“Aprendi liberdade com o Brasil”
Ao terceiro disco, Canto, Carminho assume o fado com uma parte da portugalidade que passou a interiorizar como marca. O Brasil ajudou, e muito, nesta sua escolha (...)

“Aprendi liberdade com o Brasil”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao terceiro disco, Canto, Carminho assume o fado com uma parte da portugalidade que passou a interiorizar como marca. O Brasil ajudou, e muito, nesta sua escolha
TEXTO: Foi em Junho de 2013 que Caetano Veloso, ao ouvir Carminho cantar no Rio (Sabiá, uma canção de Tom), falou em "breve milagre". E ela, que acredita nos sinais do mundo, quis continuar à altura do elogio. O seu terceiro disco, Canto, surgido depois de uma notável apresentação no festival Caixa Alfama de 2014, mostra uma voz com o fado sempre à flor da pele, vulcão de erupções controladas, ora subtis ora torrenciais, para onde são chamados sons e vozes de outros universos sem que isso lhe atrapalhe o caminho, pelo contrário. Se há aqui algo que comande é a sua voz, a sua sonoridade, o seu tom, aninhado em fraternidades. O Brasil, sem lhe adulterar o caminho, foi marcante. "Em termos artísticos tenho aprendido muito. Primeiro foi o encontro com o Chico [Buarque], o Milton [Nascimento] e a Nana [Caymmi], que são três intérpretes com características únicas, o Chico nomeadamente nas composições e na poesia, o Milton na sua forma de interpretar e na sua capacidade musical — parece que não há nada que ele não saiba, na música, é impressionante — e a Nana como cantora de eleição que é, onde nada é dito ao acaso, uma Beatriz da Conceição no Brasil. "Isso foi ainda em 2012, na edição especial do disco Alma. Mas a experiência continuou. "Primeiro que tudo, aprendi liberdade com o Brasil. De espírito, de expressão. Foi também o Brasil que me ajudou a dar mais voz às minhas composições [gravou agora duas]. Elas já existiam, mas eu não tinha a liberdade. Deu-me uma perspectiva de longe, de alguém que tem a mesma língua. Parecemos iguais e somos tão diferentes. E há um choque. Quando vamos a um país de língua diferente, a cultura é diferente e nem ponderamos igualar-nos. Mas quando estamos no Brasil, damos por nós a pensar que somos todos iguais e de repente levamos com reacções e atitudes muito diferentes, que me põem a pensar sobre a nossa introspecção e a nossa nostalgia, que tem coisas boas e más. Ou a nossa necessidade de individualismo, enquanto eles partilham muito, mesmo em termos artísticos. "O "sim" de CaetanoEntre os 14 temas do disco (há uma edição especial com 17), existe um com a assinatura de Arnaldo Antunes e Marisa Monte (Chuva no Mar) e outro co-assinado por Caetano Veloso, César Mendes e Tom Veloso, o filho mais novo de Caetano (O Sol, tu e eu). "Esse nasceu em casa da Marisa Monte", diz Carminho. "Estava lá o César Mendes, que é um dos parceiros de todos eles e toca também nos Tribalistas, junto com o Dadi Carvalho. Ele começou a tocar uma música e disse que a tinha feito uma semana antes com o Caetano e o seu filho mais novo, o Tom, porque o César é professor dele. Perguntou-me: ‘O que é que você acha?’ E eu disse: ‘acho linda’. E fiquei a matutar naquilo. Tive pudor de dizer que queria ficar com a música. Mas tomei coragem e mandei um e-mail ao Caetano Veloso: ‘ouvi a sua canção, apaixonei-me e gostava muito de a cantar no meu próximo disco. ’ Respondeu: ‘claro que sim, a música é sua, tenho todo o prazer, vai ficar tão bonito. ’ Entretanto fizemos a produção toda em Lisboa e eu fui mais tarde ao Rio e fui a casa dele mostrar-lhe a música, estava lá o Tom também, um rapaz de 17 anos muito magrinho com caracóis que faz imenso lembrar o pai quando ele era novo. Foi um momento muito especial para mim, quando ele se identificou com a interpretação que eu dei. O César também gostou muito. "Já com Marisa Monte, o tema nasceu de um "vamos fazer qualquer coisa" dito em casa dela. Foi ao arquivo, mostrou-lhe várias canções e foram cantando, sem compromisso. "Cantei várias coisas do disco, falei-lhe do mar, que é o que nos une, e quando chegámos a esta canção começámos a cantar umas partes ela e umas partes eu, a criar umas vozes por cima, e de repente olhámos uma para a outra e dissemos: ‘isto está a resultar’. Foi assim uma magia. Ela tinha dito: a canção é que nos vai escolher. E ela escolheu-nos mesmo. "Até a inclusão no disco de Reinaldo Ferreira, por estranho que pareça, nasceu no Brasil. "Eu e o Diogo [Clemente, violista e seu marido] estávamos num hotel em Porto Alegre e antes de ir para o concerto parámos no alfarrabista em frente ao hotel. Ele pediu para tirar um livro e, quando o tiraram, o que estava ao lado caiu no chão: Reinaldo Ferreira. " O poeta português, filho do célebre Repórter X, autor não só de Uma casa portuguesa, como também de Kanimambo ou de Menina dos olhos tristes. "Abrimos e de repente começámos a perceber que era ‘o’ Reinaldo Ferreira. " Viu o poema A ponte e foi paixão imediata. "Eu gosto muito de sinais, acho que o mundo funciona por sinais e devemos dar-lhes ouvidos. Não é ser fanática pelos sinais, mas gosto da intuição. Gosto de acreditar e acredito que o mundo fala por energia. Não que aquele livro tenha caído de propósito ou por uma força superior, mas já que caiu devia ter-lhe dado atenção. " E um fado nasceu, assim, da queda de um livro que foi o erguer de um poema. No caso, "vestido" com o Fado Menor do Porto por ideia dos dois. "Íamos experimentando, cantando e tocando. Metade deles dissemos não, largámo-los à primeira frase. Mas com o Menor do Porto eu não parei de cantar. "Viagens e identidadeO disco, porém, começou a nascer antes das idas dela ao Brasil: "Na verdade, os discos, para mim, vão-se fazendo. Uma pessoa vai lendo, vai ouvindo, vai-se inspirando, vai guardando. E foram surgindo vários temas e ideias de pedir a pessoas para compor. " Miguel Araújo é um deles. "Ele já tinha escrito várias coisas para mim, mas nunca tinha feito algo com que eu me identificasse. Desta vez, disse-me: ‘é o último, porque não quero receber mais uma nega’. Na verdade não eram negas, porque ele escreve maravilhosamente bem, mas não tinham a ver exactamente comigo, é só uma questão pessoal. " Afinal não foi o último, foi o primeiro. "Ele enviou-me um ficheiro áudio e eu liguei-lhe no segundo a seguir a dizer: ‘isto é meu, ai de quem gravar antes’. Esta é a minha cor, ele entendeu. "Só depois é que surgiu a decisão de enviar o tema (Ventura) a Jaques Morelenbaum, para fazer o arranjo. "Na verdade este disco foi nascendo destas viagens que eu tenho feito e da maturidade que vou conseguindo com elas, das coisas que vou aprendendo. Quanto mais viajo mais percebo o que é que sou, do que é que eu gosto, esta necessidade e vontade de preservar a minha identidade, a minha portugalidade. Porque o fado não é um todo na minha identidade. Eu acho que a música portuguesa é, por si só e por excelência, aquilo que eu realmente trago na minha memória, na minha história. A minha mãe cantava muitas músicas do cancioneiro popular, eu vivi no Algarve. Tudo isto misturado com o fado, que é o estilo que eu elejo como primordial, sinto muito orgulho e segurança nesta questão da identidade. Percebi que é mais importante do que nunca uma pessoa destacar-se por aquilo que tem de seu, não necessariamente único mas seu. E foi aquilo que eu fiz. "Dois poemas incluídos no disco conheceram já versões anteriores. Na ribeira deste rio, de Fernando Pessoa, tinha sido musicado no Brasil por Dori Caymmi. Mas Carminho gravou agora uma versão de Mário Pacheco provavelmente contemporânea ou até mesmo anterior à brasileira. "Ele tinha composto esse tema para a Amália, para um disco que infelizmente nunca saiu. Quando ouvi esse tema, disse: ‘Mário. ’ E ele: ‘é seu’. O Mário é um compositor iluminado, e então com estas palavras incríveis. O Fernando Pessoa, nós achamos que é só nosso mas é do mundo inteiro. No Brasil sabem tudo sobre ele. " Já o poema Espera, de Pedro Homem de Mello, ganhou, por lembrança de Diogo Clemente, a música do fado Janelas Enfeitadas, de Casimiro Ramos (1901-1973). "Ele lembrou-se do fado, achou a melodia linda, e quando eu estava a ler Pedro Homem de Mello, já com essa melodia na cabeça, achei que o Espera, um poema superior, se elevava com essa música. " Curiosamente, Espera tinha já sido gravado com música do Fado Margaridas, cujo autor, registado como tal, foi o violista Miguel Ramos, irmão mais novo de Casimiro Ramos. Sinais e coincidênciasOs discos anteriores de Carminho tinham nomes curtos e este não é excepção: ao estreante Fado (2009), sucederam-se Alma (2012) e agora Canto (2014). "Eu gosto. Acho que são mais biográficos do que nomes grandes. E Canto, aqui, tem a ver não só com o acto de cantar, que unifica todo o disco, mas também com o "canto" de lugar. Um lugar que cada vez mais sinto como meu, onde o fado tem um cunho incontornável mas onde a portugalidade vai entrando aos poucos, com a presença de vários instrumentos que fazem parte da sonoridade portuguesa mas que não fazem parte do fado, como o acordeão, o cavaquinho, os ritmos de regiões distintas de Portugal. É um encontro de raízes. "Neste encontro cabem, também, nomes inusitados. Como o de Martim Vicente, que ficou conhecido dos Ídolos. "Ele continua a estabelecer uma ligação muito grande com algumas pessoas da área da música que são também amigas do Diogo. E conheceram-se. Mostrou algumas canções ao Diogo, que ficou muito impressionado e decidiu (melhor, decidiram juntos) produzi-lo. Está por aí a sair um disco do Martim, com composições do Martim. Ora quando ouvi A canção, disse: quero este tema. ‘Queres saber uma coisa?’, respondeu o Diogo. ‘Ele disse-me que quando o compôs foi a pensar que seria para ti. ’" Mais uma prova, para Carminho, de que o mundo funciona por sinais. Ou coincidências. Como a que a leva a incluir, mas só na edição especial, uma canção de Carlos Paião, História linda. "A minha mãe contou-me que aos 4 anos eu era para participar no Sequim d’Ouro [concurso de talentos infantis, réplica nacional do italiano Zecchino D’Oro] e que o Carlos Paião é que ia fazer a música para eu cantar. Ele morreu nesse ano e eu não participei. Mas fiquei com uma relação de carinho com ele, não por essa história em particular mas por achar que ele é um compositor muito inspirado que talvez não tenha ficado no lugar que eu acho que as composições dele mereciam. Esta música tem uma gravação de época. Foi a mãe do Diogo que a mostrou a ele e, quando a ouvi, foi amor à primeira vista. "Quem ler a lista de convidados especiais do disco verá nomes com os de António Serrano, Javier Limón, Marisa Monte, Carlinhos Brown, Dadi Carvalho, Jaques Morelenbaum, Naná Vasconcelos, João Frade, Jorge Helder, Lula Galvão. Nenhum foi imposição da editora, diz, antes resultado de amizades descomprometidas. E muitos são brasileiros. "Esta coisa de acontecerem encontros com músicos brasileiros tem a ver muito com a energia que eles transmitem. Juntamo-nos, cantamos músicas uns dos outros, ‘vamos cantar contigo e tu cantas connosco’. E esta empatia de backstage, de encontros, de ensaios, cria relações muito fortes. Depois tem-se a liberdade. Que é o que faz a música acontecer. "
REFERÊNCIAS:
Bia: a pop que vem das ilhas
Fora do grupo Xaile, é a estreia a solo de Bia: Chi-coração, onde assina três canções, nasceu pop em matriz tradicional, rasando modas e ritmos açorianos. Um som que veio para ficar (...)

Bia: a pop que vem das ilhas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fora do grupo Xaile, é a estreia a solo de Bia: Chi-coração, onde assina três canções, nasceu pop em matriz tradicional, rasando modas e ritmos açorianos. Um som que veio para ficar
TEXTO: Terra natal do grande Zeca Medeiros ou berço dos infelizmente extintos bANDARRA, os Açores continuam a dar novos frutos musicais. A cantora Bia, que alguns já conhecerão do grupo Xaile, estreia-se a solo com Chi-coração, disco pop de matriz tradicional portuguesa e com forte alma açoriana. É uma coisa antiga, de família, que agora ganha nome próprio. Nascida em S. Miguel, Açores, a 20 de Fevereiro de 1980, Bia (ou Beatriz Noronha) tinha um tio-avô maestro que foi fundador da Tuna Académica da Universidade de Coimbra. E a mãe, cantora, chegou a fazer parte do grupo Efe 5, ao lado de Carlos Alberto Moniz. "A música, a composição e o arranjo sempre estiveram no sangue da família", diz Bia, que começou a cantar ainda na ilha de S. Miguel, com apenas 5 anos, no coro da escola e como solista do Grupo Folclórico Infantil. Profissionalmente, começou aos 14 anos, em bares e bailes. "A minha primeira actuação como profissional foi algures em Junho de 1994, na freguesia da Fajã de Cima, num coreto, com uma banda de baile. E a primeira música que eu cantei foi o Nah neh nah dos Vaya Com Díos. " Era a cantora do conjunto. Na altura havia na ilha uns três: Art Band (o dela), Os Académicos e os 4+1. "Chegávamos a fazer das dez da noite até às dez da manhã, o que me deu uma experiência de palco enorme. Tive verões com 32 concertos. "Depois, como queria "arranjar uma desculpa" para ir para Lisboa, andou à procura de um curso que não existisse na Faculdade dos Açores. Escolheu-o, e licenciou-se mais tarde em arquitectura. Mas quando chegou a Lisboa começou a deprimir-se. "Porque a música era parte integrante da minha vida e em Lisboa não tinha nada. Nem havia tuna. Então inscrevi-me numa escola de música, a JBJazz, para estudar piano e harmonia e ter aulas de canto. Como se isso não bastasse, decidi fundar a Arquitectuna, cantar umas canções, fazer uns arranjos e até escrever umas letras. "Houve uma altura em que deixou de ouvir música por prazer, ouvia-a só em sentido técnico. "Não conseguia ter uma relação emocional com a música nessa altura, ouvia-a verticalmente, era tudo muito matemático. " Isso irritou-a, mas mais tarde reconheceu que lhe foi muito útil. Só quando a convidaram para entrar no grupo Xaile, em 2004, redescobriu na música o sentido antigo, o do prazer. "Percebi que aquilo que eu estudei me servia para ser emocional. " Trabalhou no disco de estreia desse grupo, Xaile, até ao ano em que ele saiu, 2007, e depois foi mãe de uma menina, nascida em 2010. "Ainda cheguei a fazer concertos com uma barriga bem grande, parecia uma baleia em palco. . . "O grupo não acabou, mas a carreira a solo impôs-se-lhe com uma necessidade. Trabalhava nessa altura com um arquitecto, mas a arquitectura sofrera com a crise económica e ela concluiu que "tinha que ter uma vida. " Foi então ao estúdio falar com Rui Filipe (pianista e compositor, responsável pela existência de grupos como Xaile, Rosa Negra ou Caixa de Pandora), começou a fazer canções e, de um momento para o outro, tinha um disco a nascer-lhe das mãos. "Saiu-me de uma maneira tão orgânica que foi como uma epifania. Percebi que era mesmo aquilo que eu tinha de fazer. "Capote e marForam, ela e Rui, uns dias para os Açores. "Tertuliámos imenso com poetas, músicos, uma data de gente nos Açores, gravámos sons das caldeiras, das lagoas, estivemos ali a viver seis ou sete dias completamente intensos, fizemos muitas experiências. " Três anos, demorou o disco a estar pronto. "Tudo aquilo que se quer bem feito tem que ser muito bem pensado. Dá-se um passo em frente, meio passo atrás, repensa-se, questiona-se. " O financiamento também não foi fácil, teve um apoio da Fundação GDA mas não teve outros com que contava. E teve que ir "pedir dinheiro a quem o tem", ou seja, aos bancos, contraindo um empréstimo para editar o disco, no qual os músicos tinham participado por amizade e gosto pelo trabalho. O design do disco, a cargo de um arquitecto seu amigo (Tiago Galo) também foi demorado. "A dúvida era: como é que transpomos para imagem um som que tem um lado tradicional mas é moderno, é world music mas não é só world music?" Então ela pôs pela cabeça um capote de criança ("misterioso ma non troppo") e a sua imagem foi sobreposta à do mar. "Este disco é muito mais autobiográfico, tem mais a minha identidade, estou mais exposta aqui do que no Xaile. " O disco tem três temas com a assinatura dela em parceria com Rui Filipe (Sou de uma ilha, Indecisa decisão, Já te disse hoje?), três de Rui Filipe com Maria Ceia (Monopólio, Ora vira, Terelão-tão-tão), quatro só de Rui Filipe (Meio a meio, Talento nato, Carta de despedida e, como faixa escondida, Canto das estrelas), dois tradicionais com novos arranjos (Tanchão/Lundum e Josézito) e duas versões: Uma canção comercial, de Pedro Osório (que teve o 3. º lugar no Festival de canção de 1979) e Lamento, de João Miguel Sousa e Fernando Reis Júnior, incluída no CD/DVD 25 anos de Música Original nos Açores. Em Sou de uma ilha, Bia escreve: "Sou de uma ilha, não há volta a dar/ Onde o princípio do fim é só mar/ Sou sangue fogo que há na cratera/ Sou de alma livre e de quem navega". E cita modas, lugares, coisas e nomes como Nemésio, Quental, Amália, Natália, Agostinho; Zeca (Medeiros, que canta em dois temas do disco), Raposo, Luís (os dois Bettencourt), Chico e Edu Lobo, Regina (Elis) e Tom Jobim, (José) Afonso, (Jorge) Palma, (Sérgio) Godinho, Vitorino. Uma volta grande, mas com regresso: "Quanto mais saio da ilha, mais eu fico nela", diz o refrão. Mas esta é uma volta que só em parte corresponde às suas mais directas influências. "Sou mega-fã da Ella Fitzgerald mas também da Manuela Azevedo, acho que é uma das melhores cantoras e intérpretes portuguesas; ou da Maria João, que é uma referência incontornável. Mas não canto a pensar na forma de elas cantarem. Tento resumir-me àquilo que sou capaz de fazer e tento fazê-lo o melhor possível. Com a minha verdade e com a minha voz. "
REFERÊNCIAS:
“O cante já ganhou”, diz Paulo Lima, coordenador da candidatura
Coordenador da candidatura a património imaterial da humanidade diz que o cante pode ser um forte contributo contra a solidão e o isolamento. (...)

“O cante já ganhou”, diz Paulo Lima, coordenador da candidatura
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Coordenador da candidatura a património imaterial da humanidade diz que o cante pode ser um forte contributo contra a solidão e o isolamento.
TEXTO: Antropólogo e director da Casa de Cante de Serpa, Paulo Lima é o coordenador da candidatura do cante alentejano a património cultural imaterial da humanidade. O que quer que aconteça esta semana na sede da UNESCO, em Paris, é o culminar de 15 anos de trabalho para Lima, um investigador na área do cante alentejano que Sérgio Tréfaut, realizador de Alentejo, Alentejo, descreve como alguém que “sabe mais do que os académicos”. Qual era o panorama do cante há 15 anos, quando começou a trabalhar na ideia de uma candidatura? Melhor ou pior do que é hoje?Havia um conjunto de grupos com alguma força, não muitos. Hoje o panorama é muito diferente. A partir de finais de 2012 houve uma explosão de grupos corais. Não só houve uma dignificação do movimento coral, como surgiram grupos jovens, com características diferentes dos mais antigos. Surgiram grupos corais nas academias sénior. E a norte de Évora. Esse fenómeno nos últimos dois anos tem a ver com duas coisas. Por um lado, a candidatura, a perspectiva de uma distinção à escala global. Por outro, a questão do turismo. Nos últimos anos, o Alentejo deixou de ser o alvo das anedotas para ser o centro de uma qualidade de vida, um destino de grande qualidade – pela paisagem, pela cultura, pela gastronomia. Um dos riscos possíveis desta patrimonialização não é uma perda de autenticidade, de espontaneidade, uma bastardização do cante?Quem esteve por trás da candidatura foi a Direcção-Geral de Turismo. Não vamos ser inocentes e pensar que há almoços grátis. Para o turismo importa ter mais uma distinção da UNESCO para promover o território. Com certeza que vai aparecer quem tente tirar daqui mais-valias, quer operadores, quer projectos musicais. A título pessoal, o que me interessa no cante é aquilo a que eu chamo a esteva. A esteva é a última barreira do deserto. Em muitos locais, os grupos corais são o último lugar onde as pessoas se podem reunir. São um combate à solidão, ao isolamento. Além de todas as questões económicas, turísticas, de salvaguarda das identidades, o que me interessa sobretudo no cante é esta última barreira. Não me interessa se cantam bem ou se cantam mal, se vestem de acordo com a região ou não, se estão ou não a cantar o reportório tradicional. O que me interessa fundamentalmente é a questão social. Pela sua forma de cantar gregário, colectivo, o cante alentejano pode ser um forte contributo: para as crianças, para mostrar que há coisas boas a fazer em conjunto; e pode ajudar os mais velhos a sair da sua terra, da sua exclusão. Em lugares muito pequenos, onde já se perdeu tudo, o cante continua a ser das poucas coisas que as pessoas podem fazer colectivamente. Acredito que, com a candidatura, isso será exponenciado. Está optimista quanto à decisão da Unesco?Nós já ganhámos. Esta candidatura e tudo o que aconteceu à sua volta já fez o cante ganhar. Nunca se falou tanto de cante como hoje. Há trabalhos académicos em curso, há novos grupos corais, há projectos artísticos, há uma intenção das câmaras – agora toda a gente quer ter cante nas escolas. Como diz o Astérix, a gente só vende a pele do javali depois de o caçar. Mas estou confiante. Era importante, para estes homens e para estas mulheres, este reconhecimento. Também não vamos pensar que isto vai ser uma revolução francesa. Agora, vai ter uma outra coisa: vamos estar disponíveis para aquilo que poderíamos chamar um capitalismo estético.
REFERÊNCIAS:
Cultura urbana volta a encher edifício Axa de cor e animação
Em pleno coração do Porto, no edifício já conhecido pelos eventos culturais que acolhe, voltam a apresentar-se autores de arte urbana. Até dia 14, o Axa vai permitir aos criadores venderem os seus trabalhos de ilustração e street art. A entrada é livre e dá acesso a música, curtas-metragens e workshops. (...)

Cultura urbana volta a encher edifício Axa de cor e animação
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em pleno coração do Porto, no edifício já conhecido pelos eventos culturais que acolhe, voltam a apresentar-se autores de arte urbana. Até dia 14, o Axa vai permitir aos criadores venderem os seus trabalhos de ilustração e street art. A entrada é livre e dá acesso a música, curtas-metragens e workshops.
TEXTO: Numa sala do 2. º piso do edifício Axa, na Avenida dos Aliados, no Porto, parte da parede branca é contagiada por tons de rosa, azul e preto. Essencialmente corações, gatos, pintas e nuvens. No centro, uma figura religiosa pintada nos mesmos tons evoca a quadra natalícia. Leonor Cunha não esteve no Axa na primeira Street Art, no início do ano, mas apresenta agora Elleonor, um trabalho tridimensional, entre a ilustração e arte de rua, no UPStreet Axa Urban Store, que arrancou nesta quinta-feira. Já reconhecida por espalhar os grafittis com a assinatura Elleonor pela cidade, a jovem é da opinião que ainda há um longo caminho a percorrer em relação à divulgação deste tipo de arte, mas está contente com o seu trabalho. “Acho que vou num bom caminho, principalmente se apostar no grafitti e na street art como tenho feito. Acho que sou valorizada porque há poucas raparigas a fazerem isso e o meu estilo é um bocado diferente”, assegura. Na mesma sala é possível reconhecer o mural azul dos Transa. Os dois criadores, Mots e Neutro, decidiram reaproveitar parte da obra apresentada no evento Street Art Axa Porto para participarem neste UPStreet Axa Urban Store. Diogo Ruas, Mots, está satisfeito com estes eventos e vê neste tipo de acções uma oportunidade para “mostrar que no Porto também se fazem coisas interessantes”. Nesta montra de arte urbana o ambiente é colorido e bem-disposto. No 2. º piso, o experiente Júlio Dolbeth apresenta também o seu trabalho, inspirado no imaginário dos caretos de Podence e dos rituais de Lazarim. Já com uma longa experiência no mundo da arte comenta que, em Portugal, ainda é muito complicado viver do trabalho artístico. Ainda assim, considera que essa adversidade pode ser positiva. “Obriga as pessoas a criarem estruturas próprias, sem estar sempre à espera de apoios institucionais”, explica o dono da galeria Dama Aflita. Até dia 14, à quinta, sexta, sábado e domingo, mais de 30 artistas ocupam o espaço. Alguns deles já conhecidos no meio da street art, como o Colectivo Rua, Hazul ou Third, e outros no da ilustração, como Rudolfo, Lara Luís, Chili Com Carne ou O Panda Gordo. O espaço dá também oportunidade a duas ecolas de exporem os trabalhos realizados pelos mais novos, inspirados no evento Street Art Axa Porto. Os alunos de Mestrado de Ilustração e Animação do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave montaram uma galeria numa das salas. À entrada do 2. º piso há também um espaço reservado para a revista Idiot Mag, cuja versão impressa é lançada neste sábado. O evento UPStreet AXA Urban Store é uma organização da Câmara Municipal do Porto, através da Porto Lazer. Hugo Neto, director administrativo desta empresa municipal, promete que este tipo de eventos, que atraí miúdos e graúdos, portuenses e turistas, terá seguimento em 2015. “O edifício AXA e o conjunto de eventos que temos desenvolvido têm uma lógica pedagógica. Fazem com que a cidade do Porto cada vez mais perceba e acarinhe a arte urbana, porque acreditamos que ela deva ter expressão, deve ser valorizada e, se possível, contribuir para a própria afirmação da cidade”. Ainda de acordo com Hugo Neto, “o Axa continuará a ser alcofa de projectos”, ainda que, em breve, venham a surgir novidades sobre outros projectos de intervenção. Hoje é dia de festaEste sábado é também dia de cultura urbana. A Idiot Mag, revista de cultura e tendências urbanas, lança, como referido, a sua primeira edição imprensa e a Dedicated Store, loja dedicada à cultura urbana, assinala o seu terceiro aniversário. A festa decorrerá em três locais na cidade: a Dedicated Store, o Silo Auto e o Armazém do Chá e incluirá concertos, street art ao vivo, body painting ou highline urbano. João Cabral, um dos responsáveis pela Idiot Mag define-a como a “revista do idiota para o idiota” e, mais a sério, explica que é “uma plataforma de divulgação de arte e cultura, projectos empreendedores e criativos”. Ao longo dos dois anos e meio, a revista mensal foi organizando eventos para promover a marca e também projectos de diferentes áreas. Todos os meses, convida alguém para ilustrar a capa e as secções e, normalmente, a ilustração é realizada, ao vivo, nos eventos. A primeira edição impressa é ilustrada por Ana Aragão, considerada uma das 200 melhores ilustradoras do mundo pela revista Lürzer's Archive.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura carne
A arte urbana chegou às aldeias beirãs e até o Ti’ Vaz fez “um risco” na parede
Oficinas de costura, assembleias comunitárias, workshops de fotografia e teatro, artes performativas: em quatro aldeias de Castelo Branco há encontros improváveis entre o campo e a cidade (...)

A arte urbana chegou às aldeias beirãs e até o Ti’ Vaz fez “um risco” na parede
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Oficinas de costura, assembleias comunitárias, workshops de fotografia e teatro, artes performativas: em quatro aldeias de Castelo Branco há encontros improváveis entre o campo e a cidade
TEXTO: Nas prateleiras da adega, o Ti’ Vaz tem de sobra garrafas de vinho e jeropiga, entre cabacinhas presas ao tecto e cestos com espigas de milho. É ali, no rés-do-chão da casa onde sempre morou, que guarda as memórias de uma vida cheia. Foi comerciante, é agricultor e quando tem companhia transforma-se num contador de histórias, simples no falar e no vestir. Quem diria que aos “90 anos e meio” iria fazer um graffiti numa parede da sua pequena aldeia beirã?Da porta de casa do ancião, em Juncal do Campo, vê-se o mural colorido que ele ajudou a pintar num fim-de-semana gelado de Janeiro. “Fui lá fazer um risco”, conta orgulhoso. Era o mais velho do grupo que se juntou no pátio da antiga escola primária da aldeia, com latas de tinta e pincéis, orientado pelo artista plástico Manoel Jack. Estavam também as senhoras da oficina de costura, que aos domingos se juntam ali para tricotar malhas e conversas, e algumas crianças. Em conjunto, pintaram um desenho inspirado no bordado tradicional de Castelo Branco. Foi assim que as paredes de Freixial e Juncal do Campo, Chão da Vã e Barbaído começaram a ganhar outras cores, à boleia da iniciativa Aldeias Artísticas, uma das várias inseridas no projecto Há Festa no Campo, promovido pelas associações EcoGerminar e Terceira Pessoa. O objectivo é desenvolver e dinamizar estas quatro aldeias, onde moram cerca de 800 pessoas, através da arte e da cultura. “Queremos mostrar que as aldeias são espaços de oportunidade e que a arte urbana também pode ser feita em meio rural”, explica Marco Domingues, da EcoGerminar. O desafio lançado aos graffiters de todo o país já foi aceite por mais de 30. As associações garantem alojamento, alimentação e materiais e a comunidade oferece as paredes dos espaços públicos ou mesmo das habitações. Até o padre da paróquia mostrou vontade em ceder uma parede da igreja. A EDP, por sua vez, ofereceu as paredes do posto de transformação à entrada de Freixial do Campo. Foi lá que o ilustrador Gonçalo Fialho, também conhecido por Uivo, começou a pintar na segunda-feira. Inspirou-se numa lenda da terra, segundo a qual um enorme sobreiro – “diz-se que eram precisos seis homens para o abraçar” – não podia ser cortado, sob pena de a aldeia ficar inundada por um lençol de água que passava debaixo da árvore. “Acrescentei um ponto ao conto e desenhei um ser feito de vidro, com água no interior, que guarda o sobreiro para que ninguém o tente cortar”, descreve. Para o jovem de 20 anos nascido numa aldeia em Mafra mas habituado a trabalhar em ambiente urbano, este projecto foi um desafio. “Senti uma grande empatia mas as dinâmicas são diferentes. Na cidade o nosso trabalho tem de chamar à atenção, na aldeia não podemos ‘entrar a pés juntos’, o desenho tem de fazer parte da paisagem”, observa. De capuz enfiado na cabeça, Uivo até tenta passar despercebido enquanto pinta mas não consegue. Os poucos carros que passam abrandam. “Para nós, isto é um acontecimento”, sublinha a presidente da junta de freguesia, Ernestina Perquilhas, que agradece o trabalho das associações. "Faz com que as pessoas sintam que não estão esquecidas. " Também o vice-presidente da câmara, Arnaldo Brás, sublinhou o papel do projecto na luta contra a desertificação. "Não esperava que o envolvimento da comunidade fosse tão intenso", confessa, em conversa com o PÚBLICO no local. Um grupo de miúdos do jardim-de-infância não tira os olhos do desenho de Uivo, que ganha forma atrás dos andaimes. “Eu também quero pintar”, grita Leonor, de seis anos. “Uma princesa”, ou outra coisa qualquer, desde que a deixem brincar com as tintas. Nuno Leão, da Terceira Pessoa, promete-lhe um bocadinho de parede, até porque ali não falta espaço em branco nos muros de jardins, fontes ou nos tanques das lavadeiras. Reabrir as portas fechadasO mural de Uivo foi inicialmente pensado para uma parede do Café Central, mas o proprietário voltou atrás na oferta. Marco Domingues, lisboeta do Bairro Alto que se mudou há quase uma década para Castelo Branco, compreende que é preciso “ir devagar”. A população da freguesia é, em grande parte, idosa e há mesmo quem nunca tenha posto um pé na cidade. Há um ano que as associações EcoGerminar, dedicada ao empreendedorismo e ao desenvolvimento local, e Terceira Pessoa, que actua na área artística, estão no terreno a ouvir as carências e os desejos dos moradores, tentando ganhar-lhes a confiança. Encontraram uma comunidade fechada sobre si própria mas com vontade de quebrar o isolamento. Definiram depois uma estratégia: "todos os espaços fechados podem reabrir". Por exemplo, a antiga escola primária de Juncal, que esteve encerrada durante vários anos, acolhe agora oficinas de costura e de fotografia, assembleias comunitárias e até mercados de artesanato e gastronomia local. Também é na escola que se reúne a redacção do Jornal das Aldeias, a primeira oficina do projecto, que já vai no terceiro número.
REFERÊNCIAS:
Árvores para o caminho
Território é o que a coreógrafa Joana Providência viu quando fechou os olhos e acordou no mundo primordial, e muito anterior às palavras, de Alberto Carneiro. Não é de lá que somos todos? (...)

Árvores para o caminho
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Território é o que a coreógrafa Joana Providência viu quando fechou os olhos e acordou no mundo primordial, e muito anterior às palavras, de Alberto Carneiro. Não é de lá que somos todos?
TEXTO: Avança-se pelo mundo de Alberto Carneiro como por uma floresta. Às escuras, tropeçando em árvores, até aparecer uma clareira e o céu explodir na luz desgovernada de uma manhã de Inverno – bom dia, epifania. Ou pelo menos é assim que imaginamos Joana Providência a avançar pelo mundo de Alberto Carneiro agora que o transformou numa peça para quatro bailarinos, três actores, umas quantas árvores e muita terra, tudo espalhado pelo chão da ACE/Teatro do Bolhão, no Porto, onde Território, co-produção com as Comédias do Minho e com a Culturgest, teve estreia anteontem e permanece até ao próximo dia 25. É um mundo primordial, e radicalmente anterior às palavras, em que a luz se desfaz em trovoada, o céu se desfaz em chuva, o mar se desfaz em espuma, o som se desfaz em neve, a pedra se desfaz em terra e a madeira se desfaz em serrim, se não arder antes. Mas em que haverá sempre árvores no caminho. Não se desfazem nunca. Tal como Alberto Carneiro, este espectáculo teria sido outro na ausência de uma relação directa com esse mundo (“Se tivesse nascido na cidade, se tivesse vivido a minha primeira infância na cidade, a minha obra não seria o que é. Nem eu, provavelmente, me teria encontrado com este mundo. Sendo a mesma pessoa, fisicamente, o mesmo nariz, as mesmas orelhas, não seria o mesmo. A minha sensibilidade foi construída numa relação directa com essas coisas. Aprendendo a amar essas coisas. E não as dispensando”, explicou o escultor numa entrevista à revista 2, em Junho do ano passado, recordando os intransponíveis 20 quilómetros que noutro país, o Portugal dos anos 40, separavam a sua aldeia, São Mamede do Coronado, do Porto). Para ele, houve um antes e um depois de uma certa cerejeira “frondosa, que dava frutos maravilhosos”, a única árvore de todo o quintal (“Anos mais tarde, o meu pai decidiu cortá-la, já eu era adulto. Transformei-a numa escultura”). Para Joana Providência, também há um antes e um depois de um certo passeio pela floresta do Corno do Bico, em Paredes de Coura, um antes e um depois de “uma lindíssima clareira de bétulas” onde a coreógrafa pediu aos intérpretes de Território que se deixassem reconfigurar pela paisagem e fossem até onde ela os levasse (às vezes ofuscados pela luz, outras vezes perdidos na escuridão): “Há sequências do espectáculo que resultam de memórias – físicas, sobretudo – dessa experiência no Corno do Bico. Mas também trabalhámos muito a partir de outras experiências que os intérpretes foram buscar – embora curiosamente os mais novos tenham menos memórias, menos impressões de experiências tidas na natureza. ”AbstracçãoEm parte, o contacto com a obra de Alberto Carneiro – uma obra em que a vida se confunde com a arte e arte se confunde com a vida, tal como fixava, para memória futura, o título da sua última grande exposição no Museu de Serralves, Arte Vida/Vida Arte – preencheu esses buracos negros. “Fomos visitá-lo ao atelier, onde pudemos estar muito perto das peças, no sentido mais material do termo, e fazer-lhe algumas perguntas. Mas sobretudo pudemos ouvi-lo falar do modo como foi avançando e encontrando um discurso sobre o mundo, um discurso muito nobre no respeito pelo lugar de todas as coisas. O que mais me impressionou nesta aproximação à obra do Alberto Carneiro foi constatar que por trás dela está verdadeiramente uma postura perante a vida”, diz a coreógrafa, que antes de Alberto Carneiro já tinha sido visita de Paula Rego (Mão na Boca, 2004) e de Graça Morais (Terra Quente, Terra Fria, 2011). Nada a ver, explica: onde ali havia personagens, histórias e até políticas concretas, infinitas possibilidades de “era uma vez”, aqui há apenas a natureza no que tem de mais material, mas também de mais intangível. “Os corpos da Paula Rego têm narrativas. As mulheres transmontanas da Graça Morais também. Os corpos do Alberto Carneiro… São as árvores, são as pedras – há essa coisa de os reduzir à essência, a uma matéria universal. É uma obra com muitas zonas de abstracção, o que nos levou a uma peça com muitas zonas de abstracção também, embora o facto de o Alberto Carneiro escrever muito sobre o que faz nos tenha dado pistas valiosas”, continua. Nalguns casos, claro, a simples inscrição de sete pessoas num palco transforma-o num ser vivo; noutros, são os elementos da natureza para ali transpostos (árvores, pedras, terra, canas de bambu) que fazem os intérpretes mover-se (o tronco que tanto avança como recua em direcção ao casal deitado, a árvore que tanto paira como se abate sobre uma mulher, o bambu que tanto cresce como diminui de tamanho em função do tamanho do mundo): “A relação que eles estabelecem com esses elementos organiza e dá um sentido ao movimento. Mas também acontece o contrário, quando são as pulsações daqueles corpos, considerados individualmente ou tomados como colectivo, que funcionam como motor do movimento. Lá está: não são corpos quaisquer, são corpos em que se depositaram resíduos e memórias dos lugares, das matérias. Às vezes esquecemo-nos, mas é da natureza que vimos todos. ”
REFERÊNCIAS:
A memória de um condenado
Não há heróis na estreia literária da jornalista Ana Margarida de Carvalho, um romance que parte da história de um sobrevivente do Tarrafal para contar um amor falhado. (...)

A memória de um condenado
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não há heróis na estreia literária da jornalista Ana Margarida de Carvalho, um romance que parte da história de um sobrevivente do Tarrafal para contar um amor falhado.
TEXTO: É um gesto de fé, aquele de lançar um molho de cartas pela janela do comboio em andamento. “Ao portador destas cartas se roga o encarecido favor de as entregar à menina Maria Luísa Fradinho. Aldeia de Vale de Éguas, Marinha Grande. ” Quem as atira assim, espera que um dia elas cheguem ao destinatário. Pouco importa como, e importa ainda menos por intermédio de quem. “Foi através do lápis que Joaquim verteu o seu melhor sangue. Não este que já foi absorvido pelos poros de madeira. Mas aquele mais grosso, denso, escuro, colesterolizado, cheio de trombos e coágulos que engarrafam a veia fina. Muito suou para poder escrever a Luísa. Suportou insultos, privações, desdém, castigos, troça. . . Esta tarefa sugou-lhe as energias durante os meses de prisão, tomou-lhe de assalto todos os sentidos, depois de a guarda ter arrebanhado os revoltosos do 18 de Janeiro da Marinha Grande. ” Em 1934, Joaquim da Cruz, foi preso na sequência desse movimento de protesto e seria um dos homens a estrear o campo de prisioneiros políticos que o Estado Novo mandara construir na ilha do Tarrafal. Ele é o protagonista do romance de estreia da jornalista Ana Margarida de Carvalho, uma história ficcional entre factos e cenários reais, o homem que na viagem entre a prisão e o desterro tem um derradeiro gesto de esperança, o de que Luísa, que prometera esperar por ele sem saber o tempo dessa espera, saiba que o seu amor por ela persiste. Que Importa a Fúria do Mar, finalista da última edição do prémio Leya, arranca com a frustração do mensageiro narrada na primeira pessoa. A fúria de alguém que se sente injustamente relegado para segundo plano, o “excluído”, o “suplente”, numa história sobre a qual não volta a ter as rédeas apesar de nela desempenhar um papel determinante. “Sou uma personagem preterida pelo próprio autor, usada para a caminhada hermenêutica e deitada fora do elenco, como um figurante dispensado, que ainda permanece no set, à cata dos restos do catering. (. . . ) A melhor forma de destruir alguém é ignorá-lo”, lamenta-se aquele que encontrou as cartas. É uma das liberdades estilísticas da escritora que ousou arriscar uma forma longe de ser a mais segura para a sua primeira obra. Intercala tempos, experiências, personagens em registos propositadamente desiguais numa narrativa intrincada, fugindo a qualquer linearidade temporal ou de espaço, e sem obedecer a outra cronologia a não ser aquela que é ditada pelo fluir mais ou menos caótico da memória ou do pensamento. Mais do que política, a revolta que Joaquim carrega na viagem para Cabo Verde é pessoal. “Joaquim é um caso perdido, pensa Lourenço”, colega de destino, a quem a autora entrega a melhor caracterização da sua personagem principal. “. . . não tem espírito de grupo, não está doutrinado, não possui qualquer enquadramento ideológico, foi apanhado no lugar errado à hora errada e ainda por coma não fez qualquer esforço para sair do círculo em fogo, como os escorpiões, que preferem ferrar-se a si próprios. ” Décadas depois, é este homem que Eugénia irá encontrar, o velho sobrevivente do Tarrafal de dedos “nodosos”. A sua missão é escutá-lo. Ele passou o portão que retira todos os direitos aos homens e voltou. Como se vive com e depois do terror? É ela quem constrói a teia à volta dessa pergunta. Eugénia, 37 anos, uma jornalista de televisão que vive no Porto, um pouco mimada, às voltas com o ego e com a tal história que, à partida, não lhe apetece contar, a de Joaquim enquanto herói de uma geografia que na história mais recente dos homens trocou o horror para que foi construída em 1934 pelo turismo da actualidade. A narrativa que resulta do encontro entre Joaquim e Eugénia, dois mundos, dois tempos, duas histórias de vida que se tocaram numa casa mofienta do Porto, desenrola-se em vinte capítulos, cada um precedido de uma epígrafe que dá como que um mote (mais sobre o estilo do que de tema), e o que resulta é uma miscelânea de contágios da qual a autora desencanta um registo pessoal invulgar, sobretudo se pensarmos que se trata de uma estreia. Esse “amadorismo” raro se sente. Arrisca-se e o que sai é muito mais do que um bonito literário, ainda que aqui e ali as tentações de mostrar o domínio das palavras e dos seus sentidos possam ser evidentes. No entanto, nada que distraia do essencial: o de estarmos perante um bom romance com personagens e ambientes que irão persistir e de uma maturidade autoral que vai rareando. Joaquim não há-de ser o herói. Eugénia adivinha isso ao primeiro encontro. Ele é um dos 152 que estrearam a “gaiola a céu aberto”, um dos inconformados cujo olhar vagueia à procura de um ponto de fuga numa paisagem mais de pó do que de mar. “Montes nus, em forma de ferradura, sem casas nem árvores, pequenas praias de areia negra e o sopé do corcovado da Graciosa. Muitos começam logo ali a conceber os embriões de planos de fuga. Não são homens de ficar à espera de que a porta se abra para saírem. Estão com a mente demasiado ocupada a assimilar o que lhes sucedeu para prestarem atenção ao homenzinho ridículo, o director do campo, capitão de artilharia, que bem tenta captar-lhes as reservas de adrenalina, amedrontá-los pela ameaça, pelos berros, pela espuma que se lhe acumula nos cantos da boca. . . Inútil. A ameaça está menos no verbo do que na imagem. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens campo prisão homem negra assalto
Amar como Anaïs Nin amou
Agapornis, que hoje abre o Festival Internacional de Marionetas do Porto (mas só para maiores de 18), é a primeira vez do Teatro de Marionetas do Porto com personagens do tamanho da vida. E um corpo-a-corpo com uma mulher em série — perigosa, como todos os amantes. (...)

Amar como Anaïs Nin amou
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.6
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Agapornis, que hoje abre o Festival Internacional de Marionetas do Porto (mas só para maiores de 18), é a primeira vez do Teatro de Marionetas do Porto com personagens do tamanho da vida. E um corpo-a-corpo com uma mulher em série — perigosa, como todos os amantes.
TEXTO: É uma vida para maiores de 18, a de Anaïs Nin. Não por causa do encontro com Henry Miller e com a mulher da vida de ambos, June, mas por causa do que já vinha de trás (A Casa do Incesto não era só um romance que ela tinha escrito, era mesmo a casa onde tinha vivido com o pai, o pianista cubano Joaquín Nin) e pelo que continuaria a vir até 1977, o ano em que morreu de cancro e não de morte natural, como nunca morre o amor (“Anaïs Nin estava certa”, há-de dizer o poeta e cronista brasileiro Fabrício Carpinejar, o amor morre “porque o matamos ou deixamos morrer”, em “mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia”). Ela seria mais gráfica: teve uma vida para maiores de 18 por causa do sexo – em muitos sentido futurista, em muitos sentidos perigoso – que primeiro viveu e depois transcreveu, usando todas as letras, fazendo todos os desenhos, numa série de diários que conta uma história alternativa da primeira metade do século XX. É uma história tão alternativa que parece “quase contemporânea”, diz ao Ípsilon Rui Queiroz de Matos, que com Edgard Fernandes encena Agapornis, o corpo-a-corpo com Anaïs Nin que hoje abre, no Teatro Carlos Alberto, a 25. ª edição do Festival Internacional de Marionetas do Porto. Em muitos sentidos, já agora, Agapornis tem o peso de uma primeira vez para o Teatro de Marionetas do Porto. Há precedentes no grafismo – João Paulo Seara Cardoso (1956-2010), o fundador da companhia, abriu-os logo em 1988, com a sua versão para maiores de 18 de um conto infantil, Capuchinho Vermelho XXX –, mas não na escala (as marionetas de Agapornis têm o tamanho de um adulto de estatura normal), nem no peso (real e simbólico) de pôr uma vida real às costas de um objecto inanimado (quatro, no caso, porque a Anaïs Nin articulada, e de tamanho natural, que se senta na chaise-longue cor-de-rosa, é uma mulher em série). “Queríamos fazer um espectáculo para adultos, assumidamente para adultos, até porque é matriz da companhia alternar peças infantis com criações para um público mais crescido. E ao fim de algum tempo a trabalhar nessa ideia chegámos a algumas conclusões. Primeiro, fazia sentido usarmos marionetas de tamanho natural, coisa que nunca tínhamos feito. Segundo, a Anaïs Nin era a figura certa para o imaginário – adulto – que tínhamos vontade de abordar”, explica a coreógrafa Isabel Barros, que assumiu a direcção da companhia depois da morte de Seara Cardoso. Qual das Anaïs Nin (acabámos de escrever que é uma mulher em série)? Todas, respondem Rui Queiroz de Matos e Edgard Fernandes: “A Anaïs Nin dos diários, a Anaïs Nin de A Casa do Incesto, a Anaïs Nin da correspondência com Henry Miller, e até a Anaïs Nin de Henry & June [o filme de Philip Kaufman em que Maria de Medeiros era Anaïs Nin e Uma Thurman era June, a mulher de Henry Miller]. No fundo, todas as mulheres, naquilo que têm de mais sensual e de mais sexual – e embora nós sejamos homens. ”Suporte vitalTambém têm o seu papel aqui, os homens: manipulando anonimamente as quatro marionetas que são outras tantas possibilidades de Anaïs Nin (a própria, observando a sua vida com a distância e a perturbação de uma voyeuse, de uma espectadora, de uma visita, mas também as outras: Bijou, a prostituta; June, a mulher da sua vida; e a andrógina, que como Anaïs se movimenta entre dois géneros), e contracenando com ela (Simão Luís, a única personagem masculina de Agapornis, é ao mesmo tempo Henry Miller e todos os outros homens que passaram por Anaïs Nin, incluindo o pai). “Foi o pai quem a levou a escrever, foi o Henry Miller quem a levou a continuar a escrever. Como mulher e como escritora, os homens foram para Anaïs Nin uma espécie de suporte vital. E também é esse o papel que têm neste espectáculo – uma papel que exige uma química que não vem de repente, uma disponibilidade para a descoberta. Ao mesmo tempo, o facto de não haver actrizes em cena resulta da nossa vontade de deixar que sejam as marionetas a organizar este universo: uma mulher aqui iria competir com a marioneta, e não seria justo”, argumentam. Ainda que de tamanho natural, as mulheres-marioneta de Agapornis, criadas por Júlio Vanzeler, não se confundem com mulheres reais – são corpos mecânicos, articulados, sem sangue, sem saliva, sem suor. É por isso que o sexo aqui, apesar de explícito (textual e performativamente), não é puramente físico. “Nos textos dela, as imagens mais obscenas e mais chocantes adquirem uma poética incrível. Mais do que sobre sexo, a Anaïs Nin escreveu sobre o amor – mas sobre o amor com sexo, que no fundo é uma ideia quase contemporânea. À época, uma vida como a de Anaïs Nin era pecaminosa, grotesca; vista hoje, quase um século depois, é sobretudo uma vida muito libertina. Melhor, uma vida muito livre”, diz Rui Queiroz de Matos. Agapornis fez-se com essa liberdade – a liberdade de quem “percorre os caminhos mais estranhos e mais perversos” e ao mesmo tempo paira acima disso tudo. Não sangram, não salivam, não suam, estas marionetas. Mas talvez já tenham matado e sejam serial-killers perigosos, como todos os amantes.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Jerry Bruckheimer adapta para a televisão American Gigolo
O filme que fez de Richard Gere uma superestrela, em 1980. (...)

Jerry Bruckheimer adapta para a televisão American Gigolo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O filme que fez de Richard Gere uma superestrela, em 1980.
TEXTO: Ao procurar nos seus arquivos, a Paramount Television deu de caras com Americano Gigolo e acaba de anunciar a sua associação com o produtor Jerry Bruckheimer com vista a uma adaptação televisiva do filme de Paul Schrader que transformou Richard Gere numa das estrelas do cinema americano dos anos 80. Bruckheimer fora o produtor do filme, será o produtor executivo do novo projecto e Schrader, que foi o realizador e argumentista, servirá como consultor, segundo anuncia a Variety. Os resumos de sinopses dirão que American Gigolo foi um "drama criminal" de 1980 centrado à volta da personagem de um gigolo, interpretada por Gere. E foi um enorme sucesso - Call Me, dos Blondie, na banda sonora -, transformando Gere em superestrela: do dia para a noite o actor passou a alvo obsessivo dos paparazzi (como Raymond Depardon documenta no seu Reporters, filme desse mesmo ano, 1980, numa sequência em que o actor tenta, mas não consegue, andar a pé em Paris). “Como a sua estética noir como assinatura, American Gigolo permanece um thriller psicológico excitante", resumiu Bruckheimer, o agora associado à Paramount Television. É isso, sim, é o lado Bruckeimer do filme. Mas há Schrader. American Gigolo é uma história de amor, de encontro entre o prostituto Julian Kaye (Gere), e o seu mundo de carros, cacaína e roupas, com a infeliz mulher de um político (Lauren Hutton). História de um crime, de um plot de incrimação, é, finalmente, uma história de salvação. American Gigolo mostrava o confronto com o mundo do calvinista Schrader, que nessa altura já escrevera o Taxi Driver para Scorsese, nos primeiros anos da sua carreira como realizador (Blue Collar, 1978, Hardcore - A Rapariga da Zona Quente, 1979, e American Gigolo, 1980): experimentava o mundo para nele encontrar, no superficial, no mundano, no sórdido, o caminho para a redenção. Schrader filmava com a sua "tese" debaixo do braço, Transcendental Style in Film, texto dedicado à obra de Ozu, Dreyer e Bresson, e este cineasta é uma óbvia influência, através do seu Pickpocket, em American Gigolo - é ver a sequência do My God Michelle! it has taken me so long do come to you , um dos grandes momentos do cinema americano daqueles anos, para muitos uma epifania que o filme entregava ao espectador de forma inesperada e. . . milagrosa. Do contrato que Bruckheimer assinou com a Paramount, estão em projecto sequelas de Beverly Hills Cop and Top Gun. Por seu lado, a Paramount TV anunciou os seus planos para a adaptação televisiva de Ghost.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime mulher rapariga
Três romancistas portugueses entre os semifinalistas do prémio Portugal Telecom
Lídia Jorge, António Lobo Antunes e Valter Hugo Mãe estão entre os 63 semifinalistas do prémio de literatura dedicado aos livros de língua portuguesa publicados no Brasil no ano passado. (...)

Três romancistas portugueses entre os semifinalistas do prémio Portugal Telecom
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Lídia Jorge, António Lobo Antunes e Valter Hugo Mãe estão entre os 63 semifinalistas do prémio de literatura dedicado aos livros de língua portuguesa publicados no Brasil no ano passado.
TEXTO: Três romancistas portugueses - Lídia Jorge, António Lobo Antunes e Valter Hugo Mãe - concorrem ao Prémio Portugal Telecom 2013, que será atribuído no final do ano no Brasil. Vão disputá-lo com mais 60 autores. Os 63 autores semifinalistas foram escolhidos de uma lista de 450 livros inscritos, saída da totalidade das obras que as editoras submeteram à apreciação do júri. Nesta fase, o prémio tem por hábito 60 nomes, mas como este ano houve um empate na categoria de poesia e dois na de romance a curadoria optou por elevar o número. Assim, foram seleccionados 21 livros de poesia, 22 romances e 20 volumes de contos ou crónicas. “Em poesia estão representadas as principais tendências contemporâneas com obras que optam pelo diálogo com a tradição poética como A Casa dos Nove Pinheiros, de Rui Espinheira Filho, e outras que incidem na desestabilização dos padrões mais recorrentes do discurso lírico como A cicatriz de Marilyn Monroe de Contador Borges”, diz a curadora Selma Caetano no vídeo em que são anunciados os semifinalistas e que na tarde desta segunda-feira foi divulgado no site deste prémio literário dedicado a obras em língua portuguesa publicadas no Brasil. “No género romance foram contempladas todas as gerações que estão no activo, desde Menalton Braff (com O Casarão da Rua do Rosário), nascido em 1938, até Daniel Galera ( Barba Ensopada de Sangue), nascido em 1979. Compareceram quase todos os continentes lusófonos, com três autores portugueses, um angolano, um moçambicano e 17 brasileiros”, explica ainda a curadora. E se é verdade que a lista inclui nomes consagrados como Paulo Lins (Desde que o samba é samba), autor do best seller Cidade de Deus, também comporta estreantes como Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira (As Visitas que Hoje Estamos), acrescenta. Lídia Jorge concorre com A noite das mulheres cantoras, António Lobo Antunes com Sôbolos rios que vão e Valter Hugo Mãe com O filho de mil homens. Na categoria de romance foram também seleccionados o Prémio Camões 2013, o moçambicano Mia Couto (A Confissão da Leoa), e o angolano Pepetela, Prémio Camões 1997 (A Sul, o Sombreiro). “A categoria contos e crónicas apresenta um relevante painel da produção contemporânea com obras que trazem um sopro renovador como a prosa experimental de Noemi Jaffe (A verdadeira história do alfabeto e alguns verbetes do dicionário) e da quase estreante Tércia Montenegro (O Tempo em Estado Sólido). E inclui narrativas mais clássicas de autores que já integram o cânone da crónica brasileira, a exemplo de Luis Fernando Veríssimo (Diálogos Impossíveis) e Zuenir Ventura (Crónicas para ler na escola). ”Em Setembro serão escolhidos os 12 finalistas do prémio - quatro obras por categoria. O júri é constituído pelos actuais curadores: Antonio Carlos Secchin (de poesia), Luiz Ruffato (romance), Marcelino Freire (contos e crónicas) e Selma Caetano (curadora- coordenadora). E ainda por André Seffrin, Cristóvão Tezza, Italo Moriconi, João Cezar de Castro Rocha, José Castelo e Leya Perrone- Moisés. O grande vencedor do Prémio Portugal Telecom 2012 foi Valter Hugo Mãe, com A máquina de fazer espanhóis, escolhido entre os eleitos das três categorias: além de ter consagrado o escritor português no romance, o júri destacou na poesia Nuno Ramos (Junco) e no conto Dalton Trevisan (O anão e a ninfeta).
REFERÊNCIAS: