero pôr bandidos atrás das grades. ”“A questão de não ter filhos não parece ser um sacrifício. Ela fala disso como uma consequência natural, sem nenhum drama. É uma mulher dura”, diz Perry. “Sim, sentir-se a ganhar afeição a Giuseppina não terá sido fácil. Ela estabelecera muito bem as regras, as defesas, a ideia de que não podia sentir emoções. Penso que ainda gere essas contradições. Mas elas continuam próximas. Telefonavam-se quase todos os dias, julgo que ainda acontece. ”O livro de Perry começa com os últimos dias da vida de Lea, finais de Novembro de 2009, em Milão. E acaba com o seu funeral, na mesma cidade, a 19 de Outubro de 2013, depois de terem sido encontrados os seus restos mortais, quando a filha, Denise, entra definitivamente no programa de protecção de testemunhas onde passara anos na companhia da mãe. “Obrigada por tudo o que fizeste por mim”, diz Denise, no funeral, então com 21 anos. “Obrigada por me dares uma vida melhor. Tudo o que aconteceu, tudo o que fizeste, sei agora que o fizeste por mim e nunca deixarei de te agradecer. ”Denise Cosco (do pai, Carlo Cosco) nunca mostra o rosto em público. Nem no funeral da mãe, presenciado por uma pequena multidão. Fala através de um altifalante sem que os presentes, muitos dos quais derramam lágrimas ao ouvi-la, alguma vez a vejam. Há imagens dessa despedida emocionada no YouTube. A voz de Denise cada vez mais embargada. “Ciao, Mama”, despede-se, entre bandeiras com o rosto de Lea e a frase “Oiço, vejo falo”, um lema que se tornou omnipresente nas concentrações contra a máfia, a par das fotos, de Lea, principalmente, mas também de Concetta ou Giuseppina. A vida de Lea é a que os italianos conhecem melhor. Apesar de ninguém para além dos próximos, de alguns polícias e procuradores terem ouvido falar dela quando morreu. Várias fotografias, de Lea e de Lea com a filha pequena, saíram entretanto em jornais, e a sua história, iniciada na Calábria e brutalmente interrompida em Milão, haveria de ser contada até que Lea se tornasse numa das poucas histórias capazes de unir a Itália. Um filme, uma série, peças de teatro, livros, reportagens, cartazes com o seu rosto em marchas e concentrações; parques, pontes e praças com o seu nome. Monumentos: em Petilia Policastro (Crotone, Calábria) surgiu uma estátua que representava uma bola a fender um rochedo em dois. A localidade, disse o presidente da câmara ao inaugurá-lo, seria para sempre um farol para “as mulheres de coragem” em toda a Itália. Autocarros alugados para levarem a Milão quem quisesse juntar-se ao luto vindo de Petilia e Pagliarelle, chegaram vazios. Mas centenas de calabreses estavam entre a multidão que trouxe flores e bandeiras com o rosto de Lea, num momento em que a Itália pareceu finalmente unida, toda a Itália junta, nas ruas da cidade. Do próprio funeral saíram mulheres prontas a denunciar o que sabiam e a libertar-se: Enza reconheceu uma mulher da ’Ndrangheta que seguiu da cerimónia para uma esquadra. “Ela disse ‘Lea ensinou-se a ser corajosa. Ela ensinou-me a ter coragem’”, disse-lhe esta mulher, haveria de contar Enza a Perry. 2009 a 2013. Estes são os anos em que a Itália e o mundo se apercebem do poder da ’Ndrangheta, do tráfico de armas e de droga, da compra de activos financeiros, como dívida, a outras organizações criminosas por todo o mundo. Os anos em que sem conseguirem nunca derrubar a hidra, os procuradores que se juntaram na Calábria conseguem abalá-la. Centenas e centenas de detenções, milhares de empresas e propriedades apreendidas, milhões e milhões de euros. Lea foge, denuncia o marido, Carlo Cosco, uma e outra vez. Quando engravida decide que vai dar o bebé para adopção e fugir para sempre; Denise nasce e ela apaixona-se. A primeira fuga é em 1996. Passa anos à espera que o seu testemunho seja avaliado, até o Estado decidir se merece entrar no programa de protecção, é encontrada e volta a fugir, e de novo isso se repete sem que o Estado nunca perceba como pode usar as informações de uma princesa da ’Ndrangheta. Há muito que escapa ao Estado. Declaram-na segura quando o irmão é morto, por exemplo, sem nunca perceberem que ele foi morto por não a matar. Lea volta para o marido sem voltar, aceita fazer as pazes, pela filha, volta a fugir quando se sente em perigo. Lea e Denise vivem como num jogo, mudam de casa, de cidade, de nomes, são como duas irmãs a viver uma vida só delas. Até que, em 2009, estava a filha a pensar onde faria a universidade, contando com a ajuda do pai, e Lea concorda com uma viagem a três a Milão, elas num hotel, ele no seu apartamento ou em trabalho, no prédio a partir de onde gere os negócios da ’Ndrangheta na cidade. Dias de passeios e jantares, muitos fingimentos. E Lea, que pedira a Denise “nunca te afastes de mim, és a minha salvação”, acaba por amolecer e aceitar um jantar a dois, ela e Carlo, na noite em que deverão apanhar o comboio rumo ao Sul, ela e Denise. Carlo convence a filha a jantar com familiares, ‘os teus tios e os teus primos têm saudades tuas”, diz-lhe. E quando ela se apercebe que só metade da família está por ali e que quem está nem lhe dá atenção, que há um entra e sai suspeito, quando ela tenta telefonar à mãe, pelas 21h, 21h30, já é tarde, o telefone que nunca era desligado por segurança já não toca. Alessandra chega à Calábria já conhecendo o testemunho de Lea e com a convicção que este é o caminho: as mães, a família que a ’Ndrangheta usou e perverteu, as meninas prometidas em casamento, as mulheres que nela (só) parecem pouco contra e pouco saber, são a base da besta. A intolerância violenta da ’Ndrangheta face às suas mulheres não era somente “uma tragédia”. Era “uma falha e podia tornar-se numa crise existencial”. “Libertar-lhes as mulheres é a maneira de derrubar a ’Ndrangheta”, acredita Alessandra. “Mais do que tudo, foi a história de Lea que comoveu a Itália. Se Concetta representava a tragédia e Giuseppina Pesce encarnava a resiliência, Lea era ambas as coisas. Ali estava uma mulher nascida na máfia que tentara escapar durante toda a sua vida. Ainda mais encurralada pelo casamento, encontrou a força para lutar no amor pela filha, antes de ser abandonada pelo Estado e levada a cair numa armadilha por um marido que fingiu ter-se apaixonado novamente por ela”, escreve Perry. “Era um melodrama épico com inflexões e reviravoltas tão inacreditáveis que as pessoas pareciam comparecer nas comemorações da vida dela, que se realizavam um pouco por todo o país a partir de 2013, só para se assegurarem que o tinham ouvido era verdade. ”Perry não oferece nenhum exclusivo no seu livro As Boas Mães – A história verdadeira das mulheres que enfrentaram a máfia mais poderosa do mundo. “Gostava de dizer que passei meses numa floresta a escutar conversar e a vigiar mafiosos. Não é verdade. Limitei-me a convidar procuradores para almoçar e a dar-lhes uma pen drive que eles me devolviam cheia de documentos”, diz, a rir. Não foi só isso, claro, mas percebe-se. Os procuradores em Itália guardam registos de todas as entrevistas com suspeitos ou denunciantes e podem divulgá-los assim que os processos avançam. Perry falou com eles e teve acesso a milhares e milhares de páginas: entrevistas, testemunhos, escutas. O que ele faz, magistralmente, é usar toda essa informação para nos contar uma história com sentido. “Se o que fiz tem algum valor é o de juntar muita informação dispersa encadeando-a e fazendo o retrato possível destas mulheres, da ’Ndrangheta e do combate que a Justiça travou. ” É precisamente isso que o livro faz. E não é nada pouco. É tanto que levou dois anos a conseguir. A ideia inicial era um artigo que “por sorte ninguém comprou”. Cresceu para um livro acabado de publicar no Reino Unido e em Portugal. E em Itália? “Não há interessados. Não percebem o que um 'não italiano' pode ter para dizer sobre estes temas, para acrescentar ao que que os italianos já sabem”, diz Perry. Aliás, esse preconceito esteve sempre presente na investigação. “A própria Alessandra, julgo que teve sempre muito medo do que sairia dali. Principalmente quando soube que no fim haveria um livro. ”Que o autor saiba, Alessandra (que Perry aprendeu a respeitar e a admirar, como se torna óbvio na conversa com o P2) ainda não terá lido As Boas Mães. “Devia enviar-lhe uma cópia, não era?” Era. Percebe-se que se há opinião que conta é esta, a de alguém com quem Perry deixou a conversa por terminar (“esteve sempre disponível, mas depois de vender os direitos da sua história para Hollywood não apareceu no último encontro”) e cuja “exigência e crivo” parecem impossíveis de satisfazer. Concetta hesita demasiado, foge de casa, volta para casa, foge de casa e às tantas regressa sabendo que será morta mas, sem conseguir estar longe dos filhos, acreditando que tem um ano, ano e meio de vida. Não tem. Quando diz à mãe que vai voltar a fugir e reafirmar tudo o que disse às autoridades traça o seu destino. Polícias e procuradores como Alessandra esperam em vão por um telefonema para a ir buscar a casa dos pais, a ela e aos filhos. O telefone nunca toca e Concetta acaba no banco de trás de um carro a caminho do hospital. Já está morta. Bebeu uma tal quantidade de ácido que ninguém conseguiria ingerir por vontade própria, tal seria o sofrimento. Giuseppina também avança e recua. É presa, quer falar, depois recua, a família faz com que publique um desmentido num jornal da Calábria, a mãe usa os seus três filhos (tantos como os de Concetta) para a chantagear. Telefones que não deveriam entrar na prisão fazem o seu caminho para servirem um propósito claro. Mais tarde, Alessandra e outros procuradores ouvirão estas conversas. Como as da mãe de Giuseppina com outros familiares – diálogos que darão a ouvir a Giuseppina, derradeira confirmação que está a ser enganada. Há um momento em que Giuseppina está prestes a sair do programa de testemunhas e Alessandra sabe que ficará à mercê da família. A procuradora quase enlouquece. Giuseppina fugiu-lhe, recusou assinar tudo o que denunciou. Mas quer salvá-la. Quando sabe que ela saiu para um último passeio com o homem por quem entretanto se apaixonou, compreende que tem ali uma oportunidade: ao afastar-se demasiado da casa de protecção viola as regras do seu estatuto, no último dia em que é obrigada a cumpri-las. Alessandra fala com o comandante de polícia da zona, quer que ele feche estradas inteiras para a deter. Ele recusa, mas põe polícias na estrada à procura do carro com o casal. Às tantas, Alessandra já está ao telefone com os agentes espalhados pelo caminho, grita-lhes, enervada, descreve uma e outra vez a mulher que devem procurar. Finalmente Giuseppina é detida, a tempo. É na prisão que Alessandra lhe dará tempo para pensar. Muito tempo. E Giuseppina acabará por encontrar a clareza de espírito necessária. A morte de Concetta, de quem fora amiga, ajuda. Subitamente não restam dúvidas. Só se salvará, a ela e aos filhos, se virar completamente as costas à família. Se os enviar a todos para a prisão por muitos anos. É isso que faz, 64 membros da sub-organização da ’Ndrangheta Pesce. Testemunha ainda no caso de Concetta. E vive. O pai de Concetta, Michelle Cacciola, ao saber da traição da filha, num episódio gravado: “Aquela merdosa desprezível!”, “Trabalhei 20 anos para ela!”, “Eles estão à espera que uma mulher me possa desgraçar. Mas que pode ela saber a meu respeito? Ela não sabe nada. O que pode uma mulher saber na minha casa? Acham que eu falei à minha filha no raio do meu negócio? Ela não sabe nada!”. Primeiro dia do julgamento do clã Pesce: “já sabiam que estavam a ser julgados por uma procuradora com base no testemunho de uma mulher”. Por alguma razão, no caminho para a sala do tribunal os réus depararam-se com uma proporção invulgar de mulheres entre funcionários, jornalistas, polícias, advogados… Quando “os juízes entraram, um presidente e dois assistentes, os ’ndranghetisti ficaram espantados ao ver mais três mulheres”. E gritaram. “Não! Não! Aquilo não!”“Uma sinfonia da libertação das mulheres”, diria Alessandra, a recordar o momento a Perry. “Giuseppina sabe que o que fez é mais uma sentença de morte. A traição dela tinha de ser castigada com a morte e teria de ser o irmão, alguém do mesmo sangue, a matá-la para restabelecer a honra da família. E um dia ele sairá da prisão”, diz Alessandra. Mas Giuseppina nunca mais voltou a duvidar de si mesma. “Para Giuseppina, o que ela fez foi um acto de amor para com os filhos. ” Escolheu a sua família. “Ela está óptima. Na verdade, penso que está feliz. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Denise libertou-se ao decidir testemunhar contra os assassinos da mãe. O pai, tios, mas também o jovem por quem entretanto se apaixonara, Carmine. Sim, Denise, que sempre soube que a mãe fora morta naquela noite (e que não fugira para a Austrália, como dizia Carlo) e decidiu fingir para não ser ela própria morta pelo pai, acaba por se apaixonar por um dos assassinos da mãe. Mas sobrevive. Ao contrário de Lea, está sozinha mas não está. A multidão no funeral. As cartas de admiração e agradecimento. As concentrações contra a máfia. “Oiço, vejo, falo”, a frase nas T-shirts com o rosto de Lea, a faixa sobre o caixão. No elogio fúnebre, Don Luigi disse que Lea não tinha mais que se preocupar. “Denise tem agora uma família com milhares de membros para cuidar dela. ”As detenções continuam, no início deste ano dezenas de pessoas foram presas com base nos testemunhos de Lea. E ainda não pararam de aparecer mais Leas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte homens filha filho tribunal educação mulher prisão ajuda homem adolescente social medo espécie mulheres princesa casamento morto luto perseguição morta vergonha
Berlusconi: “É melhor gostar de raparigas bonitas do que ser gay”
O primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, afirmou que “é melhor gostar de raparigas bonitas do que ser gay” e garantiu que o Governo se vai manter em funções até ao final do mandato. (...)

Berlusconi: “É melhor gostar de raparigas bonitas do que ser gay”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 12 Homossexuais Pontuação: 16 | Sentimento 0.588
DATA: 2010-11-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, afirmou que “é melhor gostar de raparigas bonitas do que ser gay” e garantiu que o Governo se vai manter em funções até ao final do mandato.
TEXTO: A declaração surge quando a oposição pede a demissão de Berlusconi após a alegações de que ele teria ajudado uma jovem de 17 anos que esteve em festas na sua casa, pedindo à polícia que libertasse a rapariga, detida por suspeitas de furto. O primeiro-ministro italiano recusa-se a pedir desculpas e recusa ter tido algum comportamento menos próprio. “Como sempre, trabalho sem interrupção e se ocasionalmente vejo uma jovem bonita e a olho na cara, é melhor gostar de jovens bonitas do que ser gay”, afirmou Berlusconi num encontro da indústria de motociclistas em Milão. “Devem ficar completamente certos de que o Governo ainda tem uma maioria e tenciona governar até ao final do mandato”. Um dos líderes da oposição com popularidade crescente, Nichi Vendola, governador de Puglia, é homossexual. Os jornais italianos têm dado atenção ao caso “Ruby”, alcunha da jovem detida em Maio pela polícia por alegadamente ter roubado dinheiro a uma amiga. Soube-se depois que Ruby tinha estado presente em festas na villa de Berlusconi. O Gabinete do primeiro-ministro admite ter intercedido a favor de “Ruby” depois de saber da sua detenção, mas Berlusconi nega ter feito algo impróprio. “Verão no final que nada mais aconteceu sem ser um acto de solidariedade do primeiro-ministro, que eu me teria envergonhado de não fazer”. A jovem que entretanto fez 18 anos e que segundo a imprensa italiana se chamará Karima El Mahroug, afirmou à imprensa que recebeu 7 mil euros de Berlusconi depois de ir a duas festas, mas nega ter tido relações sexuais com o primeiro-ministro, de 74 anos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homossexual gay rapariga
Onda de solidariedade para procurar pais de menina loura encontrada na Grécia
"Maria" foi encontrada em acampamento cigano. Testes mostraram que não é filha do casal com quem estava. Autoridades tentam agora encontrar os pais da menina que terá quatro anos. (...)

Onda de solidariedade para procurar pais de menina loura encontrada na Grécia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 12 Ciganos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Maria" foi encontrada em acampamento cigano. Testes mostraram que não é filha do casal com quem estava. Autoridades tentam agora encontrar os pais da menina que terá quatro anos.
TEXTO: A instituição que está a acolher “Maria”, a menina loura com cerca de quatro anos que foi encontrada num acampamento de ciganos na Grécia com uma família com a qual não tem laços biológicos, recebeu mais de 8000 chamadas com possíveis pistas e tentativas de ajuda para chegar aos pais da criança. Até agora a polícia ainda não conseguiu descobrir a identidade da menina, mas suspeita-se que tenha sido vítima de rapto ou envolvida numa rede de tráfico de crianças, relata a BBC. As autoridades gregas lançaram um apelo para que todos os que pudessem ter pistas sobre o possível paradeiro da família ou as circunstâncias em que a criança foi parar ao acampamento contactassem a organização. Os únicos dados avançados é que tem pele branca, terá nascido em 2009, tem um metro de altura e 17 quilos. Outra hipótese colocada pelos investigadores é que a criança seja oriunda do Norte ou Leste da Europa. A Interpol também já foi chamada para o caso, diz o El País. Até agora os testes de ADN feitos a “Maria”, nome como tem vindo a ser conhecida, confirmaram que não era filha do casal com quem estava a viver. A menina foi encontrada na quarta-feira, durante uma rusga da polícia a um acampamento cigano, por suspeitas de actividade delituosa, perto de Farsala, centro da Grécia, 280 quilómetros a norte de Atenas. Seis crianças dadas à luz em dez mesesA BBC contou que os agentes suspeitaram do enorme contraste físico entre a criança de cabelos louros e olhos azuis e os pais. E que ficaram ainda mais desconfiados quando analisaram os documentos da família — o casal registou diferentes crianças em diferentes registos familiares regionais. A mulher alegou também ter dado à luz seis crianças num período de dez meses. No total, o casal, ela com 40 anos, ele com 39, alega ter 14 filhos. Incluindo Maria, tinha actualmente quatro consigo. A Sky News, citando Costas Giannopoulos, director da instituição que tem agora ao seu cuidado Maria, apresenta uma versão ligeiramente diferente, mas não contraditória, do modo como foi detectada a presença de Maria. Foi, disse, a procuradora que acompanhou a operação policial quem reparou na criança: “Ela viu uma cabecinha loira saindo de debaixo dos lençóis. Pareceu-lhe estranho, e foi assim que tudo começou”. Giannopoulos explicou que a criança está confusa e chocada com o que se passa à sua volta. Era usada para mendigar nas ruas de Larissa, por ser loura e bonita, disse também. O próprio casal vacilou na explicação sobre a origem da criança. Segundo informações já antes avançadas pelo director da polícia da província de Thessalia, Vassilis Halatsis, primeiro terão dito que encontraram “Maria” num cobertor mas, depois, disseram que a menina lhes tinha sido entregue por estranhos e, por fim, que tinha pai estrangeiro. Ficaram presos, por suspeita de rapto de menor e falsificação de registos e serão presentes a tribunal nesta segunda-feira. À AFP, os advogados do casal insistiram que a menina nunca foi raptada ou roubada e que apenas ficaram a tomar conta dela porque em 2009 a mãe biológica não podia tomar conta dela e decidiu entregá-la pouco depois de nascer. A notícia está também a gerar reacções por parte da comunidade cigana, com uma associação de Farsala a dizer que o casal detido tratava “Maria” ainda melhor que os seus próprios filhos e que a amavam. Temem também que esta notícia gere uma onda de discriminação contra a comunidade que vive naquele país. No Reino Unido, o caso levou a associações à situação, que continua bem presente e sob investigação, de Madeleine McCann, a criança desaparecida em 2007 de um aldeamento turístico na Praia da Luz, no Algarve. Um porta-voz dos pais de Maddie disse ao jornal Daily Mirror que o caso de Maria lhes dá alento. “Isto dá a Kate e Gerry grande esperança de que Madeleine possa ser encontrada viva”, declarou. Outros casos voltaram também às páginas dos jornais, como os desaparecimentos de Ben Nidam e de Alex Meschisvilli – o primeiro dos quais desapareceu com 21 meses, em 1991, precisamente numa ilha grega, diz o El País. Motivo de discussão é também a facilidade em obter documentos oficiais para crianças, mesmo quando não há qualquer parentesco com elas. “Estamos chocados com o quão fácil é registar crianças como se fossem delas próprias”, disse Costas Giannopoulos à televisão grega Skai. “Há muito mais a investigar. . . Acredito que a polícia irá desvendar uma trama que não tem apenas a ver com esta menina. ”
REFERÊNCIAS:
Étnia Cigano
Homem que atropelou menina chinesa formalmente acusado de homicídio
Foi formalmente acusado de homicídio o homem suspeito de ter atropelado uma menina de dois anos que foi ignorada posteriormente por várias pessoas e que veio morrer devido aos ferimentos sofridos. (...)

Homem que atropelou menina chinesa formalmente acusado de homicídio
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 12 Asiáticos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-10-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi formalmente acusado de homicídio o homem suspeito de ter atropelado uma menina de dois anos que foi ignorada posteriormente por várias pessoas e que veio morrer devido aos ferimentos sofridos.
TEXTO: Hu Jun, de 24 anos, foi acusado de ter provocado os ferimentos mortais à criança que os media chineses apelidam de Yue Yue na cidade de Foshan, no sul do país, no passado dia 13 de Outubro. Hu Jun, que poderá cumprir três a sete anos de prisão caso seja considerado culpado, entregou-se à polícia três noites após o acidente, refere a AFP. As imagens captadas pelas câmaras de segurança mostram que, após o atropelamento, pelo menos 18 pessoas passaram pela menina que estava estendida no chão e coberta de sangue e não fizeram nada para a ajudar. Algumas notícias iniciais davam conta que a menina teria sido atropelada uma segunda vez, quando já estava ferida no chão, mas o jornal “Procuratorial Daily” (que noticia agora a acusação contra Hu Jun) não faz qualquer referência a isso. Só ao final de vários minutos é que Yue Yue, a filha de um casal de trabalhadores migrantes, foi ajudada por uma empregada de limpeza, que se debruçou sobre a menina e pediu ajuda, sendo agora considerada uma heroína em todo o país. A polícia de Foshan recusou-se a fazer qualquer comentário sobre este caso. Este acidente espoletou uma enorme polémica na China, obrigando o país a questionar-se sobre os seus valores éticos e morais.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha prisão ajuda criança
Paraguai impede menina de dez anos violada pelo padrasto de abortar
As autoridades ignoram pressão internacional e defendem que não há risco para a vida da menina. (...)

Paraguai impede menina de dez anos violada pelo padrasto de abortar
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: As autoridades ignoram pressão internacional e defendem que não há risco para a vida da menina.
TEXTO: A menina tem 10 anos, pesa 34 quilos, mede 1, 39. Está grávida de cinco meses. Soube há menos de duas semanas, depois de a mãe a ter levado ao hospital, por causa de dores de estômago. A mãe, que tinha denunciado no ano passado possíveis abusos do padrasto à sua filha, foi presa por cumplicidade, o padrasto fugiu. A mãe pediu que fosse permitido à filha abortar. Mas as autoridades do Paraguai rejeitaram o pedido. “Para abortar, tinha de ser antes das 20 semanas”, disse o ministro da Saúde, Antonio Barrios, que foi antes médico pessoal do Presidente, Horacio Cartes. “O aborto é uma opção que descartámos completamente. ”Várias organizações não-governamentais estão a tentar pressionar para que o Paraguai mude de opinião. “Este é um atentado contra os direitos humanos”, disse Elba Núñez, da associação CLADEM, ao diário espanhol El País. A vice-directora da Amnistia Internacional para a América, Guadalupe Marengo, defende que esta recusa é uma violação da lei internacional. “O impacto físico e psicológico de obrigar esta menina a continuar uma gravidez não desejada é equivalente a tortura. ”A organização americana Center for Reproductive Rights está a preparar um processo contra o Governo do Paraguai alegando que o parto poderá trazer “danos permanentes” para a menina, e tem uma petição online sobre o caso. O Paraguai apenas permitiu uma vez um aborto selectivo por estar em causa a saúde da mãe, em 2009, por uma gravidez ectópica (fora do útero). Nunca num caso de uma menina, e segundo as estatísticas, estes não são assim tão raros: 680 meninas com idades entre dez e 14 anos deram à luz em 2014. As ONG dizem que a maioria foram vítimas de violação por parentes. A América Latina tem algumas das leis mais restritivas do aborto do mundo, com seis países a proibirem-no totalmente. No Paraguai há apenas uma excepção, a do risco para a saúde da mãe. Assim, muitas mulheres optam por fazer abortos ilegalmente (haverá entre 26 e 30 mil abortos ilegais por ano, segundo a ONU). “Equivalente a tortura”A CLADEM e a Amnistia Internacional pedem que uma junta médica independente avalie os riscos – que para ambas as ONG são evidentes – de um parto numa menina tão pequena. Uma mulher em idade reprodutiva (15 a 44 anos) tem uma probabilidade de morrer por complicações de parto de um em cada 310 partos. Estatísticas internacionais mostram que mães com menos de 15 anos têm um risco cinco vezes maior de morrer de complicações da gravidez e parto do que as mulheres adultas. Adolescentes muito jovens, com menos de 15 anos, têm riscos especiais comparado com mulheres adultas, nota Dalia Brahimi, directora da organização Ipas (de defesa dos direitos reprodutivos das mulheres), ao jornal britânico The Guardian: eclampsia (hipertensão), infecção, parto prematuro ou restrição de crescimento intra-uterino. De momento, a menina está num hospital da Cruz Vermelha separada da família, de Luque, uma pequena localidade perto da capital, Assunção. A mãe está presa e teme pela sua vida, porque as outras detidas a culpam por não se ter separado do padrasto, conta Elba Núñez. A única família que a menina pode ver são as suas tias, duas horas por dia. A juíza que se ocupa do caso, Pili Rodrigués, falou por telefone ao diário El País. Invocou a Constituição, que “protege a vida desde a concepção”. Acrescentou que no Paraguai “não se conhecem casos de médicos que tenham interrompido gravidezes de meninas”, e que os médicos é que decidem. Ao juiz cabe apenas “proteger a menina, porque o pai está há muito ausente, a mãe na prisão e o padrasto em fuga”, declarou. “O que temos a fazer é voltar a accionar o sistema de prevenção para que não volte a acontecer. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
“Ela é uma guerreira e vai ultrapassar isto", dizem os fãs de Princesa Leia, isto é, de Carrie Fisher
Fãs correram a ver Rogue One no dia de Natal, para ver a jovem princesa guerreira em versão digital, enquanto a actriz está hospitalizada. (...)

“Ela é uma guerreira e vai ultrapassar isto", dizem os fãs de Princesa Leia, isto é, de Carrie Fisher
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20161231222341/https://www.publico.pt/n1756088
SUMÁRIO: Fãs correram a ver Rogue One no dia de Natal, para ver a jovem princesa guerreira em versão digital, enquanto a actriz está hospitalizada.
TEXTO: Os fãs da actriz Carrie Fisher, de 60 anos, dizem-se tristes por saberem que a estrela de Guerra das Estrelas está internada, em estado grave, depois de ter sofrido um ataque de coração durante um voo Londres para Los Angeles, na sexta-feira, mas ao mesmo tempo sentem-se inspirados porque a jovem Princesa Leia aparece no mais recente episódio da saga cinematográfica, Rogue One. “Carrie está estável. Se houver alterações, vamos partilhá-las convosco. A todos os fãs e amigos, agradeço as vossas preces e desejos de melhoras”, disse Debbie Reynolds, a também actriz e mãe de Carrie Fisher. Apesar de tudo, é um progresso em relação a sábado, quando o irmão, Todd Fisher, tinha dito que Carrie estava em estado crítico. Um porta-voz do Centro Médico Ronald Reagan da Universidade da Califórnia em Los Angeles recusou fazer mais comentários, por causa das leis que protegem a privacidades dos doentes. Muitos fãs foram ver o novo filme Rogue One no dia de Natal, em que no fim surge uma réplica digital da jovem Princesa Leia. “É surreal que este filme saia agora. Pensar que a Princesa Leia/Carrie Fisher teve um ataque de coração é assustador”, disse Mike Rosenberg, de 28 anos, que trabalha na finança, ao sair de um cinema de Times Square, em Nova Iorque. “É Natal. Tenho a certeza que muitas pessoas a têm hoje no coração. ”Os espectadores prenderam a respiração quando viram a Princesa Leia, contou Heather Kemp, uma advogada de 44 anos, que tinha acabado de sair do cinema. “Foi triste e inspirador ao mesmo tempo”, disse. “Quando se vê uma personagem como o C3PO e o R2D2, o público reagia. Mas sim, com ela havia mesmo uma reacção. ”Fisher desempenhou o papel de Leia na trilogia original, de 1977 a 1983, e retomou o papel no ano passado, quando a Disney retomou a série, no filme O Despertar da Força, quando a personagem tinha o título de general Leia Organa na Força Rebelde. A personagem de Princesa Leia, que era corajosa e uma boa combatente, além de glamourosa, tornou-se um modelo a imitar para Kemp, quando ela viu o primeiro filme da Guerra das Estrelas. “Ela é atrevida”, explicou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Ela é uma guerreira e vai conseguir ultrapassar isto”, comentou Alexa Mullaly, de 38 anos, de Skokie, um subúrbio de Chicago, que atribuía características da personagem à actriz. “Cresci a ver a Guerra das Estrelas e adorava a Princesa Leia. ”Gary Mendel, em Evaston, resumiu os sentimentos de muitos fãs, que viram tantos artistas desaparecer em 2016. “Espero que este ano já tenha levado um número suficiente dos nossos ídolos e que permita que ela recupere”, disse. Reuters
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra ataque princesa
Morreu a “menina da rádio”
A actriz Maria Eugénia Pinto do Amaral, que se celebrizou aos 17 anos como protagonista do filme A Menina da Rádio, morreu esta quinta-feira em Lisboa aos 89 anos. O velório realiza-se este sábado e o funeral no domingo. (...)

Morreu a “menina da rádio”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A actriz Maria Eugénia Pinto do Amaral, que se celebrizou aos 17 anos como protagonista do filme A Menina da Rádio, morreu esta quinta-feira em Lisboa aos 89 anos. O velório realiza-se este sábado e o funeral no domingo.
TEXTO: Conhecida como “a menina da rádio” desde que protagonizou em 1944, ainda adolescente, o filme homónimo de Arthur Duarte, a actriz e cantora Maria Eugénia, que contracenou com os grandes nomes do cinema da época, como António Silva, Ribeirinho, Laura Alves ou Milú, morreu esta quinta-feira em Lisboa, aos 89 anos. Com uma carreira curta no cinema, da qual desistiu no final dos anos quarenta, quando se casou com o médico António Pinto do Amaral, Maria Eugénia Rodrigues Branco Pinto do Amaral, a Geninha de A Menina da Rádio, participou, ainda assim, em mais dois filmes de Arthur Duarte: a produção luso-espanhola O Hóspede do Quarto Treze (1946), onde interpreta uma jovem de coração puro, filha de um banqueiro, que salva do suicídio um duque afundado em dívidas de jogo, e O Leão da Estrela, uma das mais bem-sucedidas comédias portuguesas da época, onde volta a fazer o papel de rapariga ingénua, contracenando com António Silva e Milú, cuja carreira juvenil como cantora na rádio inspirara o filme de Arthur Duarte. Maria Eugénia entrou ainda em alguns filmes espanhóis, como Héroes del 95, de Raúl Alfonso, um filme histórico baseado em factos reais cuja acção decorre em Cuba, e Quando os Anjos Dormem e Conflito Inesperado, ambos de Ricardo Gascón. No primeiro contracena com o galã italiano Amedeo Nazzari, através do qual recebe um convite para trabalhar com Vittorio De Sica, que recusará. Filha do músico Francisco José da Silva Branco e de Lara Augusta da Silva Rodrigues, Maria Eugénia nasceu em Lisboa no dia 1 de Abril de 1927. Ficou sobretudo conhecida pela sua meteórica passagem pelo cinema português e espanhol, mas chegou também a trabalhar na rádio. Casou-se com António Pinto do Amaral, de quem foi segunda mulher, e com quem teve dois filhos, Alcino Pinto do Amaral, que morreu aos vinte anos num acidente rodoviário, e o poeta, ensaísta, tradutor e professor de literatura Fernando Pinto do Amaral. A investigadora Rute Silva Correia publicou em 2011 uma biografia da actriz, Maria Eugénia, A Menina da Rádio, publicada pela Oficina do Livro e prefaciada por Júlio Isidro. Na reportagem televisiva do lançamento, o apresentador nota que o filme A Menina da Rádio foi já visto por quatro gerações de espectadores e diz que Maria Eugénia é um “cometa” que passou pelo nosso cinema por uns breves quatro anos, mas deixou "um rastro que perdura até hoje". A actriz Carmen Dolores sublinhou na mesma ocasião que, logo em A Menina da Rádio, o filme que a revelou e celebrizou – faz de filha de António Silva –, Maria Eugénia tem “uma naturalidade, uma fotogenia e uma presença” que fizeram com que nunca mais fosse esquecida. A actriz agradeceu as várias homenagens e confessou: “Nunca pensei que aos 84 anos ainda se lembrassem tanto de mim”. Presente no lançamento, o seu filho Fernando Pinto do Amaral confessou que, após a morte do seu pai, em 1977, ainda lhe ocorrera que a mãe, que só tinha então 50 anos, ainda retomasse a carreira artística, o que não veio a acontecer. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O velório será na Basílica da Estrela, em Lisboa, a partir das 18h deste sábado. Haverá missa no domingo, às 14h30, com funeral para o Cemitério dos Prazeres. Notícia actualizada para acrescentar informações sobre o velório e funeral da actriz.
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Precisamos de mais mulheres nas tecnologias de informação
As competências específicas das mulheres tornam-nas boas profissionais em muitas áreas em que uma formação superior em TIC constitui uma mais-valia. (...)

Precisamos de mais mulheres nas tecnologias de informação
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.5
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: As competências específicas das mulheres tornam-nas boas profissionais em muitas áreas em que uma formação superior em TIC constitui uma mais-valia.
TEXTO: Celebra-se hoje, a nível mundial, o “Girls in ICT Day”, uma iniciativa da União Internacional das Telecomunicações com o objectivo de aumentar a consciencialização das jovens mulheres sobre as oportunidades de carreiras nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Mas de que oportunidades se trata?A área das TIC é uma das áreas em maior expansão a nível mundial. Os computadores e as comunicações sobre a Internet estão a penetrar em cada vez mais sectores de actividade. E há uma enorme falta de profissionais com formação superior e altamente qualificados nestas áreas, sendo que a tendência é que o problema se vá tornar mais grave. A ex-vice-presidente da Comissão Europeia Neelis Kroes, em muitas das suas intervenções públicas, chamava a atenção para que um dos modos de minorar esta falta de recursos humanos na área é trazer mais mulheres para as profissões ligadas às TIC. Trata-se de uma área que tem um conjunto de aspectos que são relevantes:1) É uma área transversal, na medida em que a informática e as comunicações são usadas em todos os sectores de actividade e isso irá aumentar nos próximos anos com a chamada "Internet das Coisas";2) Há uma enorme falta de profissionais nesta área, havendo imensas oportunidades de emprego, e a tendência é que esta falta de pessoas com formação em TIC aumente;3) É uma profissão sem fronteiras; enquanto muitas profissões só podem ser exercidas em Portugal ou num número limitado de países. Por exemplo, um jurista é formado com a legislação nacional e torna-se difícil ir trabalhar para outro país; um médico, na maioria das especialidades, precisa de dominar muito bem a língua do país onde exerce; o mesmo acontece com um psicólogo. Pelo contrário, a linguagem dos computadores, da informática e da Internet é universal. 4) Apesar das muitas vantagens, muitas raparigas nem consideram a possibilidade de uma carreira em TIC. No ensino superior português, ao contrário do que acontece na maior parte das áreas em que o número de alunas é maior do que o número de alunos, nas TIC o número de alunas tem sido reduzido. Neste contexto, o Departamento de Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa comemora o “Girls in ICT World Day” no evento Girls in ICT @CiênciasULisboa, em que procuramos alertar as jovens, os seus pais e os professores para as enormes oportunidades de carreira e realização pessoal e profissional que existem nesta área do conhecimento. As competências específicas das mulheres tornam-nas boas profissionais em muitas áreas em que uma formação superior em TIC constitui uma mais-valia, pela sua capacidade de trabalhar em contextos interdisciplinares. Numa época em que as TIC estão a transformar o mundo, as mulheres têm a oportunidade de contribuir de forma activa e significativa na construção do futuro global. Como curiosidade final: sabia que o primeiro programador da história foi uma mulher, Ada Lovelace, e que o seu nome é usado num prémio para mulheres em informática e, também, como nome de uma linguagem de programação? Com o seu talento, Ada aplicou imaginação poética à ciência e teve um papel fundamental no início da era digital. Ana Luísa Respício, Ana Paula Afonso, Cátia Pesquita, Dulce Domingos, Teresa Chambel, Pedro VeigaProfessores do Departamento de Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos mulher mulheres
Morreu Alberta Adams, a rainha dos blues de Detroit
A cantora norte-americana sucumbiu a anos de insuficiência cardíaca, anunciou a sua editora na sexta-feira. Tinha 97 anos e só recentemente abandonara os palcos — com alguma relutância. (...)

Morreu Alberta Adams, a rainha dos blues de Detroit
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 12 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A cantora norte-americana sucumbiu a anos de insuficiência cardíaca, anunciou a sua editora na sexta-feira. Tinha 97 anos e só recentemente abandonara os palcos — com alguma relutância.
TEXTO: "Exactamente como num blues", escreveu ontem o Detroit Free Press na primeira linha do texto que anunciou ao mundo a morte de Alberta Adams, a decana dos blues de uma cidade orgulhosamente blue-collar: "Nasceu no calor de Julho, morreu no dia de Natal". Mas não é um blues, é a vida de Alberta Adams, a cantora norte-americana que nasceu Roberta Louise Osborne em Indianápolis, num dia quente do Verão de 1917, e que morreu na manhã de quinta-feira, sucumbindo a anos de insuficiência cardíaca, informou em comunicado a sua editora, a Eastlawn, citada pela Billboard, acrescentando que o velório decorrerá entre segunda e terça-feira na Swansea Funeral Home, em Detroit, e que o funeral sairá às 11h de quarta-feira da Bethel Baptist Church. Alberta Adams tinha 97 anos e estava internada numa unidade de reabilitação em Dearborn desde a semana passada: não era de prever que recuperasse, mas também não seria totalmente impensável que tal acontecesse, tratando-se como se tratava de uma artista com mais do que uma vida para viver. "Deus pôs-me neste mundo para cantar blues", disse ao Free Press em 1999, justamente no segundo pico de uma carreira tardia que a levou em digressão por todo o continente norte-americano. "Era a última das cantoras de blues da velha guarda, das grandes vozes do pós-guerra que deixaram a sua marca na década de 40", afirmou R. J. Spangler, manager e produtor de Alberta Adams. Já não tinha sido fácil, o caminho até lá. Filha de mãe alcoólica, Roberta Louise mudou-se ainda em criança para Detroit, onde foi criada por uma tia. "Ela sabia que tinha de fazer alguma coisa, que tinha de ser alguém. Essa urgência de fazer coisas tinha a ver com o facto de não ter tido absolutamente nada enquanto estava a crescer", disse à Billboard o seu antigo promotor, Matt Lee. A sua carreira artística iniciou-se nos anos 20, altura em que fez sapateado num clube nocturno de um bairro negro de Detroit, o Black Bottom. Pouco tempo depois já estava a estrear-se como cantora, substituindo a cabeça-de-cartaz do Club B and C e conquistando um contrato de cinco anos, mas demorou mais de uma década a ser descoberta por uma editora de Chicago, a Chess Records, com a qual acabou por gravar vários singles. O título de "Rainha dos Blues" chegou mais tarde, quando o mestre de cerimónias do seu primeiro concerto no mítico Apollo Theatre, em Nova Iorque, a apresentou espontaneamente assim. Foi nessa qualidade que abriu para músicos como Duke Ellington, Louis Jordan, John Lee Hooker e T-Bone Walker. "Conhecia toda a gente e tinha um enorme sentido do decoro e do que significava trabalhar na indústria do entretenimento. Costumava contar que uma vez a Billie Holiday lhe batera na cabeça ao vê-la a mastigar uma chiclete no camarim. ""Profissional até ao fim", Alberta Adams continuava a actuar em meados da década de 90, quando Spangler a resgatou do relativo anonimato em que se encontrava, tal como outros veteranos do blues de Detroit, incluindo os entretanto desaparecidos Johnnie Bassett e Joe Weaver. A nova banda com que passou então a apresentar-se relançou-a numa carreira internacional e permitiu-lhe gravar ainda mais dois discos (Born With The Blues, em 1999, e Say Baby Say, um ano mais tarde), os primeiros desde os anos 60. "Divertiu-se imenso. Nunca resmungava, nunca se negava a nada num concerto, estava sempre disposta a conhecer os seus admiradores e a agradecer-lhes no final. Por vezes passávamos mais de oito ou dez horas dentro de uma carrinha e mesmo assim ela partia tudo quando chegava ao palco", contou Spangler ao Detroit Free Press. Em 2008, já severamente debilitada depois de uma queda e de sucessivas hospitalizações, Alberta gravou o seu último álbum, Detroit Is My Home (Eastlawn Records), que sucedia ao anterior I'm On The Move, de 2004. "Tinha uma maneira de cantar e uma prosódia inconfundíveis. Podia pegar num standard do blues e fazê-lo seu, sem denunciar demasiadas influências. Era totalmente ela própria", recorda Spangler. Rainha incontestada dos blues de Detroit, Alberta Adams parece deixar um enorme vazio numa cidade já de si desmoralizada pela devastadora crise económica dos últimos anos. "Tinha sempre uma palavra simpática ou um encorajamento para dar aos recém-chegados. Era uma verdadeira jóia num negócio muito feio. Deixa um espaço gigantesco que nunca poderá ser verdadeiramente preenchido", disse à Billboard Steve Allen, da Detroit Blues Society.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra filha rainha negro criança cantora